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ambiente da inovação brasileira<br />
Abril 2009<br />
n o 56 • Ano XV<br />
T<strong>em</strong>po<br />
precioso<br />
Crise exige agilidade no<br />
apoio à inovação. Para saír<strong>em</strong><br />
mais fortes da turbulência<br />
internacional, <strong>em</strong>presas<br />
brasileiras precisam de suporte<br />
para continuar investindo <strong>em</strong> P&D<br />
Negócios<br />
A quebra de paradigmas<br />
promovida pelo setor de serviços<br />
Portas abertas<br />
Open innovation alavanca<br />
pesquisas <strong>em</strong> MPEs
Índice<br />
a m b i e n t ed a in o v a ç ã o b r a s i l e i r a<br />
A revista Locus é uma publicação<br />
da Associação Nacional de<br />
Entidades Promotoras de<br />
Empreendimentos Inovadores<br />
Conselho editorial<br />
Carlos Américo Pacheco, Gina<br />
Paladino, Helena Lastres, Mauricio<br />
Guedes, Maurício Mendonça,<br />
Jorge Audy e Josealdo Tonholo<br />
Coordenação editorial<br />
Débora Horn<br />
Márcio Caetano<br />
Colaboração<br />
Adriane Alice Pereira, Amanda<br />
Miranda, Andréia Seganfredo,<br />
Bruno Moreschi, Caroline<br />
Mazzonetto, Cora Dias,<br />
Eduardo Kormiwes e Francis França<br />
Jornalista responsável<br />
Débora Horn – MTb/SC 02714 JP<br />
Direção de arte<br />
Luiz Acácio de Souza<br />
Edição de arte<br />
Rafael Ribeiro<br />
Karina Mohr<br />
Revisão<br />
Sérgio Ribeiro<br />
Foto da capa<br />
Shutterstock<br />
Presidente<br />
Guilherme Ary Plonski<br />
Diretoria<br />
Francilene Procópio Garcia, Gisa<br />
Bassalo, Josealdo Tonholo, Silvestre<br />
Labiak Junior e Paulo Gonzalez<br />
Superintendência<br />
Sheila Oliveira Pires<br />
Coordenação de Comunicação e Marketing<br />
Márcio Caetano Setúbal Alves<br />
Endereço<br />
SCN, quadra 1, bloco C,<br />
Ed. Brasília Trade Center, salas 209/211<br />
Brasília / DF – CEP 70711-902<br />
Contatos<br />
(61) 3202-1555<br />
E-mail: revistalocus@anprotec.org.br<br />
Website: www.anprotec.org.br<br />
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Produção<br />
Impressão<br />
Gráfica Brasil<br />
Abril 2009 • n o 56 • Ano XV<br />
ISSN 1980-3842<br />
Patrocínio<br />
Apoio<br />
6<br />
10<br />
16<br />
22<br />
24<br />
36<br />
38<br />
40<br />
43<br />
46<br />
49<br />
50<br />
28 c a p a<br />
A hora é agora<br />
Considerados estratégicos para superar a crise,<br />
sist<strong>em</strong>as de inovação vêm sendo reforçados nos<br />
países mais desenvolvidos. Empresas brasileiras<br />
também precisam de apoio para continuar inovando<br />
e conquistando novos mercados.<br />
E n t r e v i s t a<br />
O CEO do Research Triangle Park revela os segredos do parque tecnológico<br />
que, com 50 anos de história, se consolidou como modelo nos Estados Unidos.<br />
E m m o v i m e n t o<br />
As parcerias da Anprotec para alavancar MPEs inovadoras, a chamada de<br />
trabalhos para o S<strong>em</strong>inário Nacional, os preparativos para o Global Forum.<br />
As novidades do movimento estão aqui.<br />
n e g ó c i o s<br />
Movimentando R$ 500 bilhões por ano, setor de serviços força a<br />
revisão dos conceitos de inovação, qualificação profissional e produtividade.<br />
I n v e s t i m e n t o<br />
Até março deste ano 16 <strong>em</strong>presas foram selecionadas para receber<br />
recursos do Criatec, fundo de capital-s<strong>em</strong>ente do Bndes. Mas ainda<br />
restam R$ 22 milhões a distribuir entre <strong>em</strong>preendimentos inovadores.<br />
O p o r t u n i d a d e<br />
Saiba por que a inauguração do Centro de Excelência <strong>em</strong> Tecnologia<br />
Eletrônica Avançada (Ceitec), <strong>em</strong> Porto Alegre, pode representar<br />
o início de uma nova era para o Brasil no mercado de s<strong>em</strong>icondutores.<br />
I N T E R N A C I O N A L<br />
Pesquisa da NBIA comprova eficiência das incubadoras<br />
e reforça estratégia anticrise de Barack Obama nos Estados Unidos.<br />
S U C E S S O<br />
Saiba como a união entre ciência e <strong>em</strong>preendedorismo<br />
fez da Opto, de São Carlos (SP), uma concorrente<br />
de peso às multinacionais dos setores <strong>em</strong> que atua.<br />
G E S T Ã O<br />
O modelo de open innovation acelera o desenvolvimento<br />
de projetos <strong>em</strong> parceria com outras <strong>em</strong>presas ou<br />
instituições de pesquisa, trazendo ganhos para os dois lados.<br />
e d u c a ç ã o<br />
Preparar gestores para administrar o processo de inovação t<strong>em</strong> sido a<br />
tônica de diversos cursos oferecidos no Brasil. Empresas já sent<strong>em</strong> os resultados.<br />
C R I A T I V I D A D E<br />
Descubra por que os museus de ciência são<br />
um convite à imersão no mundo do conhecimento.<br />
c U L T U R A<br />
Filme francês, livro norte-americano, exposição de arte russa<br />
e a boa música brasileira. Uma viag<strong>em</strong> cultural para as mentes inovadoras.<br />
o p i n i ã o<br />
Mauricio Guedes: <strong>em</strong>presas e países dev<strong>em</strong> se<br />
preparar para o momento seguinte à crise, quando<br />
o jogo econômico dará maior espaço à economia real.
carta ao leitor<br />
reunião de pauta desta edição provavelmente<br />
foi um retrato de tantas<br />
A<br />
outras reuniões que têm ocorrido nas<br />
<strong>em</strong>presas, nos governos, nas instituições<br />
de pesquisa. Nós, os conselheiros da Locus,<br />
tínhamos várias sugestões de assuntos<br />
a abordar, pessoas a entrevistar, reportagens<br />
a produzir. Mas um t<strong>em</strong>a era<br />
recorrente, permeava todos os d<strong>em</strong>ais: a<br />
crise. O cenário econômico atual nos<br />
obriga a incluir a crise <strong>em</strong> toda e qualquer<br />
análise que se faça, <strong>em</strong> diversos setores<br />
e segmentos. Não poderia ser diferente<br />
<strong>em</strong> nosso movimento.<br />
Então decidimos tratar da crise na matéria<br />
de capa. Porém, sob um enfoque<br />
pouco presente no <strong>em</strong>aranhado de informações<br />
que nos bombardeia a todo instante:<br />
como fazer da inovação um instrumento<br />
anticrise Das pretensões de<br />
Barack Obama à realidade das <strong>em</strong>presas<br />
brasileiras, investigamos as saídas apontadas<br />
por especialistas para enfrentar a<br />
turbulência internacional. Infelizmente,<br />
constatamos que o Brasil pode ficar para<br />
trás nessa corrida. O corte no orçamento<br />
do Ministério da Ciência e Tecnologia, a<br />
d<strong>em</strong>ora na revisão da legislação sobre o<br />
t<strong>em</strong>a e a incerteza que paira sobre as <strong>em</strong>presas<br />
revelam o risco de retrocesso. Mas<br />
a reportag<strong>em</strong> que inicia na página 28<br />
também mostra que ainda há t<strong>em</strong>po de<br />
corrigir os erros e acelerar processos, fortalecendo<br />
o sist<strong>em</strong>a nacional de inovação,<br />
que tanto avançou nos últimos anos.<br />
Além do reforço nas políticas públicas,<br />
a saída para a crise está na corag<strong>em</strong> dos<br />
<strong>em</strong>preendedores, na decisão das <strong>em</strong>presas<br />
de continuar investindo <strong>em</strong> pesquisa<br />
e desenvolvimento, de não interromper<br />
projetos inovadores. E o estímulo pode<br />
vir de ex<strong>em</strong>plos, como a <strong>em</strong>presa que<br />
protagoniza a seção Sucesso desta edição.<br />
Nascida no Parque<br />
Tecnológico de São<br />
Carlos (SP), a Opto<br />
transformou <strong>em</strong> realidade<br />
– <strong>em</strong>pregos,<br />
renda e inovação – o<br />
projeto de seis pesquisadores<br />
da área<br />
de Física. Hoje com<br />
24 anos, a <strong>em</strong>presa<br />
comprova que a<br />
união entre ciência e<br />
<strong>em</strong>preendedorismo,<br />
respeitadas as especificidades de cada<br />
um, t<strong>em</strong> tudo para dar certo.<br />
Colabora com esse casamento o modelo<br />
de open innovation, t<strong>em</strong>a da seção Gestão.<br />
Abertas à cooperação com outras<br />
<strong>em</strong>presas e instituições de pesquisa,<br />
MPEs inovadoras têm fortalecido as atividades<br />
de P&D, alavancando negócios. E<br />
por falar <strong>em</strong> interação, a seção Negócios<br />
traz uma reportag<strong>em</strong> sobre o setor de serviços,<br />
especialista no contato direto com<br />
o cliente. Mais do que isso, o antigo setor<br />
terciário da economia v<strong>em</strong> quebrando paradigmas,<br />
ao gerar postos de trabalho<br />
cada vez mais qualificados e movimentar<br />
bilhões todos os anos.<br />
Alcançar tamanha pujança é o desejo<br />
dos <strong>em</strong>preendedores que já atuam ou ainda<br />
planejam ingressar no mercado de s<strong>em</strong>icondutores,<br />
esperançosos com a inauguração<br />
recente do Centro de Excelência<br />
<strong>em</strong> Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec),<br />
<strong>em</strong> Porto Alegre. Apesar do entusiasmo<br />
dos fundadores, críticas ao projeto<br />
questionam se vale a pena investir tanto<br />
dinheiro público para entrar <strong>em</strong> uma área<br />
dominada por gigantes multinacionais.<br />
Na reportag<strong>em</strong> da seção Oportunidade,<br />
Locus tenta encontrar a resposta.<br />
Boa leitura!<br />
Con s e l h o Ed i t o r i a l<br />
Locus • Abril 2009<br />
5
Entrevista<br />
And r é i a Se g a n f r e d o<br />
Lições de um pioneiro<br />
Fundado há cinquenta anos, o<br />
Research Triangle Park (Parque do<br />
Triângulo de Pesquisa, <strong>em</strong> livre<br />
tradução) surgiu como iniciativa para<br />
reverter a situação econômica do<br />
estado da Carolina do Norte e se<br />
consolidou como modelo nos Estados<br />
Unidos. Inserido <strong>em</strong> uma região<br />
situada entre três grandes<br />
universidades de pesquisa – Duke<br />
University, <strong>em</strong> Durham; Universidade<br />
Estadual da Carolina do Norte, <strong>em</strong><br />
Raleigh, e Universidade da Norte<br />
Carolina, <strong>em</strong> Chapell Hill –, o<br />
Research Triangle Park (RTP)<br />
angariou o apoio dessas instituições e<br />
uma força de trabalho altamente<br />
qualificada. No parque, as companhias<br />
pod<strong>em</strong> tanto comprar terrenos para<br />
campi individuais ou alugar espaço <strong>em</strong><br />
um dos prédios com vários inquilinos.<br />
Além disso, desfrutam de benefícios<br />
como facilidade de acesso,<br />
infraestrutura adequada e preservação<br />
ambiental, resultado de um clima<br />
político bastante favorável ao conceito<br />
do parque.<br />
Hoje, o RTP é reconhecido como a<br />
“Capital de P&D” da Carolina do<br />
Norte, abrigando mais de 170 <strong>em</strong>presas<br />
de base tecnológica, que <strong>em</strong>pregam 42<br />
mil trabalhadores especializados. À<br />
frente desse grandioso projeto está<br />
Rick Weddle, presidente e CEO do<br />
Research Triangle Park. Antes de<br />
assumir o cargo <strong>em</strong> 2004, Weddle<br />
liderou organizações de<br />
desenvolvimento econômico <strong>em</strong> outros<br />
cinco estados norte-americanos. Em<br />
entrevista a Locus, ele explica a<br />
dinâmica do parque e as<br />
peculiaridades desse modelo.<br />
DIVULGAÇÃO<br />
Locus: O RTP foi fundado a partir<br />
da necessidade de reverter o cenário<br />
negativo da economia local, que tinha<br />
indústrias de pouco valor agregado e<br />
uma das rendas per capita mais<br />
baixas dos Estados Unidos. Quais<br />
foram as principais estratégias para<br />
reverter esse cenário<br />
Weddle: Além desses probl<strong>em</strong>as, o estado<br />
enfrentava uma evasão de cérebros muito<br />
séria, pois muitos graduados estavam<br />
saindo para procurar <strong>em</strong>pregos melhores,<br />
e aqueles que frequentavam universidades<br />
fora daqui não retornavam. A proposta<br />
do RTP foi fornecer uma iniciativa<br />
de desenvolvimento econômico focada<br />
<strong>em</strong> atrair companhias que fizess<strong>em</strong><br />
pesquisa de âmbito mundial e desenvolvimento<br />
<strong>em</strong> áreas de crescimento<br />
científico. Os fundadores do parque<br />
ofereceram às companhias prospectadas<br />
os recursos subutilizados das três<br />
universidades líderes do Triângulo. Os<br />
recursos do Research Triangle Institute,<br />
estudantes qualificados e talentosos,<br />
oportunidades para pesquisa interativa<br />
e o pool de trabalho e talento de outras<br />
instituições educacionais no estado foram<br />
as cartas na manga do RTP.<br />
Locus: O número de <strong>em</strong>presas<br />
chamadas da “nova linha”, que<br />
inclui os setores químico, de<br />
eletrônicos e de comunicação, passou<br />
de 15% dos negócios, na época da<br />
fundação do parque, para 51%<br />
<strong>em</strong> 2005. A que fatores pode<br />
ser atribuído esse crescimento<br />
Weddle: Os primeiros cinco anos de<br />
existência do parque foram relativamente<br />
lentos. Apesar da Ch<strong>em</strong>strand,<br />
uma companhia da Corporação Monsanto,<br />
e da America Viscose (primeira<br />
<strong>em</strong>presa têxtil a trabalhar com fibras artificiais)<br />
anunciar<strong>em</strong> sua decisão de vir<br />
para o parque ainda <strong>em</strong> 1960, até 1965 o<br />
RTP não tinha decolado. Naquele ano,<br />
foram instalados aqui o novo Centro<br />
Nacional de Ciências de Saúde do Meio<br />
Ambiente e a IBM. Com a presença<br />
substancial do governo e do setor privado,<br />
o parque ganhou credibilidade como<br />
lugar para pesquisa e desenvolvimento.<br />
Nos 40 anos seguintes, o crescimento<br />
aumentou, dada a inovação de infraestrutura<br />
e o pool de trabalho qualificado,<br />
que evoluíram para dar suporte a entidades<br />
do parque e também como resultado<br />
do sucesso da região. Refletindo o<br />
boom das Tecnologias de Informação e<br />
Comunicação no fim dos anos 1990, o<br />
RTP alcançou o pico de nível de <strong>em</strong>pregos<br />
<strong>em</strong> 2001: 45 mil profissionais.<br />
Locus: Qual foi o papel do poder<br />
público no desenvolvimento do<br />
parque O governo incentivou a<br />
iniciativa ao longo do t<strong>em</strong>po ou o<br />
parque ficou suscetível a alterações<br />
no cenário político<br />
Weddle: Com o engajamento de alguns<br />
líderes do setor privado e com a ajuda e<br />
suporte do chanceler da Carolina do<br />
Norte Carey Bostina, o governador Luther<br />
Hodges autorizou um relatório<br />
conceitual com a ideia de estabelecimento<br />
de um parque de pesquisa para<br />
diversificar a base econômica do estado.<br />
No fim de 1956, o Conselho de Desenvolvimento<br />
do Research Triangle<br />
estava formado e os grupos decidiram<br />
que a ideia deveria ser <strong>em</strong>preendida<br />
preferencialmente como um esforço<br />
privado com o engajamento das três<br />
universidades líderes do que como um<br />
esforço patrocinado pelo governo. Apesar<br />
de o governo ter sido essencial ao<br />
fornecer o apoio e a liderança para criar<br />
o parque, o RTP t<strong>em</strong> caráter <strong>completa</strong>mente<br />
privado, uma entidade auto-financiadora.<br />
O estado e os governos locais<br />
fornec<strong>em</strong> apoio <strong>em</strong> termos de<br />
infraestrutura e clima político. Entretanto,<br />
recursos públicos não são repassados<br />
para o parque.<br />
Locus: Como se dá a<br />
articulação do parque com o<br />
poder público atualmente<br />
Weddle: O RTP mantém uma forte relação<br />
de trabalho com o governo estadual<br />
da Carolina do Norte <strong>em</strong> várias linhas.<br />
O quadro de diretores do RTP representa<br />
uma reunião <strong>em</strong> âmbito estadual de<br />
líderes públicos, privados e universitários.<br />
A liderança do RTP encontra-se<br />
regularmente com representantes de governo<br />
e de organizações para discutir<br />
assuntos de política pública, finanças<br />
estaduais, fundos de pesquisa e apoio ao<br />
desenvolvimento econômico baseado<br />
<strong>em</strong> tecnologia. Mas, o RTP continua separado,<br />
uma entidade privada.<br />
6<br />
Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
7
Entrevista<br />
Locus: Há agências governamentais<br />
instaladas no parque. Como elas se<br />
associam e participam Como<br />
aproveitam a estrutura do RTP<br />
Weddle: As agências governamentais<br />
localizadas no RTP inclu<strong>em</strong> a Agência<br />
de Saúde de Meio Ambiente dos Estados<br />
Unidos (Usepa) e o Instituto Nacional<br />
para Ciências de Saúde de Meio<br />
Ambiente (Niehs). Elas operam como<br />
grandes inquilinas do RTP, localizadas<br />
<strong>em</strong> grandes campi, <strong>em</strong>pregando um total<br />
de 2,5 mil trabalhadores <strong>em</strong> período<br />
integral. As organizações governamentais<br />
do RTP são muito ativas na Associação<br />
de Proprietários e Inquilinos<br />
(O&T) e <strong>em</strong> outros programas do parque.<br />
Ao fornecer programas e oportunidades<br />
para as comunidades de interesse<br />
se engajar<strong>em</strong> umas às outras, o<br />
modelo do RTP permite que essas agências<br />
colabor<strong>em</strong> e estabeleçam parcerias<br />
com <strong>em</strong>presas próximas, conduzindo<br />
pesquisas compl<strong>em</strong>entares.<br />
Locus: O RTP nasceu há 50 anos, <strong>em</strong><br />
um cenário <strong>completa</strong>mente distinto do<br />
atual nos âmbitos econômico, social e<br />
político. Como o parque acompanhou<br />
essas transformações e manteve o foco<br />
Weddle: Apesar do sucesso do RTP até<br />
então, suas lideranças reconhec<strong>em</strong> que<br />
o parque não pode se sentar <strong>em</strong> láureas.<br />
Como o mundo muda e as companhias<br />
incluídas no parque evolu<strong>em</strong><br />
para reagir a essas mudanças, o RTP<br />
igualmente continua a se adaptar. As<br />
companhias e os indivíduos d<strong>em</strong>andam<br />
diferentes benefícios no local de trabalho<br />
e ao redor dele. O RTP também<br />
olha para um novo modelo de negócios<br />
que permitirá se direcionar a essas necessidades<br />
e criar uma entidade autossustentável<br />
e autoperpetuadora para<br />
continuar a gerar o retorno necessário<br />
para manter o parque. Como um dos<br />
primeiros atores na área de parque de<br />
pesquisa, o RTP consolidou um modelo.<br />
Entretanto, conforme a indústria<br />
mudou, modelos modernos foram desenvolvidos<br />
para melhor direcionar<br />
novas necessidades específicas.<br />
Locus: De que maneira a instalação<br />
de grandes <strong>em</strong>presas, como Cisco e<br />
IBM, favoreceu o crescimento<br />
de pequenos <strong>em</strong>preendimentos<br />
Weddle: Grandes companhias continuam<br />
a alavancar o maioria de <strong>em</strong>pregos<br />
do parque. A estratégia de recrutamento<br />
inicial para o parque foi atrair companhias<br />
maiores, já estabelecidas, que<br />
construíss<strong>em</strong> uma cultura na qual as<br />
pequenas, indústrias start-up, pudess<strong>em</strong><br />
prosperar. Uma análise dos padrões<br />
de crescimento na região desde 1985<br />
sugere que mais de 1,5 mil companhias<br />
surgiram daquelas do parque, além de<br />
universidades e outras entidades regionais.<br />
Além disso, a existência dessas<br />
grandes companhias fornece expertise<br />
e negócios para pequenas <strong>em</strong>presas na<br />
região. O perfil das companhias no parque<br />
está passando por uma transição<br />
<strong>em</strong> direção a pequenas companhias<br />
com poucos <strong>em</strong>pregados. A tendência é<br />
ainda mais refletida na grande proximidade<br />
entre as <strong>em</strong>presas do parque e os<br />
laboratórios das universidades.<br />
Locus: Hoje o parque atua<br />
<strong>em</strong> diferentes setores. Como<br />
é a sinergia entre as <strong>em</strong>presas<br />
Weddle: As companhias do RTP operam<br />
<strong>em</strong> diversos setores relacionados à<br />
tecnologia, mas divid<strong>em</strong> interesses comuns<br />
através da Research Triangle Park<br />
Owners & Tenants Association (O&T)<br />
– Associação de Proprietários e Inquilinos<br />
do Research Triangle Park. A O&T<br />
discute t<strong>em</strong>as que são de preocupação<br />
dos proprietários e inquilinos do parque,<br />
também serve como voz de consenso<br />
da comunidade e mantém os benefícios<br />
como trilhas para jogging,<br />
campos de jogo e serviços de <strong>em</strong>belezamento<br />
do espaço. O foco do grupo para<br />
2007-2009 t<strong>em</strong> sido usar a O&T como<br />
catalisadora para construir comunidades<br />
e alimentar a colaboração entre as<br />
companhias do parque. Nos anos recentes,<br />
a associação t<strong>em</strong> também se<br />
unido para promover e apoiar assuntos<br />
de políticas públicas, sobre os quais todos<br />
concordam ser necessário um endosso<br />
com consenso por parte do RTP.<br />
Locus: Fundações e entidades<br />
<strong>em</strong> contínua cooperação e conexões<br />
com diversos setores colaboram<br />
para a longa vida do RTP<br />
Qual o papel de cada uma delas<br />
Weddle: As fundações e entidades da<br />
região são parceiras do RTP no trabalho<br />
de melhorar o ambiente de negócios do<br />
Triângulo. Dependendo da iniciativa, as<br />
entidades trabalham juntas com cada<br />
uma contribuindo na sua área de expertise.<br />
Por ex<strong>em</strong>plo, o RTP usa sua habilidade<br />
para identificar consenso entre sua<br />
massa crítica de trabalhadores de tecnologia<br />
para fornecer suporte às políticas<br />
públicas apropriadas. Há nove organizações<br />
desse tipo, incluindo desde aquelas<br />
preocupadas com o crescimento econômico<br />
e competitivo da região, b<strong>em</strong><br />
como iniciativas para promover a cultura<br />
<strong>em</strong>preendedora, capacidade de pesquisa<br />
das companhias, debates sobre<br />
t<strong>em</strong>as <strong>em</strong>ergentes e importantes para o<br />
estado da Carolina do Norte.<br />
Locus: O RTP foi constituído<br />
tendo três universidades como<br />
âncoras. Como se dá a relação<br />
com essas instituições atualmente<br />
Weddle: O RTP tornou-se um modelo<br />
de cooperação universitária <strong>em</strong> torno<br />
de um fim comum. E continua a ter forte<br />
relação de trabalho com as três universidades<br />
de pesquisa regional, além<br />
de outras oito faculdades e universidades<br />
regionais e um sist<strong>em</strong>a de faculdades<br />
da comunidade estadual b<strong>em</strong> respeitado.<br />
Os conselheiros e presidentes<br />
das três universidades - âncora têm assento<br />
no Conselho de Diretores da Carolina<br />
do Norte da Fundação do Triângulo<br />
de Pesquisa. Além disso, os campi<br />
de pesquisa na Universidade da Carolina<br />
do Norte e Universidade da Carolina<br />
do Norte, <strong>em</strong> Chapell Hill, são m<strong>em</strong>bros<br />
do Network de parques de Pesquisa<br />
da Carolina do Norte, do qual o RTP<br />
é m<strong>em</strong>bro e facilitador. Através dele, o<br />
RTP continua a se engajar com outras<br />
universidades da Carolina do Norte<br />
com a missão de aumentar o desenvolvimento<br />
econômico baseado <strong>em</strong> tecnologia<br />
através dessas relações.<br />
O RTP permanece globalmente<br />
competitivo através da tecnologia, criando<br />
novas oportunidades de <strong>em</strong>prego e alavancando o<br />
crescimento econômico <strong>em</strong> toda a região<br />
Locus: Quais as perspectivas para o<br />
desenvolvimento do RTP São possíveis<br />
novos nichos de atuação e inovação<br />
Weddle: A atividade dos integrantes do<br />
RTP é promissora no atual clima econômico.<br />
Apesar de d<strong>em</strong>issões anunciadas<br />
<strong>em</strong> algumas <strong>em</strong>presas do parque, o<br />
fluxo de clientes nos setores farmacêutico,<br />
biotecnologia e tecnologia de informação<br />
e data center é forte, d<strong>em</strong>onstrando<br />
o valor da proposta e a resiliência<br />
econômica do parque na economia probl<strong>em</strong>ática<br />
de hoje. Refletindo isso, a região<br />
de Raleigh-Cary recent<strong>em</strong>ente foi<br />
ranqueada como a área metropolitana<br />
de maior crescimento nos Estados Unidos<br />
pelo US Census Bureau. Além disso,<br />
Raleigh está ranqueada entre as cinco<br />
melhores cidades para negócios e<br />
atividades profissionais nos dois últimos<br />
anos pela revista Forbes. Esses<br />
fatores atuam como evidência encorajadora<br />
de que o RTP permanece globalmente<br />
competitivo através da tecnologia,<br />
criando novas oportunidades de<br />
<strong>em</strong>prego e alavancando o crescimento<br />
econômico <strong>em</strong> toda a região.<br />
8<br />
Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
9
e m m o v i m e n t o<br />
Apex-Brasil e Anprotec firmam acordo de R$ 6 milhões<br />
A Anprotec e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) consolidaram<br />
uma parceria que oferecerá cerca de R$ 6 milhões <strong>em</strong> recursos para apoiar <strong>em</strong>presas de Tecnologia da<br />
Informação e Comunicação (TICs) instaladas <strong>em</strong> incubadoras e parques tecnológicos de todo o país.<br />
A meta do projeto é elevar o patamar de exportações, passando dos US$ 100 mil obtidos <strong>em</strong> 2008 para US$<br />
1,4 milhão <strong>em</strong> 2009 e US$ 2,3 milhões <strong>em</strong> 2010. “É o primeiro passo para alavancar a capacidade de geração<br />
de negócios das micro e pequenas <strong>em</strong>presas com a troca de conhecimentos, investimentos, produtos e serviços,<br />
refletindo o conceito de uma ‘Incubadora de Exportação’”, comenta Alessandro Teixeira, presidente da<br />
Apex-Brasil.<br />
Os mercados-alvo iniciais do projeto são Estados Unidos, México, França, Reino Unido, Al<strong>em</strong>anha, Portugal,<br />
Espanha e Colômbia. Além das ações de promoção comercial, como participação <strong>em</strong> feiras, missões<br />
<strong>em</strong>presariais e visitas de jornalistas especializados aos parques tecnológicos nacionais, o projeto apoiará o desenvolvimento<br />
da cultura exportadora das <strong>em</strong>presas, por meio de um trabalho de diagnóstico, análise e consultoria<br />
que seguirá a metodologia EMM (Export Maturity Model) ou Modelo de Maturidade Exportadora.<br />
Segundo a Anprotec, do universo de aproximadamente 6.300 <strong>em</strong>presas vinculadas às incubadoras e parques<br />
tecnológicos brasileiros, cerca<br />
de 45% são de base tecnológica,<br />
representando aproximadamente<br />
2.800 micro e pequenas <strong>em</strong>presas<br />
de TIC. Destas, 600 já atingiram<br />
um mínimo de atuação mercadológica<br />
e 250 encontram-se próximas<br />
à etapa de graduação ou graduadas<br />
por suas incubadoras.<br />
O projeto Apex-Brasil/Anprotec<br />
deve focar nesse grupo que já<br />
se encontra próximo à graduação.<br />
“A b<strong>em</strong>-vinda parceria contribuirá<br />
para a construção da nova imag<strong>em</strong><br />
do Brasil no exterior, um país que,<br />
além dos predicados naturais, é<br />
tecnologicamente vigoroso, <strong>em</strong>preendedor<br />
e inovador”, conclui<br />
Guilherme Ary Plonski, presidente<br />
da Anprotec.<br />
Missão Técnica leva dirigentes de parques tecnológicos aos EUA<br />
A Anprotec, <strong>em</strong> parceria com a International Association of Science Parks (IASP), Association of University<br />
Research Parks (AURP) e Council on Competitiveness – importantes agentes internacionais de inovação<br />
–, realizará de 30 de maio a 6 de junho a Missão Internacional de Parques Tecnológicos para os Estados<br />
Unidos, que passará pelas cidades de Raleigh – na Carolina do Norte –, São Francisco e algumas localidades<br />
do Vale do Silício, na Califórnia. O programa é voltado aos dirigentes de parques tecnológicos <strong>em</strong> operação,<br />
implantação ou projeto associados à Anprotec, representantes de entidades de fomento e instituições de<br />
apoio a parques parceiros.<br />
FOTOS: shutterstock<br />
Parceria com a Microsoft<br />
fortalece o Prime<br />
A Microsoft e a Financiadora de Estudos e Projetos<br />
(Finep) anunciaram <strong>em</strong> março, no Fórum de<br />
Líderes de Governo das Américas, uma nova parceria<br />
que estende às <strong>em</strong>presas de tecnologia inscritas<br />
no programa Primeira Empresa Inovadora<br />
(Prime) os benefícios do programa Microsoft<br />
SOL, criado para favorecer o desenvolvimento<br />
das micro e pequenas <strong>em</strong>presas desse segmento<br />
por meio do fornecimento de ferramentas tecnológicas<br />
a custo simbólico.<br />
Lançado pela Finep no ano passado, o Prime<br />
visa impulsionar <strong>em</strong>preendimentos nascentes<br />
com potencial inovador – a previsão é de que somente<br />
<strong>em</strong> 2009 sejam investidos R$ 230 milhões<br />
<strong>em</strong> novas <strong>em</strong>presas. Também voltado a <strong>em</strong>presas<br />
nascentes, o Microsoft SOL oferece o acesso<br />
a um pacote completo de softwares, via download.<br />
Uma vez inscritas, todas as <strong>em</strong>presas têm<br />
o direito de fazer download, por um período de<br />
até três anos, de um pacote contendo 25 licenças<br />
de 55 softwares Microsoft. Ao final desse período,<br />
há o pagamento de uma taxa única, de valor<br />
simbólico (US$ 100).<br />
Com o acordo anunciado, o benefício passa a<br />
ser estendido para toda a base de <strong>em</strong>presas de<br />
tecnologia cont<strong>em</strong>pladas pelo Prime, as quais<br />
passam a contar com acesso às ferramentas Microsoft<br />
para se desenvolver<strong>em</strong>.<br />
Aumenta d<strong>em</strong>anda por subvenção<br />
para desenvolvimento social<br />
A área de Desenvolvimento Social da chamada<br />
pública do Programa de Subvenção Econômica<br />
2009 recebeu 370 projetos, um aumento de cerca<br />
de 10% <strong>em</strong> relação ao edital anterior, de 2008,<br />
quando foram inscritos 337 projetos com esse<br />
t<strong>em</strong>a. “Cristaliza-se a ideia de que é possível ganhar<br />
dinheiro fazendo o b<strong>em</strong> para a população”,<br />
afirmou o diretor de Inovação da Finep, Eduardo<br />
Costa.<br />
O programa de Subvenção Econômica 2009<br />
alocou R$ 50 milhões <strong>em</strong> recursos para a área de<br />
Desenvolvimento Social. Essa área está dividida<br />
<strong>em</strong> três t<strong>em</strong>as: desenvolvimento de soluções para<br />
acesso à internet de banda larga <strong>em</strong> regiões carentes,<br />
desenvolvimento de equipamentos para<br />
produção agropecuária <strong>em</strong> pequenas propriedades<br />
e desenvolvimento de produtos e processos<br />
para habitações de interesse popular e saneamento<br />
de baixo custo.<br />
Neste ano, a área de Tecnologias da Informação<br />
e Comunicação foi a que recebeu mais inscrições:<br />
1.079, representando 42% do total. Em seguida,<br />
estão a área de Saúde, com 393 projetos (15%), e<br />
a de Desenvolvimento Social, com 370 (14%). Já<br />
<strong>em</strong> Biotecnologia são 257 propostas (10%). A área<br />
de Defesa Nacional e Segurança Pública teve 249<br />
inscritos, representando 9,7%, e a de Energia, 210<br />
(8,2%). Os projetos submetidos estão sendo avaliados<br />
por analistas da Finep. O resultado final<br />
deve ser divulgado a partir do dia 7 de julho.<br />
10<br />
Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
11
e m m o v i m e n t o<br />
Anprotec integra comitê do PNI<br />
A Anprotec integra o comitê consultivo que supervisionará o planejamento,<br />
a execução e a avaliação das atividades relacionadas ao Programa<br />
Nacional de Apoio às Incubadoras de Empresas e aos Parques<br />
Tecnológicos (PNI). Coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento<br />
Tecnológico e Inovação (Setec) do Ministério da Ciência e Tecnologia,<br />
o PNI t<strong>em</strong> por objetivo fomentar a consolidação e o surgimento de<br />
parques tecnológicos e incubadoras de <strong>em</strong>presas que contribuam para<br />
estimular e acelerar o processo de criação de micro e pequenas <strong>em</strong>presas<br />
inovadoras.<br />
Entre as atribuições do comitê está a definição de metas periódicas a ser<strong>em</strong> alcançadas pelo PNI. Além<br />
disso, deverá buscar alianças nacionais e internacionais, sugerir critérios e indicadores de avaliação e<br />
acompanhamento do programa e promover sua interação com programas afins. Segundo o MCT, o apoio<br />
do governo federal incluirá a elaboração de Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica – EVTE para a<br />
implantação de incubadoras e parques, o aperfeiçoamento da gestão e da infraestrutura oferecida por essas<br />
instituições e o financiamento de projetos <strong>em</strong> CT&I nos parques, b<strong>em</strong> como centros de pesquisa, laboratórios<br />
e projetos de P&D.<br />
Prêmios movimentam inovadores<br />
Chamada de trabalhos para o XIX S<strong>em</strong>inário Nacional<br />
Estão abertas até o próximo dia 15 de<br />
julho as inscrições para trabalhos a ser<strong>em</strong><br />
apresentados no XIX S<strong>em</strong>inário Nacional<br />
de Parques Tecnológicos e Incubadoras<br />
de Empresas, que será realizado no<br />
mês de outubro <strong>em</strong> Florianópolis (SC).<br />
Gestores de incubadoras de <strong>em</strong>presas e parques tecnológicos, pesquisadores, acadêmicos e especialistas envolvidos<br />
<strong>em</strong> atividades nas áreas de inovação, <strong>em</strong>preendedorismo, ciência, tecnologia e áreas correlatas terão<br />
oportunidade de apresentar seus trabalhos no evento que deve reunir cerca de mil participantes.<br />
A chamada de trabalhos está dividida <strong>em</strong> duas categorias: pôsteres, ou artigos curtos, na qual se pretende<br />
selecionar até 60 trabalhos, e artigos completos, que selecionará até 30 artigos. O melhor trabalho de cada categoria<br />
receberá um prêmio <strong>em</strong> dinheiro – R$ 2 mil para os completos e R$ 1,5 mil para pôsteres.<br />
Os artigos curtos deverão abordar as práticas, processos e experiências inovadoras praticados nas incubadoras<br />
e parques brasileiros como programas, estratégias de gestão, parcerias estratégicas, projetos de incentivo<br />
à internacionalização de <strong>em</strong>presas, desenvolvimento local, regional e setorial, entre outras. Já os<br />
inscritos como artigos completos deverão se adequar a uma das quatro plataformas estratégicas definidas na<br />
chamada – promoção da cultura do <strong>em</strong>preendedorismo inovador, incubação de <strong>em</strong>presas orientadas para o<br />
desenvolvimento local e setorial, incubação orientada para a geração e uso intenso de tecnologia e habitats<br />
de inovação sustentáveis.<br />
As inscrições dos trabalhos pod<strong>em</strong> ser feitas no site www.s<strong>em</strong>inarionacional.com.br<br />
Está aberta a t<strong>em</strong>porada de pr<strong>em</strong>iações que reconhec<strong>em</strong> o espírito inovador das<br />
<strong>em</strong>presas e instituições de pesquisa brasileiras. Durante todo o mês de maio, a Fundação<br />
Banco do Brasil recebe inscrições para o Prêmio de Tecnologia Social 2009.<br />
Realizada a cada dois anos, com a parceria da Petrobras, da Organização das Nações<br />
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e da KPMG Auditores<br />
Independentes, a pr<strong>em</strong>iação t<strong>em</strong> como objetivo identificar, certificar, pr<strong>em</strong>iar e difundir<br />
as chamadas tecnologias sociais. O conceito compreende produtos, técnicas<br />
Troféu do Prêmio Finep<br />
ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade, que<br />
represent<strong>em</strong> soluções efetivas de transformação social. As inscrições serão realizadas apenas via internet<br />
(www.tecnologiasocial.org.br), até o dia 29 de maio. Os oito vencedores serão conhecidos <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro deste<br />
ano e receberão R$ 50 mil cada.<br />
Lançada no último dia 11 de maio, a 12ª edição do Prêmio Finep de Inovação distribuirá R$ 29 milhões<br />
<strong>em</strong> financiamentos pré-aprovados, divididos entre os vencedores das etapas regionais e nacional. Desse total,<br />
R$ 9 milhões serão recursos não-re<strong>em</strong>bolsáveis e até R$ 20 milhões <strong>em</strong> recursos re<strong>em</strong>bolsáveis do programa<br />
Finep Inova Brasil. As inscrições vão até 11 de set<strong>em</strong>bro. Os concorrentes pod<strong>em</strong> se inscrever <strong>em</strong> cinco categorias:<br />
Micro/Pequena Empresa, Média Empresa, Grande Empresa (esta só <strong>em</strong> nível nacional), Instituição<br />
de Ciência e Tecnologia e Tecnologia Social. Além dessas, há ainda a categoria Inventor Inovador, com candidatos<br />
selecionados a partir de levantamento na base de dados das patentes concedidas pelo INPI – Instituto<br />
Nacional de Propriedade Industrial.<br />
Neste ano, o regulamento sofreu alguns ajustes. “Mudamos a pontuação e resolv<strong>em</strong>os que os julgamentos<br />
locais serão feitos online, a distância, misturando especialistas de todas as regiões, para que o júri seja mais<br />
diversificado”, explica Vera Marina da Cruz e Silva, coordenadora nacional do prêmio. Além disso, a categoria<br />
Tecnologia Social só receberá inscrições de instituições de ciência e tecnologia, que pod<strong>em</strong> participar de<br />
forma isolada ou <strong>em</strong> parceria com organizações não governamentais, cooperativas e instituições públicas ou<br />
privadas s<strong>em</strong> fins lucrativos. O regulamento está disponível no site www.finep.gov.br.<br />
divulgação<br />
Global Forum será<br />
realizado <strong>em</strong> Florianópolis<br />
O 3º Fórum Global sobre Incubação de Negócios<br />
acontecerá paralelamente ao XIX S<strong>em</strong>inário Nacional<br />
de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas,<br />
na cidade de Florianópolis (SC), entre os dias<br />
26 e 30 de outubro deste ano. A alteração da data,<br />
prevista inicialmente para maio de 2009, se deu com<br />
o intuito de aproveitar as oportunidades geradas pelos<br />
eventos e promover a interação com o mundo da<br />
inovação e do <strong>em</strong>preendedorismo.<br />
Sob o t<strong>em</strong>a central “Inovação e Criação de Empreendimentos<br />
para o Desenvolvimento Inclusivo”, o<br />
Global Forum terá o objetivo de apresentar aos participantes<br />
como a inovação e o <strong>em</strong>preendedorismo<br />
estão sendo trabalhados no mundo para promover o<br />
desenvolvimento inclusivo entre as nações.<br />
O Fórum Global será realizado pelo Programa infoDev/IFC,<br />
vinculado ao Banco Mundial, Ministério<br />
da Ciência e Tecnologia brasileiro, e pela parceria<br />
Anprotec e Sebrae que também são os responsáveis<br />
pela realização do s<strong>em</strong>inário nacional.<br />
shutterstock<br />
12<br />
Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
13
e m m o v i m e n t o<br />
Empresa do Porto Digital automatiza<br />
processo administrativo do governo carioca<br />
A M2M Digital, <strong>em</strong>presa “<strong>em</strong>barcada” no<br />
Porto Digital, conquistou mais um importante<br />
cliente: o Governo do Estado do Rio de<br />
Janeiro. Em parceria com a gigante mundial<br />
Accenture, a M2M irá automatizar o processo<br />
de compras e logística de todos os órgãos<br />
do governo carioca, através do Sist<strong>em</strong>a Integrado<br />
de Gestão de Aquisições, SIGA.<br />
O SIGA, sist<strong>em</strong>a operado pela internet,<br />
oferecerá eficiência no ciclo de compras, redução<br />
de custos e qualidade da governança,<br />
através de benefícios como um novo catálogo<br />
de material e serviços, verificação de saldos<br />
<strong>em</strong> estoque, utilização de modelos de editais que serão catalogados, ferramenta própria de pregão, registro<br />
eletrônico de recebimento de material, gestão eletrônica de almoxarifado e contratos, entre outros.<br />
De acordo com o Secretário Estadual de Planejamento e Gestão do Rio de Janeiro, Sérgio Ruy Barbosa,<br />
com a implantação do SIGA, o governo carioca terá uma redução de 40% no t<strong>em</strong>po gasto com licitações, que<br />
costumam durar pelo menos três meses, e uma economia de aproximadamente 15% nos gastos, o que equivale,<br />
atualmente, a cerca de R$ 600 milhões por ano.<br />
O projeto de implantação do SIGA t<strong>em</strong> prazo de 24 meses. A M2M Digital é responsável por desenvolver o<br />
sist<strong>em</strong>a, enquanto a Accenture prestará a consultoria de sua implantação. O SIGA entrará no ar <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro<br />
deste ano e <strong>em</strong> janeiro de 2010 estará implantado <strong>em</strong> 11 entidades-piloto. O cronograma prevê que, até dez<strong>em</strong>bro<br />
de 2010, o SIGA esteja <strong>em</strong> utilização por todos os órgãos do governo do Rio de Janeiro.<br />
Incubadora da Coppe/UFRJ recebe novas <strong>em</strong>presas<br />
Entre as 42 propostas recebidas no último processo seletivo de 2008, a Incubadora de Empresas da Coppe/<br />
UFRJ escolheu cinco <strong>em</strong>presas inovadoras para abrigar: a GPE (software de gestão), Intensys (sist<strong>em</strong>as para<br />
Unidades de Terapia Intensiva), a Promec (mecânica computacional), a Recriar (soluções para rede elétrica) e a<br />
Terathot (risco para seguros de saúde). Com as novas residentes, a Incubadora da Coppe terá 16 <strong>em</strong>presas sob<br />
seu suporte físico e gerencial.<br />
Na história da incubadora, esse foi o<br />
processo seletivo que registrou o maior<br />
número de propostas aceitas <strong>em</strong> um mesmo<br />
edital. Para a escolha das <strong>em</strong>presas,<br />
foram avaliados critérios como viabilidade<br />
técnica e econômica, perfil do grupo<br />
proponente, grau de inovação e possibilidade<br />
de integração com a universidade.<br />
As novas residentes ingressam na incubadora<br />
no mês de maio. A instituição já<br />
prevê a abertura de um novo edital para o<br />
segundo s<strong>em</strong>estre.<br />
fotos: divulgação<br />
Porto Digital,<br />
no Recife (PE)<br />
Sede da<br />
Incubadora de<br />
Empresas da<br />
Coppe/UFRJ<br />
HIGH-TECH<br />
Serviço completo<br />
O monitoramento de velocidade, t<strong>em</strong>peratura<br />
e pressão do óleo já está presente <strong>em</strong> muitos<br />
veículos. Agora, um projeto desenvolvido pelo<br />
C.E.S.A.R. para a Troller permite o envio r<strong>em</strong>oto<br />
desses dados a uma oficina especializada,<br />
que pode descobrir <strong>em</strong> instantes um possível<br />
probl<strong>em</strong>a de des<strong>em</strong>penho. Batizado de ATA<br />
– Arquitetura de Tel<strong>em</strong>etria Aberta, o projeto<br />
desenvolveu um sist<strong>em</strong>a <strong>em</strong>barcado que<br />
acompanha e diagnostica <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po real<br />
oportunidades de melhoria nos automóveis. Um<br />
computador de bordo coleta a informação por<br />
meio da unidade eletrônica de controle do motor<br />
e envia para uma interface s<strong>em</strong> fio, que pode ser<br />
um computador, um celular ou mesmo a web.<br />
Saiba mais: www.cesar.org.br<br />
Varejo equipado<br />
Administrar estoques, definir políticas de<br />
vendas, planejar a distribuição e programar a<br />
produção. Tudo isso pode ser feito com o novo<br />
software desenvolvido<br />
para o varejo pela<br />
Soma TI, residente<br />
na Incubadora de<br />
Empresas de Lins (SP).<br />
O grande diferencial<br />
do software está na<br />
análise automática da curva ABC, ferramenta<br />
gerencial que permite identificar os itens que<br />
proporcionam maior ganho para a <strong>em</strong>presa.<br />
Saiba mais: (14) 3523-1345<br />
Economia de água<br />
A Sist<strong>em</strong>ática, <strong>em</strong>presa incubada na Raiar da<br />
PUCRS, desenvolveu um equipamento capaz<br />
de gerenciar o abastecimento de água nos<br />
prédios residenciais, públicos ou comerciais. O<br />
WaterCop6 é um sist<strong>em</strong>a que possibilita um maior<br />
monitoramento com relação à entrada e saída<br />
de água das bombas, dispensando a presença<br />
humana, já que informa, através de um display,<br />
todo o andamento do processo de abastecimento.<br />
Saiba mais: (51) 3269-0752<br />
Agenda<br />
2009<br />
MAIO<br />
Brasil Tecnológico<br />
Promovido pela Apex-Brasil, o evento integra um projeto de<br />
promoção internacional de setores produtivos brasileiros, que<br />
possuam a tecnologia como diferencial. Além de estimular a<br />
realização de negócios, busca chamar a atenção de possíveis<br />
investidores estrangeiros.<br />
Quando: 26 e 28 de maio<br />
Onde: Lima - Peru<br />
Informações: www.brasil-tech.com<br />
JUNHO<br />
IX Conferência Anpei de Inovação Tecnológica<br />
Um dos eventos mais tradicionais do setor, a Conferência<br />
da Anpei t<strong>em</strong> por objetivo provocar o debate e a reflexão<br />
sobre como praticar a inovação com alto valor agregado, que<br />
resulte <strong>em</strong> produtos e processos mais eficientes.<br />
Quando: 8 a 10 de junho de 2009<br />
Local: Porto Alegre (RS)<br />
Informações: www.anpei.org.br<br />
JULHO<br />
61ª Reunião Anual da SBPC<br />
Com o t<strong>em</strong>a “Amazônia: Ciência e Cultura”, o encontro<br />
promovido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da<br />
Ciência (SBPC) reúne estudantes, pesquisadores e professores<br />
para conferências, simpósios, minicursos, ass<strong>em</strong>bleias e<br />
sessões especiais que discut<strong>em</strong> os caminhos da ciência no<br />
Brasil e no mundo.<br />
Quando: 12 a 17 de julho de 2009<br />
Onde: Manaus (AM)<br />
Informações: www.sbpcnet.org.br<br />
14<br />
Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
15
N E G Ó C I O S<br />
Tecnologia da<br />
Informação<br />
revolucionou o<br />
setor de serviços<br />
Cor a Di a s e Dé b o r a Ho r n<br />
De terciário a essencial<br />
Presente <strong>em</strong> toda a cadeia produtiva, o setor de serviços<br />
movimenta bilhões <strong>em</strong> negócios e abriga um grande<br />
contingente de atividades intensivas <strong>em</strong> conhecimento<br />
divisão clássica do setor produtivo<br />
A <strong>em</strong> primário, secundário e terciário<br />
fez com que, ao longo do t<strong>em</strong>po, as atividades<br />
caracterizadas como serviços foss<strong>em</strong><br />
relegadas a um terceiro plano, representando<br />
tudo que não estivesse diretamente<br />
ligado à agricultura ou à indústria,<br />
que reinavam soberanas. Essa classificação<br />
levou a uma série de equívocos, tratando<br />
o setor de serviços como uma espécie<br />
de apêndice do setor industrial,<br />
conhecido pela baixa produtividade, re-<br />
duzida qualificação da mão-de-obra e<br />
pouca inovação. Mas todos os preconceitos<br />
ca<strong>em</strong> por terra quando se considera o<br />
elevado grau de heterogeneidade do setor,<br />
composto por uma imensa gama de <strong>em</strong>presas,<br />
extr<strong>em</strong>amente distintas <strong>em</strong> termos<br />
de porte, densidade de capital, nível<br />
tecnológico e número de <strong>em</strong>pregados.<br />
Além disso, o setor que já foi o patinho<br />
feio das atividades produtivas hoje representa<br />
60% do Produto Interno Bruto (PIB)<br />
brasileiro e movimenta R$ 501,1 bilhões<br />
shutterstock<br />
por ano <strong>em</strong> negócios, conforme dados do<br />
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística<br />
(IBGE).<br />
Embora intensa atualmente, a ascensão<br />
do setor de serviços foi gradual. No Brasil,<br />
iniciou na década de 1980, marcada<br />
pela especialização dos processos produtivos,<br />
quando várias áreas deixaram de<br />
integrar o organograma das <strong>em</strong>presas e a<br />
atuar como prestadoras de serviços. “O<br />
des<strong>em</strong>prego também gerou vários <strong>em</strong>preendimentos<br />
nesse setor. Outros fatores de<br />
ord<strong>em</strong> cultural, como a entrada das mulheres<br />
no mercado de trabalho, alavancaram<br />
negócios, com o fornecimento de<br />
serviços na área de alimentação fora de<br />
casa, limpeza e baby sitter, entre outros”,<br />
explica Márcia Darós, coordenadora nacional<br />
da Carteira de Serviços do Sebrae.<br />
Segundo Márcia, que também pesquisa<br />
o t<strong>em</strong>a para sua tese de doutorado, a<br />
abertura econômica dos anos 1990 contribuiu<br />
para o grande crescimento do setor<br />
de serviços. “As <strong>em</strong>presas precisavam<br />
se tornar mais competitivas e, para isso,<br />
passaram a focar suas atividades principais,<br />
descentralizando as d<strong>em</strong>ais. Então<br />
cresceram os <strong>em</strong>preendimentos ligados a<br />
Divulgação/ IBM<br />
serviços de transporte, logística, consultoria<br />
e manutenção de equipamentos”,<br />
afirma. Com a inovação vista como diferencial<br />
competitivo, também ganharam<br />
espaço as <strong>em</strong>presas de serviços intensivos<br />
<strong>em</strong> conhecimento, com forte atividade<br />
de P&D, alto valor agregado e mãode-obra<br />
qualificada. “São pequenas <strong>em</strong>presas<br />
que passaram a trabalhar por<br />
projetos, expandindo as atividades de<br />
consultoria”, diz Márcia.<br />
Para o pesquisador do Instituto de Pesquisas<br />
Econômicas Aplicadas (IPEA),<br />
Luis Kubota, outro fator que contribuiu<br />
para ampliar a percepção do setor de serviços<br />
foi o próprio desenvolvimento dos<br />
Estados Unidos. “As <strong>em</strong>presas norteamericanas<br />
mais famosas e sólidas têm<br />
uma relação muito forte com serviços,<br />
como as da área de software. A IBM é um<br />
caso <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>ático: era uma <strong>em</strong>presa que<br />
produzia máquinas de grande porte e<br />
hoje presta consultoria – venderam a<br />
produção industrial para os chineses. A<br />
China hoje é a grande fábrica do mundo,<br />
mas o conhecimento continua centralizado<br />
nos países mais desenvolvidos do<br />
Ocidente”, afirma.<br />
Márcia, do Sebrae:<br />
especialização<br />
das <strong>em</strong>presas<br />
impulsionou o setor<br />
Call center da IBM:<br />
<strong>em</strong>presa migrou da<br />
indústria para serviços<br />
Márcia Gouthier/ASN<br />
16<br />
Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
17
N E G Ó C I O S<br />
Participação dos segmentos nos serviços não financeiros<br />
Receita operacional líquida<br />
Valor adicionado<br />
Salários<br />
Pessoal ocupado<br />
29,9%<br />
Número de <strong>em</strong>presas<br />
4,4%<br />
4,6%<br />
1,7%<br />
1,9% 5,7%<br />
5,2%<br />
25,4%<br />
2,8% 5,1%<br />
3,2%<br />
27,6%<br />
3,4%<br />
22,5%<br />
5,5%<br />
9,5%<br />
13,2%<br />
4,1%<br />
9,7%<br />
5,2%<br />
9,2%<br />
21,5%<br />
8,4%<br />
28,9%<br />
12,4%<br />
33,2%<br />
36,2%<br />
21,9%<br />
Legenda<br />
Serviços prestados às famílias 23,4%<br />
Serviços de informação<br />
Serviços prestados às <strong>em</strong>presas<br />
Transportes, serviços auxiliares de transportes e correio<br />
Atividades imobiliárias e de aluguel de bens móveis e imóveis<br />
Manutenção e reparação<br />
Outros serviços<br />
28,7%<br />
24,5%<br />
15,7%<br />
6,7%<br />
32,2%<br />
6,5%<br />
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas,<br />
Coordenação de Serviços e Comércio, Pesquisa Anual de Serviços 2006<br />
Mix de setores<br />
A classificação setorial clássica também<br />
é contestada pelo professor James<br />
Teboul, da International Business School<br />
(Insead), no livro Serviços <strong>em</strong> cena: o diferencial<br />
que agrega valor ao seu negócio<br />
(veja box na pág. 19). Teboul apresenta<br />
um esqu<strong>em</strong>a <strong>em</strong> que a área de serviços<br />
trata das interações da linha de frente,<br />
enquanto a produção e a manufatura têm<br />
a ver com as operações de área de apoio.<br />
O objetivo do autor é comprovar que essa<br />
definição é suficient<strong>em</strong>ente robusta para<br />
cobrir todo o espectro dos negócios.<br />
A partir desse esqu<strong>em</strong>a, Teboul explica<br />
que as <strong>em</strong>presas não vend<strong>em</strong> apenas um<br />
produto, mas também o serviço por trás<br />
dele, a assistência técnica, a entrega pontual.<br />
Cada vez mais, os serviços representam<br />
elos importantes das cadeias de produção,<br />
essenciais desde a concepção dos<br />
produtos industriais até sua entrega e, finalmente,<br />
no pós-venda. “Não existe mais<br />
indústria pura hoje. Qualquer <strong>em</strong>presa de<br />
alimentos, por ex<strong>em</strong>plo, que vende seus<br />
produtos nos supermercados, t<strong>em</strong> um<br />
Serviço de Atendimento ao Consumidor<br />
(SAC) e isso é serviço. Software é serviço.<br />
Dentro da indústria, mais da metade das<br />
pessoas executam atividades classificadas<br />
como serviço: marketing, logística, recursos<br />
humanos, entre outros”, afirma<br />
Kubota, do IPEA.<br />
Além de permear a indústria, cresc<strong>em</strong><br />
os serviços <strong>em</strong>presariais intensivos <strong>em</strong><br />
conhecimento (SIC), segmento dinâmico<br />
e inovador, capaz de desenvolver tecnologias<br />
e de viabilizar uma gama de novos<br />
serviços. Reconhecidas por agregar valor<br />
aos negócios, essas atividades inclu<strong>em</strong><br />
consultoria técnica e transferência de<br />
know how, e os serviços de tecnologia de<br />
ponta, principalmente a tecnologia da informação<br />
e comunicação (TIC). “A competitividade<br />
das <strong>em</strong>presas muitas vezes<br />
não está no produto, mas na gama de serviços<br />
por trás da produção”, afirma José<br />
Eduardo Cassiolato, coordenador da RedeSIST<br />
e professor de Economia da Inovação<br />
do Instituto de Economia da Universidade<br />
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).<br />
Atendimento direto<br />
Comum a todas as definições para o setor<br />
está a ideia de serviço como atividade<br />
destinada a atender diretamente às necessidades<br />
das pessoas ou <strong>em</strong>presas. De<br />
acordo com o novo Termo de Referência<br />
do Sist<strong>em</strong>a Sebrae para o Setor de Serviços,<br />
publicado <strong>em</strong> dez<strong>em</strong>bro de 2007, serviço<br />
é o processo de realização de um trabalho<br />
para satisfazer a necessidade de um<br />
consumidor (veja box na pág. 20). “Até<br />
pouco t<strong>em</strong>po atrás, o Sebrae atendia o setor<br />
de serviços de forma pouco pulverizada,<br />
ou seja, apenas alguns segmentos<br />
eram cont<strong>em</strong>plados. Com o novo Termo<br />
de Referência, há uma visão mais abrangente<br />
do setor, visto como estratégico<br />
para o desenvolvimento e merecedor de<br />
políticas específicas para cada um de seus<br />
segmentos”, explica Márcia Darós.<br />
De acordo com a pesquisa realizada<br />
Serviços <strong>em</strong> cena<br />
A fim de dar uma definição mais adequada para<br />
o setor de serviços e mostrar como o paradigma<br />
clássico da economia trissetorial é obsoleto e<br />
enganoso, o professor James Teboul, do International<br />
Business School (Insead), escreveu o livro Serviços<br />
<strong>em</strong> cena: o diferencial que agrega valor ao seu negócio.<br />
O autor mostra que serviços tão comuns <strong>em</strong><br />
nosso cotidiano são, atualmente, a expressão mais<br />
dinâmica e promissora da economia, baseando-se<br />
na distinção entre as atividades da área de frente<br />
– os serviços – e as atividades da área de apoio –<br />
produção e manufatura.<br />
O objetivo do livro é comprovar que a definição<br />
proposta é suficient<strong>em</strong>ente robusta para cobrir todo<br />
o espectro de negócios, e que a abordag<strong>em</strong> que<br />
dela deriva proporcionará um referencial com o qual<br />
será possível explorar todas as questões importantes<br />
dessa área. Na indústria existe uma concentração na<br />
pelo Sebrae para a elaboração do termo<br />
de referência, o forte des<strong>em</strong>penho do setor<br />
terciário nos últimos anos t<strong>em</strong> sido<br />
motivado por essa crescente interdependência<br />
entre a produção de bens e a de<br />
serviços. Entre 1985 e 2005, o nível de<br />
<strong>em</strong>prego formal no setor de serviços aumentou<br />
sua participação na economia<br />
brasileira de 65,59% para 72,39%, com a<br />
criação de aproximadamente 11 milhões<br />
de novos <strong>em</strong>pregos. “Devido à dimensão<br />
do setor de serviços, entender mais a fundo<br />
sua situação e definir os esforços necessários<br />
para solucionar probl<strong>em</strong>as e<br />
promover seu desenvolvimento são tarefas<br />
fundamentais para o crescimento econômico<br />
do país”, afirma Márcia.<br />
Inovação terceirizada<br />
Classicamente conhecida (e criticada)<br />
como uma estratégia de redução de custos<br />
e ganhos de produtividade, a terceirização<br />
se estendeu às atividades ligadas ao<br />
conhecimento. Com o aumento da com-<br />
Teboul, da Insead:<br />
serviços são elos<br />
importantes da<br />
cadeia produtiva<br />
Kubota, do IPEA:<br />
inovação ainda se<br />
restringe a alguns<br />
segmentos<br />
área de apoio, mas é necessária uma área de frente<br />
para vender, distribuir, reparar, desenvolver soluções<br />
e ajudar a treinar os clientes. Já nos serviços, há<br />
uma concentração de atividades da área de frente,<br />
no entanto as operações da área de apoio são<br />
necessárias para preparar produtos e componentes<br />
ou informações sobre o processo.<br />
A partir desse esqu<strong>em</strong>a, o autor conclui que estão<br />
todos <strong>em</strong> serviços agora, mais ou menos, porém<br />
estar<strong>em</strong>os ainda mais <strong>em</strong> serviços no futuro, porque<br />
as áreas de apoio encolherão, devido à economia de<br />
escala e às terceirizações, enquanto a área de frente<br />
se desenvolverá ainda mais, por conta das exigências<br />
cada vez mais sofisticadas dos clientes. É importante<br />
ponderar a importância relativa da área de apoio e da<br />
área de frente, e saber gerenciar esses dois mundos<br />
tão distintos, que frequent<strong>em</strong>ente conflitam, mas têm<br />
que estar alinhados e coordenados.<br />
Márcia Gouthier/ASN<br />
Divulgação/ IPEA<br />
18<br />
Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
19
N E G Ó C I O S<br />
Políticas públicas<br />
petição internacional e busca por padrões<br />
mais elevados de qualidade, há uma crescente<br />
tendência no sentido da terceirização<br />
de serviços relacionados à atividade<br />
<strong>em</strong>presarial, como pesquisa e desenvolvimento,<br />
financiamento, logística e desenvolvimento<br />
de softwares. A d<strong>em</strong>anda fez<br />
<strong>em</strong>ergir uma série de pequenas e médias<br />
<strong>em</strong>presas especializadas e com grande<br />
potencial inovador.<br />
Segundo dados divulgados pelo Sebrae,<br />
98% das <strong>em</strong>presas do setor de serviços são<br />
micro, pequenas ou médias. Esse é o caso<br />
da Hive.Log Soluções Integradas para Logística,<br />
<strong>em</strong>presa incubada pelo Centro de<br />
Estudos e Sist<strong>em</strong>as Avançados do Recife<br />
(C.E.S.A.R.), que presta serviços de tecnologia<br />
da informação para grandes transportadoras,<br />
desenvolvendo softwares especializados<br />
<strong>em</strong> planejamento, execução,<br />
monitoramento e controle das atividades<br />
relativas à consolidação de cargas. “O setor<br />
de logística possui uma característica<br />
de intolerância a falhas, já que lida com<br />
prazos e normalmente trabalha 24 horas<br />
por dia. T<strong>em</strong>os que garantir que nosso sist<strong>em</strong>a<br />
funcione também <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po integral<br />
para o nosso cliente. Prestando esse serviço<br />
garantimos a estabilidade na cadeia de<br />
logística”, explica Daniel Brasil, presidente<br />
da Hive.Log. Dentre os clientes da <strong>em</strong>presa<br />
estão a Fly Logística, a Real Transportes<br />
e a Flex Express.<br />
No caso da Plangeo – Planejamento e<br />
Geotecnologia Ltda., <strong>em</strong>presa graduada<br />
pelo Agente Softex Genesis da Universidade<br />
Federal de Juiz de Fora (MG), os serviços<br />
especializados são oferecidos através<br />
de consultoria na geração de informações<br />
geográficas. Atualmente, a <strong>em</strong>presa está<br />
desenvolvendo o projeto “Produtor Florestal”<br />
para a Companhia Agrícola Florestal<br />
Santa Bárbara (CAF), <strong>em</strong>presa associada<br />
ao Grupo Arcelor. O trabalho<br />
consiste no levantamento de áreas onde<br />
serão feitas plantações de eucaliptos para<br />
produção de madeira que será convertida<br />
<strong>em</strong> carvão vegetal, usado como redutor<br />
nos alto-fornos da Belgo Mineira. A Plangeo<br />
vai mapear áreas de preservação permanente<br />
(APPs) e reservas legais para que<br />
a CAF possa realizar o projeto <strong>em</strong> regiões<br />
adequadas para o plantio, s<strong>em</strong> prejudicar<br />
o meio ambiente. “As <strong>em</strong>presas para as<br />
quais prestamos nossos serviços pod<strong>em</strong><br />
focar no seu objetivo final, nós agimos na<br />
O Termo de Referência proposto pelo Sebrae, <strong>em</strong> dez<strong>em</strong>bro de 2007, t<strong>em</strong> por objetivo promover projetos e<br />
criar instrumentos de apoio às MPEs e <strong>em</strong>preendedores dos diversos segmentos do setor de serviços, a partir de<br />
uma visão mais abrangente de suas especificidades. Segundo a coordenadora nacional da Carteira de Serviços<br />
do Sebrae, Márcia Darós, o termo foi criado a partir da constatação da importância econômica do setor e das<br />
dificuldades <strong>em</strong> estabelecer políticas públicas específicas para cada segmento. De acordo com o documento, o<br />
sucesso da atuação do Sebrae dependerá de futuras parcerias entre os <strong>em</strong>presários e as entidades <strong>em</strong>presariais e<br />
governamentais que prestam apoio às <strong>em</strong>presas que atuam no setor. Veja abaixo os principais objetivos do<br />
Termo de Referência.<br />
• Apresentar referências para atuação do Sist<strong>em</strong>a Sebrae nos diversos segmentos do setor de serviços.<br />
• Apresentar os 29 segmentos do setor de serviços que poderão contar com projetos.<br />
• Sugerir critérios para a escolha dos segmentos a apoiar.<br />
• Apresentar recomendações para a estruturação de projetos que atendam as especificidades dos<br />
diversos segmentos.<br />
• Sugerir estratégias de atuação específicas dependendo das características de cada segmento que<br />
se decida apoiar.<br />
área de Inteligência Geográfica e fornec<strong>em</strong>os<br />
informações que rend<strong>em</strong> maior produtividade<br />
e competitividade aos nossos<br />
clientes”, afirma Júlio César de Almeida,<br />
presidente da Plangeo.<br />
Intangível<br />
O contato direto com o cliente faz com<br />
que o setor de serviços, geralmente, trabalhe<br />
com o intangível e isso, segundo<br />
especialistas, dificulta o reconhecimento<br />
de processos inovadores. “A dificuldade<br />
<strong>em</strong> definir e mensurar o setor de serviços<br />
e, muitas vezes, compará-lo erroneamente<br />
ao setor manufatureiro causam essa<br />
incompreensão do que pode ser a inovação<br />
tecnológica nesse segmento. O investimento<br />
<strong>em</strong> P&D ainda está muito centrado<br />
<strong>em</strong> atividades manufatureiras”, explica<br />
Cassiolato, da UFRJ.<br />
Nesses cenários, as <strong>em</strong>presas ligadas às<br />
tecnologias de informação e comunicação<br />
(TICs) exerc<strong>em</strong> papel central no dinamismo<br />
de um novo padrão proposto pela<br />
economia do conhecimento, alavancando<br />
um conjunto de inovações técnico-científicas,<br />
organizacionais, sociais e institucionais<br />
e gerando novas possibilidades de<br />
retorno econômico e social nas mais variadas<br />
atividades. Por isso são consideradas<br />
pelos pesquisadores da área como as<br />
principais difusoras de progresso técnico.<br />
Segundo a última Pesquisa Anual de Serviços,<br />
publicada <strong>em</strong> 2006 pelo IBGE, as<br />
atividades ligadas às TICs incluíam 51.240<br />
<strong>em</strong>presas, ocupavam 344 mil pessoas e<br />
pagaram R$ 8,3 bilhões <strong>em</strong> salários, retiradas<br />
e outras r<strong>em</strong>unerações.<br />
Em um setor <strong>em</strong> que processo e produto<br />
geralmente se confund<strong>em</strong>, parece natural<br />
que haja especificidades quando se<br />
trata de inovação. “T<strong>em</strong> uma certa diferença<br />
na natureza da inovação. No serviço,<br />
a inovação é muito mais incr<strong>em</strong>ental<br />
que na indústria, <strong>em</strong> que ocorre de forma<br />
mais gradual. A inovação ainda se restringe<br />
a uma gama de <strong>em</strong>presas. Setores<br />
de software são muito mais inovadores,<br />
do ponto de vista tecnológico, do que o<br />
setor de restaurantes, por ex<strong>em</strong>plo”, conclui<br />
Kubota. Como qualquer teoria que se<br />
refere ao setor de serviços, tudo depende<br />
do ponto de vista.<br />
Trabalho de<br />
campo da Plangeo:<br />
consultoria agrega<br />
valor aos negócios<br />
Divulgação/ PLANGEO<br />
20<br />
Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
21
i n v e s t i m e n t o<br />
Ca r o l i n e Ma z z o n e t o<br />
Laboratório da<br />
Rizoflora, <strong>em</strong> Viçosa<br />
(MG): <strong>em</strong>presa<br />
recebeu R$ 1 milhão<br />
do Criatec<br />
S<strong>em</strong> medo do novo<br />
Fundo de capital-s<strong>em</strong>ente do Bndes <strong>completa</strong> 16 meses<br />
investindo <strong>em</strong> levar a inovação para o mercado através da<br />
compra de ações de <strong>em</strong>presas de base tecnológica<br />
No final de 2003 técnicos do Banco<br />
Nacional de Desenvolvimento Econômico<br />
e Social (Bndes) se convenceram<br />
de que havia uma lacuna no apoio à inovação<br />
no Brasil. Mesmo que o governo<br />
investisse quantias consideráveis <strong>em</strong> universidades,<br />
incubadoras e laboratórios,<br />
além de treinar e qualificar milhares de<br />
mestrandos e doutorandos, eram poucos<br />
os frutos dessas pesquisas que conseguiam<br />
chegar ao mercado. A razão era a<br />
falta de recursos para transformar a ideia<br />
<strong>em</strong> <strong>em</strong>preendimento. Foi para suprir essa<br />
lacuna que surgiu o Criatec, fundo de capital-s<strong>em</strong>ente<br />
criado pelo Bndes para<br />
apoiar <strong>em</strong>presas nascentes e inovadoras,<br />
de base tecnológica, com faturamento entre<br />
zero e R$ 6 milhões.<br />
Em funcionamento desde nov<strong>em</strong>bro de<br />
2007, o Criatec injeta recursos <strong>em</strong> troca<br />
de ações da <strong>em</strong>presa. Quando acaba a participação<br />
do fundo no <strong>em</strong>preendimento,<br />
essas ações são vendidas para um investidor<br />
estratégico (um grande cliente, por<br />
ex<strong>em</strong>plo) ou financeiro. O prazo de atuação<br />
do Criatec na <strong>em</strong>presa, na qual entra<br />
FOTOS: DIVULGAÇÃO<br />
s<strong>em</strong>pre como sócio minoritário, é de dois<br />
a 10 anos, prorrogáveis por mais cinco.<br />
Desde o início das operações, 16 <strong>em</strong>presas<br />
foram selecionadas para ter os investimentos<br />
– seis delas já receberam o<br />
dinheiro. Até agora foram des<strong>em</strong>bolsados<br />
R$ 10 milhões e outros R$ 22,3 milhões<br />
estão aprovados. “É uma iniciativa muito<br />
nova. Somos o maior fundo de capitals<strong>em</strong>ente<br />
da América Latina e possivelmente<br />
do mundo”, resume Robert Binder,<br />
gestor do Criatec junto à Comissão de<br />
Valores Mobiliários (CVM). O total de<br />
recursos disponíveis é de R$ 100 milhões<br />
– R$ 80 milhões do Bndes e o restante do<br />
Banco do Nordeste (BND), que ingressou<br />
no fundo <strong>em</strong> abril de 2008.<br />
O Criatec é gerido pela <strong>em</strong>presa Antera<br />
Gestão de Recursos e está presente <strong>em</strong><br />
oito sedes: Rio de Janeiro, Campinas, Belém,<br />
Fortaleza, Recife, Florianópolis, Belo<br />
Horizonte e Viçosa (posto avançado da<br />
Regional Belo Horizonte). O objetivo de<br />
terceirizar a operação do fundo era justamente<br />
o de aumentar sua área de atuação.<br />
Com pouca capilaridade, o Bndes teria<br />
dificuldades para estar perto dos <strong>em</strong>preendimentos<br />
visados pelo Criatec – geralmente<br />
localizados próximos a universidades.<br />
“Com a estrutura centralizada do<br />
banco as coisas iriam d<strong>em</strong>orar muito<br />
mais para acontecer e o número de <strong>em</strong>presas<br />
atendidas seria b<strong>em</strong> menor”, explica<br />
Aluysio Asti, economista do Bndes e<br />
um dos idealizadores do Criatec.<br />
Além do aporte financeiro, os gestores<br />
regionais acompanham o desenvolvimento<br />
das <strong>em</strong>presas, dando suporte jurídico,<br />
administrativo e financeiro. A iniciativa<br />
supre a d<strong>em</strong>anda dos inovadores, que,<br />
Orig<strong>em</strong> das propostas submetidas ao Criatec<br />
Dados até março de 2009<br />
Campinas – SP<br />
25<br />
Rio de Janeiro – RJ<br />
29<br />
Belo Horizonte e Viçosa – MG<br />
30<br />
Florianópolis – SC<br />
Recife – PE<br />
Belém – PA<br />
0<br />
Fortaleza – CE<br />
Total de propostas: 686<br />
muitas vezes, têm dificuldades na hora de<br />
lidar com o mercado. “Toda s<strong>em</strong>ana v<strong>em</strong><br />
alguém aqui discutir o andamento do negócio.<br />
Trabalhamos <strong>em</strong> conjunto para<br />
atingir as metas. Eles orientam e dão um<br />
pouco mais da visão econômica”, explica<br />
Wataru Ueda, um dos sócios da Magnamed,<br />
<strong>em</strong>presa residente no Centro Incubador<br />
de Empresas Tecnológicas. Especializada<br />
<strong>em</strong> tecnologias para equipamentos<br />
médico-hospitalares, a Magnamed passou<br />
a contar com a estrutura do Criatec <strong>em</strong><br />
outubro do ano passado.<br />
Grupo seleto<br />
A meta do fundo é que <strong>em</strong> quatro anos<br />
sejam beneficiados 50 <strong>em</strong>preendimentos<br />
– um por mês, <strong>em</strong> média. As 16 <strong>em</strong>presas<br />
selecionadas até agora são de áreas como<br />
biotecnologia, robótica, equipamentos<br />
médicos, petróleo e gás, novos materiais,<br />
mecatrônica, química, hardware e software.<br />
Mas <strong>em</strong>preendimentos de qualquer<br />
área do conhecimento pod<strong>em</strong> se candidatar,<br />
desde que envolvam inovação. As<br />
propostas de investimento são enviadas<br />
pelo site do Criatec – até março de 2009<br />
haviam sido inscritos 686 projetos. “A seletividade<br />
é muito grande porque o investimento<br />
é de alto risco. Não t<strong>em</strong> segurança,<br />
não t<strong>em</strong> aval”, argumenta Márcio<br />
Spata, gerente do Departamento de Fundos<br />
do Bndes.<br />
97<br />
106<br />
114<br />
75<br />
150<br />
285<br />
300<br />
O primeiro <strong>em</strong>preendimento a receber<br />
investimentos do Criatec, no ano passado,<br />
foi a Rizoflora Biotecnologia, da Incubadora<br />
de Empresas de Base Tecnológica do<br />
Centro Tecnológico de Desenvolvimento<br />
Regional de Viçosa (CENTEV), de Minas<br />
Gerais. Criada <strong>em</strong> fevereiro de 2006 como<br />
sociedade limitada, a <strong>em</strong>presa produz fungos<br />
e bactérias <strong>em</strong> substratos específicos<br />
para controle biológico dos chamados<br />
neumatoides, vermes que atacam raízes de<br />
culturas como cana-de-açúcar, soja, café e<br />
árvores frutíferas. Com o investimento do<br />
Criatec, que foi de R$ 1 milhão, foi construída<br />
uma biofábrica no Parque Tecnológico<br />
de Viçosa. “S<strong>em</strong> o Criatec talvez a<br />
Rizoflora estivesse caminhando a passos<br />
b<strong>em</strong> lentos. Foi primordial para a <strong>em</strong>presa,<br />
deu uma guinada muito grande”, explica<br />
Marcos Antônio Teixeira, gestor administrativo<br />
do <strong>em</strong>preendimento.<br />
Para Aluysio Asti, um dos idealizadores<br />
do fundo, a iniciativa está no caminho certo.<br />
Ainda assim, falta aumentar o alcance e<br />
o número de <strong>em</strong>presas beneficiadas pelo<br />
Criatec, aproveitando a experiência adquirida<br />
nesta primeira fase. “Agora t<strong>em</strong>os que<br />
fazer um esforço ainda maior para massificar,<br />
encontrar meios de atender mais <strong>em</strong>presas”,<br />
conclui o economista.<br />
Passo a passo<br />
Ueda, da Magnamed:<br />
orientação do Criatec<br />
ajuda a atingir metas<br />
Spata, do Bndes:<br />
seleção de<br />
<strong>em</strong>presas é rigorosa<br />
devido ao risco<br />
As propostas inscritas no site do Criatec são avaliadas <strong>em</strong><br />
no máximo um mês pelos gestores regionais, de acordo com<br />
a localização da <strong>em</strong>presa que busca a parceria. Se o projeto<br />
é aprovado neste primeiro momento, o gestor entra <strong>em</strong><br />
contato com o <strong>em</strong>preendedor e marca uma entrevista. Os dois<br />
montam a quatro mãos um relatório de investimentos que<br />
é encaminhado para o comitê interno da Antera, gestora do<br />
Criatec. A <strong>em</strong>presa então decide se leva ou não a proposta para<br />
o Comitê de Investimentos, formado por dois representantes<br />
do Bndes, um do BND, um gestor do fundo e dois conselheiros<br />
externos. Se o projeto é aprovado nessa última rodada, começa<br />
uma checag<strong>em</strong> <strong>completa</strong> <strong>em</strong> relação aos antecedentes do<br />
<strong>em</strong>preendimento e do <strong>em</strong>preendedor. Além das 16 <strong>em</strong>presas já<br />
aprovadas, há atualmente cerca de 25 pré-selecionadas.<br />
22<br />
Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
23
o p o r t u n i d a d e<br />
Fr a n c i s Fr a n ç a<br />
Operação de risco<br />
Brasil decide competir no mercado de s<strong>em</strong>icondutores,<br />
hoje dominado por gigantes multinacionais. Se der certo,<br />
a iniciativa pode fomentar uma indústria inovadora.<br />
Mas a possibilidade de fracasso ainda gera desconfiança.<br />
P<br />
ara esta reportag<strong>em</strong> chegar às suas<br />
mãos, foram necessárias centenas de<br />
chips. Eles estavam no computador de<br />
qu<strong>em</strong> escreveu, nos servidores que transmitiram<br />
os dados pela internet, nas máquinas<br />
que fabricaram o papel, nas impressoras<br />
da gráfica, nos veículos que a<br />
entregaram. E se você olhar <strong>em</strong> volta,<br />
verá que neste momento está cercado por<br />
eles, nos telefones, aparelhos eletrônicos<br />
e <strong>em</strong> tudo mais que tenha passado por<br />
processo industrial. Essa montanha de<br />
shutterstock<br />
chips, também chamados de s<strong>em</strong>icondutores,<br />
movimenta cerca de US$ 250 bilhões<br />
por ano <strong>em</strong> um mercado que o Brasil<br />
frequentava apenas como comprador.<br />
Este ano o cenário começa a mudar com a<br />
inauguração do Centro de Excelência <strong>em</strong><br />
Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec),<br />
<strong>em</strong> Porto Alegre (RS), considerado pelos<br />
fundadores o primeiro passo para transformar<br />
o Sul do Brasil no Vale do Silício<br />
da América Latina.<br />
O Governo Federal investiu cerca de<br />
R$ 350 milhões na <strong>em</strong>preitada, e <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro<br />
do ano passado assinou a criação<br />
da <strong>em</strong>presa pública Ceitec S/A. A estatização<br />
garante o repasse de recursos via Ministério<br />
da Ciência e Tecnologia até que o<br />
centro se torne autossuficiente, o que está<br />
programado para acontecer <strong>em</strong> três anos.<br />
Depois da federalização já foram repassados<br />
mais R$ 45 milhões para o custeio das<br />
atividades <strong>em</strong> 2009. O investimento é uma<br />
tentativa de reduzir a pressão sobre a balança<br />
comercial, já que os componentes<br />
microeletrônicos representam um quinto<br />
de toda a importação do país, segundo a<br />
Associação Brasileira da Indústria Elétrica<br />
e Eletrônica (Abinee). Só <strong>em</strong> s<strong>em</strong>icondutores,<br />
as importações custaram ao Brasil<br />
US$ 4 bilhões no ano passado, 18% a<br />
mais do que <strong>em</strong> 2007. Considerando todos<br />
os itens de microeletrônica, <strong>em</strong> 2008 o déficit<br />
chegou a US$ 22 bilhões.<br />
Críticas ao projeto questionam se vale a<br />
pena investir tanto dinheiro público para<br />
entrar <strong>em</strong> um mercado já maduro e dominado<br />
por gigantes multinacionais. De fato<br />
o Ceitec não vai resolver o probl<strong>em</strong>a da<br />
balança comercial, mas é peça fundamental<br />
no quebra-cabeça. “O custo da importação<br />
de componentes já é maior do que o<br />
país exporta de ferro, frango ou café, e<br />
esse déficit cresce <strong>em</strong> média 30% ao ano.<br />
Se o Brasil não começar a participar do<br />
mercado de microeletrônica, daqui a pouco<br />
não vamos mais conseguir pagar a<br />
conta da tecnologia”, diz Luiz Francisco<br />
Gerbase, vice-presidente da Abinee e diretor<br />
regional no Rio Grande do Sul.<br />
Primeiro passo<br />
Ainda serão necessários muitos anos<br />
para que a indústria brasileira de s<strong>em</strong>icondutores<br />
consiga reverter o déficit,<br />
mas o Brasil precisa começar e já perdeu<br />
t<strong>em</strong>po d<strong>em</strong>ais – a China começou o processo<br />
s<strong>em</strong>elhante há 10 anos. A proposta<br />
do Ceitec é justamente servir de estopim.<br />
O plano não é vender bilhões de dólares,<br />
mas preparar o campo para atrair<br />
outras <strong>em</strong>presas e multiplicar os investimentos.<br />
“O Ceitec é uma bandeira, não<br />
um prédio. O que vai resolver o probl<strong>em</strong>a<br />
da balança comercial é um plano<br />
estratégico nacional para a microeletrônica,<br />
não iniciativas isoladas. Nas<br />
economias desenvolvidas esse setor corresponde<br />
a 12% do PIB. O Brasil também<br />
pode chegar lá, mas para isso precisamos<br />
começar”, diz Gerbase.<br />
De acordo com o presidente do Ceitec,<br />
Eduard Weichselbaumer, mais do que gerar<br />
volume <strong>em</strong> dólares, o objetivo é criar<br />
propriedade intelectual no país e um ambiente<br />
favorável para a instalação da indústria<br />
de microeletrônica. “S<strong>em</strong> indústria<br />
de s<strong>em</strong>icondutores a microeletrônica<br />
não se desenvolve. As <strong>em</strong>presas do setor<br />
não vinham para cá porque não havia infraestrutura.<br />
Precisamos oferecer insumos<br />
como água e energia com uma qualidade<br />
diferente do consumidor comum,<br />
estrutura de fornecedores e mão-de-obra<br />
qualificada. E é esse alicerce que estamos<br />
montando”, diz ele. A inauguração está<br />
prevista para julho e <strong>em</strong>bora a preocupação<br />
principal seja servir de base, o Ceitec<br />
espera também ampliar a produção, e, <strong>em</strong><br />
dois anos, atingir uma nova fase, com<br />
mais capital – público ou privado.<br />
Base na experiência<br />
O projeto começou <strong>em</strong> 2000, a partir de<br />
uma parceria entre governos, universidades<br />
e a Motorola, que doou equipamentos<br />
para montar uma sala limpa para fabricação<br />
de s<strong>em</strong>icondutores. Em 2005 começaram<br />
as obras do complexo de 14.600 m²,<br />
que inclu<strong>em</strong> a fábrica onde estão as salas<br />
limpas e o centro de projetos, onde fica o<br />
núcleo de design de chips. Cerca de 80<br />
profissionais trabalham hoje no Ceitec,<br />
40 deles ligados diretamente ao design de<br />
chips e outros 40 envolvidos na montag<strong>em</strong><br />
da fábrica e na administração. O plano<br />
é chegar até o final do ano com 120<br />
pessoas. A equipe é de alta qualificação.<br />
Para cada oito engenheiros é necessário<br />
um líder de time com 15 anos de experiência.<br />
Como o Brasil não t<strong>em</strong> tradição <strong>em</strong><br />
s<strong>em</strong>icondutores, boa parte desses profissionais<br />
v<strong>em</strong> do exterior – estrangeiros ou<br />
brasileiros que trabalham fora do país.<br />
O próprio presidente do Ceitec é al<strong>em</strong>ão.<br />
Com quase 30 anos de experiência<br />
na área de s<strong>em</strong>icondutores, Weichselbaumer<br />
participou do lançamento de diversas<br />
<strong>em</strong>presas do setor nos mercados euro-<br />
Sede do Ceitec:<br />
investimento<br />
público beira os<br />
R$ 400 milhões<br />
DIVULGAÇÃO<br />
24<br />
Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
25
o p o r t u n i d a d e<br />
Weichselbaumer:<br />
Brasil agora t<strong>em</strong><br />
condições de<br />
disputar espaço<br />
peu e norte-americano. Em contato com<br />
amigos engenheiros que estavam envolvidos<br />
com o Ceitec, Weichselbaumer participou<br />
da elaboração do plano de negócios<br />
do centro, e no final de março foi <strong>em</strong>possado<br />
como presidente. “Talvez para o<br />
Brasil seja estranho nomear um estrangeiro<br />
para presidir uma <strong>em</strong>presa pública,<br />
mas o mundo inteiro está estruturado assim,<br />
buscando especialistas que tenham o<br />
conhecimento necessário, sejam eles estrangeiros<br />
ou não. O ministro Sérgio Rezende<br />
me disse que o Brasil tentou mais<br />
de uma vez entrar na área de s<strong>em</strong>icondutores,<br />
mas s<strong>em</strong> experiência não funcionou”,<br />
diz o presidente.<br />
E ao contrário do que se podia esperar,<br />
a crise financeira mundial beneficiou os<br />
planos da estatal. Enquanto no exterior<br />
os reflexos da crise sacod<strong>em</strong> os mercados<br />
e levam a insegurança e d<strong>em</strong>issões, o<br />
Brasil faz o movimento inverso e importa<br />
engenheiros de alta qualificação com<br />
mais facilidade. Além disso, encontra os<br />
concorrentes <strong>em</strong> uma posição mais vulnerável<br />
e dispostos a firmar parcerias<br />
para dividir esforços. “Nossa estratégia é<br />
montar a <strong>em</strong>presa de s<strong>em</strong>icondutores enquanto<br />
o resto do mundo t<strong>em</strong> dificuldade,<br />
assim estar<strong>em</strong>os prontos quando o<br />
mercado começar a se recuperar”, diz<br />
Weichselbaumer.<br />
A indústria de s<strong>em</strong>icondutores só deve<br />
retomar o crescimento <strong>em</strong> 2010, segundo<br />
FOTOS: DIVULGAÇÃO<br />
pesquisa divulgada pela consultoria<br />
Gartner Group. Este ano o mercado deve<br />
sofrer retração de 24% na receita <strong>em</strong> relação<br />
aos US$ 256,4 bilhões registrados<br />
<strong>em</strong> 2008. A Intel é a maior fabricante<br />
mundial de s<strong>em</strong>icondutores, com 13,3%<br />
de participação no mercado. Em segundo<br />
lugar v<strong>em</strong> a Samsung, com 6,8%. O<br />
Ceitec não pretende concorrer com elas.<br />
Nesse universo de bilhões de dólares<br />
n<strong>em</strong> tudo é m<strong>em</strong>ória para computador e,<br />
por isso, a estratégia do centro brasileiro<br />
é focar <strong>em</strong> três nichos: identificação por<br />
radiofrequência (RFID), como o chip de<br />
rastreamento bovino, já projetado pelo<br />
Ceitec; circuitos para TV digital e comunicação<br />
wireless, todos projetados para<br />
ser<strong>em</strong> competitivos internacionalmente.<br />
Espaço disputado<br />
Sinergia<br />
A expectativa é que o Ceitec não apenas estimule<br />
<strong>em</strong>presas estrangeiras a instalar<strong>em</strong> unidades de<br />
produção no Brasil, mas também a criação de<br />
<strong>em</strong>presas inovadoras voltadas para o mercado de<br />
microeletrônica. Da Pontifícia Universidade Católica<br />
do Rio Grande do Sul (PUCRS) vieram os dois<br />
primeiros ex<strong>em</strong>plos. Um deles foi a parceria entre<br />
Ceitec, o Centro de Pesquisa <strong>em</strong> Tecnologias Wireless<br />
(CPTW) da Faculdade de Engenharia da universidade<br />
e o Grupo Telavo, instalado no Parque Tecnológico<br />
Tecnopuc, que abrigou provisoriamente o Ceitec<br />
durante dois anos. Os três parceiros se uniram para<br />
desenvolver o projeto de moduladores para TV<br />
digital e também têm planos de desenvolver chips<br />
para televisores e conversores para decodificar os<br />
O mercado consumidor está na própria<br />
vizinhança. A meta é fazer do Brasil líder<br />
<strong>em</strong> s<strong>em</strong>icondutores na América Latina,<br />
mercado hoje dominado por Estados<br />
Unidos, Rússia, Índia e China. Para Weichselbaumer,<br />
o cenário é bastante favorável,<br />
já que a tendência das indústrias é<br />
investir <strong>em</strong> mercados <strong>em</strong>ergentes e não<br />
existia nenhuma base latino-americana<br />
até a criação do Ceitec. Para o presidente<br />
da estatal, o Brasil entra no mercado <strong>em</strong><br />
condições de disputar espaço com concorrentes<br />
como a China por dois fatores:<br />
o primeiro é que os custos de implantação<br />
da fábrica já estão amortizados e<br />
toda a receita entra como saldo positivo.<br />
O segundo é o Programa de Apoio ao Desenvolvimento<br />
Tecnológico da Indústria<br />
de S<strong>em</strong>icondutores (Padis), que isenta de<br />
imposto de renda, PIS/Pasep, Cofins, IPI<br />
e CIDE as indústrias de s<strong>em</strong>icondutores<br />
e equipamentos para TV digital . A Lei<br />
11.484 também reduz a zero a alíquota de<br />
importação de máquinas e equipamentos<br />
por até 16 anos. “A mão-de-obra na China<br />
não é mais barata do que a nossa. Eles<br />
têm custos menores na produção de alguns<br />
componentes, mas pod<strong>em</strong>os importá-los<br />
s<strong>em</strong> o peso dos impostos, o que nos<br />
põe <strong>em</strong> vantag<strong>em</strong>. E se tivermos custos<br />
equivalentes, ser<strong>em</strong>os mais competitivos,<br />
porque entend<strong>em</strong>os muito mais de América<br />
Latina do que os chineses”, diz Weichselbaumer.<br />
Para explorar essa competitividade<br />
toda, o Ceitec vai precisar enfrentar alguns<br />
desafios, como conciliar o ritmo do<br />
mercado de chips com o de uma <strong>em</strong>presa<br />
estatal. Embora o centro tenha uma estrutura<br />
moderna e todos os cargos sejam<br />
de técnicos qualificados, não políticos, é<br />
s<strong>em</strong>pre mais difícil administrar uma <strong>em</strong>presa<br />
pública do que uma privada. Prova<br />
disso é Weichselbaumer ter passado os<br />
últimos quatro meses tendo que resolver<br />
probl<strong>em</strong>as administrativos. Enquanto<br />
isso, a taxa média de evolução desse mercado<br />
é de nove meses.<br />
A aposta é que o país consiga equacionar<br />
vantagens e limitações, até por que<br />
não existe outra escolha. Ou começa a<br />
fomentar uma indústria que levará décadas<br />
para se desenvolver plenamente, ou<br />
não começa e se limita a assistir ao aumento<br />
do déficit. “A alternativa é não<br />
fazer nada. Não correr<strong>em</strong>os risco, n<strong>em</strong><br />
chegar<strong>em</strong>os a lugar algum”, diz Weichselbaumer.<br />
Segundo ele, os investimentos<br />
foram relativamente baixos, se comparados<br />
ao custo médio de uma fábrica<br />
grande de s<strong>em</strong>icondutores – cerca de<br />
US$ 1 bilhão, com prazo de quatro anos<br />
para recuperar o investimento e receita<br />
média de US$ 1 milhão por dia. “Eu conheço<br />
muito b<strong>em</strong> a China, há alguns<br />
anos eles investiram US$ 2,5 bilhões <strong>em</strong><br />
dois anos e meio e hoje estão muito b<strong>em</strong><br />
posicionados. O Brasil pode chegar lá<br />
também, mas precisa dar o primeiro<br />
passo”, afirma.<br />
Funcionários do<br />
Ceitec: boa parte<br />
dos contratados<br />
v<strong>em</strong> do exterior<br />
sinais analógicos <strong>em</strong> digitais.<br />
O segundo caso v<strong>em</strong> da parceria entre o Ceitec, o<br />
Grupo de Sist<strong>em</strong>as Embarcados (GSE) da Faculdade<br />
de Informática (Facin) da PUCRS e a <strong>em</strong>presa<br />
Innalogics, residente na Incubadora Multissetorial<br />
de Empresas de Base Tecnológica da PUCRS (Raiar),<br />
para desenvolver chips a ser<strong>em</strong> instalados nos<br />
carros brasileiros com informações acessíveis a<br />
autoridades rodoviárias e policiais. O projeto atende<br />
a uma medida do Conselho Nacional de Trânsito<br />
para facilitar a localização de veículos furtados,<br />
identificar situações irregulares e gerenciar o<br />
tráfego. A Innalogics t<strong>em</strong> os direitos exclusivos de<br />
comercialização do chip por 15 anos e a propriedade<br />
intelectual pertence à universidade.<br />
26<br />
Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
27
E S P E C I A L<br />
Indústria está<br />
disposta a proteger<br />
atividades de P&D<br />
Adr i a n e Al i c e Pe r e i r a<br />
Crise: oportunidade e<br />
desafio para o Brasil inovador<br />
Turbulência econômica exige medidas específicas de<br />
apoio à inovação para garantir a competitividade do país<br />
Foi no seu discurso ao Congresso, <strong>em</strong><br />
24 de fevereiro, que o presidente dos<br />
Estados Unidos, Barack Obama, revelou a<br />
tônica da estratégia do seu governo para<br />
tirar o país da crise: investimentos <strong>em</strong> ciência<br />
e tecnologia. É pela inovação que<br />
Obama pretende recuperar as áreas de<br />
educação, energia e saúde, escolhidas<br />
como prioridades para garantir o futuro<br />
da economia norte-americana. Com investimentos<br />
<strong>em</strong> energias renováveis e<br />
pesquisas para aumentar a eficácia dos<br />
sist<strong>em</strong>as de saúde e educação, o presidente<br />
traçou o caminho para aumentar a<br />
competitividade e restaurar a supr<strong>em</strong>acia<br />
dos Estados Unidos.<br />
Outros países seguiram caminhos s<strong>em</strong>elhantes<br />
e a inovação assumiu papel de<br />
destaque nas agendas anticrise. No Brasil,<br />
ainda é tímida a estratégia para fortalecer<br />
o papel da inovação como ferramenta de<br />
combate aos efeitos da crise. Apesar de<br />
lançar pacotes como o de desoneração<br />
fiscal de alguns setores e outras medidas<br />
de curto prazo, o governo brasileiro ainda<br />
não deixou claro qual será a sua reação<br />
para proteger e estimular a inovação durante<br />
a crise econômica mundial.<br />
“A atuação do governo na área de Ciência,<br />
Tecnologia e Inovação (CT&I) ganha<br />
MIGUEL ANGELO/ CNI<br />
pro<strong>em</strong>inência <strong>em</strong> momentos de crise. Diferent<strong>em</strong>ente<br />
de outras áreas, não houve<br />
como consequência da crise econômica<br />
lançamento de políticas ou mesmo r<strong>em</strong>odelamento<br />
de mecanismos já existentes<br />
para CT&I no Brasil. Pelo contrário, o<br />
corte no orçamento do Ministério da Ciência<br />
e Tecnologia é um indicador (negativo)<br />
das prioridades do país”, avalia José<br />
Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento<br />
de Competitividade e Tecnologia<br />
da Federação das Indústrias do Estado de<br />
São Paulo (Fiesp).<br />
Coelho se refere ao corte de aproximadamente<br />
R$ 1,2 bilhão no orçamento do<br />
MCT, o equivalente a 18% do total proposto<br />
no orçamento para a pasta <strong>em</strong><br />
2009. Duramente criticado pela comunidade<br />
científica, o corte no orçamento foi<br />
minimizado pelo ministro Sérgio Rezende.<br />
De acordo com o ministro, o corte<br />
não prejudicaria as ações <strong>em</strong> andamento,<br />
como os Institutos Nacionais de Ciência<br />
e Tecnologia, o Sist<strong>em</strong>a Brasileiro de Tecnologia<br />
(Sibratec) e a subvenção econômica<br />
para as <strong>em</strong>presas.<br />
Ao agir na manutenção do aquecimento<br />
da d<strong>em</strong>anda interna, o governo começou<br />
a andar para trás na política de inovação.<br />
É o que afirma o economista<br />
Carlos Américo Pacheco, professor do<br />
Instituto de Economia da Universidade<br />
Estadual de Campinas (Unicamp). Para<br />
ele as políticas brasileiras de inovação e<br />
de desenvolvimento do setor produtivo<br />
precisam de adaptações. “São políticas<br />
consistentes e com bons acertos, mas voltadas<br />
para um contexto anterior. A crise<br />
compromete a eficiência dessas medidas<br />
e exige uma agenda mais criativa para a<br />
inovação”, afirma.<br />
O economista cita como ex<strong>em</strong>plo a Lei<br />
do B<strong>em</strong> (Lei 11.196/05), que trata de incentivos<br />
fiscais para pessoas jurídicas que<br />
realizam pesquisa e desenvolvimento de<br />
inovação tecnológica. “Os incentivos previstos<br />
na Lei do B<strong>em</strong> envolv<strong>em</strong> deduções<br />
no Imposto de Renda e na Contribuição<br />
Social sobre Lucro Líquido (CSLL). Nesse<br />
momento de crise o lucro das <strong>em</strong>presas<br />
será drasticamente comprometido e a lei<br />
perde seu efeito”, diz Pacheco.<br />
A adaptação da Lei do B<strong>em</strong> é um dos<br />
t<strong>em</strong>as que a Associação Nacional de Pesquisa<br />
e Desenvolvimento das Empresas<br />
Inovadoras (Anpei) já está debatendo<br />
com o governo na busca de medidas anticrise<br />
de estímulo à inovação. “Como a<br />
Lei se torna inócua quando as <strong>em</strong>presas<br />
têm prejuízo, estamos solicitando ao governo<br />
que as deduções possam ser acumuladas<br />
para os anos seguintes”, explica<br />
Maria Angela do Rego Barros, presidente<br />
da Anpei.<br />
A Fiesp também propõe mudanças para<br />
ampliar o acesso das <strong>em</strong>presas aos benefícios<br />
da Lei do B<strong>em</strong>. “É necessário que o<br />
governo crie mecanismos que permitam a<br />
utilização da lei pelas <strong>em</strong>presas que declaram<br />
com lucro presumido, <strong>em</strong> geral<br />
micro e pequenas. Outra proposta da<br />
Fiesp é que o governo permita o uso<br />
de créditos tributários acumulados <strong>em</strong><br />
qualquer tributo federal para aplicações<br />
comprovadas <strong>em</strong> P&D ou <strong>em</strong> projetos estruturantes<br />
de interesse da política industrial”,<br />
sugere Coelho.<br />
Dinheiro para inovar<br />
Para o economista Carlos Américo Pacheco,<br />
as políticas produtivas também<br />
precisam ser adaptadas para o momento<br />
onde há menos volúpia de investimento<br />
privado. “É necessária uma revisão dos<br />
instrumentos de apoio à inovação para<br />
não retirar o investimento das <strong>em</strong>presas<br />
nesse momento <strong>em</strong> que elas mais precisam”,<br />
explica Pacheco.<br />
Manter e ampliar o crédito para a inovação<br />
durante a crise também é uma das<br />
preocupações da Financiadora de Estudos<br />
e Projetos do Ministério da Ciência e<br />
Tecnologia (Finep), de acordo com o diretor<br />
de inovação do órgão, Eduardo<br />
Costa. “Nesse cenário de crise a d<strong>em</strong>anda<br />
por financiamento aumentou muito,<br />
não apenas por que o crédito no sist<strong>em</strong>a<br />
Obama: investimentos<br />
<strong>em</strong> C&T para fortalecer<br />
a economia americana<br />
Coelho, da Fiesp:<br />
Lei do B<strong>em</strong> precisa<br />
se adequar a micro e<br />
pequenas <strong>em</strong>presas<br />
FOTOS: DIVULGAÇÃO<br />
28<br />
Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
29
E S P E C I A L<br />
Valter Campanato/ Abr<br />
Ministro Sérgio<br />
Rezende: corte<br />
de recursos não<br />
prejudicaria<br />
programas <strong>em</strong><br />
andamento<br />
Empresas precisam<br />
de apoio para<br />
continuar investindo<br />
<strong>em</strong> pesquisas<br />
financeiro ficou mais difícil, mas também<br />
por que as <strong>em</strong>presas estão se conscientizando<br />
da importância de investir<br />
<strong>em</strong> inovação durante a crise para saír<strong>em</strong><br />
mais fortes quando a turbulência passar”,<br />
afirma Costa.<br />
Uma das medidas da Finep para aumentar<br />
o volume de recursos é a ampliação<br />
do programa Juro Zero, que hoje<br />
opera <strong>em</strong> cinco estados e passará <strong>em</strong> breve<br />
a ser executado <strong>em</strong> nove. “Embora pareça<br />
menos significativo <strong>em</strong> volume de<br />
recursos, esse programa é muito importante<br />
para micro e pequenas <strong>em</strong>presas<br />
inovadoras”, explica o diretor de inovação<br />
da Finep. A financiadora também<br />
prevê reforço na oferta de crédito. “T<strong>em</strong>os<br />
uma operação de crédito re<strong>em</strong>bolsável<br />
que previa a contratação de R$ 1,2<br />
bilhão <strong>em</strong> 2008. Agora, <strong>em</strong> acertos finais<br />
com os órgãos de governo envolvidos,<br />
propus<strong>em</strong>os elevar esse valor para R$ 3<br />
bilhões”, anuncia Costa.<br />
Apesar de expandir o Juro Zero e a linha<br />
de crédito e de manter o programa<br />
Primeira Empresa Inovadora (Prime) –<br />
cujos recursos já foram repassados às incubadoras,<br />
a Finep pode não conseguir<br />
shutterstock<br />
segurar o orçamento da subvenção econômica.<br />
“Houve um corte significativo<br />
no orçamento da subvenção, mas estamos<br />
operando normalmente, na expectativa<br />
de recompor esses recursos. Mas se o orçamento<br />
não for recomposto, ter<strong>em</strong>os<br />
atrasos nas contratações deste ano. Esse<br />
poderia ser o maior impacto sofrido pelo<br />
sist<strong>em</strong>a de financiamento à inovação.<br />
Mas toda a nossa expectativa e a sinalização<br />
que t<strong>em</strong>os dos d<strong>em</strong>ais ministérios do<br />
governo é de que não faltará dinheiro<br />
para a inovação”, sinaliza o diretor de<br />
inovação da Finep.<br />
O Banco Nacional de Desenvolvimento<br />
Econômico e Social (Bndes) também t<strong>em</strong><br />
procurado adotar ações para contribuir<br />
com a estabilização da economia brasileira<br />
e diminuir os efeitos da crise internacional.<br />
Entre as principais ações, está a<br />
manutenção dos investimentos <strong>em</strong> infraestrutura<br />
e o cumprimento da meta de des<strong>em</strong>bolsar<br />
R$ 6 bilhões <strong>em</strong> inovação até<br />
2010. “Como novidade, estamos lançando<br />
uma nova modalidade no Cartão Bndes,<br />
ao incluir financiamento de serviços de<br />
pesquisa, desenvolvimento e inovação,<br />
como, por ex<strong>em</strong>plo, extensão tecnológica,<br />
design, prototipag<strong>em</strong>, pedido de registro<br />
de propriedade intelectual e aquisição e<br />
transferência de tecnologia, entre outros.<br />
Será um grande impulso à inovação nas<br />
pequenas e médias <strong>em</strong>presas”, antecipa<br />
João Carlos Ferraz, diretor do Bndes responsável<br />
pelas áreas de pesquisa econômica,<br />
planejamento e gestão de riscos.<br />
Por participar acionariamente – diretamente<br />
ou via fundos – de várias <strong>em</strong>presas<br />
de base tecnológica, o Bndes adotou como<br />
uma das primeiras medida anticrise o aumento<br />
do limite de participação do banco<br />
no capital dessas <strong>em</strong>presas de 30% para<br />
40%. “Outra medida tomada pelo Bndes<br />
logo <strong>em</strong> outubro de 2008 foi a criação de<br />
um programa t<strong>em</strong>porário de capital de<br />
giro para todos os setores industriais e de<br />
serviços, chamado PEC-Bndes, que certamente<br />
poderá contribuir para a manutenção<br />
das despesas ligadas à inovação, como<br />
a folha de pagamento dos pesquisadores”,<br />
avalia o diretor do banco.<br />
Sugestões <strong>em</strong> pauta<br />
Para a presidente da Anpei, além da<br />
manutenção dos programas já existentes,<br />
o momento é de acelerar os instrumentos<br />
de apoio à inovação. “Não t<strong>em</strong>os mais o<br />
Pequenas ganham espaço<br />
A pesquisa da Fiesp mostra ainda que as pequenas<br />
<strong>em</strong>presas foram as que mais investiram <strong>em</strong> inovação<br />
<strong>em</strong> 2008 e que deve ser assim também <strong>em</strong> 2009,<br />
elevando este ano seus investimentos <strong>em</strong> inovação<br />
de 19% para 26% <strong>em</strong> relação ao faturamento. “Para as<br />
micro e pequenas <strong>em</strong>presas, inovar nesse momento<br />
de crise é uma grande oportunidade. Ao mesmo<br />
t<strong>em</strong>po é uma necessidade, pois com as grandes<br />
e médias <strong>em</strong>presas se voltando para o mercado<br />
nacional a competição dessas organizações com as<br />
de pequeno porte passa a ser mais direta e intensa”,<br />
afirma Edson Ferman, gerente de acesso a inovação e<br />
tecnologia do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e<br />
Pequenas Empresas (Sebrae).<br />
Para o gerente do Sebrae, ser pequena não é<br />
desculpa para não inovar. Pelo contrário. “De forma<br />
geral, a inovação nessas organizações t<strong>em</strong> custo<br />
menor e impacto maior. A mudança na pequena<br />
<strong>em</strong>presa é mais simples e flexível, o que facilita<br />
o processo de inovação”, acrescenta Ferman.<br />
Ao assumir a inovação como o conhecimento<br />
colocado <strong>em</strong> prática que traz resultados positivos,<br />
as pequenas <strong>em</strong>presas dev<strong>em</strong> investir <strong>em</strong> novas<br />
ideias <strong>em</strong> produtos, serviços, processos, marketing<br />
e na estrutura organizacional, não necessariamente<br />
para fazer o que ninguém fez, mas para encontrar<br />
meios de se tornar<strong>em</strong> competitivas. “Para muitas<br />
pequenas <strong>em</strong>presas brasileiras, o simples uso de um<br />
computador já é uma inovação”, diz Edson Ferman.<br />
O desafio, segundo o gerente do Sebrae, é ampliar<br />
e diss<strong>em</strong>inar a visão inovadora entre as pequenas<br />
<strong>em</strong>presas. Para isso a entidade está executando um<br />
intensivo trabalho de sensibilizar as organizações<br />
brasileiras sobre a importância da inovação. Com<br />
ações integradas de eventos pelo Brasil, material<br />
t<strong>em</strong>po que tínhamos antes para regulamentar<br />
as medidas, senão corr<strong>em</strong>os o risco<br />
de morrer. É necessário colocar as propostas<br />
na mão do legislador e executá-las”,<br />
sinaliza. Uma das propostas da Anpei é a<br />
desburocratização dos mecanismos de financiamento<br />
da inovação. “A subvenção<br />
econômica, por ex<strong>em</strong>plo, poderia ser executada<br />
s<strong>em</strong> edital, acelerando o acesso<br />
Davi Zocoli/ASN<br />
Capacitação<br />
do Sebrae:<br />
objetivo é levar a<br />
inovação para a<br />
rotina das MPEs<br />
informativo, campanha de mídia, informações na<br />
web, além do programa Agentes Locais de Inovação,<br />
o Sebrae está levando a inovação para dentro das<br />
pequenas <strong>em</strong>presas brasileiras.<br />
O apoio direto às <strong>em</strong>presas também está sendo<br />
fortalecido pela entidade. Até julho novos projetos<br />
dev<strong>em</strong> ter início. Um deles prevê a disponibilidade<br />
de um consultor do Sebrae para auxiliar as <strong>em</strong>presas<br />
a elaborar<strong>em</strong> projetos de financiamento da inovação.<br />
Outra iniciativa prevê bônus de inovação e um novo<br />
programa irá oferecer apoio às <strong>em</strong>presas selecionadas<br />
no Prime, capacitando-as para os processos de gestão<br />
e estratégias de inovação.<br />
“Venc<strong>em</strong>os o desafio de fazer com que as<br />
pequenas organizações sobrevivess<strong>em</strong> aos dois<br />
primeiros anos de vida. Hoje 78% delas já superam<br />
esse período. Nosso trabalho agora é tornar essas<br />
<strong>em</strong>presas competitivas, lucrando e inovando”, ressalta<br />
Ferman. “As pequenas <strong>em</strong>presas brasileiras precisam<br />
ter a inovação no seu DNA e entender que inovar<br />
não é um espasmo, é um movimento contínuo.<br />
Empresa inovadora não é a <strong>em</strong>presa que inova com<br />
o lançamento de um produto, por ex<strong>em</strong>plo, mas<br />
aquela que t<strong>em</strong> a inovação no seu dia-a-dia e na sua<br />
estratégia”, avalia o gerente do Sebrae.<br />
30<br />
Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
31
E S P E C I A L<br />
DIVULGAÇÃO<br />
Maria Angela, da<br />
Anpei: é preciso<br />
agilizar o acesso<br />
das <strong>em</strong>presas aos<br />
recursos públicos<br />
Comitê Anticrise da<br />
Fiesp: preocupação<br />
com a perda de<br />
competitividade<br />
das <strong>em</strong>presas aos recursos. Com o t<strong>em</strong>po<br />
necessário hoje para sair o resultado do<br />
edital, a intensidade e a rapidez características<br />
dos processos de pesquisa, desenvolvimento<br />
e inovação ficam comprometidas”,<br />
avalia Maria Angela.<br />
Para a Fiesp, mudanças na subvenção<br />
econômica também são importantes nesse<br />
momento. “É necessário que o governo<br />
destine no mínimo 50% dos recursos de<br />
subvenção econômica para as micro, pequenas<br />
e médias <strong>em</strong>presas, dado que a<br />
subvenção é o instrumento mais efetivo<br />
de apoio a essas <strong>em</strong>presas. É necessário<br />
também estabelecer critérios mais objetivos<br />
de pontuação de propostas para os<br />
recursos de subvenção que facilit<strong>em</strong> a elaboração<br />
dos projetos e torn<strong>em</strong> o mecanismo<br />
mais automático e menos arbitrário”,<br />
defende José Ricardo Roriz Coelho, diretor<br />
do Departamento de Competitividade<br />
e Tecnologia da Fiesp.<br />
Além de adaptações específicas, o diretor<br />
da Fiesp aponta a importância de criar<br />
mecanismos para incluir mais <strong>em</strong>presas<br />
nos processos de apoio à inovação. Para<br />
isso, propõe o aumento da capilaridade<br />
das agências, estimulando novos agentes<br />
financeiros ou estabelecendo alianças<br />
com novos parceiros e a simplificação dos<br />
documentos necessários ao financiamento.<br />
“É preciso ainda ampliar para <strong>em</strong>presas<br />
de portes menores os limites que restring<strong>em</strong><br />
às médias <strong>em</strong>presas o acesso a<br />
programas específicos. Também é importante<br />
minimizar a insegurança jurídica<br />
no processo de inovação com regras fáceis<br />
para interpretar e impl<strong>em</strong>entar os<br />
dispositivos das leis e chamadas públicas,<br />
reduzindo as incertezas na utilização dos<br />
recursos”, avalia Coelho.<br />
Visão de futuro<br />
Outro desafio é criar instrumentos que<br />
prepar<strong>em</strong> o Brasil para enfrentar uma<br />
nova ord<strong>em</strong> econômica. “Essa crise não é<br />
de curta duração e o contexto de cresci-<br />
MIGUEL ANGELO/CNI<br />
Crise afeta inovação nas principais economias<br />
Não foi só no discurso que Obama defendeu a inovação tecnológica. No dia 27 de abril, o presidente norteamericano<br />
anunciou orçamento recorde para a ciência: 3% do Produto Interno Bruto dos Estados Unidos.<br />
Modesto, Obama descreveu seu projeto como “o maior compromisso com a pesquisa e inovações científicas na<br />
história dos Estados Unidos”. Hoje o país destina 2,66% dos US$ 14 trilhões do seu PIB para P&D.<br />
Apesar do otimismo gerado pelas medidas de Obama, a previsão tanto para os Estados Unidos como para<br />
os d<strong>em</strong>ais países do mundo é de queda no índice de inovação das economias, o que pode gerar graves<br />
consequências nos próximos anos. De acordo com a pesquisa Global Innovation, da divisão de inteligência da<br />
revista The Economist, divulgada no final de abril, esperava-se um incr<strong>em</strong>ento de 6% até 2013 na média do índice<br />
de inovação mundial. Essa média foi revista para 2% com os impactos da crise.<br />
Os mais afetados foram os Estados<br />
Unidos e o Reino Unido, que caíram<br />
da 3ª para a 4ª e da 18ª para a 19ª<br />
colocação na lista dos mais inovadores,<br />
respectivamente. O Japão é considerado<br />
o país mais inovador e a Líbia ficou <strong>em</strong><br />
último entre os 82 países pesquisados. Os<br />
destaques ficaram com China e Índia. A<br />
China ganhou cinco posições entre 2006<br />
e 2008 e a Índia duas. O Brasil caiu da 48ª<br />
colocação para a 49ª.<br />
China: ascensão<br />
meteórica no ranking<br />
da inovação<br />
Ranking da inovação: posição dos BRICs*<br />
shutterstock<br />
China<br />
46<br />
54<br />
59<br />
Índia<br />
54<br />
56<br />
58<br />
Brasil<br />
49<br />
49<br />
48<br />
Rússia<br />
37<br />
39<br />
39<br />
2009 - 13<br />
2004 - 08<br />
2002 - 06<br />
Fonte: Economist INTELLIGENCE UNIT<br />
* BRIC: grupo de países <strong>em</strong>ergentes formado por brasil, rússia, índia e china<br />
32<br />
Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
33
E S P E C I A L<br />
Costa, da Finep:<br />
tentativa de<br />
recompor orçamento<br />
para a subvenção<br />
Scherer e Carlomagno,<br />
da Innoscience:<br />
<strong>em</strong>presas dev<strong>em</strong><br />
buscar outras fontes<br />
de financiamento para<br />
inovação<br />
mento dos últimos anos, no<br />
qual as economias evoluíam<br />
praticamente de forma sincronizada,<br />
vai d<strong>em</strong>orar a ser<br />
retomado”, avalia Carlos<br />
Américo Pacheco. “O país<br />
não pode ficar só no dia-adia<br />
do controle da falta de<br />
crédito. Precisa saber como<br />
vai sair da crise com produtos<br />
e marcas novas e, acima<br />
de tudo, definir como será<br />
seu posicionamento no futuro”,<br />
pondera.<br />
Essa projeção exige políticas públicas de<br />
inovação menos defensivas e mais agressivas<br />
e, principalmente, com sentido estratégico.<br />
“Como será o mundo pós-crise<br />
Quais serão as novas indústrias E quais<br />
serão as áreas estratégicas para o Brasil<br />
Perguntas que dev<strong>em</strong> ser feitas hoje para<br />
que as ações políticas mostr<strong>em</strong> onde mirar<br />
no futuro”, ressalta o economista.<br />
Pensar <strong>em</strong> um mundo diferente póscrise<br />
é fundamental para determinar<br />
como reagir durante o momento de turbulência.<br />
“O Brasil precisa saber onde é<br />
melhor aplicar o dinheiro para manter a<br />
competitividade tecnológica e ainda dar<br />
alguns passos à frente”, aponta Pacheco.<br />
“É uma visão estratégica para assegurar a<br />
sobrevivência do setor produtivo brasileiro,<br />
mas que também abre oportunidades<br />
<strong>em</strong> um mundo que estará totalmente redesenhado<br />
após a crise”, <strong>completa</strong>.<br />
João Luiz Ribeiro/FINEP<br />
DIVULGAÇÃO<br />
Estratégia na <strong>em</strong>presa<br />
Essa preocupação também deve ser das<br />
<strong>em</strong>presas. Assim como o país precisa ter<br />
uma visão estratégica sobre seu futuro<br />
pós-crise, as organizações precisam estar<br />
preparadas para se manter<strong>em</strong> competitivas<br />
durante e depois da turbulência econômica.<br />
“Só sai da crise qu<strong>em</strong> pensa globalmente<br />
e qu<strong>em</strong> inova para o mundo”,<br />
diz a presidente da Anpei, Maria Angela<br />
do Rego Barros.<br />
O primeiro passo é entender a inovação<br />
como uma nova ideia que quando implantada<br />
gera resultados positivos para a<br />
organização, seja no desenvolvimento de<br />
novos produtos, novos processos de produção<br />
ou na impl<strong>em</strong>entação de melhorias<br />
de gestão. É fundamental entender também<br />
o peso da inovação na sustentabilidade<br />
do negócio.<br />
Mais importante é não desistir de inovar<br />
diante da instabilidade na economia.<br />
“Buscar a inovação é uma forma de se<br />
adiantar às mudanças baseando-se <strong>em</strong><br />
aspectos mais estruturais, dado que as<br />
crises, <strong>em</strong> geral, são flutuações de curto<br />
prazo. Em momentos assim, de incertezas,<br />
ocorr<strong>em</strong> mudanças que pod<strong>em</strong> ser<br />
encaradas como uma oportunidade promissora<br />
para aqueles que ousar<strong>em</strong> buscar<br />
novas vantagens competitivas <strong>em</strong> meio<br />
ao clima de t<strong>em</strong>or que v<strong>em</strong> se instalando.<br />
Contrário a isso, as <strong>em</strong>presas que não<br />
trabalham com inovação corr<strong>em</strong> o risco<br />
de não participar<strong>em</strong> do momento posterior<br />
à crise, pois terão ficado para trás na<br />
economia globalizada”, ressalta José Ricardo<br />
Roriz Coelho, diretor do Departamento<br />
de Competitividade e Tecnologia<br />
da Fiesp.<br />
Um estudo da Fiesp confirma a análise<br />
de Coelho e mostra que as <strong>em</strong>presas do<br />
estado de São Paulo estão dispostas a proteger<br />
seus investimentos <strong>em</strong> inovação,<br />
pesquisa e desenvolvimento. A Pesquisa<br />
Fiesp sobre Intenção de Investimento<br />
2009: O Impacto da Crise, concluída <strong>em</strong><br />
março, aponta que os recursos aplicados<br />
<strong>em</strong> inovação e P&D serão os menos afetados<br />
pelos probl<strong>em</strong>as na economia. A expectativa<br />
revelada no estudo é de que os<br />
investimentos <strong>em</strong> inovação represent<strong>em</strong><br />
21% do total investido <strong>em</strong> 2009. Em 2008,<br />
esse valor foi de 17%.<br />
Já os investimentos <strong>em</strong> P&D saltaram<br />
de 10% no ano passado para 12% neste<br />
ano. “Embora tenham que fazer outros<br />
cortes, a Pesquisa Fiesp constatou que as<br />
<strong>em</strong>presas têm procurado manter investimento<br />
<strong>em</strong> pesquisa considerando que o<br />
investimento <strong>em</strong> P&D é algo que visa o<br />
longo prazo, ou seja, uma garantia de ampliação<br />
de mercado no futuro. Um dos<br />
aprendizados que fica com o fim das crises<br />
econômicas é justamente a necessidade<br />
de investir durante os t<strong>em</strong>pos mais<br />
difíceis como estratégia para a competição<br />
a ser enfrentada quando a economia<br />
se recuperar”, destaca Coelho.<br />
Inovar diferente<br />
Outra projeção da pesquisa da Fiesp é<br />
o crescimento da d<strong>em</strong>anda por investimento<br />
público para a inovação nas <strong>em</strong>presas.<br />
O estudo mostra que dos R$ 900<br />
milhões de recursos públicos direcionados<br />
<strong>em</strong> 2008 para as atividades de inovação<br />
das <strong>em</strong>presas, deve-se chegar a R$ 1,7<br />
bilhão <strong>em</strong> 2009. De acordo com o consultor<br />
Maximiliano Selistre Carlomagno, da<br />
Innoscience Consultoria <strong>em</strong> Gestão da<br />
Inovação, a opção pelo investimento público<br />
é mais prudente. “Neste momento é<br />
muito importante que a <strong>em</strong>presa busque<br />
outras fontes de financiamento para inovação,<br />
que não apenas os recursos próprios”,<br />
reforça.<br />
A mesma orientação é dada pelo diretor<br />
de inovação da Finep, Eduardo Costa.<br />
“Continu<strong>em</strong> competindo pelos recursos<br />
disponíveis. Caso tenham perdido a oportunidade<br />
de participar <strong>em</strong> algum programa<br />
neste ano, cabe l<strong>em</strong>brar que antecipar<strong>em</strong>os<br />
o calendário de 2010. O edital da<br />
subvenção 2010 deve ser lançado <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro<br />
deste ano, para que us<strong>em</strong>os os recursos<br />
orçamentários logo no começo de<br />
2010. Além disso, trabalhamos pela ampliação<br />
desses recursos”, adianta.<br />
Além de diversificar as fontes de investimento,<br />
a orientação de Felipe Ost Scherer,<br />
também consultor da Innoscience, é<br />
buscar modelos diferenciados de inovação.<br />
“Neste momento o conceito de open<br />
innovation é muito importante. A <strong>em</strong>presa<br />
t<strong>em</strong> que buscar ideias inovadoras e desenvolver<br />
projetos <strong>em</strong> parceria com universidades,<br />
instituições de pesquisa,<br />
outras <strong>em</strong>presas. Isso também significa<br />
acesso a recursos de terceiros. E vale<br />
l<strong>em</strong>brar que nesse cenário todos os<br />
stakeholders da <strong>em</strong>presa pod<strong>em</strong> ser parceiros”,<br />
destaca.<br />
Para reduzir o risco do investimento,<br />
outra dica dos consultores é experimentar.<br />
“Este é um momento de altíssimo risco<br />
e, por isso, de muita análise. Assim, é<br />
importante que a <strong>em</strong>presa promova a experimentação<br />
antes do investimento pesado<br />
<strong>em</strong> uma ideia. A experimentação é o<br />
período de teste de um produto ou processo,<br />
quando se analisa a viabilidade de<br />
uma ideia diante da realidade do mercado.<br />
No processo de inovação isso é importante<br />
porque é muito difícil mensurar<br />
a aceitação de algo s<strong>em</strong> precedentes do<br />
mercado”, explica Carlomagno.<br />
A cautela, no entanto, não deve podar<br />
as iniciativas inovadoras. “Nos momentos<br />
de crise, as <strong>em</strong>presas tend<strong>em</strong> a restringir<br />
ou manter seu portfólio de ideias.<br />
Seria interessante que esse portfólio passasse<br />
por uma reanálise, num misto de<br />
ideias de longo e de curto prazo, pois o<br />
mercado cobra soluções imediatas. É<br />
preciso acelerar projetos de retorno imediato<br />
e também os de grande impacto no<br />
futuro, que garantirão a sustentabilidade<br />
da <strong>em</strong>presa”, acrescenta o consultor.<br />
Fica o alerta: é preciso ter <strong>em</strong> mente que<br />
os ciclos econômicos de alta e baixa se<br />
suced<strong>em</strong> e, quando a crise acabar, as <strong>em</strong>presas<br />
deverão apresentar projetos compatíveis<br />
com um mercado mais favorável<br />
aos negócios.<br />
34<br />
Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
35
internacional<br />
Bru n o Mo r e s c h i<br />
O valor das novatas<br />
Pesquisa mostra que Obama está certo ao investir nas<br />
incubadoras como uma das saídas para a crise mundial<br />
S<strong>em</strong> esconder o apreço pela comparação,<br />
o presidente norte-americano<br />
Barack Obama s<strong>em</strong>pre abre um largo sorriso<br />
quando algum jornalista compara<br />
seu plano anticrise ao de Franklin Delano<br />
Roosevelt. Líder dos Estados Unidos de<br />
1933 a 1945, Roosevelt foi audacioso e<br />
certeiro ao injetar ainda mais dinheiro na<br />
economia <strong>em</strong> detrimento de uma contenção<br />
de gastos públicos durante a Grande<br />
Depressão, a mais severa crise do século<br />
XX. Passados 45 anos, Obama faz algo s<strong>em</strong>elhante.<br />
Em recente entrevista ao jornal<br />
New York Times, afirmou a intenção de<br />
shutterstock<br />
construir estradas, erguer pontes, rasgar<br />
o horizonte com arranha-céus tal qual<br />
um Roosevelt cont<strong>em</strong>porâneo. Todavia,<br />
ele avisa: o plano não será uma simples<br />
cópia do que fizeram no passado. Além<br />
de investir na infraestrutura, o presidente<br />
pretende também usar uma parte ainda<br />
não especificada dos US$ 850 bilhões<br />
destinados para a criação de <strong>em</strong>pregos<br />
num modelo de negócio de ótima relação<br />
custo-benefício: as incubadoras.<br />
Assim como no Brasil, nas incubadoras<br />
norte-americanas novas <strong>em</strong>presas encontram<br />
um espaço com infraestrutura, serviços<br />
compartilhados, assessoria técnica e<br />
jurídica, além de incentivos governamentais<br />
que pod<strong>em</strong> aliviar a alta carga de tributos.<br />
Se depender de um estudo da National<br />
Business Incubation Association<br />
(NBIA), divulgado <strong>em</strong> janeiro deste ano,<br />
Obama está absolutamente correto <strong>em</strong> investir<br />
nesses espaços. De acordo com a<br />
pesquisa, as incubadoras norte-americanas<br />
produz<strong>em</strong> pelo menos 20 vezes mais<br />
<strong>em</strong>pregos do que a construção de portos,<br />
hidrelétricas, estradas e outras grandes<br />
obras. E mais: tudo isso com o governo<br />
gastando muito menos. Para os cofres públicos,<br />
o custo de um <strong>em</strong>pregado nas incubadoras<br />
varia entre US$ 144 a US$ 216,<br />
enquanto no setor de infraestrutura pode<br />
chegar a US$ 6,8 mil. Como se não bastasse,<br />
estudos anteriores mostram que a cada<br />
US$ 10 mil investidos pelo governo, as<br />
<strong>em</strong>presas residentes <strong>em</strong> incubadoras são<br />
capazes de produzir entre 46,3 a 69,4 novos<br />
<strong>em</strong>pregos – a taxa para <strong>em</strong>presas mais<br />
maduras é de 2,2 a 5 <strong>em</strong>pregos.<br />
Números tão chamativos como esses<br />
provam que as incubadoras pod<strong>em</strong> ser vitais<br />
neste momento, <strong>em</strong> que a taxa de des<strong>em</strong>prego<br />
nos Estados Unidos beira os 8%.<br />
Por telefone, a presidente da NBIA Dinah<br />
Adkins afirma: “É claro que concordamos<br />
que os investimentos dev<strong>em</strong> ser feitos<br />
também <strong>em</strong> obras. Entretanto, as incubadoras<br />
merec<strong>em</strong> ser tratadas como a galinha<br />
dos ovos de ouro neste momento tão<br />
difícil para o mundo. Além de criarmos<br />
muito mais <strong>em</strong>pregos do que as <strong>em</strong>presas<br />
maiores, nós também entregamos ao país<br />
novos <strong>em</strong>preendedores que, no futuro,<br />
propiciarão ainda mais vagas no mercado<br />
de trabalho.” É uma espécie de círculo<br />
virtuoso que não só ajuda os Estados Unidos<br />
a saír<strong>em</strong> do buraco <strong>em</strong> que se encontram.<br />
Grande parte das <strong>em</strong>presas que está<br />
nas incubadoras atua <strong>em</strong> áreas inovadoras<br />
e investir nelas pode ser o segredo para o<br />
país se recuperar s<strong>em</strong> perder a primazia<br />
que possui na economia global.<br />
Adkins também destaca o orgulho das<br />
incubadoras: 87% dos negócios gerados<br />
O retorno do investimento<br />
Tipo de<br />
projeto<br />
Postos de trabalho gerados<br />
(a cada US$ 10 mil investidos)<br />
nelas se tornaram <strong>em</strong>presas autônomas<br />
que continuam <strong>em</strong> funcionamento nos<br />
Estados Unidos. “Pode reparar no meu<br />
tom de voz. Estou otimista, algo raro entre<br />
o <strong>em</strong>presariado norte-americano. Vamos<br />
vencer essa nova crise com um tipo<br />
de negócio que não tínhamos na depressão<br />
de 1929.”<br />
No próximo s<strong>em</strong>estre, a NBIA deve começar<br />
uma extensa pesquisa sobre a participação<br />
das incubadoras na economia<br />
dos países da América Latina. Os números<br />
que conhec<strong>em</strong>os até hoje provam que<br />
ainda t<strong>em</strong>os muito que aprender com os<br />
norte-americanos. Por lá, há pelo menos<br />
1.400 incubadoras. Nelas, concentram-se<br />
27 mil <strong>em</strong>presas, que <strong>em</strong>pregam mais de<br />
100 mil funcionários e geram um rendimento<br />
anual de 17 bilhões de dólares. No<br />
Brasil, os números ainda são tímidos.<br />
Segundo dados da Associação Nacional<br />
de Entidades Promotoras de Empreendimentos<br />
Inovadores (Anprotec), o país<br />
possui cerca de 150 incubadoras, número<br />
que não chegava a uma dezena <strong>em</strong> 1991.<br />
“É preciso vocês, brasileiros, ater<strong>em</strong>-se<br />
não apenas ao aumento de incubadoras,<br />
mas na média de <strong>em</strong>presas que cada uma<br />
delas comporta”, avisa Adkins. Ela t<strong>em</strong><br />
razão. Por aqui, cada incubadora possui<br />
uma média de 10 <strong>em</strong>presas – número que<br />
chega ao dobro nos Estados Unidos.<br />
Custo por<br />
<strong>em</strong>prego (US$)<br />
Incubadoras<br />
de <strong>em</strong>presas 46,3 a 69,4 144 a 216<br />
Comércio 9,6 a 13,4 744 a 1.008<br />
Rodovias e<br />
transportes 4,4 a 7,8 1.291 a 2.293<br />
Infraestrutura<br />
industrial 5 a 7,3 1.377 a 1.999<br />
Infraestrutura<br />
comunitária 1,5 a 3,4 2.920 a 6.872<br />
36<br />
Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
37
S U C E S S O<br />
A m a n d a Mi r a n d a<br />
Sede da Opto,<br />
<strong>em</strong> São Carlos<br />
S<strong>em</strong> fronteiras<br />
Prestes a <strong>completa</strong>r 25 anos, a Opto revela uma história<br />
<strong>em</strong> que ciência e <strong>em</strong>preendedorismo caminham lado a lado<br />
Quando Jarbas Castro e outros cinco<br />
pesquisadores decidiram fundar a<br />
Opto, há 24 anos, o principal desejo do<br />
grupo era elaborar matéria-prima para<br />
pesquisa <strong>em</strong> um campo no qual era difícil<br />
importar qualquer instrumento de trabalho:<br />
a óptica. Na época, eles não escondiam<br />
a paixão pela ciência e uniram todas<br />
as forças <strong>em</strong> torno do projeto de<br />
produzir o primeiro laser <strong>em</strong> escala industrial<br />
do Brasil.<br />
O pioneirismo da Opto, que hoje t<strong>em</strong><br />
mais de 400 funcionários, não para por<br />
aí. Como os sócios eram todos ligados ao<br />
Instituto de Física do campus da Universidade<br />
de São Paulo <strong>em</strong> São Carlos, a <strong>em</strong>presa<br />
acabou sendo a primeira incubada<br />
da Fundação Parque de Alta Tecnologia<br />
da cidade. Nasciam, juntas, duas importantes<br />
geradoras de tecnologia do país.<br />
“Na época, a Fundação nos deu um escritório,<br />
telefone e uma secretária. Aquilo<br />
foi suficiente porque não tínhamos um<br />
endereço ou alguém para receber as pessoas.<br />
Hoje as coisas evoluíram muito”,<br />
pondera o sócio-fundador e diretor da<br />
<strong>em</strong>presa, Jarbas Caiado de Castro Neto.<br />
“Eles nos ajudaram e nós também os aju-<br />
fotos: divulgação<br />
damos a se desenvolver<strong>em</strong>.”<br />
Uma oficina de óptica foi o <strong>em</strong>brião da<br />
Opto. Como havia barreiras para a importação<br />
dos instrumentos de pesquisa<br />
na área, Jarbas e um grupo de colegas decidiram<br />
que precisavam desenvolver suas<br />
próprias lentes e objetos de trabalho.<br />
Como tinha retornado há pouco t<strong>em</strong>po<br />
dos Estados Unidos, onde fez o doutorado,<br />
o pesquisador trouxe da t<strong>em</strong>porada<br />
de estudos várias ideias de <strong>em</strong>preendedorismo.<br />
“A oficina colocou a Opto para<br />
funcionar. Depois que resolv<strong>em</strong>os o probl<strong>em</strong>a<br />
do laboratório, vimos que poderíamos<br />
expandir o negócio”, relata.<br />
Inovadora nata<br />
A primeira grande inovação da <strong>em</strong>presa<br />
foi o desenvolvimento de um leitor de códigos<br />
de barras para uso <strong>em</strong> supermercados.<br />
Os recursos da venda do produto<br />
para a Itautec colaboraram para o crescimento<br />
da Opto. Depois disso, e ainda no<br />
ano da fundação, os pesquisadores nacionalizaram<br />
a produção de filtros azuis para<br />
a indústria da odontologia. “Graças a esses<br />
trabalhos, ainda no primeiro ano tínhamos<br />
recursos para fazer nosso primeiro<br />
barracão e também para contratar a<br />
primeira consultoria”, destaca o diretor.<br />
Este foi, segundo Jarbas, o momentochave<br />
para o desenvolvimento da <strong>em</strong>presa.<br />
A mudança da mentalidade de pesquisador<br />
para gestor exigiu muito trabalho e<br />
<strong>em</strong>penho por parte dos cinco sócios que<br />
decidiram permanecer no negócio. Até<br />
então, a Opto, na visão do fundador, ainda<br />
era uma “extensão do laboratório” que<br />
a criou. A recordação se refere, também,<br />
ao primeiro momento de dificuldade da<br />
Opto. Cerca de cinco anos após a fundação,<br />
a <strong>em</strong>presa estava prestes a falir. “Perceb<strong>em</strong>os<br />
que tínhamos que profissionalizar<br />
o negócio com uma consultoria de<br />
planejamento estratégico. Fazíamos 12<br />
horas diárias de consultoria”, recorda.<br />
Os pesquisadores também precisaram<br />
deixar algumas paixões de lado. Na época,<br />
eles concentravam um esforço grande<br />
no desenvolvimento de laser de hélio e<br />
neônio, mas perceberam que estavam no<br />
caminho errado. “Aquilo era a nossa paixão.<br />
Achávamos lindo. Foi um trauma<br />
mudar essa mentalidade. Entend<strong>em</strong>os<br />
que a <strong>em</strong>presa é feita para gerar lucro”,<br />
<strong>completa</strong> Jarbas. Em 1992, antes de <strong>completa</strong>r<br />
uma década de fundação, a Opto<br />
deu outro passo importante para a sua<br />
consolidação: entrou no mercado de<br />
equipamentos médico-oftálmicos. O primeiro<br />
equipamento a ser produzido e exportado<br />
para o mundo foi um microscópio<br />
cirúrgico totalmente inovador para<br />
os parâmetros da época.<br />
Uma nova Opto<br />
Mesmo atuando como professor da<br />
USP, o <strong>em</strong>preendedor Jarbas Castro confessa<br />
que, na Opto, sua mentalidade mudou:<br />
passou a ser muito mais gerencial do<br />
que a de um físico apaixonado. Apesar<br />
disso, a área de Pesquisa e Desenvolvimento<br />
continua sendo o coração da <strong>em</strong>presa,<br />
com mais de 70 funcionários. A<br />
<strong>em</strong>presa, hoje com sede <strong>em</strong> São Paulo,<br />
atua <strong>em</strong> três áreas: filmes finos, médica e<br />
aeroespacial. Em todos os ramos possui<br />
concorrentes, a maioria <strong>em</strong>presas multinacionais<br />
com atuação no país.<br />
Mas no espaço não t<strong>em</strong> para ninguém.<br />
Mesmo com a concorrência, a Opto está<br />
desenvolvendo uma câmera de monitoramento<br />
ambiental para o satélite Cbers-3,<br />
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais<br />
(INPE). “Há dois anos nossa principal<br />
meta era entrar no ramo aeroespacial.<br />
Essa meta foi cumprida, como esperamos<br />
cumprir as próximas”, define.<br />
A vocação para a pesquisa e o<br />
desenvolvimento de produtos inovadores<br />
resultou, no ano passado,<br />
<strong>em</strong> um lucro de R$ 55 milhões para<br />
a <strong>em</strong>presa. Para este ano, a projeção<br />
é de que o número chegue aos<br />
R$ 95 milhões, mesmo diante da<br />
maior crise econômica da história<br />
recente. O crescimento, aliás, vendo<br />
sendo a tônica nos últimos três<br />
anos de existência da Opto. “Qu<strong>em</strong><br />
trabalha com P&D sabe que é necessário<br />
um t<strong>em</strong>po de amadurecimento.<br />
Estamos atingindo essa<br />
fase”, afirma o diretor. Por isso,<br />
segundo ele, a meta é atingir o<br />
mercado internacional nos próximos<br />
anos e fortalecer a marca. “Nosso<br />
maior desafio é concentrar esforços na internacionalização.<br />
Quer<strong>em</strong>os ser uma das<br />
maiores <strong>em</strong>presas do mundo na área oftalmológica.<br />
Alavancando a área médica<br />
pod<strong>em</strong>os pensar <strong>em</strong> ser uma <strong>em</strong>presa global”,<br />
prevê. Para qu<strong>em</strong> já está no espaço, o<br />
mundo pode ser pequeno.<br />
Raio X<br />
Fundação: 1985<br />
Sede: São Carlos (SP)<br />
Produtos Opto<br />
(acima): pesquisa e<br />
desenvolvimento<br />
garant<strong>em</strong> inovação<br />
Filiais: Porto Alegre (RS), Fortaleza (CE), São Paulo (SP),<br />
Miami (EUA)<br />
Número de funcionários: 400<br />
Áreas de atuação: equipamentos médicos oftalmológicos,<br />
tratamento antireflexo para lentes, equipamentos de<br />
medição e controle e produtos aeroespaciais.<br />
Lucro: R$ 55 milhões (<strong>em</strong> 2008)<br />
Prêmios conquistados: Exame PME - 100 pequenas e médias<br />
<strong>em</strong>presas que mais cresc<strong>em</strong> – 2007; Revista PEGN -<br />
Prêmio Empreendedor de Sucesso – 2007.<br />
Certificações: ISO 9001:2000, ISO 13485:2003<br />
38<br />
Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
39
G E S T Ã O<br />
Edu a r d o Ko r m i v e s<br />
Parceria promissora<br />
Open innovation alavanca atividades de P&D<br />
nas <strong>em</strong>presas que apostam <strong>em</strong> projetos cooperativos<br />
Euler Martins dos Santos desliga o telefone<br />
do escritório. O barulho provocado<br />
pela reforma na sede própria da<br />
<strong>em</strong>presa, <strong>em</strong> plena segunda-feira à tarde,<br />
abafa a conversa de tal modo que ele conclui<br />
a entrevista para esta reportag<strong>em</strong> do<br />
lado de fora, pelo celular. Engana-se, porém,<br />
qu<strong>em</strong> pensa que isso o tenha deixado<br />
incomodado. O galpão de 350 metros<br />
quadrados, <strong>em</strong> Belo Horizonte, é uma<br />
prova concreta de que a Verti Ecotecnologias,<br />
da qual Euler é diretor executivo,<br />
conseguiu o que toda start-up almeja: um<br />
investidor disposto a pôr dinheiro para<br />
estruturar e viabilizar o negócio.<br />
Neste caso, o investidor é a Nucleus,<br />
holding com sede <strong>em</strong> Nova Lima, região<br />
metropolitana de Belo Horizonte, que<br />
engloba sete <strong>em</strong>presas focadas no setor<br />
ambiental e cujo faturamento total chegou<br />
aos R$ 50 milhões no ano passado.<br />
“Até brinco que para casar foi muito fá-<br />
cil. Não tiv<strong>em</strong>os n<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po para namorar”,<br />
diz o diretor executivo da Nucleus,<br />
André Euzébio de Souza.<br />
Uma reunião foi o suficiente, <strong>em</strong> maio<br />
de 2008, para que a holding, interessada<br />
<strong>em</strong> investir <strong>em</strong> uma unidade de P&D<br />
(pesquisa e desenvolvimento) capaz de<br />
produzir novas tecnologias, enxergasse<br />
vantagens <strong>em</strong> adotar o modelo de open<br />
innovation (inovação aberta). Nesse modelo,<br />
as companhias pesquisam e desenvolv<strong>em</strong><br />
novos produtos externamente,<br />
por meio de parcerias com outras <strong>em</strong>presas<br />
ou instituições privadas e públicas.<br />
Vantag<strong>em</strong> mútua<br />
shutterstock<br />
Claro que a decisão de tornar-se sócio<br />
majoritário da Verti não foi uma obra de<br />
filantropia. As ideias por trás disso são<br />
acelerar o desenvolvimento de inovações<br />
para os segmentos de siderurgia e mineração,<br />
nos quais a Nucleus t<strong>em</strong> participação<br />
expressiva, e economizar dinheiro.<br />
“Criar um departamento de P&D a partir<br />
do zero é um processo lento e custoso,<br />
pois envolve várias competências e requer<br />
investimentos <strong>em</strong> infraestrutura”, observa<br />
Gustavo Mamão, diretor de Transferências<br />
de Tecnologias do Instituto Inovação,<br />
<strong>em</strong>presa que faz a ponte entre<br />
desenvolvedores de tecnologia e mercado<br />
há sete anos.<br />
Com sede <strong>em</strong> Belo Horizonte e escritórios<br />
no Rio de Janeiro e <strong>em</strong> Campinas<br />
(SP), foi o Instituto Inovação qu<strong>em</strong> trouxe<br />
a oferta de open innovation à Nucleus.<br />
Bom para a holding e bom para a startup,<br />
que agora dispõe, na sua sede própria,<br />
de espaço para quatro plantas pré-industriais<br />
para testes-piloto de novas tecnologias<br />
e de uma equipe fixa de oito pessoas,<br />
incluindo quatro pesquisadores.<br />
“Antes, nós dependíamos muito de editais<br />
públicos para manter uma equipe de<br />
desenvolvimento de tecnologias. Agora,<br />
pod<strong>em</strong>os dar um impulso nos projetos<br />
porque t<strong>em</strong>os uma equipe própria”, observa<br />
Euler dos Santos.<br />
Ajuda aos parceiros<br />
A fim de acelerar e profissionalizar<br />
ainda mais o processo de inovação, o Instituto<br />
Inovação lançou oficialmente a<br />
plataforma de serviços open innovation<br />
Inventta (www.inventta.net) <strong>em</strong> março,<br />
depois de seis meses de desenvolvimento.<br />
A plataforma é composta por ferramentas<br />
de Tecnologia da Informação (o sist<strong>em</strong>a<br />
on-line), que gerenciam ofertas e d<strong>em</strong>andas,<br />
e de gestão do conhecimento, essenciais<br />
para a efetivação de transferências<br />
tecnológicas (avaliação e valoração de<br />
tecnologias, prospecção e mapeamento<br />
tecnológicos, gestão de ativos intelectuais).<br />
“Trata-se de uma plataforma acessível<br />
da mesma forma para pequenas e<br />
grandes <strong>em</strong>presas”, ressalta Felipe Matos,<br />
diretor de operações da Inventta.<br />
Empresas com d<strong>em</strong>andas ou ofertas tecnológicas<br />
pod<strong>em</strong> entrar<br />
<strong>em</strong> contato com o Instituto<br />
Inovação através do<br />
site da plataforma. Matos<br />
explica que aquelas que<br />
se enquadram no primeiro<br />
grupo passam por um<br />
briefing tecnológico, por<br />
meio do qual se especifica<br />
o que a companhia<br />
quer e se avalia os instrumentos de que ela<br />
dispõe para internalizar as soluções – o<br />
licenciamento de patentes, a contratação<br />
de pesquisadores ou a parceria tecnológica,<br />
como no caso da Nucleus.<br />
Com base nessas informações, a d<strong>em</strong>anda<br />
é publicada on-line, inclusive com<br />
a opção de confidencialidade. A plataforma<br />
Inventta possui uma base de dados<br />
com 2 mil pesquisadores brasileiros e colombianos.<br />
Se não houver resposta satisfatória<br />
ao desafio tecnológico proposto,<br />
há dois caminhos alternativos: a Inventta<br />
parte para uma procura proativa por pesquisadores<br />
capazes e desenvolver as soluções<br />
ou busca parcerias internacionais<br />
pela plataforma NineSigma. “As respostas<br />
que chegam são analisadas pela Inventta<br />
a fim de determinar o potencial<br />
para solução do probl<strong>em</strong>a. O processo<br />
dura normalmente de três a seis meses,<br />
mas pode chegar a um ano <strong>em</strong> casos mais<br />
complexos”, diz Matos.<br />
Na outra ponta, a operação é s<strong>em</strong>elhante.<br />
Antes de ser<strong>em</strong> inseridas no banco<br />
de dados, as <strong>em</strong>presas que quer<strong>em</strong> oferecer<br />
novas tecnologias informam, entre<br />
outras coisas, quais são os seus diferenciais,<br />
as vantagens sobre soluções similares,<br />
além de <strong>em</strong>presas e mercados-alvo. A<br />
Inventta ainda se encarrega de dar suporte<br />
na negociação quando o cliente d<strong>em</strong>andante<br />
opta pela confidencialidade.<br />
Para tanto, dispõe de especialistas <strong>em</strong><br />
modelos de transferência tecnológica e<br />
metodologias de valoração tecnológica.<br />
Os usuários da plataforma pagam um valor<br />
inicial mais taxa de sucesso, mas outros<br />
formatos são possíveis, como a nego-<br />
FOTOS: DIVULGAÇÃO<br />
Planta industrial da<br />
Verti: open innovation<br />
impulsionou pesquisas<br />
Matos, do Instituto<br />
Inovação: Inventta<br />
contribui para a<br />
solução de probl<strong>em</strong>as<br />
Santos, da Verti:<br />
cooperação com a<br />
holding viabilizou<br />
o negócio<br />
40<br />
Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
41
42<br />
DIVULGAÇÃO<br />
G E S T Ã O<br />
Souza, da Nucleus:<br />
expectativa de faturar<br />
10% a mais nos<br />
próximos dois anos<br />
Locus • Abril 2009<br />
Inovação global<br />
Avaliação de 82 países, período 2004-2008<br />
(entre parênteses, a posição 2002-2006)<br />
*Em uma escala de 0 a 10<br />
Fonte: Economist Intelligence Unit<br />
ciação de valor fechado.<br />
Matos faz questão de dizer, contudo,<br />
que o modelo de open innovation não elimina<br />
a necessidade de certas competências<br />
<strong>em</strong> pesquisa tecnológica. “Se você tiver<br />
competência zero, vai ter muita<br />
dificuldade (na transferência). Grandes<br />
<strong>em</strong>presas têm interesse na inovação aberta<br />
para acelerar processos de desenvolvimento.<br />
Ter uma área de P&D facilita a<br />
absorção do que v<strong>em</strong> de fora”.<br />
Potencial<br />
Apesar do lançamento recente, a Inventta<br />
já realizou uma transferência tecnológica<br />
b<strong>em</strong>-sucedida. Mas a <strong>em</strong>presa<br />
acredita que o mercado potencial é enorme.<br />
Matos baseia a projeção otimista com<br />
base <strong>em</strong> números. Na avaliação anual da<br />
Ranking País Índice*<br />
1 Japão 10<br />
2 Suíça 9,711<br />
3 (5) Finlândia 9,503<br />
4 (3) Estados Unidos 9,497<br />
5 (4) Suécia 9,444<br />
6 Al<strong>em</strong>anha 9,404<br />
7 (8) Taiwan 9,369<br />
8 (9) Holanda 9,165<br />
9 (10) Israel 9,126<br />
10 (7) Dinamarca 9,077<br />
11 (15) Coreia do Sul 8,940<br />
12 (11) Áustria 8,934<br />
13 (12) França 8,885<br />
14 (13) Canadá 8,868<br />
15 (14) Bélgica 8,788<br />
49 (48) Brasil<br />
54 (59) China<br />
56 (58) Índia<br />
National Science Indicators (NSI), uma<br />
das maiores bases de dados científicos do<br />
mundo, divulgada no início de maio, o<br />
Brasil subiu da 15ª para a 13ª posição na<br />
classificação global de produção científica<br />
<strong>em</strong> 2008, sendo responsável por 2,12% de<br />
todos artigos produzidos por 183 países.<br />
Mesmo assim, no ano passado o Brasil<br />
respondia por apenas 0,06% das patentes<br />
registradas nos Estados Unidos. O modelo<br />
de open innovation, defende Matos, pode<br />
significar uma mudança de paradigma da<br />
indústria brasileira. “A inovação aberta<br />
pode garantir o acesso a determinadas<br />
pesquisas e tecnologias que as <strong>em</strong>presas<br />
não teriam de outra maneira. É uma oportunidade<br />
para cortar caminhos.”<br />
A Nucleus, por ex<strong>em</strong>plo, planeja elevar<br />
<strong>em</strong> 10% o faturamento nos próximos dois<br />
anos com a venda de tecnologias proprietárias.<br />
No momento, a <strong>em</strong>presa negocia<br />
duas delas desenvolvidas pela Verti. A<br />
primeira, para descontaminação e reaproveitamento<br />
de resíduos do curtimento<br />
de couro. A outra envolve a recuperação<br />
de mantas de polipropileno utilizadas<br />
para absorver manchas e vazamentos de<br />
óleo. A tecnologia também rendeu à Nucleus<br />
um convite do governo chileno para<br />
se instalar naquele país.<br />
A Verti, por sua vez, já trabalha <strong>em</strong><br />
duas novas tecnologias e agora conta com<br />
uma estrutura comercial e acesso a uma<br />
carteira de clientes com atores mundiais<br />
nas áreas de mineração e siderurgia –<br />
Gerdau, Vale, Usiminas e ArcelorMittal,<br />
para citar alguns. “A pequena <strong>em</strong>presa<br />
normalmente investe <strong>em</strong> uma só tecnologia<br />
fácil e rápida de acessar o mercado.<br />
Mas há uma oportunidade de desenvolvimento<br />
exponencial quando se fala desse<br />
tipo de parceria”.<br />
Se a inovação é a credencial necessária<br />
para abrir mercados globais, o Brasil precisa<br />
correr para conseguir a sua. Basta dizer<br />
que o desenvolvimento e produção do<br />
iPhone geraram à Apple 200 novas patentes,<br />
mais do que o dobro do que as registradas<br />
pelo país <strong>em</strong> todo o ano de 2005.
E D U C A Ç Ã O<br />
Divulgação/Anpei<br />
Corrida pelo saber<br />
Cursos voltados ao gerenciamento do processo de inovação<br />
cresc<strong>em</strong> <strong>em</strong> ritmo acelerado. Expectativa dos alunos é inserir<br />
<strong>em</strong>presas brasileiras <strong>em</strong> um cenário cada vez mais competitivo<br />
Empresas inovadoras têm mais espaço<br />
no mercado. Elas são mais fortes, dinâmicas,<br />
competitivas e têm à disposição<br />
uma série de vantagens, como leis de incentivo,<br />
mecanismos de fomento, acesso<br />
facilitado a crédito e a investidores. Para<br />
poder andar sobre esse tapete vermelho,<br />
um número cada vez maior de <strong>em</strong>presas<br />
de todos os portes v<strong>em</strong> buscando se juntar<br />
ao time e aprender como gerenciar seu<br />
potencial inovador. Para orientá-las, surg<strong>em</strong><br />
<strong>em</strong> todo o país cursos de capacitação<br />
<strong>em</strong> gestão da inovação, dos intensivos aos<br />
de pós-graduação.<br />
A corrida se intensificou nos últimos<br />
anos estimulada por políticas públicas e<br />
pela concorrência, que hoje v<strong>em</strong> de todas<br />
as partes do mundo. “De tanto ouvir<strong>em</strong><br />
falar que só vão se tornar competitivas e<br />
sobreviver se inovar<strong>em</strong>, as <strong>em</strong>presas brasileiras<br />
começaram a se mobilizar <strong>em</strong><br />
uma onda pró-inovação”, diz Ana Paula<br />
Andriello, gerente de projetos da Associação<br />
Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento<br />
das Empresas Inovadoras<br />
(Anpei), que oferece <strong>em</strong> média 15 a 20<br />
workshops e cursos de capacitação por<br />
ano <strong>em</strong> todo o país.<br />
Os cursos de gestão da inovação oferec<strong>em</strong><br />
ferramentas para que as <strong>em</strong>presas<br />
identifiqu<strong>em</strong> as ameaças e oportunidades<br />
do mercado e possam estruturar e planejar<br />
suas atividades de P&D. Para a catarinense<br />
Cianet Networking, fundada há 15<br />
Curso da Anpei:<br />
onda pró-inovação<br />
Fr a n c i s Fr a n ç a<br />
Locus • Abril 2009<br />
43
E D U C A Ç Ã O<br />
FOTOS: Divulgação<br />
Dias, da Cianet:<br />
inovação virou<br />
questão estratégica<br />
Quadros, da Unicamp:<br />
vagas concorridas<br />
anos e graduada no Celta, implantar um<br />
sist<strong>em</strong>a de gestão da inovação significou<br />
evoluir de uma <strong>em</strong>presa que desenvolvia<br />
tecnologia para terceiros, para uma indústria<br />
de eletrônica com produtos inovadores<br />
<strong>em</strong> nível mundial.<br />
A Cianet participou no final de 2006<br />
do Projeto Núcleo de Gestão da Inovação<br />
(Nugin), desenvolvido pelo Instituto<br />
Euvaldo Lodi (IEL/SC) e financiado pela<br />
Finep. Depois de um diagnóstico, a <strong>em</strong>presa<br />
descobriu que estava no quadrante<br />
de inovadora, mas alguns<br />
fatores como falta<br />
de recursos e incapacidade<br />
gerencial a<br />
inibiam de chegar ao<br />
patamar de inovação<br />
plena. “A <strong>em</strong>presa era<br />
inovadora e não sabia.<br />
Tínhamos ideias novas<br />
que eram levadas para<br />
o mercado, só que s<strong>em</strong><br />
metodologia para que<br />
o processo fosse contínuo,<br />
s<strong>em</strong> ferramentas<br />
de análise e com o desenvolvimento<br />
limitado<br />
à diretoria”, diz o<br />
diretor da <strong>em</strong>presa Norberto Dias, que<br />
participou pessoalmente do projeto do<br />
IEL/SC. Depois do programa de 18 meses,<br />
a <strong>em</strong>presa montou uma estrutura para incentivar<br />
a prática da inovação, desde a<br />
tradicional caixinha de sugestões até pr<strong>em</strong>iação<br />
para os colaboradores cujas ideias<br />
for<strong>em</strong> b<strong>em</strong>-sucedidas. “T<strong>em</strong>os um grupo<br />
de gestão da inovação e qualidade com<br />
um m<strong>em</strong>bro de cada setor, <strong>em</strong> cujas reuniões<br />
são discutidos os dados e as estratégias<br />
com participação da gerência e diretoria”,<br />
diz Dias.<br />
Ouvir os colaboradores e criar mecanismos<br />
para que a inovação venha de todos<br />
os setores é a estratégia utilizada pelas<br />
<strong>em</strong>presas mais b<strong>em</strong>-sucedidas no<br />
mundo. Mas não basta apenas ouvir as<br />
ideias. É preciso sist<strong>em</strong>atizar e processar<br />
essas informações de forma contínua para<br />
colocá-las <strong>em</strong> prática, e é aí que entra a<br />
capacitação. O processo pode variar bastante<br />
dependendo do tamanho da <strong>em</strong>presa.<br />
“Nas pequenas os cursos precisam tratar<br />
primeiro da parte de conceitos e<br />
relevância para o negócio. Já nas grandes,<br />
que possu<strong>em</strong> departamentos de P&D estruturados,<br />
o foco é mais aprofundado,<br />
com ferramentas e modelos de gestão da<br />
inovação”, diz Ana Paula Andriello. Os<br />
principais cursos disponíveis atualmente<br />
no Brasil são oferecidos por entidades<br />
como Anpei, Sebrae, Agência Brasileira<br />
de Desenvolvimento Industrial (ABDI),<br />
Finep, IEL e Bndes. No nível de pós-graduação,<br />
as iniciativas mais relevantes estão<br />
na Unicamp, USP, UFF, UFSC e FGV.<br />
D<strong>em</strong>anda elevada<br />
O curso de especialização <strong>em</strong> Gestão<br />
Estratégica da Inovação Tecnológica da<br />
Unicamp t<strong>em</strong> grade de 360 horas e é desenhado<br />
especialmente para gerentes de<br />
P&D. “Não se aprende inovação no curso<br />
sobre qualidade, é preciso fazer um trabalho<br />
específico, e nossa d<strong>em</strong>anda hoje já<br />
se iguala à da pós-graduação regular de<br />
Políticas Cientificas e Tecnológicas”, diz<br />
o professor Ruy Quadros, coordenador do<br />
curso. Com mais de 40 professores e palestrantes,<br />
o programa está <strong>em</strong> sua quinta<br />
edição, formou mais de 150 pessoas e t<strong>em</strong><br />
concorrência de quatro candidatos por<br />
vaga. Pela complexidade, é dirigido para<br />
<strong>em</strong>presas de maior porte ou micro e pequenas<br />
<strong>em</strong>presas de base tecnológica, que<br />
já estão acostumadas com o t<strong>em</strong>a.<br />
As <strong>em</strong>presas de menor porte têm um<br />
motivo especial para se capacitar<strong>em</strong>. Entre<br />
as metas da Política de Desenvolvimento<br />
Produtivo (PDP), do governo federal,<br />
está aumentar <strong>em</strong> 10% o número de<br />
MPEs exportadoras até 2010, <strong>em</strong> relação<br />
aos índices de 2006. Ampliar a participação<br />
no mercado externo pressupõe ampliar<br />
a competitividade, e por isso o Sebrae<br />
elegeu 2009 como o ano da inovação<br />
para as MPEs. De acordo com a gerente<br />
da Unidade de Acesso à Inovação Tecnológica,<br />
Magaly Dias, o primeiro passo é<br />
familiarizar os <strong>em</strong>presários, com palestras<br />
e cartilhas. “Nosso ponto de partida<br />
é mostrar ao <strong>em</strong>presário que a inovação é<br />
feita para qualquer <strong>em</strong>presa”, diz. O Sebrae<br />
está <strong>em</strong> fase de estruturação de um<br />
curso voltado especialmente para as<br />
MPEs, que deve iniciar no segundo s<strong>em</strong>estre<br />
deste ano.<br />
Lideranças<br />
Os programas voltados à inovação não se destinam<br />
unicamente a <strong>em</strong>presas. Realizada por Anprotec,<br />
Sebrae e CNPq e executada pela FIA/USP, teve início<br />
<strong>em</strong> maio a pós-graduação <strong>em</strong> Gestão de Habitats<br />
de Inovação. Inédito no Brasil e no exterior, o curso<br />
lato sensu é direcionado a gerentes de incubadoras,<br />
parques tecnológicos, arranjos produtivos locais (APLs)<br />
e polos de desenvolvimento. O curso é atestado pela<br />
International Association of Science Parks (IASP) e t<strong>em</strong><br />
carga total de 460 horas.<br />
O corpo docente é formado por um núcleo<br />
de professores da FIA, docentes experientes e<br />
titulados da Universidade de São Paulo, <strong>em</strong> especial<br />
da sua Faculdade de Economia, Administração e<br />
Divulgação/SEBRAE<br />
Palestras, worshops, cursos de curta e<br />
de longa duração. Se depender dos esforços<br />
das entidades engajadas <strong>em</strong> diss<strong>em</strong>inar<br />
esse conhecimento, pode-se esperar<br />
um salto qualitativo na capacidade das<br />
<strong>em</strong>presas brasileiras <strong>em</strong> gerir seu potencial<br />
criativo. Em todos os cantos do Brasil,<br />
se multiplicam as oportunidades de<br />
pisar no tapete vermelho da inovação. E<br />
todas as <strong>em</strong>presas são b<strong>em</strong>-vindas.<br />
Sebrae capacita<br />
agentes locais<br />
de inovação<br />
Contabilidade (FEA/USP), juntamente com profissionais<br />
de instituições acadêmicas, formuladores de políticas<br />
públicas, agentes de inovação e profissionais do<br />
mercado com experiência reconhecida, além de<br />
palestrantes da IASP.<br />
A coordenação está a cargo dos professores titulares<br />
da FEA/USP Isak Kruglianskas e Roberto Sbragia,<br />
pioneiros no campo da educação avançada <strong>em</strong><br />
gestão da inovação, com amplo reconhecimento no<br />
Brasil e no exterior. Para participar é preciso ter curso<br />
superior e passar por um processo seletivo, feito com<br />
base no currículo dos interessados e observando a<br />
participação de pessoas de diferentes regiões do país.<br />
Mais informações pelo site www.fia.com.br/pgt<br />
44<br />
Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
45
c r i a t i v i d a d e<br />
Museu da Língua<br />
Portuguesa:<br />
patrimônio imaterial<br />
A m a n d a Mi r a n d a<br />
Cultura, ciência e diversão<br />
Os museus e centros de ciência e tecnologia atra<strong>em</strong> um<br />
público sedento por interatividade, inovação e conhecimento<br />
Imagine um lugar <strong>em</strong> que cultura e ciência<br />
caminham lado a lado, com prioridade<br />
para a diversão e, mais do que isso,<br />
para a interação com experimentos e fenômenos<br />
naturais. Imagine que nesse lugar<br />
você possa aprender de forma diferenciada,<br />
s<strong>em</strong> ter que apelar à tradicional<br />
dupla giz e quadro negro. Pois b<strong>em</strong>, esse<br />
cenário existe <strong>em</strong> quase todas as principais<br />
cidades do Brasil. São os museus<br />
de ciência e tecnologia, que cresc<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />
número e <strong>em</strong> importância, revelando-se<br />
aliados da educação científica.<br />
Uma pesquisa realizada pela Fundação<br />
Vitae revelou que exist<strong>em</strong> cerca de 140 espalhados<br />
pelo país. Os t<strong>em</strong>as são os mais<br />
variados. Há desde jardins botânicos, com<br />
coleções de plantas de milhares de espécies,<br />
até museus de astronomia e planetários.<br />
Mas os que mais conquistam a atenção<br />
dos visitantes são os grandes centros<br />
de ciência, que reún<strong>em</strong> informações sobre<br />
todas as áreas do conhecimento. Mesmo<br />
com a intensa diss<strong>em</strong>inação desses espaços,<br />
eles ainda não são reconhecidos de<br />
forma abrangente pelo público. Uma pesquisa<br />
realizada pelo Ministério da Ciência<br />
e Tecnologia (MCT) <strong>em</strong> 2006 indicou que<br />
apenas 4% dos entrevistados já tinham visitado<br />
um museu de ciência. Parte deles<br />
sequer havia ouvido falar algo a respeito.<br />
Os museus são apontados por pesquisadores<br />
como espaços que privilegiam a divulgação<br />
da cultura científica. Ao lado do<br />
jornalismo científico, são considerados<br />
aliados da educação porque tratam de t<strong>em</strong>as<br />
sérios com criatividade e inovação.<br />
As discussões sobre o assunto levaram,<br />
inclusive, à criação da Associação Brasileira<br />
de Centros e Museus de Ciência<br />
(ABMC), que já conta com 70 filiados. Segundo<br />
o presidente da entidade, Antônio<br />
Carlos Pavão, o Brasil vive um novo momento<br />
quando o assunto são os museus.<br />
“Observamos que existe estímulo e diss<strong>em</strong>inação<br />
por todos os cantos do país”, com<strong>em</strong>ora.<br />
Ele l<strong>em</strong>bra, ainda, que o número<br />
de visitantes t<strong>em</strong> batido recordes. “Nosso<br />
público é formado por escolares. Cerca de<br />
90% das pessoas que vão aos centros ainda<br />
estudam”, aponta.<br />
O presidente acredita que é justamente<br />
essa vinculação com o ensino formal que<br />
traz tanto sucesso aos museus. “Os experimentos<br />
contribu<strong>em</strong> para estimular os<br />
alunos. Eles têm que sair do lugar mais<br />
DIVULGAÇÃO<br />
curiosos do que entraram e procurar formas<br />
de dissolver essa curiosidade”, <strong>completa</strong>.<br />
Todo esse potencial foi reconhecido<br />
pelo poder público. Por meio do CNPq e<br />
da Finep, os centros vêm garantindo verbas<br />
de apoio e difusão. Entre 2004 e 2007<br />
foram US$ 22 milhões de investimento.<br />
Os museus de C&T também foram colocados<br />
como prioridade no plano de ação<br />
2007-2010 do MCT.<br />
Mundo colorido<br />
Não há como ficar imune a toda cor e<br />
criatividade do Museu de Ciência e Tecnologia<br />
da Pontifícia Universidade Católica<br />
do Rio Grande do Sul (PUCRS),<br />
<strong>em</strong> Porto Alegre. São cinco andares que<br />
transformam qualquer curioso <strong>em</strong> descobridor,<br />
e qualquer desinteressado <strong>em</strong><br />
um cientista nato.<br />
A magia do museu está <strong>em</strong> envolver o<br />
visitante na descoberta. Nada de grandes<br />
palestras ou apresentações. Lá, o convidado<br />
é, também, o personag<strong>em</strong> principal da<br />
história. Ele aprende com a mão na massa.<br />
Em uma bicicleta nada convencional, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, é possível perceber a ligação entre<br />
a força das pedaladas e a geração de<br />
energia. Se o ritmo de qu<strong>em</strong> pedalar for<br />
leve, uma lâmpada pode ser acesa. Se for<br />
mais forte, é possível ligar uma televisão<br />
ou até mesmo uma geladeira. E aprender<br />
isso brincando é muito mais divertido do<br />
que qualquer um imagina. “São poucas as<br />
áreas <strong>em</strong> que o visitante não interage com<br />
um experimento a fim de obter uma resposta<br />
para um questionamento. Atualmente,<br />
ampliamos essa concepção adotando<br />
uma t<strong>em</strong>ática anual. Por ex<strong>em</strong>plo,<br />
<strong>em</strong> 2009 o t<strong>em</strong>a é a (R)Evolução de Darwin,<br />
trazendo os questionamentos sobre<br />
a evolução dos seres vivos e a diversidade<br />
de espécies e ambientes”, explica o diretor<br />
do museu Emílio Antonio Jeckel Neto.<br />
O giroscópio humano é uma das atrações<br />
mais curiosas. Ele simula um equipamento<br />
utilizado pelas agências espaciais<br />
que mostra o que acontece com o corpo na<br />
DIVULGAÇÃO/ PUCRS<br />
Museu da PUCRS:<br />
visitantes são<br />
estimulados a interagir<br />
falta de gravidade. Outras atrações mais<br />
simples, como o “hom<strong>em</strong> fatiado” e suas<br />
explicações sobre o corpo humano, também<br />
divert<strong>em</strong> os visitantes. “Um museu,<br />
por excelência, é um ambiente estimulante.<br />
Além de satisfazer a curiosidade típica<br />
das pessoas, pode ser uma poderosa ferramenta<br />
para os professores, pois dá o estímulo<br />
e o entusiasmo inicial ao estudo”,<br />
<strong>completa</strong> Jeckel.<br />
A interatividade também é a principal<br />
aposta do Museu da Língua Portuguesa,<br />
de São Paulo. O acervo nada mais é do que<br />
o nosso idioma, um patrimônio imaterial<br />
que é exibido aos visitantes de forma séria,<br />
mas s<strong>em</strong> perder a graça. Escritores<br />
como Machado de Assis, Gilberto Freyre e<br />
Clarice Lispector ganharam exposições<br />
próprias, que encantam e educam qualquer<br />
tipo de público. “O museu torna-se<br />
um espaço privilegiado de identidade, de<br />
autorreconhecimento, algo que neste<br />
mundo globalizado e massificado assume<br />
dimensões de grande importância”, destaca<br />
o diretor Antonio Carlos Sartini.<br />
O Museu da Vida, ligado à Fundação<br />
Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, é outra<br />
referência nacional. O lugar é conhecido<br />
por sediar exposições diferenciadas e ter<br />
s<strong>em</strong>pre uma atração inovadora no cardápio.<br />
A criatividade pode ser percebida<br />
logo na entrada, quando o Trenzinho da<br />
Ciência começa a rodar pelas quatro grandes<br />
áreas do museu. Lá é possível escalar,<br />
ao ar livre, uma célula animal gigante ou<br />
mesmo entrar <strong>em</strong> tubos sonoros. A visita<br />
continua com peças de teatro e vídeos divertidos<br />
do projeto “Ciência <strong>em</strong> cena”, que<br />
buscam levar o visitante a uma verdadeira<br />
imersão na cultura e no conhecimento.<br />
46<br />
Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
47
Entre os Muros da Escola<br />
Direção: Laurent Cantet. Ano: 2008. Com<br />
François Bégaudeau. Nos cin<strong>em</strong>as e <strong>em</strong> DVD.<br />
O filme aborda a trágica relação entre professores e estudantes<br />
filhos de imigrantes nas escolas públicas francesas. Vencedor<br />
da Palma de Ouro no Festival de Cannes <strong>em</strong> 2008, o longa<br />
mistura ficção e documentário, pois os alunos que aparec<strong>em</strong><br />
na produção interpretam eles mesmos. O protagonista François<br />
Bégaudeau, professor de<br />
francês, foi também o autor do<br />
livro que deu orig<strong>em</strong> ao filme.<br />
Não sentir profunda tristeza<br />
quando se assiste à produção<br />
é quase impossível. Ao ver que<br />
até mesmo as escolas francesas<br />
estão fadadas ao ensino de<br />
péssima qualidade, a pergunta<br />
é inevitável: qual será o futuro<br />
intelectual da humanidade<br />
Preste atenção na cena <strong>em</strong><br />
que um aluno se aproxima<br />
do professor e questiona se ele não irá lhe perguntar o que<br />
aprendeu durante o ano. Quando o mestre pergunta, recebe<br />
como resposta: “Nada.”<br />
C i n e m a<br />
FOTOS: DIVULGAÇÃO<br />
l e i t u r a<br />
Indignação<br />
c u l t u r a<br />
B r u n o M o r e s c h i<br />
Autor: Philip Roth. Editora<br />
Companhia das Letras. 104 páginas.<br />
O autor (foto),<br />
considerado um dos<br />
maiores escritores norteamericanos<br />
da segunda<br />
metade do século XX,<br />
acaba de lançar no Brasil seu mais novo<br />
livro. Muitos críticos não gostaram, já<br />
que a maioria ainda aguarda algo tão<br />
fenomenal como Pastoral Americana,<br />
que recebeu o Prêmio Pulitzer <strong>em</strong> 1998.<br />
Todavia, se o livro for analisado s<strong>em</strong><br />
nenhuma comparação com suas d<strong>em</strong>ais<br />
obras, o resultado é um texto muito<br />
acima da média do que costumamos<br />
encontrar nas livrarias.<br />
Repare no narrador que conduzirá a<br />
história até sua própria morte, escolha<br />
que se ass<strong>em</strong>elha à de Machado de<br />
Assis no clássico brasileiro M<strong>em</strong>órias<br />
Póstumas de Brás Cubas.<br />
EXPOSIÇÃO<br />
Virada Russa: A Vanguarda na Coleção do Museu<br />
Estatal Russo de São Petersburgo.<br />
CCBB Brasília, até 7/6. CCBB Rio de Janeiro, de 23/6 até 23/8.<br />
CCBB São Paulo, de 15/9 até 15/11. Entrada gratuita.<br />
Pela primeira vez o Brasil recebe 123 obras importantes da vanguarda russa, movimento artístico ocorrido<br />
durante a primeira fase da Revolução Russa, entre as décadas 1890 e 1930. Na mostra estão trabalhos de Vladimir<br />
Tatlin, Kasimir Malevich, Marc Chagall e Vasily Kandinsky, entre outros. Além da<br />
oportunidade de ver telas essenciais para compreender a arte do século XX, a<br />
exposição mostra indiretamente como uma ditadura pode transformar obra de boa<br />
qualidade <strong>em</strong> banalidade. Quando o regime autoritário se instaurou na União Soviética,<br />
esses grandes gênios fugiram para outros países europeus e a arte russa virou apenas<br />
propaganda política.<br />
Olhe atentamente para o quadro multicolorido São Jorge (foto). O pintor Vasily<br />
Kandinsky (1866-1944) defendia uma arte vibrante, tão impactante quanto um<br />
instrumento musical.<br />
Imperativo<br />
Ouça Mariana Aydar, cantora brasileira que lança seu novo CD Peixes Pássaros Pessoas (Universal).<br />
Assista Simonal – Ninguém sabe o duro que dei, filme que responde à pergunta se o cantor era ou não<br />
um informante da ditadura.<br />
49<br />
Locus • Abril 2009
O P I N I Ã O<br />
Crise, inovação e oportunidade<br />
50<br />
Marcella Martha<br />
Mauricio Guedes*<br />
*Mauricio Guedes é<br />
diretor da Incubadora<br />
de Empresas da<br />
Coppe/UFRJ e do<br />
Parque Tecnológico da<br />
UFRJ e vice-presidente<br />
da International<br />
Association of Science<br />
Parks (IASP).<br />
Locus • Abril 2009<br />
Marcada pela grande recessão, a década<br />
de 1930 também representa o<br />
momento <strong>em</strong> que foram dados os primeiros<br />
passos para o surgimento dos<br />
conceitos de Parques Tecnológicos e Incubadoras<br />
de Empresas. Se por um lado<br />
a aversão aos riscos tende a crescer <strong>em</strong><br />
momentos de crise, abandonar o esforço<br />
de inovação e adotar estratégias de competição<br />
baseadas unicamente <strong>em</strong> preços<br />
pode representar uma receita segura –<br />
rumo ao fracasso.<br />
Não será diferente na nossa crise atual,<br />
inicialmente localizada e concentrada<br />
<strong>em</strong> questões de liquidez e de crédito, mas<br />
que rapidamente atingiu uma proporção<br />
global e afetou todo o comércio internacional.<br />
Empresas e países dev<strong>em</strong> se preparar<br />
para o próximo momento, quando<br />
o jogo econômico dará maior espaço à<br />
economia real, onde a produção de bens<br />
e serviços não tenha o seu brilho tão<br />
apagado pela riqueza fictícia dos mercados<br />
financeiros.<br />
O Brasil t<strong>em</strong> feito importantes avanços<br />
na área de ciência e tecnologia. Os Fundos<br />
Setoriais, iniciados no governo FHC<br />
e ampliados no governo Lula; a Lei de<br />
Inovação, originada <strong>em</strong> projeto de iniciativa<br />
do senador Roberto Freire; a Lei do<br />
B<strong>em</strong> e a grande evolução do orçamento<br />
do Ministério da Ciência e Tecnologia<br />
nos últimos anos deram ao país um novo<br />
status no cenário internacional da C&T.<br />
Acabamos de subir dois degraus no<br />
ranking mundial da produção de artigos<br />
científicos, passando a ocupar a 13ª colocação,<br />
à frente da Rússia e da Holanda.<br />
Porém, na capacidade de transformar<br />
esse conhecimento <strong>em</strong> riqueza, ainda estamos<br />
muito mal. Não falo aqui apenas<br />
do número de patentes depositadas nos<br />
Estados Unidos – indicador deficiente,<br />
que não captura o real impacto da pesquisa<br />
no desenvolvimento econômico e<br />
social do país –; falo das várias formas e<br />
instrumentos para a transformação do<br />
conhecimento gerado, seja patenteado<br />
ou não, <strong>em</strong> <strong>em</strong>prego, renda e b<strong>em</strong>-estar<br />
para a sociedade.<br />
O Brasil t<strong>em</strong> hoje uma infraestrutura<br />
de C&T bastante razoável, invejada por<br />
países vizinhos. A Lei de Inovação trouxe<br />
importantes avanços, como a recriação<br />
dos NITs – Núcleos de Inovação Tecnológica<br />
– e o instituto da subvenção<br />
econômica. Mas é fundamental não interromper<br />
esse processo. Os instrumentos<br />
legais precisam ser rapidamente absorvidos<br />
por nossa cultura organizacional<br />
e aprimorados, tornando-se mais eficazes,<br />
sendo de fato aplicados. Onde está a<br />
tão desejada – e prevista <strong>em</strong> lei – mobilidade<br />
de pesquisadores entre instituições<br />
governamentais de ensino e pesquisa e<br />
<strong>em</strong>presas E as licenças para que pesquisadores<br />
cri<strong>em</strong> <strong>em</strong>presas inovadoras<br />
Onde estão os incentivos fiscais para pequenas<br />
<strong>em</strong>presas, que não se beneficiam<br />
da Lei do B<strong>em</strong> Onde estão o reconhecimento<br />
e a valorização das entidades de<br />
C&T que construíram modelos institucionais<br />
de relacionamento com a sociedade,<br />
muitas vezes com o apoio de fundações<br />
s<strong>em</strong> fins lucrativos, que procuram<br />
superar de forma legítima e legal as deficiências<br />
da administração pública<br />
Nesse cenário, é uma surpresa o anúncio<br />
de cortes no orçamento do Ministério<br />
de Ciência e Tecnologia. Dar um passo<br />
atrás neste momento é mais que uma<br />
contradição. É deixar passar uma oportunidade<br />
que está diante de nós e das<br />
gerações futuras.