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Tecnologia vitícola: novas variedades - Embrapa Uva e Vinho

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X Congresso Brasileiro de Viticultura e Enologia 127<br />

<strong>Tecnologia</strong> vitícola: <strong>novas</strong> <strong>variedades</strong><br />

Umberto Almeida Camargo 1<br />

Introdução<br />

A produção brasileira de vinhos está concentrada no sul do país. O Rio Grande do Sul é o maior e o mais tradicional<br />

Estado produtor, com um volume anual variando entre 200 e 300 milhões de litros. Predominam os vinhos de uvas<br />

americanas e híbridas, chamados de vinhos comuns, que em 2002 representaram 89,13% do volume total elaborado.<br />

Os vinhos finos são elaborados com uvas de Vitis vinifera e representaram 10,87% do volume no mesmo ano. Como<br />

categoria intermediária existem os vinhos especiais, que são cortes de vinhos de viníferas com vinhos comuns.<br />

Nos países vinícolas tradicionais, normalmente o vinho apresenta categorias diversas de acordo com sua qualidade.<br />

As categorias básicas são vinhos de mesa, vinhos regionais, vinhos de qualidade superior e vinhos com denominação<br />

de origem controlada. Dentro destas categorias pode, ainda, haver diferenciais de qualidade; na Áustria, por exemplo,<br />

os vinhos de qualidade superior são classificados como qualitätswein, kabinet ou prädikatswein, de acordo com<br />

atributos crescentes de qualidade.<br />

Entre os fatores determinantes da qualidade destacam-se a variedade, as condições ambientais da região produtora,<br />

a interação variedade x ambiente e a tecnologia enológica utilizada. Em regra, com as devidas particularidades regionais,<br />

a interação destes fatores determina a classificação dos vinhos.<br />

Tendo em conta as características ambientais das regiões vinícolas do sul do Brasil e as características do mercado<br />

brasileiro, a <strong>Embrapa</strong> <strong>Uva</strong> e <strong>Vinho</strong> desenvolve um programa de melhoramento genético com o objetivo de criar <strong>novas</strong><br />

cultivares adaptadas à região, para a elaboração de vinhos de mesa.<br />

Fundamentos do programa<br />

O clima do sul do Brasil caracteriza-se por apresentar inverno ameno e verões quentes e úmidos. A precipitacão<br />

pluviométrica anual é da ordem de 1500 a 1700mm, bem distribuídos ao longo do ano. Esta condição ambiental,<br />

embora não sendo limitante, apresenta inconvenientes ao cultivo de uvas finas. Estas condições favorecem a ocorrência<br />

de doenças fúngicas como antracnose (Elsinoe ampelina), míldio (Plasmopara viticola) e podridões do cacho, em<br />

especial a podridão cinzenta da uva causada por Botritys cinerea, doenças que trazem riscos à produção vitícola e<br />

que oneram os custos de produção. Como efeito direto, nos anos com maior precipitação durante o período de<br />

maturação, a uva fina não atinge o teor de açúcar necessário e deixa a desejar em outros componentes, comprometendo<br />

a qualidade dos vinhos.<br />

Outro ponto importante a considerar são as características do mercado brasileiro, composto por um grande contingente<br />

de consumidores com baixo poder aquisitivo, para os quais a decisão em tomar vinho ou outra bebida é fortemente<br />

influenciada pelo preço.<br />

Estas circunstâncias favorecem o setor de vinhos de mesa, restringindo a expansão do cultivo de uvas finas a uma<br />

área limitada, para atendimento de um mercado também limitado. O plantio de uvas mais produtivas, de mais fácil<br />

cultivo, com riscos reduzidos, mesmo que com preços menores, atende aos interesses do viticultor e tem suprido a<br />

demanda da indústria de vinhos populares. As alternativas para este mercado tradicionalmente têm sido as uvas<br />

labruscas.<br />

Nesse contexto, considera-se oportuna a criação de <strong>novas</strong> cultivares para a elaboração de vinhos de mesa, vinhos<br />

de mesa com qualidade diferenciada em relação aos vinhos de labruscas (características de vinífera), e com preço<br />

competitivo.<br />

Também é preciso considerar os novos conceitos de agricultura, em que são privilegiados modelos autosustentáveis,<br />

voltados à proteção ambiental e à segurança alimentar. Variedades com as características referidas podem ser a base<br />

para o estabelecimento e sucesso de sistemas de produção integrada e de produção orgânica nas condições do sul<br />

do Brasil.<br />

Base genética e metodologia<br />

Utiliza-se o método clássico de melhoramento, com a realização de cruzamentos, obtenção de populações e seleção<br />

de plantas promissoras sob condições de campo. O germoplasma básico consta de <strong>variedades</strong> de Vitis vinifera de<br />

reconhecido valor enológico, cruzadas com híbridos interespecíficos, já portadores de atributos de qualidade e, ao<br />

mesmo tempo, resistentes às principais doenças ocorrentes na região.<br />

1<br />

<strong>Embrapa</strong> <strong>Uva</strong> e <strong>Vinho</strong>. Caixa Postal 130, CEP: 95700-000 Bento Gonçalves - RS. E-mail: umberto@cnpuv.embrapa.br


X Congresso Brasileiro de Viticultura e Enologia 128<br />

As primeiras etapas de seleção são realizadas nos campos experimentais da <strong>Embrapa</strong> <strong>Uva</strong> e <strong>Vinho</strong>, considerando<br />

sobretudo o comportamento agronômico, com destaque para produtividade, sanidade, qualidade da uva (açúcar,<br />

acidez, sabor, cor e outros). Materiais aprovados agronomicamente são submetidos a testes de vinificação e análises<br />

química e sensorial dos vinhos.<br />

As seleções aprovadas pelos resultados obtidos no Centro de pesquisa vão para a fase final de avaliação, que é feita<br />

com a implantação de ensaios de validação agronômica e enológica, sempre realizados em parceria com empresas<br />

vinícolas e com viticultores a estas vinculados. São estabelecidos vinhedos comerciais (um ou mais), cujas dimensões<br />

são definidas em comum acordo com os parceiros (vinícola e viticultor), de forma a obter-se adequada avaliação no<br />

campo, na vinícola e no mercado, com a comercialização dos vinhos obtidos.<br />

As seleções aprovadas nesta etapa são lançadas como <strong>novas</strong> cultivares.<br />

Variedades lançadas<br />

Moscato <strong>Embrapa</strong><br />

Foi primeira cultivar de uva para vinho lançada pela <strong>Embrapa</strong> <strong>Uva</strong> e <strong>Vinho</strong> (Camargo & Zanus, 1997). Inicialmente<br />

foi recomendada para cultivo na Serra gaúcha e nas regiões de Sarandi e Jaguari, no Rio Grande do Sul. Entretanto,<br />

avaliações feitas posteriormente revelam seu bom comportamento agronômico também no Vale do Rio do Peixe, Santa<br />

Catarina, e sob condições de clima quente, nos estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Pernambuco. É uma<br />

cultivar de uva branca, moscatel, que resiste às podridões do cacho e que normalmente, na Serra Gaúcha, atinge 16<br />

a 17 0 Babo, com produção de 35 ton/ha. Origina vinho branco de mesa, tipicamente aromático e com acidez moderada,<br />

muito bem aceito pelo consumidor brasileiro. Estas características levaram a uma rápida difusão da Moscato <strong>Embrapa</strong><br />

no Rio Grande do Sul, chegando a um volume de vinho elaborado superior a 900 mil litros em 2001, apenas quatro<br />

anos após seu lançamento (dados do cadastro vinícola do Rio Grande do Sul, 2001). Moscato <strong>Embrapa</strong> tem 75% de<br />

Vitis vinifera em sua constituição genética.<br />

BRS Lorena<br />

Também é uma cultivar de uva branca, com sabor moscatel, lançada com recomendação de cultivo para a Serra<br />

Gaúcha (Camargo & Guerra, 2001). Resultados de avaliações posteriores, feitas no Vale do Submédio São Francisco,<br />

revelam seu bom comportamento agronômico também em regiões de clima quente. BRS Lorena é uma cultivar<br />

resistente às principais doenças que ocorrem no sul do Brasil, especialmente à podridão cinzenta, causada por Botritys<br />

cinerea. A produtividade chega facilmente a 30 ton/ha, com teor de açúcar entre 18 e 20 0 Babo e acidez do mosto<br />

ao redor de 100 a 110meq/L. Vinificada pelo processo clássico proporciona vinho branco tranqüilo com tipicidade<br />

aromática e boa estrutura. Todavia, apresenta sua melhor aptidão para a elaboração de vinho espumante moscatel,<br />

expressando agradável aroma varietal floral, densa espuma e persistente efervescência, produto muito apreciado pelos<br />

consumidores. A espécie Vitis vinifera representa 77,35% da constituição genética de BRS Lorena.<br />

Perspectivas<br />

Além desta duas <strong>novas</strong> cultivares já lançadas, a <strong>Embrapa</strong> <strong>Uva</strong> e <strong>Vinho</strong> dispõe de uma série de seleções híbridas,<br />

sempre com genética de Vitis vinifera superior a 50%, adaptadas às condições ambientais do sul do Brasil, resistentes<br />

a doenças, produtivas e com alto potencial glucométrico, prontas para serem testadas em escala comercial, seguindo<br />

o processo de validação em parceria com empresas e viticultores interessados. Como referência, existem: a) seleções<br />

de uvas próprias para a elaboração de vinho branco neutro, que pode servir como base para vinhos compostos e<br />

para a destilação, assim como para participar em cortes com outros vinhos de menor teor alcoólico natural; b) seleções<br />

de uvas brancas e tintas, cuja composição genética é superior a 80% de Vitis vinifera, aptas à elaboração de vinhos<br />

de mesa com características próprias de sabor e aroma, similares aos vinhos vinífera; c) uma seleção de uva moscatel,<br />

com teor de açúcar natural superior a 20 0 Babo, como alternativa para a elaboração de vinho doce natural.<br />

Bibliografia citada<br />

CAMARGO, U.A.; ZANUZ, M.C. <strong>Embrapa</strong> 131-Moscato <strong>Embrapa</strong> – Nova cultivar para a elaboração de vinho branco.<br />

Bento Gonçalves: <strong>Embrapa</strong> <strong>Uva</strong> e <strong>Vinho</strong>, 1997. 4p. (<strong>Embrapa</strong> <strong>Uva</strong> e <strong>Vinho</strong>. Comunicado Técnico, 24).<br />

CAMARGO, U.A.; GUERRA, C.C. BRS Lorena: cultivar para a elaboração de vinhos aromáticos. Bento Gonçalves:<br />

<strong>Embrapa</strong> <strong>Uva</strong> e <strong>Vinho</strong>, ago. 2001. 4p. (<strong>Embrapa</strong> <strong>Uva</strong> e <strong>Vinho</strong>. Comunicado Técnico, 39).

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