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Poderia dizer que a felicidade estava completa, se<br />

não tivesse contas a acertar com o meu passado. A ideia<br />

de reencontrar a família na Angola nunca me abandonou.<br />

Onde eu ia, tentava conseguir alguma pista ou qualquer<br />

informação que pudesse reacender as esperanças de um<br />

dia vê-los de novo. Tive muitas notícias falsas, fui enganada,<br />

mas nunca desisti.<br />

Até que um dia conheci um senhor que trabalhava<br />

na embaixada da Angola e descobri que a esposa dele<br />

era da mesma região que eu. Ele levou uma foto e todos<br />

os detalhes que eu podia lembrar a respeito de nomes e<br />

características dos meus parentes de Candunda. Em 1998,<br />

mais de duas décadas depois de ter colocado pela última<br />

vez os meus pés em solo africano, recebo uma informação<br />

de que havia chances reais de localizar a minha família.<br />

Liguei para o meu contato na embaixada, que me deu<br />

certeza de que, em breve, eu receberia um telefonema de<br />

um homem que poderia ser meu irmão.<br />

Chorei compulsivamente agarrada ao orelhão. As<br />

pernas já não me sustentavam, eu mal podia acreditar!<br />

Alguns dias se passaram e eu achava que talvez pudesse<br />

ter sido mais um alarme falso. Mas aí, o telefone tocou. Do<br />

outro lado, um senhor com um sotaque acentuado tentava<br />

confirmar alguns dados que ajudassem a explicar a minha<br />

história. Fui, citando, um a um, o nome dos meus irmãos:<br />

Anastácio, Moisés, Vitória, Carlos... Quando ouviu esse<br />

último, ele disse na hora: “Marisol, o Carlos sou eu!”.<br />

Com alguma dificuldade, consegui as passagens<br />

na embaixada e os meus amigos juntaram dinheiro para<br />

financiar despesas da viagem. Fui recebida em Luanda<br />

com festa, choro e a alegria inerente ao povo africano:<br />

“Luzembo, você voltou!”. Durante todo esse tempo,<br />

acharam que eu estivesse morta. Alguns até sugeriram<br />

fazer um enterro simbólico, mas minha mãe nunca aceitou.<br />

Ela passava dias inteiros olhando para o caminho que dava<br />

até Candunda, esperando que eu aparecesse.<br />

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