Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Volume 2 Edição 3<br />
Março 2012<br />
<strong>astroPT</strong> <strong>magazine</strong>
ESPECIAL<br />
Março 2012<br />
Neil no Daily Show<br />
É sempre uma delicia ver e ouvir o astrofísico Neil<br />
deGrasse Tyson, com a sua lucidez e forma cativante<br />
de explicar a ciência, os seus princípios e<br />
metas.<br />
Por isso não resisto a partilhar aqui mais uma<br />
entrevista com este grande comunicador e defensor<br />
da ciência, com um carinho muito especial<br />
pela exploração espacial.<br />
Esse é o tema principal desta entrevista, da passada<br />
segunda-feira (27 de Março) no excelente programa<br />
dirigido por Jon Stewart, The Daily<br />
Show (que eu recomendo vivamente).<br />
Nesta entrevista o Neil defende uma vez mais a<br />
origem e importância que a exploração espacial<br />
teve para o avanço da ciência e da tecnologia<br />
só).<br />
americanas nos<br />
anos da década<br />
de 1960. Como<br />
cativou as mentes<br />
dos mais jovens e<br />
fê-los querer,<br />
também eles,<br />
serem astronautas<br />
ou físicos ou<br />
astrónomos…<br />
como se criou a<br />
“cultura do futuro”…e<br />
como o<br />
abandono dos<br />
programas de<br />
investigação<br />
espacial estão a<br />
contribuir para a<br />
decadência científica<br />
e cultural<br />
americana (e não<br />
Muitas pessoas questionam o gasto feito com a<br />
exploração espacial, mas o Neil não se cansa de<br />
explicar que o dinheiro destinado à NASA representa<br />
apenas meio cêntimo de cada dólar que os<br />
americanos pagam de impostos. Uma percentagem<br />
ínfima e cujas repercussões para a sociedade<br />
em muito superam o investido.<br />
“Este investimento no futuro, feito no séc. XXI,<br />
representa os alicerces das economia do amanhã.<br />
E, sem isso, mais vale voltar às cavernas, por que<br />
é para lá que estamos a ir,…falidos!”<br />
Enjoy!<br />
[Veja o vídeo aqui]<br />
Diana Barbosa<br />
Página 2
Volume 2 Edição 3<br />
ESPECIAL<br />
Memoriais lunares ao dia da mulher<br />
Memorial ao dia da mulher criado em 1971 pelo Lunokhod 1. Esta é uma parte do panorama fotografado pelo robot<br />
soviético pouco depois de ter criado a figura.<br />
Crédito: Laboratory of Comparative Planetology.<br />
O Dia Internacional da Mulher é assinalado em<br />
muitos países, há já várias décadas, no dia 8 de<br />
Março. A data ganhou particular relevância na<br />
União Soviética como símbolo político de exaltação<br />
da mulher soviética como peça fundamental<br />
na construção do regime comunista e na defesa<br />
da pátria durante a Grande Guerra Patriótica (II<br />
Grande Guerra Mundial).<br />
Em 1971, os controladores da missão soviética<br />
Lunokhod 1 comemoraram a data de uma forma<br />
muito original. Ordenaram ao sofisticado robot<br />
que desenhásse com as suas rodas no regolito de<br />
Mare Imbrium um memorial ao dia da mulher.<br />
Depois de completar uma figura em forma de 8, o<br />
Lunokhod 1 reposicionou-se para criar um panorama<br />
que incluísse o memorial.<br />
Dois anos mais tarde, o seu sucessor Lunokhod 2<br />
criaria um memorial semelhante, desta vez na<br />
orla da cratera Le Monnier, no extremo leste de<br />
Mare Serenitatis.<br />
Este segundo<br />
memorial tem a<br />
particularidade<br />
de ser facilmente<br />
reconhecível em<br />
imagens recentemente<br />
obtidas<br />
pela sonda americana<br />
Lunar<br />
Reconnaissance<br />
Orbiter.<br />
Sérgio Paulino<br />
O mesmo memorial fotografado quatro<br />
décadas mais tarde pela sonda<br />
Lunar Reconnaissance Orbiter. É<br />
visível a escassos metros a Luna 21,<br />
a sonda que transportou o Lunokhod<br />
2 até à superfície da Lua.<br />
Crédito: NASA/GSFC/ Arizona State<br />
University.<br />
Parte de um panorama obtido em 1973 pelo robot soviético Lunokhod 2 mostrando o memorial ao dia da mulher por<br />
si criado. Crédito: Laboratory of Comparative Planetology.<br />
Página 3
ASTROFOTOGRAFIA<br />
Março 2012<br />
ASTROFOTOGRAFIA de… Miguel Claro<br />
Página 4
Volume 2 Edição 3<br />
ASTROFOTOGRAFIA<br />
Página 5
EDUCAÇÃO Março 2012<br />
Atlântida desapareceu <br />
A lenda<br />
de Atlantis nasceu com<br />
Platão, há mais de 2000<br />
anos atrás.<br />
No meu entender, é<br />
uma lenda sobre um<br />
sítio com muitas virtudes,<br />
mas que mesmo<br />
assim foi destruído por<br />
forças naturais.<br />
A história é similar a<br />
muitas histórias de ficção<br />
científica, passadas<br />
em planetas distantes.<br />
É uma história sobre<br />
ideais e precauções.<br />
Nada mais. Daqui por<br />
2000 anos, se alguém<br />
pegar nos episódios de<br />
Star Trek e imaginar<br />
que são documentos<br />
históricos sobre a realidade<br />
desta altura, iríamos<br />
nos rir bastante<br />
dessa interpretação.<br />
O mesmo se passa aqui<br />
sobre a Atlântida. É<br />
para rir.<br />
O Google Earth usa<br />
sonares, que por vezes<br />
têm problemas, falham<br />
na leitura de dados ou<br />
sobrepõem dados, e<br />
por isso não se vêm as<br />
imagens claras, mas vêse<br />
“ruído”.<br />
Em 2009, uma dessas<br />
zonas com “ruído”,<br />
devido ao processamento<br />
digital das imagens<br />
e da sobreposição<br />
de conjuntos de dados,<br />
era no fundo do mar.<br />
Página 6
Volume 2 Edição 3<br />
EDUCAÇÃO<br />
Segundo os conspiradores, esta “grelha” só podia<br />
ser explicada como sendo a Atlântida (da mesma<br />
forma que o aparecimento de prendas de Natal<br />
só pode ser explicado pelo Pai Natal).<br />
3 anos depois, com equipamentos melhores que<br />
permitiram a actualização do Google Earth,<br />
algum do “ruído” desapareceu.<br />
E, com isso, desapareceu a suposta Atlantida.<br />
Carlos Oliveira<br />
PUB<br />
AstroPT<br />
alojado por: Grifin<br />
http://www.grifin.pt/<br />
Página 7
EDUCAÇÃO Março 2012<br />
Procyon, por que te chamam<br />
assim<br />
Uma das estrelas<br />
de brilho notável<br />
que nesta época,<br />
nas latitudes<br />
equatoriais, tem<br />
aparecido próxima<br />
do zênite nas<br />
primeiras horas<br />
da noite, é o<br />
astro principal<br />
da constelação<br />
do Cão Menor,<br />
Procyon. Além<br />
de figurar entre<br />
as estrelas mais<br />
brilhantes do<br />
céu, Procyon é<br />
também uma<br />
das estrelas mais<br />
próximas do Sistema<br />
Solar,<br />
estando a cerca de 11 anos-luz de distância.<br />
Procyon é mais uma das estrelas cujo nome<br />
vem dos gregos. Seu nome significa “antes do<br />
Cão” ou “a que precede o Cão”, porque anuncia<br />
o surgimento da constelação do Cão Maior,<br />
onde está a estrela mais brilhante de todo o<br />
céu, Sírius. O interessante é que os observadores<br />
situados abaixo da linha do equador estranham<br />
essa estrela ser chamada assim. Se a<br />
observarmos em qualquer época do ano nas<br />
latitudes austrais, veremos que Sírius e não<br />
Procyon nasce primeiro. Acontece o contrário:<br />
Sírius é que anuncia a chegada de Procyon. Esse<br />
efeito só vale para as latitudes boreais, onde<br />
regiões como a Grécia se situa. Procyon tem<br />
uma variante em latim, pouco utilizada: Antecanis<br />
Saulo Machado<br />
Página 8
Volume 2 Edição 3<br />
EDUCAÇÃO<br />
NASA – Nazista<br />
Na “caminhada” pelos blogs pseudocientíficos do<br />
mundo percebemos, em alguns artigos, um pensamento<br />
que lhes são recorrentes: o apelido que<br />
a NASA, carinhosamente, lhe fora atribuído neste<br />
“meio”: NASA “nazi”.<br />
Evidentemente, para um bom entendedor, meia<br />
palavra basta: refere-se que a NASA seria, er…<br />
digamos, “Nazista”.<br />
Já ouvi isso, outrora, de um grande colega do convívio<br />
pessoal.<br />
Entretanto, antes de entrarmos no “X” da questão,<br />
vamos relembrar o que significa a palavra<br />
NASA.<br />
impactos benéficos no nosso dia-a-dia são inquestionáveis.<br />
Mas por que essa alusão à NASA com os nazistas<br />
do passado<br />
Simples. Antes de tudo, falta de conhecimento no<br />
assunto. O cidadão já não gosta muito da NASA e<br />
desconfia desta. Acredita que esta agência enrola<br />
todo mundo todos os dias e já agora ela não quer<br />
dizer-nos que existem etzinhos por aí dando<br />
tchauzinho quando apontam seus telescópios. Ou<br />
que extraterrestres reptilianos estão conversando<br />
em reuniões secretas com líderes globais. Ou que<br />
Nibiru tá chegando por aí. A NASA também esconde<br />
que existe, já agora, um asteróide em rota de<br />
NASA é abreviação<br />
colisão com a Terra. A<br />
para National Aeronautics<br />
“Um pequeno passo para o homem, um grande salto pobre coitada não pode<br />
para a humanidade (Neil Armstrong).”<br />
and Space Administration<br />
esconder esse segredo da<br />
ou, em outras palavras,<br />
Administração Nacional da<br />
Aeronáutica e do Espaço.<br />
Fundada oficialmente em<br />
29 de julho de 1958 – quando<br />
muitos sequer haviam<br />
nascido -, esta agência norte-americana<br />
população que – muito provavelmente,<br />
criaria pânico<br />
em escala global – e tentar<br />
desenvolver, a princípio,<br />
uma tecnologia que possa<br />
destruir ou ao menos desviar<br />
este objeto perigoso.<br />
tem como<br />
Os pseudos preferem que<br />
objetivos principais a exploração espacial, detecção<br />
de NEO’s e uma melhor compreensão do Universo.<br />
seja colocada a boca-no-trombone e salve-se<br />
quem puder. Os Illuminatti’s, como não podiam<br />
Claro que possa existir objetivos deixar de ser, também mandam por lá. A partir<br />
“secundários”, tais como desenvolvimentos dessa “impressão”, é natural quando esse mesmo<br />
secretos de tecnologia militar e outras coisas<br />
[inserir aqui outros objetivos ocultos a gosto].<br />
Acredito que segredos tudo e todos têm. Desenvolvimento<br />
de tecnologia militar, por exemplo,<br />
são mantidos por quase todos os países. Não é<br />
crédito exclusivo dos EUA, tampouco da NASA.<br />
Mas os benefícios que esta nos proporciona e os<br />
cidadão começa a pesquisar em sítios na internet<br />
e se depara com uma informação (verdadeira,<br />
diga-se de passagem) que a NASA já contratou exnazistas<br />
(antes mesmo do fim da II Guerra Mundial).<br />
Pronto, vai ser chamada, a partir de agora,<br />
de “NASA nazi [completando e inserindo alguma<br />
ofensa aqui]”.<br />
Página 9
EDUCAÇÃO Março 2012<br />
Retornamos à II Grande Guerra. Em 1945, cerca<br />
de 500 dos melhores pesquisadores e cientistas<br />
(engenheiros , médicos, etc.), percebendo<br />
que a Alemanha nazista perderia a guerra, começaram<br />
a negociar suas rendições para os EUA.<br />
Escaparam, por sorte, do julgamento de Nuremberg.<br />
Entretanto, uma coisa<br />
que vale a pena destacar:<br />
apesar de serem nazistas,<br />
muitos destes eram notáveis<br />
na área de Ciências Exatas<br />
que, por infelicidade do destino,<br />
estavam pondo seus serviços<br />
de maneira completamente<br />
desumana. Um dos<br />
maiores exemplos do poder<br />
de se utilizar desses<br />
“notáveis” beneficamente (claro, não somos tolos<br />
em acreditar que os EUA estavam solidários com<br />
eles e cá quiseram convertê-los, transformandoos<br />
em monges tibetanos ) foi o ex-nazista e<br />
engenheiro alemão Wernher von Braun, uma das<br />
ferramentas mais importantes para o sucesso da<br />
Apollo 11. O von Braun trabalhou na NASA até<br />
meados de 1970 – quando decidiu pedir demissão.<br />
Contudo, já não estou de acordo quando o assunto<br />
são os médicos nazistas. Apesar dos experimentos<br />
horrorosos da medicina nazista com<br />
humanos ter contribuido substancialmente para o<br />
avanço da medicina contemporânea, preferia ter<br />
este campo da ciência menos avançado – em<br />
algumas de suas subáreas -, pois esta contribuição<br />
foi à custa do sofrimento terrível de milhões<br />
de crianças, jovens, adultos e idosos – que nós<br />
não temos ideia do pavor que eles passaram. Os<br />
relatos destas experiências que os próprios médicos<br />
alemães deixaram são um verdadeiro livro de<br />
terror.<br />
Todavia, os benefícios do aperfeiçoamento das<br />
descobertas das explorações espaciais projetadas<br />
e executadas pelos cientistas e especialistas que<br />
fizeram e fazem parte desta são inúmeros. Faz-se<br />
recomendável a leitura desteartigo do Carlos Oliveira<br />
sobre o tema. Aqui você pode encontrar<br />
aplicações mais “corriqueiras”<br />
do nosso dia-a-dia.<br />
Portanto, um convite à reflexão:<br />
será que a NASA deve ser<br />
chamada de Nazi pelo fato de<br />
alguns de seus membros em<br />
épocas passadas terem sido<br />
ex-nazistas Ou será que ainda<br />
existem cientistas-zumbis a<br />
serviço da NASA Ou seus<br />
membros atuais se influenciaram<br />
pelos membros antigos e se renderam ao<br />
antigo nazismo<br />
(…)<br />
Outra coisa interessante que se faz notar: a zombaria<br />
e o deboche que alguns fazem quando<br />
algum integrante da NASA vem a público prestar<br />
esclarecimentos. É fácil ter sítios que atacam a<br />
agência norte-americana, mas colocam link’s para<br />
seus leitores acompanharem suas sondas, tais<br />
como a SOHO e STEREO. Ou atalhos para a Estação<br />
Espacial Internacional (ISS). É fácil ter sítios<br />
fazendo alusões de que a NASA não seria confiável,<br />
zombando dos esclarecimentos de sua equipe<br />
acerca de determinados assuntos quando esta<br />
vem a público – porém mesclam seu logotipo com<br />
o nome do seu sítio eletrônico, por exemplo.<br />
Antes de estes criticarem e/ou zombarem dessa<br />
agência, dando total descrédito à quase tudo que<br />
se refere, seria bom que os pseudos pudessem<br />
observar se não estão utilizando algumas de suas<br />
tecnologias no seu dia-a-dia…<br />
Cavalcanti<br />
Página 10
Volume 2 Edição 3<br />
EDUCAÇÃO<br />
Dia da poesia<br />
No dia da poesia a <strong>astroPT</strong> deixa-vos aqui dois poemas um de António<br />
Gedeão (pseudónimo de Rómulo de Carvalho, professor de Física e Química e investigador da História da Ciência em Portugal,<br />
que nos deixou em 1997) e outro de Olavo Bilac (Jornalista e poeta Brasileiro, que nos deixou em 1918):<br />
António Gedão<br />
Este líquido é água.<br />
Quando pura<br />
é inodora, insípida e incolor.<br />
Reduzida a vapor,<br />
sob tensão e a alta temperatura,<br />
move os êmbolos das máquinas que, por isso,<br />
se denominam máquinas de vapor.<br />
É um bom dissolvente.<br />
Embora com excepções mas de um modo geral,<br />
dissolve tudo bem, bases e sais.<br />
Congela a zero graus centesimais<br />
e ferve a 100, quando à pressão normal.<br />
Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão,<br />
sob um luar gomoso e branco de camélia,<br />
apareceu a boiar o cadáver de Ofélia<br />
com um nenúfar na mão.<br />
Olavo Bilac<br />
Ora direis ouvir estrelas! Certo<br />
Perdeste o senso”! E eu vos direi, no entanto,<br />
Que, para ouvi-las, muita vez desperto<br />
E abro as janelas, pálido de espanto…<br />
E conversamos toda a noite, enquanto<br />
A via láctea, como um pálio aberto,<br />
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,<br />
Inda as procuro pelo céu deserto.<br />
Direis agora! “Tresloucado amigo!<br />
Que conversas com elas Que sentido<br />
Tem o que dizem, quando estão contigo”<br />
E eu vos direi: “Amai para entendê-las:<br />
Pois só quem ama pode ter ouvido<br />
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.<br />
José Gonçalves<br />
Página 11
EDUCAÇÃO Março 2012<br />
A Química das Coisas<br />
Universidade de Aveiro lança programa de divulgação<br />
de ciência na RTP2<br />
Já<br />
alguma<br />
vez<br />
pensou<br />
que<br />
é graças<br />
à<br />
química<br />
que<br />
pode<br />
beber<br />
café<br />
descafeinado,<br />
trabalhar num computador portátil ou usar<br />
post-its para apontar um recado<br />
A nova série «A Química das Coisas» vai desmascarar<br />
a química escondida no dia a dia e mostrar<br />
como os desenvolvimentos recentes desta ciência<br />
contribuem para o nosso bem-estar.<br />
Com estreia agendada para o dia 16 de março, às<br />
13h55, na RTP2, o novo programa televisivo tem<br />
autoria do Departamento de Química da Universidade<br />
de Aveiro (DQ), produção da Science Office<br />
e Duvideo e apresentação de Cláudia Semedo.<br />
Os episódios, de cerca de três minutos cada,<br />
foram produzidos a pensar no grande público,<br />
com uma linguagem acessível e explicações<br />
visuais apelativas. Cláudia Semedo conduz o<br />
espectador pelos meandros da química que nos<br />
rodeia, ao longo dos 13 programas desta primeira<br />
série, em exibição de segunda a sexta-feira, às<br />
13h55, até 3 de abril.<br />
Carlos Oliveira<br />
[NR: veja os vídeos aqui]<br />
Página 12
Volume 2 Edição 3<br />
EDUCAÇÃO<br />
Alphard, por que te chamam assim<br />
Após o equinócio de Março, a<br />
maior das 88 constelações pode<br />
ser observada nas primeiras horas<br />
da noite. Trata-se da Hidra<br />
(Hydra), constelação originalmente<br />
chamada de Serpente no tempo<br />
dos babilônios. O nome atual<br />
deve-se aos gregos, eternizando<br />
um dos adversários de Hércules<br />
durante seus famosos Trabalhos,<br />
a Hidra de Lerna.<br />
Apesar da constelação ser a mais<br />
extensa de todas as oficiais, não<br />
há tantas estrelas em destaque, a<br />
não ser uma: Alphard.<br />
Alphard está entre as 50 estrelas<br />
mais brilhantes do céu. Seu nome,<br />
de origem árabe, significa “a Solitária”,<br />
porque bem próximo dela<br />
não existem estrelas que rivalizem<br />
em brilho. Vista de locais com<br />
poluição luminosa, Alphard se<br />
destaca em meio a um aparente<br />
vazio de estrelas.<br />
Existe um nome latino para<br />
Alphard menos usual: “Cor<br />
Hydræ“, que quer dizer “Coração<br />
da Hydra”, devido à posição da<br />
estrela no imaginário corpo da<br />
criatura mitológica.<br />
Saulo Machado<br />
Página 13
DIVULGAÇÃO Março 2012<br />
Ciência 2.0<br />
Ciência 2.0 é um projecto de divulgação<br />
científica desenvolvido na Universidade do Porto.<br />
O site desenvolverá conteúdos das mais diversas<br />
áreas científicas, incluindo da astronomia.<br />
É um projecto que pretende dar a conhecer a<br />
Ciência com rigor e ao mesmo tempo de forma<br />
acessível e explicativa. Informalmente, vão sendo<br />
explicadas as várias ciências e o que elas têm de<br />
melhor e o que se vai fazendo nesta área.<br />
Um dos primeiros textos é sobre supernovas, e<br />
podem lê-lo aqui.<br />
“Somos “filhos” das estrelas e ajudados pelas<br />
supernovas. (…)<br />
“As estrelas massivas produzem [núcleos de] carbono,<br />
azoto, oxigénio e também o ferro”, explica<br />
Carlos Oliveira, astrónomo e coordenador do blogue<br />
AstroPT. (…)<br />
Contudo, são facas de dois gumes. Se por um lado<br />
nos dão vida, pois produzem o carbono de que<br />
somos constituídos e de que o planeta Terra é<br />
composto e também o ferro e o oxigénio, elementos<br />
que nos são essenciais, por outro, caso<br />
aconteça alguma “num raio de 100 anos-luz, pode<br />
matar-nos em segundos”, salienta Carlos Oliveira.<br />
Estes conceitos foram defendidos, por exemplo,<br />
por Carl Sagan, cientista americano, que afirmou<br />
sermos “star stuff”, ou seja, tudo o que nos constitui<br />
é feito nas estrelas.”<br />
Carlos Oliveira<br />
Calendário Astronómico<br />
A Sociedade Portuguesa de Astronomia<br />
(SPA) criou um google calendar, público,<br />
para funcionar como agenda de eventos<br />
relacionados com a Astronomia, como<br />
sucessor da Agenda do AIA2009.<br />
Assim, sempre que alguém organizar um<br />
evento no âmbito da Astronomia, cujo destinatário<br />
seja o público em geral, pode colocar<br />
o mesmo na agenda/calendário. Para<br />
isso, basta enviarem um e-mail com essa<br />
informação para o endereço da SPA<br />
[spa@sp-astronomia.pt].<br />
Para verem o calendário, cliquem aqui, e<br />
podem subscrever os feeds, aqui.<br />
Carlos Oliveira<br />
Página 14
Volume 2 Edição 3<br />
DIVULGAÇÃO<br />
Ciência com Todos<br />
Ciência com Todos é um interessante projecto, do<br />
qual faço parte da comissão científica.<br />
Esta foi a informação recebida de João Pedro<br />
Calafate:<br />
Ciência com Todos é um projeto de educação/<br />
divulgação de Ciência, que apresenta como principal<br />
finalidade melhorar a literacia científica dos<br />
cidadãos portugueses e outros interessados.<br />
Este projeto apresenta um sítio na Web – http://<br />
cienciapatodos.webnode.pt – onde o utilizador<br />
poderá “dar asas” à sua curiosidade e imaginação<br />
(acerca da vida, do mundo e do universo que nos<br />
rodeia) colocando questões, relacionadas com a<br />
Ciência e a Tecnologia, para as quais não encontra<br />
uma resposta ou não encontra uma resposta cientificamente<br />
adequada e acessível e vê-las respondidas<br />
por especialistas de diversas áreas da Ciência<br />
e da Tecnologia.<br />
O projeto conta atualmente com 167 colaboradores<br />
de várias áreas da Ciência, que constituem a<br />
sua comissão científica, sendo maioritariamente<br />
docentes doutorados de instituições universitárias<br />
portuguesas e/ou investigadores das mesmas<br />
ou de centros de investigação científica. Alguns<br />
destes colaboradores pertencem a instituições<br />
universitárias estrangeiras.<br />
Um dos objetivos chave deste projeto é a indagação<br />
científica tanto por parte de alunos, de todos<br />
os níveis de ensino, como por parte dos professores<br />
de Ciências destes níveis.<br />
Neste momento, o leitor poderá encontrar no<br />
sítio do CcT uma quantidade razoável de questões/respostas,<br />
de uma variedade de áreas científicas<br />
e temas, que apelam à curiosidade de cada<br />
um.<br />
Carlos Oliveira<br />
Página 15
LITERACIA CIENTÍFICA Março 2012<br />
O Vento… Dentro e Fora da Cabeça<br />
Como cientista amo a ciência e não gosto que<br />
falem mal dela quando não a compreendem ou<br />
que digam bem de algo que é contrário à ciência.<br />
Quando se trata de um leigo desconhecido posso<br />
debater de forma mais rígida. Contudo, quando<br />
se trata de uma pessoa que conheço é-me difícil<br />
dizer que aquilo é uma aldrabice. Digo apenas<br />
que não é assim. É escusado ensinar ciência a<br />
alguém que quer, à força, que as ideias esotéricas<br />
sejam verdadeiras.<br />
A conversa teve início nas dores de garganta. A<br />
causa, disse esse amigo, é devido a uma entrada<br />
de ar que existe na<br />
parte de trás do pescoço.<br />
Imediatamente<br />
coloquei a mão a<br />
pensar que tinha um<br />
buraco que nunca<br />
tinha notado! Felizmente<br />
não encontrei<br />
nenhum buraco.<br />
Segundo esse meu<br />
amigo o vento entra<br />
por esse local e provoca<br />
as doenças e<br />
que, por isso, as pessoas<br />
usam cachecol.<br />
Eu respondi que se<br />
usa cachecol, não para não entrar frio mas para<br />
aquecer a garganta porque o vírus da gripe replica<br />
-se a 4ºC. Notem que, em ciência somos ensinados<br />
a indicar bibliografia e características concretas<br />
(como o exemplo dos 4ºC, pode-se ver no<br />
comentário deste post).<br />
Ao pesquisar um pouco encontrei coisas horríveis!<br />
Encontrei num site de medicina tradicional<br />
chinesa que “O frio faz os objetos se contraírem”<br />
(até aqui está certo), que “causa calafrios, e<br />
os tremores provocam o enrijecimento dos músculos.”<br />
E que “O vento-frio é tradicionalmente<br />
tratado com ervas quentes e diaforéticas<br />
(indutoras de suor) para dissipar o frio e repelir o<br />
vento.” Aqui já está tudo mal. Mas isso sou eu e a<br />
Física que estamos errados. Ora, todos sabemos<br />
que o suor aparece quando estamos quentes e<br />
temos febre, não para dissipar o frio mas para<br />
resfriar o corpo para que este baixe a temperatura<br />
. O suor não permite o corpo atingir a temperatura<br />
de 42ºC, temperatura de degeneração das<br />
proteínas. Mas todos<br />
sabemos que a Bioquímica<br />
é uma farsa e<br />
que o tradicionalismo<br />
chines de mais de<br />
2000 anos, baseado<br />
em dragões (que<br />
todos sabemos existir)<br />
e energias mágicas<br />
(que obviamente existem),<br />
é o correcto.<br />
Mais um desastre de<br />
senso comum é que o<br />
vento quente<br />
é “causado por uma<br />
combinação de agentes patogênicos, essa síndrome<br />
é vista normalmente no resfriado comum (em<br />
inglês) ou gripe.” Acho que nem é preciso referir<br />
que a gripe é característica de ambientes frios,<br />
cerca de 4ºC e que o vento não é composto por<br />
agentes patogénicos mas é, por definição, massas<br />
de ar em movimento.<br />
Mais uma série de barbaridades existem neste<br />
Página 16
Volume 2 Edição 3<br />
FÍSICA<br />
site. Fico com medo que comecem a ensinar às<br />
pessoas que existem civilizações a morar num planeta<br />
que vai bater com o nosso este ano, que a 3ª<br />
dimensão vai desaparecer e que vamos passar<br />
para uma 5ª dimensão. Que vai haver mudanças<br />
de energias e coisas do género… esperem… mas<br />
isso já é ensinado! E as esponjinhas já absorvem<br />
tudo isso. Pesquisei nas sebentas das cadeiras de<br />
fisiologia e anatomia da faculdade e não encontrei<br />
nenhuma entrada de ar no pescoço.<br />
Na mesma linha veio-me parar às mãos um folheto<br />
interessante de uma astróloga vidente especializada<br />
em coisas de energia (não, não é especializada<br />
em física das altas energias. Isso é treta). É<br />
diplomada por um centro Umbandístico (que<br />
quer dizer seita). Esta especialista séria lê mãos,<br />
búzios e, agora, velas!<br />
Se a vela não acende podia ser por falta de jeito,<br />
por estar vento ou chuva. Mas não, quer dizer<br />
que um anjo tem dificuldade para ancorar. É tão<br />
triste que não consigo reproduzir mais. Tenho<br />
dificuldade em escolher qual a pior análise de<br />
chamas de velas.<br />
Para pessoas sérias as ideias vão em direcção ao<br />
bem-estar e ao conhecimento verdadeiro. Para os<br />
charlatães as ideias vão na direcção oposta e,<br />
obviamente, oposta ao conhecimento e ao senso<br />
comum. Muita gente não repara porque é esponjinha,<br />
absorvem tudo.<br />
Dário Codinha<br />
Nova partícula subatómica<br />
Depois de<br />
ter sido<br />
descoberta<br />
a partícula<br />
Chi b<br />
(3P), eis<br />
que surge<br />
o E(38).<br />
A descoberta<br />
foi<br />
comunicada<br />
ontem Crédito: http://cft.fis.uc.pt/eef/stronghiggs.htm<br />
pela Universidade<br />
de Coimbra e que podem ler<br />
no Público.<br />
O investigador holandês Eef van Beveren, físico<br />
teórico da Universidade de Coimbra, analisou os<br />
dados obtidos com as experiências dos aceleradores<br />
de partículas em Bona (Alemanha) e no Laboratório<br />
Europeu de Física de Partículas (CERN, na<br />
Suíça), entre outras instituições. Nessa análise, o<br />
físico “‘varreu” todos os eventos registados nas<br />
experiências, mesmo os considerados irrelevantes,<br />
e num ínfimo espaço registou uma quantidade<br />
de 46 mil eventos com 13 sigma de significância<br />
(mais que suficiente, superior a 5 sigma, para<br />
declarar-se a existência de uma partícula), que é<br />
um indicador de relevância estatística.<br />
Esta partícula com propriedades pouco conhecidas<br />
(sabe-se que é 25 vezes mais leve do que um<br />
protão e três vezes mais leve que um pião), que<br />
existe numa zona de energia tão baixa e apresenta<br />
uma extrema leveza, poderá ter grandes implicações<br />
na física de partículas, na física das altas<br />
energias e na cosmologia. Por exemplo, poderá<br />
ser utilizada como uma fonte de energia nuclear<br />
mais limpa, dado que se desintegra totalmente<br />
sem deixar resíduos, onde “um miligrama desta<br />
matéria dará para um megawatt durante um<br />
ano”, segundo o cientista.<br />
[podem ver o vídeo aqui]<br />
José Gonçalves<br />
Página 17
ASTROBIOLOGIA Março 2012<br />
Mito Moderno<br />
Um aluno<br />
do mini-curso<br />
de astrobiologia<br />
dos Açores,<br />
decidiu desenhar<br />
uma imagem<br />
que<br />
abrangesse o<br />
curso.<br />
Segundo as<br />
suas palavras:<br />
“A figura é<br />
uma expressão<br />
de um mito<br />
moderno: o do<br />
extraterrestre.<br />
Esse é uma<br />
inteligência<br />
superior,<br />
esquiva, que<br />
se mantém<br />
para além do<br />
tempo e espaço,<br />
tomando<br />
assim o lugar<br />
dos deuses ou<br />
espiritualidade<br />
na consciência<br />
do Homem. A<br />
figura do<br />
extraterrestre<br />
revela-se, portanto,<br />
como<br />
um símbolo<br />
antropomórfico<br />
moderno<br />
do desconhecido.”<br />
E com o consentimento<br />
dele, Paulo Pacheco, cá fica a imagem.<br />
Carlos Oliveira<br />
Página 18
Volume 2 Edição 3<br />
ASTROBIOLOGIA<br />
Anfípodes extraterrestres<br />
No curso de astrobiologia que leccionei nos Açores,<br />
um dos alunos disse-me uma coisa deveras<br />
interessante: que o extraterrestre do filme<br />
Alien afinal não é assim tão extraterrestre.<br />
Há quem diga que é baseado numa pintura de H.<br />
R. Giger chamada Necronom IV.<br />
Mas este ser estranho poderá ter sido inspirado<br />
por um animal bem<br />
terrestre:<br />
um anfípode,<br />
pequeno crustáceo<br />
sem carapaça, mais<br />
precisamente<br />
um Phronima. Vejam as semelhanças:<br />
[veja o vídeo aqui]<br />
Carlos Oliveira<br />
Página 19
COSMOLOGIA Março 2012<br />
Colisão entre Anãs Brancas na Origem<br />
das Supernovas de Tipo Ia <br />
Em Agosto do ano passado,<br />
neste artigo, descrevi<br />
como ocorre uma supernova<br />
de tipo Ia. Na altura a motivação<br />
foi o aparecimento de<br />
uma supernova deste tipo na<br />
galáxia M101. Com um pico<br />
de brilho de magnitude +9.9,<br />
no dia 13 de Setembro, foi<br />
uma das supernovas extragalácticas<br />
mais brilhantes das<br />
últimas décadas. No artigo,<br />
expliquei que, ao contrário<br />
do que acontece com supernovas<br />
de tipo II (e Ib e Ic),<br />
para as quais várias estrelas<br />
progenitoras (as estrelas que<br />
explodiram dando origem à<br />
supernova) foram já identificadas<br />
em imagens de arquivo,<br />
para as supernovas de<br />
tipo Ia não foi identificada<br />
nenhuma estrela ou sistema<br />
de estrelas progenitor. Estudos<br />
teóricos deixam no<br />
entanto poucas dúvidas de<br />
que as supernas de tipo Ia Cenário 1. Uma anã branca em órbita de uma companheira normal. O gás da companheira<br />
resultam da explosão termonuclear<br />
de uma anã branca,<br />
é lentamente capturado pela anã branca até que a fusão explosiva do carbono é desencadeada,<br />
dando origem à supernova. Crédito: NASA/CXC/M. Weiss<br />
resultado do despoletar da<br />
fusão descontrolada de carbono no seu interior.<br />
companheira. Existem dois cenários possíveis:<br />
Este processo não pode ocorrer em anãs brancas Cenário 1. A companheira é uma estrela normal,<br />
isoladas, por isso é também consensual que são<br />
semelhante ao Sol ou uma gigante vermelha,<br />
sistemas binários contendo pelo menos uma anã<br />
branca que dão origem a este tipo de supernova. mais evoluída. Neste cenário, o material da estrela<br />
companheira escapa do seu lobo de Roche, e O que não é consensual é a natureza da estrela<br />
é<br />
Página 20
Volume 2 Edição 3<br />
COSMOLOGIA<br />
Cenário 2. Duas anãs brancas num sistema binário perdem gradualmente energia orbital e acabam por colidir. A fusão explosiva<br />
do carbono é despoletada rapidamente no interior da estrela que se forma brevemente após a colisão. Crédito: NASA/GSFC/D.<br />
Berry<br />
capturado pelo campo gravitacional da anã branca,<br />
acabando por colidir com a superfície da mesma.<br />
Este material adiciona peso às camadas exteriores<br />
da estrela e aumenta a pressão no seu interior.<br />
Ultrapassado um limite crítico de pressão e<br />
temperatura interna, inicia-se a fusão explosiva<br />
do carbono e forma-se a consequente supernova<br />
de tipo Ia, destruindo completamente a anã branca.<br />
Um pormenor importante: a anã branca tem<br />
de ser suficientemente maciça à partida para<br />
incrementar numa escala de tempo razoável a sua<br />
massa até próximo do limite de Chandrasekhar<br />
(1.4 massas solares), pois só para este regime de<br />
massa é que a pressão e temperatura internas é<br />
suficiente para desencadear a fusão explosiva do<br />
carbono. Um problema notado consiste no facto<br />
de poderem não existir anãs brancas maciças suficientes<br />
para explicarem a frequência das supernovas<br />
de tipo Ia.<br />
Cenário 2. A companheira é outra anã branca.<br />
Neste cenário, as estrelas orbitam cada vez mais<br />
próximo e acabam por colidir (vejam mais abaixo).<br />
De acordo com simulações a colisão dá origem,<br />
por breves instantes, a uma estrela única,<br />
mais maciça, rodeada de um disco de material<br />
que rapidamente é capturado. Estes estudos<br />
apontam para que o aquecimento e aumento de<br />
pressão provocados pela queda desse material na<br />
estrela provoquem a ignição do carbono e a sua<br />
fusão explosiva, dando origem à supernova. De<br />
notar que neste cenário as anãs brancas em causa<br />
podem ser menos maciças do que no caso anterior,<br />
o que aumenta significativamente o número<br />
de sistemas passíveis de dar origem a uma supernova<br />
de tipo Ia.<br />
Durante muitos anos, o cenário preferido (por<br />
razões cientificas obviamente) dos astrofísicos foi<br />
o primeiro. No entanto, recentemente várias<br />
linhas de investigação parecem apontar na direcção<br />
oposta de forma muito convincente. De facto,<br />
o cenário 2 poderá estar na origem da grande<br />
maioria das supernovas de tipo Ia ao passo que o<br />
cenário I poderá explicar algumas supernovas<br />
deste tipo com características atípicas, por exemplo,<br />
luminosidades anormalmente elevadas. Os<br />
trabalhos recentes que descrevo em seguida são<br />
um bom exemplo desta provável mudança de<br />
paradigma.<br />
Os astrofísicos Carles Badenes (Universidade de<br />
Pittsburgh) e Dan Maoz (Universidade de Tel-<br />
Página 21
COSMOLOGIA Março 2012<br />
Aviv), tentaram responder<br />
a uma questão<br />
aparentemente<br />
simples – “Será que<br />
existem sistemas<br />
binários em que<br />
ambas as estrelas são<br />
anãs brancas em<br />
número suficiente<br />
para explicar a frequência<br />
observada de<br />
supernovas de tipo<br />
Ia”. A resposta que<br />
obtiveram foi positiva.<br />
Os autores estimaram<br />
que, na nossa<br />
galáxia, o número de<br />
tais sistemas binários<br />
é suficiente para dar<br />
origem, em média, a<br />
uma colisão por século.<br />
Este número é<br />
semelhante à frequência<br />
de supernovas<br />
de tipo Ia observada<br />
para galáxias<br />
semelhantes à nossa.<br />
Mas como é que os<br />
autores estimaram<br />
este número O processo,<br />
apesar de conceptualmente<br />
simples,<br />
é extremamente<br />
trabalhoso. A ideia<br />
consiste em contar<br />
quantos destes sistemas<br />
binários existem numa vizinhança do Sol e<br />
extrapolar o seu número para a totalidade da<br />
galáxia. Depois é necessário determinar para<br />
estes sistemas, em média, quanto tempo decorre<br />
desde a sua formação até à colisão das estrelas.<br />
O número de sistemas e o tempo necessário para<br />
a ocorrência de uma colisão permitem então<br />
Na imagem vêem-se 99 das 4000 anãs brancas estudadas por Badenes e Maoz – os objectos azuis<br />
no centro das imagens. Crédito: Carles Badenes e equipa do SDSS-III<br />
estimar a frequência das colisões na nossa galáxia.<br />
Para determinarem o número de sistemas na<br />
vizinhança do Sol, os autores utilizaram dados<br />
provenientes do Sloan Digital Sky Survey (SDSS),<br />
um projecto que procedeu a um censo do céu<br />
inteiro recolhendo informação básica e espectros<br />
Página 22
Volume 2 Edição 3<br />
COSMOLOGIA<br />
de milhões de<br />
objectos astronómicos.<br />
No<br />
meio deste mar<br />
de informação<br />
os autores identificaram<br />
cerca<br />
de 4000 anãs<br />
brancas próximas.<br />
Para cada<br />
uma delas, usaram<br />
espectros<br />
para detectar<br />
variações na<br />
sua velocidade<br />
radial (ao longo<br />
da nossa linha<br />
de visão) que<br />
indiciassem a<br />
presença de<br />
uma estrela<br />
companheira e<br />
permitissem O observatório SWIFT da NASA. Crédito: NASA/Goddard Space Flight Center/Swift<br />
determinar as<br />
suas características.<br />
centro de gravidade comum cada vez com maior<br />
Nos casos em que a companheira era também<br />
uma anã branca, os autores utilizaram a Teoria da<br />
Relatividade Geral para determinar quanto tempo<br />
passaria até as estrelas do sistema colidirem. De<br />
facto, devido à elevada velocidade orbital e fortes<br />
campos gravitacionais das anãs brancas, um tal<br />
sistema binário dissipa energia sob a forma de<br />
ondas gravitacionais. Isto não é ficção, foi<br />
demonstrado experimentalmente com observações<br />
de um sistema binário com dois pulsares<br />
(estrelas de neutrões). Este trabalho resultou, em<br />
1993, num prémio Nobel atribuído aos investigadores<br />
da Universidade de Princeton, Russell Hulse<br />
e Joseph Taylor. O resultado dessa dissipação é a<br />
perda gradual de energia orbital das estrelas. As<br />
estrelas ficam cada vez mais próximas e orbitam o<br />
velocidade. Isto aumenta a emissão de ondas gravitacionais,<br />
resultando numa aproximação ainda<br />
maior, … , um ciclo vicioso que termina com a<br />
colisão das duas estrelas numa escala de tempo<br />
relativamente curta (dezenas de milhões de anos)<br />
após a formação do sistema. Com os dados do<br />
SDSS e observações subsequentes, os autores<br />
confirmaram a presença de 15 sistemas binários<br />
formados por duas anãs brancas na amostra original<br />
de 4000, traduzindo-se este número na frequência<br />
referida de uma colisão por século.<br />
Podem ver a notícia e o artigo aqui e aqui, respectivamente.<br />
Brock Russell, da Universidade de Maryland, College<br />
Park, é o autor principal de um outro estudo<br />
que explora outra particularidade destes sistemas<br />
Página 23
COSMOLOGIA Março 2012<br />
binários para determinar a natureza da estrela<br />
companheira. No cenário I, se a estrela companheira<br />
for uma estrela normal, é de esperar que<br />
esta emita para o espaço material através de um<br />
vento estelar. Estes ventos estelares são particularmente<br />
densos (transportam muito material)<br />
em estrelas mais evoluídas como gigantes vermelhas,<br />
ou em supergigantes. Ora, quando a anã<br />
branca explode, o material em expansão deveria<br />
colidir a alta velocidade com este material que<br />
circunda a estrela companheira, na realidade o<br />
sistema completo, e fazê-lo emitir brevemente<br />
raios X. Russell e os colegas utilizaram observações<br />
de 53 supernovas de tipo Ia realizadas com o<br />
telescópio de raios X (designado por XRT) a bordo<br />
do observatório SWIFT (originalmente desenhado<br />
para observar explosões de raios gama) para tentar<br />
detectar a dita emissão de raios X. O resultado<br />
foi negativo, implicando que as estrelas companheiras<br />
das anãs brancas que explodiram nestas<br />
supernovas não poderiam ser supergigantes ou<br />
mesmo gigantes vermelhas de tamanho mais<br />
modesto.<br />
Um estudo complementar, liderado por Peter<br />
Brown da Universidade do Utah, Salt Lake City,<br />
utilizou também dados obtidos com o SWIFT, desta<br />
vez com outro instrumento sensível no ultravioleta<br />
(designado por UVOT), que observou 12<br />
supernovas de tipo Ia menos de 10 dias depois da<br />
explosão, numa fase muito precoce da supernova<br />
portanto. Nesta fase, se a companheira for uma<br />
estrela normal de maior dimensão, a onda de<br />
choque da supernova deve comprimir fortemente<br />
as camadas exteriores da estrela, aquecendo-as e<br />
fazendo-as emitir radiação ultravioleta. Os autores<br />
não detectaram este tipo de emissão em<br />
nenhuma das 12 supernovas observadas, reforçando<br />
a ideia de que as estrelas companheiras<br />
são pequenas, semelhantes ao Sol ou de menor<br />
dimensão. Os artigos de Russel e Brown serão<br />
publicados no início de Abril, respectivamente nas<br />
revistas, The Astrophysical Journal Letters e The<br />
Astrophysical Journal. Entretanto podem ver a<br />
notícia aqui.<br />
Paralelamente a estes estudos, a descoberta da<br />
supernova SN 2011fe na M101, referida no início<br />
deste artigo, numa fase muito inicial da explosão,<br />
permitiu realizar observações com uma sensibilidade<br />
sem precedentes, dada a proximidade relativa<br />
da galáxia. Observações realizadas com o<br />
UVOT do SWIFT não detectaram qualquer excedente<br />
de radiação no ultravioleta, tal como<br />
Brown tinha observado nas suas 12 supernovas, e<br />
reforçando as conclusões do seu estudo. De facto,<br />
neste caso, as observações têm qualidade suficiente<br />
para concluir que a estrela companheira<br />
será forçosamente mais pequena do que o Sol.<br />
Um outro trabalho ainda não publicado, liderado<br />
por Alicia Soderberg do Harvard-Smithsonian Center<br />
for Astrophysics, e utilizando dados também<br />
obtidos com o SWIFT, sugere mesmo que a explosão<br />
só poderia ter sido causada pela colisão de<br />
duas anãs brancas.<br />
A identificação dos sistemas progenitores das<br />
supernovas de tipo Ia não é simplesmente um<br />
problema interessante em astrofísica. As suas<br />
implicações são importantíssimas, por exemplo,<br />
para a cosmologia. De notar que foi com base na<br />
assumpção de que a luminosidade máxima das<br />
supernovas de tipo Ia é constante (a menos de<br />
pequenas correcções entretanto compreendidas)<br />
que foi possível determinar que o Universo está a<br />
acelerar a sua expansão e deduzir a existência da<br />
chamada “energia negra”.<br />
Luís Lopes<br />
Página 24
Volume 2 Edição 3<br />
COSMOLOGIA<br />
Hubble Observa a Espiral Barrada NGC2683<br />
Crédito: ESA/Hubble & NASA<br />
O telescópio Hubble obteve esta imagem espectacular<br />
da galáxia NGC2683, situada na constelação<br />
do Lince, com a Advanced Camera for Surveys<br />
(ACS), um dos seus instrumentos mais versáteis e<br />
sensíveis. Apesar de não ser aparente na imagem,<br />
NGC2683 é uma galáxia espiral barrada, em que<br />
os braços espirais terminam numa estrutura<br />
linear (a barra) centrada no núcleo e contendo<br />
uma grande densidade de estrelas. A barra não é<br />
visível na imagem pois a galáxia está a ser vista<br />
“de lado” e os braços espirais mais exteriores e as<br />
poeiras neles existentes encobrem as suas zonas<br />
mais interiores. Os astrónomos deduziram a<br />
estrutura barrada para NGC2683 com base no<br />
estudo do movimento das estrelas em torno do<br />
núcleo da galáxia. Esse estudo é realizado medindo<br />
o efeito de Doppler provocado por esse movimento<br />
na luz emitida pelas estrelas da galáxia em<br />
diferentes pontos do disco. A imagem que se<br />
segue, da galáxia designada de UGC12158, mostra<br />
o aspecto típico de uma galáxia espiral barrada<br />
vista “de cima”.<br />
A nossa própria galáxia, a Via Láctea, é uma espiral<br />
barrada, uma descoberta relativamente recente<br />
dos astrónomos que estudam a sua estrutura e<br />
evolução. A imagem que se segue mostra o<br />
aspecto que a Via Láctea poderá ter vista de uma<br />
perspectiva semelhante da UGC12158, com base<br />
nos estudos mais recentes da estrutura galáctica,<br />
em particular no que diz respeito à localização da<br />
barra e dos vários braços espirais.<br />
Podem ver mais detalhes sobre esta imagem<br />
aqui e mais pormenores sobre a imagem de<br />
NGC2683 aqui.<br />
Luís Lopes<br />
Crédito: NASA/<br />
JPL-Caltech<br />
Crédito: ESA/Hubble & NASA<br />
Página 25
PUB<br />
SISTEMA SOLAR Março 2012<br />
Oposição de Marte<br />
Hoje (3 de Março) é dia de<br />
oposição de Marte.<br />
Uma oposição ocorre quanto<br />
Marte, a Terra e o Sol estão<br />
perfeitamente alinhados e os<br />
dois planetas estão “do mesmo<br />
lado” da órbita, algo que ocorre<br />
de 26 em 26 meses.<br />
No entanto, como as órbitas<br />
não estão exatamente no mesmo<br />
plano e a órbita de Marte é<br />
mais excêntrica que a da Terra,<br />
a distância entre os dois planetas<br />
em oposição não é sempre<br />
a mesma.<br />
A 27 agosto de 2003 ocorreu a<br />
última oposição em que os planetas<br />
estiveram mais próximos<br />
(a apenas 56 milhões de km).<br />
Esta foi uma oposição periélica<br />
(de periélio, o ponto de maior<br />
aproximação ao Sol).<br />
Na oposição de hoje, os dois<br />
planetas estão na oposição<br />
mais distante (cerca de 101<br />
milhões de km). Esta é uma<br />
oposição afélica (de afélio, o<br />
ponto de maior afastamento<br />
do Sol).<br />
A próxima oposição periélica<br />
será em 27 julho 2018, com os<br />
dois planetas a cerca de 57,6<br />
milhões km de distância.<br />
Na imagem, os objetos NÃO<br />
estão representados à escala<br />
de tamanho, embora a escala<br />
da distância (isto é, o desenho<br />
das órbitas), seja aproximadamente<br />
o correto.<br />
CAUP<br />
Página 26
Volume 2 Edição 3<br />
SISTEMA SOLAR<br />
Dione tem atmosfera de oxigénio<br />
A lua Dione fotografada pela sonda Cassini a 11 de Outubro de 2005.<br />
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.<br />
A sonda Cassini detectou pela<br />
primeira vez iões de oxigénio<br />
molecular (O 2 + ) junto à superfície<br />
de Dione, confirmando a<br />
presença de uma ténue atmosfera<br />
em redor desta lua de<br />
Saturno. A descoberta foi divulgada<br />
num artigo recentemente<br />
publicado na revista Geophysical<br />
Research Letters (ver aqui).<br />
Há já algum tempo que os cientistas<br />
suspeitavam da presença<br />
de O 2 + em Dione. Nos anos 90,<br />
o telescópio espacialHubble<br />
tinha detectado<br />
nesta lua saturniana a assinatura<br />
espectral de ozono (O 3 ), o<br />
que sugeria a existência de<br />
quantidades apreciáveis de oxigénio<br />
molecular junto à sua<br />
superfície. A confirmação da<br />
existência de uma ténue<br />
atmosfera (ou exosfera) de<br />
O 2 + em Dione surgiu a 7 de<br />
Abril de 2010, durante uma<br />
passagem próxima da sondaCassini,<br />
a apenas 503 quilómetros<br />
de altitude. Com o seu<br />
instrumento INMS (Ion and<br />
Neutral Mass Spectrometer), a<br />
sonda da NASA mediu densidades<br />
de iões situadas entre 0,01<br />
e 0,09 O 2 + .m -3 ,o equivalente ao<br />
encontrado a 480 quilómetros<br />
acima da superfície terrestre.<br />
Terá a exosfera de Dione origem<br />
biogénica É muito improvável<br />
que tal ocorra. Como<br />
explicam os autores do artigo,<br />
o oxigénio molecular de Dione<br />
deverá ser libertado da sua<br />
superfície pelo intenso bombardeamento<br />
do gelo de água<br />
superfícial com protões solares<br />
ou outras partículas energéticas.<br />
Os cientistas da missão<br />
vão, no entanto, continuar a<br />
procurar outros processos responsáveis<br />
pelo O 2 + da exosfera<br />
dioniana, incluindo mecanismos<br />
geológicos.<br />
Sérgio Paulino<br />
Templo de Diana<br />
by Miguel Claro<br />
Mais imagens em: http://<br />
www.astrosurf.com/astroarte/<br />
skyscapes.htm#148<br />
Visita http://<br />
miguelclaro.com<br />
Miguel Claro<br />
Página 27
SISTEMA SOLAR Março 2012<br />
Tesouros da missão Voyager:<br />
ciclones jovianos<br />
Tempestades na Cintura Temperada do hemisfério norte de Júpiter. Mosaico de imagens obtidas pela sonda Voyager 2 a 9 de<br />
Julho de 1979. O retrato final foi colorizado, usando como modelo uma outra imagem de contexto (em baixo).<br />
Crédito: NASA/JPL/Daniel Macháček.<br />
É impressionante a quantidade de imagens obtidas<br />
pelas duas sondas Voyager que nunca foram<br />
tornadas públicas. Tudo isso aconteceu não porque<br />
a NASA as quisesse esconder, mas porque<br />
simplesmente é um vasto material em bruto, até<br />
agora apenas usado por cientistas. E digo até agora<br />
porque felizmente começam a proliferar amadores<br />
com a paciência e a habilidade necessárias<br />
para mergulharem nesse imenso tesouro e trazerem<br />
a público belíssimos retratos dos gigantes<br />
gasosos e das suas luas. Relembro que todo esse<br />
vasto material está disponível a quem o quiser<br />
Página 28
Volume 2 Edição 3<br />
SISTEMA SOLAR<br />
Imagem de contexto em cores aproximadamente naturais, mostrado a região retratada na imagem de cima e comparando-a com<br />
as dimensões da Terra.<br />
Crédito: NASA/JPL/Daniel Macháček.<br />
observar (e utilizar) aqui.<br />
Daniel Macháček é um dos entusiastas desta actividade.<br />
Recentemente, desenterrou dos arquivos<br />
de dados da NASAimagens do planeta Júpiter<br />
obtidas pela sonda Voyager 2 em 1979. Com<br />
a mestria com que já nos habituou, compôs um<br />
magnífico retrato da atmosfera turbulenta do<br />
gigante gasoso. Os pormenores visíveis são<br />
impressionantes. Numa extensão de cerca de 12<br />
mil quilómetros, desfilam grandes ciclones, cada<br />
uma com o seu respectivo olho bem delineado.<br />
Vejam: a imagem.<br />
Espectacular, não E que tal ao som deste tema<br />
Sérgio Paulino<br />
Página 29
SISTEMA SOLAR<br />
Março 2012<br />
Cometa Garradd aproxima-se<br />
hoje<br />
Crédito: Olivier Sedan<br />
O Cometa Garradd estará hoje o mais próximo da<br />
Terra, a somente 10 minutos-luz, a cerca de 180<br />
milhões de kms de distância da Terra.<br />
Com uma magnitude no limite da visibilidade<br />
a olho nú, em lugares escuros, o cometa está a<br />
passar na direcção da constelação Ursa Menor.<br />
Carlos Oliveira<br />
Página 30
Volume 2 Edição 3<br />
SISTEMA SOLAR<br />
Redemoinho em Marte Visto de<br />
Órbita !<br />
Crédito: NASA/JPL/University of Arizona<br />
O Mars Reconnaissance Orbiter inclui uma câmara<br />
de alta resolução designada por HiRISE (High<br />
Resolution Imaging Science Experiment) que é<br />
responsável por algumas das mais belas imagens<br />
de Marte até à data. A operação da câmara está a<br />
cargo da Universidade do Arizona que mantém<br />
uma página na Internet com um arquivo a<br />
não perder. Nesta pequena nota gostava apenas<br />
de chamar a vossa atenção para uma imagem<br />
recente particularmente espectacular. No dia 16<br />
de Fevereiro passado, a HiRISE fotografou um<br />
“dust devil”, em português – redemoinho de<br />
poeira, numa região de Marte conhecida por<br />
Amazonis Planitia. A imagem é impressionante,<br />
especialmente quando pensamos que foi obtida a<br />
partir de órbita.<br />
A partir do tamanho da sombra projectada no<br />
solo foi possível calcular que a pluma de poeira<br />
libertada pelo redemoinho teria mais de 800<br />
metros de altura e uma espessura de cerca de 30<br />
metros. A forma ondulada da pluma resulta da<br />
trajectória do redemoinho na superfície e da interacção<br />
com o vento na atmosfera. Podem ver a<br />
imagem noutros formatos e mais informação<br />
aqui.<br />
Luís Lopes<br />
Página 31
SISTEMA SOLAR<br />
Março 2012<br />
Cratera listrada em Arabia Terra<br />
Listras radiais numa pequena cratera situada nos planaltos de Arabia Terra, em Marte. Imagem obtida a 05 de Fevereiro de 2012<br />
pela câmara HiRISE da sonda Mars Reconnaissance Orbiter.<br />
Crédito: NASA/JPL/University of Arizona.<br />
Algumas regiões de Marte ostentam verdadeiras<br />
obras de arte. Vejam, por exemplo, o caso desta<br />
cratera fotografada recentemente pela Mars<br />
Reconnaissance Orbiter.<br />
As listras que decoram o interior desta cratera<br />
são estruturas vulgarmente encontradas em<br />
encostas por toda a superfície poeirenta de Marte.<br />
Pensa-se que são constituídas por material<br />
finamente granulado que se precipita ao longo de<br />
declives acentuados, formando bandas escuras<br />
que se desvanecem com o tempo.<br />
A cratera da imagem destaca-se pela beleza do<br />
padrão radial de listras que exibe, certamente fruto<br />
de episódios repetidos de queda de material<br />
granulado do cimo das suas encostas.<br />
Sérgio Paulino<br />
Página 32
Volume 2 Edição 3<br />
SISTEMA SOLAR<br />
Estranho material negro em Vibídia<br />
A cratera Vibídia, em Vesta. Imagem obtida pela sonda Dawn a 21 de Outubro de 2011 (resolução: 70<br />
metros/pixel).<br />
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA.<br />
Vibídia é uma<br />
pequena cratera<br />
vestiana<br />
que se destaca<br />
pela distribuição<br />
diferencial<br />
de<br />
materiais de<br />
aspecto e cor<br />
distintos em<br />
seu redor. Os<br />
materiais mais<br />
brilhantes formam<br />
um<br />
padrão circular<br />
que se<br />
estende a<br />
mais de 15<br />
quilómetros<br />
da orla da cratera.<br />
A curta<br />
distância e no<br />
seu interior<br />
distingue-se<br />
um outro<br />
material mais<br />
escuro, curiosamente<br />
também visível na vertente de uma cratera<br />
vizinha (em baixo).<br />
A origem e natureza deste material é ainda desconhecida,<br />
mas um levantamento preliminar da sua<br />
presença na superfície de Vesta sugere uma distribuição<br />
heterogénea (ver aqui). Em Vibídia parece<br />
localizar-se preferencialmente numa camada<br />
bem delimitada, que denuncia a presença de um<br />
estrato subsuperficial nesta região, escondido por<br />
um fino manto de regolito.<br />
Vejam mais imagens de Vesta aqui.<br />
Sérgio Paulino<br />
Página 33
SISTEMA SOLAR<br />
Março 2012<br />
Sol aponta um gigantesco buraco<br />
coronal na direcção da Terra<br />
Buraco coronal observado ontem pelo Solar Dynamics Observatory na banda do ultravioleta<br />
extremo (193 Å). Estão representadas as linhas do campo magnético da coroa solar<br />
(representação obtida a partir de cálculos realizados com base no modelo PFSS).<br />
Crédito: SDO(NASA)/AIA consortium/Helioviewer.<br />
O Solar Dynamics Observatory<br />
tem estado a assistir nos<br />
últimos dias à lenta deslocação<br />
de um enorme buraco coronal<br />
acima da superfície do Sol. A<br />
gigantesca abertura deve a sua<br />
presença a uma lacuna na<br />
estrutura do campo magnético<br />
da coroa, que permite a fuga<br />
de um rápido e denso fluxo de<br />
partículas carregadas para o<br />
espaço interplanetário. Neste<br />
momento, o buraco coronal<br />
está voltado na direcção da<br />
Terra, pelo que se espera um<br />
aumento da actividade geomagnética<br />
nos próximos dias<br />
devido à interacção do campo<br />
magnético terrestre com o<br />
intenso vento solar gerado na<br />
região.<br />
A densidade de plasma no<br />
interior dos buracos coronais<br />
é tipicamente 100<br />
vezes inferior à observada<br />
noutras regiões da coroa.<br />
Normalmente, os gases da<br />
coroa são superaquecidos<br />
a temperaturas superiores<br />
a 1.000.000 ºC, facto que<br />
os torna particularmente<br />
brilhantes em imagens<br />
captadas na banda do<br />
ultravioleta extremo. Devido<br />
à sua baixa densidade,<br />
os buracos coronais são<br />
relativamente mais frios e,<br />
consequentemente, mais<br />
escuros nessa zona do<br />
espectro electromagnético.<br />
Durante os períodos de<br />
actividade solar mínima, os<br />
buracos coronais tendem a<br />
ficar confinados às regiões<br />
polares do Sol. A sua ocorrência<br />
em latitudes inferiores vaise<br />
tornando mais comum à<br />
medida que o ciclo solar se<br />
aproxima do seu auge, pelo<br />
que a sua presença nestas<br />
regiões do disco solar nesta<br />
fase do actual ciclo é um fenómeno<br />
perfeitamente normal.<br />
Sérgio Paulino<br />
Página 34
Volume 2 Edição 3<br />
SISTEMA SOLAR<br />
Astronauta da missão<br />
Apollo 12 colhendo uma<br />
amostra de rocha lunar.<br />
Crédito: NASA.<br />
Estará o impacto de um asteróide na<br />
origem das anomalias magnéticas da<br />
Lua<br />
Os cientistas têm-se intrigado<br />
com as anomalias magnéticas<br />
encontradas em algumas<br />
regiões da Lua desde que os<br />
astronautas da missão Apollo<br />
12 descobriram, pela primeira<br />
vez, rochas fortemente magnetizadas<br />
nas planícies de Mare<br />
Cognitum, no sul de Oceanus<br />
Procellarum. Tipicamente, as<br />
rochas recolhidas nas missões<br />
Apollo são pobres em ferro, o<br />
que lhes confere um fraco<br />
potencial de magnetização. Por<br />
outro lado, a distribuição de<br />
regiões fortemente magnetizadas<br />
na superfície lunar nem<br />
sempre se correlaciona com<br />
estruturas geológicas que possam<br />
fornecer pistas sobre a sua<br />
origem, como por exemplo,<br />
bacias de impacto, vulcões ou<br />
fluxos de lava. Um trio de<br />
investigadores acreditam agora<br />
ter encontrado na antiga bacia<br />
de impacto de Pólo Sul-Aitken<br />
a chave para a solução deste<br />
enigma.<br />
Com um diâmetro médio de<br />
2.200 km e com cerca de 13 km<br />
de profundidade, a gigantesca<br />
depressão é a maior estrutura<br />
de impacto do Sistema Solar. A<br />
sua forma elíptica é uma clara<br />
evidência de que terá sido<br />
esculpida pelo impacto de um<br />
grande objecto numa trajectória<br />
oblíqua. A norte de Pólo Sul<br />
-Aitken concentra-se o mais<br />
proeminente grupo de anomalias<br />
magnéticas de toda a<br />
superfície lunar.<br />
Mark Wieczorek do Institut de<br />
Physique du Globe de Paris e<br />
os seus dois colegas do Massachusetts<br />
Institute of Technology<br />
publicaram um artigo na<br />
revista Science onde especulam<br />
que esta coincidência é<br />
uma forte evidência de que a<br />
gigantesca bacia foi esculpida<br />
por um grande asteróide com<br />
10 a 30% de ferro na sua composição<br />
e cerca de 100 vezes<br />
mais magnetizado que os<br />
materiais da crusta lunar. Para<br />
testar a sua hipótese, os investigadores<br />
realizaram várias<br />
simulações de impacto em<br />
computador, onde fizeram<br />
variar as dimensões do projéctil,<br />
a sua velocidade e o ângulo<br />
da sua trajectória. Descobriram<br />
que o impacto de um asteróide<br />
rico em ferro, com 200 km de<br />
diâmetro, num ângulo de 45º e<br />
a uma velocidade de 15 km.s -<br />
1 provocaria a distribuição dos<br />
seus materiais num padrão<br />
semelhante ao observado para<br />
as anomalias magnéticas lunares.<br />
Curiosamente, as simulações<br />
reproduzem inclusive a<br />
presença de fortes anomalias<br />
isoladas no lado mais próximo<br />
da Terra, como é o caso<br />
de Reiner Gama e Descartes.<br />
Os fragmentos metálicos do<br />
asteróide teriam condições<br />
para ser magnetizados durante<br />
o seu arrefecimento, caso existisse<br />
um campo magnético global<br />
na Lua quando a bacia de<br />
Pólo Sul-Aitken se formou, há<br />
cerca de 4,3 mil milhões de<br />
anos – uma distinta possibilidade,<br />
de acordo com os autores.<br />
Depois do dínamo lunar cessar<br />
a sua actividade, essas regiões<br />
poderiam permanecer magnetizadas,<br />
criando o estranho<br />
retalho observado nos dias de<br />
hoje.<br />
Podem consultar o artigo original<br />
deste trabalho aqui.<br />
Sérgio Paulino<br />
A bacia de impacto de Pólo Sul-Aitken.<br />
Estão evidenciados a vermelho na metade<br />
esquerda da imagem os grupos de<br />
anomalias magnéticas situadas no limite<br />
norte da depressão.<br />
Crédito: NASA/LRO/Science/AAAS.<br />
Página 35
SISTEMA SOLAR<br />
Março 2012<br />
Dois mundos surpreendentes<br />
Encélado e Titã numa composição em cores naturais construída com imagens obtidas pela sonda Cassini a 12 de Março de 2012.<br />
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.<br />
Na semana passada, a sonda<br />
Cassini realizou uma sessão<br />
de monitorização de nuvens no<br />
hemisfério subsaturniano de<br />
Titã. Durante a sessão, partes<br />
do disco difuso da maior lua de<br />
Saturno foram momentaneamente<br />
ocultadas pela lua Encélado<br />
e por uma porção do sistema<br />
de anéis.<br />
O encontro entre os dois surpreendentes<br />
mundos foi registado<br />
pela Cassini através de<br />
filtros para a banda do visível,<br />
o que permitiu a construção<br />
deste retrato em cores naturais.<br />
Na altura Titã encontravase<br />
muito distante, a cerca de<br />
2,45 milhões de quilómetros<br />
de distância. Encélado estava<br />
muito mais próxima, distando<br />
apenas cerca de 1,05 milhões<br />
de quilómetros da sonda<br />
da NASA.<br />
Sérgio Paulino<br />
Página 36
Volume 2 Edição 3<br />
SISTEMA SOLAR<br />
O que escondem as áreas permanentemente<br />
sombrias das regiões polares de Mercúrio<br />
Foi com grande entusiasmo<br />
que, no início dos anos 90,<br />
a NASA anunciou uma inesperada<br />
descoberta em Mercúrio.<br />
Munidos do sistema de<br />
radar Goldstone-VLA, cientistas<br />
planetários americanos<br />
identificaram nas<br />
regiões polares do planeta<br />
superfícies com elevada<br />
reflectividade radar, que<br />
sugeriam a presença de<br />
depósitos de gelo de água<br />
no interior das crateras<br />
mais profundas. Esta<br />
extraordinária descoberta<br />
viria a ser confirmada nos<br />
anos seguintes em sucessivos<br />
mapeamentos da<br />
região realizados pelo<br />
Radiotelescópio de Arecibo.<br />
Gelo na superfície de Mercúrio<br />
Como poderia sobreviver<br />
gelo de água num planeta<br />
tão próximo do Sol A<br />
resposta está na inclinação<br />
do eixo de rotação do tórrido<br />
planeta. De acordo com<br />
as mais recentes medições<br />
realizadas pela sonda<br />
MESSENGER, o eixo de<br />
rotação de Mercúrio tem<br />
uma inclinação inferior a 1º,<br />
o que permite a existência de<br />
pequenas áreas permanentemente<br />
sombrias no interior das<br />
crateras mais profundas das<br />
Imagens de radar da região do pólo norte de<br />
Mercúrio, obtidas a partir do observatório de<br />
Arecibo em Julho de 1999 (a) e em Agosto<br />
de 2004 (b) (resolução: 1,5 km/pixel). As<br />
zonas mais claras correspondem a superfícies<br />
com elevada reflectividade radar. A seta<br />
indica a direcção de incidência média do<br />
radar.<br />
Crédito: John Harmon, Martin Slade e Melissa<br />
Rice (imagem publicada na revista Icarus,<br />
no artigo de 2011 Radar imagery of Mercury’s<br />
putative polar ice: 1999–2005 Arecibo<br />
results).<br />
regiões polares. Como nunca<br />
são aquecidas pelo Sol, estas<br />
superfícies mantêm-se a temperaturas<br />
suficientemente baixas<br />
para aí aprisionar gelo de<br />
água por longos períodos de<br />
tempo.<br />
Um dos principais objectivos<br />
da missão primária<br />
da MESSENGER (concluída no<br />
passado dia 18 de Março) era<br />
recolher dados que permitissem<br />
determinar a natureza dos<br />
misteriosos depósitos polares.<br />
Anteontem, membros da equipa<br />
científica da missão apresentaram<br />
na 43ª Lunar and Planetary<br />
Science Conference (a<br />
decorrer durante esta semana)<br />
os primeiros resultados dessas<br />
observações.<br />
Nancy Chabot, membro da<br />
equipa responsável pelo Mercury<br />
Dual Imaging System<br />
(MDIS), mostrou a localização<br />
das superfícies com elevada<br />
reflectividade radar em imagens<br />
da região do pólo norte<br />
de Mercúrio obtidas<br />
pelaMESSENGER. Nas imagens<br />
foi possível verificar que todas<br />
as zonas brilhantes se encontram<br />
em áreas permanentemente<br />
abrigadas da luz solar.<br />
Chabot revelou ainda que quase<br />
todas as crateras com mais<br />
de 10 quilómetros de diâmetro<br />
situadas acima dos 80º de latitude<br />
(crateras profundas e<br />
complexas) contêm os misteriosos<br />
depósitos. Estas observações<br />
são consistentes com a<br />
hipótese dos depósitos serem<br />
constituídos por gelo de água.<br />
Greg Neumann apresentou<br />
resultados obtidos pelo<br />
Página 37
SISTEMA SOLAR<br />
Março 2012<br />
instrumento Mercury Laser<br />
Altimeter (MLA) que complicam,<br />
no entanto, as conclusões<br />
de Chabot. Apesar do MLA ser<br />
usado essencialmente para<br />
medir a topografia de Mercúrio,<br />
a intensidade do brilho do<br />
pulso de luz devolvido pela<br />
superfície mercuriana pode<br />
fornecer interessantes informações<br />
relativas à sua composição.<br />
Se existisse gelo de água<br />
nas zonas permanentemente<br />
sombrias das crateras polares<br />
de Mercúrio seria de esperar a<br />
detecção de um intenso pulso<br />
de retorno no altímetro<br />
da MESSENGER. Na verdade,<br />
não foi isso aconteceu. Sempre<br />
que o laser do MLA incidia nessas<br />
superfícies, o pulso de<br />
retorno detectado era muito<br />
menos brilhante que o das<br />
regiões iluminadas pelo Sol. E<br />
isto acontece apesar da superfície<br />
de Mercúrio ser das mais<br />
escuras do Sistema Solar (mais<br />
escura ainda que a superfície<br />
da Lua)!<br />
Então qual é afinal a natureza<br />
deste bizarro material escuro<br />
A solução para este enigma<br />
O pólo norte de Mercúrio numa projecção estereográfica construída com imagens obtidas<br />
pela sonda MESSENGER. Estão desenhadas a cada 5º as linhas de latitude e a cada 30º as<br />
linhas de longitude (os 0º de longitude correspondem à linha vertical de baixo). As superfícies<br />
brilhantes ao radar mapeadas pelo Radiotelescópio de Arecibo estão assinaladas a<br />
amarelo.<br />
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Carnegie Institution<br />
of Washington.<br />
poderá estar nas temperaturas<br />
destas áreas permanentemente<br />
obscuras. Baseados nos perfis<br />
topográficos obtidos pelo<br />
MLA, cientistas da missão criaram<br />
um modelo que mostra as<br />
temperaturas médias e extremas<br />
das regiões polares de<br />
Mercúrio. O que descobriram é<br />
verdadeiramente curioso.<br />
Como seria de esperar, no<br />
modelo as zonas mais frias<br />
encontram-se nas áreas inacessíveis<br />
à luz solar, os mesmos<br />
locais onde se acumulam os<br />
depósitos com alta reflectividade<br />
radar. No entanto, estas<br />
superfícies não são suficientemente<br />
frias para que o gelo de<br />
água se mantenha estável por<br />
longos períodos de tempo. A<br />
situação altera-se porém a profundidades<br />
de 10 a 20 cm,<br />
regiões onde a temperatura<br />
desce aos 100 K (-173º C). É<br />
aqui (numa profundidade<br />
acessível ao radar) que os<br />
depósitos de gelo subsistem.<br />
Mas então o que se encontra<br />
na superfície Como explicou<br />
David Paige na sua apresentação,<br />
existem muitos materiais<br />
com as características<br />
observadas. Os melhores<br />
candidatos são, no entanto,<br />
compostos orgânicos complexos<br />
semelhantes aos<br />
encontrados nos meteoritos<br />
condritos carbonáceos. Estes<br />
compostos seriam voláteis<br />
noutras regiões de Mercúrio,<br />
mas nas áreas permanentemente<br />
escondidas da luz<br />
solar encontram condições<br />
ideais para se consolidarem<br />
numa fina camada negra acima<br />
do gelo.<br />
Os cientistas da missão aguardam<br />
agora a conclusão da análise<br />
dos dados obtidos pelo<br />
espectrómetro de neutrões<br />
para poderem determinar com<br />
maior precisão a natureza destes<br />
compostos. Esperam-se<br />
assim nos próximos meses<br />
novos segredos revelados nestes<br />
locais recônditos do Sistema<br />
Solar.<br />
Sérgio Paulino<br />
Página 38
Volume 2 Edição 3<br />
SISTEMA SOLAR<br />
Cientistas observam a dança de um gigantesco<br />
tornado solar<br />
Sequência de imagens obtidas a 25 de Setembro de 2011 pelo Solar Dynamics Observatory (AIA, canal de 171 Å), mostrando<br />
um monstruoso tornado em rotação na atmosfera solar.<br />
Crédito: NASA/Dr. Xing Li, Dr. Huw Morgan and Mr. Drew Leonard.<br />
Os tornados solares são fenómenos<br />
relativamente frequentes<br />
na superfície do Sol, que<br />
muitas vezes precedem a libertação<br />
de violentas ejecções de<br />
massa coronal. Recentemente,<br />
o Solar Dynamics Observatory<br />
registou imagens de uma<br />
destas magníficas estruturas<br />
elevando-se a uma altitude<br />
equivalente a 5 vezes o diâmetro<br />
da Terra!<br />
Investigadores da Universidade<br />
de Aberystwyth, País de Gales,<br />
analisaram em detalhe as imagens<br />
e descobriram algumas<br />
particularidades interessantes<br />
que poderão ajudar a compreender<br />
os mecanismos que<br />
mobilizam as ejecções de massa<br />
coronal. Durante um período<br />
de algumas horas, o Solar<br />
Dynamics Observatory<br />
observou gases superaquecidos<br />
a temperaturas na<br />
ordem dos 50.000 a 2.000.000º<br />
C a serem sugados de uma<br />
densa proeminência e a moverem-se<br />
em espiral até às camadas<br />
mais exteriores da atmosfera<br />
solar. Estes gases moviamse<br />
a velocidades que atingiram<br />
os 300 mil quilómetros por<br />
hora!<br />
Aparentemente, os tornados<br />
solares arrastam consigo<br />
dobras do campo magnético<br />
solar, moldando-as numa<br />
estrutura em hélice por onde é<br />
ejectado material da superfície.<br />
É este movimento ascendente<br />
de gás superaquecido que,<br />
segundo Xing Li e colegas,<br />
poderá desempenhar um papel<br />
fundamental na formação de<br />
uma ejecção de massa coronal.<br />
A equipa espera poder estudar<br />
mais destes tornados durante<br />
o actual ciclo solar. Entretanto,<br />
podem apreciar o vídeo apresentado<br />
ontem pelos investigadores<br />
na UK-Germany National<br />
Astronomy Meeting 2012.<br />
Vejam também este outro<br />
vídeo captado pelo Solar Dynamics<br />
Observatory em Fevereiro<br />
passado, mostrando três<br />
outros tornados mais pequenos<br />
em rotação.<br />
[Para ver os vídeos ir aqui]<br />
Sérgio Paulino<br />
Página 39
SISTEMA SOLAR<br />
Março 2012<br />
Missão Cassini: espectaculares<br />
imagens de Encélado, Jano,<br />
Dione e Reia<br />
Evander, uma cratera com 350 km de diâmetro<br />
situada na região do pólo sul de Dione.<br />
Imagem obtida pela sonda Cassini a 28<br />
de Março de 2012.<br />
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.<br />
Encélado e as suas espectaculares plumas, numa imagem obtida pela sonda<br />
Cassini a 27 de Março de 2012.<br />
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.<br />
Na passada terça-feira, a sonda<br />
Cassini concretizou uma<br />
passagem a apenas 74 km da<br />
superfície de Encélado. O<br />
encontro teve como objectivo<br />
principal o estudo da composição<br />
química dos jactos de<br />
vapor e de partículas de gelo<br />
de água em actividade na<br />
região do pólo sul, pelo que<br />
grande parte das observações<br />
estiveram reservadas aos<br />
espectrómetros<br />
INMS, CAPS e CIRS. Durante<br />
a aproximação,<br />
a câmara de<br />
ângulo fechado<br />
da Cassini focou o<br />
lado nocturno da<br />
lua e fotografou<br />
as plumas em<br />
contra-luz através<br />
de diversos filtros<br />
de cor. Aqui está<br />
a mais bela imagem<br />
desse conjunto.<br />
Após o encontro<br />
PUB<br />
com Encélado,<br />
a Cassini navegou pelas proximidades<br />
de Jano, Dione e Reia.<br />
A equipa de imagem da missão<br />
aproveitou estas passagens<br />
Página 40
Volume 2 Edição 3<br />
SISTEMA SOLAR<br />
Reia pairando sobre os anéis de Saturno. São visíveis ainda duas<br />
pequenas luas passando a grande velocidade junto aos anéis (a<br />
segunda está parcialmente oculta pelos anéis no lado esquerdo<br />
da imagem). Imagem obtida pela câmara de ângulo fechado da<br />
Cassini a 29 de Março de 2012.<br />
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.<br />
Jano vista pela Cassini a 27 de Março de 2012.<br />
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.<br />
não programadas para aumentar<br />
o acervo de retratos da<br />
superfície gelada destes<br />
pequenos mundos. Eis alguns<br />
magníficos exemplares.<br />
Sérgio Paulino<br />
Jano em frente da Saturno numa composição em cores aproximadamente naturais<br />
construída com imagens obtidas pela Cassini a 27 de Março de 2012, através de<br />
filtros para o ultravioleta próximo, o verde e o infravermelho próximo.<br />
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute/composição a cores de Sérgio Paulino.<br />
Imagem de contexto mostrando o mesmo<br />
cenário da imagem de cima. É visível<br />
entre Saturno e Reia a pequena lua<br />
Mimas.<br />
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute.<br />
Página 41
TERRA<br />
Março 2012<br />
Hora do Planeta<br />
Tal como aconteceu em anos anteriores<br />
(2009, 2010, 2011), este ano também se<br />
comemora a Hora do Planeta.<br />
Este ano a Hora do Planeta será hoje, sábado, 31<br />
de Março, às 20h30m locais.<br />
Durante 1 hora deve-se desligar todas as luzes de<br />
casa.<br />
Este é um evento simbólico que visa a<br />
sensibilização para a eficiência energética.<br />
Segundo a WWF, organizadora do evento, irão<br />
participar 5.411 cidades e vilas, de 147 países. É<br />
um número recorde: em 2011 participaram 5.251<br />
localidades, de 135 países.<br />
Alguns monumentos internacionais que ficarão às<br />
escuras: Torre Eiffel, Ópera de Sydney, Acrópole,<br />
igrejas e conventos em Goa e Angkor,<br />
Buckingham Palece, Big Ben, etc.<br />
As iniciativas a favor da defesa do planeta vão<br />
além do apagão e, em Portugal, incluem a parada<br />
de<br />
velas,<br />
na<br />
Praça<br />
do<br />
Município, em Lisboa, uma caminhada com<br />
candeias a azeite, em Góis, entre outras<br />
iniciativas.<br />
Carlos Oliveira<br />
Página 42
A bacia de Sudbury. A rosa está representada a área metropolit<br />
zado a leste, é uma segunda cratera de impacto, formada poste<br />
Volume 2 Edição 3<br />
TERRA<br />
Cosmos, rugidos e silêncios<br />
(...)<br />
Esta é uma imagem já bem<br />
conhecida de todos os amantes<br />
de Astronomia, captada em<br />
infravermelhos pelo telescópio<br />
espacial Spitzer, as lentes<br />
apontadas mesmo ao coração<br />
da nossa galáxia, a Via Láctea.<br />
O que observam encontra-se a<br />
26 mil anos-luz e é por isso – só<br />
por isso – que subitamente o<br />
monumental rugido dos<br />
motores principais do vaivém<br />
parece agora tão insignificante<br />
perante a imensidão de todo<br />
este silêncio.<br />
O Universo é silencioso porque<br />
o som não se propaga no vácuo<br />
e é silencioso por nos esconder<br />
ainda tantos mistérios… Mas<br />
comunica de muitas formas,<br />
muitas das quais invisíveis ao<br />
limitado olhar terrestre.<br />
E é por termos instrumentos<br />
cada vez mais sofisticados para<br />
descodificar o significado das<br />
mensagens que o Universo nos<br />
envia que um grupo de<br />
cientistas da Universidade<br />
Grenoble, em França, pôde<br />
partilhar uma conclusão que<br />
até há poucas décadas seria<br />
impensável de obter: milhares<br />
de planetas potencialmente<br />
habitáveis devem existir na<br />
nossa galáxia.<br />
100 estrelas anãs, 40 Super-<br />
Terras<br />
Observem a foto outra vez.<br />
Haverá algum ser inteligente<br />
extraterrestre (para<br />
conveniência do post e da fraca<br />
imaginação do autor, não<br />
vamos caracterizá-lo<br />
radicalmente diferente de nós)<br />
observando uma foto<br />
semelhante à nossa, uma<br />
esplendorosa imagem do braço<br />
da galáxia por onde andamos<br />
Caso exista e for ingénuo como<br />
nós, que problemas poderá<br />
esperar que os misteriosos<br />
extraterrestres do terceiro<br />
planeta a contar do Sol tenham<br />
resolvido Será o Universo um<br />
gigantesco «espelho» onde<br />
pudemos observar o que<br />
fomos ou o que poderemos vir<br />
a ser como espécie<br />
Do que temos quase a certeza,<br />
a julgar pelos resultados<br />
obtidos pelos investigadores, é<br />
que ao número considerável de<br />
estrelas anãs na nossa galáxia –<br />
160 milhares de milhões,<br />
conta o estudo agora divulgado<br />
– deverão corresponder<br />
milhões de planetas<br />
«potencialmente habitáveis».<br />
Pelo menos uma centena<br />
desses planetas – chamamoslhe<br />
«Super-Terras», por serem<br />
rochosos e massivos – estará a<br />
menos de 30 anos-luz do nosso<br />
planeta. À escala cósmica, é<br />
malta vizinha.<br />
Os cientistas chegaram a esta<br />
conclusão devido à premissa<br />
segundo a qual pelo menos 40<br />
por cento das estrelas anãs<br />
possuem um planeta rochoso<br />
semelhante à Terra a orbitar na<br />
chamada «zona habitável».<br />
Mas é preciso ter atenção a<br />
estas notícias e à forma como<br />
rapidamente os media<br />
associam conclusões baseadas<br />
em premissas à existência de<br />
vida extraterrestre e, pior<br />
ainda, a homenzinhos verdes<br />
em naves espaciais: quando<br />
um cientista diz<br />
«potencialmente habitável»<br />
refere-se a duas perspetivas<br />
diferentes: primeiro, pode ser<br />
habitável de acordo com as<br />
únicas condições que<br />
conhecemos para a existência<br />
de vida, ou seja, as condições<br />
terrestres; segundo, pouco<br />
sabemos de planetas terrestres<br />
na galáxia (muito menos ET’s)<br />
mas, tal como vós, leigos,<br />
adorávamos saber.<br />
E é então que a poderosa e<br />
inspiradora muralha de sons à<br />
Stockhausen sugerida pelos<br />
motores do vídeo me deixa a<br />
pensar o que poderá acontecer<br />
quando, num futuro longínquo,<br />
a nossa engenharia desvendar<br />
os mistérios deste silêncio<br />
cósmico e pudermos espreitar<br />
para o outro lado do espelho…<br />
Marco Santos<br />
Página 43
EXOPLANETAS Março 2012<br />
Novo Software revê em alta lista de candidatos do<br />
Kepler<br />
A equipa da missão Kepler disponibilizou recentemente<br />
um novo artigo que apresenta a análise<br />
dos primeiros 16<br />
meses de dados recolhidos<br />
pelo telescópio<br />
pela nova versão do<br />
software de processamento<br />
de dados, designada<br />
de SOC 7.0 (SOC =<br />
Science Operations<br />
Center). O artigo, que<br />
tem como primeira<br />
autora a investigadora<br />
de origem brasileira<br />
Natalie Batalha, descreve<br />
a detecção de<br />
um número muito significativo<br />
de novos<br />
candidatos que se vêm<br />
juntar aos já listados<br />
nos dois catálogos de<br />
candidatos elaborados<br />
previamente pela equipa.<br />
O primeiro destes<br />
catálogos data de<br />
Junho de 2010 e identifica<br />
312 candidatos,<br />
detectados em apenas<br />
43 dias de observações.<br />
O segundo catálogo,<br />
apresentado em<br />
Fevereiro de 2011 lista<br />
1235 candidatos, identificados<br />
através da<br />
análise de 13 meses de<br />
observações<br />
(trimestres Q1 a Q5,<br />
em inglês (Q) de<br />
“quarter”). Mais de 60<br />
candidatos provenientes<br />
deste segundo catálogo<br />
foram já confirmados, incluindo por exemplo:<br />
Kepler-10b (primeira Super-Terra do Kepler),<br />
Kepler-16ABb, o primeiro exoplaneta em órbita de um sistema binário, afectuosamente chamado<br />
de Tatooine. Crédito: Karl Tate, SPACE.com<br />
Página 44
Volume 2 Edição 3<br />
EXOPLANETAS<br />
Kepler-16ABb (Tatooine), Kepler-<br />
20e e -20f (primeiros planetas mais<br />
pequenos que a Terra), e Kepler-<br />
22b (primeira Super-Terra ou sub-<br />
Neptuno na zona habitável).<br />
Durante um trimestre, o telescópio<br />
mantém-se fixo apontando para o<br />
seu campo de visão em Cisne. No<br />
final desse período, e para manter<br />
os painéis solares virados para o<br />
Sol, o telescópio tem de rodar 90<br />
graus mantendo-se apontado para<br />
o mesmo campo em Cisne. Isto faz<br />
com que a mesma estrela seja<br />
observada em píxeis diferentes do<br />
CCD em trimestres diferentes. Ao<br />
fim de 4 trimestres, o telescópio<br />
volta à posição original (fez uma<br />
rotação de 360 graus). A nova versão<br />
do software de processamento<br />
de dados, disponível desde o Verão<br />
de 2011, é particularmente importante<br />
pois permite pela primeira<br />
vez à equipa “colar” observações<br />
de uma mesma estrela obtidas em trimestres dis-<br />
As rotações trimestrais do telescópio Kepler tendo em vista manter os painéis solares<br />
voltados para o Sol. Crédito: DKG / Wikipedia<br />
tintos, corrigindo fielmente o ruído introduzido<br />
pelo hardware do telescópio, e<br />
corrigindo em particular o brilho<br />
da estrela em função da sensibilidade<br />
dos píxeis usados para a<br />
observar.<br />
Apesar de ter disponível apenas<br />
mais um trimestre (Q6) de dados,<br />
A curva de luz de Kepler-18, com três<br />
planetas detectados com trânsitos, em<br />
bruto (vermelho, em cima) e corrigida<br />
(azul, em baixo). Notem-se as descontinuidades<br />
dos valores em bruto no final de<br />
cada trimestre – a curva de luz parece<br />
recomeçar numa posição nova na vertical,<br />
o que corresponderia a uma variação<br />
grande de brilho da estrela. Na realidade<br />
isto deve-se a efeitos instrumentais,<br />
nomeadamente ao facto de a estrela ser<br />
observada por píxeis com sensibilidades<br />
diferentes em diferentes trimestres. O<br />
novo software permite eliminar estes efeitos<br />
de forma muito precisa. Crédito: missão<br />
Kepler<br />
Página 45
EXOPLANETAS Março 2012<br />
no momento em que o novo software se tornou<br />
disponível, a equipa decidiu re-processar os dados<br />
de todos os trimestres Q1 a Q6 beneficiando da<br />
precisão extra das curvas de luz que certamente<br />
iriam ser geradas. Em particular, a maior precisão<br />
permitiria detectar: planetas com períodos orbitais<br />
maiores (observamos mais tempo sem interrupções)<br />
e portanto trânsitos mais espaçados;<br />
planetas mais pequenos, colecionando múltiplos<br />
trânsitos de pequena amplitude e aumentando a<br />
precisão das observações (relação sinal-ruído).<br />
Para cada estrela, a pipeline de software recebe<br />
como input todas as observações realizadas ao<br />
longo dos trimestres Q1 a Q6. O resultado final<br />
consiste, para cada estrela, numa curva de luz<br />
muito precisa corrigida para os efeitos instrumentais<br />
referidos. Isto constitui uma tarefa computacional<br />
bastante intensiva. As curvas obtidas passam<br />
depois por um software que tenta detectar<br />
sinais de trânsitos de forma automática, elaborando<br />
uma lista de possíveis candidatos. As curvas<br />
de luz para esta lista preliminar são depois analizadas<br />
por um outro software que tenta avaliar a<br />
qualidade dos candidatos, i.e., se os sinais detectados<br />
só podem ser explicados por trânsitos planetários<br />
ou por efeitos alternativos. Só são incluídos<br />
no catálogo candidatos para os quais os testes<br />
realizados apontam com uma probabilidade<br />
muito elevada (>90%) para uma origem planetária.<br />
Os resultados obtidos com esta nova análise<br />
foram impressionantes, resultando na identificação<br />
de 1091 novos candidatos planetários, um<br />
ganho de 88% relativamente ao número total de<br />
Os candidatos do Kepler detectados no catálogo de 2010 (azul), no catálogo de 2011 (vermelho) e os novos candidatos<br />
(amarelo). As linhas horizontais marcam os raios da Terra, Neptuno e Júpiter para referência. De notar que a maioria dos novos<br />
candidatos são menores do que Neptuno e com períodos orbitais mais longos. Crédito: Batalha et al.<br />
Página 46
Volume 2 Edição 3<br />
EXOPLANETAS<br />
candidatos (1235) do catálogo de 2011. Os candidatos<br />
observados têm raios entre um terço o da<br />
Terra e três vezes o de Júpiter, correspondendo a<br />
profundidades de trânsito entre 20 partes por<br />
milhão e 20 partes por milhar no brilho da estrela<br />
hospedeira. Os períodos orbitais variam entre<br />
meio dia até quase um ano, correspondendo a<br />
temperaturas de equilíbrio (sem assumir o efeito<br />
de eventuais atmosferas) entre 3800 e 200 Kelvin.<br />
Os novos candidatos têm a seguinte distribuição<br />
por tamanhos (Rp – raio do planeta, Rt – raio da<br />
Terra): 196 (Rp < 1.25Rt, aprox. tamanho da Terra),<br />
416 (1.25Rt < Rp < 2Rt, Super-Terras), 421<br />
(2Rt < Rp < 6Rt, Neptunos), e 41 (6Rt < Rp < 15Rt,<br />
Júpiteres). Para além destes, existem ainda 17<br />
candidatos incluídos no catálogo com raios superiores<br />
a 15Rt, dos quais uma pequena parte são 3<br />
vezes maiores do que Júpiter e provavelmente<br />
não são planetas.<br />
Facto notável, dos novos candidatos, mais de 91%<br />
são mais pequenos que Neptuno! O número de<br />
candidatos com Rp > 2Rt cresceu apenas 52%.<br />
Isto é, o Kepler está cada vez mais eficiente a<br />
detectar planetas pequenos. Para além disto, o<br />
número de candidatos com período orbital maior<br />
do que 50 dias aumentou 123% relativamente ao<br />
catálogo de 2011 ao passo que os candidatos com<br />
períodos inferiores a 50 dias subiu apenas 85%.<br />
Com o passar do tempo o Kepler está a tornar-se<br />
mais eficiente a detectar planetas com períodos<br />
mais longos.<br />
O número total de candidatos, os novos mais os<br />
do catálogo de 2011, passa agora a ser de 2321,<br />
associados a 1790 estrelas hospedeiras, o que<br />
implica que há muitos candidatos em sistemas<br />
múltiplos. De facto, das 1790 estrelas, 365 têm<br />
mais de um candidato planetário, correspondendo<br />
a 896 candidatos no total em sistemas múltiplos<br />
(com 2, 3, 4, 5 ou 6 planetas).<br />
Podem ver o artigo aqui.<br />
Luís Lopes<br />
EchO<br />
EChO, um acrónimo para Exoplanet<br />
Characterization Observatory,<br />
é uma missão de tipo<br />
M (classe média em termos de<br />
recursos necessários aos seu<br />
planeamento, desenvolvimento<br />
e funcionamento) proposta<br />
em 2010 no âmbito do programa<br />
Cosmic Vision 2015-2025<br />
da ESA. Em Fevereiro de 2011<br />
a missão foi uma de 5 seleccionadas<br />
para o prosseguimento<br />
dos estudos sobre a sua viabilidade<br />
e implementação. A<br />
ideia da missão é simples: tirar<br />
proveito das condições de<br />
observação únicas no espaço<br />
A assinatura espectral dos átomos e moléculas na atmosfera de um exoplaneta fica gravada<br />
no espectro da estrela hospedeira durante um trânsito. O EChO quer tirar partido deste<br />
facto. Crédito: ESA / David Sing<br />
Página 47
EXOPLANETAS Março 2012<br />
para detectar no infravermelho<br />
as assinaturas espectrais<br />
das atmosferas de planetas<br />
que realizam trânsitos em<br />
frente das respectivas estrelas<br />
hospedeiras quando vistos a<br />
partir da Terra. Durante o<br />
trânsito, parte da luz da estrela<br />
passa através da atmosfera<br />
do planeta antes de continuar<br />
a sua viagem na nossa direcção.<br />
Essa travessia introduz no<br />
espectro infravermelho da<br />
estrela novas linhas espectrais<br />
devidas a átomos e moléculas<br />
que ocorrem na atmosfera<br />
planetária.<br />
Os espectros obtidos com o<br />
EChO permitirão determinar a<br />
composição e estrutura<br />
atmosférica de vários exoplanetas<br />
permitindo o seu estudo<br />
comparativo. A observação<br />
dos exoplanetas em diferentes<br />
comprimentos de onda no<br />
infravermelho permite também<br />
calcular com mais precisão<br />
a sua real dimensão e<br />
densidade fornecendo pistas<br />
importantes sobre os seus<br />
interiores e processos de formação.<br />
Estas observações já<br />
foram feitas para alguns, poucos,<br />
exoplanetas pelos telescópios<br />
Hubble e Spitzer. O<br />
EchO, no entanto, seria um<br />
telescópio optimizado especificamente para este<br />
tipo de observação e não faria outra coisa.<br />
O instrumento central da missão é um telescópio<br />
de 1.5 metros de abertura que será colocado em<br />
órbita do Sol no ponto L2 de Lagrange, um ponto<br />
no espaço em que a gravidade da Terra e do Sol<br />
têm igual intensidade. Esta localização garante<br />
estabilidade à órbita do telescópio, proximidade à<br />
Terra para transferência de dados e recepção de<br />
comandos e uma visão desobstruída do espaço<br />
(algo que, por exemplo, o Hubble não tem). Se<br />
tudo correr bem, o EChO será lançado entre 2020<br />
e 2022 e observará trânsitos durante pelo menos<br />
5 anos.<br />
Podem ver mais informação aqui.<br />
Luís Lopes<br />
Infografia descrevendo a missão EChO. Crédito: ESA<br />
Página 48
Volume 2 Edição 3<br />
EXOPLANETAS<br />
LBTAO Observa Sistema Planetário de HR8799<br />
Situado no Monte Graham, no Arizona,<br />
o Large Binocular Telescope é<br />
um dos maiores telescópios do<br />
mundo. É composto por dois telescópios<br />
de 8.4 metros de diâmetro<br />
montados lado a lado a uma distância<br />
de 14.4 metros (entre os<br />
respectivos eixos ópticos). O objectivo<br />
final do projecto consiste em<br />
utilizar os dois telescópios como<br />
um só utilizando interferometria<br />
para combinar imagens dos dois<br />
espelhos. A resolução assim atingida,<br />
associada ao tamanho dos<br />
espelhos primários, tornarão o LBT<br />
um dos instrumentos mais poderosos<br />
do mundo. Entretanto, num<br />
dos telescópios foi instalado um<br />
novo sistema de óptica adaptativa,<br />
designado de LBTAO, particularmente<br />
sofisticado que permite<br />
obter imagens no infravermelho<br />
próximo com uma resolução sem<br />
precedentes. O LBTAO está acoplado<br />
a câmaras CCD muito sensíveis<br />
como a PISCES e a LMIRCam, que<br />
cobrem bandas distintas do espectro.<br />
Um dos primeiros alvos deste<br />
sistema, literalmente a sua<br />
“primeira luz”, foi o sistema planetário<br />
em torno de HR8799. As<br />
observações vêm descritas em<br />
dois artigos disponibilizados<br />
ontem na Internet.<br />
A figura que se segue mostra duas<br />
imagens do sistema obtidas com a<br />
PISCES e com a LMIRCam em duas<br />
Os dois telescópios gigantes do Large Binocular Telescope. Crédito: Marc-Andre<br />
Besel e Wiphu Rujopakarn<br />
O sistema planetário de HR8799, uma estrela jovem na constelação do Pégaso. Crédito:<br />
NASA, ESA, and A. Feild (STScI)<br />
Página 49
EXOPLANETAS Março 2012<br />
bandas distintas do infravermelho próximo centradas<br />
em 1.65 e 3.3 micrometros, respectivamente.<br />
A observação do sistema nestas bandas é<br />
importante pois a luminosidade dos planetas nestes<br />
comprimentos de onda é um forte indicador<br />
das composições e condições físicas das suas<br />
atmosferas. Por exemplo, os modelos teóricos<br />
camadas mais interiores e quentes das atmosferas<br />
dos planetas e são consequentemente mais<br />
brilhantes no infravermelho. Parece assim que os<br />
planetas em torno de HR8799 poderão ter atmosferas<br />
complexas com nuvens.<br />
Num outro artigo, a dinâmica do sistema planetário<br />
foi analisada à luz da nova informação obtida<br />
Os planetas do sistema de HR8799 vistos com o LBTAO. Crédito: Skemer et al.<br />
prevêm que os planetas como os de HR8799<br />
devem ser pouco luminosos na região dos 3.3<br />
micrometros devido à presença de metano na<br />
atmosfera.<br />
Um dos artigos refere que as observações agora<br />
obtidas com o LBTAO e a LMIRCam mostram que,<br />
na realidade, os quatro planetas do sistema são<br />
mais brilhantes do que seria de esperar nesta<br />
banda, contrariando os modelos. Os autores afirmam,<br />
com as devidas cautelas, que as observações<br />
são consistentes com modelos das atmosferas<br />
dos planetas que incluem nuvens com opacidade<br />
variável. Num tal cenário, regiões com<br />
nuvens bastante densas são pouco brilhantes nas<br />
bandas observadas pois não permitem observar<br />
camadas mais interiores e quentes da atmosfera.<br />
Reciprocamente, regiões desprovidas de nuvens<br />
ou com nuvens menos densas permitem observar<br />
com o LBTAO e a câmara PISCES, combinada com<br />
observações dos planetas já publicadas. Os autores<br />
concluem que as estimativas existentes para<br />
as massas dos planetas – 5 Mj para o planeta “b”<br />
e aproximadamente 7Mj para os restantes (Mj =<br />
massa de Júpiter), são demasiado elevadas e tornariam<br />
o sistema gravitacionalmente instável a<br />
curto prazo. A análise dos autores favorece massas<br />
menos elevadas, por exemplo 3.5 Mj para “b”<br />
e aproximadamente 5Mj para os restantes. Uma<br />
tal distribuição de massa tornaria o sistema estável<br />
a longo prazo. Estas massas são significativamente<br />
inferiores às estimadas a partir dos modelos<br />
mais aceites actualmente para objectos planetários<br />
com idades comparáveis à da estrela, estimada<br />
em 30 milhões de anos. Claramente, ainda<br />
há muito trabalho a fazer na compreensão da formação<br />
e evolução destes planetas gigantes.<br />
Luís Lopes<br />
Página 50
Volume 2 Edição 3<br />
EXOPLANETAS<br />
Planetas rochosos à volta de anãs vermelhas são<br />
muito comuns<br />
O Astrónomo do CAUP Nuno<br />
Santos pertence à equipa que<br />
descobriu que super terras a<br />
orbitarem anãs vermelhas, o<br />
tipo de estrelas que compõem<br />
80% da nossa galáxia, devem<br />
ser muito frequentes.<br />
Uma equipa internacional de<br />
astrónomos, da qual faz parte<br />
Nuno Cardoso Santos (Centro<br />
de Astrofísica e Faculdade de<br />
Ciências, Universidade do Porto),<br />
fez a primeira estimativa<br />
do número de planetas rochosos<br />
que orbitam anãs vermelhas.<br />
Segundo o primeiro autor deste<br />
artigo, Xavier Bonfils (IPAG/<br />
Observatório de Genebra), “As<br />
novas observações que fizemos<br />
com o HARPS indicam que 40%<br />
de todas as anãs vermelhas<br />
terão super-terras a orbitá-las<br />
na sua zona de habitabilidade.<br />
Como as anãs vermelhas são<br />
muito comuns — há cerca de<br />
160 mil milhões delas na Via<br />
Láctea — isto dá-nos o surpreendente<br />
resultado que há<br />
dezenas de milhares de<br />
milhões destes planetas, só na<br />
nossa galáxia.”<br />
A equipa usou o espectrógrafo<br />
HARPS (ESO) para observar<br />
uma amostra de 102 anãs vermelhas,<br />
durante um período<br />
de 6 anos. Nesta amostra<br />
foram detetadas nove super<br />
terras, incluindo duas na zona<br />
de habitabilidade (Gliese<br />
581d e Gliese 667Cc).<br />
Ao combinar todos os dados,<br />
incluindo as estrelas que não<br />
apresentam planetas, a equipa<br />
conseguiu determinar que a<br />
frequência de super terras a<br />
orbitar dentro da zona de habitabilidade<br />
é de 41%. Considerando<br />
apenas as anãs vermelhas<br />
na vizinhança do Sol, o<br />
número de super terras num<br />
raio de 30 anos-luz do Sistema<br />
Solar deverá rondar os 100.<br />
Um destes planetas é o Gliese<br />
667Cc, o segundo planeta descoberto<br />
neste sistema triplo.<br />
Apesar de ser 4 vezes mais<br />
massivo que a Terra, é o planeta<br />
mais parecido com a Terra<br />
até hoje descoberto. Situandose<br />
mesmo no centro da zona<br />
de habitabilidade, este planeta<br />
rochoso quase de certeza que<br />
terá as condições necessárias<br />
para a existência de água líquida<br />
na sua superfície.<br />
A deteção de planetas semelhantes<br />
à Terra a orbitar outras<br />
estrelas semelhantes ao Sol é<br />
justamente um dos objetivos<br />
mais importantes do projeto<br />
ESPRESSO. “Os resultados<br />
agora publicados sugerem que<br />
o ESPRESSO terá muitos planetas<br />
para descobrir”, comenta<br />
Nuno Cardoso Santos.<br />
O mesmo estudo concluiu ainda<br />
que planetas maiores, do<br />
tamanho de Saturno ou Júpiter,<br />
são bastante raros em anãs<br />
vermelhas, com frequências a<br />
rondar apenas os 12%.<br />
Mais informações:<br />
Astronotícia do CAUP<br />
Comunicado de imprensa ESO<br />
Artigo Científico (Bonfils et al.)<br />
CAUP<br />
Página 51
ASTRONÁUTICA Março 2012<br />
Notícias sobre a Shenzhou-9<br />
A China prepara cuidadosamente o lançamento<br />
da sua próxima missão espacial tripulada, a SZ-9<br />
Shenzhou-9. Depois de uma série de rumores<br />
sobre adiamentos e sobre a possibilidade de a<br />
missão ser lançada sem tripulação a bordo, a China<br />
tem deixado fugir alguma informação sobre<br />
esta missão.<br />
O voo da<br />
Shenzhou-9<br />
é mais um<br />
passo<br />
importante<br />
no desenvolvimento<br />
do programa<br />
espacial<br />
tripulado da<br />
China. Após<br />
a colocação<br />
em órbita<br />
do módulo<br />
TG-1 Tiangong-1<br />
e da<br />
sua acoplagem<br />
automática<br />
com a cápsula SZ-8 Shenzhou-8 em 2011,<br />
a China prepara-se agora para executar a sua primeira<br />
acoplagem tripulada sendo esta a principal<br />
missão da Shenzhou-9 cujo lançamento deverá<br />
ter lugar em Junho de 2012.<br />
É agora amplamente aceite que a missão levará<br />
uma tripulação de três elementos a bordo e<br />
novos dados indicam que poderemos assistir ao<br />
lançamento da primeira chinesa para o espaço já<br />
nesta missão, algo que só era esperado para a<br />
missão da SZ-10 Shenzhou-10 adiada para 2013.<br />
Sabe-se também que a tripulação principal estará<br />
já seleccionada, mas que a presença da primeira<br />
yuangyuan a bordo irá depender de mais exames<br />
e será tomada no último momento.<br />
O foguetão CZ-2F/G Chang Zheng-2F/G estará já<br />
pronto para o lançamento, mas não há a confirmação<br />
da sua chegada ao Centro de Lançamento<br />
de Satélites de Jiuquan. Entretanto, sabe-se também<br />
que a missão da Shenzhou-9 terá uma duração<br />
de 13<br />
dias, sendo<br />
3 dias em<br />
voo independente<br />
e<br />
10 dias acoplada<br />
ao<br />
módulo<br />
Tiangong-1.<br />
Foi revelado<br />
que durante<br />
esta permanência<br />
pelo<br />
menos um<br />
dos tripulantes<br />
estará<br />
sempre a<br />
bordo da<br />
Shenzhou-<br />
9. Não sabe<br />
qual a razão por detrás desta decisão, podendo<br />
esta estar relacionada com a incapacidade do sistema<br />
de manutenção de vida não ter a capacidade<br />
de manter três tripulantes ao mesmo tempo a<br />
bordo do módulo espacial ou então será apenas<br />
uma razão de segurança.<br />
Esta é uma missão ansiosamente aguardada e<br />
certamente que as próximas semanas trarão mais<br />
novidades sobre os seus preparativos.<br />
Rui Barbosa<br />
Página 52
Volume 2 Edição 3<br />
ASTRONÁUTICA<br />
X-37B, um ano em órbita<br />
O vaivém espacial não tripulado<br />
X-37B (OTV-2) encontra<br />
-se há um ano em órbita terrestre<br />
após ter lido lançado<br />
a 5 de Março de 2011 desde<br />
Cabo Canaveral.<br />
A verdadeira missão do OTV<br />
-2 nunca foi divulgada pela<br />
Força Aérea dos Estados<br />
Unidos, mas responsáveis<br />
militares norte-americanos<br />
indicaram que o veículo está<br />
a desempenhar as suas funções<br />
em órbita sem problemas.<br />
Equipado com painéis solares<br />
e com um volume de<br />
carga semelhante à de um<br />
pequeno carro de transporte,<br />
o X-37B deverá estar<br />
equipado com sistema de<br />
observação óptica e electrónica,<br />
levando a cabo missões<br />
de vigilância e observação<br />
sobre países tais como o<br />
Irão ou a China.<br />
Com uma missão originalmente<br />
prevista para ter uma<br />
duração de 270 dias, os responsáveis<br />
militares decidiram<br />
prolongar o voo não<br />
havendo de momento qualquer<br />
indicação sobre a data<br />
do seu regresso à Terra.<br />
O artigo publicado no Boletim<br />
Em Órbita sobre esta missão pode ser lido no<br />
n.º 109 de Abril de 2011.<br />
Imagem: USAF<br />
Rui Barbosa<br />
Página 53
ASTRONÁUTICA<br />
Março 2012<br />
Primeira taikonauta na Shenzhou-9<br />
Segundo adiantou o Boletim Em Órbita citando a<br />
agência de notícias oficial chinesa Xinhua, as<br />
autoridades espaciais chinesas completaram a<br />
selecção inicial dos membros da tripulação para a<br />
primeira acoplagem tripulada da China e no grupo<br />
de elementos seleccionados encontram-se duas<br />
taikonautas.<br />
No entanto, a selecção dos três tripulantes que<br />
serão lançados a bordo da SZ-9 Shenzhou-9 será<br />
feita nos últimos momentos.<br />
O lançamento da Shenzhou-9 está previsto<br />
para ter lugar entre Junho e Agosto,<br />
havendo um consenso que este poderá<br />
ter lugar em Junho.<br />
Os seleccionados para a missão encontram-se<br />
na fase final de treino e a montagem<br />
da cápsula espacial e do seu foguetão<br />
lançador CZ-2F/G Chang Zheng-2F/G<br />
está já terminada.<br />
Rui Barbosa<br />
Coreia do Norte irá lançar novo satélite<br />
O Comité Coreano para a Tecnologia<br />
Espacial, a organização<br />
da Coreia do Norte que dirige<br />
os esforços espaciais deste<br />
país, anunciou que se prepara<br />
para levar a cabo o lançamento<br />
do satélite Kwangmyongsong-3<br />
entre os dias 12 e 16 de Abril.<br />
Esta será a terceira tentativa<br />
da Coreia do Norte para colocar<br />
em órbita um satélite artificial<br />
depois dos dois desaires<br />
anteriores registados a 31 de<br />
Agosto de 1998 e 5 de Abril de<br />
2009.<br />
O Kwangmyongsong-3 deverá<br />
ser lançado por um foguetão<br />
Unha-3 a partir de uma nova<br />
base de lançamento localizada<br />
na costa Oeste da Coreia do<br />
Norte, em Pongdong-ri (os lançamentos<br />
anteriores bem<br />
como vários testes de mísseis<br />
balísticos intercontinentais<br />
tiveram lugar desde Musudanri).<br />
Este lançamento irá servir para<br />
comemorar o 100º aniversário<br />
do nascimento de Kim Il-sung e<br />
certamente irá elevar os ânimos<br />
nos outros países da<br />
região que não vêem com bons<br />
olhos o facto de a Coreia do<br />
Norte possuir esta capacidade<br />
estratégica.<br />
Rui Barbosa<br />
Página 54
Volume 2 Edição 3<br />
ASTRONÁUTICA<br />
China testou o Dragão Divino<br />
O Boletim Em Órbita já havia aqui adiantado a<br />
possível ocorrência de um lançamento orbital no<br />
dia 17 de Março a partir do Centro de Lançamento<br />
de Satélites de Jiuquan.<br />
No dia 16 de Março os observadores internacionais<br />
foram surpreendidos com o aparecimento de<br />
um conjunto dos denominados NOTAM,<br />
ou NOTice To AirMan, que delimitavam várias<br />
zonas localizadas ao longo de uma trajectória originária<br />
do Centro de Lançamento de Satélites de<br />
Jiuquan. Um desses NOTAM excluía uma zona de<br />
impacto situada a cerca de 160 km do local de<br />
lançamento, uma distância muito curta para os<br />
actuais lançadores orbitais chineses. Este facto<br />
acabaria por intrigar os observadores do programa<br />
espacial chinês, surgindo várias especulações<br />
sobre o que a China iria levar a cabo.<br />
Os primeiros estágios dos lançadores utilizados<br />
para as missões não tripuladas lançadas desde<br />
Jiuquan acabam por cair em zonas mais afastadas,<br />
não se explicando assim a existência da zona de<br />
impacto criada por um dos NOTAM. Um outro<br />
NOTAM excluía um corredor aéreo geralmente<br />
utilizado por aviões de transporte comerciais.<br />
Vários observadores avançaram a hipótese de a<br />
China vir a testar um novo foguetão de combustível<br />
sólido ou então levar a cabo o teste de um<br />
míssil balístico de combustível sólido, explicando<br />
assim o primeiro NOTAM o local de impacto de<br />
um primeiro estágio.<br />
Surgem agora rumores que a China poderá ter<br />
realizado um teste de reentrada do seu avião<br />
aeroespacial Shenlong, ou Dragão Divino. As primeiras<br />
imagens deste avião surgiram em Dezembro<br />
de 2007 (imagem em cima) quando várias<br />
fotografias mostravam o Shenlong montado na<br />
fuselagem inferior de um bombardeiro H-6K.<br />
Até ao momento não surgiu qualquer informação<br />
oficial sobre o que ocorreu em Jiuquan a 17 de<br />
Março, mas o autor sabe que muitos oficiais militares<br />
se deslocaram aquele polígono para observarem<br />
um teste de algo importante. Este teste<br />
poderá ter sido um teste de reentrada do Shenlong.<br />
Rui Barbosa<br />
Edoardo Amaldi a caminho da ISS<br />
Assumindo um papel fundamental<br />
no abastecimento da<br />
estação espacial internacional<br />
e complementando esse transporte<br />
com os veículos de carga<br />
russos (Progress-M) e japoneses<br />
(HTV), o Automated Transfer<br />
Vehicle (ATV) europeu tem<br />
um papel fundamental neste<br />
tipo de missão só anteriormente<br />
comparável à capacidade do<br />
antigo vaivém espacial norteamericano.<br />
O veículo mais recente da<br />
série, o ATV-3, foi lançado<br />
às 0434UTC do dia 23 de<br />
Março de 2012 pelo foguetão<br />
Ariane-5ES (L553/<br />
VA205) a partir do Complexo<br />
de Lançamento ELA3 do<br />
CSG Kourou, Guiana Francesa.<br />
Com um volume de carga<br />
semelhante ao volume de<br />
um autocarro de dois andares,<br />
o ATV-3 leva mantimen-<br />
PUB<br />
A sua<br />
revista<br />
mensal de<br />
astronáutica<br />
[clica na<br />
imagem<br />
para saber<br />
mais]<br />
Página 55
ASTRONÁUTICA<br />
Março 2012<br />
tos importantes<br />
para os seis membros<br />
da Expedição<br />
30 que actualmente<br />
se encontra a boro<br />
da ISS (Daniel Burbank,<br />
Anatoli Ivanishin,<br />
Anton Shkaplerov,<br />
Oleg Kononenko,<br />
Donald Pettit<br />
e André Kuipers).<br />
A bordo seguem<br />
outras cargas científicas,<br />
equipamentos<br />
experimentais,<br />
equipamentos<br />
sobressalentes, ar,<br />
oxigénio e propolente,<br />
além de artigos<br />
pessoais para a<br />
tripulação.<br />
A acoplagem com o<br />
módulo Zvezda<br />
deverá ter lugar a<br />
28 de Março e o<br />
Edoardo Amaldi<br />
deverá permanecer<br />
acoplado até 3 de<br />
Setembro. Até lá<br />
deverá realizar<br />
manobras de elevação<br />
da altitude orbital<br />
da estação espacial<br />
internacional.<br />
Este ATV foi baptizado<br />
com o nome<br />
de ‘Edoardo Amaldi’<br />
continuando assim<br />
a tradição da agência<br />
espacial europeia<br />
de baptizar<br />
estes veículos com<br />
nomes de cientistas ou personalidades europeias<br />
que deram grandes contribuições para o avanço<br />
cientifico no velho continente. Edoardo Amaldi foi<br />
um físico italiano que levou a cabo investigações<br />
na área da espectroscopia atómica , física nuclear,<br />
física das partículas e gravitação experimental.<br />
Rui Barbosa<br />
Página 56
Volume 2 Edição 3<br />
ASTRONÁUTICA<br />
Proton-M/Briz-M lança Intelsat-22<br />
O foguetão Proton-M/Briz-M foi lançado às<br />
1210:32UTC do dia 25 de Março de 2012 para iniciar<br />
uma missão de cerca de 15 horas e 30 minutos<br />
com o objectivo<br />
de colocar em<br />
órbita o satélite<br />
de telecomunicações<br />
Intelsat-22.<br />
Com um céu pontilhado<br />
de nuvens<br />
sobre a Plataforma<br />
de Lançamento<br />
PU-39 do Complexo<br />
de Lançamento<br />
LC200 do<br />
Cosmódromo de<br />
Baikonur, Cazaquistão,<br />
a contagem<br />
decrescente<br />
decorreu sem<br />
qualquer problema<br />
e o foguetão<br />
foi lançado à hora<br />
prevista. Todas as<br />
fases iniciais da missão (separação dos três estágios<br />
iniciais, separação da carenagem de protecção<br />
e separação do estágio Briz-M) decorreram<br />
sem problemas. O estágio Briz-M levou a cabo a<br />
sua primeira ignição entre as 1221:48UTC e as<br />
1226:07UTC, sendo realizadas mais quatro queimas<br />
antes da separação do Intelsat-22.<br />
O satélite Intelsat-22 foi construído pela Boeing<br />
Satellite Systems e é baseado no modelo BSS-<br />
702MO, tendo uma massa de 6.199 kg no lançamento<br />
e um período de vida útil de 18 anos. Está<br />
equipado com 22 repetidores de banda C, 18<br />
repetidores de banda Ku e 18 repetidores UHF<br />
que irão fornecer serviços para a África, Ásia,<br />
Europa, Médio Oriente e Oceano Índico. As forças<br />
de defesa australianas compraram a carga UHF<br />
que será utilizada durante 15 anos.<br />
Esta é a primeira missão da ILS (International<br />
Launch Services) que irá utilizar uma órbita supersincronizada<br />
com os primeiros três estágios a utilizar<br />
uma ascensão standard para colocar o Briz-M<br />
numa trajectória suborbital. A partir daqui o Briz-<br />
M realiza várias manobras colocando-se primeira<br />
numa órbita preliminar, seguindo-se uma órbita<br />
intermédia, uma órbita de transferência e finalmente<br />
uma órbita de transferência para a órbita<br />
geossincrona. Na separação o Intelsat-22 estava<br />
colocado numa órbita com um apogeu a 65.000<br />
km de altitude, perigeu a 3.791 km de altitude e<br />
inclinação orbital de 28,5º.<br />
Imagem: Khrunichev<br />
Rui Barbosa<br />
Página 57
ASTRONÁUTICA<br />
Março 2012<br />
Novo lançamento comercial da<br />
China<br />
A China levou a cabo um novo lançamento orbital<br />
bem sucedido ao colocar em órbita o satélite de<br />
telecomunicações Apstar-7. O lançamento teve<br />
lugar às 1027UTC do dia 31 de Março de 2012 e<br />
foi levado a cabo por um foguetão Chang Zheng-<br />
3B/E desde a Plataforma de Lançamento LC2 do<br />
Centro de Lançamento de Satélites de Xichang,<br />
província de Sichuan. A separação do satélite terá<br />
ocorrido pelas 1053UTC.<br />
O satélite Apstar-7 foi construído pela Thales Alenia<br />
Space e é baseado no modelo Spacebus-<br />
4000C2, tendo uma massa de 5.054 kg no lançamento.<br />
Está equipado com 28 repetidores de banda<br />
C que serão utilizado para serviços de transmissão<br />
para a Ásia, Austrália, Europa e África, e<br />
28 repetidores de banda Ku que serão utilizados<br />
para serviços de transmissão para a China<br />
(incluindo Hong Kong, Macau e Taiwan), Médio<br />
Oriente e África. O Apstar-7 irá substituir o satélite<br />
Apstar-2R.<br />
Este foi o 50º lançamento de um foguetão da<br />
família de lançadores CZ-3A Chang Zheng-3A do<br />
qual deriva o CZ-3B, BZ-3B/E e CZ-3C.<br />
Rui Barbosa<br />
Página 58
Volume 2 Edição 3<br />
ASTRONÁUTICA<br />
Coreia do Norte prepara<br />
Kwangmyongsong-3<br />
Aparentemente a Coreia do Norte já colocou na<br />
plataforma de lançamento o primeiro estágio do<br />
foguetão Unha-3 que deverá colocar em órbita o<br />
satélite Kwangmyongsong-3 no dia 15 de Abril de<br />
2012. O segundo estágio deverá ser transportado<br />
para a plataforma a 2 ou 3 de Abril.<br />
Entretanto as autoridades norte-coreanas revelaram<br />
que o satélite deverá ser colocado numa<br />
órbita com uma altitude de 500 km com uma<br />
inclinação de 97,40º.<br />
Na Estação de Lançamento de Sohae (mais usualmente<br />
conhecida como Centro Espacial de Tongchang-dong)<br />
decorrem os preparativos para o lançamento<br />
que<br />
foram fotografados<br />
a 29 de<br />
Março. As imagens<br />
mostram<br />
a posição relativa<br />
da torre móvel de serviço ao lado da estrutura<br />
de acesso ao foguetão. Várias pessoas podem<br />
ser vistas a cortar os arbustos próximos da plataforma<br />
de lançamento para evitar um possível<br />
incêndio originado pelas chamas dos motores.<br />
São também visíveis camiões de abastecimento<br />
de propolentes.<br />
Imagem: DigitalGlobe Inc.<br />
Rui Barbosa<br />
Rússia lança Cosmos 2479<br />
A Rússia levou a cabo às<br />
0549UTC do dia 30 de Março<br />
de 2012 o lançamento do satélite<br />
militar Cosmos 2479 utilizando<br />
um foguetão Proton-K/<br />
DM-2 lançado desde a Plataforma<br />
de Lançamento PU-24 do<br />
Complexo de Lançamento LC81<br />
do Cosmódromo de Baikonur,<br />
Cazaquistão.<br />
Este foi o último Proton-K a ser<br />
lançado, terminando assim uma<br />
história de 45 anos de serviço,<br />
com o seu primeiro lançamento<br />
a ter lugar a 10 de Março de<br />
1967.<br />
Utilizando um estágio superior<br />
Blok DM-2, esta missão colocou<br />
em órbita o último satélite de<br />
observação militar Oko. Estes<br />
satélites Oko (US-KMO) são satélites<br />
de aviso antecipado de lançamento<br />
de mísseis balísticos que<br />
operam em órbita geossíncrona,<br />
ao contrário dos satélites US-K<br />
que operam em órbitas Molniya,<br />
isto é com um apogeu extremamente<br />
elevado sobre os locais de<br />
observação.<br />
Imagem: Roscosmos<br />
Rui Barbosa<br />
Página 59
<strong>astroPT</strong><br />
O Boletim Em Órbita está no meo<br />
O Boletim Em Órbita inaugura<br />
hoje as emissões regulares<br />
do seu canal no meo.<br />
Neste canal serão colocados<br />
todos os vídeos dos lançamentos<br />
orbitais que forem<br />
sendo realizados ao longo do<br />
ano.<br />
Para acederem ao<br />
Canal Em Órbita<br />
basta pressionar a<br />
tecla verde do seu<br />
comando meo e<br />
introduzir o n.º<br />
355507.<br />
Bem-vindos ao Canal Em<br />
Órbita!<br />
Rui Barbosa<br />
O <strong>astroPT</strong> está agora também disponível no G+.<br />
Poderá consultar-nos através da sua conta do Gmail clicando no link<br />
superior direito (+SeuNome). Ou então poderá seguir esta ligação (ou<br />
ver posts).<br />
Passem por lá, adicione aos seus círculos e divulgue pelos seus amigos.<br />
José Gonçalves<br />
ESTAMOS NA WEB!<br />
http://astropt.org<br />
PUB<br />
ESTE ESPAÇO PODE SER SEU!<br />
QUER ANUNCIAR NA NOSSA PUBLICAÇÃO OU<br />
WEBSITE<br />
CONTACTE-NOS!<br />
O <strong>astroPT</strong>, no mês de fevereiro, obteve: mais de 98 000 visitas.<br />
INFO<br />
A TODOS OS INTERESSADOS:<br />
As revistas estão disponíveis para download<br />
em: http://issuu.com/<strong>astroPT</strong><br />
Clicar na revista que quer descarregar, ao abrir a<br />
nova página e em baixo encontrará uma caixa<br />
com uma setinha que irá permitir fazer o download<br />
(é necessário ter conta no issuu, mas pode<br />
fazer o registo com a conta do facebook.<br />
<strong>astroPT</strong> <strong>magazine</strong>, revista mensal da <strong>astroPT</strong><br />
Textos dos autores, Design: José Gonçalves