04.06.2015 Views

Cartilha de estudo - Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)

Cartilha de estudo - Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)

Cartilha de estudo - Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Hidrelétricas no Rio Ma<strong>de</strong>ira: energia para quê e para quem? 1<br />

<strong>Cartilha</strong> <strong>de</strong> <strong>estudo</strong><br />

2 a Edição<br />

PARA AS GRANDES EMPRESAS MULTINACIONAIS:<br />

A privatização do Rio Ma<strong>de</strong>ira, com mais <strong>de</strong> 25 bilhões <strong>de</strong> reais <strong>de</strong><br />

dinheiro público para construção das obras e garantia <strong>de</strong> que <strong>por</strong> 30<br />

anos as empresas vão faturar mais <strong>de</strong> R$ 115 bilhões com a venda da<br />

energia das duas hidrelétricas, mais R$ 22 bilhões com a transmissão e<br />

mais <strong>de</strong> 130 bilhões com a distribuição <strong>de</strong>sta energia elétrica.<br />

PARA O POVO:<br />

Sobrará a conta para pagar e os problemas causa<strong>dos</strong> em consequência<br />

da privatização do Rio Ma<strong>de</strong>ira e da construção das hidrelétricas.<br />

Dezembro 2008<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 1<br />

16/1/2009, 16:38


2<br />

<strong>Movimento</strong> <strong>dos</strong> Atingi<strong>dos</strong> <strong>por</strong> <strong>Barragens</strong> - <strong>MAB</strong><br />

Sumário<br />

1. A crise mundial <strong>de</strong> energia e o “Complexo Hidrelétrico do Rio Ma<strong>de</strong>ira” ................. 3<br />

2. Os planos <strong>de</strong> hidrelétricas no Brasil, na Amazônia e em Rondônia ............................. 6<br />

3. O que significa o projeto chamado <strong>de</strong> “Complexo Hidrelétrico do Rio Ma<strong>de</strong>ira”? ..... 8<br />

3.1. A construção <strong>de</strong>, no mínimo, quatro gran<strong>de</strong>s hidrelétricas.................................. 9<br />

3.2. Construção <strong>de</strong> duas eclusas ................................................................................. 9<br />

3.3. As hidrovias...........................................................................................................10<br />

3.4. Linhas <strong>de</strong> transmissão...........................................................................................10<br />

3.5. Os custos totais do “Complexo Hidrelétrico do Rio Ma<strong>de</strong>ira”.............................11<br />

3.5.1. O que significa um investimento <strong>de</strong>ssa gran<strong>de</strong>za?..........................................11<br />

3.5.2. O que po<strong>de</strong>ria ser feito se investíssemos R$ 26 bi em benefícios ao povo?.....11<br />

4. Os interesses <strong>por</strong> trás <strong>dos</strong> projetos.............................................................................12<br />

4.1. Quais são os interesses <strong>de</strong> quem quer construir e ser dono<br />

das hidrelétricas (oito objetivos)?..........................................................................12<br />

4.2. Quem são os gran<strong>de</strong>s interessa<strong>dos</strong> nas hidrelétricas: as multinacionais? .............17<br />

4.2.1. Os ‘Donos’ da hidrelétrica Santo Antônio.....................................................17<br />

4.2.2. Os ‘Donos’ da hidrelétrica Jirau.....................................................................17<br />

4.2.3. Quem são as multinacionais que ganham com as hidrelétricas?....................18<br />

4.3. Os bancos também estão envolvi<strong>dos</strong>....................................................................20<br />

4.4 Grupos interessa<strong>dos</strong> em fornecer máquinas e equipamentos...............................22<br />

4.5. Grupos interessa<strong>dos</strong> na construção civil...............................................................22<br />

4.6. Grupos interessa<strong>dos</strong> em ex<strong>por</strong>tar soja, álcool e ma<strong>de</strong>ira (agronegócio)..............22<br />

4.7. Grupos interessa<strong>dos</strong> na corrupção, em especial eleitoral.....................................23<br />

5. Como as empresas atuam para obter apoio da população..........................................23<br />

6. Quem somos: o <strong>Movimento</strong> <strong>dos</strong> Atingi<strong>dos</strong> <strong>por</strong> <strong>Barragens</strong> .........................................26<br />

2 a Edição<br />

Produção e Elaboração:<br />

<strong>Movimento</strong> <strong>dos</strong> Atingi<strong>dos</strong> <strong>por</strong> <strong>Barragens</strong><br />

Fotos e ilustrações:<br />

Arquivo do <strong>MAB</strong><br />

Projeto Gráfico:<br />

MDA Comunicação Integrada Ltda.<br />

Secretaria do <strong>MAB</strong> - Rondônia<br />

Rua Florestan Fernan<strong>de</strong>s, 3798 - Bairro Tancredo Neves<br />

Cep: 78910-540 - Porto Velho/RO<br />

Secretaria Nacional do <strong>MAB</strong><br />

E-mail: mab@mabnacional.org.br<br />

Site: www.mabnacional.org.br<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 2<br />

16/1/2009, 16:38


Hidrelétricas no Rio Ma<strong>de</strong>ira: energia para quê e para quem? 3<br />

A<br />

Aconstrução <strong>de</strong> centenas <strong>de</strong> barragens no<br />

Brasil está relacionada com o interesse<br />

<strong>de</strong> grupos econômicos nacionais e estrangeiros,<br />

as chamadas multinacionais. Diante da crise<br />

mundial <strong>de</strong> energia esses grupos buscam dominar,<br />

a todo custo, todas as fontes energéticas, além<br />

<strong>dos</strong> rios, água, minérios, terras e biodiversida<strong>de</strong>.<br />

Em síntese, po<strong>de</strong>ríamos dizer que a construção<br />

<strong>de</strong> hidrelétricas no Brasil aten<strong>de</strong> aos interesses e<br />

às exigências do imperialismo.<br />

O problema principal no campo da energia<br />

é que os “países centrais”, ditos ricos e <strong>de</strong>senvolvi<strong>dos</strong>,<br />

são os maiores consumidores <strong>de</strong><br />

energia do mundo. Os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, os países<br />

da Europa (Alemanha, França, Inglaterra,<br />

Espanha, etc) e o Japão são “ricos em dinheiro<br />

mas pobres em petróleo”, po<strong>de</strong>ríamos dizer ainda,<br />

pobres em energia, em rios, em água, em<br />

minérios e em terras férteis. Nestes países, as<br />

indústrias, a maioria das máquinas, o trans<strong>por</strong>te<br />

e, inclusive, a geração <strong>de</strong> energia elétrica,<br />

funcionam a base <strong>de</strong> petróleo, <strong>por</strong> isso são<br />

“petro<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes”.<br />

Os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> possuem 6% da população<br />

mundial, consomem 30% do petróleo, 35%<br />

da eletricida<strong>de</strong> mundial e produzem apenas 10%<br />

daquilo que consomem. Na energia elétrica, enquanto<br />

no Brasil o consumo médio <strong>por</strong> pessoas<br />

é <strong>de</strong> 1.934 quilowatts-hora/ano, nos Esta<strong>dos</strong><br />

Uni<strong>dos</strong>, este consumo é <strong>de</strong> 13.066 kwh/ano.<br />

Mundialmente, o petróleo tem sido a principal<br />

fonte <strong>de</strong> “energia líquida” utilizada pelo<br />

conjunto da humanida<strong>de</strong>. A chamada energia líquida<br />

possui como característica, a facilida<strong>de</strong><br />

no seu trans<strong>por</strong>te, permitindo abastecer regiões<br />

Quem são os<br />

maiores consumidores<br />

<strong>de</strong> energia<br />

no mundo?<br />

Se toda a humanida<strong>de</strong> tivesse o mesmo nível<br />

<strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> países industrializa<strong>dos</strong>, como<br />

os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, a Europa e o Japão, precisaríamos<br />

<strong>de</strong> 4 planetas como a Terra para<br />

aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda mundial.<br />

Os países industrializa<strong>dos</strong> abrigam 21% da<br />

população mundial, <strong>por</strong>ém consomem 70%<br />

das fontes convencionais <strong>de</strong> energia e 75%<br />

<strong>de</strong> toda eletricida<strong>de</strong>.<br />

Os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> – possuem 6% da população<br />

mundial e consomem 30% do petróleo<br />

mundial e 35% da eletricida<strong>de</strong> mundial. E produzem<br />

apenas 10% daquilo que consomem.<br />

As reservas <strong>de</strong> petróleo <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>,<br />

o maior consumidor, acabam em 5 anos.<br />

<strong>de</strong>ficitárias. São diversas formas possíveis <strong>de</strong><br />

trans<strong>por</strong>te, po<strong>de</strong>ndo ser terrestre (em tanques <strong>de</strong><br />

combustível), marítima (em navios cargueiros),<br />

ou até trans<strong>por</strong>te aéreo.<br />

No entanto, o petróleo é parte do conjunto<br />

das fontes energéticas <strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong> “energia<br />

fóssil”, que levou milhões <strong>de</strong> anos para se formar<br />

e, ao ser consumido, suas reservas não se renovam.<br />

Além do petróleo, o gás natural e o carvão<br />

mineral são <strong>de</strong> mesma origem. As reservas mundiais<br />

<strong>de</strong> petróleo estão se esgotando ou se tornando<br />

<strong>de</strong> difícil acesso, passando ser cada vez mais caro,<br />

em menor quantida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> pior qualida<strong>de</strong>.<br />

FONTES Petróleo Gás Natural Carvão Eletricida<strong>de</strong> Biomassa<br />

Consumo<br />

em 2005<br />

Outras (solar,<br />

vento, etc)<br />

43,4% 15,6% 8,3% 16,3% 12,9% 3,5%<br />

Fonte: International Energy Agency, 2007<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 3<br />

16/1/2009, 16:38


4<br />

Mantendo os níveis atuais <strong>de</strong> consumo,<br />

“haverá petróleo no mundo para somente 35<br />

anos”. Especialistas afirmam que a produção<br />

mundial do petróleo alcançará o limite máximo<br />

(pico <strong>de</strong> produção ou “Pico <strong>de</strong> Hubbert”)<br />

em poucos anos e a partir dali vai começar a<br />

faltar petróleo em quantida<strong>de</strong>s cada vez maiores.<br />

Na prática, percebe-se a falta através da<br />

crescente elevação <strong>dos</strong> preços <strong>dos</strong> produtos<br />

<strong>de</strong>riva<strong>dos</strong> do petróleo e <strong>dos</strong> crescentes conflitos<br />

militares em torno do petróleo.<br />

Para se ter uma noção melhor do conceito<br />

<strong>de</strong> “Pico <strong>de</strong> Produção” ou “Pico <strong>de</strong><br />

Hubbert, vejamos: “é o ponto em que a<br />

meta<strong>de</strong> do petróleo já foi extraída. Em termos<br />

<strong>de</strong> reservas remanescentes po<strong>de</strong> parecer<br />

que ainda há bastante petróleo. Mas isto<br />

não é tão cor-<strong>de</strong>-rosa como parece. A produção<br />

<strong>de</strong> petróleo po<strong>de</strong> manter-se no pico<br />

<strong>de</strong> produção <strong>por</strong> um certo número <strong>de</strong> anos<br />

antes <strong>de</strong> principiar um lento <strong>de</strong>clínio. Uma<br />

vez atingido o pico, entretanto, o <strong>de</strong>clínio<br />

po<strong>de</strong> ser muito rápido. Ultrapassado o pico,<br />

ainda há petróleo, mas torna-se difícil extrair,<br />

e mais custoso, pois as pressões internas<br />

<strong>dos</strong> furos <strong>de</strong>clinam ou outros problemas<br />

tornam mais cara a recuperação <strong>de</strong> cada<br />

barril. O petróleo está lá mas não é fácil, <strong>de</strong><br />

modo algum, extraí-lo”.<br />

(F. William Engdahl; O Iraque e o Problema do<br />

Pico Petrolífero; citado em ITURRA; 2006; p.22)<br />

É isso que chamamos <strong>de</strong> crise mundial<br />

<strong>de</strong> energia. Num primeiro momento os capitalistas<br />

vão obter altas taxas <strong>de</strong> lucro, mas num<br />

segundo momento, há o risco real <strong>de</strong> faltar energia,<br />

ou pela ausência, ou pelos eleva<strong>dos</strong> custos.<br />

Isso coloca em risco a própria produção e<br />

circulação das mercadorias e, conseqüentemente,<br />

a acumulação <strong>de</strong> capital nas taxas <strong>de</strong> lucro<br />

exigidas pelos capitalistas.<br />

Há poucos lugares no mundo com petróleo,<br />

quase to<strong>dos</strong> estão i<strong>de</strong>ntifica<strong>dos</strong> e não se<br />

localizam nos territórios <strong>dos</strong> países centrais.<br />

Aproximadamente 70% <strong>de</strong> todas as reservas<br />

mundiais <strong>de</strong> petróleo se encontram na Arábia<br />

<strong>Movimento</strong> <strong>dos</strong> Atingi<strong>dos</strong> <strong>por</strong> <strong>Barragens</strong> - <strong>MAB</strong><br />

Saudita, Iraque, Kuwait, Emira<strong>dos</strong> Árabes e Irã,<br />

no Golfo Pérsico. A situação brasileira, com<br />

as <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> petróleo na camada <strong>de</strong> présal,<br />

é um caso isolado. E além <strong>de</strong> colocar nosso<br />

país entre os primeiros do mundo, é um motivo<br />

a mais para as multinacionais quererem controlar<br />

nosso território. Conforme a tabela, po<strong>de</strong>mos<br />

ver que as reservas se encontram em outros países<br />

que não os <strong>de</strong>senvolvi<strong>dos</strong>.<br />

Com a tendência para diminuição das reservas<br />

mundiais <strong>de</strong> petróleo e as previsões indicando<br />

que o consumo <strong>de</strong> energia no mundo<br />

crescerá em 71% até o ano 2030, a disputa pelo<br />

controle do conjunto das fontes energéticas<br />

mundiais, renováveis e não-renováveis, tornase<br />

cada vez maior e mais acirrada.<br />

O Brasil, em especial a região<br />

Amazônica, passa ser o principal foco<br />

<strong>de</strong> interesse das multinacionais e <strong>dos</strong><br />

países estrangeiros, <strong>por</strong>que ali temos<br />

muitos rios, muita água, muita terra<br />

boa, muita floresta e muitos minérios.<br />

Tudo isso, as empresas querem<br />

dominar para ganhar bilhões e<br />

bilhões <strong>de</strong> lucro.<br />

A crise energética afeta principalmente os<br />

países centrais do capitalismo (Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>,<br />

Europa e Japão) pois são eles que consomem<br />

70% <strong>de</strong> toda energia do mundo. No entanto, as<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 4<br />

16/1/2009, 16:38


Hidrelétricas no Rio Ma<strong>de</strong>ira: energia para quê e para quem? 5<br />

conseqüências recaem sobre nossos países e<br />

principalmente sobre os recursos naturais estratégicos.<br />

Este cenário energético trás várias<br />

conseqüências sobre a socieda<strong>de</strong> e a natureza:<br />

Transferência da indústria eletrointensiva<br />

(mineradoras e celulose) aos países periféricos.<br />

Corrida pelo controle das fontes energéticas<br />

estratégicas: terras para produção <strong>de</strong><br />

agrocombustíveis e celulose, controle <strong>dos</strong><br />

rios para construção <strong>de</strong> hidrelétricas, etc.<br />

Disputas mundiais imperialistas pelo controle<br />

das atuais reservas energéticas.<br />

Especulação com elevação <strong>dos</strong> preços internacionais<br />

do petróleo.<br />

Elevação do custo <strong>de</strong> produção <strong>dos</strong> alimentos,<br />

<strong>por</strong> termos um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> agricultura<br />

petro<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />

Mudança na função social da agricultura:<br />

em vez <strong>de</strong> produzir alimentos passam a<br />

produzir energia ao imperialismo.<br />

Retomada e aceleração da construção <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s obras <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> energia elétrica<br />

nos países da América Latina, em especial<br />

as hidrelétricas, e o avanço das<br />

multinacionais sobre as terras para produção<br />

<strong>de</strong> agroenergia.<br />

“Cada dia fica mais evi<strong>de</strong>nte que<br />

controlar a energia é assegurar o po<strong>de</strong>r.<br />

Se os mais im<strong>por</strong>tantes recursos<br />

energéticos são escassos e não renováveis,<br />

como o petróleo e o gás, os que<br />

controlarem esses bens terão o po<strong>de</strong>r”.<br />

Também ficam evi<strong>de</strong>ntes os motivos que<br />

levam os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> e <strong>de</strong>mais países centrais<br />

a promover guerras <strong>de</strong> invasão ao Iraque<br />

e Kuwait e recentemente as ameaças <strong>de</strong><br />

guerra contra Irã e Venezuela. É evi<strong>de</strong>nte<br />

que aqui no Brasil a estratégia<br />

<strong>de</strong> dominação, <strong>por</strong> enquanto é outra,<br />

não vem com balas <strong>de</strong> chumbo e nem<br />

com bombas, mas com balas <strong>de</strong> mel.<br />

Vem com o discurso da privatização,<br />

com o discurso <strong>de</strong> que as hidrelétricas,<br />

as usinas <strong>de</strong> álcool, as indústrias<br />

<strong>de</strong> celulose e as mineradoras, entre outras,<br />

são para o <strong>de</strong>senvolvimento do Brasil, são<br />

para gerar empregos, progresso... Que a energia<br />

é para evitar “apagões” e aten<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>mandas<br />

da população brasileira. O discurso vem<br />

como propaganda enganosa, que as empresas,<br />

os governantes e a mídia reproduzem todo dia<br />

para convencer o povo e ao mesmo tempo <strong>de</strong>sviar<br />

a atenção da população <strong>dos</strong> verda<strong>de</strong>iros interesses<br />

que estão escondi<strong>dos</strong> nestes projetos.<br />

No Brasil e na América Latina a estratégia<br />

<strong>de</strong> dominação vem através das gran<strong>de</strong>s empresas<br />

multinacionais, dirigidas pelos maiores bancos<br />

mundiais e com a promessa <strong>de</strong> instalar-se na região<br />

para investir dólares e euros. Vem através do<br />

plano IIRSA, Plan-Puebla Panamá, Plano Colômbia,<br />

Parcerias Público-Privada, entre outros.<br />

É nesse cenário que a energia se transformou<br />

num <strong>dos</strong> principais problemas do atual mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>. A energia é um “ponto fraco”<br />

do capitalismo, principalmente <strong>dos</strong> países<br />

centrais, em especial das gran<strong>de</strong>s empresas<br />

multinacionais. Estes países e os gran<strong>de</strong>s grupos<br />

econômicos, além <strong>de</strong> tomar as reservas <strong>de</strong><br />

petróleo no mundo, querem controlar as <strong>de</strong>mais<br />

fontes <strong>de</strong> energia em regiões e países que ainda<br />

não dominam, isso para garantir sua “segurança<br />

energética” e conseqüentemente suas taxas<br />

<strong>de</strong> lucro elevadas.<br />

Na prática, estão buscando controlar as reservas<br />

<strong>de</strong> gás e petróleo, a energia produzida através<br />

da biomassa<br />

(álcool, biodiesel e<br />

óleo vegetal), a<br />

energia hídrica<br />

(construindo barragens),<br />

a energia solar,<br />

a energia eólica<br />

(vento), e <strong>de</strong>mais<br />

fontes que possuem<br />

viabilida<strong>de</strong> econômica<br />

ou que possam vir a<br />

ter essa viabilida<strong>de</strong>.<br />

O Brasil, em especial<br />

a região Amazônica,<br />

passa a ser o principal foco<br />

<strong>de</strong> interesse das multinacionais<br />

e <strong>dos</strong> países estrangeiros,<br />

<strong>por</strong>que ali temos<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 5<br />

16/1/2009, 16:38


6<br />

<strong>Movimento</strong> <strong>dos</strong> Atingi<strong>dos</strong> <strong>por</strong> <strong>Barragens</strong> - <strong>MAB</strong><br />

muitos rios, muita água, muita terra fértil, muita<br />

floresta e muitos minérios. As empresas buscam<br />

dominar esta base natural vantajosa para ganhar<br />

bilhões e bilhões <strong>de</strong> lucro. Portanto, entregar nossas<br />

fontes <strong>de</strong> energia, nossos rios, nossa água, nossos<br />

minérios e florestas ao controle privado e<br />

multinacional é, cada vez mais, entregar nosso<br />

território e nossa gente à dominação imperialista.<br />

É comprometer nosso futuro como povo e como<br />

Nação. Nosso <strong>de</strong>ver é romper com tudo isso.<br />

Nossa terra, nosso rio, não se ven<strong>de</strong>,<br />

Nossa terra, nosso rio, se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m!<br />

N<br />

o mundo existem mais <strong>de</strong> 45.000<br />

gran<strong>de</strong>s barragens construídas que já<br />

expulsaram das terras mais <strong>de</strong> 80 milhões<br />

<strong>de</strong> pessoas, a maioria sem receber nada. Além<br />

disso, no mundo existem hoje cerca <strong>de</strong> 1.600<br />

barragens em construção. Essas obras movimentam<br />

aproximadamente 50 bilhões <strong>de</strong><br />

dólares <strong>por</strong> ano.<br />

Na maioria <strong>dos</strong> países ricos e <strong>de</strong>senvolvi<strong>dos</strong>,<br />

os principais rios já foram utiliza<strong>dos</strong><br />

para construção <strong>de</strong> usinas. Nestes países<br />

não é possível a construção <strong>de</strong> novas<br />

barragens, o aproveitamento chegou ao limite<br />

máximo. Com isso, a indústria <strong>de</strong> barragens<br />

(Siemens, Alstom, General Elétric, VA<br />

Tech, etc) pressiona novas regiões no mundo<br />

para manter seus negócios e faturamentos. A<br />

China é o país que mais constrói hidrelétricas<br />

no momento. São 50.000 MW em construção<br />

e mais 30.000 MW para serem inicia<strong>dos</strong>.<br />

No Brasil, 70% do potencial tecnicamente<br />

aproveitável <strong>dos</strong> rios ainda não são utiliza<strong>dos</strong>.<br />

Possuímos algo em torno <strong>de</strong> 10% do potencial<br />

mundial, cerca <strong>de</strong> 251.490 MW. Deste<br />

total, 77.777 MW já são aproveita<strong>dos</strong> (30,9%);<br />

126.164 MW estão inventaria<strong>dos</strong> (50,2%) e;<br />

47.549 MW são estima<strong>dos</strong> (18,9%). Em potencial<br />

hidrelétrico per<strong>de</strong>mos apenas pela<br />

Rússia (13%) e China (12%).<br />

Segundo da<strong>dos</strong> lança<strong>dos</strong> pela Empresa <strong>de</strong><br />

Pesquisa Energética (EPE), a região Norte possui<br />

64% do potencial a aproveitar, 21% está na<br />

região Sul, 8% no Su<strong>de</strong>ste, 3 a 4% no Nor<strong>de</strong>ste<br />

e 2 a 3% no Centro-Oeste.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hidrelétricas,<br />

<strong>estudo</strong>s do Governo Fe<strong>de</strong>ral e da<br />

Eletrobrás mostram que os rios brasileiros possuem<br />

um potencial em torno <strong>de</strong> 1.443 novos<br />

projetos <strong>de</strong> barragens, que se encontram<br />

inventariadas e/ou com <strong>estudo</strong>s <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong>.<br />

Hoje são mais <strong>de</strong> 2.000 barragens já construídas<br />

e <strong>de</strong>stinadas à produção <strong>de</strong> energia e/ou para<br />

abastecimento <strong>de</strong> água. Deste total, em torno<br />

<strong>de</strong> 650 são hidrelétricas.<br />

As barragens já expulsaram, em todo o<br />

Brasil, mais <strong>de</strong> um milhão <strong>de</strong> pessoas. Em média<br />

70% das famílias atingidas não recebem<br />

nenhum tipo <strong>de</strong> direito, acabam sendo expulsas<br />

sem receber nada. A maioria das famílias<br />

acaba tendo como <strong>de</strong>stino os lugares mais pobres<br />

das cida<strong>de</strong>s, ficando sem emprego, sem<br />

terra e sem casa.<br />

A energia proveniente <strong>de</strong> hidrelétricas (da<br />

forma como tem sido a construção <strong>de</strong> represas),<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 6<br />

16/1/2009, 16:38


Hidrelétricas no Rio Ma<strong>de</strong>ira: energia para quê e para quem? 7<br />

é consi<strong>de</strong>rada uma das fontes <strong>de</strong> maior lucro<br />

aos chama<strong>dos</strong> “donos da energia”. A<br />

hidroeletricida<strong>de</strong> apresenta uma “base natural<br />

vantajosa” em relação às <strong>de</strong>mais fontes, motivo<br />

da brutal corrida das multinacionais para<br />

dominar este setor, tanto na geração como na<br />

distribuição.<br />

Vejamos algumas características da<br />

fonte hídrica<br />

A energia hídrica apresenta alta produtivida<strong>de</strong>,<br />

ou seja, eficiência<br />

energética <strong>de</strong> 94%, enquanto a térmica<br />

apresenta, no máximo, 30% <strong>de</strong> eficiência.<br />

Apresenta baixo custo <strong>de</strong> produção,<br />

ou seja, a matéria prima utilizada nas turbinas<br />

(água) não apresenta nenhum custo<br />

<strong>de</strong> produção, ao contrário da energia<br />

térmica, cuja matéria prima é o petróleo,<br />

que custa muito caro.<br />

É ‘renovável’, alterando apenas sua intensida<strong>de</strong><br />

conforme as estações do ano,<br />

conforme a intensida<strong>de</strong> das chuvas, e<br />

permite o armazenamento da água em<br />

gran<strong>de</strong>s lagos para uso posterior.<br />

A mesma água <strong>de</strong> um rio po<strong>de</strong> ser utilizada<br />

diversas vezes, através da construção<br />

<strong>de</strong> diversas hidrelétricas num<br />

mesmo rio.<br />

O chamado “Sistema Interligado Nacional”<br />

permite levar e ce<strong>de</strong>r energia <strong>de</strong><br />

uma região para outra, conforme a intensida<strong>de</strong><br />

das chuvas, fazendo os lagos<br />

das hidrelétricas funcionarem como uma<br />

gran<strong>de</strong> caixa <strong>de</strong> água e obter ganhos <strong>de</strong><br />

até 22% na eficiência. Ou seja, permite<br />

o controle sobre todo rio, sobre a Bacia<br />

Hidrográfica, inter-bacias, inter-regiões<br />

e entre países.<br />

Com as privatizações, a energia elétrica<br />

passou a ser controlada e colocada a serviço<br />

das gran<strong>de</strong>s empresas transnacionais. A geração<br />

elétrica tem como <strong>de</strong>stino abastecer os gran<strong>de</strong>s<br />

consumidores, a chamada indústria<br />

eletrointensiva (celulose, alumínio, ferro, aço,<br />

entre outras) e os gran<strong>de</strong>s supermerca<strong>dos</strong><br />

(shoppings), oferecendo a estes energia subsidiada.<br />

No Brasil, existem 665 gran<strong>de</strong>s consumidores<br />

<strong>de</strong> energia e sozinhos consomem aproximadamente<br />

30% <strong>de</strong> toda energia elétrica brasileira,<br />

além disso, recebem energia ao preço<br />

<strong>de</strong> custo real. Enquanto que ao povo brasileiro<br />

os preços da energia elétrica representam um<br />

verda<strong>de</strong>iro roubo.<br />

Para os próximos 25 anos (até 2.030),<br />

conforme o “Plano Nacional <strong>de</strong> Energia 2030”,<br />

há uma previsão <strong>de</strong> acrescentar mais 130.113<br />

MW <strong>de</strong> energia elétrica ao sistema brasileiro.<br />

Deste total, 94.700 MW <strong>de</strong>verão ser <strong>de</strong> fonte<br />

hídrica (87.700 MW através <strong>de</strong> hidrelétricas <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> <strong>por</strong>te e 7.000 MW através <strong>de</strong> Pequenas<br />

Centrais Hidrelétricas). Em questão <strong>de</strong> investimentos,<br />

prevê-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 286 bilhões<br />

<strong>de</strong> dólares (mais <strong>de</strong> 500 bilhões <strong>de</strong> reais). Levando<br />

em consi<strong>de</strong>ração somente os próximos<br />

<strong>de</strong>z anos, o Plano Decenal <strong>de</strong> Expansão <strong>de</strong><br />

Energia Elétrica 2007/2016 apresenta um conjunto<br />

<strong>de</strong> 90 usinas hidrelétricas a serem<br />

construídas, que totalizam uma geração prevista<br />

<strong>de</strong> 36.834 MW.<br />

Na região amazônica até agora há potencial<br />

para cerca <strong>de</strong> 304 hidrelétricas (46 já<br />

construídas e 258 inventariadas) e recentemente,<br />

a Empresas <strong>de</strong> Pesquisa Energética iniciou<br />

<strong>estudo</strong>s <strong>de</strong> inventário em mais alguns rios. Em<br />

Rondônia, 39 hidrelétricas estão planejadas. As<br />

prioritárias são as hidrelétricas do Rio Ma<strong>de</strong>ira,<br />

que são parte do plano <strong>de</strong> Iniciativa <strong>de</strong><br />

Integração da Infra-estrutura Regional Sul<br />

Americana (IIRSA). Este plano vem sendo pensado<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos noventa e que ganhou força<br />

logo após a inviabilização do projeto original<br />

da Área <strong>de</strong> Livre Comércio das Américas<br />

(ALCA).<br />

Além das hidrelétricas no Rio Ma<strong>de</strong>ira,<br />

na Amazônia está em andamento a construção<br />

<strong>de</strong> várias outras hidrelétricas como o complexo<br />

hidrelétrico <strong>de</strong> Belo Monte, no Rio Xingu;<br />

a hidrelétrica <strong>de</strong> São Luiz, no Rio Tapajós e<br />

várias no Rio Tocantins e Araguaia, que já se<br />

encontram em construção e ou planejadas.<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 7<br />

16/1/2009, 16:38


8<br />

<strong>Movimento</strong> <strong>dos</strong> Atingi<strong>dos</strong> <strong>por</strong> <strong>Barragens</strong> - <strong>MAB</strong><br />

Vejamos, abaixo, o mapa das obras em construção:<br />

O<br />

s projetos das hidrelétricas vêm sendo<br />

discuti<strong>dos</strong> ha vários anos e fazem parte<br />

<strong>de</strong> um plano maior <strong>de</strong> saqueio da Amazônia. O<br />

“Complexo” foi pensado e ganhou força, principalmente<br />

quando os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> elaborou<br />

um plano <strong>de</strong> dominação sobre toda América<br />

Latina chamado <strong>de</strong> Área <strong>de</strong> Livre Comércio<br />

das Américas (ALCA). Seu principal objetivo<br />

era garantir livre acesso para saquear to<strong>dos</strong> os<br />

recursos naturais da América Latina, em especial<br />

da Amazônia.<br />

Diante da resistência contra a ALCA, foi<br />

ganhando força um novo plano que continuaria a<br />

beneficiar tanto as multinacionais estaduni<strong>de</strong>nses,<br />

como as européias e também as brasileiras, é o<br />

plano IIRSA. São <strong>de</strong>z gran<strong>de</strong>s eixos <strong>de</strong>fini<strong>dos</strong><br />

<strong>por</strong> interesses estratégicos, que po<strong>de</strong>m ser interoceânicos<br />

ou verticais, que ligam a América do<br />

Sul <strong>de</strong> cima a baixo. As hidrelétricas no Rio<br />

Ma<strong>de</strong>ira são parte <strong>de</strong>stes planos.<br />

O que significa “Complexo Hidrelétrico<br />

do Rio Ma<strong>de</strong>ira”?<br />

É um plano pensado pelas gran<strong>de</strong>s<br />

empresas em conjunto com os<br />

governos que prevê a construção <strong>de</strong><br />

várias obras <strong>de</strong> interesse das<br />

multinacionais e <strong>dos</strong> gran<strong>de</strong>s bancos<br />

financiadores. É um plano pensado<br />

especialmente para o Rio Ma<strong>de</strong>ira, para<br />

garantir gran<strong>de</strong>s lucros para poucas<br />

empresas através da construção <strong>de</strong><br />

quatro hidrelétricas, uma gran<strong>de</strong><br />

hidrovia, várias eclusas e uma linha <strong>de</strong><br />

transmissão <strong>de</strong> energia até São Paulo.<br />

Des<strong>de</strong> setembro do ano 2.000 através <strong>de</strong><br />

uma iniciativa do então presi<strong>de</strong>nte Fernando<br />

Henrique Car<strong>dos</strong>o, o plano das hidrelétricas no<br />

Rio Ma<strong>de</strong>ira foi ganhando forma e força. Mais<br />

tar<strong>de</strong>, o Governo Lula assumiu o plano como um<br />

<strong>dos</strong> principais projetos <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> energia <strong>de</strong><br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 8<br />

16/1/2009, 16:38


Hidrelétricas no Rio Ma<strong>de</strong>ira: energia para quê e para quem? 9<br />

seu governo. Não fica difícil perceber <strong>por</strong>que<br />

a gran<strong>de</strong> parte <strong>dos</strong> parti<strong>dos</strong> políticos anda <strong>de</strong><br />

braços da<strong>dos</strong> quando o assunto é Rio Ma<strong>de</strong>ira.<br />

Neste caso, os projetos estão sendo apresenta<strong>dos</strong><br />

para socieda<strong>de</strong> com o nome <strong>de</strong> “Complexo<br />

Hidrelétrico do Rio Ma<strong>de</strong>ira”.<br />

leiras, atingirá também a Bolívia e a hidrelétrica<br />

Cachuera Esperanza (4ª) será totalmente em<br />

terras bolivianas.<br />

A seguir, todas as obras planejadas no<br />

RIO MADEIRA<br />

3.1 A construção <strong>de</strong>, no mínimo,<br />

quatro gran<strong>de</strong>s hidrelétricas:<br />

Da<strong>dos</strong> gerais das duas hidrelétricas<br />

Características<br />

gerais<br />

UHE<br />

Sto Antônio<br />

UHE<br />

Jirau<br />

Altura (metros) 70 60 m 90m 35,5 m<br />

Tipo <strong>de</strong> turbinas Bulbo Bulbo<br />

Número <strong>de</strong> turbinas 44 44<br />

Potência 3.168MW 3.326,4MW<br />

Energia Firme<br />

(MW médios)<br />

4.051MWh 4.051MWh<br />

4.051 MWh<br />

Tempo <strong>de</strong> construção 07 anos 07 anos<br />

Início <strong>de</strong> funcionamento<br />

das primeiras turbinas<br />

Previsão do custo <strong>de</strong><br />

geração energia<br />

44 meses 44 meses<br />

R$ 51,00 56,00 <strong>por</strong> R$ 51,00 56,00 <strong>por</strong><br />

MWh<br />

MW<br />

Área inundada 271,36 km² 258 km²<br />

Custo total somente da<br />

Hidrelétrica<br />

UHE Santo Antônio:<br />

Custo <strong>de</strong> R$ 8 bilhões<br />

UHE Jirau:<br />

Custo <strong>de</strong> R$ 8,5 bilhões<br />

Custo total das duas barragens:<br />

R$ 16,5 bilhões<br />

R$ 25,76 R$ 25,76<br />

R$ 16,5 bilhões<br />

bilhões bilhões<br />

Total da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> geração: 6.494 MWh,<br />

com uma energia firme <strong>de</strong> 4.051 MWh.<br />

Total <strong>de</strong> área alagada: 529,36 km² (53 mil hectares<br />

<strong>de</strong> lago)<br />

Estão previstas para o plano quatro hidrelétricas<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>por</strong>te, com potencial total<br />

estimado em 12.000 MW <strong>de</strong> energia. A hidrelétrica<br />

Santo Antônio (1ª) e a hidrelétrica Jirau<br />

(2ª) serão totalmente em terras brasileiras; a<br />

hidrelétrica Guajará (3ª) além <strong>de</strong> terras brasi-<br />

Fonte: EIA-RIMA<br />

A hidrelétrica <strong>de</strong> Santo Antônio foi leiloada<br />

em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007 e a UHE Jirau em<br />

maio <strong>de</strong> 2008. Da<strong>dos</strong> divulga<strong>dos</strong> recentemente<br />

dizem que o custo total das duas usinas será<br />

<strong>de</strong> R$ 16,5 bilhões.<br />

3.2 Construção <strong>de</strong> duas eclusas<br />

UHE Santo Antônio<br />

Custo <strong>de</strong> R$ 730 milhões<br />

UHE Jirau<br />

Custo <strong>de</strong> R$ 650 milhões<br />

Custo Total das duas eclusas:<br />

R$ 1,38 bilhões<br />

Eclusas – na verda<strong>de</strong> é um nome que<br />

se utiliza para <strong>de</strong>finir o caráter <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong><br />

construção em cachoeiras ou barragens e fazer<br />

com que o rio se torne navegável <strong>por</strong><br />

gran<strong>de</strong>s embarcações em gran<strong>de</strong> parte do rio<br />

(ver foto abaixo). Tem como principal objetivo<br />

fazer com que os gran<strong>de</strong>s barcos possam<br />

passar <strong>de</strong> um lugar <strong>de</strong> navegação mais<br />

baixo para um lugar <strong>de</strong> navegação mais alto<br />

ou vice-versa. Geralmente é construído em<br />

cachoeiras <strong>de</strong> rios ou em locais on<strong>de</strong> existe o<br />

muro da barragem.<br />

Na UHE <strong>de</strong> Santo Antônio será construído<br />

um canal <strong>de</strong> 1,5 km pela margem esquerda. No<br />

centro <strong>de</strong>ste canal será construída uma eclusa,<br />

que funcionará semelhante a um elevador. Na<br />

UHE <strong>de</strong> Jirau o canal será pela margem direita<br />

e terá 3 km <strong>de</strong> extensão. Também no centro do<br />

canal será construída a eclusa.<br />

Porém, é certo que todas estas eclusas serão<br />

<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> privada, <strong>de</strong> domínio das<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 9<br />

16/1/2009, 16:38


10<br />

gran<strong>de</strong>s empresas e os barcos que quiserem passar<br />

terão que pagar pedágio. Será uma forma<br />

<strong>de</strong> controlar quem utilizará o rio e os lagos para<br />

navegação e quem não po<strong>de</strong>rá navegar <strong>de</strong> um<br />

lugar para outro. É muito provável que os pequenos<br />

barcos nem serão permiti<strong>dos</strong> passar <strong>por</strong><br />

estas eclusas.<br />

Segundo informações do <strong>estudo</strong> da<br />

Eletrobrás, o Rio Ma<strong>de</strong>ira possui, acima da cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Porto Velho, até a foz do Rio Beni um<br />

total <strong>de</strong> 15 cachoeiras naturais, que para eles<br />

“são obstáculos à navegação”, e <strong>por</strong> isso <strong>de</strong>verão<br />

ser cobertas pelos lagos das barragens ou<br />

<strong>de</strong>verão ser construídas eclusas para permitir a<br />

passagem <strong>dos</strong> navios cargueiros.<br />

3.3 As hidrovias<br />

Se o plano IIRSA for construído em sua<br />

totalida<strong>de</strong> o conjunto <strong>dos</strong> projetos no Rio Ma<strong>de</strong>ira<br />

vai viabilizar um acréscimo <strong>de</strong> 4.225 km<br />

<strong>de</strong> rios navegáveis a montante <strong>de</strong> Porto Velho<br />

(entre Brasil, Bolívia e Peru).<br />

Somente o trecho que vai <strong>de</strong> Porto Velho<br />

até Abunã, região <strong>de</strong> abrangência das duas hidrelétricas<br />

(Santo Antônio e Jirau), serão em<br />

torno <strong>de</strong> 260 km <strong>de</strong> extensão.<br />

Se a totalida<strong>de</strong> das obras planejadas para<br />

o Rio Ma<strong>de</strong>ira forem concluídas, se viabilizará<br />

uma infra-estrutura <strong>de</strong> trans<strong>por</strong>te hidroviário ao<br />

conjunto <strong>dos</strong> capitalistas que tem interesse na<br />

dominação da Amazônia. Isso diminuirá os<br />

custos <strong>de</strong> produção das mercadorias para serem<br />

levadas aos outros países. Conforme <strong>estudo</strong>s<br />

da Eletrobrás, a soja terá uma redução nos<br />

custos <strong>de</strong> trans<strong>por</strong>te na or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 30 dólares<br />

<strong>por</strong> tonelada (cerca <strong>de</strong> 60 reais), pois com a<br />

hidrovia as barcaças po<strong>de</strong>rão reduzir em mais<br />

<strong>de</strong> 5.000 quilômetros as distâncias até a Ásia.<br />

O verda<strong>de</strong>iro interesse nas hidrovias é permitir<br />

a navegação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s barcaças, principalmente<br />

os barcos cargueiros, possibilitando<br />

o escoamento para fora do Brasil <strong>de</strong> diversas<br />

mercadorias, como a soja, o álcool, a celulose,<br />

o minério e a ma<strong>de</strong>ira através <strong>de</strong> saídas para o<br />

Oceano Atlântico ou até mesmo pelo Oceano<br />

Pacífico.<br />

<strong>Movimento</strong> <strong>dos</strong> Atingi<strong>dos</strong> <strong>por</strong> <strong>Barragens</strong> - <strong>MAB</strong><br />

3.4 Linhas <strong>de</strong> transmissão<br />

(custo total R$ 7,2 bilhões)<br />

O Brasil possui ao todo 87.518 quilômetros<br />

<strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> energia<br />

elétrica. Para os próximos 10 anos está prevista<br />

a construção <strong>de</strong> mais 41.300 quilômetros.<br />

No caso da energia gerada nas hidrelétricas<br />

do Rio Ma<strong>de</strong>ira, será necessária a<br />

construção <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> linha <strong>de</strong> transmissão<br />

que <strong>de</strong>verá ir <strong>de</strong> Porto Velho/RO até<br />

Araraquara/SP, com 2.450 quilômetros <strong>de</strong><br />

extensão e uma tensão média <strong>de</strong> 600 kv e<br />

mais uma linha <strong>de</strong> Araraquara/SP até<br />

Atibaia/SP e dali até Nova Iguaçu/RJ, com<br />

600 quilômetros <strong>de</strong> extensão e tensão média<br />

<strong>de</strong> 500 kv.<br />

Para construir essa linha <strong>de</strong> transmissão,<br />

será necessário um investimento em torno<br />

<strong>de</strong> 7,2 bilhões <strong>de</strong> reais. E para as<br />

interligações <strong>de</strong> interesse restrito, os custos<br />

ficarão na or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> R$ 930 milhões. Portanto,<br />

o discurso <strong>de</strong> que a as hidrelétricas são<br />

construídas para <strong>de</strong>senvolver a região é falso<br />

e <strong>de</strong> má fé. Quase toda energia que será<br />

produzida pelas hidrelétricas será levada para<br />

outras regiões do Brasil, sendo que 70% será<br />

<strong>de</strong>stinada para o mercado cativo <strong>de</strong> energia<br />

e 30% <strong>de</strong>stinado para o 665 consumidores<br />

do mercado livre (consumidores eletrointensivos).<br />

Esta é a lógica <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong>sigual, on<strong>de</strong> Rondônia garantirá energia<br />

barata para regiões economicamente mais <strong>de</strong>senvolvidas,<br />

para aqueles esta<strong>dos</strong> on<strong>de</strong> as<br />

gran<strong>de</strong>s empresas possuem suas indústrias<br />

consumidoras <strong>de</strong> energia, principalmente São<br />

Paulo, Rio <strong>de</strong> Janeiro e Minas Gerais.<br />

O leilão ocorrido em novembro <strong>de</strong> 2008<br />

comprova que a energia não ficará na região,<br />

<strong>por</strong>que será levada para São Paulo através<br />

<strong>de</strong> uma enorme linha <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> corrente<br />

contínua.<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 10<br />

16/1/2009, 16:38


Hidrelétricas no Rio Ma<strong>de</strong>ira: energia para quê e para quem? 11<br />

3.5.1. O que significa um<br />

investimento <strong>de</strong>ssa<br />

gran<strong>de</strong>za?<br />

Fonte: PAC – Governo Fe<strong>de</strong>ral<br />

a) Comparando o investimento<br />

com a população<br />

do Estado <strong>de</strong> Rondônia:<br />

Rondônia possui 1.379.787<br />

habitantes (IBGE 2000). Hoje,<br />

provavelmente, este número chega<br />

a um milhão e quinhentos mil<br />

habitantes.<br />

- Comparando com o total <strong>de</strong> recursos<br />

necessários ao investimento<br />

(R$ 26 bilhões), significa o equivalente<br />

a <strong>de</strong>zenove mil (R$19.000,00)<br />

<strong>por</strong> habitante <strong>de</strong> Rondônia.<br />

3.5 Os custos totais do “Complexo<br />

Hidrelétrico do Rio Ma<strong>de</strong>ira”<br />

R$ 26 bilhões<br />

O total do investimento que terá <strong>de</strong> ser<br />

feito para finalizar todas as obras é assustador.<br />

São anuncia<strong>dos</strong> vários valores, que são altera<strong>dos</strong><br />

constantemente. Além disso, torna-se público<br />

apenas uma parte do dinheiro que será<br />

investido. É fundamental ver o total <strong>dos</strong> custos<br />

previstos, para po<strong>de</strong>rmos fazer uma avaliação<br />

do investimento sob outro ponto <strong>de</strong> vista.<br />

Principalmente levar em conta o que po<strong>de</strong>ria<br />

ser feito se este dinheiro fosse investido em<br />

obras <strong>de</strong> interesse do povo, como moradia, saneamento,<br />

reforma agrária, educação, saú<strong>de</strong>,<br />

geração <strong>de</strong> emprego, etc.<br />

b) Comparações do investimento com a população<br />

do município <strong>de</strong> Porto Velho:<br />

Porto Velho possui população <strong>de</strong> 380.971<br />

pessoas resi<strong>de</strong>ntes (estimativa <strong>de</strong> 2006).<br />

- Comparando com os R$ 26 bilhões,<br />

equivalente a 68 mil <strong>por</strong> habitante <strong>de</strong> Porto<br />

Velho.<br />

3.5.2. O que po<strong>de</strong>ria ser feito se<br />

investíssemos 26 bilhões em<br />

benefícios do povo?<br />

Daria para fazer 1.300.000 (um milhão<br />

e trezentas mil) casas populares no valor<br />

<strong>de</strong> R$ 20 mil/casa, ou seja, po<strong>de</strong>ria ser<br />

construída uma casa para cada habitante<br />

<strong>de</strong> Rondônia.<br />

Daria para construir 2.500 (dois mil e<br />

quinhentos) postos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> com um médico,<br />

dois enfermeiros, um <strong>de</strong>ntista e 10<br />

agentes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, com capacida<strong>de</strong> para<br />

aten<strong>de</strong>r 4.000 pessoas/posto, funcionando<br />

durante 30 anos, gerando 35.000 empregos<br />

permanentes ao longo <strong>dos</strong> 30 anos.<br />

Daria para assentar 520.000 (quinhentas<br />

e vinte mil) famílias com terra, moradia,<br />

crédito agrícola e acompanhamento<br />

técnico.<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 11<br />

16/1/2009, 16:39


12<br />

<strong>Movimento</strong> <strong>dos</strong> Atingi<strong>dos</strong> <strong>por</strong> <strong>Barragens</strong> - <strong>MAB</strong><br />

4.1 Quais são os interesses <strong>de</strong> quem quer construir<br />

e ser dono das hidrelétricas?<br />

Primeiro objetivo<br />

1LUCRO - ven<strong>de</strong>r energia ao preço<br />

mais alto possível ao povo brasileiro<br />

e, <strong>de</strong>sta forma, obter taxas <strong>de</strong> lucro<br />

extraordinárias.<br />

O único objetivo das empresas <strong>de</strong> energia<br />

é a obtenção <strong>de</strong> altas taxas <strong>de</strong> lucro. Sabe-se que<br />

na maioria das barragens no Brasil, o custo real<br />

da energia fica em torno <strong>de</strong> um a cinco centavos/<br />

kwh. Porém esta energia chega às residências e<br />

também para as pequenas e médias indústrias e<br />

comércios a um preço que significa um verda<strong>de</strong>iro<br />

“roubo”.<br />

A tarifa média cobrada no Brasil em 2006<br />

foi 33 centavos <strong>por</strong> kwh. Porém, não é suficiente<br />

apenas levar em conta as “tarifas médias”, pois ali<br />

estão contabiliza<strong>dos</strong> to<strong>dos</strong> os setores consumidores.<br />

Se consi<strong>de</strong>rarmos apenas as tarifas pagas pelas<br />

residências, veremos que, <strong>de</strong> maneira geral, são<br />

mais altas que a tarifa média, pois a população<br />

brasileira paga acima <strong>de</strong> 50 centavos o kwh.<br />

As hidrelétricas <strong>de</strong> Santo Antônio e Jirau<br />

têm licença <strong>de</strong> funcionamento das barragens para<br />

30 anos. A seguir veremos os faturamentos totais<br />

que os “donos da energia” terão nos próximos 30<br />

anos com essas usinas nas áreas <strong>de</strong> geração, transmissão<br />

e distribuição <strong>de</strong> energia.<br />

Faturamento na geração<br />

<strong>de</strong> energia elétrica<br />

a) UHE SANTO ANTÔNIO<br />

Investimento: R$ 8 bilhões<br />

Potência: 3.150 MW<br />

Energia firme: 2.140 MW médios (70% é igual<br />

a 1.443 MW médios)<br />

Percentual para mercado cativo:<br />

70% da energia<br />

Preço <strong>de</strong> venda: R$ 78,87/MWh<br />

Venda garantida até o ano 2041.<br />

Total <strong>de</strong> MW negocia<strong>dos</strong>:<br />

24 horas X 365 dias X 30 anos X 1.443 MW =<br />

379.236.145 MW<br />

Sub-Total Negociado: R$ 29.910.354.809,00<br />

(30 bilhões <strong>de</strong> reais)<br />

Os outros 30% da energia (642 MW médios):<br />

R$ 120,00/MWh<br />

24 horas X 365 dias X 30 anos X 642 MW =<br />

168.717.600 MW<br />

Sub-Total em 30 anos: (X R$ 120,00) =<br />

R$ 20.246.112.000,00 (20 bilhões <strong>de</strong> reais)<br />

TOTAL (30 anos): R$ 50.156.466.809,00<br />

(50 bilhões <strong>de</strong> reais)<br />

Total <strong>por</strong> hora: R$ 200 mil<br />

b) UHE JIRAU<br />

Investimento: R$ 8,5 bilhões<br />

Potência: 3.300 MW<br />

Energia firme: 1.906 MW médios (70% é igual<br />

a 1.327 MW médios)<br />

Energia negociada: 348.649.462,578 MWh<br />

Preço <strong>de</strong> venda: R$ 71,40 / MWh<br />

Venda garantida até o ano 2042.<br />

Total <strong>de</strong> MW negocia<strong>dos</strong>:<br />

24 horas X 365 dias X 30 anos X 1327 MW =<br />

348.649.462 MW<br />

Sub-Total negociado: R$ 24.883.112.144,00<br />

Os outros 30% da energia (570 MW médios):<br />

R$ 120,00/MWh<br />

24 horas X 365 dias X 30 anos X 570 MW =<br />

149.796.000 MW<br />

Sub-Total em 30 anos: (X R$ 120,00) =<br />

R$ 17.975.520.000,00<br />

TOTAL (30 anos): R$ 42.858.632.144,00<br />

(43 bilhões <strong>de</strong> reais)<br />

Total <strong>por</strong> hora: R$ 165 mil<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 12<br />

16/1/2009, 16:39


Hidrelétricas no Rio Ma<strong>de</strong>ira: energia para quê e para quem? 13<br />

Faturamento com as linhas <strong>de</strong><br />

transmissão <strong>de</strong> energia:<br />

Investimento: R$ 7,2 bilhões<br />

Extensão: 2.375 quilômetros, Opção Corrente<br />

Contínua<br />

Prazo das concessões <strong>de</strong> transmissão: 30 anos<br />

Abaixo o valor da Receita Anual Permitida<br />

(RAP) para cada trecho<br />

a) Vencedor: Consórcio Integração Norte<br />

Brasil, composto pelas empresas Eletronorte<br />

(24,50%), Eletrosul (24,50%), Abengoa<br />

Brasil (25,50%) e Andra<strong>de</strong> Gutierrez Part.<br />

(25,50%): Lote A (17,3 km):<br />

R$ 44.751.600,00; Lote C (estação):<br />

R$ 144.754.800,00; Lote G (2375 km):<br />

R$ 173.922.000,00<br />

Sub-total: R$ 363.428.400,00/Ano<br />

b) Vencedor: Cymi Holding S/A (Abengoa Espanhola):<br />

Lote B (602 km): R$ 35.447.808,00;<br />

Lote E (30 km): R$ 15.463.152,00.<br />

Sub-total: R$ 50.910.960,00/ano<br />

c) Vencedor: Consórcio Ma<strong>de</strong>ira Transmissão,<br />

formado pelas empresas Cteep/Colômbia<br />

(51%), Furnas (24,5%) e Chesf (24,5%): Lote<br />

D (2375 km): R$ 176.249.000,00; Lote F (estação):<br />

R$ 151.788.396,00<br />

Sub-total: R$ 328.037.396,00/ano<br />

Receita anual permitida<br />

TOTAL: R$ 742.376.756,00/ano<br />

TOTAL (em 30 anos): R$ 22.271.302.680,00<br />

(22 bilhões <strong>de</strong> reais)<br />

Total <strong>por</strong> hora: R$ 85 mil<br />

Faturamento na<br />

Distribuição <strong>de</strong> Energia Elétrica<br />

Total <strong>de</strong> MW: (379.236.145 MW +<br />

348.649.462 MW) = 727.885.607 MW<br />

Preço médio <strong>de</strong> venda sem impostos:<br />

R$ 258,00/MW (menos 78,00 do leilão) =<br />

180,00<br />

TOTAL GERAL (30 anos):<br />

R$ 131.019.409.260,00 (131 bilhões)<br />

(Total <strong>por</strong> hora: R$ 500 mil)<br />

TOTAL GERAL<br />

Geração, transmissão e distribuição<br />

R$ 246 bilhões em 30 anos<br />

Total <strong>por</strong> hora: 950 mil reais<br />

Além disso, o discurso <strong>por</strong> parte das empresas<br />

e <strong>dos</strong> governos tem sido <strong>de</strong> que as barragens<br />

geram “<strong>de</strong>senvolvimento regional”, pois os esta<strong>dos</strong><br />

e municípios recebem compensações financeiras<br />

(Royalties). Isso não passa <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> farsa.<br />

Cabe ressaltar que, do total a ser faturado,<br />

somente retornarão aos cofres públicos uma parte<br />

muito pequena: cerca <strong>de</strong> 11,4 milhões <strong>de</strong> reais<br />

<strong>por</strong> mês, sendo que R$ 4,5 milhões/mês é a parte<br />

que cabe ao estado <strong>de</strong> Rondônia e mais 4,5 milhões<br />

<strong>de</strong> reais <strong>por</strong> mês aos municípios atingi<strong>dos</strong>.<br />

Então, o total <strong>de</strong> recursos que retornarão na forma<br />

<strong>de</strong> compensação financeira aos cofres públicos<br />

durante os 30 anos é o equivalente a 4 bilhões<br />

<strong>de</strong> reais, enquanto que o total faturado pelas<br />

empresas “donas da energia” durante o mesmo<br />

período será <strong>de</strong> 246 bilhões <strong>de</strong> reais. É <strong>por</strong><br />

isso que precisamos fazer a pergunta: Energia<br />

para que? E para quem?<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 13<br />

16/1/2009, 16:39


14<br />

2Segundo objetivo<br />

Gerar energia elétrica a preço <strong>de</strong><br />

custo para si mesmo, ou seja, para<br />

as suas indústrias (<strong>de</strong> alumínio, si<strong>de</strong>rurgia,<br />

celulose, papel, cimento,<br />

ferro-ligas, petroquímica) e para os<br />

gran<strong>de</strong>s supermerca<strong>dos</strong> (shoppings).<br />

A distribuição <strong>de</strong> energia elétrica no Brasil<br />

está organizada <strong>de</strong> uma forma que permite a<br />

máxima exploração <strong>dos</strong> mais pobres e ao mesmo<br />

tempo privilegia os mais ricos (os gran<strong>de</strong>s<br />

consumidores). Está dividido em dois grupos<br />

<strong>de</strong> consumidores, os “cativos” e os “consumidores<br />

livres”. Os consumidores cativos são a<br />

totalida<strong>de</strong> das residências e quase a totalida<strong>de</strong><br />

da pequena e média indústria e comércio.<br />

Os consumidores livres são<br />

aqueles que conseguem comprovar<br />

que consomem, em um <strong>de</strong>terminado<br />

momento, mais <strong>de</strong> 3.000 quilowatt e,<br />

com isso, eles obtém o direito <strong>de</strong> negociar<br />

livremente com as geradoras<br />

o preço da energia através <strong>de</strong> contratos<br />

que po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong> curto, médio e<br />

longo prazo (mais <strong>de</strong> 20 anos). Na<br />

prática, é a chamada indústria eletrointensiva<br />

e o gran<strong>de</strong> comércio. Existem<br />

no Brasil 665 consumidores livres<br />

que consomem sozinhos quase 30%<br />

da eletricida<strong>de</strong>. Gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>stas indústrias<br />

está localizada em São Paulo, Minas<br />

Gerais e algumas na região <strong>de</strong> minérios na<br />

Amazônia.<br />

As principais características<br />

<strong>de</strong>ssa indústria são:<br />

a) Exige gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> energia;<br />

b) Precisam <strong>de</strong> energia subsidiada (baixo<br />

custo);<br />

c) É uma indústria automatizada, que geram<br />

poucos empregos;<br />

d) Altamente poluidora do meio ambiente;<br />

e) A maior parte é para ex<strong>por</strong>tação aos<br />

países centrais.<br />

<strong>Movimento</strong> <strong>dos</strong> Atingi<strong>dos</strong> <strong>por</strong> <strong>Barragens</strong> - <strong>MAB</strong><br />

Como os países ricos estão em falta <strong>de</strong><br />

energia e, ao mesmo tempo, a gran<strong>de</strong> parte <strong>dos</strong><br />

minérios se encontra na Amazônia, estas indústrias<br />

estão fechando as <strong>por</strong>tas lá e estão sendo<br />

transferidas ao Brasil. Mas para isso, precisam<br />

<strong>de</strong> energia muito barata, em gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong><br />

para conseguir tirar os minérios brasileiros e<br />

po<strong>de</strong>r levar para fora do país já <strong>de</strong> forma mais<br />

beneficiada e muito lucrativa.<br />

Como o Brasil, e principalmente a região<br />

amazônica, possui energia <strong>de</strong> baixo custo e<br />

gran<strong>de</strong>s reservas <strong>de</strong> minério, fica evi<strong>de</strong>nte que<br />

os 30% da energia das hidrelétricas do Rio<br />

Ma<strong>de</strong>ira terão como <strong>de</strong>stino as indústrias<br />

eletrointensivas. Vejamos no gráfico as diferenças<br />

<strong>de</strong> tarifas pagas na energia elétrica:<br />

3Terceiro objetivo<br />

Colocar os principais recursos naturais<br />

sob domínio e a serviço das multinacionais<br />

ou <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s empresas nacionais,<br />

principalmente a energia, a<br />

água, a biodiversida<strong>de</strong> e os minérios.<br />

As gran<strong>de</strong>s empresas internacionais, em<br />

sua “divisão do planeta”, <strong>de</strong>terminaram que o<br />

papel principal da América Latina <strong>de</strong>ve ser a<br />

ex<strong>por</strong>tação <strong>de</strong> matéria prima, principalmente<br />

agrícola, mineral e energética. O capital internacional<br />

tem em sua agenda um plano <strong>de</strong> controle<br />

<strong>dos</strong> recursos naturais estratégicos (água,<br />

energia, minerais e biodiversida<strong>de</strong>/sementes),<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 14<br />

16/1/2009, 16:39


Hidrelétricas no Rio Ma<strong>de</strong>ira: energia para quê e para quem? 15<br />

ou seja, o foco do capital está voltado em gran<strong>de</strong><br />

parte para o domínio do campo.<br />

No caso da energia, as multinacionais do<br />

papel e celulose e as mineradoras querem dominar<br />

os rios para construir usinas e po<strong>de</strong>r utilizar<br />

a energia gerada a preço <strong>de</strong> custo. E querem<br />

controlar as melhores terras, para produzir<br />

o álcool <strong>de</strong> cana, para substituir a gasolina e o<br />

biodiesel produzido através das plantas oleaginosas<br />

(como a soja) para substituir o óleo diesel,<br />

e bem provável, que num período próximo<br />

a produção <strong>de</strong> álcool <strong>de</strong> celulose. Em seguida,<br />

carregam em gran<strong>de</strong>s barcaças e levam estes<br />

produtos para uso em seus países.<br />

Quarto objetivo<br />

4<br />

Fazer com que o povo brasileiro pague<br />

to<strong>dos</strong> os investimentos e, no final<br />

das contas, as empresas privadas<br />

ficam <strong>de</strong> donas das barragens.<br />

As multinacionais não querem correr risco<br />

nenhum <strong>de</strong> colocar seu próprio dinheiro nestes<br />

investimentos. Por isso, querem que o povo <strong>de</strong><br />

cada país arque com os custos <strong>dos</strong> investimentos.<br />

No caso brasileiro, colocam os governos<br />

(fe<strong>de</strong>ral, estaduais e municipais) para convencer<br />

a população <strong>de</strong> que estes projetos serão para<br />

<strong>de</strong>senvolver a região e o país; colocam as empresas<br />

estatais (Furnas, Eletronorte, etc) para<br />

financiar parte das obras e, principalmente para<br />

passar uma visão <strong>de</strong> que são obras <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong><br />

pública.<br />

A maior parte do financiamento das obras<br />

do Complexo será com o dinheiro do BNDES<br />

(Banco Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Econômico<br />

e Social), que é um banco público e funciona<br />

com o dinheiro arrecadado do povo brasileiro.<br />

O BNDES já anunciou que po<strong>de</strong>rá financiar<br />

até 75% <strong>dos</strong> custos das obras, sendo que<br />

em alguns itens o financiamento po<strong>de</strong> chegar<br />

até 85% do valor necessário. O restante <strong>dos</strong><br />

recursos sairão <strong>de</strong> alguma Estatal (Furnas, <strong>por</strong><br />

exemplo) e o que faltar, aí sim, po<strong>de</strong>rá ser recursos<br />

das empresas privadas. Quer dizer: eles<br />

ficam <strong>de</strong> donos das hidrelétricas sem colocar<br />

quase nada <strong>de</strong> dinheiro!<br />

Tudo isso significa que existem bilhões<br />

<strong>de</strong> reais do povo brasileiro a serviço das multinacionais.<br />

Ao mesmo tempo não existe dinheiro<br />

para investimento em saú<strong>de</strong>, emprego, escolas,<br />

universida<strong>de</strong>s, trans<strong>por</strong>te, reforma agrária,<br />

moradias, etc. Significa também que o povo<br />

brasileiro, através da sua conta <strong>de</strong> energia, através<br />

do BNDES (dinheiro público) e através das<br />

empresas estatais <strong>de</strong> energia é quem pagará a<br />

conta <strong>de</strong> todo financiamento, enquanto que as<br />

empresas privadas ficarão com as hidrelétricas<br />

e com os lucros.<br />

5Quinto objetivo<br />

Ganhar muito dinheiro com a venda<br />

<strong>de</strong> turbinas, máquinas e equipamentos.<br />

As turbinas e gran<strong>de</strong> parte das máquinas<br />

e equipamentos utiliza<strong>dos</strong> na construção das<br />

barragens são fabricadas fora do Brasil e quando<br />

são fabricadas aqui, as empresas não brasileiras,<br />

são principalmente alemãs, francesas e<br />

estaduni<strong>de</strong>nses. As indústrias <strong>de</strong> turbinas e equipamentos<br />

<strong>de</strong> energia são indústrias que em seus<br />

países não tem mais para on<strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r. Por isso,<br />

aliadas aos <strong>de</strong>mais interessa<strong>dos</strong>, pressionam e<br />

obrigam os governos <strong>de</strong> nosso país para incentivar<br />

a construção <strong>de</strong> barragens e assim encontrar<br />

uma forma <strong>de</strong> continuar com seus negócios<br />

lucrativos.<br />

Além disso, são mercadorias muito caras,<br />

até mesmo quando não são superfaturadas, ou<br />

seja, gran<strong>de</strong> parte do dinheiro investido numa<br />

obra <strong>de</strong>ssa natureza acaba indo para os bolsos<br />

das multinacionais, para fora do país. Para se<br />

ter uma idéia, estima-se que somente na compra<br />

das 88 turbinas serão gastos R$ 5 bilhões,<br />

e é bem provável que as multinacionais<br />

Siemens, da Alemanha; Alstom, da França; ou<br />

General Eletric, <strong>dos</strong> EUA sejam as principais<br />

fornecedoras.<br />

6Sexto objetivo<br />

Garantir uma infra-estrutura <strong>de</strong><br />

trans<strong>por</strong>te que permita o saqueio <strong>dos</strong><br />

recursos naturais, <strong>de</strong> forma barata<br />

e rápida.<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 15<br />

16/1/2009, 16:39


16<br />

Faz parte <strong>de</strong>ste plano a construção <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s hidrovias, rodovias, ferrovias, alcoodutos,<br />

aero<strong>por</strong>tos e <strong>por</strong>tos, tudo direcionado<br />

para ex<strong>por</strong>tação.<br />

Estas obras são planejadas para diminuir<br />

o custo <strong>de</strong> trans<strong>por</strong>te até os países centrais, necessário<br />

às suas indústrias e também para<br />

viabilizar acesso até as regiões on<strong>de</strong> se concentram<br />

os bens naturais mais im<strong>por</strong>tantes da<br />

América Latina. Ajudará a diminuir os custos<br />

<strong>de</strong> produção das mercadorias, principalmente<br />

matéria prima, que se saqueiam do nosso país.<br />

Permitindo assim, altas taxas <strong>de</strong> mais-valia (lucro)<br />

nas indústrias <strong>dos</strong> países <strong>de</strong>senvolvi<strong>dos</strong>.<br />

Nesta lógica, querem fazer com que o Rio<br />

Ma<strong>de</strong>ira e os lagos das hidrelétricas se tornem<br />

navegáveis para gran<strong>de</strong>s barcaças <strong>de</strong> interesse<br />

das multinacionais, para que assim possam retirar<br />

todas as riquezas naturais da Amazônia e<br />

levá-las <strong>de</strong> forma mais fácil e mais barata possível<br />

aos seus países. Além disso, com as<br />

hidrovias, o monocultivo da soja, da cana-<strong>de</strong>açúcar<br />

e do eucalipto ten<strong>de</strong> a avançar <strong>de</strong> forma<br />

mais rápida para <strong>de</strong>ntro da Amazônia, aumentando<br />

a <strong>de</strong>struição da floresta.<br />

7Sétimo objetivo<br />

Controle direto sobre os rios e os<br />

lagos para ter o controle da água.<br />

A crise ambiental cada vez maior e a contaminação<br />

das águas nos países ricos e <strong>de</strong>senvolvi<strong>dos</strong><br />

indicam que, em nível mundial, nos<br />

próximos anos a disputa pelo controle das<br />

águas potáveis será central, já que nos países<br />

industrializa<strong>dos</strong> (Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, Europa, Japão,<br />

etc) suas águas estão praticamente contaminadas.<br />

Para estes países, a alternativa passa<br />

ser o controle das águas nos países em que<br />

ela existe em abundância, pois a água é fundamental<br />

à indústria, à agricultura e à vida<br />

humana.<br />

De toda água do mundo, apenas 3% é<br />

água doce, o resto é salgada. A América do<br />

Sul passa ser a região mais disputada, <strong>por</strong>que<br />

ali se concentram as maiores reservas <strong>de</strong> água<br />

doce do planeta Terra. As duas maiores bacias<br />

hidrográficas do planeta estão em nosso território:<br />

a Bacia Amazônica e a Bacia do Prata.<br />

São as duas maiores vazões hidrográficas<br />

da face da Terra.<br />

<strong>Movimento</strong> <strong>dos</strong> Atingi<strong>dos</strong> <strong>por</strong> <strong>Barragens</strong> - <strong>MAB</strong><br />

De toda água doce do mundo, a Amazônia<br />

concentra 20%. A vazão média da bacia<br />

Amazônica é <strong>de</strong> 212.000 m³/segundo. Vale lembrar<br />

que o Rio Ma<strong>de</strong>ira é um <strong>dos</strong> principais<br />

afluentes da Bacia Amazônica e dali para frente,<br />

não fica difícil <strong>de</strong> imaginar o <strong>por</strong>quê <strong>de</strong> tanto<br />

interesse das multinacionais em construir as<br />

hidrelétricas no Ma<strong>de</strong>ira. A resistência e a luta<br />

das comunida<strong>de</strong>s ribeirinhas se torna <strong>de</strong> im<strong>por</strong>tância<br />

estratégica, quando o tema é a <strong>de</strong>fesa <strong>dos</strong><br />

rios e das águas.<br />

Oitavo objetivo<br />

8<br />

Interesse na construção da barragem<br />

e fornecimento <strong>de</strong> materiais (cimento,<br />

ferro, etc).<br />

As empresas <strong>de</strong> cimento e <strong>de</strong> construção<br />

são as principais interessadas nessa área. A<br />

gran<strong>de</strong> parte das empresas privadas nacionais<br />

do setor <strong>de</strong> energia se tornaram gigantes a partir<br />

<strong>dos</strong> mega-projetos hidrelétricos feitos durante<br />

a ditadura militar, on<strong>de</strong> estas empresas<br />

eram as principais beneficiadas.<br />

As multinacionais Votorantim, O<strong>de</strong>brecht,<br />

Camargo Corrêa, Andra<strong>de</strong> Gutierrez e Queiroz<br />

Galvão são empresas que se beneficiaram <strong>de</strong>ste<br />

ramo e atualmente muitas se tornaram parte<br />

do grupo <strong>de</strong> empresas hegemônico que controlam<br />

o setor elétrico brasileiro.<br />

Tanto o fornecimento <strong>de</strong> cimento e <strong>de</strong> ferro<br />

num único contrato, sem precisar preocupar-se<br />

com concorrentes, como a própria engenharia<br />

e construção da obra, representa um<br />

volume <strong>de</strong> dinheiro bastante gran<strong>de</strong>, e no caso<br />

das hidrelétricas do Rio Ma<strong>de</strong>ira, também acabará<br />

sendo canaliza<strong>dos</strong> para fora da região.<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 16<br />

16/1/2009, 16:39


Hidrelétricas no Rio Ma<strong>de</strong>ira: energia para quê e para quem? 17<br />

4.2 Quem são os gran<strong>de</strong>s interessa<strong>dos</strong> nas hidrelétricas?<br />

As multinacionais!<br />

O setor elétrico brasileiro, está organizado<br />

com mecanismos e lógica <strong>de</strong> funcionamento do<br />

“capital financeiro”, organizado em um gran<strong>de</strong><br />

“monopólio” privado do capital internacional,<br />

numa “fusão <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> bancos e indústrias” mas<br />

dominado pelo capital financeiro.<br />

Po<strong>de</strong>mos dizer que os “donos da energia”<br />

são gran<strong>de</strong>s bancos (Santan<strong>de</strong>r, Bra<strong>de</strong>sco,<br />

Citigroup, Votorantim, etc), gran<strong>de</strong>s empresas<br />

energéticas mundiais (Suez, AES, Duke,<br />

En<strong>de</strong>sa, General Eléctric, Votorantim, etc), gran<strong>de</strong>s<br />

empresas mineradoras e metalúrgicas<br />

mundiais (Alcoa, BHP Billiton, CVRD,<br />

Votorantim, Gerdau, Siemens, General Motors,<br />

Alstom, etc), gran<strong>de</strong>s empreiteiras (Camargo<br />

Correa, O<strong>de</strong>brecht, Andra<strong>de</strong> Gutierrez, Queiroz<br />

Galvão, etc), e gran<strong>de</strong>s empresas do<br />

agronegócio (Aracruz, Klabin, Amaggi, Bunge<br />

Fertilizantes, Stora Enso, etc).<br />

Este bloco <strong>de</strong> capitalistas internacionais e<br />

alguns brasileiros formam uma forte aliança em<br />

torno <strong>de</strong> três gran<strong>de</strong>s blocos <strong>de</strong> capital: o capital<br />

financeiro, capital minero-metalúrgicoenergético<br />

e o capital agro-negócio. Po<strong>de</strong>ríamos<br />

dizer que os “donos da energia” são os gran<strong>de</strong>s<br />

bancos internacionais e as multinacionais.<br />

4.2.1 Os ‘Donos’ da hidrelétrica Santo Antônio:<br />

As empresas que receberam<br />

a UHE Santo Antônio é o<br />

grupo “Ma<strong>de</strong>ira Energia<br />

S.A.” (MESA) formado pelas<br />

seguintes empresas:<br />

O<strong>de</strong>brecht (17,6%), Construtora<br />

Norberto O<strong>de</strong>brecht<br />

(1%), Andra<strong>de</strong> Gutierrez (12,4%), Cemig (10%),<br />

Furnas (39%) e fundo <strong>de</strong> investimento Santan<strong>de</strong>r/<br />

Banif (20%).<br />

4.2.2 Os ‘Donos’ da<br />

hidrelétrica Jirau:<br />

Enquanto que na hidrelétrica <strong>de</strong><br />

Jirau, as empresas são a Suez<br />

(50,1%), Camargo Corrêa (9,9%),<br />

Eletrosul (20%) e Chesf (20%).<br />

A questão central é que as obras do Rio<br />

Ma<strong>de</strong>ira não foram pensadas para beneficiar<br />

nem ao povo brasileiro, nem ao povo <strong>de</strong><br />

Rondônia, nem ao povo <strong>dos</strong> municípios atingi<strong>dos</strong><br />

e, muito menos para as famílias e comunida<strong>de</strong>s<br />

afetadas diretamente pelo lago.<br />

Para analisar quem são os verda<strong>de</strong>iros interessa<strong>dos</strong>,<br />

não basta analisar apenas quem são<br />

os proprietários <strong>de</strong> uma usina, é preciso analisar<br />

a totalida<strong>de</strong> do mo<strong>de</strong>lo energético. É preciso<br />

enten<strong>de</strong>r quem são os donos na geração <strong>de</strong><br />

energia, na transmissão, na distribuição <strong>de</strong> energia,<br />

quem vai consumir esta energia, como é<br />

consumida esta energia, quais são as tarifas<br />

pagas em cada setor, qual é o <strong>de</strong>stino das mercadorias<br />

produzidas com tal energia, entre outras.<br />

Veremos então que o capital financeiro, o<br />

capital minero-metalúrgico-energético e o capital<br />

do agronegócio são os principais beneficia<strong>dos</strong>,<br />

enquanto o povo brasileiro é que paga<br />

a conta para sustentar tal mo<strong>de</strong>lo.<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 17<br />

16/1/2009, 16:39


18<br />

4.2.3 Quem são as<br />

multinacionais que<br />

ganham com as hidrelétricas?<br />

GDF SUEZ-TRACTEBEL<br />

da França e Bélgica<br />

É uma das <strong>de</strong>z maiores empresas <strong>de</strong> energia<br />

do mundo e a quarta maior empresa do<br />

mundo na exploração <strong>de</strong> negócios com água.<br />

Em setembro <strong>de</strong> 2007, ocorreu a fusão da<br />

Suez-Tractebel com a estatal francesa GDF,<br />

criando assim a GDF Suez-Tractebel S.A.<br />

Seu negócio concentra-se na exploração <strong>de</strong><br />

água, gás, energia e saneamento. Seu principal<br />

objetivo é criar um gran<strong>de</strong> monopólio<br />

mundial da água e da energia elétrica.<br />

A fusão <strong>de</strong>u origem a terceira maior<br />

cor<strong>por</strong>ação mundial <strong>de</strong> energia (<strong>de</strong> gás, água<br />

e tratamento <strong>de</strong> resíduos). Gás <strong>de</strong> France era<br />

uma estatal do Governo Francês. Suez, é uma<br />

multinacional da França que atuava com<br />

negócios restritos à água e ao tratamento <strong>de</strong><br />

resíduos. Tractebel é uma empresa <strong>de</strong> origem<br />

belga, criada em 1986 a partir <strong>de</strong> uma<br />

fusão entre as empresas Tractionel e a<br />

Electrobel. O “novo” grupo tem 34% das<br />

ações controladas pelo governo da França e<br />

o restante é controle privado <strong>de</strong> empresários<br />

franceses e belgas.<br />

A empresa possui em todo mundo mais<br />

<strong>de</strong> 60.000 MW <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> instalada. A<br />

Suez-Tractebel Energia é uma das maiores<br />

empresas privada <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> energia elétrica<br />

no Brasil, possui em torno <strong>de</strong> 7.100 MW<br />

instala<strong>dos</strong>.<br />

Entrou no Brasil em 1998 através das<br />

privatizações. Ela praticamente saqueou os<br />

brasileiros. Durante os últimos 40 anos, com<br />

muito esforço, o povo brasileiro criou a<br />

Eletrosul (estatal). A Eletrosul tinha em seu<br />

patrimônio as melhores hidrelétricas do Brasil,<br />

<strong>por</strong>que geravam bastante energia e com<br />

baixo custo <strong>de</strong> produção. Foi exatamente a<br />

melhor parte da Eletrosul que a Tractebel<br />

colocou a mão. Ela adquiriu seis hidrelétricas<br />

e cinco termoelétricas <strong>por</strong> 801 milhões<br />

<strong>Movimento</strong> <strong>dos</strong> Atingi<strong>dos</strong> <strong>por</strong> <strong>Barragens</strong> - <strong>MAB</strong><br />

<strong>de</strong> dólares (algo em torno <strong>de</strong> 1,4 bilhões <strong>de</strong><br />

reais), <strong>por</strong>ém se a Eletrosul tivesse que reconstruir<br />

novamente aquilo que a Suez-<br />

Tractebel recebeu, hoje teríamos que gastar<br />

aproximadamente R$ 13 bilhões (algo em<br />

torno <strong>de</strong> 10 vezes mais do que foi pago).<br />

Em todo o Brasil a Suez-Tractebel tem<br />

904 funcionários (2007). Deste total, 85 trabalhadores<br />

estão no Paraná; apenas 15 em<br />

Goiás (na hidrelétrica <strong>de</strong> Cana Brava) e apenas<br />

149 funcionários no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul<br />

(em três hidrelétricas: Passo Fundo, Itá e<br />

Machadinho e nas termelétricas). Os <strong>de</strong>mais<br />

trabalhadores ficam em Santa Catarina, on<strong>de</strong><br />

possui sua se<strong>de</strong>. Esta empresa <strong>de</strong>sempregou<br />

muitos trabalhadores, <strong>de</strong> 1998 até 2004 ela<br />

<strong>de</strong>mitiu aproximadamente 400 funcionários.<br />

Em 2007, a Tractebel Brasil teve receita<br />

líquida <strong>de</strong> 3,04 bilhões <strong>de</strong> reais, sendo que<br />

seu lucro no ano foi <strong>de</strong> 1,05 bilhões <strong>de</strong> reais,<br />

o maior lucro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que está no Brasil.<br />

ODEBRECHT S.A.<br />

do Brasil<br />

Empresa com se<strong>de</strong> em Salvador, Bahia.<br />

É consi<strong>de</strong>rada a décima maior empresa privada<br />

no Brasil. Atua principalmente na área<br />

<strong>de</strong> engenharia e construção civil, indústria<br />

química e petroquímica. Atua praticamente<br />

em to<strong>dos</strong> os países da América do Sul. Controla<br />

praticamente 20 empresas, entre elas a<br />

construtora Norberto O<strong>de</strong>brecht, a Braskem<br />

e a ETH Bioenergia S.A (que possui grupos<br />

japoneses como sócios).<br />

Seu crescimento sempre esteve associado<br />

com obras públicas <strong>de</strong> governos fe<strong>de</strong>rais<br />

e estaduais, com obras <strong>de</strong> estatais (praticamente<br />

todas) e parcerias com gran<strong>de</strong>s empresas<br />

multinacionais como Vale e Suez.<br />

Teve enorme crescimento durante os anos<br />

70, período do governo da ditadura militar.<br />

Também se beneficiou com as privatizações.<br />

Foi responsável, juntamente com a<br />

Eletronorte e Furnas, pela construção das<br />

hidrelétricas <strong>de</strong> Samuel/RO e <strong>de</strong> Manso/MT.<br />

Esta última, causando um <strong>dos</strong> maiores escândalos<br />

políticos, sociais e ambientais.<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 18<br />

16/1/2009, 16:39


Hidrelétricas no Rio Ma<strong>de</strong>ira: energia para quê e para quem? 19<br />

A O<strong>de</strong>brecht faz parte do consórcio que<br />

recebeu a UHE Santo Antônio/RO, mas isso<br />

não quer dizer que ela <strong>de</strong>va ser a empresa<br />

majoritária no controle das ações. É bem<br />

provável que junto a ela estejam as maiores<br />

multinacionais do mundo, entre eles o Banco<br />

Santan<strong>de</strong>r.<br />

Recentemente a O<strong>de</strong>brecht foi expulsa<br />

do Equador <strong>por</strong> acusação <strong>de</strong> corrupção e também<br />

<strong>por</strong> ter feito uma hidrelétrica com erros<br />

na construção, colocando em risco a usina e<br />

a vida <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> pessoas.<br />

COMPANHIA VALE<br />

DO RIO DOCE (CVRD)<br />

Atual VALE<br />

<strong>dos</strong> EUA e Brasil<br />

Segundo a revista Exame, a Vale é o terceiro<br />

maior grupo privado atuando no Brasil,<br />

atuando em 13 esta<strong>dos</strong> brasileiros e em<br />

32 países nos cinco continentes.<br />

Cerca <strong>de</strong> 65% <strong>de</strong> sua produção é enviado<br />

para fora do país. Nos primeiros 6 meses do<br />

ano 2007, seu lucro foi <strong>de</strong> 10,7 bilhões <strong>de</strong> reais.<br />

A maior parte do lucro é enviada para fora<br />

do país na forma <strong>de</strong> remessa <strong>de</strong> lucro.<br />

Até 1997 era uma empresa pública, do<br />

povo brasileiro, mas acabou sendo<br />

privatizada <strong>de</strong> forma fraudulenta. O<br />

Bra<strong>de</strong>sco (através do Bra<strong>de</strong>splan e<br />

Bra<strong>de</strong>spar), a CSN, o Op<strong>por</strong>tunity e vários<br />

grupos estrangeiros são os principais acionistas<br />

da Vale.<br />

A Vale foi privatizada em 1997 <strong>por</strong> 3,3<br />

bilhões <strong>de</strong> reais, quando na verda<strong>de</strong> seu<br />

patrimônio era avaliado na época em 92 bilhões<br />

<strong>de</strong> reais, ou seja, foi entregue <strong>por</strong> um<br />

valor 28 vezes mais baixo do que ela valia.<br />

É a segunda maior empresa <strong>de</strong> minérios<br />

do mundo e a maior produtora <strong>de</strong> minério<br />

<strong>de</strong> ferro do mundo. Detém cerca <strong>de</strong> 240 mil<br />

quilômetros quadra<strong>dos</strong> <strong>de</strong> área para exploração<br />

<strong>de</strong> minério e possui as maiores reservas<br />

<strong>de</strong> níquel do planeta. É gran<strong>de</strong> produtora <strong>de</strong><br />

cobre, carvão, alumínio, potássio, caulim,<br />

manganês, e ferroligas. Possui autorização<br />

<strong>de</strong> exploração <strong>por</strong> tempo in<strong>de</strong>termina<strong>dos</strong> em<br />

23 milhões <strong>de</strong> hectares <strong>de</strong> subsolo (área equivalente<br />

aos territórios <strong>de</strong> Pernambuco,<br />

Alagoas, Sergipe, Paraíba e Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Norte).<br />

É a maior consumidora <strong>de</strong> energia do<br />

Brasil. Em 2005 consumiu, sozinha, 4,4%<br />

<strong>de</strong> toda energia elétrica, cerca <strong>de</strong> 16.900.000<br />

MWh, algo em torno <strong>de</strong> 2.000 MWh médios.<br />

São estes os motivos que estão levando a<br />

empresa a <strong>de</strong>ter sua própria geração <strong>de</strong> energia.<br />

Até o momento, possui participação em<br />

oito usinas hidrelétricas, com potência total<br />

<strong>de</strong> 2.509 MW.<br />

A Vale é dona da empresa <strong>de</strong> alumínio<br />

Albrás, no Pará, e semelhante ao caso da<br />

Alumar, recebeu energia altamente subsidiada<br />

durante 20 anos, ao preço médio <strong>de</strong> 10,50<br />

a 13,00 dólares o megawatt-hora. Em abril<br />

<strong>de</strong> 2004, durante o então presi<strong>de</strong>nte da<br />

Eletronorte e posterior ministro <strong>de</strong> Minas e<br />

Energia, Silas Ron<strong>de</strong>au, o contrato para fornecimento<br />

<strong>de</strong> 800 MWh médios foi renovado<br />

ao preço médio <strong>de</strong> U$ 18,00 <strong>por</strong><br />

megawatt-hora (algo em torno <strong>de</strong> R$ 53,00).<br />

Nos primeiros seis meses <strong>de</strong> 2007 a Vale<br />

teve lucro <strong>de</strong> R$ 10,7 bilhões.<br />

VOTORANTIM<br />

<strong>de</strong> São Paulo, Brasil<br />

O Grupo Votorantin é da família Ermírio<br />

<strong>de</strong> Morais. Atua em vários ramos da indústria<br />

– na geração e distribuição <strong>de</strong> energia,<br />

em fábricas <strong>de</strong> Alumínio, Níquel, Cobre,<br />

Cimento, Ferro-liga, Papel e Celulose,<br />

agroindústria (suco <strong>de</strong> laranja) e química.<br />

Também é dono do Banco Votorantin (9º<br />

maior banco). Na área do cimento é uma das<br />

10 maiores empresas do mundo. No caso da<br />

Votorantim Celulose e Papel (VCP), terceira<br />

maior do Brasil, ex<strong>por</strong>ta cerca <strong>de</strong> 90% e<br />

parte da matéria-prima é proveniente <strong>de</strong> 155<br />

mil hectares <strong>de</strong> eucalipto. Além disso, <strong>de</strong>tém<br />

28% das ações da Aracruz Celulose e<br />

possui socieda<strong>de</strong> com o grupo Suzano.<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 19<br />

16/1/2009, 16:39


20<br />

Na geração <strong>de</strong> energia, a Votorantim é<br />

dona da CPFL Energia S/A, uma holging<br />

responsável pela geração, distribuição e<br />

comercialização <strong>de</strong> energia. A CPFL Energia<br />

possui como acionista majoritário o grupo<br />

VBC Energia S/A (Votorantim com 50%,<br />

Camargo Corrêa e Bra<strong>de</strong>spar), além do<br />

BNDESPar, Previ, Bonaire e recentemente<br />

a IFC-International Finance Cor<strong>por</strong>ation,<br />

membro do Banco Mundial.<br />

Na área geração <strong>de</strong> energia, a Votorantim<br />

possui 31 hidrelétricas com o controle <strong>de</strong><br />

aproximadamente 2.000 MW. Na distribuição,<br />

é dona <strong>de</strong> empresas como a CPFL em<br />

São Paulo e a RGE no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul,<br />

as quais aten<strong>de</strong>m a 5,7 milhões <strong>de</strong> clientes.<br />

Suas indústrias da área <strong>dos</strong> metais (alumínio,<br />

zinco, níquel, aço), da área <strong>de</strong> papel e<br />

celulose, da área do cimento e da área da química<br />

(nitrocelulose, etc) quase todas estão<br />

localizadas nos esta<strong>dos</strong> <strong>de</strong> São Paulo e <strong>de</strong><br />

Minas Gerais. Suas indústrias consomem cerca<br />

<strong>de</strong> 4% <strong>de</strong> toda energia elétrica do Brasil.<br />

AES CORPORATION<br />

<strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong><br />

Empresa criada <strong>por</strong> ex-funcionários fe<strong>de</strong>rais<br />

estaduni<strong>de</strong>nses em 1981. Apesar <strong>de</strong><br />

ser relativamente “nova”, possui enorme histórico<br />

<strong>de</strong> corrupção, inclusive com governos.<br />

Em 1995, já havia se tornado uma cor<strong>por</strong>ação<br />

global, a “The Global Power Company”.<br />

Atualmente gera e distribui energia elétrica<br />

<strong>Movimento</strong> <strong>dos</strong> Atingi<strong>dos</strong> <strong>por</strong> <strong>Barragens</strong> - <strong>MAB</strong><br />

em 27 países, com mais <strong>de</strong> 45.000 megawatts<br />

<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> instalada.<br />

No Brasil, tornou-se dona <strong>de</strong> geração (10<br />

hidrelétricas - 2.650 MW) e <strong>de</strong> distribuição<br />

em SP (Eletropaulo), RJ (parte da Ligth), MG<br />

(parte da Cemig) e RS (AES Sul), através<br />

da privatização. Os recursos para compra<br />

<strong>de</strong>stas das estatais na época, foram do<br />

BNDES através <strong>de</strong> filiais da AES via empresas<br />

instaladas nas ilhas Caiyman, um paraíso<br />

fiscal. Mais tar<strong>de</strong>, a empresa negou a<br />

dívida ao BNDES. A Eltrotropaulo, a Cemig<br />

e a Ligth são as três maiores distribuidoras<br />

<strong>de</strong> energia elétrica do Brasil, respectivamente.<br />

A primeira, inclusive, é a maior distribuidora<br />

da América Latina.<br />

4.3 Os Bancos também<br />

estão envolvi<strong>dos</strong><br />

O Brasil é o país que permite que os bancos<br />

usufruam das taxas <strong>de</strong> juro mais altas do<br />

mundo, fazendo da área financeira a mais rentável.<br />

Os bancos li<strong>de</strong>ram a lista <strong>dos</strong> mais rentáveis.<br />

Em 2007, 21 instituições tiveram um lucro<br />

<strong>de</strong> R$ 28,7 bilhões.<br />

É este setor que <strong>de</strong> fato manda nos governos<br />

através da política econômica e ao mesmo<br />

tempo com todo este dinheiro os bancos <strong>de</strong> capital<br />

privado geralmente acabam tornando-se<br />

proprietários das multinacionais.<br />

No caso das barragens, os bancos priva<strong>dos</strong><br />

têm interesse <strong>de</strong> ter parte na proprieda<strong>de</strong> das<br />

obras e geralmente são <strong>por</strong>que a energia elétrica,<br />

após os bancos, é o setor <strong>de</strong> maior rentabilida<strong>de</strong><br />

para as empresas. Tanto nas obras do Rio<br />

Ma<strong>de</strong>ira, quanto no conjunto do setor elétrico<br />

os principais bancos interessa<strong>dos</strong> em financiar<br />

ou até mesmo tornar-se proprietários são:<br />

SANTANDER<br />

da Espanha<br />

É o nono maior banco do mundo e o<br />

maior na zona do Euro e com gran<strong>de</strong> presença<br />

na América Latina. Possui mais <strong>de</strong> 66<br />

milhões <strong>de</strong> clientes e atua em mais <strong>de</strong> 40<br />

países. No Brasil entrou em 1997 e adquiriu<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 20<br />

16/1/2009, 16:39


Hidrelétricas no Rio Ma<strong>de</strong>ira: energia para quê e para quem? 21<br />

seis gran<strong>de</strong>s bancos, entre eles o Banespa.<br />

Hoje, é consi<strong>de</strong>rado o segundo maior banco<br />

privado atuando no Brasil, per<strong>de</strong>ndo apenas<br />

ao Bra<strong>de</strong>sco.<br />

Recentemente, o Banco Santan<strong>de</strong>r, adotou<br />

a estratégia <strong>de</strong> fazer parte <strong>dos</strong> consórcios<br />

em hidrelétricas no Brasil. Na UHE Santo<br />

Antônio formou um fundo e adquiriu 20%<br />

do consórcio vencedor.<br />

BANCO BRADESCO<br />

do Brasil<br />

É o maior banco privado do Brasil, com<br />

35 milhões <strong>de</strong> clientes. Em 2007, teve lucro<br />

<strong>de</strong> R$ 8 bilhões. Possui como presi<strong>de</strong>nte do<br />

banco Marcio Cypriano e como presi<strong>de</strong>nte<br />

do conselho e presi<strong>de</strong>nte da Fundação<br />

Bra<strong>de</strong>sco, Lázaro <strong>de</strong> Mello Brandão.<br />

O controle do Banco pertence a Cia. Cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Deus (47%) e a Fundação Bra<strong>de</strong>sco (17%).<br />

A Cia Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus é uma holding e seu capital<br />

pertence a Cia. Nova Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus<br />

(42%), Fundação Bra<strong>de</strong>sco (32%) e Família<br />

Aguiar (25%). Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, também é o<br />

nome do complexo, no município <strong>de</strong> Osasco/<br />

SP, on<strong>de</strong> funciona a matriz do Bra<strong>de</strong>sco.<br />

O Bra<strong>de</strong>sco é um <strong>dos</strong> principais controladores<br />

da Companhia Vale do Rio Doce e<br />

está sendo acusado <strong>de</strong> ter fraudado o leilão<br />

<strong>de</strong> privatização da Vale. Além disso, adquiriu<br />

vários bancos estaduais através das privatizações.<br />

O Banco Bra<strong>de</strong>sco é sócio <strong>de</strong> várias<br />

barragens no Brasil através <strong>de</strong> uma parceria<br />

em um grupo chamado VBC Energia S/A.<br />

Banco Mundial (BM) e o<br />

Banco Interamericano <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento (BID)<br />

São dois bancos foram cria<strong>dos</strong> com a priorida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> financiar os países chama<strong>dos</strong> sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>dos</strong><br />

ou em <strong>de</strong>senvolvimento. Porém,<br />

quem mais manda nestes bancos é os<br />

Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> e é evi<strong>de</strong>nte que coloca pressão<br />

a favor das multinacionais estaduni<strong>de</strong>nses.<br />

Estes bancos, quando financiam um projeto,<br />

ao mesmo tempo indicam quais multinacionais<br />

<strong>de</strong>vem passar a ganhar o direito sobre<br />

a obra financiada. Ou seja, emprestam, mas ao<br />

mesmo tempo impõe o que eles querem.<br />

No caso do BID, ele foi criado com objetivo<br />

<strong>de</strong> financiar e promover o avanço das<br />

multinacionais <strong>de</strong>ntro da América Latina e<br />

Caribe. É um <strong>dos</strong> maiores bancos regional e<br />

mais antigo. Foi criado logo após a segunda<br />

guerra mundial. Apesar <strong>de</strong> ser um banco formado<br />

<strong>por</strong> vários governos, sempre foi controlado<br />

<strong>por</strong> seu maior acionista, que é os Esta<strong>dos</strong><br />

Uni<strong>dos</strong>.<br />

Para se ter uma idéia, o BID financiou a<br />

barragem <strong>de</strong> Cana Brava em Goiás, <strong>por</strong>ém<br />

ele exigiu que não se gastasse mais <strong>de</strong> R$<br />

5.400,00 <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização <strong>por</strong> família. O resultado<br />

foi que gran<strong>de</strong> parte das famílias está<br />

lutando até hoje para tentar recuperar os direitos<br />

que foram nega<strong>dos</strong>.<br />

BNDES (Banco Nacional<br />

<strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Econômico e Social)<br />

É um banco público, do povo brasileiro,<br />

controlado pelo Governo Fe<strong>de</strong>ral. Quase a<br />

totalida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> recursos utiliza<strong>dos</strong> pelo banco<br />

é do Fundo <strong>de</strong> Amparo ao Trabalhador (FAT)<br />

e do PIS-PASEP. Nos últimos anos passou a<br />

priorizar o financiamento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s empresas<br />

e mega projetos. Nos primeiros três anos<br />

do governo Lula, o BNDES <strong>de</strong>sembolsou R$<br />

122 bilhões. O BNDES é o controlador do<br />

BNDES Participações S/A, conhecido como<br />

BNDESPar. O BNDES empresta dinheiro ou<br />

em muitos casos participa do capital <strong>de</strong>las<br />

como é o caso da AES – “Brasiliana”<br />

(53,85%), Klabin (20,56%), Tractebel (5,6%),<br />

etc. Também o banco recebe dinheiro <strong>de</strong> outros<br />

bancos internacionais, como BIB, BM,<br />

bancos estatais europeus, japonês e<br />

estaduni<strong>de</strong>nse, recursos que em 2004 somaram<br />

R$ 10 bilhões e fazem parte <strong>de</strong> acor<strong>dos</strong><br />

em que estes bancos estrangeiros apóiam investimentos<br />

<strong>de</strong> seu interesse aqui no Brasil.<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 21<br />

16/1/2009, 16:39


22<br />

Nos últimos anos o BNDES tirou como<br />

priorida<strong>de</strong> o financiamento <strong>de</strong> hidrelétricas,<br />

aero<strong>por</strong>tos, gasodutos, indústrias <strong>de</strong> celulose,<br />

<strong>de</strong> álcool, principalmente as obras do plano<br />

IIRSA. O BNDES está autorizado a financiar<br />

75% do investimento total das obras do<br />

Rio Ma<strong>de</strong>ira, no entanto em alguns itens o<br />

percentual po<strong>de</strong> chegar até 85%, com prazo<br />

<strong>de</strong> 20 anos para pagamento do empréstimo.<br />

Recentemente (abril <strong>de</strong> 2008) o BNDES<br />

autorizou o maior empréstimo <strong>de</strong> sua história.<br />

São R$ 7,3 bilhões <strong>de</strong>stina<strong>dos</strong> à companhia<br />

VALE. Deste total, 80% in<strong>de</strong>xa<strong>dos</strong> em<br />

dólar e 20% em TJLP, com 10 anos para pagar.<br />

A VALE afirmou que 80% do dinheiro<br />

será investi<strong>dos</strong> em projetos para ex<strong>por</strong>tações.<br />

Mas muitos po<strong>de</strong>m se perguntar: <strong>por</strong> que<br />

um banco público financia 75% <strong>dos</strong> custos<br />

<strong>de</strong> projetos que somente beneficia as multinacionais?<br />

É simples: atualmente quem manda<br />

no BNDES é o governo brasileiro, mas<br />

quem manda no governo são os bancos priva<strong>dos</strong><br />

e as multinacionais. E <strong>por</strong> isso fazem<br />

o governo financiar obras <strong>de</strong>sse tipo. Além<br />

disso, as multinacionais financiam as campanhas<br />

eleitorais da maioria <strong>dos</strong> políticos<br />

(presi<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong>puta<strong>dos</strong>, senadores, governadores,<br />

prefeitos), que acabam ficando <strong>de</strong><br />

“rabo preso”. Em troca, as multinacionais<br />

indicam as pessoas mais im<strong>por</strong>tantes para<br />

lidar com a política econômica, ou seja, para<br />

lidar com o dinheiro arrecadado do povo.<br />

4.4 Grupos interessa<strong>dos</strong> em<br />

fornecer máquinas e<br />

equipamentos<br />

A Alstom (Francesa) atua em mais <strong>de</strong> 70<br />

países com faturamento superior a 14 bilhões <strong>de</strong><br />

euros. No Brasil, a Alstom Brasil tem como presi<strong>de</strong>nte<br />

o mineiro Aluísio Vasconcelos, que já foi<br />

presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Furnas e <strong>de</strong>pois da Eletrobrás durante<br />

o primeiro mandato do Governo Lula. Foi<br />

neste período, através <strong>de</strong> Furnas, que a idéia das<br />

hidrelétricas no Rio Ma<strong>de</strong>ira chegaram ao Ministério<br />

<strong>de</strong> Minas e Energia. Sem parecer estranho,<br />

<strong>Movimento</strong> <strong>dos</strong> Atingi<strong>dos</strong> <strong>por</strong> <strong>Barragens</strong> - <strong>MAB</strong><br />

um dia após o leilão da UHE Santo Antônio, foi<br />

anunciado que a Alstom é sócia da usina e possui<br />

garantias <strong>de</strong> fornecimento <strong>de</strong>, no mínimo, 22 turbinas.<br />

No entanto, com mesma gran<strong>de</strong>za e im<strong>por</strong>tância,<br />

po<strong>de</strong>ríamos citar a Voith-Siemens (Alemanha),<br />

a General Electric (Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>) a qual<br />

iniciou sua atuação no Brasil na década <strong>de</strong> 20 através<br />

da AMFORB, a VA Tech, entre outras.<br />

4.5 Grupos interessa<strong>dos</strong> na<br />

construção civil<br />

As principais empresas da construção civil<br />

interessadas nas obras atuam em várias regiões<br />

do Brasil e são brasileiras. Geralmente acabam<br />

programando o início da construção <strong>de</strong> uma obra<br />

com o término <strong>de</strong> outra, motivo pelo qual gran<strong>de</strong><br />

parte <strong>dos</strong> empregos gera<strong>dos</strong> acabam sendo ocupa<strong>dos</strong><br />

<strong>por</strong> trabalhadores <strong>de</strong> outras regiões. Ou<br />

seja, ocorre apenas uma transferência <strong>de</strong> trabalhadores<br />

<strong>de</strong> uma barragem já finalizada para outra<br />

que está iniciando.<br />

As maiores empresas que atuam na construção<br />

<strong>de</strong> hidrelétricas é a Construtora Norberto<br />

O<strong>de</strong>brecht, a Camargo Correa, Andra<strong>de</strong><br />

Gutierrez, Queiroz Galvão, Alusa e a Cchahin,<br />

sendo as duas primeiras as principais.<br />

4.6. Grupos interessa<strong>dos</strong> em<br />

ex<strong>por</strong>tar soja, álcool e<br />

ma<strong>de</strong>ira (agronegócio)<br />

A construção das obras no Rio Ma<strong>de</strong>ira<br />

interessa também ao agro-negócio, gran<strong>de</strong>s<br />

empresas que estão <strong>de</strong>struindo a floresta amazônica<br />

para produzir soja, eucalipto e cana em<br />

terras da Amazônia.<br />

O avanço do plantio da soja, <strong>por</strong> exemplo,<br />

na região amazônica traz várias conseqüências:<br />

a) Destruição da floresta e poluição <strong>dos</strong> rios; b)<br />

Desemprego – os pequenos agricultores estão<br />

sendo expulsos pelos plantadores <strong>de</strong> soja e estão<br />

se obrigando a migrar para as periferias das cida<strong>de</strong>s;<br />

c) Toda soja é para aten<strong>de</strong>r os interesses <strong>dos</strong><br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 22<br />

16/1/2009, 16:39


Hidrelétricas no Rio Ma<strong>de</strong>ira: energia para quê e para quem? 23<br />

países ricos, principalmente os Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>,<br />

a Europa e a China.<br />

Os principais interessa<strong>dos</strong> nas obras seriam<br />

os plantadores <strong>de</strong> soja, principalmente o atual<br />

Governador do Mato Grosso, Blairo Maggi,<br />

maior produtor <strong>de</strong> soja do Brasil. Com as<br />

hidrovias estes latifundiários teriam uma redução<br />

<strong>de</strong> custo no frete <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 60 reais <strong>por</strong><br />

tonelada <strong>de</strong> soja.<br />

Soja cobre floresta amazônica no Mato Grosso<br />

Fonte: Umbelino<br />

A própria O<strong>de</strong>brecht tem gran<strong>de</strong> interesse<br />

na região, pois em sua estratégia para os próximos<br />

10 anos, preten<strong>de</strong> tornar-se lí<strong>de</strong>r no ramo do<br />

álcool e do açúcar, na produção, logística e<br />

comercialização através da ETH Bioenergia, braço<br />

<strong>de</strong> agroenergia da O<strong>de</strong>brecht, que preten<strong>de</strong><br />

investir 5 bilhões <strong>de</strong> reais nos próximos 8 anos.<br />

4.7 Grupos interessa<strong>dos</strong> na<br />

corrupção, em especial<br />

eleitoral<br />

A corrupção, tanto <strong>de</strong> governos, parlamentares,<br />

funcionários do Estado ou até mesmo <strong>de</strong><br />

empresários intermediários, é parte predominante<br />

<strong>dos</strong> mecanismos das multinacionais, para conseguir<br />

seus objetivos. As multinacionais corrompem<br />

e subornam <strong>de</strong> muitas formas: mediante subornos<br />

diretos a responsáveis políticos; dando<br />

posições na empresa a funcionários, a familiares<br />

e a amigos ou conheci<strong>dos</strong>; viagens pagas, socieda<strong>de</strong>s;<br />

convites para universida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prestígio e<br />

bolsas <strong>de</strong> <strong>estudo</strong> para os filhos, etc.<br />

No caso da corrupção eleitoral, a maior<br />

parte <strong>dos</strong> parti<strong>dos</strong> políticos apóiam seus projetos<br />

<strong>por</strong>que são as mesmas empresas que financiam<br />

suas campanhas eleitorais. Recebem dinheiro<br />

para campanhas e com esse dinheiro conseguem<br />

eleger-se, em compensação, ficam <strong>de</strong> rabo preso<br />

com as mesmas empresas, necessitando aten<strong>de</strong>r<br />

aos seus interesses.<br />

O<br />

objetivo das empresas é um só: o lucro.<br />

Quando vem se instalar em uma região<br />

querem extrair muito lucro. Para isso, precisam<br />

apropriar-se das riquezas naturais mais estratégicas<br />

e explorar o povo.<br />

Para garantir este lucro, em taxas mais altas<br />

possíveis, no menor tempo possível, com o<br />

menor risco e <strong>por</strong> muitos anos, as empresas elaboram<br />

uma estratégia <strong>de</strong> dominação sobre toda<br />

região (ou território) em que vão instalar seus<br />

planos. A estratégia adotada pelas empresas geralmente<br />

é a mesma. Tentam escon<strong>de</strong>r que a riqueza<br />

<strong>dos</strong> empresários vem da exploração sobre<br />

o povo e sobre a natureza.<br />

As empresas e os governos não entram em<br />

<strong>de</strong>bate se <strong>de</strong>ve ou não ser construída a hidrelétrica<br />

ou para que e para quem será <strong>de</strong>stinada a energia.<br />

Toda estratégia é colocada para que a população<br />

que habita nesta região “DIGA SIM” da<br />

forma mais obediente possível.<br />

Antes <strong>de</strong> iniciar as obras fazem muita propaganda<br />

e promessas <strong>de</strong> “coisas boas” que a obra<br />

po<strong>de</strong> trazer para região. Utilizam diferentes formas<br />

e práticas: TV, rádios, jornais, informativos,<br />

<strong>estudo</strong>s técnicos, governos, seminários, reuniões,<br />

uso do sistema S (Sebrae, Senai,...), universida<strong>de</strong>s,<br />

pesquisadores, escolas, empresas e falsas<br />

organizações, etc, para convencer e fazer com que<br />

a população aceite, apóie e até <strong>de</strong>fenda seus projetos<br />

<strong>de</strong> exploração. Isso tem feito muita gente<br />

ficar do lado das empresas sem sequer saber o<br />

que está em jogo.<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 23<br />

16/1/2009, 16:39


24<br />

Os chama<strong>dos</strong> “donos da energia” querem e<br />

usam o Estado e os governos (fe<strong>de</strong>ral, estaduais<br />

e municipais) para servir aos seus interesses: garantir<br />

o máximo <strong>de</strong> lucro para suas empresas e ao<br />

mesmo tempo ajudar a <strong>de</strong>sorganizar e controlar<br />

o povo.<br />

A retirada das famílias e remoção das comunida<strong>de</strong>s<br />

pelas empresas, tudo é feito para gastar<br />

o mínimo possível, pois menos custo significa<br />

mais lucro para as empresas. Inclusive a situação<br />

<strong>dos</strong> trabalhadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro das obras é <strong>de</strong><br />

super-exploração.<br />

As pessoas e entida<strong>de</strong>s que, num primeiro<br />

momento, são envolvidas no processo <strong>de</strong><br />

legitimação <strong>de</strong> obra, <strong>de</strong>pois são abandonadas pelas<br />

empresas. Em diversos lugares do Brasil as<br />

situações são as mesmas, <strong>de</strong>pois que a barragem<br />

já está instalada e gerando energia, as empresas<br />

se retiram da região, encerram contratos e convênios,<br />

enganando o povo e as entida<strong>de</strong>s. A seguir<br />

apresentaremos alguns exemplos que ocorrem<br />

com freqüência em regiões <strong>de</strong> construção <strong>de</strong><br />

hidrelétricas:<br />

a) Em primeiro lugar, os verda<strong>de</strong>iros interessa<strong>dos</strong><br />

geralmente nunca aparecem com<br />

seus verda<strong>de</strong>iros nomes na região. Tudo isso<br />

é para evitar que a população saiba que essas<br />

empresas em sua gran<strong>de</strong> maioria são empresas<br />

estrangeiras. No entanto, criam e utilizam<br />

nomes como se fossem da região, como<br />

se fosse máscaras, geralmente para passar a<br />

impressão que é empresa da região, isso confun<strong>de</strong><br />

muita gente.<br />

b) Fazem um discurso <strong>de</strong> duplo caráter: ou<br />

cheio <strong>de</strong> promessas ou <strong>de</strong> ameaças. No caso<br />

das promessas geralmente são muito otimistas<br />

- como se estivessem preocupa<strong>dos</strong> com a<br />

população da região - promessas direcionadas<br />

para o povo da região, para fazer com que<br />

esta população fique do lado <strong>de</strong>les e com isso<br />

eles possam tomar e dominar aquilo que querem<br />

(o Rio Ma<strong>de</strong>ira; a Energia, a água, os<br />

minérios e o dinheiro público, etc). Já o discurso<br />

<strong>de</strong> ameaças serve para ameaçar aquela<br />

população, fazendo ela adquirir um sentimento<br />

<strong>de</strong> culpa se caso ela questionar as obras.<br />

Vejamos abaixo algumas formas <strong>de</strong> promessas<br />

e ou <strong>de</strong> ameaças:<br />

<strong>Movimento</strong> <strong>dos</strong> Atingi<strong>dos</strong> <strong>por</strong> <strong>Barragens</strong> - <strong>MAB</strong><br />

• Dizem que haverá “geração <strong>de</strong> empregos”,<br />

e quem não concorda é <strong>por</strong>que não quer<br />

gerar empregos.<br />

• Dizem que farão “aproveitamento da mão<br />

<strong>de</strong> obra <strong>de</strong> Rondônia”. Para iludir o povo,<br />

<strong>de</strong>senvolvem cursos <strong>de</strong> “qualificação técnica”,<br />

criando uma falsa esperança na cabeça<br />

do povo da região.<br />

• Dizem que quem não concorda com isso<br />

são aqueles que “retardam o progresso e o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da capital e do país”.<br />

• Dizem que a barragens vai ajudar a diminuir<br />

o preço da energia para o povo;<br />

• Fazem ameaças à população, que caso as<br />

hidrelétricas não forem construídas faltará<br />

energia para população;<br />

• Dizem que as barragens é uma energia<br />

mais limpa e vai ajudar para preservação<br />

do meio ambiente, etc.<br />

c) Financiam pequenos projetinhos para comunida<strong>de</strong>s<br />

e bairros. É uma forma <strong>de</strong> passar<br />

um mel na boca, para evitar que as famílias<br />

fiquem contra seus interesses. Tem um ditado<br />

que diz: “primeiro mandam balas <strong>de</strong> mel, para<br />

<strong>de</strong>pois mandar balas <strong>de</strong> chumbo”.<br />

d) Financiam campanhas <strong>de</strong> Governadores,<br />

<strong>de</strong>puta<strong>dos</strong>, prefeitos e vereadores para <strong>de</strong>ixálos<br />

<strong>de</strong> ‘rabo preso’.<br />

e) Financiam reformas do judiciário: reforma<br />

<strong>de</strong> prédios do fórum, <strong>de</strong>legacias, para fazer<br />

com que o judiciário fique também <strong>de</strong><br />

rabo preso e na hora <strong>de</strong> ter que tomar <strong>de</strong>cisões<br />

im<strong>por</strong>tantes sejam tomadas contra o<br />

povo e a favor <strong>dos</strong> interesses <strong>de</strong>les. Também<br />

para <strong>de</strong>pois po<strong>de</strong>rem utilizar a polícia para<br />

reprimir a população.<br />

f) Compram os meios <strong>de</strong> comunicação, fazendo<br />

com que os jornais, rádios e TVs divulguem<br />

somente aquilo que é <strong>de</strong> interesse<br />

<strong>de</strong>stas empresas, escon<strong>de</strong>m verda<strong>de</strong>s, manipulam<br />

a população, divulgam informações<br />

distorcidas, etc.<br />

g) Criam falsas organizações, como associações,<br />

comissões, comitês, fóruns, etc - que<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 24<br />

16/1/2009, 16:39


Hidrelétricas no Rio Ma<strong>de</strong>ira: energia para quê e para quem? 25<br />

se dizem que representam os interesses do<br />

povo, mas na verda<strong>de</strong> são financiadas pelas<br />

empresas para fazer trabalho sujo, para acalmar<br />

o povo, para dividir o povo ou para <strong>de</strong>sviar<br />

a atenção das famílias para assuntos<br />

menos im<strong>por</strong>tantes. É muito comum fazerem<br />

pequenos projetinhos, uns ali, outros lá, para<br />

conquistarem o apoio das famílias e fazer com<br />

que elas passem a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r as empresas e fazer<br />

muita propaganda nas vizinhanças, para<br />

iludir as <strong>de</strong>mais famílias <strong>de</strong> que a vez <strong>de</strong>las<br />

também vai chegar. Quando na verda<strong>de</strong> logo<br />

ali a frente, to<strong>dos</strong> se darão conta que foi uma<br />

gran<strong>de</strong> armadilha para dominá-los.<br />

l) Procuram não gastar com os problemas<br />

sociais e ambientais causa<strong>dos</strong> pelas obras.<br />

Mas quando não conseguem fazer isso, procuram<br />

gastar o mínimo possível para sobrar<br />

o máximo <strong>de</strong> lucro. Portanto, quem acaba per<strong>de</strong>ndo<br />

é a população, principalmente os atingi<strong>dos</strong><br />

pelo lago, <strong>por</strong>que acabam ficando sem<br />

os direitos e com uma vida pior do que estavam<br />

lá na barranca do rio – estas famílias<br />

quando saem, na gran<strong>de</strong> maioria acaba ficando<br />

sem terra, sem água e sem rio, sem trabalho<br />

e mais tar<strong>de</strong> sem casa para morar – obrigando-se<br />

a morar nos lugares mais pobre das<br />

cida<strong>de</strong>s. Veja as fotos das conseqüências<br />

ambientais e sociais:<br />

h) Buscam comprar lí<strong>de</strong>res comunitários, presi<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>de</strong> associações, <strong>de</strong> sindicatos, <strong>de</strong> cooperativas,<br />

nas mais diferentes formas: dando<br />

dinheiro, dando estrutura, financiando pequenos<br />

projetos, convidando em eventos,<br />

para fazê-los não só ficar <strong>de</strong> rabo preso como<br />

fazer com que saiam discursando em favor<br />

das empresas.<br />

i) Compram estudiosos, muitos professores,<br />

setores das universida<strong>de</strong>s, através <strong>de</strong> projetos<br />

financia<strong>dos</strong> em forma <strong>de</strong> ‘parcerias’. Na<br />

verda<strong>de</strong> é uma forma <strong>de</strong> fazer estas pessoas<br />

trabalhar a serviço <strong>dos</strong> interesses <strong>de</strong>stas multinacionais.<br />

Tem um ditado que diz: “Quem<br />

paga a banda, escolhe a música”, e neste<br />

caso como as empresas é que financiam estas<br />

pessoas, elas dizem o que elas <strong>de</strong>vem dizer<br />

e o que não po<strong>de</strong>m dizer.<br />

Hidrelétrica <strong>de</strong> Tucuruí – Pará<br />

j) Fazem cursos <strong>de</strong> “qualificação técnica”<br />

para ganhar a simpatia da população e passar<br />

para socieda<strong>de</strong> uma visão <strong>de</strong> que haverá emprego<br />

em abundância, que eles estão interessa<strong>dos</strong><br />

em resolver os problemas do povo, que<br />

querem ajudar os mais necessita<strong>dos</strong>, etc. Mas<br />

na verda<strong>de</strong> é uma gran<strong>de</strong> armadilha, que a<br />

população <strong>de</strong>ve ter muito cuidado para não<br />

cair nela, <strong>por</strong>que eles possuem um único interesse<br />

na região: ter muito lucro e levar este<br />

lucro para a empresa em seu país <strong>de</strong> origem.<br />

Hidrelétrica <strong>de</strong> Samuel, Rio Jamari, Rondônia<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 25<br />

16/1/2009, 16:39


26<br />

<strong>Movimento</strong> <strong>dos</strong> Atingi<strong>dos</strong> <strong>por</strong> <strong>Barragens</strong> - <strong>MAB</strong><br />

Q<br />

Quando uma barragem está para ser<br />

construída, geralmente as populações<br />

que serão atingidas são as últimas a saber<br />

o que, <strong>de</strong> fato, vai acontecer com a vida<br />

<strong>de</strong>las. Estamos tratando <strong>de</strong> algo que vai modificar<br />

toda a história construída pelos seus antepassa<strong>dos</strong>,<br />

vai modificar a vida atual e a <strong>de</strong> seus<br />

filhos, netos,... Não <strong>de</strong>vemos entregar nossas<br />

vidas, para outras pessoas <strong>de</strong>cidirem o que fazer<br />

com ela. E, se ficarmos em casa, esperando<br />

pelos outros, é quase certo que nos daremos<br />

muito mal. A única maneira <strong>de</strong> sermos<br />

ouvi<strong>dos</strong> e respeita<strong>dos</strong> é nos organizando. O<br />

<strong>MAB</strong> é o <strong>Movimento</strong> <strong>dos</strong> Atingi<strong>dos</strong> <strong>por</strong> <strong>Barragens</strong><br />

que visa reunir to<strong>dos</strong> os atingi<strong>dos</strong>.<br />

O que é <strong>MAB</strong>?<br />

É o <strong>Movimento</strong> <strong>dos</strong> Atingi<strong>dos</strong> <strong>por</strong> <strong>Barragens</strong><br />

- somos nós: atingi<strong>dos</strong> e ameaça<strong>dos</strong> pela<br />

construção <strong>de</strong> barragens e também aquelas pessoas<br />

interessadas em fazer parte <strong>de</strong> nossa luta<br />

O <strong>MAB</strong> é a nossa organização. Cada um<br />

<strong>de</strong> nós <strong>de</strong>ve se sentir responsável e se sentir<br />

<strong>MAB</strong>. O <strong>Movimento</strong> <strong>dos</strong> Atingi<strong>dos</strong> <strong>por</strong> <strong>Barragens</strong><br />

é nossa voz e nossa ferramenta <strong>de</strong> luta.<br />

Serve para avançar cada vez mais em nossa<br />

união, pois somente uni<strong>dos</strong> teremos chances<br />

<strong>de</strong> obter vitórias.<br />

Então <strong>de</strong>vemos organizar o <strong>MAB</strong> em todas<br />

as comunida<strong>de</strong>s e locais que serão ou já<br />

foram atingidas pôr barragens<br />

To<strong>dos</strong> têm o direito <strong>de</strong> entrar para participar<br />

do movimento in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> cor,<br />

sexo, religião, partido político, ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida,<br />

etc... Mas, somente aqueles que<br />

vivenciam e praticam os princípios e valores<br />

do <strong>MAB</strong> permanecerão no movimento.<br />

O <strong>MAB</strong> é um movimento nacional. Em<br />

muitos lugares o povo tem vencido gran<strong>de</strong>s<br />

empresas nacionais e internacionais e impedido<br />

a construção das barragens. Em outros<br />

lugares, o povo não conseguiu impedir a obra,<br />

mas garantiu através <strong>de</strong> muita luta seus direitos.<br />

Hoje, estamos organiza<strong>dos</strong> ou começando<br />

nossa organização em 14 Esta<strong>dos</strong> do<br />

Brasil.<br />

Pelo que lutamos?<br />

Lutamos para combater as barragens<br />

e para que a energia esteja a serviço<br />

do povo brasileiro;<br />

Lutamos pelos nossos direitos (terra,<br />

água, moradia, luz, educação, saú<strong>de</strong>...)<br />

para todas as famílias que fazem parte<br />

<strong>de</strong> nossa organização;<br />

Mas nossa luta é bem maior, lutamos<br />

para mudar essa socieda<strong>de</strong> que privilegia<br />

uns poucos as custas <strong>de</strong> todo povo<br />

trabalhador. Lutamos para que to<strong>dos</strong><br />

os pobres e oprimi<strong>dos</strong> possam viver bem<br />

e <strong>de</strong> uma forma digna. Nossa luta é para<br />

transformar essa socieda<strong>de</strong> é <strong>por</strong> isso<br />

que nossa luta se junta com outras organizações<br />

com mesmos objetivos.<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 26<br />

16/1/2009, 16:39


Hidrelétricas no Rio Ma<strong>de</strong>ira: energia para quê e para quem? 27<br />

Por que <strong>de</strong>vemos<br />

nos organizar?<br />

“Não existe conquistas sem sacrifício”<br />

A participação <strong>de</strong>sorganizada geralmente<br />

faz com que o povo seja utilizado como “massa<br />

<strong>de</strong> manobra” e o resultado <strong>de</strong>sta participação geralmente<br />

não é bom para o povo. Um time <strong>de</strong><br />

futebol, on<strong>de</strong> os 11 jogadores participam<br />

<strong>de</strong>sorganizadamente na partida(cada um faz o<br />

que quer), geralmente acaba com vitória do adversário.<br />

Se a população <strong>de</strong>seja impedir a construção<br />

<strong>de</strong> uma barragem tem <strong>de</strong> se organizar para<br />

vencer esta disputa.<br />

A organização do <strong>MAB</strong> serve para reunir<br />

(juntar os oprimi<strong>dos</strong>); para esclarecer (clarear a<br />

mente); para <strong>de</strong>spertar (alertar as pessoas); para<br />

organizar (em grupos <strong>de</strong> famílias); e para lutar e<br />

através da nossa força exigir o que queremos.<br />

Nossa organização <strong>de</strong>ve começar nas comunida<strong>de</strong>s<br />

on<strong>de</strong> moramos. Devemos pensar<br />

como vamos fazer no nosso município, para juntar<br />

todas as comunida<strong>de</strong>s na mesma organização.<br />

E ainda mais, como fazer esta organização<br />

para juntar o povo <strong>de</strong> diferentes municípios e<br />

esta<strong>dos</strong>. Todas são im<strong>por</strong>tantes na nossa organização,<br />

mas o fundamental é ter uma boa organização<br />

das famílias. Em várias regiões do Brasil<br />

o <strong>MAB</strong> tem experimentado uma forma <strong>de</strong> organização<br />

das famílias que tem dado muito certo:<br />

É a Organização <strong>dos</strong> Grupos <strong>de</strong> Base.<br />

On<strong>de</strong> <strong>de</strong>vemos<br />

organizar o <strong>MAB</strong>?<br />

Qualquer companheiro ou companheira<br />

po<strong>de</strong> começar o trabalho <strong>de</strong> organização do<br />

<strong>MAB</strong>. Mas antes <strong>de</strong> tudo precisa conhecer o<br />

que é o <strong>MAB</strong>.<br />

O primeiro passo é conversar com os vizinhos<br />

e amigos da comunida<strong>de</strong> que estão na mesma<br />

situação. É im<strong>por</strong>tante saber que isto não é<br />

um trabalho rápido e nem fácil, mas um segundo<br />

passo im<strong>por</strong>tante é reunir as famílias para conhecer<br />

melhor o que é o <strong>MAB</strong> e aí tomar a <strong>de</strong>cisão<br />

<strong>de</strong> entrar no movimento.<br />

Como nos Organizamos?<br />

Todas as famílias do <strong>MAB</strong> em cada região<br />

<strong>de</strong>vem estar organizadas nos grupos <strong>de</strong><br />

base, é o que dá força e vida ao movimento,<br />

além <strong>dos</strong> grupos também <strong>de</strong>ve haver as coor<strong>de</strong>nações<br />

a nível local, estadual e nacional.<br />

O que é Grupo <strong>de</strong> Base?<br />

O Grupo <strong>de</strong> Base é a parte essencial do<br />

<strong>Movimento</strong>; é seu alicerce, sua força e o seu<br />

povo organizado. É a <strong>por</strong>ta <strong>de</strong> entrada que<br />

acolhe e escolhe as pessoas que servem para<br />

o movimento. O Grupo <strong>de</strong> Base reúne as famílias,<br />

<strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada comunida<strong>de</strong> ou<br />

bairro, que já se comprometeram com o <strong>Movimento</strong>.<br />

Uma comunida<strong>de</strong> ou bairro, quando muito<br />

gran<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong>m ter vários Grupos <strong>de</strong> Base.<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 27<br />

16/1/2009, 16:39


28<br />

<strong>Movimento</strong> <strong>dos</strong> Atingi<strong>dos</strong> <strong>por</strong> <strong>Barragens</strong> - <strong>MAB</strong><br />

Um Grupo <strong>de</strong> Base nunca po<strong>de</strong> ser um<br />

clube <strong>de</strong> amigos, um comitê eleitoral, uma associação<br />

ou um grupo <strong>de</strong> uma igreja. Ao contrário,<br />

o Grupo <strong>de</strong> Base é a afirmação do po<strong>de</strong>r<br />

popular que não precisa <strong>de</strong> favores, nem<br />

<strong>de</strong> “salvadores”. O tamanho do grupo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

do tanto <strong>de</strong> famílias que possam ser acompanhadas,<br />

com atenção. Geralmente um grupo é<br />

formado <strong>por</strong> 10 a 15 famílias.<br />

Quem participa do <strong>MAB</strong>?<br />

Participam <strong>dos</strong> Grupos <strong>de</strong> Base todas as famílias<br />

ameaçadas ou atingidas direta e indiretamente<br />

pôr barragens. Na prática isso significa organizar<br />

to<strong>dos</strong> aqueles que moram nas comunida<strong>de</strong>s<br />

atingidas e estão dispostos a lutar. Também<br />

<strong>de</strong>vem participar <strong>dos</strong> grupos, as famílias que possuem<br />

terras na comunida<strong>de</strong> ou que <strong>de</strong> alguma<br />

forma <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong>las.<br />

Muito im<strong>por</strong>tante também é a participação<br />

daquelas famílias que não possuem terras próprias,<br />

mas <strong>de</strong>penda economicamente da comunida<strong>de</strong><br />

atingida para viver ou do próprio rio, ou seja,<br />

os arrendatários, os posseiros, os pescadores, os<br />

meeiros, os parceiros, os agrega<strong>dos</strong>, os trabalhadores<br />

rurais sem-terra, entre outros.<br />

Objetivos <strong>dos</strong><br />

Grupos <strong>de</strong> Base<br />

Os grupos <strong>de</strong> base são um espaço <strong>de</strong> discussão,<br />

<strong>de</strong> avaliação <strong>dos</strong> trabalhos, <strong>de</strong> intervenção<br />

e <strong>de</strong> propostas para avançar em nossas conquistas.<br />

Cada grupo <strong>de</strong>ve se reunir periodicamente<br />

ou sempre que houver necessida<strong>de</strong>, pois<br />

os grupos também são espaços para receber<br />

informações freqüentes e encaminhamentos <strong>de</strong><br />

discussão e <strong>de</strong>cisões.<br />

O grupo <strong>de</strong> base também é um espaço <strong>de</strong><br />

se ajudar, <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> entre os atingi<strong>dos</strong><br />

<strong>por</strong> barragens, um espaço on<strong>de</strong> há distribuição<br />

<strong>de</strong> tarefas e responsabilida<strong>de</strong>s conjuntas, on<strong>de</strong><br />

discutimos conjuntamente os nossos problemas<br />

e como resolvê-los. Enfim, os grupos <strong>de</strong> base<br />

são um espaço <strong>de</strong> conquistas e vitórias.<br />

Água e energia não são mercadorias!<br />

<strong>Cartilha</strong>_Rio_Ma<strong>de</strong>ira_2ed.pmd 28<br />

16/1/2009, 16:39

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!