Água e energia não são mercadorias! - MAB
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Apresentação<br />
A<br />
poesia é a arte da linguagem humana, ela comunica antes mesmo<br />
de ser compreendida, nos faz refl etir, nos faz agir. Aos poetas é<br />
mais fácil expressar o sentimento e as lutas através da palavra e<br />
é neste sentido que apresentamos este caderno, assim chamado “A vida<br />
dos atingidos por barragens em poesia”.<br />
Ele é fruto de um processo vivenciado no último período pelos (as)<br />
militantes que participaram da Escola Nacional de Formação Política do<br />
<strong>MAB</strong> e por militantes que tem se dedicado para transcrever suas criticas,<br />
seus sentimentos, sua vivência em poesia.<br />
Queremos que este caderno sirva de subsídio para animar nossa<br />
mística, para reforçar nossos passos na construção de uma sociedade<br />
socialista e para nos movimentar na direção de uma vitória na luta da<br />
classe trabalhadora. E que a nossa <strong>energia</strong> de lutadores/as contagie a<br />
todos/as, e a nossa poesia ajude a construir a Soberania Energética e<br />
Popular que sonhamos.<br />
Aos poetas, militantes do <strong>MAB</strong> que contribuíram com esta produção,<br />
nosso muito obrigado. E a todos (as) os (as) militantes, desafi amos<br />
que continuem com esta prática de escrever e falar da vida do povo, das<br />
lutas, da resistência e das conquistas. Poetizemos sobre nosso profundo<br />
desejo de liberdade e para a valorização da cultura do povo!<br />
<strong>Água</strong> e <strong>energia</strong> <strong>não</strong> <strong>são</strong> <strong>mercadorias</strong>!<br />
Movimento dos Atingidos por Barragens<br />
Março de 2010
Sumário<br />
Apresentação ....................................................................................... 01<br />
A Marcha .............................................................................................. 05<br />
Abril de todo dia ................................................................................... 06<br />
Afogados na mágoa ............................................................................. 07<br />
Barragem de Machadinho .................................................................... 08<br />
Carta do Rio Tocantins endereçada ao Rio Xingu ..................................... 10<br />
Barragens <strong>não</strong> ....................................................................................... 11<br />
Causas e conseqüência de uma barragem ......................................... 12<br />
Cordel da História Submersa<br />
Atingidos por barragens e <strong>MAB</strong> X CEMIG .................................................... 14<br />
Cordel dos rios com barragens ............................................................ 27<br />
Deus <strong>não</strong> construiu barragens ............................................................. 29<br />
Este poema que vos deixo ................................................................... 30<br />
Excluídos? ............................................................................................ 33<br />
Hê Xingu .............................................................................................. 35<br />
Filhos e Filhas da Esperança ............................................................... 36<br />
Guerreiros de Luta ............................................................................... 37<br />
Ferrete Curaçá BA ................................................................................. 40<br />
Lembrança de criança .......................................................................... 41<br />
Memória ............................................................................................... 42<br />
Mensagem do Rio Maranhão ............................................................... 43<br />
Modelo Energético ............................................................................... 44<br />
Modo de produção asiático .................................................................. 45
Mulher .................................................................................................. 46<br />
O Brasil que eu quero .......................................................................... 47<br />
O Diabo ................................................................................................ 48<br />
O Grande Encontro .............................................................................. 50<br />
O grito .................................................................................................. 51<br />
O Modelo Barrageiro ............................................................................ 52<br />
O Xingu pede socorro .......................................................................... 53<br />
Os quatro projetos ................................................................................ 54<br />
Ousadia de Ser .................................................................................... 55<br />
Poesia para um Amigo ......................................................................... 56<br />
Por que Companheiro??? .................................................................... 58<br />
Rebeldia ............................................................................................... 59<br />
Rio Tocantins ........................................................................................ 60<br />
Rio Xingu .............................................................................................. 61<br />
Ser capaz de ser Mulher ...................................................................... 62<br />
Sobre a Barragem de Manso ............................................................... 63
Caderno de Poesias 5<br />
Há um brilho no olhar<br />
uma tremenda esperança<br />
em quem marcha.<br />
De passo em passo<br />
é grande o cansaço<br />
Se alguém pergunta<br />
Não, <strong>não</strong> cansado.<br />
A vontade de vencer é maior<br />
que a dor nos pés.<br />
Empunhamos bandeiras<br />
de dignidade<br />
Já <strong>não</strong> somos<br />
o Cristo crucifi cado aceitando a morte.<br />
Marchamos<br />
essa é a nossa liberdade<br />
de <strong>não</strong> baixar a cabeça<br />
rumar o horizonte<br />
em busca do Sol.<br />
A Marcha<br />
Autora: Alexandra Borba
6 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
Abril de todo dia<br />
Autor: Moisés Ribeiro<br />
Já faz um tempo que balas rasgaram o tempo e o espaço e<br />
assassinaram a vida, a memória e a razão<br />
Já faz um tempo que ouço um grito de dor numa mistura de<br />
lamento e ódio contra os jagunços fardados da morte<br />
Já faz um tempo que esperamos pela justiça de um estado<br />
que nega a vida em favor de capim e cerca<br />
Já faz um tempo que sonhamos caminhar por uma terra<br />
de liberdade, sem que na curva sejamos ceifados da vida e da<br />
esperança<br />
Já faz um tempo que a luta se torna árdua e a memória teima<br />
em lembrar aqueles que tombaram antes de nós<br />
Já faz um tempo que marcamos essa terra com nossos passos<br />
fi rmes, ainda que marcados de sangue e dor e caminhamos<br />
rumo ao horizonte de nossas vidas e lembranças<br />
Já faz um tempo que teimamos em caminhar e dobrar<br />
as curvas das estradas e massacrar com a beleza de nossas<br />
crianças e a sabedoria de nossos velhos a violência escondida<br />
atrás de fardas e fuzis<br />
Já faz um tempo que teimamos em caminhar e derrubamos<br />
as cercas do latifúndio, da violência, da ignorância e do ódio<br />
Mas há um abril de todo dia que me lembra as balas que rasgaram<br />
o tempo e o espaço e assassinaram a 13 anos a esperança<br />
daqueles que tombaram na curva...<br />
Mas <strong>não</strong> foram capazes de matar a memória que continua<br />
viva naqueles que teimam em viver e plantar as sementes de<br />
uma nova era.
Caderno de Poesias 7<br />
Afogados na mágoa<br />
Todo este meu sofrimento é causado por um projeto. Uma laje<br />
de concreto atacou o Rio Uruguai, por vingança a água sai afogando<br />
a natureza até lá onde a onda vai.<br />
Até meu lindo arvoredo lá onde fazia meus versos fi cou tudo<br />
submerso, morreu minha felicidade, mesmo contra minha vontade<br />
vendo tudo embaixo da água com o coração cheio de mágoa eu<br />
me bandiei pra cidade.<br />
Minha junta de boi manso me obriguei a chamar na faca. A<br />
brasina, minha vaca, <strong>não</strong> vejo mais no curral. Meu cachorro policial,<br />
com certeza já morreu ou então vive como eu sofrendo do<br />
mesmo mal.<br />
O Adão, o Antônio e o Ciqueira, meus três primeiros vizinhos,<br />
uns foram pra Carazinho, outros pra Parobé. Meus fi lhos e minha<br />
mulher viviam sempre risonhos, hoje andam tão tristonhos nem<br />
ouvir meus versos quer.<br />
Mas eu <strong>não</strong> perdi a esperança. De<br />
um dia organizar esta massa e eleger<br />
alguém que faça realmente um Brasil<br />
novo. Que mate a fome do povo, faça<br />
a Reforma Agrária e devolva minha<br />
área pra mim ser feliz de novo.<br />
Autor: Celso Moretti
8 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
Barragem de Machadinho<br />
Apenas 30 famílias<br />
Com a força da amizade<br />
Com a mesma fi nalidade<br />
Até as crianças mostraram fi rmeza<br />
Pois conheciam a realidade<br />
O sangue fervia nas veias<br />
Pra mostrar quem vai mandar<br />
O governo <strong>não</strong> pode tudo se o povo se organizar<br />
Pos mostrará<br />
Quem é que sabe lutar<br />
Até hoje tentamos entender<br />
Como conseguiram enfrentar<br />
Mais de mil policiais<br />
Apoio <strong>não</strong> podia faltar<br />
Dos deputados juntos ao movimento<br />
Até as religiões passaram<br />
A nos ajudar<br />
A cada etapa<br />
Outra fonte de esperança<br />
Seguindo em frente<br />
Lutando, com confi ança<br />
Encarando os obstáculos<br />
Formando uma grande aliança<br />
Não viramos nossas costas<br />
Porque tínhamos que progredir<br />
No dia 25 de julho<br />
Tivemos o momento de decidir<br />
Agora acertamos as contas<br />
Porque soubemos onde ir<br />
Autora: Roberta da Silva
Caderno de Poesias 9<br />
Dormindo no chão duro<br />
Faltando conforto e comida<br />
Valeu a pena<br />
Essa experiência vivida<br />
Que vamos valorizar<br />
Porque faz de nossa vida<br />
O grande comentário<br />
Foi de noite a viagem<br />
Pra conquistar seus direitos<br />
Em cima de uma barragem<br />
Nós devemos permanecer unidos<br />
Pois ninguém lutou sozinho<br />
O motivo de estarmos juntos<br />
Foi a barragem de Machadinho<br />
Agora é hora de lembrarmos<br />
Cada data marcada<br />
Cada ideal buscado<br />
Cada vitória esperada<br />
Essa historia <strong>não</strong> acaba aqui<br />
Mas esta luta esta conquistada.
10 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
Carta do Rio Tocantins<br />
endereçada ao Rio Xingu<br />
Bom dia, meu amigo rio Xingu<br />
Autor: Francisco Nunes de Freitas<br />
Estou te escrevendo para saber como você estar, as suas margens,<br />
suas praias, suas matas, suas belezas, suas riquezas, suas águas,<br />
seus Paraná, o cantar de seus pássaros, com seus sorrisos e assobios<br />
ao nascer do sol, as belezas de suas várzeas, a alegria de seus habitantes<br />
ribeirinhos, os seus peixes, tudo deve estar muito bonito, então, se<br />
conserve sempre assim.<br />
Estou lhe orientando enquanto você tem vida, eu <strong>não</strong> quero que<br />
aconteça com você o que aconteceu com amigo, meu amigo rio Xingu.<br />
Me enganaram, os meus habitantes, <strong>não</strong> teve ninguém que me orientasse,<br />
iludiram meus povos e eu cai na armadilha como se fosse uma caça.<br />
Perdi uma parte de minha vida, afogaram as minhas matas, minhas várzeas,<br />
meus castanhais e toda a minhas riquezas. Não escutei mas o s<br />
cantos dos pássaros e nem os sussurros das minhas cachoeiras, e com<br />
isso uma parte dos meus habitantes foram embora, as minhas águas <strong>não</strong><br />
<strong>são</strong> mas as mesmas, acabaram os meus lindos remansos, minhas lindas<br />
cachoeiras, meus lindos pedras, tudo isso se afogou.<br />
Estou muito triste pelo que fi zeram comigo; me apertaram ao meio,<br />
de uma parte fi quei seco, e de outra parte fi quei enxada,da parte seca<br />
os meus ribeirinhos estão sofrendo, <strong>não</strong> tem mais peixes, meu leito está<br />
completamente deteriorado, e o meu povo estar totalmente revoltado.<br />
Da parte enxada só me resta um monstruoso lago, uma enorme barragem<br />
construída para favorecer os tubarões, os poderosos que planejam<br />
somente os lucros, fi car sempre mais ricos. Com tantas cobiças, <strong>não</strong><br />
sei até quando vou conseguir agüentar, estão me afogando aos poucos.<br />
E eu <strong>não</strong> quero que aconteça com você o que aconteceu comigo, me<br />
afogando na sua própria água. Você tem povo pra lutar por sua defesa<br />
e se precisar de minha ajuda mesmo assim como estou, mandarei meu<br />
povo que luta por seus direitos para te defender junto ao seu povo. Não<br />
quero que você tenha uma historia triste quanto foi a minha, perder tudo<br />
e nunca mais ter de volta aquilo que um dia eu já tive.<br />
Do amigo RIO TOCANTINS.
Caderno de Poesias 11<br />
Barragens <strong>não</strong><br />
Derrubar as matas,<br />
Matar os igarapés,<br />
Destruir a fl ora e a fauna,<br />
Querem barrar o Xingu.<br />
Dizem que é para o nosso bem,<br />
Dizem que é para o crescimento da região,<br />
Dizem que é para a soberania do país,<br />
Dizem que precisamos de Belo Monte.<br />
Prometem resolver a saúde de todos,<br />
Propõem asfaltar a Transamazônica.<br />
Falam que é o fi m do desemprego,<br />
Dezoito mil para os nossos vinte mil.<br />
Índios <strong>não</strong> <strong>são</strong> importantes, <strong>não</strong> é gente,<br />
Ribeirinhos <strong>não</strong> contam, <strong>não</strong> é gente.<br />
Que se dane o meio ambiente,<br />
Eles prometem artifi cializar outro.<br />
Chega de dormência,<br />
Chega de fi carmos assistindo,<br />
Vamos à luta, o rio é nosso.<br />
Barragem <strong>não</strong>!!!<br />
Autor: Rogério de Sousa Januário
12 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
Causas e consequencia<br />
de uma barragem<br />
de uma barragem Autora: Rosa Aguiar<br />
Um dia chegou aqui o pessoal do<br />
Movimento dos Atingidos por Barragens<br />
Porém eu <strong>não</strong> sabia o que era isso<br />
Mas descobri que tinha muita coragem.<br />
Antes todo mundo revoltado<br />
Como medo de acontecer o pior<br />
E ter que sair de suas terras<br />
Para fi car só.<br />
Começamos a fazer reuniões<br />
E discutir como seria a nossa vida<br />
Se - ganharia terra<br />
Ou fi caríamos sem moradia.<br />
O pessoal da empresa chegou<br />
E disse que nada iria acontecer<br />
Falou que pagaria nossas terras<br />
Com toda arvore que fosse nascer.<br />
No começo acreditamos<br />
Mas algo deu errado<br />
Disseram que nossas terras valiam pouco<br />
E as árvores quase nada<br />
Já tínhamos o mab<br />
E mostramos que somo forte<br />
E fazemos mobilizações<br />
Desafi amos a própria morte.<br />
De repente uma surpresa<br />
Os pais estavam revoltados<br />
As mochinhas se arrumaram<br />
Por que mais de 4 mil homens chegaram.
Caderno de Poesias 13<br />
Todos lindos e legais<br />
Começaram a trabalhar<br />
As meninas suspiravam<br />
A cada homem que iria passar.<br />
Algumas delas se envolveram<br />
E ganharam vários juramentos<br />
Disseram que tinham motos e carros<br />
Muito dinheiro<br />
E que entre eles iam dar casamento.<br />
Mas algo deu errado<br />
Depois do envolvimento<br />
A barriga começa a crescer e vem o sofrimento<br />
Com o fi lho nos braços sem nem um atendimento<br />
Entre os juramentos<br />
Eles dizem que menina moça<br />
Na primeira vez <strong>não</strong> pega doença e nem gravidez<br />
O que importa é o amor<br />
O resto é tudo contentamento.<br />
Outras que sabiam <strong>não</strong> sentiram nada<br />
Por que exigiam prevenção<br />
No começo discutiram<br />
Mas usaram camisinha na relação<br />
Para você que sonha com a felicidade<br />
Jamais trace sem prevenção<br />
Pode pegar uma DST<br />
E ate AIDS na hora da gozação.<br />
A história que acabaram de ouvir<br />
É de causas e conseqüências<br />
De uma barragem<br />
Pode ate parecer mentira<br />
Mas é a pura verdade!<br />
CUIDE-SE!!
14 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
Cordel da História Submersa<br />
Atingidos por barragens e <strong>MAB</strong> x CEMIG<br />
1- Na voz de quem se esforça<br />
Para falar sem chorar,<br />
Nos olhos de quem vê a desgraça<br />
Sem uma lágrima rolar,<br />
A dor ao olhar as águas<br />
Que fez sua história afundar.<br />
2- Sorrindo mostra a foto<br />
Do seu casarão afogado.<br />
O sorriso disfarça a dor<br />
Ao lembrar do seu passado.<br />
Tem orgulho ao falar do pai,<br />
Um homem muito estimado.<br />
3- Fala do velho Brancola<br />
Como um exemplo a seguir,<br />
Do respeito ao agricultor<br />
Que honrou até partir,<br />
O fi lho faz seu escudo<br />
Que o ajuda resistir.<br />
4- Esta é a história do Dedé<br />
Pela barragem de Fumaça atingido.<br />
Mistura de revolta e luta<br />
Junto com o povo sofrido,<br />
Que viu naquela terra<br />
A história e o trabalho perdidos.<br />
Autora: Araci Cachoeira
Caderno de Poesias 15<br />
5- A fartura hoje é lembrança<br />
Pois viu tudo desabar.<br />
O paiol de mantimentos<br />
Que sustentava seu lar,<br />
A pocilga e o curral<br />
Com o casarão se afundarem.<br />
6- As frutas que nunca faltavam<br />
No pomar do coração.<br />
Quanta gente ganhava o pão,<br />
Hoje a água cobre tudo<br />
Se foi casa e plantação.<br />
7- Este fato <strong>não</strong> é isolado<br />
Se repete em muitos lugares.<br />
As barragens vão aumentando<br />
São muitos que fi cam sem lares,<br />
Vendo seu sonho ir pros ares.<br />
8- Entre as muitas narrativas<br />
Desta dura realidade,<br />
Ouvi os moradores de Itueta<br />
Contando a grande maldade,<br />
Que os levaram à infelicidade.<br />
9- Quando chega o tal Consórcio<br />
Prometendo o céu e a terra,<br />
Faz uma falsa propaganda<br />
Aí é que o povo se ferra,<br />
A barragem engole tudo<br />
A história de vida se enterra.
16 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
10- Hoje o povo de Itueta<br />
Lamenta a destruição<br />
Chora a cidade perdida<br />
Chora a falta do seu chão.<br />
Itueta nova é triste<br />
Muita gente tem depres<strong>são</strong>.<br />
11- Itueta Nova é retrato<br />
Do desmando do poder.<br />
O povo <strong>não</strong> tem escolha<br />
É obrigado a sobreviver,<br />
Numa cidade sem base<br />
Que a maldade fez nascer.<br />
12- A ilu<strong>são</strong> de conforto<br />
Que a casa nova aparenta,<br />
Não esconde a dor da perda<br />
A saudade que enfrenta,<br />
Além da saudade a mágoa<br />
Até criança lamenta.<br />
13- Uma cidade nasce aos poucos<br />
Vai crescendo dia a dia.<br />
Os costumes, as culturas<br />
São os pilares de sabedoria,<br />
Os moradores fincam raízes<br />
Com fatos, tristeza e alegria.<br />
14- Se puser abaixo uma luta<br />
Um trabalho, uma cidade,<br />
Construir uma cidade nova<br />
Toda base é falsidade,<br />
É um sonho aniquilado<br />
Está fora da realidade.
Caderno de Poesias 17<br />
15- A casa novinha em folha,<br />
Que o desalojado recebe,<br />
Não tem a magia da conquista<br />
Que todo sonho concebe,<br />
O desgosto da mudança<br />
Por todo lado percebe.<br />
16- É nova a farmácia<br />
O campinho, a padaria,<br />
É novo o posto, o açougue<br />
A loja, a mercearia,<br />
Se tudo é novo, então<br />
Por que <strong>não</strong> traz alegria?<br />
17- Porque uma cidade assim<br />
Por uma maldade traçada<br />
Não deixa o idoso contente<br />
Não empolga a meninada,<br />
É pouca gente que gosta<br />
Da Itueta Nova montada.<br />
18- Acho <strong>não</strong> ser tão difícil<br />
Uma resposta achar.<br />
Imagine sua infância<br />
Vivida em um lugar,<br />
Onde nadava e pescava,<br />
Onde podia brincar.<br />
19- Imagine a família<br />
Cultivando o que comer,<br />
Tendo frutas no quintal<br />
Que cuidou e viu crescer,<br />
O seu pé de rosa branca<br />
Que tanto viu fl orescer.
18 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
20- Pense na construção<br />
De um projeto de vida,<br />
A esperança, o carinho<br />
A estrada percorrida,<br />
De repente tudo acaba<br />
A caminhada é interrompida.<br />
21- O direito é ultrajado<br />
Os costumes <strong>não</strong> têm mais,<br />
Com a cultura afogada<br />
Tudo ficou para trás,<br />
Só resta a saudade constante<br />
Que o tempo <strong>não</strong> desfaz.<br />
22- Tudo que na barragem afundou<br />
Nunca será esquecido,<br />
Por mais que queiram enganar<br />
Tudo que foi perdido,<br />
Por muito tempo fará<br />
Que se lembre do ocorrido.<br />
23- Todo dia de finado<br />
Vai doer no coração,<br />
Pois somente o cemitério<br />
Deserto naquele chão,<br />
Restou como testemunha da destruição.<br />
24- Se um povo <strong>não</strong> tem direito<br />
De seus mortos zelar<br />
Tem sua história roubada<br />
Seu passado vai ficar<br />
Com uma página rasgada no tempo<br />
Num canto a desmantelar.
Caderno de Poesias 19<br />
25- Os relatos de Itueta<br />
De Caldeirões, de Fumaça,<br />
Aimorés, Candonga e Irapé<br />
Entre tantas que se passam,<br />
É o resultado das barragens<br />
Que destroem e trazem desgraça.<br />
26- Enganam e desapropriam<br />
Com projetinhos implantados<br />
Benefi ciando alguns<br />
Deixando outros lesados<br />
Calam a boca de muitos<br />
Para fi carem parados.<br />
27- O Consórcio Vale e CEMIG<br />
Ganham bilhões em dinheiro,<br />
O Estado apóia tudo<br />
Pelo capital estrangeiro,<br />
Ajuda outros países<br />
Excluindo o brasileiro.<br />
28- No início parece lindo<br />
Tudo que a empresa oferece<br />
Depois do projeto instalado<br />
Não recebe o que merece,<br />
Mas já é tarde demais<br />
O povo chora e padece.<br />
29- Depois que já está roubado<br />
Que o povo vai procurar,<br />
Correr atrás do prejuízo<br />
E a empresa processar<br />
A empresa vai enrolando<br />
Deixando o tempo passar.
20 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
30- Por isso que eu aproveito<br />
E neste cordel vou avisando,<br />
Procure saber bem antes<br />
O que anda se passando,<br />
Busque apoio do <strong>MAB</strong><br />
Que ao povo está ajudando.<br />
31- O <strong>MAB</strong> para quem <strong>não</strong> sabe<br />
Nasceu para enfrentar<br />
O poder das hidrelétricas<br />
Que os rios fazem parar<br />
<strong>MAB</strong> – Mov. Atingidos por Barragens -<br />
Não tem medo de lutar.<br />
32-Com o <strong>MAB</strong> estudando formas<br />
Procurando as soluções,<br />
Vai ajuntando atingidos,<br />
Que hoje já somam milhões,<br />
Vivendo de forma injusta<br />
Amargando as recordações.<br />
33-A luta que o <strong>MAB</strong> hoje trava<br />
Fazendo o povo se unir<br />
Causa raiva aos poderosos<br />
Que mandam sem dó perseguir<br />
A polícia é mandada<br />
Para o <strong>MAB</strong> destruir.<br />
34- Mas o que sofre um atingido<br />
É um caso sem dimen<strong>são</strong>,<br />
Que ele enfrenta o poder<br />
O medo transforma em ação,<br />
Em busca dos seus direitos<br />
Encara com garra a opres<strong>são</strong>.
Caderno de Poesias 21<br />
35- No Brasil, por toda parte<br />
Tem rio que já foi barrado,<br />
Mas é em Minas Gerais<br />
Que o confronto está acirrado,<br />
Este ponto do país<br />
É hoje o mais cobiçado.<br />
36- Quem pensa que a <strong>energia</strong><br />
Que aqui se faz gerar<br />
Ajuda aos mineiros<br />
Sua vida melhorar<br />
Precisa fi car sabendo<br />
O que agora vou contar.<br />
37-Minas Gerais produz <strong>energia</strong><br />
Para multinacionais,<br />
Com o sistema interligado<br />
Vai para outras capitais<br />
Tocar fábricas estrangeiras<br />
E outros projetos mais.<br />
38- Neste engano de progresso<br />
Vou alertar de novo,<br />
As empresas consomem a <strong>energia</strong><br />
Quem paga a conta é o povo<br />
Com tanto juro embutido<br />
O conforto vira estorvo.<br />
39-A população economiza<br />
Para a indústria esbanjar.<br />
Vão tomando banho frio<br />
Para a conta baixar<br />
Enquanto as grandes empresas<br />
De braçada vão nadar.
22 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
40- Para você entender<br />
O que se dá no dia a dia<br />
Sessenta e seis reais paga o grande<br />
Pelo mesmo tanto de <strong>energia</strong><br />
O pobre pagar seiscentos e cinqüenta,<br />
Vejam a grande covardia.<br />
41-Uma indústria gasta <strong>energia</strong><br />
Paga pouco o que consome<br />
A população gasta pouco<br />
E, às vezes, passa até fome<br />
Pagando um absurdo de luz<br />
Para manter limpo o nome.<br />
42- Falta dinheiro para roupa<br />
Falta remédio e o pão<br />
Mas tem que contribuir<br />
Com tamanha exploração<br />
Encher o bolso das grandes<br />
Empresas desta nação.<br />
43-A classe média é depenada<br />
Mas <strong>não</strong> encara a realidade<br />
Conforma-se por ter luxo<br />
Prefere a tranqüilidade<br />
Está fazendo papel de trouxa<br />
Fingindo ser de bondade.<br />
44- Eles também pagam a conta<br />
Acima do seu padrão<br />
Classe média e pobreza<br />
Estão comendo na mão<br />
Dos que gastam <strong>energia</strong><br />
Para virarem tubarão.
Caderno de Poesias 23<br />
45- Não falo de pequena indústria<br />
Pois esta também está lascada<br />
Falo de multinacionais<br />
Que embolsam a bolada<br />
E mandam para o exterior<br />
A riqueza aqui tirada.<br />
46- A pequena indústria se vira,<br />
Às vezes, vai à falência<br />
Juros e contas de luz<br />
É sempre uma pendência<br />
Mal sabe que a grande indústria<br />
A afundou na carência.<br />
47- Pagou uma fortuna por mil KW<br />
Outro também gastou e só pagou 10%<br />
Ganhou nas costas do fraco<br />
Teve um grande crescimento<br />
Esta é a grande injustiça<br />
Da CEMIG e seu fornecimento.<br />
48- Por isto é grande a revolta<br />
O povo já está cansado.<br />
Ou a CEMIG toma vergonha<br />
Ou enfrenta o resultado.<br />
O grande levante se forma<br />
Cansamos de fi car calados.<br />
49- Não queremos mais ser vítima<br />
Da mais cara conta de luz,<br />
O grito que hoje ecoa<br />
A marcha que o <strong>MAB</strong> conduz<br />
É de isenção para os pobres<br />
E que para os demais se reduz.
24 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
50-A redução da tarifa<br />
Não empobrece a empresa,<br />
A CEMIG ganha bilhões<br />
É uma potência em riqueza,<br />
É vergonhoso ajudar<br />
Por o povo na pobreza.<br />
51- Os 100 KW grátis<br />
É o mínimo que pode fazer.<br />
Já que deixou muita gente<br />
Na miséria a sofrer,<br />
Quando tomou suas terras<br />
Para as barragens fazer.<br />
52- Reduzir as altas taxas<br />
Rever impostos cobrados,<br />
Já que mentiu para o povo<br />
Que seria beneficiado<br />
Cumpra pelo menos a parte<br />
Do que tanto tem falado.<br />
53- Ter uma casa iluminada<br />
Não é esmola nem favor,<br />
É um direito conquistado<br />
Com sangue e muito clamor.<br />
No alicerce das barragens<br />
Moram histórias de pavor.<br />
54- Está pago há muito tempo<br />
A eletricidade gerada<br />
Minas é a grande central<br />
Está toda interligada<br />
Não é justo nossa gente<br />
Pagar pra ser massacrada.<br />
55- Daqui para frente meu povo<br />
Quando de um projeto ouvir,<br />
Que vai em algum lugar<br />
Nova barragem construir,<br />
Saibam que é falso o que diz<br />
Do progresso que vai vir.<br />
56- Energia no local produzida<br />
Chega imediatamente<br />
Pela rede interligada<br />
Pelo Brasil em frente<br />
Rompendo até as fronteiras<br />
Enganando nossa gente.<br />
57- Pensando que uma hidrelétrica<br />
Beneficia o lugar,<br />
O povo só abre o olho<br />
Quando sente desabar,<br />
Tudo que ao longo da vida<br />
Existia no lugar.<br />
58- O tal emprego que gera<br />
É só durante a construção<br />
Porque depois dela pronta<br />
Vem a grande decepção<br />
Só um computador trabalha<br />
O operário fica na mão.<br />
59- É preciso pensar muito<br />
Ter coragem para enfrentar,<br />
Não vender por qualquer preço<br />
Porque depois vai chorar,<br />
Quem tem sua terra inundada<br />
Para sempre vai lamentar.
Caderno de Poesias 25<br />
60- Dinheiro de indenização<br />
É dinheiro amaldiçoado,<br />
Com o tempo acaba deixando<br />
Só lembrança do passado,<br />
De desgosto vão morrendo<br />
Vendo seu sonho afogado.<br />
61- Sofre o trabalhador<br />
Pois perdeu onde plantar,<br />
Sofre quem tinha terra<br />
E deixou desapropriar,<br />
Só <strong>não</strong> sofre a hidrelétrica<br />
Que é quem manda no lugar.<br />
62- Por isso mais uma vez<br />
Conclamo a população,<br />
Venha juntar-se ao <strong>MAB</strong><br />
Vem buscar explicação,<br />
E conhecer seus direitos<br />
Para encarar o furacão.<br />
63- Venha enquanto há tempo<br />
De poder se organizar,<br />
Porque uma grande tragédia<br />
Já se faz anunciar,<br />
Mais de mil novas barragens<br />
No Brasil querem implantar.<br />
64- Sei que estão espantados<br />
Com tamanha ousadia<br />
A luz <strong>não</strong> é para brasileiros<br />
Consumir no dia a dia,<br />
É que lá no exterior<br />
Querem nossa <strong>energia</strong>.
26 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
65- Para entender melhor<br />
Como o mundo vai lucrar,<br />
Outros países têm pouca água<br />
Não pode <strong>energia</strong> gerar,<br />
Então no Brasil fabrica<br />
O que eles querem lá.<br />
66- É a tal exportação<br />
Que consome a eletricidade<br />
Que a gente paga caro<br />
Achando que é para a cidade<br />
Ficar toda iluminada<br />
Ajudando a humanidade.<br />
67- A taxa de iluminação<br />
Que do seu bolso tira,<br />
Ajuda fundir o ferro<br />
Que para o estrangeiro se manda<br />
De lá volta em peça pronta<br />
De novo o roubo se arma.<br />
68- Somos roubados na conta<br />
Para ajudar a exportação<br />
Roubados também na compra<br />
Os produtos da nação<br />
Que trazem o juro embutido<br />
No preço da produção.<br />
69- A indústria estrangeira se instala<br />
Porque o Brasil lhe oferece<br />
Juro baixo e luz de graça<br />
Então a empresa cresce<br />
Exportam produtos baratos<br />
A sobra aqui encarece.<br />
70- Por isso ninguém precisa<br />
De mais barragens fazer<br />
Gerar <strong>energia</strong> para indústria<br />
Para outros países crescer,<br />
Não pode ser do Brasil<br />
Fazendo seu povo sofrer.<br />
71- Já que o sistema energético<br />
Quer outros países ajudar,<br />
Que faça também no Brasil<br />
O povo benefi ciar,<br />
A <strong>energia</strong> mais cara do mundo<br />
Não vamos mais aceitar.<br />
72- Pela soberania do Brasil<br />
Agora grita o povão,<br />
Chega de levar os lucros<br />
Deixando o brasileiro na mão,<br />
Se quiser ajudar lá fora<br />
Olhem primeiro a nação.<br />
Se eu disser tudo que sei
Caderno de Poesias 27<br />
Cordel dos rios com barragem<br />
“... Porque as grandes barragens<br />
Causam um enorme problema,<br />
Pois os peixes fi cam presos,<br />
Na época da piracema,<br />
Por isso é que estão minguando,<br />
E eu sigo denunciando<br />
Nas linhas deste poema.<br />
Hoje os peixes <strong>são</strong> escassos,<br />
<strong>Água</strong> pura já <strong>não</strong> tem,<br />
As industrias poluindo,<br />
Os agrotóxicos também<br />
Vão envenenando as águas,<br />
Aumentando as minhas mágoas<br />
Ante tamanho desdém.<br />
O IBAMA fecha os olhos<br />
À cruel devastação,<br />
As nossas matas frondosas<br />
Estão virando carvão,<br />
Enquanto tudo desaba<br />
O leito do rio se acaba<br />
Sem a mínima proteção.<br />
Pois as matas ciliares<br />
Estão sendo destruídas,<br />
A mineração também<br />
Espalha torpes feridas<br />
Com descargas de mercúrio<br />
Trazendo sinistro augúrio,<br />
Ceifando silvestres vidas.<br />
Autor: Erivaldo da Silva Santos
28 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
Quanto mais as águas baixam<br />
Mais aumenta esse meu tédio,<br />
Acabando os nossos peixes,<br />
O pequeno, o grande, o médio,<br />
Se <strong>não</strong> mudarem os planos,<br />
Creio que em poucos anos,<br />
Surubim nem “pra remédio”.<br />
Quero o fim do latifúndio,<br />
Com seus capangas cruéis,<br />
Que atuam na surdina<br />
A mando dos coronéis,<br />
Expulsando os ribeirnhos,<br />
Semeando mais espinhos<br />
Onde só havia vergéis.<br />
Que as áreas quilombolas<br />
Tenham reconhecimento,<br />
Que chegue logo o fim<br />
Do grande padecimento<br />
E que o sangue inocente<br />
Agora seja semente<br />
Do fecundo nascimento...”<br />
Em<br />
São Francisco, a Saga de um Rio
Caderno de Poesias 29<br />
Deus <strong>não</strong> construiu barragens<br />
Há Deus em tudo, neste mundo<br />
Encontramos Deus no brotar das águas,<br />
Em meio à dureza das rochas<br />
Ou no frio extremo dos pólos.<br />
Deus aparece nos contornos dos rios,<br />
De ponto em ponto, acrescenta na paisagem<br />
Os nas pequenas, médias e grandes cachoeiras,<br />
Que aparecem nos declives, rio abaixo.<br />
Posso ver Deus nas correntezas do Xingu,<br />
Nas águas escuras do Tapajós,<br />
Nas pororocas do rio Amazonas<br />
E nos botos, pirararas e tartarugas da Amazônia.<br />
Só <strong>não</strong> consigo ver Deus,<br />
No represar de um rio para acumulação capitalista,<br />
Na destruição de vidas animais e vegetais<br />
No envenenamento das águas.<br />
Deus <strong>não</strong> construiu represas,<br />
Não disse: “Faça-se a barragem”,<br />
Deus <strong>não</strong> quer que matem os animais,<br />
Ele quer apenas que vivamos com dignidade.<br />
Autor: Rogério de Sousa Januário
30 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
Este poema que vos deixo...<br />
Os Rios da minha terra, Já <strong>não</strong> levam sonho à fl or das águas,<br />
Ficam presos nas barragens...<br />
Do Guadiana ao Sabor, <strong>não</strong> há Salvador?<br />
Exóticos peixes vorazes<br />
Espalham terror nos leitos antes suaves,<br />
Grita o muge e o saramugo:<br />
- Ai o peixe-gato, aqui há gato!<br />
- E se nadarmos para outro lado?<br />
Pergunta o barbo júnior esperançado.<br />
Há perca-sol e achigã...Cuidado! Cuidado!<br />
Nem mais um rio Selvagem...<br />
Há que fazer outra barragem?<br />
Submergiram a aldeia da luz,<br />
Preferem as trevas do poder cego,<br />
Dinheiro a rodos e mercenários<br />
Fazem andar os betonários...<br />
Alta ten<strong>são</strong> anda à solta...<br />
Micro-geração a conta gotas;<br />
Renovável na hora só a clicar,<br />
um dia inteiro a tentar!<br />
Entra outra estrada na Mata dos Medos,<br />
Fere o velho pinhal e seus segredos<br />
De Sesimbra a Almeirim,<br />
Invadem as matas, assim...<br />
Autora: Rosa da Horta
Caderno de Poesias 31<br />
Na teia da especulação,<br />
Entram os bancos, pois então...<br />
Na ilu<strong>são</strong> da habitação,<br />
Venha receber, de cheque na mão...<br />
E na senda do progresso<br />
Entra muito papel e sigla única:<br />
Para ao PINzinho ter acesso<br />
Muitos milhões dão “utilidade pública”.<br />
Isto só visto, contando ninguém diria:<br />
Que dano infame: deixar fechar a Sorefame!<br />
É só favores à “Alta-Europa”,<br />
É só interesse na Rodovia!<br />
Agora a pressa é tanta,<br />
Aceleram no asfalto com grande lata<br />
Muito álcool a regar a janta,<br />
Vão-se espetando em sucata.<br />
O que vem de fora é que é bom<br />
E vem de caminhão na auto-estrada,<br />
Economia a esvair, dinheiro compressa a sair...<br />
Nas linhas que eram de ferro,<br />
Acompanhava-se a paisagem<br />
Embalados por montes e cerros<br />
Vinha o sonho e a miragem.<br />
Abríamos a janela em andamento<br />
A sentir o cheiro de cada lugar,<br />
Olhos em lágrimas, cabelos ao vento<br />
Havia saudades no ar...<br />
Agora carruagens climatizadas,<br />
Passam a grande velocidade,<br />
A ver estações fechadas<br />
Foi tudo embora pra cidade.
32 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
Sobre a linha minha e Tua<br />
Que já nem sabia a idade,<br />
Venha a verdade nua e crua<br />
Haja coragem e frontalidade.<br />
Verdes campos, poucas searas<br />
Mas sendo poucas e já raras<br />
Entra a semente da patente,<br />
Quem se importa com a gente?<br />
Abelhas que se cuidem...<br />
Pólen doce pode ser fatal<br />
Se ao milho o vão buscar,<br />
Esperamos que <strong>não</strong> vos faça mal...<br />
Ser integral <strong>não</strong> está na moda,<br />
O que está a dar <strong>são</strong> os partidos<br />
E nessas mentes fragmentadas<br />
Cultiva-se bola e outras touradas.<br />
Queremos Abril à força mil,<br />
Mas ninguém mexe uma palha,<br />
E nos medos de silêncio vil<br />
Estendem a mão à migalha.<br />
Em versos como os do Aleixo<br />
Este apelo vos deixo:<br />
Ou muito me engano, ou já é tempo<br />
De parar com o lamento,<br />
Haja força e confiança<br />
Reacenda-se a esperança!!
Caderno de Poesias 33<br />
Excluídos?<br />
Autor: Antonio Claret Fernandes<br />
Sabe aquele mendigo: cego, trêmulo, em farrapos, aos gritos, na<br />
Rodoviária de Manhuaçu? Somado a milhares de outros, em qualquer<br />
lugar do Mundo [“Desafortunados da vida, fazer o quê”!?],<br />
descarregam a consciência de muita gente que crê:<br />
Na assistência de uma cesta, menos que básica;<br />
Na caridade de uma fé, mais que falsa;<br />
Na vulgaridade da vida, que anda parca;<br />
Numa miséria doída, para quem a morte é descaso,<br />
no completo anonimato.<br />
Mesmo no túmulo, o defunto pobre vira pesquisa, número,<br />
projeto, que aquece os negócios, por certo, e se torna discurso<br />
infl amado na boca do político safado, que fala bem –<br />
e muito! - do coitado. E a morte de mais um mendigo [feito<br />
ferida antiga: se curada, perde o seu sentido!] alimenta a<br />
vida pobre de outro e mais outro – centenas - que vivem<br />
carentes e morrerão como indigentes.<br />
Sabe aquele menino: pobre, pançudo, magro, de olhos esbugalhados,<br />
lá de Santa Efi gênia? Aquele fi ozinho de vida, quase um fazer<br />
de conta, faz pose, vira retrato, fi ca bem na ‘bela’ foto:<br />
Sem nome<br />
Cara de fome<br />
Em pele e osso [Quanto pior, melhor!].<br />
Sua sombra gira mundo,<br />
arrecada milhões, talvez, engorda ONGs:<br />
Que montam projetos<br />
Que aninham algumas centenas de técnicos<br />
Parasitas: bem alimentados<br />
com a imagem faminta do menino pobre.
34 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
Sabe aquele trabalhador que, após as férias-prêmio, foi demitido<br />
da Vale e virou desempregado? Aquele operário que alimentou<br />
com pranto e dor a gula do Capital, agora se junta às vítimas do<br />
desemprego estrutural [Ou circunstancial] e continua movendo a<br />
acumulação desmedida.<br />
Em nome do desemprego:<br />
Pressiona-se o operário<br />
Reduzem-se os direitos<br />
Mingua o salário.<br />
O mendigo em trapos<br />
A criança barriguda<br />
O operário no olho da rua<br />
Supostamente excluídos<br />
Funcionam como excedentes:<br />
‘Exército de reserva’<br />
De um sistema inconseqüente.
Caderno de Poesias 35<br />
Como estais cheio<br />
Tuas águas revoltas<br />
Em torno de ti mesmo<br />
Mostras como és...<br />
Potente<br />
Impotente<br />
Imaginemos tu cortado<br />
Por uma barragem<br />
Desalojas gente<br />
Alojas poderes, doenças, destruição<br />
Correntezas fortes<br />
Cobrem as cachoeiras<br />
<strong>Água</strong>s que vão<br />
<strong>Água</strong>s que vem<br />
<strong>Água</strong>s que morrem<br />
<strong>Água</strong>s que vingam<br />
<strong>Água</strong>s que <strong>são</strong> apenas<br />
<strong>Água</strong>s xinguanas<br />
He Xingu...<br />
Hê Xingu<br />
Autor: João de Castro
36 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
Filhos e Filhas da Esperança!!!<br />
Autor: Moisés Ribeiro<br />
Já nos feriram o rosto<br />
Já nos machucaram a alma<br />
Já nos abriram o peito com a lança da violência<br />
Já tentaram nos roubar os sonhos, as utopias, as alegrias<br />
Já tentaram nos fazer esquecer as lutas, as vitórias, os mártires e<br />
também as derrotas<br />
Já tentaram nos roubar o companheirismo, a indignação, a<br />
realidade e a lealdade. Já tentaram nos roubar a memória,<br />
apagar nossos passos e esconder a história<br />
Mas somos fi lhos e fi lhas da esperança, herdeiros das lutas e das<br />
resistências, da beleza e da amizade<br />
Então gritemos juntos, façamos ouvir nossas vozes nas praças,<br />
nas estradas, nos viadutos e tribunais anunciando o novo<br />
tempo que faz urgente<br />
Sim! Gritemos todos, pois somos companheiros, lutadores e construtores<br />
de sonhos e utopias, de esperança e alegrias<br />
Somos fi lhos da esperança que em levante de fúria rompe as<br />
cercas do latifúndio e abre o horizonte da nova história que se<br />
avizinha<br />
Somos fi lhos da esperança, pois quando muitos tombam, outros<br />
tantos já se levantam e empunham a bandeira dos sonhos e da<br />
ternura, da indignação e da rebeldia<br />
Somos fi lhos e fi lhas da esperança que <strong>não</strong> perece jamais!
Caderno de Poesias 37<br />
Guerreiros de Luta<br />
Cito alguns pernambucanos,<br />
Guerreiros de coração,<br />
Lembro o velho Virgulino,<br />
O chamado Lampião,<br />
Fez algumas coisas erradas,<br />
As vezes por preci<strong>são</strong>,<br />
Com muito sangue nas veias,<br />
Não gostou das coisas alheias,<br />
Sempre brigou com razão.<br />
Não esqueço Maria Bonita,<br />
A mulher do capitão,<br />
Jamais o abandonou, em qualquer situação,<br />
Foi muito pelo contrário, lhe deu muita empolgação,<br />
Nunca foi de brincadeira,<br />
Foi uma grande guerrilheira,<br />
Na história do sertão.<br />
Homenageio o Fugêncio,<br />
Com muita satisfação,<br />
Andou por muitos lugares,<br />
pra ajudar a população,<br />
Ensinando todo povo,<br />
Fazer reivindicação.<br />
Acampou aqui, ali,<br />
Pautando reunião,<br />
Chegou em Santa Maria,<br />
Foi vítima de uma covardia,<br />
Lhe botaram no caixão.<br />
Autor: João Aparecido
38 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
O velho Luiz Gonzaga,<br />
Sempre com linda canção,<br />
Estrelas de muitos palcos, em toda essa região,<br />
Sempre nas festas juninas,<br />
comandou animação,<br />
Puxou fole em terreiro,<br />
Pra velho e rapaz solteiro,<br />
Derramar suor no chão.<br />
Tem a Margarida Alves,<br />
Jamais deixo de lembrar<br />
De fazer o seu poema,<br />
Para aqui eu recitar,<br />
Foi guerreira nordestina,<br />
Dia e noite sem parar,<br />
Brigou com dignidade,<br />
Por uma simples igualdade,<br />
Que é difícil conquistar,<br />
Mas na luta eu insisto,<br />
Pois o que <strong>não</strong> é difícil,<br />
Ganhamos sem sacrifício,<br />
Sem saber valorizar.<br />
Falo aqui do velho Chico,<br />
Riqueza da região,<br />
Agredido por barragens<br />
Parando a circulação<br />
Tema de riacho seco<br />
Ameaçando o sertão<br />
Pra quem olha com bons olhos<br />
É grande a preocupação
Caderno de Poesias 39<br />
Difícil é encarar<br />
Aceitar a situação,<br />
E pra fi car mais complicado<br />
Vem breve uma punhalada,<br />
Uma tal de transposição.<br />
Vamos aí juntos ao <strong>MAB</strong><br />
Lutar pra que isso acabe,<br />
Essa ousada intenção.<br />
Foi falado de Pernambuco,<br />
O que eu consegui lembrar,<br />
Pois até o tempo é pouco<br />
Pra podermos relatar,<br />
A história é muito longa<br />
E gostosa de contar,<br />
Guerreiros que deram o sangue<br />
Pra esse país mudar,<br />
Terra de gente bacana,<br />
Gostosa de se morar.<br />
Se escuta as correntezas,<br />
O canto do Sabiá,<br />
Ribeirinha ou sequeira<br />
Tem sempre o que apreciar.<br />
O forró a noite inteira,<br />
Vai até o sol raiar<br />
Esse paraíso lindo,<br />
Tão querendo transformar,<br />
Me desculpe a má notícia,<br />
Num mundo capitalista,<br />
Não podemos aceitar
40 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
Ferrete Curaçá BA<br />
Eu moro lá no Ferrete<br />
Lugar aonde eu nasci<br />
Nunca pensei que um dia<br />
Fosse embora de lá.<br />
Eu vim da minha cidade<br />
Por nome de Curaçá<br />
Com meu amigo João Teles<br />
Pra com vocês partilhar.<br />
Ferrete fi ca no rio<br />
E todos podem aprovar<br />
Como prova do divino<br />
E São Francisco é o seu lar.<br />
O rio do São Francisco<br />
Jamais eu vou esquecer<br />
Das riquezas que ele tem<br />
Pra nos oferecer.<br />
Nunca pensei que um dia<br />
Eu fosse me amedrontar<br />
Com pessoas que <strong>não</strong> sabem<br />
O amor de um lugar.<br />
Lugar este que nós temos<br />
O que te oferecer<br />
Histórias de muitos anos<br />
Que nos veio enriquecer.<br />
Quero dizer a vocês,<br />
Que prestem bem atenção,<br />
Lá nós temos terra e água<br />
Para fazer plantação.<br />
Vivemos em uma trincheira<br />
Que é de arrepiar<br />
Com construção de barragem<br />
Para nos desassossegar.<br />
Autor: Antonio Mauro da Silva
Caderno de Poesias 41<br />
Se a barragem for feita<br />
Meu Deus o que vou fazer<br />
Com tanta água no rio<br />
E nós sem poder beber.<br />
Pra defender nosso rio<br />
Digo de coração<br />
Estou disposto ir pra luta<br />
Com todos os meus irmãos.<br />
Agradeço a Deus do céu<br />
Com todos que aqui estão<br />
Ao <strong>MAB</strong> como parceiro<br />
Orientando a nação.<br />
Naquele lugar bonito<br />
Aonde eu me criei<br />
Com ilhas e terras boas<br />
Pra cultivar o que sei.<br />
O rio do São Francisco<br />
Tem muitas coisas por lá<br />
As águas que nele tem<br />
Ameaça se apagar.<br />
As cachoeiras tão belas<br />
Que é de admirar<br />
Com os barulhos das águas<br />
De muito longe escutar.<br />
Barragem Riacho Seco<br />
Vai ser a destruição<br />
Do povo do São Francisco<br />
Que vive da plantação<br />
Pra sustentar a família<br />
Da terra a produção
Caderno de Poesias 42<br />
Lembrança de criança<br />
Autora: Lucilia<br />
Ainda me lembro naquele tempo de criança<br />
Que tinha esperança de tudo prevalecer.<br />
Tempo querido aquele campo tão fl orido<br />
As frutas começam dá.<br />
Lembro-me daquele pé de amora de cravo e alecrim<br />
Onde toda tarde eu brincava ali<br />
Mas num fechar de olho tudo veio a apagar<br />
Pois o lugar que amo hoje debaixo da água está.<br />
Tirou meu direito de tarde ali brincar<br />
Há como mamãe chorou quando viu<br />
Sua casinha com as outras coisas naufragar<br />
Sobraram apenas lembranças daquele lindo lugar.<br />
Mas hoje existe um povo bastante lutador<br />
É chamado de <strong>MAB</strong><br />
O povo se agrupou para buscar nossos direitos<br />
Que a empresa levou.<br />
Hoje de peito aberto uma coisa vou dizer<br />
A bandeira do <strong>MAB</strong> levo até morrer.
Caderno de Poesias 43<br />
Memória<br />
São tantas as balas que ceifaram vidas<br />
Que me dilaceram a memória<br />
Rasgam-me o peito<br />
E mancham a história<br />
A memória clama,<br />
Mas a voz emudece,<br />
Cala-se com a violência da morte,<br />
Estúpida e desnecessária<br />
A luta renasce em cada corpo tombado<br />
E incomoda o fosso da morte<br />
A memória lamenta a perda da vida<br />
E lança chamas de revolta<br />
Na estrada<br />
No dia de hoje <strong>não</strong> quero lembrar da dor,<br />
Mas da história dos mártires<br />
Que vivem continuamente<br />
No caminhar de nossos passos teimosos<br />
E na memória de nossas lutas<br />
Autor: Moisés Ribeiro
Caderno de Poesias 44<br />
Mensagem do Rio Maranhão<br />
Autora: Mara Reyjane<br />
Saudade<br />
Saudade...<br />
Saudade de como era antes<br />
Saudade de tomar banho, lavar roupas<br />
Saudade de brincar de mergulhar<br />
Saudade de ver os peixinhos nadando<br />
Saudade das pedras e das cataporas<br />
Saudades de bronzear sobre elas<br />
Saudades das cachoeiras sobre as pedras<br />
Saudade das areias e as graminhas<br />
Saudades dos matos a linda natureza e dos barrancos...<br />
Saudade dos tempos que passaram<br />
Saudades daquela vida maravilhosa<br />
Saudades de um rio prateado<br />
Enfi m saudades... e quantas saudades<br />
Quem nunca sentiu saudades<br />
Jamais viveu e sonhou.
Caderno de Poesias 45<br />
Modelo Energético<br />
O modelo energético<br />
É coisa de admirar<br />
Os grandes capitalistas<br />
Botando para arrombar<br />
O roubo da <strong>energia</strong><br />
Não podemos admitir<br />
A conta de <strong>energia</strong><br />
Mais cara a existir<br />
Cara só para os pobres<br />
Pras grandes empresas <strong>não</strong><br />
Pra eles sai bem de graça<br />
Pos <strong>não</strong> tem desculpas <strong>não</strong><br />
Por isso nós somos contra<br />
A essas grandes construção<br />
De muitas hidrelétricas<br />
Pra acabar com a nação.
Caderno de Poesias 46<br />
Modo de produção asiático<br />
Autor: João Aparecido<br />
Se concentre, fi que atento, preste bastante atenção,<br />
Vou falar de um absurdo, um modo de produção,<br />
Me refi ro ao asiático,<br />
Um sistema de opres<strong>são</strong><br />
Causador de muita angústia,<br />
Por ser uma causa injusta, merece revolução.<br />
O poder centralizado, comanda a exploração,<br />
O déspota por ser chefe, leva vida de barão.<br />
Tranqüilo e assocegado, folgado com razão<br />
Vive apenas dando ordens e lucrando a produção.<br />
O poder que se encarrega a grandes obras realizar,<br />
Em benefício da sociedade, para todos lhe adorar,<br />
Mas quer saber a verdade,<br />
Vamos ter que analisar,<br />
O camponês é explorado, obrigado a trabalhar.<br />
O mesmo inexperiente <strong>não</strong> sabia reivindicar e ainda tinha os tributos<br />
para o coitado pagar.<br />
O cretino desse déspota <strong>não</strong> pensava em se esforçar,<br />
Vivia do suor alheio, pra sua vida organizar,<br />
Covardia sem limite, ele usava sem parar,<br />
E os outros viviam miséria, humilhados a Deus dará.<br />
Lembrando as velhas palavras<br />
Do Virgulino, Rei do Cangaço,<br />
O déspota é merecido de encontrar um cabra macho,<br />
Daqueles ignorantes, sem medo de fazer bagaço<br />
Pra lhe dar umas boas lapadas<br />
Bem no fi o do espinhaço
Caderno de Poesias 47<br />
Poderias ser apenas mulher e o mundo já seria maravilhoso.<br />
Mas quiseste ser mais, muito mais<br />
Quiseste ser mãe, amiga, companheira, esposa, guerreira, frágil, forte<br />
Quiseste ser imagem e semelhança de Deus em seu infi nito amor<br />
e encheste o mundo de magia e beleza<br />
És forte quando a dor te exige lágrimas, mas és meiga e grandiosa<br />
quando a maternidade te exige ternura e sorriso<br />
És mistério quando o mundo tenta desvendar teu ser<br />
de forma machista e egoísta<br />
És fruto, és folha, és árvore, és raiz da magia que inunda os olhos<br />
daqueles que conseguem te olhar além das aparências<br />
És o néctar da fl or da vida<br />
És o brilho que o sol destila<br />
És da lua magia<br />
Mulher<br />
És universo a nos abraçar em nossa tão pequenez humanidade<br />
És a imensidão de um amor tão maternal e heróico<br />
És o sorriso mais lindo a encantar meus olhos<br />
És Joana, Catarina, dançarina<br />
És Rosa, apaixonada e tão menina<br />
És Socorro, Francisca, Chica, Da Silva<br />
És moça, mulher e tão divina!!!<br />
Autor: Moisés Ribeiro
Caderno de Poesias 48<br />
O Brasil que eu quero<br />
Quero um Brasil sem fome<br />
Sem guerras que matam homens<br />
Tiram o direito de viver<br />
Por que nosso Brasil de hoje em dia<br />
As drogas fazem companhia do conviver.<br />
Quero um Brasil alfabetizado onde os nomes<br />
Podem ser assinados, nos documentos a suas<br />
Letras possam ter.<br />
Autora: Lucilia<br />
Por isso com carinho eu choro todo dia em cada<br />
amanhecer<br />
Pedindo ao meu senhor que ilumine<br />
O caminho de cada educador<br />
Para os educadores ensinar com carinho e amor<br />
Para que no futuro sejamos todos vencedores.
Caderno de Poesias 49<br />
Eu vi o Diabo:<br />
Catinguento<br />
Sarnento<br />
Nojento<br />
Sob a barba dos profetas de Aleijadinho<br />
Aleijados. Calados.<br />
Sua boca escancarada engolia montanhas:<br />
Solapando-as<br />
Removendo-as<br />
Tocando-as com um beijo de traição.<br />
Nas suas tripas de aço, minério vomitado na plataforma,<br />
Enchendo 70 vagões em uma hora<br />
Aquecendo a economia, na gula do poder.<br />
Seu grito estridente<br />
Sua fumaça ardente<br />
Sua barriga latente<br />
Sua mente substantiva<br />
Mente verbalmente<br />
Engana a gente<br />
Expulsa gente.<br />
Eu vi o Diabo:<br />
Voraz<br />
Sarcástico<br />
Bestial<br />
Enfi ando seu focinho torto<br />
Monstruoso<br />
Entre o Paraopeba e o Camapuã.<br />
Espírito de porco<br />
Revirando a terra<br />
Quebrando a história passada<br />
O Diabo<br />
Autor: Antônio Claret Fernandes
Caderno de Poesias 50<br />
Soterrada<br />
Rompendo-lhe a veia:<br />
Fonte de vida.<br />
Engolindo diariamente duzentos mil litros de água tratada<br />
Defecando concreto<br />
Destilando sangue:<br />
Do trabalhador capacitado, enganado,<br />
Do operário empregado, explorado,<br />
Da terra mãe, violada.<br />
Eu vi o Diabo:<br />
Amigo da onça<br />
Nojento<br />
No palácio do Governador<br />
De gravata<br />
De terno<br />
Em tempos modernos<br />
Inferno<br />
Na tinta suja de um Decreto<br />
Legal?<br />
O Império é a lei!<br />
Eu vi o Diabo:<br />
Não tinha chifre<br />
Não soltava fogo<br />
Nem balançava o rabo<br />
Mas era o Diabo.
Caderno de Poesias 51<br />
O Grande Encontro<br />
No seio terno da terra plantei a esperança de um novo dia<br />
No alvorecer da manhã colhi tua amizade<br />
No entardecer aprendi a sonhar<br />
Na penumbra da noite colhi os frutos das estrelas<br />
No passar das horas fi camos companheiros<br />
Renovamos nossos sonhos e alegrias<br />
Fincamos os pés descalços com teimosia<br />
E barramos os projetos da morte e do capital<br />
... E tudo começou num grande encontro<br />
Onde eu e você nos encontramos<br />
... E tudo começou num grande encontro<br />
Onde a esperança nasceu, renasceu, renovou-se<br />
e nos apontou o caminho<br />
Autor: Moisés Ribeiro<br />
... E tudo tornou-se encontro no grande palco da vida<br />
Onde somos personagens vivos da história<br />
Onde voltaremos a nos encontrar?<br />
No lugar onde a memória se faz viva e conta a história<br />
Dos nossos sonhos e da esperança que habita nossos corações<br />
... E tudo começou num grande encontro de alegria,<br />
amizade e partilha<br />
Na terra dos Piquis rumo à terra dos Castanhais
Caderno de Poesias 52<br />
O grito<br />
Um copo de água, por favor! Um copo de água, por favor!<br />
Neste momento de desespero, Um copo de água, por favor!<br />
O que?É proibido beber água! Como vou matar minha sede?<br />
Comendo papéis! Lambendo tomadas! Engolindo concreto!<br />
Não me oprima! Só quero um copo de água!<br />
Não mereço um copo de água?<br />
Então você também pagara caro por isso.<br />
Devolva-me a terra; Devolva-me o rio; Devolva-me o sorriso<br />
Não se esqueça dos peixes<br />
Não quero nada artifi cial<br />
Como fazer isto? Você sabe muito bem.<br />
Nós o avisamos, Mas você sempre nos ignorou.<br />
Preserve os rios; A terra ; O trabalhador.<br />
Ajude a construir a soberania,<br />
Preserve a vida<br />
Use a água para a vida,<br />
E <strong>não</strong> como passaporte<br />
Para morte.<br />
Autor: Josemar Evangelista de Souza<br />
Quero Terra! Quero água! Quero vida!<br />
Quero mostrar minha raiz<br />
Mostrar que pertenço a esta terra<br />
Que sou parte desse povo<br />
Que marcha; Que luta; Que sofre<br />
E a acima de tudo, fazem parte da história.
Caderno de Poesias 53<br />
O Modelo Barrageiro<br />
A beira do rio tem mata<br />
Tem povo e plantações mil<br />
Mas o modelo energético<br />
Quer parar os rios do Brasil<br />
Isso é luta de classes<br />
Empresas enfrentam povo e vice versa<br />
Com medo de além das casas,<br />
As suas vidas sejam submersas<br />
Nosso projeto é diferente<br />
Nosso projeto é do novo<br />
Não é dos capitalistas<br />
Ele é um projeto do nosso povo<br />
Pra essa luta é o nosso plano<br />
Que vem num ritmo frenético<br />
Em busca de um país soberano<br />
E um novo modelo energético<br />
E nesse novo modelo<br />
Tem várias fontes de <strong>energia</strong><br />
A água, os ventos, biomassa<br />
E o sol do dia a dia<br />
São muitas alternativas<br />
Não é apenas represas<br />
Mas <strong>não</strong> pensam no bem do povo<br />
Só no lucro das empresas<br />
Autores: Jadir Bonacina e Valter Israel da Silva<br />
Desalojam nosso povo<br />
Com este projeto injusto<br />
Pois através das barragens<br />
Tem <strong>energia</strong> a baixo custo<br />
Mas isso <strong>não</strong> se refl ete<br />
Na conta pra nós pagar<br />
Pois apesar de ser barata<br />
Caro querem nos cobrar<br />
Por isso estamos na luta<br />
E <strong>não</strong> pretendemos parar<br />
Pois aí tem algo errado<br />
E temos que denunciar<br />
As conseqüências do modelo<br />
Todos estão percebendo<br />
O povo pagando caro<br />
Meia dúzia enriquecendo.
Caderno de Poesias 54<br />
O Xingu pede socorro<br />
Querem destruir o nosso rio<br />
E construir um muro alto.<br />
Querem escavar os igarapés<br />
Pra formar um grande lago.<br />
Coitada da linda Altamira<br />
Que vai virar passagem de chacina.<br />
O Xingu <strong>não</strong> incomoda ninguém,<br />
Com barragem vai ser bem mais fundo.<br />
Não precisamos da <strong>energia</strong> nova<br />
Esta obra a nós <strong>não</strong> dobra<br />
Só benefi cia alguns alguéns<br />
A miséria vai muito mais além.<br />
Só queremos dignidade,<br />
Chega de tanto roubo.<br />
A situação <strong>não</strong> tem idade<br />
O Xingu, pra nós pede socorro!<br />
Autor: Rogério de Souza Januário
Caderno de Poesias 55<br />
Os quatro projetos<br />
Num pedaço da Zona da Mata<br />
Uma grande empresa chegou<br />
Com a idéia de barrar o rio<br />
Quatro projetos apresentou.<br />
A barragem Jurumirim<br />
Quer nos tirar de nosso lugar<br />
Só porque a empresa é rica<br />
Do lado deles o governo está.<br />
O pessoal da usina Canta Galo<br />
Está querendo nossa informação<br />
Mas se nós abrir o bico<br />
O rio virará uma tremenda inundação.<br />
Nova Brito é uma PCH<br />
Funcionava com muito vapor<br />
Foi fi cando velhinha<br />
Desagradando o Sr. Doutor.<br />
Novo projeto apresentaram<br />
Para o Lula aprovar<br />
Um Eia / Rima falso<br />
Conseguiram assinar<br />
Como a empresa é muito rica<br />
A Nova Brito querem aumentar.<br />
Autores: Leandro Paulo Alves e Fernando Carlos da Silva Alves<br />
Bom Retiro eu <strong>não</strong> conheço<br />
Ou se quer já ouvi falar<br />
O que penso que deve ser<br />
Um bom lugar de morar<br />
A empresa chegou<br />
Com a idéia de construir<br />
Uma barragem progredir<br />
E o sossego de Bom Retiro destruir.
Caderno de Poesias 56<br />
Ousadia de Ser<br />
Autor: Moisés Ribeiro<br />
Tenho em mim a ousadia da vida<br />
A ousadia de viver cantando, acreditando no amanhã<br />
Tenho em mim a ousadia de ser homem e mulher<br />
De ser criança, jovem, moço, senhor<br />
De ser ancião e te falar da vida<br />
Tenho em mim a ousadia de fazer a história – a nova história<br />
E construir a vida que palpita na pétala do dia-a-dia<br />
Tenho em mim a ousadia da indignação<br />
Ante àqueles que nos ferem o direito à vida<br />
Tenho em mim a ousadia<br />
Da esperança a cada manhã<br />
Tenho em mim a ousadia<br />
De ser ousado a cada noite<br />
Guardo de ti a lembrança<br />
De seres ousada diante da vida<br />
Guardo de nós a lembrança<br />
Da ousadia de sermos nós mesmos<br />
A ousadia de ser pessoa<br />
De amar e ser amado<br />
A ousadia de ser enfi m<br />
Ousado!
Caderno de Poesias 57<br />
Poesia para um Amigo<br />
Se me falas de amor, te falo da esperança, parceira e mestra na<br />
caminhada. Se me falas da dor que te acomete o corpo,<br />
te falo da esperança que acalenta a alma<br />
Se me falas de sonhos que povoam tua mente, te falo da esperança<br />
que constrói o novo amanhã. Se me falas de saudade que te dói<br />
no coração, te falo da esperança que enche o peito de alegria<br />
Se me falas de luta, te falo da esperança renascida em cada passo.<br />
Se me falas daqueles que tombaram, te falo da esperança que<br />
os mesmos semearam. Se me falas das cercas do latifúndio,<br />
te falo da esperança que rompe os arames<br />
Se me falas da bala que rasga a negritude da noite<br />
E irrompe na carne destroçada daqueles<br />
Que lutam contra os senhores da terra,<br />
Te falo da esperança que nasce com o sangue<br />
Que toca o chão tão desejado<br />
Se me falas da noite escura que cai como um manto sobre nossas<br />
cabeças, te falo da esperança que nasce com cada alvorecer.<br />
Se me falas da chuva que molha o chão castigado das lutas,<br />
Te falo da esperança que brota como semente de um novo caminhar<br />
Se me falas da tarde que fi nda o dia e começa a noite,<br />
Te falo da esperança que cintila nas estrelas<br />
Autor: Moisés Ribeiro<br />
Se me falas de amigos, te falo da esperança que me cinge o ombro<br />
sempre à tua disposição e do coração que se abre para te receber<br />
num grande e fraternal abraço, de amizade e companheirismo.
58 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
Por que Companheiro???<br />
Por que tanta dor no rosto do menino?<br />
Por que tanta desesperança no rosto da menina?<br />
Por que tanta injustiça nos ferem a alma companheiro?!<br />
Autor: Moisés Ribeiro<br />
Por que tantas cercas nos roubam o direito à terra e à liberdade?<br />
Por que tanta fome, quando há tanto alimento?<br />
Por que tanto sangue derramado quando se busca a justiça?<br />
Por que companheiro?!<br />
Por que tanta ganância quando o que há é sufi ciente para todos?<br />
Por que tanto desrespeito com o direito mais elementar da vida?<br />
Por que falta dignidade e sobra tanta corrupção?<br />
Por que <strong>não</strong> se educa nosso povo com a educação que liberta?<br />
Por que companheiro?!<br />
Por que a vida perde o sentido diante do valor do dinheiro?<br />
Por que <strong>não</strong> se globaliza a solidariedade,<br />
o companheirismo e a justiça?<br />
Por que <strong>não</strong> se valoriza o ser em troca do ter?<br />
Por que <strong>não</strong> se planta para alimentar nosso povo?<br />
Por que <strong>não</strong> se cultiva a ternura, a rebeldia e a indignação?<br />
Por que companheiro?!<br />
Então porque lutamos companheiro?<br />
Por que abrimos trilhas na noite escura da morte?<br />
Por que pisamos o chão da história e deixamos nossos rastros?<br />
Por que rompemos as cercas – que <strong>são</strong> malditas –<br />
e plantamos a semente da esperança?<br />
É porque somos irmãos e irmãs, somos camaradas, somos<br />
solidários, somos lutadores e lutadoras e porque seremos sempre<br />
companheiros e companheiras.
Caderno de Poesias 59<br />
Rebeldia<br />
Hoje já ninguém mais chora a dor da perda?<br />
Por ventura se perdeu a rebeldia na longa caminhada?<br />
Penetra, pois na sombra do caminho<br />
E fi nca tua bandeira com os sonhos da juventude<br />
Carregada de rebeldia e de horizonte<br />
Planta para pra ti e para teus fi lhos a rebeldia daqueles<br />
Que <strong>não</strong> sossegam o coração apenas em uma estrada<br />
E por isso cativam a rebeldia por toda a vida<br />
Guarda na memória a rebeldia dos que lutaram<br />
Contra as cercas que nos impediam de caminhar<br />
Rumo à nossa liberdade<br />
Transforma em sonhos a rebeldia que queima<br />
Em teu peito, pois já <strong>não</strong> há tempo a perder<br />
Vem... Traça teu caminho e percorre a longa estrada<br />
Mais <strong>não</strong> deixa a rebeldia<br />
Que ela é tua aliada<br />
Guarda-a no peito<br />
Na lembrança<br />
Cativa sua força<br />
Embebeda-se em sua força e magia<br />
E fi nca tua bandeira na rebeldia dos sonhos<br />
Da juventude<br />
Da vida<br />
E da história<br />
Autor: Moisés Ribeiro
60 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
Rio Tocantins<br />
Eu sou o rio Tocantins, mas hoje estou diferente<br />
Acabaram a minha riqueza, que era para toda gente<br />
Umas partes me afogaram, e a outra está doente<br />
A riqueza que eu estou gerando é dólares de montão<br />
Não é para o trabalhador, é para o tubarão<br />
Acabaram o que eu tinha, por causa da ambição.<br />
Falando sobre este rio, recordo a minha infância<br />
A alegria de viver sempre, no meu tempo de criança<br />
Correndo na tua margem, inocente com esperança<br />
Sem saber que a longos anos, o homem transformava<br />
O rio Tocantins passou ser um oceano<br />
Nunca mais vi suas belezas, um instante <strong>não</strong> me esqueço<br />
Nem mesmo estou conformado, em <strong>não</strong> vê tuas cachoeiras<br />
Sufocado em um grande lago, de cobiçais aos estrangeiros<br />
Com ambição certamente pra ganhar muito dinheiro.<br />
Falando do teu passado, recordo o presente<br />
E vejo no teu futuro, Imagino que está doente<br />
Tão triste olho tua margem, a vida da tua gente<br />
Sem ter o que fazer, por que esta diferente.<br />
Autor: Francisco Nunes de Freitas
Caderno de Poesias 61<br />
Lar de peixes, tartarugas, jacarés...<br />
Fonte de vida, inspiração,<br />
E com certeza fonte de muitas paixões.<br />
Não sei o que mais tu tens,<br />
Se <strong>são</strong> pedras ou bancos de areia,<br />
Não sei se corres pra esquerda ou direita,<br />
Mas sei que és lindo!<br />
Tanta beleza, tanta riqueza, tantas correntezas,<br />
Tantas lendas, tantas ilhas, tantas fi lhas.<br />
De Gurupá ao Mato Grosso, que alvoroço,<br />
Quase que ouço você clamar.<br />
Não deixemos, por favor, <strong>não</strong> deixem<br />
Que o capital, minhas águas venha represar,<br />
Não me façam para dentro de minhas fi lhas avançar<br />
E de outras eu me retirar.<br />
O que será de minhas belas águas<br />
Em uma lagoa a parar,<br />
O que farei a minha irmã fl oresta<br />
Quando nela minhas águas adentrar.<br />
Temo pelas minhas fi lhas, sem meu amparo,<br />
Temo por minhas fi lhas, com meu excesso,<br />
Temo pela natureza, com o meu desequilíbrio;<br />
Temo pela população, com minha anunciada morte!<br />
Há que se cuidar da vida!<br />
Gritando a poesia...<br />
Deixas esse rio ser meu<br />
E também ser teu!<br />
Rio Xingu<br />
Autor: Rogério de Souza Januário
62 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
Ser capaz de ser Mulher<br />
Um dia alguém ousou chamar-te “sexo frágil”, que insanidade!<br />
Acho que esse alguém nasceu de um acidente e <strong>não</strong> da beleza e<br />
do encanto da maternidade como nós<br />
Como ser frágil alguém capaz de desenvolver e proteger em suas entranhas<br />
a vida que foi gerada e fazê-la fl orescer com a magia do amor?<br />
Se és capaz de ser “mulher” quando tantos te querem objeto e tentam<br />
te relegar ao papel de ser submisso, é porque de ti emana a<br />
magistral força capaz de romper barreiras e construir o amor quando<br />
apenas espinhos teimam em brotar<br />
Se para ti é possível fazer da vida uma oração e transformar a dor<br />
em canção, é porque a ternura é tua linguagem e a vida um constante<br />
aprendizado de encanto e magia<br />
Se o mundo é belo é porque em ti encontra a fonte da beleza e a<br />
inspiração para ser habitado de forma racional e humana<br />
Sem tu o que seríamos?<br />
Porque viveríamos?<br />
Que sentido teríamos?<br />
Se és capaz de ser tão humana, então seremos sempre<br />
Seres extremamente necessitados de tua presença e tua beleza<br />
Pudera eu fazer de cada dia um jardim para te oferecer a beleza, o<br />
perfume e a ternura das fl ores<br />
Mulher menina, mulher tão linda<br />
Mulher ternura, mulher doçura<br />
Mulher tão intensa, tão verdadeira, tão profunda<br />
Mulher mistério que se desnuda pra vida<br />
como há encantar meus dias!<br />
Autor: Moisés Ribeiro
Caderno de Poesias 63<br />
Sobre a Barragem de Manso<br />
O Brasil é um país, rico em mineração, por isso tornou-se alvo<br />
de grande exploração, por aqueles que <strong>não</strong> tem, respeito a preservação,<br />
dentro do seu egoísmo, só tem a destruição, <strong>não</strong> respeita<br />
a natureza, <strong>não</strong> agem com previ<strong>são</strong>, de um dia poder falar, que<br />
somos grande nação.<br />
A saudade que eu tenho, da minha terra querida, é que me<br />
induz, fazer verso, para esquecer da lida, deitado em minha rede,<br />
começo a memorar, trazer de volta o passado, através do meu<br />
pensar, meu coração fi ca triste e minha alma abatida, recordando<br />
o passado, que trás tristeza pra vida.<br />
Para recordar a vida, dou ordem a liberdade, de usar meu<br />
pensamento para explorar a saudade, dos belos tempos passado,<br />
na minha casa empalhada, as coisa lá era dura, mas <strong>não</strong> me faltava<br />
nada, antes da Furnas chegar com a sua trapalhada.<br />
O Rio Quilombo, o Casca e o Manso,<br />
com seu canal com suas lindas nascentes,<br />
<strong>não</strong> existia coisa igual, a Furnas<br />
<strong>não</strong> tem direito, de nos tratar como<br />
réu, porque sei que existe lei, que irá<br />
desmantelar a sua trama cruel.<br />
Esta gente sofredora, que encontro<br />
no caminho, sempre lembrando<br />
das fl ores, sem esquecer dos espinhos,<br />
Autor: Antônio José
64 <strong>MAB</strong> - Movimentos dos Atingidos por Barragens<br />
outrora éramos alegres, porque éramos vizinhos, num lugar maravilhoso,<br />
por nome Giovazinho.<br />
A Eletro-Norte faz projeto, e a Furnas concretiza, a vida dos<br />
ribeirinhos, com ousadia inferniza, <strong>não</strong> respeita seus direitos,<br />
para lhe expulsar improvisa, lhe tira de qualquer jeito, mas <strong>não</strong><br />
dá o que precisa.<br />
A lembrança que eu tenho hoje, é só tristeza e mágoa, a<br />
saudade do passado, sei que o tempo <strong>não</strong> apaga, porque o que<br />
eu mais gostava hoje está debaixo d’água, vou lutar por minha<br />
terra, que Furnas danificou, junto com meus companheiros, irei<br />
seja onde for, quero outra terra igual a que ela nos tirou, queremos<br />
toda justiça no processo que parou, o INCRA um órgão<br />
de peso, que a Furnas subornou, o INCRA nos deu a terra e a<br />
Furnas nos tirou.