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TEMA DE CAPA / ENTREVISTA<br />
Portugal precisa de duas ou três apostas do<br />
tipo Ford/Volkswagen e de mais inovação do<br />
tipo “radical”, como o foram a Via Verde ou<br />
o Mimo, para criar patentes mundiais e ultrapassar<br />
fronteiras, defende Murteira Nabo,<br />
presidente da Cotec, a recém-constituída<br />
associação de <strong>empresas</strong> para a Inovação.<br />
Até final de 2004, a Cotec deverá definir pelo<br />
CLARA TEIXEIRA (Texto)<br />
CARLOS LOPES (Fotos)<br />
Murteira Nabo, presidente da Cotec<br />
“Investigação nacional está<br />
desligada da realidade”<br />
Grande parte da investigação aplicada que é feita nas universidades acaba no<br />
“vale da morte”, queixa-se o líder da recém-constituída agência de <strong>empresas</strong><br />
para a inovação. Por isso, unir as escolas às <strong>empresas</strong> é um dos objectivos do<br />
gestor, que tem como modelo os países nórdicos. A inovação é das coisas mais<br />
difíceis, mas também das mais estimulantes que encontrou em 30 anos de<br />
carreira profissional. “Por aqui pode passar a mudança do país”, garante.<br />
menos mais três “clusters”, para além das<br />
florestas, onde seja necessário “boa vontade<br />
para agregar, tentando dar consistência a<br />
algumas ideias que por aí há, sem que haja<br />
quem as junte”. As tecnologias de informação,<br />
o sector automóvel e biotecnologia são<br />
algumas das áreas em estudo. Confrontado<br />
com o modelo de desenvolvimento que Portugal<br />
deve adoptar, Murteira Nabo defende<br />
uma solução mista, que possa dotar de alta<br />
tecnologia as indústrias tradicionais e, em<br />
simultâneo, apostar nas chamadas indústrias<br />
do futuro, susceptíveis de fazerem a inovação<br />
“radical” que cria valor para o país.<br />
A Cotec está a definir “clusters”<br />
para a inovação em Portugal. Como<br />
está o processo?<br />
Definimos já as florestas. O nosso compromisso<br />
é definir mais três “clusters” até<br />
final de 2004. Estamos a estudar os automóveis<br />
e as tecnologias de informação,<br />
também temos estudos na área da biomedicina.<br />
São soluções que estamos a analisar,<br />
mas não sei se daí resultarão propostas.<br />
No âmbito das florestas, até final do ano<br />
estaremos em condições de propor soluções<br />
ligadas à questão dos incêndios. O reordenamento<br />
e o repovoamento são questões de<br />
longo prazo. No curto prazo, o importante<br />
são os incêndios. Podemos aproveitar a experiência<br />
da Galiza na prevenção do fogo.<br />
Dez por cento da floresta ardia todos os<br />
anos, mas esse valor desceu para um por<br />
cento, através de uma fortíssima aposta<br />
num plano de ataque aos incêndios.<br />
Mas onde é que a Cotec vai definir<br />
os “clusters”? Nos sectores tradicionais<br />
ou nos sectores de futuro, que<br />
envolvam alta tecnologia?<br />
O conceito de “cluster” é algo que de<br />
forma agregada cria valor substancial. A<br />
Cotec vai escolher as áreas que precisam de<br />
ser ligadas e eventualmente criar “clusters”<br />
novos, onde ainda não há apostas mas que<br />
entendemos que podem ser “clusters” de<br />
futuro. Li há dias que os finlandeses adoptaram<br />
a biotecnologia como uma grande<br />
aposta para o futuro. Se vamos definir uma<br />
coisa desse tipo não sei. O que nos preocupa<br />
é aquilo em que pensamos que podemos<br />
contribuir para que se crie valor.<br />
Então alguns deles serão mais<br />
um projecto de “cluster” do que um<br />
“cluster”…<br />
Sim, mas não nos propomos estudar<br />
todos os “clusters” do país nem os que já estão<br />
estudados. As cortiças por exemplo não<br />
precisam. É um sector autónomo, está bem<br />
lançado, não precisa de apoio. Não precisa<br />
da Cotec para nada. Os moldes também não<br />
precisam de nós e ainda bem. Procuramos<br />
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