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A Rua em Movimento

nstituições: • FASC ( Fundação de Assistência Social e Cidadania) & • Prefeitura de Porto Alegre Porto Alegre - RS Diagramação do Livro e Capa '' A Rua em Movimento ''

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Porto Alegre - RS
Diagramação do Livro e Capa '' A Rua em Movimento ''

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19<br />

A ruptura com a terminologia “sofredor de rua” e a passag<strong>em</strong><br />

para expressões tais como “povo de rua” e “morador de rua”<br />

tiveram o intuito de reforçar a consciência de grupo (povo) e da<br />

negação de um direito (morador de rua) (Rosa, 2005). Também<br />

implicou um deslocamento da experiência da rua percebida como<br />

um sofrimento, sob influência da ética cristã, para a experiência<br />

da rua tomada como um risco (De Lucca, 2007). Em paralelo a<br />

tal processo, iniciou-se um movimento de luta por direitos da<br />

parte de representantes da própria população <strong>em</strong> situação de<br />

rua, complexificando o cenário das propostas de intervenção<br />

e das próprias formas de sua denominação (Pizzato, 2011).<br />

Como efeitos desse processo, percebeu-se que mesmo a própria<br />

terminologia “povo de rua” ou “morador de rua” escondia uma<br />

heterogeneidade importante de formas e estilos de vida e que<br />

havia várias “situações” diferentes <strong>em</strong> relação à permanência na<br />

rua as quais precisavam ser dimensionadas, como as quais àquelas<br />

classificadas por Vieira, Bezerra e Rosa (1992): ficar, estar e ser da<br />

rua.<br />

Patrice Schuch | Ivaldo Gehlen<br />

A ruptura entre a terminologia “morador de rua” e “pessoas<br />

<strong>em</strong> situação de rua” e/ou “população <strong>em</strong> situação de rua” foi,<br />

portanto, significativa de toda uma mobilização política que<br />

visou, de um lado, atentar para a situacionalidade da experiência<br />

nas ruas e, de outro, combater processos de estigmatização dessa<br />

população, definindo-os a partir de uma concepção do habitar<br />

a rua como uma forma de vida possível, e não através de uma<br />

falta ou uma carência – de casa ou local de moradia fixa (Magni,<br />

1994 e 2006; Schuch, 2007 e Schuch et alli, 2008). Vistos, <strong>em</strong> geral,<br />

como vítimas ou algozes, o conceito de “pessoas <strong>em</strong> situação de<br />

rua” também busca reconstituir certa agência dessa população,<br />

apontando que o enrijecimento de uma categoria explicativa –<br />

“moradores de rua” – esconde a pluralidade dos usos e sentidos<br />

da rua.<br />

O espaço da rua aparece, então, como um “lugar praticado”<br />

(De Certeau, 1984): um lugar existencial e simbólico, mais do que<br />

simplesmente geometricamente instituído ou definido como a<br />

priori um lugar da “falta”. Para falar dessa dimensão simbólica e de<br />

produção de relações sociais a partir da rua, Kasper (2006) propõe<br />

a atenção aos “processos de habitar a rua”, entendendo-se por isso

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