O papel da experimentação no ensino de ciências - QNEsc
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Figura 2: Esquema representativo do<br />
sistema <strong>de</strong> simulação miçanga/cilindro/<br />
êmbolo móvel.<br />
enfoque estereoquímico. Nesse caso,<br />
torna-se bastante mais difícil confrontar<br />
o alu<strong>no</strong> com uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> concretamente<br />
observável, já que em nível<br />
molecular a ciência opera com mo<strong>de</strong>los<br />
radicalmente abstratos. Não há<br />
como estabelecer correspondências<br />
diretas entre os mo<strong>de</strong>los concretos <strong>de</strong><br />
estrutura molecular e as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
moleculares trata<strong>da</strong>s na educação<br />
básica, o que não significa que tenhamos<br />
que abandonar prematuramente<br />
essa proposta e <strong>no</strong>s ren<strong>de</strong>rmos ao<br />
<strong>no</strong>menclaturismo predominante nas<br />
estratégias <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong>ssa disciplina.<br />
Esta é exatamente a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
preparar o alu<strong>no</strong> para instalar-se <strong>no</strong><br />
estágio que alguns têm insistido em<br />
chamar <strong>de</strong> nível formal <strong>de</strong> pensamento.<br />
A manipulação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los bola–<br />
vareta <strong>de</strong>senvolve <strong>no</strong> alu<strong>no</strong> uma habili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
cognitiva muito importante para<br />
a compreensão dos fenôme<strong>no</strong>s químicos<br />
na dimensão microscópica, que<br />
é a espaciali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s representações<br />
moleculares. Habituados a reconhecer<br />
as moléculas em representações <strong>de</strong><br />
fórmulas moleculares, como CH 4 , raramente<br />
se cria oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> para o<br />
alu<strong>no</strong> ter percepção tridimensional do<br />
tetraedro (Figura 3a), figura geométrica<br />
que constitui a base para a representação<br />
<strong>da</strong>s fórmulas estruturais <strong>da</strong>s<br />
moléculas que contém átomos <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong><br />
(Figura 3b). Trata-se portanto <strong>de</strong><br />
conferir certa concretu<strong>de</strong> à representação<br />
molecular necessária ao engajamento<br />
do indivíduo <strong>no</strong> processo <strong>de</strong><br />
transição <strong>de</strong> um nível concreto para o<br />
nível formal <strong>de</strong> pensamento.<br />
No entanto, ao permanecer na<br />
representação tridimensional, corre-se<br />
o risco <strong>de</strong> estagnar sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
elaborar seus próprios mo<strong>de</strong>los mentais.<br />
Deve-se subsidiar a transição do<br />
estágio <strong>de</strong> observação<br />
do mo<strong>de</strong>lo bola–vareta<br />
concomitante a sua fixação<br />
imagética na<br />
memória, para um<br />
estágio <strong>de</strong> apropriação<br />
<strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo, <strong>no</strong> qual<br />
o alu<strong>no</strong> possa alterá-lo<br />
conforme a situaçãoproblema<br />
que lhe é<br />
apresenta<strong>da</strong>. Nessa<br />
fase <strong>de</strong> transição, po<strong>de</strong>-se<br />
operar com<br />
outra mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
simulação, capaz <strong>de</strong><br />
incorporar outros mo<strong>de</strong>los<br />
representativos<br />
<strong>da</strong>s estruturas moleculares,<br />
a simulação computacional. Por<br />
meio <strong>de</strong>ssa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>, o alu<strong>no</strong> po<strong>de</strong>rá<br />
perceber que o conceito <strong>de</strong><br />
ca<strong>de</strong>ia carbônica po<strong>de</strong> vir a ser representado<br />
por uma opção ‘esqueleto’<br />
(Figura 4a), na qual as ligações entre<br />
os átomos <strong>de</strong> carbo<strong>no</strong>, e entre estes e<br />
a)<br />
b)<br />
Figura 3: Representações do átomo <strong>de</strong><br />
carbo<strong>no</strong>. a) Figura geométrica do tetraedro.<br />
b) Mo<strong>de</strong>lo bola–vareta <strong>da</strong> molécula <strong>de</strong><br />
meta<strong>no</strong>.<br />
Não há como<br />
estabelecer<br />
correspondências<br />
diretas entre os<br />
mo<strong>de</strong>los concretos <strong>de</strong><br />
estrutura molecular e<br />
as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
moleculares trata<strong>da</strong>s<br />
na educação básica;<br />
isso não significa que<br />
tenhamos que <strong>no</strong>s<br />
ren<strong>de</strong>rmos ao<br />
<strong>no</strong>menclaturismo<br />
predominante nas<br />
estratégias <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong><br />
<strong>de</strong>ssa disciplina<br />
os <strong>de</strong> hidrogênio, estão representa<strong>da</strong>s,<br />
ou ter a <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> preenchimento espacial,<br />
próximo ao conceito <strong>de</strong> nuvem<br />
eletrônica, por uma outra opção (Figu-<br />
ra 4b), na qual as varetas<br />
não po<strong>de</strong>m<br />
mais ser percebi<strong>da</strong>s<br />
e as bolas passam a<br />
se sobrepor. Finalmente,<br />
a própria capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> rotação<br />
espacial do mo<strong>de</strong>lo<br />
<strong>de</strong> estrutura molecular,<br />
simulado na tela<br />
do computador, portanto<br />
na bidimensionali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
confere<br />
uma interação inusita<strong>da</strong><br />
com os mo<strong>de</strong>los<br />
moleculares, animando-os<br />
<strong>de</strong> acordo<br />
com as idiossincrasias<br />
do mo<strong>de</strong>lo mental do sujeito, em<br />
estágio inicial <strong>de</strong> elaboração.<br />
O <strong>papel</strong> <strong>da</strong> <strong>experimentação</strong> por simulação<br />
certamente não é o <strong>de</strong> substituir<br />
a <strong>experimentação</strong> fe<strong>no</strong>me<strong>no</strong>lógica<br />
proposta originalmente. Deve-se,<br />
em muitos casos, respeitar inclusive a<br />
or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> exposição dos grupos aos<br />
experimentos: em primeiro lugar, o<br />
a)<br />
b)<br />
Figura 4: Representações <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias<br />
carbônicas <strong>da</strong> molécula <strong>de</strong> propa<strong>no</strong>. a)<br />
Esqueleto. b) Espaço preenchido.<br />
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Experimentação e Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> Ciências N° 10, NOVEMBRO 1999