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Pesquisa, Estudo e Autonomia Intelectual - Desidério Murcho

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<strong>Pesquisa</strong>, estudo eautonomia intelectualDesidério <strong>Murcho</strong>Departamento de FilosofiaUniversidade Federal de Ouro Preto


Três idéias1. A excelência do ensino é crucial para aexcelência da investigação


Três idéias1. A excelência do ensino é crucial para aexcelência da investigação2. A excelência da investigação é crucialpara a excelência do ensino


Três idéias1. A excelência do ensino é crucial para aexcelência da investigação2. A excelência da investigação é crucialpara a excelência do ensino3. A autonomia intelectual é crucial para aexcelência de ambos


Ensino deexcelênciaInvestigaçãogenuína<strong>Autonomia</strong>intelectual


Nota terminológica• Vou usar ―ciência‖ para abranger:– Ciências humanas: antropologia, sociologia– Ciências da natureza: física, medicina– Ciências formais: matemática, lógica


Cientismo• Usa-se muitas vezes o termo ―ciência‖querendo dizer:1. O que não é parecido com a física não éciência2. O que não é ciência não é cognitivamenterelevante


Cientismo• As ciências são fundamentalmente umcorpo de resultados


As fronteiras da ciênciaFronteiras da ciência;problemas em aberto.Resultados consensuais;teorias amplamenteestabelecidas.


Ênfase enganadora• As instituições de ensino estão sobretudopreparadas para ensinar aos estudantesresultados consensuais• Os próprios estudantes só esperam issodo ensino


Do estudante espera-se►►Que compreenda os resultadosfundamentais da sua disciplina deestudosQue saiba aplicá-los no desempenho daprofissão associada


Efeitos perversos►►Ficamos sem pessoas que saibamresolver problemas reaisSó temos pessoas que aplicam (muitasvezes mal) as teorias já propostas poralguém• Ou seja, ficamos sem autonomiaintelectual


Confunde-se investigação e ensinoInvestigação• Propor e explorar teoriassobre o que ainda não sesabe<strong>Estudo</strong>• Compreender as teoriasjá propostas e exploradas


Cientismo►►Só se pode investigar o que se podeinvestigar cientificamente(experimentalmente oumatematicamente)Quando um problema não é susceptívelde resolução científica considera-se queé inútil tentar resolvê-lo


Ovos e galinhas►►Se só se pode estudar algocientificamente quando temos umametodologia científica que garantaresultados...... como surgiu a metodologia?


Origem da metodologia científica►►►Temos um problema em abertoNenhuma teoria conhecida pareceadequada para o resolverNenhuma metodologia conhecida pareceadequada• Inventamos uma metodologia einventamos uma teoria


Fazer ciência ou vê-la de longe►►►Fazer ciência é ser inventivoNão é aplicar cegamente e com muitoacademicismo as teorias e metodologiasque os estrangeiros inventaramFazer ciência implica autonomiaintelectual


O caso da filosofia►►O que acontece quando não háautonomia intelectual?O que acontece quando se tem umamentalidade cientificista?


O caso da filosofiaOs problemas filosóficosfundamentais estão emabertoQuase não háresultados consensuais


Filosofia é investigação►Não se sabe...— Se existem deuses— Se o livre-arbítrio é compatível com odeterminismo— Se o aborto é moralmente permissível— Se só as conseqüências das nossas açõessão moralmente relevantes— Etc.


Saber filosofar é saber...►►Formular e analisar os problemasfilosóficosAnalisar e avaliar as teorias eargumentos dos filósofos


Saber filosofar é saber...►►Levantar objeções e contra-argumentosàs teorias e argumentos dos filósofosReformular teorias e argumentos para ostornar mais fortes


Saber filosofar é saber...►Formular problemas, teorias eargumentos originais


Compreender não basta►►A mera compreensão pueril dos textosdos filósofos não basta para fazerfilosofiaÉ preciso ter uma atitude ativa:• O filósofo tem razão? Porquê?• Haverá alternativas melhores? Quais?


Filosofia e autonomia intelectual►►Porque a filosofia é investigação, implicaautonomia intelectualO que acontece à filosofia quando nãohá autonomia intelectual?


O desaparecimento da filosofia►►►►Substitui-se a filosofia pela história dafilosofiaOu pela apreciação estética dos textosdos filósofosOu por qualquer outra coisaMas não se ensina o estudante afilosofar: ensina-se a comentar


Três obstáculosà autonomia intelectual1. Autoritarismo2. Desconhecimento bibliográfico3. Confusão bibliográfica


1: autoritarismo• O autoritarismo mais eficaz não éexplícito• Transmite-se a idéia ao estudante de queas autoridades podem ser criticadas, massó depois de décadas de estudo intenso


1: autoritarismo• Qualquer objeção do estudante a umaautoridade é encarada como resultado deincompreensão• Não se treina ativamente no estudanteas suas capacidades críticas, masmeramente as suas capacidadesreprodutoras


2: desconhecimento bibliográfico• Desconhece-se o universo bibliográficorelevante• Não se procura ativamente bibliografia• Despreza-se a bibliografia que não sejaem português• Não se lê os periódicos internacionais daárea relevantes


3: confusão bibliográfica• Não se conhece boas bibliografiasintrodutórias• Não se distingue comentadoresinintrodutórios de obras genuinamenteintrodutórias• Pensa-se que se estuda uma dada áreaestudando sem preparação os clássicos


Os efeitos perversos• Confusão bibliográfica– O estudante esgota as suas energiascognitivas a tentar compreender o que nãotem preparação para compreender– Depois não lhe resta capacidade para avaliarcriticamente os clássicos, as autoridades, osgrandes autores


Os efeitos perversos• Confusão bibliográfica– O estudante depende do professor comoúnica fonte de esclarecimento e ajuda (logo,não ganha autonomia mas antesdependência)


Os efeitos perversos• Desconhecimento bibliográfico– Provincianismo acadêmico: desconhecimentodas áreas em aberto e da investigação queestá a ser feita nessa área– Ausência de comparação com o que demelhor se faz no mundo na nossa área


Os efeitos perversos• Autoritarismo– O estudante aprende a repetir as idéias damoda que o professor prefere– Os valores intelectuais fundamentais nãoforam cultivados


Valores intelectuais• Procura ativa e imparcial da verdade• Argumentação, análise e teorizaçãocuidadosas• Curiosidade intelectual e bibliográfica• Precisão, clareza e honestidade


O que fazer?• Divulgar bibliografias atualizadas,relevantes e adequadas para estudantes• Incentivar o espírito crítico e os valoresintelectuais


O que fazer?• Desmistificar as autoridades (seja Kantou o professor)• Estimular a autonomia intelectual e acuriosidade natural do estudante• Insistir na importância da imparcialidadee honestidade intelectual


Ensino deexcelênciaInvestigaçãogenuína<strong>Autonomia</strong>intelectual


Algumas leituras• <strong>Murcho</strong>, Desidério (2006) “Does Science Need Philosophy?” RevistaEletrônica Informação e Cognição, vol. 5, N.° 2.• <strong>Murcho</strong>, Desidério (2006) “Filosofia, investigação e ensino nauniversidade.” Filosofia na Universidade, org. por Adriana MattarMaamari, António Tadeu Campos de Bairros e José Fernandes Weber.Ijuí, RS: Unijuí.• <strong>Murcho</strong>, Desidério (2007) “Para Que Serve o Ensino?” Crítica, 2 deFevereiro, .• <strong>Murcho</strong>, Desidério (2008) “A Natureza da Filosofia e o seu Ensino.”Educação & Filosofia, vol. 22, n.º 44.

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