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Voltar - Planeta

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14S ARAH ADAMO P OULOSV O LTA Re a droga», ao mesmo tempo que exibiam uma imensa arrogância peloalegado atraso da população residente.Exactamente aquilo de que se lembra Isabel Corrêa de Pinho: «Claroque a razão principal para nos terem recebido tão mal foi pensarem quevínhamos roubar-lhes os postos de trabalho [...] Fomos mal aceites e olhadoscom muita desconfiança, nomeadamente por causa da liamba [...] Outracoisa de que não gostavam muito era das nossas roupas, que consideravamindecentes, demasiado garridas ou demasiado informais.»Quanto ao atraso da população da então «Metrópole», Emília Pereirarecorda que a aldeia para onde foi viver, terra da avó, «vivia, ainda nessaaltura, na Idade Média». Pedro Caria sentiu que tinha vindo «para um paísde brutos, onde as mulheres, sempre vestidas de preto, tinham bigode echeiravam ao fumo das lareiras». Valter Hugo Mãe considera que se sentiaainda «o lastro da ditadura», «porque nem a democracia se ensina numdia, nem num dia o fascismo se apaga das convicções das pessoas».Nem o fascismo nem uma memória edulcorada do colonialismo, aficção de uma colonização «português-suave», com ressonâncias da Ceiados Cardeais, Júlio Dantas revisto por Gilberto Freyre: «Como é diferenteo colonialismo em Portugal! [...] O colonialismo simplicidade, o colonialismodelicadeza... Ai, como sabe colonizar a gente portuguesa!»Assim, em muitos destes testemunhos permanece ainda a versão deum «colonialismo pacífico», de uma relação quase idílica entre colonizadorese colonizados, que o mero recordar da violência da repressão emBatepá, em 53, Viqueque e Pidjiquiti, em 59, Mueda e Baixa do Cassange,em 61, bastaria para desmentir.Não admira, assim, verificar a que ponto foi para quase todos, mesmopara aqueles que mais consciência tinham da injustiça do sistema colonial,uma surpresa chocante a violência que acompanhou a descolonização– a mesma surpresa com que tinham recebido, em Março de 1961, olevantamento da UPA. Margarida Rua recorda que esses ataques «nos deixarama todos muito admirados e demonstraram haver outras mãos pordetrás a manobrar aquilo. [...] Porque os africanos que conhecíamos eramdemasiado pacíficos para estarem à frente daqueles massacres». Aida Viegasrefere também «forças vindas do exterior» que instigariam a revoltanegra pós-25 de Abril: «As manifestações nas ruas começaram a surgir

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