Competência Docente na Perspectiva de Paulo Freire - Sinpro/RS
Competência Docente na Perspectiva de Paulo Freire - Sinpro/RS
Competência Docente na Perspectiva de Paulo Freire - Sinpro/RS
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Em Extensão ou Comunicação? <strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> trata, com profundo rigor, <strong>de</strong> um dospilares básicos da prática docente: o trabalho com o conhecimento. Pesquisa do prof.Fer<strong>na</strong>ndo Becker (Epistemologia do Professor) revela o quanto os docentes estão<strong>de</strong>spreparados neste aspecto <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong>, a ponto <strong>de</strong> estranharem ao seremindagados a respeito do conhecimento, chegando mesmo um professor a afirmar “Teconfesso que nunca tinha pensado nisso”. O que estará fazendo em sala um professor —esabemos perfeitamente que não é um caso isolado— que sequer compreen<strong>de</strong> como seualuno apren<strong>de</strong>? Muito provavelmente não será construção do conhecimento, mas meratransmissão. Como po<strong>de</strong> o educador <strong>de</strong>senvolver uma prática emancipatória semcompreen<strong>de</strong>r o processo <strong>de</strong> conhecimento? Depois <strong>de</strong> fazer a crítica à tradição educativa<strong>de</strong> "transformar o sujeito em objeto para receber pacientemente um conteúdo <strong>de</strong> outro"(1986: 26), <strong>Freire</strong> nos brinda com os fundamentos epistemológicos da ativida<strong>de</strong>pedagógica, apresentando a sua leitura da teoria dialética do conhecimento (síncrese,análise e síntese), bem como seu <strong>de</strong>sdobramento didático-metodológico, em especial odiálogo problematizador, uma vez que "sem a relação comunicativa entre sujeitoscognoscentes em torno do objeto cognoscível <strong>de</strong>sapareceria o ato cognoscitivo.(...) Aeducação é comunicação, é diálogo" (1986: 65; 69). Trabalha também temáticas centrais <strong>de</strong>sua obra: tomada <strong>de</strong> consciência, relação pensamento-linguagem, teoria-prática, temagerador, processo <strong>de</strong> libertação do homem etc., aliando a reflexão gnosiológica —normalmente um tanto hermética e sisuda— à práxis da educação libertadora. Nos diasatuais, com tantos modismos e solicitações, esta reflexão é indispensável para ajudar oprofessor a re-significar sua ativida<strong>de</strong> a partir do seu núcleo, possibilitando a articulaçãoconsistente entre a prática cotidia<strong>na</strong> <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula, as contraditórias <strong>de</strong>mandas sociais e ohorizonte <strong>de</strong> um novo histórico viável.Liberda<strong>de</strong>A liberda<strong>de</strong>, que é uma conquista, e não uma doação, exige uma permanente busca. Buscapermanente que só existe no ato responsável <strong>de</strong> quem a faz. Ninguém tem liberda<strong>de</strong> para serlivre: pelo contrário, luta por ela precisamente porque não a tem. (<strong>Freire</strong>, 1981b: 35)Na busca da melhor compreensão da ativida<strong>de</strong> educativa, constatamos que, além <strong>de</strong><strong>de</strong>sejo e <strong>de</strong> consciência, somos seres <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> escolha. Este é um fato <strong>de</strong> que nemsempre nos damos conta: escolhemos sempre, com maior ou menor consciência, commaior ou menor margem <strong>de</strong> opções. Não há neutralida<strong>de</strong>, uma vez que há um movimentodado no real que exige a cada momento nosso posicio<strong>na</strong>mento. A liberda<strong>de</strong> que o serhumano tem po<strong>de</strong> ser verificada <strong>na</strong>s diferentes reações que as pessoas têm diante dosmesmos estímulos; dados os mesmos elementos do meio, o indivíduo po<strong>de</strong> escolher umconjunto diferente <strong>de</strong> coisas ou até escolher as mesmas coisas, mas fazer um arranjodiferente com elas (aqui entra toda a questão da diversida<strong>de</strong>). Os alunos têm um péssimoprofessor <strong>de</strong> Matemática; um, terá ódio da matéria pelo resto da vida; outro, terá para si quea Matemática não po<strong>de</strong> ser uma coisa tão ruim e <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> estudar mais para <strong>de</strong>scobrir suasbelezas, e se tor<strong>na</strong> professor da matéria.Não se <strong>de</strong>ve pensar o ser humano como uma máqui<strong>na</strong> programável. Sempreoptamos, nem que seja optar “por <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> optar”, no sentido <strong>de</strong> seguir a opção do outro,<strong>de</strong>ixar que o outro nos conduza, opte por nós. Muitas vezes o nível <strong>de</strong> escolha é bastanterestrito, porém sempre há uma margem <strong>de</strong> escolha.3