10.07.2015 Views

1 Texto extraído da Tese de Doutorado O SOM A TELENOVELA ...

1 Texto extraído da Tese de Doutorado O SOM A TELENOVELA ...

1 Texto extraído da Tese de Doutorado O SOM A TELENOVELA ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

9Incluem-se aqui as emissões sonoras não-fonológicas do aparelho fonador humano: risa<strong>da</strong>s, tosses, assobios,sussurros, bocejos etc. Os sons, em primeira instância, são a representação <strong>de</strong> fontes humanas naturais e/ou artificiais.Como tal, os sons carregam o sentido referencial <strong>da</strong> existência <strong>de</strong> uma ou várias fontes. Uma trilha sonora realistalimita-se a captar os sons possíveis <strong>da</strong> paisagem sonora representa<strong>da</strong> na imagem. Porém, um barulho po<strong>de</strong> indicar areali<strong>da</strong><strong>de</strong>, trazendo informações sobre ela. No audiovisual, contudo, os sons não se limitam a essa referencialização <strong>de</strong>fontes sonoras. Os sons po<strong>de</strong>m em parceria com a imagem e/ou com o narrado trazer informações, sentidos, para alémdo real. Os sons possibilitam ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros <strong>de</strong>sdobramentos do real, enquanto a imagem continua sua linha realística, sejana utilização <strong>de</strong> sons humanos, naturais e artificiais como em suas diversas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> modificações sonoras ouefeitos especiais <strong>de</strong> som.O som no jogo do real e do imaginárioA função primeira dos sons nos audiovisuais: "o realismo ou, melhor dizendo, a impressão <strong>de</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>: o somaumenta o coeficiente <strong>de</strong> autentici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> imagem; a credibili<strong>da</strong><strong>de</strong> - não apenas material, mas estética - <strong>da</strong> imagem éliteralmente multiplica<strong>da</strong> por <strong>de</strong>z: o espectador reencontra <strong>de</strong> fato essa polivalência sensível, essa compenetração <strong>de</strong>todos os registros perceptivos que nos impõe a presença indivisível do mundo real" (Martin, 1990: 114).É evi<strong>de</strong>nte que a imagem <strong>de</strong>termina as ocorrências dos sons. Na representação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado contextovisual <strong>de</strong>ve-se ouvir a representação <strong>da</strong> correspon<strong>de</strong>nte paisagem sonora. Na<strong>da</strong> tão óbvio, porém realista, que naimagem <strong>de</strong> uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, o som ofereça buzinas, ronco <strong>de</strong> motores, burburinho <strong>de</strong> pessoas, frea<strong>da</strong>s <strong>de</strong> carros etc., ou quea imagem <strong>de</strong> uma floresta ofereça sons <strong>de</strong> grilos, passarinhos, coaxar <strong>de</strong> rãs etc. Assim, do ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>,to<strong>da</strong>s as fontes sonoras representa<strong>da</strong>s ou não na imagem, que possam estar emitindo um som, <strong>de</strong>vem ser ouvi<strong>da</strong>s. Areali<strong>da</strong><strong>de</strong> visual <strong>de</strong>ve ter sua correspon<strong>de</strong>nte auditiva.A trilha sonora, no entanto, é uma construção sonora. Com exceção dos sons que são gravados juntamente com avoz, todos os outros sons são acrescentados à trilha na fase <strong>de</strong> pós-produção. Na maioria <strong>da</strong>s vezes, o processamentodos sons (e <strong>da</strong>s músicas) é a fase final <strong>da</strong> realização <strong>de</strong> um audiovisual. Com a imagem pronta, e a partir <strong>de</strong>la, monta-sea trilha sonora. Essa montagem implica um processo <strong>de</strong> seleção <strong>da</strong>s fontes sonoras que <strong>de</strong>verão ser ouvi<strong>da</strong>s. Nestemomento a impressão <strong>de</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> ganha seu valor, os sons escolhidos e mixados <strong>de</strong>vem passar essa impressão. Mas éaí, também, que a seleção sonora começa a trabalhar com o irreal, com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> imaginária. Já que na montagem, osom po<strong>de</strong> ser totalmente manipulado, suas presenças e ausências controla<strong>da</strong>s.A impressão <strong>de</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> apoia-se mais na reprodução e seleção dos sons que fazem parte <strong>da</strong> paisagem sonorado que na própria imagem. Os sons mais evi<strong>de</strong>ntes são os chamados sons <strong>de</strong> cena, correspon<strong>de</strong>ntes às múltiplas epequenas fontes sonoras, visíveis ou não, que se encontram em cena. Estes sons fornecem um profundo valor realista àcena, pois, mesmo sem que prestemos atenção, a gran<strong>de</strong> maioria dos sons cotidianos correspon<strong>de</strong>m a este tipo <strong>de</strong>ocorrências, sem eles o som não soaria real. Neste sentido vale a pena ouvir o som <strong>da</strong>s telenovelas hispano-americanasdubla<strong>da</strong>s para o português. Como muitos sons <strong>de</strong> cena estão registrados junto com as vozes originais em espanhol, nomomento <strong>da</strong> dublagem estes sons <strong>de</strong>saparecem. Sua ausência gera um "mal-estar auditivo" na incômo<strong>da</strong> sensação <strong>de</strong>"tem alguma coisa faltando e não sei o que é".A partir <strong>da</strong> impressão <strong>de</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, os sons-in ganham importância. Por sons-in enten<strong>de</strong>-se os sons que têm suafonte sonora plenamente visível na imagem. Estes sons mantêm a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> audiovisual entre o visto e o ouvido. Noentanto, a gran<strong>de</strong> maioria <strong>da</strong>s ocorrências <strong>de</strong> sons <strong>de</strong> cena tem a fonte fora do campo visual. Os sons-off <strong>de</strong> cenapossuem valor realísticos na dimensão <strong>de</strong> construção do espaço diegético. Os sons-off diegéticos constituem umaconfirmação <strong>de</strong> que existe um espaço para além <strong>da</strong> imagem. Os sons-off também informam sobre o tempo completandoa construção <strong>da</strong> diégese.Nessa linha <strong>de</strong> análise Zettl <strong>de</strong>screve três funções <strong>de</strong> orientação para os sons <strong>de</strong> cena (por ele chamados <strong>de</strong> sonsliterais):1. A orientação espacial, na qual os sons informam e reproduzem a sensação <strong>de</strong> permanência ou presença em umlugar específico;2. A orientação no tempo, os sons permitem estabelecer o período do dia, a estação do ano e/ou a época históricados acontecimentos, e3. A orientação <strong>de</strong> circunstâncias especiais, os sons criam expectativa, alerta ou geram uma tensão sobre os fatosapresentados (Zettl, 1973: 335-6). Estes últimos trazem uma informação além <strong>da</strong> presença <strong>da</strong> fonte na diégese, eles<strong>de</strong>nunciam circunstâncias especiais, ou seja, algo que sai do normal.Os sons e suas relações audivisuaisA participação dos sons na impressão <strong>de</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, na construção <strong>da</strong> diégese e na orientação em situaçõesespeciais já é uma forma evi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong>s relações audiovisuais. Até aqui somente nos referimos aos sons diegéticos em seu

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!