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Revista 40 anos da Contag

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PUBLICAÇÃO REFERENTE AO <strong>40</strong>º ANIVERSÁRIO DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NA AGRICULTURA - CONTAG - FUNDADA EM 22 DE FEVEREIRO DE 1963ANOS DE LUTAS AO LADO DO HOMEM E DA MULHER DO CAMPO


VAMOS MANTER FORTE O SISTEMA CONTAG


FICHA TÉCNICADIRETORIA EFETIVAManoel José dos SantosPresidenteAlberto Ercílio Broch1º Vice-Presidente e Secretário de RelaçõesInternacionaisHilário GottseligSecretário GeralJuraci Moreira SoutoSecretário de Finanças e AdministraçãoGuilherme Pedro NetoSecretário <strong>da</strong> AssalariadosMaria <strong>da</strong> Graça AmorimSecretária de Política Agrária e Meio AmbienteNatal Ribeiro MacielSecretário de Política AgrícolaFrancisco Miguel de LucenaSecretaria de Organização e Formação SindicalMaria de Fátima Rodrigues <strong>da</strong> SilvaSecretária de Políticas SociaisRaimun<strong>da</strong> Celestina de MascenaCoordenadora <strong>da</strong> Comissão Nacional de MulheresTrabalhadoras RuraisSimone BattestinCoordenadora <strong>da</strong> Comissão Nacional de JovensTrabalhadores e Trabalhadoras RuraisSupervisão <strong>da</strong> Publicação: ManoelJosé dos Santos Edição e Revisão:Adriana Borba Fetzner (6.100/DRT-RS0)Pesquisa e Coordenação dos Textos:Adriana Borba Fetzner - AmarildoCarvalho de Souza Textos: AdrianaBorba Fetzner - Amarildo Carvalho deSouza - Denise Arru<strong>da</strong> - Rosane Garcia- Solon Dias Colaboração: ArmandoSantos neto - Cléia Anice <strong>da</strong> Mota PortoEvandro José Morello - Maria José CostaArru<strong>da</strong> - Maria do Socorro Silva - Mariado Socorro Sousa - Marleide BarbosaSousa - Paulo de Oliveira Poleze Fotos:César Ramos e arquivos <strong>da</strong> CONTAGEditoração Eletrônica e Capa: VersalDesign Fotolito e Impressão:Permiti<strong>da</strong> a reprodução, desde que cita<strong>da</strong>a fonte. Solicita-se envio de exemplar oucópia para os editores.Confederação Nacional dos Trabalhadoresna Agricultura – CONTAGSMPW Quadra 01 Conjunto 02 Lote 02 -71.735-010 – Núcleo Bandeirantes / DF -Fones (61) 2102.2288 – Fax (61) 2102.2299www.contag.org.brE-mail: contag@contag.org.br5 Introdução7 Mensagem9 História de nossas raízes13 As primeiras lutas15 <strong>Contag</strong> primeira organização sindical19 <strong>Contag</strong> resistência ao regime23 Os rumos MSTR24 Eleições e Congressos Nacionais47 Desenvolviemento sustentável59 <strong>Contag</strong> e a justiça social60 <strong>Contag</strong> defende a democratização69 Agricultura familiar75 Organização de homens e mulheres81 Formação sindical85 Educação do campo89 Desafios para proseguir91 Gestão sindical95 Política sindical103 Sustentabili<strong>da</strong>de105 A <strong>Contag</strong> e as relações internacionais106 A festa dos <strong>40</strong> <strong>anos</strong>107 A uni<strong>da</strong>de na adversi<strong>da</strong>de109 Cronologia <strong>da</strong> lutaCONTAG <strong>40</strong> ANOS - 3


4 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


apresentação<strong>40</strong> <strong>anos</strong> de lutas e conquistascom satisfação que comemoramos <strong>40</strong> <strong>anos</strong>Éde existência <strong>da</strong> CONTAG e mais uma vezhomenageamos os que construíram a nossahistória, que acreditaram e acreditamna capaci<strong>da</strong>de de organização dos trabalhadores etrabalhadoras rurais.Nossa trajetória é fruto de organização, trabalho,articulação e mobilização dos Sindicatos e Federaçõesde Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, que emca<strong>da</strong> município e Estado, vem desde a fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>CONTAG, em 22 de dezembro de 1963, construindo oMovimento Sindical de Trabalhadores e TrabalhadorasRurais – MSTTR, com uma postura de luta e plurali<strong>da</strong>de,trabalhando com a diversi<strong>da</strong>de regional, culturale produtiva do meio rural no nosso país.Ao longo desses <strong>anos</strong> a atuação <strong>da</strong> CONTAG contribuiupara a ampliação e o fortalecimento <strong>da</strong> organizaçãoe representação sindical no meio rural: reivindicando,mobilizando, propondo e negociando políticasagrícolas diferencia<strong>da</strong>s, direitos trabalhistas epolíticas sociais que resgatem a área rural, enquantoespaço de vi<strong>da</strong>, de luta, de trabalho e de construçãode conhecimentos, capazes de promover as transformaçõesnecessárias para um desenvolvimentosustentável em nosso país.Essa trajetória possibilitou que, nos últimos 10 <strong>anos</strong>,a CONTAG elaborasse, coordenasse e implementasseo PROJETO ALTERNATIVO DE DESENVOLVIMENTO RURALSUSTENTÁVEL – PADRS, que representa um passosignificativo para a articulação e unificação <strong>da</strong>s lutasdos trabalhadores e trabalhadoras rurais. O PADRSpropõe um novo tipo de relação entre o campo e aci<strong>da</strong>de e a perspectiva de um novo projeto de desenvolvimentoque inclua equi<strong>da</strong>de de oportuni<strong>da</strong>des,justiça social, empoderamento dos atores sociais,preservação ambiental, soberania e segurança alimentar,e crescimento econômico.O ponto de parti<strong>da</strong> para elaboração do PADRS,portanto, foi a concepção de desenvolvimento ruralsustentável, cujos eixos se fun<strong>da</strong>mentam:Na luta pela Reforma Agrária, como ferramentaestratégica para a promoção <strong>da</strong> função social <strong>da</strong>CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 5


terra, para o resgate <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia de milhões detrabalhadores e trabalhadoras rurais, para geraçãode emprego e ren<strong>da</strong> dentro e fora do setor agrícola,como forma de combate à fome e à pobreza, a sustentabili<strong>da</strong>deambiental e o desenvolvimento <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>desenvolvi<strong>da</strong>s, processos essenciais para ofortalecimento <strong>da</strong> agricultura familiar.No fortalecimento <strong>da</strong> agricultura familiar, comoestratégia produtiva e de desenvolvimento para o país,que se viabiliza a partir de uma economia solidária ecooperativista, articula<strong>da</strong>s com novas tecnologias eativi<strong>da</strong>des não-agrícolas.Na luta pelos direitos trabalhistas e melhorescondições de vi<strong>da</strong> para os assalariados e assalaria<strong>da</strong>srurais, com salário digno, democratização nas relaçõesde trabalho, cumprimento dos direitos trabalhistas comquali<strong>da</strong>de de emprego e vi<strong>da</strong> no meio rural.Na construção de novas atitudes e valores paraas relações sociais de gênero e geração, fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>no reconhecimento <strong>da</strong>s diferenças e do direitode ca<strong>da</strong> pessoa, no aprender e ensinar a partilhar opoder e o saber, na participação efetiva na organização,na produção, na família e na socie<strong>da</strong>de.Na luta por políticas sociais e democratizaçãodos espaços públicos. A educação, a saúde, o lazer,a formação profissional, a pesquisa, o assessoramentotécnico, o meio ambiente, os esportes, a cultura,a previdência e a assistência social são elementosestruturais de qualquer proposta de desenvolvimentoe de vi<strong>da</strong> digna no campo.A implementação desses eixos levou a uma novaorganização <strong>da</strong> estrutura e <strong>da</strong> agen<strong>da</strong> sindical. Estimulounovas frentes de lutas e ações nos sindicatos,federações e CONTAG, <strong>da</strong>ndo amplitude, diversi<strong>da</strong>dee plurali<strong>da</strong>de a nossa ação sindical, evidenciando queo desenvolvimento sustentável precisa ser construídotodos os dias, pois a mu<strong>da</strong>nça do modelo econômico,político e social excludente não é tarefa que se realizerapi<strong>da</strong>mente, nem será feita só por nossa organização.A partir dessa compreensão, o diálogo permanentecom a socie<strong>da</strong>de e a busca de parcerias são elementosfun<strong>da</strong>mentais nesse processo.A criação de secretarias específicas por frentes delutas; a ampliação <strong>da</strong> participação <strong>da</strong>s mulheres,jovens, terceira i<strong>da</strong>de; a luta pela erradicação dotrabalho infantil; a formulação de uma proposta deeducação do campo; a luta contra o trabalho escravo;a democratização de sua estrutura com a realizaçãode congressos eleitorais e a filiação à CUT foram algumas<strong>da</strong>s transformações e conquistas que qualificaramnossa intervenção nas diferentes políticas deinteresse dos trabalhadores e trabalhadoras do campo.Essas mu<strong>da</strong>nças possibilitaram à CONTAG apresentaruma proposta de Política de Crédito diferenciadopara a agricultura familiar, que contou com o apoio<strong>da</strong>s enti<strong>da</strong>des parceiras. Foi uma contribuição essencialpara a criação do PROGRAMA NACIONAL DE FOR-TALECIMENTO DA AGRCULTURA FAMILIAR – PRONAF,que permanentemente é modificado com o propósitode atender a to<strong>da</strong>s as necessi<strong>da</strong>des dos agricultores eagricultoras familiares do nosso país.Para compreender a amplitude do PADRS, precisamosconhecer a nossa história, lutas e organização.Nenhuma instituição consegue construir um projetode tal dimensão, se durante esses <strong>40</strong> <strong>anos</strong>, nãotivesse ousado, entre erros e acertos, ser participativa,includente e plural, mesmo nos momentos maisdifíceis <strong>da</strong> política e economia brasileira.A nossa cultura organizacional possibilitoumanter-nos unificados durante esses <strong>40</strong> <strong>anos</strong>. Hojetemos mais de 4 mil Sindicatos de Trabalhadores eTrabalhadoras Rurais e 27 Federações filia<strong>da</strong>s,afirmando que nossa determinação e resistênciaforam a base para o crescimento <strong>da</strong> organização.Por tudo isso, surge a proposta <strong>da</strong> nossa revista.Ela traz um resumo <strong>da</strong> nossa memória sindical eresgata nossas raízes. Registra, principalmente, umpouco do que aconteceu nos últimos 10 <strong>anos</strong> de nossatrajetória. Ela foi escrita, em especial, para nossosfiliados e filia<strong>da</strong>s que vem, ao longo desses <strong>anos</strong>,fazendo nossa história. No entanto, todos/as quedesejam conhecer a luta de um povo, de uma organizaçãoque vem buscando melhores condições de vi<strong>da</strong>e digni<strong>da</strong>de para os trabalhadores e trabalhadorasrurais do nosso país, encontrarão aqui a históriaconta<strong>da</strong> pelos protagonistas.Diretoria <strong>da</strong> CONTAG6 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


mensagemAgência Brasil - ABr/ Ana NascimentoO Presidente Lula anunciando oresultado <strong>da</strong>s negociações do Grito <strong>da</strong>Terra Brasil/2003 - CESIR/CONTAGCompanheiros e companheiras <strong>da</strong> CONTAG,<strong>da</strong>s FETAGs e dos Sindicatos de TrabalhadoresRurais de todo o país:O <strong>40</strong>º aniversário <strong>da</strong> CONTAG é, paratodos nós que lutamos por melhores condições devi<strong>da</strong> para todos os brasileiros, um momento especial.Nele celebramos a plena capaci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> classetrabalhadora para afirmar a democracia e os direitossociais no país.Como liderança sindical e dirigente político pudetestemunhar, ao longo <strong>da</strong>s últimas déca<strong>da</strong>s, oempenho <strong>da</strong> CONTAG e <strong>da</strong>s Federações e Sindicatosa ela vinculados, na organização, educação emobilização dos trabalhadores e trabalhadoras docampo, assalariados e assalaria<strong>da</strong>s rurais,agricultores e agricultoras familiares do nosso país.Não é possível separar, nesse tempo todo, a causa<strong>da</strong> reforma agrária como condição para a paz nocampo e para o desenvolvimento sustentável, asconquistas sociais e previdenciárias do homem e <strong>da</strong>mulher do campo, ou os avanços na política agrícolado país, <strong>da</strong> História de lutas <strong>da</strong> CONTAG. A Enti<strong>da</strong>de,liderando os trabalhadores e trabalhadoras docampo, com inteligência e bravura, sensibilizou asocie<strong>da</strong>de brasileira sobre a justeza <strong>da</strong>s suas tesese conquistou importantes direitos sociais, tornandoosca<strong>da</strong> vez mais efetivos.Também na condição de Presidente <strong>da</strong> Repúblicaposso <strong>da</strong>r meu depoimento sobre a importância <strong>da</strong>CONTAG na missão comum que temos detransformar o Brasil num país mais eqüitativo esoberano. Combinando a capaci<strong>da</strong>de de diálogo enegociação com o governo, com grandesmobilizações de massa como foram o Grito <strong>da</strong>Terra, nas edições de 2003 e 2004, e a Marcha <strong>da</strong>sMargari<strong>da</strong>s - a maior manifestação popular realiza<strong>da</strong>ao longo do meu governo -, foi possível ao paísavançar nas suas políticas públicas e na construçãode melhores condições para a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>agricultura familiar.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 7


A construção do Plano Nacional <strong>da</strong> ReformaAgrária; a ação estatal no combate ao trabalhoescravo e a fiscalização do cumprimento <strong>da</strong>legislação trabalhista; o aperfeiçoamento euniversalização do crédito agrícola, que nesses doisprimeiros <strong>anos</strong> do meu governo triplicou os recursosdestinados ao PRONAF; a definição e implementaçãodo seguro agrícola; a afirmação dos direitos <strong>da</strong>smulheres do campo; a qualificação <strong>da</strong>s políticaspúblicas de saúde e educação, são algumas <strong>da</strong>sconquistas que estão transformando a reali<strong>da</strong>de docampo brasileiro. Estou convicto de que essesavanços não teriam sido possíveis se o governo nãotivesse no sistema CONTAG um interlocutorpermanente que, sem renunciar à autonomiasindical, demonstrou capaci<strong>da</strong>de para negociar comfirmeza e ponderação os consensos que estãoproduzindo mu<strong>da</strong>nças estruturais no país,beneficiando os homens e mulheres do campo,criando empregos, distribuindo ren<strong>da</strong> eimpulsionando a nova dinâmica econômica de umpaís que queremos mais justo e equilibrado.Recebam todos - dirigentes, associados eassocia<strong>da</strong>s <strong>da</strong> CONTAG e <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong>des sindicais quea integram - o reconhecimento do governo e o meuabraço fraterno, com a reafirmação do nossocompromisso com as causas que animam e dão sentidoà História do sindicalismo no campo brasileiro.Luiz Inácio Lula <strong>da</strong> Silva Presidente <strong>da</strong> RepúblicaAgência Brasil - ABr/ Ana NascimentoO Presidente Lulae o Presidente <strong>da</strong>CONTAG, Manoeldo Santos noencerramento doGrito <strong>da</strong> TerraBrasil/2003 -CESIR/CONTAG8 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


históriaA história denossas raízesestá associa<strong>da</strong> àluta por terra paraviver e produzirAapropriação do territóriobrasileiro pelos portuguesesse deu pela colonizaçãode exploração. Arrancavam<strong>da</strong> Colônia tudo que ela pudesseoferecer. Podemos afirmar que a lutapela terra começa no momento emque os colonizadores perceberam aimensidão do território brasileiro, ricoem matérias primas totalmentedisponíveis para exploração.O Brasil foi dividido em grandesáreas, chama<strong>da</strong>s de capitaniashereditárias. Ca<strong>da</strong> uma delas foientregue como concessão a nobresportugueses - os donatários, com acondição de que as explorassem,povoassem e pagassem impostos àCoroa Portuguesa, originando, assim,o latifúndio. Os donatários nãopodiam vender a terra, mas tinhamautorização de entregar parcelas deterra, as sesmarias, a pessoas quequisessem produzir nelas. Essaspessoas tinham o direito de possedurante aquele período, porém nãoficavam com o título.Os donos não permitiam o estabelecimentode lavradores emsuas terras, a não ser como seusdependentes, isso fez com quemuitos se tornassem posseiros depequenas porções existentes entreuma proprie<strong>da</strong>de e outra. Outrosforam para locais distantes, começandoa formar a categoria deagricultores familiares.Nessa terra existia um povo, apopulação indígena. Eram aproxima<strong>da</strong>mentecinco milhões depessoas 1 espalha<strong>da</strong>s por todo oterritório, com culturas diferen1Portugal tinha aproxima<strong>da</strong>mente 1 milhão de habitantes.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 9


cia<strong>da</strong>s. Quando oscolonizadores chegaram, o choquecultural foi tão profundo, que adesagregação levou muitos dospovos à extinção, à migração paralocais mais isolados, àescravização e à submissãocultural.O clima quente e úmido e otipo de solo despertaram a atençãodos portugueses para o cultivo<strong>da</strong> cana-de-açúcar. Nobres ecomerciantes instalaram aqui osengenhos de açúcar, iniciando oque chamamos de plantation, umacombinação de latifúndio e monoculturavolta<strong>da</strong> a atender ao mercadoexterno. A mão-de-obraescrava, oriun<strong>da</strong> <strong>da</strong> África, sustentavaesse modelo. Uma <strong>da</strong>sformas mais significativas deresistência dos escravos afric<strong>anos</strong>era a fuga para os quilombos.No século XIX, chegaram os primeiroscolonos europeus nãoportugueses- suíços, alemães,itali<strong>anos</strong>. Eram agricultores pobresatraídos para o Brasil por promessasde terra, que passaram aocupar áreas ain<strong>da</strong> não utiliza<strong>da</strong>s,nas regiões Sul e Sudeste, etrabalhavam, principalmente, noregime de parceria ou colonato.Esses colonizadores promoveramconflitos por terra e pela libertaçãodos escravos.Em 1850, o Império restringiuo direito de posse <strong>da</strong> terra, pormeio <strong>da</strong> Lei de Terras. Significouo casamento do capital com a proprie<strong>da</strong>dede Terra, pois a partirdesse momento a terra foi transforma<strong>da</strong>em uma mercadoria. Somentequem já dispunha dela e decapital podia ser proprietário,impedindo que ex-escravos, posseirose os imigrantes pudessemse tornar proprietários, mas sim,se constituíssem em mão-de-obraassalaria<strong>da</strong> necessária nos latifúndios.Segundo José de Souza Martins,professor <strong>da</strong> USP: “Enquantoo trabalho era escravo, a terra eralivre. Quando o trabalho ficou livre,a terra ficou escrava”.Nesse período, milhares de nordestinos,fugindo <strong>da</strong> seca e <strong>da</strong> criseeconômica dos engenhos de açúcar,foram para o Norte trabalhar naextração dos produtos <strong>da</strong> floresta,principalmente a borracha e a castanha.Essa migração contribuiu paraa formação <strong>da</strong> atual população deagricultores familiares amazônicos.10 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


O fim <strong>da</strong> primeira guerra mundial(1914-1918), a revolução russa(1917), a quebra <strong>da</strong> bolsa de NovaYork (1929), a crise do café, omovimento tenentista e a colunaPrestes marcaram uma grandeseqüência de manifestações deoperários, artistas, militares,camponeses que começaram areivindicar a suspensão do pagamento<strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> externa, a reformaagrária, a elaboração de uma legislaçãoprotegendo os trabalhadoresrurais, e a colonização em terrasdevolutas com base em pequenasproprie<strong>da</strong>des. A inexistência deuma organização que aglutinasseessas bandeiras, à época, foi umdos fatores que impediu a elaboraçãoe implementação de legislaçãoespecifica para o campo.Quando terminou a segun<strong>da</strong>guerra mundial, em 1945, o Brasilrespirava uma atmosfera políticapesa<strong>da</strong>. Na economia, a agroexportação,especialmente a docafé, era priori<strong>da</strong>de do governo.O processo de industrializaçãocomeçava a se fortalecer. O principalinvestidor era o Estado, quecriou as empresas estatais nossetores de indústria de base e deinfra-estrutura.Um grande grupo de acadêmicose políticos defendiam a tesede que para o Brasil alcançar odesenvolvimento almejado deveriase converter numa economia industrializa<strong>da</strong>.Estimular a agriculturafamiliar seria a condenação aosubdesenvolvimento. Entretanto,também foi nesse período queoutro grupo de formadores deopinião argumentava que o Brasilnão atingiria o desenvolvimentoalmejado sem resolver os sériosproblemas fundiários do país. Muitasproposições foram apresenta<strong>da</strong>sno Congresso Nacional paramodificar a estrutura agrária brasileira,porém a aristocracia rural,que coman<strong>da</strong>va a política, impediua evolução <strong>da</strong>s propostas quesignificavam uma ameaça à manutenção<strong>da</strong> concentração de terra.No governo Juscelino Kubitschek,a industrialização foiimpulsiona<strong>da</strong>. Apesar do crescimentoindustrial, o país continuavaa ser agro-exportador de produtosprimários, a agricultura ain<strong>da</strong> eradomina<strong>da</strong> pelo latifúndio, pelamiséria do camponês e a dependênciapessoal em relação aossenhores de terra.Isso se reflete também naaprovação <strong>da</strong>s leis trabalhistas,pois a Consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s Leis doTrabalho (CLT), que foi aprova<strong>da</strong>em 1943, valiam apenas para ostrabalhadores urb<strong>anos</strong>, no entanto,60% dos brasileiros viviam nocampo. Eram reconheci<strong>da</strong>s apenasas organizações dos donos deterras, os sindicatos patronais,conforme o Decreto 979 de 1903.Na déca<strong>da</strong> de 1960, do séculopassado, o país falava em reformasde base. As principais reformaseram na estrutura agrária, naeducação e no sistema bancário.Nesse período foi criado o Estatutodo Trabalhador Rural (1963), queconcedia aposentadoria porinvalidez ou por velhice. As lutaslidera<strong>da</strong>s pelas Ligas Camponesasno Nordeste e o surgimento dossindicatos de trabalhadores rurais,federações e CONTAG, influenciaramna criação dessas leis, fatoque deixou os latifundiários aborrecidoscom o governo.A mobilização popular a favor<strong>da</strong>s reformas amedrontou a classedominante, que temia o início deuma série de transformaçõesradicais no país. A resposta <strong>da</strong>selites veio de imediato. No dia 31de março, de 1964, as tropas militaresocuparam os pontos estratégicosdo país, autoritarismo,desrespeito à Constituição, perseguição,prisão e tortura aos opositores,e censura prévia nos meiosde comunicação.Em 1964, foi decreta<strong>da</strong> aprimeira Lei de Reforma Agráriado Brasil, denomina<strong>da</strong> Estatuto <strong>da</strong>Terra. Por um lado, definiu regraspara os contratos de arren<strong>da</strong>mentoe parceria, como respostaàs reivindicações do movimentosindical; por outro, incentivou opacote tecnológico <strong>da</strong> chama<strong>da</strong>“Enquanto o trabalha era escravo, a terra era livre.Quando o trabalho ficou livre, a terra ficou escrava.”CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 11


“Revolução Verde”, que teve comoprincipal conseqüência a saí<strong>da</strong> demuitos agricultores familiares <strong>da</strong>ssuas proprie<strong>da</strong>des, ampliandoain<strong>da</strong> mais a miséria na área rurale nas ci<strong>da</strong>des.Essa “Revolução Verde” baseava-seno modelo agro-químico,referencial implantado por grandescorporações multinacionais, quebuscava a “modernização” e aprodutivi<strong>da</strong>de do campo de formasubordina<strong>da</strong> à industrialização.Nesse período, as transferênciasde tecnologias desenvolvi<strong>da</strong>s(adubo, veneno, varie<strong>da</strong>des melhora<strong>da</strong>se maquinário moderno) paraos países do terceiro mundo foramutiliza<strong>da</strong>s como forma de modernizara agricultura patronal e osgrandes complexos agro-industriais,além de estimular a agroexportaçãoe o pagamento doscompromissos internacionais.No final dos <strong>anos</strong> 70, do séculoXX, o modelo desenvolvimentistaentrou em crise, provoca<strong>da</strong> poruma grande reorganização docapitalismo mundial e pela falênciafinanceira <strong>da</strong> maioria dos governos.Essa crise provocou o aumento<strong>da</strong>s dívi<strong>da</strong>s interna e externa, aexplosão <strong>da</strong> inflação e uma forterecessão em to<strong>da</strong> a déca<strong>da</strong> de 80,do século XX.Diante de tantas pressões, asobrevivência <strong>da</strong> agricultura familiarficou ca<strong>da</strong> vez mais vincula<strong>da</strong> ànecessi<strong>da</strong>de de fortalecimento desua organização coletiva. Hoje, aagricultura familiar no Brasil correspondea 85,2% dos estabelecimentosrurais. Embora ocupe apenas30,5% <strong>da</strong> área total destina<strong>da</strong> àprodução rural, continua sendo oprincipal setor que abastece dealimentos o mercado interno eenfrenta sérios desafios na luta porpolíticas públicas que reforcem seupapel estratégico no desenvolvimentosustentável do país.A agricultura familiar doBrasil corresponde a 85,2%dos estabelecimentos rurais.Embora ocupe 30,5% <strong>da</strong> áreatotal destina<strong>da</strong> a produçãoagrícola e seja o principalsetor de abastecimento domercado interno.12 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


históriaAs primeiras lutasAcrescente politização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> lutados operários urb<strong>anos</strong> alcançou níveis nuncaantes vistos no Brasil. Conseqüentemente,a luta no campo ganhou quali<strong>da</strong>de e organização.Lideranças populares despontaram, principalmente,contra o regime de meia - entrega de metade<strong>da</strong> produção -, pela regularização fundiária e pormelhores salários.Na déca<strong>da</strong> de 50, do século passado, as organizaçõescamponesas passaram a se contrapor, deforma articula<strong>da</strong>, contra as ações de despejosacionados pelos usineiros e latifundiários, a exemplode Porecatu, no Paraná (1950-1951) e, a luta dosposseiros e arren<strong>da</strong>tários de Trombas e Formoso,em Goiás (1954-1957), onde várias lideranças debase se destacaram.Outras lutas, igualmente importantes, foramtrava<strong>da</strong>s pelos arren<strong>da</strong>tários contra os contratos quefavoreciam os proprietários. Os documentos eramelaborados com base na “meia” ou no “cambão” -obrigação de <strong>da</strong>r, gratuitamente, dois ou quatro diasde trabalho para o dono <strong>da</strong> terra.Em Pernambuco, fun<strong>da</strong>ram a Socie<strong>da</strong>de Agrícolae Pecuária dos Plantadores, promovendo uma <strong>da</strong>smais importantes lutas <strong>da</strong> época, no EngenhoGaliléia, no município de Santo Antão. Foi quandosurgiu a primeira experiência de Ligas Camponesase, conseqüentemente, de resistência camponesaCONTAG <strong>40</strong> ANOS - 13


articula<strong>da</strong> a objetivos políticosmais definidos.A idéia inicial dessa liga Camponesaera, de certo modo, pacífica:organizar escolas para osfilhos dos lavradores; adquirircaixões para fazer frente ao altoíndice de mortali<strong>da</strong>de infantil naregião; adquirir sementes, insetici<strong>da</strong>se instrumentos agrícolas;auxílio governamental, comoassistência técnica, entre outros.Mas o proprietário do engenho,pressionado por outros usineirosque não viam com bons olhos aautonomia <strong>da</strong> organização camponesa,exigiu sua extinção ebuscou auxílio na Justiça, queimpetrou uma ação de despejo.Os demais proprietários temiamque o movimento de EngenhoGaliléia pudesse servir de exemploem outras usinas.Essa iniciativa precipitou umdos maiores conflitos de terra nointerior do nordeste. A resistênciados trabalhadores foi organiza<strong>da</strong>em três frentes: uma no campo,outra na Justiça e a terceira naAssembléia Legislativa. Entrou emcena o advogado e deputado estadualFrancisco Julião, contratadopelos trabalhadores para defendêlosna ação de despejo. Julião tevepapel decisivo na consoli<strong>da</strong>ção edifusão <strong>da</strong>s Ligas Camponesas,por meio de diversas publicaçõese de uma combativa atuação noLegislativo estadual.A batalha judicial durou 14<strong>anos</strong>. Inicia<strong>da</strong> em 1945, só viriaterminar em 1959, quando foiaprova<strong>da</strong> a desapropriação doEngenho Galiléia. A vitória nãosomente deu notorie<strong>da</strong>de à lutados camponeses de Galiléia, comotambém transformou o engenho noprimeiro núcleo <strong>da</strong>s Ligas Camponesas,símbolo <strong>da</strong> reforma a-grária que os trabalhadores ruraisreivindicavam.A luta camponesa passa a teruma postura politiza<strong>da</strong> e politizadora.No processo de organizaçãoe luta, foram cria<strong>da</strong>s outrasorganizações como o Movimentodos Agricultores Sem Terra – MASTER,na região sul do país. As váriasformas de organizações camponesaspassaram a sentir a necessi<strong>da</strong>dede uma articulação nacionalque representasse os interesses eas deman<strong>da</strong>s específicas.Fruto dessa efervescência políticae <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de articularessas lutas e organizações docampo, em 1954, surgiu a Uniãodos Lavradores e TrabalhadoresAgrícolas do Brasil - ULTAB,durante a II Conferência Nacionaldos Lavradores, realiza<strong>da</strong> em SãoPaulo. O primeiro presidente foiLyndolpho Silva, que uma déca<strong>da</strong>depois, viria a ser o primeiropresidente <strong>da</strong> CONTAG.Nessa Conferência, os lavradorese trabalhadores agrícolasidentificaram as bandeiras prioritáriaspara a ULTAB: reformaagrária; título de proprie<strong>da</strong>de plenaa posseiros; adoção de medi<strong>da</strong>s deapoio à produção, de combate aosregimes semifeu<strong>da</strong>is de exploraçãodo trabalho (cambão, meia,etc) e, o estímulo à criação desindicatos de trabalhadores rurais.“Nestes <strong>40</strong> <strong>anos</strong>, decisões foram importantespara qualificar a ação <strong>da</strong> CONTAG. Destaco afiliação à CUT, a criação <strong>da</strong>s secretarias específicas,as eleições em congresso e a vin<strong>da</strong> de mulheres e<strong>da</strong> juventude para a direção.Destaco também, amarca <strong>da</strong> CONTAG nas ações massivas, como osGritos <strong>da</strong> Terra Brasil e as Marchas <strong>da</strong>s Margari<strong>da</strong>s,além <strong>da</strong>s inúmeras ocupações de terras e acampamentos,que asteiam a bandeira <strong>da</strong> CONTAG portodo o País.Mas, para conquistar a plena digni<strong>da</strong>de e ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia dostrabalhadores e trabalhadoras rurais, ain<strong>da</strong> há muito que fazer. Porisso, é preciso que a CONTAG esteja aberta às mu<strong>da</strong>nças parafortalecer suas lutas, ampliar os espaços de democracia interna, <strong>da</strong>rvisibili<strong>da</strong>de às ações e aju<strong>da</strong>r na construção <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de e articulaçãodos povos do campo, fun<strong>da</strong>mental na conquista <strong>da</strong> reforma agráriae do desenvolvimento rural sustentável e solidário”Maria <strong>da</strong> Graça AmorimSecretária de Política Agrária e Meio Ambiente14 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


históriaCONTAGPrimeira organizaçãosindical nacional no campoAAs Ligas Camponesas, o Movimento dosAgricultores Sem Terra – MASTER, a AçãoPopular – AP, liga<strong>da</strong> aos católicos radicaise, a União dos Lavradores e TrabalhadoresAgrícolas do Brasil – ULTAB, dentre outros, fizeramcom que a organização dos trabalhadores rurais emSindicatos fosse acelera<strong>da</strong>.Esse momento é descrito no periódico <strong>da</strong>CONTAG, em 1978: “Na época, acreditava-se,apenas, na capaci<strong>da</strong>de humana de se unir. Com aunião, acreditava-se na capaci<strong>da</strong>de humana devencer. Não havia legislação suficiente para‘acobertar’ a fun<strong>da</strong>ção de sindicatos rurais (...) nãoexistia a sede do sindicato. Existia, sim, oSINDICATO, na pessoa de ca<strong>da</strong> trabalhador rural quehavia compreendido a sua missão de se libertar, erao SINDICATO VIVO”.Setores conservadores do clero, mais fortes,numerosos e, preocupados com o avanço docomunismo no campo, partiram para a montagemde um sindicalismo capaz de fazer frente às correntesde esquer<strong>da</strong>.As organizações de esquer<strong>da</strong> com atuação nocampo buscaram atualizar e ampliar as bandeirasde luta e, estabelecer linhas de ação comuns. Nessesentido, organizaram o 1º Congresso Nacional dosLavradores e Trabalhadores Agrícolas, em 1961,conhecido como “Congresso de Belo Horizonte”,CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 15


convocado e coordenado pela ULTAB.Esse congresso reuniu 1.600 delegados de váriasorganizações. Apesar <strong>da</strong>s divergências, ratificou oreconhecimento social e político <strong>da</strong> categoriacamponesa e <strong>da</strong> sua capaci<strong>da</strong>de organizativa. Jánesse momento histórico, a convivência e construçãopolítica entre diferentes correntes de pensamento,de concepções e de formas de organização, marcaramas lutas e caracterizaram as vitórias obti<strong>da</strong>s pelostrabalhadores e trabalhadoras rurais.As deliberações do 1º Congresso:a) transformação <strong>da</strong> estrutura agrária;b) desapropriação dos latifúndios;c) posse e uso <strong>da</strong> terra pelos que nela desejassemtrabalhar;d) direito de organização dos trabalhadores rurais;e) modificação de dispositivo <strong>da</strong> constituição de1946, para permitir a desapropriação porinteresse social mediante indenização emtítulos públicos.Em 1962, na ci<strong>da</strong>de de Itabuna-BA, aconteceu o1º Congresso de Trabalhadores na Lavoura doNordeste, organizado por diversas organizações queatuavam no estado. Os principais encaminhamentosforam de organização de luta para aplicação imediata<strong>da</strong> reforma agrária, acesso aos benefícios previdenciários,construção de estratégias unitárias de lutano campo, dentre outras.Em março de 1963, o governo de João Goulartpromulgou o Estatuto do Trabalhador Rural (Lei4.214), que garantia aos trabalhadores do campo,direitos sindicais, trabalhistas e previdenciáriosassegurados aos trabalhadores urb<strong>anos</strong>.O Brasil vivia um momento de forte atuaçãopolítica, as organizações sindicais e partidos políticosde esquer<strong>da</strong> foram às ruas por melhores saláriose mu<strong>da</strong>nças estruturais para garantir um processode desenvolvimento mais duradouro. Nesse ambientepolítico, a ULTAB organizou a 1ª Convenção Brasileirade Sindicatos Rurais, ocorri<strong>da</strong> de 15 a 20 de julho,de 1963, em Natal-RN. Quatrocentos dirigentes,representantes de 17 estados, participaram doevento. À época existiam 475 sindicatos no Brasil,dos quais, 220 eram reconhecidos pelo Ministériodo Trabalho.As deliberações <strong>da</strong> Convenção:a) reforma Agrária;b) regulamentação do Estatuto do Trabalhador Rural;c) acesso aos benefícios <strong>da</strong> Previdência Social;d) participação no desenvolvimento do país, tendoacesso à educação, orientação técnica, preçosmínimos, crédito integral e cooperativismo;e) criação de uma Confederação Nacional dosTrabalhadores na Agricultura.Articular nacionalmente as lutas passou a ser uma<strong>da</strong>s principais preocupações <strong>da</strong>s organizações deesquer<strong>da</strong> que atuavam no campo. A exemplo de Pernambuco,onde em 1963, uma greve no setor canavieiroenvolveu a Federação dos Lavradores, as LigasCamponesas e sindicatos autônomos, resultando naassinatura de uma tabela conjunta para pagamentodos trabalhadores assalariados rurais do estado.Os setores mais conservadores do sindicalismode trabalhadores rurais, principalmente aquelesligados à Igreja, não pararam de organizarem-se eestimularam a criação de um grande número desindicatos e federações de trabalhadores rurais. Comesse trabalho, conseguiram o reconhecimento juntoao Ministério do Trabalho de muitos Sindicatos deTrabalhadores Rurais. Preocupados com o possívelcrescimento <strong>da</strong>s organizações de esquer<strong>da</strong>, setoresconservadores <strong>da</strong> Igreja realizaram uma reunião, emRecife, e fun<strong>da</strong>ram a Confederação Nacional dosTrabalhadores na Agricultura - CNTA.Logo após a fun<strong>da</strong>ção dessa enti<strong>da</strong>de, foisolicitado seu reconhecimento junto ao Ministériodo Trabalho. Diante <strong>da</strong>s pressões de setores <strong>da</strong>esquer<strong>da</strong>, o Ministério indeferiu a solicitação dereconhecimento e determinou a realização de umCongresso Nacional para a criação definitiva <strong>da</strong>confederação, <strong>da</strong> qual deveriam participar to<strong>da</strong>s as27 Federações reconheci<strong>da</strong>s oficialmente.À época existiam 42 federações, em algunsestados havia mais de duas. Existiam Federações16 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


de Assalariados, de Lavradores, de Pescadores, deAgricultores, de Trabalhadores Rurais, dentre outras,caracterizando uma ampla e irrestrita liber<strong>da</strong>de deorganização dos trabalhadores que viviam etrabalhavam no campo.Finalmente, em 22 de dezembro de 1963,trabalhadores rurais de 18 estados, distribuídos em29 federações, decidiram pela criação <strong>da</strong>Confederação Nacional dos Trabalhadores naAgricultura – CONTAG, que foi reconheci<strong>da</strong> em 31de janeiro de 1964, pelo Decreto Presidencial 53.517.A CONTAG torna-se a primeira enti<strong>da</strong>de sindicalcamponesa de caráter nacional, reconheci<strong>da</strong>legalmente. Ajustou em seu interior diversasconcepções e correntes de pensamento, desde ossetores mais à direita, ligados à igreja, aoscomunistas. Aliás, cabe ressaltar, perfil diverso quea CONTAG mantém até hoje. É essa uma de suascaracterísticas mais marcantes: ser unifica<strong>da</strong> nadiversi<strong>da</strong>de ideológica, regional, cultural e produtiva.A CONTAG nasceu em um momento crítico <strong>da</strong>ativi<strong>da</strong>de política do país. No ano seguinte, oPresidente <strong>da</strong> República João Goulart foi deposto porum golpe militar. Aconteceu a radicalização eampliação <strong>da</strong> luta camponesa que, de um lado, forçouo governo de João Goulart a avançar com a propostade reforma agrária e, de outro, jogou os latifundiárioscontra o regime, pois foram eles, no primeiromomento, que apoiaram as políticas implementa<strong>da</strong>spor João Goulart. Ou seja, o rompimento se deujustamente quando a reforma agrária entrou naagen<strong>da</strong> de reformas do capitalismo brasileiro.O governo militar depôs e reprimiu duramentetodos os movimentos populares e, com eles, políticose lideranças comprometidos com as reformas debase, em especial, a reforma agrária. A CONTAGsofreu intervenção. O presidente Lyndolpho Silva edemais diretores foram presos imediatamente, omesmo acontecendo com outras lideranças sindicaisrurais nos estados. Todos os militantes sindicais urb<strong>anos</strong>e rurais que pleitearam por reformas de base, ou eramligados aos setores de esquer<strong>da</strong>, foram presos etorturados, muitos foram exilados ou assassinados.Após a intervenção, foi constituí<strong>da</strong> uma JuntaGovernativa que durante um ano administrou aCONTAG. No ano seguinte, uma diretoria foi eleitapara administrar a enti<strong>da</strong>de durante o período de1965 a 1968, tendo como presidente, José Rotta.Por força <strong>da</strong> exigência legal, as federaçõesexistentes foram unifica<strong>da</strong>s em ca<strong>da</strong> estado, passandode 29 para 11, transformando-as em FederaçõesEstaduais dos Trabalhadores na Agricultura,estrutura que se mantém até hoje. Essa exigênciapermitia o controle do governo militar, que temiaque a existência de muitas ramificações <strong>da</strong>sorganizações sindicais saísse do controle estatal.A luta dos trabalhadores e trabalhadoras rurais brasileiras nesses <strong>40</strong> <strong>anos</strong> deorganização sindical, foi construí<strong>da</strong> com muito sacrifício, prisões e até mortes,principalmente durante o regime militar. Mesmo nos momentos mais difíceis, a CONTAG,as Federações e os Sindicatos, não recuaram <strong>da</strong>s suas convicções políticas e reagiram.Como resultado dessa postura política firme, contabilizamos hoje muitas vitórias. Aexemplo <strong>da</strong> organização sindical do MSTTR, com Federações nos 27 estados, além dosmais de 4.100 Sindicatos. Ou ain<strong>da</strong>, a realização dos Gritos <strong>da</strong> Terra Brasil nos últimos10 <strong>anos</strong>, <strong>da</strong> Marcha <strong>da</strong>s Margari<strong>da</strong>s – em 2000 e 2003, <strong>da</strong> organização <strong>da</strong> Juventude e <strong>da</strong>Terceira I<strong>da</strong>de, além <strong>da</strong> construção de uma organização cooperativista do MSTTR.Com certeza, essas lutas e conquistas foram instrumentos importantes para aexistência <strong>da</strong>s políticas publicas que temos hoje no campo.Juraci Moreira SoutoSecretário de Finanças e AdministraçãoCONTAG <strong>40</strong> ANOS - 17


18 - CONTAG <strong>40</strong> ANOSDurante os <strong>anos</strong>duros do regimeditatorial militar oMSTR acelerou oprocesso deorganização epolitização <strong>da</strong>classetrabalhadora


históriaCONTAGResistiu a regimeimposto pelos militaresEstatuto <strong>da</strong> Terra, elaboradodurante o go-Overno de João Goulart,foi promulgado peloGeneral Castelo Branco, Presidente<strong>da</strong> República, devido àspressões internacionais e internas.Ain<strong>da</strong> assim, marcou uma novaetapa em relação à legislação existente,permitindo, dentre outrascoisas, a intervenção do Estado nosetor fundiário, mediante adesapropriação de terras porinteresse social.Este dispositivo foi ignoradopelo governo militar, que se concentrouna modernização <strong>da</strong>srelações capitalistas no campo enos projetos de colonização nasáreas de fronteira, preocupandosecom um projeto agrícola afinadocom sua política econômica.Colocou à margem a pequenaprodução e favoreceu a ampliação<strong>da</strong> concentração de terra e deren<strong>da</strong> no país. Houve um estímuloà especulação <strong>da</strong> terra e de concessõesa grandes empresas paraatuarem no campo, em especialnas áreas de fronteira agrícola.A política salarial, controla<strong>da</strong>pelo governo, impedia os aumentosreais e garantia ao patronatoa crescente exploração de mãode-obrabarata. A repressão àatuação sindical não permitia queos assalariados rurais pleiteassemseus direitos trabalhistas.Os pequenos e médios produtoresforam incentivados a semodernizarem, adquirindo máquinase equipamentos mediantefinanciamentos que, mais tarde,não conseguiram pagar. Essasituação, alia<strong>da</strong> à ausência de umapolítica diferencia<strong>da</strong> de créditos,resultou na per<strong>da</strong> de muitas proprie<strong>da</strong>des,tornando irreversível aampliação <strong>da</strong> concentração fundiáriano país.À época, a CONTAG era presidi<strong>da</strong>por José Rotta, que contavacom apoio do Ministério doTrabalho. Ele convocou um CongressoNacional de TrabalhadoresRurais, realizado em São Paulo,em 1966. Nesse congresso, ficouexplícita a existência de dois grupospolíticos, um ligado ao Rotta,e outro ligado a trabalhadores elideranças que se mostravamcomprometidos com as lutas dostrabalhadores, críticos ao modelode desenvolvimento implementadopelo governo militar.No ano seguinte, em 1967, oCONTAG <strong>40</strong> ANOS - 19


Rio de Janeiro é transformado emsede <strong>da</strong> Conferência NacionalIntersindical, congregando representantesdos trabalhadores rurais,bancários, industriários eportuários. Nessa conferência, adefesa <strong>da</strong> reforma agrária foi unânime,contando com a presença desindicalistas rurais de quase todosos estados. Foi o início de uma articulaçãoampla, urbana e rural, deconsoli<strong>da</strong>ção de uma chapa paraconcorrer às eleições <strong>da</strong> CONTAG.Fruto <strong>da</strong> união operária ecamponesa, por apenas umvoto de diferença, a chapaencabeça<strong>da</strong> por JoséFrancisco <strong>da</strong> Silva impõea derrota a José Rotta.Empossa<strong>da</strong>, a nova diretoriaconvocou to<strong>da</strong>s asfederações para um encontro,em Petrópolis(RJ), a fim de elaborar umPlano de Integração Nacional- PIN. Diante <strong>da</strong> divisão políticarevela<strong>da</strong> no processo eleitoral, apreocupação maior era criar uminstrumento capaz de garantir auni<strong>da</strong>de do Movimento Sindical deTrabalhadores Rurais – MSTR.O PIN elegeu a reforma agráriacomo uma <strong>da</strong>s bandeiras de lutacapaz de propiciar a uni<strong>da</strong>de domovimento, pois seria de fun<strong>da</strong>mentalimportância não apenaspara os diretamente envolvidosnos conflitos pela terra, mas tambémpara o pequeno produtor e oassalariado.O PIN previu ações específicaspara ca<strong>da</strong> setor. No caso dosassalariados, por exemplo, foramincentiva<strong>da</strong>s as ações coletivas,em grande número, para abarrotaras Juntas de Conciliação eJulgamento, forçando uma toma<strong>da</strong>de posição favorável aos trabalhadores.Essa proposta, quandoleva<strong>da</strong> à prática, causaria umareação violenta do patronato e dopoder público, que ameaçavam epuniam os líderes sindicais porpromoverem reuniões nos Sindicatosde Trabalhadores Rurais.A formação de líderes era essencialpara o futuro do MSTR. Pormeio de cursos sobre a reali<strong>da</strong>debrasileira, legislação trabalhista,agrária, agrícola, cooperativismoe de organização sindical, aCONTAG iniciou um contínuo trabalhode conscientização dostrabalhadores rurais sobre os seusdireitos, qualificando-os para aluta cotidiana.O PIN marcou a singulari<strong>da</strong>de doMSTR dentro do sindicalismo brasileiro.Enquanto as outras confederaçõesurbanas existentes tinhamdúvi<strong>da</strong>s entre resistir ou aceitar aintervenção no movimento sindical,a CONTAG optou pelo enfrentamentoao poder econômico e político emuma de suas principais bases: ademocratização <strong>da</strong> terra e a organizaçãopolítica dos trabalhadoresrurais, por meio <strong>da</strong> formação delideranças.Durante os ‘<strong>anos</strong> duros’ doregime ditatorial militar, 1968 e1969, os dirigentes do MSTR aceleraramo processo de organizaçãoe politização <strong>da</strong> categoria.Lançaram o periódico “O TrabalhadorRural”, informativoque levava as idéias epropostas <strong>da</strong> CONTAG àsFederações e Sindicatos detodo o país.Nesse período, a direção<strong>da</strong> CONTAG qualificou ain<strong>da</strong>mais a sua forma de comunicaçãocom a base, lançandoa revista mensal “O TrabalhadorRural”, apresentando análisessobre a conjuntura nacional esugerindo encaminhamentos parareflexão nos estados.Os textos reproduzidos noperiódico demonstram explicitamenteo enfrentamento <strong>da</strong> CONTAGdiante <strong>da</strong>s políticas do governomilitar. Num dos primeiros númerosdessa revista, por exemplo,foi transcrita a carta ao Papa PauloVI, assina<strong>da</strong> por José Francisco,que reafirmava: “É, para vencerbarreiras centenárias de irracionali<strong>da</strong>desgera<strong>da</strong>s pelo latifúndio,sinônimo de um poder político,econômico, social e cultural quecontrariam a função social de20 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


Iniciode 1969Finalde 1971MunicípiosbrasileirosFonte: <strong>Revista</strong> O Trabalhador RuralMunicípiosc/ sindicatosproprie<strong>da</strong>de, é necessária umadecisão drástica e enérgica pelareforma agrária”.A necessi<strong>da</strong>de de organizar ostrabalhadores nos municípios econstituir sindicatos era uma <strong>da</strong>sgrandes deman<strong>da</strong>s do movimentosindical naquele momento. Arevista “O Trabalhador Rural” eraum dos meios utilizados parachamar os trabalhadores paraorganização sindical. Existia umaseção chama<strong>da</strong> “Conversa deCaboclo”, que contava estóriassobre o cotidiano dos trabalhadoresrurais, rotina repleta dedificul<strong>da</strong>des e injustiças. Cria<strong>da</strong>spela equipe técnica <strong>da</strong> <strong>Contag</strong> eassina<strong>da</strong>s com nomes fictícios, asestórias chamavam a atenção doscamponeses sobre a importância<strong>da</strong> organização sindical. Em umadessas estórias consta esse trecho:“E quem é esse sindicato,que vai <strong>da</strong>r nosso valor? É umasocie<strong>da</strong>de composta de agricultor.Nós vai lá se reunir, pra acabar coma tal de meia. Que sempre nos temtrazido amarrado no nó <strong>da</strong> peia.”A luta essencialmente corporativa,nunca foi a marca domovimento sindical coordenadopela CONTAG, já em 1968,preocupados com a importância<strong>da</strong> educação para o desenvolvimentodo campo, foi organizadoum Encontro Nacional, em Petrópolis/RJ.No evento, diversosrepresentantes <strong>da</strong>s Federaçõesconcluíram que: “a) o diálogo deveser a base para a construção deuma proposta educativa para ocampo e; b) o método a serutilizado, deve levar em conta oconhecimento <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, queserá critica<strong>da</strong>, para <strong>da</strong>í se chegarà escolha <strong>da</strong> ação e a própriaação, conhecimento e crítica”.Na revista “O Trabalhador Rural”,a direção <strong>da</strong> CONTAG politizouo debate sobre o papel <strong>da</strong>organização sindical e utilizourepeti<strong>da</strong>mente o lema “Sindicalismoautêntico, é Sindicalismolivre”. Denunciou a intenção decooptação do governo através doassistencialismo. Demonstrou queo conceito de desenvolvimento dogoverno era diferente <strong>da</strong> idéia doMSTR: “milhões de camponesescontinuam morrendo de fome (...),mas o Brasil está em franco crescimento.Sim, porque crescer é bemdiferente de desenvolver”.Levantamento elaborado pelaCONTAG, em 1971, demonstrouque a estratégia adota<strong>da</strong> peloMSTR foi acerta<strong>da</strong> nos 22 estados,inclusive Brasília e Guanabara,conforme a tabela.Municípioss/ sindicatosMédia de sóciospor sindicato3959 705 3254 8003959 1045 2914 1132Outros <strong>da</strong>dos, sobre ocrescimento e consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>CONTAG, foram apresentadospelo Presidente JoséFrancisco, na abertura doCongresso Nacional de TrabalhadoresRurais, em 1979:“apesar <strong>da</strong>s condiçõesdesfavoráveis para o trabalhosindical entre o últimoCongresso e os dias atuais,passamos de 19 para 21 Federações,de 1.500 sindicatospara 2.275, de dois milhõese meio de associados paramais de cinco milhões”.A CONTAG estava consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>,não como um espaçodesse ou <strong>da</strong>quele ‘modo depensar o sindicalismo’, masde to<strong>da</strong>s as correntes políticasexistentes. Rompeu coma visão imediatista <strong>da</strong> lutasindical e buscou atender aoutras dimensões e necessi<strong>da</strong>desdo ser humano, inclusive,apontando o conceito dedesenvolvimento que se queriapara o campo: “O desenvolvimentodeve vir acompanhadode transformaçõessociais e políticas”.O mesmo aconteceu com oestímulo à participação. Emregistros internos percebe-seque reuniões de avaliação eplanejamento sempre estiverampresentes na históriadessa enti<strong>da</strong>de, inclusive coma participação <strong>da</strong> assessoria,demonstrando como praticardemocracia interna mesmo emmomentos difíceis e sob ameaçaconstante dos militares.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 21


22 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


Os rumos do MSTTRsempre foram decidos pela baseFalar sobre participação<strong>da</strong> base do movimentosindical de trabalhadorasrurais nas decisõespolíticas é antes de qualquercoisa, falar dos encontros, semináriose congressos estaduais,regionais e nacionais.Mesmo antes <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>CONTAG os trabalhadores rurais jácoordenavam congressos nacionaise estaduais, a exemplo do“Congresso de Belo Horizonte”,em 1961, com 1.600 participantes,ou <strong>da</strong> 1ª Convenção Brasileirade Sindicatos Rurais, em 1963,realiza<strong>da</strong> em Natal-RN, com <strong>40</strong>0representantes de 17 estados. Ouain<strong>da</strong>, o congresso de fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>CONTAG, em dezembro de 1963,que contou com a participação de29 federações de 19 estados.Para compreender os desafiosna realização de um congressonacional durante os <strong>anos</strong> 60 ameados de 70, do século XX, épreciso saber como vivia apopulação brasileira e, sobretudo,a população rural. Estra<strong>da</strong>s emeios de comunicação precários,poucas linhas de ônibus intermunicipaise interestaduais, e o maisdifícil, driblar a presença de‘agentes’ do governo ou <strong>da</strong> policia– ou dos dois – , infiltrados entreos delegados que vinham dosestados. Esses desafios não impediramque dirigentes sindicais detodo o território nacional sereunissem e construíssem umaestrutura sindical nacional, quefosse plural, representativa e deluta, a CONTAG.Os Congressos e Encontrosgarantiam o debate, a socializaçãoe a integração <strong>da</strong>s políticas domovimento sindical. Serviram,também, para consoli<strong>da</strong>r politicamentea Confederação e asFederações, enquanto representação<strong>da</strong> categoria trabalhadorarural. Em agosto de 1969, aCONTAG em seu periódico, falavasobre essa importância: “Nosentido de manter um nível dedebates (...) e crescimento <strong>da</strong>slideranças sindicais, a CONTAG eFederações vêm organizandoEncontros e Congressos, (...) atroca de experiência propicia umareal integração”.Existem registros de Congressostemáticos nos estados desde adéca<strong>da</strong> de 60 e 70, do século XX, aexemplo do Congresso sobreReforma Agrária e de Jovens Ruraisno Rio Grande o Sul: “aconteceu oIV Congresso de Jovens Rurais (...)os congressos <strong>da</strong> juventude sãoincentivados pela Federação deTrabalhadores na Agricultura do RioGrande do Sul e <strong>da</strong> Frente AgráriaGaúcha”, ou, “os trabalhadoresrurais de Santa Catarina reuniramsedias 7,8 e 9 de novembro, emcongresso, com a participação deaproxima<strong>da</strong>mente <strong>40</strong>0 delegados demais de 180 sindicatos do Estado”.As ativi<strong>da</strong>des regionais tambémforam importantes paraconstruir uma identi<strong>da</strong>de nacionaldo MSTR. A exemplo do III Encontro<strong>da</strong>s Federações do Nordeste, noRio Grande do Norte, em junho de1969, que buscava a integraçãoentre as Federações e a CONTAG.Outro exemplo foi o CongressoRegional de Trabalhadores Ruraisque se realizou em Curitiba, coma participação dos estados deSanta Catarina, Rio Grande do Sul,Paraná e São Paulo. Essas Federaçõesbuscavam a construção depropostas comuns a seremdebati<strong>da</strong>s no Congresso Nacionaldos Trabalhadores Rurais.“Dois marcos consoli<strong>da</strong>ram o caminho escolhido pela CONTAG.Crescimento e Organização”CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 23


Trajetória <strong>da</strong>s Eleições eCongressos Nacionais <strong>da</strong> CONTAG1ª Eleição <strong>da</strong> CONTAGEm Congresso participativo,democrático e de construção deestratégias comuns, asorganizações que atuam no campocriam a Confederação dosTrabalhadores na Agricultura –CONTAG. O congresso contou coma participação de 29 federações,de 18 estados. Ao final, foi eleitaa primeira direção executiva:Lyndolpho Silva/RJ, SebastiãoLourenço de Lima/MG, e NestorVera/SP.2ª ELEIÇÃO DA CONTAGCom o golpe militar, a direção<strong>da</strong> CONTAG foi deposta e algunsdirigentes presos. Uma JuntaGovernativa foi indica<strong>da</strong> peloMinistério do Trabalho e, no <strong>anos</strong>eguinte foi eleita para o períodode 1965 a 1968, a diretoriacomposta por: José Rotta/SP;Euclides A. do Nascimento/PE;Joaquim B. Sobrinho/PA; João deA. Cavalcante/PA; José Lazaro/PR; Nobor Bito/; Agostinho J.Neto/RJ; Joaquim Damasceno/RNe Antonio J. de Faria/RJ. Para oConselho Fiscal, foram escolhidos:Jose Felix Neto/SE; José Palhares/RN e João Jordão <strong>da</strong> Silva/PE.3ª ELEIÇÃO DA CONTAGEm 1968, as eleições contaramcom duas chapas. Uma encabeça<strong>da</strong>por José Rotta, que representavaa influância do Ministério doTrabalho e, a outra chapa por JoséFrancisco, contando com o apoiode enti<strong>da</strong>des sindicais urbanas e<strong>da</strong> base do movimento sindical detrabalhadores rurais.24 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


A eleição ocorreu na reunião doConselho Deliberativo <strong>da</strong> CONTAG,onde apenas 11 Federaçõesvotavam. Por apenas 01 voto dediferença, a chapa encabeça<strong>da</strong> porJosé Francisco saiu vitoriosa.Foram eleitos para o man<strong>da</strong>to de1968/1971: José Francisco/PE;José Felix Neto/SE; Joaquim A.Damasceno/RN; José Ari Griebler/RS; Geraldo F. Miqueletti/PR; Joãode A. Cavalcante/PB; AgostinhoJosé Neto/RJ; José Benedito <strong>da</strong>Silva/AL e Otavio F. Gomes/CE.O Conselho Fiscal: JoaquimCoutinho/RN; Tarciso G. Mendes/CE e Manoel P. <strong>da</strong> S. Filho/PB.A retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong> CONTAG peloslegítimos trabalhadores rurais,representou um salto qualitativoe quantitativo. A primeira iniciativa<strong>da</strong> direção eleita foi aconstrução coletiva de um Planode Integração Nacional – PIN, coma participação de to<strong>da</strong>s as federaçõesfilia<strong>da</strong>s, consoli<strong>da</strong>ndo definitivamentea CONTAG enquantouma estrutura sindical nacional.4ª ELEIÇÃO DA CONTAGEm março de 1971, ocorreu aReunião do Conselho Deliberativoque escolheu a diretoria <strong>da</strong>CONTAG para o triênio 1971/1974,composta pelos diretores efetivos:José Francisco/PE; Otavio F.Gomes/CE; Francisco Urbano de A.Filho/RN; Zacarias Pedro/SC;Acácio F. dos Santos/RJ; Agenor P.Machado/SP e José Felix Neto/SE.Dois marcos consoli<strong>da</strong>ram ocaminho escolhido pela CONTAG.O primeiro marco foi o crescimento<strong>da</strong> organização. Em suafun<strong>da</strong>ção, a CONTAG contava com475 Sindicatos, distribuídos em 18estados. Após dez <strong>anos</strong>, eram1.881 sindicatos e 19 Federaçõesfilia<strong>da</strong>s, uma Delegacia na Amazônia,atingindo 47,51% dos municípiosbrasileiros , sendo mais dedois milhões de sindicalizados. Osegundo marco, foi a realizaçãodo 2º CNTR, com ativi<strong>da</strong>des preparatóriasnos municípios, estadose grandes regiões do país,envolvendo centenas de dirigentessindicais na sua construção.2º Congresso Nacional dosTrabalhadores Rurais - CNTR,a classe trabalhadora faz valersua vontade.“o conceito de Segurança Nacionalestá vinculado também aodesenvolvimento sócio econômico.E esta somente é alcança<strong>da</strong>plenamente quando o trabalho érealizado como condição <strong>da</strong>digni<strong>da</strong>de humana.”.De acordo com decisão doConselho Deliberativo <strong>da</strong> CONTAG,naquele período: “as Federaçõesse movimentarão para motivar ostrabalhadores no sentido de sesentirem mais unidos e maisfortes (...). As Federações realizarãoencontros ou congressospreparatórios e, a CONTAG, realizaráencontro regional em Belémdo Pará, Belo Horizonte, Curitibae Recife. Essas diferentes conclusõesserão encaminha<strong>da</strong>s aoCongresso Nacional, cuja ComissãoCoordenadora, para maiorsentido de integração, está compostade um membro de ca<strong>da</strong>região do País, indicado nos encontrosregionais”.Apesar <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong>des sindicaisestarem quase paralisa<strong>da</strong>s pelaação do Ministério do Trabalho edos órgãos de segurança do regimemilitar, e a ação sindical limitarseà defesa dos interesses individuaisdos trabalhadores perante àJustiça do Trabalho, os dirigentesdo MSTR realizaram um grandecongresso.Houve várias tentativas paraimpedir a realização do encontro.Proibiram a discussão de temas consideradosinoportunos ou ofensivos,tais como reforma agrária e greve,mas ain<strong>da</strong> assim, o congressoaconteceu com mais de 700delegados, sob a coordenação <strong>da</strong>CONTAG, Federações e Sindicatos,em maio de 1973, em Brasília.O congresso deliberou sobre:Legislação Rural, Educação,Previdência, Reforma Agrária eDesenvolvimento Agrícola. Noencerramento, o presidente <strong>da</strong>CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 25


CONTAG enfatizou a necessi<strong>da</strong>dede cumprimento do Estatuto <strong>da</strong>Terra para: “estabelecer um sistemade relações entre o homem, aproprie<strong>da</strong>de rural e o uso <strong>da</strong> terra,capaz de promover a Justiça Social,o progresso e o bem-estar dotrabalhador rural e o desenvolvimentoeconômico do país, com agradual extinção do minifúndio edo latifúndio”.5ª Eleição <strong>da</strong> CONTAGEm março de 1974, o Conselhode Representantes <strong>da</strong> CONTAGelegeu a nova diretoria para otriênio 1974/1977. A diretoriaefetiva foi composta por: JoséFrancisco <strong>da</strong> Silva/PE; OctavioAdriano Klafke/RS; Paulo F.Trin<strong>da</strong>de/ES; Jonas P. de Souza/MT; Francisco Urbano A. Filho/RN;José Felix/SE; Leocadio N. deOliveira; Acácio F. dos Santos/RJe José B. <strong>da</strong> Silva/AL. O ConselhoFiscal foi composto por: ÁlvaroDiniz; Euclides D. Canalle e JoãoTavares <strong>da</strong> Silva.No entanto, a posse <strong>da</strong> novadireção não foi tranqüila. ACONTAG crescia e ganhavarespeitabili<strong>da</strong>de no Brasil e foradele. O 2º Congresso representouum marco para a organização <strong>da</strong>classe trabalhadora rural, logo, oGoverno Militar buscou impedir aposse <strong>da</strong> direção eleita.Apesar <strong>da</strong>s tentativas dogoverno, a diretoria foi empossa<strong>da</strong>.À época, era o Ministério doTrabalho quem presidia a soleni<strong>da</strong>dede posse dos dirigentessindicais urb<strong>anos</strong> ou rurais. Eracostume os dirigentes eleitosfalarem por apenas cinco minutos,caso houvesse inscrição prévia.Devido aos desentendimentosanteriores à posse, essa práticafoi leva<strong>da</strong> ao extremo. Relatos dedirigentes sindicais <strong>da</strong> épocacontam que para frustrar a intençãodo governo, eles se inscreviamem bloco e cediam seu tempo paraJosé Francisco, fato que deixou osrepresentantes do Ministério doTrabalho indignados e impotentesdiante <strong>da</strong> astúcia dos dirigentes.No discurso de posse, o presidenteJosé Francisco reafirmou asbandeiras estratégicas para omovimento sindical de trabalhadoresrurais: Reforma Agrária,Política Agrícola, Educação,Previdência Social e LegislaçãoTrabalhista. O discurso provocousurpresa nas autori<strong>da</strong>des e satisfaçãonos dirigentes sindicaispresentes.Durante essa Gestão, os cursosde capacitação voltados para aAdministração Sindical e regularizaçãodos Sindicatos foram intensificados.Os dirigentes sindicaisutilizavam esses cursos paradiscutir direitos trabalhistas ereforma agrária, apesar de aconvocação “oficial” anunciar queo curso seria sobre administraçãosindical.Criaram também nessa gestãoa Delegacias Sindicais do estadodo Acre e Território Federal deRondônia. Estimularam, a criaçãode boletins e programas de rádiopelas Federações, visando aconsoli<strong>da</strong>ção do MovimentoSindical de Trabalhadores Ruraisna base e junto à socie<strong>da</strong>debrasileira.6ª Eleição <strong>da</strong> CONTAGEm maio de 1977, foi empossa<strong>da</strong>a Direção para o triênio1977/1980. A diretoria efetiva eracomposta por: José Francisco <strong>da</strong>Silva/PE; Roberto T. Horiguti/SP;Paulo F. Trin<strong>da</strong>de; Orgenio Rott/RS; Francisco Urbano A. Filho/RN;José Felix/SE; Henrique GomesVilanova/PI; Acácio F. dos Santos/RJ e José B. <strong>da</strong> Silva/AL. O ConselhoFiscal foi composto por:Álvaro Diniz; Euclides D. Canallee Jonas P. de Souza.No discurso de posse, o presidenteeleito falou sobre o crescimentoe consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>deem todo território nacional:“Ao assumirmos nosso primeiroman<strong>da</strong>to, contávamos com 11federações filia<strong>da</strong>s, congregando700 sindicatos, com 600 mil“Dirigentes sindicais <strong>da</strong> época contam que para frustrar aintenção do governo, eles se inscreviam em bloco e cediamseu tempo para José Francisco” .26 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


trabalhadores sindicalizados.Contamos hoje, com 20 federaçõesfilia<strong>da</strong>s, abrangendo todos osEstados, menos o Estado do Acre,onde mantemos uma Delegacia;2.150 sindicatos e 4 milhões e 500mil trabalhadores sindicalizados.(...) Por isto mesmo, reafirmamosque a solução do problema agráriobrasileiro, e, até certo ponto, docrescimento desordenado dosgrandes centros urb<strong>anos</strong>, residena fixação do homem à terra, que,para nós, se traduz na implantação<strong>da</strong> Reforma Agrária”.A direção realizou um EncontroNacional, em março de 1978, paraestu<strong>da</strong>r e refletir sobre a situaçãodo movimento sindical detrabalhadores rurais noâmbito nacional. O paísatravessava um intensoprocesso de mobilização comgreves de metalúrgicos ebancários, organização <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de civil pró-Anistia,acirramento <strong>da</strong> violência nocampo, em especial, depoisdo assassinato do advogadobaiano Eugenio Lira <strong>da</strong> Silva,que defendia as causas detrabalhadores rurais.Nos primeiros meses de1979, por ato do Ministro doTrabalho, foram afastados osdirigentes do Sindicato dosMetalúrgicos do ABC, em SãoPaulo. A CONTAG saiu emdefesa dos dirigentes,conforme matéria publica<strong>da</strong> nojornal Estado de São Paulo:“soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de aos metalúrgicosdo ABC paulista, que se valeramdo legítimo direito <strong>da</strong> greve paraa conquista de justas reivindicações<strong>da</strong> categoria”.3º Congresso Nacional dosTrabalhadores Rurais – CNTR –“Um marco na História <strong>da</strong>classe trabalhadora rural”.Na perspectiva de analisareme deliberarem sobre as grandesquestões vivi<strong>da</strong>s pelo país, 1.600delegados se reuniram, em maiode 1979, em Brasília, para o 3ºCongresso Nacional dos TrabalhadoresRurais.O congresso considerou aspolíticas agrárias e agrícolas governamentaisas responsáveispelo agravamento <strong>da</strong> concentração<strong>da</strong> terra e dos conflitos sociais,pela expulsão em massa dostrabalhadores do campo e pelasdificul<strong>da</strong>des crescentes enfrenta<strong>da</strong>spelos pequenos proprietários.Conseqüentemente, houvepressão do governo para impedira realização do congresso, inclusive,a tentativa de impedir quedelegações dos estados chegassemà Brasília. A armadilhaesbarrou na vontade política dostrabalhadores e trabalhadorasrurais e <strong>da</strong>s suas organizações,que realizaram um dos maiores emais bonito congresso <strong>da</strong>categoria à época.Esse congresso consolidou edeu visibili<strong>da</strong>de nacional aosindicalismo de trabalhadoresrurais coordenados pela CONTAG.Também explicitou as deman<strong>da</strong>sde quem vive e produz no campo,articulou a luta por reforma agráriae pela redemocratização do país.Foram aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>s questõesestratégicas, como reforma agráriaampla, massiva e imediata coma participação do trabalhador; liber<strong>da</strong>dee autonomia sindical;auto-sustentação do Movimento;educação; política salarial; contrataçãocoletiva de trabalho;Justiça do Trabalho e seu funcionamento;arren<strong>da</strong>mento e parceria;crédito e seguro agrícola;crédito fundiário; assistênciatécnica e insumos; comercializaçãoe preços mínimos; cooperativismo;obras de infra-estruturae Previdência Social Rural.Outra importante deliberaçãodesse congresso foi o debate sobrea criação de uma Central Única,capaz de englobar todos os trabalhadoresbrasileiros e unificarsuas lutas. Também foram aprova<strong>da</strong>sduas moções: pela AnistiaCONTAG <strong>40</strong> ANOS - 27


e completa redemocratização dopaís e, outra, pela ocupação <strong>da</strong>terra e preservação do meioambiente.A linha de ação sindical adota<strong>da</strong>a partir do 3º CNTR representou,sem dúvi<strong>da</strong>, um passo significativoe decisivo para o avanço <strong>da</strong>s lutase <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de dos trabalhadores etrabalhadoras rurais. A principal“marca” foi a decisão de atuar emAções Coletivas, que hoje chamamosde ações de massa. Campanhassalariais foram desencadea<strong>da</strong>sem todo o país, com ostrabalhadores rurais recorrendo àgreve como forma de dobrar aintransigência patronal.Essa postura levou a enti<strong>da</strong>dea ser disputa<strong>da</strong> por to<strong>da</strong>s as forçaspolíticas que atuavam no movimentosindical brasileiro. Principalmentedurante os embates quemarcaram os primeiros <strong>anos</strong> <strong>da</strong>déca<strong>da</strong> de 80, seja em torno <strong>da</strong>formação <strong>da</strong>s Centrais Sindicais,ou em relação aos acordos quemarcaram a constituição <strong>da</strong> frentedenomina<strong>da</strong> Aliança Democráticae a derrota do regime militar.7ª Eleição <strong>da</strong> CONTAGEm abril de 1980, foi empossa<strong>da</strong>a direção para triênio 1980/1983. A Diretoria Efetiva eracomposta por: José Francisco <strong>da</strong>Silva/PE; Roberto T. Horiguti/SP;André Montalvão/MG; José B. <strong>da</strong>Silva/AL; Gelindo Zulmiro Ferri/RS; Jonas P. de Souza/MT; EraldoLírio de Azevedo/RJ; FranciscoUrbano A. Filho/RN e HenriqueGomes Vilanova/PI. O ConselhoFiscal foi composto por: ÁlvaroDiniz; João F. de Souza e NorbertoKortmann.A festa de posse contou com apresença dos ex-dirigentesLyndolpho Silva e José Pureza <strong>da</strong>Silva, ambos fun<strong>da</strong>dores <strong>da</strong>CONTAG e, de volta ao país apósvários <strong>anos</strong> de exílio. Elesenfatizaram a importância <strong>da</strong>enti<strong>da</strong>de na vi<strong>da</strong> política do país,inclusive, pelo seu tamanho,capilari<strong>da</strong>de e plurali<strong>da</strong>de deidéias. Eram 21 FederaçõesEstaduais e 2.346 sindicatosfiliados, congregando 6 milhões detrabalhadores sindicalizados.8ª Eleição <strong>da</strong> CONTAGEm abril de 1983, foi empossa<strong>da</strong>a direção para o triênio1983/1986. A direção Efetiva eracomposta por: José Francisco <strong>da</strong>Silva/PE; Roberto T. Horiguti/SP;André Montalvão/MG; Estevam N.de Almei<strong>da</strong>/BA; Gelindo ZulmiroFerri/RS; Jonas P. de Souza/MT;Eraldo Lírio de Azevedo/RJ;Francisco Urbano A. Filho/RN eOsmar Araújo/PI. O ConselhoFiscal foi composto por: ÁlvaroDiniz; João F. de Souza e NorbertoKortmann.O Brasil vivia um novo cenáriopolítico construído também pelo omovimento sindical de trabalhadoresrurais. As discussões sobrea fun<strong>da</strong>ção de uma Central Sindicalforam retoma<strong>da</strong>s e a CONTAGparticipou, coordenou e cedeusuas instalações para muitas <strong>da</strong>sreuniões <strong>da</strong> Comissão Pró-CUT.O presidente eleito fez umresgate sobre a trajetória políticae de luta <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de. Ressaltouque os contratos coletivos e o estabelecimentode preços mínimosem muitas culturas eram uma reali<strong>da</strong>de;que o número de ocupaçõese conseqüentemente de conflitosagrários ampliaram e que asorganizações dos trabalhadoresatingi<strong>da</strong>s pela seca qualificaramas lutas no Nordeste.4º Congresso Nacionaldos TrabalhadoresRurais - CNTR, “ReformaAgrária para acabar coma fome e o desempregono campo e na ci<strong>da</strong>de”.28 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


Demonstrando mais uma vezsua capaci<strong>da</strong>de de organização, oMSTR realizou o 4º CNTR, em maiode 1985, com 4.100 delegados,eleitos em assembléias municipais,encontros estaduais e regionais.As delegações dos estadoseram compostas de um delegado<strong>da</strong> direção do sindicato e umdirigente de base escolhido emassembléia. Quase 600 convi<strong>da</strong>dose observadores de diversasorganizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civilnacional e internacional participaramdo evento.O debate sobre o modelo dereforma agrária, defendi<strong>da</strong> peloMSTR, foi o ponto alto dessecongresso. Principalmente porqueo Presidente <strong>da</strong> Republica, JoséSarney, havia falado na aberturado 4º congresso sobre o PlanoNacional de Reforma Agrária –PNRA, e sua importância estratégicapara o desenvolvimento dopaís. Em votação simbólica, osdelegados e delega<strong>da</strong>s aprovarama proposta do PNRA, apresenta<strong>da</strong>pelo governo federal.O congresso reafirmou tambémas reivindicações <strong>da</strong> categoriaem relação às questõesagrícolas, trabalhistas, sindical,previdenciária e sobre os grandestemas nacionais. Entendendo anecessi<strong>da</strong>de de democratização naparticipação <strong>da</strong> base nos destinosdo MSTR, os delegados aprovaramrealização de eleições <strong>da</strong> CONTAGe Federações em Congresso, comman<strong>da</strong>to de três <strong>anos</strong>.No mesmo ano, as Federaçõesde Goiás e do Rio de Janeiro realizaramseus congressos eleitorais.No entanto, foi necessário referen<strong>da</strong>ra diretoria eleita emreunião do Conselho Deliberativo<strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de, em função <strong>da</strong>legislação vigente.9ª Eleição <strong>da</strong> CONTAG“1ª Eleição <strong>da</strong> história <strong>da</strong> CONTAGem Congresso”Quase 2 mil delegados de todosos Estados estiveram em Brasíliana 1ª Eleição Congressual, em dezembrode 1985. Nesse congresso,votaram as direções <strong>da</strong>s Federaçõese um delegado de ca<strong>da</strong>sindicato escolhido em assembléia,sendo assegurado um mínimode cinqüenta delegados paraos estados com menos de cinqüentaSindicatos.Romperam com a LegislaçãoSindical autoritária e ampliarama participação dos trabalhadoresrurais nas decisões de suas enti<strong>da</strong>dese na condução de suas lutas.Era a busca <strong>da</strong> conquista deum sindicalismo livre, autônomo,forte, unitário e democrático.Uma importante deliberação foia ampliação <strong>da</strong> participação <strong>da</strong>sFederações nos Conselhos Deliberativos<strong>da</strong> CONTAG, passando a serquatro delegados (as) efetivos (as)e quatro delegados (as) suplentes.A realização desse congressoeleitoral para o triênio 1986/1989CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 29


foi uma vitória <strong>da</strong> democracia eparticipação <strong>da</strong> base nos destinosdo MSTR, apesar <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de‘legal’ de ratificação dos nomesescolhidos pelo Conselho Deliberativo<strong>da</strong> CONTAG.A direção Efetiva era compostapor: José Francisco <strong>da</strong> Silva/PE;Ezidio V. Pinheiro/RS; DivinoGoulart/GO; Francisco Sales/MA;André Montalvão/MG; Jonas P. deSouza/MT; Elio Neves/SP; EraldoLírio de Azevedo/RJ; FranciscoUrbano A. Filho/RN; AloísioCarneiro/BA; Pedro Ramalho/MSe José Amadeu Araújo/CE. OConselho Fiscal foi composto por:Henrique Gomes Vilanova; João F.de Souza e Norberto Kortmann.10ª Eleição <strong>da</strong> CONTAG“Eleição <strong>da</strong> CONTAG de 1989 nãoocorreu em Congresso”.Apesar <strong>da</strong> deliberação do 4ºCNTR, a eleição <strong>da</strong> diretoria econselho fiscal <strong>da</strong> CONTAG –Gestão 1989/1992, não aconteceuem Congresso. As urnas foramcoloca<strong>da</strong>s nas sedes <strong>da</strong>s Federações.A votação foi de um delegadopor Sindicato.A CONTAG justificou essadecisão: “o MSTR vive uma crisefinanceira sem precedentes que sereflete nas dificul<strong>da</strong>des enfrenta<strong>da</strong>spela CONTAG, Federações eSindicatos para desenvolveremuma programação a altura <strong>da</strong>snecessi<strong>da</strong>des dos trabalhadores. AContribuição Sindical, sua principalfonte de receita está corroí<strong>da</strong>por uma imensa desvalorização.A realização, em Brasília, de umcongresso eleitoral com 3.200participantes, ou seja, 01 porsindicato, esbarra principalmentena falta de recursos. Daí o Conselhoter aprovado por ampla maioria,o critério de 02 delegados porca<strong>da</strong> 10 sindicatos. To<strong>da</strong>via,dificul<strong>da</strong>des surgi<strong>da</strong>s em algunsestados na condução desteprocesso eleitoral como foradefinido, levaram a direção <strong>da</strong>CONTAG a ouvir as federaçõesquanto à possibili<strong>da</strong>de de eleiçõesatravés de urnas em suas própriassedes, nos Estados, com a participaçãode 01 delegado porsindicato, atendendo critériodefinido no 4º CNTR”.A Diretoria Efetiva eleita eracomposta por: Aloísio Carneiro/BA; José Francisco <strong>da</strong> Silva/PE;José Amadeu Araújo/CE; AntenorBeni/PR; Erny Knortst/RS; AndréMontalvão/MG; NorbertoKortmann/SC; Vidor Jorge Faita/SP; Francisco Sales/MA; FranciscoUrbano A. Filho/RN; PedroRamalho/MS e Adevair N. deCarvalho/ES. O Conselho Fiscalfoi composto por: Jonas P. deSouza; Eraldo Lírio de Azevedo eHenrique Gomes Vilanova.Nessa eleição foi eleita aprimeira mulher, a sergipanaGe<strong>da</strong>lva de Carvalho, enquantosuplente <strong>da</strong> direção <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de.As mulheres conquistam a ComissãoNacional Provisória <strong>da</strong>Trabalhadora Rural, que apesar desubordina<strong>da</strong> à presidência <strong>da</strong>enti<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>va os primeiros passospara consoli<strong>da</strong>r a organização<strong>da</strong>s mulheres trabalhadoras rurais.Também nessa gestão decidiramapoiar uma candi<strong>da</strong>tura à Presidência<strong>da</strong> República e a reaproximaçãocom setores cutistas. OConselho Deliberativo <strong>da</strong> CONTAGaprovou o documento intitulado:“MOVIMENTO SINDICAL NA LUTAPELA VITÓRIA DE LULA”, enviado“A democratização <strong>da</strong> terra é a base para ademocracia no Brasil”30 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


A tradição democráticae pluralista <strong>da</strong> CONTAGrequer uma diretoriaque represente ouniverso <strong>da</strong>s concepçõesexistentes no campopara to<strong>da</strong>s as federações e sindicatosdo país, convi<strong>da</strong>ndo todos aoengajamento na campanha eleitoralnos municípios e nas capitais.11ª Eleição <strong>da</strong> CONTAG5º Congresso Nacional dosTrabalhadores Rurais – CNTR.“TERRA, PRODUÇÃO, SALÁRIO”.“apesar <strong>da</strong>s tentativas dedesarticulação <strong>da</strong>s organizaçõessociais promovi<strong>da</strong>s pelogoverno, o MSTR Reuniu maisde dois mil delegados (as) detodo o país, para rediscutir eredefinir suas lutas”.No 5º CNTR, em novembro de1991, em Brasília, a participação<strong>da</strong> base foi amplia<strong>da</strong> qualitativae quantitativamente. Elegeram odirigente do Rio Grande do Norte,Francisco Urbano. Os EncontrosRegionais preparatórios noNordeste, Norte e Centro-Sul,contaram com a participação de20 estados. Foram levantados osprincipais pontos a serem aprofun<strong>da</strong>dosno congresso: OrganizaçãoSindical, Participação Política nasQuestões Nacionais, Luta pelaReforma Agrária, Luta dos PequenosAgricultores, Luta dos AssalariadosRurais, Saúde e PrevidênciaSocial.As conclusões dos encontrosregionais foram sistematiza<strong>da</strong>s eremeti<strong>da</strong>s para as assembléias debase. As observações oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong>sassembléias regionais constituíramo Documento Base, comanálise e proposições a seremdiscuti<strong>da</strong>s e delibera<strong>da</strong>s nasPlenárias e Congressos Estaduais.Foram escolhidos (as) 02 delegados(as) por Sindicato e, 02mulheres trabalhadoras rurais porEstado, independente <strong>da</strong>s eleitasnas assembléias dos Sindicatos.Durante a preparação docongresso, as direções <strong>da</strong> CONTAGe <strong>da</strong> CUT Nacional buscaramalternativas que possibilitassemuma composição dos segmentosque atuavam no MSTR com ossegmentos que atuavam a partirdo Departamento Nacional dosTrabalhadores Rurais <strong>da</strong> CUT. Oêxito desses esforços estavapresente no discurso de aberturade Aloísio Carneiro, presidente <strong>da</strong>CONTAG, que destacou a trajetóriapolítica <strong>da</strong> CONTAG e <strong>da</strong> suatradição democrática e pluralista.Aloísio afirmou a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>eleição de uma diretoria querepresentasse o universo <strong>da</strong>sconcepções existentes no campo.A direção efetiva eleita eracomposta por: Francisco Urbano A.Filho/RN; Aloísio Carneiro/BA;José Francisco <strong>da</strong> Silva/PE; JuarezL. Pereira/MG; Tereza Silva/MG;Hilário Gottselig/SC; José Fialho/MS; Itálico Cielo/RS; JoséRaimundo de Andrade/PB eFrancisco Sales/MA. ConselhoFiscal: Antonio Zarantonello;Wilson Paixão e Osmar Araújo.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 31


Os principais avanços do 5º CNTR foram:Aprofun<strong>da</strong>mento do debate nas bases sobre afiliação <strong>da</strong> CONTAG a uma central, sindicalsendo a CUT a central de maior afini<strong>da</strong>de comos critérios estabelecidos pelo MSTR.Eleição <strong>da</strong> direção em Congresso, respal<strong>da</strong><strong>da</strong>pelo Estatuto <strong>da</strong> CONTAG, com a presença deuma mulher na diretoria efetiva.Reorganização interna <strong>da</strong> CONTAG com acriação de secretarias específicas por frentesde luta e os novos diretores eleitos paracoman<strong>da</strong>r uma área específica.Ampliação <strong>da</strong>s mobilizações de base na lutapela terra, por crédito, nas lutas salariais,em defesa do SUS, etc.Maior inserção nas frentes de lutas intercategoriase em parceria com organizações <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de civil.1º Congresso Nacional Extraordinário dosTrabalhadores Rurais – CNETR“... não podemos sacrificar a nossa intervenção nosprocessos eleitorais gerais que o país viverá,convocando um congresso massivo em Brasília. Aseleições de agora terão a responsabili<strong>da</strong>de deconstruir o amanhã...”.Constatando que o próximo congresso aconteceriana segun<strong>da</strong> quinzena de novembro, no mesmoperíodo em que ocorreriam as eleições gerais de1994, o Conselho Deliberativo aprovou a realizaçãode um Congresso Extraordinário, em Brasília, emagosto de 1994.O temário do 1º CNETR:I – Sindicalismo e Organização Sindical;II – Luta pela Reforma Agrária;III – Luta dos Pequenos Produtores;IV – Luta dos Assalariados Rurais;V – Saúde e Previdência Social e;VI – Reformulação dos Estatutos <strong>da</strong> CONTAG.Participaram a direção executiva <strong>da</strong> CONTAG,direção efetiva <strong>da</strong>s Federações e delegados eleitosem número correspondente a 10% dos sindicatosfiliados a ca<strong>da</strong> Federação. Foi assegura<strong>da</strong> a participação<strong>da</strong>s diretoras <strong>da</strong> CONTAG, como delega<strong>da</strong>s, ede duas trabalhadoras rurais por estado.O congresso extraordinário foi coordenado peloPresidente em exercício, Aloísio Carneiro. FranciscoUrbano estava licenciado para concorrer a uma vagapara o Senado Federal, pelo Rio Grande do Norte. Aspropostas aprova<strong>da</strong>s nesse congresso municiariamas Federações e a CONTAG nas negociações com osgovernos federal e estadual, eleitos em 1994.Deliberações do 1º CNETRI – Meta de assentar 2 milhões de trabalhadores(as) nos próximos cinco <strong>anos</strong>.II – Entendimento que reforma agrária é umprograma prioritário e emergencial para ocombate à fome e à miséria.III – Política diferencia<strong>da</strong> para o pequeno produtor.IV – Fiscalização do Ministério do Trabalho para ocumprimento <strong>da</strong> Legislação Trabalhista e, quepossibilite a eliminação do trabalho escravo,tráfico de mão-de-obra, exploração dotrabalho infantil e discriminação <strong>da</strong> mulher.V – Realização do 6º CNTR em abril de 1995.VI – Defesa <strong>da</strong> Unici<strong>da</strong>de Sindical e <strong>da</strong> EstruturaConfederativa.12ª Eleição <strong>da</strong> CONTAG6º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais – CNTR.“Nem fome, nem miséria. O campo é a solução”.Na preparação do congresso, o MSTR avançou nacapaci<strong>da</strong>de de inovar e qualificar a organizaçãosindical no campo. A Comissão Coordenadora doCongresso foi composta por representação de to<strong>da</strong>sas regiões. Foram delegados (as): I) Diretoria Efetiva<strong>da</strong> CONTAG; II) Diretoria Efetiva <strong>da</strong>s Federações,até o máximo de sete; III) Um delegado (a) porSindicato, eleito em assembléia; IV) Duas mulheres32 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


“A deliberação pela filiação à CUT, provocou intenso debatena base <strong>da</strong> CONTAG, <strong>da</strong>s Federações, dos Sindicatos detrabalhadores rurais e <strong>da</strong> própria central”para ca<strong>da</strong> proporção de 10% dos STRs quites com aFederação, independente <strong>da</strong>quelas escolhi<strong>da</strong>s pelosSTRs, <strong>da</strong>s diretorias <strong>da</strong>s Federações e <strong>da</strong>s quefaziam parte <strong>da</strong> diretoria efetiva <strong>da</strong> CONTAG.A preocupação em garantir a participação efetiva<strong>da</strong> base nas decisões foi fun<strong>da</strong>mental para aconstrução de um congresso que consoli<strong>da</strong>sse aUni<strong>da</strong>de Política <strong>da</strong> classe trabalhadora no campo ena CUT. Em maio de 1995, 2 mil trabalhadores (as)rurais participaram, em Brasília, do 6º CNTR.Os trabalhadores e trabalhadoras rurais condenaramo projeto neoliberal do governo de FernandoHenrique Cardoso; reafirmaram a Reforma Agráriaenquanto bandeira prioritária; defenderam adefinição de uma política agrícola diferencia<strong>da</strong> paraa agricultura familiar, o combate ao trabalho escravoe a preservação dos direitos previdenciários, sociaise trabalhistas conquistados na Constituição de 1988.Todo o processo de elaboração e realização doCongresso representou uma lição de debate, depolítica e de organização. O evento explicitou anecessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> classe trabalhadora rediscutir a suaprática de luta e de convivência democrática comas divergências. A direção eleita tinha o desafio dereorganizar e recompor a Uni<strong>da</strong>de construí<strong>da</strong> aolongo dos mais de 30 <strong>anos</strong> <strong>da</strong> CONTAG. Essa uni<strong>da</strong>deprecisava ser permanentemente revitaliza<strong>da</strong> para oenfrentamento dos novos e históricos desafios queestavam postos para o movimento.A negociação de composição <strong>da</strong> nova diretorianão agradou a todos os segmentos representados.No encerramento do congresso, as delega<strong>da</strong>sdistribuíram nota de repúdio à forma de escolha dosnomes para compor a direção eleita. Denunciaram aausência dos nomes de mulheres identifica<strong>da</strong>spreviamente pela Comissão Nacional de MulheresTrabalhadoras Rurais: “Queremos manifestar nossorepúdio à forma como fomos desrespeita<strong>da</strong>s,ofendi<strong>da</strong>s e discrimina<strong>da</strong>s em todo o processo, emfunção de alianças e negociações que se deram deforma fecha<strong>da</strong>, desrespeitando plenárias estaduaise também o anseio <strong>da</strong> maioria deste Congresso”.Essa insatisfação momentânea estimulou, ain<strong>da</strong>mais, a organização e intervenção qualifica<strong>da</strong> <strong>da</strong>smulheres nos congressos que aconteceriam <strong>da</strong>í pordiante, nos âmbitos nacional, estadual e municipal.Resultado <strong>da</strong> Eleição para direção <strong>da</strong> CONTAGTotal de Delegados (as) = 1.5631.110 votos a favor103 votos brancos346 votos nulosA direção eleita teve a seguinte composição:Diretoria Efetiva: Francisco Urbano A. Filho/RN;Avelino Ganzer/PA; Gerônimo Brumatti/ES;Francisco Miguel de Lucena/CE; Maria Santiago deLima/RO; Hilário Gottselig/SC; Norival Gua<strong>da</strong>ghin/SP; Francisco Sales/MA; Alberto Ercílio Broch/RS;Guilherme Pedro Neto/GO; Airton Luiz Faleiro/PA eSebastião Rocha/MG. Conselho Fiscal: AntonioZarantonello; Divino Goulart e Almir José Feliciano.Filiação à CUTO estreitamento <strong>da</strong>s relações <strong>da</strong> CONTAG comas organizações que atuavam no campo e, a deliberaçãopela filiação à CUT, provocou intenso debatena base <strong>da</strong> CONTAG, <strong>da</strong>s Federações, Sindicatosde Trabalhadores Rurais e <strong>da</strong> própria central.Em reunião do Departamento Nacional deTrabalhadores Rurais - DNTR/CUT, realiza<strong>da</strong> emSão Paulo, em novembro de 1994, contando coma presença de Lula, os militantes decidiram que,caso a opção fosse por uma composição na direção<strong>da</strong> CONTAG no 6º CNTR, os nomes <strong>da</strong> CUTCONTAG <strong>40</strong> ANOS - 33


seriam de Francisco Miguel do Ceará (CE), GuilhermePedro Neto (GO), Maria Santiago de Lima(RO); Airton Faleiro e José Roberto Faro (PA).Em Congresso Nacional do DNTR/CUT, realizadoem Goiânia/GO, com uma votação aperta<strong>da</strong>,o DNTR aprovou a estratégia de trabalhar“por dentro <strong>da</strong> CONTAG” e, referendou os nomesaprovados em São Paulo. O encontro contou coma presença <strong>da</strong>s cinco Federações filia<strong>da</strong>s à CUT- Acre, Pará, Rondônia, Tocantins e Goiás.A votação ocorreu através de cédulaespecífica.Resultados <strong>da</strong> votação para filiação <strong>da</strong> CONTAGà CUT no 6º CNTRTotal de delegados (as) 1.563841 votos pela filiação já546 votos pela filiação em janeiro/1996116 votos nulos42 votos brancosApós o congresso <strong>da</strong> CONTAG, foi convocadooutro Congresso Nacional do DNTR para definirestratégias de ação <strong>da</strong> CUT no campo. Foiaprova<strong>da</strong> a imediata extinção do DNTR. Nosestados onde as Federações não fossem filia<strong>da</strong>s,a extinção dos DETRs ocorreria quando seconcretizasse a filiação à CUT. Onde houvessecomposição nas direções <strong>da</strong>s Federações, aopção seria de trabalhar por dentro e extinguiros DETRs, a exemplo do que ocorria no Paraná,Paraíba e Rio Grande do Sul. Nos demais estados,os DETRs trabalhariam a aproximação com essasFederações buscando estabelecer composição nadireção, ou mesmo, a filiação delas à CUT.13ª Eleição <strong>da</strong> CONTAG7º Congresso Nacional dos Trabalhadores eTrabalhadoras Rurais – CNTTR. “Rumo a um ProjetoAlternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável”.“...os próximos <strong>anos</strong> serãodecisivos, será uma luta desigual,mas de fun<strong>da</strong>mental importância,pois o que está em jogo é o futurodo Brasil e de to<strong>da</strong> a suapopulação...”Um salto qualitativo equantitativo se processou naorganização e trajetória política <strong>da</strong>CONTAG, merecendo destaque aveloci<strong>da</strong>de dessas mu<strong>da</strong>nças nosúltimos 10 <strong>anos</strong>. O 7º congressorepresentou um marco dessasmu<strong>da</strong>nças. No período de 30 demarço a 02 de abril de 1998, maisde 1.<strong>40</strong>0 delegados e delega<strong>da</strong>sdebateram e aprovaram um ProjetoAlternativo de DesenvolvimentoRural Sustentável – PADRS.A construção do congresso se deunos três níveis: municipal, com asassembléias para debate e eleiçãodos delegados (as) para a PlenáriaRegional ou Estadual; estadual, comPlenárias para debate e eleição dos delegados (as)ao Congresso Nacional; nacional, com a realizaçãodo 7º CNTTR.A Coordenação foi escolhi<strong>da</strong> em ConselhoDeliberativo. Sendo dois dirigentes <strong>da</strong> CONTAG, um(a) dirigente de ca<strong>da</strong> Federação e a representação<strong>da</strong> Comissão Nacional de Mulheres TrabalhadorasRurais - CNMTR.O Documento Base do congresso traduzia asmu<strong>da</strong>nças que ocorriam no meio rural e os desafiosque estavam colocados para o MSTTR. Trouxe parao debate, as reflexões vin<strong>da</strong>s dos cinco SemináriosRegionais de aprofun<strong>da</strong>mento sobre o modelo dedesenvolvimento rural para o país.Nascia o Projeto Alternativo de DesenvolvimentoRural Sustentável – PADRS, a partir de uma ampla emassiva reforma agrária; na expansão, valorizaçãoe fortalecimento <strong>da</strong> agricultura familiar; e namelhoria <strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong> e de trabalho dos34 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


assalariados e assalaria<strong>da</strong>s rurais.Esse projeto representou umpasso significativo na articulaçãoe unificação <strong>da</strong>s lutas <strong>da</strong> categoriana esfera nacional e para ofortalecimento de um novo tipo deinterseção campo e ci<strong>da</strong>de.O projeto também ampliou a visibili<strong>da</strong>de política<strong>da</strong>s mulheres coordena<strong>da</strong>s pela CNMTR, que jáhaviam conquistado a inclusão <strong>da</strong> Coordenação <strong>da</strong>Comissão Nacional no Estatuto <strong>da</strong> CONTAG. Incluírammais um “T” no nome do congresso, passando a ser7º Congresso Nacional dos Trabalhadores e TrabalhadorasRurais – CNTTR, demonstrando a compreensãoque o MSTTR possui dois sexos. Tambémpassou a ter três dirigentes na direção efetiva <strong>da</strong>CONTAG. As novas diretoras ocuparam a Coordenação<strong>da</strong> CNMTR e as Secretarias de Políticas SociaisOs congressos <strong>da</strong>CONTAG garantiramo debate, asocialização e aintegração nacional<strong>da</strong>s políticas domovimento sindicaldos trabalhadores etrabalhadoras ruraise de Secretaria de Organização eFormação Sindical.Esse congresso buscoupreparar as enti<strong>da</strong>des sindicais doMSTTR para enfrentar novosdesafios; aprovou a cota mínimade 30% de mulheres trabalhadorasrurais em to<strong>da</strong>s as instâncias do movimento;estabeleceu a auto-sustentação com base nascontribuições voluntárias; iniciou o debate sobre ainclusão de Jovens e a Terceira I<strong>da</strong>de nas enti<strong>da</strong>dessindicais.A organização e estrutura sindical foi o tema maispolêmico do congresso e recebeu um momentoespecífico para debater o assunto. Os delegados (as)aprovaram a realização de um Congresso Extraordináriopara aprofun<strong>da</strong>r esse tema. Antes do congressoextraordinário, o Movimento desencadeou umCONTAG <strong>40</strong> ANOS - 35


grande processo de discussão em todos os espaçossindicais, com o objetivo de definir uma propostaque permitisse a construção <strong>da</strong> organici<strong>da</strong>de nomovimento sindical de trabalhadores e trabalhadorasrurais, a partir dos seguintes elementos: relação coma CUT, organização de base, estrutura associativa/cooperativa, regionalização de base sindical,diferenciação na representação de segmentos(assalariados, agricultores familiares), relaçõesinternacionais, auto-sustentação financeira.O 7º representou uma prova <strong>da</strong> democracia euni<strong>da</strong>de do MSTTR. To<strong>da</strong>s as forças políticasparticiparam e interviram de forma qualifica<strong>da</strong>.Saíram unidos em torno <strong>da</strong>s propostas aprova<strong>da</strong>s e<strong>da</strong> nova diretoria eleita, apesar, de duas chapas docampo cutista terem disputado as eleições para adireção <strong>da</strong> CONTAG.Uma chapa foi encabeça<strong>da</strong> pelo pernambucanoManoel José dos Santos, o Manoel de Serra. A outra,pelo gaúcho, radicado no Pará, Airton Faleiro. Comoem qualquer disputa que envolvam companheiros(as), ficaram algumas cicatrizes, abran<strong>da</strong><strong>da</strong>s aolongo dos três <strong>anos</strong> de man<strong>da</strong>to <strong>da</strong> direção eleita.A direção <strong>da</strong> CONTAG teve a seguinte composição:Diretoria Efetiva: Manoel José dos Santos/PE;Gerônimo Brumatti/ES; Francisco Urbano A. Filho/RN; Agnaldo dos Santos Meira/BA; Maria do Ó doNascimento/AL; Hilário Gottselig/SC; Mario Plefk/PR; Alberto Ercílio Broch/RS; Sebastião Rocha/MG;Guilherme Pedro Neto/GO; Maria <strong>da</strong> Graça Amorim/MA; Maria de Fátima R. <strong>da</strong> Silva/PI e Raimun<strong>da</strong>Celestina de Mascena/CE. Conselho Fiscal: José Robertode Assis; Antonio Zarantonello e Maira Bottega.2º Congresso Nacional Extraordinário dosTrabalhadores e Trabalhadoras Rurais – CNETTR“A priori<strong>da</strong>de será a discussão na base, ostrabalhadores e trabalhadoras rurais deverãodeterminar qual o tipo de sindicalismo que irárepresentá-los no próximo milênio”.Antecipando-se ao 2º Congresso Extraordinário,realizado em outubro de 1999, foi realizado umseminário nacional sobreOrganização e Estrutura Sindical,com palestrantes querepresentavam to<strong>da</strong>s as concepçõesa respeito dos temas em debate.Ocorreram, também, cincoseminários regionais para discussãodo Documento Base do congresso,com o propósito de preparar aslideranças sindicais dos estadospara o debate nas assembléias dosSindicatos e nas Plenárias Estaduaise Regionais <strong>da</strong>s Federações.Quanto à participação, foiaprovado que: I – as assembléias dosSTRs elegeriam os delegados (as),proporcional ao número de sóciosquites; II – os Encontros Regionaiselegeriam os delegados (as)regionais na proporção de 01 paraca<strong>da</strong> 03 delegados (as) presentes;III – a Plenária Estadual elegeria osdelegados (as), na proporção de 01delegado (a) para ca<strong>da</strong> STR filiado à FETAG.Participaram ain<strong>da</strong>, como delegados (as), as diretorias<strong>da</strong>s Federações e <strong>da</strong> CONTAG. Todo o processode escolha de delegados (as) obedeceu à cota mínimade 30% de mulheres trabalhadoras rurais.As principais deliberações foram: defesa <strong>da</strong> Unici<strong>da</strong>de Sindical pelo MSTTR; transparência administrativa <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong>dessindicais; participação <strong>da</strong> base nas decisões <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de; criação <strong>da</strong> Comissão de Ética Nacional; ampliação do man<strong>da</strong>to <strong>da</strong> direção <strong>da</strong> CONTAGpara 04 <strong>anos</strong>, com uma Plenária Nacional deavaliação e ajustes após os dois primeiros <strong>anos</strong>; definição de agricultor (a) familiar, admitindoaté dois empregados permanentes; criação <strong>da</strong> Comissão Nacional de JovensTrabalhadores Rurais no 8º CNTTR; constituição <strong>da</strong>s Regionais <strong>da</strong> CONTAG; estreitar relações com a CUT.36 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


A criação <strong>da</strong> ComissãoNacional de JovensTrabalhadores eTrabalhadoras Rurais e aestrutura cooperativistaliga<strong>da</strong> ao MSTTR, foramdois grandes marcos. É ofuturo sendo construído.14ª Eleição <strong>da</strong> CONTAG8º Congresso Nacional dos Trabalhadores eTrabalhadoras Rurais – CNTTR. “Avançar na construçãodo Projeto Alternativo de DesenvolvimentoRural Sustentável”.Nesse congresso, o Conselho Deliberativo incorporoumu<strong>da</strong>nças para inscrição <strong>da</strong>s chapas concorrentesà direção <strong>da</strong> CONTAG. O registro passou aser realizado até quinze dias antes do Congressocom a finali<strong>da</strong>de de evitar esvaziamentos do plenáriopelos delegados (as) que articulavam a composiçãode uma ou mais chapas. Essa decisão possibilitoumaior aprofun<strong>da</strong>mento do debate político.Em março de 2001, em Brasília, ocorreu o 8ºCNTTR com mais de 2 mil delegados e delega<strong>da</strong>s. OMSTTR reafirmou a estratégia de avançar na construçãodo PADRS, tendo como princípios a realizaçãode uma Ampla e Massiva Reforma Agrária, avalorização e o fortalecimento<strong>da</strong> AgriculturaFamiliar, a geração de empregoe ren<strong>da</strong> no campo e,por melhores condições devi<strong>da</strong> e de trabalho para osassalariados e assalaria<strong>da</strong>srurais.Esse congresso foi maisuma prova <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de doMSTTR em refletir coletivamente,de maneira democráticae participativa,explicitando e enfrentandoas divergências existentes, na busca <strong>da</strong> construçãode um MSTTR autônomo, independente, classista ede luta.Os delegados e delega<strong>da</strong>s avaliaram que apesar<strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des vivi<strong>da</strong>s no enfrentamento com ogoverno de Fernando Henrique Cardoso, o MSTTR,em nenhum momento, se curvou aos desmandos eao autoritarismo imposto pelo governo. Pelo contrário,a CONTAG, Federações e Sindicatos, estiveramà frente <strong>da</strong>s principais mobilizações nacionais,estaduais e municipais.Avaliaram as consideráveis vitórias obti<strong>da</strong>s peloMSTTR, a exemplo do Grito <strong>da</strong> Terra Brasil – GTB/2000, que mobilizou mais de 10 mil trabalhadores(as) em Brasília. E a Marcha <strong>da</strong>s Margari<strong>da</strong>s, quetambém mobilizou mais de <strong>40</strong> mil mulheres trabalhadorasrurais na capital federal. Essas mobilizaçõesconquistaram a retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> Taxa de Juros de LongoPrazo –TJLP, do PRONAF e elevaram seus recursospara mais de 4 bilhões. Conquistaram ain<strong>da</strong> a assinaturado Programa Crédito Fundiário e a renego-CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 37


ciação <strong>da</strong>s dívi<strong>da</strong>s acumula<strong>da</strong>s <strong>da</strong> agricultura familiar.As principais deliberações foram: impedimento de participação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des doMSTTR, <strong>da</strong>s Federações que não realizem eleiçõesem Congresso e que não cumpram a política decotas de 30% de mulheres; membros <strong>da</strong> direção do STR que não efetuaremprestação de contas ficam impedidos de concorrera eleições sindicais; mu<strong>da</strong>nça no Estatuto <strong>da</strong> CONTAG para acrescero cargo de Coordenação Nacional <strong>da</strong> JuventudeTrabalhadora Rural; constituição de uma estrutura cooperativista <strong>da</strong>agricultura familiar; elaboração e implementação de um PlanoNacional de Reforma Agrária, com definição demetas e ações regionais e com atribuiçõesdescentraliza<strong>da</strong>s para os governos estaduais. apresentar ao Congresso Nacional o Projeto deLei do MSTTR, que trata de alterações nas regrasde contribuição e ampliação do acesso aosbenefícios previdenciários; defesa do Projeto de Emen<strong>da</strong> Constitucional queestabelece limites de 35 módulos fiscais paraproprie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> terra, como bandeira de luta paraampliação <strong>da</strong> Reforma Agrária. intensificar as ocupações de terras e acampamentos,como instrumento essencial para conquista<strong>da</strong> terra e principal forma de mobilizaçãoe pressão. realizar Campanha Nacional de recuperação dopoder aquisitivo do salário mínimo, envolvendoCONTAG, FETAGs, STRs e enti<strong>da</strong>des de trabalhadoresde âmbito nacional. <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong>de à Campanha Nacional dePrevenção de Acidentes do Trabalho na ÁreaRural- CANPATR sobre segurança nos transportese alojamentos dignos. Campanha nacional de prevenção e combatecontra os riscos e uso dos agrotóxicos, objetivandouma campanha pelo o fim dos agrotóxicos; realização do Congresso Nacional <strong>da</strong> Terceira38 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


I<strong>da</strong>de;contraposição ao plantio e comercialização deTransgênicos;estimular a produção orgânica, enquantoestratégia;descentralizar a produção do programa a VOZ <strong>da</strong>CONTAG de forma a favorecer sua regionalização.To<strong>da</strong>s as forças políticas participaram de formaqualifica<strong>da</strong> no debate, mas não foi suficiente paraunificar o processo eleitoral. Duas chapas concorreramà eleição <strong>da</strong> direção <strong>da</strong> CONTAG. Uma chapa encabeça<strong>da</strong>por Manoel de Serra e, outra, encabeça<strong>da</strong> pelo baianoEdson Pimenta.No entanto, a sabedoria política dos (as) dirigentessindicais do MSTTR, comprometidos com a construçãode uma enti<strong>da</strong>de nacional forte e representativa, maisuma vez superou as diferenças e passou a coordenarcoletivamente as lutas gerais e específicas <strong>da</strong> maiororganização sindical <strong>da</strong> América Latina.Numa demonstração de maturi<strong>da</strong>de política, osdirigentes sindicais do MSTTR deram continui<strong>da</strong>de àsações de massa e de enfrentamento <strong>da</strong> políticaneoliberal, contribuindo para a construção de um Brasilmais justo e solidário, com uma política econômicacentra<strong>da</strong> no bem estar de todos os brasileiros ebrasileiras do campo e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.A direção eleita teve a seguinte composição: DiretoriaEfetiva: Manoel José dos Santos/PE; Alberto Ercílio Broch/RS; Manoel Candido <strong>da</strong> Costa/RN; Hilário Gottselig/SC;Maria do Ó do Nascimento/AL; Juraci Moreira Souto/MG; José de Jesus Santana/BA; Airton Faleiro/PA;Guilherme Pedro Neto/GO; Maria <strong>da</strong> Graça Amorim/MA;Francisco Miguel de Lucena/CE; Maria de Fátima R. <strong>da</strong>Silva/PI; Raimun<strong>da</strong> Celestina de Mascena/CE e SimoneBattestin/ES. Conselho Fiscal: Francisco Sales, GilsonFrancisco <strong>da</strong> Silva e Maria Helena Baungarten.A Marcha <strong>da</strong>s Margari<strong>da</strong>s - 2000 razões paramarchar, mobilizou mais de quarenta mil mulherestrabalhadoras rurais em BrasíliaCONTAG <strong>40</strong> ANOS - 39


Lyndolpho SilvaPrimeiro presidente <strong>da</strong> CONTAGNas comemorações dos <strong>40</strong> <strong>anos</strong>de criação <strong>da</strong> CONTAG, LyndolphoSilva encontrava-se em São Paulo,hospitalizado. O depoimento é umresgate <strong>da</strong>s suas declaraçõesquando <strong>da</strong>s comemorações dos 30<strong>anos</strong> <strong>da</strong> Confederação, em 1993.Durante as festivi<strong>da</strong>des dos 30<strong>anos</strong> <strong>da</strong> CONTAG, em Brasília,Lyndolpho reproduziu parte <strong>da</strong>história de lutas do MSTTR. Elerecordou que a luta dos posseirosconcentrava-se na defesa <strong>da</strong>titulação <strong>da</strong> terra, com base na leide usucapião, já que cultivavama terra e pagavam impostos. Oempenho político dos assalariadostinha outra vertente: a obtençãode salários condizentes.Lyndolpho explicou que amaioria dos camponeses era maisque trabalhador do campo. Asituação representava o elo deligação entre o trabalho comoforma de sobrevivência e amanutenção <strong>da</strong> terra como valoreconômico nas mãos do proprietário.Este elo era representadopor um aspecto quase feu<strong>da</strong>l narelação com o latifúndio: o lavradormorava na fazen<strong>da</strong>. A classesocial a que pertencia constituíaum semiproletariado.O pioneiro <strong>da</strong> CONTAG tambémexplicou, em respostas aos críticosdos primeiros momentos <strong>da</strong>atuação política <strong>da</strong> CONTAG, queo surgimento <strong>da</strong> Confederação nãofoi uma “outorga” do estado, masuma combinação de dois fenômenos:um político com o recuo dogoverno para acalmar os ânimos,e outro social, com a persistência<strong>da</strong> classe trabalhadora rural.José Francisco <strong>da</strong> Silvaex-presidente <strong>da</strong> CONTAGFoi o primeiro presidente <strong>da</strong>CONTAG depois <strong>da</strong> retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong>instituição, em 1968. Ligado aopartido comunista, “ZéFrancisco”, dirigiu a enti<strong>da</strong>de por21 <strong>anos</strong>, nos piores momentos <strong>da</strong>vi<strong>da</strong> institucional do país.Enfrentou o latifúndio e arepressão militar nas suas maisagressivas formas de expressão.Ele apostou na formação e naorganização do MovimentoSindical de Trabalhadores eTrabalhadoras Rurais.Apesar <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des deorganizar mobilizações nos <strong>anos</strong>iniciais <strong>da</strong> CONTAG, a enti<strong>da</strong>decresceu e tem realizações. Quefeitos <strong>da</strong> CONTAG o senhor <strong>da</strong>riadestaque?A organização dessa enti<strong>da</strong>de,a estrutura dela hoje, com eleiçãoem Congresso, atuando por secretaria,tudo isso é uma grandeconquista. O avanço <strong>da</strong> reformaagrária, que era quase impossívelhá <strong>40</strong> <strong>anos</strong>, está acontecendo. Aquestão <strong>da</strong> previdência no campo,a organização dos agricultoresfamiliares, com programas específicosde crédito. São fenômenostremen<strong>da</strong>mente importantes queeram perseguidos passo a passoe que são grandes conquistas.Temos que lembrar os assalariadosque sofreram um baque com amodernização <strong>da</strong> agricultura, maso pessoal está deixando de serassalariado e está partindo paralutar pela conquista <strong>da</strong> terra.Com se deram as lutas em defesados interesses no período decerceamento <strong>da</strong>s liber<strong>da</strong>des?Havia muita união. O inimigofoi cedendo, aos poucos, àsnossas pressões. Naquela época,<strong>40</strong> - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


“O avanço <strong>da</strong> reforma agrária, que era quase impossível há<strong>40</strong> <strong>anos</strong>, está acontecendo.”já realizávamos essa defesa lançandomão até dos instrumentosjurídicos que se tinha, como aConstituição, o Estatuto do Trabalhador,o Estatuto <strong>da</strong> Terra, oartigo 508 do Código Civil, que dádireito à defesa <strong>da</strong> posse. A classetrabalhadora não era desuni<strong>da</strong>como pensam. O que havia era umabuso de poder bem maior do quese vê hoje. Se nos dias atuais olatifúndio quase não tem medo dena<strong>da</strong>, imagine naquela época, como estado, a política e o dinheirogarantindo as oligarquias.O senhor fez referências a umacerta evolução do espaço democrático<strong>da</strong>s lutas camponesas. Oque isso representa?A partir de 1979, houve umespaço bem maior para ampliação<strong>da</strong> luta. É preciso levar em contaque naquela época começaram osprimeiros movimentos <strong>da</strong> redemocratizaçãodo país, a exemplo <strong>da</strong>Campanha <strong>da</strong>s “Diretas Já”,dentre outros. Tivemos a Constituiçãode 1988, que permitiuavanços importantes para asclasses trabalhadoras do campo <strong>da</strong>e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, em relação, sobretudo,no que se referia a direitostrabalhistas, questão <strong>da</strong> terra, <strong>da</strong>previdência, <strong>da</strong> organizaçãosindical e, principalmente,autonomia e liber<strong>da</strong>de sindical.Quer dizer, no caminho <strong>da</strong>s lutas<strong>da</strong> CONTAG, se percebia que aca<strong>da</strong> dia o pessoal envolvidoprocurava ocupar estes espaços.Com isso, o processo democráticoia se consoli<strong>da</strong>ndo, porque namedi<strong>da</strong> em que se recorria aosinstrumentos que se foramforçosamente criando ao longo <strong>da</strong>spressões dos trabalhadores, seencontrava, ao mesmo tempo,condições de se somar conquistas.Aloísio CarneiroEx-presidente <strong>da</strong> CONTAGAloísio Carneiro chegou àCONTAG em 1983, como suplente,integrando a oitava diretoria <strong>da</strong>instituição. Baiano, ele atuou noSindicato dos TrabalhadoresRurais de Retirolândia, de ondeseguiu para a direção <strong>da</strong>Federação dos Trabalhadores naAgricultura <strong>da</strong> Bahia. A partir de1986, Aloísio assumiu aPresidência <strong>da</strong> CONTAG para umman<strong>da</strong>to de três <strong>anos</strong> (1986/1989). Podemos dizer, que <strong>da</strong>ícomeçava o Movimento Sindical deTrabalhadores e TrabalhadorasRurais, com dois Ts.Aloísio chega à liderança doMSTR no segundo ano do Governodo Presidente José Sarney. Nocampo, a violência levou o governoa criar, na estrutura do Ministério<strong>da</strong> Reforma e Desenvolvimento –MIRAD, uma coordenação específicapara acompanhar os conflitosagrários. Nesse cenário, surgiu aUnião Democrática Ruralista, umainstituição ultradireita, cujo objetivoera impedir qualquer avançona reforma agrária. Nesse climade tensão, entre as forças favoráveise contrárias às reformas nocampo, Aloísio Carneiro atuou nãosomente em defesa dos interessesdos trabalhadores rurais,buscou avançar também na lutapela eliminação do trabalhoinfanto-juvenil e <strong>da</strong> escravidão.Foi ain<strong>da</strong> em sua gestão queocorreram os embates na AssembléiaConstituinte para garantir osdireitos dos trabalhadores etrabalhadoras do campo. Aloísiofaleceu em 2002. Ao grandecompanheiro o reconhecimento detodos os homens e mulheres quelutam por condições digna de vi<strong>da</strong>no campo.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 41


Francisco UrbanoAraújo Filhoex-presidente <strong>da</strong> CONTAGFrancisco Urbano Araújo Filho,mais conhecido como Urbano, temuma história pareci<strong>da</strong> com demuitos outros trabalhadores ruraisbrasileiros. Nascido em São Paulodo Potengi, interior do Rio Grandedo Norte. Deixou a condição demeeiro para ingressar na lutasindical. Durante 20 <strong>anos</strong> ocupoudiversos cargos na CONTAG atéchegar à presidência.Em 1993, já como presidente<strong>da</strong> CONTAG, quando a secacastigava o povo nordestino,diante do descaso do estado,Urbano passou a defender ossaques aos estabelecimentoscomerciais. “Nem passarinhomorre em cima do galho sem antesvoar para tentar encontrarcomi<strong>da</strong>”. Era uma resposta àsameaças do governo de reprimircom maior severi<strong>da</strong>de a reaçãodesespera<strong>da</strong> dos atingidos pelaestiagem. Urbano foi convocadoao Ministério <strong>da</strong> Justiça para <strong>da</strong>rexplicações e ameaçado de enquadramentona Lei de SegurançaNacional, sob acusação de incitação<strong>da</strong>s massas.Nas comemorações dos <strong>40</strong> <strong>anos</strong><strong>da</strong> CONTAG, Urbano fez uma avaliaçãodos dez últimos <strong>anos</strong> <strong>da</strong> lutados trabalhadores e trabalhadorasrurais e lamentou que o Estadobrasileiro ain<strong>da</strong> não tenha assumidoa reforma agrária, como aprincipal política capaz de eliminara fome e retirar <strong>da</strong> miséria milhõesde brasileiros.Ao falar <strong>da</strong> luta pela reformaagrária lembrou que a luta doMSTTR não avança mais rapi<strong>da</strong>mentepor motivos ‘óbvios’. “Estamoslonge de avançar como deveríamos,por uma razão objetiva:com a legislação que aí está, o quevamos continuar fazendo é assentamentoe não reforma agrária”,afirmou.Na opinião de Urbano, o assentamentode poucas centenas defamílias e a manutenção demilhões de hectares em mãos delatifundiários mantém o trabalhadorrural na histórica condição dedesvantagem diante <strong>da</strong>s instituiçõesde crédito e comercial.Para ele, a reforma agráriacontinua sendo um grande desafiodo MSTTR, ao lado de outrasbandeiras de luta, como aeliminação do trabalho escravo einfantil.Na visão de Urbano, a lógicaperversa do estado em relação aoshomens e mulheres do campovem, historicamente, forçando oêxodo rural e ampliando a exclusãosocial, quando o mais sensatoseria a interiorização do desenvolvimento.Mas quando “lampejos”de desenvolvimento “iluminam”minimamente umapequena parcela do campo, oEstado surge para descaracterizaro indivíduo. Isso ocorre, porexemplo, quando uma pequenacomuni<strong>da</strong>de consegue instalaruma micro-agroindústria parabeneficiar a produção e agregarvalor ao produto, buscando elevarsua ren<strong>da</strong>. Quando isso corre, aPrevidência alega que aqueleindivíduo não é mais o mesmo. Ouseja, o agricultor familiar perdeessa condição para ser rotulado deempresário.Urbano lembrou que o entendimentode agricultura familiarestá consoli<strong>da</strong>do e o segmento étema de estudos dos intelectuaise foi integralmente assimilado emto<strong>da</strong>s as instâncias de poder,desde o Executivo, passando peloLegislativo e até mesmo oJudiciário.O que falta, lembrou Urbano,são programas de capacitação dos“...com a legislação que aí está, o que vamos continuarfazendo é assentamento e não reforma agrária.”42 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


agricultores familiares, por meiode um serviço permanente deassistência técnica, “é precisoreativar e fortalecer um sistemade assistência técnica e extensãorural, cujo desmonte começou nogoverno José Sarney e foitotalmente destruído no governode Collor”, que os tornem competentespara disputar mercadosdentro desse processo maior,chamado globalização. Significatornar o agricultor familiar apto acompetir dentro do mercado.Ele destacou que segurançaalimentar não está relaciona<strong>da</strong> àquanti<strong>da</strong>de e sim, à quali<strong>da</strong>de dosprodutos colocados à disposição <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de.”Segurança alimentar éter produto com quali<strong>da</strong>de, semveneno, sem química para oconsumo <strong>da</strong>s pessoas”.Manoel José dos SantosPresidente <strong>da</strong> CONTAGAgricultor familiar, conhecidocomo Manoel de Serra, numareferência à sua ci<strong>da</strong>de de origem,Serra Talha<strong>da</strong>, no sertão dePernambuco. Em 1970, começoua participar <strong>da</strong> Ação Católica,organização pastoral no meiorural. Em 1972, filiou-se aoSindicato dos TrabalhadoresRurais de Serra Talha<strong>da</strong>, onde setornou dirigente sindical,ocupando vários cargos até 1989,primeiro, como Tesoureiro edepois Presidente do Sindicato.Na déca<strong>da</strong> de 80, do século XX,contribuiu para a construção doPT, partido ao qual ain<strong>da</strong> é filiado,e <strong>da</strong> criação <strong>da</strong> CUT. Em 1990, foieleito Secretário-Geral <strong>da</strong>Federação dos Trabalhadores naAgricultura de Pernambuco –FETAPE. Em 1993, elegeu-sePresidente <strong>da</strong> Federação, sendoreeleito em 1996, permanecendono cargo até 1998, quando foieleito em congresso, para assumira Presidência <strong>da</strong> CONTAG,cumprindo atualmente seusegundo man<strong>da</strong>to.Como o senhor descreve aCONTAG quarentona?Entendo que nenhuma organizaçãopode achar que já fez tudo,que não tem na<strong>da</strong> para modificar,ou se reestruturar. O próprio nomejá diz: movimento sindical, ouseja, algo que está em permanentemu<strong>da</strong>nça, buscando responderas deman<strong>da</strong>s e necessi<strong>da</strong>des dostrabalhadores e trabalhadoras, seauto-avaliando, refletindo e fazendoas mu<strong>da</strong>nças necessárias, naperspectiva de uma ação inovadora,propositiva e coerentecom seus representados.Nesses quarenta <strong>anos</strong>, conseguimosresistir ao golpe e a ditaduramilitar, retomamos nossaenti<strong>da</strong>de para o rumo <strong>da</strong> autonomiae <strong>da</strong> representação dostrabalhadores e trabalhadorasrurais. Lutamos junto com outrasorganizações para a redemocratizaçãodo país. Avançamos naarticulação, na pressão, na mobilizaçãoe na proposição,construindo o Grito <strong>da</strong> Terra Brasile o Projeto Alternativo de DesenvolvimentoRural Sustentável.Nesses últimos <strong>anos</strong>, participamosde forma ativa e propositiva<strong>da</strong> mobilização nacional emfavor <strong>da</strong> eleição de um governocomprometido com os trabalhadorese trabalhadoras. Do pontode vista <strong>da</strong> organização interna,tivemos mu<strong>da</strong>nças fun<strong>da</strong>mentaisem nossa estrutura organizativa,redimensionamos nossa açãosindical, antes centra<strong>da</strong> na lutados assalariados, especialmente<strong>da</strong> região canavieira, e na reformaagrária. Ampliamos nossas frentesde luta para atender a diversi<strong>da</strong>dedos trabalhadores e trabalhadorasrurais e suas deman<strong>da</strong>s, tambémavançamos na democraciainterna: em 1968, José Franciscodisputou a direção <strong>da</strong> CONTAG com11 votos, apenas 11 pessoasvotavam representando asFederações. Hoje, nossas eleiçõesacontecem em congresso, comrepresentantes dos mais de 4.100sindicatos, filiados às 27Federações. Milhares de delegadose delega<strong>da</strong>s escolhidos emassembléias de base e que chegamnos congressos, vem com umCONTAG <strong>40</strong> ANOS - 43


acúmulo de discussões realiza<strong>da</strong>sem Plenárias Regionais. Trazempropostas por temáticas específicaspara serem debati<strong>da</strong>s eaprova<strong>da</strong>s no Congresso Nacional.Temos a participação <strong>da</strong>s mulherese dos jovens em to<strong>da</strong>s asinstâncias. São mu<strong>da</strong>nças significativase necessárias à reali<strong>da</strong>deatual do campo brasileiro.O que precisa ser feito parapromover o desenvolvimentosustentável no campo?Precisamos entender o desenvolvimentosustentável no campo,dentro do processo de construçãode um projeto de socie<strong>da</strong>de. Ondegoverno e movimentos sociaistêm papeis e funções distintas,em alguns momentos complementares,sem perder de vista aidenti<strong>da</strong>de de classe.Com relação ao governo, precisaimplementar políticas estruturais,como: Reforma Agráriaampla e massiva, diferente dedistribuição de terra, com planejamento,assistência técnica,infra-estrutura para a produção;geração de emprego e ren<strong>da</strong>;valorização <strong>da</strong> agricultura familiar,com política de crédito, agroindustrializaçãodos produtos, deacesso ao mercado, de modelostecnológicos que preservem omeio ambiente.Como se produz uma mu<strong>da</strong>nçano campo?Esse é um dos grandes desafios.É fazer uma política de fortalecimento<strong>da</strong> agriculturafamiliar, favorecendo a todos.Avançando no processo de desapropriação,nos assentamentos<strong>da</strong>s famílias que não têm terra econstruindo uma política complementarde acesso à terra. O créditofundiário é um dos instrumentospara garantir o acesso àterra naquelas áreas que estãoabaixo <strong>da</strong> linha <strong>da</strong> desapropriaçãoprevista pela Constituição Federal.É preciso que haja um planejamentosobre o que se vai implantar,qual é a aptidão dessa terra,qual projeto que será implantado.É preciso garantir assistênciatécnica à produção, agregar valorao produto, para que não sejavendido in natura por qualquerpreço, assegurar acesso aomercado e, para isso, executaruma política de infra-estrutura,com a construção de estra<strong>da</strong>s quepermitam o escoamento <strong>da</strong>produção. Precisamos também depolíticas sociais que busquem, emregime de colaboração, reunir osesforços e responsabili<strong>da</strong>des <strong>da</strong>sesferas do poder: União, Estadose Municípios, no atendimento àsdeman<strong>da</strong>s de saúde, moradia,previdência, escola pública dequali<strong>da</strong>de e contextualiza<strong>da</strong> nareali<strong>da</strong>de do campo, lazer e esportes,para que a juventude possater perspectiva e opção de vivere produzir no campo.O desenvolvimento sustentávelcomo um processo em construção,precisa assegurar aosassalariados e assalaria<strong>da</strong>s ruraisdireitos trabalhistas, condições detrabalho e salários dignos, quetem no salário mínimo um pesosignificativo no campo. Alémdisso, temos que pensar o campocomo um lugar de viver, de morare de produzir, por isso, temos quepensar a articulação de ativi<strong>da</strong>desagrícolas e não agrícolas comoforma de evitar o desemprego e aexclusão social.Com relação aos movimentossociais, precisamos mobilizar,organizar, formar nossa base,além de tudo, precisamos ter acapaci<strong>da</strong>de de propor, de nosarticular, de realizar parcerias, dedialogar no sentido de buscar estratégiasde melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>dede vi<strong>da</strong> dos trabalhadores e trabalhadorasrurais.Como é a relação <strong>da</strong> CONTAG como governo que ajudou a eleger?Hoje, o Presidente Lula, é umgestor público dos interesses doconjunto <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, portanto,de interesses heterogêneos e di-“É preciso que haja um planejamento sobre o que sevai implantar, qual é a aptidão dessa terra, qualprojeto que será implantado.44 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


versificados. A CONTAG é representantede um segmento <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de que são os trabalhadorese trabalhadoras rurais. Alémde termos clareza <strong>da</strong> importânciados movimentos sociais terem suaautonomia perante o governo,sabemos que temos um governode coalizão, onde as diferentesforças políticas: trabalhadores,empresários de diversos setores<strong>da</strong> economia, segmentos fisiológicose que só vêem seus interesses.Por isso, que sabendo dessacorrelação de forças, <strong>da</strong> disputade interesses entre os váriossetores que compõem o governo,e que Lula não é mais sindicalistae, sim, Presidente <strong>da</strong> República doBrasil, a CONTAG vem cumprindoseu papel de reivindicar, propor enegociar, quando necessário, paraatender os interesses <strong>da</strong> nossacategoria e do país. Por exemplo,a mesma ação e propostas quetivemos com o governoFernando Henrique,estamos tendo com ogoverno Lula, com algumasexigências a mais,pois participamos doprocesso de sua eleição.Se o senhor não fosseo presidente <strong>da</strong> CONTAG queconselho <strong>da</strong>ria aos dirigentessindicais?Fica difícil imaginar essasituação, porque eu sou o presidente<strong>da</strong> CONTAG. Mas seestivesse lá na base, trabalhandona roça, iria sugerir que os dirigentesnão se afastassem de suabase, que tornasse a organizaçãosindical ca<strong>da</strong> vez mais um instrumentoa serviço dos trabalhadorese trabalhadoras rurais, que pudessemver a diversi<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> estadoe não apenas o que aconteceO segredo <strong>da</strong>liderança é não tiraros pés <strong>da</strong> terra, terreferência na suabase, emboradesenvolva tarefasdistintas em outrasesferas de atuaçãoemBrasília.Sobretudo, ouvire considerar bastanteo que dizem,pensam enecessitam ostrabalhadores etrabalhadoras láem seus locais detrabalho, na roça. Para mim, osegredo <strong>da</strong> liderança é não tirar ospés <strong>da</strong> terra, ter referência na suabase, embora desenvolva tarefasdistintas e em outras esferas deatuação. Por isso, mesmo euestando aqui em Brasília, sendoPresidente <strong>da</strong> CONTAG, mantenhominha roça lá no sítio Juazeiro, nomunicípio de Serra Talha<strong>da</strong>, ondenasci, me criei, comecei a atuarno sindicato, e to<strong>da</strong>s as vezes queposso, vou lá trabalhar na roça. Souagricultor familiar, é isso que euaprendi a fazer e ser e querocontinuar sendo.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 45


Desenvolvimentosustentávelincludente e dinamizador <strong>da</strong>spotenciali<strong>da</strong>des locais“Uma coisa é pôr idéias arranja<strong>da</strong>s, outra é li<strong>da</strong>r com país de pessoas,de carne e sangue, de mil-e-tantas misérias...Tanta gente”.Guimarães Rosamodelo agrícola brasileirosempre foi con-Oservador, parcial, excludentee insustentável. Aprodução agroexportadora e osgrandes proprietários sempreforam os principais focos <strong>da</strong>s políticasvolta<strong>da</strong>s para o campo. Poderíamosrecor<strong>da</strong>r momentos d<strong>anos</strong>sa história, para caracterizaresse modelo, porém, começaremospelo período ditatorial que suplantoua democracia por 20 <strong>anos</strong>.Durante esse período, o Brasilcresceu de forma regionaliza<strong>da</strong> econcentra<strong>da</strong>. As organizações sociais,amor<strong>da</strong>ça<strong>da</strong>s pelo regimeditatorial, pouco podiam fazerpara contestar o modelo. Os trabalhadorese trabalhadoras rurais,coordena<strong>da</strong>s pela CONTAG, defendiama construção de um modelode desenvolvimento includente,justo e que levasse em conta asdeman<strong>da</strong>s produtivas, sociais,políticas e organizativas <strong>da</strong> classetrabalhadora, sobretudo, <strong>da</strong>quelesque vivem e produzem no campo.Em 1970, a direção <strong>da</strong> CONTAGconfrontava o Brasil que se industrializavade forma acelera<strong>da</strong>, como Brasil que morria de fome e afirmavaque, apesar do crescimentoeconômico, não havia desenvolvimento:”Desenvolvimento nãoquer dizer somente crescimentoeconômico, mas também, (...)distribuição de terra e ren<strong>da</strong>, justiçasocial e ampla participação detodos os habitantes de uma nação,incluindo-se os camponeses (...)desenvolvimento é o crescimentoacompanhado de melhora, nocampo social, educacional eeconômico”.Essa análise <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de docampo também era feita nos Fórunsinternacionais que a CONTAGparticipava. Seja como convi<strong>da</strong><strong>da</strong>,ou como membro, a exemplo <strong>da</strong>sReuniões <strong>da</strong> Organização Internacionaldo Trabalho. Ou mesmo,junto a organizações sindicaiseuropéias e norte-americanas.A luta por melhoria <strong>da</strong>scondições de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s populaçõesdo campo é a razão de existir doMSTTR. Dar visibili<strong>da</strong>de e valori-46 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


Comissão Pró-CUT eleita na 1ª ConclatSÃO PAULO: Arnaldo Gonçalves (Metalúrgicos deSantos); Clara Ant (Arquitetos de SP); Edson BarbeiroCampos (Bancários de SP); Hugo Perez (Federação<strong>da</strong>s Industrias Urbanas de SP); Jacó Bittar (Petroleirosde Campinas e Paulínia); Raimundo Rosa de Lima(Panificadores de SP); Roberto Toshio Horiguti(FETAESP); Luis Inácio <strong>da</strong> Silva (Metalúrgicos de SãoBernardo do Campo). RIO DE JANEIRO: Ivan Martins(Bancário do RJ); João Carlos Santos (Petroquimicosde Caxias); Jorge Bittar (Engenheiros do RJ);Oswaldo Pimentel (Metalúrgicos do RJ); RobertoChabo (Médicos do RJ); Eraldo Lírio de Azevedo(FETAG-RJ). MINAS GERAIS: Guilherme Tell(Professores de MG) João Paulo Vasconcelos(Metalúrgicos de João Monlevade); João Silveira(Metalúrgicos de Belo Horizonte); Tilden Santiago(Jornalistas de MG); André Montalvão (FETAEMG).RIO GRANDE DO SUL: João Paulo Marques (Vestuáriode Porto Alegre); Olívio Dutra (Bancários de PortoAlegre); Lauro Hagemann (Jornalista de Porto Alegre);Ricardo Baldino e Souza (Construção Civil de PortoAlegre); Walter José Irber (STR de Tenente Portela);Orgênio Rott (FETAG-RS). BAHIA: Gonçalo Santosde Melo (Petroleiros <strong>da</strong> Bahia); Lazaro Bilac(Eletricitários <strong>da</strong> Bahia); Jose Gomes Novaes ( STRde Vitória <strong>da</strong> Conquista); Aloísio Carneiro (FETAG-BA). PERNAMBUCO: Edvaldo Gomes de Souza(Industrias Urbanas de PE); Jose Alves Siqueira(Metalúrgicos de Recife); Jose Rodrigues <strong>da</strong> Silva(FETAPE). SANTA CATARINA: Francisco Alano(Comerciários de SC); Norberto Kortmann(FETAESC). PARANÁ: Antonio Santana (ConstruçãoCivil de Curitiba); Agustinho Bukowski (FETAEP).ESPÍRITO SANTO: Vitor Buaiz (Médicos de ES);Antonio Ângelo Moschen (STR de Colatina). MATOGROSSO DO SUL: Antonio Benjamin Costa (IndustriasUrbanas de MS); Pedro Ramalho (FETAG-MS). PARÁ:Venise Nazaré Rodrigues (Professores do Pará);Avelino Ganzer (STR de Santarém). CEARÁ:Raimundo Guerreiro (Metalúrgicos de Fortaleza);João Mendes Maia (STR de Mora<strong>da</strong> Nova). RIOGRANDE DO NORTE: Horacio Oliveira (Bancários doRN); Jose Francisco <strong>da</strong> Silva (FETARN). BRASÍLIA:Armando Rollemberg (Federação Nacional dosJornalistas); Jose Francisco <strong>da</strong> Silva (CONTAG).MATO GROSSO: Edivaldo Jose <strong>da</strong> Silva (FETAG-MT).GOIÁS: Nelson de Assis Teles (STR de Bela Vista deGoiás). MARANHÃO: Jacó Alves de Souza (STR dePoção de Pedras). ALAGOAS: Arlindo Vitalino <strong>da</strong> Silva(FETAG-AL). SERGIPE: Manoel Julio de Santana(FETASE). ACRE: Manoel Pacifico <strong>da</strong> Costa(Professores do AC). PIAUÍ: Osmar Araújo (FETAG-PI). PARAÍBA: Álvaro Diniz (FETAG-PB).(CONTAG, Brasília; O Trabalhador Rural, Nº 12 – ago./set./ 1981)Apesar <strong>da</strong> definição coletiva derealização do congresso para criação<strong>da</strong> Central, segmentos sindicaisligados ao Partido dosTrabalhadores se anteciparam efun<strong>da</strong>ram, em São Bernardo doCampo, a Central Única dosTrabalhadores – CUT. A CONTAG,mantendo sua prática política detentar, por todos os meios, amanutenção <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de Política <strong>da</strong>classe trabalhadora, não participou<strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> CUT em SãoBernardo do Campo, colocando-seao lado <strong>da</strong>s demais confederaçõese enti<strong>da</strong>des sindicais que tambémficaram de fora desse processo.A CONTAG e outras enti<strong>da</strong>dessindicais fun<strong>da</strong>ram, posteriormente,a Central Geral dosTrabalhadores – CGT. Contudo,com o passar do tempo, a convivênciapolítica na CGT foi ficandoinsustentável e as divergênciasafloravam ca<strong>da</strong> vez commais intensi<strong>da</strong>de. A CONTAG foise afastando pouco a pouco <strong>da</strong>política implementa<strong>da</strong> pela CGT,permanecendo autônoma até1995. Essa autonomia, não impediuque a CONTAG participasseconjuntamente com a CUT dediversas manifestações políticasnacionais. Em 1995, após intensodebate interno, a CONTAG sefiliou à CUT.Em abril de 1986, durante aposse <strong>da</strong> direção <strong>da</strong> CONTAG, JoséFrancisco afirmou que: “a CGT sóCONTAG <strong>40</strong> ANOS - 49


tem uma razão de ser, e não éabraçar uma linha de esmagamento<strong>da</strong> CUT, que é uma enti<strong>da</strong>deque tem companheiro combativo(...) Pode haver equívocospolíticos sim, de ambos os lados,mas que jamais deverão levar àseparação <strong>da</strong> classe trabalhadora(...) A CONTAG precisa do apoio<strong>da</strong> CGT, precisa do apoio <strong>da</strong> CUT,precisa do apoio dos partidospolíticos que querem mu<strong>da</strong>nçasneste país. Nós não podemos nospautar nesse ou naquele entendimentosepara<strong>da</strong>mente”.Em to<strong>da</strong> a sua história, aCONTAG sempre buscou estabelecerum diálogo entre as deman<strong>da</strong>sdos trabalhadores (as) rurais,com as deman<strong>da</strong>s mais gerais <strong>da</strong>classe trabalhadora. Em 1990, ocongresso <strong>da</strong> CONTAG afirmouque a Reforma Agrária é o eixocentral para melhorar as condiçõesde vi<strong>da</strong> no campo e, estratégicapara acabar com a fome eo desemprego no campo e naci<strong>da</strong>de. Demonstrando a inter-relaçãoexistente entre as deman<strong>da</strong>s<strong>da</strong> população do campo e <strong>da</strong>ci<strong>da</strong>de.Durante a Assembléia NacionalConstituinte, o MSTTR, junto comoutras organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>decivil, interviu de forma qualifica<strong>da</strong>na perspectiva <strong>da</strong> construção deum modelo de desenvolvimentoque tivesse na inclusão social epolítica, participação, transparênciae controle social dos gastospúblicos, mecanismos consideradosimprescindíveis para o empoderamento<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil.Com a eleição de FernandoCollor, em 1989, houve umretrocesso, outro modelo excludentee concentrador começava aser implementado no país. No 5ºCNTR, em novembro de 1991, oMSTTR identificou a necessi<strong>da</strong>dede construir um projeto políticoque dialogasse com as deman<strong>da</strong>se priori<strong>da</strong>des do MSTTR, que fossealternativo ao neoliberalismo e,tivesse no ser humano o centro<strong>da</strong>s suas ações políticas. Esseprojeto só viria a ser explicitadoem 1995 e aprovado em 1998.Começava a ganhar forma, a idéiaoriginal do Projeto Alternativo deDesenvolvimento Rural Sustentável– PADRS.Uma <strong>da</strong>s “ferramentas”utiliza<strong>da</strong>s pelo MSTTR para garantira construção do PADRSforam as políticas públicas, compreendendoque os ConselhosMunicipais, Estaduais e Nacional,são espaços importante para aelaboração, negociação e imple-50 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


O questionamento àspolíticas neoliberais ea proposição depolíticas públicasvolta<strong>da</strong>s para o camposempre foram osprincipais temas doGrito <strong>da</strong> Terra Brasil.mentação de políticas públicas.Uma <strong>da</strong>s experiências marcantes<strong>da</strong> atuação <strong>da</strong> CONTAG emerecedora de destaque, é acampanha pela Erradicação doTrabalho Infantil. O processo dearticulação institucional entreorganizações de trabalhadores ede empregadores, do governo e<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de organiza<strong>da</strong> nocombate ao trabalho infantil,representa o ideal de democraciaparticipativa e constitui-se enquantoespaço de elaboração,negociação, execução e gestão depolíticas de garantia de direitos<strong>da</strong> criança e do adolescente.Como reconhecimento dessetrabalho desenvolvido peloMSTTR, o programa de rádio – AVOZ DA CONTAG, que veiculoudiversas matérias e campanhassobre o trabalho infanto-juvenil,recebeu o Prêmio Ayrton Senna deJornalismo - Categoria VeículoRádio Destaque Nacional. Esseprêmio foi concedido pelo InstitutoAyrton Senna, em 1999, pelamontagem e gerenciamento <strong>da</strong>Rede de Rádios do SistemaCONTAG de Comunicação emDefesa dos Direitos <strong>da</strong>s Crianças,e concorreu com outros brilhantesprojetos de comunicação, desenvolvidospor todo o país e sobrediversos segmentos excluídos <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de.Durante as duas gestões doPresidente Fernando HenriqueCardoso (1994/1997 e 1998/2001), a implantação <strong>da</strong>s políticasneoliberais no país ganhoudimensão e veloci<strong>da</strong>de. O acessoà terra continuou a ser caso depolícia. A diminuição <strong>da</strong> presençado Estado em áreas sociais eprodutivas estratégicas foi amarca desse governo, a exemplodo sucateamento <strong>da</strong> assistênciatécnica estatal, do INCRA e <strong>da</strong>sestruturas <strong>da</strong> CONAB, etc.Em maio de 1994, aconteceu o1º Grito <strong>da</strong> Terra Brasil – GTB, quemobilizou mais 100 mil trabalhadores(as) rurais. A mobilização foiorganiza<strong>da</strong> pela CONTAG, emparceria com o DepartamentoNacional dos Trabalhadores Rurais– DNTR/CUT, Movimento dosCONTAG <strong>40</strong> ANOS - 51


“Desenvolvimento local sustentável baseadona agricultura familiar.Construindo um projeto alternativo.”Trabalhadores Rurais Sem Terra –MST, Movimento dos Atingidos porBarragens – MAB, Conselho Nacionaldos Seringueiros – CSN,Coordenação <strong>da</strong>s Articulações dosPovos Indígenas – CAPOIB e MovimentoNacional de Pescadores. Asprincipais bandeiras foram: oquestionamento às políticas neoliberaisimplementa<strong>da</strong>s pelo governoFernando Henrique Cardosoe a proposição de políticas volta<strong>da</strong>spara a população que vive etrabalha no campo.Além <strong>da</strong> mobilização nacional,em Brasília, ocorreram mobilizaçõesem São Paulo, Mato Grossodo Sul, Mato Grosso, Minas Gerais,Sergipe, Maranhão, RioGrande do Sul, Paraná, SantaCatarina, Pernambuco, Piauí,Ceará, Paraíba, Alagoas, Bahia eEspírito Santo, Rio Grande doNorte, Pará, Rondônia, Acre eTocantins. Essa metodologia demobilizar localmente para construiruma pauta Nacional a sernegocia<strong>da</strong> nacionalmente, ganhouforça ano após ano.Nas relações internacionais,apesar <strong>da</strong> CONTAG ser conheci<strong>da</strong>e reconheci<strong>da</strong> pela sua dimensãoe capilari<strong>da</strong>de, foi a partir de1991, que começou a se estabelecerpriori<strong>da</strong>des e estratégiaspara uma ação articula<strong>da</strong> internacionalmente.A filiação à CUTimpulsionou o relacionamento comorganismos internacionais e foiquando iniciou a construção deuma política estratégica de relaçõesinternacionais. Uma <strong>da</strong>sprimeiras intervenções <strong>da</strong>CONTAG foi a representação <strong>da</strong>agricultura familiar brasileira naCoordenadora de AgricultoresFamiliares do MERCOSUL.A partir <strong>da</strong>í as ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>área internacional cresceram. ACONTAG esteve presente noseventos <strong>da</strong> Rede Interamericanade Agricultura e Democracia(RIAD); nos seminários oficias doMERCOSUL; passou a ser convi<strong>da</strong><strong>da</strong>pela União Internacionaldos Trabalhadores em Alimentação,Agricultura, Hotéis, Restaurantese Tabaco -UITA para oseventos regionais e internacionais;participou dos eventos <strong>da</strong>Coordenação <strong>da</strong> Comissão deSoli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de entre os Trabalhadoresdo Açúcar no Mundo –CCSTAM; dos encontros <strong>da</strong> FAO e<strong>da</strong> Rede Brasil. Sempre representandoos interesses dos trabalhadorese trabalhadoras ruraisbrasileiros, sejam agricultores(as) familiares – consoli<strong>da</strong>dos ouassentados, ou assalariados (as)rurais.A CONTAG processava mu<strong>da</strong>nçassubstanciais na sua atuaçãopolítica interna e externa, promovendoalterações, também, naformação política sindical, queincorporou enquanto ação prioritária,o Desenvolvimento LocalSustentável – DLS. O MSTTR passoua visualizar a necessi<strong>da</strong>de decriar novos processos de capacitação<strong>da</strong> base, para estabeleceruma maior e mais qualifica<strong>da</strong>inserção junto ao poder local epromover políticas públicas de52 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


desenvolvimento rural sustentável.Nesse sentido, foi desencadeadoum grande processo demobilização e capacitação voltadopara o desenvolvimento localsustentável, envolvendo direta eindiretamente, mais de 30 millideranças e técnicos do MSTTR,em mais de 4,5 mil municípios,dentro do Programa de DesenvolvimentoLocal Sustentável – PDLS.Esse programa colaborou paraincorporar a “cultura” de parceriasna ação sindical do MSTTR,envolvendo inúmeras organizaçõesnão governamentais eampliando, de forma qualitativa,as parcerias do MSTTR nos estadose municípios.Os materiais de apoio pe<strong>da</strong>gógico,como cartilhas, cartazes evídeos, ain<strong>da</strong> hoje são utilizadosnos processos de capacitação noBrasil e no exterior. O vídeo “DesenvolvimentoLocal SustentávelBaseado na Agricultura Familiar –Construindo um Projeto Alternativo”,por exemplo, foi premiadocomo melhor vídeo na 10ªMostra de Agrovídeos, realiza<strong>da</strong>em Vila Clara, em Cuba.A construção do Projeto CUT/CONTAG de Pesquisa e FormaçãoSindical, também colaborou nessesentido, construindo um imensodiagnóstico desse Brasil rural.Esse diagnóstico identificou 26dinâmicas de desenvolvimento.Em to<strong>da</strong>s as dinâmicas se percebiaque as fronteiras “geopolíticas”não explicavam as diferenças.Percebeu-se que uma dinâmica deuma locali<strong>da</strong>de se produzia ereproduzia <strong>da</strong> mesma forma emoutra locali<strong>da</strong>de totalmentedistinta <strong>da</strong> outra. Esse projetocolaborou para reafirmar osconceitos e metodologias volta<strong>da</strong>spara o desenvolvimento ruralsustentável.Foi desenvolvidoum grande processode mobilização ecapacitaçãovoltado para odesenvolvimentolocal sustentável.Quando o 7º congresso aprovoua construção do Projeto Alternativode Desenvolvimento RuralSustentável – PADRS, através deuma ampla e massiva ReformaAgrária, <strong>da</strong> expansão, valorizaçãoe fortalecimento <strong>da</strong> agriculturafamiliar e, pela melhoria <strong>da</strong>scondições de vi<strong>da</strong> e de trabalhode imensos contingentes de assalariadose assalaria<strong>da</strong>s rurais,aprovava uma proposta quelevava em conta todo um acúmulodecorrente <strong>da</strong>s mais diversasCONTAG <strong>40</strong> ANOS - 53


experimentações do MSTTR.Quanto a esse acúmulo, podemosdestacar a integração comorganizações de trabalhadores etrabalhadoras rurais de outrospaíses, do Projeto CUT/CONTAG e<strong>da</strong> construção e implementação doPDLS. No entanto, o principalacúmulo veio <strong>da</strong> “escuta” feitajunto à base, durante a realizaçãodos cinco grandes Seminário Regionais,que envolveram organizaçõesparceiras e estudiosos <strong>da</strong> rurali<strong>da</strong>debrasileira e que trouxeramuma nova concepção de DesenvolvimentoRural Sustentável.Nesses seminários regionais enos debates posteriores, os professoresRicardo Abramovay e JoséEli <strong>da</strong> Veiga foram imprescindíveisna reflexão e construção de estratégiasvolta<strong>da</strong>s para o DLS. O ProfessorJosé Eli apresentou seusestudos sobre o tamanho desseBrasil rural, identificando cerca de4.485 municípios com fortes característicasrurais e com uma populaçãoestima<strong>da</strong> em 70 milhõesde pessoas.No contexto dessa rurali<strong>da</strong>de,a atuação <strong>da</strong> CONTAG, Federaçõese Sindicatos é estratégica, enquantoestimuladores de processosde desenvolvimento local sustentável.Estratégica também, paraestimular a construção de relaçõessociais inovadoras, que incorporema soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e cooperaçãomútua, em contraposição ao individualismo,uma marca característicado neoliberalismo.Também no sentido de colaborarcom a reflexão sobre a importânciaestratégica de um projeto como oPADRS para o país, Cléia Anice Porto,assessora <strong>da</strong> CONTAG, afirma que:“a opção de ter a agricultura familiarcomo base para a construção dodesenvolvimento rural sustentável,se justifica plenamente pelas condiçõesfavoráveis que esta dispõe,além de ser a grande fomentadora<strong>da</strong> interiorização do desenvolvimento,alternativa (...) que certamentefaria desafogar os grandescentros urb<strong>anos</strong>”.O 7º congresso quando aprovoucomo princípios do PADRS, umaAmpla e Massiva Reforma Agrária,pela Valorização, Expansão eFortalecimento <strong>da</strong> AgriculturaFamiliar, estabeleceu que essesprincípios precisariam estar articuladospor políticas transversaisde gênero, geração, raça e etniae meio-ambiente.54 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


Outros princípios do PADRS, estabelecidos no 7º Congresso· Privilegiar o ser humano na sua integrali<strong>da</strong>de,possibilitando a construção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.· Incluir crescimento econômico, justiça,participação social e preservação ambiental.· As questões econômicas devem estar articula<strong>da</strong>sàs questões sociais, culturais, políticas,ambientais e às relações sociais de gênero,geração, raça e etnia.· Não se alcança o desenvolvimento com programasde combate à pobreza, é fun<strong>da</strong>mental criarpolíticas e programas voltados para a distribuiçãode ren<strong>da</strong>.· Não existirá desenvolvimento sustentável, semeducação, saúde, garantias previdenciárias,salários dignos, erradicação do trabalho infantile escravo, respeito à autodeterminação dos povosindígenas e preservação do meio ambiente.· A geração de emprego e ren<strong>da</strong> não se resume,evidentemente, à expansão e fortalecimento <strong>da</strong>agricultura familiar. Ela inclui a melhoria <strong>da</strong>scondições de vi<strong>da</strong> de imensos contingentes deassalariados agrícolas e a criação de outrasocupações rurais não-agrícolas no campo.Além desses princípios norteadores,que chamaremos de EixosEstratégicos para a implementaçãodo PADRS, esse congressotambém afirmou que o PADRS estáem permanente construção e quesua implementação acontece nocotidiano dos trabalhadores etrabalhadoras rurais e de suasorganizações.Quando trabalhadores (as)rurais, em sua comuni<strong>da</strong>de, associaçãoou cooperativa, noSindicato ou Federação, participamou coordenam processos deocupação de terras; informam oucoordenam ações volta<strong>da</strong>s para oacesso ao crédito; orientam econtribuem para o acesso aos benefíciosprevidenciários; estimulam,participam ou coordenamações de organização <strong>da</strong>s mulheres,jovens ou terceira i<strong>da</strong>de,estão implementando o PADRS.Essas ações concretas e cotidianassão chama<strong>da</strong>s de Eixos Táticos.Logo, enquanto os Eixos Estratégicosdialogam com asfrentes de luta mais gerais doMSTTR, os Eixos Táticos dialogamcom as ações políticas cotidianasdos trabalhadores e trabalhadorasrurais e de suas organizações.Dentre as deliberações volta<strong>da</strong>spara o dia-a-dia <strong>da</strong> ação sindical,destaca-se a importânciaestratégica: do meio-ambiente,<strong>da</strong> soberania alimentar, <strong>da</strong>agroecologia, <strong>da</strong> organização <strong>da</strong>produção, <strong>da</strong> organização <strong>da</strong>Juventude e <strong>da</strong> Terceira I<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>ampliação <strong>da</strong> democracia interna,e dos esforços no sentido de elegerLuis Inácio Lula <strong>da</strong> Silva paraPresidência <strong>da</strong> República.As relações internacionais,estabeleci<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> CONTAG,também fizeram parte <strong>da</strong>s preocupaçõescentrais no 7º congresso.Foi aprova<strong>da</strong> a filiação <strong>da</strong> CONTAGà UITA. A vice-presidência <strong>da</strong>CONTAG assumiu a tarefa derepresentação, articulação eproposição <strong>da</strong>s deman<strong>da</strong>s epropostas do MSTTR na áreainternacional.Quanto às relações institucionaise com a socie<strong>da</strong>de, em julhode 1999, em São Paulo, aCONTAG, Federações e Sindicatos,divulgaram o Projeto Alternativode Desenvolvimento RuralSustentável – PADRS. Realizaramativi<strong>da</strong>des em sindicatos urb<strong>anos</strong>,Universi<strong>da</strong>des e na AssembléiaLegislativa do Estado de São Paulo.Durante Plenária <strong>da</strong> CUT SãoPaulo, no mesmo período, foiapresentado aos delegados edelega<strong>da</strong>s, as linhas gerais doPADRS. No mesmo ano, emBrasília, a direção <strong>da</strong> CONTAGrecepcionou parlamentares em suasede para apresentar o PADRS.Sempre com olhar voltado parao Desenvolvimento Rural Sustentável,a CONTAG realizou doisSalões <strong>da</strong> Agricultura Familiar comCONTAG <strong>40</strong> ANOS - 55


o propósito de chamar a atençãopara o papel transformador <strong>da</strong>agricultura familiar nos processosde Desenvolvimento Rural Sustentável.Esses ‘eventos adotaram amesma metodologia volta<strong>da</strong> paraa difusão de conceitos, tecnologiase práticas volta<strong>da</strong>s para odesenvolvimento. O primeiroSalão ocorreu no Rio Grande doNorte, e o segundo em Salvador.Os eventos conjugaram espaçosde apresentação de experiênciasexitosas e apresentaçãode tecnologias alternativas.Painéis foram apresentados porestudiosos e organizações parceiras,e realizaram oficinas sobreas principais temáticas do MSTTR.Estima-se que mais de 4 mil dirigentes,técnicos e trabalhadoresde base passaram por to<strong>da</strong>s asativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s nos doissalões e também receberam umgrande número de visitantes.Buscando aprofun<strong>da</strong>r o debatesobre as questões centrais doPADRS, inclusive conceitual, aCONTAG constituiu espaços de reflexão,aprofun<strong>da</strong>mento e integraçãoentre o MSTTR, agênciasde cooperação internacional,ONGs, Universi<strong>da</strong>des e organizaçõesgovernamentais. Essesespaços, denominados de FórunsCONTAG de Cooperação Técnica,em parceria com BIRD, IICA, FAOe PNUD, deram maior visibili<strong>da</strong>deao projeto político do MSTTR epermitiram que suas formulaçõesse firmassem enquanto referênciasno debate nacional e continentalsobre desenvolvimentorural sustentável. Os fóruns abor<strong>da</strong>ramos seguintes temas:· O I Fórum foi realizado emBrasília/DF, em agosto de1999, sobre DesenvolvimentoRural Sustentável.· O II Fórum foi realizado emSão Luis/MA, em dezembrode 1999, sobre Processos deOrganização de Base, Educação,Gestão Participativa ePolíticas Publicas.· O III Fórum foi realizado emPorto Alegre/RS, em Julho de2000, sobre Instrumentos deGestão Participativa, Sistemasde Gestão para Sustentabili<strong>da</strong>de<strong>da</strong> AgriculturaFamiliar e Estratégias deGestão para a Inserção <strong>da</strong>Agricultura Familiar noMERCOSUL.· O IV Fórum foi realizado emRecife/PE, em novembro de2000, sobre a importânciaestratégica <strong>da</strong> Educação doCampo para o DesenvolvimentoRural Sustentável.A CONTAG, levando à práticaum dos princípios do PADRS, deentendê-lo enquanto um projetoconstruído cotidianamente, percebeuque ain<strong>da</strong> faltava “engatarum importante vagão”, de formamais qualifica<strong>da</strong>, nesse ‘trem’ doDesenvolvimento Rural Sustentável,os assalariados e assalaria<strong>da</strong>srurais.Esse exercício contribuiu paraque os aspectos econômicos e produtivos<strong>da</strong> agricultura familiar nãose sobrepusessem às relaçõesBuscandoaprofun<strong>da</strong>r odebate sobre asquestões centrais doPADRS a CONTAGampliou suaparticipação juntoas organizaçõesinternacionaisentre o capital e o trabalho estabeleci<strong>da</strong>sno campo. Além de serimpossível falar em desenvolvimentorural sustentável semlevar em consideração os 5 milhões56 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


de assalariados e assalaria<strong>da</strong>srurais, que constituem a partemais explora<strong>da</strong> e marginaliza<strong>da</strong> <strong>da</strong>categoria trabalhadora rural.O MSTTR, ao elaborar o ProjetoAlternativo de DesenvolvimentoRural Sustentável, teve por basea realização <strong>da</strong> reforma agráriacomo meio de ampliar e fortalecera agricultura familiar, com conseqüênciana geração e ampliaçãode postos de trabalho e de ren<strong>da</strong>no campo.Essa proposta é estratégica também para os trabalhadores e trabalhadorasassalaria<strong>da</strong>s rurais quando promove:criação de novos postos de trabalho;redução do desemprego, no incremento de ativi<strong>da</strong>des nãoagrícolas;melhoria <strong>da</strong>s condições de trabalho e vi<strong>da</strong> e aumento <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>,fun<strong>da</strong>mentais para este setor que ain<strong>da</strong> enfrenta gravesproblemas como a ausência de novas oportuni<strong>da</strong>des de trabalhoe emprego;combate a crescente informali<strong>da</strong>de e precarie<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s relaçõesde trabalho no campo.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 57


A implementação efetiva doPADRS favorece, portanto, a democratização<strong>da</strong>s relações detrabalho, quali<strong>da</strong>de de emprego evi<strong>da</strong> e garantia de direitos trabalhistase previdenciários, sobretudopela geração de emprego eocupações produtivas no campo.No assalariamento rural astransformações foram grandes,entretanto, do ponto de vista <strong>da</strong>srelações sociais e <strong>da</strong> estruturaagrária foram marginais. Para aCONTAG, é fun<strong>da</strong>mental que sebusque formas que impeçam aexclusão de grandes contingentesde trabalhadores do mercado detrabalho.O desafio para a CONTAG naatuali<strong>da</strong>de é aglutinar as organizaçõesrepresentativas dos interessesde trabalhadores e trabalhadorasrurais existentes – assalariados(as), sem terra, agricultores(as) familiares, quilombolas, dentreoutras especifici<strong>da</strong>des, em tornodos princípios do PADRS. Entendendoesse projeto como parte deum projeto de socie<strong>da</strong>de, que sejajusta, democrática, igualitária,equânime, solidária e ambientalmentesustentável.A contag nestes <strong>40</strong> <strong>anos</strong> de história foi uma <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong>desque liderou e construiu propostas para as mu<strong>da</strong>nças sociais eeconômicas deste país, buscando a melhoria de condições devi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população brasileira. Principalmente na defesa dosinteresses dos trabalhadores e trabalhadorasrurais brasileiros.Logo após sua fun<strong>da</strong>ção sofreu intervenção emconseqüência do golpe militar de 1964, somenteretomando suas lutas em 1968. Neste período iniciaseuma luta pela Reforma Agrária, Organização dosAssalariados e Assalaria<strong>da</strong>s Rurais e posteriormentea organização dos Agricultores e AgricultorasFamiliares.A <strong>Contag</strong> por ser uma enti<strong>da</strong>de que investe nasua estrutura, organização interna e de suaslideranças é uma referencia nacional para omovimento sindical. Através de suas ações e mobilizações, queé um marco no nosso pais e tem conquistado políticas deA luta continua e esta enti<strong>da</strong>de vem se a<strong>da</strong>ptando asmu<strong>da</strong>nças conjunturais que sofre o nosso país, modernizandosua estrutura e procurando desenvolver propostas políticas queaten<strong>da</strong>m as necessi<strong>da</strong>des e deman<strong>da</strong>s <strong>da</strong> base na busca de umamelhor quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> dos trabalhadores e trabalhadorasrurais do Brasil.“Nessas quatro déca<strong>da</strong>s deexistência, a CONTAG semprelutou por bandeiras amplas enecessárias ao desenvolvimentodo país. Na luta pelaredemocratização do país,pelo impeachment de Collor,pela implementação de políticaspúblicas para o campo,pela implementação de umProjeto Alternativo de DesenvolvimentoRural Sustentável.Essa missão, continua presenteno dia a dia <strong>da</strong> CONTAG,consoli<strong>da</strong>ndo ca<strong>da</strong> vez mais amaior organização sindical detrabalhadores e trabalhadorasrurais <strong>da</strong> América Latina”.Natal Ribeiro MacielSecretário de PolíticasAgrícolasHilário Gottselig - Secretário Geral58 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


história<strong>Contag</strong> e a justiçasocial no PaísLuiz Marinho - Presidente Nacional <strong>da</strong> CUTinegável a importânciaÉdos trabalhadores ruraispara o desenvolvimentoeconômico e social doPaís. Mais importante ain<strong>da</strong> éorganizá-los para que tenhamcondições de lutar contra asinjustiças e a exploração que permeiamo trabalho no campo (atémuito mais do que no trabalhourbano). E é aqui que a ConfederaçãoNacional dos Trabalhadoresna Agricultura, a <strong>Contag</strong>,assume papel fun<strong>da</strong>mental.Nestes <strong>40</strong> <strong>anos</strong> de existência,a <strong>Contag</strong> vem exercendo umaação efetiva na organização dostrabalhadores rurais e seus sindicatosde base, sendo a principalreferência de representação <strong>da</strong>categoria. Os números por si sócomprovam: hoje ela congrega4.100 sindicatos, 27 federações ena<strong>da</strong> menos que 25 milhões detrabalhadores.A enti<strong>da</strong>de tem sido decisiva naluta pelos direitos dos trabalhadoresrurais, pelo efetivo reconhecimentode seu direito de organizaçãosindical – cotidianamente atacadodiante <strong>da</strong> perseguição às liderançasde base que, em inúmeros casos,terminam em brutais assassinatos–, e pela reforma agrária, tão necessáriapara que de fato a justiçasocial exista em nosso País. Alémdisso, está à frente <strong>da</strong> formulaçãode propostas concretas para o desenvolvimentoagrário, que podetrazer, por conseqüência, o desenvolvimentode pequenas e médiasci<strong>da</strong>des do Brasil.Ou seja, nestas quatro déca<strong>da</strong>s,a <strong>Contag</strong> tem demonstrado serie<strong>da</strong>dee compromisso com o Brasile seus ci<strong>da</strong>dãos. Para nós, <strong>da</strong>Central Única dos Trabalhadores,é motivo de orgulho ter a Confederaçãocomo uma de nossas filia<strong>da</strong>se principal colaboradora paraa organização dos trabalhadoresno campo. E é desta luta incansávelque o movimento sindicalprecisa para, junto com outros setoressérios <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, podermosconquistar a digni<strong>da</strong>de <strong>da</strong>quelesque fazem o País.Parabéns <strong>Contag</strong>! Parabéns, companheirose companheiras rurais!Nesses <strong>40</strong> <strong>anos</strong> de historia e lutas, a CONTAG estimuloupermanentemente a visibili<strong>da</strong>de política e econômica dostrabalhadores e trabalhadoras rurais. Hoje, esse segmentorepresenta um dos setores mais dinâmicos <strong>da</strong> economia e <strong>da</strong>política sindical brasileira.Mas, entendo que uma <strong>da</strong>s ações maisimportantes para consoli<strong>da</strong>r a CONTAGenquanto essa enti<strong>da</strong>de plural e diversa, foi aampliação <strong>da</strong> participação <strong>da</strong>s mulheres.Podemos afirmar que historia dessa organizaçãotem dois momentos distintos, antes e depois<strong>da</strong>s mulheres conquistarem seu espaço político.Essa participação qualitativa e quantitativa,potencializou ain<strong>da</strong> mais as ações do MSTTR. aexemplo <strong>da</strong> Marcha <strong>da</strong>s Margari<strong>da</strong>s e as muitasvitórias <strong>da</strong>s lutas <strong>da</strong>s mulheres, como o acessoao PRONAF-Mulher e a titulação <strong>da</strong> terra emconjunto com o marido.Isso não quer dizer, que os problemas de participação <strong>da</strong>smulheres na socie<strong>da</strong>de e no MSTTR acabaram. Mas, comcerteza elas não estão sós nessa luta, pois conta com o apoioe estimulo <strong>da</strong> maior organização sindical de trabalhadores etrabalhadoras rurais <strong>da</strong> América Latina – a CONTAGRaimun<strong>da</strong> Celestina de Mascena – Coordenadora Nacional <strong>da</strong>sMulheres Trabalhadoras Rurais.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 59


CONTAG defende a democratizaçãodo uso de terra desde sua fun<strong>da</strong>çãoUma breve releitura a respeitodo modelo agrário implementadono Brasil demonstra que a opçãodos sucessivos governos foi peloeconômico com ênfase na preservaçãodo latifúndio e exploração<strong>da</strong> monocultura. Os aspectos socioambientaise culturais sempreforam desconsiderados, o queresultou em exclusão social,concentração de ren<strong>da</strong>, degra<strong>da</strong>çãodo meio ambiente e crescimento<strong>da</strong> violência no campo.Levantamentos oficiais sobrea estrutura agrária brasileira nãodesmentem essa opção excludentee perversa que trouxe conseqüênciasambientais e sociais maléficaspara o país. O Brasil dispõede aproxima<strong>da</strong>mente 600 milhõesde hectares aptos para agricultura.No entanto, 250 milhões sãoáreas ociosas e 285 milhões sãolatifúndios, em sua maior parte,improdutiva ou destina<strong>da</strong> à criaçãode gado. A maior parte dessaterra cultivável, 46%, está nasmãos de 1% dos proprietáriosrurais e, aproxima<strong>da</strong>mente 85%,não produzem um quilo de trigoou uma saca de feijão.Nesses <strong>40</strong> <strong>anos</strong> de existência,a CONTAG sempre colocou em suapauta o debate sobre a questãofundiária. Mesmo porque, a própriaconstrução <strong>da</strong> CONTAG seconfunde com a história <strong>da</strong> reformaagrária no Brasil. Ain<strong>da</strong> que deforma pouco explícita, os trabalhadorese trabalhadoras rurais,nas déca<strong>da</strong>s de 60 e 70 do séculopassado, já apontava a necessi<strong>da</strong>dede conjugar a reformaagrária, com o acesso à educação,previdência, saúde e moradia,como um caminho viável paramu<strong>da</strong>r o perfil agrário brasileiro.Os materiais de formação,publicados na revista O TrabalhadorRural, desde os <strong>anos</strong> 60, sempreenfatizaram a necessi<strong>da</strong>de deque a pose <strong>da</strong> terra estivesse associa<strong>da</strong>a uma formação educacionalformal e profissional, aos direitose deveres de regime <strong>da</strong> previdênciasocial pública e ao crédito agrícoladiferenciado. A CONTAG esclareciaain<strong>da</strong>, que a luta pelareforma agrária exigia um trabalhode conscientização junto aostrabalhadores e suas organizações,para uma melhor compreensão <strong>da</strong>real situação dos sem-terra.Dados do Instituto Brasileirode Reforma Agrária – IBRA/1969 Enquanto 1.200.663 minifúndiosocupam 5.568.000 hectares(1,8% <strong>da</strong> área total ca<strong>da</strong>stra<strong>da</strong>),27 latifúndios ocupamárea praticamente igual, 1.7%<strong>da</strong> área ca<strong>da</strong>stra<strong>da</strong>. O número de famílias semterraera de 7,3 milhões,sendo distribuído <strong>da</strong> seguinteforma: 1,4 milhões assalariadospermanentes; 3,9 milhõesassalariados temporáriose 2 milhões de posseiros,meeiros, etc.Ain<strong>da</strong> que de maneira tími<strong>da</strong>ou preventiva, devido ao regimeditatorial imposto à população60 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


asileira, em 1973, a revista <strong>da</strong>CONTAG declarou: “Não pode ocumprimento <strong>da</strong>s normas protecionistasdo trabalho dependerexclusivamente <strong>da</strong> atuaçãosindical. (...) Não deve a terra serproprie<strong>da</strong>de de poucos, quandomuitos nela trabalham e quandotodos dela dependem (...) reivindicamosdo Governo a execução<strong>da</strong> Reforma Agrária, que seconstitui um imperativo <strong>da</strong> políticasócio-econômica Nacional”.Foi também nesse período que aCONTAG começou a falar de umapolítica de crédito fundiário.Reivindicava a instituição do créditopara trabalhadores rurais compouca terra ou sem terra, semlimite de i<strong>da</strong>de, com prazo máximode 20 <strong>anos</strong> para pagamento.É de se perguntar quantasorganizações de trabalhadoresousaram tanto nesse período econseguiram sobreviver. Ardilosamentea direção <strong>da</strong> CONTAG<strong>da</strong>va o recado ao explicar que aintenção <strong>da</strong>s reivindicações <strong>da</strong>categoria era pleitear condiçõesde trabalho mais compatível coma digni<strong>da</strong>de humana e, assim,fazer o trabalhador rural contribuire participar <strong>da</strong> riqueza nacional.Que governo ou censura poderiase opor a um texto em que ostrabalhadores declaravam quequeriam melhores condições devi<strong>da</strong> para contribuir com oprogresso <strong>da</strong> nação?No discurso de abertura do congresso<strong>da</strong> CONTAG, em maio de1979, José Francisco, declarouque: “a partir de 1968, a opçãogovernamental de estímulo àexportação de produtos primáriosreforçou o poder econômico doslatifúndios. A desproporção doscréditos concedidos a produçõescomo a soja, o cacau, a cana e ocafé, em comparação com os produtosbásicos para alimentação,como milho, feijão e mandioca”,era gritante. Além disso, esclareceuo presidente: “independentedo destino <strong>da</strong> produção, o créditorural tem ido para quem delemenos precisa”.Dados oficiais de 1970 a1975: As proprie<strong>da</strong>des com menosde 50 hectares perderamquase 900.000 hectares,enquanto que aquelas comárea maior de 1.000 hectaresincorporaram mais de 20milhões de hectares de terra. Em 1970, eram 11,5 milhõesde famílias trabalhadoras,sendo que apenas 2,5 milhõestinham acesso à proprie<strong>da</strong>de<strong>da</strong> terra, ain<strong>da</strong> que emquanti<strong>da</strong>de insuficiente. Já olatifúndio, representandoaproxima<strong>da</strong>mente 20% dosimóveis rurais, controlava80% <strong>da</strong>s terras do país.É claro que esse enfrentamento<strong>da</strong> CONTAG, em seusdiscursos e impressos institucionais,recebia o respaldo de seusfiliados. Somente no primeiro trimestrede 1979, oito Federaçõesorganizaram trabalhadores semterrapara resistir a ações dedespejo. Agricultores familiaresiniciaram mobilizações demonstrandoque a política agrícola doGoverno era perversa com ospequenos produtores e, em diversosestados, as federaçõesrealizavam reuniões com empregadoresrurais para negociarmelhores salários e condições devi<strong>da</strong> aos assalariados rurais. Atrás<strong>da</strong> CONTAG existiam aproxima<strong>da</strong>menteseis milhões de trabalhadoresrurais.À época, a CONTAG informavaem seu periódico: “os poderososjá temem a nossa força. O MovimentoSindical de TrabalhadoresRurais está crescendo e se fortalecendodia-a-dia. A nossa força,hoje, já é uma reali<strong>da</strong>de que nãopode ser nega<strong>da</strong> (...) provas dissosão as recentes vitórias obti<strong>da</strong>spor trabalhadores no Norte, comdesapropriações de áreas emconflito; do Sul, com a que<strong>da</strong> dosimpostos que prejudicam ospequenos produtores; do centro edo Nordeste, com conquistas quemelhoram as condições de vi<strong>da</strong> etrabalho dos assalariados docampo”.“Independente do destino <strong>da</strong> produção, o crédito ruraltem ido para quem dele menos precisa”.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 61


O lado ruim desse avanço <strong>da</strong>organização foi o crescimento <strong>da</strong>violência e do terror contralideranças sindicais para intimi<strong>da</strong>ro Movimento Sindical de TrabalhadoresRurais. Apesar de tercontra si o aparato policial repressivo;a ação de jagunçospagos por grileiros; a morosi<strong>da</strong>de<strong>da</strong> Justiça e a total omissão dopoder público, o MSTTR não seintimidou. O resultado foi o crescimentode assassinatos delideranças e, também, o crescimento<strong>da</strong> tenaci<strong>da</strong>de dos trabalhadoresrurais para continuaras lutas dos companheiros mortos.A CONTAG declarou: “O nossoMovimento Sindical sente-sefortalecido para reafirmar suadisposição de prosseguir na luta,sem se deixar intimi<strong>da</strong>r, honrandoo exemplo <strong>da</strong>do pelos companheirosassassinados”.A CONTAG denunciava aomissão do governo e deixavaclaro que não haveria soluçãoduradoura para tantos conflitos,caso não houvesse “uma ver<strong>da</strong>deiraredistribuição <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de,<strong>da</strong> ren<strong>da</strong> e do poder no meiorural, através de um ReformaAgrária ampla, massiva, imediatae com participação dos trabalhadores“.A abertura política noinício <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 80, do séculoXX, naturalmente produziutransformações nas lutas contra omodelo agrário brasileiro e62 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


O Plano Nacional deReforma Agrária foiapresentado peloGoverno Federal duranteo 4º Congresso. Contandocom a presença doPresidente <strong>da</strong> República,José Sarney.também obrigou o Governo pensarem mu<strong>da</strong>nças nas políticas paraárea rural.Em 1982, o Governo apresentouo Programa Nacional de PolíticaFundiária conduzido pelo entãocriado Ministério Extraordináriopara Assuntos Fundiários. Para aCONTAG se tratava de mais umamedi<strong>da</strong> burocrática, portantoinócua para efetivar uma legítimareforma agrária no país. A CONTAGgarantiu que continuaria lutando,reivindicando e cobrando aimediata decisão do 3º CongressoNacional de Trabalhadores Rurais.A CONTAG, IBASE, ABRA, CIMI,CNBB e CPT lançam a campanhanacional pela reforma Agrária.Diversos segmentos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de,principalmente representantes deorganizações urbanas, prestigiaramo lançamento <strong>da</strong> campanha ecomeçaram a buscar informaçõespara compreender o modelo agráriobrasileiro. A campanha foi desencadea<strong>da</strong>em vários estados, compasseatas e atos públicos envolvendomilhares de pessoas. Aampliação <strong>da</strong>s manifestaçõespopulares provocou uma reaçãoinfeliz do governo militar, quetratou com violência os manifestantese suas organizações.Durante o 4º congresso, em1985, a reforma agrária deu o tomdo evento e contou com apresença de vários Ministros e, doPresidente <strong>da</strong> República JoséSarney. Os delegados (as) levarampanelas fura<strong>da</strong>s à bala, comoforma de denunciar a violênciasofri<strong>da</strong> no campo.O Ministro <strong>da</strong> Reforma e DesenvolvimentoAgrário, Nelson Ribeiro,anunciou que esperava aparticipação dos trabalhadores paraefetivar o Plano Nacional de ReformaAgrária. A meta do Plano eraassentar 7,1 milhões de famílias deacordo com critérios definidos pelostrabalhadores e previa fórmulasdiferencia<strong>da</strong>s para atender areali<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> região.As lideranças sindicais nãochegaram a um consenso sobreapoiar ou não o PNRA, enquanto amaioria <strong>da</strong>s lideranças entendeuque as intenções desse governo detransição deveriam ser leva<strong>da</strong>s emconta pelos delegados (as), outraslideranças questionavam desde alegitimi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> eleição presidencial,feita através de Colégio Eleitoral,até a vontade política deimplementar o PNRA.Os latifundiários se organizarame foram para o enfrentamentodo Plano Nacional de ReformaAgrária, sob a coordenação <strong>da</strong>União Democrática Ruralista –UDR, essa oligarquia defendiaabertamente o uso <strong>da</strong> violência e<strong>da</strong> força arma<strong>da</strong> contra a execução<strong>da</strong> reforma agrária.Com o descaso do Estado brasileiro,a violência no campo cresciae a UDR utilizava métodosfraudulentos para impedir adesapropriação de proprie<strong>da</strong>desocupando áreas, até então improdutivas,com gado. Aborratavamo MIRAD com pedidos derevisão de atos desapropriatórios,alegando falta de vistoria doINCRA. Tudo isso, buscando desmoralizaro PNRA e o próprioINCRA, que tinha à frente JoséGomes. Mais uma vez, o GovernoFederal recuou diante <strong>da</strong> pressão<strong>da</strong>s forças reacionárias que atéhoje dominam a área rural.Passados os cincos do governode José Sarney, o MIRAD teve cincoministros e as desapropriaçõesrealiza<strong>da</strong>s no período foram exclusivamentepara “apagar incêndios”.Os poucos assentamentosrealizados eram desmoralizadosporque os trabalhadores nãorecebiam assistência técnica,recursos e infra-estrutura.“A ampliação <strong>da</strong>s manifestações populares provocou umareação infeliz do governo militar, que tratou com violênciaos manifestantes e suas organizações”.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 63


O alarde em cima do Plano eposterior recuo do Governo promoveuo crescimento <strong>da</strong> violênciae assassinatos. Levantamentorealizado pela CONTAG e Federaçõescontabilizou que entre 1985e 1989, 210 pessoas foram assassina<strong>da</strong>s,sendo 17 líderes e cincoadvogados sindicais.Diante do recuo do Governo, ovisível fracasso do Plano Nacionalde Reforma Agrária e o pacoteeconômico que agravou a situaçãodos trabalhadores, a CONTAGintensificou as lutas, principalmentepela Reforma Agrária.Com a proximi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s eleiçõesdos parlamentares queseriam os constituintes, a CONTAGpreparou suas bases para lutar pelaReforma Agrária na AssembléiaNacional Constituinte. “A Constituinte,por si só, não representasolução para as graves distorçõesnacionais, mas os trabalhadores,os setores mais progressistas <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de precisam nela estarrepresentados, como forma deneutralizar a atuação <strong>da</strong> direita naConstituinte, assegurando o necessárioespaço ao avanço <strong>da</strong>slutas dos trabalhadores”.Eleitos os Constituintes, oMSTR iniciou o lobby. Uma <strong>da</strong>sprimeiras ações foi ocupar espaços<strong>da</strong> Câmara dos Deputados emrepúdio às tentativas <strong>da</strong> UniãoDemocrática Ruralista – UDR, deocupar cargos de Presidente, Vicepresidentee Relator <strong>da</strong> Subcomissãode Política Agrícola, Fundiáriae Reforma Agrária. A Emen<strong>da</strong>Popular a favor <strong>da</strong> Reforma Agrária,com mais de 1 milhão deassinaturas, foi entregue no CongressoNacional em uma grandemanifestação popular.Apesar dessa atuação corajosae permanente dos trabalhadoresrurais, e do apoio de parlamentaresprogressistas, a correlação deforças era desigual. Os parlamentares<strong>da</strong> velha oligarquia ruralconseguiram derrubar a propostade emen<strong>da</strong> à constituição queimplantava a reforma agráriaalmeja<strong>da</strong> pelo MSTR, ignorando avontade popular e mantendo aexpressão de poder do país nasmãos de poucos, a posse <strong>da</strong> terra.Pronta a nova Constituição,depois de 20 meses de mobilizaçãode massa, a CONTAG declarava:”Se, por um lado, o trabalhadorobteve algumas vitórias, o textoreferente à reforma agrária é aparte mais dura, mais antidemocrática<strong>da</strong> nova Constituição.Perdeu o Brasil a oportuni<strong>da</strong>de desuperar um de seus maiores e maisgraves problemas”. Essa derrotanão significou recuo, mas simacirramento na luta pela reformaAgrária.64 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


Depois de debates com asbases, em 1989, a CONTAG elaborao anteprojeto de lei ordinária<strong>da</strong> reforma agrária. A mesmaproposta foi apresenta<strong>da</strong> na aberturados trabalhados do CongressoNacional, em 1990, pelo entãosenador Fernando HenriqueCardoso. O jornal O TrabalhadorRural divulgou: “o projeto <strong>da</strong>CONTAG, endossado pelo senadorFernando Henrique, define proprie<strong>da</strong>deprodutiva vinculando-aao cumprimento de sua funçãosocial”.O MIRAD foi extinto e FernandoCollor assumiu a Presidência<strong>da</strong> República, demonstrandoque reforma agrária,conforme estabelecia a Constituição,não era sua meta. A atitudedo governo em relação à reformaagrária apenas reforçou a luta dostrabalhadores rurais. Tambémexistia uma pressão forte noCongresso Nacional para que oprojeto <strong>da</strong> Lei Agrária fosse votado,pois estava paralisa<strong>da</strong> desde1989. Foi um grande embate entreMSTR e banca<strong>da</strong> ruralista a respeito<strong>da</strong> Lei Complementar nº 76,de 06 de julho de 1993. Essa leidispõe sobre o Rito Sumário, quetrata <strong>da</strong> desapropriação de imóvelrural por interesse social, parafins de reforma agrária.Entretanto, os últimos dez<strong>anos</strong> de debate e atuação <strong>da</strong>CONTAG foram especiais para aconstrução de um Projeto deDesenvolvimento Rural Sustentável.Com uma postura políticade independência em relação aosgovernos, ampliando o reconhecimentoestratégico <strong>da</strong> reformaagrária no desenvolvimento ruralsustentável e compreendendo-acomo elemento fun<strong>da</strong>mental parapromover a ampliação, valorizaçãoe o fortalecimento <strong>da</strong> agriculturafamiliar. Projetos de assentamentotêm gerado postos de trabalho emativi<strong>da</strong>des agrícolas e não agrícolas,além de possibilitar o acessoà terra e ao crédito a famíliasaté então, desprovi<strong>da</strong>s dos direitosbásicos dos ci<strong>da</strong>dãos brasileiros.Também foi nessa última déca<strong>da</strong>que a socie<strong>da</strong>de tomou conhecimentode dois massacres quetrouxeram à tona uma práticacomum no meio rural. Foram osconflitos agrários que resultaramem <strong>40</strong> trabalhadores rurais semterra assassinados, nos municípiosde Corumbiara/RO e Eldorado dosCarajás/PA. Em Corumbiara, aordem de despejo, determina<strong>da</strong>pela Justiça, foi motivo parapolícia de Rondônia assassinar 19trabalhadores rurais sem-terra,eram 187 policiais militares fortementearmados contra 500 sem-CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 65


“...eram 187 policiais militares fortementearmados contra 500 sem-terra.”terra. Em Eldorado dos Carajás,foram 21 trabalhadores ruraissem-terra assassinados, emconfronto com 155 policiaisfortemente armados.Esses dois episódios violentosna luta pela terra forçaram o Governoa anunciar propostas queapontassem soluções para a violênciano campo. Uma <strong>da</strong>s iniciativasfoi a criação do Ministériodo Desenvolvimento Agrário - MDADocumento elaborado pelaSecretaria de Política Agrária eMeio Ambiente <strong>da</strong> CONTAG,esclareceu o que significaram parao MSTTR as propostas do governo:“a criação do Ministério doDesenvolvimento Agrário – MDA,apesar de ter sido apresentadocomo um instrumento institucionalcapaz de <strong>da</strong>r o tratamentoadequado à reforma agrária, nãofoi articulado à adoção de medi<strong>da</strong>sque pudessem atribuir àqueleórgão, um papel de destaque frenteàs outras políticas governamentaisem curso. Buscandodesincumbir-se <strong>da</strong> pressão socialpela reforma agrária, sem ter queredirecionar suas priori<strong>da</strong>desorienta<strong>da</strong>s pelo modelo neoliberal,o governo FHC investiu mais empropagan<strong>da</strong> do que em açõeseficazes no tratamento a estadívi<strong>da</strong> social”.No período do governo de FernandoHenrique Cardoso instrumentosde criminalização <strong>da</strong> lutapela reforma agrária, como a Medi<strong>da</strong>Provisória 2.183 e as Portariasque a sucederam, deram àspolícias, ao judiciário e ao INCRA,mais poder para reprimir a luta eimpedir avanços nas desapropriações.Mesmo com a criação doMDA, a repressão e agressões atrabalhadores e trabalhadorasrurais não impediram que aviolência e impuni<strong>da</strong>de continuassemnas áreas de conflito.Com a eleição de Luis InácioLula <strong>da</strong> Silva, à Presidência <strong>da</strong>República, processo eleitoral quecontou com um massivo empenho<strong>da</strong> CONTAG, Federações e Sindicatosde Trabalhadores e TrabalhadorasRurais, a CONTAG participouativamente na elaboração de propostasde governo e influenciou naformação <strong>da</strong> equipe que seriagestora <strong>da</strong> reforma agrária do66 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


governo de Lula.O documento <strong>da</strong> Secretariatambém destacou a herança recebi<strong>da</strong>pelo atual governo, enquantolegado do governo FernandoHenrique Cardoso: ”Uma enormedeman<strong>da</strong> por desapropriações, umgrande passivo nos assentamentose uma situação de violência eimpuni<strong>da</strong>de no campo. O governopassado deixou ain<strong>da</strong> um irrisórioorçamento, um arcabouço de medi<strong>da</strong>slegais restritivas e um quadroadministrativo insuficiente emal distribuído entre as superintendênciasdo INCRA”.Com o propósito de viabilizaro PADRS, a CONTAG desenvolvediversas ações em busca <strong>da</strong>reforma agrária almeja<strong>da</strong> peloMSTTR, desde a aliança comoutros movimentos sociais, comoa participação no Fórum Nacionalde Reforma Agrária - criado em1995 para articular ações defendi<strong>da</strong>spelas enti<strong>da</strong>des e movimentosque lutam pela reforma agrária,- até ações de massa, comoos Gritos <strong>da</strong> Terra e o acampamentonos canteiros do Ministério<strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, realizado em 2003.Nesses dez <strong>anos</strong>, a CONTAGparticipou ativamente na construçãode instrumentos que qualificaramas ações de Reforma Agrária.A exemplo do Projeto Lumiar,voltado para a viabilizaçãodos assentamentosenquanto uni<strong>da</strong>des produtivasestrutura<strong>da</strong>s evolta<strong>da</strong>s para as deman<strong>da</strong>sidentifica<strong>da</strong>s pelaprópria comuni<strong>da</strong>de; doPrograma de CréditoEspecial para ReformaAgrária – PROCERA, queatravés créditos específicospara assentamentosrurais, objetivavamuma inserção autônomano mercado, e,assim, permitiram a suaindependência <strong>da</strong> tutelado governo, com titulaçãodefinitiva. Ouain<strong>da</strong>, o Programa Nacionalde Educação naReforma Agrária –PRONERA, um programade educação de trabalhadoresrurais em Projetosde Assentamento<strong>da</strong> Reforma Agrária, esse último,funcionando ain<strong>da</strong> hoje com aparticipação de Federações ecoordenação nacional <strong>da</strong> CONTAG.A CONTAG também estimulou,em todos os estados, a luta pelaterra, seja fomentando acampamentosou qualificando as organizaçõesassociativas nos assentamentos.Quando se fez necessário,a CONTAG também estimulouações mais drásticas, como aocupação de prédios públicos paragarantir que os interesses dos trabalhadorese trabalhadoras ruraissem-terra fossem consideradospelo governo federal. A ação <strong>da</strong>sFederações e Sindicatos tambémfoi imprescindível, pois avançaramna organização e coordenaçãode ocupações de terra, de órgãospúblicos e de acampamentos, nosseus estados.Outra ação importante foi aatuação <strong>da</strong> CONTAG na criação doprojeto de Crédito Fundiário,como ação complementar à reformaagrária. O projeto visa atenderà deman<strong>da</strong> pela aquisição de áreasnão passíveis de desapropriação,tem por princípios a transparênciae ampla participação <strong>da</strong>s organizaçõesna gestão do programa e orespeito às particulari<strong>da</strong>des regionais.Nesses <strong>40</strong> <strong>anos</strong> o debatesobre a reforma agrária amadureceu.Os dirigentes aprenderamcom erros, reflexões e debates,sabem exatamente em que contextoa reforma agrária deve serexecuta<strong>da</strong> e é com essa compreensãoque persistem em suaspropostas apresenta<strong>da</strong>s à socie<strong>da</strong>dee governos.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 67


Para compreender essa historia de <strong>40</strong><strong>anos</strong> <strong>da</strong> CONTAG, se faz necessáriopercebermos três períodos distintosna historia do nosso país.Durante a ditadura militar, aCONTAG foi a única enti<strong>da</strong>desindical que teve uma posturaequilibra<strong>da</strong>, enfrentando o regimemilitar a partir de propostasconcretas que possibilitavam oavanço e conquistas importantes para a classetrabalhadora rural.Durante a construção <strong>da</strong> Constituição de 1988,devido ao acumulo de discussões anteriores, aCONTAG foi uma <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong>des que mais mobilizouem todo o periodo. Foi tão forte que nossosadversários criaram a UDR, sobretudo paracombater os avanços <strong>da</strong>CONTAG.Quando decidimos queindependente de qualquer queseja o governo, nos tínhamosque mobilizar, reivindicar,pressionar e negociar e, senecessário, radicalizar. Somos aúnica enti<strong>da</strong>de sindical, que temessa determinação de formaprogramática. Nesse sentido, a filiação à CUTfoi importante para que esse projeto para o campodialogasse com as deman<strong>da</strong>s urbanas.Por isso, ain<strong>da</strong> hoje, colhemos os frutosplantados desde a fun<strong>da</strong>ção e consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>CONTAG.Guilherme Pedro Neto - Secretário de AssalariadosO MSTTR sempre foi uma escola para a classetrabalhadora rural. A CONTAG, nesse sentido é umaUniversi<strong>da</strong>de que a grande maioria dos dirigentessindicais não puderam cursar.Por isso temos muitoorgulho de participado e aju<strong>da</strong>do nessa construçãocoletiva de <strong>40</strong> <strong>anos</strong>.A luta <strong>da</strong> CONTAG deu um salto qualitativo ain<strong>da</strong>maior, quando começou a construção de um projetopolítico a partir <strong>da</strong> base, o Projeto Alternativo deDesenvolvimento Rural Sustentável - PADRS.A partir <strong>da</strong>í, a luta deixou de terum caráter apenas reivindicatório,passando a ser propositivo em áreascomo educação, saúde, meio ambiente,previdência, dentre outras. Aintervenção qualifica<strong>da</strong> <strong>da</strong> CONTAGnessas áreas, chamou a atenção deONGs, Universi<strong>da</strong>des e até de setoresdos Governos Federal e Estadual.Sem perder de vista a necessi<strong>da</strong>de de estabelecerparcerias com outras organizações, aCONTAG vem construído coletivamente, políticaspublicas de grande impacto na base, a exemplo<strong>da</strong>s Diretrizes Operacionais para a EducaçãoBásica <strong>da</strong>s Escolas do Campo.Mais a maior mu<strong>da</strong>nça que a CONTAG propõe,está na forma de fazer política sindical. Construindoum sindicalismo classista, democráticoe participativo para todos trabalhadores e trabalhadorasrurais. Construindoum sindicalismo independente,autônomo e ao mesmo tempocomprometido com as propostascoerentes apresenta<strong>da</strong>s porgovernos Federal, Estadual oumunicipal.Maria de Fátima Rodrigues <strong>da</strong>Silva – Secretaria de Políticas Sociais68 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


Agricultura familiar dinamizaprocessos de desenvolvimento localsustentável no interior do paísA agricultura familiar é uma <strong>da</strong>s melhorespossibili<strong>da</strong>des para o Brasil. Responde pela maiorparte do abastecimento interno de alimentos, geramais postos de trabalho que a agricultura ou pecuáriaem grande escala. Hoje a agricultura familiaremprega 7 de ca<strong>da</strong> 10 empregados do campo, 77%<strong>da</strong> mão-de-obra rural. O mais importante é que, alémde abastecer o mercado interno, são os agricultoresfamiliares que dinamizam a vi<strong>da</strong> socioeconômica dospequenos municípios brasileiros.Para CONTAG na<strong>da</strong> mais justo que se estabeleçampolíticas públicas e legislação específica para garantiro desenvolvimento <strong>da</strong> agricultura familiar,tornando-a mais produtiva e competitiva. A compreensão<strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de do estabelecimento de políticase legislação específicas se justifica pelas peculiari<strong>da</strong>des<strong>da</strong> agricultura familiar. Não é possível mantertratamento igual ao <strong>da</strong> produção em grandeescala. O MSTTR reconhece que nos últimos 10 <strong>anos</strong>houve avanços, principalmente na área de financiamentodiferenciado ao agricultor familiar, mas épreciso muito mais. Para compreender como o MSTTRconquistou políticas específicas para agriculturafamiliar é preciso conhecer a jorna<strong>da</strong> de lutas dostrabalhadores rurais ao longo desses <strong>40</strong> <strong>anos</strong>.Reforma agrária e agricultura familiar se fundemem diversos momentos <strong>da</strong> história <strong>da</strong> CONTAG. Historicamentee ain<strong>da</strong> hoje, produtores de pequenas proprie<strong>da</strong>destornaram-se sem terra, pois não tinhamassistência, crédito diferenciado, dependendo do atravessadorpara escoar a produção, além <strong>da</strong> ausência deuma política de preços mínimos para os produtos rurais.A soma dessas dificul<strong>da</strong>des levou muitas famílias ruraisa perderem suas terras e engor<strong>da</strong>rem os números doêxodo rural e <strong>da</strong> pobreza na população brasileira.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 69


Em 1970, existiam 2,7 milhõesde minifúndios e 2 milhões defamílias de parceiros e rendeiros,todos vivendo em situaçãoprecária por falta de ren<strong>da</strong>,assistência técnica e política depreços mínimos. Desde 1965existia a Lei do Crédito Rural, queregulava a forma como deveriamser financiados os agricultores. ALei determinava que deveriam serfortalecidos com financiamentos,principalmente os pequenos emédios agricultores, No entanto,a reali<strong>da</strong>de era diferente. Para osistema financeiro realizar umempréstimo era necessário ocumprimento de exigênciasimpossíveis de serem atendi<strong>da</strong>spelos agricultores familiares.programas de crédito e de assistênciatécnica oferecidos peloGoverno. Os beneficiados pelosprogramas eram os grandes emédios produtores.A Associação dos Agrônomos doEstado de São Paulo tambémdenunciava que o modelo agrícolade crédito e incentivos às grandesempresas agropecuárias, volta<strong>da</strong>spara produtos de exportação,tinham priori<strong>da</strong>de em prejuízo dosalimentos básicos, como feijão,arroz, batata e hortigranjeiros,além <strong>da</strong> utilização indiscrimina<strong>da</strong>de adubos e venenos sintéticos.Durante Congresso dos Agrônomosdo Estado de São Paulo, noDados do censo Agropecuárioem 1970: as pequenas proprie<strong>da</strong>deseram responsáveis por 26%<strong>da</strong> área total planta<strong>da</strong> comlavouras permanentes; 32% <strong>da</strong> área total planta<strong>da</strong> comlavouras temporárias, quase10% do total de bois e vacas e47% do total de porcos. as grandes proprie<strong>da</strong>desrespondiam por 9% <strong>da</strong> áreatotal cultiva<strong>da</strong> com culturaspermanentes e 8% <strong>da</strong> área totalcom lavouras temporárias.À época, o presidente <strong>da</strong>Empresa Brasileira de AssistênciaTécnica e Extensão Rural –Embrater, Renato Simplício Lopes,informava que 80% dos pequenosprodutores não tinham acesso aos70 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


No sul do País,suinocultoresbloqueiam estra<strong>da</strong>em protesto ascondições impostaspelos grandesfrigoríficosqual membros <strong>da</strong> direção eassessoria <strong>da</strong> CONTAG estavampresentes, os profissionais defenderama formulação de uma novapolítica agrícola com: “maior ênfaseao mercado interno, o desenvolvimentoacelerado do Programanacional do Álcool, apoio governamentalà produção de gênerosalimentícios básicos, pesquisaspara a criação de uma tecnologiaque leve em conta o uso intensivo<strong>da</strong> terra e <strong>da</strong> mão-de-obra”.Durante o ano de 1978, aCONTAG realizou encontrosregionais com to<strong>da</strong>s as federaçõesque defenderam no relatório final:“uma profun<strong>da</strong> reorientação <strong>da</strong>política agrícola, no sentindo defavorecer as explorações familiares(...), que se revissem taxasde juro, prazos, e que os empréstimostivessem por garantia aprodução (...), os preços mínimosdeveriam considerar os custosreais de produção (...) e osprojetos de colonização deveriamestar fun<strong>da</strong>mentados sobre aexploração familiar e não sobre àsgrandes empresas.”No ano seguinte, durante ocongresso <strong>da</strong> CONTAG, em 1979,essas propostas foram acresci<strong>da</strong>sde outras: comercialização facilita<strong>da</strong>,criando condições para construçãode armazéns, fabricação desilos, construção de estra<strong>da</strong>s a fimde evitar o intermediário; incentivose condições para organizaçãoem cooperativas; criação doseguro agrícola; crédito especialpara os pequenos agricultores.A partir de 1980, grandes manifestaçõesde pequenos produtoreseclodiram na região Sul. Primeirocontra o confisco <strong>da</strong> soja,que mobilizou mais de 700 milprodutores e fez o governo voltaratrás, retirando o imposto paraexportação <strong>da</strong> soja. Depois ossuinocultores se mobilizaramboicotando a entrega do produtoe bloqueando estra<strong>da</strong>s emCONTAG <strong>40</strong> ANOS - 71


“Em 1986, a CONTAG cria a ComissãoNacional de Política Agrícola.”protesto contra os preços e as condiçõesimpostas pelos grandesfrigoríficos. Os fumicultores conseguiramestabelecer um preçonegociado; e também os vitivinicultorese produtores de leite semobilizaram pela prática de umpreço mínimo condizente com ocusto de produção. Essas conquistasparciais estimularam grupos deagricultores familiares a se mobilizarempara realizar levantamentosde custos e obrigando agroindústriase governo a negociar.A CONTAG declarava: ”a linhade atuação do Movimento Sindicalde Trabalhadores Rurais tem sidono sentido de levar os pequenosprodutores a perceber que a lutaa ser trava<strong>da</strong> é pela mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong>política agrícola vigente, pordemais nociva aos nossos interessesna medi<strong>da</strong> em que se coloca aserviço do capital financeiro, comerciale agroindustrial, nota<strong>da</strong>mente,o multinacional”. ParaCONTAG estava claro que se tratavade um modelo implantado nopaís a partir de 1964, que aprofundouas desigual<strong>da</strong>des sociais e deren<strong>da</strong>. A indefinição de umapolítica de comercialização epreços justos deixava os produtoresnuma situação de insegurança.Em 1986, a CONTAG cria aComissão Nacional de PolíticaAgrícola. O governo <strong>da</strong> nova repúblicaanunciou vários pacotesagrícolas, porém o anúncio <strong>da</strong>liberação do crédito rural desburocratizadonão passou de promessa.Os agricultores familiarescontinuavam sem acesso aos financiamentose o sistema financeirofazia exigências inviáveispara os agricultores. Sob a coordenação<strong>da</strong> Comissão Nacional dePolítica Agrícola as federaçõesiniciaram debates regionais como propósito de elaborar o ProjetoNacional de Política Agrícola, que<strong>da</strong>ria um tratamento diferenciadoaos agricultores familiares. Foramos primeiros debates que deramorigem ao PRONAF.Com acúmulo suficiente arespeito do que deveria seria umapolítica diferencia<strong>da</strong> para agriculturafamiliar a CONTAG articulouem dois campos distintos. Um foio estudo realizado conjuntamente,em 1994, pela CONTAG, Incra eFundo <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s paraAlimentação – FAO. A outra articulaçãose deu com o governofederal. Em 1994, a CONTAGapresentou a primeira reivindicaçãoao Presidente <strong>da</strong> RepúblicaItamar Franco. Surgiu o Provap.Em 1996, a CONTAG apresentou oPronaf ao Presidente <strong>da</strong> República,Fernando Henrique Cardoso.Apesar do Presidente FernandoHenrique Cardoso, ter argumentadoque havia uma tendência deesvaziamento do espaço rural, eque apenas 3% <strong>da</strong> populaçãobrasileira estaria no campo numfuturo próximo, a mobilização epressão do MSTTR contribuírampara que ele reconhecesse oprograma e garantisse fonte derecursos para sua viabilização.Ao longo desses 10 <strong>anos</strong>, as mobilizaçõesde massa <strong>da</strong> CONTAG,como os Gritos <strong>da</strong>Terra e Marcha <strong>da</strong>sMargari<strong>da</strong>s, conquistaramavanços para ofortalecimento econsoli<strong>da</strong>ção depolíticas volta<strong>da</strong>s paraagricultura familiar.Umbom exemplofoi a implementaçãodo Programa deDesenvolvimentoLocal –PDLS, quecapacitou lideranças etécnicos do MSTTRpara o acesso àsOs Gritos <strong>da</strong> TerraBrasil conquistaramavanços para ofortalecimento econsoli<strong>da</strong>ção depolíticas volta<strong>da</strong>spara a agriculturafamiliar72 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


políticas destina<strong>da</strong>s à agriculturafamiliar.De acordo com <strong>da</strong>dos <strong>da</strong>Secretaria de Política Agrícola <strong>da</strong>CONTAG, nesses 10 <strong>anos</strong>, o Pronafsuperou limites. Atualmente sãobeneficiárias to<strong>da</strong>s as famíliascontempla<strong>da</strong>s pela Resolução3.206, de 24 de junho de 2004,que estavam assenta<strong>da</strong>s peloPrograma Nacional de ReformaAgrária ou beneficia<strong>da</strong>s porprogramas de crédito fundiárioou, ain<strong>da</strong>, que explorem parcelade terra na condição de proprietário,posseiro, arren<strong>da</strong>tário e ouparceiro.Sem dúvi<strong>da</strong> foram avançossignificativos, entretanto, para aconsoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s políticas públicasque levem ao desenvolvimentosustentável <strong>da</strong> agricultura familiar,a CONTAG compreende queé necessário instituir uma lei queassegure a produção, a ren<strong>da</strong> e aidenti<strong>da</strong>de <strong>da</strong> agricultura familiar.Políticas de assessoramento técnico,transformação e comercializaçãona agricultura familiartambém devem ser implanta<strong>da</strong>s.Quanto à dimensão organizacional,a agricultura familiar ain<strong>da</strong>carece de maior impulso paraconstituir bases sóli<strong>da</strong>s e autônomasde acesso aos mercados.Para consoli<strong>da</strong>r esse projeto deinserção o MSTTR tem fomentadoprocessos que vem se constituindoem iniciativas concretas, por meiodo Sistema CONTAG de Organização<strong>da</strong> Produção – Siscop, queintegra organizações cooperativase associativas, para assessoramentotécnico, cooperativismo decrédito e de produção.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 73


Organização de homens e mulheresassalariados rurais avançou junto comas demais conquistas do MSTTR“A reforma agrária será um novo13 de maio”, depoimento de umbóia-fria de uma lavoura de caféno Paraná, em 1972.A condições de vi<strong>da</strong> e trabalhodos assalariados e assalaria<strong>da</strong>s ruraisestá longe de ser a ideal, porémjá foi bem pior. Em temposde acesso difícil, péssimo sistemade comunicação e legislação mínimaestabelecendo regras para otrabalho rural, a CONTAG já dedicavaespecial atenção a esses trabalhadores,vítimas do êxodo rural.Eles estavam na raiz <strong>da</strong> construçãodo MSTTR e permanecerãocomo protagonistas <strong>da</strong>s reformasexigi<strong>da</strong>s pelo Movimento.Em 1969, <strong>da</strong>dos do InstitutoBrasileiro de Reforma Agrária –IBRA, revelavam existir mais de4 milhões de trabalhadores sazonais.Nos <strong>anos</strong> 60, do século passado,o crescimento de trabalhadoressazonais e a expulsão detrabalhadores <strong>da</strong>s grandes proprie<strong>da</strong>desocorriam porque osproprietários rurais não queriamaceitar a implantação <strong>da</strong> legislaçãotrabalhista. Em 1970, aCONTAG enviou carta ao Presidente<strong>da</strong> República descrevendo areali<strong>da</strong>de dos assalariados rurais:“existem 1,4 milhão de famíliasde trabalhadores permanentes nasproprie<strong>da</strong>des, que em sua maioriaabsoluta não pagam salário nemas demais obrigações trabalhistase encargos sociais”.Em 1975, o periódico <strong>da</strong>CONTAG divulgava queaproxima<strong>da</strong>mente 70% dosassalariados do campo recebiamigual ou menos queum salário-mínimo. Mais de80% dos trabalhadores nãotinham registro na carteirade trabalho. No caso <strong>da</strong>smulheres ultrapassava os87% e entre menores acimade 95% não tinham registrona carteira profissional.A reali<strong>da</strong>de era cruel. Todos osmembros <strong>da</strong> família trabalhavam,inclusive crianças, mas o dinheiroera sempre insuficiente paraatender às necessi<strong>da</strong>des básicas<strong>da</strong> família. O trabalhador necessitavacomprar alimentos no armazémde proprie<strong>da</strong>de do fazendeiro.Os preços eram extorsivos e afamília, além de passar fome,permanecia devedora do patrão.Os trabalhadores ficavam à mercêdos latifundiários e se sujeitavamàs condições que eles lhes impunham,e a Justiça, não estava aparelha<strong>da</strong>para <strong>da</strong>r cumprimento àlegislação.Existiam ain<strong>da</strong>, como hoje ain<strong>da</strong>existem, trabalhadores e tra-74 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


alhadoras rurais escraviza<strong>da</strong>s.Desesperados à procura de trabalho,acreditavam em falsas promessasofereci<strong>da</strong>s pelos “gatos”– aliciadores <strong>da</strong> mão-de-obra rural- e acabavam aprisionados emdistantes proprie<strong>da</strong>des rurais,sendo obrigados a trabalhar até 12horas, de domingo a domingo, soba mira de armas de fogo, vivendoem alojamentos precários e tendoseu direito de ir e vir cerceado.Dados <strong>da</strong> Pesquisa Nacionalde Amostra por Domicíliodo Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística –PNAD/IBGE, de 1976, revelavamque de um total de 4milhões de empregadosrurais, 3, 270 milhões nãotinham carteira profissionalregistra<strong>da</strong>. Mais de 80% dosassalariados e assalaria<strong>da</strong>srurais não tinham situaçãoprofissional regulariza<strong>da</strong>.Por um longo período aCONTAG divulgou em seus meiosCONTAG <strong>40</strong> ANOS - 75


de comunicação os direitos dostrabalhadores rurais assalariados.Diversos textos traziam informaçõesprecisas, que orientavam arespeito de métodos e técnicaspara organizar negociações coletivasde trabalho. Esse mecanismode orientação trouxe maior consciênciaaos dirigentes sindicaispara instruir os assalariados eassalaria<strong>da</strong>s rurais que sofriamto<strong>da</strong> espécie de abuso dos patrões,por desconhecerem seusdireitos trabalhistas. Em umaedição do periódico <strong>da</strong> CONTAG aárea jurídica esclarecia: “é bomlembrar (...) que os sindicatos detrabalhadores devem firmar convençõese acordos para conseguirdireitos e vantagens que ain<strong>da</strong> nãoestejam nas leis trabalhistas, poiso que já está na lei deve ser obrigatoriamentecumprido”.A partir de 1979, intensificasea luta pelo cumprimento <strong>da</strong>legislação trabalhista e por reajustessalariais com os movimentosgrevistas do setor canavieirotanto no Nordeste quanto em SãoPaulo. Estes movimentos levaramà criação dos primeiros acordos,convenções e dissídios trabalhistasno campo.A partir de 1980, diversas “paralisações”de assalariados e assalaria<strong>da</strong>srurais eclodiram pelopaís sob a coordenação dos sindicatos,Fetags e CONTAG. As paralisaçõeseram, principalmente, detrabalhadores e trabalhadoras <strong>da</strong>szonas canavieiras do nordeste,que conseguiram unificar as campanhassalariais de Pernambuco,Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoase Sergipe. Em 1986, aCONTAG anunciava: “Ano a ano omovimento sindical vem procurandoavançar a luta dos assalariadosrurais em todo o País. Oscontratos coletivos de trabalhosão, hoje, uma reali<strong>da</strong>de em maisde uma dezena de estados”.Assim como em outras áreasde atuação do MSTTR, foi durantea Constituinte que a CONTAG utilizouto<strong>da</strong> a sua estrutura, organizaçãoe persistência <strong>da</strong>s Federaçõese Sindicatos para avançarnos direitos trabalhistas. Os trabalhadorese trabalhadoras ruraisestiveram ao lado dos trabalhadoresurb<strong>anos</strong> lutando pelo direitode greve, livre organização sindical,estabili<strong>da</strong>de no emprego, jorna<strong>da</strong> detrabalho, licença materni<strong>da</strong>de,férias, seguro-desemprego.Nos <strong>anos</strong> 90, do século XX, ascampanhas salariais unifica<strong>da</strong>s76 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


lhistas e per<strong>da</strong>s de conquistashistóricas influenciam as relaçõesde trabalho no meio rural e forammaterializa<strong>da</strong>s através de medi<strong>da</strong>scomo a Emen<strong>da</strong> Constitucionalnº 28 sobre a prescrição trabalhistaigualando trabalhadoresrurais e trabalhadores urb<strong>anos</strong>, acriação <strong>da</strong>s cooperativas de mãode-obracom a descaracterizaçãodo vínculo empregatício, a criaçãodo Banco de Horas, entre outras.Nesses 10 <strong>anos</strong>, a CONTAGatenta à flexibilização <strong>da</strong>s relaçõesde trabalho no meio rural, reforçoua organização sindical dosassalariados e assalaria<strong>da</strong>s ruraise atuou efetivamente contra odescumprimento <strong>da</strong>s leis trabalhistas,e acordos e convençõescoletivas de trabalho.As campanhas salariais nomeio rural possuem uma dinâmicaprópria envolvendo diferentes culturase períodos de safra e entressafraque refletem diretamente noprocesso de negociação coletiva.Para a CONTAG, o espaço <strong>da</strong>negociação coletiva de trabalho éfun<strong>da</strong>mental, pois é uma peçaimportante na luta sindical. Asnegociações coletivas de trabalhopromovem melhoria <strong>da</strong>s condiçõesde vi<strong>da</strong>, remuneração e trabalhodos assalariados (as) rurais, possibilitandoinclusive o acompanhamento<strong>da</strong>s transformações relaciona<strong>da</strong>sà reestruturação produtivano meio rural.Os acordos e convenções coletivasde trabalho evoluíram naforma e no conteúdo assegurandoconquistas relevantes. Percebe-seum avanço considerável nas cláueramuma reali<strong>da</strong>de e fortalecerama categoria. Muitos assalariadose assalariados rurais conseguiram,por meio <strong>da</strong>s campanhas salariais,transformar antigas reivindicaçõesem cláusulas de contrataçãocoletiva. No entanto, isso não significoua solução para o fim <strong>da</strong> exploraçãopatronal. Muitos empregadoresrurais ignoram as convençõese acordos coletivos, eexpõe os trabalhadores e trabalhadorasa problemas de saúde erisco de vi<strong>da</strong>. Trabalhadores e trabalhadorassão transportados emveículos de péssimas condições epermanecem em alojamentosprecários, além disso ficam expostosà acidentes e doenças relaciona<strong>da</strong>sao uso de agrotóxicos,sem nenhum tipo de capacitação.A on<strong>da</strong> de precarização, a eliminaçãode postos de trabalho,flexibilização de direitos traba-CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 77


sulas dos acordos e convençõescoletivas de trabalho. Hoje não seprioriza apenas a cláusula econômica(reposição salarial), mastambém cláusulas sociais importantesestão sendo incorpora<strong>da</strong>scomo transporte seguro, alojamentodigno, alimentação saudável,capacitação para o uso deagrotóxicos e segurança e saúdedo trabalhador (a) rural.Ao ser firmado um acordo ouconvenção coletiva de trabalhoconsegue-se garantir mais digni<strong>da</strong>dee estabelecer condiçõesmínimas para um trabalho decentee de quali<strong>da</strong>de.Para se contrapor a estesavanços os patrões se valeram dodesemprego, <strong>da</strong> criação de falsascooperativas de mão-de-obra(coopergatos) para descaracterizaro vínculo empregatício e dedecisões judiciais desfavoráveisque afetaram a organização dostrabalhadores (as) e os resultados<strong>da</strong>s campanhas salariais, diminuindoo poder de barganha ereduzindo conquistas.Tem sido prática <strong>da</strong>s empresasrurais empregarem grande quanti<strong>da</strong>dede mão-de-obra de trabalhadoresvindos de váriasregiões do estado ou país, visandodificultar a capaci<strong>da</strong>de de mobilizaçãoe de organização sindical.Contrário a esta eliminação dedireitos e conquistas o MSTTR tematuado efetivamente contra odescumprimento de leis e acordostrabalhistas e dos acordos e convençõescoletivas de trabalho.Atualmente o MSTTR (CONTAG/FETAGs/ STRs) tem denunciadoirregulari<strong>da</strong>des e a informali<strong>da</strong>deno campo, principalmente aprática de trabalho escravo.A PNAD/IBGE, de 2002, revelaque existem aproxima<strong>da</strong>mente3,1 milhões de trabalhadorese trabalhadorasrurais com vínculo empregatíciosem carteira assina<strong>da</strong>na área rural. Muitos dessesprofissionais moram nas periferias<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, e devidoao alto índice de desempregoe baixos salários pagos, essaspessoas também se constituemno setor mais empobrecido<strong>da</strong> categoria.As questões relaciona<strong>da</strong>s àsegurança e saúde do trabalhador(a)assalariado rural precisamlevar em consideração aspeculiari<strong>da</strong>des do perfil do mundodo trabalho rural. A partir do Grito<strong>da</strong> Terra Brasil de 1999 e 2000, aCONTAG participou de uma amplacampanha de prevenção de acidentesdo trabalho rural. Emparceria com o Ministério doTrabalho e Emprego participouativamente <strong>da</strong> CANPATR – CampanhaNacional de Prevenção deAcidentes de Trabalho na ÁreaRural, priorizando temas relaciona<strong>da</strong>sàs condições de transportes,alojamentos e alimentação para ostrabalhadores(as) rurais.A partir de 2001, o temacentral <strong>da</strong> CANPATR foi sobre osriscos dos agrotóxicos na saúdehumana e ambiental culminandocom a realização do SeminárioNacional sobre Segurança e Saúdena Agricultura, Pecuária e ExploraçãoFlorestal – Trabalho Seguroe Saudável. Posteriormente aCONTAG iniciou a Campanha Nacionalde Prevenção contra osRiscos dos Agrotóxicos em convêniocom a FUNDACENTRO,realizando Encontros Estaduais decapacitação de multiplicadores(as) acerca do tema.Faz parte do planejamento <strong>da</strong>CONTAG realizar a CampanhaNacional de Assinatura <strong>da</strong> Carteirade Trabalho com o objetivo deconscientizar e ampliar o númerode mulheres, homens e a juventuderural sobre a importância <strong>da</strong>assinatura <strong>da</strong> CTPS.De acordo com a PNAD/2003,80% dos trabalhadores ruraisnão têm carteira de trabalhoassina<strong>da</strong>Outra área de forte atuação <strong>da</strong>CONTAG é pela erradicação dotrabalho escravo, que ain<strong>da</strong> é umareali<strong>da</strong>de no Brasil, especialmentena área rural. Nesses últimos<strong>anos</strong>, a CONTAG trouxe o temapara discussão <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de ediversas ações foram e estãosendo desenvolvi<strong>da</strong>s para aerradicação do trabalho escravo eparticipou <strong>da</strong>s reuniões do Grupode Trabalho Executivo deRepressão ao Trabalho Escravo/Forçado – GERTRAF/Ministério doTrabalho e Emprego, <strong>da</strong> ComissãoEspecial do Conselho de Defesa dosDireitos <strong>da</strong> Pessoa Humana –CDDPH/Ministério <strong>da</strong> Justiça,78 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


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“Muitos avanços já foram obtidos como o lançamento doPlano Nacional de erradicação do trabalho escravo...”como também <strong>da</strong> Comissão Nacionalde Erradicação do TrabalhoEscravo – CONATRAE.Em 2004, a CONATRAE e demaisenti<strong>da</strong>des parceiras organizarama II Jorna<strong>da</strong> de Debatessobre Trabalho Escravo, ampliandoo debate sobre as dificul<strong>da</strong>des eos avanços obtidos nos últimosdois <strong>anos</strong> e aprofun<strong>da</strong>ndo sobrequestões como a contextualizaçãodo trabalho escravo, trabalhoescravo e a competência criminal,trabalho escravo e impuni<strong>da</strong>de,identificando os entraves parauma ação mais efetiva.Existe hoje um tripé quesustenta a prática do trabalhoescravo que, segundo, MarceloCampos, <strong>da</strong> Secretaria de Inspeçãodo Trabalho/MTE, é “a estruturafundiária, a pobreza e a impuni<strong>da</strong>de”.Todos estes elementossão importantes para as intervençõese ações do MSTTR, estabelecendoestratégias integra<strong>da</strong>svisando erradicar o trabalhoescravo.Muitos avanços já foram obtidoscomo o lançamento do PlanoNacional de Erradicação do TrabalhoEscravo e o lançamento dosPl<strong>anos</strong> Estaduais do Pará, Piauí,Maranhão e Mato Grosso, promovendoações de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e combateà impuni<strong>da</strong>de. Com o planonacional ocorreram mu<strong>da</strong>nças,entre elas estão o aumento donúmero <strong>da</strong> equipe de fiscalizaçãomóvel nas ações de fiscalização,o lançamento <strong>da</strong> campanha e a suadivulgação na mídia e através <strong>da</strong>Internet, a divulgação <strong>da</strong> lista comnomes de pessoas e empresascondena<strong>da</strong>s pela justiça portrabalho escravo, instituindo a“Ca<strong>da</strong>stro de Empregados” quesão impedidos de ter acesso afinanciamento público e por fim acriação <strong>da</strong>s Varas de Trabalho Itinerantesque facilitam o processode ações punitivas aos mausempregados nos locais onde se dáa prática do trabalho escravo.No Senado Federal, Propostade Emen<strong>da</strong> à Constituição, elabora<strong>da</strong>pela CONTAG, foi apresenta<strong>da</strong>pelo ex-senador AdemirAndrade (PSB/PA). A PEC 438-A/2001, prevê expropriação deterras <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de que utilizarmão-de-obra escrava. Essa é umaluta pelo direito à vi<strong>da</strong> e aotrabalho com digni<strong>da</strong>de e que estaprática nefasta não seja mais umareali<strong>da</strong>de no nosso país.Compromisso com o Brasil dos trabalhadoresRenato Rabelo - presidente do Partido Comunista do Brasil, PCdoBA criação <strong>da</strong> Confederação Nacional dos Trabalhadoresna Agricultura, <strong>Contag</strong>, em 22 de dezembro de1963, representa um marco na luta dos brasileiros. Poucodepois de oficialmente reconheci<strong>da</strong>, em 31 de janeirode 1964, foi vítima <strong>da</strong> ira <strong>da</strong>s classes dominantes que,através do golpe militar de 31 de março, intervieramna enti<strong>da</strong>de, prendera e forçaram aos exílios vários deseus dirigentes. Os trabalhadores rurais retomaram aenti<strong>da</strong>de em 1968, derrotando o interventor.Enti<strong>da</strong>de máxima dos assalariados rurais brasileiros,a <strong>Contag</strong> é o fruto sindical de uma luta secularem nosso país. Luta que remete à resistência dosnativos à época do descobrimento <strong>da</strong> América e aoenfrentamento <strong>da</strong> escravidão realiza<strong>da</strong> pelos negrosafric<strong>anos</strong> para cá trazidos.Com a eleição e posse do presidente Luiz InácioLula <strong>da</strong> Silva, o Brasil passou a viver situação inédita,em que novas classes e setores de classes passarama integrar o governo central. Fato de tal magnitudese reflete nas lutas dos trabalhadores <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des edo campo.Assim como o PCdoB, a <strong>Contag</strong>, fruto <strong>da</strong> açãoconsciente dos trabalhadores, está envolvi<strong>da</strong> noprojeto do novo Brasil.80 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


A CONTAG vem consoli<strong>da</strong>ndo seu projeto político de DesenvolvimentoRural Sustentável para o Brasil, o PADRS. Sendo reconheci<strong>da</strong> nacional einternacionalmente, como uma enti<strong>da</strong>de sindical que estimula a participação<strong>da</strong> juventude nos espaços de direção e de representação política.Foi uma <strong>da</strong>s primeiras enti<strong>da</strong>des sindicais nacionais do Brasil, a constituiruma Comissão Nacional especifica <strong>da</strong> Juventude, com uma coordenaçãoestatutária na direção executiva <strong>da</strong> CONTAG, <strong>da</strong>s FETAGs e <strong>da</strong> maioria dosSTRs.Com certeza, os próximos quarenta <strong>anos</strong> <strong>da</strong> CONTAG serão diferentes,porque será construído a partir <strong>da</strong> efetiva participação de quem vive, sonha,produz e reproduz quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> no campo, as pessoas, de to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des,cores, saberes, raças, etnias, culturas e recortes regionais e territoriais.Simone Battestin – Coordenadora Nacional dos Jovens Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais.Formação sindicalação permanente do MSTTR paraconsoli<strong>da</strong>r o Projeto Alternativo deDesenvolvimento Rural Sustentávelformação sindical sempreteve papel de desta-Aque na estratégia políticado MSTTR. Paracompreender na atuali<strong>da</strong>de essaimportância é necessário entendero período ditatorial que o MSTTRe os brasileiros viveram após ogolpe militar de 1964.Para explicitar as transformações<strong>da</strong> formação sindical noMSTTR ao longo de sua história,dividiremos a ação formativa emdois períodos. O primeiro passapela fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> CONTAG até aretoma<strong>da</strong> <strong>da</strong>s grandes mobilizaçõessociais na déca<strong>da</strong> de 80, doséculo passado. O segundo períodovai <strong>da</strong> retoma<strong>da</strong> dessas lutasaté os dias atuais.Todos os esforços foram nosentido de consoli<strong>da</strong>r uma estruturasindical nacional e garantirautonomia política em relação aogoverno militar. Os educadoressindicais <strong>da</strong>s Federações eram responsáveispelo planejamento erealização de cursos, encontros,seminários e congressos, normalmente,tratavam sobre o sindicalismoe a formação de liderançassindicais. Também eram responsáveispela produção de jornais eprogramas de rádio.Os materiais de comunicaçãosindical foram fun<strong>da</strong>mentais paragarantir minimamente uma açãoarticula<strong>da</strong> nacional, regional e estadual.Eram boletins, revistas ejornais, que tinham como objetivocentral a conscientização e asocialização <strong>da</strong>s vitórias e lutas doMSTTR.A revista mensal <strong>da</strong> CONTAG, “OTrabalhador Rural”, foi um dosprincipais instrumentos de motivação,mobilização e sedimentação deuma política sindical nacional.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 81


Dedicava em todos os números,matérias sobre sindicalismo, papel<strong>da</strong>s lideranças sindicais, noções dePlanejamento, Administração Sindical,passos de como fazer reuniões,além de enfatizar as lutasocorri<strong>da</strong>s nos estados, comoexemplos a serem seguidos.O periódico “O TrabalhadorRural” recebeu diversas denominações,– jornal, revista, boletim– de acordo com o papel quedesempenhava o impresso àépoca. A esse período que estamosnos reportando, conforme aassessora <strong>da</strong> CONTAG, AdrianaBorba Fetzner: ”uma revista seadequava melhor aos propósitos<strong>da</strong> organização, ou seja, formarnovas lideranças e aumentar onúmero de federações e sindicatosfiliados ao MSTR (...) manter otrabalhador rural informado e,principalmente, formá-lo, poisninguém melhor do que o própriopersonagem do campo paracomunicar à socie<strong>da</strong>de a sua reali<strong>da</strong>dee, de posse do conhecimento,modificar aquela reali<strong>da</strong>de”.A criativi<strong>da</strong>de marcou esseperíodo. O cerceamento <strong>da</strong>s liber<strong>da</strong>desindividuais e coletivasinibia qualquer divulgação detrabalhos que pudessem, em seuconteúdo, ser interpretado como“ofensivo” ao governo e a “ordempública”. Foram utiliza<strong>da</strong>s muitasestórias, a exemplo <strong>da</strong> “Conversade Caboclo”, produzi<strong>da</strong> por quaseuma déca<strong>da</strong>. O cotidiano e oestímulo à organização dos trabalhadores(as) rurais eram reproduzidospor meio de personagens.Também reproduziam as poesias,prosas e cordéis, escritas pelostrabalhadores (as) rurais, dialogandocom os desafios do dia-adia,sem serem perturbados pelaPolicia ou pelo Ministério doCONVERSA DE CABLOCOTrabalho. Os autores <strong>da</strong>s estóriasutilizavam pseudônimos, caso arepressão militar resolvessecensurar os textos, os autoresestariam protegidos.Bom dia cumpade Chico, cuma vai, cuma passou?Eu vou indo cuma DEUS quer, pelejando sim sinhô?No meu roçado deu a peste, não aproveitei nem o feijão.É isso mesmo cumpade, cum pouco tudo se ajeitaEu não acredito em mais na<strong>da</strong>, a coisa pra cá ta preta.Tem calma cumpade Chico, tu não crê in nóssi. E no sindicato já viufalar, que vai <strong>da</strong>r nosso valor.Creio em DEUS que é santo véio.Meu amigo por favor preste atenção.Esse nosso sindicato, será nossa salvaçãoE quem é esse sindicato, que vai <strong>da</strong>r nosso valorÉ uma socie<strong>da</strong>de composta de agricultor.Nóis vai lá se reunir, pra acabar com essa tal de meiaQue sempre nos tem trazido, amarrado no nó <strong>da</strong> pêia.Assinam Chico <strong>da</strong> Rita e Zé do Ansé.CONTAG/RJ; O Trabalhador Rural; Ano I – Nº 01, Julho/1969.Nós, aqui em João Lisboa,Estamos de parabéns,Já temos SindicatoAssim como vocês têm.Aqui, nosso PresidenteNunca freqüentou escola,Mas como ele tem vontade,Já lê, já conta e escreveJá vi que este homem serveE assim nos se desenrolaO Sindicato é união,É amizade, é amorÉ beneficio, é progresso,É conhecimento, é valor,É reunião necessária dessa classe proletáriaDe homem trabalhador.Colaboração do companheiro do Município de João Lisboa no Estado do MaranhãoCONTAG/DF; O Trabalhador Rural; Ano 5 – Nº 01 – Janeiro/1973.82 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


A formação sindicalsempre teve papel dedestaque na estratégiapolítica do MovimentoSindical deTrabalhadores eTrabalhadoras RuraisOutro instrumento muito utilizadoem finais <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 60 ameados de 70, do século XX, foi osóciodrama. Priorizava a orali<strong>da</strong>dee expressão corporal, para estimularuma visão crítica <strong>da</strong>quelemomento que o país vivia, semchamar a atenção do poder público.Durante esse período, a CONTAGrealizava cursos de capacitação delonga duração. Alguns deles com até30 dias, e em regime de internato.Além <strong>da</strong> preocupação pe<strong>da</strong>gógica,existia a preocupação com possíveis“agentes” do governo infiltradosentre os participantes. Segundorelato de dirigente, duranteos eventos as lideranças falavamsobre organizar as reivindicaçõesdos assalariados e de se organizarcontra o latifúndio, dentre outrosassuntos que se relacionavam coma organização e luta <strong>da</strong> categoria.Quando chegavam representantesdo Ministério eles apagavam tudoque estava escrito no quadro e mu<strong>da</strong>vamde assunto. Era comum al-guns participantes não compreenderemo que estava acontecendo.Os congressos <strong>da</strong> CONTAGtambém foram espaços privilegiadospara sistematizar experiênciase propostas e unificaram a linhapolítica para a Formação Sindical.Existia a preocupação de manteruma ação permanente e renova<strong>da</strong>na formação de novas liderançassindicais que: “não se limitassemexclusivamente, à prestação deserviços burocráticos e assistenciais”.Nesses espaços, tambémeram identificados os conteúdos quedeveriam sempre ser direcionadospara o dia-a-dia <strong>da</strong> base.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 83


No segundo período, a partir<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 80, do século XX,novos paradigmas foram incorporadosà proposta de FormaçãoSindical do MSTTR. Com a aberturapolítica ocorrendo de formalenta, a formação sindical se deparoucom novos desafios, merecendodestaque a qualificação <strong>da</strong>ação sindical.O movimento sindical começoua desenvolver ações pararetomar as enti<strong>da</strong>des que ain<strong>da</strong>estavam sob a direção de setoresconservadores. As vitórias obti<strong>da</strong>scom a promulgação <strong>da</strong> Constituiçãotambém requeriam açõesimediatas do MSTTR, com o propósitode manter a base esclareci<strong>da</strong>sobre as conquistas e conseqüentesmu<strong>da</strong>nças.Os congressos <strong>da</strong> CONTAG, de1991 e 1995, deram um salto qualitativona organização política doMSTTR, criando e consoli<strong>da</strong>ndo assecretarias específicas naCONTAG. Também foi aprova<strong>da</strong> aimplementação do Projeto CUT/CONTAG de Pesquisa e FormaçãoSindical, fun<strong>da</strong>mental na construçãode uma proposta de desenvolvimentoque fosse alternativaaos sucessivos modelos concentradoresde terra e de ren<strong>da</strong>.Com o PADRS, a Formação Sindicalpassou a ter uma referênciape<strong>da</strong>gógica unifica<strong>da</strong> nacionalmente,levando em conta as deman<strong>da</strong>sregionais, culturais,produtivas, organizativas, sociaise as dimensões transversais degênero, geração, raça e etnia.Uma <strong>da</strong>s grandes ações formativasdesencadea<strong>da</strong>s pela CONTAGfoi o Programa de DesenvolvimentoLocal Sustentável – PDLS.Esse programa trouxe novi<strong>da</strong>des:I – a ação formativa ocorria no locale, com o público local; II – o foco<strong>da</strong> ação formativa eram as políticaspúblicas, seu controle, gestão,proposição e negociação; III – oPADRS foi o fio condutor de to<strong>da</strong>a ação; IV – foram envolvi<strong>da</strong>s maisde 15 mil lideranças e técnicos doMSTTR; V – o foco <strong>da</strong> ação formativa,era o estímulo à construçãode parcerias e alianças no nívellocal; VI – o estímulo à intervençãoqualifica<strong>da</strong> do MSTTR junto aopoder público local.A Formação Sindical passou aincorporar as deman<strong>da</strong>s específicase a focar a ação nas pessoase, não nas coisas. A Formação setransformou em uma ação meio.O PADRS estimulou a FormaçãoSindical a pensar junto com asdemais secretarias, estratégias deimplementação <strong>da</strong>s deman<strong>da</strong>sespecíficas, sempre visualizandoo projeto maior - o PADRS.Os meios de comunicação <strong>da</strong>CONTAG evoluíram com o decorrerdos <strong>anos</strong> e com o acesso a novastecnologias. Profissionais especializadosem comunicação passarama integrar a equipe otimizando asrelações <strong>da</strong> CONTAG com a mídia.Essa evolução <strong>da</strong> comunicação, emsintonia com as novas deman<strong>da</strong>sdo MSTTR, contribuíram parapotencializar a ação política <strong>da</strong>sSecretarias. Exemplos que podemoscitar são os “spots” radiofônicosdo programa “A Voz <strong>da</strong>CONTAG” sobre saúde preventiva,erradicação do trabalho infantil,auto-sustentação. Os profissionais<strong>da</strong> comunicação <strong>da</strong> CONTAG,por aproxima<strong>da</strong>mente 10 <strong>anos</strong>,também formaram lideranças emtécnicas de comunicação.“A Formação Sindical passou a incorporar as deman<strong>da</strong>sespecíficas e a focar a ação nas pessoas e, não nas coisas.”84 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


Educação do campo edesenvolvimento ruralgarantem a sustentabili<strong>da</strong>deA educação, ca<strong>da</strong> vez mais,ganha importância estratégica naAgen<strong>da</strong> Sindical do MSTTR. Nãosignifica que esse debate não ocorresseanteriormente na CONTAG,Federações e Sindicatos. Semprehouve uma compreensão coletivasobre a importância <strong>da</strong> Educaçãoenquanto estratégia para umainserção qualifica<strong>da</strong> dos trabalhadores(as) rurais nos processos dedesenvolvimento do país. O temaeducação esteve na pauta de todosos congressos, Encontros, Semináriose ativi<strong>da</strong>des específicas,como objeto de reflexão, aprofun<strong>da</strong>mentoe deliberação.O MSTTR permanentementecriticou o modelo tradicional deeducação, desconectado <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>dede quem vive e trabalha nocampo. Nos primeiros <strong>anos</strong> deCONTAG a direção afirmava que:“o método participativo, emcontraposição ao método ‘antigo’,leva em conta ca<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>deindividual, de ca<strong>da</strong> educando, paraassim podermos construir umareali<strong>da</strong>de coletiva. Conhecimento<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, que será julga<strong>da</strong>,critica<strong>da</strong> e conforme as conclusõesdo grupo, chega-se à escolha <strong>da</strong>ação e, à própria ação. Conformedeliberado no Encontro de Petrópolis,em 1968, com dirigentes etécnicos de várias Federações”.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 85


Esse conceito demonstrava,em 1973, opção por uma propostape<strong>da</strong>gógica que valorizasse ostrabalhadores (as) rurais enquantosujeitos políticos. “Educado éaquele que sabendo ou não ler eescrever sabe, contudo, interpretaras coisas, os acontecimentos.Educação é o conhecimento<strong>da</strong>s coisas, a capaci<strong>da</strong>de dejulgamento e ação. A educaçãoescolar para os trabalhadoresrurais deve: I – desertá-los para osaber; II – despertá-los para oquerer e; III – motiva-los para conseguiro que necessitam”.Algumas conquistas, ain<strong>da</strong> quelocaliza<strong>da</strong>s, são vitórias dessapressão e proposição <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>decivil e, sobretudo, do MSTTR. Aexemplo <strong>da</strong> experiência gaúcha,publica<strong>da</strong> no Jornal do Brasil, em1973: “O Rio Grande do Sulimplanta este ano, no interior, umsistema de ensino de primeirograu a<strong>da</strong>ptado ao meio ruralajustado às condições sócioeconômicasde ca<strong>da</strong> região. Osistema de educação rural terácurrículo de acordo com asaspirações de desenvolvimento deca<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de e foi idealizadoa partir <strong>da</strong> constatação de que 49%dos estu<strong>da</strong>ntes do primeiro grauestão na zona rural, mas recebemo mesmo ensino ministrado nazona urbana, com disciplinasmuitas vezes sem qualquerutili<strong>da</strong>de na vi<strong>da</strong> prática”.Essas experiências sempreforam socializa<strong>da</strong>s e debati<strong>da</strong>s noscongressos do MSTTR. Em 1973,o congresso extraordináriodeliberou pela necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>adoção nos currículos escolares,de disciplinas que viessem aincentivar o espírito associativistae a valorizassem a profissãode agricultor, com o apoio dematerial didático que levasse emconta as peculiari<strong>da</strong>des e característicasdo campo.Educação como estratégia parao desenvolvimento do campo,sempre foi a defesa <strong>da</strong> CONTAG. “Aeducação assume importante papeldentro do processo de desenvolvimento,exigindo especializações, apartir do fator educacional. Por outrolado, ela assume o papel motivadordo próprio desenvolvimento. Aeducação nos liberta como pessoas,como gente que somos”.O que define aidenti<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s escolasdo campo é o seu projetopolítico pe<strong>da</strong>gógico e ossujeitos a quem ela sedestina86 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


No congresso <strong>da</strong> CONTAG de1991, a educação foi trata<strong>da</strong> comprofundi<strong>da</strong>de. Os delegados defenderamensino, público e gratuito,adequado às característicasdo meio rural; exigiram que o currículoescolar fosse elaborado apartir do cotidiano dos trabalhadoresrurais; e definiram a realizaçãode uma campanha de alfabetização,por meio dos STRs, paraestimular os pais a enviarem osfilhos as escolas.No congresso <strong>da</strong> CONTAG de1995, o MSTTR afirmou que aescola rural deveria respeitar acultura local e a reali<strong>da</strong>de dostrabalhadores (as) rurais, priorizandope<strong>da</strong>gogias que vivenciassemas diferentes situaçõesdo meio rural, como as EscolasFamílias Agrícolas. No caso específico<strong>da</strong> educação básica, aprincipal estratégia defendi<strong>da</strong> foia pressão sobre as prefeituras,responsáveis pela fiscalização eacompanhamento de todos osprocessos do sistema de ensino -além <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, por meiodos Conselhos Municipais e Estaduaisde Educação - a fim degarantir o bom funcionamento doensino em todos níveis de escolari<strong>da</strong>de.Entendendo que não é possívelconstruir uma proposta deEducação do Campo isolado em si,o MSTTR realizou em 2000, o IVFórum CONTAG de Educação,articulado com universi<strong>da</strong>des,organismos internacionais eONGs. O resultado foi uma agen<strong>da</strong>de trabalho visando acumular umdebate sobre as bases de umapolítica específica de Educação doCampo, volta<strong>da</strong> para o desenvolvimentorural sustentável.O MSTTR e outras enti<strong>da</strong>desparceiras, que têm experiênciacom educação formal e nãoformal1 , sistematizaram uma propostade política pública constituí<strong>da</strong>por princípios e diretrizes <strong>da</strong>educação do campo que estãosendo implementa<strong>da</strong>s em algunsmunicípios rurais.1MOC – Movimento de Organização Comunitária, SERTA, Secretaria Municipal de Educação de Curaçá/BA, IRPAA/BA, ARCAFAR,UNEFAB, GT/UnB, Instituto Agostim Castejon, Escola de Formação <strong>da</strong> CUT <strong>da</strong> Amazônia, Escola do Campo Casa Familiar Rural dePato Branco/PR, dentre outros.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 87


Essa proposta foi apresenta<strong>da</strong> edebati<strong>da</strong> nas audiências públicas doConselho Nacional de Educação – CNE,realiza<strong>da</strong>s no final do ano de 2001.Ao final, o Conselho Nacional deEducação aprovou as “DiretrizesOperacionais de Educação Básicapara as Escolas do Campo”, instituí<strong>da</strong>oficialmente por meio <strong>da</strong> Resoluçãon.º 01, de 03 de abril de 2002.Nas Diretrizes Operacionais <strong>da</strong>Educação Básica <strong>da</strong>s Escolas doCampo, a educação não se restringeao espaço <strong>da</strong> escola, ela acontecetambém nos diferentesespaços em que os sujeitos viveme trabalham, alimentando e fortalecendoo vínculo entre a cultura,a educação escolar e a educaçãonão-escolar (formação política,formação profissional, etc).O que define a identi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>sescolas do campo não é necessariamentea sua localização geográfica,mas seu projeto políticope<strong>da</strong>gógico e os sujeitos a quemela se destina. Entretanto, é fun<strong>da</strong>mentalque essas escolas, emtodos os níveis e mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des deensino estejam localiza<strong>da</strong>s nascomuni<strong>da</strong>des e povoados.O projeto político pe<strong>da</strong>gógico<strong>da</strong>s escolas do campo deve estara serviço <strong>da</strong> promoção do desenvolvimentohumano e sustentável,e ter como referência a concepçãoe prática pe<strong>da</strong>gógica construí<strong>da</strong>pelos movimentos sociais e sindicaisque atuam no campo. Ou seja,os seus objetivos, conteúdosprogramáticos, metodologia e processosde aprendizagem e de avaliaçãodevem levar em conta ossujeitos desse processo educativoe a sua reali<strong>da</strong>de.O MSTTR entende que as DiretrizesOperacionais para as Escolasdo Campo, por si só, não responderáa to<strong>da</strong>s as deman<strong>da</strong>s dequem foi historicamente excluídodo acesso à educação em nossopaís. Mas, sem dúvi<strong>da</strong> alguma, asDiretrizes representam um importante‘instrumento’ para reverteresse quadro e garantir uma educaçãode quali<strong>da</strong>de, que dialoguecom a reali<strong>da</strong>de de quem vive etrabalha no campo, na perspectivade implementação e consoli<strong>da</strong>çãodo PADRS.A CONTAG vem aolongo desses <strong>40</strong> <strong>anos</strong>,construindo um novo‘olhar’ sobre o campo e Do campo. Esse exercício de reconstruira rurali<strong>da</strong>de brasileira, destacando sua importância estratégica,contribuiu para o estabelecimento de parcerias qualitativas paraa ação política do MSTTR.Um desses momentos foi a construção do Grito <strong>da</strong> TerraBrasil, hoje consoli<strong>da</strong>do em todo o país enquanto um momentode reflexão política, proposição, reivindicação, negociação epressão. Com certeza, poderíamos citar outros tantos momentosem que a construção coletiva norteou a ação política <strong>da</strong> CONTAG.A Formação Sindical sempre esteve presente na construçãoe consoli<strong>da</strong>ção dessa política. Aliás, a ação formativa <strong>da</strong> CONTAGsempre esteve a serviço desse propósito, construir um projetopolítico para o campo sob a coordenação do MSTTR.Surge o PADRS, não enquanto um projeto pronto e acabado,mais uma síntese <strong>da</strong> construção anterior, soma<strong>da</strong> àscontribuições de intelectuais, <strong>da</strong> base e de outras organizaçõesparceiras. A filiação à CUT e a implementação do Projeto CUT/CONTAG, com certeza representou um marco na construçãodesse projeto político.Francisco Miguel de LucenaSecretario de Organização e Formação Sindical.88 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


Desafios para prosseguirnuma histórica caminha<strong>da</strong>Dom Tomás Balduino - Presidente <strong>da</strong> CPTA CPT congratula-se com aCONTAG pelos seus <strong>40</strong> <strong>anos</strong> dehistória junto aos trabalhadores etrabalhadoras do campo. E começarelembrando o grande número delideranças sindicais autênticas queforam persegui<strong>da</strong>s e mortas nabusca e defesa dos mais sagradosdireitos dos trabalhadores etrabalhadoras <strong>da</strong> terra.Primeiro pela ditadura militar,que via em qualquer forma de organizaçãodos trabalhadores umaameaça à Segurança Nacional edepois, até os dias de hoje, nosconfrontos com o arcaico latifúndioe o moderno agronegócio. Uma lembrançato<strong>da</strong> especial para as mulheresque assumiram esta luta eesta causa e que têm em Margari<strong>da</strong>Maria Alves o melhor exemplo.A CONTAG, nasci<strong>da</strong> às vésperasdo golpe militar, criou umaarticulação nacional dos diversossindicatos e associações de trabalhadoresrurais existentes,<strong>da</strong>ndo-lhes representativi<strong>da</strong>de evisibili<strong>da</strong>de nacionais e, assim, setornou uma referência nacional.Reuniu sob sua sigla a imensa diversi<strong>da</strong>dedo campo - assalariadosrurais, parceiros, meeiros, pos-seiros, pequenos proprietários.Articulou estas forças, ain<strong>da</strong> soba ditadura militar, para exigir orespeito à legislação trabalhista ea reforma agrária.A CPT, nasci<strong>da</strong> em 1975, se tornousua parceira e alia<strong>da</strong>. Quantossindicatos os agentes <strong>da</strong> CPT nãoaju<strong>da</strong>ram a criar nos diferentesEstados <strong>da</strong> Federação! Na tentativade ter um sindicalismo mais combativoe autêntico, não atrelado aospoderes constituídos e executandotarefas simplesmente assistencialistas,a CPT também incentivoue apoiou as oposições sindicais.Passados, porém, os <strong>anos</strong> <strong>da</strong> ditadura,novas organizações representativasde segmentos específicosde trabalhadores começaram asurgir. Nasceram assim os movimentosdos sem-terra, dos pequenosagricultores, dos atingidos porbarragens, dos assentados, etc.Hoje contam-se em dezenas estesmovimentos ou associações reivindicandoa representativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>spessoas às quais dizem servir.Esta nova reali<strong>da</strong>de, no momento<strong>da</strong> comemoração dos <strong>40</strong><strong>anos</strong>, está a exigir uma profun<strong>da</strong>reflexão e a busca de caminhos novospara a já histórica caminha<strong>da</strong><strong>da</strong> CONTAG. Principalmente, quantoà construção <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de docampesinato, no meio deste marde diversi<strong>da</strong>de de organizações quese constituíram nos últimos <strong>anos</strong>.Esta foi a intuição fun<strong>da</strong>mentalna sua criação e esta é hoje umade suas missões. Só uma uni<strong>da</strong>desóli<strong>da</strong> será capaz de fazer frente aosentraves que são colocados aostrabalhadores do campo. Entravesestes que, desde sempre, impedema reforma agrária com a conseqüenteredemocratização <strong>da</strong> terrae relações justas de trabalho. Estesentraves passam ain<strong>da</strong> pelo modelode desenvolvimento adotado peloBrasil que coloca o capital como oeixo definidor <strong>da</strong>s grandes priori<strong>da</strong>desnacionais e que acabaatraindo para si e para o agronegócioto<strong>da</strong>s as atenções, ficando o trabalhadorrelegado a segundo ou terceiropl<strong>anos</strong>, atendidos por medi<strong>da</strong>spaliativas e por políticas compensatórias.Parabéns, <strong>Contag</strong>. Que o exemplodos que derramaram o sanguena conquista <strong>da</strong> terra e dos direitosaponte o norte <strong>da</strong> atuação domovimento sindical rural hoje.“Quantos sindicatos os agentes <strong>da</strong> CPT não aju<strong>da</strong>ram acriar nos diferentes Estados <strong>da</strong> Federação!”CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 89


A CONTAG vem construindo um sindicalismo dinâmicoe inovador a ca<strong>da</strong> déca<strong>da</strong>, desde a sua fun<strong>da</strong>ção. Noentanto, entendo que a ultima déca<strong>da</strong> carece de umamaior analise, já que representa uma síntese <strong>da</strong>s trêsdéca<strong>da</strong>s anteriores.Sempre viemos reivindicando um tratamentodiferenciado para a agricultura familiar, mais foi nessadéca<strong>da</strong> que nossa proposta sematerializou através doPRONAF. Sempre reivindicamosum processo formativonacional e massivo, voltadopara a ação política nos municípios,através do Programade Desenvolvimento LocalSustentável – PDLS atendemosa quase todos os municípiosdo país.Foi também nessa déca<strong>da</strong>que através <strong>da</strong> nossa pressão,conquistamos um ministérioespecifico para a agriculturafamiliar, o Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA.A CONTAG sempre participou de eventos internacionais,mais também foi nessa ultima déca<strong>da</strong> que se processoumaiores mu<strong>da</strong>nças quanto as relações institucionais noexterior.Atualmente a CONTAG ocupa a Secretaria <strong>da</strong>Coordenadora <strong>da</strong> Agricultura Familiar no MERCOSUL.Participa de fóruns de Reforma Agrária, Juventude,Mulheres, Agricultura Familiar e Assalariados (as) rurais,onde é ouvi<strong>da</strong> por organizações não governamentais egovernamentais em todos os continentes.O estimulador dessas mu<strong>da</strong>nças nos últimos 10 <strong>anos</strong>,foi a unificação <strong>da</strong>s propostas históricas do MSTTR emum projeto político, o PADRS. Projeto reconhecidonacional e internacionalmente, enquanto uma contribuiçãoao debate sobre a proposta de segurança e soberaniaalimentar que queremos para o mundo.Alberto BrochVice-Presidente e Secretário de Relações Internacionais90 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


Gestão sindical: ferramentapara consoli<strong>da</strong>ção do PADRSÉ muito comum o dirigente sindicalparticipar de reuniões sobregestão sindical, entendendo queGestão Sindical corresponde àadministração sindical, à gestãopolítica, à auto-sustentação e aopatrimônio. No entanto, o conceitoé novo no MSTTR. Não significa queessa deman<strong>da</strong> não tenha existidoem momentos anteriores. Nesses<strong>40</strong> muitas alternativas já foramimplementa<strong>da</strong>s para garantir umaboa Gestão Sindical. Nos materiaisde comunicação <strong>da</strong> CONTAG existemregistros a respeito do esforço<strong>da</strong>s Tesourarias do MSTTR em capacitardirigentes e técnicos sobreadministração sindical.Eram cursos de capacitação paraDireção <strong>da</strong>s Enti<strong>da</strong>des, ConselhoFiscal e Funcionários (as). Exemplofoi o 2º Encontro de Tesoureiros eContadores realizado em setembrode 1972, sobre a importância deuma administração sindical volta<strong>da</strong>para a luta, sem, contudo, deixarde perceber a importância <strong>da</strong>“máquina sindical” funcionando deforma a garantir que as açõespolíticas acontecessem na base.A imprensa sindical foi muitoutiliza<strong>da</strong> para cumprir essesobjetivos, a revista “O TrabalhadorRural”, no período de 1969 a 1974,trazia de forma sistematiza<strong>da</strong> asnoções básicas de como fazer umareunião, planejamento, papel dosdirigentes nos Sindicatos, prestaçãode contas, departamento pessoal,elaboração de projetos.Uma <strong>da</strong>s grandes contribuiçõesdecorrentes desse processo decapacitação foi o fortalecimentoe consoli<strong>da</strong>ção do MSTTR em todoo país. Segundo levantamentodivulgado pela CONTAG, em 1963,existiam 641 STR e apenas 306eram reconhecidos pelo Ministériodo Trabalho. Em 1972, eram 1.754STRs , sendo 1.330 reconhecidospelo Ministério do Trabalho.Principais fatores que contribuíram para o crescimento:I – Estatuto do Trabalhador Rural (Lei 4.214, de 02/03/1963);II – Estatuto <strong>da</strong> Terra (Lei 4.504, de 30/11/1964);III – Reconhecimento <strong>da</strong> CONTAG (Decreto 53.517 de 31/01/1964);IV – Sindicalização Rural (Portaria Ministerial nº71, de 02/02/1965);V – Reforma Agrária – Ato Institucional nº9, de 25/04/1969;VI – Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural – FUNRURAL(Decreto-Lei nº276, de 28/02/1967);VII – Enquadramento Sindical (Decreto-Lei nº789 de 26/08/1969 eDecreto-Lei nº1.166 de 15/04/1971);VIII – Programa de Redistribuição de Terras – PROTERRA (Decreto-Lei nº1.179 de 06/07/1971);IX – Programa de Assistência ao Trabalhador Rural – PRORURAL (LeiComplementar nº11 de 25/05/1971).“A imprensa sindical foi utiliza<strong>da</strong> nadivulgação <strong>da</strong>s formas de fazer: reunião,planejamento, seminários etc.”CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 91


A contribuição voluntária dosassociados (as) sempre foi referen<strong>da</strong><strong>da</strong>em todos os congressose instâncias do MSTTR, como acontribuição mais importante paraauto-sustentação. Até hoje a contribuiçãovoluntária é o objetivocentral. Nesses <strong>40</strong> <strong>anos</strong>, muitasações volta<strong>da</strong>s para qualificar aação sindical e a prestação de serviçosna base foram experimenta<strong>da</strong>spela CONTAG, Federações eSindicatos, com o propósito deestimular a sindicalização.Em Minas Gerais, em 1973, oConselho de Representantes <strong>da</strong>Federação dos Trabalhadores, como objetivo de <strong>da</strong>r condições paraaquisição ou ampliação de sedes,compra de máquinas, equipamentose instalações fixas, aprovou acriação do Fundo Rotativo deAplicações Sindicais. Quase 25<strong>anos</strong> depois, em 1997, a CONTAGelaborou um projeto para viabilizara compra de computadoresatravés de convênio firmado entreCONTAG e a IBM. O objetivo eraacelerar a gestão interna do STRs.Muitas “âncoras” financeirasforam prioriza<strong>da</strong>s ao longo desses<strong>anos</strong> para garantir o funcionamentodos Sindicatos e, conseqüentemente,do Sistema Confederativo.Entretanto, nos últimos<strong>anos</strong>, o MSTTR passou a experimentarnovas formas de garantia<strong>da</strong> auto-sustentação. Também foinesse período que ocorreram muitasinvesti<strong>da</strong>s contra as formas decontribuição e <strong>da</strong> própria organizaçãosindical.Um exemplo foi a publicação<strong>da</strong> Medi<strong>da</strong> Provisória que acabavade vez com a contribuição sindical,edita<strong>da</strong> pelo Presidente <strong>da</strong>República Fernando Collor. O ConselhoDeliberativo <strong>da</strong> CONTAG, emsetembro de 1990, se antecipouaos fatos e aprovou a implementaçãoimediata <strong>da</strong> ContribuiçãoConfederativa, independente deregulamentação. Recomendou atodos os sindicatos filiados queacelerassem a realização de suasassembléias para que a confederativapudesse tornar-se um dosmeios de auto-sustentação <strong>da</strong>slutas e mobilizações do MSTTR.As capacitações volta<strong>da</strong>s paraa Gestão Sindical foram retoma<strong>da</strong>scom força total durante to<strong>da</strong> adéca<strong>da</strong> de 90, do século XX. A campanhade divulgação <strong>da</strong> ContribuiçãoConfederativa ganhou oapoio do programa de rádio “A Voz<strong>da</strong> CONTAG”, que foi ao ar oficialmente,em 1º de maio de 1993.Nesse mesmo ano, a CONTAG assinouconvênio com o Banco doBrasil para a emissão de guias ecobrança <strong>da</strong> contribuição confederativae lançou a campanha“Para Colher Tem que Plantar”.Os Encontros <strong>da</strong> Comissão Nacionalde Finanças foram fun<strong>da</strong>mentaispara garantir maior uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong>sações de gestão, estimulando o diálogoentre as ações estaduais e aestratégia decidi<strong>da</strong> nacionalmente.Os programas de capacitação nabase também foram importantesporque abor<strong>da</strong>vam, prioritariamente,temas como Gestão e Gerenciamento,Planejamento Estratégico,Reestruturação Administrativa,Política Sindical e Formação.Os últimos dez <strong>anos</strong> foram deexpansão <strong>da</strong> Gestão Sindical <strong>da</strong>CONTAG. Ocorreu a implantação<strong>da</strong> Contribuição Confederativa; orecolhimento <strong>da</strong> Contribuição Sindicalpor parte <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong>dessindicais; a implantação <strong>da</strong> mensali<strong>da</strong>dede aposentados e pensionistascom desconto direto nosbenefícios previdenciários, sem anecessi<strong>da</strong>de do associado (a) irmensalmente ao Sindicato.A troca <strong>da</strong> denominação deTesouraria Geral para Secretaria deFinanças e Administração significouuma mu<strong>da</strong>nça na compreensãosobre as responsabili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> áreade finanças do MSTTR. GestãoSindical deixou de ser a área exclusivamenteburocrática, passou a serconsidera<strong>da</strong> essencial na construção<strong>da</strong>s ações do Movimento.Muito ain<strong>da</strong> existe para serfeito quanto à Gestão Sindical,porém, nos últimos 10 <strong>anos</strong>, oMSTTR conseguiu acelerar e qualificaro processo de Gestão Sindical,sempre na perspectiva de implementare consoli<strong>da</strong>r o ProjetoAlternativo de DesenvolvimentoRural Sustentável – PADRS.92 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


históriaA política transversalde gênero, geração, raça e etnia no PADRS“No PADRS o ser humano é objeto central e em sua implementaçãoconsidera primordiais as especifici<strong>da</strong>des <strong>da</strong> pessoa, como i<strong>da</strong>de,sexo, raça e etnia”.lgumas Federações realizavam,já na déca<strong>da</strong> deA60, do século XX, ativi<strong>da</strong>desespecíficas comjovens e mulheres. A Federação doRio Grande do Sul, em parceriacom a Frente Agrícola Gaúcha –FAG, organizava congressos dejovens em finais <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 60.No entanto, a organização <strong>da</strong> juventudeno MSTTR ocorreu oficialmenteinício <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 90, doséculo passado. No caso <strong>da</strong>s mulherestrabalhadoras rurais aorganização dentro do MSTTRcomeçou em meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong>de 80. A terceira i<strong>da</strong>de e as dimensõesde raça e etnia, só irão fazerparte <strong>da</strong> agen<strong>da</strong> e proposição políticado MSTTR, a partir de 1995.JUVENTUDECom o aprofun<strong>da</strong>mento esistematização <strong>da</strong>s propostas queconstituíram o PADRS, a importânciaestratégica <strong>da</strong> juventudeganhou visibili<strong>da</strong>de e passou a serincorpora<strong>da</strong> nas temáticas e agen<strong>da</strong>sindical. Logo após o 7ºCNTTR, a CONTAG realizou cincoEncontros Regionais preparatóriosGeração no PADRSÉ um conceito que explicita o papel social que ca<strong>da</strong> pessoa cumprenas diferentes fases <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>: infância, adolescência, juventude,adulto, terceira i<strong>da</strong>de e idosos. Estes papéis se alteram de acordocom a época e história de ca<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Esse enfoque geracionalfaz um apelo sobre a valorização e as oportuni<strong>da</strong>des de inserçãosocial de jovens, terceira i<strong>da</strong>de e idosos na socie<strong>da</strong>de.ao Encontro Nacional, que identificaram,aprofun<strong>da</strong>ram e sistematizaramas deman<strong>da</strong>s <strong>da</strong> juventudetrabalhadora rural.Essas propostas orientaram oDocumento Base do 8º CNTTR,afirmando que a juventude constitui-seem mulheres e homens quevivem e trabalham no meio rural,com i<strong>da</strong>de de 16 a 32 <strong>anos</strong>. Queser jovem é uma condição relativae transitória, pois logo entrarãonas outras fases <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Entretanto,é na fase <strong>da</strong> juventude queas pessoas afirmam sua identi<strong>da</strong>desocial e profissional e, definemsua formação física, intelectual,psicológica e emocional.O foco central <strong>da</strong> proposta parao trabalho com a juventude é aelevação <strong>da</strong> auto-estima; incentivare fortalecer a sua organizaçãoe formação política; apresentarpropostas de políticas sindicaise políticas públicas que promovame efetivem a inserção social <strong>da</strong>juventude no meio rural.O MSTTR aprovou em Congressoe garantiu nos Estatutos, umaCoordenação Nacional <strong>da</strong> JuventudeTrabalhadora Rural, CoordenaçõesEstaduais e Municipais.Essa organização, oficialmentereconheci<strong>da</strong> na estrutura do sistemaCONTAG, refletiu em conquistaspara juventude, como o PronafJovem - uma linha de financiamentoespecífica - e o programa“Nossa 1ª Terra” - uma políticaespecífica de crédito fundiário.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 93


TERCEIRA IDADEA participação demulheres e homens acimados 55 <strong>anos</strong> de i<strong>da</strong>denos espaços de direção,enquanto sócios e nasdemais instâncias doMSTTR, sempre foi umapresença constante.No entanto, à exceção<strong>da</strong>s conquistas doacesso aos benefíciosprevidenciários, poucaspolíticas específicasforam elabora<strong>da</strong>s eimplementa<strong>da</strong>s peloMSTTR. Mesmo desempenhandopapel importantena vi<strong>da</strong> familiar ecomunitária, infelizmentemuitas dessaspessoas sofrem discriminaçãoe preconceitos,ficando à margem na socie<strong>da</strong>de.Foi após o 7º CNTTR, que asdeman<strong>da</strong>s desse grupo ganharamvisibili<strong>da</strong>de e importância política.As Federações realizaramEncontros Estaduais preparatóriosao “Encontro Nacional dos Trabalhadorese Trabalhadoras Rurais <strong>da</strong>3ª I<strong>da</strong>de”. Nesses encontros elaboraramum diagnóstico a respeito<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>queles que estãona terceira i<strong>da</strong>de, que vivem etrabalham no meio rural, sempreconsiderando o valor desse grupodentro do PADRS. Os resultadossubsidiaram a construção doDocumento Base para o 8º CNTTR.Um desafio precisa ser superado:a inclusão definitiva <strong>da</strong>terceira I<strong>da</strong>de na organização doMSTTR. O mesmo acontece com aelaboração e implementação depolíticas sindicais e políticas públicas,que elevem a auto-estimadessas pessoas, assegurem seusdireitos e garantam sua inserçãosocial na vi<strong>da</strong> familiar, comunitária,sindical e na socie<strong>da</strong>de em geral.MULHERESGênero no PADRS é um conceitoem construção, que articulaa dimensão de classe, geração,raça e etnia, e serve para entenderas relações de poder e de hierarquiaestabeleci<strong>da</strong>s entre mulherese homens na família, na comuni<strong>da</strong>de,no local de trabalho, noMSTTR, e na socie<strong>da</strong>de em geral.A luta <strong>da</strong>s mulheres por igual<strong>da</strong>dede condições no MSTTRcomeçou na construção <strong>da</strong>s primeirasenti<strong>da</strong>des sindicais.Apesar <strong>da</strong> ausência de registrossobre a participação <strong>da</strong>s mulheresnas lutas, fica muito difícil imaginaruma greve de canavieiros,como as que ocorriam com freqüênciana déca<strong>da</strong> de 70 e 80, doséculo XX, sem imaginarmos otrabalho <strong>da</strong>s mulheres garantindoa estrutura física e psicológica <strong>da</strong>família e dos grevistas ou dirigentessindicais.Os registros <strong>da</strong> CONTAG e dealgumas Federações identificamgrandes manifestações estaduaisde mulheres em meados <strong>da</strong>déca<strong>da</strong> de 80. A Federação de94 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


Pernambuco, por exemplo,realizou reuniões demulheres nos Pólos Sindicaispara debater propostaspara serem encaminha<strong>da</strong>sao congresso<strong>da</strong> CONTAG, em 1991.No ano seguinte, mais de10 mil Mulheres TrabalhadorasRurais dosestados do Rio Grandedo Sul e de Goiás realizaramseus Encontros Estaduais.Em 1989, as mulheresconquistaram a ComissãoNacional Provisória <strong>da</strong>sTrabalhadoras Rurais eelegeram a primeiramulher para a direção <strong>da</strong>CONTAG. Em preparaçãopara 5º CNTR, a ComissãoNacional Provisóriarealizou encontros em diversosestados, buscando <strong>da</strong>r visibili<strong>da</strong>deàs deman<strong>da</strong>s específicas.A Comissão conseguiu fazerconstar no Regimento Interno docongresso <strong>da</strong> CONTAG, em 1991,a escolha de duas delega<strong>da</strong>s porestado, sem prejuízo <strong>da</strong>s demaisque poderiam ser eleitas nasassembléias dos Sindicatos. Pelaprimeira vez na história doMSTTR, as condições desiguais<strong>da</strong>s mulheres eram leva<strong>da</strong>s emconta na escolha de delegados (as)a um congresso, mecanismo mantidono congresso seguinte, comalgumas modificações que qualificavama proposta.Entretanto, o grande marco <strong>da</strong>participação política <strong>da</strong>s mulheres,enquanto protagonistas naconstrução do MSTTR, foram osdebates ocorridos antes, durantee depois <strong>da</strong> construção do PADRS.A opção de mu<strong>da</strong>r de pequenaprodução, para produção emregime de economia familiar, deuvisibili<strong>da</strong>de produtiva a quem jácomeçava o processo de conquistapolítica.A aprovação <strong>da</strong> cota mínima de30% de mulheres em to<strong>da</strong>s as instânciasdo MSTTR, aprova<strong>da</strong> nocongresso <strong>da</strong> CONTAG, em 1997,foi um importante instrumento dedemocratização <strong>da</strong>s relações depoder entre mulheres e homens,contribuindo para o reconhecimento<strong>da</strong>s mulheres como sujeitospolíticos, assegurando definitivamentesua participação direta emtodos espaços formativos e de decisão<strong>da</strong> CONTAG, FETAGs e STRs.Desde então, o MSTTR, pormeio <strong>da</strong> Comissão Nacional deMulheres Trabalhadoras Rurais,Comissões Estaduais e Municipaisde Mulheres Trabalhadoras Rurais,vem construindo uma políticatransversal de gênero. Contribuempara a construção de novasrelações entre mulheres e homensbasea<strong>da</strong>s na igual<strong>da</strong>de de direitose oportuni<strong>da</strong>des. Buscam valorizarsuas habili<strong>da</strong>des e capaci<strong>da</strong>despolíticas, sociais, econômicas,produtivas e culturais, assegurandosua participação direta nosespaços de decisão e poder doMSTTR e nos espaços de formulaçãoe gestão de políticas públicas,na perspectiva <strong>da</strong> construçãoe implementação do PADRS.Outro espaço utilizado pelasmulheres em busca de políticaspúblicas específicas é a mobilização“Marcha <strong>da</strong>s Margari<strong>da</strong>s”.Movimento de afirmação <strong>da</strong> mulherna luta pela democratizaçãoe melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de e vi<strong>da</strong> noambiente rural brasileiro, a Marchaganhou esse nome em alusão àMargari<strong>da</strong> Alves, presidente doSindicato Rural de Alagoa Grande,Paraíba, assassina<strong>da</strong> em 1983, naporta de sua casa.Ao longo desse período deconstrução <strong>da</strong> organização <strong>da</strong>smulheres trabalhadoras rurais edepois a consoli<strong>da</strong>ção do movimento,a organização obteveconquistas e avanços importantesque deram o diferencial nasrelações de gênero. Dentre essasconquistas merecem destaque oreconhecimento <strong>da</strong> profissão trabalhadorarural com a concessãodos benefícios previdenciários; oPronaf Mulher e a titulação conjuntana posse <strong>da</strong> terra.RAÇA E ETNIAAs questões de raça e etniapermanecem somente nos discursosdo MSTTR. Portanto, essaquestão é um dos desafios <strong>da</strong>CONTAG, pois a partir <strong>da</strong> construçãodo PADRS ficou posto queo projeto precisa, em sua essência,<strong>da</strong>r conta do ser humano emsua integrali<strong>da</strong>de. Se o ser humanoé o objeto central desse projetoem permanente construção, raçae etnia são questões que necessitamde propostas que sejamleva<strong>da</strong>s à prática.Apesar do pouco acúmulo sobreo tema, existem alguns consensosCONTAG <strong>40</strong> ANOS - 95


estabelecidos no MSTTR.To<strong>da</strong> pessoa é portadora dediferentes identi<strong>da</strong>des sociais.Além de mulheres ou homenstrabalhadores e trabalhadorasrurais ou urbanas, em diferentesfases <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, e também,portadores de uma identi<strong>da</strong>deracial e étnica.Raça é uma categoria queserve para definir a identi<strong>da</strong>deracial de uma pessoa ou grupossociais. Esta categoria consideraas características físicas deum determinado grupo depessoas que são transmiti<strong>da</strong>sde geração em geração, bemcomo sua origem e história devi<strong>da</strong>. Estas pessoas incorporame difundem expressõesculturais específicas, como areligião, língua, <strong>da</strong>nça, arte, literatura,etc. Etnia é uma categoria que servepara entender a identi<strong>da</strong>dede um povo. Ca<strong>da</strong> povo temseu território, costumes, hábitos,tradições e formas própriasde organização social,política, econômica, bem comode convivência com o meioambiente.Esses consensos, ain<strong>da</strong> que primários,dão para a CONTAG umacerteza, que nesses <strong>40</strong> <strong>anos</strong> de Lutae História, a coordenação políticanacional do MSTTR buscou adensaràs suas políticas macro, um carátercultural, organizativo, social eprodutivo <strong>da</strong>s regiões do país.Muito ain<strong>da</strong> está para ser feito,mas ao olhar para essas quatrodéca<strong>da</strong>s, com mais <strong>da</strong> metadevivi<strong>da</strong> sob a observação vigilantedos fuzis, percebe-se que oMSTTR está no caminho <strong>da</strong> construçãode uma nova forma de fazersindicalismo no Brasil. Está caminhando,aprendendo e aprendendoa aprender, com a convicção queo maior patrimônio político é ainteração com os trabalhadores etrabalhadoras rurais de formaintegral, na perspectiva de construçãode um projeto de socie<strong>da</strong>debaseado na soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, democraciae justiça.96 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


Aposentados rurais impulsionam odesenvolvimento de pequenos municípiosPor longos <strong>anos</strong> os trabalhadorese trabalhadoras rurais foramesquecidos pelos governos quandose trata de seguri<strong>da</strong>de e demaispolíticas sociais, como saúde eeducação. No decorrer desses <strong>40</strong><strong>anos</strong>, as propostas <strong>da</strong> CONTAGpara políticas sociais se modificarammuito, em compasso comas alterações econômicas e sociaisdo país.Em 1923, nascia a previdênciano Brasil, depois de mobilizaçõesde movimentos operários, ogoverno promulgou a Lei EloiChaves. A lei permitiu a instituição<strong>da</strong>s Caixas de Aposentadoriae Pensão – CAP’s. Porém, durantea negociação para aprovaçãodessa lei, a oligarquia rural quecoman<strong>da</strong>va o Congresso Nacionalimpôs que a legislação se restringisseao operariado urbano. Significavaque, apesar de o trabalhadorrural contribuir com suaprodução, trabalho e o pagamentode impostos indiretos, não eraassegurado, permanecendo privadodos direitos mínimos de qualquerci<strong>da</strong>dão.Devido às imposições dessaoligarquia rural, somente em 1967surgiu a primeira concessão aotrabalhador rural, com a criaçãodo Fundo de Assistência aoTrabalhador Rural – Funrural, queestabeleceu o desconto de 1%sobre o valor do produto rural innatura, pago pelo adquirente ouconsignatário na sua primeiraoperação e, assim, garantiaassistência médico-hospitalar.Quatro <strong>anos</strong> depois surgia oProrural, que tornava o trabalhadorrural beneficiário <strong>da</strong> previdênciasocial. A aposentadoria por i<strong>da</strong>deera restrita ao chefe de família ecorrespondia a 30% do saláriomínimo, sendo 65 <strong>anos</strong> a i<strong>da</strong>depara aposentadoria. O Prorural erafinanciado pelo Funrural.De acordo com o assessor <strong>da</strong>CONTAG, Evandro Jose Morello,“partir de 1974, foi incluí<strong>da</strong> noplano de benefícios a Ren<strong>da</strong>Mensal Vitalícia para idosos apartir dos setenta <strong>anos</strong> de i<strong>da</strong>deou para inválidos, dirigi<strong>da</strong> àquelesque não completassem osrequisitos estabelecidos para aaposentadoria/pensão, tambémno valor de meio salário mínimo.Incluiu-se também, o seguroacidente de trabalho rural. Aassistência médica eraadministra<strong>da</strong> via convênios comorganizações locais. Ofinanciamento dos benefícios erafeito com uma contribuição de 2%sobre o valor <strong>da</strong> comercialização<strong>da</strong> produção rural, cujorecolhimento ficava a cargo doadquirente. Além disso, foiinstituí<strong>da</strong> uma alíquota de 2,4%sobre a folha de salários <strong>da</strong>sempresas urbanas que viabilizouefetivamente a estrutura de custeiodo FUNRURAL. Posteriormente(...) houve um acréscimo demais 0,5% na alíquota de contribuiçãoincidente sobre o valor decomercialização dos produtosrurais (totalizando 2,5)”.O surgimento dessas políticasocorreu depois <strong>da</strong>s mobilizaçõesdos movimentos de trabalhadoresrurais, como as Ligas Camponesase CONTAG. À época, aCONTAG considerou um avanço,porém fez severas críticas, nãoapenas pela limitação do programa,mas também pela utilizaçãopolítica <strong>da</strong> concessão. O governo,“E 1923, nascia a previdência no Brasil. Somente em1967 surgia a primeira concessão ao trabalhadorrural, com a criação do FUNRURAL”.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 97


“A aposta <strong>da</strong> CONTAG para modificar apolítica previdenciária era a nova AssembléiaNacional Constituinte”.ao estruturar o Programa, submeteua indicação dos representantes<strong>da</strong>quele órgão a forças políticaslocais para controlar a concessãodos benefícios. Para ampliar emelhorar a quali<strong>da</strong>de dos serviçosprevidenciários, a CONTAG defendia,que o recurso financeiro paramanutenção <strong>da</strong> previdência socialdeveria ser arreca<strong>da</strong>do por meiode impostos, uma taxa de 2%paralela ao ICMS.Para garantir a luta do trabalhadorrural pelos seus direitosbásicos de educação, saúde,previdência social, a CONTAGcompreendia que era importanteum programa efetivo de educaçãoformal e não formal com a finali<strong>da</strong>dede converter o trabalhadorrural em protagonista <strong>da</strong> conquistadesses direitos. Em 1969, aCONTAG salientava a necessi<strong>da</strong>dede: ”encontrar um método educativode ação, ajustado à reali<strong>da</strong>dedos trabalhadores rurais, tornando-oscapazes de assumir suasresponsabili<strong>da</strong>des dentro dosquadros sindicais, objetivando alibertação <strong>da</strong> classe”.Foi justamente a utilização dosmeios de comunicação existentese o debate dos trabalhadores quepermitiu a conquista <strong>da</strong> aposentadoriapor i<strong>da</strong>de e invalidez, auxíliofuneral, pensão por morte,assistência médico, hospitalar esocial. No entanto, a ampliação eintensificação <strong>da</strong>s formas demobilização e pressão por umanova política previdenciáriainiciaram, de fato, com a eleiçãodos parlamentares constituintes.O MSTR exigia que trabalhadoresrurais obtivessem os mesmosbenefícios do Regime <strong>da</strong>Previdência Social que desfrutavamos trabalhadores urb<strong>anos</strong>.Durante o congresso <strong>da</strong> CONTAG,em 1985, os delegados aprovaramo anteprojeto de reforma doSistema de Previdência Social,elaborado pelo MSTR. Ao mesmotempo o Governo Federal criou umgrupo de representantes <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de,o qual a CONTAG integrava,para discutir propostas parareforma previdenciária. A CONTAGnão apostava muito nesse trabalho,como pode ser observado nojornal O Trabalhador Rural: “cabesalientar que as conclusões do grupotêm caráter de sugestões. Portanto,poderão se transformar emanteprojeto ou virem a merecer omesmo destino que tiveram trabalhosde grupos criados nessesúltimos 20 <strong>anos</strong>: a gaveta”.A aposta <strong>da</strong> CONTAG paramodificar a política previdenciáriaera a nova Assembléia NacionalConstituinte. Os dirigentes tinhamcompreensão que para o êxito naconquista <strong>da</strong>s reformas necessárias,o MSTR precisava estarorganizado. De fato, de to<strong>da</strong>s asações desenvolvi<strong>da</strong>s pelos trabalhadoresrurais durante a Constituinte,foi na área <strong>da</strong> PrevidênciaSocial que ocorreram avançossignificativos, inclusive para asmulheres que passaram a serreconheci<strong>da</strong>s como trabalhadorarural. O benefício <strong>da</strong> aposentadoriapassou para o valor de um saláriomínimo e a i<strong>da</strong>de mínima aos60 <strong>anos</strong> para homens e 55 paramulheres.Uma manobra do governoprotelou a aplicação dos direitosdos trabalhadores rurais, emespecial quanto ao valor dosbenefícios. Passados dois <strong>anos</strong> <strong>da</strong>Constituinte, os trabalhadoresrurais ain<strong>da</strong> recebiam meio saláriomínimo de aposentadoria e asmulheres não conseguiam serreconheci<strong>da</strong>s como trabalhadoraspara fins de aposentadoria. AFETAG/RS deu o “ponta pé” inicialnessa luta ao entrar com man<strong>da</strong>tode injunção exigindo o efetivo pagamentodo benefício <strong>da</strong> aposentadoriarural, no valor de um saláriomínimo, mesmo sem a regulamentação,já que os prazos constitucionaispara regulamentaçãohaviam sido desrespeitados. ACONTAG seguiu o mesmo caminhoe impetrou man<strong>da</strong>to no SupremoTribunal Federal. Independente<strong>da</strong>s decisões <strong>da</strong>s esferas federais,o superintendente do INSS, no RioGrande do Sul, determinou o rece-98 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


imento dos pedidos de aposentadoriascom base nos novos direitos.Em 1991, o Supremo TribunalFederal, determinou o pagamento<strong>da</strong> diferença de 50% do saláriomínimo, devi<strong>da</strong> aos aposentadosno período de 1988 a 1991.Passaram-se três <strong>anos</strong> sem ocumprimento <strong>da</strong> determinação doSTF, foi necessária a intensificação<strong>da</strong>s mobilizações dos trabalhadoresrurais a fim de garantir a implantação<strong>da</strong>s novas regras previdenciárias.Em todos os estados as Federaçõescoordenaram mobilizaçõesde trabalhadores e trabalhadorasrurais na luta pelo pagamento dosbenefícios antigos e pela aceitaçãodos novos requerimentos, especialmenteos <strong>da</strong>s mulheres. Em1993, o Ministério <strong>da</strong> PrevidênciaSocial havia concedido 702.780aposentadorias rurais depois demuita pressão e mobilização dostrabalhadores rurais.Ain<strong>da</strong> em 93, a CONTAG passoua integrar o Conselho Nacional <strong>da</strong>Previdência Social – CNPS, queacompanha a política e o orçamentodo setor para todo o País.Essa universalização dos benefícios,conquista<strong>da</strong> pelo MSTTR,para idosos e inválidos de ambosos sexos, com a fixação do pisode um salário mínimo, promoveramimpactos socioeconômicosnos municípios.Atualmente, são aproxima<strong>da</strong>mente7 milhões de benefíciosrurais pagos mensalmente pelaprevidência social. Segundo oIBGE, ca<strong>da</strong> benefício pago aosCONTAG <strong>40</strong> ANOS - 99


trabalhadores e trabalhadoras ruraisbeneficia, em média, 2,5 pessoasque vivem em torno do beneficiado.Isso representa quase 24milhões de pessoas beneficia<strong>da</strong>sdireta ou indiretamente.Evandro Morello esclarece que“além de ser um eficiente sistemade distribuição de ren<strong>da</strong>, os benefíciosprevidenciários rurais têmaju<strong>da</strong>do a fixar homens e mulheresno campo diminuindo, assim,o êxodo rural e a conseqüentepressão sobre as grandes ci<strong>da</strong>des.Os estudos indicam ain<strong>da</strong> que, naépoca de entressafra ou per<strong>da</strong> desafra, devido a contingênciasclimáticas, o benefício previdenciáriopode ser considerado comouma espécie de seguro agrícolagarantindo a ren<strong>da</strong> <strong>da</strong>s famíliasdos produtores rurais e, muitasvezes, servindo como uma fontede financiamento <strong>da</strong> própriaagricultura familiar. Refletemain<strong>da</strong> na melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>habitação rural, em aspectos comoconstrução de casas de alvenaria,abastecimento de água, instalaçõessanitárias, acesso a energiaelétrica e telefone (IPEA,1999)”.Outro aspecto relevante, destacadopor Evandro José Morello, éque a Previdência Social chega empraticamente todos os municípiosdo país e, em mais de 60% deles,os valores dos benefícios previdenciáriossuperam o valor repassadoao município a título de FPM – Fundode Participação do Município(SOLON,2000). São mais de 1,6bilhões de reais mensais pagos aostrabalhadores e trabalhadoras ruraisque são distribuídos em milharesde municípios.Cientes dessas mu<strong>da</strong>nças queimpulsionaram o desenvolvimentono interior brasileiro e que os tra-100 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


alhadores rurais não estavamtotalmente assegurados peloRegime Geral de PrevidênciaSocial - RGPS, a CONTAG iniciounovas articulações para garantira participação do trabalhadorrural no RGPS. De acordo coma legislação, o prazo para queos trabalhadores e trabalhadorasrurais permaneçam noRegime Geral <strong>da</strong> PrevidênciaSocial, tendo acesso aos benefíciosprevidenciários medianteapenas a comprovação do exercício<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de rural, vai atéo ano 2006 ou 2011 - há divergênciasna interpretação <strong>da</strong> Leisobre o prazo limite.A partir de 1996, a CONTAGpromoveu um amplo debate arespeito <strong>da</strong> contribuição dostrabalhadores e trabalhadorasrurais para a Previdência Social.Com base nessas discussões aCONTAG apresentou, em 2002,à Câmara dos Deputados, Projetode Lei nº 6548. Esse projetofoi respaldo por mais deuma milhão de assinaturas recolhi<strong>da</strong>sem todo o territórionacional sob a coordenação doMSTTR. Em sua essência, o Projetogarante a permanência dostrabalhadores e trabalhadorasrurais no regime geral <strong>da</strong>previdência social, inclusive,visando o período de transiçãoestabelecido na legislaçãoprevidenciária vigente, quevincula o direito de acesso aosbenefícios previdenciários novalor de um salário mínimo mediantea comprovação do exercício<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des rurais.Sustentabili<strong>da</strong>de:principal estratégia dodesenvolvimentoO debate sobre sustentabili<strong>da</strong>deé recente no MSTTR, duranteo processo de construção doProjeto Alternativo de DesenvolvimentoRural Sustentável – PADRS,em 1995, o tema entrou na agen<strong>da</strong>.O uso racional e adequado dosrecursos naturais, <strong>da</strong> necessáriademocratização <strong>da</strong> terra e <strong>da</strong> águae, <strong>da</strong> distribuição <strong>da</strong>s riquezasinternamente integrou os debatesdo movimento sindical.A <strong>Contag</strong> e as Federações participaramativamente dos eventosnacionais e internacionais sobremeio ambiente e sustentabili<strong>da</strong>de,com foco prioritário na soberaniae segurança alimentar, a exemplo<strong>da</strong> Agen<strong>da</strong> 21 e demais Fórunsespecíficos. Essas ações contribuírampara uma maior interaçãocom organizações governamentaise não governamentais e servirampara aperfeiçoar o debate sobresustentabili<strong>da</strong>de.A sustentabili<strong>da</strong>de para aCONTAG, constitui-se em elementoessencial na fun<strong>da</strong>mentaçãopara a crítica dos grandes projetosagropecuários, hidrelétricos, madeireiros,dentre outros, que sempretratam os recursos naturais,equivoca<strong>da</strong>mente, como infinitos.Para a CONTAG, a opção pelaReforma Agrária e AgriculturaFamiliar, reflete essa preocupaçãopor uma alternativa viável esustentável para a construção dodesenvolvimento rural. Contudo,se faz necessário que a agriculturafamiliar e a reforma agrária quepropomos, oriente suas formasprodutivas e organizativas demodo a incorporar os valoresambientais.Neste sentido, o PADRS definea agroecologia como estratégia aser adota<strong>da</strong> pela agricultura familiarconsoli<strong>da</strong><strong>da</strong> ou em processode consoli<strong>da</strong>ção, porque esse padrãoprodutivo, além de significarrentabili<strong>da</strong>de, incorpora valoresessenciais <strong>da</strong> sustentabili<strong>da</strong>de.O cui<strong>da</strong>do com os mananciais,a recomposição de matas ciliares,investimento em políticas desaneamento, dentre outras, sãomedi<strong>da</strong>s essenciais e urgentes. OMSTTR participa dos debates emFóruns específicos que discutema construção de uma legislaçãoampla sobre os valores <strong>da</strong> água esua dimensão como um direitohumano.A partir do congresso <strong>da</strong>CONTAG, em 2001, houve umsignificativo avanço nas reflexõese discussões em torno <strong>da</strong> questãoambiental. Como forma de viabilizara sustentabili<strong>da</strong>de do PADRS,o MSTTR tem buscado construirjunto à sua base uma consciênciaCONTAG <strong>40</strong> ANOS - 101


agroecológica, de preservação eequilíbrio dos ecossistemas.Nos últimos <strong>anos</strong>, a CONTAGvem desempenhando um papelimportante junto aos ambientalistas,setores do governo e doCongresso Nacional, especialmentequando faz contraponto àsposições conservadoras do setorpatronal <strong>da</strong> agricultura, quepretende se afirmar como o únicorepresentante do setor produtivono campo. Um dos momentos departicipação <strong>da</strong> CONTAG ocorreuA CONTAG atuou também naformulação <strong>da</strong> Resolução do CONAMAnº 289/01, que trata do licenciamentoambiental, para as áreas deassentamentos de reforma agrária,importante instrumento de gestãocriado pela política nacional do MeioAmbiente, de utilização compartilha<strong>da</strong>entre a União, os Estadose municípios, com o objetivo deregular as ativi<strong>da</strong>des e empreendimentosque utilizam os recursosnaturais e que podem causardegra<strong>da</strong>ção ambiental onde secem condições de produção emsistemas equilibrados e com reduzidosimpactos ambientais, sãodesenvolvi<strong>da</strong>s pelo MSTTR. Exemplo,é o “Programa de DesenvolvimentoSustentável <strong>da</strong> ProduçãoFamiliar Rural na Amazônia” -PROAMBIENTE, proposto pelasFETAGs <strong>da</strong> Amazônia Legal, juntamentecom várias organizaçõessociais e ambientais. Este programavaloriza o caráter multifuncionalde produção com conservaçãodo meio ambiente e“A CONTAG atuou na formulação... que trata dolicenciamento ambiental, para as áreas deassentamentos de reforma agrária...”durante o processo de elaboraçãoe negociação <strong>da</strong> proposta deatualização do Código Florestal.No Conselho Nacional do MeioAmbiente — CONAMA, a CONTAGdefende proposições que dêemtratamento equilibrado e adequadoàs necessi<strong>da</strong>des produtivas dostrabalhadores e trabalhadorasrurais. Nesse sentido, está formulandopropostas de Resolução paraagricultura familiar que estejaminstala<strong>da</strong>s em Áreas de PreservaçãoPermanente – APPs, previstasnas Resoluções 302 e 303do CONAMA. Essa medi<strong>da</strong> visasolucionar problemas ambientaisnas APPs, como forma de garantiro desenvolvimento <strong>da</strong> agriculturafamiliar e possibilitar a elevação<strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de produtiva de formasustentável.encontram instalados.Esse instrumento proporcionaganhos de quali<strong>da</strong>de ao meioambiente e à vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s famíliasassenta<strong>da</strong>s, numa melhor perspectivade desenvolvimento. Por pressãodo governo federal, na gestãodo Presidente Fernando HenriqueCardoso, a Resolução foi aprova<strong>da</strong>sob ressalvas dos movimentos sociaise enti<strong>da</strong>des ambientalistas,que consideravam que a mesmapoderia dificultar, ain<strong>da</strong> mais, aimplantação dos assentamentos,assim como não solucionaria asquestões ambientais. Essas previsõesse confirmaram e os órgãosgovernamentais tiveram dificul<strong>da</strong>desem implementá-la.Algumas alternativas viáveis einovadoras de desenvolvimentorural sócioambiental, que ofereoferecea oportuni<strong>da</strong>de de coberturados custos adicionais de manutençãoambiental e remuneraçãodos serviços ambientaisprestados à socie<strong>da</strong>de.Como forma de articular asexperiências positivas que afirmama agroecologia foi constituí<strong>da</strong>a Articulação Nacional pelaAgroecologia – ANA, que tem aparticipação <strong>da</strong> CONTAG e oobjetivo de facilitar processosorganizativos que permitam,desde a base até o nível nacional,a participação de todos os interessadosno avanço <strong>da</strong> agroecologiano Brasil. Espaços como esses têmsido importantes para se buscarconstruir a uni<strong>da</strong>de política nadiversi<strong>da</strong>de, reconhecendo e valorizandoas experiências concretase as dinâmicas regionais distintas.102 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


A CONTAG consoli<strong>da</strong> a Política Estratégicade Relações InternacionaisNos últimos <strong>anos</strong> a CONTAG deuum salto qualitativo nas relaçõesjunto a outras organizações nacionaise internacionais, resultandona ampliação de alianças estratégicas.As filiações à CUT e à UITAforam fun<strong>da</strong>mentais para ampliaras relações com outras organizaçõessindicais no nível nacional einternacional, levando para estas,a necessi<strong>da</strong>de de fortaleceremações em defesa <strong>da</strong> agriculturafamiliar e <strong>da</strong> melhoria <strong>da</strong>s condiçõesde vi<strong>da</strong> e trabalho dos assalariadose assalaria<strong>da</strong>s rurais.A CONTAG esteve presente emtodos os eventos internacionais decontraposição ao modelo neoliberal.Em Seattle, nos EstadosUnidos; em Johanesburg, na Áfricado Sul; em Yaoundé, no Camarões;em to<strong>da</strong>s as edições do FórumSocial Mundial, em Porto Alegre ena Índia, buscando construir estratégiascomuns em nível global.Buscando consoli<strong>da</strong>r essa PolíticaEstratégica, a CONTAG vem estabelecendorelações e parcerias comenti<strong>da</strong>des e organizações governamentaise não-governamentais, aexemplo <strong>da</strong> UITA, Oxfam, ActionAid,Ebert Stiftun, FAO, IICA, OIT,UNICEF, UNIFEM, FPH, Fredrich, den-tre outras, principalmente, nasações volta<strong>da</strong>s para as relações degênero, juventude, meio-ambiente,organização <strong>da</strong> produção, comérciojusto, agricultura sustentável.Essas ações, na perspectiva deconstrução <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de internacional,objetiva articular a luta políticaem defesa do desenvolvimentorural sustentável, <strong>da</strong> soberania e <strong>da</strong>segurança alimentar dos povos emdesenvolvimento. Mas também, atualizaro projeto político do MSTTR – oPADRS, enquanto uma contribuiçãodo MSTTR na elaboração de umanova estratégia de desenvolvimentoglobal para o campo e para a ci<strong>da</strong>de.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 103


CONTAG manteve a uni<strong>da</strong>de na adversi<strong>da</strong>deJosé Genoíno – Presidente do PTPrecisamos registrar na históriavitoriosa <strong>da</strong> CONTAG, como aenti<strong>da</strong>de que organizou e representouos trabalhadores assalariadosrurais e pequenos agricultoresao longo dos seus <strong>40</strong> <strong>anos</strong>.Entre as várias experiências de organizaçãocamponesa, a CONTAGse destaca e se consagra como amais permanente e consistente.Ao longo de sua história colocouna agen<strong>da</strong> do país a luta pelareforma agrária, por uma políticaagrícola que incorpore os pequenosproprietários de terra e a im-portância <strong>da</strong> agricultura familiar.Em um país com a nossa dimensãocontinental e a diversi<strong>da</strong>deregional, o papel de uma enti<strong>da</strong>decomo a CONTAG é sempre relevantepara <strong>da</strong>r a uni<strong>da</strong>de na adversi<strong>da</strong>de,como é a luta dos camponeses.Uma enti<strong>da</strong>de que ao longodesses <strong>anos</strong> se desenvolveu pelolado institucional e pelas grandesmobilizações de massa nas ruas. Poroutro lado, a CONTAG esteve presentenos principais acontecimentospolíticos <strong>da</strong>s últimas déca<strong>da</strong>s, nosmovimentos democráticos e naslutas mais gerais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.Contribuiu para a formação delideranças no campo, o que é fun<strong>da</strong>mentalpara o avanço <strong>da</strong> participaçãodos movimentos sociaisna luta por reformas e mu<strong>da</strong>nças.Portanto, a CONTAG conquistouum espaço institucional importantee organizou uma base socialampla no campo brasileiro.Na relação com os governosconseguiu administrar negociaçãocom pressão e contribui decisivamentepara construção de políticaspúblicas para área rural.A festa dos <strong>40</strong> <strong>anos</strong>Poucas enti<strong>da</strong>des sindicais de trabalhadorestiveram o orgulho de completar <strong>40</strong> <strong>anos</strong> deexistência. Coragem, persistência,obstinação, firmeza são algunsadjetivos que bem podem qualificaresses homens e mulheres que construírama história <strong>da</strong> CONTAG.São <strong>40</strong> <strong>anos</strong> de embates contraas forças mais reacionárias <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de brasileira e contra o Estadoque nunca prestou a esses trabalhadorese trabalhadoras as honras quemerecem e não lhe reconheceram, na justa medi<strong>da</strong>que fosse, seus direitos. Os momentos de alegrianão foram concessões e sim conquistas.Na festa de <strong>40</strong> <strong>anos</strong>, realiza<strong>da</strong> no mês de novembrode 2003, a Câmara dos Deputadosreconheceu o relevante papel desempenhadopela CONTAG e prestou umahomenagem singela, mas de especialsignificado, onde os matizes políticosconvergiram para exaltar a sua importânciapara to<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>debrasileira. Parlamentares comprometidoscom a Reforma Agrária e com amu<strong>da</strong>nça de rumos no modelo econômicoe nas políticas sociais que atingem de formavisceral o dia-a-dia do campo, não deixaram dedestacar em seus discursos o significado <strong>da</strong> organizaçãocomo ponto aglutinador dos ideais <strong>da</strong>queles104 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


que formam um dos maisaguerridos grupos sociais entretodos os componentes <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>nacionalNo clima de festa, realiza<strong>da</strong> noCESIR, a um só tempo aconteceua 1ª Plenária Nacional dosTrabalhadores e TrabalhadorasRurais, que finalizou com umagrande confraternização prestigia<strong>da</strong>por representantes dos maisdiversos segmentos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.Placas foram descerra<strong>da</strong>s emalusão aos <strong>40</strong> <strong>anos</strong> <strong>da</strong> CONTAG,marcando a trajetória de lutascontra o poder sem limites doregime militar e a ignorância quepontuava a vi<strong>da</strong> de uma populaçãoque, por pouco, não perdera suasreferências históricas e a noçãode seu valor como nação.A festa dos <strong>40</strong> <strong>anos</strong> reforçou aproposta do MSTTR: ator <strong>da</strong>construção <strong>da</strong> democracia, promotor<strong>da</strong> transparência interna edefensor do pluralismo social. Paraentender o ver<strong>da</strong>deiro significadodesta postura, basta ver as composiçõesde to<strong>da</strong>s as mesas queagora se formam a partir <strong>da</strong>scomemorações dos <strong>40</strong> <strong>anos</strong> e <strong>da</strong>realização <strong>da</strong> plenária. Nelas,sempre haverá representantes <strong>da</strong>scomissões de geração e gênero,como os idosos, jovens e mulheres- o que nem sempre foi possívelinserir na história <strong>da</strong>s instituiçõesde caráter sindical brasileiras.Muitos dos homenageadose homenagea<strong>da</strong>s ilustram as páginasdesta edição, aumentandoe justificando o valor <strong>da</strong> memóriacomo ferramenta <strong>da</strong>s lutas queestão por vir.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 105


Cronologia <strong>da</strong> luta1945 - Fim do Estado Novo – os movimentos sociaisno campo, retomam suas lutas.1950 - 1º Congresso Camponês de Pernambuco, inicio<strong>da</strong>s primeiras discussões sobre ReformaAgrária no Congresso Nacional.1951 - O governo do Paraná, sob pressão dos posseirosde Porecatu em armas desde 1950, declarapela 1ª vez no Brasil, que as terras em litígiopassariam a ser de utili<strong>da</strong>de pública, para finsde desapropriação.- 1º Congresso <strong>da</strong> Federação de Mulheres doBrasil, em S. Paulo. A enti<strong>da</strong>de atua nacionalmente,em especial na luta pela paz, até serfecha<strong>da</strong> pelo golpe de 64.1954 - A II Conferencia Nacional dos TrabalhadoresAgrícolas, cria a União dos Lavradores e TrabalhadoresAgrícolas do Brasil – ULTAB. Defendemo fim do latifúndio e <strong>da</strong>s formas feu<strong>da</strong>isde exploração do trabalho no campo.- Presidente Getulio Vargas se mata com tirode revólver no peito, no Catete, Rio.1955 - É cria<strong>da</strong> a 1ª Liga Camponesa em Pernambuco,no Engenho Galiléia, em Vitória de SantoAntão. Marco inicial <strong>da</strong> primeira grande on<strong>da</strong>de lutas pela reforma agrária no Brasil, até ogolpe militar de 64.- Fun<strong>da</strong>do o DIEESE (Departamento Intersindicalde Estatística e estudos Sócio-Econômicos).Terá destacado papel na contestação<strong>da</strong> política salarial durante a ditadura militare, nos <strong>anos</strong> seguintes, na denúncia do desempregoe suas causas..1960 - É criado, no Rio Grande do Sul, o Movimentodos Agricultores Saem Terra – MASTER.Inauguração de Brasília, tendo à época,aproxima<strong>da</strong>mente 141 mil habitantes.1961 - 1º Congresso Nacional dos Lavradores eTrabalhadores Agrícolas ou “Congresso de BeloHorizonte”, com cerca de 1.600 delegados.Jânio renuncia e, o Vice-presidente JoãoGoulart assume através <strong>da</strong> Emen<strong>da</strong> Constitucionalnº 4, com compromisso parlamentarista.1962 - Regulamentação <strong>da</strong> sindicalização detrabalhadores rurais.- Acontece o 1º Congresso de Trabalhadoresna Lavoura do Nordeste, em Itabuna, Bahia.Um marco na construção de uma identi<strong>da</strong>deregional e nacional, dos trabalhadores etrabalhadoras rurais.- Ocorre o 4º Congresso Sindical com 2.566delegados, é fun<strong>da</strong>do o Comando Geral dosTrabalhadores (CGT), posteriormente, foiesmaga<strong>da</strong> pelo Golpe Militar.Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dos Trabalhadoresna Agricultura do Estado de Pernambuco,06 de junho. Reconheci<strong>da</strong> pelo Ministériodo Trabalho no mesmo ano.- Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dosTrabalhadores na Agricultura do Estado do RioGrande do Norte, em 15 de junho. Reconheci<strong>da</strong>pelo Ministério do Trabalho em 14 de agostode 1963.- Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dos Trabalhadoresna Agricultura do Estado de Sergipe,em 18 de junho. Reconheci<strong>da</strong> pelo Ministériodo Trabalho em 18 de julho de 1963.- Fazendeiros man<strong>da</strong>m matar João Pedro Teixeira,presidente <strong>da</strong> Liga Camponesa de Sapê,Paraíba. Durante o enterro 5 mil pessoas compareceram.João Pedro foi imortalizado nofilme “Cabra marcado para morrer”.1963 - Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dos Trabalhadoresna Agricultura do Estado de SãoPaulo, em 29 de abril. Reconheci<strong>da</strong> pelo106 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


Ministério do Trabalho em 17 de setembro domesmo ano.- Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dos Trabalhadoresna Agricultura do Estado <strong>da</strong> Paraíba,em 19 de junho. Reconheci<strong>da</strong> pelo Ministériodo Trabalho em 26 de novembro do mesmo ano.- Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dos Trabalhadoresna Agricultura do Estado do Paraná,em 20 de julho. Reconheci<strong>da</strong> pelo Ministériodo Trabalho em 29 de julho de 1965.- Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dos Trabalhadoresna Agricultura do Estado <strong>da</strong> Bahia,em 01 de setembro. Reconheci<strong>da</strong> pelo Ministériodo Trabalho em 06 de agosto de 1965.- Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dos Trabalhadoresna Agricultura do Estado do Ceará,em 19 de setembro. Reconheci<strong>da</strong> pelo Ministériodo Trabalho em 18 de dezembro do mesmoano.- Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dosTrabalhadores na Agricultura do Estado do RioGrande do Sul, em 06 de outubro. Reconheci<strong>da</strong>pelo Ministério do Trabalho em 24 de agostode 1965.- Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dos Trabalhadoresna Agricultura do Estado de Alagoas,em 10 de dezembro. Reconheci<strong>da</strong> pelo Ministériodo Trabalho em 19 de março de 1964.- Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dos Trabalhadoresna Agricultura do Estado do Rio deJaneiro, em 1963. Reconheci<strong>da</strong> pelo Ministériodo Trabalho em 04 de maio de 1965.- Em plebiscito nacional, o povo diz não aoParlamentarismo no Brasil. João Goulartreassume os plenos poderes de Presidente <strong>da</strong>Republica.- 1ª Convenção Brasileira de Sindicatos Rurais,com <strong>40</strong>0 dirigentes sindicais, de 17 estados.Promulgado o Estatuto do Trabalhador Rural,através <strong>da</strong> Lei 4.214, de 02 de março.- Trabalhadores rurais assalariados nas Usinasde Barreiros, PE, seqüestram o delegado etrocam tiros com a polícia.- Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Confederação Nacional dosTrabalhadores na Agricultura – CONTAG, no Riode Janeiro, em 22 de dezembro. Reconheci<strong>da</strong>,por meio do Decreto Presidencial 53.517, dejaneiro de 1964.1964 - Comício <strong>da</strong> Central do Brasil pró-reformas debase reúne 300 mil pessoas. João Goulartanuncia a nacionalização <strong>da</strong>s refinarias depetróleo.- O Comando Geral dos Trabalhadores – CGT,anuncia uma Greve Geral pelas reformas debase.- Marcha <strong>da</strong> Família com Deus pela Liber<strong>da</strong>de,uma experiência conservadora de mobilizaçãode massas, coordena<strong>da</strong> pela direita brasileira.Consoli<strong>da</strong>va-se o ambiente para o Golpe Militarde 1964.- João Goulart é deposto pelos militares.- General Castelo Branco, assume a Presidência<strong>da</strong> República no período 1964 –1967.Cria o Conselho de Segurança Nacional – CSN,núcleo real <strong>da</strong> ditadura militar, extingue ospartidos políticos, cassa os man<strong>da</strong>tos legislativospor todo o país e intervem em to<strong>da</strong>s asorganizações democráticas – sindicatos,associações etc.- On<strong>da</strong> de prisões pelo país. Diretoria <strong>da</strong>CONTAG é destituí<strong>da</strong> e persegui<strong>da</strong>, seusprincipais dirigentes são presos e exilados,dentre esses, Lyndolpho Silva e José Pureza.O governo militar, por meio do Ministério doTrabalho, constitui uma Junta Governativapara administrar a CONTAG, encabeça<strong>da</strong> porJosé Rotta, dirigente sindical paulista.- O General-Presidente Castelo Branco promulgao Estatuto <strong>da</strong> Terra, Lei 4.504 de 30 denovembro, que previa a desapropriação deproprie<strong>da</strong>des que não cumprissem sua funçãosocial.1965 - Fun<strong>da</strong>do o MDB (Movimento DemocráticoBrasileiro, hoje PMDB), de oposição ao regimeditatorial de 1964.José Rotta, presidente <strong>da</strong> Junta Governativado Ministério do Trabalho, é eleito paraassumir a presidência <strong>da</strong> CONTAG.CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 107


Regulamentação <strong>da</strong> Sindicalização Rural, pormeio <strong>da</strong> Portaria Ministerial nº 71, de 02 defevereiro.1966 - Setores <strong>da</strong> Igreja Católica passam a ter umapresença maior no campo. Consoli<strong>da</strong>vam-seas Comuni<strong>da</strong>des Eclesiais de Base – CEBs,fun<strong>da</strong>mentais na formação de quadros paraas organizações populares e sindicais nocampo.1967 - Criação do Fundo de Assistência aoTrabalhador Rural – FUNRURAL, através doDecreto-Lei nº 276, de 28 de fevereiro.Realização do Encontro Nacional dosCanavieiros, em Carpina, Pernambuco, <strong>da</strong>ndoinicio aos primeiros passos para a retoma<strong>da</strong><strong>da</strong> CONTAG, <strong>da</strong> influencia do Ministério doTrabalho.Realização <strong>da</strong> 1ª Conferência Intersindical, noRio de Janeiro. Contando com a participaçãode dirigentes sindicais portuários,industriários, bancários e dirigentes sindicaisdo meio rural. Consoli<strong>da</strong>-se o apoio urbano aretoma<strong>da</strong> <strong>da</strong> CONTAG.General Costa e Silva, assume a Presidência<strong>da</strong> Republica, durante o período de 1967 a1969. Durante sua gestão, o povo viveu omomento mais duro e cruel <strong>da</strong> ditaduramilitar. As organizações estu<strong>da</strong>ntis foramdizima<strong>da</strong>s. 68 municípios foram impedidos deeleger prefeitos, sendo considerados deSegurança Nacional. O governo proíbe qualquermanifestação pública.Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dosTrabalhadores na Agricultura do Estado doEspírito Santo, em 20 de dezembro.Reconheci<strong>da</strong> pelo Ministério do Trabalho em11 de abril de 1968.1968 - Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dosTrabalhadores na Agricultura do Estado deMinas Gerais, em 27 de abril. Reconheci<strong>da</strong> peloMinistério do Trabalho em 03 de março de1969.Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dosTrabalhadores na Agricultura do Estado deSanta Catarina, em 02 de julho. Reconheci<strong>da</strong>pelo Ministério do Trabalho em 07 de janeirode 1969.Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dosTrabalhadores na Agricultura do Estado do Pará,em 30 de dezembro. Reconheci<strong>da</strong> peloMinistério do Trabalho em 28 de janeiro de1969.Cerca de 10 mil canavieiros entram em Greve,na ci<strong>da</strong>de pernambucana do Cabo.José Francisco, apoiado por setoresprogressistas do sindicalismo rural e urbano,derrota José Rotta, por 01 voto de diferença,tornando-se Presidente <strong>da</strong> CONTAG.1969 - General Garrastazu Médici, assume aPresidência <strong>da</strong> Republica, durante o períodode 1969 a 1974. Durante sua gestão, foiaprovado o decreto-lei <strong>da</strong> censura prévia emlivros e periódicos. Apesar <strong>da</strong>s denunciasinternacionais sobre a tortura de presospolíticos no Brasil, manteve-se a forma brutalde governar e eliminar quem discor<strong>da</strong>sse. OPresidente, declara no Rio Grande do Sul que“o homem não foi feito para a democracia”.Realização do IV Congresso Estadual de JovensRurais no Rio Grande do Sul, coordenados pelaFrente Agrária Gaúcha e pela FederaçãoEstadual dos Trabalhadores na Agricultura –FETAG/RS.Realização do III Encontro <strong>da</strong>s Federações doNordeste, no Rio Grande do Norte.1970 - Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dosTrabalhadores na Agricultura do Estado deAlagoas, em 28 de outubro. Reconheci<strong>da</strong> peloMinistério do Trabalho em 30 de novembro domesmo ano.Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dosTrabalhadores na Agricultura do Estado doPiauí, em 19 de dezembro. Reconheci<strong>da</strong> peloMinistério do Trabalho em 22 de novembro de1971.- Criação do Programa Nacional do Álcool –PROALCOOL, que só veio a ser implementadoem 1975, como alternativa ao setor automo-108 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


ilístico, diante <strong>da</strong> crise do petróleo.- Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dos Trabalhadoresna Agricultura do Estado de Goiás,em 28 de outubro.1971- Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dosTrabalhadores na Agricultura do Estado do MatoGrosso, em 23 de outubro. Reconheci<strong>da</strong> peloMinistério do Trabalho em 1972.- Criação do Programa de Assistência aoTrabalhador Rural – Prorural. Através <strong>da</strong> LeiComplementar nº 11 de 25/05/1971- Governo Militar lança o Programa deRedistribuição de Terras – PROTERRA, atravésdo Decreto-Lei nº 1.179 de 06 de julho.- 4ª eleição <strong>da</strong> CONTAG, sendo reeleito JoséFrancisco, para a presidência <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de.1972 - Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dosTrabalhadores na Agricultura do Estado doMaranhão, em 02 de abril.- Mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> sede <strong>da</strong> CONTAG do Rio deJaneiro, para Brasília.- Começou a funcionar provisoriamente emTaguatinga, o Centro de Estudos SindicaisRurais – CESIR, <strong>da</strong> CONTAG.1973 - Realização do 2º Congresso <strong>da</strong> CONTAG, emBrasília, com mais de 700 delegados.1974 - 5ª eleição <strong>da</strong> CONTAG, José Francisco foireeleito para a presidência <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de.- General Ernesto Geisel, assumiu aPresidência <strong>da</strong> Republica, durante o períodode 1974 – 1979. Durante sua gestão, os crimespraticados contra militantes de esquer<strong>da</strong>foram ampliados com requintes de cruel<strong>da</strong>de,a exemplo do jornalista Vladimir Herzog.Impõe a socie<strong>da</strong>de, a eleição indireta paragovernadores e cria a figura dos senadoresbiônicos, como forma de garantir controlepolítico.1975 - Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dos Trabalhadoresna Agricultura do Estado do Amazonas,em 14 de dezembro. Reconheci<strong>da</strong> peloMinistério do Trabalho em 29 de maio de 1976.- A Igreja Católica cria a Comissão Pastoral <strong>da</strong>Terra – CPT, a luta contra o latifúndio e pordemocracia no campo se fortalece.1976 - Juscelino Kubitschek morre em acidente decarro na via Dutra.- Morre do coração, na Argentina, o ex-PresidenteJoão Goulart.1977 - Assassinato de Eugênio Lira, advogado dostrabalhadores rurais <strong>da</strong> Bahia.- 6ª eleição <strong>da</strong> CONTAG, com a reeleição deJosé Francisco a presidência <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de.Inaugura<strong>da</strong> a sede própria do Centro de EstudoSindical Rural – CESIR, no Núcleo Bandeirante– DF. Construí<strong>da</strong> com recursos próprios, semnenhuma doação do Estado ou de organizaçõesinternacionais.1979 - Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dos Trabalhadoresna Agricultura do Estado do MatoGrosso do Sul, em 29 de fevereiro. Reconheci<strong>da</strong>pelo Ministério do Trabalho em 23 de maiodo mesmo ano.- Os trabalhadores rurais, legalmente, passama ter direito ao FGTS.- A Campanha por Anistia Ampla, Geral eIrrestrita, ganha as ruas do país.- Começa mobilização <strong>da</strong> 1ª greve doscanavieiros de Pernambuco após 11 <strong>anos</strong>.- Realização do 3º Congresso Nacional dosTrabalhadores Rurais – CNTR, em Brasília, comcerca de 1.500 delegados (as).- O Congresso Nacional aprova o fim dobiparti<strong>da</strong>rismo (ARENA– MDB).General João Baptista Figueiredo, assumiu aPresidência a Republica durante o período de1979 – 1985. Sua gestão foi marca<strong>da</strong> pelamilitarização dos conflitos agrários. Criou oMinistério Extraordinário para AssuntosFundiários – MEAF, cuja direção coube aoGeneral Danilo Venturini. Criou o Grupoexecutivo de Terras do Araguaia -Tocantins –GETAT, também sob controle militar.1980 - Mil pessoas, entre sindicalistas, intelectuais,líderes rurais e religiosas, aprovam no colégioSION, em São Paulo, manifesto de fun<strong>da</strong>çãodo PT.Realização <strong>da</strong> Semana Sindical (25 de abril aCONTAG <strong>40</strong> ANOS - 109


1º de maio), coordenado pelas Federações eSindicatos.Greves em Minas Gerais e no Nordeste,mobilizam mais 250 mil trabalhadores ruraisassalariados.José Francisco, presidente <strong>da</strong> CONTAG; ChicoMendes, dirigente sindical rural do Acre; LuisInácio <strong>da</strong> Silva, presidente do PT, Jacó Bittar,dentre outros sindicalistas e militantes deesquer<strong>da</strong>, foram processados pela Lei deSegurança Nacional, por participarem de atocontra a morte violente de Wilson SouzaPinheiro.7ª eleição <strong>da</strong> CONTAG, com a reeleição de JoséFrancisco a presidência <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de.1981 - 1ª Conferencia Nacional <strong>da</strong> ClasseTrabalhadora – CONCLAT, de 21 a 23 de agosto,em Praia Grande, São Paulo. Reuniu 5.030delegados de 1.126 enti<strong>da</strong>des.1º de outubro, foi o Dia Nacional de Luta,convocado pela Comissão Nacional Pró-CUT.Foi entregue ao Governo Militar, um manifestoexigindo o fim do desemprego, <strong>da</strong> carestia,contra a redução de benefícios <strong>da</strong> previdênciasocial, pela reforma agrária, direito amoradia, liber<strong>da</strong>de e autonomia sindical e, porliber<strong>da</strong>des democráticas.CONTAG lançou livro sobre “As LutasCamponesas no Brasil”, pela Editora MarcoZero.1982 - Encontro Nacional de Avaliação do MSTTR,com a presença de dirigentes <strong>da</strong> CONTAG ede to<strong>da</strong>s as Federações.CONTAG realizou o 3º Encontro Interestadualde Política Agrícola – Federações do RS, SC,PR, SP, ES e MS.A sede <strong>da</strong> CONTAG volta a funcionar naAveni<strong>da</strong> W-3 Norte, Quadra 509-B, EdifícioCONTAG, Brasília – DF.CONTAG realizou o 3º Encontro Nacional sobreConflito de Terras, em Brasília.1983 - Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação dos Trabalhadores naAgricultura do Estado do Acre, em 07 deagosto. Reconheci<strong>da</strong> pelo Ministério doTrabalho em 28 de outubro de 1984.Congresso de fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Central Única dosTrabalhadores (CUT), em São Bernardo, SãoPaulo. Jair Meneguelli é eleito o primeiropresidente – fica no cargo até 1994.Congresso Nacional <strong>da</strong> Classe Trabalhadora,em Praia Grande. É criado o Conselho Sindicalpara gerir as políticas intercategorias. Omovimento sindical brasileiro estava divididoem duas organizações sindicais nacionais.Pistoleiros matam a tiros, na porta de suacasa, Margari<strong>da</strong> Maria Alves, presidente doSTR de Alagoa Grande, na Paraíba.1º comício pró-diretas, reuniu 10 mil pessoasno Pacaembu, em São Paulo.8ª eleição <strong>da</strong> CONTAG, com a reeleição de JoséFrancisco a presidência <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de.A FASE lança o vídeo, “Cabra marcado paramorrer”, baseado na historia de João PedroTeixeira, líder <strong>da</strong> Liga Camponesa de Sapé,na Paraíba. Com direção do cineasta EduardoCoutinho.10º Encontro do Vale do São Francisco reforçaa luta dos trabalhadores rurais de Itaparica.1984 - Encontro nacional de Trabalhadores Sem Terra,religiosos, militantes de esquer<strong>da</strong> e ONG’s,de 4 dias em Cascavel no Paraná, fun<strong>da</strong>m oMST (Movimento dos Trabalhadores RuraisSem-Terra).Plenária Nacional <strong>da</strong> CUT, em 18 de maio, emSão Paulo.1º Congresso Nacional <strong>da</strong> CUT, de 24 a 26 deagosto, em São Bernardo do Campo, São Paulo.Com 5.222 delegados (as), foi eleita a direçãonacional, tendo como presidente, ometalúrgico Jair Meneguelli.Apesar <strong>da</strong>s mais de 8 milhões pessoas nas ruasem 100 dias, a emen<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Diretas não foiaprova<strong>da</strong> na Câmara Federal. Foram 298 votosa favor, 65 votos contra e, 112 ausências.Foram 22 votos a menos que os 2/3 exigidos.Salário mínimo passa a ser unificado em todoo território nacional.1985 - Tancredo Neves morre após ser eleito para110 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


Presidência <strong>da</strong> Republica durante o período de1985 a 1990. Seu vice-Presidente José Sarney,assume a Presidência.- 2 pistoleiros matam com 12 tiros, o dirigentesindical João Canuto de Oliveira. A última frasedo líder sindical: “Morro, mas fica a semente”.Realização do 4º Congresso <strong>da</strong> CONTAG, emBrasília. O Presidente José Sarney, participa<strong>da</strong> abertura do congresso.- Governo Federal cria o 1º Plano Nacional <strong>da</strong>Reforma Agraria – PNRA, que passa a serobjeto de criticas e ataques de setoresconservadores no Congresso Nacional- 1ª eleição em congresso <strong>da</strong> historia <strong>da</strong>CONTAG, em Brasília. José Francisco foireeleito para a presidência <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de.1986 - 2º Congresso Nacional <strong>da</strong> CUT, no Rio deJaneiro, de 01 a 03 de agosto. O metalúrgicoJair Meneguelli foi reeleito a presidência <strong>da</strong>central.1987 - Surge a União Democrática Ruralista – UDR,organização liga<strong>da</strong> a CNA e a Socie<strong>da</strong>de RuralBrasileira. Passa a estimular seus associados,a usar a força <strong>da</strong>s armas no combate àsocupações de terra.- Paulo Fonteles, advogado dos posseiros dosul no Pará, é morto por um pistoleiro com 5tiros na cabeça.- É constituí<strong>da</strong> a Comissão Nacional deMulheres Trabalhadoras Rurais – CNMTR.Greve Geral em 20 de agosto, convoca<strong>da</strong> pelaCUT e CGT.1988 - 3º Congresso Nacional <strong>da</strong> CUT, de 07 a 11 desetembro, em Belo Horizonte. O metalúrgicoJair Mneguelli foi reeleito a presidência <strong>da</strong>central.- Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dosTrabalhadores na Agricultura do Tocantins, em27 de novembro.- Sarney lança o Plano Verão, a moe<strong>da</strong> passa aser o Cruzado Novo (Ncz$).- Assassinado por Grileiros, o sindicalistaacreano, ambientalista e personali<strong>da</strong>demundial, Chico Mendes.- I Seminário Nacional de Trabalhadoras Rural,coordenado pela CONTAG.- A Constituição Federal é promulga<strong>da</strong>,batiza<strong>da</strong> como constituição Ci<strong>da</strong>dã.1989 - 1ª eleição presidencial após 29 <strong>anos</strong>. Vitóriade Fernando Collor, em segundo turno.- Greve Geral de 14 a 15 de março. A CUT e aCGT, se uniu para a realização desta grevecontra o “Plano Verão”. Cerca de 35 milhõesde trabalhadores (as) aderiram a greve.- A eleição <strong>da</strong> CONTAG não ocorreu emcongresso, conforme deliberação do 4ºcongresso nacional. Foram coloca<strong>da</strong>s urnas nasFederações, cabendo um voto por Sindicatofiliado. Foi eleito Aloísio Carneiro para apresidência <strong>da</strong> CONTAG.- II Seminário Nacional de Trabalhadoras Rural,coordenado pela CONTAG.1991 - Zélia Cardoso lança o Plano Collor 2, comferiado bancário, congelamento de preços.Realização do 5º Congresso <strong>da</strong> CONTAG, , commais de 2 mil delegados (as) de todo o país.Realizava assim, o primeiro congresso emBrasília temático e eleitoral <strong>da</strong> historia doMSTTR.- 4º Congresso Nacional <strong>da</strong> CUT, de 04 a 08 desetembro, em São Paulo, o metalúrgico JairMneguelli foi reeleito a presidência <strong>da</strong> central.1º congresso <strong>da</strong> Força Sindical, em São Paulo.Prega um “capitalismo moderno”, privatizantee competitivo..1992 - O Congresso Nacional, sob forte pressãopopular, instaura a CPI para apurar denúnciascontra Fernando Collor.- Começa no Rio a Eco-92, conferência <strong>da</strong> ONUsobre ecologia, com 114 chefes de estado e<strong>40</strong> mil ecologistas de todo o mundo.- O impeachment: foi aprovado por 441 votosa favor e 38 contra. Collor teve seus direitospolíticos suspensos por oito <strong>anos</strong>.- O vice-presidente Itamar Franco, assume aPresidência <strong>da</strong> Republica.- III Seminário Nacional de TrabalhadorasRurais, pressão no Congresso Nacional,CONTAG <strong>40</strong> ANOS - 111


garantiu a regulamentação <strong>da</strong>s conquistas <strong>da</strong>strabalhadoras rurais.- Jorna<strong>da</strong> de Lutas dos Trabalhadores Rurais,de abril a julho, promovi<strong>da</strong> pela CONTAG, CUT,MST, CPT e outras enti<strong>da</strong>des. Reivindicavamterra para plantar e morar, credito rural subsidiado,salário digno, previdência garanti<strong>da</strong> aostrabalhadores rurais, dentre outras.1993 - Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dosTrabalhadores na Agricultura de Rondônia, em20 de junho.- CONTAG assina convenio com o Banco doBrasil, permitindo a cobrança <strong>da</strong> ContribuiçãoConfederativa em todos os municípios do país.Congresso Nacional aprovou a Lei Agrária e oRito Sumário <strong>da</strong> desapropriação para fins dereforma agrária.- CONTAG em convenio com a OrganizaçãoInternacional do Trabalho – OIT, começou adesenvolver o Programa: Erradicação do TrabalhoInfantil.- O Nordeste enfrentou a pior seca do século,mais de 12 milhões de famílias foram atingi<strong>da</strong>s.- A Câmara dos Deputados aprovou o Projetode lei que institui o pagamento do saláriomaterni<strong>da</strong>de para as segura<strong>da</strong>s especiais.1994 - Entra em cena o Plano Real (o 6º planoeconômico, em 8 <strong>anos</strong>). Um indexador, aUni<strong>da</strong>de de Real de Valor – URV, instituí<strong>da</strong> pelaLei 8880 de 27 de maio de 1994, antecedeu anova moe<strong>da</strong>. Em 01 de Julho nascia o Real.5º Congresso Nacional <strong>da</strong> CUT, em São Paulo.O metalúrgico Vicentinho foi eleito presidente<strong>da</strong> central.- 1º Congresso Nacional Extraordinário <strong>da</strong>CONTAG, em Brasilia.- Festa de comemoração dos 30 <strong>anos</strong> <strong>da</strong>CONTAG, em Brasília.- A CONTAG realiza o 1º Grito <strong>da</strong> Terra Brasil –GTB. Em parceria com a CUT, MST, MAB, CNS,MONAPE e CAPOIB.- O candi<strong>da</strong>to a Presidência <strong>da</strong> Republica LuisInácio Lula <strong>da</strong> Silva, visitou a CONTAG e recebeapoio de maioria <strong>da</strong>s Federações.- Assinado o convênio <strong>da</strong> CONTAG com o INSS,os sócios (as) aposentados ou pensionistas,podem pagar suas mensali<strong>da</strong>des através dedesconto em folha de pagamento.1995 - Fernando Henrique Cardoso assume aPresidência <strong>da</strong> Republica.- Realização do 6º CNTR, em Brasília, com maisde 2 mil delegados.- O Conselho Monetário Nacional – CMN,aprovou no dia 23 de agosto, a resolução nº2.191, que institui o Programa Nacional de Fortalecimento<strong>da</strong> Agricultura Familiar – PRONAF.- Criação do banco de tecnologias do MSTTR,o Banco Nacional <strong>da</strong> Agricultura Familiar –BNAF, a partir de convenio entre a CONTAG ea EMBRAPA.- Criação do Fórum pela Reforma Agrária eJustiça no Campo, envolvendo organizaçõessociais e sindicais que atuam no campo,Partidos Políticos e, organizações governamentaisliga<strong>da</strong>s aos direitos hum<strong>anos</strong>.- Descoberto aparelho de espionagem dentrode toma<strong>da</strong> elétrica no CESIR, em Brasília.A CONTAG e a CUT, realizaram o I EncontroNacional de Meninos e Meninas TrabalhadorasRurais, em Brasília.- Chacina em Corumbiara, Rondônia. PoliciaisMilitares a serviço do latifúndio, executaramcom tiros pelas costas, sete trabalhadoresrurais, inclusive uma criança de 07 <strong>anos</strong>.- CONTAG e FASER, promoveram em Brasília,no CESIR, o Seminário Nacional “AgriculturaFamiliar e a Extensão Rural”.- Morre Florestan Fernandes, pioneiro <strong>da</strong>sociologia crítica no país.1996 - No Pará, no município de Eldorado dos Carajás,a Policia Militar assassinou 19 trabalhadoressem-terra que bloqueavam a Rodovia PA-150.No 4º Grito <strong>da</strong> Terra Brasil – GTB, coordenadopela CONTAG, em parceria com a CUT eorganizações sociais, mobilizaram mais de 100mil trabalhadores e trabalhadoras rurais emtodo o país.112 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS


- Eleita Margari<strong>da</strong> Pereira <strong>da</strong> Silva, a Hil<strong>da</strong> dePernambuco, para um man<strong>da</strong>to de três <strong>anos</strong> àfrente <strong>da</strong> Coordenação <strong>da</strong> CNMTR <strong>da</strong> CONTAG.A CNMTR desencadeou uma serie de eventossobre o papel <strong>da</strong>s mulheres nas eleiçõespartidárias e, nos Congressos <strong>da</strong>s Federaçõese <strong>da</strong> CONTAG.- A CONTAG, Federação do Rio Grande do Nortee ASSOCENE, promoveram o I Salão Nordestino<strong>da</strong> Agricultura Familiar, em Natal-RN.- Lei 9.126, regulamenta a aplicação dosFundos Constitucionais para o creditoagrícola, com juros e condições de pagamentodiferenciado para a agricultura familiar.- 3º Seminário de Avaliação e Planejamentodo Sistema CONTAG de Comunicação, noCESIR, em Brasília.- II Encontro Nacional de Meninos e MeninasTrabalhadoras Rurais, coordenado pelaCONTAG, contou com a presença de Lula,presidente de honra do PT.- Realização de 05 Seminários Regionais deDesenvolvimento Alternativo, identificandorecortes regionais do desenvolvimento,começava a ganhar forma o PADRS.- Começa a implementação do Projeto CUT/CONTAG de Pesquisa e Formação Sindical,importante instrumento na construção doPADRS.- Estréia o voto eletrônico, para prefeito de57 ci<strong>da</strong>des.1997 - Edição do Decreto 2.250, que delibera queterras ocupa<strong>da</strong>s, não poderão ser objeto devistoria.- Programa de radio “A VOZ DA CONTAG”, foium dos ganhadores do Premio Vladimir Herzogde Anistia e Direitos Hum<strong>anos</strong>.- 3º Encontro de Meninos e Meninas TrabalhadorasRurais, em Brasília, coordenado pelaCONTAG.- 6º Congresso Nacional <strong>da</strong> CUT, de 13 a 17 deagosto, em São Paulo. Os 2.266 delegados (as)reelegeram o metalúrgico Vicentinho para apresidência <strong>da</strong> CUT.- Começa a implementação do Programa deDesenvolvimento Local Sustentável – PDLS, emtodos os municípios do país, coordenadonacionalmente pela CONTAG.- Começa a implementação do projeto “Educaçãoem Saúde Reprodutiva, Gênero e Família”,nos estados do Rio Grande do Norte, Cearáe Pernambuco, coordenado pela CONTAG.- Realização <strong>da</strong> 1ª Plenária Nacional <strong>da</strong>sMulheres Trabalhadoras Rurais, com 300participantes.- Morre Paulo Freire, educador pernambucano,com 76 <strong>anos</strong>.- Morre Herbert de Sousa, o Betinho, com 62<strong>anos</strong>, de Aids, no Rio de Janeiro.- Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Social-Democracia Sindical – SDS.1998 - Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dosTrabalhadores na Agricultura do Distrito Federale Entorno, em 28 de junho.Realização do 7º CNTTR, em Brasília, contandocom mais de 1<strong>40</strong>0 delegados,.1999 - Fernando Henrique Cardoso assume o 2ºman<strong>da</strong>to presidencial.- I Fórum CONTAG de Cooperação Técnica, emBrasília/DF, em agosto, sobre DesenvolvimentoRural Sustentável.- 2º Congresso Nacional Extraordinário <strong>da</strong>CONTAG, em Brasília, contando com mais de600 delegados (as).- O programa de rádio “A VOZ DA CONTAG”,ganha premio por sua luta em defesa dosdireitos <strong>da</strong> criança, concedido pelo InstitutoAirton Sena.- Seminário Nacional de Educação do Campo –Construindo o PADRS, em Brasília, com aparticipação de to<strong>da</strong>s as Federações.- Dia Nacional de Protestos e Paralisação derodovias, contra o modelo de reforma agráriaimplementado pelo governo, sob a coordenação<strong>da</strong> CONTAG e FETAGs.- 1º Encontro Nacional <strong>da</strong> JuventudeTrabalhadora Rural, em Brasília, coordenadopela CONTAG.- 1º Encontro Nacional de Trabalhadores eCONTAG <strong>40</strong> ANOS - 113


Trabalhadoras Rurais Aposentados e Aposenta<strong>da</strong>s,em Brasília, coordenado pela CONTAG.- CONTAG e Federações lançam o ProjetoAlternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável– PADRS, em São Paulo, junto à socie<strong>da</strong>decivil.- Morre Francisco Julião, líder <strong>da</strong>s LigasCamponesas nos <strong>anos</strong> 50-60.- Realização do II Fórum CONTAG de CooperaçãoTécnica, em dezembro, em São Luis. SobreProcessos de Organização de Base, Educação,Gestão Participativa e Políticas Publicas.Século 212000 - Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dos Trabalhadoresna Agricultura de Roraima, em 02de setembro.- Marcha Mundial <strong>da</strong>s Mulheres, contra aviolência e a pobreza, em 130 países.- III Fórum CONTAG de Cooperação Técnica,realizado em Porto Alegre/RS, em Julho, sobreInstrumentos de Gestão Participativa, Sistemasde Gestão para Sustentabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>Agricultura Familiar e Estratégias de Gestãopara a Inserção <strong>da</strong> Agricultura Familiar noMERCOSUL.- Marcha <strong>da</strong>s Margari<strong>da</strong>s – 200 razões paraMarchar. Maior manifestação de mulheres jáocorri<strong>da</strong>s no Brasil, aproxima<strong>da</strong>mente 10 milmulheres marcharam em Brasília, reivindicandocredito, terra, saúde, educação e inclusãosocial, coordena<strong>da</strong> pela CONTAG e enti<strong>da</strong>desparceiras.- 7º Congresso Nacional <strong>da</strong> CUT, de 15 a 19 deagosto, em Serra Negra – SP. Os 2.309delegados (as) elegeram o professor JoãoAntonio Felício, para a Presidência <strong>da</strong> CUT.- IV Fórum CONTAG de Cooperação Técnica,realizado em Recife/PE, em novembro, sobrea importância estratégica <strong>da</strong> Educação doCampo para o Desenvolvimento RuralSustentável.- Criação do Ministério do DesenvolvimentoAgrário – MDA, reivindicação histórica doMSTTR.2001 - Realização do 8º CNTTR, em Brasília, commais de 2 mil delegados e delega<strong>da</strong>s.Atentados terroristas destroem as torresgêmeas do World Trade Center, em Nova York,e parte do Pentágono, em Washington,deixando 3.300 mortos.- Os Estados Unidos iniciam bombardeio aoAfeganistão. Segundo o governo norte-americano,o governo afegão estaria protegendoOsama Bin Laden, principal acusado peloatentado terrorista.2002 - Falece o sindicalista baiano e, ex-Presidente<strong>da</strong> CONTAG, Aloísio Carneiro.- O Conselho Nacional de Educação aprova as“Diretrizes Operacionais de Educação Básicapara as Escolas do Campo”, por meio <strong>da</strong>resolução nº 01, de 03/04/2002. Resultado <strong>da</strong>construção coletiva e pressão <strong>da</strong> CONTAG eorganizações parceiras.- Conselho Deliberativo <strong>da</strong> CONTAG aprovaapoio a eleição de Luis Inácio Lula <strong>da</strong> Silva àPresidência <strong>da</strong> Republica2003 - Luis Inácio LULA <strong>da</strong> Silva assume a Presidência<strong>da</strong> Republica.- Marcha <strong>da</strong>s Margari<strong>da</strong>s – 2003 Razões paraMarchar. Mais de <strong>40</strong> mil mulheres estiveramem Brasília, na segun<strong>da</strong> versão <strong>da</strong> maior manifestaçãode mulheres <strong>da</strong> historia desse país.- 8º Congresso Nacional <strong>da</strong> CUT, de 03 a 07 dejunho, em São Paulo. Com a presença de 2.712delegados (as). Foi eleito para a presidência<strong>da</strong> central, o metalúrgico Luis Marinho.- Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Federação Estadual dos Trabalhadoresna Agricultura do Amapá, em 26de outubro.- Realização <strong>da</strong> 1ª PNTTR, de avaliação ecorreção de rumos do MSTTR a partir <strong>da</strong>sdeliberações do 8º Congresso <strong>da</strong> CONTAG,contando com a participação de mais de 600delegados (as).114 - CONTAG <strong>40</strong> ANOS

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