Toxicomania: usos e abusos do corpo
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4Desse mo<strong>do</strong>, o sujeito se aproxima das drogas buscan<strong>do</strong> o prazer imediato,automático, diferente <strong>do</strong>s outros prazeres. E quanto mais experimenta esse prazer imediato,mais difícil é viver os outros, já que o prazer da droga tende a substituir os outros prazeres,colocan<strong>do</strong> o usuário cada vez mais centra<strong>do</strong> na sua relação com as drogas e diminuin<strong>do</strong> to<strong>do</strong>sos outros interesses e prazeres. É um prazer excludente (Idem, p. 40).O toxicômano estabelece com a droga uma relação que se baseia na repetição, na quala droga ocupa um lugar central na economia psíquica <strong>do</strong> sujeito.Batista e Vasconcelos (2001) em “O mal estar na espontaneidade”, enfatizam oinvestimento libidinal significativo <strong>do</strong> sujeito na droga, ressaltan<strong>do</strong> que “sua vida se desenrolaem torno desse objeto, há to<strong>do</strong> um empenho para obtê-lo e o interesse <strong>do</strong> sujeito ficatotalmente localiza<strong>do</strong> na droga. Ela lhe proporciona prazer e nela o sujeito encontra umaforma particular de extrair um gozo” (p. 29).O toxicômano não suporta qualquer coisa que barre seu gozo, não tolera a frustração,suprimin<strong>do</strong>-a pelo objeto droga e, a partir de então, encontran<strong>do</strong> uma solução para suaangústia diante <strong>do</strong> desejo <strong>do</strong> Outro. O gozo <strong>do</strong> toxicômano não recorre à fantasia, não temmediação, ou seja, não passa pelo Outro – o gozo não é barra<strong>do</strong>. Será para além deste gozoque a intervenção <strong>do</strong> analista possibilitará o aparecimento <strong>do</strong> sintoma inerente ao sujeito <strong>do</strong>inconsciente, em sua dimensão de enigma, para assim ocorrer o esvaziamento <strong>do</strong> significantedroga com o qual se nomeia (Olivieri, 1998, p. 175).Especifican<strong>do</strong> o gozo <strong>do</strong> toxicômano, Lecoeur (1982) diz que a satisfação <strong>do</strong> sujeitocom a droga se apresenta na forma de um gozo fabrica<strong>do</strong>, sem adiamento, monótono. Umgozo que tenta romper com o gozo fálico, promoven<strong>do</strong> o seu retorno sobre o próprio <strong>corpo</strong> <strong>do</strong>sujeito. O que o sujeito tenta não é encontrar algo que substitua o objeto sexual a partir dasdrogas, mas sim provocar um curto circuito nesse gozo, dito fálico, por não ser capaz de lidarcom a sua angústia estrutural.Ao fazer o curto circuito <strong>do</strong> simbólico pelo uso da droga, o sujeito na verdade não abremão <strong>do</strong> Outro, não se responsabiliza, não responde por sua vida. “O sujeito aloja-se nosignificante que o Outro social lhe fornece e atribui ao Outro <strong>do</strong> acaso a responsabilidade dedecidir a partida” (Ribeiro, 1998, p. 124).Batista e Vasconcelos (2001) observam que a toxicomania não faz enigma, não fazsintoma para o sujeito e sim o esconde dele, tamponan<strong>do</strong> a angústia de castração. “Entretantoeste mecanismo tampona<strong>do</strong>r começa a falhar e o toxicômano é captura<strong>do</strong> por esse objetodroga” (p. 29).