11.07.2015 Views

Roberto Carlos no altar de Nelson Leirner - ArtCultura

Roberto Carlos no altar de Nelson Leirner - ArtCultura

Roberto Carlos no altar de Nelson Leirner - ArtCultura

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

36Cf. ANJOS, op cit., p.86.37ARAÚJO, Paulo Cesar <strong>de</strong>.<strong>Roberto</strong> <strong>Carlos</strong> em <strong>de</strong>talhes. SãoPaulo: Planeta, 2006, p. 445e 446.38KALILI, Narciso. “Vejamquem chegou <strong>de</strong> repente”.Revista Realida<strong>de</strong>. n.º 02. SãoPaulo: Editoria Abril, maio<strong>de</strong> 1966.39FREIRE, <strong>Roberto</strong> e BESTER,Roger. “Este homem procuraum caminho”. Revista Realida<strong>de</strong>.nº 32, São Paulo: EditoraAbril, <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1968.posteriores — pelo me<strong>no</strong>s em obras que tenham entrado para as listasobrigatórias quando o assunto é sua trajetória poética. Ele pareceu maispreocupado em aproximar-se dos ícones religiosos — outras santida<strong>de</strong>scatólicas, cenas votivas do câ<strong>no</strong>ne cristão, <strong>de</strong>ida<strong>de</strong>s afro-brasileiras e seresda mítica popular — que <strong>de</strong> <strong>no</strong>mes da indústria cultural. Essa predileçãoposterior, mesmo que num exercício anacrônico, porém irresistível, colocadúvidas sobre uma possível crítica direta a <strong>Roberto</strong> <strong>Carlos</strong>. O cantor —como os <strong>de</strong>mais — é antes um símbolo da mídia, compreendida comoinstituição por <strong>Leirner</strong>.Ao mesmo tempo, como “<strong>de</strong>sclassificador” <strong>Leirner</strong> nega uma leiturapuramente “religiosa” <strong>de</strong> suas obras. Teme as leituras reducionistas <strong>de</strong>qualquer aspecto <strong>de</strong> sua arte. No caso <strong>de</strong> Adoração, o artista é taxativo: “Seeu tivesse achado um material semelhante com imagens <strong>de</strong> pin ups, po<strong>de</strong>riater usado elas, e não os santos. O que me interessou ali foi a visualida<strong>de</strong>das imagens furadas com as luzes por trás e com o néon na frente”. 36 Visualida<strong>de</strong>marcada pelo <strong>de</strong>safio direto a uma história da arte ou da culturaque tenta a todo custo criar leituras lineares <strong>de</strong> experiências mais ou me<strong>no</strong>sousadas com valores seguros.De Rei da Juventu<strong>de</strong> a ReiNa outra ponta, o mito <strong>de</strong> <strong>Roberto</strong> <strong>Carlos</strong> passaria, ainda pelos finaisdos a<strong>no</strong>s 60, por uma re-significação que implicou em <strong>de</strong>senhar <strong>no</strong>voscontor<strong>no</strong>s à representação midiática do artista, aproximando-o bastantedo universo religioso e reforçando o que uma leitura apressada e posteriorda obra <strong>de</strong> <strong>Leirner</strong> po<strong>de</strong>ria sugerir.Poucos meses antes da exposição <strong>de</strong> <strong>Leirner</strong>, em junho <strong>de</strong> 1966, apósuma apresentação em Vitória, cuja renda teria sido revertida para o OrfanatoCristo Rei, <strong>Roberto</strong> <strong>Carlos</strong> fora procurado por uma ex professora, irmãFausta, que na ocasião trabalhava naquela instituição. Segundo Araújo, 37 apartir daquele dia os dois não per<strong>de</strong>ram mais o contato. Dois a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>pois,em julho <strong>de</strong> 1968, irmã Fausta doou o seu medalhão do Sagrado Coração <strong>de</strong>Jesus para <strong>Roberto</strong> <strong>Carlos</strong>, por ocasião da troca <strong>de</strong> hábito ocorrida quando<strong>de</strong> seus 25 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m religiosa. Des<strong>de</strong> então, <strong>Roberto</strong> <strong>Carlos</strong> passou ausar o medalhão como indumentária que carregava bem visível, pendurada<strong>no</strong> pescoço, dando um uso algo profa<strong>no</strong> ao símbolo religioso, ao mesmotempo em que evi<strong>de</strong>nciava sua ligação profunda, que o passar dos a<strong>no</strong>stornaria cada vez mais explícita, com o aquele universo.Essa “virada” na representação do “rei da juventu<strong>de</strong>” po<strong>de</strong> tambémser observada nas páginas da revista Realida<strong>de</strong>, em reportagem do a<strong>no</strong> <strong>de</strong>1968, <strong>de</strong>dicada ao artista. Se na reportagem anterior, <strong>de</strong> 1966, a mesmarevista anunciava que “Um môço <strong>de</strong> 23 a<strong>no</strong>s comanda(va) a revolução dajuventu<strong>de</strong>” 38 , mandando “tudo para o infer<strong>no</strong>”, nesta era outra a representaçãoveiculada: “ROBERTO CARLOS QUERIA SER PRÊTO”, anunciavaem letras garrafais a manchete <strong>de</strong> capa da matéria que Realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>dicavaa <strong>Roberto</strong> <strong>Carlos</strong>. 39A matéria verte um <strong>Roberto</strong> <strong>Carlos</strong> atormentado, que “<strong>no</strong> auge dosucesso” é “um homem em crise”, em busca <strong>de</strong> “superar-se e encontrar<strong>no</strong>vas formas <strong>de</strong> comunicação.” Nessa busca, o artista volta-se para a músicanegra <strong>no</strong>rte americana, procurando ali o som que po<strong>de</strong>ria fazer a diferença.Alguns subtítulos da matéria que <strong>de</strong>dica 10 páginas a sua crise per-208<strong>ArtCultura</strong>, Uberlândia, v. 11, n. 19, p. 197-209, jul.-<strong>de</strong>z. 2009

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!