11.07.2015 Views

as arquitecturas de cister em portugal. a actualidade ... - Ubi Thesis

as arquitecturas de cister em portugal. a actualidade ... - Ubi Thesis

as arquitecturas de cister em portugal. a actualidade ... - Ubi Thesis

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

AS ARQUITECTURAS DE CISTER EM PORTUGAL.A ACTUALIDADE DAS SUAS REABILITAÇÕES E ASUA INSERÇÃO NO TERRITÓRIO.ANA MARIA TAVARES FERREIRA MARTINSDIRECTORES:PROF. DOCTOR EDUARDO MOSQUERA ADELLPROF. DOCTORA MARÍA TERESA PÉREZ CANOTESIS DOCTORALVOLUMEN ILAS ARQUITECTURAS DEL CÍSTER EN PORTUGAL. LA ACTUALIDAD DE SUS REHABILITACIONESY SU INSERCIÓN EN EL TERRITORIODEPARTAMENTO DE HISTORIA,TEORÍA Y COMPOSICIÓN ARQUITECTÓNICASUNIVERSIDAD DE SEVILLA 2011


2Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (fotografia da autora)


Índice4Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça, Ala S. Bernardo (fotografia da autora)


ÍNDICE3.3.2. Decreto <strong>de</strong> 1834 e a <strong>de</strong>samortização 1433.4. Uma perspectiva da evolução da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal 1564. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS 1894.1. CONSTRUÇÃO CISTERCIENSE DO ESPAÇO MONÁSTICO 1914.2. MOSTEIRO COMO CIDADE IDEAL E PARADISUM CLAUSTRALIS 2094.3. ESTÉTICA BERNARDINA E SEU REFLEXO NA ARQUITECTURA: ARQUITECTURA CISTERCIENSE 2194.3.1. Plano Bernardino vs. Plano Cisterciense 2464.3.2. Breve cronologia d<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> tipo <strong>em</strong> estudos dos sécs. XX e XXI 2644.3.3. Morfologia do Plano Cisterciense 2764.4. TEMPO vs. ESPAÇO: A JORNADA CISTERCIENSE 2804.5. MINIMALISMO CISTERCIENSE: <strong>de</strong>l Cister <strong>de</strong>l siglo XII al “Minimum” <strong>de</strong>l siglo XXI 28765. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL 3055.1. MORFOLOGIA DAS ARQUITECTURAS DE CISTER EM PORTUGAL 3075.1.1. CLAUSTRUM 3085.1.2. SPIRITUS 3315.1.3. ANIMA 3585.1.4. CORPUS 3745.1.5. DOMUS CONVERSORUM 3885.1.6. EXTERIOR 3965.2. TIPOLOGIAS DOS MOSTEIROS CISTERCIENSES PORTUGUESES 4135.2.1. Planimetria dos Mosteiros Cistercienses portugueses m<strong>as</strong>culinos 425Sta Maria <strong>de</strong> Fiães 425Sta Maria <strong>de</strong> Ermelo 426Sta Maria do Bouro 427Sta Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> 428S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> - o velho 429S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> - o novo 430Abadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> 431Sta Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> 432S. João <strong>de</strong> Tarouca 433S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões 434Sta Maria <strong>de</strong> Maceira Dão 435Sta Maria <strong>de</strong> Aguiar 436Sta Maria da Estrela 437S. Paulo <strong>de</strong> Almaziva 437Espírito Santo 438Sta Maria <strong>de</strong> Seiça 439Sta Maria <strong>de</strong> Alcobaça 440


ÍNDICE8VOLUME II9. ANEXOS9.1. ARQUITECTURAS DE CISTER EM PORTUGAL: FICHAS DOCUMENTAIS 6539.1.1. MOSTEIROS MASCULINOS 655Sta Maria <strong>de</strong> Fiães (11211.FIAE.VC.VC) 657Sta Maria <strong>de</strong> Ermelo (11211.ERME.VC.VC) 679Sta Maria do Bouro (11211.BOUR.BR.BR) 701Sta Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> (11212.JUNI.VR.VR) 753S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> - o velho (11211.SPAV.VI.LM) 775S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> - o novo (11211.SPAN.VI.LM) 795Abadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> (11241.VSAL.VI.LM) 821Sta Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> (11211.SALZ.VI.LM) 833S. João <strong>de</strong> Tarouca (11211.SJTA.VI.LM) 877S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (11211.LAFO.VI.VI) 921Sta Maria <strong>de</strong> Maceira Dão (11211.MADA.VI.VI) 953Sta Maria <strong>de</strong> Aguiar (11212.SMAG.GA.GA) 983Sta Maria da Estrela (11112.ESTR.CB.PC) 1019S. Paulo <strong>de</strong> Almaziva (11213.ALMA.CO.CO) 1031Espírito Santo (11213.ESSA.CO.CO) 1043Sta Maria <strong>de</strong> Seiça (11213.SEIC.CO.CO) 1073Sta Maria <strong>de</strong> Alcobaça (11113.ALCO.CO.LE) 1093Sta Maria do Desterro (11113.DEST.LX.LX) 1177VOLUME III9.1.2. MOSTEIROS FEMININOS1199S. Salvador d<strong>as</strong> Bouç<strong>as</strong> (12223.BOUC.PT.PT) 1201S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca (12211.AROU.AV.PT) 1211N. Sra da Purificação <strong>de</strong> Tabosa (12111.TABO.VI.LM) 1255S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão (12211.LORV.CO.CO) 1287Sta Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong> (12213.CELA.CO.CO) 1325Sta Maria <strong>de</strong> Cós (12113.MCOS.LE.CO) 1353S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong> (12111.ODIV.LX.LX) 1391N. Sra <strong>de</strong> Nazaré <strong>de</strong> Mocambo (12113.MOCA.LX.LX) 1429Sta Maria <strong>de</strong> Almoster (12113.ALMO.SA.SA) 1463S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre (12112.PORT.PL.PC) 1493S. Bento <strong>de</strong> Cástris (12213.CAST.EV.EV) 1527N. Sra da Conceição <strong>de</strong> Tavira (12113.TAVI.FA.FA) 15559.2. ANEXOS DOCUMENTAIS 15919.2.1. Decreto <strong>de</strong> 1834 15939.2.2. Carta <strong>de</strong> Alcobaça 1595


ÍNDICE9.2.3. Estatutos Carta Europeia dos Mosteiros e Sítios Cistercienses 15979.2.4. Estatutos APOC 16019.2.5. Test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> Frei Damián Yañes Neira 16059.2.6. A re-introdução <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal 16079.2.7. Mosteiros Cistercienses Portugueses – Probl<strong>em</strong>ática Cronológica 16099.2.8. Transcrição <strong>de</strong> test<strong>em</strong>unho escrito no reverso do ca<strong>de</strong>iral do coro-alto doMosteiro <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre161010. CRONOLOGIA MONÁSTICO-CISTERCIENSE SEGUNDO AS PERSPECTIVAS DINÁSTICA EREPUBLICANA PORTUGUESAS161311. GLOSSÁRIO 165512. BIBLIOGRAFIA 1665A. Elenco bibliográfico 1667B. Separação por t<strong>em</strong><strong>as</strong> 17141. TEMÁTICA CISTERCIENSE 17071.1.GENÉRICOS 17071.2.CISTER / CITEAUX 17111.3.ARQUITECTURA CISTERCIENSE 17121.4.LEGISLAÇÃO CISTERCIENSE 17151.5.S. BERNARDO 17152.TEMÁTICA CISTERCIENSE PORTUGUESA 17162.1.GENÉRICOS 17162.2.MOSTEIROS CISTERCIENSES PORTUGUESES – TEMÁTICA COMUM (MASC. / 1718FEMIN.)2.3.MOSTEIROS CISTERCIENSES PORTUGUESES – MASCULINOS 17202.3.1. MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE FIÃES 17202.3.2. MOSTEIRO DE SANTA MARIA DO ERMELO 17202.3.3. MOSTEIRO DE SANTA MARIA DO BOURO 17202.3.4. MOSTEIRO DE SANTA MARIA DAS JÚNIAS 17212.3.5. MOSTEIRO DE SÃO PEDRO DAS ÁGUIAS (O VELHO) 17212.3.6. MOSTEIRO DE SÃO PEDRO DAS ÁGUIA (O NOVO) 17222.3.7. MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE SALZEDAS 17222.3.8. ABADIA VELHA DE SALZEDAS 17222.3.9. MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA 17222.3.10. MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE AGUIAR 17232.3.11. MOSTEIRO DE S. CRISTOVÃO DE LAFÕES 17232.3.12. MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE MACEIRA DÃO 17232.3.13. MOSTEIRO DE SÃO PAULO DE ALMAZIVA 17232.3.14. COLÉGIO DO ESPÍRITO SANTO 17242.3.15. MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE SEIÇA 17242.3.16. MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE ALCOBAÇA 17249


ÍNDICE2.3.17. MOSTEIRO DE NOSSA SENHORA DO DESTERRO 17262.4.MOSTEIROS CISTERCIENSES PORTUGUESES FEMININOS 17272.4.1. MOSTEIRO DE S. SALVADOR DAS BOUÇAS 17272.4.2. MOSTEIRO DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO DE AROUCA 17272.4.3. MOSTEIRO DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO DE TABOSA 17272.4.4. MOSTEIRO DE SÃO MAMEDE DE LORVÃO 17282.4.5. MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE CELAS 17282.4.6. MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE CÓS 17282.4.7. MOSTEIRO DE SÃO DINIS DE ODIVELAS 17282.4.8. MOSTEIRO DE NOSSA SENHORA DA NAZARÉ DO MOCAMBO 17292.4.9. MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE ALMOSTER 17292.4.10. MOSTEIRO DE SÃO BERNARDO DE PORTALEGRE 17292.4.11. CONVENTO DE SÃO BENTO DE CÁSTRIS 17292.5.GRANJAS 17303.ARQUITECTURA MONÁSTICA / CIDADE DE DEUS 17314.HISTÓRIA 17335.TERRITÓRIO 17356.INVENTARIAÇÃO 17367.PATRIMÓNIO 17378.REABILITAÇÃO / RESTAURO 17399.MINIMALISMO 17401010.GENÉRICOS 174113. INDICE DE ELEMENTOS GRÁFICOS 1743A. FIGURAS 1745B. ESQUEMAS 1769C. GRÁFICOS 1774D. PLANTAS 1776E. SEPARADORES DE CAPÍTULOS 1778


INTRODUCCIÓN1.11Fig. I Portal do Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>(<strong>de</strong>senho <strong>de</strong> Mestre Jorge Braga da Costa cedido pelo autor)


INTRODUCCIÓN1.1.1. CONTEXTUALIZACIÓN DE LA ELECCIÓN DEL TEMA1.1.1. EL TEMA1.1.2. EL CONTEXTO PORTUGUÉS1.2. ACTUALIDAD INTELECTUAL DEL TEMA1.3. OBJETIVOS1.4. METODOLOGÍA1.4.1. Creación <strong>de</strong> la B<strong>as</strong>e <strong>de</strong> Datos1.4.2. Matriz <strong>de</strong> la Ficha Tipo1.4.3. Entida<strong>de</strong>s12


1. INTRODUCCIÓN1. 1.CONTEXTUALIZACIÓN DE LA ELECCIÓN DEL TEMA1.1.1.EL TEMALa elección <strong>de</strong>l t<strong>em</strong>a recae en su actualidad <strong>as</strong>í como en el crecienteinterés que ha sido y que sigue siendo <strong>de</strong>mostrado y <strong>de</strong>sarrollado a la escalamundial.El legado <strong>cister</strong>ciense en Portugal forma parte <strong>de</strong> algo más v<strong>as</strong>to como elplan integral <strong>de</strong> l<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Císter en toda Europa estándose<strong>de</strong>sarrollando un programa integrado <strong>de</strong> recuperación y rehabilitación <strong>de</strong>lpatrimonio <strong>cister</strong>ciense.Este plan integrado no solo tiene por fin la recuperación, rehabilitación yvaloración <strong>de</strong>l patrimonio <strong>cister</strong>ciense como también el incr<strong>em</strong>ento <strong>de</strong>l interéscultural por el territorio.L<strong>as</strong> marc<strong>as</strong> <strong>de</strong>l legado <strong>de</strong> la Or<strong>de</strong>n <strong>de</strong>l Císter en Portugal estánconstituid<strong>as</strong> por mon<strong>as</strong>terios, abadí<strong>as</strong>, iglesi<strong>as</strong>, envolventes urbanístic<strong>as</strong> y rurales,patrimonio industrial, <strong>as</strong>í como patrimonio mueble, tradiciones, ritos y cultos quese constituyen en unida<strong>de</strong>s no solo arquitectónic<strong>as</strong> sino artístic<strong>as</strong> y paisajístic<strong>as</strong>,<strong>de</strong> elevado valor patrimonial que merecen ser estudiad<strong>as</strong> y preservad<strong>as</strong>.El Instituto Portugués <strong>de</strong>l Patrimonio Arquitectónico (IPPAR) conjuntamentecon otr<strong>as</strong> instituciones ha <strong>de</strong>sarrollado los “Itinerarios <strong>de</strong>l Císter” que con latransformación <strong>de</strong>l IPPAR en IGESPAR 1 , fue sustituido por el programa “ConjuntosMonásticos” 2 que englobaba también ej<strong>em</strong>plares arquitectónicos <strong>de</strong> otr<strong>as</strong>Or<strong>de</strong>nes. Posteriormente el IGESPAR sustituyó el programa “ConjuntosMonásticos” por el programa “Mon<strong>as</strong>terios Portugueses Patrimonio <strong>de</strong> laHumanidad” 3 .A pesar <strong>de</strong> que el Patrimonio Cisterciense, en Portugal, <strong>em</strong>pieza ainsertarse en un plan totalizante y transeuropeo, no <strong>de</strong>ja <strong>de</strong> prestar su131 El IPPAR ha sido reestructurado al ser creado el Instituto <strong>de</strong> Gestión <strong>de</strong>l Patrimonio Arquitectónico yArqueológico, I.P., vulgo IGESPAR, en el ámbito <strong>de</strong>l programa PRACE, que ha resultado <strong>de</strong> la fusión <strong>de</strong>lInstituto Portugués <strong>de</strong>l Patrimonio Arquitectónico y <strong>de</strong>l Instituto Portugués <strong>de</strong> Arqueología y que incorporatodavía parte <strong>de</strong> l<strong>as</strong> atribuciones <strong>de</strong> la extinta Dirección General <strong>de</strong> los Edificios y Monumentos Nacionales,bajo la tutela <strong>de</strong>l Ministerio <strong>de</strong>l Ambiente, Or<strong>de</strong>namiento <strong>de</strong>l Territorio y Desenvolvimiento Regional comoreferido en el Decreto-Ley nº 96/2007 <strong>de</strong>l 29 <strong>de</strong> Marzo. Así el IGESPAR, I.P. – con se<strong>de</strong> en Lisboa – enarticulación con l<strong>as</strong> Direcciones Regionales <strong>de</strong> la Cultura, refuerza su tutela <strong>de</strong> índole normativa yreglamentadora; posee como misión <strong>as</strong>egurar no sólo la gestión, pero también la salvaguardia, laconservación y la valorización <strong>de</strong> los bienes muebles e inmuebles que constituyen el patrimonio culturalarquitectónico y arqueológico portugués.2 Mon<strong>as</strong>terios <strong>cister</strong>cienses que hacen parte <strong>de</strong>l programa “Conjuntos Monásticos”: Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> S. Pedro eS. Paulo <strong>de</strong> Arouca, Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca, Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão y Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong>Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça3 En respecto al legado <strong>cister</strong>ciense apen<strong>as</strong> incluye el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa María <strong>de</strong> Alcobaça.


1. INTRODUCCIÓNcontribución en la vitalización <strong>de</strong> los planes locales o regionales <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarrollo ei<strong>de</strong>ntificación cultural.En la actualidad Portugal integra la Carta Europea <strong>de</strong> los Mon<strong>as</strong>terios ySitios Cistercienses (Charte <strong>de</strong>s Abbayes et Sites Cisterciens d’Europe), entidadfundada informalmente, hace poco más <strong>de</strong> dos décad<strong>as</strong>, en la Abadía <strong>de</strong>Pontigny pero que apen<strong>as</strong> en el año 1993, en la Abadía <strong>de</strong> Fontenay, seconcretizaron y oficializaron sus estatutos. 41.1.2.EL CONTEXTO PORTUGUÉS14L<strong>as</strong> fundaciones <strong>de</strong> la Or<strong>de</strong>n <strong>de</strong>l Císter en Portugal estuvieron, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> elcomienzo, <strong>as</strong>ociad<strong>as</strong> a objetivos <strong>de</strong> ocupación y gestión <strong>de</strong>l territorio, sobretodo durante la formación <strong>de</strong>l país. De esta forma se entien<strong>de</strong> <strong>as</strong>í la v<strong>as</strong>taescala <strong>de</strong> ocupación <strong>de</strong>l territorio, la extensión <strong>de</strong> sus dominios y áre<strong>as</strong> <strong>de</strong>influencia.La distribución <strong>de</strong> este sist<strong>em</strong>a, a nivel geográfico, es b<strong>as</strong>tante <strong>as</strong>imétrica.De hecho surge una gran concentración <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos en el norte y centro <strong>de</strong>Portugal al contrario <strong>de</strong> todo el territorio al sur <strong>de</strong>l río Tajo, don<strong>de</strong> l<strong>as</strong>implantaciones son muy limitad<strong>as</strong>. Este hecho es simpl<strong>em</strong>ente explicado pormotivos históricos atendiendo a la época y región geográfica en cuestión.De entre los el<strong>em</strong>entos que componen el sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>signado porarquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Císter se <strong>de</strong>stacan algunos ej<strong>em</strong>plos por su excepcionalidad.De esta forma, como el<strong>em</strong>entos integrantes <strong>de</strong> la or<strong>de</strong>n <strong>de</strong>l Císter hay quereferirse al mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca, que se consi<strong>de</strong>ra el primero <strong>de</strong>esta or<strong>de</strong>n fundado en Portugal, el mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa María <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>, elmon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa María <strong>de</strong> Alcobaça (percusor <strong>de</strong>l gótico en Portugal yúltimo fundado en vida <strong>de</strong> S. Bernardo), el mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa María d<strong>as</strong>Júni<strong>as</strong>, el mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa María do Bouro. Como sugiere Paulo Pereira, esimportante pensar y estudiar este t<strong>em</strong>a:“(…) quando o Gótico chega a Portugal chega por via <strong>cister</strong>ciense.Despojado e frio, claro e plano, luminoso e “branco”. Resta saber,aliás se a própria arquitectura portuguesa, <strong>de</strong> outros séculosvindouros não <strong>de</strong>ve muito ou qu<strong>as</strong>e tudo a esta estética <strong>cister</strong>cienseque teimosamente perdurou. Eis um programa <strong>de</strong> pesquisa a<strong>de</strong>senvolver: o da ‘longa herança’ <strong>cister</strong>ciense.” 54 Cfr. BULLETIN DE LA CHARTE EUROPÉENE DES ABBAYES ET SITES CISTERCIENS 2009-1; Nº42 – Avril 2009; pp.4-75 PEREIRA, Paulo in 2000 anos <strong>de</strong> arte <strong>em</strong> Portugal; T<strong>em</strong><strong>as</strong> e Debates; p.155


1. INTRODUCCIÓNDe modo a permitir un mejor encuadramiento <strong>de</strong> este sist<strong>em</strong>a se presentaincluido en esta tesis un mapa don<strong>de</strong> se pue<strong>de</strong> constatar la localización,aunque sumaria, <strong>de</strong> l<strong>as</strong> presenci<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses en Portugal. 6Portugal hace parte integrante <strong>de</strong> la Carta Europea <strong>de</strong> los Mon<strong>as</strong>terios ySitios Cistercienses (Charte <strong>de</strong>s Abbayes et Sites Cisterciens d’Europe) 7 y esrepresentado por el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça <strong>as</strong>i como por losMon<strong>as</strong>terios <strong>de</strong> São Pedro e São Paulo <strong>de</strong> Arouca, S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões, SantaMaria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> e Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa. (fig. 1)Fig. 1 Logotipo <strong>de</strong> la Carta Europea <strong>de</strong> losMon<strong>as</strong>terios y Sitios Cistercienses, presente entodos los mon<strong>as</strong>terios adherentes a la Carta.15La Asamblea-general <strong>de</strong>l 2009, <strong>de</strong> la Carta Europea <strong>de</strong> los Mon<strong>as</strong>terios ySitios Cistercienses, tuvo lugar por primera vez fuera <strong>de</strong> Francia, en la Abadía <strong>de</strong>Alcobaça, en Portugal, en el 1 <strong>de</strong> Mayo <strong>de</strong>l 2009.Recient<strong>em</strong>ente fue creada la APOC – Asociación Portuguesa <strong>de</strong>l Císter 8 , y<strong>de</strong> sus objetivos hacen parte los siguientes: promoción, acompañamiento yapoyo a la restauración, en Portugal, da la Or<strong>de</strong>n <strong>de</strong>l Císter; estudio ydivulgación <strong>de</strong> la historia <strong>de</strong> la Or<strong>de</strong>n <strong>de</strong>l Císter en Portugal; promoción <strong>de</strong>lestudio y restauro <strong>de</strong>l patrimonio cultural portugués – inmóvil, móvil e inmaterial– legado por la Or<strong>de</strong>n <strong>de</strong>l Císter. 96 Cfr. Vol. I, Cap. 3, Fig. 34, p.109 mapa con la localización da la existencia <strong>de</strong>l Or<strong>de</strong>n <strong>de</strong>l Císter en Portugal,según mapa elaborado por Dom Maur Cocheril in Routier <strong>de</strong>s Abbayes Cisterciennes du Portugal; col. CulturaMedieval e Mo<strong>de</strong>rna –X; Fundação Calouste Gulbenkian; Centro Cultural Português; Paris; 19787 Cfr. Vol. III, Cap. 9.2.3., pp.1597 - 16008 Cfr. Vol. III, Cap. 9.2.4., pp. 1601-16049 Cfr. Artículo 2º <strong>de</strong> los Estatutos da Asociación Portuguesa <strong>de</strong>l Císter (APOC); texto policopiado; p.1


1. INTRODUCCIÓN1.2.ACTUALIDAD INTELECTUAL DEL TEMA / ESTADO DE LAS ARTESH<strong>as</strong>ta el presente momento se han <strong>de</strong>sarrollado trabajos monográficos,sobre todo insertados en el ámbito histórico. No solo hay que referir el trabajo<strong>de</strong>sarrollado por el monje <strong>cister</strong>ciense Dom Maur Cocheril 10 sino también el <strong>de</strong>Artur Nobre <strong>de</strong> Gusmão 11 que no solo fomentaron como también fueronentusi<strong>as</strong>t<strong>as</strong> por el estudio <strong>de</strong> esta t<strong>em</strong>ática. Citar<strong>em</strong>os nombres como GeraldoCoelho Di<strong>as</strong> 12 , Iria Gonçalves 13 , Maria Alegria Marques 14 , Nelson Borges, VirgolinoJorge 15 y publicaciones recientes como “Cister no Vale do Douro” 16 , elcatálogo <strong>de</strong> la exposición “Arte <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal e Galiza” 17 .Es <strong>de</strong> igual importancia referir la publicación <strong>de</strong> l<strong>as</strong> act<strong>as</strong> <strong>de</strong> loscoloquios internacionales <strong>de</strong> Alcobaça: “Arte e Arquitectura n<strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong>Cistercienses nos Séculos XVI, XVII, XVIII” 18 (Novi<strong>em</strong>bre 1994) y “Cister: Espaços,Territórios, Paisagens” 19 (Junio 1998). En este último se ha elaborado la Carta <strong>de</strong>Alcobaça 20 , documento don<strong>de</strong> está patente la actualidad y la importancia <strong>de</strong>llegado patrimonial Cisterciense.Todavía se <strong>de</strong>berá referir los coloquios realizados en el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong>São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões en 1998 y 2005, siendo que el primero fue <strong>de</strong>dicado a1610 COCHERIL, Dom Maur; Alcobaça – Abadia Cisterciense <strong>de</strong> Portugal; Imprensa Nacional – C<strong>as</strong>a da Moeda;1989 / COCHERIL, Dom Maur; Cister <strong>em</strong> Portugal; Ed Panorama; 1965 / COCHERIL, Dom Maur; Etu<strong>de</strong>s sur l<strong>em</strong>onachisme en Espagne et au Portugal; Bertrand; 1966 / COCHERIL, Dom Maur; Les Abbayes CisterciennesPortugaises dans la secon<strong>de</strong> moité du XX siécle; Fundação Calouste Gulbenkian; Paris 1976 / COCHERIL, DomMaur; Routier <strong>de</strong>s Abbayes Cisterciennes du Portugal; Fundação Calouste Gulbenkian; Paris; 197811 GUSMÃO, Artur Nobre <strong>de</strong>; A Expansão da Arquitectura Borgonhesa e os Mosteiros <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal;s/ed.; Lisboa; 1956 / GUSMÃO, Artur Nobre <strong>de</strong>; A Real Abadia <strong>de</strong> Alcobaça; Livros Horizonte; Lisboa; 1992 /GUSMÃO, Artur Nobre <strong>de</strong>; Os Mosteiros <strong>de</strong> Cister na Época Mo<strong>de</strong>rna in “Sep LUSÍADA”; vol. III; nº 10; Porto; 195712 DIAS, Geraldo Coelho; A Alma <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal in “Religião e Simbólica”; Granito Ed; Porto; 2001 /DIAS, Geraldo Coelho; A Marca <strong>de</strong> São Bernardo na espiritualida<strong>de</strong> e na cultura <strong>cister</strong>cienses in “Tarouca eCister: espaço, espírito e po<strong>de</strong>r”; Ed. CMTarouca; Tarouca; 2004 / DIAS, Geraldo Coelho; Bernardo <strong>de</strong>Claraval. Apologia para Guilherme, Aba<strong>de</strong>; Fundação Eng. António <strong>de</strong> Almeida; Porto; 199713 GONÇALVES, Iria; O Património do Mosteiro <strong>de</strong> Alcobaça nos séculos XIV e XV; Universida<strong>de</strong> Nova <strong>de</strong>Lisboa FCSH; Lisboa;198914 MARQUES, Mª Alegria; Estudos sobre a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal; Ed Colibri; Lisboa;199815 JORGE, Virgolino; Análise preliminar d<strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong> hidráulic<strong>as</strong> da abadia <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong> São João <strong>de</strong>Tarouca in “Act<strong>as</strong> do II Congresso Internacional sobre el Císter en Galícia y Portugal”; vol.III; Ourense; 1998 /JORGE, Virgolino; Espaço e Euritmia na Abadia Medieval <strong>de</strong> Alcobaça; Sep do “Boletim Cultural daAss<strong>em</strong>bleia Distrital <strong>de</strong> Lisboa; nº93; Lisboa; 1999 / JORGE, Virgolino; Mon<strong>as</strong>tères <strong>cister</strong>ciens <strong>de</strong> f<strong>em</strong>mes auPortugal in “Cîteaux et les f<strong>em</strong>mes”; Ed Créaphis; Paris; 200116 AA.VV.; Cister no Vale do Douro; GEHVID; Ed Afrontamento; 199917 AA.VV.; Arte <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal e na Galiza; Fundação Calouste Gulbenkian, Fundación Pedro Barrié <strong>de</strong>la Maza; Lisboa; 199818 AA.VV.; Arte e Arquitectura n<strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong> Cistercienses nos Séculos XVI, XVII, XVIII; MC, IPPAR; Lisboa; 200019 AA.VV.; Cister: Espaços, Territórios, Paisagens; MC, IPPAR; Lisboa; 200020 Cfr. Vol. III, Cap. 9.2.2., pp.1595 - 1596


1. INTRODUCCIÓNla “Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister – O t<strong>em</strong>po e o modo” y el segundo bajo el titulo “As Beir<strong>as</strong>e a presença <strong>de</strong> Cister – Espaços, Património Edificado, Espiritualida<strong>de</strong>.” 21En Salzed<strong>as</strong> y São João <strong>de</strong> Tarouca hubo el congreso “Tarouca e Cister:espaço, espírito e po<strong>de</strong>r” 22 en 2004 que tuvo continuidad en 2006 con elcongreso “Tarouca e Cister: homenag<strong>em</strong> a Leite <strong>de</strong> V<strong>as</strong>concelos” 23 , estudioso<strong>de</strong>l patrimonio <strong>de</strong> la región <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong>.Es <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacarse aún el congreso, y más tar<strong>de</strong> el libro, “Convers<strong>as</strong> à voltados Conventos” 24 con dirección <strong>de</strong> Cristina Fróis en el que se subraya elinterese por el monacato y por el patrimonio monacal.En el 2009 se subraya <strong>de</strong> idéntico modo la realización, por primera vez enPortugal, <strong>de</strong>l “IV Congreso Internacional sobre el Cister en Galiza y en Portugal”co-organizado por la Abadía <strong>de</strong> Santa María <strong>de</strong> Osera (Ourense) y por laAPOC 25 <strong>as</strong>í como la publicación <strong>de</strong> l<strong>as</strong> act<strong>as</strong> en el 2010 26 .También se refiere la Asamblea General <strong>de</strong>l 2009 <strong>de</strong> la Carta Europea <strong>de</strong>los Mon<strong>as</strong>terios y Sitios Cistercienses realizada en el 1 er <strong>de</strong> Mayo <strong>de</strong>l 2009, enPortugal, en el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Alcobaça <strong>as</strong>í como el Encuentro internacional“Gran<strong>de</strong>s conjuntos monásticos, que reutilização?” que tuvo lugar igualmenteen el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa María <strong>de</strong> Alcobaça en Julio <strong>de</strong>l 2009.Todavía es <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar toda la producción <strong>de</strong> conocimiento ocurrida yque se ha <strong>de</strong>sarrollado a lo largo <strong>de</strong> esta investigación, repartiéndosecomunicaciones y ponenci<strong>as</strong> en congresos nacionales 27 e internacionales 28 .1721 AA.VV.; Act<strong>as</strong> do Coloquio “A Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister – O t<strong>em</strong>po e o modo”; Júlio Cruz (coord);Ed. CM S. Pedro doSul; 1998e AA.VV.; As Beir<strong>as</strong> e a presença <strong>de</strong> Cister – Espaços, Património Edificado, Espiritualida<strong>de</strong>; Socieda<strong>de</strong>do Mosteiro <strong>de</strong> São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões; 200622 AA.VV.; Tarouca e Cister: espaço, espírito e po<strong>de</strong>r; Ed. CMTarouca; Tarouca; 200423 AA.VV.; Tarouca e Cister: homenag<strong>em</strong> a Leite <strong>de</strong> V<strong>as</strong>concelos; Ed. CMTarouca; Tarouca; 200624 AA.VV.; Convers<strong>as</strong> à volta dos Conventos; C<strong>as</strong>a do Sul Editora; 200225 Asociación Portuguesa <strong>de</strong>l Císter26 AA.VV.; Act<strong>as</strong> <strong>de</strong>l IV Congreso Internacional sobre el Císter en Galicia y en Portugal; Tomo I y II; EdicionesMonte C<strong>as</strong>ino; Zamora 201027 MARTINS, Ana Maria Tavares; Not<strong>as</strong> <strong>de</strong> uma investigação <strong>em</strong> Arquitectura: <strong>as</strong> Arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong> Cister n<strong>as</strong>Beir<strong>as</strong> que tuvo lugar en la Universidad <strong>de</strong> la Beira Interior – Departamento <strong>de</strong> Ingeniera Civil y Arquitectura,Covilhã, en Novi<strong>em</strong>bre <strong>de</strong>l 2009 / MARTINS, Ana Maria Tavares; O MOSTEIRO COMO ESPAÇO DERECUPERAÇÃO DO CORPO E DO ESPÍRITO presentado en la tercera edición <strong>de</strong> los Encuentros Culturales en S.Cristóvão <strong>de</strong> Lafões subordinada al t<strong>em</strong>a Mon<strong>as</strong>terio y Salud: cerca, botica y enfermaría, que tuvo lugar en elMon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões, Portugal, en los dí<strong>as</strong> 11 y 12 <strong>de</strong> Mayo <strong>de</strong>l 2007 (con invitación <strong>de</strong> laComisión Científica <strong>de</strong> los Encuentros Culturales <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões) / MARTINS, Ana Maria Tavares;CIDADE E TURISMO vs. ARQUITECTURA E TURISMO: o c<strong>as</strong>o d<strong>as</strong> Rot<strong>as</strong> <strong>de</strong> Cister que tuvo lugar en el AuditorioDelmira Calado, <strong>de</strong> la Escuela Superior Gallaecia, en Vila Nova <strong>de</strong> Cerveira, Portugal en el 26 <strong>de</strong> Febrero <strong>de</strong>l2007 / MARTINS, Ana Maria Tavares; As arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal. A actualida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> su<strong>as</strong>reabilitações e a sua inserção no território que tuvo lugar en el Auditorio Delmira Calado, <strong>de</strong> la EscuelaSuperior Gallaecia, en Vila Nova <strong>de</strong> Cerveira, Portugal a 28 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 200628 MARTINS, Ana Maria Tavares; Cister <strong>em</strong> Portugal, <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>m a Congregação, segundo uma perspectivaarquitectónica in “Congreso Internacional Ór<strong>de</strong>nes y Congregaciones Religios<strong>as</strong> en Portugal – m<strong>em</strong>oria,Presencia y Diáspor<strong>as</strong>” integrado en l<strong>as</strong> conm<strong>em</strong>oraciones oficiales <strong>de</strong>l Centenario <strong>de</strong> la República, con elalto patrocinio <strong>de</strong> la Presi<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> la República y con el patrocinio <strong>de</strong> la Comisión Nacional para l<strong>as</strong>Conm<strong>em</strong>oraciones <strong>de</strong>l Centenario <strong>de</strong> la República que tuvo lugar, en Lisboa, en la Fundación CalousteGulbenkian <strong>de</strong>l 02 al 05 <strong>de</strong> Novi<strong>em</strong>bre / MARTINS, Ana Maria Tavares; AS BEIRAS BERÇO DE CISTER EM


1. INTRODUCCIÓNEst<strong>as</strong> ponenci<strong>as</strong> y comunicaciones han sido, en su larga mayoría,publicad<strong>as</strong> en forma <strong>de</strong> artículos o act<strong>as</strong> 29 . También se han escrito ponenci<strong>as</strong>para congresos y capítulos <strong>de</strong> libros por invitación directa 30 .18PORTUGAL: MARCAS DE 9 SÉCULOS DE ARQUITECTURA presentada en el IV Congreso Internacional sobre elCíster en Galicia y en Portugal que tuvo lugar en Braga y en Ourense, en Octubre <strong>de</strong>l 2009 / MARTINS, AnaMaria Tavares; As marc<strong>as</strong> do legado <strong>cister</strong>ciense na região d<strong>as</strong> Beira presentado en el RIPAM_3: 3 er EncuentroInternacional sobre Patrimonio Arquitectónico <strong>de</strong>l Mediterráneo que tuvo lugar en la Universidad Lusíada <strong>de</strong>Lisboa en Octubre <strong>de</strong>l 2009 / MARTINS, Ana Maria Tavares; AS ARQUITECTURAS DE CISTER NAS BEIRASpresentada en el Congreso Internacional – Afonso Henriques 900 años <strong>de</strong>spués que tuvo lugar en el TeatroViriato, Viseu, en Seti<strong>em</strong>bre <strong>de</strong>l 2009 (con invitación <strong>de</strong>l Comisario <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Com<strong>em</strong>oraciones <strong>de</strong> los 900 anos<strong>de</strong>l Nacimiento <strong>de</strong> D. Afonso Henriques, Prof. Dr. João Silva <strong>de</strong> Sousa FCSH-UNL y <strong>de</strong>l Ayuntamiento <strong>de</strong> Viseu) /MARTINS, Ana Maria Tavares; ARQUITECTURAS DEL CÍSTER EN PORTUGAL: rehabilitaciones recientes presentadoen el III Congreso Internacional sobre el Císter en Galicia y Portugal que tuvo lugar en Ourense – Oseira,España, <strong>de</strong>l 22 al 24 <strong>de</strong> Seti<strong>em</strong>bre <strong>de</strong>l 2005 / MARTINS, Ana Maria Tavares; El Patrimonio Monástico:Integración y <strong>de</strong>sarrollo en la Ciudad Cont<strong>em</strong>poránea presentada en el VII Congreso Internacional <strong>de</strong>Rehabilitación <strong>de</strong>l Patrimonio Arquitectónico y Edificación que tuvo lugar en Yaiza, Lanzarote, España <strong>de</strong>l 12al 16 <strong>de</strong> Julio <strong>de</strong>l 2004 y cuya participación fue financiada por la FCT – Fundación para la Ciencia yTecnología / MARTINS, Ana Maria Tavares; Cistercian Architectures in Portugal. Insertion in the territory and theactuality of its rehabilitations <strong>em</strong> THE 2004 CISTERCIAN STUDIES CONFERENCE within the 39th INTERNATIONALMEDIEVAL STUDIES CONGRESS que tuvo lugar en la Western Michigan University en Kalamazoo (Michigan) –E.U.A. <strong>de</strong>s<strong>de</strong> el 6 al 9 <strong>de</strong> Mayo <strong>de</strong> 2004 / MARTINS, Ana Maria Tavares; The Mon<strong>as</strong>tery <strong>as</strong> the City of God:I<strong>de</strong>als and Reality. Sta Maria <strong>de</strong> Alcobaça, a portuguese c<strong>as</strong>e en el ISUF2003 – International S<strong>em</strong>inar on UrbanForm – “The Planned City?” que tuvo lugar en el C<strong>as</strong>tello Svevo, en Trani – Italia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> el 3 al 6 <strong>de</strong> Julio <strong>de</strong>l2003 y cuya participación fue financiada por la FCT – Fundación para la Ciencia y Tecnología / MARTINS, AnaMaria Tavares; Do i<strong>de</strong>al no espaço monástico: utopia e realida<strong>de</strong>. O c<strong>as</strong>o <strong>cister</strong>ciense no 4th InternationalUtopian Studies Conference – “Utopian City”, organizado pela USS – Utopian Studies Society con lacolaboración <strong>de</strong> la Universidad Europea <strong>de</strong> Madrid, que tuvo lugar en la Universidad Europea <strong>de</strong> Madrid –España, entre los dí<strong>as</strong> 25 y 29 <strong>de</strong> Junio <strong>de</strong>l 2003 y cuya participación fue financiada por la FCT – Fundaciónpara la Ciencia y Tecnología.29 MARTINS, Ana Maria Tavares; Cister <strong>em</strong> Portugal, <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>m a Congregação, segundo uma perspectivaarquitectónica in Or<strong>de</strong>ns Religios<strong>as</strong> 2010; (coord. José Eduardo Franco); Ed. CLEPUL (en edición) / MARTINS,Ana Maria Tavares; Cistercians in Portugal from Or<strong>de</strong>r to Congregation: an architectonic point of view, inReligious Or<strong>de</strong>rs 2010; (coord. José Eduardo Franco); Ed. CLEPUL (en edición)/ MARTINS, Ana Maria Tavares;Medieval Cistercian Heritage: from the I<strong>de</strong>al to the the Reality in Act<strong>as</strong> do Ist International Meeting EAHN –European Architectural History Network (June 17-20, 2010), Guimarães, Portugal and Book of Abstracts ;JorgeCorreia (Ed.); CHAM – Centro <strong>de</strong> História <strong>de</strong> Além Mar; EAUM – Escola <strong>de</strong> Arquitectura da Universida<strong>de</strong> doMinho; EAHN – European Architectural History Network; 2010 (ACTAS: ISBN 978-989-95563-9-3 / BOOK OFABSTRACTS: ISBN 978-989-96163-2-5) / MARTINS, Ana Maria Tavares; Cistercian Architectural Heritage <strong>as</strong> CulturalLandmarks in Act<strong>as</strong> do HERITAGE 2010 - 2nd International Conference on Heritage and SustainableDevelopment; Ed. Greenlines Institute; June 2010 (ISBN 978-989-95671-3-9) / MARTINS, Ana Maria Tavares;MINIMALISMO CISTERCIENSE: <strong>de</strong>l Cister <strong>de</strong>l siglo XII al “Minimum” <strong>de</strong>l siglo XXI in Act<strong>as</strong> do II CongresoInternacional <strong>de</strong> Arquitectura Religiosa Cont<strong>em</strong>poránea - ARQUITECTURA RELIGIOSA CONTEMPORÁNEA: ENTREEL CONCEPTO Y LA IDENTIDAD; Ed. Fundación Santa María Nai, Delegación <strong>de</strong> Ourense <strong>de</strong>l COAG; Ourense,2009 (en edición) / MARTINS, Ana Maria Tavares; Not<strong>as</strong> <strong>de</strong> uma investigação <strong>em</strong> Arquitectura: <strong>as</strong> Arquitectur<strong>as</strong><strong>de</strong> Cister n<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong>; Ed. UBI; Covilhã, 2009 (en edición) / MARTINS, Ana Maria Tavares; AS BEIRAS BERÇO DECISTER EM PORTUGAL: MARCAS DE 9 SÉCULOS DE ARQUITECTURA in Act<strong>as</strong> <strong>de</strong>l IV Congreso Internacional sobreel Císter en Galicia y en Portugal; Tomo II; Ediciones Monte C<strong>as</strong>ino; Zamora 2010; pp.881-904 (TOMO II: ISBN978-84-614-1760-5 / OBRA COMPLETA: ISBN 978-84-614-1760-2) / MARTINS, Ana Maria Tavares; As marc<strong>as</strong> dolegado <strong>cister</strong>ciense na região d<strong>as</strong> Beira in Act<strong>as</strong> RIPAM_3: 3º Encontro Internacional sobre PatrimónioArquitectónico do Mediterraneo; Lisboa, 2009 (en edición) / MARTINS, Ana Maria Tavares; ARQUITECTURAS DELCÍSTER EN PORTUGAL: rehabilitaciones recientes in Act<strong>as</strong> <strong>de</strong>l III Congreso Internacional sobre el Císter enGalicia y en Portugal – tomo I; Ediciones Monte C<strong>as</strong>ino; Zamora, 2006 (ISBN: 978-84-930553-7-9) / MARTINS, AnaMaria Tavares; El Patrimonio Monástico: Integración y <strong>de</strong>sarrollo en la Ciudad Cont<strong>em</strong>poránea in VII CongresoInternacional <strong>de</strong> Rehabilitación <strong>de</strong>l Patrimonio Arquitectónico y Edificación (Yaiza 2004); Centro Internacional


1. INTRODUCCIÓNEs <strong>de</strong> subrayar que parte <strong>de</strong> l<strong>as</strong> dislocaciones a congresos parapresentación <strong>de</strong> trabajo han sido co-financiad<strong>as</strong> por la FCT - Fundación para laCiencia y para la Tecnología en el ámbito <strong>de</strong> una beca <strong>de</strong> doctorado 31atribuida por esta entidad para la realización <strong>de</strong> esta tesis.Charles Cummings (OCSO) ha hecho referencia a lo que era en eseti<strong>em</strong>po todavía un proyecto <strong>de</strong> tesis en su artículo “The 2004 Institute ofCistercian Studies Conference” publicado en la revista periódica <strong>de</strong> la OCSOamericana “Cistercian Studies Quarterly”. 32En 2007 ha sido posible la publicación <strong>de</strong>l libro “Uma Perspectiva daOr<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister: o Legado Português” 33 (con coordinación <strong>de</strong>l Dr. Júlio Cruz ydibujos <strong>de</strong>l Mestre Jorge Braga da Costa, textos y fotografí<strong>as</strong> <strong>de</strong> la doctoranda)que hacía <strong>de</strong> esa forma, en ese ti<strong>em</strong>po, un punto <strong>de</strong> la situación <strong>de</strong>l <strong>de</strong>sarrollo<strong>de</strong> la investigación que se estaba efectuando. Este libro ha sido concebidopara un público general, en formato <strong>de</strong> un recorrido histórico-arquitectónico<strong>de</strong>l legado <strong>cister</strong>ciense en Portugal. (fig. 2) Ha contado con una nota <strong>de</strong> FreiGeraldo Coelho Di<strong>as</strong>, preámbulo <strong>de</strong> los directores <strong>de</strong> tesis, Eduardo MosqueraA<strong>de</strong>ll y María Teresa Pérez Cano <strong>as</strong>í como nota <strong>de</strong> cierre <strong>de</strong>l coordinador <strong>de</strong> laedición Júlio Cruz.para la Conservación <strong>de</strong>l Património. CICOP.ESPAÑA; Tenerife 2004 (ISBN: 84-609-1697-9)/ MARTINS, Ana MariaTavares; The Mon<strong>as</strong>tery <strong>as</strong> the City of God: I<strong>de</strong>als and Reality. Sta Maria <strong>de</strong> Alcobaça, a portuguese c<strong>as</strong>e in“THE PLANNED CITY?”; Ed. Attilio Petruccioli, Michele Stella, Giuseppe Strappa; vol. III; Union Gráfica CorcelliEditrice; Bari 2003 (ISBN: 88-7329-043-4) / MARTINS, Ana Maria Tavares; Do i<strong>de</strong>al no espaço monástico: utopia erealida<strong>de</strong>. O c<strong>as</strong>o <strong>cister</strong>ciense in UTOPOLIS Journal”; vol. II Ed. Utopia Research Publisher; Madrid 2007 (ISSN:1886-4120)30 MARTINS, Ana Maria Tavares; AS ARQUITECTURAS DE CISTER NAS BEIRAS in Act<strong>as</strong> do Congresso Internacional– Afonso Henriques 900 anos <strong>de</strong>pois; Viseu, 2009 (con invitación <strong>de</strong>l Comisario <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Com<strong>em</strong>oraciones <strong>de</strong> los900 anos <strong>de</strong>l Nacimiento <strong>de</strong> D. Afonso Henriques, Prof. Dr. João Silva <strong>de</strong> Sousa FCSH-UNL y <strong>de</strong>l Ayuntamiento<strong>de</strong> Viseu) / MARTINS, Ana Maria Tavares; Arquitectura Religiosa n<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong> nos primórdios da Nacionalida<strong>de</strong> inCatálogo da Exposição “Arte, Po<strong>de</strong>r e Religião nos T<strong>em</strong>pos Medievais – A I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Portugal <strong>em</strong>Construção” (patente en el Museo Grão V<strong>as</strong>co en Viseu <strong>de</strong>l 14 <strong>de</strong> Agosto al 14 <strong>de</strong> Novi<strong>em</strong>bre); Ed. CâmaraMunicipal <strong>de</strong> Viseu, Museu Grão V<strong>as</strong>co, Departamento dos Bens Culturais da Diocese <strong>de</strong> Viseu; Viseu, 2009ISBN:978-972-8215-26-2 (con invitación <strong>de</strong> la Comisaria <strong>de</strong> la exposición, Prof. Doutora Maria <strong>de</strong> FátimaEusébio) / MARTINS, Ana Maria Tavares; O Mosteiro como espaço <strong>de</strong> recuperação do corpo e do espírito inMosteiro e Saú<strong>de</strong> – Cerca, Botica e Enfermaria. Act<strong>as</strong> do III Encontro Cultural <strong>de</strong> São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões; Ed.Socieda<strong>de</strong> do Mosteiro <strong>de</strong> São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões; São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões, 2008 (con invitación <strong>de</strong> laComisión Científica <strong>de</strong> los Encuentros Culturales <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões) / MARTINS, Ana Maria Tavares; OMosteiro <strong>de</strong> Tabosa in Letr<strong>as</strong> Aquilinian<strong>as</strong> – nº 1; Ed. Confraria Aquiliniana; Viseu, 2007; ISBN: 978-989-95382-0-7(con invitación <strong>de</strong> la Comisión Científica <strong>de</strong> la revista Letr<strong>as</strong> Aquilinian<strong>as</strong>) / MARTINS, Ana Maria Tavares;Espaço Monástico: da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus à Cida<strong>de</strong> do Hom<strong>em</strong> in Estudos <strong>em</strong> Homenag<strong>em</strong> ao Prof. Doutor JoséAma<strong>de</strong>u Coelho Di<strong>as</strong> – vol. 1; Dpto <strong>de</strong> Ciênci<strong>as</strong> e Técnic<strong>as</strong> do Património e Dpto <strong>de</strong> História; Edição daFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letr<strong>as</strong> da Universida<strong>de</strong> do Porto; Porto, 2006; ISBN: 972-8932-17-0 (con invitación <strong>de</strong>lhomenajeado, Pe. Geraldo Coelho Di<strong>as</strong> – Frei Geraldo)31 Beca <strong>de</strong> investigación en C&T con la referencia SFRH / BD / 4637 / 200132 Cfr. CUMMINGS, Charles Cummings; The 2004 Institute of Cistercian Studies Conference in “Cistercian StudiesQuarterly”; Ed. Fr. Eli<strong>as</strong> Dietz; vol. 39.4 (2004); Or<strong>de</strong>r of Cistercians of the Strict Observance, US Region (OCSO);pp. 439-448.33 MARTINS, Ana Maria Tavares; Uma Perspectiva da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister: o Legado Português; Ed. Autor; Viseu,2007 (con nota <strong>de</strong> abertura <strong>de</strong> Geraldo Coelho Di<strong>as</strong>, preámbulo <strong>de</strong> Eduardo Mosquera A<strong>de</strong>ll y María TeresaPérez Cano, nota <strong>de</strong> cierre <strong>de</strong> Júlio Cruz)19


1. INTRODUCCIÓNComo refieren Eduardo Mosquera y María Teresa Pérez Cano:“Dentro <strong>de</strong> tradiciones académic<strong>as</strong> felizmente superad<strong>as</strong>, el investigadorera un personaje que ocultaba su actividad, encerrado en sulaboratorio, h<strong>as</strong>ta la culminación final <strong>de</strong> su trabajo. En la actualidad,investigar significa producir conocimientos y transferirlos a la comunidadcientífica en particular, y al público en general, incluso antes <strong>de</strong>que se entienda como una labor concluida.” 3420Fig. 2 Capa y contra-capa, <strong>de</strong> la autoría <strong>de</strong> Jorge Braga da Costa y Júlio Cruz,<strong>de</strong>l libro ‘Uma Perspectiva da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister: o Legado Português’1.3.OBJETIVOSDom Maur Cocheril refiere que gran parte <strong>de</strong> los autores son repetitivos, en loque concierne al Císter, y por veces excesivamente imprecisos lo que esjustificado por la ausencia <strong>de</strong> trabajos críticos e indicaciones bibliográfic<strong>as</strong>indispensables. Atestigua a<strong>de</strong>más la urgencia en reunir los el<strong>em</strong>entosinformativos sin los cuales ningún trabajo serio podrá <strong>de</strong>sarrollarse. 3534 PÉREZ CANO, Maria Teresa y Eduardo Mosquera A<strong>de</strong>ll; Preambulo in MARTINS, Ana Maria Tavares : UmaPerspectiva da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister: o Legado Português; Ed. Autor; Viseu; 2007; p.1735 Ver COCHERIL, Dom Maur; Etu<strong>de</strong>s sur le monachisme en Espagne et au Portugal; Collection Portugaise sousle patronage <strong>de</strong> l’institute français au Portugal; societe d’editions “Les Belles Lettres” - Paris; Livraria Bertrand –Lisbonne; 1966 ; p.181


1. INTRODUCCIÓNDom Maur Cocheril refiere también como imprescindible la visita a tod<strong>as</strong>l<strong>as</strong> abadí<strong>as</strong> que prevalecen, <strong>as</strong>í como a sus dominios monacales, o sea, nada<strong>de</strong>berá ser negligenciado <strong>de</strong>jando un apelo para que este fallo sea suplido. 36En la elaboración <strong>de</strong> esta investigación se ha procurado concretar erealizar algun<strong>as</strong> <strong>de</strong> l<strong>as</strong> exigenci<strong>as</strong> referid<strong>as</strong> por Dom Maur Cocherilrelativamente a futuros estudios y futuros trabajos, cuando hace referencia a lanecesidad fundamental <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r a una pesquisa minuciosa <strong>de</strong>documentos <strong>de</strong> todos los géneros sobre los <strong>cister</strong>cienses, su obra, su actividad,los mon<strong>as</strong>terios que fundaron.Sin <strong>em</strong>bargo, varios han sido los autores sus cont<strong>em</strong>poráneos que se haninteresado por el t<strong>em</strong>a 37 pero se hacía sentir la necesidad <strong>de</strong> un estudio que nor<strong>em</strong>etiese únicamente para el análisis arquitectónico por sí sólo, sino quepermitiera avanzos en el estudio <strong>de</strong> est<strong>as</strong> Arquitectur<strong>as</strong> en cuantocomponentes <strong>de</strong> un sist<strong>em</strong>a.Paulo Pereira, como ha sido referido anteriormente, a<strong>de</strong>más <strong>de</strong> Don MaurCocheril, refiere que todavía falla la necesidad <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarrollar un estudio <strong>de</strong>est<strong>as</strong> Arquitectur<strong>as</strong> en cuanto el<strong>em</strong>entos or<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong>l territorio y <strong>de</strong>población <strong>de</strong>l mismo.Estos el<strong>em</strong>entos adquirieron estatuto <strong>de</strong> marco <strong>de</strong> una nación <strong>em</strong>ergentey <strong>de</strong>l <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> una cultura, sobre todo como sist<strong>em</strong>a interconectado ycohesionado, que se rige por un mismo conjunto <strong>de</strong> valores e i<strong>de</strong>ales. 38En realidad, este sist<strong>em</strong>a ha sido encarado en esta tesis no solo como elconjunto <strong>de</strong> est<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong>, como también los resultados <strong>de</strong> susrehabilitaciones, reutilizaciones y alteración <strong>de</strong> significados. Por ese motivo en sutítulo se encuentra el término plural “arquitectur<strong>as</strong>” pues son encarad<strong>as</strong> l<strong>as</strong>diferentes situaciones y vivenci<strong>as</strong> <strong>de</strong> l<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Císter, comoexperienci<strong>as</strong> únic<strong>as</strong>, que merecen ser referenciad<strong>as</strong>.Consecuent<strong>em</strong>ente, para que sea posible llegar al fondo <strong>de</strong> esteentendimiento ha sido necesario partir <strong>de</strong>l análisis y estudio <strong>de</strong> la inserción <strong>de</strong>estos el<strong>em</strong>entos en el territorio siendo objetivo primordial, <strong>de</strong> esta tesis,promover la investigación en el contexto <strong>de</strong> l<strong>as</strong> relaciones entre Teoría,Arquitectura y Patrimonio inserid<strong>as</strong> en el ámbito <strong>de</strong> la RehabilitaciónArquitectónica y Urbana. Como abordaje inicial se partió <strong>de</strong>l legado<strong>cister</strong>ciense en Portugal a través <strong>de</strong> un análisis sist<strong>em</strong>ático <strong>de</strong> l<strong>as</strong> existenci<strong>as</strong><strong>cister</strong>cienses, su apropiación e inserción en el territorio.En esta tesis el objetivo principal ha sido la i<strong>de</strong>ntificación, el análisis, lacatalogación y la divulgación <strong>de</strong> los diversos el<strong>em</strong>entos que hacen parte <strong>de</strong> l<strong>as</strong>Arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Císter en Portugal, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> mon<strong>as</strong>terios inseridos en su cerca <strong>de</strong>2136 Cfr. COCHERIL, Dom Maur ; Op. cit; pp.182-18337 Jean Leclercq, Elie Lambert, Miguel Oliveira entre outros.38 Cfr. COCHERIL, Dom Maur; Op. cit; p.181


1. INTRODUCCIÓN22clausura h<strong>as</strong>ta pequeñ<strong>as</strong> iglesi<strong>as</strong> (único vestigio <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong>l que otrorahiciera parte), m<strong>em</strong>ori<strong>as</strong> r<strong>em</strong>anecientes <strong>de</strong> esos mon<strong>as</strong>terios <strong>de</strong> otrora, algunosolvidados, y que ahora se traen <strong>de</strong> nuevo a la m<strong>em</strong>oria no solo por suimportancia como patrimonio tangible pero también como patrimoniointangible.A fin <strong>de</strong> que esta contextualización fuera posible, ha sido necesarioproce<strong>de</strong>r a la i<strong>de</strong>ntificación <strong>de</strong> l<strong>as</strong> claves <strong>de</strong> lectura territorial, que permitieronla aparición <strong>de</strong> l<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Císter, <strong>as</strong>í como también la integración <strong>de</strong>lobjeto arquitectónico en el territorio.La relación <strong>de</strong> l<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Císter con el futuro, es <strong>de</strong>cir con elpresente, se encuentra profundamente vinculada a la cuestión <strong>de</strong> cómorehabilitar, al tipo <strong>de</strong> acciones que existen en este ámbito, a l<strong>as</strong> estrategi<strong>as</strong> autilizar, a los métodos e instrumentos aplicados, en concreto a la creación <strong>de</strong>pr<strong>em</strong>is<strong>as</strong> que auxilien y conduzcan a la elaboración <strong>de</strong> un plan director tipopara la arquitectura <strong>cister</strong>ciense.En el campo <strong>de</strong> la rehabilitación <strong>de</strong> este legado existen ya algunostrabajos <strong>de</strong>sarrollados, y <strong>de</strong>sarrollándose, por parte <strong>de</strong>l Instituto Portugués <strong>de</strong>lPatrimonio Arquitectónico (IPPAR) 39 , ahora IGEPAR, y por la Dirección General<strong>de</strong> los Edificios y Monumentos Nacionales (DGMEN) 40 , ahora IHRU, que merecenser tomados en consi<strong>de</strong>ración, <strong>as</strong>í como también por algun<strong>as</strong> institucionesprivad<strong>as</strong>. 41Es importante mencionar la rehabilitación <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa Maríado Bouro, ahora transformado en Posada con proyecto <strong>de</strong> los ArquitectosEduardo Souto <strong>de</strong> Moura y Humberto Vieira <strong>as</strong>í como el proyecto <strong>de</strong>valorización <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa María <strong>de</strong> Alcobaça cuyos autores son losarquitectos Gonçalo Byrne y João Pedro Falcão <strong>de</strong> Campos.A lo largo <strong>de</strong> esta tesis se verifica la permanente existencia <strong>de</strong> cuatro el<strong>em</strong>entos,en vuelta <strong>de</strong> los cuales se ha <strong>de</strong>sarrollado esta investigación:1.Contexto;2.Territorio;3.Lenguaje Arquitectónico;39 Como son el c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> los Mon<strong>as</strong>terios: Arouca, Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>, S. João <strong>de</strong> Tarouca, Santa Maria<strong>de</strong> Aguiar, Lorvão y Alcobaça.L<strong>as</strong> líne<strong>as</strong> <strong>de</strong> acción <strong>de</strong>l IPPAR se relacionan con el proseguimiento <strong>de</strong> l<strong>as</strong> intervenciones <strong>de</strong> recuperación evalorización <strong>de</strong> los monumentos, recualificación <strong>de</strong> los espacios; resolución <strong>de</strong> probl<strong>em</strong><strong>as</strong> relacionados conel rescate <strong>de</strong> propiedad; <strong>de</strong>finición <strong>de</strong> program<strong>as</strong> <strong>de</strong> utilización y reutilización <strong>de</strong> los espacios recuperados;recuperación integral <strong>de</strong> los cuerpos <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Iglesi<strong>as</strong> pertenecientes a los mon<strong>as</strong>terios.40 Tener en mente l<strong>as</strong> campañ<strong>as</strong> <strong>de</strong> conservación, restauración y rehabilitación realizad<strong>as</strong> por la DGMEN.41 Como es el c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Posad<strong>as</strong> <strong>de</strong> Portugal, <strong>de</strong> l<strong>as</strong> cuales hace parte integrante el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> SantaMaria do Bouro.


1. INTRODUCCIÓN4.Rehabilitación.Consecuent<strong>em</strong>ente es muy importante percibir el génesis y <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> losmon<strong>as</strong>terios <strong>cister</strong>cienses en Portugal, su inserción en el territorio, sutransformación y la permanencia <strong>de</strong> eses mismos espacios. Así como percibircómo la cultura portuguesa ha entendido la Arquitectura <strong>de</strong>l Císter, cómo la ha<strong>as</strong>imilado y se la ha apropiado.Es importante percibir el encuentro entre la arquitectura cont<strong>em</strong>poránea yla arquitectura <strong>cister</strong>ciense, portadora <strong>de</strong> especificaciones, dada la situación<strong>de</strong> riqueza cultural y cualidad en los nuevos usos <strong>de</strong> est<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> <strong>as</strong>ícomo la repercusión en el territorio.Es interesante <strong>de</strong>mostrar que la arquitectura <strong>de</strong> la or<strong>de</strong>n <strong>de</strong>l Císter seapoya en algun<strong>as</strong> fundamentaciones teóric<strong>as</strong> también presentes en laarquitectura mo<strong>de</strong>rna y cont<strong>em</strong>poránea. Partiéndose <strong>de</strong>l entendimiento <strong>de</strong> l<strong>as</strong>arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong> la or<strong>de</strong>n <strong>de</strong>l Císter como fuente <strong>de</strong> inspiración y <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong>arquitectur<strong>as</strong> cont<strong>em</strong>poráne<strong>as</strong>. 42 .Será <strong>de</strong>l mismo modo interesante acercarse a lo que se ha venidorealizando, <strong>as</strong>í como lo que aún se realizará y el modo cómo se llevan a caboest<strong>as</strong> transformaciones.Así, es necesaria la enumeración <strong>de</strong> algunos puntos necesarios para unabordaje sist<strong>em</strong>ático <strong>de</strong> este t<strong>em</strong>a:1.Introducción;2.Cister: antece<strong>de</strong>ntes, origen y estructura 43 ;2342 Pue<strong>de</strong> encontrarse la influencia <strong>de</strong> l<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Or<strong>de</strong>n <strong>de</strong>l Císter en La Tourette <strong>de</strong> Corbusier, cfr.BAZIN, Jean-François; Abcedaire <strong>de</strong>s Cisterciens et du Mon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cîteaux; Flammarion- ANCR; Paris 1998 pp. 78– 79 y TOBIN, Stephen; Les Cisterciens – Moines et Mon<strong>as</strong>tères d’Europe; Les Éditions du Cerf; Paris 1995 p. 15,/MARTINS, Ana Maria Tavares e Ana Lídia VIRTUDES; From the plan to the Project: Approaches to Mo<strong>de</strong>rnity. TheExperience of La Tourette, in “Aproaches to Mo<strong>de</strong>rnity”; Maria Helena Maia e Mariann Simon editores; CEAA -Centro <strong>de</strong> Estudos Arnaldo Araújo; Porto, 2011 <strong>as</strong>í como l<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> cont<strong>em</strong>poráne<strong>as</strong> <strong>de</strong> Le Corbusier,Álvaro Siza Vieira, Eduardo Souto <strong>de</strong> Moura, Gonçalo Byrne, John Pawson, entre otros. A<strong>de</strong>más es interesantepercibir la relación <strong>de</strong>l “minimalismo” <strong>cister</strong>ciense con el minimalismo <strong>de</strong> autores cont<strong>em</strong>poráneos, que<strong>as</strong>umen su directa influencia, como es el c<strong>as</strong>o <strong>de</strong>l arquitecto inglés John Pawson. Cfr. PAWSON, John ;Minimum ; Phaidon Press Limited; 1996; pp. 14-21 / PAWSON, John; Minimalisme Cistercien in “FranceCatholique”; nº 2757; 6 Octobre 2000Cfr. MARTINS, Ana Maria Tavares; Medieval Cistercian Architectural Heritage: from the I<strong>de</strong>al to the Reality,apresentado na ROUND TABLE: MEDIEVAL ARCHITECTURAL HERITAGE: WHAT IS REAL? in Act<strong>as</strong> do IstInternational Meeting EAHN – European Architectural History Network (June 17-20, 2010), Guimarães, Portugaland Book of Abstracts ;Jorge Correia (Ed.); CHAM – Centro <strong>de</strong> História <strong>de</strong> Além Mar; EAUM – Escola <strong>de</strong>Arquitectura da Universida<strong>de</strong> do Minho; EAHN – European Architectural History Network; 2010 / MARTINS, AnaMaria Tavares; MINIMALISMO CISTERCIENSE: <strong>de</strong>l Cister <strong>de</strong>l siglo XII al “Minimum” <strong>de</strong>l siglo XXI in Act<strong>as</strong> do IICongreso Internacional <strong>de</strong> Arquitectura Religiosa Cont<strong>em</strong>poránea - ARQUITECTURA RELIGIOSACONTEMPORÁNEA: ENTRE EL CONCEPTO Y LA IDENTIDAD; Ed. Fundación Santa María Nai, Delegación <strong>de</strong>Ourense <strong>de</strong>l COAG; Ourense, 2009 (en edición)43 De modo a permitir retirar algun<strong>as</strong> referenci<strong>as</strong> e ilaciones como contribución a esta investigación.


1. INTRODUCCIÓN243.Cister en Portugal: <strong>de</strong> los orígenes a la actualidad;4.Pr<strong>em</strong>is<strong>as</strong> <strong>de</strong>l espacio <strong>cister</strong>ciense portugués;5.Arquitectura <strong>cister</strong>ciense en Portugal;6.Cister en Portugal: arquitectura vs. inserción en el territorio;7.Cister: Patrimonio, Rehabilitación y Cont<strong>em</strong>poraneidad;8.Conclusiones;9.Inventariación <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Arquitectur<strong>as</strong> Cistercienses Portugues<strong>as</strong>,sumaria y abreviada 44 /Anexos documentales10.Cronología monástico-<strong>cister</strong>ciense según l<strong>as</strong> perspectiv<strong>as</strong> dinásticay republicana portugues<strong>as</strong>11.Glosario;12.Bibliografía.De esta impl<strong>em</strong>entación, se busca una contribución para el <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> unplan director <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong> Císter. Permitiendo <strong>as</strong>í crear un estudio queposibilite, por lo menos al nivel <strong>de</strong> la metodología y <strong>de</strong> intervención, laimpl<strong>em</strong>entación <strong>de</strong> planos directores <strong>de</strong> monumentos a la s<strong>em</strong>ejanza do lo queya se hizo en otros países, pero aquí adaptada a la realidad <strong>cister</strong>ciense.Por otro lado se ha procurado contribuir para el enriquecimiento <strong>de</strong>lconocimiento sobre la Or<strong>de</strong>n <strong>de</strong>l Císter en Portugal creyéndose que en unfuturo próximo, la información sea disponibilizada para el público en general,según l<strong>as</strong> nuev<strong>as</strong> necesida<strong>de</strong>s informativ<strong>as</strong> y comunicativ<strong>as</strong>, a través <strong>de</strong> lacreación <strong>de</strong> una b<strong>as</strong>e <strong>de</strong> datos en re<strong>de</strong>.44 Teniendo por b<strong>as</strong>e: el Roteiro d<strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong> Cistercienses <strong>de</strong> Portugal <strong>de</strong> Dom Maur Cocheril; PeregrinatioHispânica – viaje <strong>de</strong> Dom Èdme <strong>de</strong> Saulieu, Abad <strong>de</strong> Clairvaux, a España y Portugal (1531-1533) / tener enmente los cambios <strong>de</strong> uso que est<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> han sofrido a lo largo <strong>de</strong> los ti<strong>em</strong>pos y cual su actualutilización. Cfr. estudio similar in CANO, María Teresa Pérez e Eduardo Mosquera A<strong>de</strong>ll; Arquitectura en losConventos <strong>de</strong> Sevilla – una aproximación patrimonial a l<strong>as</strong> clausur<strong>as</strong>; Junta <strong>de</strong> Andalucía, Consejería <strong>de</strong>Cultura y Medio Ambiente; Sevilla; 1991


1. INTRODUCCIÓN1.4.METODOLOGÍASe ha elaborado un listado <strong>de</strong> los vestigios <strong>de</strong> la arquitectura <strong>cister</strong>ciense en elterritorio nacional que ha tenido como b<strong>as</strong>e: el Routier <strong>de</strong> Dom Maur Cocheril 45 ;la Peregrinatio Espanica <strong>de</strong> Dom Edme Salieu 46 ; el Relatório Preliminar 47 <strong>de</strong> los“Itinerários <strong>de</strong> Cister” (1998) con vista al protocolo entre el antiguo IPPAR –Instituto portugués <strong>de</strong>l patrimonio arquitectónico 48 con aquella que eraentonces la DGT – Dirección General <strong>de</strong> Turismo; material disponibilizado por laDGEMN – Dirección General <strong>de</strong> Edificios y Monumentos Nacionales 49 ; el cruce<strong>de</strong> informaciones y lectur<strong>as</strong> divers<strong>as</strong> sobre el t<strong>em</strong>a.Atendiendo a la diversidad <strong>de</strong> vestigios subsistentes y <strong>de</strong> los distintosestados <strong>de</strong> conservación y adulteración <strong>de</strong> los mismos se ha optado por incluiren este estudio únicamente los mon<strong>as</strong>terios m<strong>as</strong>culinos y f<strong>em</strong>eninos, haciendo<strong>as</strong>í su separación por géneros. Nótese la importancia <strong>de</strong> esta división, en elámbito <strong>de</strong> esta tesis, pues los mon<strong>as</strong>terios m<strong>as</strong>culinos son morfológicamentedistintos <strong>de</strong> los f<strong>em</strong>eninos.Consecuent<strong>em</strong>ente se ha optado por relegar para una otra oportunidad<strong>de</strong> investigación l<strong>as</strong> <strong>de</strong>más arquitectur<strong>as</strong>. Sin <strong>em</strong>bargo, ha sido todavíaimportante tejer consi<strong>de</strong>raciones no sólo sobre la t<strong>em</strong>ática en cuestión perotambién sobre l<strong>as</strong> repercusiones <strong>de</strong> esta en la arquitectura y rehabilitacionesactuales.Se ha procedido a una investigación “in situ” <strong>de</strong> los diversos el<strong>em</strong>entos enestudio teniendo en vista en una primera f<strong>as</strong>e el registro gráfico y fotográfico <strong>as</strong>ícomo el reconocimiento <strong>de</strong>l territorio y <strong>de</strong> la especificidad <strong>de</strong>l objeto <strong>de</strong>estudio. Se ha procedido a<strong>de</strong>más a la recopilación <strong>de</strong> documentación gráfica,fotográfica, cartográfica, textual y coor<strong>de</strong>nad<strong>as</strong> geográfic<strong>as</strong> (Fig. 3).Se han rediseñado los planos <strong>de</strong> los el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> estudio, pues son raroslos planes <strong>de</strong> conjunto, <strong>de</strong> modo a volver perceptible la localización específica<strong>de</strong> cada fotografía y/o diseño.2545 COCHERIL, Dom Maur; Routier <strong>de</strong>s Abbayes Cisterciennes du Portugal; Fundação Calouste Gulbenkian;Centro Cultural Português; Paris; 197846 BRONSEVAL, Frère Clau<strong>de</strong> <strong>de</strong> ; Peregrinatio Hispanica; (ed. Dom Maur Cocheril); PUF; Paris; 197047 Itinerários <strong>de</strong> Cister, Relatório Preliminar; 2 vols; Dep <strong>de</strong> Estudos do IPPAR; Março 199848 El IPPAR ha sido reestructurado habiendo sido creado el Instituto <strong>de</strong> Gestión <strong>de</strong>l Patrimonio Arquitectónico yArqueológico que resulta <strong>de</strong> la fusión <strong>de</strong>l Instituto Portugués <strong>de</strong>l Patrimonio Arquitectónico y <strong>de</strong>l InstitutoPortugués <strong>de</strong> Arqueología y que incorpora todavía parte <strong>de</strong> l<strong>as</strong> atribuciones <strong>de</strong> la extinta Dirección General<strong>de</strong> los Edificios y Monumentos Nacionales (Cfr.DL nº 96/2007 <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> Marzo) como ha sido antes comentado.49 L<strong>as</strong> atribuciones <strong>de</strong> la extinta DGEMN que no han quedado bajo tutela <strong>de</strong>l IGESPAR han sido transferid<strong>as</strong>para el IHRU – Instituto <strong>de</strong> la Habitación y Rehabilitación Urbana.


1. INTRODUCCIÓNFig. 3 “Print screen” <strong>de</strong> ej<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> los ficheros <strong>de</strong>l levantamiento gráfico, fotográfico y cartográficoefectuado (elaborado por la autora).26A<strong>de</strong>más se han dibujado los planes individuales, para cada el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong>estudio: con la mo<strong>de</strong>lación <strong>de</strong>l territorio para el estudio <strong>de</strong> su inserción en elterritorio <strong>as</strong>í como planes individuales <strong>de</strong> sus implantaciones (Fig. 4).Esta ha sido una <strong>de</strong> l<strong>as</strong> gran<strong>de</strong>s dificulta<strong>de</strong>s <strong>de</strong> este trabajo: la inexistencia<strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos gráficos suficientes, existiendo apen<strong>as</strong> información parcial y porveces ten<strong>de</strong>nciosa. Por este motivo ha sido necesario rediseñar prácticamentetodos los planes <strong>de</strong> los mon<strong>as</strong>terios <strong>cister</strong>cienses en Portugal.Sin <strong>em</strong>bargo el plano <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa María <strong>de</strong> Alcobaça fuegentilmente cedido por el arquitecto João Pedro Falcão <strong>de</strong> Campos, el plano<strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro fue gentilmente cedido por elarquitecto Eduardo Souto <strong>de</strong> Moura y el plano <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Arouca fuegentilmente cedido por el arquitecto Humberto Vieira.Todavía <strong>de</strong>be referirse que se han utilizado los sist<strong>em</strong><strong>as</strong> <strong>de</strong> informacióngeográfica <strong>de</strong> modo a que fuera posible tejer consi<strong>de</strong>raciones relativamente ala inserción y proliferación por el territorio portugués.Con el intento <strong>de</strong> la creación <strong>de</strong> un registro actual, relacionado con laarquitectura <strong>de</strong>l Císter fue realizada una ficha tipo a fin <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r establecerrelaciones y extraer conclusiones. Se <strong>de</strong>finió un cuadro síntesis <strong>de</strong> l<strong>as</strong>arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Císter en cuanto sist<strong>em</strong>a, como ha sido anteriormente referido.


1. INTRODUCCIÓNSe ha elaborado una B<strong>as</strong>e <strong>de</strong> Datos con información, consi<strong>de</strong>raciones,fotografí<strong>as</strong>, plant<strong>as</strong> y cartografía, para cada uno <strong>de</strong> los el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> estudio<strong>de</strong> modo a servir <strong>de</strong> punto <strong>de</strong> partida y a facilitar el acceso a la información.27Fig. 4 Ej<strong>em</strong>plo <strong>de</strong>l trabajo gráfico que ha sido necesario realizarse, para cada uno <strong>de</strong> los ej<strong>em</strong>plares<strong>cister</strong>cienses en estudio a lo largo <strong>de</strong> esta tesis. Se presentan tres diseños, utilizando distint<strong>as</strong> escal<strong>as</strong>, relativosal Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca: un a la escala territorial, otro a la escala <strong>de</strong> la implantación <strong>de</strong>lconjunto monacal y otro a la escala <strong>de</strong>l objeto arquitectónico (diseños elaborados por la autora).Asimismo, ha sido rellenada una ficha <strong>de</strong> inventario para cada uno <strong>de</strong> losobjetos <strong>de</strong> estudio siendo que est<strong>as</strong> fich<strong>as</strong> son el suporte <strong>de</strong> toda la B<strong>as</strong>e <strong>de</strong>datos anteriormente mencionada.La comprensión <strong>de</strong> est<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> como producción unitaria, a pesar<strong>de</strong> l<strong>as</strong> <strong>de</strong>bid<strong>as</strong> variantes, provocad<strong>as</strong> por la natural evolución <strong>de</strong>l sist<strong>em</strong>a, p<strong>as</strong>apor el tratamiento global <strong>de</strong> aquella producción en Portugal y en Europa, por elanálisis <strong>de</strong> los program<strong>as</strong> <strong>de</strong> uso actuales en l<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Císter, <strong>as</strong>ícomo por la comprensión <strong>de</strong> los lugares y <strong>de</strong> lo construido.


1. INTRODUCCIÓN1.4.1.CREACIÓN DE LA BASE DE DATOSComo se ha referido se ha buscado <strong>de</strong>finir un cuadro síntesis <strong>de</strong> l<strong>as</strong>arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Císter en cuanto sist<strong>em</strong>a con l<strong>as</strong> implicaciones apuntad<strong>as</strong>anteriormente. Así con el intuito <strong>de</strong> la creación <strong>de</strong> un registro actualrelacionado con la arquitectura <strong>de</strong>l Císter ha sido <strong>de</strong>sarrollada una ficha tipo<strong>de</strong> modo a permitir el análisis y registro <strong>de</strong> los el<strong>em</strong>entos consi<strong>de</strong>radosesenciales y fundamentales <strong>as</strong>í como también permitir establecer relaciones yconclusiones.Para posibilitar un acceso más eficaz a la información recopilada se haoptado por la utilización <strong>de</strong> una referencia para cada el<strong>em</strong>ento estudiado.ARQUITECTURAS GÉNERO GÉNESIS RELACIÓNINSERCIÓN EN ELTERRITÓRIO1. MONTAÑA1. EXISTENTE281. MONASTERIO1. FUNDADO1. MASCULINO 2. VALLE2. FEMININO 3. ALTIPLANICIE2. FILIADO2. VESTIGIOS4. PLANICIEEsq. 1 Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> referencia para la i<strong>de</strong>ntificación <strong>de</strong> los objetos <strong>de</strong> estudio utilizado en la elaboración <strong>de</strong>l<strong>as</strong> fich<strong>as</strong> tipo (esqu<strong>em</strong>a y síntesis elaborados por la autora).Cada objeto <strong>de</strong> estudio ha sido referenciado a través <strong>de</strong> un código alfanuméricocompuesto por cinco dígitos correspondientes a su tipificaciónconsonante: el tipo, el género, el génisis, la relación <strong>de</strong> este con la actualidad yla inserción en el territorio. (Esq. 1)A estos cinco primeros dígitos fueron acrecidos ocho caracteres, siendocuatro letr<strong>as</strong> relacionad<strong>as</strong> con su <strong>de</strong>nominación, dos letr<strong>as</strong> i<strong>de</strong>ntificativ<strong>as</strong> <strong>de</strong>ldistrito en lo cual se insiere y dos i<strong>de</strong>ntificativ<strong>as</strong> <strong>de</strong> la diócesis a la quepertenece, como se pue<strong>de</strong> compren<strong>de</strong>r a través <strong>de</strong>l esqu<strong>em</strong>a <strong>de</strong> referenciaque se presenta <strong>de</strong> seguida:[5 DÍGITOS + 4 LETRAS (NOMBRE) + 2 LETRAS (DISTRITO) + 2 LETRAS (DIÓCESIS)]


1. INTRODUCCIÓNConsecuent<strong>em</strong>ente l<strong>as</strong> referenci<strong>as</strong>, consonante el código alfa-numérico,son i<strong>de</strong>ntificativ<strong>as</strong> e individuales para cada objeto <strong>de</strong> estudio y son l<strong>as</strong> que seenumeran <strong>de</strong> seguida:MONASTERIOS MASCULINOS11211.FIAE.VC.VC ………………………………….……Sta Maria <strong>de</strong> Fiães11212.ERME.VC.VC…………………………..………...Sta maria <strong>de</strong> Ermelo11212.BOUR.BR.BR………………………………...……..Sta Maria do Bouro11211.JUNI.VR.VR………………………………………Sta Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>11212.SPAV.VI.LM……………………………S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o velho)11212.SPAN.VI.LM…………………………...S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o novo)11222.VSAL.VI.LM………………………………Abadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>11212.SALZ.VI.LM…………………………………….Sta Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>11212.SJTA.VI.LM………………………………………..S. João <strong>de</strong> Tarouca11212.LAFO.VI.VI……………………………………..S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões11212.MADA.VI.VI…………………………….. Sta Maria <strong>de</strong> Maceira Dão11213.SMAG.GA.GA………………………………….. Sta Maria <strong>de</strong> Aguiar11113.ESTR.CB.PC……………………………………... Sta Maria da Estrela11214.ALMA.CO.CO………………………………….S. Paulo <strong>de</strong> Almaziva11214.ESSA.CO.CO……………………………………………..Espírito Santo11214.SEIC.CO.CO………………………………………Sta Maria <strong>de</strong> Seiça11114.ALCO.CO.LE………………………………..Sta Maria <strong>de</strong> Alcobaça11114.DEST.LX.LX……………………………………...Sta Maria do DesterroMONASTERIOS FEMININOS12224.BOUC.PT.PT…………………………………. S. Salvador d<strong>as</strong> Bouç<strong>as</strong>12212.AROU.AV.PT…………………………S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca12112.TABO.VI.LM………………………N. Sra da Purificação <strong>de</strong> Tabosa12212.LORV.CO.CO………………………………...S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão12212.CELA.CO.CO……………………………………..Sta Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>12114.MCOS.LE.CO………………………………………. Sta Maria <strong>de</strong> Cós12112.ODIV.LX.LX………………………………………. S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>12112.MOCA.LX.LX………………………N. Sra <strong>de</strong> Nazaré <strong>de</strong> Mocambo12114.ALMO.SA.SA…………………………………. Sta Maria <strong>de</strong> Almoster12113.PORT.PL.PC……………………………….S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre12213.CAST.EV.EV………………………………………...S. Bento <strong>de</strong> Cástris12114.TAVI.FA.FA……………..………………N. Sra da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tavira29


1. INTRODUCCIÓNEfectivamente, a cada ej<strong>em</strong>plar <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Císter, <strong>de</strong>bidamentereferenciado según los mol<strong>de</strong>s anteriormente <strong>de</strong>scritos, correspon<strong>de</strong> una fichaque ha sido elaborada a través <strong>de</strong> la respuesta a algunos parámetrospre<strong>de</strong>terminados.Cabe todavía resaltar que cada campo o parámetro fundamental sesubdivi<strong>de</strong> en campos más específicos y que requieren un <strong>de</strong>talle <strong>de</strong>información más profundizado con el objetivo <strong>de</strong> auxiliar en elaboración y<strong>de</strong>finición <strong>de</strong>l cuadro síntesis <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Císter en Portugal.Consecuent<strong>em</strong>ente, cada ficha posee trece parámetros fundamentalespara que una correcta análisis y estudio <strong>de</strong> cada el<strong>em</strong>ento referenciado seaposible: I<strong>de</strong>ntificación; Localización; Accesibilida<strong>de</strong>s; Encuadramientogeográfico; Propiedad; Arquitectura; Usos; Encuadramiento histórico;Protección; Conservación; Intervenciones; Documentación anexa.30Fig. 5 “Print screen” <strong>de</strong> la b<strong>as</strong>e <strong>de</strong> datos (elaborado por la autora)Todos los datos recopilados fueran inseridos en una b<strong>as</strong>e <strong>de</strong> datos en Accessque no solo permitió la disponibilidad y consulta <strong>de</strong> la información <strong>de</strong> un modopráctico y accesible como también se reveló una útil herramienta para el<strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong>l trabajo (Fig. 5).


1. INTRODUCCIÓNUna vez elaborado el cuadro síntesis <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Arquitectur<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses, enPortugal, <strong>as</strong>í como <strong>de</strong> su estado y el análisis <strong>de</strong> l<strong>as</strong> intervenciones efectuad<strong>as</strong>,ha sido posible, con b<strong>as</strong>e en estudios <strong>de</strong> c<strong>as</strong>o referenciados, p<strong>as</strong>ar a unaanálisis teórica fundamentada que subraya la actualidad <strong>de</strong>l c<strong>as</strong>o portuguésen lo que respecta al legado <strong>cister</strong>ciense.Este cuadro síntesis <strong>as</strong>í como todos sus datos están <strong>as</strong>ociados a un sist<strong>em</strong>ageoreferenciado (Fig. 6) siendo por eso, este cuadro síntesis, una herramientaesencial no sólo en esta t<strong>em</strong>ática como también en esta tesis.31Fig. 6 “Print screen” <strong>de</strong>l sist<strong>em</strong>a georeferenciado (elaborado por la autora)Es todavía <strong>de</strong> subrayar que ha sido necesario proce<strong>de</strong>r a la ejecución <strong>de</strong>cartografía específica para todos y cada uno <strong>de</strong> los ej<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> l<strong>as</strong>Arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Císter en Portugal con vista a comprobar, fundamentar eprofundizar su conocimiento permitiendo síntesis y conclusiones, por lo que huboun g<strong>as</strong>to <strong>de</strong> ti<strong>em</strong>po muy largo y no previsto que no había sido contabilizadoinicialmente.De igual modo se ha procedido a la elaboración <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos gráficoscorrespondientes a una síntesis <strong>de</strong> la información (recopilada y procesada através <strong>de</strong> la b<strong>as</strong>e <strong>de</strong> datos en Access y operada a través <strong>de</strong>l recurso a lossist<strong>em</strong><strong>as</strong> <strong>de</strong> información geográfica) que apoya el texto y l<strong>as</strong> conclusiones <strong>de</strong>esta tesis.


1. INTRODUCCIÓN1.4.2.MATRIZ DE LA FICHA TIPODe seguida se presenta la matriz <strong>de</strong> la ficha tipo utilizada en la creación <strong>de</strong> lab<strong>as</strong>e <strong>de</strong> datos en Acess:NOMBRE E Nº DE INVENTARIO ATRIBUIDO321. IDENTIFICACIÓN1.1. Denominación efectiva1.2. Otr<strong>as</strong> <strong>de</strong>nominaciones1.3. IPA (DGEMN) – Designación1.4. IPA (DGEMN) – nº <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificación1.5. IPPAR – Designación1.6. IPPAR – nº <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificación1.7. Fundación I Filiación1.8. Diócesis1.9. Construcción1.10. Género2. LOCALIZAÇÃO2.1. Provincia2.2. Distrito2.3. Concejo2.4. Parroquia2.5. Dirección Postal3. ACCESSIBILIDADES3.1. Accesos3.2. Grau <strong>de</strong> Accesibilidad3.3. Visita3.4. Condicionantes <strong>de</strong> visita3.5. Contactos4. ENCUADRAMIENTO GEOGRÁFICO4.1. Cartografía 1/50000 (serie M782)4.2. Cartografía 1/25000 (serie M888)4.3. Implantación en el Territorio4.4. Tipo <strong>de</strong> implantación en el Territorio4.5. Coor<strong>de</strong>nad<strong>as</strong> WGS-844.6. Coor<strong>de</strong>nad<strong>as</strong> Gauss-Militar4.7. Fotografía aérea4.8. Envolvente4.9. Altitud4.10. Proximida<strong>de</strong>s y relaciones4.11. Obs.5. PROPIEDAD5.1. Tipo5.2. Afectación / Ocupación


1. INTRODUCCIÓN6. ARQUITECTURA6.1. Tipología6.2. Estilo dominante6.3. Estilos paralelos6.4. Implantación6.5. Descripción <strong>de</strong>l exterior6.6. Descripción <strong>de</strong>l interior6.7. Planta6.8. Iglesia – planta6.9. Iglesia – cabecera6.10. Claustros existentes – n°6.11. Claustros existentes – forma6.12. Materiales6.13. Arquitecto(s) I constructor(es)6.14. Obs.7. USOS7.1. Uso inicial7.2. Uso actual7.3. Cronología <strong>de</strong> usos8. ENCUADRAMENTO HISTÓRICO8.1. Cronología8.2. Visitación D. Edme <strong>de</strong> Salieu I Clau<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bronseval8.3. Obs.9. PROTECCIÓN9.1. Tipo9.2. Documentos legales10. CONSERVACIÓN10.1. Estado10.2. Autenticidad10.3. Integridad10.4. Obs.11. INTERVENCIONES11.1. Tipo11.2. Cronología <strong>de</strong> l<strong>as</strong> intervenciones11.3. Arquitecto(s)11.4. Entida<strong>de</strong>s11.5. Propuest<strong>as</strong>11.6. Obs.A. DOCUMENTACIÓN ANEXAA.1. Diseños técnicosA.2. Fotografí<strong>as</strong> exterioresA.3. Fotografí<strong>as</strong> interioresA.4. Croquis33


1. INTRODUCCIÓN1.4.3.ENTIDADESFig. 7 Página <strong>de</strong> Misal según el rito <strong>cister</strong>ciense(Archivo <strong>de</strong> la Biblioteca Nacional, col. Alcobaça)34En respecto a la recopilación <strong>de</strong> datos e investigación bibliográfica (fig. 7) es <strong>de</strong>subrayar la continuada y relevante importancia que tuvieran para estainvestigación l<strong>as</strong> entida<strong>de</strong>s públic<strong>as</strong> y privad<strong>as</strong> que se p<strong>as</strong>an a enumerar:La Biblioteca Nacional (BN), por la v<strong>as</strong>ta cuantidad <strong>de</strong> publicaciones,act<strong>as</strong> <strong>de</strong> congresos y estudios académicos que posee sobre esta t<strong>em</strong>ática.La Biblioteca <strong>de</strong> la Facultad <strong>de</strong> Letr<strong>as</strong> <strong>de</strong> la Universidad do Oporto (FLUP),por la v<strong>as</strong>ta cuantidad <strong>de</strong> publicaciones, act<strong>as</strong> <strong>de</strong> congresos y estudiosacadémicos que posee sobre esta t<strong>em</strong>ática.La Biblioteca General <strong>de</strong> la Universidad <strong>de</strong> Sevilla, por la v<strong>as</strong>ta cuantidad<strong>de</strong> publicaciones, act<strong>as</strong> <strong>de</strong> congresos y estudios académicos que posee sobreesta t<strong>em</strong>ática.La Biblioteca <strong>de</strong> Arquitectura <strong>de</strong> la Escuela Técnica Superior <strong>de</strong> Arquitecturada Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sevilha (ETSA), por la v<strong>as</strong>ta cuantidad <strong>de</strong>publicaciones, act<strong>as</strong> <strong>de</strong> congresos y estudios académicos que posee sobreesta t<strong>em</strong>ática.La Biblioteca João Paulo II <strong>de</strong> la Universidad Católica Portuguesa, Polo <strong>de</strong>Lisboa (UCP), por l<strong>as</strong> publicaciones que posee sobre esta t<strong>em</strong>ática y por l<strong>as</strong>publicaciones relativ<strong>as</strong> al Patrimonio y Religión en general.La Biblioteca <strong>de</strong> la Universidad <strong>de</strong> Beira Interior (UBI), por la v<strong>as</strong>tacuantidad <strong>de</strong> publicaciones, act<strong>as</strong> <strong>de</strong> congresos y estudios académicos queposee sobre la Región <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong> a nivel histórico y monográfico.El Fuerte <strong>de</strong> Sacavém 50 (DGEMN / IHRU), por el acervo documental,gráfico y fotográfico que coloca a la disposición <strong>de</strong> los investigadores sobre50 El Fuerte <strong>de</strong> Sacavém, durante gran parte <strong>de</strong> esta investigación, pertenecía a la DGEMN – DirecciónGeneral <strong>de</strong> los Edificios y Monumentos Nacionales y albergabael IPA – Inventario <strong>de</strong>l Patrimonio


1. INTRODUCCIÓNedificios don<strong>de</strong> la antigua DGEMN ha intervenido o que hacen parte integrante<strong>de</strong>l SIPA - Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Información para el Patrimonio Arquitectónico.La Biblioteca <strong>de</strong> la Dirección General <strong>de</strong> los Edificios y MonumentosNacionales 51 (DGEMN) por l<strong>as</strong> publicaciones que posee sobre Patrimonio.El Departamento <strong>de</strong> Estudios <strong>de</strong>l Instituto Portugués <strong>de</strong>l Patrimonio Arquitectónico(IPPAR) que permitió la consulta <strong>de</strong>l documento interno sobre los “Itinerários<strong>de</strong> Cister” 52 y la Biblioteca <strong>de</strong>l Instituto Portugués <strong>de</strong>l Patrimonio Arquitectónico53 (IPPAR) por l<strong>as</strong> publicaciones que posee sobre esta t<strong>em</strong>ática y porl<strong>as</strong> publicaciones relativ<strong>as</strong> al Patrimonio en general.La Biblioteca particular <strong>de</strong>l Profesor Doctor José Ama<strong>de</strong>u Coelho Di<strong>as</strong>(Frei Geraldo, OSB), existente en el Mon<strong>as</strong>terio Benedictino <strong>de</strong> São Bento daVitória, en Oporto, por la v<strong>as</strong>ta cuantidad <strong>de</strong> publicaciones, act<strong>as</strong> <strong>de</strong>congresos y estudios académicos que posee sobre esta t<strong>em</strong>ática (muchos <strong>de</strong>ellos <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong>l propio Frei Geraldo, Abad <strong>de</strong> este Mon<strong>as</strong>terio)La Biblioteca particular <strong>de</strong>l Profesor Doctor Michael Mathi<strong>as</strong>, existente enel CEPA - Centro <strong>de</strong> Estudios <strong>de</strong>l Patrimonio Arquitectónico (Universidad <strong>de</strong> BeiraInterior – Departamento <strong>de</strong> Ingeniería Civil y Arquitectura), en la ciudad <strong>de</strong>Covilhã, por la v<strong>as</strong>ta cuantidad <strong>de</strong> publicaciones y estudios académicos queposee sobre esta t<strong>em</strong>ática.La Biblioteca Municipal <strong>de</strong> Oporto por la v<strong>as</strong>ta información que allípue<strong>de</strong> encontrarse sobre Ór<strong>de</strong>nes monástic<strong>as</strong> y t<strong>em</strong>ática monásticoconventual.La Biblioteca Municipal <strong>de</strong> Viseu por la v<strong>as</strong>ta información que allí pue<strong>de</strong>encontrarse sobre el Or<strong>de</strong>n <strong>de</strong>l Císter en l<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong> (sobre todo en la magnificapublicación, iniciada en 1942 con carácter trimestral y que se extien<strong>de</strong> a laactualidad - la Revista “Beira Alta”)La Biblioteca Municipal <strong>de</strong> Póvoa <strong>de</strong> Varzim por la v<strong>as</strong>ta información queallí se pue<strong>de</strong> encontrar graci<strong>as</strong> a la visión <strong>de</strong>dicada y ap<strong>as</strong>ionada, sobre elCíster, do su antiguo Director Sr. Manuel Ferreira Lopes (fallecido durante laelaboración <strong>de</strong> esta tesis en el 14 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong>l 2006)El Instituto Geográfico <strong>de</strong>l Ejército (IgeoE) por la disponibilidad en larevelación y comercialización <strong>de</strong> l<strong>as</strong> fotografí<strong>as</strong> aére<strong>as</strong>, a una escala35Arquitectónico. Actualmente el Fuerte <strong>de</strong> Sacavém pertenece al IHRU – Instituto <strong>de</strong> la Habitación yRehabilitación Urbana siendo que el IPA se ha convertido en el SIPA - Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Información para elPatrimonio Arquitectónico (sin <strong>em</strong>bargo la información <strong>de</strong>l IPA o <strong>de</strong>l SIPA es la misma, ha cambiado elnombre pero no el inventario e información).51 La Biblioteca <strong>de</strong> la DGEMN transitó actualmente para el IHRU – Instituto <strong>de</strong> la Habitación y RehabilitaciónUrbana.52 Actualmente perteneciente al IGESPAR; Cfr. Itinerários <strong>de</strong> Cister, Relatório Preliminar; volume 1;Departamento <strong>de</strong> Estudos do Instituto Português do Património Arquitectónico – IPPAR; Março 1998 /Itinerários <strong>de</strong> Cister, Relatório Preliminar; volume 2; Departamento <strong>de</strong> Estudos do Instituto Português doPatrimónio Arquitectónico – IPPAR; Março 199853 La Biblioteca <strong>de</strong>l IPPAR pertenece actualmente al IGESPAR - Instituto <strong>de</strong> Gestión <strong>de</strong>l PatrimonioArquitectónico y Arqueológico.


1. INTRODUCCIÓNimportante para este estudio, <strong>as</strong>í como por haber facultado y comercializadol<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> a 1:25000 y a 1:50000 <strong>de</strong> relevante importancia para esta tesis.El Centro Nacional <strong>de</strong> Información Geográfica (CNIG) que facultó elacceso a l<strong>as</strong> coor<strong>de</strong>nad<strong>as</strong> geográfic<strong>as</strong> que referencian l<strong>as</strong> distint<strong>as</strong>localizaciones <strong>de</strong> los ej<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> la Arquitectura Cisterciense en Portugal.La Biblioteca <strong>de</strong> la Facultad <strong>de</strong> Arquitectura <strong>de</strong> la Universidad <strong>de</strong> Oporto(FAUP).La Biblioteca <strong>de</strong> la Facultad <strong>de</strong> Arquitectura <strong>de</strong> la Universidad Técnica <strong>de</strong>Lisboa (FAUTL).La Biblioteca <strong>de</strong> Arquitectura <strong>de</strong> la Facultad <strong>de</strong> Cienci<strong>as</strong> y Tecnología <strong>de</strong>la Universidad <strong>de</strong> Coimbra (FCTUC).36Fig. 8 Capa <strong>de</strong>l Boletín <strong>de</strong> la DGEMN nº 99, 1960.(archivo <strong>de</strong> la DGEMN / IRHU, Fuerte <strong>de</strong> Sacavém)En respecto a la adquisición <strong>de</strong> información fueran conseguidos, aún en esteperíodo y en l<strong>as</strong> entida<strong>de</strong>s referid<strong>as</strong> los el<strong>em</strong>entos que se siguen:De la Dirección General <strong>de</strong> lo Edificios y Monumentos Nacionales(DGEMN) se obtuvieron el<strong>em</strong>entos gráficos y fotográficos (fig. 8)Del Instituto Geográfico <strong>de</strong>l Ejército (IgeoE) se obtuvieron el<strong>em</strong>entos cartográficos,bajo la forma <strong>de</strong> cart<strong>as</strong> militares a distint<strong>as</strong> escal<strong>as</strong> (1:25000 y1:50000) y carta itineraria, <strong>as</strong>í como el<strong>em</strong>entos fotográficos, bajo la forma <strong>de</strong>fotografí<strong>as</strong> aére<strong>as</strong> <strong>de</strong> los ej<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> Arquitectura Cisterciense subsistentes enPortugal.Del Centro Nacional <strong>de</strong> Información Geográfica (CNIG) se obtuvieran l<strong>as</strong>Coor<strong>de</strong>nad<strong>as</strong> Geográfic<strong>as</strong>.Del Institute of Cistercian Studies – Western Michigan University (EUA) seobtuvieran publicaciones <strong>de</strong> estudios variados en el ámbito <strong>de</strong> la t<strong>em</strong>ática yinformación <strong>cister</strong>ciense.


1. INTRODUCCIÓNTodavía en lo que respecta a la adquisición <strong>de</strong> información diseñada se<strong>de</strong>stacan los Atelieres <strong>de</strong> los siguientes arquitectos, que sin encargos yprontamente han facultado los el<strong>em</strong>entos solicitados:Arquitecto Eduardo Souto <strong>de</strong> Moura que ha facultado fotografí<strong>as</strong>, plant<strong>as</strong>,secciones, alzados y croquis <strong>de</strong> la intervención realizada en el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong>Santa Maria do Bouro.Arquitecto Humberto Vieira (fallecido durante la realización <strong>de</strong> esta tesis)que ha facultado información gráfica sobre el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo<strong>de</strong> Arouca <strong>as</strong>í como información gráfica sobre el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong>Tarouca.Arquitecto João Pedro Falcão <strong>de</strong> Campos que ha facultado informacióngráfica <strong>de</strong> la intervención conjunta con el Arquitecto Gonçalo Byrne en elMon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça.Así como se <strong>de</strong>stacan los el<strong>em</strong>entos cedidos por entida<strong>de</strong>s municipales,particularmente por el Ayuntamiento <strong>de</strong> Figueira <strong>de</strong> C<strong>as</strong>telo Rodrigo, quefacultó la planta <strong>de</strong> localización <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar, e por elAyuntamiento Montalegre a través <strong>de</strong>l entonces Vereador Pe. Fontes quefacultó el<strong>em</strong>entos diseñados <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> <strong>as</strong>ícomo (y a título personal) inúmeros artículos sobre este Mon<strong>as</strong>terio.Sin <strong>em</strong>bargo se subrayan particulares como:Professor Doutor “Frei” Geraldo Coelho Di<strong>as</strong> (OSB-FLUP) que ha regaladovari<strong>as</strong> publicaciones <strong>de</strong> t<strong>em</strong>ática <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong> su autoría, buen<strong>as</strong> lecciones,esclarecimientos, inmenso saber en el ámbito beneditino-<strong>cister</strong>ciense, ánimosi<strong>em</strong>pre que necesario <strong>as</strong>í como su amistad.Professor Doutor José Marques (FLUP) que ha regalado vari<strong>as</strong>publicaciones <strong>de</strong> t<strong>em</strong>ática <strong>cister</strong>ciense da su autoría, sobre todo relativ<strong>as</strong> alMon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães.Professor Doutor Virgolino Ferreira Jorge (Universidad <strong>de</strong> Évora) que haregalado vari<strong>as</strong> publicaciones <strong>de</strong> t<strong>em</strong>ática <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong> su autoría.Frei Damián Yañes Neira (OSCO) <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio gallego <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong>Santa Maria <strong>de</strong> Oseira a través <strong>de</strong> much<strong>as</strong> publicaciones <strong>de</strong> su autoría.Dr. Júlio Seara Loureiro da Cruz (fallecido durante la recta final <strong>de</strong> laelaboración <strong>de</strong> esta tesis en el 4 <strong>de</strong> Enero <strong>de</strong>l 2011) que ha regalado vari<strong>as</strong>publicaciones <strong>de</strong> su autoría, habiendo sido una incansable e importante ayudaen l<strong>as</strong> visit<strong>as</strong> a los ej<strong>em</strong>plares <strong>cister</strong>cienses <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong>, dando apoyo logístico,conocimientos, amistad y ánimo si<strong>em</strong>pre que necesario.Mestre Jorge Braga da Costa que ha facultado todo o su trabajo artísticorelacionado con la t<strong>em</strong>ática <strong>cister</strong>ciense incluso llegando a realizar, a pedido,el dibujo <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça.Mestre Arquitecta Mafalda Sampayo por todo el apoyo, motivación yamistad con que fue prestando auxilio en la pesquisa bibliográfica al largo <strong>de</strong>esta tesis.37


1. INTRODUCCIÓN38Professor Doutor João Paulo C<strong>as</strong>tro Gomes (DECA-UBI y C-MADE) queapoyó la permanencia en el C-MADE (Centro <strong>de</strong> Materiales y Tecnologí<strong>as</strong> <strong>de</strong> laConstrucción) <strong>de</strong> la Universidad <strong>de</strong> Beira Interior en cuanto coordinador <strong>de</strong>lmismo y por la persistente motivación y ánimo conducentes a la conclusión <strong>de</strong>esta tesis.Professora Doutora Ana Lídia Virtu<strong>de</strong>s (DECA-UBI y C-MADE) por el apoyo,motivación y ánimo durante la elaboración y sobre todo durante la conclusión<strong>de</strong> esta tesis.Professor Doutor Michael Mathi<strong>as</strong> (Departamento <strong>de</strong> Ingeniería Civil yArquitectura <strong>de</strong> la Universidad <strong>de</strong> Beira Interior) por el apoyo, motivación y porhaber facultado material bibliográfico <strong>as</strong>í como por su conocimiento <strong>de</strong> laOr<strong>de</strong>n <strong>de</strong>l Císter en l<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong>.Professor Doutor Jaceck Krenz (Universidad <strong>de</strong> Gdansk) por l<strong>as</strong> sabi<strong>as</strong>palabr<strong>as</strong> y apoyo durante la elaboración final <strong>de</strong> esta tesis.Professor Doutor Paulo <strong>de</strong> Carvalho (Presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>l Departamento <strong>de</strong>Ingeniería Civil y Arquitectura <strong>de</strong> la Universidad <strong>de</strong> Beira Interior) por el apoyo ycomprensión durante la f<strong>as</strong>e final <strong>de</strong> esta tesis.Professor Doutor Walter Osswald y Drª Doming<strong>as</strong> Osswald que facilitaron lavisita al Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões, en cuanto edificio particular <strong>de</strong>que son propietarios.Professora Elisabeth Évora Nunes (Universidad Nova <strong>de</strong> Lisboa) que hacompartido mucho <strong>de</strong> su inmenso conocimiento sobre el Císter.Engenheiro Pedro Tavares que facultó inúmer<strong>as</strong> fotografí<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio<strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça que son parte <strong>de</strong> su acervo personal en cuantoestudioso <strong>de</strong> este Mon<strong>as</strong>terio.Arquitecta Mariana Ferreira guardián <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Maceira Dão que permitió el acceso al mon<strong>as</strong>terio cuya familia es propietaria.Lena Martinho y José António Coelho por toda la motivación, amistad yapoyo logístico en divers<strong>as</strong> dislocaciones durante l<strong>as</strong> visit<strong>as</strong> a los Mon<strong>as</strong>terios.No obstante la palabra final, porque los últimos son si<strong>em</strong>pre los primeros, esatribuida los Profesores, y Directores <strong>de</strong> esta tesis, Doctor Eduardo MosqueraA<strong>de</strong>ll y Doctora María Teresa Pérez Cano, <strong>de</strong> la Escuela Técnica Superior <strong>de</strong>Arquitectura <strong>de</strong> la Universidad <strong>de</strong> Sevilla, ilustres orientadores, profesores yamigos, por todo lo que esta tesis es, pero sobre todo por el apoyoincondicional, comprensión y amistad consolidados a lo largo <strong>de</strong> estos años.También una palabra final para el apoyo <strong>de</strong> la FCT - Fundación para laCiencia y para la Tecnología que atribuyó una beca <strong>de</strong> doctorado para larealización <strong>de</strong> esta tesis sin la cual habría sido prácticamente imposible haceresta tesis.


CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA2.39Fig. II Portal do Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>(<strong>de</strong>senho <strong>de</strong> Mestre Jorge Braga da Costa cedido pelo autor)


CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA2.402.1. GÉNESE DO MONAQUISMO OCIDENTAL2.1.1. Origens Orientais2.1.2. Edificação do monaquismo oci<strong>de</strong>ntal2.2. MONAQUISMO BENEDITINO2.2.1. As Reform<strong>as</strong> da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> S. Bento2.2.2. Monaquismo cluniacense2.3. ORIGEM E FUNDAÇÃO DE CISTER2.3.1. Molesme2.3.2. .2. Novum Mon<strong>as</strong>terium, <strong>de</strong> la Forgeotte a Cîteaux2.4. DESENVOLVIMENTO CISTERCIENSE2.4.1. .1. Roberto, Alberico, Estêvão: os três impulsos essenciais2.4.2. S. Bernardo2.5. EXPANSÃO CISTERCIENSE2.6. . ESTRUTURA ORGANIZATIVA / LEGISLAÇÃO CISTERCIENSE2.6.1. Regra <strong>de</strong> S. Bento2.6.2. Documentos Primitivos2.7. ESTRUTURA SOCIAL CISTERCIENSE: a importância dos Conversos2.8. . ECONOMIA CISTERCIENSE: <strong>as</strong> granj<strong>as</strong>2.9. ESPIRITUALIDADE CISTERCIENSE


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA2.1.GÉNESE DO MONAQUISMO OCIDENTAL“La vida <strong>de</strong>l monje está sumergida por completo en la búsqueda <strong>de</strong>Dios, en conocerle con toda la intensidad posible, y en amarle contodo el corazón y con todo el ser.” 1O monaquismo dá resposta a algum<strong>as</strong> d<strong>as</strong> mais profund<strong>as</strong> <strong>as</strong>pirações da almahumana, que consist<strong>em</strong>, na busca da perfeição e no <strong>de</strong>sejo da cont<strong>em</strong>plação.No mais íntimo do coração humano está inscrito o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> Deus. 2 Dest<strong>em</strong>odo, para que esta experiência espiritual seja possível, é necessária a fugamundi ou o cont<strong>em</strong>ptus mundi 3 , isto é, a fuga do mundo para buscar umaunião do espírito com Deus.Convém clarificar alguns termos relativos não só aos primórdios do monaquismocomo também ao monaquismo <strong>em</strong> si. Assim monge (do gregomonachós que significa solitário, único, aquele que vive só, isolado) 4 <strong>de</strong>signavainicialmente aquele que tinha escolhido a solidão como modo <strong>de</strong> vida e meiopara alcançar Deus, constituindo essencialmente uma experiência espiritualcaracterizada pela procura da solidão interior concretizada através do af<strong>as</strong>tamentod<strong>as</strong> paixões terren<strong>as</strong> e do abandono do mundo.Porém, monge também po<strong>de</strong> simplesmente <strong>de</strong>signar um religioso quesegue uma regra <strong>de</strong> uma Or<strong>de</strong>m vivendo af<strong>as</strong>tado do mundo, como se referiu,seja na solidão, seja <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong>, sendo este o modo mais usual.Durante os primeiros séculos do cristianismo, nos primórdios do monaquismo,distinguiam-se dois tipos <strong>de</strong> monges: os anacoret<strong>as</strong> (do gregoanachoresis que significa partida, fuga do mundo quotidiano; anachoretés,aquele que vive retirado) ou er<strong>em</strong>it<strong>as</strong> (do grego ér<strong>em</strong>os que significa <strong>de</strong>serto,ermo; religioso que vive retirado num local <strong>de</strong>serto <strong>em</strong> solidão, é sinónimo <strong>de</strong>anacoreta) que eram religiosos cont<strong>em</strong>plativos que se retiravam <strong>em</strong> solidão, àmarg<strong>em</strong> da socieda<strong>de</strong>, e os cenobit<strong>as</strong> (do grego koinos, que significa comum,e bios, que significa vida; logo traduz-se por vida <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong>) 5 , que tambémviviam retirados da socieda<strong>de</strong> m<strong>as</strong> constituíam uma comunida<strong>de</strong> quehabitava um mosteiro. Tal como refere José Augusto Mourão o lugar é o palimpsestoe “A comunida<strong>de</strong> é antes <strong>de</strong> mais um lugar e um lugar marcado, isto é, amaterialização <strong>de</strong> um espaço que <strong>as</strong>sinala outro espaço, heterotópico, comque comunica. Um lugar institucional, um meio <strong>de</strong> vida, transcen<strong>de</strong>ntal, lugar411 Cit. YÀÑEZ NEIRA, Fr. Dámian; Concepto <strong>de</strong> Monje; texto inédito policopiado.2 Cfr. ARCCIS; À la reencontré <strong>de</strong>s Cisterciens; Éditions du Cerf; Paris; 2001; p.173 Cfr. DIAS, Geraldo Coelho; A Alma <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal in “Religião e Simbólica”; Granito Editores; Porto;2001; p. 2394 Cfr. MASOLIVIER, Alejandro; Historia <strong>de</strong>l Monacato Cristiano; vol. I ; Ed. Encuentro, S. A.; Madrid; 1994 ; p. 105 Cfr. MASOLIVIER, Alejandro; Op. cit.; p.11


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA<strong>de</strong> fala que a liga ao invisível que lhe é essencial.” 6 Isto é, “A comunida<strong>de</strong> é umespaço produzido pela prática do lugar e da articulação d<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> – aomesmo t<strong>em</strong>po um sítio ilocutório, um lugar <strong>de</strong> comunicação interindividual e <strong>de</strong>comunicação supraindividual.” 72.1.1.Origens Orientais42Os primeiros a experimentar esta realida<strong>de</strong> e a inspirar outros a seguir o seuex<strong>em</strong>plo foram S. Paulo (m.347) e Santo António (250-356) e por isso mesmoforam apelidados <strong>de</strong> Padres do Deserto. 8Os Padres do Deserto abandonaram a movimentação d<strong>as</strong> cida<strong>de</strong>s parabuscar refúgio nos <strong>de</strong>sertos do Egipto e da Síria on<strong>de</strong> oravam e jejuavam. Narealida<strong>de</strong>, <strong>as</strong> origens do monaquismo r<strong>em</strong>ontam ao Egipto do séc. III. Dest<strong>em</strong>odo, nos finais do séc. III havia já gran<strong>de</strong> afluência <strong>de</strong> seguidores na solidãodos <strong>de</strong>sertos, florescendo mosteiros n<strong>as</strong> margens do rio Nilo tornando-se <strong>as</strong>sim oEgipto, juntamente com a Síria, no berço do monaquismo oci<strong>de</strong>ntal. Pois,“Hacia fines <strong>de</strong>l s. III era tal la afluencia <strong>de</strong> seguidores <strong>de</strong> Cristo en l<strong>as</strong>oledad <strong>de</strong> los <strong>de</strong>siertos, que comarc<strong>as</strong> enter<strong>as</strong> en la Tebaida y riber<strong>as</strong><strong>de</strong>l Nilo se poblaron <strong>de</strong> mon<strong>as</strong>terios. No había valle, porabrupto que fuera, que no tuviera sus moradores <strong>de</strong> silencio. Egiptofue cuna <strong>de</strong>l monacato oriental” 9 .Segundo Fr. Mª Damián Yánes Neira, monge <strong>cister</strong>ciense do Mosteiro <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Oseira, Orense, <strong>as</strong> origens do monaquismo <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser procurad<strong>as</strong> naprópria lei evangélica e na mensag<strong>em</strong> <strong>de</strong> renúncia dos prazeres materiais,como caminho para atingir a plenitu<strong>de</strong> e o contacto directo com Deus, presenten<strong>as</strong> Sagrad<strong>as</strong> Escritur<strong>as</strong>. Fr. Yánes Neira reconhece <strong>em</strong> Santo António,padre e guia <strong>de</strong> monges no oriente, a primeira vocação <strong>de</strong> monge estando aexperiência monástica intimamente <strong>as</strong>sociada à sua pessoa. 10 Santo Antónioretirou-se para o <strong>de</strong>serto <strong>de</strong> Nitria 11 no ano 270 surgindo <strong>de</strong>ste modo a primeiraexperiência er<strong>em</strong>ítica no <strong>de</strong>serto do Egipto, através <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> busca<strong>de</strong> perfeição, que se difundiu primeiro no Oriente e <strong>de</strong>pois no Oci<strong>de</strong>nte.Assim, os monges inicialmente solitários rapidamente se juntam <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong>scenobític<strong>as</strong>, isto é, foram primeiramente ermit<strong>as</strong> ou anacoret<strong>as</strong>, s<strong>em</strong>6 Cit. MOURÃO, José Augusto; A Comunida<strong>de</strong> como prática do lugar e interlocução in “Convers<strong>as</strong> à volta dosConventos”; C<strong>as</strong>a do Sul Editora; 2002; p. 527 Cit. MOURÃO, José Augusto; Op. cit.; p. 518 Cfr. PACAUT, Marcel; Les Moines Blancs – Histoire <strong>de</strong> l’Or<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cîteaux; Librairie Arthème Fayard; 1993; p.239 Cit. YÀÑEZ NEIRA, Fr. Dámian; Op. cit.10 Cfr. I<strong>de</strong>m11 Cfr. BANGO, Isidro; El mon<strong>as</strong>terio medieval; Ed. Anaya; Madrid; 1990; p.88


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAestar<strong>em</strong> vinculados ou sujeitos a regra alguma, para <strong>de</strong>pois se agrupar<strong>em</strong> <strong>em</strong>comunida<strong>de</strong>s sob o controlo <strong>de</strong> um aba<strong>de</strong> (do arménio abb<strong>as</strong> que significa Paique é o mesmo que dizer pai espiritual).O cenobitismo encontra-se a meio termo entre o rigor individual da <strong>as</strong>cesesolitária e os r<strong>as</strong>gos <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> da vida comunitária sendo esta tambémapresentada no mo<strong>de</strong>lo evangélico. O cenobitismo irá proporcionar ao <strong>de</strong>senvolvimentodo monaquismo um contributo fundamental para além d<strong>as</strong> norm<strong>as</strong>estabelecid<strong>as</strong> por S. Pacómio (c. 286-346) e dos escritos e exortações <strong>de</strong> S. B<strong>as</strong>ílio(c. 330-379).2.1.2.Edificação do monaquismo oci<strong>de</strong>ntalNo início da Ida<strong>de</strong> Média, o monaquismo oci<strong>de</strong>ntal apresenta-se sob du<strong>as</strong> form<strong>as</strong>essenciais. Por um lado encontra-se a Forma Romana que se caracterizafundamentalmente pelo equilíbrio e mo<strong>de</strong>ração tendo sido seus impulsionadoresS. Bento <strong>de</strong> Núrsia e Gregório Magno (inicialmente monge e <strong>de</strong>pois Papa).Por outro lado encontra-se a Forma Irlan<strong>de</strong>sa <strong>de</strong>senvolvida a partir <strong>de</strong> S. Patrício,que se distancia da anterior ao ser caracterizada por um rigoroso <strong>as</strong>cetismosob a forma <strong>de</strong> exílio no seio <strong>de</strong> populações pagãs. Esta forma teve tambémum papel fundamental na evangelização e cristianização do oci<strong>de</strong>nte. 12 Noentanto,“El ej<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> los er<strong>em</strong>it<strong>as</strong> <strong>de</strong>l <strong>de</strong>sierto seguiría siendo inspiraciónpara individuos y grupos <strong>de</strong> la Edad Media, pero la vocación <strong>de</strong>er<strong>em</strong>ita fue extr<strong>em</strong>adamente rara. El hombre es un animal social. Lavida <strong>de</strong>l solitario está llena <strong>de</strong> dificulta<strong>de</strong>s y <strong>de</strong> riesgos. Sólo los fuertesse atreven a llevar vida solitaria. Los mortales <strong>de</strong> menos aguantepue<strong>de</strong>n caer con <strong>de</strong>m<strong>as</strong>iada facilidad en <strong>de</strong>presiones o en la <strong>de</strong>sesperanza.”13A primeira regra <strong>de</strong> vida cenobitica é a <strong>de</strong> S. Pacómio, no século IV, que<strong>as</strong>senta fundamentalmente na obediência do monge ao seu aba<strong>de</strong>. No ano<strong>de</strong> 320 foi fundado por S. Pacómio um mosteiro, n<strong>as</strong> proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Teb<strong>as</strong>, <strong>em</strong>Tabennisi. Segundo a sua regra o dia estava consagrado à meditação, à oraçãoe ao trabalho manual. S Pacómio distribui os seus monges quer <strong>de</strong> modoisolado, quer <strong>em</strong> pequenos grupos por pequen<strong>as</strong> c<strong>as</strong><strong>as</strong> próxim<strong>as</strong> um<strong>as</strong> d<strong>as</strong>outr<strong>as</strong> <strong>de</strong> modo a permitir a sua procura er<strong>em</strong>ítica. 144312 Cfr. GENICOT, L. e P. Hossiau; Le moyen âge; 5 e édition; C<strong>as</strong>terman; 1959; p. 3713 Cit. LAWRENCE, C. H.; El Monacato Medieval - Form<strong>as</strong> <strong>de</strong> vida religiosa en Europa Occi<strong>de</strong>ntal durante laEdad Media; Editorial Gredos, S. A.; Madrid; 1999; p.2314 Cfr. PACAUT, Marcel; Op. cit.; p.23


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA44“Era mucho más fácil y seguro seguir la vida <strong>as</strong>cética con el apoyo<strong>de</strong> una comunidad ocupada en l<strong>as</strong> mism<strong>as</strong> tare<strong>as</strong> y <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>lmismo marco <strong>de</strong> regla.” 15A Tradição do Deserto que se propagara a tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> provínci<strong>as</strong> orientais doImpério durante o século IV vai sendo transmitida à Europa <strong>de</strong> vários modos sejapela literatura existente sobre os Padres do Deserto, seja pela vinda para oci<strong>de</strong>nte<strong>de</strong> bispos refugiados como Atanásio, <strong>de</strong> <strong>as</strong>cet<strong>as</strong> como C<strong>as</strong>siano, sejapelos relatos <strong>de</strong> viajantes e peregrinos,“Con el p<strong>as</strong>o <strong>de</strong>l ti<strong>em</strong>po fue acumulándose un conjunto <strong>de</strong> tradicionesorales que quedaron gradualmente pl<strong>as</strong>mad<strong>as</strong> por escrito en l<strong>as</strong>vari<strong>as</strong> versiones <strong>de</strong> los Apophthegmata, o Dichos <strong>de</strong> los Padres, colecciones<strong>de</strong> máxim<strong>as</strong> y anécdot<strong>as</strong> que circulaban en griego y encopto (…). Pero fue en l<strong>as</strong> Conferenci<strong>as</strong> <strong>de</strong>l monje escita Juan C<strong>as</strong>ianodon<strong>de</strong> quedaron agrupad<strong>as</strong> con más fi<strong>de</strong>lidad que en ningúnotro sitio, la ética <strong>de</strong>l <strong>de</strong>sierto y l<strong>as</strong> enseñanz<strong>as</strong> <strong>de</strong> los aba<strong>de</strong>s famosos”16 m<strong>as</strong> “Fue la literatura sobre el monacato egipcio lo que oc<strong>as</strong>ionóla primera oleada” 17M<strong>as</strong> será com S. B<strong>as</strong>ílio, bispo <strong>de</strong> Cesareia, <strong>em</strong> cerca <strong>de</strong> 360 que se irá edificaro monaquismo oci<strong>de</strong>ntal conferindo-lhe uma forma coerente ao surgir umaregra, 18 <strong>de</strong>rivada da <strong>de</strong> S. Pacómio, e uma autorida<strong>de</strong>. Esta regra dota acomunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma estrutura mais firme capacitando-a a viver uma vida <strong>em</strong>comunida<strong>de</strong> com carácter <strong>de</strong> permanência. É o cenobitismo a reagir <strong>de</strong> certomodo aos excessos do er<strong>em</strong>itismo, pois por vezes a exaltação exagerada docomportamento individual leva a alterar a prática da humilda<strong>de</strong> no seu verda<strong>de</strong>irosentido. 19Na realida<strong>de</strong>, S. B<strong>as</strong>ílio enuncia du<strong>as</strong> regr<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong> que foram conhecid<strong>as</strong>pel<strong>as</strong> Pequen<strong>as</strong> e Gran<strong>de</strong>s Regr<strong>as</strong> 20 e que constituiram a b<strong>as</strong>e do monaquismooci<strong>de</strong>ntal exercendo uma influência <strong>de</strong>cisiva na vida monástica tantodo Oci<strong>de</strong>nte como do Oriente. Est<strong>as</strong> são uma compilação <strong>de</strong> directrizes, algum<strong>as</strong>mais oc<strong>as</strong>ionais que outr<strong>as</strong>, <strong>de</strong> carácter sobretudo teológico. Mencionandoimportância da oração, do silêncio, humilda<strong>de</strong>, obediência, trabalho,vida <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong> e recomendando a prática da carida<strong>de</strong>, da misericórdiae do amor ao próximo. S. B<strong>as</strong>ílio foi o primeiro a dividir o dia <strong>em</strong> períodos <strong>de</strong>oração, trabalho e leitura d<strong>as</strong> escritur<strong>as</strong>. 21 A sua doutrina é austera e rígida15 Cit. LAWRENCE, C. H.; Op. cit.; p. 2316 Cit. I<strong>de</strong>m; p.2817 Cit. Ibi<strong>de</strong>m; p.2718 Cfr. MARC-BONNET, Henry; Histoire <strong>de</strong>s Or<strong>de</strong>s Religieux; Presses Universitaires <strong>de</strong> France; Paris 1968; p. 919 Cfr. PACAUT, Marcel; Op. cit.; p.2320 Pequeno e Gran<strong>de</strong> “Ascétikon”21 Cfr. BRAUNFELS, Wolfgang; Mon<strong>as</strong>teries of Western Europe – The Architecture of the Or<strong>de</strong>rs; Thames andHudson; London 1993; p.14


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA<strong>de</strong>vendo o monge seguir uma rigorosa observância e cumprir integralmente osmandamentos <strong>de</strong> Cristo.A Regra <strong>de</strong> S. B<strong>as</strong>ílio exige uma obediência absoluta e incondicional nãosó ao Aba<strong>de</strong> m<strong>as</strong> também ao Bispo, ao contrário da Regra <strong>de</strong> S. Pacómio, queapen<strong>as</strong> exigia obediência ao Aba<strong>de</strong>. No entanto amb<strong>as</strong> <strong>as</strong> regr<strong>as</strong>, <strong>de</strong> S. Pacómioe <strong>de</strong> S. B<strong>as</strong>ílio, estiveram na orig<strong>em</strong> e génese do monaquismo oci<strong>de</strong>ntal,com <strong>as</strong> <strong>de</strong>vid<strong>as</strong> adaptações e modificações. Algum<strong>as</strong> d<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> daregra <strong>de</strong> S. B<strong>as</strong>ílio, mais tar<strong>de</strong> influenciaram aquela que veio a ser a regra <strong>de</strong> S.Bento.“B<strong>as</strong>ilio no <strong>de</strong>jó una «regla» en el sentido <strong>de</strong> un proyecto original parala organización interna <strong>de</strong> un mon<strong>as</strong>terio al estilo <strong>de</strong> la regla <strong>de</strong> sanBenito. (…) Los monjes <strong>de</strong> B<strong>as</strong>ilio constituyen una familia espiritual quevive bajo un mismo techo, una especie <strong>de</strong> mon<strong>as</strong>terio-c<strong>as</strong>a, en oposicióna la laura er<strong>em</strong>ítica o a la ingente colonia pacomiana hecha<strong>de</strong> subdivisiones.” 22No entanto foi Santo Atanásio o principal propagador do monaquismo no Oci<strong>de</strong>nteuma vez que levou os princípios e os i<strong>de</strong>ais dos monges do Egipto atéRoma quando aí esteve exilado (335-337 e 339-346). 23 Estes i<strong>de</strong>ais propagaramseà Gália através <strong>de</strong> S. Martinho <strong>de</strong> Tours e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aí à restante Europa Cristã.Como refere Fr. Damián Yánes Neira:“No quedó atrás la Península Ibérica, que en aquellos t<strong>em</strong>pos formabanun solo pueblo, don<strong>de</strong> florecieron l<strong>as</strong> gran<strong>de</strong>s lumbrer<strong>as</strong> <strong>de</strong>lmonacato que se llamaron San Martín <strong>de</strong> Braga, San Braulio <strong>de</strong> Zaragoza,San Il<strong>de</strong>fonso <strong>de</strong> Toledo, San Isidoro <strong>de</strong> Sevilla, San Fructuoso<strong>de</strong> Braga, San Rosendo <strong>de</strong> Celanova (…).” 24S. Bento <strong>de</strong> Núrsia (480-547) experimentou <strong>em</strong> primeiro lugar uma forma <strong>de</strong> vida<strong>as</strong>cética, er<strong>em</strong>ítica, <strong>em</strong> Subiaco localizado a 50 km para oriente <strong>de</strong> Roma e<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhou um importante papel na adaptação da vida monástica cristã(iniciada no Egipto, do séc. III), à cultura oci<strong>de</strong>ntal, a partir do momento <strong>em</strong>que funda o primeiro mosteiro beneditino, <strong>em</strong> Monte C<strong>as</strong>sino, cerca do ano529, fundando também a Or<strong>de</strong>m Beneditina, que se tornou no centro simbólicoe vital do monaquismo oci<strong>de</strong>ntal. (Fig. 9)S. Bento torna-se <strong>de</strong>ste modo aba<strong>de</strong> do primeiro mosteiro beneditino noqual era levada uma vida caracterizada por uma forte integração entre acomponente cont<strong>em</strong>plativa e a componente activa 25 , segundo o l<strong>em</strong>a Ora etLabora. O trabalho dos monges tornou-se não só numa fonte <strong>de</strong> recursos, paraa subsistência e sobrevivência do mosteiro, m<strong>as</strong> também no meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvol-4522 Cit. LAWRENCE, C. H.; Op. cit.; p. 2523 Cfr. I<strong>de</strong>m; p. 2924 Cit. YÀÑEZ NEIRA, Fr. Dámian; Op. cit.25 Ora et Labora


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAvimento <strong>de</strong> uma vida espiritual coerente que se transforma num compl<strong>em</strong>entoimprescindível ao <strong>de</strong>senvolvimento e crescimento <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> fraterna.Fig. 9 Monte C<strong>as</strong>sino (arquivo pessoal <strong>de</strong> Frei Geraldo Coelho Di<strong>as</strong>)46S. Bento foi o patriarca dos monges do Oci<strong>de</strong>nte que <strong>em</strong> conjunto com a suaRegra foram o vínculo indispensável para a compreensão do monaquismooci<strong>de</strong>ntal. A sua regra foi o fruto <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> dois séculos <strong>de</strong> experiênciacenobita e constituiu-se como a b<strong>as</strong>e d<strong>as</strong> legislações monástic<strong>as</strong> posteriores,com particular incidência na legislação <strong>cister</strong>ciense como se irá referir, maisadiante.O monaquismo irlandês revela-se como um c<strong>as</strong>o particular que merece<strong>de</strong>staque. Na Irlanda o monaquismo foi introduzido, por S. Patrício, <strong>em</strong>simultâneo com o cristianismo. As primeir<strong>as</strong> manifestações do monaquismoirlandês, tal como <strong>as</strong> restantes manifestações do monaquismo oci<strong>de</strong>ntal, estãorelacionad<strong>as</strong> com <strong>as</strong> regr<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong> orientais. Porém, na Irlanda do século V,o monaquismo <strong>de</strong>senvolveu um tipo <strong>de</strong> característic<strong>as</strong> particulares no qual s<strong>em</strong>isturava profundamente a vida secular e a vida regular, o er<strong>em</strong>itismo e ocenobitismo, o misticismo e o formalismo 26 .Deste modo, o monaquismo celta não era dotado <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> formal.O Abaciado e o Episcopado dissolviam-se num só, uma vez que aos limiteseclesiásticos correspondiam os próprios limites do território do Clã, po<strong>de</strong>ndo tratar-se<strong>de</strong> um imenso ou restrito território, no qual a sua in<strong>de</strong>pendência era fundamentale prepon<strong>de</strong>rante. Neste momento era inexistente uma regra uniformizadora,pelo que a vida dos monges celt<strong>as</strong>, pela sua ru<strong>de</strong>za, carácter individualistae rigor extr<strong>em</strong>os, foi buscar <strong>as</strong> raízes do seu <strong>as</strong>cetismo à tradição oriental.O chefe da comunida<strong>de</strong> era o aba<strong>de</strong> pelo que a divisão eclesiástica do26 Cfr. MARC-BONNET, Henry; Op. cit.; pp. 11-12


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAterritório era também uma divisão monástica já que às circunscrições eclesiástic<strong>as</strong>correspondiam, como foi referido, os limites territoriais do Clã. A autorida<strong>de</strong>religiosa e civíl fundiam-se numa mesma pessoa, no aba<strong>de</strong>-bispo englobadonum sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> abadia-bispado que se espalhou a partir do século V. 27No ano <strong>de</strong> 563 S. Columba (521-597) funda na Ilha <strong>de</strong> Iona (na costa daEscócia), um gran<strong>de</strong> mosteiro que mais tar<strong>de</strong>, <strong>em</strong> 1203, se converteu numac<strong>as</strong>a beneditina. O mosteiro <strong>de</strong> Iona ir-se-á tornar num importante centro domonaquismo céltico permitindo a sua influência e diss<strong>em</strong>inação. A importância<strong>de</strong> S. Columba no panorama monástico celta foi acima <strong>de</strong> tudo levar às su<strong>as</strong>áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> influência, ou seja à Escócia, a conversão ao cristianismo. Em 590 S.Columbano (543-615), cont<strong>em</strong>porâneo <strong>de</strong> S. Columba, chega à Gália nomesmo ano <strong>em</strong> que o monge beneditino Gregório foi eleito Papa Gregório IMagno (<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhando um papel prepon<strong>de</strong>rante na divulgação da Regra<strong>de</strong> S. Bento). S. Columbano teve um papel notável na propagação do monaquismona Irlanda ao fundar inúmeros mosteiros e capacitando a sua expansãoaté à Escócia. As su<strong>as</strong> fundações foram também continentais pois construiu umer<strong>em</strong>itério na floresta <strong>de</strong> Annegray fundando o mosteiro <strong>de</strong> Luxeuil (Seine-et-Maine, França) <strong>as</strong>sim como o mosteiro <strong>de</strong> Bobbio (Itália).Uma característica importante do monaquismo celta foi a peregrinação,especialmente <strong>as</strong>sociada à viag<strong>em</strong> <strong>em</strong> si, tendo sido uma verda<strong>de</strong>ira“Peregrinatio pro amore Dei” (peregrinação pelo amor <strong>de</strong> Deus). Segundo JeanMarkale “o monge é um exilado voluntário, um autêntico viajante” 28 . É nestecontexto que a peregrinação <strong>de</strong> S. Columbano <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada.No entanto, no século VII, os usos irlan<strong>de</strong>ses <strong>de</strong> S. Columbano transpostospara o continente fun<strong>de</strong>m-se sendo sintetizados com os da Regra <strong>de</strong> S. Bento. Eserá esta “regra mista” que se po<strong>de</strong> encontrar na Gália e Hispânia do século VIIpois,“El mismo régimen <strong>de</strong> «regla mixta» prevaleció en los mon<strong>as</strong>terios <strong>de</strong>Hispania <strong>de</strong>l siglo VII. (…) L<strong>as</strong> costumbres seguid<strong>as</strong> en los claustroshispánicos eran un conglomerado <strong>de</strong> tradiciones orientales y <strong>de</strong> l<strong>as</strong>Regl<strong>as</strong> <strong>de</strong> Leandro e Isidoro <strong>de</strong> Sevilla. La llamada Regula Comunis,compilación <strong>de</strong>l siglo VII atribuida a san Fructuoso <strong>de</strong> Braga, presuponela existencia <strong>de</strong> mon<strong>as</strong>terios dúplices no muy distintos <strong>de</strong> los <strong>de</strong>la Galia. La Regla <strong>de</strong> Isidoro, que tuvo una gran difusión, muestraclaramente la impronta <strong>de</strong> san Benito, pero la Regla benedictina penetróen la península muy lentamente y relativamente tar<strong>de</strong>.” 294727 Cfr. MARKALE, Jean; O Cristianismo Celta; Ed. Ésquilo ; Lisboa; Abril 2002; pp. 79-8328 Cit. MARKALE, Jean; Op. cit.; p. 5829 Cit. LAWRENCE, C. H.; Op. cit.; p. 74


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA2.2.MONAQUISMO BENEDITINOFig. 10 S. Bento apresentando a sua Regra(Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Oseira, Galiza,Espanha. Fotografia da autora)48O monaquismo beneditino difundiu-se por toda a Europa durante os séculos VIIe VIII constituindo pólos dinamizadores e interferindo profundamente no sist<strong>em</strong><strong>as</strong>ocio-cultural do mundo medieval. Foi a Regra <strong>de</strong> S. Bento que inspirou a maioriad<strong>as</strong> regr<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong> a partir do século VII. (Fig. 10)“San Benito <strong>em</strong>erge, pues, no como un genio solitario dotado <strong>de</strong> undon especial para la legislación monástica sino más bien como representante<strong>de</strong> una escuela <strong>de</strong> enseñanz<strong>as</strong> <strong>as</strong>cétic<strong>as</strong> existente enItalia <strong>de</strong>l siglo VI que tomó su inspiración primaria <strong>de</strong> Egipto.” 30A influência <strong>de</strong> S. Bento e da Regra Beneditina ocupam uma posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>staqueno panorama da edificação do monaquismo oci<strong>de</strong>ntal como refere oPapa Paulo VI na Carta Apostólica na qual <strong>de</strong>clara S. Bento Padroeiro daEuropa (24 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1964): “(...) S. Bento é louvado como missionário dapaz, formador da unida<strong>de</strong>, mestre da cultura e, principalmente, gran<strong>de</strong> promotorda vida cristã e organizador da vida monástica oci<strong>de</strong>ntal.” 3130 Cit. I<strong>de</strong>m; Op. cit.; p. 4231 Cit. A Santa Regra in “Regra do Patriarca S. Bento”; traduzido e anotado do latim pelos Monges <strong>de</strong> Singeverga;2ª edição; Edições “Ora & Labora”; Mosteiro <strong>de</strong> Singeverga; Singeverga; 1992; p. 10


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAA regra <strong>de</strong> S. Bento foi resultado da adaptação da Regula Apostólica (regraapostólica).“Los apóstoles habían sido monjes, y en consecuencia, los monjes sonlos auténticos sucesores <strong>de</strong> los apóstoles. (…) Para ser dignos <strong>de</strong> suherencia apostólica, <strong>de</strong>bían volver sus espald<strong>as</strong> al mundo y buscaruna vida renovada en la sencillez, pobreza, trabajo manual y caridad.”32Os monges <strong>de</strong>veriam abandonar os laços que os ligavam à socieda<strong>de</strong> feudalabandonando igualmente os seus domínios e cerimoniais elaborados <strong>as</strong>simcomo a comodida<strong>de</strong> e o conforto <strong>em</strong> que viviam. O monaquismo beneditino édotado <strong>de</strong> algum<strong>as</strong> pr<strong>em</strong>iss<strong>as</strong> que lhe confer<strong>em</strong> a originalida<strong>de</strong>. Para existiruma coerência com aquilo que <strong>de</strong>fendiam <strong>de</strong>veriam voltar <strong>as</strong> su<strong>as</strong> cost<strong>as</strong> aomundo (novamente a Fuga Mundi) e buscar uma vida <strong>de</strong> característic<strong>as</strong> renovador<strong>as</strong>que <strong>as</strong>sentavam na pobreza, simplicida<strong>de</strong>, trabalho manual e carida<strong>de</strong>.33 Assim, são vários os argumentos que sustentam o monaquismo beneditino:pleno cenobitismo, eleição livre do aba<strong>de</strong> pelos monges, cada mongefazia votos <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong>, obediência e conversão dos mouros. As ocupaçõesquotidian<strong>as</strong> eram repartid<strong>as</strong> pelo Ofício Divino e pelo trabalho. 34Como refere Fr. Mª Damián Yáñes Neira:“El carácter peculiar <strong>de</strong> la regla benedictina está sintetizado enuna constante insistencia por elevar al monje a la cumbre <strong>de</strong> la perfección,mediante un alejamiento total <strong>de</strong>l mundo, un <strong>de</strong>spojo <strong>de</strong>todo lo terreno, incluso la propia voluntad, una sumisión plena a lapersona <strong>de</strong>l abad, que hace l<strong>as</strong> veces <strong>de</strong> Cristo en el mon<strong>as</strong>terio.El fin perseguido por el monje es la cont<strong>em</strong>plación <strong>de</strong> la verdad, unansia <strong>de</strong> conocer intensamente a Dios, una fruición resultante <strong>de</strong> esacont<strong>em</strong>plación <strong>de</strong>l Ser supr<strong>em</strong>o, conocido con toda la perfecciónque es dable en lo humano. San Bernardo <strong>de</strong>fine la cont<strong>em</strong>placióndiciendo que «Es una intuición verda<strong>de</strong>ra y cierta que tiene el alma<strong>de</strong> cualquiera cosa, o como el acto por el cual nuestro espíritu aprehen<strong>de</strong>una verdad <strong>de</strong> un modo indubitable».La vida <strong>de</strong>l monje está sumergida por completo en la búsqueda<strong>de</strong> Dios, en conocerle con toda la intensidad posible, y en amarlecon todo el corazón y con todo el ser.” 35Porém o crescente acumular <strong>de</strong> terr<strong>as</strong> e riquez<strong>as</strong>, a par da crescente importânciada Or<strong>de</strong>m beneditina, <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong> a rivalida<strong>de</strong>s e lut<strong>as</strong> feudais propiciandoa secularização da vida monástica através <strong>de</strong> um feudalismo eclesiástico.4932 Cit. LEKAI, Louis J.; Los Cistercienses – i<strong>de</strong>ales y realidad; Biblioteca Her<strong>de</strong>r - Sección <strong>de</strong> Historia; vol. 177;Editorial Her<strong>de</strong>r; Barcelona; 1987; p 1333 Cfr. I<strong>de</strong>m; pp. 12-1334 Cfr. PACAUT, Marcel; Op. cit.; p.2635 Cit. YÀÑEZ NEIRA, Fr. Dámian; Op. cit.


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA50O monaquismo beneditino, preconizado por S. Bento <strong>de</strong> Núrsia, foisofrendo nos séculos que se seguiram inúmer<strong>as</strong> e profund<strong>as</strong> alterações, sobretudono que diz respeito às relações com o po<strong>de</strong>r e com a socieda<strong>de</strong> poishavia a intrusão dos po<strong>de</strong>res civis na Igreja, a feudalização da vida monásticae a prevalência do que era t<strong>em</strong>poral sobre o que <strong>de</strong>veria ser espiritual.A Regra beneditina acabou por se impor nos mosteiros do século IX, comoconsequência da necessida<strong>de</strong> sentida pelos Imperadores do Período Carolíngio<strong>em</strong> unificar o monaquismo dotando-o <strong>de</strong> uma só regra. Note-se que a religiãocristã foi a religião oficial do Império Romano no século IV, através do Édito<strong>de</strong> Milão <strong>em</strong> 313, após a conversão do Imperador Constantino tornando-se nareligião oficial do Império.As autorida<strong>de</strong>s papal e imperial sobrepunham-se <strong>em</strong> extens<strong>as</strong> áre<strong>as</strong>, atéao século XI, a partir do qual se dá uma repentina mudança n<strong>as</strong> relações entrea Igreja e o Estado que foi apelidada <strong>de</strong> Reforma Gregoriana. Com o pontificado<strong>de</strong> Gregório VII (1073-1085) a renovação monástica foi parte integrante<strong>de</strong>sta Reforma, cujo objectivo era o <strong>de</strong> uma total reorganização da socieda<strong>de</strong>cristã, tentando tornar possível a separação institucional da Igreja e do Estado.Isto acarretava, como refere Lekai, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>spojar o Imperador <strong>de</strong>po<strong>de</strong>res qu<strong>as</strong>e sacerdotais, a formação <strong>de</strong> um clero moralmente purificadoque estivesse rigorosamente af<strong>as</strong>tado dos conflitos mundanos, conferir ao Papaum papel <strong>de</strong>cisivo <strong>em</strong> c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> conflitos seculares e eclesiásticos <strong>as</strong>sim como ajurisdição externa e efectiva sobre toda a Igreja. Apesar <strong>de</strong>ste plano rigorosonão ter sido inteiramente levado a cabo, a renovação monástica tornou-seinevitável pois o monaquismo procurou encontrar o seu novo lugar no seio <strong>de</strong>uma socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> mudança. Pobreza, er<strong>em</strong>itismo e vida apostólica foram ostrês conceitos básicos que orientaram a renovação monástica e que se encontravamperfeitamente integrados na Regra <strong>de</strong> S. Bento. 362.2.1.As Reform<strong>as</strong> da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> S. BentoA Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong> a du<strong>as</strong> importantes reform<strong>as</strong>, a <strong>de</strong> Cluny, noséculo X, e a <strong>de</strong> Cister, no século XI. (Esq. 2) Durante este período, por vezes, àsconvicções religios<strong>as</strong> não correspon<strong>de</strong>ram <strong>as</strong> mesm<strong>as</strong> motivações, pelo que,foi neste momento <strong>de</strong> “<strong>de</strong>riva social”, que os cristãos, <strong>de</strong>cidiram retirar-se domundo para procurar viver a vida segundo os ensinamentos dos evangelhos. Foin<strong>as</strong> florest<strong>as</strong> e terr<strong>as</strong> <strong>de</strong>sabitad<strong>as</strong> que procuraram refúgio e on<strong>de</strong> encontraramo seu “<strong>de</strong>serto” 37 .36 Cfr. LEKAI, Louis J.; Op. cit.; pp.4-937 Cfr.. AA.VV.; L’ABCdaire <strong>de</strong>s Cisterciens et du mon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cîteaux; Flammarion - ANCR; Paris; 1998; p.85


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA9 1 0SÉC. XC L U N YM O N G E S N E G R O SO R D E M D E S . B E N T OR E F O R M A SSÉC. XIC I S T E RM O N G E S B R A N C O S1 0 9 8Esq. 2 Esqu<strong>em</strong>atização d<strong>as</strong> du<strong>as</strong> reform<strong>as</strong> da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> S. Bento (síntese da autora)Foi com o Papa Gregório Magno, cujo pontificado foi <strong>de</strong> 590 a 604, que omonaquismo beneditino teve um gran<strong>de</strong> impulso. O Papa Gregório Magno,que fora monge beneditino, escreveu cerca do ano 600 a biografia <strong>de</strong> S. Bentoque terá sido difundida por toda a Europa Cristã da sua época. Este facto nãosó possibilitou como também permitiu a difusão <strong>de</strong> um conhecimento que,aliado à Regra <strong>de</strong> S. Bento e usufruindo do apoio <strong>de</strong> Roma, originou um progressivoincr<strong>em</strong>ento d<strong>as</strong> fundações beneditin<strong>as</strong>. Est<strong>as</strong> fundações usufruíam <strong>de</strong>isenções que <strong>as</strong> colocavam fora do alcance e d<strong>as</strong> interferênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>sterritoriais quer foss<strong>em</strong> civis ou religios<strong>as</strong>. O mosteiro tornara-se num verda<strong>de</strong>irocentro <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s económic<strong>as</strong> e comerciais, b<strong>em</strong> distanciado doi<strong>de</strong>al beneditino.Foi também durante o pontificado <strong>de</strong> Gregório Magno que o Oci<strong>de</strong>ntecomeçou a ver no Papa o centro da civilização. Porém, “(…)S. Gregório Magnoé cont<strong>em</strong>porâneo <strong>de</strong> Maomé (571-632). Enquanto o Evangelho vai conquistandolentamente os povos da Europa, avança por outro lado o Islamismo queconstituirá, durante séculos uma d<strong>as</strong> mais graves preocupações da Igreja, nãocomo potência religiosa, m<strong>as</strong> pela violência d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> arm<strong>as</strong>.” 38Carlos Magno após a conquista e pacificação <strong>de</strong> uma v<strong>as</strong>ta parte daEuropa tenta a uniformização <strong>de</strong> princípios e prátic<strong>as</strong> no seu Império, a níveistão distintos como o direito, os costumes, a organização secular e eclesiástica, oensino e a liturgia 39 .Carlos Magno (768-814), <strong>as</strong>sim como os seus sucessores, com o objectivo<strong>de</strong> construir um imenso império cristão, impôs a regra beneditina da qual man-5138 Cit. OLIVEIRA, Pe. Miguel <strong>de</strong>; História Eclesiástica <strong>de</strong> Portugal; 3ª edição; União Gráfica; Lisboa; 1958; p. 3439 Cfr. KINDER, Terryl N.; L’Europe Cistercienne; col. Les formes <strong>de</strong> la nuit; Ed. Zodiaque; 1998; p. 28


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA52daria fazer uma cópia e distribuir por todos os mosteiros do seu Império queobe<strong>de</strong>ciam a uma só regra – a <strong>de</strong> S. Bento (que seria mais tar<strong>de</strong> revista pelomonge beneditino S. Bento <strong>de</strong> Aniana). Foi o próprio Carlos Magno quenomeou os aba<strong>de</strong>s, por vezes laicos, que foram instalados no seio d<strong>as</strong> abadi<strong>as</strong>,escol<strong>as</strong> <strong>de</strong> renome e ateliers <strong>de</strong> copist<strong>as</strong>, o que entrou <strong>em</strong> choque com o conceito<strong>de</strong> clausura e “fuga do mundo”, b<strong>as</strong>e do monaquismo, que teve por consequênciaum afrouxamento da disciplina. Assim, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo começou a fazersesentir a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um monaquismo com maior autenticida<strong>de</strong>. Noentanto, a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Carlos Magno nunca se realizou por completo pois nãosurgiu uma observância monástica única e uniforme que servisse <strong>as</strong> necessida<strong>de</strong>sespirituais do império franco. Foi apen<strong>as</strong> com Luís, o Pio (814-840), filho <strong>de</strong>Carlos Magno, que se concretizou a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu pai, entregando estareforma monástica a S. Bento <strong>de</strong> Aniana (c. 750-821), que se encarregou <strong>de</strong> restaurara autenticida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> b<strong>as</strong>es do monaquismo. 40Deste modo, Luís, o Pio, impõe <strong>em</strong> 817 a regra beneditina revista por S.Bento <strong>de</strong> Aniana (c.780-821), a todos os mosteiros do Império, apelando ao respeitodos princípios fundamentais do monaquismo. Ocorre <strong>as</strong>sim através dareforma monástica <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Aniana a primeira tentativa <strong>de</strong> revisão estruturadada Regra <strong>de</strong> S. Bento <strong>em</strong> 816-17 convertendo-se a Regra <strong>de</strong> S. Bento <strong>em</strong>norma universal <strong>de</strong> observância monástica no século IX.No entanto, apesar <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Aniana ser um monge <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>voçãoe pieda<strong>de</strong> auster<strong>as</strong> exteriorizou toda a sua ar<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>voção na liturgia ena sua celebração. Deste modo, este crescendo na elaboração da celebraçãolitúrgica, reflectiu-se e propagou-se na música, n<strong>as</strong> vestes, na <strong>de</strong>coraçãod<strong>as</strong> Igrej<strong>as</strong> e por consequência na própria arquitectura: foi a criação do Paraísona Terra que culminou com Cluny <strong>em</strong> 910.Consequent<strong>em</strong>ente, no século X, Cluny representava a restauração davida monástica beneditina, entendida tal como havia sido <strong>de</strong>finida primordialmentepor S. Bento <strong>de</strong> Aniana um século antes. 412.2.2.Monaquismo cluniacenseGuilherme III, duque da Aquitânia e Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Macôn fundou, na Borgonha,numa granja da sua proprieda<strong>de</strong>, o mosteiro <strong>de</strong> Cluny a 11 <strong>de</strong> Nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong>910 (seria esta comunida<strong>de</strong> que daria orig<strong>em</strong> à gran<strong>de</strong> c<strong>as</strong>a reformadora dosbeneditinos 42 ).40 Cfr. LAWRENCE, C. H.; Op. cit.; pp. 100-10741 Cfr. I<strong>de</strong>m; p. 11142 Cfr. BANGO, Isidro; Op. cit.; p.22


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAA Regra seguida por Cluny constituiu-se como a reafirmação da Regrabeneditina, estando vincado e reforçado o âmbito disciplinar, e sendo o po<strong>de</strong>rdo aba<strong>de</strong> absoluto. Os Cluniacenses gozavam <strong>de</strong> uma autonomia total, <strong>em</strong>relação ao po<strong>de</strong>r real e secular, uma vez que <strong>em</strong> 998 o Papa Gregório V conce<strong>de</strong>a Cluny a isenção do seu bispo local. Deste modo <strong>as</strong> comunida<strong>de</strong>s cluniacensesrespon<strong>de</strong>m ao aba<strong>de</strong> do mosteiro <strong>de</strong> Cluny e este, por sua vez, respon<strong>de</strong>apen<strong>as</strong> ao Papa.Inicialmente a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cluny <strong>de</strong>stacou-se pelo seu carácter reformadordividindo-se entre o trabalho da terra e a oração (à qual era <strong>de</strong>dicada a maiorparte do t<strong>em</strong>po). Os cluniacenses através da sua <strong>de</strong>voção à Regra <strong>de</strong> S. Bento,da sua observância e rigor transformaram esta reforma num ex<strong>em</strong>plo a serseguido por todos os outros mosteiros. Uma sucessão <strong>de</strong> aba<strong>de</strong>s que se <strong>de</strong>stacarampela sua santida<strong>de</strong> e humanida<strong>de</strong> contribuíram para a renovação espiritual,entre eles <strong>de</strong>stacam-se: Bernon, Odon, Mayeul, Odilon, Huges e Pedro, ovenerável 43 . Como refere Lawrence “El celo y la energía misioneros <strong>de</strong> Odón yMayeul colocaron Cluny en el centro <strong>de</strong>l mapa monástico <strong>de</strong> Europa. Perofueron los gobiernos <strong>de</strong> Odilón y <strong>de</strong> Hugo los que levantaron su gran imperio espiritual.”44A rápida expansão <strong>de</strong> Cluny restaurou na Europa oci<strong>de</strong>ntal a confiança eo respeito pelo monaquismo tendo sido esta Or<strong>de</strong>m uma forte aliada papal naintrodução da reforma litúrgica na Europa. Porém, com o <strong>de</strong>correr dos anosCluny tornou-se <strong>em</strong> alguns <strong>as</strong>pectos na antítese do i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> “<strong>de</strong>serto” inicialmenteseguido, a arquitectura torna-se rica e esplendorosa, os ritos litúrgicostornam-se elaborados.Ao contrário dos preceitos <strong>de</strong> S. Bento, segundo os quais a existência dosmonges era repartida entre a oração e o trabalho, os monges cluniacenses<strong>de</strong>stinaram todo o seu t<strong>em</strong>po ao louvor a Deus. Tornando-se como principalcaracterística, da sua vida monástica, a primazia <strong>de</strong> um serviço litúrgico muitoelaborado logo, por consequência, estes religiosos teriam <strong>de</strong> <strong>as</strong>segurar a suaexistência não só através do trabalho <strong>de</strong> outros como também dos divi<strong>de</strong>ndosprovenientes <strong>de</strong> rend<strong>as</strong>.De facto, a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cluny teve uma importância significativa no monaquismooci<strong>de</strong>ntal pois juntamente com Roma permitiu restaurar a dignida<strong>de</strong> ein<strong>de</strong>pendência da Igreja elevando <strong>as</strong> vocações religios<strong>as</strong> a um nível <strong>de</strong> reputaçãoe a um padrão <strong>de</strong> moral <strong>de</strong>sconhecido até então. 45 Porém <strong>as</strong> fortes relaçõescom Roma e com o po<strong>de</strong>r (real e nobiliárquico) levaram a um crescendo<strong>de</strong> influênci<strong>as</strong> e riqueza no seio da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cluny. Este crescendo traduziu-se5343 Cfr. ARCCIS; Op. cit.; p. 2244 Cit. LAWRENCE, C. H.; Op. cit.; pp. 11745 Cfr. LEKAI, Louis J.; The White Monks; col. Cistercian Fathers; Our Lady of Spring Bank; Okauchee, Wisconsin;1953; p. 10


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA54na constituição <strong>de</strong> um verda<strong>de</strong>iro império monástico, sendo Cluny uma capitaldo mundo cristão, um local <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento intelectual e espiritual que nãoparava <strong>de</strong> crescer.A expansão <strong>de</strong> Cluny, a par do crescente po<strong>de</strong>r e influência que <strong>de</strong>tinha<strong>em</strong> toda a Europa Oci<strong>de</strong>ntal, foi directamente proporcional à sua <strong>de</strong>cadência.Mesmo antes do final do século XI Cluny perdia o prestígio alcançado atéentão e começava a <strong>de</strong>gradar-se (s<strong>em</strong> ser no entanto <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte) pois <strong>de</strong>ixa<strong>de</strong> ser um mo<strong>de</strong>lo a seguir a partir do momento que t<strong>em</strong> início uma nova<strong>de</strong>manda por uma renovação e a exaltação da espiritualida<strong>de</strong> monástica,uma vez que se começa a <strong>de</strong>nunciar o <strong>de</strong>svio da Regra, no seio <strong>de</strong> Cluny,sobretudo no resultante da profunda ligação com o Feudalismo.De facto a tradição beneditina tal como era interpretada pela Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>Cluny já não correspondia ao que muitos buscavam quando <strong>de</strong>cidiam tornars<strong>em</strong>onges. Esta crise espiritual, <strong>de</strong> procura <strong>de</strong> renovação da espiritualida<strong>de</strong>monástica, surge num momento <strong>em</strong> que a Europa se tornava cada vez maisrica.“Paradójicamente, esta crisis espiritual era el mal <strong>de</strong> una sociedadque se hacía materialmente más rica. La respuesta <strong>de</strong> los <strong>as</strong>cet<strong>as</strong> ala expansión económica <strong>de</strong> Europa occi<strong>de</strong>ntal y la creciente prosperidad<strong>de</strong>l siglo XII fue i<strong>de</strong>alizar la pobreza voluntaria, que ahora<strong>em</strong>pezaba a <strong>as</strong>umir un papel crítico en la tradición monástica. La reacciónfue en parte una protesta contra la riqueza corporativa y loscompromisos mundanos <strong>de</strong> l<strong>as</strong> gran<strong>de</strong>s abadí<strong>as</strong>. Fue también un rechazoal tipo <strong>de</strong> vida comunitaria que imponía una carga apl<strong>as</strong>tante<strong>de</strong> oración vocal y <strong>de</strong> rituales externos y que no <strong>de</strong>jaba opcionespara la necesidad <strong>de</strong> soledad y <strong>de</strong> oración individual y reflexión quesiente el individuo. De hecho, el t<strong>em</strong>a común a todos los nuevos experimentos<strong>de</strong> vida religiosa durante este período es la búsqueda <strong>de</strong>l<strong>de</strong>sprendimiento, la soledad, la pobreza y la sencillez.” 46Os compromissos seculares cluniacenses, <strong>as</strong>sim como a complexa e elaboradavida ritual, contr<strong>as</strong>tavam com a observância e simplicida<strong>de</strong> traçada pelaRegra <strong>de</strong> S. Bento. 4746 Cfr. LAWRENCE, C. H.; Op. cit.; pp. 18547 Cfr. LAWRENCE, C. H.; Op. cit / PACAUT, Marcel; op.cit.


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA2.3.ORIGEM E FUNDAÇÃO DE CISTER“É sabido que na diocese <strong>de</strong> Langres fica Molesme, mosteiro <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> prestígio e fama, admirável pelo regime <strong>de</strong> vida. A breve trechoda sua fundação, a cl<strong>em</strong>ência divina fez crescer o seu esplendore nobreza, com gran<strong>de</strong>s dons da sua graça e por intermédio <strong>de</strong>homens ilustres, e fê-lo não menos gran<strong>de</strong> através d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> proprieda<strong>de</strong>sque esplendoroso pel<strong>as</strong> su<strong>as</strong> virtu<strong>de</strong>s.Ainda que a <strong>as</strong>sociação entre bens materiais e virtu<strong>de</strong>s não sejahabitualmente coisa <strong>de</strong> muita dura, conscientes disso, e capazes <strong>de</strong>uma leitura d<strong>as</strong> cois<strong>as</strong> com maior profundida<strong>de</strong>, alguns homensdaquela santa comunida<strong>de</strong>, preferiram então <strong>de</strong>dicar-se exclusivamenteaos exercícios celestes a <strong>em</strong>brenhar-se nos negócios terrenos.Depressa, pois aqueles apaixonados d<strong>as</strong> virtu<strong>de</strong>s, começaram adirigir o seu pensamento para «pobreza, fecunda <strong>em</strong> gerar verda<strong>de</strong>iroshomens», ao mesmo t<strong>em</strong>po que se davam conta <strong>de</strong> que, nãoobstante a santida<strong>de</strong> e a dignida<strong>de</strong> da vida praticada naquelelugar, a observância da Regra, a Regra a que se tinham obrigado amanter fielmente, ficava abaixo <strong>de</strong> quanto <strong>de</strong>sejavam e tinha sidoseu propósito. (...)Vinte e um monges, por <strong>de</strong>cisão unânime, juntamente com o próprioaba<strong>de</strong> do mosteiro, Roberto, <strong>de</strong> santa m<strong>em</strong>ória, por comumacordo, <strong>em</strong>penharam-se <strong>em</strong> realizar aquilo que era uma <strong>as</strong>piraçãoconcebida <strong>em</strong> idêntico espírito” 4855Muitos foram os clérigos e mesmo os laicos que <strong>de</strong>sejaram o regresso a umavida que comung<strong>as</strong>se, <strong>em</strong> absoluto, e com mais profundida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> Deus af<strong>as</strong>tando-se<strong>de</strong>ste modo dos abusos e comprometimentos, que então <strong>de</strong>sviavamdo seu caminho, não só o mundo eclesiástico como também a socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong>geral e para isso ser possível inspiraram-se na vida dos Padres do Deserto 49 .Numa tentativa <strong>de</strong> solucionar a crise <strong>em</strong> que o monaquismo se precipitara,no <strong>de</strong>correr dos séculos X e XI, fundaram-se inúmer<strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns, um<strong>as</strong> comtendência er<strong>em</strong>ítica, outr<strong>as</strong> com tendência para um cenobitismo renovado.O monaquismo <strong>cister</strong>ciense provém do mesmo tronco que o monaquismobeneditino, inserindo-se num v<strong>as</strong>to movimento <strong>de</strong> reforma er<strong>em</strong>ítica e cenobítica.Cister foi uma nova Or<strong>de</strong>m m<strong>as</strong>, acima <strong>de</strong> tudo uma verda<strong>de</strong>ira criaçãocomo refere Dom Maur Cocheril: “Cîteaux ne fut p<strong>as</strong> simpl<strong>em</strong>ent une réforme48 cit. Exordium Cistercii, cap. I in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong>Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p.4949 tais como Santo Agostinho e S. Bento <strong>de</strong> Núrsia


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA56bénédictine comme il y en avait déjà eu plusieurs. Ce fut aussi un ordrenouveau, une véritable création” 50 .Assim, num momento <strong>em</strong> que se pressentia uma urgente necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>reforma monástica, da Europa do século XI, a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister n<strong>as</strong>ce <strong>em</strong> 1098.No culminar <strong>de</strong> um período <strong>de</strong> renovação que clamava, por uma reformamonástica que se inserisse também num contexto <strong>de</strong> reforma eclesiástica. 51“Citeaux y la or<strong>de</strong>n que surgió <strong>de</strong> él fueron el resultado <strong>de</strong> una mismainquietud que buscaba una forma <strong>de</strong> vida <strong>as</strong>cética más sencilla yrecogida y que encontró su expresión en nuev<strong>as</strong> ór<strong>de</strong>nes durante elsiglo XI. (…) comenzó como una reacción contra l<strong>as</strong> riquez<strong>as</strong> corporativ<strong>as</strong>,los compromisos mundanos y el ritualismo litúrgico exacerbado<strong>de</strong> la tradición monástica carolingia.” 52Os primórdios pré-<strong>cister</strong>cienses r<strong>em</strong>ontam à floresta <strong>de</strong> Collan, próximo <strong>de</strong>Tonnerre on<strong>de</strong>, <strong>em</strong> 1070, Alberico se retira para viver como er<strong>em</strong>ita. Poucot<strong>em</strong>po <strong>de</strong>pois teve a companhia <strong>de</strong> alguns discípulos o que o levou a contactaro prior <strong>de</strong> Saint-Aroul <strong>de</strong> Provins, Roberto, para que este inici<strong>as</strong>se o pequenogrupo na vida <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong>.S. Roberto tivera já um longo percurso e uma v<strong>as</strong>ta experiência <strong>de</strong> vidamonástica. Inicialmente foi monge beneditino <strong>de</strong> Montier-la-Celle naChampagne (da qual viria a ser prior <strong>em</strong>1053) e <strong>de</strong>pois aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saint-Michel<strong>de</strong> Tonnerre (entre os anos <strong>de</strong> 1068 e 1072 e prior <strong>de</strong> Saint-Aroul <strong>de</strong> Provins (<strong>em</strong>1072) que era um priorado <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Montier-la-Celle.2.3.1.MolesmeDe facto os discípulos <strong>de</strong>sta diminuta comunida<strong>de</strong> multiplicaram-se ao ponto<strong>de</strong> esta ter <strong>de</strong> ser transferida, a 20 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1075, para <strong>as</strong> cercani<strong>as</strong>,para um local chamado Molesme. 53 S. Roberto, s<strong>em</strong>pre seguido pelos seus companheiroser<strong>em</strong>it<strong>as</strong> da floresta <strong>de</strong> Collan, estabeleceu-se neste local, situado nafronteira da Champagne e da Borgonha (na diocese <strong>de</strong> Langres, <strong>em</strong> terrenosdoados por Hugo, Senhor <strong>de</strong> Maligny 54 ) uma nova fundação, da qual veio a ser50 COCHERIL, Dom Maur; Introduction in BRONSEVAL, Frère Clau<strong>de</strong> <strong>de</strong> ; “Peregrinatio Hispanica. Voyage <strong>de</strong>Dom È<strong>de</strong>me <strong>de</strong> saulieu, Abbé <strong>de</strong> Clairvaux, en Espagne et au Portugal (1531-1533)”; (ed. Dom MaurCocheril); PUF; Paris; 1970; p.2851 Cfr. LAWRENCE, C. H.; Op. cit. e PACAUT, Marcel; Les Moines Blancs – Histoire <strong>de</strong> lÓr<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cîteaux; LibrairieArthème Fayard; 199352 LAWRENCE, C. H.; Op. cit.; p. 21153 Cfr. PACAUT, Marcel; Op. cit.; p. 34 e AUBERGER, Jean-Baptiste; Cîteaux, les origines in “ Citeaux 1098 – 1998,L’Épopée Cistercienne – Dossiers d’Archeologie”; n. 229; Dec. 97 – Jan. 98; pp. 10-1154 Cfr. LEKAI, Louis J.; Los Cistercienses – i<strong>de</strong>ales y realidad; Biblioteca Her<strong>de</strong>r - Sección <strong>de</strong> Historia; vol. 177;Editorial Her<strong>de</strong>r; Barcelona; 1987; p. 18


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAo aba<strong>de</strong> e Alberico seu o Prior. A nova fundação foi colocada sob a protecçãoda Virg<strong>em</strong> Maria e perspectivava-se que fosse uma fundação ex<strong>em</strong>plar. Dest<strong>em</strong>odo S. Roberto:“(…) atraído por la vida solitaria, como indica su <strong>em</strong>presa <strong>de</strong> Molesme,se mantuvo firme en su creencia <strong>de</strong> que l<strong>as</strong> norm<strong>as</strong> <strong>de</strong>l <strong>as</strong>cetismo<strong>de</strong>l <strong>de</strong>sierto, practicad<strong>as</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> la comunidad monástica,eran lo más cercano al i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> vida religiosa. Pronto su sinceridadatrajo a buen número <strong>de</strong> seguidores y, con el apoyo material proporcionadopor la nobleza local, Molesme se convirtió en una <strong>de</strong> l<strong>as</strong>abadí<strong>as</strong> reformad<strong>as</strong> <strong>de</strong> más éxito <strong>de</strong> finales <strong>de</strong>l siglo XI.” 55Esta foi não só a primeira tentativa <strong>de</strong> reforma como também a pr<strong>em</strong>issa históricada fundação <strong>de</strong> Citeaux (Cister). Em Molesme foi imposta a estrita observânciada Regra beneditina e a sua comunida<strong>de</strong> cenobítica tinha comocaracterístic<strong>as</strong> particulares (e necessida<strong>de</strong> fundamental) o af<strong>as</strong>tamento d<strong>as</strong>ocieda<strong>de</strong> e a ausência <strong>de</strong> contactos com os habitantes mais próximos. Dest<strong>em</strong>odo a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Molesme e o seu Mosteiro estavam encerrados aomundo, submetendo-se ao seu aba<strong>de</strong> Roberto 56 que afirmava ser no <strong>as</strong>cetismoque se <strong>de</strong>veria buscar a mais fiel aproximação ao i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> vida religiosa.As vocações afluiram largamente a Molesme, muitos foram os que encontraramali a sua iniciação monástica, sendo possível encontrar nomes que maistar<strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacaram, não só no âmbito da reforma monástica m<strong>as</strong> também nopanorama d<strong>as</strong> influênci<strong>as</strong> e <strong>de</strong>senvolvimento da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister. Assim, a estaAbadia ligam-se nomes como Alberico (que veio a ser o segundo aba<strong>de</strong> <strong>de</strong>Citeaux após um ano <strong>de</strong> abaciado <strong>de</strong> Roberto), Estêvão Harding (que suce<strong>de</strong>ua Alberico no abaciado <strong>de</strong> Citeaux vindo a ser o seu terceiro aba<strong>de</strong>) ou Bruno(fundador da Cartuxa).Porém, cedo começaram a surgir tensões entre os que preservavam a nostalgiaer<strong>em</strong>ítica e os que <strong>de</strong>sejavam uma vida <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong>. Como refereLekai,“Roberto juzgó conveniente apoyar el peso <strong>de</strong> sus argumentos enalusiones frecuentes a la Regla <strong>de</strong> San Benito, mientr<strong>as</strong> la mayoríahostil insistía en la legitimidad <strong>de</strong> l<strong>as</strong> costumbres <strong>de</strong> Cluny y rechazabalos propósitos <strong>de</strong>l abad como noveda<strong>de</strong>s religios<strong>as</strong> impracticables.”57A verda<strong>de</strong>ira reforma será então propiciada no momento <strong>em</strong> que alguns monges<strong>de</strong>sta abadia juntamente com o seu aba<strong>de</strong> Roberto abandonam o mosteiropara outra fundação. Ao partir<strong>em</strong>, estes monges estavam a optar por umavida <strong>de</strong> maior perfeição (tal como já o haviam feito <strong>em</strong> seu t<strong>em</strong>po os “Padres5755 LEKAI, Louis J.; Op. cit; p. 1856 Cfr. PACAUT, Marcel; Op. cit.; pp.34-3557 Cfr. LEKAI, Louis J.; Op. cit.; p. 19


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA58do Deserto”) sendo para isso necessário o af<strong>as</strong>tamento da vida que então selevava <strong>em</strong> Molesme. Na realida<strong>de</strong>, após cerca <strong>de</strong> vinte e três anos <strong>de</strong> existência,no início do ano 1098, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reform<strong>as</strong> já se fazia sentir. Estefacto <strong>de</strong>veu-se não à <strong>de</strong>cadência moral do Mosteiro m<strong>as</strong> sim a probl<strong>em</strong><strong>as</strong> <strong>de</strong>organização e controlo que se tornavam cada vez mais complexos conduzindomesmo à perca <strong>de</strong> controlo disciplinar, por parte dos el<strong>em</strong>entos fundadores,<strong>em</strong> relação às nov<strong>as</strong> vocações que afluíram a Molesme e que os ultrap<strong>as</strong>saramnumericamente. Como resultado, esta fundação, começou a <strong>as</strong>s<strong>em</strong>elhar-se<strong>em</strong> tudo a tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> outr<strong>as</strong> abadi<strong>as</strong> cluniacenses prósper<strong>as</strong> que a circundavam.Já <strong>em</strong> 1090 Molesme acumulara benefícios eclesiásticos, dízimos, rend<strong>as</strong> <strong>de</strong>igreja, al<strong>de</strong>i<strong>as</strong> e servos (muitos <strong>de</strong>les leigos) o que estava <strong>em</strong> sintonia com <strong>as</strong>tradições monástic<strong>as</strong> coev<strong>as</strong> m<strong>as</strong> <strong>de</strong>sf<strong>as</strong>ado do i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> isolamento e pobreza<strong>de</strong> uma vida inteiramente <strong>de</strong>dicada ao serviço <strong>de</strong> Deus protagonizado por S.Roberto. 58Deste modo o aba<strong>de</strong> Roberto acompanhado por Alberico, Estêvão Harding,entre outros expõe ao arcebispo <strong>de</strong> Lyon, Hugo <strong>de</strong> Die, activo promotorda Reforma Gregoriana, o seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> fundar uma nova comunida<strong>de</strong> com opropósito <strong>de</strong> seguir uma observância mais estrita e <strong>de</strong> maior fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> à regra<strong>de</strong> S. Bento do que aquela que tinha sido seguida até então.“Hugo, visibl<strong>em</strong>ente impresionado, bendijo el proyecto, animó a lospeticionarios «a perseverar en su santo propósito» y, como estearreglo parecía servir a los intereses <strong>de</strong> amb<strong>as</strong> partes en el cenobiomolesmense, autorizó a Roberto y a sus seguidores a <strong>de</strong>jar la abadíay retirarse «a otro lugar» don<strong>de</strong> pudieron «servir al Señor sin perturbacionesy en forma más provechosa».” 59É a partir <strong>de</strong>st<strong>as</strong> <strong>de</strong>mand<strong>as</strong> e exigênci<strong>as</strong> que irá n<strong>as</strong>cer Cister.2.3.2.Novum Mon<strong>as</strong>terium, <strong>de</strong> la Forgeotte a CîteauxRoberto parte, uma vez mais, <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> uma maior observância da Regra<strong>de</strong> S. Bento e consequent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> reforma. Acompanhado <strong>de</strong> vinte e ummonges Roberto é o lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> um êxodo ao encontro da nova “terra prometida”,isto é o Novum Mon<strong>as</strong>terium (novo mosteiro). O local foi doado especificamentepara este efeito por Raynard, viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Beaune, ainda parente <strong>de</strong>Roberto. Segundo a datação tradicional, a 21 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1098, dia da festivida<strong>de</strong><strong>de</strong> S. Bento (coinci<strong>de</strong>nte com o Domingo <strong>de</strong> Ramos nesse ano) o Aba<strong>de</strong>58 LEKAI, Louis J.; Op. cit. pp. 18-1959 I<strong>de</strong>m; p. 20


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURARoberto fundava, a 5 légu<strong>as</strong> <strong>de</strong> Dijon, o Novum Mon<strong>as</strong>terium ao qual se chamouCister (Citeaux). 60O Novum Mon<strong>as</strong>terium está conotado com uma dupla significação poisnão só exprime a sua condição do novo mosteiro como também é a expressão<strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al, que se fundamentara na vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> reagir contra <strong>as</strong> instituições ecostumes <strong>de</strong> então, proporcionando acima <strong>de</strong> tudo o aparecimento <strong>de</strong> ummonaquismo renovado.Cister traduz <strong>de</strong>ste modo um esforço <strong>de</strong> regresso às origens, à pureza originalda Regra <strong>de</strong> S. Bento isenta d<strong>as</strong> interpretações e <strong>de</strong>svios dos séculostranscorridos, como também o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> procurar Deus na solidão do“<strong>de</strong>serto”, <strong>em</strong> pobreza, com in<strong>de</strong>pendência face ao po<strong>de</strong>r secular <strong>de</strong> então.Assim, pobreza, solidão e penitência serão <strong>as</strong> b<strong>as</strong>es <strong>de</strong> Cister.A austerida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida favorecia <strong>as</strong> enfermida<strong>de</strong>s, <strong>as</strong> vocações iam aparecendo,m<strong>as</strong> eram pouc<strong>as</strong>. A água era um b<strong>em</strong> esc<strong>as</strong>so <strong>em</strong> La Forgeotte, aosul <strong>de</strong> Dijon on<strong>de</strong> se situava a primeira implantação <strong>de</strong> Cister. Logo procurou-seum outro local a cerca <strong>de</strong> 2 Km do primeiro on<strong>de</strong> o fluxo <strong>de</strong> água era maisabundante, um pouco antes <strong>de</strong> 1106 fez-se a mudança. 61O local tinha já um nome Citeaux, <strong>em</strong> latim Cistercium, cuja etimologia éexplicada <strong>de</strong> vários modos. Em princípio referia-se à posição geográfica on<strong>de</strong>se encontrava “para lá do terceiro marco miliário” (cis tertium lapi<strong>de</strong>mmiliarium) na antiga estrada romana entre Langres e Chalon-sur-Saóne. Porémesta <strong>de</strong>nominação também po<strong>de</strong> provir francês arcaico cistel que <strong>de</strong>signajunco, uma planta que, segundo a lenda, abundava no local, tomando este <strong>as</strong>ua <strong>de</strong>signação. M<strong>as</strong> por alguns anos a nova fundação é apen<strong>as</strong> <strong>de</strong>signadapor o Novo Mosteiro (Novum Mon<strong>as</strong>terium). 62Nestes momentos iniciais a nova comunida<strong>de</strong> dispen<strong>de</strong>u qu<strong>as</strong>e todo o seut<strong>em</strong>po a construir habitações <strong>de</strong> carácter efémero, a <strong>de</strong>sbravar terra <strong>de</strong> modoa torná-la capaz <strong>de</strong> acolher <strong>as</strong> cultur<strong>as</strong> necessári<strong>as</strong> à sua subsistência.Ali a vida seria realmente seguida segundo o l<strong>em</strong>a “ora et labora”, repartidaentre o trabalho e a oração. Os monges <strong>de</strong> Cister tiveram <strong>de</strong> trabalhar ummeio hostil, enfrentar dur<strong>as</strong> provações e esforços para encontrar<strong>em</strong> os bensmateriais <strong>de</strong> que tinham necessida<strong>de</strong> para a sua subsistência 63 “Al principio, la5960 AUBERGER, Jean-Baptiste; Mystère <strong>de</strong> Fontenay; col. La voie lactée; Ed. Zodiaque; 2001; pp. 10-1361 Cfr. AUBERGER, Jean-Baptiste; Cîteaux, les origines in “ Citeaux 1098 – 1998, L’Épopée Cistercienne – Dossiersd’Archeologie”; n. 229; Dec. 97 – Jan. 98; pp. 1262 Cfr. KINDER, Terryl N.; L’Europe Cistercienne; col. Les formes <strong>de</strong> la nuit; Ed. Zodiaque; 1998 / LEKAI, Louis J.; op.cit ; p. 21 / AUBERGER, Jean-Baptiste; Mystère <strong>de</strong> Fontenay; col. La voie lactée; Ed. Zodiaque; 2001; pp. 12-13 /ROUX, Julie; Les Cisterciens; col In Situ – Thémes; MSM Éditions; Touluse; 2000; p. 3563 SAINT-DENIS, Alain; L’évolution du paisage autour <strong>de</strong> l’abbaye. De la naissance à l’apogée: 1098-1250 in“Pour une histoire monumentale <strong>de</strong> l’abbaye <strong>de</strong> Citeaux 1098-1998” (dir. Martine Plouvier, Alain Saint-Denis);Cîteaux, Commentarii <strong>cister</strong>cienses / Association Bourguignonne dês Sociétés Savantes; Dijon; 1998; p.44


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA60comunidad <strong>de</strong> Citeaux se albergó en choz<strong>as</strong> <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ra construid<strong>as</strong> por lospropios monjes. La vida era austera y el <strong>em</strong>plazamiento húmedo e insano.” 64A este período inicial correspon<strong>de</strong>ram t<strong>em</strong>pos marcados pela falta <strong>de</strong>compreensão por parte da comunida<strong>de</strong> que ficara <strong>em</strong> Molesme.“Roberto y sus compañeros <strong>de</strong>seaban vivamente llevar una vida<strong>as</strong>cética en pobreza y perfecta soledad, proveyéndose <strong>de</strong> lo necesariocon su propio trabajo, como los Apóstoles <strong>de</strong> Cristo. (…) p<strong>as</strong>aronlos primeros meses talando árboles, construyendo algunos refugiost<strong>em</strong>porales y plantando para la cosecha otoñal. Pero pronto, notici<strong>as</strong>provenientes <strong>de</strong> Molesme alteraron el ritmo <strong>de</strong> oraciones y trabajomanual.” 65A comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Molesme obtém um <strong>de</strong>creto papal no qual era or<strong>de</strong>nado oregresso <strong>de</strong> Roberto logo no final do primeiro ano <strong>de</strong> estadia <strong>em</strong> Cister. Est<strong>em</strong>omento está documentado no capítulo V do Exordium Parvum ao referir-seque:“Não havia <strong>de</strong>corrido muito t<strong>em</strong>po quando os monges <strong>de</strong> Molesme,por or<strong>de</strong>m do aba<strong>de</strong> Dom Godofredo, que suce<strong>de</strong>ra no cargo aRoberto, foram ter com o Papa Urbano a Roma a instar<strong>em</strong> para queo dito Roberto fosse feito regressar ao primitivo mosteiro. Perante <strong>as</strong>ua insistência, o Papa <strong>de</strong>u instruções ao seu legado, o veneradoHugo, para que, na medida do possível, o aba<strong>de</strong> regress<strong>as</strong>se e osmonges que preferiss<strong>em</strong> o ermo aí pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> permanecer s<strong>em</strong> ser<strong>em</strong>molestados.” 66Em 1099 Roberto, é <strong>as</strong>sim chamado a regressar a Molesme, o que o obriga aabandonar Cister, sendo também permitido o regresso <strong>de</strong> todos aqueles que<strong>de</strong>sej<strong>as</strong>s<strong>em</strong> continuar a segui-lo abandonando <strong>de</strong> igual modo o Novo Mosteiro.67 Após a partida do aba<strong>de</strong> Roberto foi Alberico que ocupou o lugar <strong>de</strong>ixadovago tornando-se no segundo aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cister num momento <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>se provações.64 Cfr. LAWRENCE, C. H.; Op. cit.; p. 21365 Cfr. LEKAI, Louis J.; Op. cit.; p. 2166 Cfr. Exordium Parvum, cap.V in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários<strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p.3167 Cfr. LEKAI, Louis J.; Op. cit.; p. 22


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA2.4.DESENVOLVIMENTO CISTERCIENSE“invenit eum in terra <strong>de</strong>serta, in loco horroris et v<strong>as</strong>tae solitudinis,circunduxit eum et docuit et custodivit qu<strong>as</strong>i pupillam oculi sui (...)” 68No entanto <strong>as</strong> dificulda<strong>de</strong>s continuavam, pois o trabalho era árduo e o número<strong>de</strong> monges reduzido (sobretudo após a partida <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>les paraMolesme) tal facto exigia a este pequeno grupo <strong>de</strong> monges a resposta a múltipl<strong>as</strong>taref<strong>as</strong> que requeriam simultânea atenção. Segundo a crónica Gestaregum Anglorum <strong>de</strong> Guilherme <strong>de</strong> Malmesbury, citada por Lekai, vinte e cincoanos após o êxodo <strong>de</strong> Roberto, <strong>as</strong>sim como gran<strong>de</strong> parte dos monges que oseguiram <strong>de</strong> regresso a Molesme, apen<strong>as</strong> restaram oito monges. 69 Não se po<strong>de</strong>esquecer que a par da construção do mosteiro era necessário cultivar a terrapara a sobrevivência, como já foi referido, m<strong>as</strong> também copiar os manuscritosindispensáveis à vida espiritual <strong>as</strong>sim como os livros litúrgicos para o Officium Dei(oficio <strong>de</strong> Deus) e os comentários d<strong>as</strong> Escritur<strong>as</strong> para a Lectio Divina. 70 Pelo quecomo refere o Exordium Parvum no seu capítulo XVI:“O Aba<strong>de</strong>, que era hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> Deus, e os seus monges estiveramsujeitos a momentos <strong>de</strong> tristeza, pois raramente, alguém nesses di<strong>as</strong>vinha ter com eles para seguir o mesmo estilo <strong>de</strong> vida.Efectivamente, aqueles santos homens ansiavam por transmitir otesouro <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s que tinham encontrado por vonta<strong>de</strong> celestial afim <strong>de</strong> ser profícuo para a salvação <strong>de</strong> muitos.Qu<strong>as</strong>e todos, porém, ao ver<strong>em</strong> e ouvir<strong>em</strong> contar a <strong>as</strong>pereza davida que levavam, fora do habitual e s<strong>em</strong> lhe conhecer<strong>em</strong> outroex<strong>em</strong>plo, apressavam-se mais <strong>em</strong> fugir <strong>de</strong> coração e <strong>de</strong> corpo que aaproximar-se e não <strong>de</strong>ixavam <strong>de</strong> pôr <strong>em</strong> dúvida a sua perseverança.M<strong>as</strong> a misericórdia <strong>de</strong> Deus, que inspira aos seus esta milícia espiritual,não cessava <strong>de</strong> lhe dar admirável incr<strong>em</strong>ento e <strong>de</strong> a levar àperfeição para proveito <strong>de</strong> muitos (...) ” 71A procura <strong>de</strong> uma v<strong>as</strong>ta solidão, pobreza e austerida<strong>de</strong> contribuíram para aescolha <strong>de</strong> Roberto e seus companheiros. Este apelo <strong>cister</strong>ciense a uma vidaer<strong>em</strong>ítica, no seio <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> monástica, constituiu-se como um<strong>de</strong>safio ao estilo <strong>de</strong> vida aceite e estabelecido pelos cluniacenses, ainda para6168 “(O Senhor) achou-o numa terra do <strong>de</strong>serto, num sítio <strong>de</strong> terror e <strong>de</strong> isolamento imenso, volteou <strong>em</strong> torno<strong>de</strong>le para lhe chamar a atenção e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u-o como se fosse a pupila dos seus olhos” in Deuteronómio(32,10)69 Cfr. LEKAI, Louis J.; Op. cit.; p. 2270 Cfr. AUBERGER, Jean-Baptiste; Cîteaux, les origines in “ Citeaux 1098 – 1998, L’Épopée Cistercienne – Dossiersd’Archeologie”; n. 229; Dec. 97 – Jan. 9871 Cfr. Exordium Parvum, cap.XVI in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários<strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; pp.43-44


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA62mais quando inserido na região da Borgonha, pleno centro do “domínio cluniacense”.É esta característica <strong>cister</strong>ciense que <strong>de</strong> imediato provoca um choquee entra <strong>em</strong> confronto com Cluny.As primeir<strong>as</strong> décad<strong>as</strong> <strong>de</strong>stinaram-se à <strong>de</strong>finição do modo <strong>de</strong> vida <strong>cister</strong>cienseque <strong>de</strong>monstravam já ter algum<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> <strong>em</strong> relação ao monaquismotradicional.Durante o abaciado <strong>de</strong> Alberico, após a partida <strong>de</strong> Roberto, a ajuda prestadaaos Cistercienses r<strong>em</strong>anescentes, <strong>de</strong> modo a realizar<strong>em</strong> a transferência<strong>de</strong> Sítio do seu mosteiro, foi proporcionada por Otão, duque da Borgonha, e<strong>de</strong>pois pelo seu irmão Hugo. Terá sido este último a garantir a ajuda materialpara a construção da primeira igreja, <strong>em</strong> pedra, <strong>de</strong> Cister que teria sido consagradapelo bispo Gualtero <strong>de</strong> Chalon a 16 <strong>de</strong> Nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1106. Esta igrejaterá sido a primeira a ser <strong>de</strong>dicada à Santíssima Virg<strong>em</strong> Maria, o que se veio atornar, numa constante, s<strong>em</strong>pre presente na tradição monástica <strong>cister</strong>ciense. 72É sob o abaciado <strong>de</strong> Alberico que a in<strong>de</strong>pendência da Abadia foi confirmad<strong>as</strong>endo colocada sob a protecção do Papa, através da bula Desi<strong>de</strong>riumquod do Papa P<strong>as</strong>coal II <strong>em</strong> Abril <strong>de</strong> 1100. 73 Deste modo Alberico <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhouo importante papel <strong>de</strong> consolidar a fundação <strong>de</strong> Cister.Após a morte <strong>de</strong> Alberico, a 26 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1109, é Estêvão Harding quelhe suce<strong>de</strong>, tornando-se no terceiro aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cister. Estêvão (c.1060-1134) proce<strong>de</strong>nteda nobreza anglo-saxónica foi monge beneditino na Abadia <strong>de</strong>Sherborne <strong>em</strong> Dorsetshire. Estêvão compreen<strong>de</strong>u a sua vocação monásticanuma peregrinação a Roma, no regresso p<strong>as</strong>sou por Molesme tendo <strong>de</strong>cididopermanecer nesta comunida<strong>de</strong>. Estêvão Harding, foi <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos, secretário <strong>de</strong>Roberto e após a partida <strong>de</strong>ste tornou-se num el<strong>em</strong>ento fundamental, a ponto<strong>de</strong> ser escolhido por Alberico como prior, cedo <strong>de</strong>monstrou possuir gran<strong>de</strong>scapacida<strong>de</strong>s organizativ<strong>as</strong> e sabedoria na utilização do direito ao serviço davida espiritual. 74Deste modo, no seguimento <strong>de</strong> Alberico, Estêvão Harding proporciona àcomunida<strong>de</strong> estrutur<strong>as</strong> organizativ<strong>as</strong> que vão correspon<strong>de</strong>r à sua organizaçãofundamental. Segundo alguns historiadores, os <strong>cister</strong>cienses <strong>de</strong>v<strong>em</strong> a EstêvãoHarding o seu maior legado: a Carta Caritatis, a b<strong>as</strong>e constitucional daOr<strong>de</strong>m. 75 Estêvão Harding, “Heredó un simple mon<strong>as</strong>terio que gozaba porentonces <strong>de</strong> cierto prestigio entre l<strong>as</strong> innumerables abadí<strong>as</strong> reformad<strong>as</strong>, y <strong>de</strong>jótr<strong>as</strong> <strong>de</strong> sí la primera Or<strong>de</strong>n <strong>de</strong> la historia monástica, dotada <strong>de</strong> un programa72 Cfr. LEKAI, Louis J.; Op. cit.; pp. 23-2573 Cfr. FORNARI, Fe<strong>de</strong>rico Farina Bene<strong>de</strong>tto; L’architettura <strong>cister</strong>cense e l’abbazia di C<strong>as</strong>amari; Edizioni C<strong>as</strong>amari;C<strong>as</strong>amari (Frosinone); 1981; p. 574 Cfr. AUBERGER, Jean-Baptiste; Op. cit.; p.1475 Cfr. ARCCIS; À la reencontré <strong>de</strong>s Cisterciens; Éditions du Cerf; Paris; 2001; pp.25-26 / LEKAI, Louis J.; op. cit. /FORNARI, Fe<strong>de</strong>rico Farina Bene<strong>de</strong>tto ; Op. cit. / LAWRENCE, C. H.; Op. cit / KINDER, Terryl N. e David Heald;L’Architecture du Silence – les abbayes <strong>cister</strong>ciennes <strong>de</strong> France; Éditions <strong>de</strong> la Martinière; Paris; 2000


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAclaramente formulado, ensamblada en un sólido marco legal y en un estadio<strong>de</strong> expansión sin prece<strong>de</strong>ntes.” 76Como refere Frei Geraldo Coelho Di<strong>as</strong>, monge beneditino do Mosteiro <strong>de</strong>S. Bento da Vitória, Porto “Não se po<strong>de</strong> negar o papel <strong>de</strong> alavanca espiritualatribuído aos três padres fundadores <strong>de</strong> Cister: Roberto, o iniciador do movimento,Alberico, o humil<strong>de</strong> continuador, e Estêvão Harding, aquele que conseguiuestabelecer a «Carta <strong>de</strong> Carida<strong>de</strong>» como documento normativo e patrocinador<strong>de</strong>ste novo movimento monástico na Igreja”. 77Em apen<strong>as</strong> dois anos, sob o abaciado <strong>de</strong> Estêvão Harding n<strong>as</strong>ceram quatroabadi<strong>as</strong>-filh<strong>as</strong>, La Ferté (1113), Pontigny (1114), Clairvaux (1115) e Morimond(1115), o que permite afirmar a concreta existência <strong>de</strong> uma nova Or<strong>de</strong>m. Porsua vez est<strong>as</strong> abadi<strong>as</strong> darão orig<strong>em</strong> a numeros<strong>as</strong> filiações. (Esq. 3)C Î T E A U X1098L A F E R T ÉP O N T I G N YC L A I R V A U XM O R I M O N D6311131114 11151115Esq. 3 Estrutura ramificada, d<strong>as</strong> quatro primeir<strong>as</strong> filh<strong>as</strong> da Abadia-mãeCiteaux e su<strong>as</strong> dat<strong>as</strong> <strong>de</strong> fundação (esqu<strong>em</strong>a da autora)Já na Carta <strong>de</strong> Fundação da Abadia <strong>de</strong> La Ferté se encontra referência aofacto <strong>de</strong> “O número <strong>de</strong> irmãos <strong>de</strong> Cister era tão gran<strong>de</strong> que n<strong>em</strong> os bens quepossuíam b<strong>as</strong>tavam n<strong>em</strong> o lugar <strong>em</strong> que viviam era capaz <strong>de</strong> lhes proporcionarbo<strong>as</strong> condições.” 78M<strong>as</strong> também o Exordium Parvum no seu capítulo XVIII refere que os Cistercienses“Des<strong>de</strong> então, erigiram abadi<strong>as</strong> <strong>em</strong> divers<strong>as</strong> dioceses e foram crescendo<strong>de</strong> dia para dia com tão larga e po<strong>de</strong>rosa bênção do Senhor que, nointervalo <strong>de</strong> oito anos, entre os que tinham saído especificamente do mosteiro76 Cfr. LEKAI, Louis J.; Los Cistercienses – i<strong>de</strong>ales y realidad; Biblioteca Her<strong>de</strong>r - Sección <strong>de</strong> Historia; vol. 177;Editorial Her<strong>de</strong>r; Barcelona; 1987; p. 2577 Cfr. DIAS, Geraldo Coelho; A Alma <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal in “Religião e Simbólica”; Granito Editores; Porto;2001; p. 24078 Cfr. Carta <strong>de</strong> Fundação da Abadia <strong>de</strong> La Ferté in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduçõese Comentários <strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 125


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA<strong>de</strong> Cister e outros que <strong>de</strong>les próprios tinham tido orig<strong>em</strong>, se contava já a fundação<strong>de</strong> doze mosteiros.” 792.4.1.Roberto, Alberico, Estêvão: os três impulsos essenciaisA evolução da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>as</strong> origens até à sua afirmação fez-sesegundo três momentos b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finidos 80 que correspon<strong>de</strong>ram aos abaciadosdos padres fundadores referidos anteriormente.Numa altura <strong>em</strong> que ainda não se tinha inteiramente a noção da importânciado momento que estava a ser vivido surgiu um primeiro período <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento ligado ao abaciado <strong>de</strong> Roberto com início ainda <strong>em</strong>Molesme e terminando já <strong>em</strong> Cister correspon<strong>de</strong>ndo ao momento impulsionadorda nova or<strong>de</strong>m. (Fig. 11)64Fig. 11 S. Roberto, transepto do Mosteiro<strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Oseira,Galiza, Espanha (fotografia daautora)Num segundo momento, correspon<strong>de</strong>nte ao abaciado <strong>de</strong> Alberico, consolidaram-se<strong>as</strong> motivações e o sentido da nova Or<strong>de</strong>m dando-se nesta altura oinício da reacção cluniacense. (Fig. 12) De facto o regresso à primitivaobservância da Regra <strong>de</strong> S. Bento requer aos <strong>cister</strong>cienses a omissão <strong>de</strong>costumes e prátic<strong>as</strong> (que não se encontravam explicitados na Santa Regra)introduzid<strong>as</strong> por Cluny. Também o modo <strong>de</strong> administração feudal daproprieda<strong>de</strong> monástica levada a cabo pelos cluniacenses, é rejeitado por79 Cfr. Exordium Parvum, cap.XVIII in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários<strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; pp.45-4680 Cfr. LEKAI, Louis J.; The White Monks; col. Cistercian Fathers; Our Lady of Spring Bank; Okauchee, Wisconsin;1953; pp.23-25


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURACister. Deste modo encontram-se du<strong>as</strong> reform<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong> e dois modos <strong>de</strong>reagir b<strong>em</strong> diferentes.Fig. 12 S. Alberico, transepto do Mosteiro<strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Oseira,Galiza, Espanha (fotografia daautora)O terceiro momento correspon<strong>de</strong> ao abaciado <strong>de</strong> Estêvão Harding e correspon<strong>de</strong>à consolidação da legislação da Or<strong>de</strong>m. (Fig. 13) A aplicação práticados princípios <strong>cister</strong>cienses, e consequent<strong>em</strong>ente o regresso à fiel observânciada Regra <strong>de</strong> S. Bento, foram iniciados sob a administração <strong>de</strong> Alberico m<strong>as</strong>consolidados com Estêvão Harding como refere Lekai:“La aplicación práctica <strong>de</strong> esos principios tuvo lugar en Cister bajo laadministración <strong>de</strong> Alberico, aunque el proceso se <strong>as</strong><strong>em</strong>eja más auna improvisación dictada por l<strong>as</strong> necesida<strong>de</strong>s diari<strong>as</strong> que a una legislaciónconsciente. (…) La expansión <strong>de</strong>l movimiento a través <strong>de</strong>nuev<strong>as</strong> fundaciones, indujo a Esteban Harding a sentar por escrito, losel<strong>em</strong>entos básicos <strong>de</strong> l<strong>as</strong> observanci<strong>as</strong> en Cister, y <strong>as</strong>egurar la cohesión<strong>de</strong> la congregación monástica en franca expansión, proyectandoel número <strong>de</strong> una trabazón constitucional.” 8165Fig. 13 S. Estêvão, transepto do Mosteiro<strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Oseira,Galiza, Espanha (fotografia daautora)81 Cfr. LEKAI, Louis J.; Los Cistercienses – i<strong>de</strong>ales y realidad; Biblioteca Her<strong>de</strong>r - Sección <strong>de</strong> Historia; vol. 177;Editorial Her<strong>de</strong>r; Barcelona; 1987; p. 31


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAEstêvão Harding foi a personag<strong>em</strong> <strong>de</strong> maior relevo da primeira f<strong>as</strong>e da história<strong>cister</strong>ciense pois ditou o significado <strong>de</strong> Cister como Or<strong>de</strong>m e como Abadia,legislou e organizou. (Fig. 14) Deste modo a sua acção e pensamento abriramcaminho e possibilitaram <strong>as</strong> acções e pensamentos <strong>de</strong> Bernardo <strong>de</strong> Claraval.Tal como refere Pacaut:“C’est lui, en affect, qui, au cours d’un abbatiat <strong>de</strong> près <strong>de</strong> vingt-cinqans, «fait» Cîteaux et «fait» l’ordre <strong>cister</strong>cien. Il en est le législateur etl’organisateur. Il en marque profondément la genèse par sa reflexionet son action, sans lesquelles celles <strong>de</strong> Bernard <strong>de</strong> Clairvaux n’auraintp<strong>as</strong> pu s’élaborer et s’accomplir ou, pour le moins, n’auraient p<strong>as</strong> étéce qu’elles furent.” 8266Fig. 14 S. Bernardo, transepto do Mosteiro<strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Oseira,Galiza, Espanha, fotografia daautora)Bernardo <strong>de</strong> Fontaine chegou a Cister, <strong>em</strong> 1112, durante o abaciado <strong>de</strong> EstêvãoHarding, acompanhado <strong>de</strong> alguns monges. Este facto <strong>de</strong>u à recém n<strong>as</strong>cidaOr<strong>de</strong>m um impulso cuja amplitu<strong>de</strong> se propagou ao longo <strong>de</strong> séculos.Como refere o Exordium Cistercii no seu capítulo II:“Foi então que Deus, para qu<strong>em</strong> é fácil d<strong>as</strong> pequen<strong>as</strong> cois<strong>as</strong> fazercois<strong>as</strong> gran<strong>de</strong>s e do pouco tirar o muito, inflamou o coração <strong>de</strong> umgrupo <strong>de</strong> homens e, contra tudo o que seria <strong>de</strong> esperar, os levou aimitá-los, por tal forma que <strong>de</strong> uma só vez foram trinta os que, <strong>de</strong>entre clérigos e leigos, homens nobres e po<strong>de</strong>rosos, aos olhos domundo, se dispuseram a viver <strong>em</strong> comum no claustro dos noviçospara fazer<strong>em</strong> a sua provação.Visitada <strong>as</strong>sim pelo céu <strong>de</strong> modo tanto inesperado e feliz, pô<strong>de</strong>finalmente, e não s<strong>em</strong> razão, entrar <strong>em</strong> júbilo a estéril que não davaà luz, tantos se haviam tornado os filhos da abandonada.” 8382 Cit. PACAUT, Marcel; Op. cit.; p.5183 Cfr. Exordium Cistercii, cap.II in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários<strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; pp.51-52


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURABernardo chegou a Cister, apen<strong>as</strong> com 22 anos, inserido num grupo <strong>de</strong> cerca<strong>de</strong> trinta companheiros do qual faziam parte quatro dos seus irmãos (Guy,Gérard, André e Barthél<strong>em</strong>y), dois dos seus primos (Geoffroy <strong>de</strong> la RocheVaneau e Roberto) e dois dos seus tios maternos (Gaudry <strong>de</strong> Touillon e Miles <strong>de</strong>Montbard). 84 De seguida apresenta-se a esqu<strong>em</strong>atização da evolução <strong>de</strong>Cister <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua fundação até à sua afirmação (Esq. 4):EVOLUÇÃO DE CISTERDESDE O NASCIMENTOATÉ À AFIRMAÇÃOI MOMENTO1098 - 1099ABACIADO DE ROBERTOIMPULSIONADORCISTERII MOMENTO1099 - 1109ABACIADO DE ALBERICOCONSOLIDAÇÃOIII MOMENTO1109 - 1133ABACIADO DE ESTEVÃOLEGISLAÇÃO1112CHEGADA DE BERNARDOCLARAVAL1115 - 1153ABACIADO DE BERNARDOAFIRMAÇÃOEsq. 4 Evolução <strong>de</strong> Cister <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fundação até à afirmação (esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)672.4.2.S. BernardoS. Bernardo proveniente <strong>de</strong> uma ilustre e nobre família borgonhesa n<strong>as</strong>ce <strong>em</strong>1090 <strong>em</strong> Fontaines-les-Dijon. Bernardo é filho do Senhor <strong>de</strong> Fontaine, Tecelino <strong>de</strong>Châtillon e <strong>de</strong> Aleta <strong>de</strong> Montbard, teve uma irmã e seis irmãos que estavam<strong>de</strong>stinados a ser cavaleiros. 85 No entanto o rumo <strong>de</strong> Bernardo foi b<strong>em</strong> diferente,talvez por uma saú<strong>de</strong> frágil, foi confiado aos Cónegos da Colegiada <strong>de</strong> Châtillon-sur-Seinee foi aqui que <strong>de</strong>scobriu a Bíblia, a Teologia e o estudo da língua edos autores latinos como Virgílio, Horácio e Cícero o que lhe permitiu apren<strong>de</strong>ro latim erudito. Aos 18 anos regressou a c<strong>as</strong>a e preparou-se para ser um cavaleirocomo os seus irmãos, porém começou a sentir progressivamente a suavocação monástica e após a morte da sua mãe tomou a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> se retirardo mundo 86 .84 Cfr. AUBERGER, Jean-Baptiste; Op. cit.; p.18 / PACAUT, Marcel; Op. cit.; p.5785 Cfr. PACAUT, Marcel; Op.cit; pp.54-5586 RICHÉ, Pierre; Bernard <strong>de</strong> Clairvaux in “ Citeaux 1098 – 1998, L’Épopée Cistercienne – Dossiersd’Archeologie”; n. 229; Dec. 97 – Jan. 98; p. 16


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAComo foi referido, <strong>em</strong> 1112 chegou a Cister e logo, <strong>em</strong> 1115, Estêvão Harding(então aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cister), <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> enviar o jov<strong>em</strong> Bernardo, <strong>de</strong> apen<strong>as</strong> 25anos, e doze companheiros para fundar<strong>em</strong> uma nova abadia. Esta abadiaencontrava-se num vale isolado da marg<strong>em</strong> esquerda do Aube inserida numaterra que pertencia a uns primos <strong>de</strong> Bernardo, tratava-se da abadia <strong>de</strong> Claravalà qual o seu nome ficaria para s<strong>em</strong>pre <strong>as</strong>sociado.68Fig. 15 S. Bernardo, fachada do Mosteiro <strong>de</strong>Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (fotografia daautora)Bernardo tomou parte, e a todos os níveis, naquilo que respeita aos acontecimentosimportantes do seu t<strong>em</strong>po. (Fig. 15) Assim foi chamado a interce<strong>de</strong>r earbitrar a paz não só entre cida<strong>de</strong>s como também entre príncipes. Em 1130 foichamado pelo rei Luís VI para intervir no conflito entre dois pap<strong>as</strong> contribuindo<strong>as</strong>sim para pôr termo ao cisma que opunha o papa Inocêncio II ao anti-papaAnacleto (tendo optado pelo primeiro tornando-o reconhecido por todo omundo cristão). Foi gran<strong>de</strong> a sua influência e o seu legado (test<strong>em</strong>unhadopelos seus escritos renovadores <strong>as</strong>sim como pela sua pregação <strong>em</strong> Vézelay noDomingo <strong>de</strong> Páscoa <strong>de</strong> 1146, frente ao rei e à nobreza que daria o impulsonecessário à Segunda Cruzada) 87 que como refere Julie Roux esta era umaExpedição <strong>de</strong>stinada não a converter os muçulmanos pela força m<strong>as</strong> <strong>as</strong>ocorrer <strong>as</strong> populações cristãs do Próximo Oriente.Bernardo <strong>de</strong>ixou marc<strong>as</strong> profund<strong>as</strong> na arte do seu t<strong>em</strong>po, não só na arquitectura,simples e <strong>de</strong>spojada <strong>de</strong> toda a ornamentação supérflua, m<strong>as</strong> tambémna arte do livro, mais especificamente no que diz respeito à iluminura.87 Cfr. ROUX, Julie; Op. cit.; p.52


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA“Os séculos que se seguiram à sua morte realçaram o doutor místico,o teólogo da experiência espiritual, o intérprete inspirado d<strong>as</strong> Escritur<strong>as</strong>,que, com incomparável arte literária, <strong>de</strong>l<strong>as</strong> soube extrair o sentidooculto, como qu<strong>em</strong> faz brotar o mel do rochedo – pelo que foichamado «doutor melífluo» (doctor mellifluus).” 88S. Bernardo é a figura <strong>de</strong> referência no que respeita à fundação da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>Cister pois <strong>em</strong>bora não fosse o fundador do Novum Mon<strong>as</strong>terium é através <strong>de</strong> sique Cister se engran<strong>de</strong>ce, o seu impulso reveste-se <strong>de</strong> uma acção profundamentereformadora. S. Bernardo po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong> facto ser consi<strong>de</strong>rado o segundo“Pai” dos Cistercienses pelo cunho da sua personalida<strong>de</strong> e doutrina a par da<strong>as</strong>cendência que tinha não só sobre a Or<strong>de</strong>m como também no seio domundo cristão. Os <strong>cister</strong>cienses <strong>em</strong> Portugal e Espanha são muit<strong>as</strong> vezes apelidados<strong>de</strong> Bernardos. 89 S. Bernardo chega a Cister num momento <strong>em</strong> que rareavam<strong>as</strong> vocações e o próprio número <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos que compunha a Or<strong>de</strong>m<strong>de</strong> Cister era diminuto. Como foi referido, pelo que a sua vocação ficará par<strong>as</strong><strong>em</strong>pre ligada ao nome e à expansão <strong>de</strong> Cister.“Fue el más señero apologista y captador <strong>de</strong> nuevos mi<strong>em</strong>bros <strong>de</strong> laor<strong>de</strong>n, y su imagen quedó estampada in<strong>de</strong>lebl<strong>em</strong>ente en ella. A susadmiradores cont<strong>em</strong>poráneos les parecía la personificación <strong>de</strong>l i<strong>de</strong>almonástico. Durante treinta años fue la voz más elocuente e influyente<strong>de</strong> la Iglesia occi<strong>de</strong>ntal. Fue mentor <strong>de</strong> pap<strong>as</strong>, consejero <strong>de</strong> reyes ycar<strong>de</strong>nales y hacedor y <strong>de</strong>shacedor <strong>de</strong> obispos. Su predicaciónalentó a la nobleza <strong>de</strong> Francia y Germania a <strong>em</strong>pren<strong>de</strong>r la segundacruzada. (…) la fama <strong>de</strong> Bernardo como predicador, su reputación<strong>de</strong> santo y sus legendari<strong>as</strong> mortificaciones dieron al i<strong>de</strong>al <strong>cister</strong>cienseuna publicidad que nunca habría conseguido <strong>de</strong> otro modo. Sin él laor<strong>de</strong>n, <strong>de</strong> haber sobrevivido, probabl<strong>em</strong>ente no habría sobrep<strong>as</strong>adol<strong>as</strong> dimensiones <strong>de</strong> una pequeña congregación er<strong>em</strong>ítica (…).” 90O papel <strong>de</strong> S. Bernardo é <strong>de</strong> tal modo importante, no seio <strong>de</strong> Cister, que muit<strong>as</strong>vezes ao longo da história se lhe atribui a própria fundação da Or<strong>de</strong>m. Defacto, S. Bernardo po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como o fundador <strong>de</strong> uma “segundageração” <strong>de</strong> <strong>cister</strong>cienses. 91 Dado que o <strong>de</strong>senvolvimento da Abadia <strong>de</strong> Cisteré av<strong>as</strong>salador, outros jovens nobres segu<strong>em</strong> o seu ex<strong>em</strong>plo ao ponto <strong>de</strong> Cisterficar <strong>de</strong> tal modo sobrelotado que o aba<strong>de</strong> Estêvão dá orig<strong>em</strong> às quatro filiais6988 Cit. LEROUX, Gérard; São Bernardo (1090 – 1990) – catálogo bibliográfico e iconográfico; Biblioteca Nacional;Lisboa; 1991; p. 1489 Cfr. COCHERIL, Dom Maur; Introduction in BRONSEVAL, Frère Clau<strong>de</strong> <strong>de</strong> ; “Peregrinatio Hispanica. Voyage<strong>de</strong> Dom È<strong>de</strong>me <strong>de</strong> saulieu, Abbé <strong>de</strong> Clairvaux, en Espagne et au Portugal (1531-1533)”; (ed. Dom Maur Cocheril);PUF; Paris; 1970; p. 2690 Cfr. RICHÉ, Pierre; Bernard <strong>de</strong> Clairvaux in “ Citeaux 1098 – 1998, L’Épopée Cistercienne – Dossiersd’Archeologie”; n. 229; Dec. 97 – Jan. 98; p. 1691 Cfr. HERVÉ, Lucien; Architecture of Truth – The Cistercian Abbey of Le Thoronet; Phaidon Press Limited; 2001;p.147


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAiniciais: La Ferté, Pontigny, Clarivaux, Morimond. (Fig. 16) Est<strong>as</strong> nov<strong>as</strong> abadi<strong>as</strong><strong>de</strong>verão originar outr<strong>as</strong> <strong>de</strong> tal modo que <strong>em</strong> 1119, quando Calixto II confirma aCarta <strong>de</strong> Carida<strong>de</strong>, pela qual se irá reger a nova Or<strong>de</strong>m, já existiam 12abadi<strong>as</strong>.aFig. 16 Arm<strong>as</strong> <strong>de</strong> Cîteaux (a), La Ferté(b), Pontigny (c), Clarivaux (d) eMorimond (e)b c d e70O número continuou a aumentar constant<strong>em</strong>ente pelo que, à morte <strong>de</strong> Estêvão,<strong>em</strong> 1134, eram já 73 <strong>as</strong> abadi<strong>as</strong> e à morte <strong>de</strong> S. Bernardo, <strong>em</strong> 1153, eram393. 92 No fim da Ida<strong>de</strong> Média existiam já 742 mosteiros m<strong>as</strong>culinos e cerca <strong>de</strong>900 mosteiros f<strong>em</strong>ininos. 93Como refere o Exordium Cistercii, no seu capítulo II, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>Cister foi tal que:“Com o t<strong>em</strong>po não <strong>de</strong>ixou Deus <strong>de</strong> lhe multiplicar a <strong>de</strong>scendência e<strong>de</strong> acrescentar a alegria, e <strong>as</strong>sim <strong>em</strong> menos <strong>de</strong> doze anos, 94 a mãeestava feliz por po<strong>de</strong>r cont<strong>em</strong>plar, <strong>em</strong> volta da sua mesa, comorebentos <strong>de</strong> oliveira, vinte dos seus filhos e dos filhos <strong>de</strong> seus filhos,contando apen<strong>as</strong> os aba<strong>de</strong>s dos mosteiros (…)” 95Entre 1145-1153 a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister proporcionou à Igreja o seu primeiro Papa,Eugénio III, Bernardo Paganelli <strong>de</strong> seu nome e discípulo <strong>de</strong> S. Bernardo (Foimonge <strong>em</strong> Claraval e aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tre Fontane). 96 Entre os anos 1150-1160 é possívelencontrar <strong>de</strong>ns<strong>as</strong> populações no seio dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses. Esta <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>é reflexo do crescendo <strong>de</strong> vocações que surge no auge do período <strong>de</strong>influência da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister e que correspon<strong>de</strong> ao período do pontificado <strong>de</strong>92 Cfr. SURCHAMP, Dom Angelico; L’esprit <strong>de</strong> l’art <strong>cister</strong>cien in “ L’Art Cistercien – France”; col. La nuit <strong>de</strong>st<strong>em</strong>ps; nº 16; Ed. Zodiaque; 1982; p. 1593 Cfr. COCHERIL, Dom Maur; Notes sur l’Architecture et le Décor dans les Abbayes Cisterciennes du Portugal;col. Fontes Documentais Portugues<strong>as</strong>; vol. V; Fundação Calouste Gulbenkian, Centro CulturalPortuguês; Paris 1972 / LOCATELLI, René; L’Expansion <strong>cister</strong>cienne en Europe in “ Citeaux 1098 – 1998, L’ÉpopéeCistercienne – Dossiers d’Archeologie”; n. 229; Dec. 97 – Jan. 98; pp. 20-2294 Des<strong>de</strong> a chegada <strong>de</strong> S. Bernardo a Cister.95 Cfr. Exordium Cistercii, cap.II in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários<strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 5296 Cfr. DIAS, Geraldo Coelho; Op. cit.; p. 246


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAEugénio III. É <strong>de</strong> salientar que mosteiros como Claraval, Les Dunes ou Rievaulxtiveram comunida<strong>de</strong>s constituíd<strong>as</strong> por mais <strong>de</strong> 500 el<strong>em</strong>entos. 972.5.EXPANSÃO CISTERCIENSEA reforma <strong>cister</strong>ciense foi b<strong>as</strong>eada numa organização e num modo <strong>de</strong> vidacaracterísticos, ou seja, na lei <strong>de</strong> filiações e na instituição do capítulo geral. Aorganização da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister constitui-se como se <strong>de</strong> uma árvore se trat<strong>as</strong>se.98 (Fig. 17)71Fig. 17 Estrutura ramificada, como se <strong>de</strong> uma árvore genealógica se trat<strong>as</strong>se, d<strong>as</strong> fundações<strong>cister</strong>cienses m<strong>as</strong>culin<strong>as</strong> com orig<strong>em</strong> <strong>em</strong> Cister e n<strong>as</strong> quatro primeir<strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong> filh<strong>as</strong> (<strong>de</strong>senho do séc.XVIII) 9997 Cfr. FERGUSSON, Peter; Les Cisterciens et le Roman in “ Citeaux 1098 – 1998, L’Épopée Cistercienne – Dossiersd’Archeologie”; n. 229; Dec. 97 – Jan. 98; p. 4798 Cfr. LOCATELLI, René; Op. cit.; pp.21-2299 In BERMAN, Constance Hoffman; The Cistercian Evolution. The invention of a Religious Or<strong>de</strong>r in Twelfth-CenturyEurope; PENN – University of Pennsylvania Press; Phila<strong>de</strong>lphia; 2000


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA72Assim, Cister (1098) é o tronco principal e <strong>de</strong>le cresc<strong>em</strong> os quatro ramosprincipais que correspon<strong>de</strong>m <strong>as</strong> quatro c<strong>as</strong><strong>as</strong> principais: La Ferté (18 Maio 1113),Pontigny (31 Maio 1114), Claraval (25 Junho 1115) e Morimond (25 Junho 1115).Cada mosteiro constituiu-se num novo ramo dos principais e por sua veztambém po<strong>de</strong>ria dar orig<strong>em</strong> nov<strong>as</strong> fundações, m<strong>as</strong> est<strong>as</strong> estariam s<strong>em</strong>pre ligad<strong>as</strong>a uma d<strong>as</strong> cinco primitiv<strong>as</strong> linh<strong>as</strong> (Cister, La Ferté, Pontigny, Claraval eMorimond). Tal como refere o “Exordium Cistercii” no seu capítulo II:“Dado que aquela jov<strong>em</strong> planta começava a esten<strong>de</strong>r os seusramos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início provi<strong>de</strong>nciou o venerando padre Estêvão, comvigilante sagacida<strong>de</strong>, a que se redigisse um documento, obra <strong>de</strong>admirável discernimento, que constituísse um aparelho <strong>de</strong> podar, ouseja que permitisse eliminar os rebentos cismáticos que, c<strong>as</strong>o se<strong>de</strong>senvolvess<strong>em</strong>, po<strong>de</strong>riam sufocar o fruto da paz comunitária.” 100A expansão <strong>cister</strong>ciense foi realizada através <strong>de</strong> quatro modos distintos 101 :I-Fundação 102 quando um grupo <strong>de</strong> monges <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminadacomunida<strong>de</strong> é enviado por esta para fazer uma fundação <strong>em</strong> territóriosdoados por um senhor. Isto é, quando um mosteiro n<strong>as</strong>ce ex nihilo, ou sejaquando a comunida<strong>de</strong> se instala num local livre <strong>de</strong> qualquer outrapresença monástica anterior.II-Filiação 103 quando uma comunida<strong>de</strong> existente previamente é integradana Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister sujeitando-se e permanecendo sob a novaobediência.III-Substituição quando um grupo <strong>de</strong> monges ocupa o lugar <strong>de</strong> qualqueroutra comunida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>saparecera anteriormente.IV-Tutela, no que diz respeito aos mosteiros f<strong>em</strong>ininos, ficando a <strong>as</strong>sistênciaentregue à vigilância do aba<strong>de</strong> do mosteiro mais próximo.Em Portugal apen<strong>as</strong> se verificam dois <strong>de</strong>stes tipos <strong>de</strong> expansão: a Fundação e aFiliação. O c<strong>as</strong>o Português irá ser abordado com m<strong>as</strong> <strong>de</strong>talhe no capítulo quelhe está <strong>de</strong>stinado.A difusão <strong>de</strong>sta nova observância monástica esten<strong>de</strong>u-se por toda aEuropa ao fundar<strong>em</strong>-se e filiar<strong>em</strong>-se inúmeros mosteiros. Sucintamente apresentam-se<strong>as</strong> dat<strong>as</strong> da primeira fundação correspon<strong>de</strong>nte às distint<strong>as</strong> naçõeseuropei<strong>as</strong> 104 (Esq. 5) :100 Cfr. Exordium Cistercii, cap.II in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários<strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 52101 Cfr. CISTER: os Documentos Primitivos; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong> Aires N<strong>as</strong>cimento; EdiçõesColibri; Lisboa; Março 1999; pp. 13-14102 Também <strong>de</strong>nominada enxameação segundo Aires N<strong>as</strong>cimento103 Também <strong>de</strong>nominada agregação segundo Aires N<strong>as</strong>cimento104 Cfr. COCHERIL, Dom Maur; Notes sur l’Architecture et le Décor dans les Abbayes Cisterciennes du Portugal;col. Fontes Documentais Portugues<strong>as</strong>; vol. V; Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português; Paris1972; p.1


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAEsq. 5 Esqu<strong>em</strong>a com <strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong><strong>cister</strong>cienses <strong>em</strong> cada país e respectivadata <strong>de</strong> fundação ou filiaçãosegundo a nomenclatura utilizada porDom Maur Cocheril in Notes surl’Architecture et le Décor dans lesAbbayes Cisterciennes du Portugal; col.Fontes Documentais Portugues<strong>as</strong>; vol. V;Fundação Calouste Gulbenkian, CentroCultural Português; Paris 1972; p.1(síntese e esqu<strong>em</strong>a da autora)A L E M A N H AI N G L A T E R R AÁ U S T R I AV A L Ó N I AF L A N D R E SE S P A N H AI R L A N D AH U N G R I AP O R T U G A LP O L Ó N I AS U É C I AN O R U E G AD I N A M A R C AS Í R I AF R Í S I A1 1 2 3 1 1 2 8 ( 9 ) 1 1 3 0 1 1 3 2 1 1 3 9 1 1 4 0 1 1 4 2 1 1 4 2 1 1 4 3 1 1 4 3 1 1 4 3 1 1 4 6 1 1 5 4 1 1 5 7 1 1 6 3K A M PW A V E R L E YR E I NO R V A LT E R D U I N E NF I T E R OM E L L I F O N TC I K Á D O RT A R O U C AL E K N OA L V A S T R AL Y S E K L O S T E RE S R O MB E L M O N TK L A A R K A M P73


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAEXPANSÃO DE CISTER DESDE AAFIRMAÇÃO ATÉ À LETARGIA1119 - 1129NASCIMENTO1129 - 1153APOGEUEsq. 6 Expansão <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a afirmaçãoà letargia (síntese da autora segundo informação<strong>de</strong> René Locateli)1153 - 1240NOVA ORDEMPÓS 1240LETARGIA74Segundo René Locateli o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta expansão efectuou-se através<strong>de</strong> quatro f<strong>as</strong>es <strong>de</strong>terminantes 105 e sucessiv<strong>as</strong> com início <strong>em</strong> 1119 (Esq. 6):I.N<strong>as</strong>cimento, período compreendido entre os anos 1119-1129, que correspon<strong>de</strong>aos princípios da Or<strong>de</strong>m e aos abaciados <strong>de</strong> Alberico (1099-1109) e<strong>de</strong> Estêvão Harding (1109-1133) m<strong>as</strong> também à chegada <strong>de</strong> Bernardo ànova Or<strong>de</strong>m. Foi o período <strong>de</strong> génese d<strong>as</strong> quatro primeir<strong>as</strong> filh<strong>as</strong> <strong>de</strong> Cister:La Ferté 1112, Pontigny 1114, Clairvaux e Morimond 1115.II.Apogeu inicia-se a partir <strong>de</strong> 1129 e correspon<strong>de</strong> ao período <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> S.Bernardo enquanto m<strong>em</strong>bro e impulsionador da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister até àsua morte <strong>em</strong> 1153. Neste período tornou-se surpreen<strong>de</strong>nte a evolução daOr<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister como refere Locateli. Claraval conhece neste momentouma <strong>as</strong>censão fulgurante tornando-se o seu ramo no mais importantesuplantando mesmo a C<strong>as</strong>a-mãe Cister (<strong>de</strong> 16 abadi<strong>as</strong> <strong>em</strong> 1133 p<strong>as</strong>sapara 153 <strong>em</strong> 1147 e 169 <strong>em</strong> 1153). Comparável a esta <strong>as</strong>censão também oé Morimond pois rapidamente p<strong>as</strong>sa <strong>de</strong> 22 abadi<strong>as</strong> para 89. Pelo contrárioos ramos <strong>de</strong> La Ferté e Pontigny <strong>em</strong> 1153 somavam um total <strong>de</strong> 33 abadi<strong>as</strong>o que era pouco <strong>em</strong> comparação com <strong>as</strong> du<strong>as</strong> abadi<strong>as</strong>-irmãs referid<strong>as</strong>anteriormente.105 Cfr. LOCATELLI, René; Op. cit.; p. 22


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAIII.Nova Or<strong>de</strong>m abrange o período compreendido entre os anos 1153-1240.Neste período iniciam-se <strong>as</strong> consequênci<strong>as</strong> gerad<strong>as</strong> pelo rápido crescimentoda Or<strong>de</strong>m, que se agravariam ainda mais após a morte <strong>de</strong> S. Bernardoe que conduz inevitavelmente à adaptação da Or<strong>de</strong>m a nov<strong>as</strong>exigênci<strong>as</strong> e constrangimentos. Pacaut chamaria a este momento “anova or<strong>de</strong>m <strong>cister</strong>ciense”.“(…) l’évolution s’accélere et le chang<strong>em</strong>ent s’accentue à telpoint qu’à l’aube du XIII e siècle il est impossible <strong>de</strong> revenir à l’étatancien, parce que la restauration à laquelle il faudrait procé<strong>de</strong>rentraînerait à peu près certain<strong>em</strong>ent une crise insurmontable. ” 106Ou seja a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister está cada vez mais integrada na Igreja e naSocieda<strong>de</strong>. Os <strong>cister</strong>cienses aceitam e <strong>as</strong>sum<strong>em</strong> taref<strong>as</strong> p<strong>as</strong>torais aoestar<strong>em</strong> à frente <strong>de</strong> paróqui<strong>as</strong> ou colaborar<strong>em</strong> <strong>de</strong> modo indirecto com oclero secular. Como refere Pacaut a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister“(…) a cessé <strong>de</strong> se tenir à l’écart du mon<strong>de</strong> dans la cont<strong>em</strong>plationet la prière. Il est <strong>de</strong> plus en plus fort<strong>em</strong>ent intégré à l’Église eta la société, dans lesquelles il est un instrument d’action, ce quine lui enléve p<strong>as</strong> forc<strong>em</strong>ent ses <strong>as</strong>pirations spirituelles et mystiques.” 107É também a partir <strong>de</strong>ste momento, quando os Cistercienses aceitamtaref<strong>as</strong> p<strong>as</strong>torais entrando <strong>em</strong> ruptura com <strong>as</strong> su<strong>as</strong> primitiv<strong>as</strong> posições, quesurge um novo interesse: o estudo e o ensino. 108 No limiar <strong>de</strong> 1240 a Or<strong>de</strong>m<strong>de</strong> Cister ainda dava mostr<strong>as</strong> <strong>de</strong> sucesso apesar <strong>de</strong> o ter conseguido àcusta <strong>de</strong> sucessiv<strong>as</strong> concessões e adaptações que implicavam profund<strong>as</strong>modificações daí a expressão “Nova Or<strong>de</strong>m”. 109No entanto com o p<strong>as</strong>sar do t<strong>em</strong>po o i<strong>de</strong>al legado por S. Bernardo sofreprofund<strong>as</strong> transformações chegando mesmo a aproximar-se d<strong>as</strong> tendênci<strong>as</strong>dos cluniacenses. A partir do século XIII começa a surgir uma fortetendência <strong>de</strong> reacção contrária ao espírito inicial que gerara a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>Cister.O anteriormente rejeitado conceito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> a par <strong>de</strong> umariqueza crescente começa a penetrar no seio dos mosteiros e da comunida<strong>de</strong>monástica. O produto do trabalho agrícola e manual permite aos<strong>cister</strong>cienses adquirir<strong>em</strong> um rendimento e um estatuto, por vezes <strong>de</strong> difícil75106 PACAUT, Marcel; Op. cit; pp. 160-161107 PACAUT, Marcel; Op. cit; p. 161108 Também <strong>em</strong> Portugal os Cistercienses possuiram Colégios como é o c<strong>as</strong>o do Colégio do Espirito Santo <strong>em</strong>Coimbra, na Rua da Sofia, e o Colégio da Conceição <strong>em</strong> Alcobaça (anexo ao Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Alcobaça)109 Cfr. PACAUT, Marcel; Op. cit / LOCATELLI, René; L’Expansion <strong>cister</strong>cienne en Europe in “ Citeaux 1098 – 1998,L’Épopée Cistercienne – Dossiers d’Archeologie”; n. 229; Dec. 97 – Jan. 98; p. 27


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA76recusa, o que está totalmente <strong>em</strong> <strong>de</strong>sacordo com os seus princípios,negando o seu propósito inicial. Era o início <strong>de</strong> letargia.IV.Letargia, nesta f<strong>as</strong>e, após 1240, a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister entra numa segunda elenta mutação s<strong>em</strong> no entanto se produzir uma verda<strong>de</strong>ira ruptura. A estaépoca correspon<strong>de</strong>m a inúmer<strong>as</strong> dificulda<strong>de</strong>s materiais m<strong>as</strong> sobretudo aofim do seu crescimento surgindo uma nova conjuntura económica e espiritualcom <strong>as</strong> nov<strong>as</strong> Or<strong>de</strong>ns mendicantes. Segundo Locatelli 110 <strong>as</strong> Or<strong>de</strong>nsMendicantes e <strong>as</strong> correntes Místic<strong>as</strong> atraiam favoravelmente <strong>as</strong> elites religios<strong>as</strong>urban<strong>as</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento da “fuga ao mundo” que se tornava cadavez mais obsoleta. A Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister transformou-se profundamente nãosó pelo “refreamento” da sua expansão como também pelo esgotamento<strong>de</strong> nov<strong>as</strong> vocações e pelo cada vez menor número <strong>de</strong> filiações e fundações.Segundo Dom Maur Cocheril no século XIII foram fundad<strong>as</strong> 169 abadi<strong>as</strong> m<strong>as</strong> <strong>de</strong>seguida o número <strong>de</strong> filiações começa a diminuir: <strong>de</strong>zoito no século XIV, vinteno século XV, quatro no século XVII. A partir do século XIV a Or<strong>de</strong>m Cisterciensecomeça a esbater-se face às Or<strong>de</strong>ns Mendicantes como os Franciscanos e osDominicanos. 111 Claraval e Morimondo foram <strong>as</strong> abadi<strong>as</strong> que se encontraramna orig<strong>em</strong> <strong>de</strong>sta expansão, única na história da Igreja, como refere Dom MaurCocheril (Graf. 1 e 2).As filiações <strong>de</strong> Claraval esten<strong>de</strong>m-se pel<strong>as</strong> Ilh<strong>as</strong> Britânic<strong>as</strong>, PaísesEscandinavos, Países Baixos, Itália, França, Portugal, Galiza, Reino <strong>de</strong> Leão,Catalunha, Reino <strong>de</strong> Valência, enquanto <strong>as</strong> filiações <strong>de</strong> Morimondo abrang<strong>em</strong>sobretudo a Europa Central. Será <strong>de</strong>sta Abadia que irão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>as</strong> Or<strong>de</strong>nsMilitares Cistercienses da Península Ibérica.No entanto a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister soube atravessar <strong>as</strong> adversida<strong>de</strong>s e recuperarnovo fôlego com a Restauração encontrando um novo caminho para <strong>as</strong>ua vivência. Actualmente a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister é encarada como um dos maissignificativos movimentos espirituais do Oci<strong>de</strong>nte. Esta Or<strong>de</strong>m como foi já referido,impulsionou gran<strong>de</strong>s reform<strong>as</strong> no Monaquismo Oci<strong>de</strong>ntal e ultrap<strong>as</strong>sou oâmbito religioso, gerando consequênci<strong>as</strong> vitais na cultura e socieda<strong>de</strong> europei<strong>as</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Ida<strong>de</strong> Média até à época cont<strong>em</strong>porânea.110 LOCATELLI, René; op. cit; p. 27111 COCHERIL, Dom Maur; Introduction in BRONSEVAL, Frère Clau<strong>de</strong> <strong>de</strong> ; “Peregrinatio Hispanica. Voyage <strong>de</strong>Dom È<strong>de</strong>me <strong>de</strong> saulieu, Abbé <strong>de</strong> Clairvaux, en Espagne et au Portugal (1531-1533)”; (ed. Dom Maur Cocheril);PUF; Paris; 1970; p.26


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA45 47 4635 36 3022252914 12 13Graf. 1 Número <strong>de</strong> Mosteiros fundados, por<strong>de</strong>cénio, segundo dados <strong>de</strong> MarcelPacaut. 112 Em 1151 existiam 320 Mosteirosaos quais <strong>de</strong>verá ser somado o númerocorrespon<strong>de</strong>nte às nov<strong>as</strong> fundaçõesapresentad<strong>as</strong> neste gráfico (gráficoelaborado pela autora)1151-11601161-11701171-11801181-11901191-12001201-12101211-12201221-12301231-12401241-12501251-12601261-127081271-12806 71281-12901291-130077Graf. 2 Número <strong>de</strong> Mosteiros fundados, porséculo e durante o período compreendidoentre os séc XIII e XVII, segundo dados <strong>de</strong>Dom Maur Cocheril. 113 Quando S. Bernardomorre <strong>em</strong> 1153 existiam 343 Abadi<strong>as</strong> e 525 nofinal do século XII. Neste gráfico sãoquantificados os novos Mosteiros por século.(gráfico elaborado pela autora)XVIIXVIXVXIVXIII42018169112 Cfr. dados <strong>em</strong> PACAUT, Marcel; Op. Cit.; pp. 143-144113 Cfr. COCHERIL, Dom Maur; Op. Cit.; p.26


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA78Fig. 18 Fachada do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães apresentando umportal românico sobrepujado por três nichos <strong>de</strong> volta perfeita que abrigam<strong>as</strong> estátu<strong>as</strong> <strong>de</strong> S. Bernardo, Santa Maria e S. Bento, <strong>as</strong> três maisimportantes figur<strong>as</strong> que estão na b<strong>as</strong>e da espiritualida<strong>de</strong> e vida <strong>cister</strong>cienses(fotografia da autora)


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA2.6.ESTRUTURA ORGANIZATIVA / LEGISLAÇÃO CISTERCIENSEA estrutura legislativa e organizativa da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister b<strong>as</strong>eia-se fundamentalmentenos princípios enunciados pela Regra <strong>de</strong> S. Bento <strong>as</strong>sim como <strong>em</strong> todoo corpo legislativo <strong>de</strong>senvolvido e apresentado pela primitiva documentação<strong>cister</strong>ciense (Exordium Parvum, Exordium Cistercii, Carta Caritatis Prior, SummaCartae Caritatis, Capitula, Ecclesi<strong>as</strong>tica Officia, Usus Conversorum).O aba<strong>de</strong> t<strong>em</strong> a sua função apoiada, controlada e corrigida pelo CapítuloGeral, <strong>de</strong> realização anual, que juntamente com a visita, igualmente anual,constitu<strong>em</strong> <strong>as</strong> instânci<strong>as</strong> fundamentais <strong>de</strong> controlo e <strong>de</strong> legislação d<strong>as</strong> acções<strong>cister</strong>cienses.Segundo Dom Maur Cocheril os <strong>cister</strong>cienses <strong>de</strong>ram à Igreja Oci<strong>de</strong>ntal oprimeiro ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> uma Or<strong>de</strong>m Religiosa <strong>de</strong>scentralizada universal. Ao contráriodos cluniacenses, que formam uma gran<strong>de</strong> família monástica cuj<strong>as</strong> filiais<strong>de</strong>viam seguir <strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns da Abadia Mãe, <strong>as</strong> filiais <strong>cister</strong>cienses formavam umafe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> c<strong>as</strong><strong>as</strong> autónom<strong>as</strong>, iguais e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes no que respeita aos<strong>as</strong>suntos relativos a cada uma <strong>de</strong>l<strong>as</strong>, sendo cada uma dirigida pelo seu próprioaba<strong>de</strong> que tinha voz no Capítulo Geral. 1142.6.1.Regra <strong>de</strong> S. Bento79Os resultados da experiência monástica <strong>de</strong> S. Bento tomam forma na RegulaSancti Benedicti, por si redigida, <strong>em</strong> 529, que se <strong>de</strong>senvolve ao longo <strong>de</strong> 73capítulos. A Regra <strong>de</strong> S. Bento t<strong>em</strong> como intuito a elevação à perfeiçãomáxima através da alienação total do mundo <strong>as</strong>sim como o <strong>de</strong>spojo <strong>de</strong> tudo oque é terreno, incluindo a própria vonta<strong>de</strong>, e da plena submissão à autorida<strong>de</strong>do aba<strong>de</strong> que personifica a figura <strong>de</strong> Cristo, <strong>de</strong>ntro do Mosteiro, e que orientaa comunida<strong>de</strong> utilizando a sua experiência e sabedoria. Segundo S. Bento esteé um “(...) pequeno esboço <strong>de</strong> Regra escrita para principiantes.” 115A Regra caracteriza-se essencialmente pela divisão do dia entre a oraçãoe o trabalho (Ora et Labora), pela obediência ao Aba<strong>de</strong> (Obedientia), pelaestabilida<strong>de</strong> (Stabilit<strong>as</strong>), pela vida <strong>de</strong> perfeição (conversatio morum) pela obrigatorieda<strong>de</strong><strong>de</strong> permanência no mosteiro (Stabilit<strong>as</strong> Loci), pela elevação da114 COCHERIL, Dom Maur; Introduction in BRONSEVAL, Frère Clau<strong>de</strong> <strong>de</strong> ; “Peregrinatio Hispanica. Voyage <strong>de</strong>Dom È<strong>de</strong>me <strong>de</strong> saulieu, Abbé <strong>de</strong> Clairvaux, en Espagne et au Portugal (1531-1533)”; (ed. Dom Maur Cocheril);PUF; Paris; 1970; p. 29115 Cit. Capítulo LXXIII R.S.B. in Regra do Patriarca S. Bento; traduzido e anotado do latim pelos Monges <strong>de</strong>Singeverga; 2ª edição; Edições “Ora & Labora”; Mosteiro <strong>de</strong> Singeverga; Singeverga; 1992; p. 139


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAvirtu<strong>de</strong> do silêncio (De Taciturnitate 116 ), da humilda<strong>de</strong> (Humilit<strong>as</strong>) e da mesura(Discretio). Porém o voto <strong>de</strong> pobreza e c<strong>as</strong>tida<strong>de</strong> não está explicitamente apresentadona Regra m<strong>as</strong> sim subentendido quando há referência à vida <strong>de</strong> perfeição,ao contrário do que se refere usualmente 117 (Fig.19).Fig. 19 Página da Regra <strong>de</strong> S. Bento, Prólogo(arquivo da Biblioteca Nacional. Col. Alcobaça)80Deste modo, a Regra “regula” os costumes daqueles que viviam sob a obediênci<strong>as</strong>endo o cerne da vida monástica o Ofício Divino, a oração litúrgica,isto é, a Obra <strong>de</strong> Deus (Opus Dei), ou seja a celebração d<strong>as</strong> Hor<strong>as</strong>. A obra <strong>de</strong>Deus <strong>as</strong>socia o período <strong>de</strong> oração e meditação pessoal ao ofício comum naIgreja. O restante t<strong>em</strong>po além <strong>de</strong> estar consagrado ao trabalho estava também<strong>de</strong>dicado à leitura (lectio divina), às refeições e ao <strong>de</strong>scanso. Pelo que aprópria Regra <strong>de</strong> S. Bento refere no seu capítulo XLVIII que:“A ociosida<strong>de</strong> é inimiga da alma. Por conseguinte, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> osirmãos ocupar-se a cert<strong>as</strong> hor<strong>as</strong> no trabalho manual e na lectiodivina. (...) vão logo <strong>de</strong> manhã trabalhar no que for preciso, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>a primeira hora até por volta da quarta hora. Depois da sexta hora,acabando o jantar, vão <strong>de</strong>scansar <strong>em</strong> seus leitos, <strong>em</strong> absolutosilêncio. (...) Celebre-se o ofício <strong>de</strong> Noa mais cedo, aí pelo meio daoitava hora. E <strong>de</strong>pois continu<strong>em</strong> a trabalhar no que houver parafazer, até à hora d<strong>as</strong> Vésper<strong>as</strong>. Se a necessida<strong>de</strong> do lugar ou apobreza exigir<strong>em</strong> que os monges se ocup<strong>em</strong> por si mesmos n<strong>as</strong>116 De Taciturnitate, não significando silêncio no sentido da ausência total <strong>de</strong> palavr<strong>as</strong> m<strong>as</strong> antes mo<strong>de</strong>raçãoe <strong>de</strong>scrição no falar; é o silêncio que permite ouvir a voz <strong>de</strong> Deus.117 Confrontar com Regra do Patriarca S. Bento; traduzido e anotado do latim pelos Monges <strong>de</strong> Singeverga; 2ªedição; Edições “Ora & Labora”; Mosteiro <strong>de</strong> Singeverga; Singeverga; 1992 / KINDER, Terryl N.; L’Europe Cistercienne;col. Les formes <strong>de</strong> la nuit; Ed. Zodiaque; 1998


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAcolheit<strong>as</strong>, não se entristeçam, pois então é que serão verda<strong>de</strong>irosmonges, se viver<strong>em</strong> do trabalho <strong>de</strong> su<strong>as</strong> mãos, como os nossos paise os apóstolos. M<strong>as</strong> tudo se faça com peso e medida, <strong>em</strong> atençãoaos fracos. (...) Aos irmãos fracos ou <strong>de</strong>licados confie-se umtrabalho ou arte tal que n<strong>em</strong> estejam ociosos n<strong>em</strong> sejam oprimidosou afugentados pelo excesso <strong>de</strong> trabalho. A fraqueza <strong>de</strong>stes éponto que o aba<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ter <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração.” 118 (Fig. 20 e 21)81Fig. 20 Monges <strong>cister</strong>cienses preparando a terra (arquivo Editions Gaud)Fig. 21 Monges <strong>cister</strong>cienses s<strong>em</strong>eando (arquivo Editions Gaud)118 Cfr. capítulo XLVIII R.S. B. in Regra do Patriarca S. Bento; traduzido e anotado do latim pelos Monges <strong>de</strong>Singeverga; 2ª edição; Edições “Ora & Labora”; Mosteiro <strong>de</strong> Singeverga; Singeverga; 1992; pp. 100-102


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAÉ ainda <strong>de</strong> <strong>as</strong>sinalar que se impunha cuidar dos enfermos, oferecer hospitalida<strong>de</strong>aos viajantes, socorrer os pobres, confortar os tristes e atribulados.A Regra <strong>de</strong> S. Bento é apresentada ao longo <strong>de</strong> 73 capítulos po<strong>de</strong>ndodividir-se <strong>em</strong> três partes (Esq. 7) que se <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> essencialmente segundo osseguintes momentos:I.Primeira parte: Des<strong>de</strong> o Prólogo ao Capítulo VII, na qual são atribuíd<strong>as</strong> <strong>as</strong>b<strong>as</strong>es da vida monástica.II.Segunda parte: Des<strong>de</strong> o Capítulo VIII ao Capítulo LXXII, na qual são referidosos el<strong>em</strong>entos e atitu<strong>de</strong>s necessári<strong>as</strong> à vida quotidiana.III.Terceira parte: Constituída pelo Capítulo LXXIII, na qual é evi<strong>de</strong>nciada <strong>as</strong>abedoria e maturida<strong>de</strong> <strong>de</strong> S. Bento já no limiar da sua vida.REGRA DE S. BENTOMOMENTOS CHAVE82I PARTEVIDA MONÁSTICAPRÓLOGO - CAPÍTULO VIIBASESII PARTEVIDA QUOTIDIANACAPÍTULO VIII - CAPÍTULO LXXIIELEMENTOS + ATITUDESIII PARTESABEDORIA + MATURIDADECAPÍTULO LXXIIIDE S. BENTOEsq. 7 Esqu<strong>em</strong>atização da Regra <strong>de</strong> S. Bento (síntese elaborada pela autora)


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA2.6.2.Documentos PrimitivosOs documentos primitivos não só permitiram o conhecimento do modo <strong>de</strong> vida<strong>cister</strong>ciense como também o conhecimento da estrutura e origens <strong>de</strong> Cister.Deste modo, o Exordium Cistercii ou Exordium Parvu constitui um texto históricoon<strong>de</strong> se explica o exórdio dos <strong>cister</strong>cienses, do mundo beneditino, queentão os ro<strong>de</strong>ava, enquanto a Carta Caritatis aprovada pelo Papa Calixto II,através da bula Ad hoc in apostolici, <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1119, é a b<strong>as</strong>econstitucional da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister e da qual exist<strong>em</strong> três redacções sucessiv<strong>as</strong>à medida que se foram introduzindo modificações: Carta Caritatis Prior, SummaCartae Caritatis e Carta Caritatis Posterior. A Carta <strong>de</strong> Carida<strong>de</strong> apresenta<strong>as</strong>sim versões sucessiv<strong>as</strong> que correspon<strong>de</strong>m a uma linha t<strong>em</strong>poral <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong>50 anos.Também é <strong>de</strong> referir a constituição subsequente <strong>de</strong> um corpus <strong>de</strong> textos<strong>de</strong> jurisprudência, Statuta, Capitula, Usos Conversorum e Ecclesi<strong>as</strong>tica Officia. ACarta <strong>de</strong> fundação <strong>de</strong> Pontigny menciona pela primeira vez a existência <strong>de</strong>uma Carta <strong>de</strong> Carida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> que unia o “novo mosteiro” e <strong>as</strong> abadi<strong>as</strong>que eram fundad<strong>as</strong>:“Então, garantindo o seu consentimento, e recebidos doação eapoio <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> da parte do bispo (Umbaldo) com todo ocabido da sua igreja e do venerando presbítero Ansio, o aba<strong>de</strong> Estêvão<strong>as</strong>sumiu a igreja <strong>de</strong> Pontigny para aí nos construir uma abadia.Seguidamente, o mesmo bispo com a comunida<strong>de</strong> dos cónegosaprovaram <strong>em</strong> todo o seu teor a Carta <strong>de</strong> Carida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> Unanimida<strong>de</strong>,carta elaborada pelo Novo Mosteiro e pel<strong>as</strong> abadi<strong>as</strong> por elegerad<strong>as</strong> e tornada texto normativo d<strong>as</strong> relações entre el<strong>as</strong>.” 119A Carta <strong>de</strong> Carida<strong>de</strong>, que constitui um compl<strong>em</strong>ento à Regra <strong>de</strong> S. Bento, étradicionalmente atribuída a Estêvão Harding 120 , a partir <strong>de</strong> 1114, <strong>de</strong> modo aregulamentar <strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong> e instituições da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister. De seguidaapresenta-se a esqu<strong>em</strong>atização dos fundamentos <strong>de</strong> vida e espiritualida<strong>de</strong><strong>cister</strong>cienses (Esq. 8).83119 Cfr. Carta <strong>de</strong> fundação da Abadia <strong>de</strong> Pontigny in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução,Introduções e Comentários <strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; pp. 127-128120 Cfr. LAWRENCE, C. H.; El Monacato Medieval - Form<strong>as</strong> <strong>de</strong> vida religiosa en Europa Occi<strong>de</strong>ntal durante laEdad Media; Editorial Gredos, S. A.; Madrid; 1999 / LEKAI, Louis J.; Los Cistercienses – i<strong>de</strong>ales y realidad; BibliotecaHer<strong>de</strong>r - Sección <strong>de</strong> Historia; vol. 177; Editorial Her<strong>de</strong>r; Barcelona; 1987 / CISTER: os Documentos Primitivos;Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p.63 /LOCATELLI, René; L’Expansion <strong>cister</strong>cienne en Europe in “ Citeaux 1098 – 1998, L’Épopée Cistercienne – Dossiersd’Archeologie”; n. 229; Dec. 97 – Jan. 98; p. 22 / LEKAI, Louis J.; The White Monks; col. Cistercian Fathers; OurLady of Spring Bank; Okauchee, Wisconsin; 1953; pp.22-23 / ARCCIS (Association pour le rayonn<strong>em</strong>ent <strong>de</strong> lacultura <strong>cister</strong>cienne); À la reencontré <strong>de</strong>s Cisterciens; Éditions du Cerf; Paris; 2001; p.26


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAREGRA DE S. BENTOFIDELIDADECARTA DE CARIDADEPOBREZAAUTONOMIAPRINCÍPIOSUNIFORMIDADEPRÁTICA DE VIDAVISITAÇÕES ANUAIS84CAPÍTULO GERALECONÓMICAINDEPENDÊNCIAFACE AOS PODERES CIVÍSLIGAÇÃO COM OS BISPOSDAS DIOCESES ONDEIMPLANTAVAM AS SUASABADIASEsq. 8 Esqu<strong>em</strong>atização dos fundamentos da espiritualida<strong>de</strong> e vida <strong>cister</strong>cienses(esqu<strong>em</strong>a e síntese elaborados pela autora)


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAA Carta <strong>de</strong> Carida<strong>de</strong> permitirá a organização d<strong>as</strong> filiações e institui oCapítulo Geral para <strong>as</strong>segurar o princípio <strong>de</strong> coesão e <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> no seio daOr<strong>de</strong>m, m<strong>as</strong> é sobretudo a expressão <strong>de</strong> um propósito que é mantido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> oinício, <strong>as</strong>sim surg<strong>em</strong> os seguintes preceitos:a)Fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> à Regra Beneditina tal como é apresentada no capítulo I daCarta Caritatis Prior:“(...) se alguma vez se af<strong>as</strong>tar<strong>em</strong> por pouco que seja do santopropósito e da observância da santa Regra, o que nunca aconteça,pela nossa solicitu<strong>de</strong> possam regressar à rectidão <strong>de</strong> vida” 121e repetido pelo capítulo II da mesma: “Preten<strong>de</strong>mos agora e <strong>as</strong>simlhes preceituamos que a Regra <strong>de</strong> S. Bento seja observada <strong>em</strong>tudo como se observa no Novo Mosteiro” 122b)Prática da pobreza <strong>as</strong>sim como autonomia e in<strong>de</strong>pendência económicad<strong>as</strong> abadi<strong>as</strong> tal como é referido na Carta Caritatis Prior, capitulo I:“Porque t<strong>em</strong>os consciência <strong>de</strong> que somos todos servos, ainda queinúteis, <strong>de</strong> um só e verda<strong>de</strong>iro rei, senhor e mestre, por tal motivoaos aba<strong>de</strong>s e aos monges nossos confra<strong>de</strong>s, a qu<strong>em</strong> a pieda<strong>de</strong><strong>de</strong> Deus, servindo-se <strong>de</strong> nós, os mais indignos dos homens, colocousob disciplina regular por diversos lugares, não impomos qualquertributo <strong>de</strong> lucro terreno ou <strong>de</strong> bens t<strong>em</strong>porais.No <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> lhes sermos úteis a eles e a todos os filhos da SantaIgreja, <strong>de</strong>cidimos nada fazer relativamente a eles que os oprima,nada que diminua os seus bens, não aconteça que cobiçosos dosbens da sua pobreza pela nossa abundância não sejamos capazes<strong>de</strong> evitar o mal da avareza, que segundo o Apóstolo, é nadamenos que a servidão dos ídolos.” 123c)Uniformida<strong>de</strong> <strong>de</strong> princípios e da prática <strong>de</strong> vida monástica como refereo capítulo II da Suma Carta Caritatis:“Não introduzam nenhuma interpretação na leitura da Regradiferente daquela que fizeram e cumpriram os nossos antecessores,os santos fundadores do Novo Mosteiro, e que nós hoje mant<strong>em</strong>os;seja a mesma a interpretação que eles faz<strong>em</strong> e cumpr<strong>em</strong>.”124 e o capitulo III da Suma Carta Caritatis Prior:“Dado que nós acolh<strong>em</strong>os monges <strong>de</strong> outros lados no nosso mosteiroquando nos visitam e <strong>de</strong> modo s<strong>em</strong>elhante eles receb<strong>em</strong> os85121 Cit. Suma Carta Caritatis, cap.I in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários<strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p.69122 Cit. Carta Caritatis Prior, cap.II in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários<strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p.70123 Cit. Carta Caritatis Prior, cap.I in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários<strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p.69124 Cit. Suma Carta Caritatis, cap.II in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções eComentários <strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p.70


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA86nossos nos seus claustros, por tal razão nos parece oportuno e<strong>as</strong>sim preten<strong>de</strong>mos que possuam os mesmos costumes e canto eb<strong>em</strong> <strong>as</strong>sim todos os livros exigidos para <strong>as</strong> hor<strong>as</strong> do dia e da noiteidênticos aos costumes e aos livros do Novo Mosteiro, <strong>de</strong> tal modoque nos nossos actos não haja qualquer discrepância, m<strong>as</strong> vivamosnuma só carida<strong>de</strong>, uma única regra e costumes s<strong>em</strong>elhantes.”125d)Visita abacial como meio regulador tal como explicitado no capítulo Vda Carta Caritatis Prior:“Uma vez por ano o aba<strong>de</strong> da comunida<strong>de</strong> mais antiga visitetodos os mosteiros que ela tiver fundado (ou por si ou por algumdos seus co-aba<strong>de</strong>s); se a visita for mais frequente, isso seja motivo<strong>de</strong> maior alegria (para os irmãos).” 126e)Capítulo Geral como modo <strong>de</strong> regulamentar <strong>as</strong> relações entre <strong>as</strong>abadi<strong>as</strong> tal como é apresentado no capítulo VII da Carta Caritatis Prior:“Todos os aba<strong>de</strong>s <strong>de</strong>st<strong>as</strong> comunida<strong>de</strong>s uma vez por ano no diaque entre si combinar<strong>em</strong>, reúnam-se no Novo Mosteiro para tratar<strong>em</strong>da salvação d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> alm<strong>as</strong>, segundo a observância d<strong>as</strong>anta Regra ou da Or<strong>de</strong>m.Se houver algo a <strong>em</strong>endar ou a acrescentar <strong>de</strong>cidam-no e reajust<strong>em</strong>entre si o b<strong>em</strong> da paz e da carida<strong>de</strong>.” 127 e ainda pelocapítulo VIII da mesma refere que: “Quando alguma d<strong>as</strong> nossacomunida<strong>de</strong>s, por graça <strong>de</strong> Deus, crescer tanto que po<strong>de</strong>construir outro mosteiro, a <strong>de</strong>cisão que entre nós tomamos comoco-irmãos tom<strong>em</strong>-na eles também (...).” 128f)Ligação com os bispos d<strong>as</strong> dioceses n<strong>as</strong> quais se implantam <strong>as</strong> abadi<strong>as</strong>como referido pelo Prólogo da Carta Caritatis Prior:“Ainda <strong>as</strong> abadi<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses não tinham começado aexpandir-se e já o aba<strong>de</strong> Dom Estêvão e os seus irmãos haviam<strong>de</strong>cidido que <strong>em</strong> c<strong>as</strong>o algum se fundariam abadi<strong>as</strong> numa dioceses<strong>em</strong> que do bispo do lugar tivess<strong>em</strong> obtido o reconhecimentoprévio e a confirmação do documento que o mosteiro <strong>de</strong>Cister e os outros <strong>de</strong>le originários tinham redigido e tomado como125 Cit. Carta Caritatis Posterior, cap.III in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções eComentários <strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p.70126 Cit. Carta Caritatis Prior, cap.V in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários<strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p.71127 Cit. Carta Caritatis Prior, cap.VII in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções eComentários <strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p.72128 Cit. Carta Caritatis Prior, cap.VIII in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários<strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p.73


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAtexto normativo para <strong>as</strong> su<strong>as</strong> relações. Isto com o fim <strong>de</strong> evitaratritos entre bispos e monges.” 129As <strong>em</strong>end<strong>as</strong> e sucessivos acrescentos à Carta Caritatis são produto <strong>de</strong> umaconstante organização da própria Or<strong>de</strong>m que se foi articulando a pouco epouco, ao longo <strong>de</strong> décad<strong>as</strong>, fruto da experiência e do conhecimento que iaadquirindo. 130 Os Cistercienses souberam recompilar os el<strong>em</strong>entos da Carta <strong>de</strong>Carida<strong>de</strong> formando um esqu<strong>em</strong>a coerente, <strong>de</strong> perfeição única, adaptado aum ambiente cont<strong>em</strong>porâneo. Como refere Lekai, este reflecte a subordinaçãofeudal predominante, b<strong>as</strong>eada na fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> e confiança mutu<strong>as</strong>, exigindouma absoluta obediência <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> crise m<strong>as</strong> s<strong>em</strong>pre respeitando a autonomialocal. 131“Chaque mon<strong>as</strong>tère était autonome, mais l’abbaye qui l’avaitfondé, l’abbaye-mére, conservait sur lui un droit <strong>de</strong> regard afin <strong>de</strong>préserver la régularité <strong>de</strong> l’observance <strong>cister</strong>cienne.” 132Todos os aba<strong>de</strong>s reuniam uma vez por ano, <strong>em</strong> Cister, para o Capítulo Geral.Nenhuma abadia era fundada ou afiliada s<strong>em</strong> que o seu c<strong>as</strong>o fosse examinadoescrupulosamente pelo Capítulo Geral. 133O Exórdio reunia os textos diplomáticos dos padres fundadores num conjuntocoerente. A constituição subsequente <strong>de</strong> um corpus <strong>de</strong> textos <strong>de</strong> jurisprudência,Statuta e Capitula, <strong>as</strong>sim como a criação <strong>de</strong> códigos para regulamentaros usos monásticos, Ecclesi<strong>as</strong>tica Officia, e os usos dos Conversos, Usos Conversorumv<strong>em</strong> juntar-se à complexida<strong>de</strong> da história institucional <strong>de</strong> Cister. 134“Lo que era original en la or<strong>de</strong>n <strong>cister</strong>ciense fue su constitución especial.Fue esto lo que influyó en l<strong>as</strong> ór<strong>de</strong>nes que siguieron y lo quecon el ti<strong>em</strong>po, <strong>em</strong>belleció el pensamiento <strong>de</strong> la Iglesia occi<strong>de</strong>ntalvista <strong>de</strong>s<strong>de</strong> una perspectiva global. La observancia monástica <strong>de</strong>Citeaux, por otro lado, no hizo ostentación <strong>de</strong> originalidad” 135O i<strong>de</strong>al que suporta a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister é b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finido pois trata-se do regressoao espírito da Regra Beneditina, seis séculos após a sua redacção, como refereC. H. Lawrence:“Su meta fue abiertamente la restauración <strong>de</strong> los usus primitivos:una reforma en el sentido más literal <strong>de</strong>l término. Era simpl<strong>em</strong>ente87129 Cit. Carta Caritatis Prior, Prólogo in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários<strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p.73130 Cfr. LAWRENCE, C. H.; Op. cit.131 LEKAI, Louis J.; Los Cistercienses – i<strong>de</strong>ales y realidad; Biblioteca Her<strong>de</strong>r - Sección <strong>de</strong> Historia; vol. 177;Editorial Her<strong>de</strong>r; Barcelona; 1987; p. 43132 COCHERIL, Dom Maur; Les Abbayes Cisterciennes Portugaises dans la secon<strong>de</strong> moité du XX siécle; Arquivodo Centro Cultural Português; vol. X – Separata; Fundação Calouste Gulbenkian; Paris 1976; p. 16133 Cfr. I<strong>de</strong>m; p. 17134 LEKAI, Louis J.; Op. Cit.; pp. 37-39135 Cfr. LAWRENCE, C. H.; Op. cit.; p. 213


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAcuestión <strong>de</strong> regresar a la Regla <strong>de</strong> san Benito, que había <strong>de</strong> ser observadaal pie <strong>de</strong> la letra.” 1362.7.ESTRUTURA SOCIAL CISTERCIENSE: a importância dos Conversos88A comunida<strong>de</strong> <strong>cister</strong>ciense é composta por diferentes el<strong>em</strong>entos que são provenientesd<strong>as</strong> mais variad<strong>as</strong> origens. Assim, po<strong>de</strong>-se subdividir e tipificar acomunida<strong>de</strong> <strong>cister</strong>ciense a distintos grupos e escal<strong>as</strong> 137 .Por um lado encontram-se os el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> carácter permanente como:a)Monges professos clérigos que eram monges com cultura econhecedores d<strong>as</strong> letr<strong>as</strong> <strong>de</strong> modo a po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> <strong>as</strong>sumir funções <strong>de</strong>orientação;b)Monges leigos que por vezes se confun<strong>de</strong>m com os Irmãos Conversos.Não eram usualmente conhecedores d<strong>as</strong> letr<strong>as</strong>;c)Noviços que eram religiosos ainda <strong>em</strong> formação. A sua formação inicialdurava normalmente um período <strong>de</strong> um ano;d)Conversos que eram leigos afectos aos serviços mais pesados. Viviamessencialmente n<strong>as</strong> granj<strong>as</strong> m<strong>as</strong> celebravam os Domingos e os Di<strong>as</strong> <strong>de</strong>Festa no Mosteiro;e)Domésticos ou Familiares que eram homens e mulheres (que podiam serc<strong>as</strong>ados) ligados ao Mosteiro e nele trabalhando e colaborando. Nãoeram monges m<strong>as</strong> beneficiavam, tanto <strong>em</strong> vida como na morte, dossufrágios do Mosteiro;f)DoentesM<strong>as</strong> também se encontram el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> carácter oc<strong>as</strong>ional cuja presençaera regulamentada:g)Aba<strong>de</strong>s <strong>de</strong> outr<strong>as</strong> comunida<strong>de</strong>s;h)Hóspe<strong>de</strong>s;i)Visitantes;j)Peregrinos;k)Assalariados sazonais;l)Autorida<strong>de</strong>s eclesiástic<strong>as</strong>.Segundo a regra <strong>de</strong> S. Bento e toda a documentação legislativa <strong>cister</strong>ciense osmonges <strong>de</strong>viam viver do seu trabalho, porém a exploração d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> terr<strong>as</strong>, <strong>em</strong>particular d<strong>as</strong> mais distantes, cedo fez com que os <strong>cister</strong>cienses tom<strong>as</strong>s<strong>em</strong>consciência da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> concretizar tal tarefa. Para os <strong>cister</strong>cienses oisolamento do mundo comporta a total recusa da inserção nos jogos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.136 I. LAWRENCE, C. H.; Op. cit.137 Cfr. CISTER: os Documentos Primitivos; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; EdiçõesColibri; Lisboa; Março 1999; p.13


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAOs primeiros <strong>cister</strong>cienses procuraram viver nos seus domínios <strong>as</strong>segurando <strong>as</strong>ua própria subsistência (Fig. 22) através do seu próprio trabalho s<strong>em</strong> se ligar<strong>em</strong>aos organismos económicos e aos circuitos comerciais (foss<strong>em</strong> locais ou outros)a menos que fosse estritamente necessário (m<strong>as</strong> consi<strong>de</strong>rando estes c<strong>as</strong>oscomo excepcionais). Deste modo recusavam categoricamente que <strong>as</strong> su<strong>as</strong>proprieda<strong>de</strong>s pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> vir a formar um senhorio. 13889Fig. 22 Monges Cistercienses tratando da terra, Abadia <strong>de</strong> Sal<strong>em</strong>, Al<strong>em</strong>anha(arquivo Éditions Gaud)Em 1120 <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>-se a admissão <strong>de</strong> Conversos na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister. Poiscomeçava a ser humanamente impossível respon<strong>de</strong>r ao volume <strong>de</strong> trabalhoimplicado e <strong>as</strong> obrigações primordiais dos monges, como a lectio divina ou oofício litúrgico, corriam o risco <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> <strong>de</strong>scurados. Assim,“Respondieron comprando para su exclusiva explotación propieda<strong>de</strong>srurales situad<strong>as</strong> lejos <strong>de</strong> los poblados, y l<strong>as</strong> cultivaron por medio<strong>de</strong> los hermanos legos y <strong>as</strong>alariados. Tomando conciencia <strong>de</strong> que,sin esa ayuda, «no habrían sido capaces <strong>de</strong> cumplir perfectamentelos preceptos <strong>de</strong> la Regla día y noche».” 139Deste modo os irmãos conversos contribuíram, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, para a manutençãodos i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> auto-suficiência e trabalho manual, no seio da Or<strong>de</strong>m, enunciadospelos Padres fundadores.Converso prov<strong>em</strong> do latim convertere, isto é converter, mudar completamente.O termo converso é utilizado como adjectivo para <strong>de</strong>signar tanto o138 PACAUT, Marcel; Op. cit; p.47139 LEKAI, Louis; Op. Cit; p.44


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAmonachus conversus como o famulus conversus (Fig. 23 e 24). A partir do séc. XIIcomeça a ser utilizado como substantivo sendo dotado <strong>de</strong> um significadojurídico preciso.90Fig. 23 Conversos executando trabalho braçal, Abadia <strong>de</strong> Sal<strong>em</strong>, Al<strong>em</strong>anha(arquivo Éditions Gaud)Fig. 24 Converso trabalhando, Abadia <strong>de</strong> Sal<strong>em</strong>, Al<strong>em</strong>anha(arquivo Éditions Gaud)O converso <strong>cister</strong>ciense não é monge, é um laico que abraçou uma forma <strong>de</strong>vida religiosa, inovadora no século XII, através da qual lhe é possível consagrar-


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAse a Deus numa or<strong>de</strong>m canonicamente reconhecida s<strong>em</strong> no entanto sermonge ou clérigo. Os conversos não podiam tornar-se clérigos, n<strong>em</strong> participarno oficio divino <strong>as</strong>sim como não tinham direito <strong>de</strong> sufrágio n<strong>em</strong> podiam participardo capítulo. 140 Ou seja o converso,“Era monje en el sentido <strong>de</strong> que <strong>em</strong>itía los votos monásticos y llevabahábito pero vivía una existencia separada <strong>de</strong> los monjes <strong>de</strong>coro. Aunque <strong>as</strong>istía a los oficios corales, no tomaba parte en sucanto; se ocupaba principalmente <strong>de</strong>l trabajo manual, sirviendo a lacomunidad como labrador, p<strong>as</strong>tor, carpintero o albañil. (…) reclutadosen su mayoría entre el campesinato, proporcionaban al mon<strong>as</strong>teriomano <strong>de</strong> obra permanente, <strong>de</strong>jando a los monjes <strong>de</strong> coro elti<strong>em</strong>po libre necesario para la oración privada y litúrgica y para lalectura.” 141Alberico proporcionou à Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister a existência dos irmãos conversos.Esta foi a sua gran<strong>de</strong> inovação, no <strong>de</strong>senvolvimento da or<strong>de</strong>m, permitindoreconhecer os conversos como m<strong>em</strong>bros da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister com plenos direitoss<strong>em</strong> no entanto ser<strong>em</strong> monges n<strong>em</strong> observar<strong>em</strong> a Regra <strong>de</strong> S. Bento, umavez que não faziam votos <strong>de</strong> observância no acto da profissão religiosa, m<strong>as</strong>utilizavam a regulamentação apropriada ao seu estatuto, o Usus conuersorum,redigido por Estêvão Harding entre 1125 e 1132 142 que surgiu <strong>em</strong> paralelo à<strong>de</strong>mais documentação primitiva da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister. Deste modo já no ExordiumParvum po<strong>de</strong>-se ler que:“ 10 Já então <strong>de</strong>terminaram receber monges conversos, <strong>de</strong> barba,mediante autorização do seu bispo, e tratá-los, na vida e na morte,como a si mesmos, com a diferença <strong>de</strong> não ser<strong>em</strong> monges; admitiriamtambém <strong>as</strong>salariados, pois consi<strong>de</strong>ravam que s<strong>em</strong> o apoio <strong>de</strong>lesnão conseguiam observar inteiramente, <strong>de</strong> dia e <strong>de</strong> noite, os preceitosda Regra.11Receberiam também terr<strong>as</strong> af<strong>as</strong>tad<strong>as</strong> d<strong>as</strong> povoações, e b<strong>em</strong><strong>as</strong>sim vinh<strong>as</strong> e prados ou florest<strong>as</strong> e águ<strong>as</strong> para estabelecer<strong>em</strong> moinhos,m<strong>as</strong> apen<strong>as</strong> para seu uso e para pescar<strong>em</strong>, e também cavalose outros animais <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> doméstica.12E dado que tinham levantado <strong>em</strong> diversos lugares residênci<strong>as</strong>para levar<strong>em</strong> a cabo a agricultura, <strong>de</strong>cidiram que foss<strong>em</strong> os conversosa dirigir ess<strong>as</strong> c<strong>as</strong><strong>as</strong> e não os monges, pois, <strong>de</strong> acordo com aRegra, a morada dos monges <strong>de</strong>veria ser no claustro.91140 Cfr. FORNARI, Fe<strong>de</strong>rico Farina Bene<strong>de</strong>tto; L’architettura <strong>cister</strong>cense e l’abbazia di C<strong>as</strong>amari; Edizioni C<strong>as</strong>amari;C<strong>as</strong>amari (Frosinone); 1981; p. 41141 Cit. LAWRENCE, C. H.; Op. cit.; p. 216142 Cfr. FORNARI, Fe<strong>de</strong>rico Farina Bene<strong>de</strong>tto; Op. cit.; pp.41-42


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA9213Também porque aqueles santos varões tomavam conhecimento<strong>de</strong> que S. Bento não construíra os mosteiros n<strong>as</strong> cida<strong>de</strong>s n<strong>em</strong> nos c<strong>as</strong>telosou <strong>em</strong> al<strong>de</strong>i<strong>as</strong>, comprometiam-se eles a imitá-lo.” 143Os conversos têm a mesma dignida<strong>de</strong> monástica que os monges, não se constituindocomo mão-<strong>de</strong>-obra que pu<strong>de</strong>sse ser negociada a troco <strong>de</strong> bens materiais.Ou seja, os conversos faz<strong>em</strong> os votos e são aceites na vida monástica m<strong>as</strong>não estão obrigados ao coro. 144 O irmão converso.“(…) contribuía sencillamente a la vida espiritual <strong>de</strong> la comunidad<strong>as</strong>istiendo en la nave <strong>de</strong> la iglesia a parte <strong>de</strong>l oficio nocturno, y duranteel día recitando regularmente algun<strong>as</strong> oraciones sencill<strong>as</strong>aprendid<strong>as</strong> <strong>de</strong> m<strong>em</strong>oria. Su contribución principal a la obra <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terioera el trabajo <strong>de</strong> sus manos.” 145Deste modo surge uma co-existência <strong>de</strong> du<strong>as</strong> vid<strong>as</strong> e du<strong>as</strong> organizações noseio <strong>de</strong> Cister como refere Fergusson. 146 Por um lado encontravam-se os mongesque se constituíam como homens <strong>de</strong> Deus e por outro lado os conversos que seconstituíam como homens da Terra.Já o monge Idung, no Dialogus duorum monachorum citado por Fornariafirmava a existência <strong>de</strong> dois mosteiros, <strong>de</strong>ntro da cerca <strong>de</strong> clausura, sendo umdos irmãos laicos e outro dos monges do coro: “<strong>de</strong>ntro la cinta di clausura noiabbiamo due mon<strong>as</strong>teri: uno <strong>de</strong>i fratelli laici, l’altro <strong>de</strong>i monaci coristi.” 147Num dia <strong>cister</strong>ciense, est<strong>as</strong> du<strong>as</strong> vid<strong>as</strong> não se cruzavam e eram b<strong>em</strong> distint<strong>as</strong>.Se por um lado viviam os monges com <strong>as</strong> su<strong>as</strong> seis hor<strong>as</strong> <strong>de</strong> oração, du<strong>as</strong>hor<strong>as</strong> <strong>de</strong> leitura e três hor<strong>as</strong> <strong>de</strong> trabalho manual, por outro viviam os irmãosconversos com <strong>as</strong> su<strong>as</strong> <strong>de</strong>z hor<strong>as</strong> <strong>de</strong> trabalho manual, uma única hora <strong>de</strong> oraçãoe nenhuma leitura. Também Dom Maur Cocheril refere a existência <strong>de</strong>du<strong>as</strong> comunida<strong>de</strong>s sob o mesmo tecto uns vestiam <strong>de</strong> branco e os outros, barbudos,vestiam <strong>em</strong> tons <strong>de</strong> C<strong>as</strong>tanho, para marcar a diferença:“Il y eut dès lors <strong>de</strong>ux communautés qui coexistaient dans l’enceintedu mon<strong>as</strong>tère, les moines <strong>de</strong> chœur vêtus <strong>de</strong> blanc et les convershabillés en brun et portant la barbe en signe distinctif. ” 148143 Cit. Exordium Paruum, cap.XV, 10-14 in CISTER: os Documentos Primitivos; Tradução, Introduções eComentários <strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; pp. 42-43144 Cfr. CISTER: os Documentos Primitivos; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; EdiçõesColibri; Lisboa; Março 1999; p. 90145 Cit. LAWRENCE, C. H.; Op. cit.; p. 219146 Cfr. FERGUSSON, Peter; Les Cisterciens et le Roman in “ Citeaux 1098 – 1998, L’Épopée Cistercienne –Dossiers d’Archeologie”; n. 229; Dec. 97 – Jan. 98; p. 44147 Cfr. FORNARI, Fe<strong>de</strong>rico Farina Bene<strong>de</strong>tto; Op. cit.; p. 42148 COCHERIL, Dom Maur; Op. cit.; p. 17


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA2.8.ECONOMIA CISTERCIENSE: <strong>as</strong> granj<strong>as</strong>As granj<strong>as</strong> permitiram que o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> economia agrária <strong>cister</strong>ciense <strong>as</strong>sumisseum mo<strong>de</strong>lo inovador. Segundo Lekai a existência dos irmãos leigos era tambémjustificada pelos <strong>cister</strong>cienses pois:“(…) cuando establecieran granj<strong>as</strong> para la práctica <strong>de</strong> la agricultura,tendrían que ser dirigid<strong>as</strong> por hermanos legos, y no por monjes,cuya resi<strong>de</strong>ncia, según la Regla, <strong>de</strong>bía ser <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> su clausura. (…)El mantener y administrar propieda<strong>de</strong>s según el sist<strong>em</strong>a feudal, loshubiera forzado a estar en íntimo contacto con la sociedad laica, ypor esta razón se rechazaron est<strong>as</strong> carg<strong>as</strong>. Por otro lado, se aceptó laexistencia <strong>de</strong> la institución <strong>de</strong> hermanos legos, <strong>de</strong>bido a que l<strong>as</strong> extens<strong>as</strong>áre<strong>as</strong> situad<strong>as</strong> lejos, hubieran sacado a los monjes <strong>de</strong> la soledad<strong>de</strong> su claustro” 149 .Na granja <strong>cister</strong>ciense não existia distinção entre terra dominica e terra tributaria.150 Como foi referido anteriormente os mosteiros <strong>cister</strong>ciense inseriam-se <strong>em</strong>locais primeiramente inóspitos, m<strong>as</strong> com potencialida<strong>de</strong>, uma vez cuidados etrabalhados.As primeir<strong>as</strong> instalações monástic<strong>as</strong> seriam mo<strong>de</strong>st<strong>as</strong>. Nos primeiros t<strong>em</strong>posteriam sido os próprios monges a tratar do cultivo da terra <strong>em</strong> volta do mosteirocomo refere o Statuta V:“Aos monges da nossa Or<strong>de</strong>m o alimento <strong>de</strong>ve provir do trabalhod<strong>as</strong> su<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> mãos, do cultivo d<strong>as</strong> terr<strong>as</strong>, do cuidado dos rebanhos,pelo que é lícito possuirmos para nosso usufruto águ<strong>as</strong> florest<strong>as</strong>,vinh<strong>as</strong>, prados, terr<strong>as</strong> af<strong>as</strong>tad<strong>as</strong> <strong>de</strong> lugares habitados por gentesecular, e possuirmos b<strong>em</strong> <strong>as</strong>sim animais, com excepção daquelesque costumam provocar mais curiosida<strong>de</strong> e comportar mais vaida<strong>de</strong>do que trazer alguma utilida<strong>de</strong>, como são os veados, os grous, eoutros s<strong>em</strong>elhantes. Para os domesticar, manter e guardar, seja pertoseja longe, po<strong>de</strong>mos ter granj<strong>as</strong>, que serão guardad<strong>as</strong> pelos conversos,contanto que não fiqu<strong>em</strong> a mais <strong>de</strong> um dia <strong>de</strong> caminho.” 151A renúncia total, aos meios habituais <strong>de</strong> sustento <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> religiosa,foi impossível <strong>de</strong> se manter por mais <strong>de</strong> uma geração. 152No entanto com o <strong>de</strong>correr dos anos os domínios explorados pelo mosteiroaumentavam ten<strong>de</strong>ncialmente graç<strong>as</strong> a doações, primeiro sobre o local on<strong>de</strong>se inseriam, e <strong>de</strong>pois <strong>em</strong> locais mais distantes.93149 LEKAI, Louis; Op. Cit; p.44-45150 Cfr. I<strong>de</strong>m; p. 8151 Cfr. Statuta V in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento;Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 82152 Cfr. LAWRENCE, C. H.; Op. cit.; p. 215


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURA94Deste modo um mosteiro po<strong>de</strong>ria ter um domínio <strong>de</strong> alguns milhares <strong>de</strong>hectares como era o c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> Claraval com os seus vinte e oito mil hectares <strong>de</strong>pradari<strong>as</strong>, terr<strong>as</strong> <strong>de</strong> cultivo e vinh<strong>as</strong>.As granj<strong>as</strong> distanciavam-se cerca <strong>de</strong> cinco a vinte quilómetros <strong>em</strong> voltado mosteiro, do qual não se <strong>de</strong>viam distanciar mais <strong>de</strong> um dia <strong>de</strong> marcha,como referido nos Statuta: “As granj<strong>as</strong> d<strong>as</strong> divers<strong>as</strong> abadi<strong>as</strong> dist<strong>em</strong> entre si pelomenos du<strong>as</strong> légu<strong>as</strong>” 153O trabalho agrícola s<strong>em</strong>pre foi um dado fundamental da vida <strong>cister</strong>ciense.Deste modo, dad<strong>as</strong> <strong>as</strong> dimensões da terra <strong>as</strong>sim como o factor distância torn<strong>as</strong>enecessário a construção <strong>de</strong> granj<strong>as</strong> que seriam administrad<strong>as</strong> pelos conversossob a direcção do Celeireiro que era nomeado, <strong>de</strong> entre os conversos, peloaba<strong>de</strong> da abadia.Como meio para dar resposta ao aumento do trabalho n<strong>as</strong> granj<strong>as</strong>, umavez que os conversos já não eram suficientes, a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister contrata mão<strong>de</strong>-obraexterior a si própria. Deste modo n<strong>em</strong> todos os irmãos conversos sealojavam na abadia ao mesmo t<strong>em</strong>po.“Con la adquisición <strong>de</strong> propieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sperdigad<strong>as</strong> y <strong>de</strong> otr<strong>as</strong> posesionesrurales más alejad<strong>as</strong>, se hacía difícil que los monjes operariosl<strong>as</strong> trabajaran y recorrieran el camino <strong>de</strong> ida y el <strong>de</strong> vuelta todoslos dí<strong>as</strong>. Así que la or<strong>de</strong>n fue creando gradualmente un sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>granj<strong>as</strong> locales, don<strong>de</strong> los hermanos pudieran residir mientr<strong>as</strong> seocupaban <strong>de</strong> la tierra.” 154Deste modo, por um lado encontram-se os conversos que constitu<strong>em</strong> a mão<strong>de</strong>-obrareligiosa s<strong>em</strong> custos e por outro lado encontram-se os mercenarii 155 queconstitu<strong>em</strong> a mão-<strong>de</strong>-obra <strong>as</strong>salariada como refer<strong>em</strong> os Statuta:“Os trabalhos n<strong>as</strong> granj<strong>as</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser executados pelos conversos eb<strong>em</strong> <strong>as</strong>sim por <strong>as</strong>salariados; efectivamente aos conversos,mediante licença episcopal, <strong>as</strong>sumimo-los como pesso<strong>as</strong>necessári<strong>as</strong> e ajudantes sob o nosso cuidado e, tal como se foss<strong>em</strong>monges, como irmãos e participantes dos nossos bens tantoespirituais como materiais, consi<strong>de</strong>rando-os iguais aos monges” 156Segundo Angiola Maria Romani a economia <strong>cister</strong>ciense <strong>as</strong>senta sobre quatropilares fundamentais: a abolição dos servos da gleba, a integração dos conversosno seio d<strong>as</strong> comunida<strong>de</strong>s, o recurso a trabalhadores <strong>as</strong>salariados, a instituiçãod<strong>as</strong> granj<strong>as</strong> on<strong>de</strong> trabalhavam os conversos e os <strong>as</strong>salariados. 157153 Cfr. Statuta XXXII in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong> Aires A.N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 85154 Cit LAWRENCE, C. H.; Op. cit.; p. 218155 Cfr. ROUX, Julie; Op. cit.; p.43156 Cfr. Statuta VIII in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong> Aires A.N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 82157 Cfr. ROMANINI, Angiola Maria; O projecto <strong>cister</strong>ciense in “A Ida<strong>de</strong> Média”; dir. Georges Duby e MichelLaclotte; col. História Artística da Europa; tomo II; Quetzal Editores; Lisboa; 1998; pp.135-136


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAO trabalho manual dos monges, a instituição dos conversos, a existência<strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra <strong>as</strong>salariada que surgiam como resposta à reforma do i<strong>de</strong>almonástico inspirada na total observância da Regra <strong>de</strong> S. Bento, levada a cabopelos <strong>cister</strong>cienses. Este facto reveste-se <strong>de</strong> carácter inovador, no âmbito daestrutura económica e social do t<strong>em</strong>po, no qual se inseria, uma vez que proporcionavauma programação racional e competitiva d<strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong> agrícol<strong>as</strong>num mercado que era sobretudo regulado pela circulação da moeda <strong>as</strong>simcomo permitiu uma nova avaliação moral e social do trabalho agrícola. 158Os conversos eram irmãos consagrados que estavam <strong>de</strong>sobrigados daincumbência do ofício divino, da leitura e da meditação. Ocupavam-se dosafazeres e dos labores tanto <strong>de</strong>ntro do mosteiro como fora <strong>de</strong>ste.A reputação da Or<strong>de</strong>m e <strong>as</strong> condições laborais que eram oferecid<strong>as</strong>favoreciam a entrada no mosteiro <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong> muitos candidatos. Entre elespodiam-se encontrar pesso<strong>as</strong> <strong>de</strong> bom nível social que escolhiam esta forma <strong>de</strong>vida para viver<strong>em</strong> o mais humil<strong>de</strong>mente possível a sua vocação e conversão. 159A granja era uma exploração agrícola monástica que <strong>de</strong>pendia juridicamentedo mosteiro e por esse motivo não possuía igreja. Apen<strong>as</strong> possuía umpequeno oratório s<strong>em</strong> altar e nenhum claustro ou c<strong>em</strong>itério. M<strong>as</strong> n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>prese mantiveram <strong>as</strong>sim pois no século XIII:“(…) con el crecimiento <strong>de</strong>l patrimonio y el abandono <strong>de</strong> l<strong>as</strong> primitiv<strong>as</strong>regl<strong>as</strong> contra la aceptación <strong>de</strong> rent<strong>as</strong> manoriales y <strong>de</strong> siervos,much<strong>as</strong> <strong>de</strong> l<strong>as</strong> granj<strong>as</strong> aumentaron en dimensiones y complejidad yse convirtieron en réplic<strong>as</strong> miniaturizad<strong>as</strong> <strong>de</strong> la abadia madre, consu dormitorio, refectorio y capilla, e incluso con una cámar<strong>as</strong>eparada para alojar al abad cuando iba a visitar la propiedad.” 160A granja era dirigida pelo magister grangiae, um converso que supervisionava otrabalho dos <strong>as</strong>salariados do qual tinha a obrigação mensal <strong>de</strong> prestar cont<strong>as</strong>do <strong>de</strong>senvolvimento do trabalho ao celeireiro a qu<strong>em</strong> era confiada a administração.Deste modo, “Al abrir el claustro a los campesinos y artesanos, pudocaptar la influência <strong>de</strong> los cambios <strong>de</strong>mográfico y economico que estabantransformando la sociedad occi<strong>de</strong>ntal.” 161Para mais, Dom Maur Cocheril alu<strong>de</strong> à importância d<strong>as</strong> granj<strong>as</strong>, muit<strong>as</strong>vezes na orig<strong>em</strong> <strong>de</strong> pequenos povoados que ao longo do t<strong>em</strong>po foramcrescendo até se tornar<strong>em</strong> povoações florescentes:“L’importance <strong>de</strong>s granges est indéniable. Elles furent à l’origine <strong>de</strong>peupl<strong>em</strong>ents parfois importantes dans certaines régions. Cesexploitations agricoles régies par une communauté oú les m<strong>em</strong>bres95158 Cfr. FORNARI, Fe<strong>de</strong>rico Farina Bene<strong>de</strong>tto; Op. cit.; p. 9159 Cfr. Incerti, Manuela; Op. Cit, p.15160 Cit. LAWRENCE, C. H.; Op. cit.; p. 218161 Cit. I<strong>de</strong>m, p.222


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAanimés <strong>de</strong> l’esprit surnaturel s’efforçaient d’accomplir au mieux leurtâche, où le recrut<strong>em</strong>ent même <strong>de</strong>s moines permettait <strong>de</strong>sélectionner les hommes compétents, et où, enfin, existait uneorganisation perfectionné avec le t<strong>em</strong>ps, l’expérience et laconnaissance approfondie <strong>de</strong>s possibilités <strong>de</strong>s moindres parcellesdu terrain, <strong>de</strong>vaient nécessair<strong>em</strong>ent <strong>de</strong>venir <strong>de</strong>s facteurs importantsdu dévellopp<strong>em</strong>ent économique <strong>de</strong> la région toute entiére.” 1622.9.ESPIRITUALIDADE CISTERCIENSE96Os Cistercienses viveram <strong>as</strong> su<strong>as</strong> vid<strong>as</strong> marcad<strong>as</strong> pela austerida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> su<strong>as</strong>convicções e da sua Fé que se reflectiu na simplicida<strong>de</strong> e contenção d<strong>as</strong> su<strong>as</strong>arquitectur<strong>as</strong>. No entanto esta contenção, restrição e simplicida<strong>de</strong> não impediraminovações permitindo a criação <strong>de</strong> alguns dos mais marcantes e sublimesmonumentos da Arquitectura Oci<strong>de</strong>ntal.Como refere Fr. Yàñez Neira:“La espiritualidad <strong>de</strong> la nueva or<strong>de</strong>n es esencialmente cont<strong>em</strong>plativa,es <strong>de</strong>cir, tiene prohibido todo ministerio externo <strong>de</strong> apostolado.El l<strong>em</strong>a en que se centra la vida <strong>de</strong> los monjes es el consabido ora etlabora – reza y trabaja – <strong>de</strong> San Benito. Aunque los monjes <strong>de</strong>l Cisterno tengan confiado ningún apostolado externo, con todo, no le sonajenos al monje ninguno <strong>de</strong> los probl<strong>em</strong><strong>as</strong> acuciantes <strong>de</strong> la Iglesia,antes los vive con gran intensidad, es más, respon<strong>de</strong>n a aquella i<strong>de</strong>aque apuntara Pablo VI: «Los monjes son el corazón <strong>de</strong> la Iglesia, representanlos valores más estimables <strong>de</strong> que hoy necesita el mundo».Para ejercer esa irradiación apostólica, cuenta con po<strong>de</strong>rosos medios:la oración, el trabajo manual, la vida <strong>de</strong> sacrificio (…) La oración,especialmente litúrgica, llena la vida <strong>de</strong>l monje h<strong>as</strong>ta el punto<strong>de</strong> que el Papa no dudó en llamar a los <strong>cister</strong>cienses «especialist<strong>as</strong><strong>de</strong> la oración litúrgica».” 163Os <strong>cister</strong>cienses apesar <strong>de</strong> seguir<strong>em</strong> e respeitar<strong>em</strong> a liturgia inerente à tradiçãobeneditina distinguiam-se dos cluniacenses como refere Lawrence:“Litúrgicamente seguían <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> la tradición benedictina. Aunqueprescindían <strong>de</strong> much<strong>as</strong> <strong>de</strong> l<strong>as</strong> cer<strong>em</strong>oni<strong>as</strong> cluniacenses y <strong>de</strong> muchos<strong>de</strong> sus añadidos a la liturgia, seguían teniendo que cantar el oficiodivino, incluyendo el oficio <strong>de</strong> difuntos que se cantaba los dí<strong>as</strong> labo-162 Cit. COCHERIL, Dom Maur; Notes sur l’Architecture et le Décor dans les Abbayes Cisterciennes du Portugal;col. Fontes Documentais Portugues<strong>as</strong>; vol. V; Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português; Paris1972


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURArales; continuaron también con l<strong>as</strong> mis<strong>as</strong> diari<strong>as</strong>, y había que reservarti<strong>em</strong>po para la oración y el estudio privados.” 164O i<strong>de</strong>al da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister divi<strong>de</strong>-se entre o respeito pela condição humana,na sua dimensão quotidiana, e a busca <strong>de</strong> vi<strong>as</strong> <strong>de</strong> perfeição moral, procurandoum equilíbrio entre a realida<strong>de</strong> concreta e a espiritualida<strong>de</strong>.Os Cistercienses pretendiam a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong> cristianismo <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> simplicida<strong>de</strong> e pureza que se reflectia tanto n<strong>as</strong> su<strong>as</strong> vid<strong>as</strong> como naespacialida<strong>de</strong> e carácter d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong>.Deste modo houve um encontro entre a espiritualida<strong>de</strong> e o quotidianoque gerou repercussões na arquitectura e n<strong>as</strong> artes, <strong>de</strong> um modo geral,constituindo-se num legado cultural <strong>de</strong> maior importância.Fraternida<strong>de</strong>, pobreza, simplicida<strong>de</strong>, silêncio são <strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>-chave daespiritualida<strong>de</strong> <strong>cister</strong>ciense. Como refere o Aba<strong>de</strong> <strong>cister</strong>ciense Ailred Rivvaulx(1147-1167):“Nuestra comida es esc<strong>as</strong>a, nuestros vestidos son toscos; nuestra bebidaestá en el río y nuestros sueños a veces sobre nuestro libro. Bajonuestros riñones no hay m<strong>as</strong> que una dura estera; cuando dormimosresulta m<strong>as</strong> dulce levantarnos al sonido <strong>de</strong> la campana (...) Portod<strong>as</strong> partes paz; por tod<strong>as</strong> partes serenidad, y una maravillosalibertad <strong>de</strong>l tumulto <strong>de</strong>l mundo. Hay tanta unidad y concordia entrelos hermanos que cada cosa parece pertenecer a todos y todo acada uno... resumiendo, no hay perfección expresada en l<strong>as</strong>palabr<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Evangelio o <strong>de</strong> los Apóstoles, o en los escritos <strong>de</strong> lospadres e en los dichos <strong>de</strong> los monjes antiguos, que no esté ennuestra or<strong>de</strong>n y en nuestra manera <strong>de</strong> vivir” 165A Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister surge como o equilíbrio entre a tradição da alta Ida<strong>de</strong>Média e o espírito que irá caracterizar o fim da Ida<strong>de</strong> Média e o início daépoca mo<strong>de</strong>rna. 166No caminho da mais antiga tradição monástica surge um novo espírito epor consequência uma nova espiritualida<strong>de</strong> que segue com novo vigor e estritaobservância a mesma Regra que durante séculos foi guia <strong>de</strong> vida monástica, aRegra <strong>de</strong> S. Bento.Os <strong>cister</strong>cienses comungam do espírito subjacente a tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> reform<strong>as</strong>medievais, segundo <strong>as</strong> quais <strong>de</strong>veria s<strong>em</strong>pre haver um regresso aos seus fundadorese respectiv<strong>as</strong> fontes. Assim, os Cistercienses sobretudo através <strong>de</strong> S.97163 Cit YÀÑEZ NEIRA, Fr. Dámian; Concepto <strong>de</strong> Monje; texto inédito policopiado164 Cit. LAWRENCE, C. H.; Op. cit.; p. 216165 Cit. RIVVAULX, Ailred; Speculum Charistatis in CUÑAT, D. (cord.); “Antic Monestir <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> la Valldigna– images d’un centenari”; Generalitat Valenciana, Diputació <strong>de</strong> Valencia, Ateneo Mercantil <strong>de</strong> Valencia;Ayuntaments <strong>de</strong> la Valldigna – Barx – Benifairó – Sinat; Tavernes; Martín Impressores; 1999166 Cfr. SURCHAMP, Dom Angelico; L’esprit <strong>de</strong> l’art <strong>cister</strong>cien in “ L’Art Cistercien – France”; col. La nuit <strong>de</strong>st<strong>em</strong>ps; nº 16; Ed. Zodiaque; 1982; p. 17


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURABernardo possuíam não só um profundo conhecimento teórico do pensamentodo Oriente Cristão, como também procuravam:“(…) a comunhão e a participação numa experiência comum, <strong>de</strong>lineandoa reforma <strong>cister</strong>ciense num dinamismo <strong>de</strong> oposições – a luz e<strong>as</strong> trev<strong>as</strong>, o b<strong>em</strong> e o mal, o hom<strong>em</strong> e o mundo, o espírito e a carne –que se integram no <strong>de</strong>senrolar da história da salvação, num a<strong>de</strong>nsamentot<strong>em</strong>poral configurador da unida<strong>de</strong> da tradição cristã” 167 .Os documentos primitivos da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>de</strong>notam como os primeiros <strong>cister</strong>ciensesquiseram renovar a sua vida regular e regressar às exigênci<strong>as</strong> fundamentaisda vida monástica.Pobreza, solidão, simplicida<strong>de</strong>, uniformida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, trabalho manual e<strong>de</strong>voção a Maria são constituintes el<strong>em</strong>entares da espiritualida<strong>de</strong> <strong>cister</strong>ciense(Esq. 9) e referênci<strong>as</strong> presentes nos primitivos documentos <strong>cister</strong>cienses. 168POBREZAUNIFORMIDADE DE VIDASOLIDÃOESPIRITUALIDADE CISTERCIENSECONSTITUINTES ELEMENTARESTRABALHO MANUAL98SIMPLICIDADEDEVOÇÃO A MARIAEsq. 9 Esqu<strong>em</strong>atização dos constituintes el<strong>em</strong>entares da espiritualida<strong>de</strong> <strong>cister</strong>ciense(síntese elaborada pela autora)Deste modo, faz-se referência a cada um <strong>de</strong>stes el<strong>em</strong>entos, b<strong>as</strong>e da espiritualida<strong>de</strong><strong>cister</strong>ciense, constantes nos documentos anteriormente mencionados:a) Pobreza como refere o capítulo I do Exordium Cistercii:“(...) <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muit<strong>as</strong> canseir<strong>as</strong> e grandíssim<strong>as</strong> dificulda<strong>de</strong>s quehá que suportar por parte <strong>de</strong> quantos preten<strong>de</strong>m viver santamente<strong>em</strong> Cristo conseguiram por fim ver realizado o seu <strong>de</strong>sejo echegaram a Cister. (...) <strong>de</strong> facto, aquele pequeno rebanho tinhacomo único motivo <strong>de</strong> lamentação o da sua pequenez, querodizer, o único receio daqueles pobres <strong>de</strong> Cristo, receio a roçarpelo <strong>de</strong>sespero, era o <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixar ninguém que fosse167 PACHECO, Maria Cândida Monteiro; Reflexões sobre a <strong>as</strong>cese e a mística no Pensamento <strong>de</strong> S. Bernardoin “Act<strong>as</strong> do IX centenário do n<strong>as</strong>cimento <strong>de</strong> S. Bernardo. Encontros <strong>de</strong> Alcobaça e Simpósio <strong>de</strong> Lisboa”;Universida<strong>de</strong> Católica Portuguesa, Câmara Municipal <strong>de</strong> Alcobaça; Braga; 1991168 Cfr. VITI, Goffredo (dir.); Architettura Cistercense - Fontenay e le Abbazie in Italia dal 1120 al 1160; EdizioniC<strong>as</strong>amari – Certosa di Firenze; Firenze; 1995; pp.25-28


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAher<strong>de</strong>iro da sua pobreza; neles, realmente, os vizinhos apreciavama santida<strong>de</strong>, m<strong>as</strong> levavam <strong>em</strong> menos consi<strong>de</strong>ração a austerida<strong>de</strong>;e <strong>as</strong>sim, muito <strong>em</strong>bora se aproxim<strong>as</strong>s<strong>em</strong> <strong>de</strong>les com veneração,recusavam-se a imitá-los.” 169b) Solidão como refere o capítulo XVII do Exordium Parvum:“Foi nesse t<strong>em</strong>po que os irmãos, <strong>em</strong> conjunto com o aba<strong>de</strong>(Estêvão Harding), impediram que o Senhor da região ou outroqualquer príncipe, instal<strong>as</strong>se, <strong>em</strong> qualquer t<strong>em</strong>po, a sua corte nacomunida<strong>de</strong>, como era costume acontecer antes, por oc<strong>as</strong>iãod<strong>as</strong> fest<strong>as</strong>” 170c) Simplicida<strong>de</strong> como refere o capítulo XXV dos Capitula:“As toalh<strong>as</strong> dos altares e os paramentos dos ministros não tenhamseda, com excepção da estola e do manípulo; a c<strong>as</strong>ula seja <strong>de</strong>uma só cor e não mais.Qualquer d<strong>as</strong> alfai<strong>as</strong> do mosteiro, v<strong>as</strong>os e utensílios, não sejam<strong>de</strong> ouro, <strong>de</strong> prata e <strong>de</strong> pedr<strong>as</strong> precios<strong>as</strong>, com a excepção docálice e da colherinha, que são os únicos objectos que consentimosque sejam <strong>de</strong> prata ou dourad<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> não inteiramente <strong>de</strong>ouro” 171d) Uniformida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida como refere o capítulo IX dos Capitula:“Com o objectivo <strong>de</strong> perpetuar entre <strong>as</strong> abadi<strong>as</strong> uma unida<strong>de</strong>indissolúvel, estabeleceu-se como norma supr<strong>em</strong>a que a Regra <strong>de</strong>S. Bento será interpretada <strong>de</strong> uma única maneira e que ninguémse af<strong>as</strong>te daí, mesmo que seja um pequeno traço.(...) estabeleceu-se que haverá os mesmos livros para o ofíciodivino e b<strong>em</strong> <strong>as</strong>sim o mesmo hábito, o mesmo tipo <strong>de</strong> alimentação,e, enfim, os mesmos usos e os mesmos costumes <strong>em</strong> tudo.” 172e) Trabalho Manual como refere o capítulo XV dos Capitula:“O sustento dos monges da nossa Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ve provir do trabalhod<strong>as</strong> su<strong>as</strong> mãos, do cultivo d<strong>as</strong> terr<strong>as</strong>, da criação <strong>de</strong> animais (...)” 173f) Devoção a Maria como refere o capítulo IX dos Capitula :“Fica estabelecido que os nossos mosteiros <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser fundados<strong>em</strong> honra da Rainha do Céu e da Terra” 174 e o Statuta XVIII: “Dado99169 Cit. Exordium Cistercii, cap. I in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários<strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 49-51170 Cit. Exordium Parvum, cap. XVII in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções eComentários <strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 44171 Cit. Capitula, cap. XXV in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong>Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 61172 Cit. Capitula, cap. IX in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong> AiresA. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 57173 Cit. Capitula, cap. XV in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong> AiresA. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 59


2. CISTER: ANTECEDENTES, ORIGEM E ESTRUTURAque os nossos antecessores e pais vieram inicialmente da igreja <strong>de</strong>Molesme para o lugar <strong>de</strong> Cister, e que aquela igreja é <strong>de</strong>dicada àb<strong>em</strong>-aventurada Virg<strong>em</strong> Maria e daí também nós tiv<strong>em</strong>os orig<strong>em</strong>,por isso mesmo <strong>de</strong>cidimos que tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> noss<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> e <strong>as</strong> dos nossossucessores sejam fundad<strong>as</strong> e <strong>de</strong>dicad<strong>as</strong> a Santa Maria, Rainhado Céu e da Terra” 175 (Fig. 25)Na Europa encontram-se numeros<strong>as</strong> abadi<strong>as</strong> test<strong>em</strong>unhos da genialida<strong>de</strong>arquitectónica dos <strong>cister</strong>cienses. Estes test<strong>em</strong>unhos traduz<strong>em</strong>-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> abadi<strong>as</strong>perfeitamente conservad<strong>as</strong> ou recuperad<strong>as</strong> a imponentes ruín<strong>as</strong>.A Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal teve um impacto consi<strong>de</strong>rável aten<strong>de</strong>ndoao facto <strong>de</strong> que <strong>as</strong> su<strong>as</strong> fundações tiveram, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, objectivos <strong>de</strong>povoamento e <strong>de</strong>senvolvimento económico a que se <strong>as</strong>sociaram uma coesãoe uma interligação, não só a nível territorial, m<strong>as</strong> também cultural e civilizacional.100Fig. 25 Fachada lateral do Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora daAssunção <strong>de</strong> Tabosa, nicho que encima o portal lateral da igrejae que abriga a estátua <strong>de</strong> Nossa senhora da Assunção (fotografiada autora)174 Cit. Capitula, cap. IX in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong> AiresA. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 57175 Cit. Statuta XVIII in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong> Aires A.N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 57


CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE3.101Fig. III Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca(<strong>de</strong>senho <strong>de</strong> Mestre Jorge Braga da Costa cedido pelo autor)


CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE3.3.1.CISTER NA CONSOLIDAÇÃO DA NACIONALIDADE: a importância <strong>de</strong> D. AfonsoHenriques3.2.CICLOS EXISTENCIAIS NA CONSOLIDAÇÃO DE CISTER EM PORTUGAL3.2.1. . O Ciclo <strong>de</strong> Tarouca3.2.2. O Ciclo <strong>de</strong> Alcobaça3.2.3. O Ciclo do Real F<strong>em</strong>inino3.3.PLENITUDE vs. DECLÍNEO3.3.1. A Congregação Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça3.3.2. Decreto <strong>de</strong> 1834 e a <strong>de</strong>samortização3.4. Uma perspectiva da evolução da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal102


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE3.1.CISTER NA CONSOLIDAÇÃO DA NACIONALIDADE: a importância <strong>de</strong> D. AfonsoHenriquesO estado português, <strong>em</strong> construção, foi evoluindo para a criação <strong>de</strong> uma naçãoao dotar os seus habitantes <strong>de</strong> form<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> <strong>de</strong> a reconhecer e <strong>de</strong> um sentido<strong>de</strong> consciência, uno e coeso, <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> composta por muit<strong>as</strong> gentes,dotada <strong>de</strong> costumes variados, m<strong>as</strong> <strong>de</strong> uma mesma língua. Portugal enquantonação foi ganhando forma e foi-se consolidando. Surgiram <strong>as</strong> primeir<strong>as</strong>organizações sist<strong>em</strong>átic<strong>as</strong> do monaquismo medieval, que chegaram a Portugalpela via borgonhesa, tão familiar a D. Afonso Henriques, provocando repercussõesnão só a nível social e geográfico m<strong>as</strong> também económico e político.A Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister é introduzida <strong>em</strong> Portugal, no século XII, num momento<strong>em</strong> que a Or<strong>de</strong>m ainda se encontrava na primeira f<strong>as</strong>e <strong>de</strong> expansão e Portugalcomeçava a <strong>de</strong>senvolver-se enquanto nação. A primeira fundação <strong>cister</strong>ciense<strong>em</strong> Portugal é S. João <strong>de</strong> Tarouca <strong>em</strong> 1143, o mesmo ano <strong>em</strong> que Afonso VII, rei<strong>de</strong> Leão e C<strong>as</strong>tela reconheceu a Afonso Henriques o título <strong>de</strong> rei da “Portucalensisterra”.Segundo o cronista <strong>cister</strong>ciense Fr. António <strong>de</strong> Brito, a primeira datam<strong>em</strong>orável que fixa o n<strong>as</strong>cimento <strong>de</strong> Portugal enquanto Nação, é a Batalha <strong>de</strong>Ourique a 25 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1139, data a partir da qual D. Afonso Henriques p<strong>as</strong>sa aintitular-se rei e até então apen<strong>as</strong> apelidada <strong>de</strong> Condado portucalense. 1Neste momento, Braga era a capital religiosa do reino, Guimarães a capitalpolítica e Portucale (hoje Porto), na foz do rio Douro, a verda<strong>de</strong>ira metrópolecomercial on<strong>de</strong> eram feit<strong>as</strong> <strong>as</strong> divers<strong>as</strong> troc<strong>as</strong> comerciais.A norte, <strong>as</strong> fronteir<strong>as</strong> encontravam-se já b<strong>em</strong> <strong>de</strong>marcad<strong>as</strong> e pouc<strong>as</strong>alterações houve no <strong>de</strong>linear da linha da raia minhota que hoje se po<strong>de</strong> observar.Porém séculos mais tar<strong>de</strong> este vai ser um território <strong>em</strong> constante mutação <strong>de</strong>vidoàs guerr<strong>as</strong> da restauração do séc. XVII (a nacionalida<strong>de</strong> seria restaurada após oreinado filipino <strong>em</strong> 1640).Os territórios a sul, nos primórdios da nacionalida<strong>de</strong>, tinham como limite acida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra. A Reconquista vai-se efectuando <strong>de</strong> norte para sul, tentandoganhar o máximo possível <strong>de</strong> território, até então com ocupação islâmica. Foinecessário ganhar a batalha <strong>de</strong> Santarém (1147) e conquistar a cida<strong>de</strong>, para essefacto ser exequível D. Afonso Henriques terá pedido a intercessão <strong>de</strong> S. Bernardo.Em agra<strong>de</strong>cimento e reconhecimento, pela intercessão <strong>de</strong> Bernardo <strong>de</strong> Claraval,D. Afonso Henriques oferece aos monges <strong>cister</strong>cienses <strong>as</strong> terr<strong>as</strong> on<strong>de</strong> foi construídoo Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça e on<strong>de</strong> proliferou a arte da agricultura e<strong>as</strong> divers<strong>as</strong> indústri<strong>as</strong> dos Coutos <strong>de</strong> Alcobaça.1031 Cfr COCHERIL, Dom Maur; D. Afonso Henriques et les pr<strong>em</strong>iers <strong>cister</strong>ciens portugais in “Separata d<strong>as</strong> Act<strong>as</strong> doCongresso Histórico <strong>de</strong> Guimarães e sua Colegiada”; vol. V; Guimarães; 1982; p. 321


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEToda esta lenda encontra-se historiada <strong>em</strong> silhares azulejares, azuis e brancoscom cercadura, possivelmente provenientes da fábrica do Juncal, datados doséc. XVIII 2 e presentes na Sala dos Reis no Mosteiro <strong>de</strong> Alcobaça (Fig. 26 a 30).Fig. 26 Voto <strong>de</strong> D. AfonsoHenriques, apelando àintercessão <strong>de</strong> S. Bernardo,na conquista <strong>de</strong> Santarém;azulejos do séc. XVIIIexistentes na Sala dos Reisno Mosteiro <strong>de</strong> Alcobaça(fotografia da autora).104Fig. 27 Monges <strong>cister</strong>ciensesapresentam, a D. AfonsoHenriques, carta com aresposta <strong>de</strong> S. Bernardo aopedido <strong>de</strong> intercessão;azulejos do séc. XVIIIexistentes na Sala dos Reisno Mosteiro <strong>de</strong> Alcobaça(fotografia da autora).2 Cfr. FERREIRA, Maria Augusta Lage Pablo da Trinda<strong>de</strong>; Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça; ELO; Lisboa-Mafra;1994; p12NOTA: <strong>as</strong> fotografi<strong>as</strong> 1 a 5 (fotografi<strong>as</strong> da autora) fizeram parte da exposição intitulada “Imagens <strong>de</strong> AfonsoHenriques”, com<strong>em</strong>orativa dos 900 anos do n<strong>as</strong>cimento <strong>de</strong> Afonso Henriques, levada acabo pela AssociaçãoAVIS (Associação para o <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> i<strong>de</strong>i<strong>as</strong> e concretizações culturais <strong>de</strong> Viseu) que teve lugar <strong>em</strong> Viseu <strong>de</strong> 6 a17 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 2009.


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEFig. 28 D. Afonso Henriques,presente na escolha doprimeiro local <strong>de</strong>implantação dos<strong>cister</strong>cienses <strong>em</strong> Alcobaça;azulejos do séc. XVIIIexistentes na Sala dos Reisno Mosteiro <strong>de</strong> Alcobaça(fotografia da autora).Fig. 29 D. Afonso Henriques eos monges claravalenses,presenciam a colocaçãod<strong>as</strong> linh<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcaçãod<strong>as</strong> fundações do Mosteiro<strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Alcobaça; azulejos do séc.XVIII existentes na Sala dosReis no Mosteiro <strong>de</strong>Alcobaça (fotografia daautora).105Fig. 30 D. Afonso Henriques,coloca a 1ª pedra doMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Alcobaça, sob o olharatento dos monges<strong>cister</strong>cienses; azulejos doséc. XVIII existentes na Salados Reis no Mosteiro <strong>de</strong>Alcobaça (fotografia daautora).


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEA Fé, a crença, a tradição e a prática religiosa permitiram e favoreceram ain<strong>de</strong>pendência política. É <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar a importância não só d<strong>as</strong> Or<strong>de</strong>nsReligios<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> também dos bispos, no apoio e no auxílio prestado aos Con<strong>de</strong>sportucalenses e ao nosso primeiro Rei, D. Afonso Henriques. 3106Fig. 31. Escultura simbólica representando a coroação <strong>de</strong> D. AfonsoHenriques, pelo Papa Alexandre III e por S. Bernardo, executada pelosmonges barrist<strong>as</strong> <strong>de</strong> Alcobaça no séc. XVIII, Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Alcobaça, Sala dos Reis (fotografia da autora)De facto, D. Afonso Henriques foi proclamado rei <strong>em</strong> 1143, m<strong>as</strong> só <strong>em</strong> 1179 teve oseu título confirmado solen<strong>em</strong>ente pelo Papa Alexandre III que o reconhececomo rei <strong>de</strong> direito <strong>as</strong>sim como ao Reino <strong>de</strong> Portugal da Bula “Manifestisprobatum” (Fig. 31).Uma vez proclamado rei, muda a capital do Reino <strong>de</strong> Guimarães paraCoimbra, tendo falecido <strong>em</strong> 1185, num momento <strong>em</strong> que o País se constituíaefectivamente como uma nação.Foi durante o reinado <strong>de</strong> D. Afonso Henriques que a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister foiintroduzida <strong>em</strong> Portugal, respon<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> forma positiva ao <strong>de</strong>safio lançado pelorei para que foss<strong>em</strong> implantados mosteiros, nos territórios que se iamconquistando, como forma não só <strong>de</strong> os povoar m<strong>as</strong> também <strong>de</strong> os consolidarenquanto terrenos nacionais (Fig. 32).3 MATTOSO, José; Cluny, Cruzios e Cistercienses na formação <strong>de</strong> Portugal; Congresso Histórico <strong>de</strong> Guimarães esua Colegiada (separata do vol. V d<strong>as</strong> Act<strong>as</strong>); Guimarães; 1982; p.283


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEFig. 32 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro, actual Pousada <strong>de</strong> Santa Maria doBouro: Escultura da Sagrada Família, sobre o frontão triangular da entrada, e umpouco mais ao lado a escultura <strong>de</strong> D. Afonso Henriques, <strong>de</strong> joelhos, prestandohomenag<strong>em</strong>. (fotografia da autora)Refere Maria Alegria Marques que <strong>as</strong> terr<strong>as</strong> “on<strong>de</strong> se fixaram os monges <strong>de</strong>Claraval apresentar-se-iam, por então, maioritariamente como ‘área’ <strong>de</strong> ‘matavirg<strong>em</strong> e erma’, sendo poucos e diminutos os núcleos populacionais.” 4Acrescentando ainda que:“Eles próprios e a sua iniciativa ou supervisão aí levaram a cabo umaimportante acção <strong>de</strong> arroteamento que transformou a paisag<strong>em</strong>bravia <strong>em</strong> granj<strong>as</strong> produtiv<strong>as</strong>, b<strong>as</strong>e <strong>de</strong> futuros aglomeradospopulacionais, mais ou menos significativos. Isto implicou também umaimportante tarefa <strong>de</strong> atracção <strong>de</strong> povoadores (num conjuntoheterogéneo <strong>de</strong> populações cristãs ou moçárabes do Norte e algunsestrangeiros, <strong>de</strong>sgarrados d<strong>as</strong> cruzad<strong>as</strong>, e ainda muçulmanos).” 5Durante o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> D. Afonso Henriques, surgiram quatro mosteiros quetinham como abadia-mãe Claraval, sendo directamente fundados ou filiados poresta abadia. Deste modo, no que se refere aos filiados, <strong>de</strong>ve-se referir o Mosteiro<strong>de</strong> São João <strong>de</strong> Tarouca (1143) 6 , o Mosteiro <strong>de</strong> Santiago <strong>de</strong> Sever (1143-1144) 7 e o1074 Cfr. MARQUES, Maria Alegria Fernan<strong>de</strong>s; Os coutos <strong>de</strong> Alcobaça: d<strong>as</strong> Origens ao séc. XVI in “Estudos sobre aOr<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal”; Colecção Estudos; nº 24; Edições Colibri; Lisboa; Junho 1998; p. 1835 Cfr. I<strong>de</strong>m; p. 1836 Segundo <strong>as</strong> obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> Dom Maur Cocheril, d<strong>as</strong> quais se <strong>de</strong>staca COCHERIL, Dom Maur; Routier <strong>de</strong>s AbbayesCisterciennes du Portugal; col. Cultura Medieval e Mo<strong>de</strong>rna –X; Fundação Calouste Gulbenkian; Centro CulturalPortuguês; Paris; 1978 apesar <strong>de</strong> hoje <strong>em</strong> dia disputar a primazia com São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões, cfr. MARQUES,Maria Alegria Fernan<strong>de</strong>s; Op. cit.7 Segundo <strong>as</strong> obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> Dom Maur Cocheril, d<strong>as</strong> quais se <strong>de</strong>staca COCHERIL, Dom Maur; Routier <strong>de</strong>s AbbayesCisterciennes du Portugal; col. Cultura Medieval e Mo<strong>de</strong>rna –X; Fundação Calouste Gulbenkian; Centro CulturalPortuguês; Paris; 1978


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEMosteiro <strong>de</strong> São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (1163) 8 . A única fundação <strong>em</strong> vida <strong>de</strong> D.Afonso Henriques e a última <strong>em</strong> vida <strong>de</strong> São Bernardo foi a fundação do Mosteiro<strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (1153) 9 sendo <strong>de</strong> igual modo filha <strong>de</strong> Claraval. Noentanto, <strong>em</strong> vida <strong>de</strong> D. Afonso Henriques ainda surge uma filiação que se<strong>de</strong>staca, por ser filha <strong>de</strong> um mosteiro português, isto é, do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria<strong>de</strong> Alcobaça, e não directamente <strong>de</strong> Claraval: trata-se do Mosteiro <strong>de</strong> SantaMaria do Bouro (1182/1195) 10 .D. Afonso Henriques foi, segundo Dom Maur Cocheril, um guerreiro, umdiplomata, um economista e um pragmático que s<strong>em</strong>pre soube adaptar-se àscircunstanci<strong>as</strong> 11 (Fig. 33)108Fig. 33 D. Afonso Henriques (<strong>de</strong>senho <strong>de</strong> Mestre JorgeBraga cedido pelo autor)8 Conforme nota anterior. No entanto hoje <strong>em</strong> dia disputa a primazia com São João <strong>de</strong> Tarouca cfr. MARQUES,Maria Alegria Fernan<strong>de</strong>s; Op. cit.9 Segundo <strong>as</strong> obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> Dom Maur Cocheril, d<strong>as</strong> quais se <strong>de</strong>staca COCHERIL, Dom Maur; Op. cit.10 Segundo <strong>as</strong> obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> Dom Maur Cocheril, d<strong>as</strong> quais se <strong>de</strong>staca COCHERIL, Dom Maur; Routier <strong>de</strong>s AbbayesCisterciennes du Portugal; col. Cultura Medieval e Mo<strong>de</strong>rna –X; Fundação Calouste Gulbenkian; Centro CulturalPortuguês; Paris; 197811 Cfr COCHERIL, Dom Maur; D. Afonso Henriques et les pr<strong>em</strong>iers <strong>cister</strong>ciens portugais in “Separata d<strong>as</strong> Act<strong>as</strong> doCongresso Histórico <strong>de</strong> Guimarães e sua Colegiada”; vol. V; Guimarães; 1982; p. 331


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE3.2.CICLOS EXISTENCIAIS NA CONSOLIDAÇÃO DE CISTER EM PORTUGALOs novos mosteiros que surgiram <strong>em</strong> Portugal (Fig. 34) foram implantados àimag<strong>em</strong> e s<strong>em</strong>elhança do mosteiro <strong>de</strong> Claraval <strong>de</strong> cujo ramo provêm, <strong>de</strong>finindo<strong>as</strong>sim uma tipologia do lugar. Apen<strong>as</strong> <strong>em</strong> 1567 se dá a <strong>de</strong>svinculação dosCistercienses portugueses da obediência <strong>de</strong> Claraval com a criação daCongregação Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça.FIÃESRIO MINHOERMELORIO LIMAJÚNIASBRAGANÇAVIANA DO CASTELOBOUROCHAVESRIO T ÂMEGARIO CÁVADOBRAGARIO ÁVEGUI MARÃESVILA REALPORTORI O DOUROS. JOÃO DE TAROUCAAROUCALAMEGO S. PEDRO DAS ÁGUIASSALZEDASMOIMENTA DA BEIRATABOSAF IGUEIRA DE CASTELO RODRIGOS. Mª DE AGUIARSEVER S. PEDRO DO SULLAFÕESAVEIRORIO VOUGAVALE MADEIROMACEIRA DÃOGUARDAVILAR FORMOSORIO MONDEGORIO COAFRADESCELASF IGUEIRA DA FOZSEIÇALORVÃOESPIRITO SANTOCOIMBRACOVILHÃESTRELARIO Z ÊZ ERE109RIO NABÃOCAST ELO BRANCOLEIRIAALCOBAÇABATALHACÓSCONCEIÇÃOTOMARÃESTOMARRIO TEJOALMOSTERSANT ARÉMRIO SÔRCRATOS. BERNARDO DE PORTALEGRERIO SEDAAVÍSRIO SORRAIADESTERROMOCAMBOODIVELASXABREGASLISBOAELVASSETÚBALCASTRISÉVORARI O SADORIO GUADIANABEJAMONJESMONJASORDENS MILITARESCOLÉGIOS0 10 20 30 40 50 100 KmPORTI MÃOCASTRO MARIMTAVIRAF AROFig. 34 Mapa com a localização da existência do legado da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal(elaborado pela autora 12 )12 adaptado do mapa elaborado por Dom Maur Cocheril in Routier <strong>de</strong>s Abbayes Cisterciennes du Portugal; col.Cultura Medieval e Mo<strong>de</strong>rna –X; Fundação Calouste Gulbenkian; Centro Cultural Português; Paris; 1978


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE110A história da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal (Esq. 10) divi<strong>de</strong>-se <strong>em</strong> dois momentosfundamentais:I.1143-1567União total, com Cister, que correspon<strong>de</strong> à f<strong>as</strong>e inicial da Or<strong>de</strong>m <strong>em</strong>Portugal, <strong>as</strong>sim como à mais importante contribuição portuguesa <strong>de</strong>e para o Novum Mon<strong>as</strong>terium.II.1567-1834Desvinculação total, relativamente a Cister, com a Congregaçãoautónoma <strong>de</strong> Alcobaça <strong>em</strong> 1567.A estes dois momentos é acrescido um terceiro, que só po<strong>de</strong> ser entendido <strong>de</strong>modo indirecto, e consequent<strong>em</strong>ente apen<strong>as</strong> indirectamente se po<strong>de</strong> dizer quefaça parte da história da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal:III.1834-…: ExtinçãoDesapareceram os monges m<strong>as</strong> ficou o seu legado, quer sejamaterial, quer seja imaterial.Nos últimos anos t<strong>em</strong> havido algum<strong>as</strong> tentativ<strong>as</strong> (até agora s<strong>em</strong>sucesso) para trazer <strong>de</strong> novo o espírito <strong>de</strong> Cister, <strong>as</strong>sim como osmonges <strong>cister</strong>cienses, <strong>de</strong> volta a este pais, curiosamente o único aoqual os <strong>cister</strong>cienses nunca mais regressaram para se fixar<strong>em</strong>novamente.CISTER EM PORTUGALDESDE A INTRODUÇÃOATÉ À EXTINÇÃOI MOMENTO1143 - 1567UNIÃOCISTERORDEM DE CISTEREM PORTUGALII MOMENTO1567 - 1834DESVINCULAÇÃOCONGREGAÇÃO AUTÓNOMADE ALCOBAÇAIII MOMENTO1834 - ...EXTINÇÃOLEGADO E TENTATIVA(S)DE REGRESSOEsq. 10 Momentos fundamentais da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu início até à sua extinção(<strong>de</strong>senho e síntese elaborados pela autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEC Î T E A U X1098L A F E R T ÉM O R I M O N D P O N T I G N YC L A R A V A L1113L A F Õ E S S A L Z E D A S L O R V Ã O C E L A S A R O U C A11621196 120612141224T A V I R A111O S E I R A1141S E V E R1143 / 1144F I Ã E S10941115 1114MORERUELAc. 1158E R M E L O1271T A R O U C A1143 / 11441115Á G U I A S15091170DESTERROA L C O B A Ç AM O C A M B O11531654J Ú N I A ST A B O S AA G U I A R12481685MACEIRA DÃO S E I Ç A T O M A R Ã E S E S T R E L A A L M A Z I V A C Ó SC A S T R Í S A L M O S T E R O D I V E L A S X A B R E G A S PORTALEGRE1188 11951217 1220 12211241 12751287 1294142915181165B O U R O1591CONGREGAÇÃO AUTÓNOMA DE ALCOBAÇAB O U Ç A S12281195Esq. 11 Fundações e filiações da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fundação da Abadia <strong>de</strong> Cister e su<strong>as</strong>quatro Abadi<strong>as</strong> primogénit<strong>as</strong> (elaborado pela autora) 1313 A probl<strong>em</strong>ática d<strong>as</strong> datações, d<strong>as</strong> fundações e filiações, da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal s<strong>em</strong>pre foi umaconstante. Sobre este <strong>as</strong>sunto ver anexo 9.2.7


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEAs fundações e filiações <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal (Esq. 11) estiveram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início<strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> a objectivos <strong>de</strong> ocupação e <strong>de</strong> administração do território, sobretudodurante o n<strong>as</strong>cimento e criação da Nacionalida<strong>de</strong>. A estes objectivos<strong>as</strong>sociaram-se uma coesão e interligação, não só a nível territorial, como tambémcultural e civilizacional, sendo o mosteiro <strong>cister</strong>ciense, no contexto português,também um meio <strong>de</strong> afirmação e <strong>de</strong>fesa do território. Este facto permitecompreen<strong>de</strong>r a v<strong>as</strong>ta escala <strong>de</strong> ocupação do território, a extensão dos seusdomínios e áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> influência.Os Mosteiros <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca e <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça<strong>de</strong>stacam-se por ser<strong>em</strong> ambos a c<strong>as</strong>a-mãe <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> mosteiros.Deste modo os mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses po<strong>de</strong>m ser sobretudo divididos<strong>em</strong> dois ciclos t<strong>em</strong>porais e geográficos (Esq. 12).112Esq. 12 Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca - Ciclo <strong>de</strong> Tarouca e Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Alcobaça -Ciclo <strong>de</strong> Alcobaça (<strong>de</strong>senho e síntese elaborados pela autora)Por um lado t<strong>em</strong>-se o ciclo <strong>de</strong> São João <strong>de</strong> Tarouca, <strong>as</strong>sociado aos primeirost<strong>em</strong>pos e ao berço <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal, e posteriormente o ciclo <strong>de</strong> Alcobaça,que engloba também <strong>as</strong> fundações da Congregação <strong>de</strong> Alcobaça, <strong>as</strong>sociadoao <strong>de</strong>senvolvimento e expansão <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal. Pela mesma razão são <strong>de</strong><strong>de</strong>stacar os Coutos <strong>de</strong> Alcobaça e os Coutos <strong>de</strong> São João <strong>de</strong> Tarouca, cada umcom <strong>as</strong> su<strong>as</strong> granj<strong>as</strong>. A partir do séc. XIII ganha importância a vertente f<strong>em</strong>inina<strong>de</strong> Cister <strong>as</strong>sociada à C<strong>as</strong>a Real.


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADECom a <strong>de</strong>svinculação portuguesa <strong>de</strong> Cister, e o n<strong>as</strong>cimento da CongregaçãoAutónoma <strong>de</strong> Alcobaça (1567), surg<strong>em</strong> nov<strong>as</strong> fundações d<strong>as</strong> quais faz parte omosteiro beirão <strong>de</strong> Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa, <strong>em</strong> Sernancelhe quefoi o último mosteiro a ser fundado <strong>em</strong> Portugal.Deste modo, po<strong>de</strong>-se afirmar a ocorrência <strong>de</strong> três ciclos existenciais (Esq. 13e 17) fundamentais, para a consolidação <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal, a reter (Graf. 3 e4):I .Ciclo <strong>de</strong> Tarouca: <strong>as</strong>sociado às Beir<strong>as</strong> e aos primórdios da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>Cister <strong>em</strong> Portugal (Esq. 14).II.Ciclo <strong>de</strong> Alcobaça: <strong>as</strong>sociado a Alcobaça, ao <strong>de</strong>senvolvimento daOr<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal e à separação do vínculo com Claraval, econsequent<strong>em</strong>ente com Cister, através da criação da CongregaçãoAutónoma <strong>de</strong> Alcobaça (Esq. 15).III.Ciclo Real F<strong>em</strong>inino: ligado ao estabelecimento da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister, n<strong>as</strong>ua versão f<strong>em</strong>inina, <strong>em</strong>polgado e tornado possível através d<strong>as</strong>fundações e filiações <strong>de</strong> mosteiros realizad<strong>as</strong> por m<strong>em</strong>bros f<strong>em</strong>ininos darealeza portuguesa (Esq. 16).113Esq. 13 Ciclos existenciais fundamentais para a consolidação <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong>Portugal (<strong>de</strong>senho e síntese elaborados pela autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEGraf.3 Percentag<strong>em</strong> relativa aos 3 Ciclos fundamentaisna génese da consolidação da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong>Portugal (esqu<strong>em</strong>a elaborado pela autora)Graf.4 Percentag<strong>em</strong> relativa aos Mosteiros <strong>cister</strong>ciensesportugueses quanto ao género e quanto ao vínculo(esqu<strong>em</strong>a elaborado pela autora)114Esq. 14 Ciclo <strong>de</strong> Tarouca (<strong>de</strong>senho e síntese elaborados pela autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEEsq. 15 Ciclo <strong>de</strong> Alcobaça (<strong>de</strong>senho e síntese elaborados pela autora)115Esq. 16 Ciclo Real F<strong>em</strong>inino (<strong>de</strong>senho e síntese elaborados pela autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEC I C L OD E S I G N A Ç Ã O D O M O S T E I R OI TAROUCA S. João <strong>de</strong> TaroucaSanta Maria <strong>de</strong> Aguiar (inicialmente pertenceu a Moreruela)S. Tiago <strong>de</strong> SeverSanta Maria <strong>de</strong> FiãesSanta Maria do ErmeloS. Pedro da Águi<strong>as</strong> – o velhoMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Maceira DãoSanta Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>Abadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>S. Cristóvão <strong>de</strong> LafõesII ALCOBAÇA Santa Maria <strong>de</strong> AlcobaçaS. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> – o novoSanta Maria do BouroSanta Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> (inicialmente pertenceu a Oseira)Santa Maria <strong>de</strong> SeiçaSanta Maria <strong>de</strong> TomarãesSanta Maria da Estrela116S. Paulo <strong>de</strong> AlmazivaColégio do Espírito SantoS. Bento <strong>de</strong> CástrisSanta Maria <strong>de</strong> AlmosterS. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>S. Bento <strong>de</strong> Xabreg<strong>as</strong>Nossa Senhora da Conceição <strong>de</strong> PortalegreSanta Maria <strong>de</strong> CósNossa Senhora do DesterroNossa Senhora da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> TaviraNossa Senhora da Nazaré do MocamboNossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> TabosaNossa Senhora da Nazaré <strong>de</strong> SetúbalIII REAL FEMININO São Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> LorvãoSanta Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>São Pedro e São Paulo <strong>de</strong> AroucaS. Salvador d<strong>as</strong> Bouç<strong>as</strong>Esq. 17 Os três Ciclos fundamentais, que estão na génese da consolidação da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal, eseus mosteiros correspon<strong>de</strong>ntes (síntese elaborada pela autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE3.2.1.O Ciclo <strong>de</strong> TaroucaNo que respeita a informação sobre a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal po<strong>de</strong>-seafirmar que sofreu um abalo consi<strong>de</strong>rável com o incêndio no Arquivo do s<strong>em</strong>inárioDiocesano <strong>de</strong> Viseu (antigo Convento dos Nerys) <strong>em</strong> 1841 provocando a perdairrecuperável <strong>de</strong> todo o acervo monástico <strong>cister</strong>ciense, sobretudo aquele que serelacionava não só com São João <strong>de</strong> Tarouca e S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões, <strong>as</strong>simcomo também aquele que se relacionava com os mais antigos mosteiros<strong>cister</strong>cienses portugueses. 14A Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister introduziu-se no território beirão num momento <strong>em</strong> que aprópria instituição ainda se encontrava na primeira f<strong>as</strong>e <strong>de</strong> expansão,espalhando-se por todo o país acompanhando os movimentos da reconquista.Esta foi uma região muito difícil e totalmente integrada no espírito <strong>cister</strong>ciense quebuscava a comunhão com a natureza, o isolamento e o af<strong>as</strong>tamento do bulíciod<strong>as</strong> cida<strong>de</strong>s (Fig. 35).117Fig. 35 Local, inserido na região d<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong>, on<strong>de</strong> se implantao Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (fotografia da autora)14 Ver COCHERIL, Dom Maur; Etu<strong>de</strong>s sur le monachisme en Espagne et au Portugal; Collection Portugaise sous lepatronage <strong>de</strong> l’Institute français au Portugal; société d’éditions “Les Belles Lettres” - Paris; Livraria Bertrand –Lisbonne; 1966 ; pp.187-189


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEA Beira foi uma região cuj<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> <strong>de</strong> austerida<strong>de</strong> e solidão se ajustavamaos requisitos d<strong>as</strong> fundações e filiações <strong>cister</strong>cienses. As agrur<strong>as</strong> m<strong>as</strong> também <strong>as</strong>riquez<strong>as</strong> <strong>de</strong>ste território são <strong>de</strong>scrit<strong>as</strong> sabiamente pel<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> do escritor beirão,Aquilino Ribeiro:“A Beira, por ser a província mais recolhida no cerne <strong>de</strong> Portugal, serátalvez aquela <strong>em</strong> que se encontra um reportório <strong>de</strong> tradições, <strong>de</strong> usose costumes, mais genuíno e imareado. Com efeito, não parece ter sido<strong>de</strong> mol<strong>de</strong> a atrair o inv<strong>as</strong>or, e muito menos a segurá-lo a natureza dosolo com escarpa após escarpa, pedregulhal após pedregulhal,estreitos vales como no Vouga <strong>de</strong>screvendo verda<strong>de</strong>ir<strong>as</strong>circunvalações <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> cabeços <strong>em</strong>pinados. A menos que setenha operado mudança radical n<strong>as</strong> condições climátic<strong>as</strong>, po<strong>de</strong> dizerseque o aborígene agarrou-se à fraga pelo mesmo milagre por que umcarvalhiço, uma azereira, medram <strong>em</strong> cima da penedia s<strong>em</strong> que seveja o húmus que os sustenta. Também ele, <strong>de</strong>itando raízes na terra <strong>de</strong>granito, leve e pouco profunda, soube resistir e multiplicar-se.” 15118Esq. 18 Mosteiros do distrito <strong>de</strong> Viseu. (arquivo da autora)15 RIBEIRO, Aquilino; Arc<strong>as</strong> encoirad<strong>as</strong>; 5ª edição; Bertrand Editora; Lisboa; 1995; p. 111


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEA Região d<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong> (sobretudo o espaço a que correspon<strong>de</strong> o actual distrito <strong>de</strong>Viseu, Esq. 18) foi o espaço don<strong>de</strong> irradiaram muitos mosteiros <strong>cister</strong>cienses e queesteve ligada, através d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> fundações e filiações, aos objectivos <strong>de</strong>ocupação e gestão do território português.Na Beira encontram-se notáveis ex<strong>em</strong>plares arquitectónicos <strong>de</strong>sta Or<strong>de</strong>mque, apesar <strong>de</strong> distintos, comungam da mesma expressivida<strong>de</strong> marcante<strong>as</strong>sociada eternamente a uma espiritualida<strong>de</strong>, a um i<strong>de</strong>al, e a uma linguag<strong>em</strong>inicialmente austera e qu<strong>as</strong>e minimal.De facto na região d<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong> do séc. XII, mosteiros até então beneditinos ouafectos a outr<strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns religios<strong>as</strong> foram imbuídos pela presença do novo espírito<strong>cister</strong>ciense adaptando-se a novos usos e costumes.Como já foi referido, é tradicionalmente apontado como primeiro mosteiro<strong>cister</strong>ciense, no território português, o mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca (1143-1144),<strong>em</strong>bora a sua primazia seja disputada actualmente com S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões,<strong>em</strong> S. Pedro do Sul, e o último Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa (1692), <strong>em</strong>Sernancelhe.119abFig. 36 Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca (a) e mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (b). (fotografi<strong>as</strong> da autora)No que respeita à questão da primazia (Fig. 36) da teoria <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca(1143-1144), <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento da teoria <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (1138) <strong>de</strong>fendidapor Maria Alegria Marques, cabe referir a observação <strong>de</strong> Saul António Gomes:“Os primórdios <strong>cister</strong>cienses <strong>em</strong> Portugal r<strong>em</strong>ontarão, contudo, aosfinais da década <strong>de</strong> 1130 ou aos alvores do <strong>de</strong>cénio imediato. Estesprimórdios foram recent<strong>em</strong>ente reequacionados por Maria AlegriaMarques, a qual <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a introdução <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal noMosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões <strong>em</strong> 1138. Esta (re)leitura entra <strong>em</strong>oposição com os dados apurados por Miguel <strong>de</strong> Oliveira, que aponta S.João <strong>de</strong> Tarouca como porta <strong>de</strong> entrada da Or<strong>de</strong>m no nosso país,fenómeno que teria sucedido por 1144.Parece-nos ser <strong>de</strong> difícil <strong>de</strong>monstração, m<strong>as</strong> não impossível aentrada <strong>cister</strong>ciense <strong>em</strong> Lafões <strong>em</strong> 1138. A leitura que a referência


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEparte <strong>de</strong> um el<strong>em</strong>ento não comprovado fornecido por D. Rodrigo daCunha (…). D<strong>as</strong> su<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, aliás, po<strong>de</strong>ria, se interpretad<strong>as</strong> à letra,concluir-se que o documento consultado comete a imprecisão <strong>de</strong>localizar São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões no Bispado <strong>de</strong> Viseu, <strong>em</strong> 1138,quando este só foi restaurado <strong>em</strong> 1147.” 16O início da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal teve lugar quando um pequeno grupo<strong>de</strong> er<strong>em</strong>it<strong>as</strong>, <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca, se filiou na Abadia <strong>de</strong> Claraval durante aprimeira meta<strong>de</strong> do séc. XII. 17Salientam-se ainda os mosteiros <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>, <strong>em</strong> Tarouca, e<strong>de</strong> São Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, <strong>em</strong> Tabuaço, não só pel<strong>as</strong> su<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> m<strong>as</strong>também por ser<strong>em</strong> ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> sítio. Deve-se também <strong>de</strong>stacaros mosteiros <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dão, <strong>em</strong> Mangual<strong>de</strong> e Santa Maria <strong>de</strong>Aguiar, <strong>em</strong> Figueira <strong>de</strong> C<strong>as</strong>telo Rodrigo, este já no distrito da Guarda (Fig.37).120abFig. 37 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dão (a), Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria Aguiar (b).(fotografi<strong>as</strong> da autora)Ao ciclo <strong>de</strong> Tarouca (Esq. 19) pertence Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar (que inicialmente seencontrava ligada a Moreruela), S. Tiago <strong>de</strong> Sever, Santa Maria <strong>de</strong> Fiães (do qualmais tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> Santa Maria do Ermelo) e S. Pedro da Águi<strong>as</strong> - o velho (Fig.38)(a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> posteriormente funda S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> –o novo que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça).16 Cfr. GOMES, Saul António; Revisitação a um velho t<strong>em</strong>a: a fundação do Mosteiro <strong>de</strong> Alcobaça in “Act<strong>as</strong> doColóquio Internacional – Arte e Arquitectura n<strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong> Cistercienses nos Séculos XVI, XVII, XVIII / Mosteiro <strong>de</strong>Alcobaça, Nov<strong>em</strong>bro 1994”; Ministério da Cultura, Instituto Português do Património Arquitectónico; Lisboa 2000;p.34 e OLIVEIRA, Pe. Miguel <strong>de</strong>; História Eclesiástica <strong>de</strong> Portugal; 3ª edição; União Gráfica; Lisboa; 1958NOTA:Para um maior aprofundamento sobre este <strong>as</strong>sunto confrontar GOMES, Saul António; Op.cit.; pp. 27-72com MARQUES, Maria Alegria Fernan<strong>de</strong>s; Op.cit; pp.29-7317 Ver COCHERIL, Dom Maur; Notes sur l’Architecture et le Décor dans les Abbayes Cisterciennes du Portugal; col.Fontes Documentais Portugues<strong>as</strong>; vol. V; Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português; Paris 1972;p.2


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEa b cfig. 38 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães (a), Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do ermelo(b), Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong>Águi<strong>as</strong>, o velho (c). fotografi<strong>as</strong> da autora)Os mosteiros <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> (1191-1196), S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (1163)e Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dão (1188) são, <strong>de</strong> igual modo, directamente<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Claraval. Pela sua proximida<strong>de</strong> e relações com os mosteiros dociclo <strong>de</strong> Tarouca são igualmente inseridos no referido ciclo (Fig. 39 e 40).121a b cFig. 39 Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca (a), Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> (b), Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong>Lafões (c). (fotografi<strong>as</strong> da autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEC I C L O D E S I G N A Ç Ã O D O M O S T E I R O G E N E O L O G I AI.TAROUCAS. João <strong>de</strong> TaroucaSanta Maria <strong>de</strong> AguiarS. Tiago <strong>de</strong> SeverSanta Maria <strong>de</strong> FiãesSanta Maria do ErmeloS. Pedro da Águi<strong>as</strong>Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Maceira DãoSanta Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>Abadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>S. Cristóvão <strong>de</strong> LafõesClaraval – TaroucaClaraval – Moreruela – AguiarClaraval – Tarouca – AguiarClaraval - S. João <strong>de</strong> Tarouca - SeverClaraval - Tarouca – FiãesClaraval – Tarouca – Fiães – ErmeloClaraval – Tarouca – São Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>Claraval – Alcobaça – Maceira DãoClaraval – Salzed<strong>as</strong>Claraval – Salzed<strong>as</strong>Claraval – LafõesEsq.19 Mosteiros pertencentes ao “Ciclo <strong>de</strong> Tarouca” e sua ligação a Claraval(esqu<strong>em</strong>a e síntese elaborados pela autora)122Fig. 40 Dormitórios do Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca atestam <strong>as</strong>ua grandiosida<strong>de</strong> ao longo do t<strong>em</strong>po (fotografia da autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE3.2.2.O Ciclo <strong>de</strong> AlcobaçaQuanto ao ciclo <strong>de</strong> Alcobaça (Esq. 20), estão vinculados a este mosteiro, e <strong>de</strong>le<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m, S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> – o novo (como já foi referido anteriormente),Santa Maria do Bouro (do qual <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> que por sua vezpertenceu a Oseira no seu início), Santa Maria <strong>de</strong> Seiça, Santa Maria <strong>de</strong> Tomarães,Santa Maria da Estrela, S. Paulo <strong>de</strong> Almaziva, S. Bento <strong>de</strong> Cástris, Santa Maria <strong>de</strong>Almoster, S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>, S. Bento <strong>de</strong> Xabreg<strong>as</strong>, Nossa Senhora da Conceição<strong>de</strong> Portalegre, Santa Maria <strong>de</strong> Cós, Nossa Senhora do Desterro.C I C L O D E S I G N A Ç Ã O D O M O S T E I R O G E N E O L O G I AII.ALCOBAÇASanta Maria <strong>de</strong> AlcobaçaS. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>Santa Maria do BouroSanta Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>,Santa Maria <strong>de</strong> SeiçaSanta Maria <strong>de</strong> TomarãesSanta Maria da EstrelaS. Paulo <strong>de</strong> AlmazivaColégio do Espírito SantoS. Bento <strong>de</strong> CástrisSanta Maria <strong>de</strong> AlmosterS. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>S. Bento <strong>de</strong> Xabreg<strong>as</strong>Nossa Senhora da Conceição <strong>de</strong> PortalegreSanta Maria <strong>de</strong> CósNossa Senhora do DesterroNossa Senhora da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> TaviraNossa Senhora da Nazaré do MocamboNossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> TabosaClaraval - AlcobaçaAlcobaça – São Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>(Congregação Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça)Claraval – Alcobaça – BouroClaraval – Oseira – Júni<strong>as</strong>Claraval – Alcobaça – Bouro – Júni<strong>as</strong>Claraval – Alcobaça - SeiçaClaraval – Alcobaça - TamarãesClaraval – Alcobaça – Maceira Dão – EstrelaClaraval – Alcobaça - AlmazivaAlcobaça – Espírito Santo(Congregação Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça)Claraval – Alcobaça – CástrisClaraval – Alcobaça - AlmosterClaraval - Alcobaça - Odivel<strong>as</strong>Claraval - Alcobaça - Xabreg<strong>as</strong>Claraval – Alcobaça – PortalegreClaraval – Alcobaça – CósAlcobaça – Desterro(Congregação Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça)Alcobaça – Tavira(Congregação Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça)Alcobaça-Mocambo(Congregação Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça)Alcobaça – Tabosa(Congregação Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça)123Esq. 20 Mosteiros pertencentes ao “Ciclo Alcobaça” e sua ligação a Claraval(esqu<strong>em</strong>a e síntese elaborados pela autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEa b cFig. 41 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Oseira, Espanha (a), Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>, Portugal(b), Mosteiro <strong>de</strong> santa Maria do Bouro, Portugal (c). (fotografi<strong>as</strong> da autora)124a b cFig. 42 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Seiça (a), Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Conceição <strong>de</strong>Portalegre (b), Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cós (c). (fotografi<strong>as</strong> da autora)Com a <strong>de</strong>svinculação portuguesa <strong>de</strong> Cister e o n<strong>as</strong>cimento da CongregaçãoAutónoma <strong>de</strong> Alcobaça (1567) surg<strong>em</strong> nov<strong>as</strong> fundações directamente vinculad<strong>as</strong>à Abadia <strong>de</strong> Alcobaça (Fig. 43): Nossa Senhora da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tavira (1530),Nossa Senhora da Nazaré do Mocambo (1653), Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong>Tabosa (1692) e a filiação <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazaré <strong>de</strong> Setúbal que acolheu <strong>as</strong>monj<strong>as</strong> <strong>de</strong> Tabosa e do Mocambo por um breve período <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po durante oLiberalismo (filiação efémera).


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEa b cFig. 43 Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tavira (a), Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazaré <strong>de</strong> Mocambo(b), Mosteiro <strong>de</strong> nossa senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa (c). (fotografi<strong>as</strong> da autora)O Mosteiro <strong>de</strong> Alcobaça (Fig. 44) é um el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> excepção <strong>de</strong>ntro da Or<strong>de</strong>m<strong>de</strong> Cister não só pel<strong>as</strong> dimensões como pelo seu plano. A igreja <strong>de</strong> Santa Maria<strong>de</strong> Alcobaça é a maior <strong>de</strong> Portugal. 18125Fig. 44 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (fotografia da autora)18 Ver COCHERIL, Dom Maur; Etu<strong>de</strong>s sur le monachisme en Espagne et au Portugal; Collection Portugaise sous lepatronage <strong>de</strong> l’Institute français au Portugal; société d’éditions “Les Belles Lettres” - Paris; Livraria Bertrand –Lisbonne; 1966 ; p. 233


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEOs monges agrónomos <strong>de</strong> Alcobaça exerceram um trabalho notável <strong>de</strong>conquista <strong>de</strong> terra ao mar apen<strong>as</strong> igualável pela abadia <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong> Dunes,na Flandres, que conquistou ao mar a maior parte do litoral da que é hoje aBélgica actual. 19De idêntico modo, são os monges <strong>cister</strong>cienses que <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham umpapel fundamental no território pois orientaram, <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado modo, aactivida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> regiões on<strong>de</strong> se inser<strong>em</strong>.Muit<strong>as</strong> vezes <strong>as</strong> activida<strong>de</strong>s iniciad<strong>as</strong>, nos locais <strong>de</strong> implantação dosmosteiros <strong>cister</strong>cienses pelos próprios monges, mantêm-se ainda hoje activ<strong>as</strong>,como é o c<strong>as</strong>o dos Coutos <strong>de</strong> Alcobaça (Fig. 45) com <strong>as</strong> indústri<strong>as</strong> alimentaresque ainda hoje vigoram e cuja matéria-prima advém d<strong>as</strong> árvores <strong>de</strong> frutocultivad<strong>as</strong> inicialmente pelos monges. Esta activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> génese <strong>cister</strong>ciensedota esta região <strong>de</strong> uma prosperida<strong>de</strong> difícil <strong>de</strong> atingir s<strong>em</strong> este gérmen hstóricomonástico.126Fig. 45 Reservatórios <strong>de</strong> água pluvial elaborados pelos <strong>cister</strong>cienses, nos domínios dos Coutos <strong>de</strong>Alcobaça, na granja <strong>de</strong> Vale-<strong>de</strong>-Ventos, Turquel, Alcobaça que ainda hoje se utilizam (fotografiaIgeoE 20 )Cister exerceu gran<strong>de</strong> influência <strong>em</strong> Portugal, não só a nível do povoamento e<strong>de</strong>senvolvimento cultural do país como também no que respeita à arte,agricultura e política. 21Exist<strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos on<strong>de</strong> se observa a influência <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal quenão po<strong>de</strong>m ser minimizados sobretudo no que diz respeito a Alcobaça, na Or<strong>de</strong>m19 NATIVIDADE, J. Vieira; Obr<strong>as</strong> vári<strong>as</strong> – II; Edição da Comissão com<strong>em</strong>orativa promotora d<strong>as</strong> cerimóni<strong>as</strong>com<strong>em</strong>orativ<strong>as</strong> do I aniversário da morte do Prof. J. Vieira Nativida<strong>de</strong>; Alcobaça; s/d.20 Instituto Geográfico do Exército Português21 Ver COCHERIL, Dom Maur; Op. cit. ; p.181


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEmilitar <strong>de</strong> Avis (Fig. 46), no seu inicio, e <strong>de</strong>pois na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cristo (Fig. 47) filiada<strong>em</strong> Alcobaça. 22Fig. 46 Mosteiro da Or<strong>de</strong>m militar <strong>de</strong> Avis (<strong>de</strong>stacado a cor), cabeça da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Avis, inserido naactual cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Avis e on<strong>de</strong> se encontram instalados os serviços da câmara municipal (fonte IgeoE)127Fig. 47 Convento <strong>de</strong> Cristo, implantado num promontório, próximo dos limites construídos da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Tomar. (fonte IgeoE)22 No entanto, por necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação do objecto <strong>de</strong> estudo, optou-se por manter esta investigaçãoapen<strong>as</strong> centrada na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister não avançando para o seu braço militarizado – <strong>as</strong> Or<strong>de</strong>ns militares <strong>de</strong>Cristo e <strong>de</strong> Avis.


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE3.2.3.O Ciclo Real F<strong>em</strong>ininoInicialmente a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister não previa a existência <strong>de</strong> Cister no f<strong>em</strong>inino, m<strong>as</strong>a partir do séc. XIII com a fundação do Mosteiro <strong>de</strong> Tart, na Bélgica, inicia-se oramo f<strong>em</strong>inino <strong>cister</strong>ciense.O <strong>de</strong>senvolvimento da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal atingiu a sua plenitu<strong>de</strong>no momento da fundação dos mosteiros <strong>de</strong> Arouca, Cel<strong>as</strong> e Lorvão,directamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Claraval (Fig. 48).Há que referir a repercussão <strong>de</strong> Cister “no f<strong>em</strong>inino” (Esq. 21): São Mame<strong>de</strong><strong>de</strong> Lorvão, Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>, São Pedro e São Paulo <strong>de</strong> Arouca (do qual<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>u S. Salvador d<strong>as</strong> Bouç<strong>as</strong> filiado <strong>em</strong> 1228).128a b cFig. 48 Mosteiro <strong>de</strong> São Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão (a), Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong> (b), Mosteiro <strong>de</strong> SãoPedro e São Paulo <strong>de</strong> Arouca (c). (fotografi<strong>as</strong> da autora)C I C L O D E S I G N A Ç Ã O D O M O S T E I R O G E N E O L O G I AIII.REALFEMININOSão Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> LorvãoSanta Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>São Pedro e São Paulo <strong>de</strong> AroucaS. Salvador d<strong>as</strong> Bouç<strong>as</strong>Claraval - LorvãoClaraval - Cel<strong>as</strong>Claraval – AroucaClaraval - Arouca - Bouç<strong>as</strong>Esq. 21 Mosteiros pertencentes ao “Ciclo Real F<strong>em</strong>inino” e sua ligação a Claraval(esqu<strong>em</strong>a e síntese elaborados pela autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEEstes mosteiros constitu<strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque não só pela sua inovação m<strong>as</strong>também pela sua especificida<strong>de</strong> pois correspon<strong>de</strong>m à versão f<strong>em</strong>inina <strong>de</strong> Cister,<strong>de</strong> forte conotação com a realeza, tendo sido fundados pel<strong>as</strong> filh<strong>as</strong> <strong>de</strong> D. Sanchoe net<strong>as</strong> <strong>de</strong> D. Afonso Henriques: Teresa, Mafalda e Sancha.Este foi um dos motivos que levou o mosteiro <strong>de</strong> Alcobaça a ser alvo do dosfavores reais e por consequência chegará mesmo a suplantar os Crúzios <strong>de</strong>Coimbra.Sendo <strong>as</strong>sim, Lorvão foi fundado por D. Teresa, entre 1200 e 1206, Cel<strong>as</strong>fundado por D. Sancha <strong>em</strong> 1215 e Arouca filiado por D. Mafalda <strong>em</strong> 1225. 23Também são <strong>de</strong>sta época a fundação do mosteiro f<strong>em</strong>inino <strong>de</strong> Almoster <strong>em</strong>1287 e a filiação do também f<strong>em</strong>inino mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris <strong>em</strong> 1275.(Fig. 49)129a bFig. 49 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Almoster (a), Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris (b).(fotografi<strong>as</strong> da autora)Depressa a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister se tornou na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> eleição por parte d<strong>as</strong>mulheres <strong>de</strong> sangue real e da alta nobreza (Fig. 50) dando orig<strong>em</strong> <strong>as</strong>sim aoterceiro ciclo: o “Real f<strong>em</strong>inino”. Cister no f<strong>em</strong>inino ganha cada vez mais a<strong>de</strong>são:"Com <strong>as</strong> monj<strong>as</strong> o mosteiro, como realida<strong>de</strong> religiosa, p<strong>as</strong>sa a ser umlocal on<strong>de</strong> se preocupam com o Hom<strong>em</strong> e seus probl<strong>em</strong><strong>as</strong>, sofrendopela reparação dos pecados humanos. Deixa, pois, <strong>de</strong> ser umacida<strong>de</strong>la on<strong>de</strong> a igreja alcançava a perfeição, on<strong>de</strong> não se pensavana realida<strong>de</strong> exterior m<strong>as</strong> apen<strong>as</strong> na <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> um test<strong>em</strong>unho<strong>de</strong> fé no transcen<strong>de</strong>ntal. A nova imag<strong>em</strong> do mosteiro veiculada peloCister f<strong>em</strong>inino, <strong>de</strong> sofrer pelos pecados e pedir pel<strong>as</strong> necessida<strong>de</strong>s doHom<strong>em</strong>, redimensiona o êxito d<strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns cont<strong>em</strong>plativ<strong>as</strong> na Ida<strong>de</strong>23 Cfr. COCHERIL, Dom Maur; Routier <strong>de</strong>s Abbayes Cisterciennes du Portugal; col. Cultura Medieval e Mo<strong>de</strong>rna –X;Fundação Calouste Gulbenkian; Centro Cultural Português; Paris; 1978


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEMédia, re<strong>de</strong>scobrindo um meio <strong>de</strong> concretizar a missão apostólica domonaquismo.” 24130Fig. 50 Santa Mafalda, fundadora do Mosteiro <strong>de</strong> Arouca (fotografia da autora)3.3.PLENITUDE vs. DECLÍNEOAlcobaça teve um papel fundamental na povoação dos territórios, daEstr<strong>em</strong>adura, reconquistados aos Mouros. Durante séculos foi lí<strong>de</strong>r do movimentoeconómico, artístico e cultural.O espírito <strong>de</strong> Cister conotado com os seus primórdios foi-se per<strong>de</strong>ndo apouco e pouco e isso é visível, ainda durante o século XIII, como refere VictorGomes Teixeira:“ (…) a <strong>de</strong>cadência sente-se sendo visível n<strong>as</strong> rend<strong>as</strong> então aceites nosmosteiros <strong>cister</strong>cienses, na sepultura <strong>de</strong> nobres e reis nos claustros eigrej<strong>as</strong>, na hospedag<strong>em</strong> <strong>de</strong> séquitos, na isenção canónica, no24 Cfr. TEIXEIRA, Victor Gomes; Sintese da espiritualida<strong>de</strong> <strong>cister</strong>ciense in “Cister no Vale do Douro”; Grupo <strong>de</strong>Estudos <strong>de</strong> História da Viticultura Duriense e do Vinho do Porto; Edições Afrontamento; Santa Maria da Feira 1999;p.66


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEabandono gradual da simplicida<strong>de</strong> litúrgica com acrescentossucessivos” 25A partir do século XIV, surge uma certa mudança na orientação dos<strong>cister</strong>cienses e a adulteração, <strong>em</strong> <strong>de</strong>finitivo, do primitivo espírito <strong>cister</strong>ciense<strong>as</strong>sente nos ensinamentos dos Padres do <strong>de</strong>serto e da Carta <strong>de</strong> Carida<strong>de</strong>.Começaram a surgir neste momento <strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> queix<strong>as</strong> dos povoadospertencentes aos Coutos <strong>de</strong> Alcobaça contra a própria Abadia <strong>de</strong> Alcobaça equerel<strong>as</strong> entre esta e os populares “colonizadores” dos seus coutos. 26Em Portugal do séc. XV o Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça era já senhor<strong>de</strong> um v<strong>as</strong>to domínio. Até então, proce<strong>de</strong>u-se à ocupação do território e suaorganização, <strong>as</strong>sim como ao estabelecimento <strong>de</strong> um eficiente sist<strong>em</strong>aadministrativo abacial.O mal-estar entre o Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça e <strong>as</strong> populaçõescolonizador<strong>as</strong> dos seus coutos foi gran<strong>de</strong>mente agravado com a nomeação dosAba<strong>de</strong>s comendatários, o que reflectia a probl<strong>em</strong>ática e mal-estar que se sentiano seio da comunida<strong>de</strong> do próprio Mosteiro. 27O sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Aba<strong>de</strong>s comendatários foi utilizado amplamente <strong>em</strong> toda acristanda<strong>de</strong> no fim da Ida<strong>de</strong> Média. A par surgiu o aumento <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e ainfluência não só política, m<strong>as</strong> também social dos Pap<strong>as</strong>, dos car<strong>de</strong>ais, doepiscopado e do clero diocesano que conduziu a uma fragilização d<strong>as</strong>autorida<strong>de</strong>s monástico-regulares, especialmente <strong>as</strong> mais antig<strong>as</strong> no territórioportuguês como era o c<strong>as</strong>o dos beneditinos e dos <strong>cister</strong>cienses. 28O papa Gregório XI, no contexto do Cisma do Oci<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong>creta aautorida<strong>de</strong> supr<strong>em</strong>a do Papa que lhe permite a nomeação <strong>de</strong> aba<strong>de</strong>s <strong>em</strong>qualquer c<strong>as</strong>a monástica m<strong>as</strong>culina.No entanto, já o seu antecessor, o Papa Urbano V havia reservado à suavonta<strong>de</strong> o privilégio <strong>de</strong> nomear e confirmar os aba<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Alcobaça, sendo esta abadia um c<strong>as</strong>o <strong>de</strong>ver<strong>as</strong> precoce neste sentido pois:“Quando <strong>em</strong> 1475, o aba<strong>de</strong> <strong>em</strong> exercício, D, Nicolau Vieira ven<strong>de</strong> oseu cargo abacial ao Car<strong>de</strong>al D. Jorge da Costa, com o agrado régio,po<strong>de</strong>mos falar que havia já condições anteriores que <strong>de</strong>ixavamentrever uma solução s<strong>em</strong>elhante na vida <strong>de</strong>sta abadia (…).” 29O direito régio à interferência n<strong>as</strong> nomeações dos aba<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Alcobaça era umfacto:13125 Cfr. I<strong>de</strong>m; p.63-6426 AA.VV.; Arte Sacra nos Antigos Coutos <strong>de</strong> Alcobaça; IPPAR-Instituto Português do Património Arquitectónico /Ed. ASA; 1995; p.1927 I<strong>de</strong>m; p.1928 Cfr. GOMES, Saul António; Visitações a Mosteiros Cistercienses <strong>em</strong> Portugal – séculos XV-XVI; Edição do InstitutoPortuguês do Património Arquitectónico (IPPAR); 1998; pp.20-2129 Cfr. I<strong>de</strong>m; p.21


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE132“O Dom Aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alcobaça era cada vez mais uma presença naCorte, carregando distinções honorífic<strong>as</strong> <strong>de</strong> real significado político naépoca – intitulava-se do conselho <strong>de</strong>l-rei, Fronteiro-mor dos Coutos eEsmoler-mor do Reino – e andando acompanhado por um séquitoverda<strong>de</strong>iramente senhorial a que não faltavam oficiais <strong>de</strong> justiç<strong>as</strong>ecular e guarda pessoal.” 30Os mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses sofreram fort<strong>em</strong>ente durante a vigênciados Aba<strong>de</strong>s Comendatários e foram alvo da Visitação do Aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Claraval,Dom Èdme <strong>de</strong> Salieu e seu secretário Clau<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bronserval pelo que toda aatenção estava voltada para o Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça, ques<strong>em</strong>pre se <strong>de</strong>stacara pela sua importância e grandiosida<strong>de</strong>, sendo por sua vez oel<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> junção <strong>de</strong> todos os mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses.A visita <strong>de</strong> D. Èdme <strong>de</strong> Salieu, inicialmente não foi fácil pois muitos obstáculose entraves lhe foram colocados. Num momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero, o seu secretárioClau<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bronserval, chega mesmo a <strong>de</strong>screver Lisboa (cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong>aguardavam autorização para visitar <strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong> Cistercienses do Reino) <strong>de</strong> modoacutilant<strong>em</strong>ente crítico, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> a ter percorrido todos os di<strong>as</strong>, durante trêsmeses na esperança <strong>de</strong> obter uma autorização.De facto nesta altura já se fazia sentir a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> separação <strong>de</strong> Cistere <strong>de</strong> autonomia <strong>de</strong> Alcobaça, talvez por isso mesmo tivesse havido este imp<strong>as</strong>seinicial. Bronserval afirma que Lisboa é muito populosa, um receptáculo <strong>de</strong> Ju<strong>de</strong>us,um reservatório <strong>de</strong> mercadori<strong>as</strong>, uma fornalha <strong>de</strong> usurários, um estábulo <strong>de</strong>luxúria, um caos <strong>de</strong> avareza, uma montanha <strong>de</strong> orgulho, um refúgio para fugitivos,entre outros <strong>de</strong>sabafos… 31D. Èdme <strong>de</strong> Salieu é informado que não po<strong>de</strong>rá visitar n<strong>em</strong> Alcobaça, n<strong>em</strong>Seiça ao que este respon<strong>de</strong>:“Se estes dois mosteiros se apresentam no meu caminho verei osedifícios por fora e não terei o direito <strong>de</strong> lá entrar? Que maior injúriapo<strong>de</strong> ser feita a São Bernardo, já que sou o seu sucessor, <strong>de</strong> queinterditá-lo s<strong>em</strong> motivos <strong>de</strong> visitar a sua filha Alcobaça! Isto é tirânico,cruel e inumano! Alcobaça é governada, povoada e <strong>de</strong>vorada porJu<strong>de</strong>us e pelos inimigos <strong>de</strong> Cristo! E a sua entrada é interdita ao vigário<strong>de</strong> Cristo, ao único e próprio superior <strong>de</strong>ste mosteiro! As mul<strong>as</strong>, oscavalos, os cães e os pássaros têm o direito <strong>de</strong> entrar <strong>em</strong> Alcobaça e oPai Aba<strong>de</strong> não t<strong>em</strong> esse direito! Que Deus julgue esta causa e quevingue a injúria feita a S. Bernardo!” 3230 Cfr. GOMES, Saul António; Op. Cit.; p.2231 Cfr. BRONSEVAL, Frère Clau<strong>de</strong> <strong>de</strong> ; Peregrinatio Hispanica. Voyage <strong>de</strong> Dom È<strong>de</strong>me <strong>de</strong> saulieu, Abbé <strong>de</strong>Clairvaux, en Espagne et au Portugal (1531-1533); (ed. Dom Maur Cocheril); PUF; Paris; 1970; pp.328-329No original : « Civit<strong>as</strong> ista populosa val<strong>de</strong> receptaculum est Iu<strong>de</strong>orum, Indorum quamplurium nutrix, Agarenorumcarcer, mercantiarum lacus, usurarum fornax, luxiae (sic) stabulum, avaritiae chaos, superbiae mons, fugitivorumrefugium, damnatorum Gallorum recursus»32 Tradução livre, Cfr. BRONSEVAL, Frère Clau<strong>de</strong> <strong>de</strong> ; Op. cit.; pp. 406-407


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADED. João III informado do sucedido, segundo Clau<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bronserval, choraenquanto ouve o relato e respon<strong>de</strong>:“Pai Aba<strong>de</strong>, vá a Almoster acabar o bom trabalho que iniciou. Vá <strong>de</strong>Seguida a S. Bento. Durante esse t<strong>em</strong>po, tratarei do resto. (…) que lheprometo, palavra <strong>de</strong> príncipe, que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> S. Bento, visitará todo oReino e que começará por Alcobaça. Agirei <strong>de</strong> maneira a que nãoencontre nenhuma oposição e que faça a sua viag<strong>em</strong>” 33Note-se que pela bula <strong>de</strong> Alexandre VI, <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1496, reservava-se odireito <strong>de</strong> visita unicamente aos aba<strong>de</strong>s portugueses e consi<strong>de</strong>ravam-secaducados os direitos do Aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cister e do Capítulo Geral.De facto Èdme <strong>de</strong> Salieu, Aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Claraval, era representante do Capitulo-Geral pelo que só foi autorizado a visitar Alcobaça (Fig. 51) na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>“Visitador e Reformador Apostólico neste Reino d<strong>as</strong> Sagrad<strong>as</strong> Religiões <strong>de</strong> S. Bentoe <strong>de</strong> Cister por autorida<strong>de</strong> do Infante” 34 e não <strong>em</strong> nome do Capítulo-Geral ou <strong>em</strong>virtu<strong>de</strong> dos seus direitos <strong>de</strong> paternida<strong>de</strong> sobre <strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong> <strong>de</strong> filiação <strong>de</strong> Claraval.D. Èdme <strong>de</strong> Salieu e seu secretário por fim visitam Alcobaça no t<strong>em</strong>po do Aba<strong>de</strong>comendatário Car<strong>de</strong>al D. Afonso, irmão <strong>de</strong> D. João III.133Fig. 51 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (fotografia da autora)33 Tradução livre, Cfr. BRONSEVAL, Frère Clau<strong>de</strong> <strong>de</strong> ; Op. cit.; pp. 408-40934 Tradução livre, Cfr. BRONSEVAL, Frère Clau<strong>de</strong> <strong>de</strong> ; Op.cit; p. 399


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEDe facto, gran<strong>de</strong> parte dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses acabaram por seralvo da visitação do Aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Claraval, 70% no total (Esq. 22 e 23). Destapercentag<strong>em</strong> há que reter que 47% dos mosteiros eram m<strong>as</strong>culinos e 23% dosmosteiros eram f<strong>em</strong>ininos (Graf. 5). Mosteiros não visitados quer por préviaextinção ou supressão quer por ainda não existir<strong>em</strong>, foram 30% (12% m<strong>as</strong>culinoscontra 18% f<strong>em</strong>ininos). Após a sua visita ainda seriam edificados os mosteirosfundados pela então, ainda inexistente m<strong>as</strong> prestes a n<strong>as</strong>cer, CongregaçãoAutónoma <strong>de</strong> Alcobaça.No entanto, foi durante o governo abacial dos dois filhos <strong>de</strong> D. Manuel I, osAba<strong>de</strong>s Comendatários, Car<strong>de</strong>al D. Afonso e Car<strong>de</strong>al D. Henrique que surgiram <strong>as</strong>gran<strong>de</strong>s obr<strong>as</strong> no Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça, tal como <strong>de</strong>pois severificou n<strong>as</strong> vil<strong>as</strong> su<strong>as</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.GÉNEROD E S I G N A Ç Ã O D O M O S T E I R OVISITAÇÃO DE D. EDME DE SALIEU,ABADE DE CLARAVAL134M A S C U L I N OMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> FiãesMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do ErmeloMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do BouroMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>Mosteiro <strong>de</strong> São Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o velho)Mosteiro <strong>de</strong> São Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o novo)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>Abadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>Mosteiro <strong>de</strong> São João <strong>de</strong> TaroucaMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> AguiarMosteiro <strong>de</strong> São Cristovão <strong>de</strong> LafõesMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Maceira DãoMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria da EstrelaMosteiro <strong>de</strong> S. Tiago <strong>de</strong> SeverMosteiro <strong>de</strong> São Paulo <strong>de</strong> AlmazivaColégio do Espírito SantoMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> SeiçaMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> AlcobaçaMosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora do DesterroMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Tomarães22 a 26 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 153320 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 153316 a 19 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 153327 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1533não visitado (mudança <strong>de</strong> sitio)1 a 4 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 15336 a 7 <strong>de</strong> Janeiro 1533não visitado (mudança <strong>de</strong> sítio)01 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 153305 a 07 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 153303 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 153621 e 22 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 153210 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 153305 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 153205 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1532não visitado (ainda inexistente)27 <strong>de</strong> Nov. a 01 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 153206 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1532não visitado (ainda inexistente)25 e 26 <strong>de</strong> Nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1532Esq. 22 Dat<strong>as</strong> d<strong>as</strong> visitações efectuad<strong>as</strong> por D. Èdme Salieu aos mosteiros m<strong>as</strong>culinos portugueses(esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEGÉNEROD E S I G N A Ç Ã O D O M O S T E I R OVISITAÇÃO DE D. EDME DE SALIEU,ABADE DE CLARAVALF E M I N I N OMosteiro <strong>de</strong> S. Salvador d<strong>as</strong> Bouç<strong>as</strong>Mosteiro <strong>de</strong> São Pedro e São Paulo <strong>de</strong> AroucaMosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> TabosaMosteiro <strong>de</strong> São João <strong>de</strong> Vale Ma<strong>de</strong>iroMosteiro <strong>de</strong> São Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> LorvãoMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> CósMosteiro <strong>de</strong> São Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazaré do MocamboMosteiro <strong>de</strong> São Bento <strong>de</strong> Xabreg<strong>as</strong>Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> AlmosterMosteiro <strong>de</strong> São Bernardo <strong>de</strong> PortalegreMosteiro <strong>de</strong> São Bento <strong>de</strong> CástrisMosteiro Nossa Senhora da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Taviranão visitado (extinto)20 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1536não visitado (ainda inexistente)16 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 153208 a 14 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 153202 a 05 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 153224 <strong>de</strong> Nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 153205 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1532não visitado (ainda inexistente)não visitado (fundação efémera)14 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1532não visitado (ainda inexistente)05 <strong>de</strong> Nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1532não visitado (ainda inexistente)Esq. 23 Dat<strong>as</strong> d<strong>as</strong> visitações efectuad<strong>as</strong> por D. Èdme Salieu aos mosteiros f<strong>em</strong>ininos portugueses(esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)135Graf. 5 Percentag<strong>em</strong> d<strong>as</strong> visitações <strong>de</strong> D. Èdme Salieu aos mosteiros<strong>cister</strong>cienses portugueses (esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE3.3.1.A Congregação Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça136Na fronteira t<strong>em</strong>poral, entre o <strong>de</strong>albar do mundo mo<strong>de</strong>rno e o final domundo medieval, surge um facto histórico que se traduz pela tentativa <strong>de</strong> fazerconvergir a tradição monástica com os t<strong>em</strong>pos medievais. Porém, este facto<strong>de</strong>verá ser encarado à luz da nova maneira <strong>de</strong> ser mo<strong>de</strong>rna, isto é, segundo<strong>as</strong>pectos individuais, experimentais e psicológicos.M<strong>as</strong> acima <strong>de</strong> tudo, este facto, só foi possível, como refere Rafael <strong>de</strong>P<strong>as</strong>cual 35 , porque os monges souberam cultivar do mesmo modo a teologiadogmática, a história, a pregação, a Bíblia e a patrística, colocando a ciênciateológica ao serviço da espiritualida<strong>de</strong> e da vida monástica. M<strong>as</strong>, ao longo dot<strong>em</strong>po, notou-se um progressivo af<strong>as</strong>tamento entre a espiritualida<strong>de</strong> e adogmática, entre o saber e a vida, entre a doutrina e a santida<strong>de</strong> tal como erapatente nos Padres do Deserto.Os monges <strong>cister</strong>cienses d<strong>as</strong> congregações que foram aparecendo, umpouco por toda a Europa, e entre <strong>as</strong> quais se <strong>de</strong>staca a Congregação Autónoma<strong>de</strong> Alcobaça, já não pretendiam ser puros “cont<strong>em</strong>plativos” <strong>em</strong> contraposiçãoaos “Cristãos práticos do mundo”, m<strong>as</strong> sim ser<strong>em</strong> capazes <strong>de</strong> conseguir atravésda sua simplicida<strong>de</strong> primitiva a síntese cristã <strong>de</strong> acção e <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>,apresentando-a novamente à Igreja do seu t<strong>em</strong>po:“El mundo con el que se encuentran ya no es el <strong>de</strong> Dante, quien sóloexpresaba l<strong>as</strong> disonanci<strong>as</strong> <strong>de</strong>l mundo para <strong>de</strong>scubrir una armoní<strong>as</strong>uperior. A finales <strong>de</strong>l s. XVI, principios <strong>de</strong>l XVII, la experiencia <strong>de</strong> larotación <strong>de</strong> la Tierra sobre su eje, y la nueva ciencia copernicana <strong>de</strong>lcosmos abierto habían ido minando la antigua visión teológica <strong>de</strong>lmundo y el mito <strong>de</strong> una evi<strong>de</strong>ncia o intuición <strong>de</strong> la correspon<strong>de</strong>nciaentre el cielo y la tierra, la naturaleza y la gracia, el saber y el creer, elhombre y Dios. La respuesta <strong>de</strong> la reforma católica postri<strong>de</strong>ntina pararecomponer esta fractura se va a centrar sobre todo en laespeculación teológica <strong>de</strong> la escolástica barroca y en el éxt<strong>as</strong>is místico,intentando repensar los probl<strong>em</strong><strong>as</strong> y tensiones a través,respectivamente, <strong>de</strong> una nueva síntesis metafísica y <strong>de</strong> la ciencia <strong>de</strong> lossantos y los tratados <strong>de</strong> teología mística.” 36Deste modo <strong>as</strong> congregações autónom<strong>as</strong> estão relacionad<strong>as</strong> com movimentos<strong>de</strong> reforma <strong>de</strong> carácter regionalista, isto é, surg<strong>em</strong> não só por um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>reforma, m<strong>as</strong> também por uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência, face àsinfluênci<strong>as</strong> polític<strong>as</strong> <strong>de</strong> outros países, e à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteger os mosteiros mais35 PASCUAL, F. Francisco Rafael <strong>de</strong>; L<strong>as</strong> Congregaciones <strong>cister</strong>cienses <strong>de</strong> la Península Ibérica; Abadia <strong>de</strong> Viaceli;s/d.; texto inédito policopiado; s/paginação36 I<strong>de</strong>m


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEpequenos d<strong>as</strong> Visitações <strong>em</strong>preendid<strong>as</strong> por visitadores estrangeiros. Como refereRafael <strong>de</strong> P<strong>as</strong>cual:“La Congregación <strong>de</strong> C<strong>as</strong>tilla nació <strong>de</strong> un auténtico <strong>de</strong>seo <strong>de</strong> reforma,y como una reforma; l<strong>as</strong> <strong>de</strong> Aragón-Navarra y Portugal por un <strong>de</strong>seo <strong>de</strong>in<strong>de</strong>pendizarse <strong>de</strong> l<strong>as</strong> influenci<strong>as</strong> polític<strong>as</strong> <strong>de</strong> otros países y por el <strong>de</strong>seo<strong>de</strong> proteger a los mon<strong>as</strong>terios más débiles <strong>de</strong> visitadores extranjeros.(…)Un sincero <strong>de</strong>seo <strong>de</strong> reforma lleva a los diferentes mon<strong>as</strong>terios abuscar el principio <strong>de</strong> su regeneración en reagrupamientos monásticos,no según la escala <strong>de</strong>m<strong>as</strong>iado amplia <strong>de</strong> la cristiandad medieval, sinoa la escala más restringida <strong>de</strong> l<strong>as</strong> nacionalida<strong>de</strong>s.“ 37De facto, <strong>em</strong> meados do século XV, com o <strong>de</strong>albar do mundo mo<strong>de</strong>rno,começam a surgir fraquez<strong>as</strong> na acção e autorida<strong>de</strong> do Capítulo Geralfavorecid<strong>as</strong> pelo nacionalismo exacerbado que marcou esta época <strong>as</strong>sim comotoda a renovação exigida pelo Concílio <strong>de</strong> Trento e <strong>de</strong>mais instânci<strong>as</strong>eclesiástic<strong>as</strong> <strong>de</strong> vári<strong>as</strong> nações europei<strong>as</strong>.O individualismo da Reforma e o espírito ren<strong>as</strong>centista provocaram s<strong>em</strong>dúvida alguma exacerbação e exageros nacionalist<strong>as</strong> que por sua vez originaramtendênci<strong>as</strong> separatist<strong>as</strong>. Como refere mais uma vez P<strong>as</strong>cual:“Así se explica el nacimiento <strong>de</strong> congregaciones <strong>cister</strong>cienses, quedieron un toque <strong>de</strong> originalidad a la Or<strong>de</strong>n <strong>de</strong>l mismo nombre y <strong>de</strong>jaronhonda influencia en la evolución <strong>de</strong>l <strong>de</strong>recho <strong>cister</strong>ciense. Tod<strong>as</strong> l<strong>as</strong>nuev<strong>as</strong> Congregaciones <strong>as</strong>piraron a establecer su <strong>de</strong>recho particular ysus instituciones jurídic<strong>as</strong> propi<strong>as</strong>: constituciones y <strong>de</strong>finiciones, bul<strong>as</strong>pontifici<strong>as</strong>, privilegios reales, estatutos elaborados en los Capítulos.” 38O processo seguido para a autonomia dos <strong>cister</strong>cienses portugueses não foiimediato sendo favorecido pela própria história da Igreja, como refere SaulAntónio Gomes:“O cisma da Igreja contribuiu fort<strong>em</strong>ente para essa evolução histórica.Alcobaça, porque abadia real e ‘estr<strong>em</strong>ada camara <strong>de</strong> reis’ cedo seencaminhou para o papel histórico <strong>de</strong> arqui-abacial da Or<strong>de</strong>m <strong>em</strong>Portugal. Essa era uma realida<strong>de</strong> perfeitamente adquirida no ultimoterço <strong>de</strong> trezentos (…).” 39Em 1459 o Papa Pio II, através da bula Constitutus in specula, conce<strong>de</strong>u ao Aba<strong>de</strong><strong>de</strong> Alcobaça o po<strong>de</strong>r do exercício <strong>de</strong> visitação <strong>em</strong> todos os mosteiros<strong>cister</strong>cienses portugueses. Pelo que:13737 PASCUAL, F. Francisco Rafael <strong>de</strong>; Op. Cit.38 Cfr. I<strong>de</strong>m39 Cfr. GOMES, Saul António; Oito séculos <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal: questões <strong>em</strong> aberto in in “Act<strong>as</strong> <strong>de</strong>l III CongresoInternacional sobre el Císter en Galicia y en Portugal”; tomo I; Ediciones Monte C<strong>as</strong>ino; Zamora 2006; p.53


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE“O Papa <strong>de</strong>terminava também que, c<strong>as</strong>o Cister não acat<strong>as</strong>se o seu<strong>de</strong>creto, cumpria ao Aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alcobaça convocar todos os outrosaba<strong>de</strong>s do reino e, com eles, eleger por maioria <strong>de</strong> votos doisvisitadores. Isentava, ainda, os aba<strong>de</strong>s portugueses da obrigação <strong>de</strong> se<strong>de</strong>slocar<strong>em</strong> todos os anos a Cister para <strong>as</strong>sistir<strong>em</strong> ao Capítulo <strong>de</strong>Set<strong>em</strong>bro” 40A 26 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1567 o Papa Pio V, através da bula P<strong>as</strong>toralis officii, eleva osmosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses à categoria <strong>de</strong> Congregação cuja<strong>de</strong>nominação oficial era Congregação <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça da Or<strong>de</strong>m<strong>de</strong> S. Bernardo nos Reinos <strong>de</strong> Portugal e do Algarve. 41 (Fig. 52 e Esq. 24)138Fig. 52 Gravura com <strong>as</strong> arm<strong>as</strong> da Congregação Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça,presente na obra <strong>de</strong> Fr. Manoel Figueiredo, Alcobaça Ilustrada 4240 Cfr. GOMES, Saul António; Visitações a Mosteiros Cistercienses <strong>em</strong> Portugal – séculos XV-XVI; Edição do InstitutoPortuguês do Património Arquitectónico (IPPAR); 1998; p.1841 Cfr. PASCUAL, F. Francisco Rafael <strong>de</strong>; Op. Cit.42 In GOMES, Saul António; Op. Cit.; p. 387


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADENa sua génese não houve uma tentativa explícita <strong>de</strong> efectuar o corte com aautorida<strong>de</strong> do Capítulo Geral da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister, m<strong>as</strong> era um facto que <strong>de</strong>s<strong>de</strong>há muito os Aba<strong>de</strong>s portugueses não participavam no Capítulo Geral.O Car<strong>de</strong>al D. Henrique obteve do Papa Gregório XIII o privilégio <strong>de</strong>permanecer responsável pelo Mosteiro <strong>de</strong> santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça e ser oprimeiro Aba<strong>de</strong> Geral da CongregaçãoCom a Congregação Autónoma instituíram-se abaciados trienais ereformaram-se velhos costumes como n<strong>as</strong> <strong>de</strong>mais congregações <strong>cister</strong>cienses. Talcomo nest<strong>as</strong>, também a Congregação Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça possuía um“Aba<strong>de</strong> Geral” que era, <strong>em</strong> Portugal, simultaneamente Aba<strong>de</strong> do Mosteiro <strong>de</strong>Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça.Os aba<strong>de</strong>s eram eleitos pelo Capítulo Geral e podiam sê-lo por du<strong>as</strong> vezes.Os visitadores possuíam plenos po<strong>de</strong>res para aplicar <strong>as</strong> norm<strong>as</strong> da CongregaçãoAutónoma <strong>de</strong> Alcobaça. Procurava-se restabelecer e melhorar a observância<strong>cister</strong>ciense adaptando-a aos novos t<strong>em</strong>pos longe da época medieval e dos seususos. A observância <strong>cister</strong>ciense foi adaptada às norm<strong>as</strong> e reform<strong>as</strong> da Igreja eOr<strong>de</strong>ns Religios<strong>as</strong> ditad<strong>as</strong> pelo Concílio <strong>de</strong> Trento. Os monges <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> possuiro voto <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ndo mesmo <strong>de</strong>r <strong>de</strong>slocados para outros mosteirosatravés do voto <strong>de</strong> obediência. 43Esta foi uma época <strong>de</strong> renovação espiritual, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s obr<strong>as</strong> e restauros,<strong>de</strong> investimento na formação (Fig. 53), tudo o que levou à existência <strong>de</strong> mongesou monj<strong>as</strong> que eram <strong>em</strong> simultâneo gran<strong>de</strong>s intelectuais e homens ou mulheres <strong>de</strong>elevado valor.“Foram centúri<strong>as</strong> <strong>em</strong> que brilharam intelectuais <strong>cister</strong>cienses com obraprópria, c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> teólogos e sobretudo historiógrafos, florescendo n<strong>as</strong>divers<strong>as</strong> abadi<strong>as</strong> da Or<strong>de</strong>m, artist<strong>as</strong> como músicos, barrist<strong>as</strong>,iluminadores, arquitectos e escultores.(...) Conheceu a Congregaçãoportuguesa, nos alvores <strong>de</strong> Setecentos, a confirmação da elevaçãoaos altares d<strong>as</strong> Beat<strong>as</strong> Sancha, Teresa e Mafalda. Como <strong>em</strong> Ávila,também <strong>em</strong> Portugal se conheceram, posto que mais mo<strong>de</strong>st<strong>as</strong>,religios<strong>as</strong> visionári<strong>as</strong>, <strong>de</strong> que o ex<strong>em</strong>plo mais divulgado é o da MadreBenta <strong>de</strong> Aguiar, aba<strong>de</strong>ssa <strong>de</strong> Cós falecida <strong>em</strong> 1578, a qual o Car<strong>de</strong>alD. Henrique mandava consultar frequent<strong>em</strong>ente” 4413943 Cfr. PASCUAL, F. Francisco Rafael <strong>de</strong>; Op. Cit. / Cfr. GOMES, Saul António; Op. Cit. / Cfr. GOMES, Saul António; ACongregação <strong>cister</strong>cienses <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça nos séculos XVI e XVII: el<strong>em</strong>entos para o seuconhecimento in “Lusitania Sacra”; tomo XVIII; 2ª série; Centro <strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong> História Religiosa – Universida<strong>de</strong>Católica Portuguesa; Lisboa, 2006; pp. 375-43144 Cfr. GOMES, Saul António; Oito séculos <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal: questões <strong>em</strong> aberto in in “Act<strong>as</strong> <strong>de</strong>l III CongresoInternacional sobre el Císter en Galicia y en Portugal”; tomo I; Ediciones Monte C<strong>as</strong>ino; Zamora 2006; p.54


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEINCORPORADOSSUPRIMIDOSFUNDADOSSTª Mª FIÃESSTª Mª ERMELOM O S T E I R O S M A S C U L I N O SSTª Mª BOUROSTª Mª JÚNIASS. PEDRO ÁGUIASSTª Mª SALZEDASS. JOÃO TAROUCASTª Mª AGUIARS. CRISTÓVÃO LAFÕESSTª Mª MACEIRA DÃOS. TIAGO SEVERSTª Mª TOMARÃESCONGREGAÇÃODE SANTA MARIADE ALCOBAÇA DAORDEM DE SÃOBERNARDO NOSREINOS DEPORTUGAL E DOALGARVECOL. ESPIRITO SANTON. SRª DESTERROSTª Mª ESTRELAS. PAULO ALMAZIVASTA. Mª DE ALCOBAÇASTª Mª SEIÇA140M O S T E I R O S F E M I N I N O SS. P.P. AROUCAS. M. LORVÃOSTª Mª CELASSTª Mª CÓSS. DINIS ODIVELASSTº Mª ALMOSTERS. BERN. PORTALEGRECONGREGAÇÃOAUTÓNOMA DEALCOBAÇAS. SALVADOR BOUÇASS. JOÃO VALE MADEIROS. BENTO XABREGASN. SRª A. TABOSAN. SRª MOCAMBON. SRª P. TAVIRAINCORPORADOSSUPRIMIDOSFUNDADOSEsq. 24 Congregação <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> são Bernardo nos Reinos <strong>de</strong> Portugal e doAlgarve, vulgo Congregação Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça: fundações e incorporações monástic<strong>as</strong> quer f<strong>em</strong>inin<strong>as</strong>,quer m<strong>as</strong>culin<strong>as</strong>. 45 (esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)45 Nota: os mosteiros suprimidos foram-no sendo ao longo do t<strong>em</strong>po. É ainda <strong>de</strong> referir como <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte daCongregação Autónoma o Colégio da Conceição anexo ao Mosteiro <strong>de</strong> Alcobaça, <strong>de</strong>struído aquando o


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE141Fig. 53 Frontispício da obra <strong>de</strong> Fr. Manoel <strong>de</strong> Figueiredo, Alcobaça Ilustrada 46terramoto <strong>de</strong> 1755,, apesar <strong>de</strong> não figurar <strong>de</strong>ste esqu<strong>em</strong>a. Optou-se apen<strong>as</strong> pela sua menção pois naactualida<strong>de</strong> não exist<strong>em</strong> vestígios do mesmo.46 In GOMES, Saul António; Visitações a Mosteiros Cistercienses <strong>em</strong> Portugal – séculos XV-XVI; Edição do InstitutoPortuguês do Património Arquitectónico (IPPAR); 1998; p. 225


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEGÉN D E S I G N A Ç Ã O FUNDAÇÃOFILIAÇÃOSUPRESSÃOEXTINÇÃOSanta Maria <strong>de</strong> Fiães119417751775Santa Maria do Ermelo127115601560Santa Maria do Bouro1195-1834Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>1248XVIIXVIISão Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>11701775 até 17771834Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>1196-1834São João <strong>de</strong> Tarouca11441543 até 15591834M A S C U L I N OSanta Maria <strong>de</strong> AguiarSão Cristovão <strong>de</strong> LafõesSanta Maria <strong>de</strong> Maceira DãoSanta Maria da EstrelaS. Tiago <strong>de</strong> Sever11651162118812201143-44-1775 até 17771775 até 17771579XIII1834183418341579XIIISão Paulo <strong>de</strong> Almaziva12211554 até 15591555Colégio do Espírito Santo1545-1834Santa Maria <strong>de</strong> Seiça11951545 até 156618341775 até 1777Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça115318331833142Nossa Senhora do DesterroSanta Maria <strong>de</strong> Tomarães159112171755?1554?1554S. Salvador d<strong>as</strong> Bouç<strong>as</strong>1228??São Pedro e São Paulo <strong>de</strong> Arouca12241775 até 17771834N. Srª da Assunção <strong>de</strong> Tabosa16851775 até 17791834São João <strong>de</strong> Vale Ma<strong>de</strong>iro153215601560São Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão1206-1834Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>1214-1834F E M I N I N OSanta Maria <strong>de</strong> CósSão Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>N. Srª da Nazaré do MocamboSão Bento <strong>de</strong> Xabreg<strong>as</strong>1241129416541429--1775 até 1777XV183418341834XVSanta Maria <strong>de</strong> Almoster12871775 até 17771834São Bernardo <strong>de</strong> Portalegre15181775 até 17771834São Bento <strong>de</strong> Cástris127517751776N. Srª da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tavira1509-1834N. Srª da Nazaré <strong>de</strong> Setúbal1769-1834Esq. 25 Dat<strong>as</strong> <strong>de</strong> supressão e <strong>de</strong> extinção dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses.(esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE3.3.2.A EXTINÇÃO: Decreto <strong>de</strong> 1834 e a <strong>de</strong>samortizaçãoA extinção <strong>de</strong> alguns dos mosteiros da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister começou muito antes <strong>de</strong>1834 (Esq. 25). Após a euforia e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> renovação gerad<strong>as</strong> pela criação daCongregação Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça muitos mosteiros quer pelo seu estadofísico, quer pelo seu estado económico, quer pelo seu estado “humano” foramsuprimidos e <strong>as</strong> ru<strong>as</strong> rend<strong>as</strong> anexad<strong>as</strong> a outros mosteiros da mesma congregação.143Fig. 54 Gravura, datada <strong>de</strong> 1838 , apresentando o Marquês <strong>de</strong>Pombal, Seb<strong>as</strong>tião José <strong>de</strong> Carvalho e Melo, tio <strong>de</strong> D. Frei Manoel<strong>de</strong> Mendonça, Aba<strong>de</strong> Geral da Congregação Autónoma <strong>de</strong>Alcobaça (Biblioteca Nacional)D. Frei Manoel <strong>de</strong> Mendonça, Aba<strong>de</strong> Geral da congregação Autónoma <strong>de</strong>Alcobaça e sobrinho <strong>de</strong> Seb<strong>as</strong>tião José <strong>de</strong> Carvalho e Melo, Marquês <strong>de</strong> Pombal(fig. 54), numa Carta p<strong>as</strong>toral datada <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1774 dirigida aos religiososda Or<strong>de</strong>m constata que o fervor religioso t<strong>em</strong> vindo a esmorecer <strong>as</strong>sim como aexistência <strong>de</strong> um número <strong>de</strong>m<strong>as</strong>iado elevado <strong>de</strong> religiosos no seio daCongregação.D. Manoel Mendonça acreditava ser melhor ter menos monges m<strong>as</strong> maisesclarecidos e <strong>as</strong>sumidos do que muitos “com pouca utilida<strong>de</strong>”. 47 Recorda aindaos <strong>de</strong>veres essenciais dos monges da Congregação: a obediência, a pobreza e a47 Cfr. MOTA, Salvador Magalhães; A acção <strong>de</strong> D. Frei Manoel <strong>de</strong> Mendonça à frente dos <strong>de</strong>stinos daCongregação <strong>de</strong> Sta. Maria <strong>de</strong> Alcobaça da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> S. Bernardo (1768-1777) in “Estudos <strong>em</strong> Homenag<strong>em</strong> aLuís António <strong>de</strong> Oliveira Ramos; Ed. FLUP – Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letr<strong>as</strong> da Universida<strong>de</strong> do Porto; Porto 2004; p.773 ep.775


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEc<strong>as</strong>tida<strong>de</strong>. Apela ao estudo da Sagrada Escritura <strong>as</strong>sim como à leitura da vida eobra dos Santos Padres.Era necessário manter o Colégio do Espírito Santo <strong>em</strong> Coimbra e efectuarobr<strong>as</strong> <strong>em</strong> muitos dos mosteiros <strong>de</strong>struídos gran<strong>de</strong>mente pelo trágico terramoto <strong>de</strong>1755. A <strong>de</strong>struição <strong>de</strong>ste tr<strong>em</strong>or <strong>de</strong> terra fora implacável atingindo aCongregação um pouco por toda a parte m<strong>as</strong> com especial incidência nosmosteiros mais próximos do epicentro da tragédia: Nossa Senhora do Mocambo,Nossa Senhora do Desterro, S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>, Sta Maria <strong>de</strong> Alcobaça e oColégio da Conceição. O interesse posto na reconstrução do Colégio é <strong>de</strong>sobr<strong>em</strong>aneira elevado.144Fig. 55 Selo <strong>de</strong> chapa do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça.(Arquivo da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra)Deste modo, a 2 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1775, por Carta Régia, D. Manoel Mendonça éhonrado com o título <strong>de</strong> fundador do Real Colégio <strong>de</strong> Nossa Senhora daConceição com autorização (confirmada por bula papal) <strong>de</strong> unir e extinguirmosteiros e rendimentos uns aos outros.Os po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> que fora revestido eram ilimitados e aplicavam-se não só aoque fora anteriormente referido m<strong>as</strong> também se aplicavam à visitação e reforma<strong>de</strong> todos os mosteiros da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister ou seja da Congregação Autónoma <strong>de</strong>Alcobaça (Fig. 55):“(…) com a mesma autorida<strong>de</strong> com que o Aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cister o fazia porbreve <strong>de</strong> Eugénio IV…igualmente no Espiritual e no T<strong>em</strong>poral usando d<strong>as</strong>ua própria jurisdição ordinária e da plena omnimo da autorida<strong>de</strong>apostólica que para este efeito lhe conferia…” 4848 Cfr. MOTA, Salvador Magalhães; Op. cit.; p.776


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEDeste modo, <strong>em</strong> 1775,os mosteiros <strong>de</strong> pequenos rendimentos como S. Pedro d<strong>as</strong>Águi<strong>as</strong>, S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões, Santa Maria <strong>de</strong> Seiça, Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dãosão extintos e anexados ao Colégio da Conceição. Utilizando o mesmoargumento <strong>de</strong> rentabilizar <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> e concentrar monges e monj<strong>as</strong> <strong>em</strong> maioresmosteiros, extingue S. Bento <strong>de</strong> Cástris, S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre, Santa Maria <strong>de</strong>Almoster, Nossa Senhora do Mocambo e Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa. 49145Fig. 56 Selo <strong>de</strong> chapa <strong>de</strong> D. Maria I.(Arquivo da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra)No entanto, <strong>em</strong> 1777, com a subida ao po<strong>de</strong>r da Rainha D. Maria I (Fig. 56) e aqueda <strong>de</strong> D. Manoel Mendonça, restauram-se os mosteiros extintos dois anosantes. Deste modo, a título ex<strong>em</strong>plificativo, apresenta-se o test<strong>em</strong>unho escrito, n<strong>as</strong>cost<strong>as</strong> do ca<strong>de</strong>iral do coro-alto do Mosteiro <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre, sobre aperseguição, expulsão e <strong>de</strong>pois o retorno d<strong>as</strong> monj<strong>as</strong> <strong>de</strong>ste mosteiro.“No ano <strong>de</strong> mil setecentos e setenta e seis, <strong>de</strong>struiu-se este Mosteiro e<strong>de</strong>le saíram <strong>as</strong> religios<strong>as</strong> <strong>em</strong> du<strong>as</strong> partid<strong>as</strong>, para o Mosteiro <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>.As primeir<strong>as</strong> <strong>em</strong> 30 <strong>de</strong> Abril e <strong>as</strong> segund<strong>as</strong> <strong>em</strong> 8 <strong>de</strong> Maio do mesmo ano,sendo o Geral da Congregação o Padre Manuel <strong>de</strong> Mendonça eAba<strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>ste Mosteiro a Madre D. Joaquina Leonor Quifel Barbarino<strong>de</strong> Almeida. Em toda a jornada, e no restante t<strong>em</strong>po que <strong>as</strong> religios<strong>as</strong>estiveram no Mosteiro <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong> (que não chegou a ano e meio)49 Cfr. I<strong>de</strong>m; p.776


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE146pa<strong>de</strong>ceram trabalhos e <strong>de</strong>sgostos iguais <strong>em</strong> tudo como à sua primeirainfelicida<strong>de</strong> e quão b<strong>em</strong> se po<strong>de</strong> explicar (?) que subindo ao céu osclamores <strong>de</strong> tant<strong>as</strong> filh<strong>as</strong> da religião perseguid<strong>as</strong> e <strong>de</strong>sterrad<strong>as</strong>, foi oSenhor servido a ouvir os rogos e permitir que subisse ao augusto trono<strong>de</strong>ste reino a rainha Nossa Senhora D. Maria I; que logo no princípio doseu governo, lamentando a <strong>de</strong>struição que tinha havido n<strong>as</strong> c<strong>as</strong><strong>as</strong> doSenhor e a impieda<strong>de</strong> e injustiç<strong>as</strong> com que se tinham <strong>de</strong>sterrado dosseus mosteiros a maior parte d<strong>as</strong> religios<strong>as</strong> <strong>de</strong>sta Congregação, foiservida a mesma senhora mandar que s<strong>em</strong> <strong>de</strong>mor<strong>as</strong> se repar<strong>as</strong>s<strong>em</strong>todos os mosteiros <strong>de</strong>struídos e se restituísse a cada um <strong>as</strong> su<strong>as</strong>respectiv<strong>as</strong> religios<strong>as</strong>. Em 28 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1777começava-se a obra doconserto <strong>de</strong>ste Mosteiro, não tendo ficado nele outra coisa mais quepare<strong>de</strong>s e telhados, e no espaço <strong>de</strong> mês e meio se pôs o Mosteiropronto e a clausura <strong>de</strong>cente para se recolher<strong>em</strong> <strong>as</strong> religios<strong>as</strong>, tendotrabalhado <strong>em</strong> todo este t<strong>em</strong>po sessenta pesso<strong>as</strong> e <strong>em</strong> que se fezgran<strong>de</strong> <strong>de</strong>spesa. Sairiam logo <strong>as</strong> religios<strong>as</strong> <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong> no mês <strong>de</strong>Set<strong>em</strong>bro do mesmo ano, se não houvesse inconvenientes para issoporém, vencido tudo, recolheram-se <strong>as</strong> religios<strong>as</strong> a este seu Mosteiro nodia 13 <strong>de</strong> Nov<strong>em</strong>bro do ano <strong>de</strong> 1777, com gran<strong>de</strong> alegria e alvoroço<strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>, repiques <strong>de</strong> sinos e mais festejos, entrandoprimeiramente <strong>as</strong> religios<strong>as</strong> para a igreja, post<strong>as</strong> na capela-mor seuEsposo Santíssimo, cantando o seu Te Deo pelos músicos da Sé.Acabad<strong>as</strong> <strong>as</strong> orações recolheram-se <strong>as</strong> religios<strong>as</strong> pela portaria paranovamente povoar<strong>em</strong> este santuário que com tant<strong>as</strong> lágrim<strong>as</strong> foi<strong>de</strong>struído. E nos di<strong>as</strong> seguintes, da entrada, vieram tod<strong>as</strong> <strong>as</strong>comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> a esta igreja cantar a Deus louvores pelarestauração da sua C<strong>as</strong>a. De tudo isto foram continuando <strong>as</strong> obr<strong>as</strong> que<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> dois anos se pôs o Mosteiro completo fazendo-seultimamente esta obra no ano <strong>de</strong> 1779 sendo D. Aba<strong>de</strong>ssa a Madre D.Joaquina Leonor Quifel Barbarino <strong>de</strong> Almeida que foi segunda vezeleita, na primeira eleição que <strong>as</strong> religios<strong>as</strong> fizeram <strong>de</strong>pois que serecolheram a este mosteiro.” 50O século XIX trouxe consigo fortes doutrin<strong>as</strong> antimonástic<strong>as</strong> <strong>de</strong>correntes dosprincípios e i<strong>de</strong>ais da Revolução Francesa. (Fig. 58)Em Portugal, <strong>as</strong> Inv<strong>as</strong>ões frances<strong>as</strong> s<strong>em</strong>earam um r<strong>as</strong>to <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição (Fig. 57)e saque dos mosteiros o que contribuiu ainda mais para agudizar o estado<strong>de</strong>plorável e <strong>de</strong> crise <strong>em</strong> que já se encontravam.50 Cfr anexo 9.2.8, pp. 1610-1611. Deve-se salientar que esta foi uma <strong>de</strong>scoberta interessantíssima, <strong>de</strong> algo quecaíra no esquecimento da população <strong>de</strong> Portalegre, uma vez, que n<strong>em</strong> o próprio relações-públic<strong>as</strong> da GNR(entida<strong>de</strong> que ocupa o Mosteiro <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre) sabia da sua existência.


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE147Fig. 57 / Fig. 58 Desenho (aguada <strong>de</strong> tinta da china e guache branco), datada <strong>de</strong> 1807-1809 , da Série “AsInv<strong>as</strong>ões Frances<strong>as</strong>” (17 <strong>de</strong>senhos alegóricos, satíricos e panfletários anti-napoleónicos), apresentando “<strong>as</strong>miséri<strong>as</strong> que sofreu a Religião”. Autoria <strong>de</strong> Cirilo Volkmar Machado, 1748-1823 (Biblioteca Nacional)Como consequência da guerra civil entre Liberais, partidários <strong>de</strong> D. Pedro, eAbsolutist<strong>as</strong>, partidários <strong>de</strong> D. Miguel, os Monges <strong>cister</strong>cienses <strong>de</strong> Alcobaçaabandonaram o Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça <strong>em</strong> 1833, com receio daexpulsão pelo apoio e afinida<strong>de</strong>s Miguelist<strong>as</strong>, antecipando <strong>de</strong>ste modo o horrorda extinção d<strong>as</strong> Or<strong>de</strong>ns Religios<strong>as</strong> um ano antes <strong>de</strong> esta ocorrer.De facto o século XIX caracterizou-se por um anticlericalismo crescente queculminou com a extinção d<strong>as</strong> Or<strong>de</strong>ns Religios<strong>as</strong>, por <strong>de</strong>creto datado <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong>Maio <strong>de</strong> 1834 e promulgado a 30 <strong>de</strong> Maio do mesmo ano, <strong>de</strong>stinado àsecularização dos bens eclesiásticos, redigido por Joaquim António Aguiar (Fig.59), ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça e promulgado pelo regente D.Pedro contra o parecer expresso do Conselho <strong>de</strong> Estado.


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE148Fig. 59 Litografia, apresentando Joaquim António <strong>de</strong> Aguiar,Presi<strong>de</strong>nte do Conselho <strong>de</strong> Ministros e Secretário dos Negócios doReino da autoria <strong>de</strong> António Manuel da Fonseca, 1796-1890(Biblioteca Nacional)Este <strong>de</strong>creto <strong>de</strong>terminava a total e imediata extinção dos mosteiros, conventos,colégios, hospícios e tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> c<strong>as</strong><strong>as</strong> religios<strong>as</strong> e or<strong>de</strong>ns regulares,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente da sua <strong>de</strong>nominação, instituto ou regra tal como é referidopelos três primeiros artigos do referido <strong>de</strong>creto:“Art. 1.º - Ficam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já extintos <strong>em</strong> Portugal, Algarve, ilh<strong>as</strong> adjacentese domínios portugueses todos os conventos, mosteiros, colégios,hospícios e quaisquer c<strong>as</strong><strong>as</strong> <strong>de</strong> religiosos <strong>de</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns regulares,seja qual for a sua <strong>de</strong>nominação, instituto, ou regra.Art. 2.° - Os bens dos conventos, mosteiros, colégios, hospícios, equaisquer c<strong>as</strong><strong>as</strong> <strong>de</strong> religiosos d<strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns regulares, ficam incorporadosnos próprios da Fazenda Nacional.Art. 3.° - Os v<strong>as</strong>os sagrados, e paramentos, que serviam ao culto divino,serão postos à disposição dos Ordinários respectivos para ser<strong>em</strong>distribuídos pel<strong>as</strong> Igrej<strong>as</strong> mais necessitad<strong>as</strong> d<strong>as</strong> Dioceses.” 51Às monj<strong>as</strong>, ao contrário dos monges, foi permitido permanecer nos seus mosteirosaté à morte da última religiosa <strong>de</strong> cada mosteiro.51 Cfr anexo 9.2.1.


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE149Fig. 60 Gravura, datada <strong>de</strong> 1832, apresentando a Imperatriz do Br<strong>as</strong>il, D. AméliaAugusta, o rei D. Pedro IV, a rainha D. Maria II, sua filha, segurando a CartaConstitucional. Autoria <strong>de</strong> Nicol<strong>as</strong>-Eustache Maurin, 1799-1850 (Biblioteca Nacional)Des<strong>de</strong> a instauração da Monarquia Constitucional (Fig. 60) até à Iª República ost<strong>em</strong>pos vividos <strong>em</strong> Portugal foram algo conturbados no que respeita às Or<strong>de</strong>ns eCongregações religios<strong>as</strong> quer pela contradição concomitante entre o impulsopersecutório e <strong>de</strong>strutivo do po<strong>de</strong>r e política coevos, quer por uma dinâmic<strong>as</strong>imultaneamente apologética e restauradora <strong>em</strong>penhada <strong>em</strong> revitalizar a Igreja.Deste modo:


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE150“(…) <strong>de</strong>frontaram-se no <strong>de</strong>curso <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> um século os promotoresda campanha anticongregacionista e anticlerical, e os <strong>de</strong>fensoresintrépidos tanto dos direitos d<strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns e congregações como doprecioso contributo por el<strong>as</strong> prestado à socieda<strong>de</strong> portuguesa.” 52Luís Machado <strong>de</strong> Abreu refere que:“Os adversários dos religiosos exploravam <strong>de</strong> diferentes modos e n<strong>as</strong>mais divers<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> o valor argumentativo dos princípios do utilitarismo,procurando mostrar que nenhuma vantag<strong>em</strong> efectiva advinha daexistência <strong>de</strong> tais instituições. E é <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> para o Estado,utilida<strong>de</strong> que <strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns regulares não teriam, e <strong>de</strong> lucro para a religiãoque também lhes não é reconhecido, que o relatório <strong>de</strong> JoaquimAntónio <strong>de</strong> Aguiar preten<strong>de</strong> fundamentar o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong>1834 (…). Posto que a oposição <strong>de</strong> anticongregacionist<strong>as</strong> e anticlericaisse movia <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> argumentos <strong>de</strong>ssa natureza, gran<strong>de</strong> parte daapologética religiosa vai organizar-se com o objectivo <strong>de</strong> lhescontrapor doutrina e factos, mostrando os muitos domínios <strong>em</strong> que seafigura irrefutável a importância social e cultural d<strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns econgregações no <strong>de</strong>curso da história.” 53Refere também Frei Geraldo Coelho Di<strong>as</strong>:“É uma pena que Portugal, <strong>em</strong> 1834, <strong>de</strong> forma persecutória, por mera‘monacofobia, tenha <strong>de</strong>struído o que o Rei Fundador, religiosamente,começara por fazer para <strong>as</strong>segurar a soli<strong>de</strong>z da Nacionalida<strong>de</strong>. A alma<strong>de</strong> Cister, que durante oito séculos, foi para Portugal um centroirradiador <strong>de</strong> espiritualida<strong>de</strong> e cultura, encontra-se morta no nosso país.Quando muito, po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os encontrar por aí alguns restos monumentais,vestígios <strong>de</strong>svirtuados duma presença benéfica, que não soub<strong>em</strong>os<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r n<strong>em</strong> agra<strong>de</strong>cer.” 54Em 1853, qu<strong>as</strong>e du<strong>as</strong> décad<strong>as</strong> p<strong>as</strong>sad<strong>as</strong> sobre a extinção d<strong>as</strong> Or<strong>de</strong>ns Monástic<strong>as</strong>,Alexandre Herculano escreve um test<strong>em</strong>unho pungente e na 1ª pessoa sobre arealida<strong>de</strong> que era nesse momento vivida no Mosteiro <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão. Oreferido texto, do qual se retiraram alguns trechos ex<strong>em</strong>plificativos que se citam<strong>de</strong> seguida, foi publicado nos seus “Opúsculos”, intitulava-se apen<strong>as</strong> “As freir<strong>as</strong> <strong>de</strong>Lorvão” e era <strong>de</strong>dicado ao seu amigo António <strong>de</strong> Serpa Pimentel:52 ABREU, Luis Machado <strong>de</strong>; Presença d<strong>as</strong> Or<strong>de</strong>ns e Congregações Religios<strong>as</strong> na Ciência e na Cultura <strong>em</strong> Portugalin “Or<strong>de</strong>ns e Congregações Religios<strong>as</strong> no contexto da I República”; Ed. Gradiva; Lisboa 2010; p.3053 ABREU, Luis Machado <strong>de</strong>; Op. cit.; pp.30-3154 DIAS, Geraldo Coelho; A marca <strong>de</strong> São Bernardo na espiritualida<strong>de</strong> e na cultura <strong>cister</strong>cienses , in Separata <strong>de</strong>;“Tarouca e Cister: Espaço, Espírito e Po<strong>de</strong>r”; Câmara Municipal <strong>de</strong> Tarouca; 2004; p.222


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE“Meu Amigo. - Escrevo-lhe do fundo do estreito valle <strong>de</strong> Lorvão,<strong>de</strong>fronte do mosteiro on<strong>de</strong> repousam <strong>as</strong> filh<strong>as</strong> <strong>de</strong> Sancho I; <strong>de</strong>st<strong>em</strong>osteiro melancholico e mal-<strong>as</strong>sombrado como <strong>as</strong> montanh<strong>as</strong>abrupt<strong>as</strong> que o ro<strong>de</strong>iam por todos os lados: escrevo-lhe com ocoração apertado <strong>de</strong> dó e rep<strong>as</strong>sado <strong>de</strong> indignação. Descendo aexaminar o archivo d<strong>as</strong> pobres <strong>cister</strong>cienses, penetrei no claustro poror<strong>de</strong>m da auctorida<strong>de</strong> ecclesiástica. Lá <strong>de</strong>ntro, nesses corredoreshúmidos e sombrios, vi p<strong>as</strong>sar ao pé <strong>de</strong> mim muitos vultos, cuj<strong>as</strong> faceseram pallid<strong>as</strong>, cujos cabellos eram brancos. Esses cabellos n<strong>em</strong> todosos <strong>de</strong>stinguiu o <strong>de</strong>curso dos annos: a amrgura <strong>em</strong>branqueceu os mais<strong>de</strong>lles. Qu<strong>as</strong>i tod<strong>as</strong> ess<strong>as</strong> faces t<strong>em</strong>-n<strong>as</strong> <strong>em</strong>palli<strong>de</strong>cido a fome. Morr<strong>em</strong>aqui lentamente um<strong>as</strong> pouc<strong>as</strong> <strong>de</strong> mulheres, fechad<strong>as</strong> n’uma tumba<strong>de</strong> pedra e ferro. (…) No mosteiro sumptuoso, v<strong>as</strong>to, alvejante, comum <strong>as</strong>pecto exterior qu<strong>as</strong>i indicando opulência, é que não há pão,m<strong>as</strong> só lagrym<strong>as</strong>. Lorvão é peior do que um carneiro on<strong>de</strong> sehouvess<strong>em</strong> mettido vinte esquifes <strong>de</strong> catalépticos, sellando-se par<strong>as</strong><strong>em</strong>pre a lagea da entrada. O cataléptico, fechado no seu caixão,ouve sente, t<strong>em</strong> a consciência <strong>de</strong> que foi sepultado vivo. N<strong>as</strong> trev<strong>as</strong> ena immobilida<strong>de</strong>, o terror, a <strong>de</strong>sesperação, a falta <strong>de</strong> ar matam-no<strong>em</strong> breve: a sua agonia é tr<strong>em</strong>enda, m<strong>as</strong> não é longa. Aqui é outracousa: aqui vê-se, por entre <strong>as</strong> gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ferro, a luz do céu, a arvoreque dá os fructos, a seara que dá o pão, e tudo isto vê-se para se termais fome. Todos os di<strong>as</strong> uma esperança duvidosa e fugitiva atravessaaquell<strong>as</strong> gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> envolta com os primeiros raios do sol: todos os di<strong>as</strong>essa esperança fica sumida <strong>de</strong>baixo d<strong>as</strong> trev<strong>as</strong> que á tar<strong>de</strong> seprecipitam sobre Lorvão d<strong>as</strong> la<strong>de</strong>ir<strong>as</strong> do poente. Depois <strong>as</strong> noites <strong>de</strong>insomnia; <strong>de</strong>pois o choro: <strong>de</strong>pois, sabe Deus se a bl<strong>as</strong>ph<strong>em</strong>ia!(…) aqui há <strong>de</strong>zoito ou vinte mulheres na ida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte, que seaffizeram na juventu<strong>de</strong> aos commodos, aos regalos, e até ao luxocompatível com <strong>as</strong> condições da vida monástica. (…) aqui hájustamente quanto b<strong>as</strong>ta para prolongar por mezes e por annos omartyrio. Dir-se-hia que existe uma provi<strong>de</strong>ncia infernal para que nãofalte ás freir<strong>as</strong> <strong>de</strong> Lorvão o restrictamente indispensável para, lento elento, se lhes ir<strong>em</strong> os m<strong>em</strong>bros mirrando n’um longo expirar, débeis esenis.Imagine, meu amigo, uma noite <strong>de</strong> inverno, no fundo <strong>de</strong>sta espécie<strong>de</strong> poço perdido no meio da turba <strong>de</strong> montes que o ro<strong>de</strong>iam:imagine <strong>de</strong>zoito ou vinte mulheres idos<strong>as</strong>, mettid<strong>as</strong> entre quatropare<strong>de</strong>s húmid<strong>as</strong> e regelad<strong>as</strong>, s<strong>em</strong> ag<strong>as</strong>alho, s<strong>em</strong> lume para seaquecer<strong>em</strong>, s<strong>em</strong> pão para se alimentar<strong>em</strong>, s<strong>em</strong> energia na alma, es<strong>em</strong> forç<strong>as</strong> no corpo, comparando o p<strong>as</strong>sado, sentindo o presente e151


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEantevendo o futuro. Imagine o vento que ruge, a chuva ou a nevefustigando <strong>as</strong> pouc<strong>as</strong> vidraç<strong>as</strong> que ainda restam no edifício; imagineess<strong>as</strong> orgi<strong>as</strong> t<strong>em</strong>pestuos<strong>as</strong> da natureza que p<strong>as</strong>sam por cima d<strong>as</strong>lagrym<strong>as</strong> silencios<strong>as</strong> d<strong>as</strong> pobres <strong>cister</strong>cienses, e <strong>as</strong> hor<strong>as</strong> etern<strong>as</strong> quebat<strong>em</strong> na torre. Imagine tudo isto, e sentirá accen<strong>de</strong>r-se-lhe no animouma indignação reconcentrada e inflexível. [Fig. 61 e 62]152Fig. 61 Aspectos da <strong>de</strong>gradação do interior do Mosteiro <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão na 1ª meta<strong>de</strong>do século XX, antes da intervenção da DGEMN (arquivo DGEMN/IHRU)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEHá poucos di<strong>as</strong> p<strong>as</strong>sou-se <strong>em</strong> Lorvão uma scena tr<strong>em</strong>enda. N’umaccesso <strong>de</strong> <strong>de</strong>sesperação, parte <strong>de</strong>st<strong>as</strong> <strong>de</strong>sgraçad<strong>as</strong> queriamtumultuariamente romper a clausura; queriam ir pedir pão pel<strong>as</strong>cerrcani<strong>as</strong>. Custou muito contê-l<strong>as</strong>. Tinha-se apo<strong>de</strong>rado <strong>de</strong>ll<strong>as</strong> umagran<strong>de</strong> ambição; <strong>as</strong>piravam á felicida<strong>de</strong> do mendigo, que pó<strong>de</strong>apellar para a compaixão humana; que pó<strong>de</strong> fazer-se escutar <strong>de</strong>porta <strong>em</strong> porta. (…)G<strong>em</strong>idos, brados, prantos, nada disso chega aos ouvidos doshomens que exerc<strong>em</strong> o po<strong>de</strong>r nesta terra; nada disso os incommoda.(…).153Fig. 62 Aspectos da <strong>de</strong>gradação do exterior do Mosteiro <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão na 1ªmeta<strong>de</strong> do século XX, antes da intervenção da DGEMN (arquivo DGEMN/IHRU)Vacillantes entre a vida e a morte, <strong>as</strong> freir<strong>as</strong> do Lorvão prolongamuma existência <strong>de</strong> dor e miséria (…). Há um ou dous annos, o governo<strong>de</strong>u-lhes a esmola <strong>de</strong> um subsidio: este subsidio, porém cessou. Ignor<strong>as</strong>eo motivo. Por ventura alguma secretaria <strong>de</strong> estado precisava <strong>de</strong>novos estofos n<strong>as</strong> su<strong>as</strong> commod<strong>as</strong> poltron<strong>as</strong>, ou os felpudos tapetesd<strong>as</strong> sal<strong>as</strong> ministeriais tinham perdido o brilho d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> coresvariegad<strong>as</strong>, e cumpria renova-los. São <strong>de</strong>spez<strong>as</strong> inevitáveis, e énecessária a economia. Se <strong>as</strong>sim foi respeit<strong>em</strong>os <strong>as</strong> exigênci<strong>as</strong>imperios<strong>as</strong> da dignida<strong>de</strong> governativa. Alta noite, durante o inverno,vinte mulheres curvad<strong>as</strong> pela inedia e pela velhice po<strong>de</strong>m dirigir-se aocoro, calcando qu<strong>as</strong>i <strong>de</strong>scalç<strong>as</strong> <strong>as</strong> lage<strong>as</strong> húmid<strong>as</strong> e fri<strong>as</strong> <strong>de</strong>stesclaustros solitários; m<strong>as</strong> <strong>as</strong> bot<strong>as</strong> envernizad<strong>as</strong> <strong>de</strong> su<strong>as</strong> excellenci<strong>as</strong><strong>de</strong>v<strong>em</strong> ranger moll<strong>em</strong>ente sobre um pavimento suave, e <strong>as</strong> su<strong>as</strong>cabeç<strong>as</strong>, afogueiad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> profund<strong>as</strong> cogitações, reclinar<strong>em</strong>-se <strong>em</strong>fofos espaldares. Todavia a magesta<strong>de</strong> d<strong>as</strong> secretari<strong>as</strong> e os ápices da


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEeconomia não exclu<strong>em</strong> a tolerância n<strong>em</strong> a indulgencia. Faço essajustiça ao po<strong>de</strong>r. Quando a ultima freira <strong>de</strong> Lorvão expirar <strong>de</strong> miséria,ou <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> pare<strong>de</strong>s interiores do mosteiro que ameaçam<strong>de</strong>sabar, os ministros soffrerão com animo paternal que mãos piedos<strong>as</strong>vão lançar o cadáver da pobre monja no ossuario <strong>de</strong> sete séculos,on<strong>de</strong> repousam <strong>as</strong> cinz<strong>as</strong> <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> su<strong>as</strong> irmãs. Depois ven<strong>de</strong>rãoo edifício e a cerca a algum <strong>de</strong>stes ju<strong>de</strong>us do século XIX, a quechamamos agiot<strong>as</strong>, se algum houver a qu<strong>em</strong> p<strong>as</strong>se pelo espírito teruma c<strong>as</strong>a <strong>de</strong> campo <strong>em</strong> Lorvão (…)154Fig. 63 O Mosteiro do Lorvão, como era no século XVIII, representado numa pintura <strong>de</strong>G<strong>as</strong>par Parente existente na igreja do mosteiro (fotografia da autora)M<strong>as</strong> porque o importuno com esta larga história? Não é, meu amigo,só para <strong>de</strong>sabafo: é para lhe pedir um favor. Supponha que viu, comoeu vi, <strong>as</strong> faces enrugad<strong>as</strong> e pallid<strong>as</strong> d<strong>as</strong> monj<strong>as</strong> <strong>de</strong> Lorvão, por oon<strong>de</strong><strong>as</strong> lagrym<strong>as</strong> se penduravam quatro a quatro, <strong>em</strong>quanto vozesconvuls<strong>as</strong> <strong>de</strong>screviam scen<strong>as</strong> do longo drama <strong>de</strong> miséria <strong>de</strong> que estesepulcro <strong>de</strong> vivos t<strong>em</strong> sido theatro durante vinte annos: suponha queolhava para est<strong>as</strong> janell<strong>as</strong> mal reparad<strong>as</strong>, para est<strong>as</strong> pare<strong>de</strong>sverdoeng<strong>as</strong>, cujo <strong>as</strong>pecto produz um sentimento inexplicável <strong>de</strong> frio,apesar do calor da atmosphera n’um dia <strong>de</strong> Julho; para <strong>as</strong> alfai<strong>as</strong>roçad<strong>as</strong> e poid<strong>as</strong>; para os próprios trajos d<strong>as</strong> freir<strong>as</strong>; que lia <strong>em</strong> tudoisso, repetida por c<strong>em</strong> modos, uma palavra só: infortúnio, infortúnio,infortúnio! Que fazia? Com o seu coração, com os seus princípios, eredactor <strong>de</strong> um jornal que t<strong>em</strong> larg<strong>as</strong> sympathi<strong>as</strong>, sentia-se gran<strong>de</strong> eforte pondo a sua penna eloquente ao serviço da <strong>de</strong>sgraça e dafraqueza. Faça-o, meu amigo: faça-o! Peça esmola para <strong>as</strong> freir<strong>as</strong> <strong>de</strong>


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADELorvão, que foram ric<strong>as</strong> e felizes na mocida<strong>de</strong>, e que na velhice t<strong>em</strong>fome. A velhice é sancta! Ponha esse contr<strong>as</strong>te do p<strong>as</strong>sado e dopresente perante os olhos dos opulentos e ditosos, para que sel<strong>em</strong>br<strong>em</strong> com alguns cruzados d<strong>as</strong> pobres que g<strong>em</strong><strong>em</strong> <strong>de</strong>baixo<strong>de</strong>st<strong>as</strong> abobad<strong>as</strong> escondid<strong>as</strong> no meio dos montes la<strong>de</strong>irentos eagrestes do concelho <strong>de</strong> Penacova. Ao governo não peça n<strong>em</strong> diganada; dixe esses homens ao seu <strong>de</strong>stino; <strong>de</strong>ixe-os estofar poltron<strong>as</strong> edormir nel<strong>as</strong>. Deus e os vindouros hão <strong>de</strong> julgar-nos a todos.” 55155Fig. 64 Madre Carolina Augusta <strong>de</strong> C<strong>as</strong>tro eSilva, última monja <strong>cister</strong>ciense portuguesa,faleceu <strong>em</strong> 1909. 56A última monja <strong>cister</strong>ciense foi Madre Carolina Augusta <strong>de</strong> C<strong>as</strong>tro e Silva (Fig. 64)que morreu <strong>em</strong> 1909 com 93 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Era monja <strong>de</strong> Nossa senhora <strong>de</strong>Nazaré do Mocambo hoje conhecido como Convento d<strong>as</strong> Bernard<strong>as</strong>. Com ela<strong>de</strong>sapareceu a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal, por cerca <strong>de</strong> oitenta anos até <strong>em</strong>1989 ter sido fundado o Mosteiro <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>de</strong> Maranathá, noAlgarve (foi uma tentativa efémera com um diminuto número <strong>de</strong> monj<strong>as</strong>).55 HERCULANO, Alexandre; AS FREIRAS DE LORVÃO (1853 / a António <strong>de</strong> Serpa Pimentel) in “Opusculos”; 10 vols -Tomo I; Viúva Bertrand; Lisboa 1873-1908; pp.194-206; parêntesis recto da autora.56 CABRAL, Maria Isabel <strong>de</strong> V<strong>as</strong>concelos (Introdução, actualização do texto e not<strong>as</strong>); O Livro <strong>de</strong> Receit<strong>as</strong> daúltima Freira <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>; Ed. Verbo; 1999; p.5


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEFig. 65 Claustros do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Oseira (Galiza, Espanha)aquando o “III Congreso Internacional sobre el Císter en Galicia yPortugal”: num mesmo espaço, a partilha e o interesse por Cister; grupoconstituído por monge <strong>de</strong> Oseira, c<strong>as</strong>al <strong>de</strong> turist<strong>as</strong> franceses econferencista. (fotografia da autora)Cabe ao século XXI fazer ressaltar o que <strong>de</strong> melhor t<strong>em</strong> este legado, preservandoa sua m<strong>em</strong>ória como um b<strong>em</strong> nacional que merece ser amado, acarinhado epreservado. “A vida religiosa será um sinal <strong>de</strong> contradição para o mundo m<strong>as</strong> nãopo<strong>de</strong> ser um sinal <strong>de</strong> <strong>de</strong>cepção para os homens.” 571563.4.Uma perspectiva da evolução da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> PortugalA maior parte dos Mosteiros Cistercienses portugueses são, como seria <strong>de</strong> esperar,consagrados à Mãe <strong>de</strong> Deus (Fig. 66) e a sua <strong>de</strong>nominação inicia-se geralmentecom o nome “Santa Maria” seguindo-se o nome do local on<strong>de</strong> se implanta omosteiro (Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça, Santa Maria do Bouro, Santa Maria Ermelo,Santa Maria <strong>de</strong> Fiães, Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>, Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>, SantaMaria <strong>de</strong> Aguiar, Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dão, Santa Maria <strong>de</strong> Seiça, Santa Maria<strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>, Santa Maria <strong>de</strong> Almoster, Santa Maria <strong>de</strong> Cós, Santa Maria <strong>de</strong> Tomarães,Santa Maria da Estrela) ou, então, iniciando-se com o nome “Nossa Senhora” (Fig.67) sendo fundações da Congregação Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça (Nossa Senhorado Desterro, Nossa Senhora da Conceição <strong>de</strong> Portalegre, Nossa Senhora daNazaré do Mocambo, Nossa Senhora da Nazaré <strong>de</strong> Setúbal, Nossa Senhora daAssunção <strong>de</strong> Tabosa).57 ANTUNES, Manuel.; Obra completa; T. IV; FCG – Fundação Calouste Gulbenkian; Lisboa 2007; p.28


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEFig. 66 Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora daAssunção <strong>de</strong> Tabosa (fotografia da autora)Os mosteiros cuja <strong>de</strong>nominação não se inicia por Santa Maria estão geralmente<strong>as</strong>sociados aos nomes dos ermitérios ou comunida<strong>de</strong>s pré-existentes que a<strong>de</strong>riramposteriormente à Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister m<strong>as</strong> que conservaram a sua <strong>de</strong>nominaçãocomo é o c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> São João <strong>de</strong> Tarouca (antigo er<strong>em</strong>itério e <strong>de</strong>pois mosteirobeneditino), São Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão (antigo mosteiro beneditino), São Pedro eSão Paulo <strong>de</strong> Arouca (mosteiro dúplice), São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões, S. Tiago <strong>de</strong>Sever, São Paulo <strong>de</strong> Fra<strong>de</strong>s ou São Paulo <strong>de</strong> Almaziva, S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>(mosteiro beneditino), S. Salvador d<strong>as</strong> Bouç<strong>as</strong>, S. Bento <strong>de</strong> Cástris (mosteirobeneditino), S. Bento <strong>de</strong> Xabreg<strong>as</strong>, São João <strong>de</strong> Vale Ma<strong>de</strong>iro, São Dinis <strong>de</strong>Odivel<strong>as</strong> (Graf. 6).157Fig. 67 Entrada da igreja do Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>de</strong> Nazaré doMocambo on<strong>de</strong> ainda se po<strong>de</strong> ler “N. S. DE NAZARETH” (fotografia daautora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEGraf. 6 Percentag<strong>em</strong> relativa à <strong>de</strong>nominação dos Mosteiros<strong>cister</strong>cienses <strong>em</strong> Portugal (esqu<strong>em</strong>a elaborado pela autora)158De facto, os mosteiros consagrados a Santa Maria ocupam a maior percentag<strong>em</strong><strong>de</strong> implantação no território Português (45%), sendo seguidos pel<strong>as</strong> inúmer<strong>as</strong><strong>de</strong>nominações que restaram dos antigos mosteiros ou ermitérios que se filiaram naOr<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister (36%). Salienta-se que <strong>as</strong> filiações <strong>cister</strong>cienses, como já foireferido, podiam (ou não) adoptar o nome do orago da anterior comunida<strong>de</strong> quese filiou <strong>em</strong> Cister. Quanto aos mosteiros consagrados a Nossa Senhora (19%)correspon<strong>de</strong>m aos mosteiros fundados no período da Congregação <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Alcobaça da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> S. Bernardo nos Reinos <strong>de</strong> Portugal e doAlgarve, ou simplesmente Congregação Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça, a partir da suainstituição <strong>em</strong> 1567.Fig. 68 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro, sobre a Sagrada Família po<strong>de</strong> ler-se ainscrição “MATER CISTERCIENTIVM ORA PRONOBIS”. (fotografia da autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEÉ curioso observar-se que também a nomenclatura muda com o advento daCongregação Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça, p<strong>as</strong>sando o nome dos mosteiros a seragraciado não por “Santa Maria” m<strong>as</strong> sim por “Nossa Senhora” que <strong>de</strong> facto sãoa mesma e única figura, a “Mater Cistercientivm” (Fig. 68) a “Mãe” <strong>de</strong> todos os<strong>cister</strong>cienses reformados e não reformados. Talvez o próprio termo “Nossa” estejamais próximo dos monges e da “sua” nova CongregaçãoTorna-se importante marcar a diferença entre os Mosteiros Cisterciensesf<strong>em</strong>ininos (Esq. 29) e os m<strong>as</strong>culinos (Esq. 30), tanto fundados como filiados (Esq. 27e 28), pois apesar <strong>de</strong> seguir<strong>em</strong> o mesmo rigor e preceitos algum<strong>as</strong> distinções são<strong>de</strong>tectáveis. (Esq. 26 e Graf. 7)159Esq. 26 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses f<strong>em</strong>ininos e m<strong>as</strong>culinos – distribuição geográfica(<strong>de</strong>senho e síntese elaborados pela autora)A maior parte dos mosteiros portugueses pertencentes à Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister foramfundados pela Abadia <strong>de</strong> Claraval ou nela se encontram filiados.No entanto, a sua ligação a Claraval n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre é a mesma. Isto é, set<strong>em</strong>osteiros são directamente relacionados com Claraval: São João <strong>de</strong> Tarouca,Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça, S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões, Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>, SãoMame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão, Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>, São Pedro e São Paulo <strong>de</strong> Arouca.


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEA partir <strong>de</strong> 1657 os Mosteiros p<strong>as</strong>sam a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r directamente <strong>de</strong> Alcobaçacom a criação da Congregação <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> S.Bernardo nos Reinos <strong>de</strong> Portugal e do Algarve.M O S T E I R O S C I S T E R C I E N S E S F E M I N I N O S P O R T U G U E S E SV I N C U L O D E S I G N A Ç Ã O D O M O S T E I R O A N OF U N D A D O Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa 1692Mosteiro <strong>de</strong> São João <strong>de</strong> Vale Ma<strong>de</strong>iro 1525/1530Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cós 1241Mosteiro <strong>de</strong> São Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong> 1295Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazaré do Mocambo 1653Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Almoster 1287Mosteiro <strong>de</strong> São Bernardo <strong>de</strong> Portalegre 1518Mosteiro <strong>de</strong> São Bernardo <strong>de</strong> Tavira 1530F I L I A D O Mosteiro <strong>de</strong> S. Salvador d<strong>as</strong> Bouç<strong>as</strong> 1228Mosteiro <strong>de</strong> São Pedro e São Paulo <strong>de</strong> Arouca 1225160Mosteiro <strong>de</strong> São Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão 1206Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong> 1215Mosteiro <strong>de</strong> São Bento <strong>de</strong> Cástris 1275Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazaré <strong>de</strong> Setúbal 1756Esq. 27 Vínculo (fundação/ filiação) dos Mosteiros <strong>cister</strong>cienses f<strong>em</strong>ininos portugueses e respectiva data 58(síntese elaborada pela autora)58 No que respeita a datação e cronologia d<strong>as</strong> filiações e fundações dos mosteiros f<strong>em</strong>ininos <strong>cister</strong>ciensesportugueses ; cfr. COCHERIL, Dom Maur; Le probème <strong>de</strong>s foundations <strong>cister</strong>ciennes au Portugal aux XII et XIIIsiècles in “Mélanges à la mémoire du père Anselme Dimier”; Tomo II – Histoire Cistercienne; vol. 4 – Abbayes ;Benoît Chauvin Ed.; Pupillin; 1982 / COCHERIL, Dom Maur; Les Abbayes Cisterciennes Portugaises dans la secon<strong>de</strong>moité du XX siécle; Arquivo do Centro Cultural Português; vol. X – Separata; Fundação Calouste Gulbenkian; Paris1976 / COCHERIL, Dom Maur; Routier <strong>de</strong>s Abbayes Cisterciennes du Portugal; col. Cultura Medieval e Mo<strong>de</strong>rna –X; Fundação Calouste Gulbenkian; Centro Cultural Português; Paris; 1978 / GUSMÃO, Artur Nobre <strong>de</strong>; A Expansãoda Arquitectura Borgonhesa e os Mosteiros <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal (ensaio <strong>de</strong> arqueologia da Ida<strong>de</strong> Média); s/ed.;Lisboa; 1956 / GUSMÃO, Artur Nobre <strong>de</strong>; Os Mosteiros <strong>de</strong> Cister na Época Mo<strong>de</strong>rna in “Separata da revistaLUSÍADA”; vol. III; nº 10; Porto; 1957 / MARQUES, Maria Alegria Fernan<strong>de</strong>s; Estudos sobre a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong>Portugal; Colecção Estudos; nº 24; Edições Colibri; Lisboa; Junho 1998 / MARTINS, Ana Maria Tavares F.: UmaPerspectiva da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister: o Legado Português; Tipografia Beira Alta; Viseu, 2007 / OLIVEIRA, Pe. Miguel <strong>de</strong>;História Eclesiástica <strong>de</strong> Portugal; 3ª edição; União Gráfica; Lisboa; 1958 / OLIVEIRA, Pe. Miguel <strong>de</strong>; Origens daOr<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal; Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letr<strong>as</strong> da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra, Instituto <strong>de</strong> Estudos HistóricosDoutor António <strong>de</strong> V<strong>as</strong>concelos; Coimbra; 1951 / GOMES, Saul António; Visitações a Mosteiros Cistercienses <strong>em</strong>Portugal – séculos XV-XVI; Edição do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR); 1998


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEM O S T E I R O S C I S T E R C I E N S E S M A S C U L I N O S P O R T U G U E S E SV I N C U L O D E S I G N A Ç Ã O D O M O S T E I R O A N OF U N D A D O Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria da Estrela 1220Colégio do Espírito Santo 1545Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça 1153Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora do Desterro 1591Mosteiro <strong>de</strong> São Bento <strong>de</strong> Xabreg<strong>as</strong> 1492Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Tomarães 1217F I L I A D O Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães 1194Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Ermeloantes do séc. XIIIMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro 1195Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> 1247Mosteiro <strong>de</strong> São Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o velho) 1205Mosteiro <strong>de</strong> São Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>séc.XVIMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> 1196Abadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> c.1150Mosteiro <strong>de</strong> São João <strong>de</strong> Tarouca 1143Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar 1169Mosteiro <strong>de</strong> São Cristovão <strong>de</strong> Lafões 1163Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dão 1188Mosteiro <strong>de</strong> S. Tiago <strong>de</strong> Sever 1143/1144Mosteiro <strong>de</strong> São Paulo <strong>de</strong> Almaziva 1221Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Seiça 1195161Esq. 28 Vínculo (fundação/ filiação) dos Mosteiros Cistercienses m<strong>as</strong>culinos portugueses e respectivadata 59 (síntese elaborada pela autora)59 No que respeita a datação e cronologia d<strong>as</strong> filiações e fundações dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses ;cfr. COCHERIL, Dom Maur; Le probème <strong>de</strong>s foundations <strong>cister</strong>ciennes au Portugal aux XII et XIII siècles in“Mélanges à la mémoire du père Anselme Dimier”; Tomo II – Histoire Cistercienne; vol. 4 – Abbayes ; BenoîtChauvin Ed.; Pupillin; 1982 / COCHERIL, Dom Maur; Les Abbayes Cisterciennes Portugaises dans la secon<strong>de</strong> moitédu XX siécle; Arquivo do Centro Cultural Português; vol. X – Separata; Fundação Calouste Gulbenkian; Paris 1976/ COCHERIL, Dom Maur; Routier <strong>de</strong>s Abbayes Cisterciennes du Portugal; col. Cultura Medieval e Mo<strong>de</strong>rna –X;Fundação Calouste Gulbenkian; Centro Cultural Português; Paris; 1978 / GUSMÃO, Artur Nobre <strong>de</strong>; A Expansão daArquitectura Borgonhesa e os Mosteiros <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal (ensaio <strong>de</strong> arqueologia da Ida<strong>de</strong> Média); s/ed.;Lisboa; 1956 / GUSMÃO, Artur Nobre <strong>de</strong>; Os Mosteiros <strong>de</strong> Cister na Época Mo<strong>de</strong>rna in “Separata da revistaLUSÍADA”; vol. III; nº 10; Porto; 1957 / MARQUES, Maria Alegria Fernan<strong>de</strong>s; Estudos sobre a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong>Portugal; Colecção Estudos; nº 24; Edições Colibri; Lisboa; Junho 1998 / MARTINS, Ana Maria Tavares F.: UmaPerspectiva da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister: o Legado Português; Tipografia Beira Alta; Viseu, 2007 / OLIVEIRA, Pe. Miguel <strong>de</strong>;História Eclesiástica <strong>de</strong> Portugal; 3ª edição; União Gráfica; Lisboa; 1958 / OLIVEIRA, Pe. Miguel <strong>de</strong>; Origens daOr<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal; Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letr<strong>as</strong> da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra, Instituto <strong>de</strong> Estudos HistóricosDoutor António <strong>de</strong> V<strong>as</strong>concelos; Coimbra; 1951 / GOMES, Saul António; Visitações a Mosteiros Cistercienses <strong>em</strong>Portugal – séculos XV-XVI; Edição do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR); 1998


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEEsq. 29 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses f<strong>em</strong>ininos – distribuição geográfica (<strong>de</strong>senhoe síntese elaborados pela autora)162Esq. 30 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses m<strong>as</strong>culinos – distribuição geográfica(<strong>de</strong>senho e síntese elaborados pela autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEGraf. 7 Percentag<strong>em</strong> relativa ao género dos Mosteiros<strong>cister</strong>cienses <strong>em</strong> Portugal (esqu<strong>em</strong>a elaborado pelaautora)Graf. 8 Percentag<strong>em</strong> relativa ao vínculo dos Mosteiros<strong>cister</strong>cienses <strong>em</strong> Portugal (esqu<strong>em</strong>a elaborado pelaautora)Do ponto <strong>de</strong> vista cronológico (Esq. 31) encontram-se <strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> fundações apartir do século XII. Sendo tradicionalmente apontada como a primeira S. João <strong>de</strong>Tarouca <strong>em</strong>1143 60 e a última Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa, já no séculoXVII, <strong>em</strong> 1692. (Esq. 32)163Esq. 31 Cronologia d<strong>as</strong> implantações <strong>cister</strong>cienses - distribuiçãogeográfica (<strong>de</strong>senho e síntese elaborados pela autora)60 Segundo autores como Cocheril e Ferreira <strong>de</strong> Almeida. Cfr COCHERIL, Maur; Les Abbayes CisterciennesPortugaises dans la secon<strong>de</strong> moité du XX siécle; Arquivo do Centro Cultural Português; Fundação CalousteGulbenkian; Paris 1976 e ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira <strong>de</strong>; Arquitectura in “Nos confins da Ida<strong>de</strong> Média”; IPM;1992. No entanto a primazia é disputada com o Mosteiro <strong>de</strong> Lafões, Cfr. MARQUES, Maria Alegria Fernan<strong>de</strong>s;Op.cit.


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADESÉCULO D E S I G N A Ç Ã O D O M O S T E I R O G É N E R OXIIMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> FiãesMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do ErmeloMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do BouroAbadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>Mosteiro <strong>de</strong> São João <strong>de</strong> TaroucaMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> AguiarMosteiro <strong>de</strong> São Cristovão <strong>de</strong> LafõesMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Maceira DãoMosteiro <strong>de</strong> S. Tiago <strong>de</strong> SeverMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> SeiçaMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> AlcobaçaMMMMMMMMMMMM164XIIIMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>Mosteiro <strong>de</strong> São Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>Mosteiro <strong>de</strong> S. Salvador d<strong>as</strong> Bouç<strong>as</strong>Mosteiro <strong>de</strong> São Pedro e São Paulo <strong>de</strong> AroucaMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria da EstrelaMosteiro <strong>de</strong> São Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> LorvãoMosteiro <strong>de</strong> São Paulo <strong>de</strong> AlmazivaMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>Mosteiro <strong>de</strong> São Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> TomarãesMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> AlmosterMosteiro <strong>de</strong> São Bento <strong>de</strong> CástrisMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> CósMMFFMFMFFMFFFXV Mosteiro <strong>de</strong> São Bento <strong>de</strong> Xabreg<strong>as</strong> FXVIMosteiro <strong>de</strong> São João <strong>de</strong> Vale Ma<strong>de</strong>iroColégio do Espírito SantoMosteiro <strong>de</strong> São Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o novoMosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora do DesterroMosteiro <strong>de</strong> São Bernardo <strong>de</strong> PortalegreMosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Conceição <strong>de</strong> TaviraFMMMFFXVIIMosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazaré do MocamboMosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> TabosaFFEsq. 32 Cronologia dos Mosteiros Cistercienses m<strong>as</strong>culinos portugueses (síntese elaborada pela autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEA impl<strong>em</strong>entação e incorporação dos mosteiros da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong>Portugal tiveram o seu centro inicial na região d<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong> como foi já referido.Deste modo os Mosteiros Cistercienses instalaram-se numa primeira f<strong>as</strong>e,entre o rio Douro e o rio Tejo, pel<strong>as</strong> razões e objectivos já referidos, irradiando<strong>de</strong>ste centro para o resto do Pais.Deste modo <strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XII,permitiram e acompanharam a evolução d<strong>as</strong> soluções arquitectónic<strong>as</strong> d<strong>as</strong>distint<strong>as</strong> époc<strong>as</strong>, <strong>em</strong> que se inseriam, sendo possível encontrar <strong>em</strong> cada uma<strong>de</strong>l<strong>as</strong> uma predominância estilística. Isto é, cada ex<strong>em</strong>plar possui um estiloarquitectónico que prevalece e sobressai quando se faz uma atenta análise d<strong>as</strong>ua estrutura ou morfologia arquitectónic<strong>as</strong>.165Fig. 69 Mosteiro S. João <strong>de</strong> Tarouca (fotografia da autora)São João <strong>de</strong> Tarouca (1144) é consi<strong>de</strong>rado o primeiro e mais antigo Mosteiro<strong>cister</strong>ciense português (Fig. 69). A igreja apresenta três naves, um largo transeptosaliente e uma cabeceira composta por três capel<strong>as</strong> quadrangulares escalonad<strong>as</strong>.Escavações arqueológic<strong>as</strong> colocaram a <strong>de</strong>scoberto o claustro original(séc. XII) <strong>as</strong>sim como os vestígios da Sala do Capítulo, cozinha e latrin<strong>as</strong>. Dest<strong>em</strong>odo foi possível i<strong>de</strong>ntificar-se a planimetria do antigo mosteiro correspon<strong>de</strong>nteao mo<strong>de</strong>lo claravalense que se intitula <strong>de</strong> românico <strong>cister</strong>ciense.A introdução da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister, no coração d<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong>, foi iniciada com S.João <strong>de</strong> Tarouca, m<strong>as</strong> não se po<strong>de</strong> esquecer a importância <strong>de</strong> outros doismosteiros, também inseridos nesta região e que <strong>em</strong> muito potenciaram a acção


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE166<strong>cister</strong>ciense no país: Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> e S.Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>. A necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> produzir vinho <strong>de</strong> missa leva os Cistercienses a criar vinhedos, proporcionandoo <strong>de</strong>senvolvimento da cultura da vinha e o fomento do comércio <strong>de</strong> vinhos. Noâmbito europeu, curiosamente m<strong>as</strong> previsivelmente, observa-se que o<strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> vinh<strong>as</strong> e vinhedos coinci<strong>de</strong> com a expulsão dos monges. 61De igual modo, inseridos na região d<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong>, se encontram os mosteiros <strong>de</strong>Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> (1191) e S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (séc. XII, com novaimplantação no séc. XVI), que <strong>em</strong> muito elevaram a acção <strong>cister</strong>ciense no país.Ambos os mosteiros são ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> sítios, prática corrente <strong>em</strong>Mosteiros Cistercienses, c<strong>as</strong>o a sua implantação não fosse favorável.No que respeita ao Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> existe uma primeiraimplantação a NE da qual se encontram vestígios arqueológicos <strong>em</strong> terrenospertencentes a um particular (Quinta da Abadia Velha). É possível vislumbrar n<strong>as</strong>ruín<strong>as</strong> da Abadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> (1168) a marca <strong>de</strong> Cister numa igrejaromânica e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte que apresenta vestígios <strong>de</strong> três naves, transeptosaliente, cabeceira composta da qual se <strong>de</strong>stacam a absi<strong>de</strong> e absidíolopoligonais, invulgares nos mosteiros <strong>cister</strong>cienses uma vez que habitualmenteapresentavam uma cabeceira recta.Aquela que é actualmente a Igreja do antigo Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Salzed<strong>as</strong> permitiu revelar, após obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> conservação, a existência da primitivaigreja <strong>de</strong> característic<strong>as</strong> românic<strong>as</strong> trazendo à luz do dia capitéis, colun<strong>as</strong> e arcosogivais que se encontravam “<strong>em</strong>butidos”, na actual igreja, fazendo parteintegrante da sua estrutura, como se trat<strong>as</strong>se do esqueleto <strong>de</strong> um organismo vivoe at<strong>em</strong>poral que é o próprio edifício.Po<strong>de</strong>-se mesmo referenciar a existência <strong>de</strong> três igrej<strong>as</strong> do mosteiro <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>: <strong>as</strong> ruín<strong>as</strong> da Abadia Velha e a actual igreja, que se apresentaverda<strong>de</strong>iramente como du<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> numa só, a primitiva e estrutural por um ladoe a subsequente que funciona qu<strong>as</strong>e como uma “pele” <strong>em</strong> relação à anterior.Assim, do período medieval r<strong>em</strong>anesce a igreja do mosteiro que apresentaplanta <strong>em</strong> cruz latina, três naves e transepto saliente sendo a cabeceiracomposta por cinco capel<strong>as</strong> absidiais escalonad<strong>as</strong>, c<strong>as</strong>o raro no panorama doromânico português. Porém, <strong>de</strong>ste período apen<strong>as</strong> subsistiu um absidíolo s<strong>em</strong>icircular,no braço norte do transepto, com colun<strong>as</strong> adossad<strong>as</strong> no exterior.Do mesmo modo existe o Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o novo) que seencontra <strong>as</strong>sociado a uma produtora <strong>de</strong> vinho do Porto (chamada Quinta doConvento) e que foi antecedido pelo Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o velho) doqual subsiste ainda hoje a Igreja. Do Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o velho),concelho <strong>de</strong> Tabuaço, subsiste a Igreja românica <strong>de</strong> planta simples dotada <strong>de</strong>nave única e capela-mor rectangular.61 Ver COCHERIL, Dom Maur; Etu<strong>de</strong>s sur le monachisme en Espagne et au Portugal; Collection Portugaise sous lepatronage <strong>de</strong> l’institute français au Portugal; societe d’editions “Les Belles Lettres” - Paris; Livraria Bertrand –Lisbonne; 1966 ; p. 367


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEFig. 70 Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o velho: tímpano com Agnus Dei (fotografiada autora)O <strong>de</strong>staque vai para a <strong>de</strong>coração escultórica, sobretudo para o tímpano daporta axial que apresenta uma cruz <strong>de</strong> característic<strong>as</strong> visigótic<strong>as</strong> e o belíssimotímpano contendo a representação do Agnus Dei no portal norte (Fig. 70).O Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o velho) n<strong>as</strong>ceu <strong>de</strong> um antigo er<strong>em</strong>itérioe nunca chegou a ser acabado. No entanto, foi alvo <strong>de</strong> obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> restauro ereconstrução pela Direcção Geral <strong>de</strong> Edifícios e Monumentos Nacionais no iníciodo século XX, segundo <strong>as</strong> teori<strong>as</strong> <strong>em</strong> voga nessa época.167Fig. 71 Vinh<strong>as</strong> do Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o novo, na actualida<strong>de</strong>(fotografia da autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE168É curioso se pensarmos que <strong>as</strong> vinh<strong>as</strong> cultivad<strong>as</strong> pelos Monges Cistercienses aind<strong>as</strong>ubsist<strong>em</strong> e faz<strong>em</strong> parte do Património Mundial que é hoje o “Alto DouroVinhateiro” (Fig. 71). “O <strong>de</strong>senvolvimento do cultivo e da exploração do vinho nooci<strong>de</strong>nte medieval europeu <strong>de</strong>ve-se às necessida<strong>de</strong>s litúrgic<strong>as</strong> da igreja (…).”como refere José Ignacio <strong>de</strong> la Torre Rodríguez. 62 Os Cistercienses procuraramcultivar os seus vinhedos junto dos rios <strong>em</strong> solos on<strong>de</strong> seria difícil fazer outro tipo <strong>de</strong>cultivo. Na realida<strong>de</strong> muit<strong>as</strong> <strong>de</strong>ss<strong>as</strong> terr<strong>as</strong> e granj<strong>as</strong> ainda permanec<strong>em</strong> ligad<strong>as</strong> àprodução do vinho constituindo mesmo o núcleo <strong>de</strong> algum<strong>as</strong> d<strong>as</strong> quint<strong>as</strong> <strong>de</strong>produção <strong>de</strong> vinho da região duriense <strong>de</strong> que são o ex<strong>em</strong>plo a Quinta doGranjão ou a Quinta do Monsul. Também <strong>as</strong> vinh<strong>as</strong> d<strong>as</strong> terr<strong>as</strong> do mosteiro <strong>de</strong>Salzed<strong>as</strong> permanec<strong>em</strong> hoje como fonte <strong>de</strong> receita permitindo produzir o vinho e oespumante d<strong>as</strong> caves Murganheira que se encontram inserid<strong>as</strong> na Quinta daAbadia Velha (<strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>).A viticultura <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> <strong>cister</strong>ciense que subsiste ainda hoje também po<strong>de</strong>ser encontrada <strong>em</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar (Fig. 73) <strong>em</strong> Figueira <strong>de</strong> C<strong>as</strong>teloRodrigo. Este Mosteiro m<strong>as</strong>culino do século XII t<strong>em</strong> actualmente uma curios<strong>as</strong>olução <strong>de</strong> gestão sendo <strong>de</strong> certa forma ex<strong>em</strong>plo do estado geral dos mosteiros<strong>em</strong> Portugal. Nele encontra-se a exploração hoteleira por parte da família que opossui, coexistindo a habitação particular com o turismo <strong>de</strong> habitação –Hospedaria do Convento, no edifício que correspondia à hospedaria do mosteiro(Fig. 72).Fig. 72 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar, na actualida<strong>de</strong>(fotografia da autora)62 Cfr. RODRIGUEZ, José Ignacio <strong>de</strong> La Torre; A viticultura nos Mosteiros Cistercienses do Vale do Douro Portuguêsin “Douro: Estudos e Documentos”; nº3; Porto; 1997; p. 17


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEFig. 73 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar: Sala do Capítulo (fotografia da autora)169O turismo <strong>de</strong> habitação é um tipo <strong>de</strong> exploração turística <strong>de</strong> um edifício,geralmente longe do meio urbano, no qual um particular acolhe na residência <strong>em</strong>que habita visitantes e turist<strong>as</strong>, sob licença da Direcção Geral <strong>de</strong> Turismo, fazendodisso um meio <strong>de</strong> rendimento.A Igreja <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar é visitável e encontra-se afecta aoIGESPAR. Os terrenos <strong>em</strong> que se encontra o Mosteiro ainda estão ligados àprodução do vinho (D’aguiar) e infelizmente a restante parte do edificado domosteiro encontra-se <strong>em</strong> ruína, também visitável, <strong>em</strong>bora proprieda<strong>de</strong> particular.O século XIII foi essencialmente o d<strong>as</strong> implantações f<strong>em</strong>inin<strong>as</strong>, como foireferido anteriormente, n<strong>as</strong> quais tiveram um papel prepon<strong>de</strong>rante <strong>as</strong> três net<strong>as</strong><strong>de</strong> D. Afonso Henriques Teresa, Mafalda e Sancha. São <strong>de</strong>ste século mosteiroscomo o <strong>de</strong> Lorvão (antigo mosteiro <strong>de</strong> Monges Beneditinos) fundado por D. Teresa(entre 1200 e 1206) e localizado próximo <strong>de</strong> Coimbra, Cel<strong>as</strong> (1214), localizado <strong>em</strong>Coimbra, fundado por D. Sancha e Arouca (1223), localizado a norte do País,filiado por D. Mafalda.


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEFig. 74 Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora e Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris, marcado a vermelho, que se encontra ainda hojefora dos limites da cida<strong>de</strong> (<strong>de</strong>senho da autora sobre imag<strong>em</strong> Virtual Earth)170Também são <strong>de</strong>sta época a fundação do Mosteiro f<strong>em</strong>inino <strong>de</strong> Almoster (1287) ea filiação do também Mosteiro f<strong>em</strong>inino S. Bento <strong>de</strong> Cástris (1275). S. Bento <strong>de</strong>Cástris (Fig. 74), nos arredores da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Évora, nunca chegou a ser absorvidopela expansão da cida<strong>de</strong> e, é um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> mosteiro <strong>de</strong> planície, encontrandosea sul do rio Tejo e no sul <strong>de</strong> Portugal, na região do Alentejo. Santa Maria <strong>de</strong>Almoster também se encontra <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> planície, no Ribatejo, acima do rioTejo e relativamente próximo <strong>de</strong> Lisboa.É <strong>de</strong> voltar a salientar a existência <strong>de</strong> um importante segundo pólo <strong>de</strong>impl<strong>em</strong>entação da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal, para além da região d<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong>,é a região <strong>de</strong> Alcobaça. Des<strong>de</strong> a segunda meta<strong>de</strong> do século XII ao inicio doséculo XIV os Cistercienses ergueram um v<strong>as</strong>to domínio a que se chamou “Coutos<strong>de</strong> Alcobaça”. Ao Mosteiro <strong>de</strong> Alcobaça se <strong>de</strong>veu a proliferação <strong>de</strong> granj<strong>as</strong> quetiveram um papel prepon<strong>de</strong>rante no cultivo e povoamento dos v<strong>as</strong>tos territóriosdoados à Abadia e <strong>de</strong>v<strong>as</strong>tados pel<strong>as</strong> lut<strong>as</strong> da Reconquista cristã (e no inícioainda sob a ameaça <strong>de</strong> nov<strong>as</strong> inv<strong>as</strong>ões muçulman<strong>as</strong>). Mais tar<strong>de</strong> est<strong>as</strong> granj<strong>as</strong>transformaram-se <strong>em</strong> vil<strong>as</strong> florescentes. 63 (Fig. 75)63 NATIVIDADE, J. Vieira; Obr<strong>as</strong> vári<strong>as</strong> – II; Edição da Comissão com<strong>em</strong>orativa promotora d<strong>as</strong> cerimóni<strong>as</strong>com<strong>em</strong>orativ<strong>as</strong> do I aniversário da morte do Prof. J. Vieira Nativida<strong>de</strong>; Alcobaça; s/d.; p.11 e p.63


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEFig. 75 A Quinta do Campo (marcada a cor), pertencente aos Coutos <strong>de</strong> Alcobaça, não só foi a escolaagrícola dos monges como <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong> a uma vila florescente: Valado <strong>de</strong> Fra<strong>de</strong>s, que se po<strong>de</strong> observara Oeste, enquanto a Este da quinta, ainda hoje exist<strong>em</strong> férteis terrenos <strong>de</strong> cultivo, apesar <strong>de</strong> ser<strong>em</strong>atravessados pela auto-estrada A8 como se po<strong>de</strong> observar na fotografia. (<strong>de</strong>senho da autora sobrefotografia aérea do IGeoE 64 )171A primeira farmácia portuguesa foi a do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça.Dom Maur Cocheril avança ainda com a suposição <strong>de</strong> que foi <strong>em</strong> Alcobaça queeventualmente po<strong>de</strong>rá ter surgido uma d<strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> escol<strong>as</strong> públic<strong>as</strong> instauradapelos monges alcobacenses.A primeira escola <strong>de</strong> agricultura surge <strong>em</strong> Valado dos Fra<strong>de</strong>s e subsiste até1833. A granja da Vestiaria fabricava tecidos, a granja <strong>de</strong> Ferraria fabricava, entreoutros objectos, arm<strong>as</strong>.As primeir<strong>as</strong> forj<strong>as</strong> portugues<strong>as</strong> surgiram <strong>em</strong> Águ<strong>as</strong> Bel<strong>as</strong> e <strong>em</strong> Ferrari<strong>as</strong>, nosCoutos <strong>de</strong> Alcobaça, pela mão dos aba<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Alcobaça que <strong>de</strong>ste modointroduziram, <strong>em</strong> Portugal, a indústria metalúrgica (Fig. 76).Com o p<strong>as</strong>sar do t<strong>em</strong>po a Abadia enriquece e transforma-se num po<strong>de</strong>rosofeudo cuja opulência contr<strong>as</strong>tava com a simplicida<strong>de</strong> e a austerida<strong>de</strong> primitiv<strong>as</strong>.Acrescenta-se como curiosida<strong>de</strong> que a grandiosida<strong>de</strong> e a opulência do Mosteiro<strong>de</strong> Alcobaça eram tais que simplesmente a sua cozinha do século XVIII foil<strong>em</strong>brada pelos escritos <strong>de</strong> William Beckford como “o mais notável t<strong>em</strong>plo <strong>de</strong>glutonaria <strong>de</strong> toda a Europa”. 6564 Agora IGP – Instituto Geográfico Português65 BECKFORD, William; Alcobaça e Batalha – Recordações <strong>de</strong> Viag<strong>em</strong>; Ed. Vega; Lisboa 1997; p. 36


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEFig. 76 Cozinha do Mosteiro <strong>de</strong> Alcobaça – utilização <strong>de</strong> colun<strong>as</strong> <strong>de</strong> ferroestruturais, facto inovador e pioneiro 66 (fotografia da autora)172Note-se que a maior percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> incorporações na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cisterrealizada <strong>em</strong> Portugal <strong>de</strong>u-se sobretudo durante os séculos XII e XIII (Graf. 9)correspon<strong>de</strong>ndo a 70% do total <strong>de</strong> mosteiros tendo sido verificada a maiora<strong>de</strong>são à Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister durante o reinado <strong>de</strong> D. Afonso Henriques (1128-1185).Graf. 9 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses do séc. XII ao XVII (esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)66 “(…) a cozinha do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça foi pioneira na utilização do ferro na construção civil(…). O que a torna famosa para os historiadores não é a sua gran<strong>de</strong> dimensão, m<strong>as</strong> a estrutura <strong>de</strong> ferro –constituída por oito colun<strong>as</strong> – <strong>em</strong> que <strong>as</strong>senta a chaminé gigante e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> <strong>as</strong> primeir<strong>as</strong>colun<strong>as</strong> <strong>de</strong> ferro fundido, utilizad<strong>as</strong> como estrutura <strong>de</strong> suporte <strong>em</strong> construção.” Cfr. FERREIRA, Maria AugustaLage Pablo da Trinda<strong>de</strong>; As Colun<strong>as</strong> <strong>de</strong> Ferro da Cozinha do Mosteiro <strong>de</strong> Alcobaça – hipóteses para a solução <strong>de</strong>um enigma ainda por <strong>de</strong>svendar; ACD, Editores; 2004; p.4 e p.11


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEIsto é cerca <strong>de</strong> 35% no século XII (Esq. 33) e idêntica percentag<strong>em</strong> no século XIII,distinguindo-se apen<strong>as</strong> no que respeita ao género, o século XII correspon<strong>de</strong>apen<strong>as</strong> a mosteiros m<strong>as</strong>culinos (Graf. 10), filiados ou fundados, enquanto o séculoXIII correspon<strong>de</strong> a uma elevada percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> fundações e filiações f<strong>em</strong>inin<strong>as</strong>(Graf. 11) porquanto relacionada com o s mosteiros do Ciclo do Real F<strong>em</strong>inino.Durante o século XIII (Esq. 34) <strong>de</strong> facto a percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> mosteirosf<strong>em</strong>ininos correspon<strong>de</strong>u a 58% d<strong>as</strong> fundações e filiações efectuad<strong>as</strong> enquanto apercentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> mosteiros m<strong>as</strong>culinos correspon<strong>de</strong>u a 42%.Graf. 10 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses do séc. XII(esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)Graf. 11 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses do séc. XIII(esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)173Esq. 33 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses do séc. XII(<strong>de</strong>senho da autora)Esq. 34 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses do séc. XIII(<strong>de</strong>senho da autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEO século XIV foi o século d<strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns militares daí a ausência <strong>de</strong> mosteiros<strong>cister</strong>cienses fundados ou filiados pois <strong>de</strong>u-se maior importância ao “braçoarmado <strong>de</strong> Cister”Durante os séculos XIV e XV houve um forte <strong>de</strong>créscimo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são à Or<strong>de</strong>m<strong>de</strong> Cister correspon<strong>de</strong>ndo apen<strong>as</strong> a 3% do total no séc. XV (Graf. 12 e Esq. 35).Graf. 12 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses do séc. XV(esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)Graf. 13 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses do séc. XVI(esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)174Esq. 35 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses do séc. XV(<strong>de</strong>senho da autora)Esq. 36 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses do séc. XVI(<strong>de</strong>senho da autora)Porém no século XVI (Graf. 13 e Esq. 36), com a criação da CongregaçãoAutónoma <strong>de</strong> Alcobaça, a 26 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1567, a situação inverte-se subindo apercentag<strong>em</strong> para os 21% o que permite um novo dinamismo à instituição<strong>cister</strong>ciense. Pouco <strong>de</strong>pois dá-se início ao período d<strong>as</strong> gran<strong>de</strong>s reconstruções erestauros, e é neste período (caracterizado pelo gosto barroco) que n<strong>as</strong>c<strong>em</strong> <strong>as</strong>nov<strong>as</strong> fachad<strong>as</strong> d<strong>as</strong> Igrej<strong>as</strong> <strong>de</strong> Alcobaça e do Bouro (Fig. 77).


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEabFig. 77 Nov<strong>as</strong> fachad<strong>as</strong>: (a)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça e (b) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro(fotografi<strong>as</strong> da autora)175Fig. 78 Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca: igreja (fotografia da autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEFig. 79 Sacristia do Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca (fotografia da autora)176Do século XVI é o colégio do Espírito Santo (1541) <strong>em</strong> Coimbra (Fig. 80) localizadona Rua da Sofia (sabedoria) um dos arruamentos mais estruturantes da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Coimbra. Nele existiam inúmeros colégios <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns religios<strong>as</strong> construídos após afixação da Universida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> 1537, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra.Fig. 80 Colégio do Espírito Santo, com os seus dois claustros b<strong>em</strong> visíveis, inserido na Cerca <strong>de</strong> S. Bernardo,agora recuperada paisagisticamente (<strong>de</strong>senho da autora sobre fotografia Virtual Earth)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEActualmente o Colégio <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Coimbra (Fig. 81), como também éconhecido, é hoje utilizado para fins habitacionais sendo o piso térreo <strong>de</strong>stinadoao comércio. A sua cerca foi recent<strong>em</strong>ente alvo <strong>de</strong> reconversão paisagística(Fig.82).Fig. 81 Colégio do Espírito Santo localizado na Rua da Sofia (fotografia daautora)177Fig. 82 Detalhe da reconversão e recuperação paisagística da Cerca <strong>de</strong> S. Bernardo (fotografi<strong>as</strong> da autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEO séc. XVII (Graf. 14 e Esq. 37) foi o século d<strong>as</strong> últim<strong>as</strong> fundações f<strong>em</strong>inin<strong>as</strong>: NossaSenhora da Nazaré do Mocambo (Fig. 83) e Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong>Tabosa (Fig. 84).Fig. 83 Mosteiro <strong>de</strong> N. Srª da Nazaré do Mocambo(fotografia da autora)Graf. 14 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses do séc. XVII(esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)178Fig. 84 Mosteiros <strong>de</strong> N. Srª da Assunção <strong>de</strong> Tabosa(fotografia da autora)Esq. 37 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses do séc. XVII(<strong>de</strong>senho da autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEO século XVIII foi o século da talha e dos <strong>em</strong>belezamentos barrocos queconstitu<strong>em</strong> todo um património integrado a preservar. Deste modo, Cisterexecutou um novo período <strong>de</strong> construção e renovação dos seus mosteirossegundo o novo gosto dos <strong>em</strong>belezamentos barrocos, distinguindo-se também<strong>de</strong>ste modo d<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong> simplicida<strong>de</strong> e cariz protestantes quecomeçaram a florescer na Europa tal como já foi referido anteriormente.179Fig. 85 Mosteiro <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão: Cúpula da Igreja (fotografia da autora)No séc. XVIII, <strong>as</strong> guerr<strong>as</strong> liberais e <strong>as</strong> inv<strong>as</strong>ões frances<strong>as</strong> vêm apen<strong>as</strong> aprofundar <strong>as</strong>ituação <strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência <strong>em</strong> que a Or<strong>de</strong>m se encontrava. No século XIX, <strong>em</strong>Portugal, a Or<strong>de</strong>m extingue-se, como tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> outr<strong>as</strong> por <strong>de</strong>creto (1834).No século XX iniciam-se <strong>as</strong> Campanh<strong>as</strong> <strong>de</strong> restauro, reconstrução,renovação, reabilitação levad<strong>as</strong> a cabo pela DGEMN (Direcção Geral dosEdifícios e Monumentos Nacionais) 67 , pelo IPPAR 68 (Instituto Português doPatrimónio Arquitectónico) e por particulares esten<strong>de</strong>ndo-se até este século(Fig.85).67 Actualmente IHRU68 Actualmente IGESPAR, IP


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEG É N D E S I G N A Ç Ã O D O M O S T E I R O E S T I L O S A R Q U I T E C T Ó N I C O SD O M I N A N T EP A R A L E L OMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> FiãesRomânicoBarroco (interior)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do ErmeloRomânicoBarroco (interior)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do BouroManeiristaRomânicoCont<strong>em</strong>porâneo(vestígios arq.)BarrocoMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>RomânicoGóticoMosteiro <strong>de</strong> São Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o velho)Românico-Mosteiro <strong>de</strong> São Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o novo)ManeiristaRomânicoBarroco(vestígios arq.)Cont<strong>em</strong>porâneoMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>GóticoRomânicoBarrocoManeiristaAbadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>Românico-180M A S C U L I N OMosteiro <strong>de</strong> São João <strong>de</strong> TaroucaMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> AguiarMosteiro <strong>de</strong> São Cristovão <strong>de</strong> LafõesGóticoBarrocoRomânicoGóticoManeiristaRomânicoRen<strong>as</strong>centistaCont<strong>em</strong>porâneoCont<strong>em</strong>porâneoBarrocoMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Maceira DãoManeirista-BarrocoMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria da EstrelaManeirista(<strong>de</strong>scaracterizado)Mosteiro <strong>de</strong> São Paulo <strong>de</strong> AlmazivaBarrocoManuelinoColégio do Espírito SantoRen<strong>as</strong>centistaCont<strong>em</strong>porâneoManeirista(<strong>de</strong>scaracterizado)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> SeiçaBarrocoManeiristaMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> AlcobaçaGóticoRen<strong>as</strong>centistaBarrocoCont<strong>em</strong>porâneoMosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora do DesterroManeiristaCont<strong>em</strong>porâneo(<strong>de</strong>scaracterizado)Esq. 38 Estilos arquitectónicos, dominantes e paralelos, nos mosteiros <strong>cister</strong>cienses m<strong>as</strong>culinos portugueses(síntese elaborada pela autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEFig. 86 Mosteiro <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão: igreja(fotografia da autora)181Os Mosteiros Cistercienses m<strong>as</strong>culinos (Esq. 38) existentes <strong>em</strong> Portugal apresentamcomo <strong>de</strong>nominador comum no que respeita ao estilo arquitectónico dominanteuma forte presença do estilo ren<strong>as</strong>centista e maneirista (31%) o que écompreensível pelos próprios factos históricos apontados anteriormente uma vezque com a Congregação Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça muitos mosteiros foramrenovados, quer por obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> reconstrução, quer por obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> renovação.Graf. 15 Estilo principal dos mosteiros m<strong>as</strong>culinos<strong>cister</strong>cienses (esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)Graf. 16 Estilo paralelo dos mosteiros m<strong>as</strong>culinos<strong>cister</strong>cienses (esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADE182Fig. 87 Mosteiro <strong>de</strong> Stª Mª <strong>de</strong> Alcobaça: fachada barroca (fotografia da autora)Esta linguag<strong>em</strong> arquitectónica é seguida pela presença do Barroco (27%), estiloutilizado nos <strong>em</strong>belezamentos requeridos pela nova Congregação Autónoma <strong>de</strong>Alcobaça (Fig. 87). Só <strong>de</strong>pois do estilo ren<strong>as</strong>centista, maneirista e barroco, ganhaexpressão a linguag<strong>em</strong> arquitectónica utilizada na génese da arquitectura<strong>cister</strong>ciense portuguesa, isto é o Românico (23%) e o Gótico (15%). Pelo queconsi<strong>de</strong>rando a primitiva arquitectura <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong> carácter românico e góticopo<strong>de</strong>-se afirmar que esta se sobrepõe maioritariamente constituindo-se qu<strong>as</strong>ecomo um terço do estilo predominante nos mosteiros <strong>cister</strong>cienses m<strong>as</strong>culinosportugueses, ou seja uma fatia maioritária <strong>de</strong> 38% que correspon<strong>de</strong> ao somatóriodos vestígios góticos e românicos (Graf.16).Em termos <strong>de</strong> estilos paralelos, pel<strong>as</strong> mesm<strong>as</strong> razões apontad<strong>as</strong> apresentamsetrês constantes: o Barroco (18%), a arquitectura ren<strong>as</strong>centista / maneirista (18%)e a arquitectura cont<strong>em</strong>porânea (23%). Esta última é a mais expressiva eabrangente linguag<strong>em</strong> arquitectónica que se verifica existir <strong>em</strong> termos <strong>de</strong>paralelismo estilístico nos mosteiros m<strong>as</strong>culinos <strong>cister</strong>cienses portugueses poismuitos foram intervencionados pela antiga DGEMN e pelo extinto IPPAR ao longo<strong>de</strong> todo o século XX e parte do século XXI.


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEG É N D E S I G N A Ç Ã O D O M O S T E I R O E S T I L O S A R Q U I T E C T Ó N I C O SD O M I N A N T EP A R A L E L OMosteiro <strong>de</strong> São Pedro e São Paulo <strong>de</strong> AroucaManeiristaCont<strong>em</strong>porâneoMosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> TabosaBarrocoManeiristaMosteiro <strong>de</strong> São Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> LorvãoManeiristaCont<strong>em</strong>porâneoBarrocoMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>ManuelinoRomânicoRen<strong>as</strong>centistaGóticoBarrocoMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> CósManeiristaManuelinoBarrocoF E M I N I N OMosteiro <strong>de</strong> São Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazaré do MocamboGóticoManeiristaBarrocoManeiristaCont<strong>em</strong>porâneoBarrocoCont<strong>em</strong>porâneoMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> AlmosterGóticoManeiristaBarroco183Mosteiro <strong>de</strong> São Bernardo <strong>de</strong> PortalegreRen<strong>as</strong>centistaManuelinoBarrocoMosteiro <strong>de</strong> São Bento <strong>de</strong> CástrisGótico - MudéjarRomânicoBarrocoMosteiro Nossa Senhora da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> TaviraManeiristaManuelinoCont<strong>em</strong>porâneoEsq. 39 Estilos arquitectónicos, dominantes e paralelos, nos mosteiros <strong>cister</strong>cienses f<strong>em</strong>ininos portugueses(síntese elaborada pela autora)Os Mosteiros Cistercienses f<strong>em</strong>ininos (Esq. 39) existentes <strong>em</strong> Portugal apresentamcomo <strong>de</strong>nominador comum no que respeita ao estilo arquitectónico dominanteuma forte presença do estilo ren<strong>as</strong>centista e maneirista (41%) o que écompreensível pelos próprios factos históricos apontados anteriormente quandose referiu o mesmo facto nos Mosteiros Cistercienses m<strong>as</strong>culinos. Tal como osmosteiros m<strong>as</strong>culinos anteriores esta linguag<strong>em</strong> arquitectónica é seguida pelapresença do Barroco (32%), estilo utilizado nos <strong>em</strong>belezamentos requeridos pelaCongregação Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça (Fig. 88).


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEFig. 88 Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa: arm<strong>as</strong> da CongregaçãoAutónoma <strong>de</strong> Alcobaça, sobre nicho que contém a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> S. Bernardo que seencontra sobre o pórtico <strong>de</strong> acesso a este mosteiro f<strong>em</strong>inino (fotografia da autora)184Graf. 17 Estilo principal dos mosteiros f<strong>em</strong>ininos<strong>cister</strong>cienses (esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)Graf. 18 Estilo paralelo dos mosteiros f<strong>em</strong>ininos<strong>cister</strong>cienses (esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)Uma vez que os mosteiros f<strong>em</strong>ininos <strong>cister</strong>cienses (Graf. 17) só começaram aaparecer <strong>em</strong> Portugal a partir do século XII é compreensível que o Românicocomo estilo dominante seja inexistente e que o Gótico apen<strong>as</strong> tenha umapresença <strong>de</strong> 14% existindo no entanto alguma expressão do Manuelino (4%).No entanto <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> estilos paralelos (Graf. 18) po<strong>de</strong>-se observar aindaalguma força na presença do Românico (15%) e do Gótico (8%). Porém no querespeita aos estilos não dominantes e paralelos dos Mosteiros Cisterciensesf<strong>em</strong>ininos portugueses existe uma forte expressão do estilo Manuelino (23%) a pardo Barroco (23%) e da arquitectura cont<strong>em</strong>porânea (23%). Este facto é apontado


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEpel<strong>as</strong> mesm<strong>as</strong> razões apontad<strong>as</strong> para os Mosteiros Cistercienses m<strong>as</strong>culinosportugueses.Fig. 89 Mosteiro da N. Sª da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Tavira: portal manuelino (arquivo da autora)Referindo-se à generalida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> dos mosteiros <strong>cister</strong>ciensessubsistentes na actualida<strong>de</strong> Saul António Gomes Afirma:“As velh<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> medievais gótic<strong>as</strong> foram, <strong>as</strong>sim, encaixad<strong>as</strong><strong>em</strong> fisionomi<strong>as</strong> arquitectónic<strong>as</strong> mo<strong>de</strong>rn<strong>as</strong>, posto que, nalgum<strong>as</strong>situações, se mantenham visíveis e fort<strong>em</strong>ente endogeneizad<strong>as</strong> comosuce<strong>de</strong> <strong>em</strong> Alcobaça.” 69185Graf. 19 Estilo principal dos mosteiros (f<strong>em</strong>ininos <strong>em</strong><strong>as</strong>culinos) <strong>cister</strong>cienses (esqu<strong>em</strong>a e síntese daautora)Graf. 20 Estilo paralelo dos mosteiros (f<strong>em</strong>ininos <strong>em</strong><strong>as</strong>culinos)<strong>cister</strong>cienses (esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)69 Cfr. GOMES, Saul António; Oito séculos <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal: questões <strong>em</strong> aberto in in “Act<strong>as</strong> <strong>de</strong>l III CongresoInternacional sobre el Císter en Galicia y en Portugal”; tomo I; Ediciones Monte C<strong>as</strong>ino; Zamora 2006; p.45


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEDe facto <strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal, repartindo-se por mosteirosf<strong>em</strong>ininos e mosteiros m<strong>as</strong>culinos, sofreram v<strong>as</strong>t<strong>as</strong> e profund<strong>as</strong> r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lações aolongo do t<strong>em</strong>po, sobretudo a partir do século XVI, sendo <strong>de</strong> inegável <strong>de</strong>staque ariqueza e o esplendor atingidos com o Barroco através da ornamentação e datalha dourada (Fig. 90).186Fig. 90 Cúpula da Capela-relicário da sacristia nova do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria<strong>de</strong> Alcobaça (fotografia da autora)De um modo genérico actualmente po<strong>de</strong>-se afirmar que os estilos dominantes(Graf. 19), tanto <strong>de</strong> mosteiros f<strong>em</strong>ininos como <strong>de</strong> mosteiros m<strong>as</strong>culinos, serepart<strong>em</strong> por três gran<strong>de</strong>s correntes estilístic<strong>as</strong>. Em primeiro lugar a linguag<strong>em</strong>Ren<strong>as</strong>centista / Maneirista (35%) seguida pela linguag<strong>em</strong> da arquitectura<strong>cister</strong>ciense primitiva (30%), do Românico (13%) ao Gótico (15%) e <strong>em</strong> últimainstancia ao Manuelino (2%), uma vez que é já uma expressão tardia do Góticoportuguês e que antece<strong>de</strong> e anuncia a nova linguag<strong>em</strong> barroca pois dota oGótico <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos característicos d<strong>as</strong> viagens marítim<strong>as</strong> e <strong>de</strong>scobert<strong>as</strong> <strong>de</strong>novos mundos levad<strong>as</strong> a cabo pelos Descobridores e navegantes portugueses. Aacrescentar à linguag<strong>em</strong> Ren<strong>as</strong>centista / Maneirista e à linguag<strong>em</strong> do primitivoCister português surge a linguag<strong>em</strong> Barroca (29%).No que refere à existência <strong>de</strong> estilos paralelos (Graf. 20) característicos nosmosteiros <strong>cister</strong>cienses, tanto f<strong>em</strong>ininos como m<strong>as</strong>culinos, <strong>em</strong> Portugal é <strong>de</strong>salientar a forte componente da arquitectura cont<strong>em</strong>porânea (23%) que constituipraticamente um quarto da linguag<strong>em</strong> arquitectónica que se po<strong>de</strong> encontrar nosex<strong>em</strong>plares do Cister português. De facto, como refere Terryl Kin<strong>de</strong>r:“Quando nel XIV o nel XVIII secolo alcune comunità hanno <strong>de</strong>ciso diricostruire, lo hanno fatto nello stile proprio <strong>de</strong>l loro t<strong>em</strong>po; non c’erano


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEdubbi al riguardo, ne si poteva agire <strong>de</strong>versamente: i costruttorimedievali erano morti e spolti e a nessuno sarebbe venuto in mente diricrearne l’opera (l’imitazione di stile di altre epoche è un fenomenotipico <strong>de</strong>l nostro t<strong>em</strong>po, non <strong>de</strong>l p<strong>as</strong>sato). Non contribuisce a unamigliore comprensione <strong>de</strong>lle cose dichiarare che le strutture edificatein seguito ‘non sono <strong>cister</strong>ciensi’; in realtà, ciò che rimproveriamo loroè che non sono romaniche. (...) il gusto cont<strong>em</strong>poráneo favorisce lapurezza <strong>de</strong>l romanico rispetto all’esuberanza <strong>de</strong>l barroco.” 70187Fig. 91 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Almoster (fotografia da autora)Po<strong>de</strong>-se referir que existam ainda <strong>em</strong> Portugal mosteiros que subsist<strong>em</strong> com a sualinguag<strong>em</strong> arquitectónica <strong>cister</strong>ciense primitiva como é o c<strong>as</strong>o dos Mosteiros <strong>de</strong>Santa Maria <strong>de</strong> Fiães, Santa Maria do Ermelo, Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>, S. Pedro d<strong>as</strong>Águi<strong>as</strong> (o velho) <strong>as</strong>sim como os vestígios arquitectónicos da Abadia velha <strong>de</strong>Salzed<strong>as</strong>. O edifício gótico por excelência da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal é oMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça.Inseridos noutro tipo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> arquitectónica que não a primitiva (<strong>de</strong>s<strong>de</strong>o estilo Ren<strong>as</strong>centista, ao Maneirismo, ao Manuelino e ao Barroco) são osMosteiros <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão, Santa Maria <strong>de</strong> Cós, Santa Maria <strong>de</strong> Almoster(Fig. 91), S. Bento <strong>de</strong> Cástris, Santa Maria <strong>de</strong> Seiça, S. Paulo <strong>de</strong> Almaziva, S. Pedro eS. Paulo <strong>de</strong> Arouca.Outros possu<strong>em</strong> o cunho da arquitectura cont<strong>em</strong>porânea: S. Cristóvão <strong>de</strong>Lafões, Nossa Senhora da Nazaré <strong>de</strong> Mocambo, a Ala S. Bernardo do Mosteiro <strong>de</strong>Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça; Ou estão construídos com <strong>as</strong> pedr<strong>as</strong> <strong>de</strong> um mosteiro70 KINDER, Terryl N.; I Cisterciensi – vita quotidiana, cultura, arte; Biblioteca di Cultura Medievale; col. Di Fronte eAttraverso; nº 468; Editoriale Jaca book spa; Milano; 1998; p. 230


3. CISTER EM PORTUGAL: DAS ORIGENS À ACTUALIDADEcomo é o c<strong>as</strong>o do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro (Fig. 92) e Nossa Senhora daPieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tavira. Também dotado <strong>de</strong> uma linguag<strong>em</strong> cont<strong>em</strong>porânea é oarranjo paisagístico do Colégio do Espírito Santo ou <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Coimbra.Fig. 92 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro (fotografia da autora)188Porém, noutros mosteiros n<strong>em</strong> os estilos paralelos subsist<strong>em</strong> pois o próprio edificado<strong>de</strong>sapareceu para s<strong>em</strong>pre como é o c<strong>as</strong>o dos Mosteiros <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Tomarães, S. Tiago <strong>de</strong> Sever ou S. João <strong>de</strong> vale Me<strong>de</strong>iro. No entanto, refere DomMaur Cocheril:“Quando os monges, durante séculos e séculos,impressionaram com a sua marca uma terra,ainda que não fic<strong>as</strong>se da moradia dos mongessenão uma pedra que se <strong>de</strong>sagrega,senão um grão <strong>de</strong> areia que se esbroa,a pedra, a areia falam dos monges.Mesmo que a pedra e o grão <strong>de</strong> areiapor seu turno <strong>de</strong>saparecess<strong>em</strong>,a terra, a velha e nobre terra,a terra sobre a qual os monges se <strong>de</strong>bruçavam,o vale <strong>em</strong> que rezavam,<strong>as</strong> árvores que plantaramcontinuariam a falar <strong>de</strong>les.Porque, durante séculos e séculos,os monges impressionaram com a sua marca uma terra. ” 7171 Cfr COCHERIL, Dom Maur; Cister <strong>em</strong> Portugal; Edições Panorama; Lisboa; 1965; p.17


PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS4.189Fig. IV Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar(<strong>de</strong>senho <strong>de</strong> Mestre Jorge Braga da Costa cedido pelo autor)


PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS4.4.1. CONSTRUÇÃO CISTERCIENSE DO ESPAÇO MONÁSTICO4.2. MOSTEIRO COMO CIDADE IDEAL E PARADISUM CLAUSTRALIS4.3. ESTÉTICA BERNARDINA E SEU REFLEXO NA ARQUITECTURA:ARQUITECTURA CISTERCIENSE4.3.1. Plano Bernardino vs. Plano Cisterciense4.3.2. Breve cronologia d<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> tipo <strong>em</strong> estudos dos sécs. XX e XXI4.3.3. Morfologia do Plano <strong>cister</strong>ciense4.4. TEMPO vs. ESPAÇO: A JORNADA CISTERCIENSE4.5. MINIMALISMO CISTERCIENSE: <strong>de</strong>l Cister <strong>de</strong>l siglo XII al “Minimum” <strong>de</strong>l siglo XXI190


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS4.1.CONSTRUÇÃO CISTERCIENSE DO ESPAÇO MONÁSTICOO espaço <strong>cister</strong>ciense apresenta-se como um lugar que pela suageomorfologia, pel<strong>as</strong> su<strong>as</strong> linh<strong>as</strong> <strong>de</strong> água, pel<strong>as</strong> su<strong>as</strong> matéri<strong>as</strong>-prim<strong>as</strong>,<strong>de</strong>termina o plano da construção, por vezes também a sua orientação, o seu<strong>as</strong>pecto e o seu espírito (Fig. 93). Como refere Frei Geraldo Coelho Di<strong>as</strong> citandoum antigo texto monástico latino apelidado <strong>de</strong> Sancti Benedicti Regulacommentatti:“Primeiro, que o lugar não sofra impedimento <strong>de</strong> reis, príncipes,bispos ou outros magnates; que, por isso mesmo, esteja af<strong>as</strong>tado dopalácio <strong>de</strong>les (…) Segundo, que o sítio do mosteiro esteja af<strong>as</strong>tado<strong>de</strong> outros lugares, isto é, <strong>de</strong> lugares <strong>em</strong> que, por <strong>de</strong>voção ouperegrinação, haja concurso <strong>de</strong> gentes, porque, com isso nãopouco se perturbaria a tranquilida<strong>de</strong> dos monges (…) Terceiro, queo mosteiro se construa <strong>em</strong> lugar on<strong>de</strong> haja água, floresta, e tudo oque enumera S. Bento, pelo que os mosteiros dificilmente se hão-<strong>de</strong>construir n<strong>as</strong> cida<strong>de</strong>s (…) Quarto, que aquele que funda <strong>de</strong> novoum mosteiro o dote do suficiente para alimento e vestir dos monges,cuja falta não raro faz surgir questões entre os irmãs oc<strong>as</strong>ião <strong>de</strong>murmurar ou <strong>de</strong> vaguear por fora.” 1191Fig. 93 Paisag<strong>em</strong> natural, que ainda hoje se po<strong>de</strong> observar, a partir <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong>Águi<strong>as</strong>, o velho (fotografia da autora)1 Cit. DIAS, Geraldo Coelho; Os Mosteiros e a organização dos Espaços: Arquitectura e Espiritualida<strong>de</strong>; textoinédito policopiado; 2006; p.2


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS192Deste modo, um mosteiro <strong>de</strong>veria ser erigido o mais longe possível d<strong>as</strong> zon<strong>as</strong>habitad<strong>as</strong> uma vez que o monge, como o nome indica, <strong>de</strong>verá viver <strong>em</strong>solidão por esse motivo tal como é referido no capítulo I do Exordium Cistercii:“Era este local «o sítio <strong>de</strong> horror e v<strong>as</strong>ta <strong>de</strong>solação», m<strong>as</strong>consi<strong>de</strong>rando aqueles soldados <strong>de</strong> Cristo que a dureza do lugarnão estava <strong>em</strong> dissintonia com o rigor do seu propósito e doprojecto que haviam concebido no seu espírito como se aquelelugar lhes tivesse sido preparado pela vonta<strong>de</strong> divina, tomaram-no<strong>em</strong> tanta maior estima quanto mais amor tinham pelo seupropósito.” 2Como refere Guilherme <strong>de</strong> S. Teodorico na sua Vita Bernardi I a , citado porAuberger, quando <strong>de</strong>screve o sítio primitivo <strong>de</strong> Claraval:“Par son site, cette vallée solitaire, placée au milieu d’épaissesforêts, et entourée <strong>de</strong> tous côtés <strong>de</strong> montagnes très rapprochées,représentait en quelque sorte à tous les serviteurs <strong>de</strong> Dieu quivenaient s’y cacher, la grotte où notre père Saint Benoît futdécouvert un jour par les bergers; elle rappelait l’habitation et, si jepuis parler ainsi, la forme même <strong>de</strong> la solitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> celui dont ilsimitaient la vie.” 3Frequent<strong>em</strong>ente os <strong>cister</strong>cienses implantaram os seus mosteiros <strong>em</strong> vales, sendopara isso necessário proce<strong>de</strong>r a profund<strong>as</strong> transformações no território <strong>de</strong> modoa torná-los férteis e habitáveis. A procura e predilecção <strong>de</strong> vales para aimplantação <strong>de</strong> mosteiros estão patentes não só na legislação primitiva comotambém nos versos:“Bernardus valles, colles Benedictus amabat,Franciscus vicos, celebres Ignatius urbes.” 4Segundo Anselme Dimier estes versos teriam sido inspirados numa p<strong>as</strong>sag<strong>em</strong> da“Chronologia mon<strong>as</strong>teriorum germaniae ilustrium” 5 do poeta al<strong>em</strong>ão G<strong>as</strong>perBrush, que r<strong>em</strong>onta à primeira meta<strong>de</strong> do século XVI, quando este escreveusobre o mosteiro <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong> Königsbrunn <strong>em</strong> Wurtt<strong>em</strong>berg. Nesta obraencontra-se:“S<strong>em</strong>per enim balles sylvestribus undique cinct<strong>as</strong>Arboribus, divus Bernardus amoenaque prataEt fluvius; juga sed Benedictus amabat et arcesCaelo surgentes e quarum vertice late2 Cit. Exordium Cistercii, cap. I in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong>Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; pp.49-503 Cit. AUBERGER, Jean-Baptiste; Mystère <strong>de</strong> Fontenay; col. La voie lactée; Ed. Zodiaque; 2001; p. 204 Ver DIMIER, Pe. Anselme; Stones laid before the Lord. A history of mon<strong>as</strong>tic architecture; Cistercian StudiesSeries 152; Cistercian Publications; Michigan; 1999; p. 51.Tradução livre:Bernardo amava os vales, Bento <strong>as</strong> colin<strong>as</strong>, Francisco <strong>as</strong> vil<strong>as</strong>, Inácio <strong>as</strong> gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s.5 Cronologia dos ilustres mosteiros da Al<strong>em</strong>anha


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSProspectus petitur; secessum plebia uterque”. 6Deste modo po<strong>de</strong>-se comprovar a preferência dos vales, especialmenteaqueles que estavam próximos dos cursos <strong>de</strong> água, na escolha dos seus sítios.Estes locais permitiam <strong>as</strong>sim o acesso à água, b<strong>em</strong> precioso para a subsistência,<strong>as</strong>sim como o isolamento do bulício da vida urbana. M<strong>as</strong> também era nos valesque se encontravam <strong>as</strong> matéri<strong>as</strong>-prim<strong>as</strong> necessári<strong>as</strong> à construção e terr<strong>as</strong> paracultivo (Fig. 94). Como refere Duby:“Nest<strong>as</strong> paragens isolad<strong>as</strong> (…) preocuparam-se <strong>em</strong> adquirir,imediatamente, du<strong>as</strong> espécies <strong>de</strong> bens, s<strong>em</strong> os quais a suainstalação não seria perfeita e que, vulgarmente, rareavam nestesterrenos pantanosos, salpicados <strong>de</strong> charcos poluídos: pedra dura eágua límpida. Adquiriram uma pedreira, uma fonte, o direito <strong>de</strong>p<strong>as</strong>sag<strong>em</strong> para <strong>as</strong> condut<strong>as</strong> que <strong>de</strong>sviariam a corrente <strong>de</strong> águaaté ao claustro.” 7193Fig. 94 Curso <strong>de</strong> água que ab<strong>as</strong>tece S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões, como se encontra naactualida<strong>de</strong> (fotografia da autora)O meio on<strong>de</strong> se insere o monge <strong>cister</strong>ciense medieval, isto é, o seu habitatmonástico apresenta-se como um conjunto arquitectónico completo ecoerente, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> equilíbrio formal, obe<strong>de</strong>cendo a um programa singular6 Ver DIMIER, Pe. Anselme; Op.cit.; pp. 51-52Tradução livre: S. Bernardo s<strong>em</strong>pre gostara <strong>de</strong> vales completamente ro<strong>de</strong>ados por florest<strong>as</strong>, pradari<strong>as</strong> e rios,enquanto Bento preferia colin<strong>as</strong> e altur<strong>as</strong> que atingiss<strong>em</strong> os céus até on<strong>de</strong> se pu<strong>de</strong>sse ver; m<strong>as</strong> ambosprocuravam locais recatados.7 Cit. DUBY, Georges; São Bernardo e a Arte Cisterciense; col. Sinais; Edições ASA; Fevereiro 1997; pp. 118


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS194que foi pensado para acolher e respon<strong>de</strong>r a<strong>de</strong>quadamente às exigênci<strong>as</strong>funcionais <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s monástic<strong>as</strong> isolad<strong>as</strong>, <strong>de</strong> vida se<strong>de</strong>ntária eautosuficientes seguindo o princípio da autarcia. O trabalho dos monges<strong>cister</strong>cienses juntamente com a sábia administração d<strong>as</strong> terr<strong>as</strong> tornaram ossolos difíceis, m<strong>as</strong> bons, <strong>em</strong> bosques florescentes ou <strong>em</strong> terr<strong>as</strong> <strong>de</strong> cultivo porexcelência. Como refere o monge beneditino Gérald <strong>de</strong> Galles (1188):“Donnez a ces moines une lan<strong>de</strong> dénudée ou un bois sauvage, puislaissez p<strong>as</strong>ser quelques années, et vous trouverez non seul<strong>em</strong>ent <strong>de</strong>superbes églises, mais <strong>de</strong> habitations humaines qui se sont bâtiesautour d’elles.” 8Ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong>ste trabalho v<strong>as</strong>to, eficaz e transformador do território é a Abadia<strong>de</strong> Dunes, na Flandres, na qual o trabalho dos monges chega mesmo arectificar parcialmente o traçado da costa do Mar do Norte. O espaçomonástico po<strong>de</strong>-se constituir como um organismo territorial apropriando-se doterritório, mo<strong>de</strong>lando-o e alterando-o conforme <strong>as</strong> su<strong>as</strong> necessida<strong>de</strong>s e cujoespaço arquitectónico é edificado consoante <strong>as</strong> necessida<strong>de</strong>s do espírito e docorpo. Quer na sua vertente física, como na vertente i<strong>de</strong>al, este é o lugarconstruído pelos homens e or<strong>de</strong>nado segundo a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus.O mosteiro <strong>cister</strong>ciense é símbolo do mo<strong>de</strong>lo económico da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>Cister b<strong>as</strong>eado na autarcia e no <strong>de</strong>spojamento <strong>de</strong> bens. Os monges <strong>de</strong> seunada possuíam, ou pelo menos <strong>as</strong>sim foi o i<strong>de</strong>al <strong>cister</strong>ciense na sua génese pois“O sustento dos monges da nossa Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ve provir do trabalho d<strong>as</strong> su<strong>as</strong>mãos, do cultivo d<strong>as</strong> terr<strong>as</strong>, da criação <strong>de</strong> animais (...)” 9Sendo <strong>as</strong>sim, <strong>de</strong>pois do local escolhido e da acção <strong>cister</strong>ciense ter sidoiniciada, construindo e modificando o território,“(…) <strong>as</strong> b<strong>as</strong>es do edifício <strong>cister</strong>ciense estão solidamenteconstruíd<strong>as</strong>: este património, sabiamente gerido, transformou-senuma paisag<strong>em</strong> que, a pouco e pouco, se foi or<strong>de</strong>nando,organizada para produzir, para que o mel e o azeite sejamextraídos, cada vez mais abundantes, d<strong>as</strong> pedr<strong>as</strong> e dosrochedos.” 10Em arquitectura, o local escolhido <strong>de</strong>termina o processo <strong>de</strong> concepção, quer anível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho, quer a nível da sua própria construção, pelo que o carácterda própria obra arquitectónica exprime e reflecte o modo <strong>de</strong> pensar e <strong>de</strong> aviver. Deste modo, no que respeita a arquitectura <strong>cister</strong>ciense, surge uma8 Ver. COCHERIL, Dom Maur; Introduction in BRONSEVAL, Frère Clau<strong>de</strong> <strong>de</strong> ; “Peregrinatio Hispanica. Voyage<strong>de</strong> Dom È<strong>de</strong>me <strong>de</strong> saulieu, Abbé <strong>de</strong> Clairvaux, en Espagne et au Portugal (1531-1533)”; (ed. Dom MaurCocheril); PUF; Paris; 1970; p. 289 Ver Capitula, cap. XV in CISTER: os Documentos Primitivos; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong> Aires A.N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 5910 Cit. DUBY, Georges; Op. cit.; p.120


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSmimese com a envolvente, com a paisag<strong>em</strong> circundante, com o local no qualse insere, isto é, com o sítio escolhido.Fig. 95 Mosteiro <strong>de</strong> Sta. Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> (fotografia da autora)O local <strong>de</strong> implantação dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses insere-se num contextogeográfico pleno <strong>de</strong> misticismo e simbolismo (Fig. 95). A escolha do genius loci<strong>cister</strong>ciense radica na observância literal e escrupulosa da Regra <strong>de</strong> S. Bento: apredilecção dos vales, pelos <strong>cister</strong>cienses, radica na sua própria morfologia poiseste apresenta-se como o símbolo <strong>de</strong> terra fértil que é fecundada pel<strong>as</strong> graç<strong>as</strong>espirituais que <strong>de</strong>sc<strong>em</strong> ao longo dos flancos d<strong>as</strong> colin<strong>as</strong> próxim<strong>as</strong>. Para S.Bernardo, o vale era o recipiente simbólico on<strong>de</strong> se construía a vida místicacuja pedra angular era a humilda<strong>de</strong> que é um t<strong>em</strong>a fulcral e constante não sóno pensamento monástico, como também na Regra <strong>de</strong> S. Bento. 11Os locais mais procurados eram aqueles que, inseridos <strong>em</strong> plenanatureza, se encontravam mais isolados e <strong>em</strong> locais recônditos, porém próximos<strong>de</strong> linh<strong>as</strong> <strong>de</strong> água ou com potencialida<strong>de</strong>s hídric<strong>as</strong>, propícios à experiênciamística e ao trabalho manual, como refere o l<strong>em</strong>a “Ora et Labora”, facto quesuce<strong>de</strong>u com mais intensida<strong>de</strong>, durante os primórdios da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister comresultados práticos na gestão da orgânica e da vivência <strong>de</strong> um mosteiro.Deste modo, o território característico dos mosteiros <strong>cister</strong>ciensesobe<strong>de</strong>ce a uma topografia específica: vales florestados e solos férteis; longe <strong>de</strong>povoados e do bulício humano; existência <strong>de</strong> água potável; existência <strong>de</strong>materiais que foss<strong>em</strong> propícios para a construção, ou seja a pedra e a ma<strong>de</strong>ira.19511 Ver AUBERGER, Jean-Baptiste; Op. cit.; p.41


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS196A <strong>de</strong>terminação do sítio <strong>cister</strong>ciense medieval <strong>de</strong>via estimular e a<strong>de</strong>quarsea uma vida <strong>de</strong> espiritualida<strong>de</strong>, clausura, recolhimento, <strong>as</strong>cetismo, oração etrabalho dos monges. As áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> vale amen<strong>as</strong> têm um papel fundamental naorganização e na dinâmica da vida <strong>cister</strong>ciense. Para aproveitar melhor os seusrecursos endógenos, os monges or<strong>de</strong>naram a paisag<strong>em</strong> circundante <strong>de</strong> modoa garantir a estrutura do sist<strong>em</strong>a produtivo e a sua própria subsistência.Esta vivência <strong>as</strong>cética, espiritual, <strong>de</strong>terminada e poética advém daforça patente nos valores ambientais, paisagísticos e mesmo ecológicos on<strong>de</strong>“se apren<strong>de</strong>m mais cois<strong>as</strong> do que nos livros”, como refere S. Bernardo e queconfiguram a sã vivência inserida no Paradisum Claustralis. Note-se que muitosdos mosteiros <strong>cister</strong>cienses adoptaram nomes que etimologicamente sereportam às característic<strong>as</strong> naturais dos locais on<strong>de</strong> se inseriam primitivamente(são ex<strong>em</strong>plos: água, luz, paz, beleza, alegria, entre outros). Estes são os motivose os requisitos imprescindíveis para a escolha do lugar para a fundação oufiliação <strong>de</strong> um mosteiro aliando o factor utilitário ao espiritual.Com o intuito <strong>de</strong> garantir a vocação e a suficiência <strong>de</strong>st<strong>as</strong> condições, ossítios eram inspeccionados, previamente ao acto <strong>de</strong> anuência do novoestabelecimento monástico, por dois ou três aba<strong>de</strong>s <strong>de</strong>legados do CapítuloGeral. Era edificado um muro <strong>de</strong> clausura, a cerca, para lá do qual sedomesticava a natureza.O mito da fundação no “<strong>de</strong>serto” é hoje criticado por alguns historiadorespois um consi<strong>de</strong>rável número <strong>de</strong> fundações, no seu início, reutilizaram antig<strong>as</strong>estrutur<strong>as</strong> conventuais obtid<strong>as</strong> por doação e apen<strong>as</strong> mais tar<strong>de</strong> se <strong>de</strong>slocampara outro local. As circunstânci<strong>as</strong> do local, a par <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminad<strong>as</strong>necessida<strong>de</strong>s e coincidênci<strong>as</strong> do momento, explicam que alguns locais sejamtudo menos um “<strong>de</strong>serto”, como é o c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> Alcobaça, nos termos dafundação real <strong>de</strong> 1153, encabeçando uma colónia populacional <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>uma zona ainda muçulmana. 12 Ou ainda como refere Duby:“Muit<strong>as</strong> vezes, nos locais on<strong>de</strong> os <strong>cister</strong>cienses se instalaram, existiajá, s<strong>em</strong> dúvida, um pequeno espaço ajardinado, tratado por umer<strong>em</strong>ita aí anteriormente instalado; m<strong>as</strong> não p<strong>as</strong>sava <strong>de</strong> umaclareira aberta no meio do espaço inculto. Tudo permanecia porfazer.” 13As primeir<strong>as</strong> caban<strong>as</strong> <strong>em</strong> ma<strong>de</strong>ira cedo foram substituíd<strong>as</strong> por monumentais eimponentes construções <strong>em</strong> pedra erigid<strong>as</strong> segundo os mol<strong>de</strong>s contidos naCarta <strong>de</strong> Carida<strong>de</strong>, plano <strong>de</strong> conduta espiritual e física da Or<strong>de</strong>m. O capítuloIX dos Capitula refere que:12 Ver PRESSOUYRE, León; Le Rêve Cistercien; col. Découverts Gallimard; nº 95; Ed. Gallimard; Paris; 1998; p. 3413 Cit. DUBY, Georges; Op. cit.; p.118


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS“Nenhum mosteiro po<strong>de</strong>rá ser erigido <strong>em</strong> cida<strong>de</strong>, burgo ou al<strong>de</strong>ia.Não se po<strong>de</strong> enviar um novo aba<strong>de</strong> para fazer uma novafundação s<strong>em</strong> pelo menos doze monges, s<strong>em</strong> que entre os livroshaja um saltério, um himnário, um colectário, um antifonário, umgradual, uma Regra, um missal, n<strong>em</strong> antes <strong>de</strong> naquele local ter<strong>em</strong>sido levantados os edifícios do oratório, do refeitório, da c<strong>as</strong>a parahóspe<strong>de</strong>s e para o porteiro; isto para que imediatamente possamservir a Deus e levar uma vida regular.Fora dos muros do mosteiro não se construa qualquer edifício<strong>de</strong>stinado a habitação, que não seja o dos animais.” 14Razões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m espiritual e material exerceram um papel <strong>de</strong>cisivo na escolhado local on<strong>de</strong> iria ser edificado cada mosteiro da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister. Surge aexistência <strong>de</strong> uma tipologia, dos sítios nos quais eram fundados os novosmosteiros, que se encontra <strong>de</strong> acordo com o espírito e modo <strong>de</strong> vida levado acabo pelos <strong>cister</strong>cienses, resultando <strong>as</strong>sim numa integração arquitectónica epaisagística consi<strong>de</strong>ráveis. A Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister tinha entre os seus irmãos leigos econversos um conjunto <strong>de</strong> mestres construtores <strong>de</strong> elevada qualificação, muitoprovavelmente oriundos <strong>de</strong> França (sobretudo <strong>de</strong> Claraval).A partir <strong>de</strong> 1119 com o reconhecimento da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister pelo PapaCalixto II foi necessário proce<strong>de</strong>r às <strong>de</strong>vid<strong>as</strong> adaptações para acolhercomunida<strong>de</strong>s mais numeros<strong>as</strong> por isso <strong>as</strong>siste-se a uma diversificação econsequente transformação da arquitectura.As mudanç<strong>as</strong> <strong>de</strong> sítio suce<strong>de</strong>ram-se s<strong>em</strong>pre que o primeiro local revel<strong>as</strong>sealguma insuficiência ou dificulda<strong>de</strong>, ou seja insuficiente existência <strong>de</strong> água,esc<strong>as</strong>sez <strong>de</strong> espaço, proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> habitantes laicos. Segundo PeterFergusson <strong>as</strong> mudanç<strong>as</strong> <strong>de</strong> local foram numeros<strong>as</strong> numa proporção média <strong>de</strong>um <strong>em</strong> cada três. Uma vez escolhido o sítio e se este não revel<strong>as</strong>se algum tipo<strong>de</strong> insuficiência ou impedimento o seu <strong>de</strong>senvolvimento era efectuado porf<strong>as</strong>es. Num momento inicial construíam-se os primeiros edifícios <strong>em</strong> ma<strong>de</strong>ira,mais tar<strong>de</strong> utilizava-se a pedra para a substituir o que permitia aos edifícios<strong>as</strong>sumir um carácter <strong>de</strong> permanência po<strong>de</strong>ndo mesmo vir a sofrer alterações<strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com <strong>as</strong> necessida<strong>de</strong>s da comunida<strong>de</strong> monástica (Esq. 40).Na construção dos seus mosteiros os <strong>cister</strong>cienses lançavam os alicercespara todo o conjunto monástico logo na primeira campanha da construção.De seguida <strong>as</strong> obr<strong>as</strong> iam progredindo por partes sendo a primeira construída aque correspondia à ala dos monges <strong>de</strong> modo a permitir a exigência do Ora etLabora da Regra Beneditina. Deste modo garantia-se a vida <strong>de</strong> oração etrabalho <strong>de</strong>ntro da clausura a que correspondia esta ala ao ser constituída,como já foi referido, a nível do piso térreo pela sala do capítulo e p<strong>as</strong>sag<strong>em</strong> do19714 Ver Capitula, cap. IX in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong> AiresA. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 57


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSclaustro para o exterior, sala <strong>de</strong> trabalho e a nível superior dormitório dosmonges com acesso através da escada d<strong>as</strong> matin<strong>as</strong> para a igreja.“Ils commençaient par délimiter leur domaine au moyen <strong>de</strong> petitescroix <strong>de</strong> bois, puis ils élevaient les quelques bâtiments indispensables(…). Tout cela était en bois. (…) Ce n’est que plus tard, quand la vi<strong>em</strong>atérielle <strong>de</strong> la pettite communauté était à peu prés <strong>as</strong>surée etque les pr<strong>em</strong>iers novices s’étaient présentés, que les cabanescédaient la place à un mon<strong>as</strong>tère propr<strong>em</strong>ent dit, bâti en pierre,disposé suivant <strong>de</strong>s règles précises (…).” 15FASE 1construção dos primeirosedifícios <strong>em</strong> ma<strong>de</strong>iraFASE 2a pedra substitui a ma<strong>de</strong>iraFASE 3198os edifícios <strong>as</strong>sum<strong>em</strong> um carácter <strong>de</strong>permanência e são ampliadosEsq. 40 As distint<strong>as</strong> f<strong>as</strong>es construtiv<strong>as</strong> <strong>de</strong> um mosteiro<strong>cister</strong>ciense (síntese elaborada pela autora)“L’église terminée, le travail se poursuit habituell<strong>em</strong>ent par lebâtiment <strong>de</strong>s convers, puis para le chapitre, la salle <strong>de</strong>s moines et ledortoir, enfin par l’aile du réfectoire, <strong>de</strong> la cuisine et du chauffoir. Lecloître, qui n’est général<strong>em</strong>ent d’abord qu’une structure <strong>de</strong> bois enappentis, r<strong>em</strong>placée bien plus tard par <strong>de</strong>s galeries <strong>de</strong> pierre,parachève l’ens<strong>em</strong>ble.” 16A igreja abacial era, <strong>de</strong>ste modo, o primeiro edifício a ser construído (Fig. 96),sendo iniciada a sua construção pela extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong> oriental. “Les abbayes15 Cfr. COCHERIL, Dom Maur; Notes sur l’Architecture et le Décor dans les Abbayes Cisterciennes du Portugal;col. Fontes Documentais Portugues<strong>as</strong>; vol. V; Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português; Paris1972, p.1016 Cfr. TOBIN, Stephen; Les Cisterciens – Moines et Mon<strong>as</strong>tères d’Europe; Les Éditions du Cerf; Paris 1995; pp. 75-78


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS<strong>cister</strong>ciennes sont toujours orientées, ce qui veut dire que le maître-autel estinvariabl<strong>em</strong>ent tourné vers l’est, sauf en c<strong>as</strong> d’obstacle naturel” 17Fig. 96 Construção do Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca a partir do seu planopreviamente traçado. Painel <strong>de</strong> azulejos presente junto ao altar-mor do Mosteiro <strong>de</strong>São João <strong>de</strong> Tarouca (fotografia da autora)Inicialmente <strong>as</strong> medições e marcações do terreno eram feit<strong>as</strong> com uma corda(Fig. 97), s<strong>em</strong> gran<strong>de</strong> controlo <strong>de</strong> esquadri<strong>as</strong> n<strong>em</strong> <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarga d<strong>as</strong>abóbad<strong>as</strong> (Fig. 98).199Fig. 97 Anjos executam, no céu, <strong>as</strong> marcações do Mosteiro <strong>de</strong> santa Maria <strong>de</strong>Alcobaça que seriam <strong>de</strong>pois repetid<strong>as</strong> pelos monges e <strong>as</strong>salariados aquando aconstrução do mosteiro como reza a lenda. Sala dos Reis Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria<strong>de</strong> Alcobaça (fotografia da autora)17 Cfr. TOBIN, Stephen; Op. cit; p.75


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 98 Sob a supervisão dos monges <strong>cister</strong>cienses e o olhar atento <strong>de</strong> d. AfonsoHenriques, repete-se <strong>em</strong> terra o trabalho que os Anjos executam, no céu, ou seja, <strong>as</strong>marcações do Mosteiro <strong>de</strong> santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça como reza a lenda. Sala dosReis, Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (fotografia da autora)200A construção <strong>de</strong> uma abadia <strong>cister</strong>ciense estendia-se <strong>as</strong>sim por muitos e longosanos (Fig. 99). O mestre pedreiro era <strong>as</strong>sistido pelo mestre carpinteiro e pelovidraceiro. Este último era responsável não só <strong>de</strong> trabalhar o vidro m<strong>as</strong> tambémo chumbo.Utilizava-se o fio-<strong>de</strong>-prumo para controlar a verticalida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> pare<strong>de</strong>s queestavam a ser erigid<strong>as</strong>. “On se sert d’un fil à plomb pour faire en sorte que lesmurs montent droit, et l’on utilise beaucoup l’équerre et le comp<strong>as</strong>.” 18Na construção <strong>em</strong>pregavam-se gru<strong>as</strong> rudimentares (Fig. 100), cofragens<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira como refere Tobin:“Au fur et à mesure que les murs <strong>de</strong> l’église s’élèvent en hauteur,<strong>de</strong>s échafaudages <strong>de</strong> bois sont dressés et <strong>de</strong>s grues rudimentairesmontent les pierres. Les voûtes sont élevées sur <strong>de</strong>s coffrages <strong>de</strong>bois, coffrages que seront enlevés une fois le mortier posé.Ass<strong>em</strong>blées au sol, les sections <strong>de</strong> la charpente sont hissées, misesen place, couvertes <strong>de</strong> plomb puis <strong>de</strong> tuiles. Une fois que le toit,construit au sol morceau par morceau, est posé, l’intérieur <strong>de</strong>sbâtiments peut être achevé sans hâte, même, s’il fait mauvais.” 1918 Cfr. TOBIN, Stephen; Op. cit.; p. 7519 Cfr. I<strong>de</strong>m; p. 75


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 99 Construção do Mosteiro <strong>de</strong> Sal<strong>em</strong>, Al<strong>em</strong>anha (arquivo Editions Gaud)201Fig. 100 Monges construtores 2020 In PRESSOUYRE, León; Op. cit.; p.91


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS202Num primeiro momento po<strong>de</strong>-se afirmar que <strong>as</strong> construções <strong>cister</strong>ciensesestavam unid<strong>as</strong> por um mesmo pensamento, uma mesma maneira <strong>de</strong> abordare trabalhar a edificação dos seus mosteiros.Po<strong>de</strong> mesmo afirmar-se que existia, a priori, um estaleiro-escola 21 naBorgonha on<strong>de</strong> os monges aprendiam e eram previamente preparados para<strong>de</strong>pois ser<strong>em</strong> capazes <strong>de</strong> erigir<strong>em</strong> e executar qualquer tipo <strong>de</strong> edificado, <strong>em</strong>qualquer tipo <strong>de</strong> região, <strong>em</strong> qualquer ponto geográfico seguindo os mesmosmo<strong>de</strong>los e preceitos <strong>as</strong>similados.De facto está-se perante a génese <strong>de</strong> um plano-tipo <strong>de</strong>finido e obtido,como refere Romani, a partir da reformulação d<strong>as</strong> form<strong>as</strong> típic<strong>as</strong> daarquitectura da Borgonha do século XII <strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> a tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> aquisiçõestecnológic<strong>as</strong> e artístic<strong>as</strong> dos meios on<strong>de</strong> se inseriam que eram por sua vezinterpretad<strong>as</strong> à luz do pensamento e razão <strong>cister</strong>ciense, ou seja do pensamento<strong>de</strong> S. Bernardo, nos primórdios da sua diss<strong>em</strong>inação arquitectónica europeia.À medida que o t<strong>em</strong>po p<strong>as</strong>sava a rigi<strong>de</strong>z morfológica do edificado e d<strong>as</strong>ua própria localização iam-se amenizando pelo que <strong>as</strong> sucessiv<strong>as</strong> etap<strong>as</strong>tornaram-se cada vez mais variad<strong>as</strong>.Consequent<strong>em</strong>ente po<strong>de</strong>-se <strong>as</strong>sumir que muitos dos edifícios a que porvezes se apelida <strong>de</strong> bernardinos só o são na medida <strong>em</strong> que foram fundadosou filiados segundo Claraval, ou no t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> S. Bernardo ou então a suaconstrução primordial era coeva <strong>de</strong> S. Bernardo.O restante edificado permanece como uma marca ou um legado <strong>de</strong> umpensamento humano e <strong>de</strong> uma estética muito própria que no entanto soubeadaptar-se aos t<strong>em</strong>pos e absorver <strong>as</strong> variantes não só geográfic<strong>as</strong>, comotambém regionais, culturais e históric<strong>as</strong>. Como refere Tobin:“Chaque abbaye est la synthèse entre les talents du maitre maçonet <strong>de</strong> son équipe, habitués à travailler les matériaux régionaux dansle style local, et les consignes rigi<strong>de</strong>s d’un abbé et ses moinesattachés à reproduire pour chaque abbaye leur ‘cher Cîteaux’dans l’esprit et dans la pierre” 22No que respeita à construção, no início teriam sido os próprios monges a<strong>as</strong>segurar pelo menos uma gran<strong>de</strong> parte da construção, pois o trabalhomanual fazia parte do propósito e do equilíbrio <strong>de</strong> vida enunciados n<strong>as</strong>orientações da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister (Fig. 101). Como refere Duby:“Milhares <strong>de</strong> monges cuja voz se fundia <strong>em</strong> uníssono no canto-chão<strong>de</strong> um coro, e que foram sepultados na terra nua, no próprio localdo seu trabalho, no meio d<strong>as</strong> pedr<strong>as</strong> do edifício <strong>em</strong> construção.São eles os construtores. Anónimos (…). M<strong>as</strong> a obra <strong>de</strong>sses monges21 Ver ROMANINI, Angiola Maria; O projecto <strong>cister</strong>ciense in “A Ida<strong>de</strong> Média”; dir. Georges Duby e MichelLaclotte; col. História Artística da Europa; tomo II; Quetzal Editores; Lisboa; 1998; p.14722 Cfr. TOBIN, Stephen; Op. cit.; p. 78


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSestá <strong>as</strong>sinada: todos quiseram conformar o seu trabalho aosensinamentos <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> mestre, que foi São Bernardo.” 23203Fig. 101 Iluminura apresentando monges construtores 24Esta evolução po<strong>de</strong> ser observada <strong>em</strong> Claraval, pois inicialmente os mongesocupavam edifícios <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira construídos pelos próprios que sãoprogressivamente substituídos por edifícios <strong>de</strong> pedra. Note-se que <strong>em</strong> Claravalestes edifícios permaneceram <strong>em</strong> utilização por cerca <strong>de</strong> vinte anos. 25A abadia <strong>de</strong>pressa se tornou insuficiente para acolher a sua comunida<strong>de</strong>e o local original era <strong>de</strong>m<strong>as</strong>iado pequeno para permitir o seu crescimento eexpansão, pelo que foi necessário <strong>de</strong>slocá-lo para outro local que oferecess<strong>em</strong>elhores condições.23 Ver DUBY, Georges; Op.cit.; p. 924 Iluminura – Yates Thompson 26 - British Library in DIMIER, Pe. Anselme; Op. cit. (capa)25 Ver FERGUSSON, Peter; Les Cisterciens et le Roman in “ Citeaux 1098 – 1998, L’Épopée Cistercienne – Dossiersd’Archeologie”; n. 229; Dec. 97 – Jan. 98; p. 41


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 102 Fontenay na actualida<strong>de</strong> (arquivo da autora)204Hoje nada resta da primeira construção arquitectónica <strong>de</strong> Claraval, pois estaabadia não sobreviveu à revolução e aos t<strong>em</strong>pos que se seguiram.Porém Fontenay (Fig. 102), sua filha, sobreviveu e revela-se um dos maisb<strong>em</strong> conservados ex<strong>em</strong>plares, test<strong>em</strong>unho, <strong>em</strong> primeira-mão, da génese <strong>de</strong>staarquitectura que se reporta aos anos 1140-1150.No entanto não será <strong>de</strong> excluir o auxílio externo <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra laicacomo artesãos e pedreiros. É sabido que se recorreu ao auxílio <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obraexterior ao mosteiro no que respeita ao trabalho d<strong>as</strong> granj<strong>as</strong>, pois segundo oStatuta VIII “Os trabalhos n<strong>as</strong> granj<strong>as</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser executados pelos conversos eb<strong>em</strong> <strong>as</strong>sim por <strong>as</strong>salariados (…)” 26 pelo que se po<strong>de</strong> equacionar a hipótese <strong>de</strong>se ter também utilizado <strong>as</strong>salariados na construção.Esta afirmação é reforçada quando se observa um mosteiro <strong>cister</strong>ciense ese encontram pedr<strong>as</strong> siglad<strong>as</strong>, claramente vestígio <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra exterior aomosteiro e <strong>as</strong>salariada (Fig. 103).26 Ver Statuta VIII in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong> Aires A.N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 82


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSaFig. 103 Pedr<strong>as</strong> com sigl<strong>as</strong> <strong>de</strong> pedreiros (a) no interior da igreja do Mosteiro <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Alcobaça e (b) no exterior da igreja do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães.(fotografi<strong>as</strong> da autora)bDeste modo, os monges <strong>cister</strong>cienses construíram os seus mosteiros (Fig. 104),pelo menos numa f<strong>as</strong>e inicial os mosteiros provisórios. No entanto, a construção<strong>de</strong> um mosteiro <strong>de</strong> maiores dimensões <strong>em</strong> pedra teve que ter ajuda extern<strong>as</strong>ob a forma <strong>de</strong> operários, pedreiros e mestre-<strong>de</strong>-obr<strong>as</strong> <strong>as</strong>salariados o que po<strong>de</strong>ser comprovado pel<strong>as</strong> inúmer<strong>as</strong> pedr<strong>as</strong> siglad<strong>as</strong> existentes nos mosteiros<strong>cister</strong>cienses.“En principe, les pierres arrivent <strong>de</strong> la carrière déjà taillées et portentla marque du maçon, puisque celui-ci est payé à la tâche et non àl’heure.” 27205Fig. 104 Construção do Mosteiro <strong>de</strong> Sal<strong>em</strong>, Al<strong>em</strong>anha (arquivo Editions Gaud)27 Cfr. TOBIN, Stephen; Op. cit.; pp. 75


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSAssim, a par dos monges encontra-se também no estaleiro <strong>de</strong> obra <strong>cister</strong>ciensea ajuda <strong>de</strong> conversos e <strong>de</strong> <strong>as</strong>salariados.Por vezes, era <strong>de</strong> entre os conversos que se <strong>de</strong>stacava o mestre pedreiroque viria a ser o mestre-<strong>de</strong>-obr<strong>as</strong> como está na m<strong>em</strong>ória da construção domosteiro <strong>de</strong> Sta Maria <strong>de</strong> Alcobaça a existência <strong>de</strong> um monge chamado Didierque teria vindo directamente <strong>de</strong> Claraval para dirigir os trabalhos <strong>de</strong>Alcobaça. 28De facto, um novo mosteiro era edificado sobre a direcção <strong>de</strong> um mestre<strong>de</strong>-obr<strong>as</strong>formado nos estaleiros <strong>de</strong> outr<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses e que era oencarregado <strong>de</strong> vigiar e <strong>as</strong>segurar a tradição da Or<strong>de</strong>m. Didier, para além dam<strong>em</strong>ória, seria um <strong>de</strong>stes conversos tornados mestres-<strong>de</strong>-obr<strong>as</strong> e arquitecto.Por outro lado, tal ocorrência <strong>de</strong>monstra a capacida<strong>de</strong> que os monges<strong>cister</strong>cienses tinham para dirigir obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> envergadura on<strong>de</strong>certamente a mão-<strong>de</strong>-obra teria sido numerosa e <strong>de</strong> que são ex<strong>em</strong>plo aconstrução da abadia <strong>de</strong> Fontenay (Fig. 105) ou do mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong>Tarouca (Fig. 106).206Fig.105 Mosteiro <strong>de</strong> Fontenay, França (arquivo da autora)28 Ver COCHERIL, Dom Maur; Op. cit.; p. 40


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 106 Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca, Portugal (fotografia da autora)Durante os primeiros séculos do cristianismo os mosteiros foram verda<strong>de</strong>ir<strong>as</strong>escol<strong>as</strong> <strong>de</strong> artesãos e os monges verda<strong>de</strong>iros construtores. Os mongesconstrutores <strong>de</strong>sbravavam <strong>as</strong> terr<strong>as</strong>, abatiam árvores para criar<strong>em</strong> clareir<strong>as</strong>propíci<strong>as</strong> à implantação do mosteiro no território. Dom Maur Cocheril cita umtest<strong>em</strong>unho da época relativamente à <strong>de</strong>scrição dos trabalhos e daconstrução da Abadia <strong>de</strong> Bonnevaux pelos próprios monges fundadores:“Les moines s’y adonnait eux-mêmes au défrich<strong>em</strong>ent <strong>de</strong>s terres,abattaient les forêts, arrachaient les broussailles qu’ils laissaientsécher pour les brûler ensuite. Ils attisaient le feu au moyen <strong>de</strong>gran<strong>de</strong>s perches qu’on appelle <strong>de</strong>s fourgons, tisonnant le br<strong>as</strong>ier àla manière <strong>de</strong>s défricheurs.” 29Os primeiros trabalhos <strong>em</strong> Claraval são <strong>de</strong> igual modo levados a cabo pelosmonges como também é referido por Dom Maur Cocheril:“Après le choix du lieu, le 25 juin 1115, par saint Bernard qui y planteune croix, fixa les limites <strong>de</strong> l’<strong>em</strong>plac<strong>em</strong>ent du cimetière ainsi que<strong>de</strong> l’enceinte, et après les pr<strong>em</strong>iers défrich<strong>em</strong>ents par ses douzecompagnons les constructions consistèrent, d’abord, dans la clôture<strong>de</strong> l’enceinte, en une mo<strong>de</strong>ste chapelle et <strong>de</strong>s cabanes fragiles, enbois, accompagnant l’aménag<strong>em</strong>ent sommaire du ruisseau au20729 Ver COCHERIL, Dom Maur; Op. cit.; p. 37


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSmoyen d’un barrage formant un petit étang, le tout mis sur pied encinq ou six s<strong>em</strong>aines, selon l’opinion la plus général<strong>em</strong>ent admise.” 30Também Or<strong>de</strong>ric Vital, cronista do século XII refere que: “tous les mon<strong>as</strong>tères<strong>cister</strong>ciens sont construits dans les déserts et au milieu <strong>de</strong>s bois, et ces religieuxles bâtissent <strong>de</strong> leur propres mains.” 31abFig. 107 Estaleiro e construção do Mosteiro <strong>de</strong> Novydvur (OCSO), República Checa, 2000 (a 32 ,b 33 )208Um novo mosteiro era edificado sobre a direcção <strong>de</strong> um mestre-<strong>de</strong>-obr<strong>as</strong>formado nos estaleiros <strong>de</strong> outr<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses e que era o encarregado<strong>de</strong> vigiar e <strong>as</strong>segurar a tradição da Or<strong>de</strong>m (Fig. 107).De facto constata-se que não existe um regulamento formal para aarquitectura da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister. No entanto consegue-se, a partir <strong>de</strong>imposições ou <strong>de</strong>limitações, estabelecer algum<strong>as</strong> directiv<strong>as</strong> que se reflect<strong>em</strong>na morfologia do plano <strong>cister</strong>ciense.Até que uma abadia estivesse capaz <strong>de</strong> acolher os seus m<strong>em</strong>bros nopleno exercício da vida monástica os monges viviam <strong>em</strong> instalações provisóri<strong>as</strong>,que eram construíd<strong>as</strong> ou reaproveitad<strong>as</strong> para este efeito.Por vezes o t<strong>em</strong>po que <strong>de</strong>corria <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o inicio da construção até àtransferência <strong>de</strong>finitiva da comunida<strong>de</strong> para o novo mosteiro, mesmo que esteainda estivesse com a sua construção incompleta, era muito extenso. A título <strong>de</strong>30 Ver COCHERIL, Dom Maur; Op. cit. p. 3731 Or<strong>de</strong>ric Vital citado por Dom Maur Cocheril in Notes sur l’Architecture et le Décor dans les AbbayesCisterciennes du Portugal; col. Fontes Documentais Portugues<strong>as</strong>; vol. V; Fundação Calouste Gulbenkian,Centro Cultural Português; Paris 1972; p. 3932 Imag<strong>em</strong> retirada <strong>de</strong> PRUVOT, Samuel; Une fondation en chantier: les Trappistes <strong>de</strong> sept-fons en RepubliqueTcheque in “France Catholique”; nº 2757; 6 Octubre ; 2000 ; p.1333 Arquivo do Mosteiro <strong>de</strong> Novydvur


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSex<strong>em</strong>plo o Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça com data <strong>de</strong> fundação <strong>de</strong>1153 só teve a sua comunida<strong>de</strong> instalada (num mosteiro ainda incompleto,note-se) <strong>em</strong> Agosto <strong>de</strong> 1223, ou seja 70 anos <strong>de</strong>pois. 344.2.MOSTEIRO COMO CIDADE IDEAL E PARADISUM CLAUSTRALISO espaço monástico po<strong>de</strong>-se constituir como um organismo territorialapropriando-se do território, mo<strong>de</strong>lando-o e alterando-o conforme <strong>as</strong> su<strong>as</strong>necessida<strong>de</strong>s.M<strong>as</strong> também po<strong>de</strong> ser apresentado como um organismo urbano namedida <strong>em</strong> que po<strong>de</strong> ser entendido como tendo característic<strong>as</strong> urban<strong>as</strong>,fazendo parte integrante <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> urbana contribuindo para o seu<strong>de</strong>senvolvimento. 35A cida<strong>de</strong> é constituída por um s<strong>em</strong> número <strong>de</strong> relações complex<strong>as</strong> entreaquilo que a compõe tanto materialmente como imaterialmente, tudo aquiloque lhe dá vida e confere existência sendo um<strong>as</strong> vezes <strong>de</strong> submissão, outr<strong>as</strong> <strong>de</strong>reacção, pois a cida<strong>de</strong> é uma coexistência. M<strong>as</strong> a cida<strong>de</strong> também po<strong>de</strong> serum i<strong>de</strong>al, ou pelo menos entendida como a procura <strong>de</strong>sse i<strong>de</strong>al.A cida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al alberga uma <strong>de</strong>terminada socieda<strong>de</strong>, <strong>as</strong>sim como aarquitectura que esta habita; é resultado <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senho urbano próprio epo<strong>de</strong> ser possuidora <strong>de</strong> uma civilização própria, é contentor e conteúdo; é a<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al ou <strong>de</strong> uma civilização af<strong>as</strong>tada no t<strong>em</strong>po eno espaço; é a representação da sua forma arquitectónica quer seja pelapintura, perspectiva, maquete ou plano.A cida<strong>de</strong> ao ser i<strong>de</strong>alizada transgri<strong>de</strong> por vezes a imag<strong>em</strong> e a teoria,<strong>as</strong>sumindo por vezes uma forma concreta e experimental tentando <strong>as</strong> su<strong>as</strong>incursões na realida<strong>de</strong>. 3620934 Cfr.JORGE, Virgolino Ferreira; Organização Espacio-funcional da Abadia Cisterciense Medieva in “Act<strong>as</strong> do1º Encontro Cultural <strong>de</strong> São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões: As Beir<strong>as</strong> e a presença <strong>de</strong> Cister – Espaço, Patrimónioedificado, Espiritualida<strong>de</strong>.”; Socieda<strong>de</strong> do Mosteiro <strong>de</strong> São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões; São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões;2006; p.7435 MARTINS, Ana Maria Tavares F; The Mon<strong>as</strong>tery <strong>as</strong> the City of God: I<strong>de</strong>als and Reality. St a Maria <strong>de</strong> Alcobaça,a portuguese c<strong>as</strong>e in “THE PLANNED CITY?”; Ed. Attilio Petruccioli, Michele Stella, Giuseppe Strappa; vol. III;Union Gráfica Corcelli Editrice; Bari 2003; pp.760-76436 TAVARES MARTINS, Ana Maria; Do i<strong>de</strong>al no espaço monástico: utopia e realida<strong>de</strong>. O c<strong>as</strong>o <strong>cister</strong>ciense inUTOPIA AND UTOPIANISM – Utopian Studies Journal; nº 2; Ed. The University Book; Madrid 2007


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS210Fig.108 As cida<strong>de</strong>s celestial e terrestre apresentad<strong>as</strong>na obra <strong>de</strong> Sto. Agostinho A Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus,<strong>de</strong>talhe <strong>de</strong> iluminura, da autoria <strong>de</strong> MestreFrançois, 1473 (arquivo B. N. France)Não foi por ac<strong>as</strong>o que Santo Agostinho (354-430) atribuiu a uma d<strong>as</strong> su<strong>as</strong>obr<strong>as</strong> o título “A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus” (Fig. 108), concebendo para a humanida<strong>de</strong>uma or<strong>de</strong>m i<strong>de</strong>al obtida sob a forma <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> (Fig. 109) governada elegislada por Deus – a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus 37 .Em Sto Agostinho encontra-se a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> salvação com conotaçõesurban<strong>as</strong>, uma dicotomia entre a Babilónia terrestre e a Jerusalém celeste 38 .A cida<strong>de</strong> é a evocação <strong>de</strong> um mundo estruturado, racional, m<strong>as</strong> tambémé possuidora <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m consciente, planeada, <strong>as</strong>sim como <strong>de</strong> umaorganização convergente para um fim, neste c<strong>as</strong>o a salvação, que se opõe auma natureza <strong>de</strong>sgovernada, lugar <strong>de</strong> contradições.Na essência da tradição cristã o paraíso encontrava-se na terra, m<strong>as</strong> o seuacesso seria s<strong>em</strong>pre impedido aos homens.37 MATTOSO, José.; Introdução à História Urbana Portuguesa. A Cida<strong>de</strong> e o Po<strong>de</strong>r in “Cida<strong>de</strong>s e História – ciclo<strong>de</strong> conferênci<strong>as</strong> promovido pelo Serviço <strong>de</strong> Bel<strong>as</strong>-Artes”; Fundação Calouste Gulbenkian; Serviço <strong>de</strong> Bel<strong>as</strong>-Artes; Lisboa; 1987; p.938 Salmo 137, 5-6


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 109 Jerusalém, Escola Flamenga, 1510 in Museu Nacional do Azulejo, Lisboa(arquivo da autora)211O monaquismo procura dar resposta a algum<strong>as</strong> d<strong>as</strong> mais profund<strong>as</strong> <strong>as</strong>piraçõesda alma humana: a busca da perfeição e o <strong>de</strong>sejo da cont<strong>em</strong>plação. Para talser possível, é necessária a fuga mundi (fuga do mundo) para buscar umaunião do espírito com Deus e o espaço propício é o mosteiro on<strong>de</strong> se vive <strong>em</strong>comunida<strong>de</strong>.O cenóbio é o lugar <strong>de</strong> vida religiosa <strong>em</strong> comum, ou seja é o mosteiro.Muitos mosteiros tornaram-se centros <strong>de</strong> civilização e alguns dos actuaismunicípios viram mesmo a sua génese na existência <strong>de</strong> um mosteiro naqueleque é hoje seu território e <strong>de</strong> que são ex<strong>em</strong>plos Alcobaça (cont<strong>em</strong>porâneo dafundação da nacionalida<strong>de</strong>), Tarouca, Arouca, Salzed<strong>as</strong>.A Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister foi, nos seus primórdios, avatar da ruptura com <strong>as</strong>ocieda<strong>de</strong> feudal que condicionava o monaquismo nesse momento. Oregresso às origens, à Regra <strong>de</strong> S. Bento, preconizado pelos <strong>cister</strong>ciensestraduziu-se num esforço <strong>em</strong> atingir através <strong>de</strong>sta o valor evangélicofundamental: a busca <strong>de</strong> Deus através da oração e do trabalho. Deste modoos <strong>cister</strong>cienses não pretendiam o primitivo ou o arcaico m<strong>as</strong> sim a pureza e aautenticida<strong>de</strong>. 3939 Ver FORNARI, Fe<strong>de</strong>rico Farina Bene<strong>de</strong>tto; L’architettura <strong>cister</strong>cense e l’abbazia di C<strong>as</strong>amari; EdizioniC<strong>as</strong>amari; C<strong>as</strong>amari (Frosinone); 1981; p.2


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFoi a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> alterar a situação pré-estabelecida que fez com que os<strong>cister</strong>cienses procur<strong>as</strong>s<strong>em</strong> um regresso às origens da regra <strong>de</strong> S. Bento, isentad<strong>as</strong> interpretações e <strong>de</strong>svios dos séculos transcorridos, e <strong>as</strong>sim aos padres doDeserto tal, como estes no seu t<strong>em</strong>po, buscaram a “fuga mundi” eestabeleceram os princípios do monaquismo para se posicionar<strong>em</strong> num t<strong>em</strong>poe num espaço af<strong>as</strong>tado do mundo dos homens, vivendo para atingir Deus esonhando com um mundo melhor, com o paraíso.212Fig. 110 Jerusalém Celeste, iluminura, c. séc. XIV(arquivo B.N. France)Des<strong>de</strong> os primórdios da Ida<strong>de</strong> Média, quando se buscava o Paraíso Celeste e acomunhão com Deus, <strong>as</strong>pirava-se não ao regresso do É<strong>de</strong>n do Génesis (Génesis2; 8-10) 40 , m<strong>as</strong> sim à gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jerusalém Celeste (Fig. 110) apresentadapelo Apocalipse <strong>de</strong> S. João (Fig. 111) e símbolo urbano da salvação e da vitóriad<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> do b<strong>em</strong> sobre o mal (Apocalipse 21 e 22). Como refere S. João:“ 1 Vi, <strong>de</strong>pois, um novo Céu e uma nova Terra, porque o primeiro Céue a primeira Terra haviam <strong>de</strong>saparecido, e o mar já não existia. 2 E via cida<strong>de</strong> Santa, a nova Jerusalém que <strong>de</strong>scia do Céu, <strong>de</strong> junto <strong>de</strong>Deus, bela como uma esposa que se ataviou para o seu esposo.(…) 9 Então um dos sete anjos (…) 10 Transportou-me <strong>em</strong> espírito ao40 8 Depois, o Senhor Deus plantou um jardim no É<strong>de</strong>n, ao oriente, e nele colocou o hom<strong>em</strong> que haviaformado. 9 O Senhor Deus fez <strong>de</strong>sabrochar da terra toda a espécie <strong>de</strong> árvores agradáveis à vista e <strong>de</strong>saborosos frutos para comer; a árvore da vida, ao meio do jardim; e <strong>as</strong> árvores da ciência do b<strong>em</strong> e do mal.10 Um rio n<strong>as</strong>cia no É<strong>de</strong>n e ia regar o jardim, dividindo-se a seguir <strong>em</strong> quatro braços.


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊScimo <strong>de</strong> uma alta montanha e mostrou-me a Cida<strong>de</strong> Santa,Jerusalém, que <strong>de</strong>scia do Céu, <strong>de</strong> junto <strong>de</strong> Deus, 11 (…).O seuesplendor era s<strong>em</strong>elhante a uma pedra muito preciosa (…) 12 Tinhauma gran<strong>de</strong> e alta muralha com doze port<strong>as</strong>, guardad<strong>as</strong> por dozeanjos (…) 14 a muralha da Cida<strong>de</strong> tinha doze fundamentos (…)15Aquele que falava comigo tinha uma cana <strong>de</strong> ouro para medir acida<strong>de</strong>, <strong>as</strong> su<strong>as</strong> port<strong>as</strong>, e a sua muralha. 16 A cida<strong>de</strong> formava umquadrado e o seu comprimento era igual à sua altura. Mediu pois acida<strong>de</strong> com a cana; tinha doze mil estádios. O seu comprimento,largura e altura eram iguais. 17 Depois mediu a muralha: tinha centoe quarenta e quatro côvados. O anjo media com a medida usadapelo hom<strong>em</strong>.” (Apocalipse 21; 1-2, 9-17)213Fig. 111 Apocalipse <strong>de</strong> S. João, iluminura do séc. XIV(arquivo B.N. France)Esse paraíso celeste encontrará vári<strong>as</strong> aproximações terrestres que ganhamforma nos mosteiros, diminut<strong>as</strong> réplic<strong>as</strong> da imensa Jerusalém Celeste, o Paraísona Terra e Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus.“Cada mosteiro digno representa um corpo através do qual a vid<strong>as</strong>egundo a Regra é <strong>em</strong> primeiro lugar possível, <strong>de</strong>pois racionalizadae finalmente simbolizada. (…) Todo o bom mosteiro ambiciona seruma representação da Civit<strong>as</strong> Dei.” 4141 BRAUNFELS, Wolfgang; Mon<strong>as</strong>teries of Western Europe; Thames and Hudson; London 1993, intr.


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS214Uma cida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al, tal como a micro-cida<strong>de</strong> que é o mosteiro, consistesobretudo numa elaboração <strong>de</strong>scritiva e mítica <strong>de</strong> uma organização social,política e económica <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> humana. 42Segundo a Regra <strong>de</strong> S. Bento o mosteiro <strong>de</strong>veria dar resposta àsnecessida<strong>de</strong>s materiais e espirituais dos monges b<strong>as</strong>eando-se no princípio daautarcia e da auto-suficiência. Deste modo o mosteiro <strong>as</strong>sume-se como umacida<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.O espaço monástico é <strong>as</strong>sim o reflexo <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al, <strong>de</strong> uma visão domundo, <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> valores que tudo organiza e mo<strong>de</strong>la. Razões <strong>de</strong>or<strong>de</strong>m espiritual e material exerc<strong>em</strong> um papel <strong>de</strong>cisivo na escolha dos locais <strong>de</strong>edificação <strong>de</strong> cada mosteiro da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister.O mosteiro não é apen<strong>as</strong> um paraíso na terra, também os locaisescolhidos pelos <strong>cister</strong>cienses se tornaram, através da sua domesticação,paraísos terrestres.Eles tornaram os mais <strong>de</strong>sertos e inóspitos locais (Deuteronómio 32,10) 43 <strong>em</strong>“paraísos”, criando no seu seio a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, utilizando para isso diversosrecursos, dos quais se <strong>de</strong>staca, pela sua importância, a hidráulica <strong>cister</strong>ciense.Tal como relatam os documentos primitivos <strong>de</strong> Cister:“(...) <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muit<strong>as</strong> canseir<strong>as</strong> e grandíssim<strong>as</strong> dificulda<strong>de</strong>s que háque suportar por parte <strong>de</strong> quantos preten<strong>de</strong>m viver santamente <strong>em</strong>Cristo conseguiram por fim ver realizado o seu <strong>de</strong>sejo e chegaram aCister.Era este local «o sítio <strong>de</strong> horror e v<strong>as</strong>ta <strong>de</strong>solação», m<strong>as</strong>consi<strong>de</strong>rando aqueles soldados <strong>de</strong> Cristo que a dureza do lugarnão estava <strong>em</strong> dissintonia com o rigor do seu propósito e doprojecto que haviam concebido no seu espírito como se aquelelugar lhes tivesse sido preparado pela vonta<strong>de</strong> divina, tomaram-no<strong>em</strong> tanta maior estima quanto mais amor tinham pelo seupropósito.” 44Este espaço, conquistado à natureza, no qual o hom<strong>em</strong> impõe uma or<strong>de</strong>mpara aí viver <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong>, orando e trabalhando, estabelecendo umvínculo com o Sagrado e com o sobrenatural, é um espaço or<strong>de</strong>nado segundoa vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus.42 Cfr. MARTINS, Ana Maria Tavares; Op. cit.; p.1343 (O Senhor) achou-o numa terra do <strong>de</strong>serto, num sítio <strong>de</strong> terror e <strong>de</strong> isolamento imenso, volteou <strong>em</strong> torno<strong>de</strong>le para lhe chamar a atenção e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u-o como se fosse a pupila dos seus olhos44 Cit. Exordium Cistercii, cap. I in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários<strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; pp.49-50


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 112 Planta <strong>de</strong> Saint-Gall 45Talvez o mais significativo ex<strong>em</strong>plar <strong>de</strong> Plano <strong>de</strong> mosteiro i<strong>de</strong>al seja o <strong>de</strong> Saint--Gall (Fig. 112), Suíça elaborado cerca <strong>de</strong> 820 (no seguimento do Concílio <strong>de</strong>Aix-la-Chapelle <strong>em</strong> 814).Este é um mosteiro beneditino inserido na continuida<strong>de</strong>da tradição cluniacense apresentando, no entanto, pequen<strong>as</strong> variantes ealgum<strong>as</strong> melhori<strong>as</strong> no que respeita à própria espacialida<strong>de</strong> e usos, dotando oplano <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> unida<strong>de</strong>.“S. Bento não gizou qualquer plano para a construção dosmosteiros n<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixou norm<strong>as</strong> concret<strong>as</strong> para isso. Com o t<strong>em</strong>po, osmonges é que <strong>de</strong>scobriram aquilo que po<strong>de</strong>ríamos chamar o planoi<strong>de</strong>al, o qual aparece, pela primeira vez, numa planta para ogran<strong>de</strong> mosteiro suíço <strong>de</strong> Saint Gall Suíça, elaborada cerca do ano<strong>de</strong> 820 por um autor anónimo, e que, apesar <strong>de</strong> possivelmentenunca ter sido impl<strong>em</strong>entada; um "arquitecto" anónimo,possivelmente monge, esboça o croqui completo dos diversosespaços ou corpos do mosteiro. Esse mo<strong>de</strong>lo repete-sepraticamente <strong>em</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> construções monástic<strong>as</strong> posteriores.” 46Um mosteiro <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong>veria ser encarado como uma cida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al edotado <strong>de</strong> todos os el<strong>em</strong>entos necessários à subsistência.21545 In BRAUNFELS, Wolfgang; Op. cit.; p.3846 Cit. DIAS, Geraldo Coelho; Os Mosteiros e a organização dos Espaços: Arquitectura e Espiritualida<strong>de</strong>; textoinédito policopiado; 2006; pp.1-2


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS“Se possível for, <strong>de</strong>ve o mosteiro ser construído <strong>de</strong> forma a ter <strong>de</strong>port<strong>as</strong> a <strong>de</strong>ntro tudo o necessário, a saber: água, moinho, horta,oficin<strong>as</strong> on<strong>de</strong> se exerçam os diversos ofícios, para que os mongesnão tenham necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> andar lá por fora, o que não é nadaconveniente para <strong>as</strong> su<strong>as</strong> alm<strong>as</strong>.” 47216Fig. 113 Maquete do Mosteiro i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> Saint Gall 48Um mosteiro com <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> e perfeição como <strong>as</strong> que estão patentes noplano <strong>de</strong> Saint-Gall (Fig. 113) nunca po<strong>de</strong>ria ser construído na íntegra 49 pois éreflexo <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al que se aproxima cada vez mais da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Deus.Para além <strong>de</strong> toda a sua carga simbólica, o mosteiro, é um localfuncional on<strong>de</strong> tudo t<strong>em</strong> a sua justificação e se insere no seu lugar planeadopois acima <strong>de</strong> tudo o mosteiro é um local <strong>de</strong> habitação dos Homens (osmonges) m<strong>as</strong> também <strong>de</strong> Deus 50 espelhando a Jerusalém celeste na terra. Oclaustro segundo Bernardo <strong>de</strong> Claraval era o Paradisum Claustralis 51 sendo a47 Regra do Patriarca S. Bento, Cap. LXVI; traduzido e anotado do latim pelos Monges <strong>de</strong> Singeverga; Edições“Ora & Labora”, Mosteiro <strong>de</strong> Singeverga, Singeverga, 1992, 2 ed.48 In BRAUNFELS, Wolfgang; Op. cit.; p.3849 Ver ROSENAU, Helen; La Ciudad I<strong>de</strong>al.; Alianza Editorial; Madrid;1999; pp 37-5350 Ver DIAS, Geraldo Coelho; Do Mosteiro Beneditino I<strong>de</strong>al ao Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento da Vitória. História, espaçose quotidiano dos monges in “O Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento da Vitória. 400 anos ”; Edições Afrontamento; Porto; 1997;pp.13-3751 Ver MUMFORD, Lewis; A cida<strong>de</strong> na história - su<strong>as</strong> origens, transformações e perspectiv<strong>as</strong>; MartinsFontes/Editora Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Br<strong>as</strong>ília; São Paulo; 1961; p.271/ SIMSON, Otto von; La catedral gótica; AlianzaForma; Madrid; 2000; p. 64


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSvida no claustro <strong>cister</strong>ciense não só um i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> vida m<strong>as</strong> também umaimag<strong>em</strong> e uma antecipação do paraíso,“(…) não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong>, no claustro, cont<strong>em</strong>plar o céu visível,que o transporta para o paraíso transcen<strong>de</strong>nte. Por essa razão, omosteiro, situado no aqui e agora do mundo, apresenta-nos, <strong>de</strong>certo modo, uma geografia do sobrenatural, do além. É precisoreconhecer a funcionalida<strong>de</strong> dos espaços on<strong>de</strong> viv<strong>em</strong> os religiosos(…). Um edifício material monástico, com <strong>as</strong> su<strong>as</strong> oficin<strong>as</strong>, mesmo<strong>de</strong> simples e aparente função laboral, t<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre uma s<strong>em</strong>ióticaespiritual. A simbólica impregnava a vida dos monges <strong>de</strong> antanho.(…) a construção dum mosteiro e a subsequente instalação dosmonges num <strong>de</strong>terminado sítio constituiu uma forma <strong>de</strong> luta pela fé,um trabalho <strong>de</strong> evangelização.” 52S. Bernardo referirá, a cida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al, este Paraíso na sua Epistola 64 53 ao referir-seà Abadia <strong>de</strong> Claraval <strong>de</strong>sejando que esta fosse para os monges a possívelJerusalém Celeste na terra (Fig. 114).Relativamente, não ao Claustro <strong>cister</strong>ciense, m<strong>as</strong> sim a todo e qualquerclaustro Nelson Correia Borges refere:“O Claustro aparecia <strong>as</strong>sim configurado como uma cida<strong>de</strong>sagrada, a Jerusalém celeste <strong>de</strong> que fala o Apocalipse e, aomesmo t<strong>em</strong>po, como um microcosmo, <strong>em</strong> cujo centro se cruzavamcoor<strong>de</strong>nad<strong>as</strong> espaciais e t<strong>em</strong>porais: <strong>as</strong> quatro ru<strong>as</strong>, orientad<strong>as</strong>segundo os pontos car<strong>de</strong>ais; o poço, tanque ou obelisco,marcando o centro do mundo. Do obelisco-fonte jorravam águ<strong>as</strong>pel<strong>as</strong> quatro boc<strong>as</strong> voltad<strong>as</strong> aos pontos car<strong>de</strong>ais, numa claraalusão à Árvore da Vida, plantada no centro do Paraíso, <strong>de</strong> cujo pécorriam os quatro rios.Centro cósmico se afirmava igualmente, pela união dos três níveisdo universo: o mundo subterrâneo, simbolizado pel<strong>as</strong> sepultur<strong>as</strong>; <strong>as</strong>uperfície terrestre, presente no solo que se pisa; o mundo celestial,apontado pela fonte, por vezes <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> obelisco, que já <strong>em</strong> sié, por excelência, uma alegoria solar e cósmica.Além do mais, a forma quadrangular do claustro, coberta pelacúpula celeste, congregando <strong>as</strong> mais prefeit<strong>as</strong> figur<strong>as</strong> geométric<strong>as</strong>– o quadrado e o circulo – é um símbolo eloquente da união da21752 Ver DIAS, Geraldo Coelho; Op. cit.; p. 2353 “Et si vultis scire, Claravallis est. Ipsa est Ierusal<strong>em</strong>, ei quae in caelis est, tota mentis <strong>de</strong>votione, etconversationis imitatione, et cognatione quadam spiritus sociata. Haec requies illius, sicut ipse promittit, insaeculum saeculi: elegit eam in habitation<strong>em</strong> sibi, quod apud eam sit, etsi nondum Visio, certe exspectatioverae pacis, illius utique <strong>de</strong> qua dicitur:Pax Dei, quae exsuperat omn<strong>em</strong> sensum.” in S. BERNARDO; Epistola 64in “Obr<strong>as</strong> Complet<strong>as</strong> <strong>de</strong> San Bernardo”;vol. VII; B.A.C.; Madrid; 2003; pp. 246-247 / ver DIAS, Geraldo Coelho;Op.cit; pp.206-207


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSterra com o céu e, consequent<strong>em</strong>ente, da intimida<strong>de</strong> com osmistérios divinos.” 54 (Fig. 115)218abFig. 114 a. Livro da Proprieda<strong>de</strong> d<strong>as</strong> Cois<strong>as</strong>, <strong>de</strong>senho do Paraíso (manuscrito francês do séc. XV, arquivo daB.N. France) / b. Desenho do Paraíso como Cida<strong>de</strong> (manuscrito da Flandres do séc. XIV, arquivo B.N. France)abFig. 115 a. Fonte circular do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong> (fotografia da autora) / b. Fonte quadrangulardo claustro do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro (fotografia da autora)54 BORGES, Nelson Correia; Arquitectura Monástica portuguesa na época mo<strong>de</strong>rna (not<strong>as</strong> <strong>de</strong> umainvestigação) in MUSEU; IV série; nº7; 1998; p.41


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS4.3.ESTÉTICA BERNARDINA E SEU REFLEXO NA ARQUITECTURA: ARQUITECTURACISTERCIENSENa Ida<strong>de</strong> Média, sobretudo no <strong>de</strong>correr do século XII, é importante ter <strong>em</strong>atenção a existência <strong>de</strong> du<strong>as</strong> correntes estétic<strong>as</strong> paralel<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> inteiramenteopost<strong>as</strong> no que respeita à espiritualida<strong>de</strong> da arte.Por um lado, encontra-se uma concepção da espiritualida<strong>de</strong> da arte<strong>de</strong>fendida por Sugério <strong>de</strong> S. Dinis (1081-1151), <strong>as</strong>sim como pelos cluniacenses<strong>em</strong> geral, segundo a qual se procura um equilíbrio entre o sensível, o belo e osumptuoso per visibilia ad invisiblia. 55219Fig. 116 Abadia <strong>de</strong> S. Dinis, França (arquivo da autora)A Cluny correspondia a exteriorida<strong>de</strong>, a exuberância, a opulência, a efusiva<strong>de</strong>coração <strong>de</strong> carácter figurativo e simbólico <strong>de</strong> modo a dar relevo à c<strong>as</strong>a <strong>de</strong>Deus (Fig. 116). A materialida<strong>de</strong> era um meio <strong>de</strong> atingir a espiritualida<strong>de</strong>, eranecessário o “(…) valor da riqueza e da beleza como homenag<strong>em</strong> à fé, parafazer realçar a clarida<strong>de</strong> e o belo fulgor da luz Divina”. 56 Para os cluniacenses,imbuídos <strong>de</strong> um espírito profundamente feudal, Deus era o Senhor sendo por55 Cfr. VITI, Goffredo (dir.); Architettura Cistercense - Fontenay e le Abbazie in Italia dal 1120 al 1160; EdizioniC<strong>as</strong>amari – Certosa di Firenze; Firenze; 1995; p.2956 Cfr. DIAS, Geraldo Coelho; Espiritualida<strong>de</strong>, comida e arte na polémica dos Monges da Ida<strong>de</strong> Média in“Bernardo <strong>de</strong> Claraval. Apologia para Guilherme, Aba<strong>de</strong>”; Fundação Eng. António <strong>de</strong> Almeida; Porto; 1997;p.14


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSisso atribuída uma gran<strong>de</strong> importância ao ofício Divino pelo que a liturgia eracelebrada <strong>em</strong> estrutur<strong>as</strong> grandios<strong>as</strong>.Por outro lado, encontra-se uma outra concepção da espiritualida<strong>de</strong> daarte <strong>de</strong>fendida <strong>em</strong> particular por S. Bernardo e pelos <strong>cister</strong>cienses, segundo aqual é rejeitada a analogia entre a beleza terrena e o esplendor celeste,constituindo a <strong>as</strong>cese, e por consequência a renúncia dos sentidos, um meio <strong>de</strong>alcançar Deus (Fig. 117).220Fig. 117 Abadia <strong>de</strong> Fontenay, França (arquivo da autora)Os <strong>cister</strong>cienses pretendiam a união mística com Deus, sendo o hom<strong>em</strong>necessitado <strong>de</strong> penitência, e realçando a função <strong>as</strong>cética do trabalho manualnum ambiente retirado e humil<strong>de</strong>. 57 Para S. Bernardo o luxo é inútil e perigosoestando não só <strong>em</strong> contradição com <strong>as</strong> exigênci<strong>as</strong> da vida espiritual comotambém <strong>em</strong> conflito com esta. A alma, segundo S. Bernardo, necessita <strong>de</strong>concentração interior para po<strong>de</strong>r atingir o conhecimento.No que respeita à arquitectura, esta oposição entre S. Bernardo e Sugério<strong>de</strong> S. Dinis, <strong>de</strong>monstra que a diferença que os distingue não po<strong>de</strong> serconsi<strong>de</strong>rada <strong>em</strong> termos meramente arquitectónicos m<strong>as</strong> sim segundo termosteológicos e teóricos. 5857 DIAS, Geraldo Coelho; Op. cit.; p.1458 Cfr. MARTINS, Ana Maria Tavares; A Arquitectura Religiosa n<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong> nos primórdios da Nacionalida<strong>de</strong> inCatálogo da exposição “Arte, Po<strong>de</strong>r e Religião nos T<strong>em</strong>pos Medievais – a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Portugal <strong>em</strong>construção”; Ed. Câmara Municipal <strong>de</strong> Viseu; Viseu, 2009; pp.48-59


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSEste novo modo <strong>de</strong> encarar a arte t<strong>em</strong> início com a publicação <strong>de</strong> umdos primeiros tratados <strong>de</strong> S. Bernardo, a “Apologia para Guilherme, Aba<strong>de</strong>”(1125) que foi o resultado <strong>de</strong> uma querela, entre Cistercienses e Cluniacenses,sobre a interpretação da regra <strong>de</strong> S. Bento e traduziu-se na resposta <strong>de</strong> S.Bernardo (então já aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Claraval) a Guilherme, aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> S. Teodorico.Como refere Dom Angelico Surchamp, du<strong>as</strong> interpretações da mesma regra,amb<strong>as</strong> abençoad<strong>as</strong> pela Providência, não podiam <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> se afrontar maistar<strong>de</strong> ou mais cedo. 59 Fig. 118 Monge Negro e Monge Brancorepresentados <strong>em</strong> pintura mural, da autoria <strong>de</strong>Cláudio P<strong>as</strong>tro, existente na Sala do Capitulo doMosteiro beneditino <strong>de</strong> Singesverga, Portugal(arquivo Frei Geraldo Coelho Di<strong>as</strong>).221Neste escrito i<strong>de</strong>ológico encontra-se a dissertação teórica d<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> entre<strong>as</strong> du<strong>as</strong> observânci<strong>as</strong> da Regra beneditina que <strong>de</strong>ste modo opunham“beneditinos cluniacenses” a “beneditinos <strong>cister</strong>cienses”, monges negros amonges brancos (Fig. 118).Até esse momento, e após um longo período <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, osbeneditinos viviam <strong>as</strong> su<strong>as</strong> vid<strong>as</strong> mo<strong>de</strong>rad<strong>as</strong> não só pela regra <strong>de</strong> S. Bentocomo também por diversos costumes resultantes <strong>de</strong> condicionantes <strong>de</strong> or<strong>de</strong>mvária (eclesiástica, litúrgica, económica, sociológica, psicológica). 6059 Cfr. SURCHAMP, Dom Angelico; L’esprit <strong>de</strong> l’art <strong>cister</strong>cien in “ L’Art Cistercien – France”;Ed. Zodiaque; 1982;p.1660 Ver LECLERCQ, Jean osb; introduction in Cistercians and Cluniacs. St. Bernard’s apologia to abbot William;Michael C<strong>as</strong>ey ocso (trad.); Cistercian Publications; Kalamazoo, Michigan; 1970; pp.3-4


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSEm contr<strong>as</strong>te encontravam-se os Cistercienses que reviviam a primitivaobservância da regra <strong>de</strong> S. Bento e nela encontravam a sua fundamentaçãoao seguir<strong>em</strong> <strong>as</strong> su<strong>as</strong> vid<strong>as</strong> com simplicida<strong>de</strong> e pobreza 61 s<strong>em</strong> a obstrução <strong>de</strong>costumes acumulados ao longo dos anos.Os <strong>cister</strong>cienses procuraram um equilíbrio entre Opus Dei, Lectio Divina eLabor manum que constituíam <strong>as</strong> componentes fundamentais da Regra <strong>de</strong> S.Bento. Este equilíbrio foi conseguido através <strong>de</strong> um espírito <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> rigor,pobreza, árduo trabalho manual, solidão, uniformida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.222abFig. 119 Abadia <strong>de</strong> S. Dinis (a) e Abadia <strong>de</strong> Fontenay (b), França (arquivo da autora)A Apologia para Guilherme, aba<strong>de</strong> 62 , <strong>de</strong> S. Bernardo, po<strong>de</strong> dividir-se <strong>em</strong> trêspartes que se <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> essencialmente segundo os seguintes parágrafoschave:61 A procura <strong>de</strong> simplicida<strong>de</strong> era tal que n<strong>em</strong> os seus hábitos eram tingidos (isto era também símbolo <strong>de</strong><strong>as</strong>piração à primitiva observância da regra, caracterizada por simplicida<strong>de</strong> e pobreza), daí os <strong>cister</strong>ciensesser<strong>em</strong> apelidados <strong>de</strong> Monges Brancos nome que também surge para os distinguir dos Monges Negros, osbeneditinos, cujos hábitos eram tingidos <strong>de</strong> negro.62 Foram consultad<strong>as</strong> du<strong>as</strong> versões da Apologia <strong>de</strong> S. Bernardo: num primeiro momento a tradução, <strong>de</strong> 1970,do latim para o inglês <strong>de</strong> Michael C<strong>as</strong>ey OCSO com introdução <strong>de</strong> Jean Leclercq OSB publicada pel<strong>as</strong>Cistercian Publications (Kalamazoo, Michigan) e posteriormente a versão bilingue latim-português comtradução, <strong>de</strong> 1997, para o português <strong>de</strong> Geraldo Coelho Di<strong>as</strong> OSB/FLUP publicada pela Fundação Eng.António <strong>de</strong> Almeida (Porto). Ver Cistercians and Cluniacs. St. Bernard’s apologia to abbot William; MichaelC<strong>as</strong>ey ocso (trad.); Cistercian Publications; Kalamazoo, Michigan; 1970 / DIAS, Geraldo Coelho


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSI.Primeira parte:Unida<strong>de</strong> e pluralida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> Or<strong>de</strong>ns Religios<strong>as</strong> na Igreja• Presta esclarecimentos sobre os motivos e disposições que olevaram a escrever o texto (1-4)• Faz uma exposição teológica a cerca do t<strong>em</strong>a da unida<strong>de</strong> epluralida<strong>de</strong> na Igreja (5)• Aplicação às vári<strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns monástic<strong>as</strong> (6-9)II.Segunda parte:Observância <strong>cister</strong>ciense• Necessida<strong>de</strong> universal da carida<strong>de</strong> (10-12)• Aviso aos <strong>cister</strong>cienses para não dar<strong>em</strong> mais importância àsobservânci<strong>as</strong> do que à prática da humilda<strong>de</strong> e carida<strong>de</strong> (13-14)• Consi<strong>de</strong>rações sobre a presente carta (15)III.Terceira parte:Crítica aos cluniacenses• Contra os excessos; algum<strong>as</strong> consi<strong>de</strong>rações contra a observâncialevada pelos cluniacenses (16-18)• Comparação com o antigo monaquismo (19)• Sobre a comida (20)• Sobre a bebida (21)• Sobre os que ficam na enfermaria s<strong>em</strong> estar<strong>em</strong> doentes (22-23)• Sobre <strong>as</strong> vestes car<strong>as</strong> e extravagantes (24-26)• Sobre a negligência dos superiores e mostr<strong>as</strong> <strong>de</strong> vaida<strong>de</strong> dosaba<strong>de</strong>s (27)• Sobre os custos dos edifícios e sobre <strong>as</strong> imagens <strong>de</strong> ouro e <strong>de</strong>prata presentes nos mosteiros (28-29)• Epílogo (30-31)Desta maneira o novo modo <strong>de</strong> encarar a arte e a arquitectura encontrava járeflexo na Apologia <strong>de</strong> S. Bernardo pelo que se po<strong>de</strong> afirmar que esta não seconstitui como um compêndio <strong>de</strong> arte e estética, m<strong>as</strong> sim como um tratado <strong>de</strong>espiritualida<strong>de</strong> monástica. 63 A arquitectura e a arte <strong>cister</strong>cienses não têm comofinalida<strong>de</strong> o <strong>de</strong>leite (Fig. 119). Nada <strong>de</strong>verá <strong>de</strong>sviar a atenção <strong>de</strong> Deus. Assim223(apresentação, tradução e not<strong>as</strong>); Bernardo <strong>de</strong> Claraval. Apologia para Guilherme, Aba<strong>de</strong>; Fundação Eng.António <strong>de</strong> Almeida; Porto; 199763 Ver DIAS, Geraldo Coelho; Espiritualida<strong>de</strong>, comida e arte na polémica dos Monges da Ida<strong>de</strong> Média in“Bernardo <strong>de</strong> Claraval. Apologia para Guilherme, Aba<strong>de</strong>”; Fundação Eng. António <strong>de</strong> Almeida; Porto; 1997;p. 16


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o plano d<strong>as</strong> abadi<strong>as</strong> à simplicida<strong>de</strong> dos materiais escolhidos tudo seconjuga para elevar a procura <strong>de</strong> Deus e busca da santida<strong>de</strong> (Fig. 120).224Fig. 120 Abadia <strong>de</strong> Fontenay, França (arquivo da autora)Para os <strong>de</strong>fensores da via <strong>as</strong>cética e da pobreza, apen<strong>as</strong> através da libertaçãodos bens materiais e da dádiva po<strong>de</strong> o Hom<strong>em</strong> encontrar o amor espiritual eDeus. Cister é uma rigorosa <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> perfeição, a arte <strong>cister</strong>ciense éaustera, <strong>de</strong>spojada, disciplinada fundamentando-se na busca <strong>de</strong> pureza <strong>de</strong>linh<strong>as</strong>.Deste modo é feita a apologia <strong>de</strong> uma “estética da pobreza” segundo aqual apen<strong>as</strong> <strong>de</strong>verão ser apresentad<strong>as</strong> form<strong>as</strong> funcionais extr<strong>em</strong>amentesimples, limitando-se à essência.Consequent<strong>em</strong>ente, a uma opulência exuberante que está patente naarte românica, opõe-se uma estética da pobreza e da simplicida<strong>de</strong> que selimita ao essencial, apresentando apen<strong>as</strong> form<strong>as</strong> funcionais <strong>de</strong> extr<strong>em</strong><strong>as</strong>implicida<strong>de</strong> m<strong>as</strong> plena <strong>de</strong> significações.É essa exuberância <strong>de</strong>corativa românica que S. Bernardo censura para osmosteiros <strong>cister</strong>cienses referindo:“De resto, nos claustros, diante dos irmãos a fazer leitur<strong>as</strong>, que fazaquela ridícula monstruosida<strong>de</strong>, aquela disforme beleza e beladisformida<strong>de</strong>? Para que estão lá aqueles imundos macacos? Paraquê os leões ferozes? Para quê os centauros monstruosos? Para quêos s<strong>em</strong>i-homens? Para quê os tigres às manch<strong>as</strong>? Para quê os


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSsoldados a combater? Para quê os caçadores a tocar trombeta?Vês uma cabeça com muitos corpos e um corpo com muit<strong>as</strong>cabeç<strong>as</strong>. Daqui vê-se um quadrúpe<strong>de</strong> com cauda <strong>de</strong> serpente,dali um peixe com cabeça <strong>de</strong> quadrúpe<strong>de</strong>. Ali uma besta t<strong>em</strong>frente <strong>de</strong> cavalo e <strong>de</strong> cabra a parte <strong>de</strong> trás; acolá um animalcornudo t<strong>em</strong> tr<strong>as</strong>eiro <strong>de</strong> cavalo. Tão gran<strong>de</strong> e tão admirávelaparece por toda a parte a varieda<strong>de</strong> d<strong>as</strong> form<strong>as</strong> que maisapetece ler nos mármores que nos códices, g<strong>as</strong>tar todo o dia aadmirar est<strong>as</strong> cois<strong>as</strong> que a meditar na lei <strong>de</strong> Deus. Meu Deus! Se agente não se envergonha <strong>de</strong>st<strong>as</strong> frivolida<strong>de</strong>s, porque não t<strong>em</strong> pejod<strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong>?” 64225Fig. 121 Capitéis <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Villanueva, Asturi<strong>as</strong>, Espanha (arquivo da autora)A curiosida<strong>de</strong> é inimiga da introspecção pois po<strong>de</strong> colocar <strong>em</strong> perigo o espíritodistraindo-o. Assim nada <strong>de</strong>verá <strong>de</strong>ter o olhar ou o espírito daquilo que éessencial, ou seja, a concentração interior para buscar Deus (Fig. 121). Aprocura do conhecimento <strong>de</strong> Deus, por parte dos <strong>cister</strong>cienses, fazia-se64 Cit. Apologia, cap. XII in DIAS, Geraldo Coelho (apresentação, tradução e not<strong>as</strong>); “Bernardo <strong>de</strong> Claraval.Apologia para Guilherme, Aba<strong>de</strong>”; Fundação Eng. António <strong>de</strong> Almeida; Porto; 1997; pp.66-67 / Cfr.Cistercians and Cluniacs. St. Bernard’s apologia to abbot William; Michael C<strong>as</strong>ey ocso (trad.); CistercianPublications; Michigan; 1970; p. 66versão original: “Ceterum in claustris, coram legentibus fratribus, quid facit illa ridicula monstruosit<strong>as</strong>, miraquaedam <strong>de</strong>formis formosit<strong>as</strong> ac formosa <strong>de</strong>formit<strong>as</strong>? Quid ibi immundac simiae? Quid feri leones? Quidmonstruosa centauri? Quid s<strong>em</strong>ihomines? Quid maculosae tigri<strong>de</strong>s? Quid milites pugnantes? Quid venatorestubicinantes? Vi<strong>de</strong><strong>as</strong> sub uno capite multa corpora et rursus in uno corpore capita multa. Cernitur hinc inquadrupe<strong>de</strong> cauda serpentis, illinc in pisce caput quadrupedis. Ibi bestia praefert equum, capram trahensretro dimidiam; hic cornutum animal equum gestat posterius. Tam multa <strong>de</strong>nique, tamque mira diversarumformarum apparet ubique variet<strong>as</strong>, ut magis legere libeat in marmoribus, quam in codicibus, totumque di<strong>em</strong>occupare singular ista mirando, quam in lege Dei meditando. Proh Deo! si non pu<strong>de</strong>t ineptiarum, cur vel nonpiget expensarum?”


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS226também com el<strong>em</strong>entos simbólicos e arquitectónicos, porém b<strong>em</strong> distintosdaqueles que os cluniacenses utilizavam.Deste modo, através do <strong>de</strong>spojamento d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong>, para os<strong>cister</strong>cienses b<strong>as</strong>tava a simplicida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> linh<strong>as</strong>, a harmonia dos volumes, aelegância d<strong>as</strong> proporções, a esbelteza dos arcos, a pureza d<strong>as</strong> pare<strong>de</strong>scaiad<strong>as</strong>, a luminosida<strong>de</strong> e o seu claro-escuro para se elevar<strong>em</strong> <strong>em</strong> direcção aDeus. Procurava-se <strong>as</strong>sim uma articulação dos três registos da vidacont<strong>em</strong>plativa, isto é uma articulação do corpo, da alma e do espíritoprocurando eliminar o que pu<strong>de</strong>sse <strong>de</strong> alguma forma <strong>de</strong>sviar a alma daincessante busca interior do divino. 65S. Bernardo con<strong>de</strong>nava a ornamentação e a beleza sumptuosa nãoporque fora insensível aos seus encantos, antes pelo contrário, precisamentepor ser capaz <strong>de</strong> os sentir <strong>de</strong> modo a aperceber-se que estes constituíam um<strong>as</strong>edução invencível, logo um perigo irreconciliável com <strong>as</strong> exigênci<strong>as</strong> dosagrado sendo para si mais importante a busca da cont<strong>em</strong>plação Divina doque o f<strong>as</strong>cínio pela arte. 66 No entanto, S. Bernardo limita esta crítica aosmosteiros e admite a importância da arte n<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong>, que não <strong>as</strong> dosmosteiros. O critério subjacente à estética bernardina não será propriamenteartístico m<strong>as</strong> sim ético e <strong>as</strong>cético.“E, <strong>de</strong> facto, uma é a razão dos bispos, outra a dos monges.Sab<strong>em</strong>os, com efeito, que aqueles, sendo <strong>de</strong>vedores a sábios einsensatos, promov<strong>em</strong> a <strong>de</strong>voção do povo carnal com adornosmateriais por não po<strong>de</strong>r com os espirituais. Nós, porém, que já nossaímos do povo, que, por Cristo, <strong>de</strong>ixámos <strong>as</strong> cois<strong>as</strong> precios<strong>as</strong> ebel<strong>as</strong> do mundo, tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> lindamente brilhantes, musicalmente<strong>em</strong>balador<strong>as</strong>, suav<strong>em</strong>ente inebriantes, doc<strong>em</strong>ente saboros<strong>as</strong>,agradáveis ao tacto, enfim, julgamos todos os prazeres do corpocomo estrume para lucrarmos a Cristo, pergunto-vos a qu<strong>em</strong> é queincitamos com el<strong>as</strong> a <strong>de</strong>voção? Que fruto disso preten<strong>de</strong>moscolher: a admiração dos insensatos ou a oferta dos simples? Ac<strong>as</strong>o,porque andamos misturados com pagãos, apren<strong>de</strong>mos <strong>as</strong> obr<strong>as</strong><strong>de</strong>les e ainda prestamos culto às su<strong>as</strong> escultur<strong>as</strong>?” 6765 Ver DIAS, Geraldo Coelho; Op. cit.; p. 1766 Cfr. PANOFSKY, Erwin; O significado n<strong>as</strong> artes visuais; Ed. Presença; Lisboa; 1989; p.9267 Cit. Apologia, cap. XII in DIAS, Geraldo Coelho (apresentação, tradução e not<strong>as</strong>); “Bernardo <strong>de</strong> Claraval.Apologia para Guilherme, Aba<strong>de</strong>”; Fundação Eng. António <strong>de</strong> Almeida; Porto; 1997; pp. 64-65 / Cfr.Cistercians and Cluniacs. St. Bernard’s apologia to abbot William; Michael C<strong>as</strong>ey (trad.); CistercianPublications; Kalamazoo, Michigan; 1970; p.64versão original: “Et qui<strong>de</strong>m alia causa est episcoporum, alia monachorum. Scimus namque quod illi,sapientibus et insipientibus <strong>de</strong>bitores cum sint, carnalis populi <strong>de</strong>votion<strong>em</strong>, quia spiritualibus non possunt,corporalibus excitant ornamentis. Nos vero qui iam <strong>de</strong> populo exivimus, qui mundi quaeque pretiosa acspeciosa pro Christo reliquimus, qui omnia pulchre lucentia, canore mulcentia, suave olentia, dulce sapientia,tactu placentia, cuncta <strong>de</strong>nique oblectamenta corporea arbitrate sumus ut stercora, ut Christumlucrifaciamus, quorum, quaeso, in his <strong>de</strong>votion<strong>em</strong> excitare intendimus? Qu<strong>em</strong>, inquam, ex his fructum


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSDeste modo, a critica exercida por S. Bernardo na Apologia para Guilherme,aba<strong>de</strong> constitui essencialmente o texto el<strong>em</strong>entar no qual estão patentes osseus i<strong>de</strong>ais. Através da crítica ao luxo e aos excessos <strong>de</strong> ornamentação(superfluit<strong>as</strong>), às <strong>de</strong>formações e distorções fantástic<strong>as</strong> da arte românica(curiosit<strong>as</strong>), aos excessos d<strong>as</strong> proporções (supervacuit<strong>as</strong>), S. Bernardo abrecaminho para uma estética da mo<strong>de</strong>ração (mo<strong>de</strong>ratio) ornamental on<strong>de</strong> anecessida<strong>de</strong> (necessit<strong>as</strong>) e a utilida<strong>de</strong> (utilit<strong>as</strong>) constitu<strong>em</strong> os novos critériosestéticos. 68A arte <strong>de</strong>ve elevar o espírito <strong>de</strong> modo a torná-lo livre favorecendo acont<strong>em</strong>plação, e não ser apelativa aos sentidos (Fig. 122), pois mais que afruição da arte por si só encontra-se “(…)o gozo da presença <strong>de</strong> Deus, que aimaterialida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> cois<strong>as</strong>, <strong>as</strong> pare<strong>de</strong>s nu<strong>as</strong>, a luz com os contr<strong>as</strong>tes do claroescuroe <strong>as</strong> form<strong>as</strong> dos arcos a elevar-se para <strong>as</strong> a altur<strong>as</strong>, como mãos erguid<strong>as</strong><strong>em</strong> ogiva, suger<strong>em</strong> e proporcionam” 69 <strong>de</strong> modo a permitir o encontro com oDeus da absoluta beleza. Por este motivo, os <strong>cister</strong>cienses, partindo <strong>de</strong>objectivos muito claros <strong>de</strong> espiritualida<strong>de</strong>, criaram norm<strong>as</strong> e regr<strong>as</strong> paraconstruír<strong>em</strong> os seus mosteiros e igrej<strong>as</strong>, s<strong>em</strong> no entanto nunca estabelecer<strong>em</strong> osprincípios rígidos característicos <strong>de</strong> uma escola <strong>de</strong> arte ou <strong>de</strong> arquitectura.227Fig. 122 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (fotografia da autora)requirimus: stultorum admiration<strong>em</strong>, an simplicium oblation<strong>em</strong>? An quoniam commixti sumus inter gentes, fortedidicimus opera eorum, et servimus adhuc sculptilibus eorum?”68 MARTINS, Ana Maria Tavares; Espaço Monástico: da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus à Cida<strong>de</strong> do Hom<strong>em</strong> in “Estudos <strong>em</strong>Homenag<strong>em</strong> ao Prof. Doutor José Ama<strong>de</strong>u Coelho Di<strong>as</strong>”; Vol. 1; Edição FLUP; Porto, 2006, pp.92-9369 Ver DIAS, Geraldo Coelho; Espiritualida<strong>de</strong>, comida e arte na polémica dos Monges da Ida<strong>de</strong> Média in“Bernardo <strong>de</strong> Claraval. Apologia para Guilherme, Aba<strong>de</strong>”; Fundação Eng. António <strong>de</strong> Almeida; Porto; 1997;p. 17


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS228Consequent<strong>em</strong>ente <strong>as</strong> abadi<strong>as</strong> e mosteiros <strong>cister</strong>cienses caracterizavam-sesobretudo pela racionalida<strong>de</strong> na articulação dos espaços e o <strong>de</strong>spojamento<strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>corativos.Porém, usaram-se soluções locais com materiais disponíveis in loco<strong>as</strong>similando <strong>as</strong> tradições culturais existentes. Os <strong>cister</strong>cienses utilizaram a arte eos modos <strong>de</strong> construir característicos da região e do país on<strong>de</strong> se inseriam s<strong>em</strong>no entanto <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> aplicar alguns dos princípios que norteavam a suaespiritualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carácter austero e simples.Segundo Otto von Simson <strong>as</strong> opiniões artístic<strong>as</strong> <strong>de</strong> S. Bernardo, mais do que<strong>as</strong> <strong>de</strong> alguém que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito como um puritano, são opiniõescarregad<strong>as</strong> da influência <strong>de</strong> S. Agostinho:“L<strong>as</strong> opiniones artístic<strong>as</strong> <strong>de</strong> san Bernardo suelen <strong>de</strong>scribirse como l<strong>as</strong><strong>de</strong> un puritano. Pero son en realidad, agustinian<strong>as</strong>. Ningún autorejerció una influencia mayor que san Agustín sobre su formaciónteológica. Consi<strong>de</strong>raba al obispo <strong>de</strong> Hipona la mayor autoridad enteología <strong>de</strong>s<strong>de</strong> los Apóstoles; junto con san Agustín – escribe en losmomentos culminantes <strong>de</strong> su controversia con Abelardo – <strong>de</strong>seaequivocarse al igual que saber.” 70É certo que se encontra b<strong>em</strong> patente a influência <strong>de</strong> S. Agostinho nopensamento <strong>de</strong> S. Bernardo po<strong>de</strong>ndo mesmo consi<strong>de</strong>rar-se a existência <strong>de</strong> umparalelismo entre a experiência musical <strong>de</strong> S. Agostinho e a experiênciaespacial <strong>de</strong> S. Bernardo.No enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> von Simson, a experiência musical vai-se apo<strong>de</strong>rando daimaginação <strong>de</strong> Santo Agostinho ao ponto <strong>de</strong> este encontrar na harmonia otermo apropriado para <strong>de</strong>signar a obra <strong>de</strong> reconciliação com Cristo.“Y el misticismo musical pue<strong>de</strong> presentar a san Agustín como su másgran<strong>de</strong> portavoz: no sólo penetró sus especulaciones cosmológic<strong>as</strong>y estétic<strong>as</strong>, sino que llegó h<strong>as</strong>ta el centro <strong>de</strong> su experienciateológica. (…) la experiencia musical se va apo<strong>de</strong>rando poco apoco <strong>de</strong> su imaginación h<strong>as</strong>ta que <strong>de</strong> repente cae en la cuenta <strong>de</strong>que el término apropiado para <strong>de</strong>signar la obra <strong>de</strong> reconciliación<strong>de</strong> Cristo es armonía. No es este el lugar, exclama san Agustín, <strong>de</strong><strong>de</strong>mostrar el valor <strong>de</strong> la octava, que parece tan profundamenteinculcado en nuestra naturaleza – ¿por quién sino por Aquel quenos creó? ” 71Não encontrará paralelo nesta experiência musical a experiência espacial <strong>de</strong> S.Bernardo quando este pergunta no seu De Consi<strong>de</strong>ratione: “O que é Deus?” Eao mesmo t<strong>em</strong>po respon<strong>de</strong> que Este “é comprimento, largura, altura e70 Cit. SIMSON, Otto von; La catedral gótica; Alianza Forma; Madrid; 2000; p. 6071 Cit. I<strong>de</strong>m; p.60


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSprofundida<strong>de</strong>” (Quid est Deus? Longitudo, latitudo, sublimit<strong>as</strong> et profundum 72 ).Não são estes, numa leitura simplificada, os atributos intrínsecos da arquitecturatambém? (Fig. 123)As i<strong>de</strong>i<strong>as</strong> <strong>de</strong> S. Bernardo sobre a música proporcionam também umachave indispensável para conhecer <strong>as</strong> su<strong>as</strong> convicções sobre a arte religiosa. 73“Para un hombre impregnado <strong>de</strong> la tradición agustiniana como eraBernardo, la presencia <strong>de</strong> l<strong>as</strong> razones «perfect<strong>as</strong>» <strong>de</strong>bió ser tanmanifiesta en l<strong>as</strong> proporciones visibles como en l<strong>as</strong> consonanci<strong>as</strong>audibles. Y no pudo <strong>de</strong>jar <strong>de</strong> respectar en la arquitectura bienproporcionada aquella dignidad metafísica <strong>de</strong> l<strong>as</strong> razones queadmiraba en la composición musical.” 74229Fig. 123 Nave da Igreja do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça(arquivo do Engº Pedro Tavares – Foto Alvão, Porto)O que se consi<strong>de</strong>ra hoje como movimento artístico <strong>cister</strong>ciense, sobretudo noque se refere aos primeiros séculos, e com particular <strong>de</strong>staque para opensamento <strong>de</strong> S. Bernardo sobre a arte foi profundo. De tal modo que após amorte <strong>de</strong> S. Bernardo nada permaneceu como era, a sua marca e o seulegado estão presentes não só a nível humano e espiritual, m<strong>as</strong> também naprópria arquitectura monástica e <strong>em</strong> cada objecto artístico. No enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> G.Viti não parece ser exagerado falar-se numa estética <strong>cister</strong>ciense ou mesmo72 S. BERNARDO; De Consi<strong>de</strong>ratione ad Eugenium Papam in “Obr<strong>as</strong> Complet<strong>as</strong> <strong>de</strong> San Bernardo”; (Los MonjesCistercienses <strong>de</strong> España, ed.); vol. II; Bibllioteca <strong>de</strong> Autores Cristianos; Madrid; 1994; pp. 22673 Ver SIMSON, Otto von; Op. cit.; p. 62-6374 Cit. I<strong>de</strong>m; pp. 62-63


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSnuma estética bernardina, correspon<strong>de</strong>nte a uma nova era dotada <strong>de</strong> um totalrigor <strong>as</strong>cético. 75A arte <strong>cister</strong>ciense não se reporta aos sentidos n<strong>em</strong> ao mundo d<strong>as</strong>sensações, m<strong>as</strong> sim à razão, à racionalida<strong>de</strong> imersa na simplicida<strong>de</strong> e clarezad<strong>as</strong> relações geométric<strong>as</strong> e da geometria pura. No que respeita à arquitectura<strong>em</strong> geral para além dos princípios <strong>de</strong> proporção e <strong>de</strong> simetria patentes naprópria arquitectura existe também a preocupação com o próprio fim a que se<strong>de</strong>stina, isto é, o uso e a finalida<strong>de</strong> do espaço que se cria pelo que afuncionalida<strong>de</strong> e a estética <strong>de</strong>v<strong>em</strong> conformar um conjunto harmonioso.A arquitectura permite a interligação e a harmonização estética doespaço interior do edificado com a sua formalização exterior. Também aArquitectura <strong>de</strong> Cister se centra nestes princípios. A simplicida<strong>de</strong>, afuncionalida<strong>de</strong> (a que São Bernardo chamava autenticida<strong>de</strong>), o <strong>de</strong>spojamentoe a austerida<strong>de</strong> que permit<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixar a <strong>de</strong>scoberto e visíveis <strong>as</strong> pare<strong>de</strong>s e <strong>as</strong>estrutur<strong>as</strong> <strong>de</strong>stacando apen<strong>as</strong> a harmonia e a beleza d<strong>as</strong> form<strong>as</strong> per si s<strong>em</strong>acrescentos. O único el<strong>em</strong>ento iconográfico presente numa Igreja <strong>cister</strong>cienseera a imag<strong>em</strong> da Virg<strong>em</strong> Maria (Fig. 124) uma vez que todos os Mosteiros eram<strong>de</strong>dicados a Santa Maria. 76230Fig. 124 Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Assunção<strong>de</strong> Tabosa. Imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Nossa Senhora daAssunção existente sobre o frontão da entradapara a Igreja do mosteiro. (fotografia da autora)75 Ver VITI, Goffredo (dir.); Op. cit.; 1995; p.3276 KINDER, Terryl N.; Op. Cit.; p.123


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSDeste modo <strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses caracterizavam-se sobretudo pelaracionalida<strong>de</strong> na articulação dos espaços e o <strong>de</strong>spojamento <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos<strong>de</strong>corativos. Porém, como já foi referido anteriormente, usam-se soluções locaisou regionais com materiais disponíveis in loco <strong>as</strong>similando <strong>as</strong> tradições culturaisexistentes.A Arquitectura Cisterciense n<strong>as</strong>ce como reacção à ostentação e riquezad<strong>as</strong> Arquitectur<strong>as</strong> su<strong>as</strong> cont<strong>em</strong>porâne<strong>as</strong> e sobretudo como resposta àopulência dos Cluniacenses. Nela encontra-se presente um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> clareza,simplicida<strong>de</strong> e precisão.A simplicida<strong>de</strong> era a i<strong>de</strong>ia e o i<strong>de</strong>al subjacente a todos e a tudo o queestivesse inserido na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister, estando patente não só na arquitectura ena arte, m<strong>as</strong> também no modo <strong>de</strong> vida, no trabalho, na alimentação, n<strong>as</strong>vestes, na liturgia.A arquitectura <strong>cister</strong>ciense, do ponto <strong>de</strong> vista estilístico apresenta cert<strong>as</strong>influênci<strong>as</strong> ora regionais, ora eclétic<strong>as</strong>, provenientes <strong>de</strong> diversos meios e aceitespelos monges quando ainda não existia nenhuma doutrina que vers<strong>as</strong>se ot<strong>em</strong>a.Salienta-se <strong>as</strong>sim a importância da Arquitectura <strong>cister</strong>ciense na história <strong>de</strong>Portugal como refere também Alberto Estima:“(…)os edifícios que melhor expressam a vocação religiosa dos seusautores são anteriores ao século XX e reportam às obr<strong>as</strong> dosmonges construtores, os <strong>cister</strong>cienses. A importância que atribuíamao edifício religioso fica expresso, não só no estudo exaustivo doprojecto como no grau <strong>de</strong> perfeccionismo com que o edificavam.A Abadia <strong>de</strong> Alcobaça é provavelmente o seu paradigma maior.” 77A austerida<strong>de</strong> <strong>cister</strong>ciense reflectia-se não só na rotina quotidiana dos monges,m<strong>as</strong> também na própria lógica, na racionalida<strong>de</strong> da articulação dos espaçosarquitectónicos e no <strong>de</strong>spojamento <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>corativos, no que respeitaà arquitectura:“Proibimos que haja escultur<strong>as</strong> ou pintur<strong>as</strong> n<strong>as</strong> noss<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> ou <strong>em</strong>quaisquer <strong>de</strong>pendênci<strong>as</strong> do mosteiro, pois quando se olha parael<strong>as</strong>, <strong>de</strong>ita-se a per<strong>de</strong>r a utilida<strong>de</strong> da boa meditação ou a disciplinada gravida<strong>de</strong> monástica. No entanto, t<strong>em</strong>os cruzes pintad<strong>as</strong> quesão <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira” 78O plano arquitectónico <strong>cister</strong>ciense nunca foi estático pois foi-se adaptandoconsoante <strong>as</strong> su<strong>as</strong> necessida<strong>de</strong>s e consoante <strong>as</strong> <strong>de</strong>mand<strong>as</strong> da realida<strong>de</strong> docontexto <strong>em</strong> que se inseriam. Apesar da utilização <strong>de</strong> um plano tipo,23177 Cit. Estima, Alberto; A nova vanguarda da Arquitectura Religiosa fundamentada <strong>em</strong> valores metafísicos(simbólico-religiosos) in Revista da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letr<strong>as</strong> CIENCIAS E TÉCNICAS DO PATRIMÓNIO; I Série, vol. V-VI; Porto 2006-7; p.15678 Ver Statuta XX in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong> Aires A.N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 84


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS232dificilmente se encontram du<strong>as</strong> abadi<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses idêntic<strong>as</strong>, pois <strong>de</strong>ve-se ter<strong>em</strong> atenção, não só <strong>as</strong> <strong>de</strong>vid<strong>as</strong> adaptações e alterações, como também <strong>as</strong>condicionantes <strong>de</strong> cada local.A tipologia d<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses seguia <strong>as</strong>sim um plano tipo quedurante muito t<strong>em</strong>po foi apelidado <strong>de</strong> Plano Cisterciense ou mesmo <strong>de</strong> PlanoBernardino. 79 Um dos ex<strong>em</strong>plos mais representativos <strong>de</strong>ste plano é o da abadia<strong>de</strong> Fontenay, <strong>em</strong> França e o da primitiva abadia <strong>de</strong> Alcobaça <strong>em</strong> Portugal.De facto, é a influência do pensamento <strong>de</strong> S. Bernardo que vaiproporcionar a utilização d<strong>as</strong> linh<strong>as</strong> simples e direit<strong>as</strong> e que vai repercutir-sesobretudo n<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> dos mosteiros com filiação <strong>em</strong> Claraval (como é o c<strong>as</strong>o<strong>de</strong> mosteiros <strong>em</strong> solo português). As outr<strong>as</strong> fundações e filiações tambémadoptaram este programa e esta linguag<strong>em</strong>. No entanto a utilização <strong>de</strong> mão<strong>de</strong>-obralocal e <strong>as</strong> influênci<strong>as</strong> d<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> regionais trouxeram el<strong>em</strong>entoscaracterísticos do próprio local on<strong>de</strong> se inseriam.Os <strong>cister</strong>cienses adaptaram <strong>as</strong> su<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> não só à topografia doslocais escolhidos como também tiveram <strong>em</strong> atenção os cursos <strong>de</strong> água, <strong>as</strong>direcções dos ventos dominantes.As condicionantes à construção do mosteiro são <strong>de</strong>ste modo: terreno<strong>de</strong>simpedido e livre; proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água e bosque; distanciação <strong>de</strong> locaispovoados e habitados; lugar isento <strong>de</strong> Senhorios.Os mosteiros <strong>cister</strong>cienses eram, como t<strong>em</strong> vindo a ser referido complexossist<strong>em</strong><strong>as</strong> arquitectónicos. A parte mais interna da cerca monástica eracomposta por edificações própri<strong>as</strong> para o serviço divino e para a habitação,dispostos <strong>de</strong> “more nostrum” seguindo um rígido esqu<strong>em</strong>a, enquanto osespaços acessórios, m<strong>as</strong> igualmente necessários como oficinais, armazéns,enfermaria eram colocados <strong>de</strong> um modo mais livre.A zona mais af<strong>as</strong>tada do edificado principal do mosteiro era constituídapel<strong>as</strong> granj<strong>as</strong> que, como já foi referido, eram essencialmente zon<strong>as</strong> <strong>de</strong> trabalho79 Sobre a discussão acerca do plano tipo ver: COCHERIL, Dom Maur; Etu<strong>de</strong>s sur le monachisme en Espagneet au Portugal; Collection Portugaise sous le patronage <strong>de</strong> l’institute français au Portugal; societe d’editions“Les Belles Lettres” - Paris; Livraria Bertrand – Lisbonne; 1966 / DIMIER, Pe. Anselme; L’Art Cistercien – France; col.La nuit <strong>de</strong>s t<strong>em</strong>ps; nº 16; Ed. Zodiaque; 1982 / DIMIER, Anselme; Eglises <strong>cister</strong>ciennes sur plan Bernardin et surplan Bénédictin in “Mélanges à la mémoire du père Anselme Dimier”; Tomo I – Père Anselme Dimier; vol. 2 –Travaux inédites et reéditions; Benoît Chauvin Ed.; Pupillin; 1987/ KINDER, Terryl N.; L’Europe Cistercienne; col.Les formes <strong>de</strong> la nuit; Ed. Zodiaque; 1998 / INCERTI, Manuela; Il Disegno <strong>de</strong>lla Luce nell’AaarchitetturaCistercense; Edizioni Certosa Cultura; Firenze; 1999 / MARTINS, Ana Maria Tavares F.: Espaço Monástico: daCida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus à Cida<strong>de</strong> do Hom<strong>em</strong> in “Estudos <strong>em</strong> Homenag<strong>em</strong> ao Prof. Doutor José Ama<strong>de</strong>u Coelho Di<strong>as</strong>”– vol. 1; Dpto <strong>de</strong> Ciênci<strong>as</strong> e Técnic<strong>as</strong> do Património e Dpto <strong>de</strong> História; Edição da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letr<strong>as</strong> daUniversida<strong>de</strong> do Porto; Porto, 2006 / MARTINS, Ana Maria Tavares F.: Uma Perspectiva da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister: oLegado Português; Ed. Autor; Viseu, 2007 / PRESSOUYRE, León; Le Rêve Cistercien; col. Découverts Gallimard; nº95; Ed. Gallimard; Paris; 1998 / ROMANINI, Angiola Maria; O projecto <strong>cister</strong>ciense in “A Ida<strong>de</strong> Média”; dir.Georges Duby e Michel Laclotte; col. História Artística da Europa; tomo II; Quetzal Editores; Lisboa; 1998 / VITI,Goffredo (dir.); Architettura Cistercense - Fontenay e le Abbazie in Italia dal 1120 al 1160; Edizioni C<strong>as</strong>amari –Certosa di Firenze; Firenze; 1995 / VITI, Goffredo; La Gerusal<strong>em</strong>me celeste presente nell’impianto architettonico<strong>cister</strong>cense; texto policopiado; s/d


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSagrícola, isto é, quint<strong>as</strong> distanciad<strong>as</strong> no máximo a um dia <strong>de</strong> viag<strong>em</strong> domosteiro e administrad<strong>as</strong> pelos conversos.Na granja <strong>cister</strong>ciense, dirigida pelo magister grangii, existia o dormitório, orefeitório, o calefactório e a capela. N<strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> décad<strong>as</strong> do séc. XII, aevolução da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister esteve relacionada com o <strong>de</strong>senvolvimento daarquitectura e arte caracterizad<strong>as</strong> pela simplicida<strong>de</strong> e pela harmonia d<strong>as</strong>proporções que se traduziram num estilo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> perfeição.Nos primórdios, sobretudo na primeira meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> século XI, a arquitectura<strong>cister</strong>ciense progrediu rapidamente. Num primeiro momento, o Românico e<strong>de</strong>pois o Gótico, ajustados a esta austerida<strong>de</strong> apresentam-se como resposta àsexigênci<strong>as</strong> dos Cistercienses traduzindo perfeitamente a espiritualida<strong>de</strong> daOr<strong>de</strong>m (Fig. 125).233Fig. 125 Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca(fotografia da autora)Nos territórios on<strong>de</strong> se implantava a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister eram apresentad<strong>as</strong>soluções inovador<strong>as</strong>, o que não significa que permanecess<strong>em</strong> como tal, fora<strong>de</strong>stes territórios, pois os <strong>cister</strong>cienses s<strong>em</strong>pre souberam utilizar <strong>as</strong> pr<strong>em</strong>iss<strong>as</strong>singulares dos locais on<strong>de</strong> se encontravam, como refere Terryl Kin<strong>de</strong>r:“Per progettare la pianta, l’alzato, le volte e il <strong>de</strong>coro (oarticolazione) piú adatti alle loro esigenze, i primi Cisterciensi siavvalsero <strong>de</strong>lle fonti più immediate a disposizione: il vocabolarioarchitettonico <strong>de</strong>l t<strong>em</strong>po e <strong>de</strong>l luogo in cui vivevano.” 8080 KINDER, Terryl N.; Op. Cit.; p.94


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSEst<strong>as</strong> construções sofreram influênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> particularida<strong>de</strong>s locais paraalém do carácter <strong>de</strong> homogeneida<strong>de</strong>. Esta homogeneida<strong>de</strong> foi resultado, nãosó <strong>de</strong> uma organização centralizada, m<strong>as</strong> também <strong>de</strong>vido à existência doCapítulo Geral a partir do qual eram tomad<strong>as</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong>stinad<strong>as</strong> atodos os mosteiros aliada às visitações regulares dos mosteiros.Segundo Fergusson 81 a arquitectura <strong>cister</strong>ciense apresentava por vezes,<strong>em</strong> alguns países, uma certa s<strong>em</strong>elhança e analogia com a arquitecturaresultante do movimento <strong>de</strong> reforma gregoriana 82 que ocorrera na região doMonte C<strong>as</strong>sino cerca <strong>de</strong> seis séculos antes.A difusão da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister na Europa originou a elaboração <strong>de</strong> plant<strong>as</strong>e alçados muito s<strong>em</strong>elhantes <strong>de</strong>notando uma repetição <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los ehomogeneida<strong>de</strong> que apontavam para alguma “standardização”.A arquitectura <strong>cister</strong>ciense cont<strong>em</strong>plava já a ampliação ou mesmo areconstrução que se estendia para além da Igreja e se alargava aosdormitórios, à cozinha, ao refeitório, e outros edifícios necessários <strong>de</strong>vido àdisposição planimétrica do edificado. 83O <strong>de</strong>senvolvimento da arquitectura <strong>cister</strong>ciense não correspon<strong>de</strong>uapen<strong>as</strong> ao tipo e estilo da sua construção m<strong>as</strong> também à disposição <strong>de</strong> todo oconjunto monástico (Fig. 126) ou seja, igreja, edifícios regulares, construçõesagrícol<strong>as</strong> e industriais, <strong>as</strong>sim como todo o tipo <strong>de</strong> anexos. 84234Fig. 126 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar (fotografia da autora)81 Ver FERGUSSON, Peter; Les Cisterciens et le Roman in “ Citeaux 1098 – 1998, L’Épopée Cistercienne – Dossiersd’Archeologie”; n. 229; Dec. 97 – Jan. 98; p. 4482 reforma Desi<strong>de</strong>rius83 KINDER, Terryl N.; Op. Cit.; p.9884 Ver FERGUSSON, Peter; Op. cit.; p. 40


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSA partir <strong>de</strong> 1150 começa-se a falar <strong>de</strong> uma construção e disposição dosdiferentes espaços arquitectónicos <strong>de</strong> more nostro (Esq. 41), isto é, “do nossomodo”. Assim, a arquitectura <strong>de</strong> um mosteiro <strong>cister</strong>ciense acomoda-se a:I.Particularida<strong>de</strong>s do sítio;II.Dimensão da comunida<strong>de</strong> nele instalada;III.Necessida<strong>de</strong> da dualida<strong>de</strong> ora et labora que preenche a vida <strong>de</strong> cadamonge <strong>cister</strong>ciense segundo a Regra <strong>de</strong> S. Bento;IV.Existência <strong>de</strong> dois grupos diversos, <strong>de</strong> du<strong>as</strong> socieda<strong>de</strong>s b<strong>em</strong> hierarquizad<strong>as</strong>e distint<strong>as</strong> compost<strong>as</strong> pelos monges do coro e pelos conversos queocupavam diferentes espaços. Por este facto é tão importante a relaçãoentre espaço e t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mosteiro <strong>cister</strong>ciense.MONASTERIUMMONGES235CIDADE DE DEUSSÍTIOPARADISUMCLAUSTRALISMOSTEIROCISTERCIENSEDIMENSÃODE MORE NOSTRUMPARAÍSOORA ET LABORA / RSBCONVERSOSDOMUSCONVERSORUMEsq. 41 El<strong>em</strong>entos que se encontram na génese arquitectónica <strong>de</strong> um mosteiro <strong>cister</strong>ciense(síntese e esqu<strong>em</strong>a da autora)Os planos, a disposição do edificado, a linguag<strong>em</strong> arquitectónica, os materiaisserão escolhidos <strong>de</strong> acordo com os princípios <strong>de</strong>finidos pela regra <strong>de</strong> S. Bento.Assim <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o plano d<strong>as</strong> abadi<strong>as</strong> à simplicida<strong>de</strong> dos materiais escolhidos tudose conjuga para elevar a procura <strong>de</strong> Deus e busca da santida<strong>de</strong>. A economia<strong>de</strong> meios, o rigor, os jogos <strong>de</strong> volumes e luminosida<strong>de</strong> traduz<strong>em</strong>-se através da


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS236perfeita unida<strong>de</strong> entre um i<strong>de</strong>al espiritual e <strong>as</strong> escolh<strong>as</strong> formais. Deste modo aarquitectura <strong>cister</strong>ciense, para além <strong>de</strong> tudo o que foi referido po<strong>de</strong> sintetizar-seatravés <strong>de</strong> quatro <strong>de</strong>finições intrínsec<strong>as</strong>: a austerida<strong>de</strong>, a simplicida<strong>de</strong>, afuncionalida<strong>de</strong> e os regionalismos que absorveu adaptando-os à suaconstrução nos locais on<strong>de</strong> se inseria. 85 abFig. 127 (a.) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar, Portugal: o material utilizado na sua construção é a pedra(fotografia da autora); (b.) Mosteiro <strong>de</strong> Vallis Rosarium Börstel, Al<strong>em</strong>anha: o material utilizado na suaconstrução é o tijolo (fotografia <strong>de</strong> Peter Bleckwenn)aFig. 128 (a.) Mosteiro <strong>de</strong> Le Thoronet, França: o material utilizado na sua construção é a pedra (arquivo daautora); (b.) Mosteiro <strong>de</strong> Vallis Rosarium Börstel, Al<strong>em</strong>anha: o material utilizado na sua construção é o tijolo(fotografia <strong>de</strong> Peter Bleckwenn)b85 AA. VV.; LES BÂTISSEURS – dês moines <strong>cister</strong>ciens…aux capitaines d’industrie; Ed. LE MONITEUR; 1997; pp.22-23


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSEm paralelo, e consequent<strong>em</strong>ente, <strong>de</strong>staca-se a repetibilida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> su<strong>as</strong>arquitectur<strong>as</strong> que foram exequíveis <strong>de</strong>vido à uniformida<strong>de</strong> do pensamento e<strong>de</strong> obediência à Regra <strong>de</strong> S. Bento, havendo s<strong>em</strong>pre lugar à liberda<strong>de</strong>conformada pelos regionalismos <strong>de</strong>st<strong>as</strong> mesm<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> (Esq. 42).ARQUITECTURA CISTERCIENSEMODERNIDADEMINIMUMAUSTERIDADESIMPLICIDADEFUNCIONALIDADEUNIFORMIDADEREPETIÇÃO237REGIONALISMOSLIBERDADEEsq. 42 El<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>finidores da arquitectura <strong>cister</strong>ciense (síntese e esqu<strong>em</strong>a da autora)Esta liberda<strong>de</strong>, para além dos regionalismos, correspon<strong>de</strong> também à liberda<strong>de</strong>da escolha do local <strong>de</strong> implantação e às necessida<strong>de</strong>s regionais que eramjustapost<strong>as</strong> ao programa-b<strong>as</strong>e, <strong>de</strong>senvolvido através dos princípios da Regra <strong>de</strong>S. Bento, a utilização <strong>de</strong> materiais próprios <strong>de</strong> uma região.É ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong>ste facto a existência <strong>de</strong> mosteiros edificados <strong>em</strong> pedra,como o granito (no c<strong>as</strong>o português), e outros edificados <strong>em</strong> tijolocorrespon<strong>de</strong>ndo a locais parcos <strong>em</strong> pedra (Fig. 127 e 129).“Di solito, gli statuti o i brevi compendi <strong>de</strong>lle <strong>de</strong>cisioni prese dalCapitolo Generale hanno natura restritiva; in altre parole, attiranol’attenzione su ciò il Capitolo Generale rupta in<strong>de</strong>sirabile, anzichésoffermarsi su ciò che è gradito. Nonostante questo possa s<strong>em</strong>brareun modo di proce<strong>de</strong>re negativo, sottolinea invece il fatto che le


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSabbazie erano libere di pren<strong>de</strong>re autonomamente molte <strong>de</strong>cisioniin campo architettonico. B<strong>as</strong>ti pensare alle torri campanarie dipietra: queste erano bandite, ma essendosi rivelate le torri in legnotroppo fragili per resistere al mistral, le abbazie <strong>de</strong>lla Franciameridionale ottennero il permesso di costruire piccoli campanili dipietra. Gli statuti stessi furono soggeti a medifiche nel t<strong>em</strong>po. Prima<strong>de</strong>l 1180, ad es<strong>em</strong>pio, le porte <strong>de</strong>lle chiese potevano essere dipintidi bianco o di nero, ma dopo tale data dovettero essere bianche.Questa prescrizioni informano l’architettura secondo lo spirito<strong>cister</strong>ciense – simplicità ed esclusione di ogni distrazione e di lussisuperflui -, l<strong>as</strong>ciando però alla discrezione di ogni singola abbazia l<strong>as</strong>celta <strong>de</strong>i modi ad essa convenienti.” 86238Fig. 130 Campanário <strong>em</strong> pedra <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris (fotografia da autora)A Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister é dotada <strong>de</strong> uma linguag<strong>em</strong> arquitectónica própria (plant<strong>as</strong>tipo, linh<strong>as</strong> sóbri<strong>as</strong>, simplicida<strong>de</strong>, luz) on<strong>de</strong> se inclu<strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos e directiv<strong>as</strong>que possu<strong>em</strong> um certo paralelismo com a actualida<strong>de</strong> (Fig. 130). Como refereTerryl Kin<strong>de</strong>r:“’S<strong>em</strong>plicità’ è paradossalmente un concetto complesso (...). Unprogetto ‘s<strong>em</strong>plice’ non è un progetto poco intelligente, né unprogetto ‘s<strong>em</strong>plicistico’ e la sua realizzazione non énecessariamente poco costosa (i Cisterciensi costruivano in modoaccurato e con materiali di alta qualità) Risulta chiaro che nei86 KINDER, Terryl N.; Op. cit.; pp.115-116


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSprogetti <strong>cister</strong>ciensi ci voleva molta capacità di previsione; spessoun progetto ‘s<strong>em</strong>plice’ richiedi sforzi maggiori di uno menos<strong>em</strong>plice, anche perché mette in luce persino gli errori piú piccoli.” 87Po<strong>de</strong>-se <strong>as</strong>sinalar a importância da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister, não só no que respeita aarquitectura d<strong>as</strong> Or<strong>de</strong>ns Monástic<strong>as</strong>, <strong>em</strong> geral, m<strong>as</strong> também no que concernea arquitectura cont<strong>em</strong>porânea. 88Como refere o arquitecto Cláudio Silvestrin no seu ensaio “On Cistercianarchitecture” apresentado numa conferência <strong>em</strong> The Insel Hombroich, Neuss<strong>em</strong> 1996:“The mon<strong>as</strong>tery is therefore a spiritual place where man can speakto God, unfettered by material <strong>de</strong>sires and distractions: it is not aplace <strong>de</strong>signed to be admired. The form matter of the building istherefore conceived in such a way that there are no materialfeatures which divert the eye from the hyper-sensitivecommunication with the invisible – paradoxically, the form-mattermust be so simple and essential that it comes across <strong>as</strong> non-existent:metaphorically speaking, the material is transformed intoformlessness.Non-object entities, such <strong>as</strong> space, light, thought and energy aretherefore intensified to their highest potency.(...)Simplicity became for the Cistercians a quality of life.It w<strong>as</strong> un<strong>de</strong>rstood, together with immortality and free will, <strong>as</strong> one ofthe three fundamental characteristics of the soul”. 89As característic<strong>as</strong> anteriormente enunciad<strong>as</strong> foram também responsáveis pelosr<strong>as</strong>gos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> existentes não só na arquitectura, como também naconstrução <strong>cister</strong>ciense e que evi<strong>de</strong>nciam o espírito <strong>de</strong> austerida<strong>de</strong> queprocura a simplicida<strong>de</strong> na sua forma mais pura (Fig. 131). Não confundir comsimplista, pelo contrário, esta era uma simplicida<strong>de</strong> coerente e complexa,permitindo a procura do “mínimo” ou seja do “minimum” que contr<strong>as</strong>ta com a“curiosit<strong>as</strong>” dos estilos coevos (do românico e por vezes mesmo do gótico).Este “minimum” irá influenciar muitos artist<strong>as</strong> e arquitectos, até mesmoarquitectos cont<strong>em</strong>porâneos como Le Corbusier, John Pawson e ClaudioSilvestrin. 9023987 I<strong>de</strong>m; p.9288 Ver Cap. 4; p. 28789 SILVESTRIN, Claudio; On Cistercian Architecture – talk at the Insel Hombroich Neuss, 1996 in Bertoni, Franco“Claudio Silvestrin”; Birkhäuser – Publishers for Architecture; B<strong>as</strong>el; 1999; p.21990 Cfr. HERVÉ, Lucien; Architecture of Thruth – the <strong>cister</strong>cian abbey of Le Thoronet; Phaidon Press Limited; 2001,reedição do original <strong>de</strong> 1957 que apresenta fotografi<strong>as</strong> da abadia <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong> Le Thoronet, cujaarquitectura muito influenciou Le Corbusier, sendo por isso mesmo esta obra prefaciada por Le Corbusier. Aredição <strong>de</strong> 2001 é acrescida <strong>de</strong> posfácio <strong>de</strong> John Pawson pelo mesmo motivo – a influencia da arquitectura<strong>cister</strong>ciense na sua própria obra. / PETIT, Jean; Un Couvent <strong>de</strong> Le Corbusier; Les Cahiers Forces Vives – Editec;1961 que apresenta o Mosteiro dominicano <strong>de</strong> La Tourette, obra <strong>de</strong> Le Corbusier, com notóri<strong>as</strong> influenci<strong>as</strong> d<strong>as</strong>implicida<strong>de</strong> <strong>cister</strong>ciense. / PAWSON, John ; Minimum ; Phaidon Press Limited no qual este arquitecto <strong>as</strong>sume


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 131 Claustro <strong>de</strong> Le Thoronet (séc.XII), França (fotografia <strong>de</strong> LucienHervé) 91240Fig. 132 Pedra nua dos claustros do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Alcobaça, palco <strong>de</strong> inúmeros jogos <strong>de</strong> luz e sombra (fotografia daautora)Também a própria construção servirá <strong>de</strong> inspiração a muitos arquitectos(Fig.132). Observando a f<strong>as</strong>e Brutalista <strong>de</strong> Le Corbusier po<strong>de</strong>-se estabelecer um<strong>as</strong> influenci<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses na sua arquitectura e busca um fio condutor para o conceito <strong>de</strong> “mínimo” aolongo do t<strong>em</strong>po, da história e d<strong>as</strong> cultur<strong>as</strong>; 1996 / SILVESTRIN, Claudio; Architecture of lessness in ArchitecturalDesign Magazine – Aspects of Minimal Architecture; 1994 e SILVESTRIN, Claudio; Aforism in Bertoni, Franco“Claudio Silvestrin”; Birkhäuser – Publishers for Architecture; B<strong>as</strong>el; 1999, arquitecto, <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos colaborador <strong>de</strong>John Pawson, <strong>de</strong> modo i<strong>de</strong>ntico <strong>as</strong>sumidamente influenciado pela simplicida<strong>de</strong>, rigor e austerida<strong>de</strong> daarquitectura <strong>cister</strong>ciense.91 Imag<strong>em</strong> retirada <strong>de</strong> HERVÉ, Lucien; Op. cit.; pp. 66-67


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSparalelo entre Corbusier e a arquitectura <strong>cister</strong>ciense também pela via dospróprios materiais e do modo como se inseriam na construção e obraarquitectónica.Um dos mais eficazes ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong>sta influência <strong>em</strong> Le Corbusier é oConvento dominicano <strong>de</strong> La Tourette. O Projecto <strong>de</strong> La Tourette n<strong>as</strong>ceu doreencontro entre o dominicano Marie-Alain Coturier e <strong>de</strong> Le Corbusier (Fig. 133).241Fig. 133 Le Corbusier e Pe. Marie-Alain Coturier 92Do reencontro entre os dois surge um diálogo arquitectónico, filosófico eespiritual. Enquanto Marie-Alain Coturier era um fervoroso <strong>de</strong>fensor <strong>de</strong> uma férenovada através da arte cont<strong>em</strong>porânea, o arquitecto Le Corbusier “ateu”estava à procura <strong>de</strong> valores renovados no espírito da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Tratava-sepois <strong>de</strong> du<strong>as</strong> personalida<strong>de</strong>s que apesar <strong>de</strong> diferentes se confrontavam nosentido do sucesso <strong>em</strong> torno do um mesmo projecto: por um lado a perspectivaespiritual <strong>de</strong> Marie-Alain Coturier e por outro lado a perspectiva arquitectónica<strong>de</strong> Le Corbusier. 93Marie-Alain Coturier procurava a espiritualida<strong>de</strong> através da arquitecturaenquanto Le Corbusier procurava a arquitectura através da espiritualida<strong>de</strong>.92 Imag<strong>em</strong> retirada <strong>de</strong> PETIT, Jean; Un Couvent <strong>de</strong> Le Corbusier; Les Cahiers Forces Vives – Editec; 1961; p.2193 Cfr. PETIT, Jean; Un Couvent <strong>de</strong> Le Corbusier; Les Cahiers Forces Vives – Editec; 1961 ; p.21


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 134 Le Corbusier discute o projecto para La Tourette com os fra<strong>de</strong>sdominicanos. 94242O convento La Tourette apresenta múltipl<strong>as</strong> interpretações e permite umamultiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> olhares. Esta obra não <strong>de</strong>ve ser vista como um manifesto, m<strong>as</strong>como uma elaborada epopeia oferecida à meditação arquitectónica(Fig.134). O convento dominicano <strong>de</strong> La Tourette permite a unida<strong>de</strong>: do t<strong>em</strong>po<strong>de</strong> trabalho e do t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> repouso, <strong>de</strong> vida colectiva e <strong>de</strong> vida <strong>em</strong> solitário.Fig. 135 Cela <strong>de</strong> La Lourette (arquivo da autora)94 Imag<strong>em</strong> retirada <strong>de</strong> PETIT, Jean; Un Couvent <strong>de</strong> Le Corbusier; Les Cahiers Forces Vives – Editec; 1961; p.126


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSMais tar<strong>de</strong> Le Corbusier aplicará este conceito aos seus program<strong>as</strong> <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> habitação. A cela (Fig. 135) era o mo<strong>de</strong>lo do habitat mínimo que se tornaráa figura simbólica <strong>de</strong> ligação entre o espaço interior e o espaço exterior, é elaque vai proporcionar a criação d<strong>as</strong> fachad<strong>as</strong>.Para Corbusier era importante a verda<strong>de</strong> dos materiais (Fig. 136), sendo af<strong>as</strong>e do seu “béton brut” (Fig. 139), a que mais se po<strong>de</strong> aproximar daconstrução <strong>cister</strong>ciense pois, para os Cistercienses era igualmente importante averda<strong>de</strong> dos materiais e a importância da “pedra nua”.243Fig. 136 Capela do Convento <strong>de</strong> La Tourette(arquivo da autora)Note-se que a arquitectura <strong>cister</strong>ciense auxiliou a inovação ao substituir aabóbada <strong>de</strong> arest<strong>as</strong> pela abóbada <strong>de</strong> ogiva (Fig. 137), isto é, ao substituir oromânico pelo gótico atinge a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. 95 “L’architettura <strong>cister</strong>ciense nonsegna una rottura con il p<strong>as</strong>sato, ma edifica su questo ‘continuum’ storico,proprio como fa la sua ‘raison d’être’, la vita <strong>cister</strong>ciense.” 9695 AA. VV.; LES BÂTISSEURS – dês moines <strong>cister</strong>ciens…aux capitaines d’industrie; Ed. LE MONITEUR; 1997; p.2396 KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p.67


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 137 Vista <strong>de</strong> absi<strong>de</strong> unida ao transepto, gótico, Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça(arquivo Editions Gaud)244Com o p<strong>as</strong>sar dos séculos a arquitectura <strong>cister</strong>ciense foi per<strong>de</strong>ndo este cunhocaracterístico ao abraçar <strong>as</strong> correntes estilístic<strong>as</strong> que se iam suce<strong>de</strong>ndo aolongo do t<strong>em</strong>po. Apen<strong>as</strong> no século XX (Fig. 138) voltará a buscar o “minimum”arquitectónico que a distinguiu n<strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> centúri<strong>as</strong> da sua existência(Fig.140).aFig. 138 (a) Convento <strong>de</strong> La Tourette: igreja, altar-mor. (b) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Alcobaça: ala S. Bernardo (fotografia da autora)b


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 139 Betão aparente, “béton brut” da igrejao do Convento dominicano <strong>de</strong> LaTourette, da autoria <strong>de</strong> Le Corbusier (séc.XX), França 97245Fig. 140 Minimalismo da igreja do Mosteiro <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong> Novy Dvur, da autoria <strong>de</strong>John Pawson (séc.XXI), República Checa (arquivo Mosteiro Novy Dvur)97 In PETIT, Jean; Op. cit.; p.90


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS4.3.1.PLANO BERNARDINO vs. PLANO CISTERCIENSE246O Cister primitivo apresenta cert<strong>as</strong> influênci<strong>as</strong> ora regionais, ora eclétic<strong>as</strong>provenientes <strong>de</strong> diversos meios e aceites pelos monges quando ainda nãoexistia nenhuma doutrina que vers<strong>as</strong>se o t<strong>em</strong>a.Neste sentido, J. Porcher refere que “ La peinture d’esprit <strong>cister</strong>cien, stricte,dépouillé, enn<strong>em</strong>ie du vain décor, saint Bernard va l’imposer chez lui, mais hors<strong>de</strong> Clairvaux même, on l’ignore et, Bernard disparu, il n’en sera plus question”. 98A tipologia d<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses seguia um plano tipo que durant<strong>em</strong>uito t<strong>em</strong>po foi apelidado <strong>de</strong> Plano Cisterciense ou mesmo <strong>de</strong> PlanoBernardino. 99 Um dos ex<strong>em</strong>plos mais representativos <strong>de</strong>ste plano é o da abadia<strong>de</strong> Fontenay.De facto, é a influência do pensamento <strong>de</strong> S. Bernardo que vaiproporcionar a utilização d<strong>as</strong> linh<strong>as</strong> simples e direit<strong>as</strong> e que vai repercutir-sesobretudo n<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> dos mosteiros com filiação <strong>em</strong> Claraval (como é o c<strong>as</strong>o<strong>de</strong> mosteiros <strong>em</strong> solo português).As outr<strong>as</strong> fundações e filiações também adoptaram este programa e estalinguag<strong>em</strong>. No entanto, a utilização <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra local e <strong>as</strong> influênci<strong>as</strong> d<strong>as</strong>arquitectur<strong>as</strong> regionais trouxeram el<strong>em</strong>entos característicos do próprio localon<strong>de</strong> se inseriam.A variável constante <strong>em</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses <strong>as</strong>sentaessencialmente na simplicida<strong>de</strong>, austerida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>spojamento total da98 Cit COCHERIL, Dom Maur; Etu<strong>de</strong>s sur le monachisme en Espagne et au Portugal; Collection Portugaise sousle patronage <strong>de</strong> l’institute français au Portugal; societe d’editions “Les Belles Lettres” - Paris; Livraria Bertrand –Lisbonne; 1966 ; p. 13699 Sobre a discussão acerca do plano tipo ver: COCHERIL, Dom Maur; Etu<strong>de</strong>s sur le monachisme en Espagneet au Portugal; Collection Portugaise sous le patronage <strong>de</strong> l’institute français au Portugal; societe d’editions“Les Belles Lettres” - Paris; Livraria Bertrand – Lisbonne; 1966 / DIMIER, Pe. Anselme; L’Art Cistercien – France; col.La nuit <strong>de</strong>s t<strong>em</strong>ps; nº 16; Ed. Zodiaque; 1982 / DIMIER, Anselme; Eglises <strong>cister</strong>ciennes sur plan Bernardin et surplan Bénédictin in “Mélanges à la mémoire du père Anselme Dimier”; Tomo I – Père Anselme Dimier; vol. 2 –Travaux inédites et reéditions; Benoît Chauvin Ed.; Pupillin; 1987/ KINDER, Terryl N.; L’Europe Cistercienne; col.Les formes <strong>de</strong> la nuit; Ed. Zodiaque; 1998 / INCERTI, Manuela; Il Disegno <strong>de</strong>lla Luce nell’AaarchitetturaCistercense; Edizioni Certosa Cultura; Firenze; 1999 / MARTINS, Ana Maria Tavares F.: Espaço Monástico: daCida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus à Cida<strong>de</strong> do Hom<strong>em</strong> in “Estudos <strong>em</strong> Homenag<strong>em</strong> ao Prof. Doutor José Ama<strong>de</strong>u Coelho Di<strong>as</strong>”– vol. 1; Dpto <strong>de</strong> Ciênci<strong>as</strong> e Técnic<strong>as</strong> do Património e Dpto <strong>de</strong> História; Edição da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letr<strong>as</strong> daUniversida<strong>de</strong> do Porto; Porto, 2006 / MARTINS, Ana Maria Tavares F.: Uma Perspectiva da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister: oLegado Português; Tipografia Beira Alta; Viseu, 2007 / PRESSOUYRE, León; Le Rêve Cistercien; col. DécouvertsGallimard; nº 95; Ed. Gallimard; Paris; 1998 / ROMANINI, Angiola Maria; O projecto <strong>cister</strong>ciense in “A Ida<strong>de</strong>Média”; dir. Georges Duby e Michel Laclotte; col. História Artística da Europa; tomo II; Quetzal Editores; Lisboa;1998 / VITI, Goffredo (dir.); Architettura Cistercense - Fontenay e le Abbazie in Italia dal 1120 al 1160; EdizioniC<strong>as</strong>amari – Certosa di Firenze; Firenze; 1995 / VITI, Goffredo; La Gerusal<strong>em</strong>me celeste presente nell’impiantoarchitettonico <strong>cister</strong>cense; texto policopiado; s/d


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS<strong>de</strong>coração, aquilo que Dom Maur Cocheril chama <strong>de</strong> “puritanismo” 100Referindo-se ao mesmo <strong>as</strong>sunto Dom Angélico Surchamp afirma que:“L’art <strong>cister</strong>cien fut en partie une véritable révolution, parce queCîteaux lui-même ouvrait <strong>de</strong>s perspectives sur un idéal qui est déjàcelui <strong>de</strong>s siècles à venir. Cîteaux représente à coup sur l’un <strong>de</strong>s plusrigoureuses quêtes <strong>de</strong> perfection. Dans l’étonnant pério<strong>de</strong> <strong>de</strong> la findu XI e siècle et du début du XII e , cet élan n’est point isolé (…) il estdu moins l’un <strong>de</strong>s plus significatifs et <strong>de</strong>s plus saillants”. 101Dom Maur Cocheril que afirma nada caracterizar melhor o espírito <strong>de</strong> Cistercomo a arquitectura, na qual se reflecte e se magnifica a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> atingir olimite possível pela abnegação, dos primeiros monges brancos.É também Dom Angélico Surchamp que reafirma esta <strong>de</strong>terminaçãoreferindo-se ao “espírito” que imana <strong>de</strong> cada estrutura, plano ou construção<strong>cister</strong>ciense:“Ainsi l’art <strong>de</strong> Cîteaux se <strong>de</strong>finit-il moins par certaines inventions <strong>de</strong>structures, <strong>de</strong> plans ou <strong>de</strong> formes que par l’esprit dans lequel cesestrutures, <strong>de</strong> plans ou <strong>de</strong> formes se voient <strong>em</strong>ployés. Lesproportions <strong>de</strong>s monuments sont romanes. Les structures et lesformes égal<strong>em</strong>ent. Mais par contre l’esprit qui anime les édifices,jusque dans le moindre détail, est absolument original. Il marque undépouill<strong>em</strong>ent volontaire, un dénu<strong>em</strong>ent complet, qu’on arar<strong>em</strong>ent poussés à ce point.N’était-ce point trop exiger <strong>de</strong>s bâtisseurs, comme aussi <strong>de</strong>smoines qui <strong>de</strong>vaient habiter ces lieux ? L’admirable avenue <strong>de</strong> l’art<strong>cister</strong>cien pose avec acuité l’irritant et insoluble problème <strong>de</strong>l’étendue du renonc<strong>em</strong>ent dans l’art chrétien (…)”. 102“Tel est bien l’enjeu réel <strong>de</strong> l’art <strong>cister</strong>cien en fin <strong>de</strong> compte. Il clôtdéfinitiv<strong>em</strong>ent la tradition romane dans laquelle il <strong>de</strong>meureprofondément ancré par ses racines. Il inaugure la mentalitémo<strong>de</strong>rne Son message nous est d’autant plus accessible que,partageant les <strong>de</strong>ux tendances, il s’en trouve plus proche <strong>de</strong> noussur bien <strong>de</strong>s points.” 103Relativamente à existência <strong>de</strong> um plano estritamente <strong>cister</strong>ciense <strong>as</strong> opiniõesdivi<strong>de</strong>m-se. Por um lado encontram-se aqueles que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a existência <strong>de</strong>um plano regulador <strong>de</strong> característic<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses que serve <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo atod<strong>as</strong> <strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong> da or<strong>de</strong>m. Por outro encontram-se um outro247100 Ver COCHERIL, Dom Maur; Etu<strong>de</strong>s sur le monachisme en Espagne et au Portugal; Collection Portugaise sousle patronage <strong>de</strong> l’institute français au Portugal; societe d’editions “Les Belles Lettres” - Paris; Livraria Bertrand –Lisbonne; 1966 ; p. 137101 Cit SURCHAMP, Dom Angelico; L’esprit <strong>de</strong> l’art <strong>cister</strong>cien in “ L’Art Cistercien – France”; col. La nuit <strong>de</strong>st<strong>em</strong>ps; nº 16; Ed. Zodiaque; 1982; p.13102 Cit SURCHAMP, Dom Angelico; Op. cit.; pp. 18-19103 Cit I<strong>de</strong>m; p. 23


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS248grupo que são <strong>de</strong> opinião contrária e que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a existência <strong>de</strong> um planobeneditino e não <strong>cister</strong>ciense, comum a todos os que segu<strong>em</strong> a regra <strong>de</strong> S.Bento, sendo <strong>de</strong> opinião que este plano segue <strong>de</strong>pois a corrente estilística <strong>em</strong>voga na época <strong>em</strong> que se inseria.Assim ao primeiro grupo pertenc<strong>em</strong> pesso<strong>as</strong> como Dom Maur Cocheril,Artur Nobre <strong>de</strong> Gusmão, Elisabeth Évora Nunes, Stephen Tobin, Godofreddo Vitti,John Pawson, Virgolino Jorge e Georges Duby.“Toutes les abbayes <strong>cister</strong>ciennes sont bâties sur le même plan.Lorsqu’on y relève <strong>de</strong>s anomalies, elles sont ordinair<strong>em</strong>ent dues à laconfiguration du terrain.” 104 “(…) l’abbaye <strong>cister</strong>cienne idéal, celledont le plan se retrouve sous-jacent à celui <strong>de</strong> toutes cellesqu’édifièrent les Moines Blancs.” 105 (Dom Maur Cocheril)“(…) St Bernard of Clairvaux established a comprehensive blueprintfor the construction of Cistercian houses which aimed to translatethe Rule into Architecture” 106 (John Pawson)“Il s<strong>em</strong>plice confronto di planimetrie tra le abbazie <strong>cister</strong>censi equelle <strong>de</strong>lle prece<strong>de</strong>nti esperienze mon<strong>as</strong>tiche presenta una talediversità, anche nella distribuzione <strong>de</strong>gli spazi conventuali, che<strong>de</strong>terminò, già nel secolo scorso, l’individuazione di una ‘pianta<strong>cister</strong>cense’, razionalmente più ordinata e distribuita, ripetuta negliinsediamenti sparsi nell’intera Europa tra i secoli XII-XIII.” 107(Godofreddo Vitti)“A chamada ‘planta <strong>cister</strong>ciense’ e a utilização <strong>de</strong> umaarquitectura <strong>de</strong>purada e austera é a tradução pétrea do espírito edos i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> S. Bernardo, que <strong>de</strong>ram o tom ao gran<strong>de</strong> movimentoreformista saído dos beneditinos” 108 (Nelson Correia Borges)“En effet, bien qu’ils n’en aient p<strong>as</strong> l’intention, les Cisterciensréussissent à développer un style architectural propre, distinct, qui,par son originalité même, ne se laisse <strong>as</strong>similer à aucune <strong>de</strong>scatégories traditionnelles.” 109 (Stephen Tobin)Otto von Simsom encontra-se entre os dois grupos:“Debe subrayarse en este punto que lo que es <strong>cister</strong>ciense obernardino en estos edificios no es el plano, sino el estilo.104 COCHERIL, Dom Maur; Routier <strong>de</strong>s Abbayes Cisterciennes du Portugal; col. Cultura Medieval e Mo<strong>de</strong>rna –X;Fundação Calouste Gulbenkian; Centro Cultural Português; Paris; 1978; p.38105 COCHERIL, Dom Maur; Notes sur l’Architecture et le Décor dans les Abbayes Cisterciennes du Portugal; col.Fontes Documentais Portugues<strong>as</strong>; vol. V; Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português; Paris1972; p. XIV106 Cfr.PAWSON, John; Afterword in Lucien Hervé “Architecture of Thruth – the <strong>cister</strong>cian abbey of Le Thoronet”;Phaidon Press Limited; 2001; p.151107 Cfr. VITI, Goffredo (dir.); Op. cit.; p.34108 BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; p.35109 Cfr. TOBIN, Stephen; Op. cit.; p.81


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSPrácticamente todos y cada uno <strong>de</strong> los el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> la primitivaiglesia <strong>cister</strong>ciense se los hallamos en otros tipos <strong>de</strong> arquitecturareligiosa. Es el espíritu <strong>de</strong>l t<strong>em</strong>plo bernardino lo que le <strong>as</strong>igna unlugar aparte. Los <strong>de</strong>talles en cuanto al plano y a la construcciónque se tomaron <strong>de</strong> la arquitectura benedictina anterior setransformaron <strong>de</strong> un modo que crea un tono único einconfundible.” 110Ao segundo grupo pertenc<strong>em</strong> pesso<strong>as</strong> como Terryl N. Kin<strong>de</strong>r e Frei GeraldoCoelho Di<strong>as</strong>.“Per molti, l’architettura <strong>cister</strong>ciense è <strong>de</strong>finita da linee s<strong>em</strong>plici,nu<strong>de</strong> pareti di pietra, archi a tutto sesto e spazi non interrotti; talepercezione non è errata, ma potrebbe valere anche per ungrandissimo numero di edifici che <strong>cister</strong>ciensi non sono. In realtà,non ci sono el<strong>em</strong>enti, né serie di el<strong>em</strong>enti che permettano diconsi<strong>de</strong>rare una costruzione come ‘<strong>cister</strong>ciense’” 111 (Terryl N. Kin<strong>de</strong>r)“S. Bernardo (…) tão pouco criou a ‘arquitectura bernardina’, comotant<strong>as</strong> vezes erradamente, se afirma, m<strong>as</strong> <strong>de</strong>u ao estilo gótico amais valia da espiritualida<strong>de</strong> que, hoje, <strong>de</strong> forma genérica, v<strong>em</strong>os<strong>em</strong>belezar a maneira <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong> construir igrej<strong>as</strong> no século XII-XIII” 112 (Frei Geraldo Coelho Di<strong>as</strong>)O plano i<strong>de</strong>al do mosteiro <strong>cister</strong>ciense <strong>as</strong>senta <strong>em</strong> alguns preceitosfundamentais insistindo numa tripla lógica como refere Pressouyre: a lógica dosítio, a lógica d<strong>as</strong> taref<strong>as</strong> e a lógica dos homens. 113Como referido anteriormente, o local escolhido pelos <strong>cister</strong>cienses para aconstrução dos seus mosteiros t<strong>em</strong> como característica principal a presença ea distribuição da água, necessária a toda a vida comunitária que dita qualquertipo <strong>de</strong> implantação do edificado.A água permitia a existência <strong>de</strong> viveiros, servia para irrigar jardins, faziamover <strong>as</strong> nor<strong>as</strong> dos moinhos, era canalizada através <strong>de</strong> condut<strong>as</strong> até ao interiorda abadia, para o lavabo, cozinha, sendo por fim conduzida a um esgotoatravés <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarg<strong>as</strong> e d<strong>as</strong> latrin<strong>as</strong>. Para a <strong>de</strong>finição do plano i<strong>de</strong>al também é<strong>de</strong> máxima importância, como já t<strong>em</strong> vindo a ser referido, o Orare et laborare 114pois são os actos essenciais da vida monástica que encontramcorrespondência <strong>em</strong> espaços precisos e repartidos <strong>de</strong> modo a fazer acorrespondência entre os volumes e <strong>as</strong> su<strong>as</strong> localizações às funções e horários,249110 Cit. SIMSON, Otto von; Op. cit.; p. 67111 Cfr. KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p.225112 Cfr. Geraldo Coelho Di<strong>as</strong> in AA.VV.; Cister no Vale do Douro; Grupo <strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong> História da ViticulturaDuriense e do Vinho do Porto; Edições Afrontamento; Santa Maria da Feira; 1999113 Cfr. PRESSOUYRE, León; Le Rêve Cistercien; col. Découverts Gallimard; nº 95; Ed. Gallimard; Paris; 1998; pp.34-45.114 orar e trabalhar


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS250como era o c<strong>as</strong>o do dormitório, do calefactório, do refeitório, da cozinha, doclaustro, da sala do capítulo, do locutório.Porém, é igualmente um factor indubitável que a socieda<strong>de</strong> que habitaum mosteiro funciona como um verda<strong>de</strong>iro microcosmo, amostrag<strong>em</strong> dadiversida<strong>de</strong> do mundo constituindo-se no entanto como uma socieda<strong>de</strong>restrita.Há um espaço reservado aos monges no lado Este do Claustro, on<strong>de</strong> seencontra o dormitório num primeiro piso encontrando-se no piso inferior, no pisotérreo, a Sala do Capítulo que é geralmente la<strong>de</strong>ada por uma sacristia e umlocutório.O espaço que se opõe ao lado da Igreja <strong>em</strong> toda a sua extensão (<strong>de</strong>norte a sul) é constituído pela cozinha, o calefactório e o refeitório. Este espaçoé b<strong>em</strong> distinto da domus conversorum, <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>stinada à habitaçãodos conversos ou irmãos leigos. O edifício <strong>de</strong>stinado aos irmãos leigos ouconversos é mais rudimentar, encontrando-se no lado Oeste do claustro, esendo separado frequent<strong>em</strong>ente por uma ruela no rés-do-chão.Este edifício possui no piso térreo o refeitório e o celeiro enquanto no pisosuperior encontra-se o dormitório.O princípio da segregação volta a ser aplicado na Igreja on<strong>de</strong> o coro dosmonges se encontra próximo do altar encontrando-se o dos conversos b<strong>as</strong>tant<strong>em</strong>ais af<strong>as</strong>tado.Através <strong>de</strong>st<strong>as</strong> disposições, os Cistercienses exprimiram plenamente alógica criadora, próximo da porta principal da Abadia e no interior da cercaencontra-se uma hospedaria que abrangia dormitório, refeitório e enfermaria.Esta <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> visitantes / hóspe<strong>de</strong>s possuía muit<strong>as</strong> vezes uma capelaque seria inicialmente <strong>de</strong>stinada aos visitantes que se encontravam <strong>de</strong>p<strong>as</strong>sag<strong>em</strong>.A partir <strong>de</strong> 1135 ocorre o maior processo <strong>de</strong> transformação da Or<strong>de</strong>m. Ascomunida<strong>de</strong>s aumentaram e o número <strong>de</strong> monges era cada vez mais elevadono seu seio pelo que os edifícios <strong>de</strong> menores dimensões d<strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> décad<strong>as</strong>do século XII (1110-1120) foram sendo substituídos por edifícios <strong>de</strong> maioresdimensões.Assim os novos edifícios <strong>de</strong>senvolveram-se <strong>em</strong> volta <strong>de</strong> um claustro e sãoro<strong>de</strong>ados pelos mais variados anexos, tais como uma enfermaria ou umahospedaria, m<strong>as</strong> distanciada.A arquitectura <strong>cister</strong>ciense rejeita <strong>de</strong>liberadamente <strong>as</strong> pintur<strong>as</strong> murais, osvitrais coloridos, os capiteis arduamente trabalhados, <strong>as</strong> torres <strong>de</strong> tal modo que:“Não é permitido ter <strong>em</strong> lugar algum escultur<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> apen<strong>as</strong> cruzespintad<strong>as</strong>, e não sejam senão <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira.” 115115 Ver Capitula, cap. XXVI in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong>Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 61


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSO que será reforçado pelos statuta segundo os quais:“Proibimos que haja escultur<strong>as</strong> ou pintur<strong>as</strong> n<strong>as</strong> noss<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> ou <strong>em</strong>quaisquer <strong>de</strong>pendênci<strong>as</strong> do mosteiro, pois quando se olha parael<strong>as</strong>, <strong>de</strong>ita-se a per<strong>de</strong>r a utilida<strong>de</strong> da boa meditação ou adisciplina da gravida<strong>de</strong> monástica. No entanto, t<strong>em</strong>os cruzespintad<strong>as</strong> que são <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira” 116Segundo Peter Fergusson, a disposição apresentada pela planta <strong>de</strong> cruz latina,plena <strong>de</strong> ortogonalida<strong>de</strong> e alinhamentos b<strong>as</strong>eados num módulo quadrangularestava relacionada com os intervalos musicais <strong>de</strong>correntes do canto monásticoque fora reformado por S. Bernardo <strong>as</strong>sim como também estava presente na“De musica” <strong>de</strong> Santo Agostinho. 117S. Bernardo participou activamente na criação <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>arquitectura <strong>cister</strong>ciense. Est<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> têm vindo a ser muito discutid<strong>as</strong> aolongo dos t<strong>em</strong>pos existindo vári<strong>as</strong> tomad<strong>as</strong> <strong>de</strong> posição relativamente àexistência ou inexistência <strong>de</strong> um plano específico <strong>de</strong>lineado e elaborado para<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong>sta Or<strong>de</strong>m. Como refere von Simson,“No cabe duda alguna <strong>de</strong> que el abad <strong>de</strong> Claraval participóactivamente en la creación <strong>de</strong>l mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> arquitectura<strong>cister</strong>ciense, aunque no sab<strong>em</strong>os exactamente h<strong>as</strong>ta dón<strong>de</strong>llegaría su supervisión; tampoco cabe duda <strong>de</strong> que el estiloconcreto que se <strong>de</strong>sarrolló bajo su dirección es uno <strong>de</strong> losprincipales acontecimientos <strong>de</strong> la historia <strong>de</strong> la arquitecturamedieval. (…) Sin <strong>em</strong>bargo, la arquitectura bernardina es muchomás que un «románico expurgado». Parece como si la<strong>de</strong>saparición <strong>de</strong> l<strong>as</strong> artes figurativ<strong>as</strong> hubiera <strong>de</strong>jado libre el caminopara una pureza y una perfección inigualables <strong>de</strong> construcción yproporción arquitectónica. (…) A san Bernardo le movíanexclusivamente motivaciones religios<strong>as</strong>. Pero su <strong>as</strong>cetismo, incluid<strong>as</strong>sus implicaciones iconofóbic<strong>as</strong>, concuerda en la perfección con lamarcada preferencia por l<strong>as</strong> form<strong>as</strong> sobri<strong>as</strong> y «abstract<strong>as</strong>», por losvalores arquitectónicos, que aparece incluso en el estilo <strong>de</strong> l<strong>as</strong>ilustraciones <strong>de</strong> los libros <strong>de</strong> esta época.” 118S. Bernardo foi <strong>de</strong> facto construtor <strong>de</strong> matéria ao impulsionar a construção d<strong>as</strong>arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong> Cister d<strong>as</strong> quais muit<strong>as</strong> subsist<strong>em</strong> ainda hoje constituindoex<strong>em</strong>plares vivos ou simples marc<strong>as</strong> impregnad<strong>as</strong> do i<strong>de</strong>al <strong>cister</strong>ciense m<strong>as</strong>também foi construtor <strong>de</strong> alm<strong>as</strong> pois <strong>de</strong>spoletou o florescimento <strong>de</strong> Cisterenquanto um corpo que se traduz na Or<strong>de</strong>m <strong>as</strong>sim como dos <strong>cister</strong>cienses251116 Ver Statuta XX in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong> Aires A.N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 84117 Ver FERGUSSON, Peter; Les Cisterciens et le Roman in “ Citeaux 1098 – 1998, L’Épopée Cistercienne –Dossiers d’Archeologie”; n. 229; Dec. 97 – Jan. 98; p. 43118 Cit. SIMSON, Otto von; Op. cit.; p.67


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSenquanto el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>sse mesmo corpo e por conseguinte seus construtores(Esq. 43). Segundo Georges Duby S. Bernardo foi um construtor com duplo título:“Porque, falando aos monges, lhes <strong>de</strong>screve o mo<strong>de</strong>lo pelo qual<strong>de</strong>v<strong>em</strong> conformar o edifício: o edifício <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong>ve ser aprojecção <strong>de</strong> um sonho <strong>de</strong> perfeição moral, como os edifícios queBoullée e Ledoux sonharam construir. Construtor, Bernardo é-o,também, por ter falado aos homens do exterior, <strong>de</strong>sviando paraCister os favores do seu século e reunindo os meios para umaconstrução”. 119252Esq. 43 Esqu<strong>em</strong>a-síntese da importância <strong>de</strong> S. Bernardo no que respeita à matéria e ao espírito naconstrução do i<strong>de</strong>al <strong>cister</strong>ciense (elaborado pela autora)Para S. Bernardo:“(…) o que é necessário é a unida<strong>de</strong>, esta parte excelente quenunca mais nos será tirada. A divisão cessará quando chegar aplenitu<strong>de</strong>. Então, a cida<strong>de</strong> santa <strong>de</strong> Jerusalém participará nopróprio ser <strong>de</strong> Deus. Enquanto espera, o espírito <strong>de</strong> sabedoria não éapen<strong>as</strong> único, ele é múltiplo. Funda a interiorida<strong>de</strong> sobre aunida<strong>de</strong>, m<strong>as</strong> mantém uma distinção entre <strong>as</strong> manifestaçõesexteriores da sua presença. (…) M<strong>as</strong> a unida<strong>de</strong> interior, estaunanimida<strong>de</strong> que se realiza no interior <strong>de</strong> cada um, reúne todaesta multiplicida<strong>de</strong> num molho b<strong>em</strong> atado pelo laço da carida<strong>de</strong> eda paz”. 120 E ainda “À unida<strong>de</strong> genética, que é a da or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>vea arte <strong>cister</strong>ciense a sua própria unida<strong>de</strong>, que marca com um arfamiliar <strong>as</strong> su<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong>, da Escócia à Terra Santa, da Polóniaà Espanha. No entanto, os mosteiros não são cópi<strong>as</strong> e a construção119 DUBY, Georges; São Bernardo e a Arte Cisterciense; col. Sinais; Edições ASA; Fevereiro 1997;pp.107-108120 DUBY, Georges; Op. cit.;p.109


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS<strong>cister</strong>ciense não é monótona. Cada edifício ajusta-se à mesma«forma» ex<strong>em</strong>plar. M<strong>as</strong> é <strong>de</strong>ixado espaço para algum<strong>as</strong>ingularida<strong>de</strong>.” 121Mesmo quando <strong>as</strong> condicionantes do terreno o não permitiam como é o c<strong>as</strong>o<strong>de</strong> Alcobaça os <strong>cister</strong>cienses adaptavam o plano, tendo sido neste c<strong>as</strong>o feitauma rotação na planimetria.A Regra <strong>de</strong> S. Bento nada refere sobre a arquitectura do mosteiro, ousobre a utilização <strong>de</strong> um plano tipo. Apen<strong>as</strong> menciona os espaçosindispensáveis à vida monástica <strong>de</strong> modo a encontrar no claustro todos osel<strong>em</strong>entos necessários à vida (Fig. 141).253Fig. 141 Regra <strong>de</strong> S. Bento com <strong>de</strong>senho <strong>de</strong>esfera armilar <strong>de</strong> D. Manuel I datada do séculoXV (BN)Segundo A. Dimier o monge <strong>de</strong> S. Bento, ou seja o que segue a sua Regra éinseparável do seu mosteiro dado que este resume-se a toda a sua existênciaconstituindo <strong>de</strong> igual modo todo o seu horizonte.“(…) pois, <strong>de</strong> acordo com a Regra, a morada dos monges <strong>de</strong>veri<strong>as</strong>er no claustro.Também porque aqueles santos varões tomavam conhecimento<strong>de</strong> que S. Bento não construíra os mosteiros n<strong>as</strong> cida<strong>de</strong>s n<strong>em</strong> nosc<strong>as</strong>telos ou <strong>em</strong> al<strong>de</strong>i<strong>as</strong>, comprometiam-se eles a imitá-lo.” 122121 I<strong>de</strong>m; pp.108-109


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS254Deste modo é compreensível que o mosteiro, sobretudo a sua arquitectura,exerça gran<strong>de</strong> influência sobre o monge não sendo <strong>de</strong> conceber um s<strong>em</strong> ooutro. É por este motivo que os <strong>cister</strong>cienses apen<strong>as</strong> faziam nov<strong>as</strong> fundaçõesquando os lugares regulares estivess<strong>em</strong> construídos, <strong>as</strong>sim como o grupofundador <strong>de</strong>via ser composto por doze monges acompanhados do seu aba<strong>de</strong>,<strong>de</strong> modo a que a vida regular e todos os exercícios comunitários a ela inerentesfoss<strong>em</strong> possíveis <strong>de</strong> ser executados. 123“É preciso enten<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> uma vez por tod<strong>as</strong> que o mosteiro no seutodo, é um signo simbólico, que nos obriga a ultrap<strong>as</strong>sar a meravisão do formalismo arquitectónico e estético. De facto, namaterialida<strong>de</strong> dos seus volumes, o mosteiro leva-nos à <strong>de</strong>scoberta<strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong>ira antropologia monástica que, <strong>de</strong> formaobjectiva, nos permite compreen<strong>de</strong>r o «homo mon<strong>as</strong>ticus», a suavivência e os seus i<strong>de</strong>ais, tant<strong>as</strong> vezes consi<strong>de</strong>rado apen<strong>as</strong> noexótico dos seus ritos e no esquisito do seu «habitat».” 124“… o mosteiro situado no aqui e agora do mundo, apresenta-nos,<strong>de</strong> certo modo, uma geografia do sobrenatural, do além. É precisoreconhecer a funcionalida<strong>de</strong> dos espaços on<strong>de</strong> viv<strong>em</strong> os religiososque, exactamente porque quer<strong>em</strong> ser «homens <strong>de</strong> Deus», nosobrigam s<strong>em</strong>pre a vê-los também na sua dimensão transcen<strong>de</strong>ntee simbólica.” 125Um mosteiro <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong>veria ser encarado como uma cida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al na qualtod<strong>as</strong> <strong>as</strong> necessida<strong>de</strong>s da comunida<strong>de</strong> <strong>em</strong> geral e do monge <strong>em</strong> particular<strong>de</strong>veriam ser atendid<strong>as</strong> e saciad<strong>as</strong>. Esta i<strong>de</strong>ia é reforçada pelos Statutareferindo:“Serão doze os monges a enviar com um aba<strong>de</strong>, que fará onúmero <strong>de</strong> treze, a fundar novos mosteiros; não sejam para aí<strong>de</strong>stinados enquanto o local não estiver fornecido com livros, c<strong>as</strong><strong>as</strong>e <strong>as</strong> cois<strong>as</strong> indispensáveis: por livros entenda-se o missal, a Regra, olivro <strong>de</strong> usos, o saltério, o himnário, o colectário, o leccionário, oantifonário, o gradual; por c<strong>as</strong><strong>as</strong>, o oratório, o refeitório, odormitório, a cela <strong>de</strong> hóspe<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> porteiro; por cois<strong>as</strong>indispensáveis, mesmo <strong>de</strong> carácter material, aquel<strong>as</strong> que tornampossível aí viver e aplicar a regra s<strong>em</strong> tardar.” 126122 Cit. Exordium Paruum, cap.XV, 10-14 in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções eComentários <strong>de</strong> Aires A. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; pp. 42-43123 DIMIER, Pe. Anselme; L’Art Cistercien – France; col. La nuit <strong>de</strong>s t<strong>em</strong>ps; nº 16; Ed. Zodiaque; 1982; p.29124 Ver DIAS, Geraldo Coelho; Do Mosteiro Beneditino I<strong>de</strong>al ao Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento da Vitória. História,espaços e quotidiano dos monges. in “O Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento da Vitória. 400 Anos ”; Edições Afrontamento;Porto; 1997; pp.15-16125 I<strong>de</strong>m; p. 23126 Ver Statuta XII in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong> Aires A.N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 83


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSA Regra <strong>de</strong> S. Bento dotou o mosteiro <strong>de</strong> um programa que por sua vez gerou aplanimetria da sua arquitectura:“Com o objectivo <strong>de</strong> perpetuar entre <strong>as</strong> abadi<strong>as</strong> uma unida<strong>de</strong>indissolúvel, estabeleceu-se como norma supr<strong>em</strong>a que a Regra <strong>de</strong>S. Bento será interpretada <strong>de</strong> uma única maneira e que ninguém seaf<strong>as</strong>te daí, mesmo que seja um pequeno traço.” 127O que a arquitectura <strong>cister</strong>ciense aporta <strong>de</strong> novo é uma simplicida<strong>de</strong> e umacoerência inédit<strong>as</strong> no seu t<strong>em</strong>po. Ao ter sido b<strong>as</strong>eada no rigor e na razão dopensamento <strong>de</strong> S. Bernardo foi e ainda é muit<strong>as</strong> vezes apelidada <strong>de</strong>arquitectura bernardina.Consequent<strong>em</strong>ente quando surge uma referência à planta d<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong><strong>cister</strong>cienses encontra-se, muit<strong>as</strong> vezes, a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> planta bernardina ou“bernardinischer Grundtypus”. 128S. Bernardo uniu a experiência estética e a religiosa permitindo criarhipóteses e conclusões acerca <strong>de</strong> uma construção e disposição dos diferentesespaços arquitectónicos <strong>de</strong> “more nostro”, tendo por b<strong>as</strong>e o chamado planobernardino, apesar <strong>de</strong> nada ter escrito especialmente sobre este <strong>as</strong>sunto.A planta d<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses, é caracterizada por uma cruz latinaconformada por um corpo longitudinal com três naves, estando voltada paraoriente a cabeceira rectilínea e sendo também dotada <strong>de</strong> um transeptoregular saliente, apresentando a oci<strong>de</strong>nte um coro rectangular, flanqueado porfil<strong>as</strong> paralel<strong>as</strong> e simétric<strong>as</strong> <strong>de</strong> capel<strong>as</strong> igualmente quadrangulares.Esta planta, tant<strong>as</strong> vezes apelidada <strong>de</strong> plano bernardino, não mantém oseu princípio unificador no seu traçado, ou <strong>de</strong>senho, m<strong>as</strong> sim no métodoutilizado na sua obtenção.O método caracteriza-se pela obtenção do traçado através <strong>de</strong> doismódulos b<strong>as</strong>e que possu<strong>em</strong> entre si uma relação <strong>de</strong> três para quatro. Este seráo processo metodológico utilizado na elaboração da referida planimetria e nãosó serve para regular a planta m<strong>as</strong> também <strong>as</strong> elevações ou alçados e todo ocorpo monástico. Como refere Romanini:“Porque <strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> são uma parte homogénea <strong>de</strong>sse complexo,<strong>as</strong>similável a tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> outr<strong>as</strong>, incluindo <strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong> <strong>de</strong> trabalho, are<strong>de</strong> viária e o traçado d<strong>as</strong> canalizações, que penetrando cadavez mais longe nos campos cultivados para melhor os estruturar,acabam por mo<strong>de</strong>lá-los à sua própria imag<strong>em</strong>. (...) Mais ainda: atraça bernardina regulamenta com igual precisão <strong>as</strong> máxima e <strong>as</strong>mínima, <strong>as</strong> volut<strong>as</strong> <strong>de</strong> um capitel ou <strong>as</strong> canalizações <strong>de</strong> pedra dos255127 Ver Capitula, cap. IX in “CISTER: os Documentos Primitivos”; Tradução, Introduções e Comentários <strong>de</strong> AiresA. N<strong>as</strong>cimento; Edições Colibri; Lisboa; Março 1999; p. 57128 Esta nomenclatura é utilizada por autores como Esser, Eydoux, Romani, Vitti.


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS256adutores <strong>de</strong> água, não estabelecendo qualquer diferença entre oque é visível e o que, pelo contrário, fica escondido” 129Consequent<strong>em</strong>ente o referido plano Bernardino, ou planta-tipo, não só regula oplano da igreja <strong>cister</strong>ciense e todo o edifício monástico, m<strong>as</strong> também a vida dacomunida<strong>de</strong> monástica a cada instante como se po<strong>de</strong> observar pela rigorosadisposição dos edifícios que constitu<strong>em</strong> o corpo monástico.A planta-tipo respondia às exigênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> funcionalida<strong>de</strong>, abolindo osupérfluo, permitindo economia <strong>de</strong> espaço e <strong>de</strong> movimento possibilitando <strong>as</strong>sima coexistência <strong>de</strong> monges, conversos e noviços articulando <strong>as</strong> su<strong>as</strong> vid<strong>as</strong> etaref<strong>as</strong> segundo o l<strong>em</strong>a ora et labora.A evi<strong>de</strong>nte homogeneida<strong>de</strong> e simultânea novida<strong>de</strong> da arquitectura<strong>cister</strong>ciense que se observa <strong>em</strong> toda a Europa atestam segundo alguns autores,como é o c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> Angiola Maria Romanini 130 , a existência a priori <strong>de</strong> umprojecto arquitectónico pre<strong>de</strong>finido “preciso ao pormenor, concebido eexecutado por uma vonta<strong>de</strong> planificadora dotada <strong>de</strong> uma eficácia e <strong>de</strong> umacapacida<strong>de</strong> fora do comum.” 131Esta evi<strong>de</strong>nte homogeneida<strong>de</strong>, austerida<strong>de</strong> e simplicida<strong>de</strong> é indagada,relativamente ao seu conceito e conteúdo arquitectónico, inicialmente porCesare Brandi 132 e <strong>de</strong>pois por Goffredo Viti 133 . Brandi refere:“Quel che è certo è che una lettura <strong>de</strong>ll’architettura <strong>cister</strong>censes<strong>em</strong>bra facilissima. Perché cosa c’è nell’architettura <strong>cister</strong>censeche non sia subito a contatto di gomito con chi la indaga? Non cisono ornati, non ci sono pitture; ci sono solo <strong>de</strong>lle strutturetettoniche, che si rivelano per quel che sono, non hanno nessunsottinteso. Posso dire che non s<strong>em</strong>bra che abbiano neanche unsottinteso simbolico. Per lo meno al di lá di quelo che è l’ince<strong>de</strong>resimbolico di tutto il Medioevo ... Per l’architettura <strong>cister</strong>cense nonc’è proprio nulla: n<strong>as</strong>ce, vorrei dire, se non per c<strong>as</strong>o, con i mezzi dibordo che erano a disposizione, ossia con quelle formearchitettoniche che erano state elaborate indipen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente daiCistercensi. D’altra parte, i Cistercensi chi sono? Non sono un ordininuovo. Sono un ordini che inten<strong>de</strong> riportare la regola di sanBene<strong>de</strong>tto all’originale. Ossia in termini poveri, un ordine regressivo,129 Cit ROMANINI, Angiola Maria; O projecto <strong>cister</strong>ciense in “A Ida<strong>de</strong> Média”; dir. Georges Duby e MichelLaclotte; col. História Artística da Europa; tomo II; Quetzal Editores; Lisboa; 1998; p.143130 Ver ROMANINI, Angiola Maria; Op. cit.; pp.133-151 e VITI, Goffredo (dir.); Op. cit.; pp. 32-33131 Cit ROMANINI, Angiola Maria; Op. cit.; p.142132 Ver BRANDI, Cesare; Lettura <strong>de</strong>ll’architectura <strong>cister</strong>cense in “I Cistercensi e il Lazio – atti <strong>de</strong>lle giornate distudio <strong>de</strong>ll’Istituto di storia <strong>de</strong>ll’Arte <strong>de</strong>ll’università di Roma”; Istituto Nazionale di Archeologia e Storia <strong>de</strong>ll’arte,Istituto di Storia <strong>de</strong>ll’Arte <strong>de</strong>ll’Università di Roma; Multigrafica Editrice; Roma 1978 pp.1-9133 Ver VITI, Goffredo (dir.); Op. cit.; pp. 41-43 e VITI, Goffredo; La Gerusal<strong>em</strong>me celeste presente nell’impiantoarchitettonico <strong>cister</strong>cense; texto policopiado; s/d


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSperché ritorna ad una lettera che, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, i Cluniacensi nonavevano rispettato”. 134As arquitectur<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses dos primeiros t<strong>em</strong>pos, isto é, dos séculos XII e XIIIapresentam uma geometria b<strong>as</strong>eada na subdivisão “ad quadratum” <strong>de</strong> modoa ser<strong>em</strong> obtid<strong>as</strong> proporções próxim<strong>as</strong> da perfeição absoluta no que respeita àssu<strong>as</strong> relações planta / alçado. Como refere Virgolino Ferreira Jorge:“Na sua subordinação a um efectivo sist<strong>em</strong>a rigoroso e coerente <strong>de</strong>medid<strong>as</strong> antropométric<strong>as</strong>, esta grelha ortogonal regula tod<strong>as</strong> <strong>as</strong>dimensões essenciais do monumento (ritmo dos el<strong>em</strong>entosarquitectónicos, espessura <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s, espacialida<strong>de</strong> e volumetria,etc.), por adição ou fraccionamento simples da sua unida<strong>de</strong>geométrica básica. Esta teoria proporcional <strong>de</strong> modulação simplessegundo a quadratura (ad quadratum), <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> eficáciafuncional e vantag<strong>em</strong> estética, por gerar proporçõescomensuráveis e possibilitar uma organização eurítmica da áreaedificada, s<strong>em</strong> espaços residuais, foi consi<strong>de</strong>rada uma lei áurea daarquitectura <strong>cister</strong>ciense.” 135257Fig. 142 Mosteiro <strong>de</strong> Le Thoronet, França (arquivo da autora)Esta arquitectura plena <strong>de</strong> pureza e racionalida<strong>de</strong> é expressa através <strong>de</strong> umaúnica linguag<strong>em</strong>, profundamente relacionada não só a uma forte134 Cfr. BRANDI, Cesare; Op. cit.; p.1135 Cfr. JORGE, Virgolino Ferreira; Espaço e Euritmia na Abadia Madieval <strong>de</strong> Alcobaça in Separata do “BoletimCultural” da Ass<strong>em</strong>bleia Distrital <strong>de</strong> Lisboa; Série IV; nº 93; Lisboa 1999; p. 8


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS258espiritualida<strong>de</strong> como também à <strong>as</strong>cese, racionalida<strong>de</strong>, simplicida<strong>de</strong> e pobreza<strong>de</strong>terminantes no pensamento e vida <strong>cister</strong>cienses (Fig. 142).“Se la pianta <strong>de</strong>finisce il tracciato <strong>de</strong>lla chiesa al suolo e l’alzato ledifferenti parti <strong>de</strong>i muri (da cui dipen<strong>de</strong> l’illuminazione), prchél’edificio sia completo occorre che questi due el<strong>em</strong>enti siano riunitidalla ‘struttura’, essa stessa animata dalla ‘articolazione’ <strong>de</strong>ll<strong>as</strong>uperficie. Non <strong>de</strong>ve sorpren<strong>de</strong>re il fatto che la construzione di unachiesa <strong>cister</strong>ciense possa <strong>as</strong>sumere le forme più diverse, in funzione<strong>de</strong>lle tecniche e <strong>de</strong>i materiali disponibili nelle singole regioni e nellesingole epoche.” 136De facto a espacialida<strong>de</strong> e os cuidados com a austerida<strong>de</strong> arquitectónica<strong>cister</strong>ciense revelaram-se não só como um grito <strong>de</strong> protesto contra o esplendore o luxo cluniacenses m<strong>as</strong> também como um grito <strong>de</strong> afirmação espiritual,vivencial e arquitectónica. Como refere Lekai:“El efecto <strong>de</strong> los r<strong>as</strong>gos puramente arquitectónicos <strong>de</strong> l<strong>as</strong> iglesi<strong>as</strong><strong>cister</strong>cienses, que como <strong>de</strong>liberada protesta contra el esplendor <strong>de</strong>Cluny, carecían c<strong>as</strong>i por completo <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos ornamentales, era,por esta razón más impresionante. L<strong>as</strong> líne<strong>as</strong> estilizad<strong>as</strong> <strong>de</strong> susamplios arcos goticos, la serena armonía <strong>de</strong> sus bóved<strong>as</strong> <strong>de</strong>crucería. Acentuada por sus arist<strong>as</strong>, la elegancia <strong>de</strong> los pilares y labelleza <strong>de</strong> la porporción en cada uno <strong>de</strong> los <strong>de</strong>talles <strong>de</strong> suestructura, caracterizan a la primitiva arquitectura <strong>cister</strong>ciense.“ 137A austerida<strong>de</strong> <strong>cister</strong>ciense reflectia-se não só na rotina quotidiana dos monges,m<strong>as</strong> também na própria lógica racionalida<strong>de</strong> da articulação dos espaçosarquitectónicos e no <strong>de</strong>spojamento <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>corativos, tanto no querespeita à arquitectura como no que respeita aos manuscritos:"Nos mosteiros não haverá pintur<strong>as</strong> n<strong>em</strong> escultur<strong>as</strong>, apen<strong>as</strong> cruzes<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira (...) As port<strong>as</strong> serão pintad<strong>as</strong> unicamente <strong>de</strong> branco(...). Os calígrafos escreverão apen<strong>as</strong> numa cor, e <strong>as</strong> letr<strong>as</strong> s<strong>em</strong>pintur<strong>as</strong> (...) Não se farão torres <strong>de</strong> pedra para os sinos, n<strong>em</strong> <strong>de</strong>ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>m<strong>as</strong>iado alt<strong>as</strong>." 138O espaço <strong>cister</strong>ciense permitiu o ora et labora, o viver e orar, com a alma, ocoração e também com <strong>as</strong> mãos, tendo sido a arquitectura o instrumento quepossibilitou esta vida, <strong>em</strong> harmonia com o lugar escolhido. Terryl Kin<strong>de</strong>r refere:“È importante sottolineare l’onnipresenza <strong>de</strong>l cambiamento nellaconstruzione <strong>de</strong>lle chiese. I mon<strong>as</strong>teri non sono <strong>de</strong>i musei, ma un<strong>as</strong>orta di ‘villaggio’ in costante evoluzione.136 Cfr. KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p.118137 Cfr. LEKAI, Louis J.; Los Cistercienses – i<strong>de</strong>ales y realidad; Biblioteca Her<strong>de</strong>r - Sección <strong>de</strong> Historia; vol. 177;Editorial Her<strong>de</strong>r; Barcelona; 1987; p.347138 In Statuta


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS(...) il nostro amore per la s<strong>em</strong>plicità riecheggia quello <strong>de</strong>l XII secolo,ma nei secoli successivi la sfida consistette nell’equilibrare i gusti inevoluzione, la tecnica in continuo progresso e le circostanze esternecon le tradizioni <strong>cister</strong>cienci, caratterizzate dall’armonia tra struttura,funzione e messaggio” 139No entanto, <strong>as</strong>sim que chegou o século XIII, começaram os <strong>de</strong>svios aestes princípios e cada vez mais <strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong> Cister se af<strong>as</strong>taram d<strong>as</strong> su<strong>as</strong>pr<strong>em</strong>iss<strong>as</strong> iniciais.Durante o século XIV <strong>as</strong> norm<strong>as</strong> estrit<strong>as</strong> relativ<strong>as</strong> à construção earquitectura <strong>cister</strong>cienses <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser cumprid<strong>as</strong> e são ignorad<strong>as</strong>.Os edifícios monásticos começaram a necessitar <strong>de</strong> obr<strong>as</strong> <strong>de</strong>conservação e/ou r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lação que foram sendo executad<strong>as</strong> ao sabor daépoca na qual se inseriam e segundo nov<strong>as</strong> exigênci<strong>as</strong>.Porém, com a crise iniciada no século XIV e prolongada pelo século XV, aactivida<strong>de</strong> arquitectónico-construtiva dos <strong>cister</strong>cienses diminuiu.Era época da Reforma, <strong>de</strong> vários conflitos religiosos e da existência <strong>de</strong>Aba<strong>de</strong>s comendatários à frente do <strong>de</strong>stino e da gestão d<strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong>. Aquel<strong>as</strong>que pu<strong>de</strong>ram ter construção nova tiveram-na ao sabor do novo estiloRen<strong>as</strong>centista (Fig. 143).259Fig. 143 Igreja da Abadia <strong>de</strong> Fuerstenfeld(fotografia <strong>de</strong> Peter Bleckwenn)139 Cfr. KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p.128-131


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSOs vestígios do românico <strong>cister</strong>ciense e do gótico foram abafados ou mesmo<strong>de</strong>struídos para que o novo estilo se impusesse:“Por <strong>de</strong>sgracia, el barroco, con su concepción diametralmentediferente, no comprendió ni respectó los monumentos <strong>de</strong>l p<strong>as</strong>ado y<strong>de</strong>struyó o r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>ló sustancialmente edificios góticos o románicos<strong>de</strong> acuerdo con el cambio <strong>de</strong> exigenci<strong>as</strong> <strong>de</strong>l nuevo estilo. (…) Lamayoría <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Abadí<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses <strong>de</strong> toda la Europa católica,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> Portugal h<strong>as</strong>ta Hungría y Polonia hicieron esfuerzos parareconstruir, r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lar o por lo menos volver a <strong>de</strong>corar sus viejosedificios <strong>de</strong> acuerdo al estilo nuevo, cada una según los medioseconómicos <strong>de</strong> que disponía para tales proyectos, muy onerosos ycon frecuencia absolutamente innecesarios.” 140Cister executou um novo período <strong>de</strong> construção e renovação dos seusmosteiros segundo o gosto barroco, distinguindo-se também <strong>de</strong>ste modo d<strong>as</strong>arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong> simplicida<strong>de</strong> e cariz protestantes. (Fig. 144)O espírito barroco instalou-se na arquitectura <strong>de</strong> cariz <strong>cister</strong>ciense,sobretudo na Europa Central, dada a maior presença protestante nesta zonageográfica (Fig. 145).260Fig. 144 Igreja da Abadia <strong>de</strong> Fuerstenzell (fotografi<strong>as</strong> <strong>de</strong> Peter Bleckwenn)140 Cfr. LEKAI, Louis J.; Op. cit.; pp.359-360


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 145 Igreja da Abadia <strong>de</strong> Fuerstenfeld (fotografia <strong>de</strong> Peter Bleckwenn)Refere Dom Angelico Surchamp a propósito da simplicida<strong>de</strong> protestante e dorecurso aos primeiros pensamentos <strong>cister</strong>cienses:“«Calvin et Luther ne se trompaient p<strong>as</strong> <strong>as</strong>surément, quand ilsallaient chercher dans les pages <strong>de</strong> saint Bernard une confirmationpour leurs plus hautes <strong>as</strong>pirations spirituelles. C'est déjà ce Dieu seul,seul glorifié sans confusion possible avec aucune créature, par l<strong>as</strong>eule vertu <strong>de</strong> sa grâce souveraine, sans confusion possible ave caucun moyen qui procédât <strong>de</strong> 1'homme ou <strong>de</strong> ce mon<strong>de</strong>, quiexplique l'iconocl<strong>as</strong>me farouche <strong>de</strong> l'<strong>as</strong>cese <strong>cister</strong>cienne». Et ilajoute que «Citeaux a exprimé ainsi ce qu'il y a <strong>de</strong> plus profond et<strong>de</strong> plus primitif dans le catholicisme <strong>as</strong>cétique et mystique vu <strong>de</strong>l'intérieur ... Il faut comprendre en effet, explique-t-il, que tout ce quitouche la sensibilité, tout ce qui arrête les regards a étéimpitoyabl<strong>em</strong>ent banni (du culte calviniste), pour que cetanéantiss<strong>em</strong>ent même <strong>de</strong> tout l'humain impose la seule présence<strong>de</strong> Dieu, la reconnaissance <strong>de</strong> ce que sa gloire a d'absolumenttranscendant à tout ce qui est <strong>de</strong> 1'homme et du mon<strong>de</strong>». On nepeut mieux exprimer la raison profon<strong>de</strong> du dépouill<strong>em</strong>ent<strong>cister</strong>cien.” 141261141 Cit SURCHAMP, Dom Angelico; L’esprit <strong>de</strong> l’art <strong>cister</strong>cien in “ L’Art Cistercien – France”; col. La nuit <strong>de</strong>st<strong>em</strong>ps; nº 16; Ed. Zodiaque; 1982; p.35


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 146 Vista da Abadia <strong>de</strong> Cister no séc. XVII, <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> Pe. Thomain, 1689 (arquivo B.N.France)262A partir do século XVII (Fig. 146) até ao final do séc. XVIII, existiu um breveperíodo <strong>de</strong> paz e prosperida<strong>de</strong> relativ<strong>as</strong>. 142 Com a Revolução Francesa <strong>em</strong>1789 surgiram novos t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> amargura e <strong>de</strong>struição para <strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong><strong>cister</strong>cienses, seguindo-se a sua secularização. Porém no século XIX e no<strong>de</strong>albar do século XX o regresso dos monges e o gosto do Romantismo pel<strong>as</strong>ruín<strong>as</strong> gerou um novo sentimento e consciencialização pel<strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong><strong>cister</strong>cienses, entretanto <strong>de</strong> novo habitad<strong>as</strong> ou simples ruín<strong>as</strong> para o <strong>de</strong>leite eadmiração d<strong>as</strong> populações oitocentist<strong>as</strong> e novecentist<strong>as</strong> (Fig. 147). Comorefere Lawrence:“Los coros <strong>de</strong>snudos y en ruin<strong>as</strong> y los claustros vacíos <strong>de</strong>spiertan laimaginación <strong>de</strong>l turista mo<strong>de</strong>rno pero no la satisfacen. De pie en elsuelo <strong>de</strong>l dormitorio <strong>de</strong> Fontenay y echando una mirada a l<strong>as</strong>oscur<strong>as</strong> escaler<strong>as</strong> que llevan al transepto <strong>de</strong> la gran iglesia, es fácilvisualizar l<strong>as</strong> figur<strong>as</strong> encapuchad<strong>as</strong>, con l<strong>as</strong> manos escondid<strong>as</strong><strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> l<strong>as</strong> mang<strong>as</strong> blanc<strong>as</strong> y voluminos<strong>as</strong>, escabulléndose haciaabajo para el oficio nocturno. Des<strong>de</strong> el púlpito <strong>de</strong> piedra, en lo alto<strong>de</strong> la pared <strong>de</strong>l refectorio sin techo <strong>de</strong> Fountains, se pue<strong>de</strong> mirarhacia abajo, hacia una multitud fant<strong>as</strong>mal <strong>de</strong> cabez<strong>as</strong>142 Cfr. LEKAI, Louis J.; Op. cit.; pp.349-359


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSencorvad<strong>as</strong>. Pero es difícil volver a captar l<strong>as</strong> experienci<strong>as</strong> y elambiente <strong>de</strong> la vida cotidiana en un claustro medieval.” 143Fig. 147 Abadia <strong>de</strong> Fountains, Inglaterra (arquivo da autora)Note-se que no Portugal <strong>de</strong> então nunca houve o regresso dos monges<strong>cister</strong>cienses pelo que <strong>as</strong> su<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> ficaram na posse <strong>de</strong> particulares,do estado ou pura e simplesmente ao abandono. Ainda relativamente a estaf<strong>as</strong>e da história da mundial e também da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister (Fig. 148), refereLekai:“El siglo XIX no proporcionó nuev<strong>as</strong> glori<strong>as</strong> arquitectónic<strong>as</strong> a los<strong>cister</strong>cienses, pero los monjes <strong>de</strong> amb<strong>as</strong> observanci<strong>as</strong> [O. Cist. eOCSO] son dignos <strong>de</strong> encomio por haber dado vida nuevamente yconservado una cierta cantidad <strong>de</strong> abadí<strong>as</strong> anteriormente<strong>de</strong>shabitad<strong>as</strong>. El aumento constante <strong>de</strong>l aprecio <strong>de</strong>l público por elgótico dio por resultado una nueva consciencia <strong>de</strong> los valores <strong>de</strong> losmonumentos medievales, y cuando la mayoría <strong>de</strong> los gobiernosocci<strong>de</strong>ntales <strong>em</strong>prendieron la tarea <strong>de</strong> preservar esos tesoros, se<strong>as</strong>eguró su supervivencia efectiva, con frecuencia sólo en la forma<strong>de</strong> ruin<strong>as</strong>” 144263143 Ver LAWRENCE, C. H.; El Monacato Medieval - Form<strong>as</strong> <strong>de</strong> vida religiosa en Europa Occi<strong>de</strong>ntal durante laEdad Media; Editorial Gredos, S. A.; Madrid; 1999; p. 139144 Cfr. LEKAI, Louis J.; Op. cit.; pp.363NOTA: a informação [O. Cist e OCSO] foi adicionada pela autora e <strong>de</strong>signa <strong>as</strong> iniciais dos dois ramosreformados da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister. O. Cist correspon<strong>de</strong> à Or<strong>de</strong>m Cisterciense da Comum Observância e OCSOcorrespon<strong>de</strong> à Or<strong>de</strong>m Cisterciense da Estrita Observância, vulgo Trapist<strong>as</strong>. Como a Portugal nuncachegaram est<strong>as</strong> Reform<strong>as</strong> e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1834 não ter<strong>em</strong> regressado Cistercienses a este país, não se achouessencial abordar este <strong>as</strong>sunto com mais <strong>de</strong>talhe <strong>de</strong>ixando apen<strong>as</strong> esta nota explicativa.


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 148 Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> águi<strong>as</strong>, o velho, antes d<strong>as</strong> obr<strong>as</strong><strong>de</strong> restauro da DGEMN no séc. XX (arquivo DGEMN/IHRU)2644.3.2.BREVE CRONOLOGIA DAS PLANTAS TIPO EM ESTUDOS DOS SÉCULOS XX E XXIA planimetria dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses é <strong>de</strong> facto b<strong>em</strong> distinta (Fig. 149) d<strong>as</strong>que a prece<strong>de</strong>ram apesar <strong>de</strong> se b<strong>as</strong>ear sobretudo na planta beneditina (ounão fosse S. Bento o autor da sua Regra).Fig. 149 Abadia <strong>de</strong> Roche, Inglaterra 145145 Imag<strong>em</strong> retirada <strong>de</strong> CASSIDY-WELCH, Megan; Mon<strong>as</strong>tic Spaces and their Meanings: Thirteenth-CenturyEnglish Cistercian Mon<strong>as</strong>teries; Medieval Church Studies; nº 1; Brepols Publishers; 2001; p.139


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSNo entanto, <strong>em</strong> relação às outr<strong>as</strong> experiênci<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong>, que aantece<strong>de</strong>ram e mesmo algum<strong>as</strong> coev<strong>as</strong> surgiu uma gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> nadistribuição dos espaços monásticos que <strong>de</strong>terminou uma planta dita<strong>cister</strong>ciense cuja individualida<strong>de</strong> resultou paradigmática tendo sido adistribuição funcional e morfológica racional e or<strong>de</strong>nada.Esta foi a “fórmula” tant<strong>as</strong> vezes repetida e diss<strong>em</strong>inada por toda a Europaao longo dos séculos XII e XIII. Vári<strong>as</strong> foram <strong>as</strong> aproximações ao plano tipo<strong>cister</strong>ciense e muitos são os estudos que têm vindo a ser realizados nos quais seprocurou elaborar plant<strong>as</strong>-tipo que aju<strong>de</strong>m a <strong>de</strong>finir uma espacialida<strong>de</strong>especifica às abadi<strong>as</strong> e mosteiros <strong>cister</strong>cienses.De facto, tod<strong>as</strong> est<strong>as</strong> plant<strong>as</strong>-tipo são muito similares entre si no querespeita à sua morfologia, m<strong>as</strong>, não são <strong>de</strong> todo idêntic<strong>as</strong> surgindo levesalterações <strong>de</strong> um<strong>as</strong> para outr<strong>as</strong>. Os estudos elaborados durante o séc. XX einicio do séc. XXI apresentaram plant<strong>as</strong>-tipo, similares m<strong>as</strong> distint<strong>as</strong>.265Pl.1 Planta-tipo dos edifícios regulares <strong>de</strong> uma abadia <strong>cister</strong>ciense segundo Marcel Aubert 146Em 1943, Marcel Aubert (Pl. 1) propõe uma planta-tipo <strong>de</strong> Abadia Cisterciensena sua obra L’Architecture Cistercienne en France. 147146 In VITI, Goffredo (dir.); Op. cit.; p. 37147 Ver AUBERT, Marcel; L’Architecture Cistercienne en France; vol. 2; Paris, 1943


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSPl. 2 Planta-tipo <strong>de</strong> um edificado <strong>cister</strong>ciense segundo Anselme Dimier (1949) 148266A. IgrejaB. SacristiaC. Armarium ou bibliotecaD. Sala do CapítuloE. Escada do dormitório dos mongesF. Auditorium ou parlatórioG. Gran<strong>de</strong> sala dos mongesH. CalefactórioI. Refeitório dos mongesJ. CozinhaK. Refeitório dos conversosL. P<strong>as</strong>sag<strong>em</strong>M. Gran<strong>de</strong> celeiroN. Ruela dos conversosO. Claustro da collatio e do mandatumP. Lavabo1. Presbitério elevado um ou dois <strong>de</strong>graus com oaltar maior precedido <strong>de</strong> um novo <strong>de</strong>grau2. Porta conducente ao c<strong>em</strong>itério3. Escada do dormitório4. Porta dos monges5. Coro dos monges6. Jubeu7. Coro dos conversos8. Porta dos conversos9. Nartex10.Púlpito do leitor11.P<strong>as</strong>sa-pratosAnselme Dimier, primeiro <strong>em</strong> 1949 (Pl. 2) e <strong>de</strong>pois <strong>em</strong> 1962 (Pl. 3) apresenta du<strong>as</strong>propost<strong>as</strong> para planta-tipo. A primeira proposta apresentada por Dimierencontra-se inserida na sua obra Recueil <strong>de</strong> plans d’èglises <strong>cister</strong>ciennes 149enquanto que segunda proposta é apresentada na sua obra L’art <strong>cister</strong>cien enFrance 150 .148 In DIMIER, Anselme ; Recueil <strong>de</strong> plans d’églises <strong>cister</strong>ciennes; Abbaye N-D. D’Aiguebelle; Paris; 1994; p. 16149 I<strong>de</strong>m; p. 16150 Ver DIMIER, Anselme; L’art <strong>cister</strong>cien en France; La Pierre-qui-Vire; 1962; p.45


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSPl. 3 Planta tipo do edificado <strong>de</strong> um mosteiro <strong>cister</strong>ciense segundo Anselme Dimier (1962) 151267A. IgrejaB. SacristiaC. Armarium ou bibliotecaD. Sala do CapítuloE. Escada do dormitório dos mongesF. Auditorium ou parlatórioG. Sala dos mongesH. CalefactórioI. Refeitório dos mongesJ. CozinhaK. Refeitório dos conversosL. P<strong>as</strong>sag<strong>em</strong>M. Gran<strong>de</strong> celeiroN. Ruela dos conversosO. NartexP. Claustro da collatio e do mandatumQ. Lavabo1. Santuário ou Presbitério2. Porta dos mortos3. Escada do dormitório4. Porta dos monges5. Coro dos monges6. Banco dos enfermos7. Jubeu8. Coro dos conversos9. Porta dos conversos10.Púlpito do leitor11.P<strong>as</strong>sa-pratos151 DIMIER, Pe. Anselme; Op. cit.; p.41


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS268Pl. 4 Planta tipo do edificado <strong>de</strong> um mosteiro <strong>cister</strong>ciense segundo A. Schnei<strong>de</strong>r 1521. Presbitério2. Porta dos mortos3. Coro dos monges4. Banco dos enfermos5. Jubeu6. Coro dos conversos7. Nartex8. Escada do dormitório9. Sacristia10. Armarium11. Porta dos monges12. Claustro13. Sala do Capítulo14. Escada do dormitório15. Auditorium, parlatorium16. Sala dos monges17. Latrin<strong>as</strong> dos monges18. Calefactório19. Lavabo20. Refeitório dos monges21. Púlpito do leitor22. Cozinha23. P<strong>as</strong>sa-pratos24. Auditorium dos conversos25. Refeitório dos conversos26. Latrin<strong>as</strong> dos conversos27. P<strong>as</strong>sag<strong>em</strong>28. Celeiro29. Ruela dos conversos30. Porta dos conversos152 In VITI, Goffredo (dir.); Op. cit.; p. 39


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSPl. 5 Planta tipo do edificado <strong>de</strong> um mosteiro <strong>cister</strong>ciense segundo W. Braunfels 1532691. Santuário2. Porta dos mortos3. Coro dos monges4. Banco dos enfermos5. Jubeu6. Coro dos conversos7. Nartex8. Escada da Igreja para o dormitório9. Sacristia10. Armarium on<strong>de</strong> eram guardados os livros11. Bancos para leitura e para o mandatum(cerimónia da lavag<strong>em</strong> <strong>de</strong> pés)12. Porta dos monges13. Porta dos conversos14. Sala do Capítulo15. Escad<strong>as</strong> do claustro para o dormitório16. Parlatório17. Sala dos monges18. Sala dos noviços19. Latrina <strong>em</strong> utilização no andar superior20. Calefactorium21. Lavabo22. Refeitório23. Púlpito para leitura durante <strong>as</strong> refeições24. Cozinha25. Parlatório dos conversos26. Ruela dos conversos27. Celeiro ou armazém28. Refeitório dos conversos29. Latrina do dormitório dos irmãos conversos153 In BRAUNFELS, Wolfgang; Op. cit.; p. 75


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS270Pl. 6 Planta tipo do edificado <strong>de</strong> um mosteiro <strong>cister</strong>ciense segundo F. L. Hervay 154DIPOSITO TYPICA MONASTERIORUM CISTERCIENSIUM1. Sanctuarium2. Navis transversalis3. Decussatio4. Capellæ5. Navis centralis6. Chorus monachorum7. Chorus infirmorum8. Chorus conversorum9. Paries medius10. Scalæ ad dormitorium11. Porta mortuorum12. Narthex sive atrium13. Sacristia14. Porta monachorum15. Armarium16. Capitulum17. Scalæ ad dormitorium18. Transitus19. Frateria20. Calefactorium21. Refectorium nonachorum22. Culina23. Refectorium conversorum24. Domus conversorum et cellarium25. Claustrum sive ambitus collationis vel lectionis26. Claustrum sive ambitus27. Fontana seu lavabo28. Vicus conversorum29. Porta conversorum30. Navis lateralis154 In VITI, Goffredo (dir.); Op. cit.; p. 39


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSA obra <strong>de</strong> Schnei<strong>de</strong>r (Pl. 4), Aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Himmerod, “Die Cistercienser,Geschichte, Geist, Kunst” apresenta uma outra planta-tipo da autoria <strong>de</strong> JürgenEberle 155 .De igual modo, uma planta-tipo é apresentada por Braunfels (Pl. 5) na sua,obra Mon<strong>as</strong>teries of Western Europe – The Architecture of the Or<strong>de</strong>rs 156 .Hervay (Pl. 6) na sua obra “Reportorium historicum Ordinis Cisterciensis inHungaria” 157 apresenta ainda outra planta-tipo <strong>de</strong> abadia <strong>cister</strong>ciense.A maior parte dos autores que abordam a t<strong>em</strong>ática <strong>cister</strong>ciense,sobretudo a t<strong>em</strong>ática relacionada com a arte ou a arquitectura utilizam qu<strong>as</strong>es<strong>em</strong>pre uma planta-tipo da autoria <strong>de</strong> Marcel Aubert, Anselme Dimier ou <strong>de</strong>Wolfgang Braunfels.No que respeita a todos estes ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> é evi<strong>de</strong>nte a falta <strong>de</strong> escalagráfica <strong>em</strong> tod<strong>as</strong> est<strong>as</strong> plant<strong>as</strong>-tipo pelo que não é possível compará-l<strong>as</strong> noque se refere às su<strong>as</strong> hipotétic<strong>as</strong> dimensões.Uma vez mais esta ocorrência v<strong>em</strong> realçar o facto <strong>de</strong> ser um plano i<strong>de</strong>al,<strong>de</strong> ser um r<strong>as</strong>go do espírito e da razão consolidado através da arquitectura eda construção <strong>de</strong>sse mesmo i<strong>de</strong>al, isto é, da materialização <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong>vida muito particular.A planta-tipo que apresenta maior <strong>de</strong>talhe morfológico-espacial é arepresentada por Maur Cocheril datada <strong>de</strong> 1968 (Pl. 7) e b<strong>as</strong>eada na planta <strong>de</strong>Marcel Aubert datada <strong>de</strong> 1943.Porém a mais esqu<strong>em</strong>ática é a segunda planta-tipo representada porAnselme Dimier <strong>em</strong> 1962.O plano d<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> apelidado <strong>de</strong> “Plano Bernardino” por alguns autores,como foi referido anteriormente, traduz <strong>as</strong> i<strong>de</strong>i<strong>as</strong> <strong>de</strong> S. Bernardo: planta <strong>de</strong> cruzlatina, profundo sentido <strong>de</strong> ortogonalida<strong>de</strong> e alinhamentos b<strong>as</strong>eados nummódulo quadrangular.271155 Cfr. VITI, Goffredo (dir.); Op. cit.; p. 39156 Ver BRAUNFELS, Wolfgang; Op. cit.; p.75157 Ver HERVAY, F.L.; Reportorium historicum Ordinis Cisterciensis in Hungaria; Biblioteca Cisterciensis; n.7;Roma,1984; p. 235


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS272Pl. 7 Planta tipo do edificado <strong>de</strong> um mosteiro <strong>cister</strong>ciense segundo Dom Maur Cocheril (1968) 158PLANO TIPO DE UMA ABADIA CISTERCIENSE1-IGREJAa – Presbitério com altar-morb – transeptoc – coro dos mongesd – coro dos enfermose – coro dos conversosf – capel<strong>as</strong> do transeptog – porta dos mortos conducente ao c<strong>em</strong>itérioh – porta da sacristiai – porta dos mongesj – porta dos conversosk – escada do dormitóriol – jubeum – altares do coro dos conversosn – colaterais2-ALA DOS MONGESA – sacristiaB – armariumC – capituloD – escada do dormitórioE – p<strong>as</strong>sag<strong>em</strong> conducente ao jardim e àenfermaria. Serve também <strong>de</strong> parlatórioF – sala <strong>de</strong> trabalho dos mongesCapítuloa – ca<strong>de</strong>ira abacialb – púlpito do leitorc – abertur<strong>as</strong> para permitir a <strong>as</strong>sistência dosconversos ao capítulo.158 In COCHERIL, Dom Maur; Notes sur l’Architecture et le Décor dans les Abbayes Cisterciennes du Portugal;col. Fontes Documentais Portugues<strong>as</strong>; vol. V; Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português;Paris 1972; p.25


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS3-ALA DO REFEITÓRIO- Calefactório: entre a sala dos monges e orefeitórioRefeitório dos Mongesa – p<strong>as</strong>sa-pratosb – ca<strong>de</strong>ira do leitor- Cozinha: entre o refeitório dos monges e o dosconversos4-ALA DOS CONVERSOSj – p<strong>as</strong>sag<strong>em</strong> que servia também <strong>de</strong> parlatório parao celeireiroG – celeiro / tulhaH – p<strong>as</strong>sag<strong>em</strong> que também servia <strong>de</strong> entrada domosteiroI – refeitório dos conversos5-CLAUSTROSK’ – claustro do capítulo ou da TerçaK’’ – claustro da leitura ou da colacçãoa – <strong>as</strong>sento do Aba<strong>de</strong>b - <strong>as</strong>sento do leitorK’’’- claustro do refeitórioP - poço273NOTA:O dormitório dos monges ocupa todo o primeiro andar da ala dos monges. O dos conversosencontra-se sobre a sua respectiva ala.O esgoto encontra-se s<strong>em</strong>pre na extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong> da ala dos monges e dos conversos.A ruela dos conversos permite o seu livre acesso à igreja. Esta isola o edifício dos conversos do restodo mosteiro. Os edifícios <strong>de</strong> exploração estão <strong>em</strong> directa relação com o edifício dos conversos. O celeiroencontra-se s<strong>em</strong>pre na parte mais próxima da igreja <strong>de</strong> modo a localizar-se na extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong> do edifício orefeitório dos conversos que se encontra <strong>de</strong>ste modo próximo da cozinha.Villard <strong>de</strong> Honnecourt no seu ca<strong>de</strong>rno (1230) <strong>de</strong>senhou um plano tipo <strong>de</strong>igreja (Fig. 150) com o título: “esta é uma igreja feita <strong>de</strong> quadrados para aOr<strong>de</strong>m Cisterciense” 159 no qual não representa a espessura d<strong>as</strong> pare<strong>de</strong>sapontando para a existência <strong>de</strong> um plano i<strong>de</strong>al, provavelmente b<strong>as</strong>eado naunida<strong>de</strong> que caracteriza a arquitectura <strong>cister</strong>ciense (Fig. 151).159 Cfr. VILARD DE HONNECOURT – CUADERNO (siglo XIII); Ed. Akal; 2001; lám.28


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSComo refere Fergusson, “Porque a arquitectura personifica i<strong>de</strong>i<strong>as</strong>, reflectea i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e dá forma física e significado expressivo aos valores”. 160 Esta é amais antiga planta tipo <strong>de</strong> uma igreja <strong>cister</strong>ciense.274Fig. 150 Folha do ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Villard d’Honnecourt, na qual é apresentada (no canto inferioresquerdo), uma planta tipo <strong>de</strong> igreja <strong>cister</strong>ciense 161 Fig. 151 Detalhe da porção <strong>de</strong>página do ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Villardd’Honnecourt que apresenta umaplanta tipo <strong>de</strong> igreja <strong>cister</strong>cienseapen<strong>as</strong> esqu<strong>em</strong>ática (plantareposicionada e <strong>de</strong>purada paramelhor leitura) 162160 Cfr. FERGUSSON, Peter; Architecture of Solitu<strong>de</strong>; Princeton University Press; 1984; p.78161 VILARD DE HONNECOURT; Op. cit.; lám.28162 I<strong>de</strong>m; lám.28


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSDe seguida apresentam-se du<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> tipo, uma correspon<strong>de</strong>nte ao primeiropiso (Pl. 9) e outra correspon<strong>de</strong>nte ao piso térreo (Pl. 8), elaborad<strong>as</strong> com a b<strong>as</strong>ena informação recolhida e n<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> estudad<strong>as</strong>.21a1 2 4 6 7b3 5c2081911 1091812d131716 15 141. IGREJA 2. SACRISTIA 3. ARMARIUM 4. SALA DO CAPÍTULO 5. ESCADA DE ACESSO AO DORMITÓRIO DOS MONGES6. PARLATORIO 7. SALA DOS MONGES 8. CALEFACTÓRIO 9. REFEITÓRIO 10. LAVABO 11. CLAUSTRO 12. COZINHA 13. CORREDORDOS CONVERSOS 14. REFEITÓRIO DOS CONVERSOS 15. PASSAGEM 16. CELEIRO 17. NARTEX 18. CORO DOS CONVERSOS19. CORO DOS ENFERMOS 20. CORO DOS MONGES 21. CEMITÉRIOa. PORTA DOS MORTOS b. ESCADARIA DAS MATINAS c. PORTA DOS MONGES d. PORTA DOS CONVERSOSPl.8 Proposta <strong>de</strong> Planta-tipo (res-do-chão) <strong>de</strong> mosteiro <strong>cister</strong>ciense (elaborado pela autora)2752224232422. DORMITÓRIO DOS MONGES 23. DORMITÓRIO DOS CONVERSOS 24. LATRINASPl. 9 Proposta <strong>de</strong> Planta-tipo (primeiro piso) <strong>de</strong> mosteiro <strong>cister</strong>ciense (elaborado pela autora)


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS4.3.3.Morfologia do Plano Cisterciense“O mosteiro, plural nos seus edifícios, é com razão uniforme nos seusobjectivos. Lá o hom<strong>em</strong> vive para Deus e o mosteiro comunica com omundo através da porta principal da igreja e da portaria. Há como queuma coor<strong>de</strong>nação subsidiária no conjunto monástico que se articula àvolta da igreja e do claustro que lhe está contíguo. É ali, e a partir dali,que se estrutura a vida dos monges e se organiza todo o espaçoenvolvente do seu trabalho quotidiano” 163276Bernardo <strong>de</strong> Claraval uniu a experiência estética e a religiosa ao apresentar aarquitectura <strong>cister</strong>ciense como a expressão que mais se a<strong>de</strong>quava à novaactivida<strong>de</strong> religiosa. A partir <strong>de</strong> 1150 começa-se a falar <strong>de</strong> uma construção edisposição dos diferentes espaços arquitectónicos <strong>de</strong> more nostro (do nossomodo).Os <strong>cister</strong>cienses utilizaram um plano tipo para a construção dos seusmosteiros. O mosteiro <strong>de</strong>senvolve-se a partir da Igreja e <strong>em</strong> torno do claustro. Oclaustro era o epicentro do espaço monástico, três dos seus ladoscorrespon<strong>de</strong>m às funções essenciais: spiritus (igreja) a norte, anima (sacristia,sala do capítulo, sal<strong>as</strong> <strong>de</strong> trabalho intelectual) a este, corpus (cozinha,calefactório, refeitório, latrin<strong>as</strong>) a sul e o quarto lado do claustro, a oeste, éaberto aos irmãos conversos, é o domus conversorum (celeiro, dormitório,refeitório, latrin<strong>as</strong>).Note-se a diferença <strong>de</strong> significados e oposição entre o lado do spiritus eo lado do corpus surgindo a dicotomia terra-céu e matéria-espírito.O esqu<strong>em</strong>a <strong>de</strong> estrutur<strong>as</strong> sociais adoptad<strong>as</strong> pela Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cistertambém se reflectiu na sua arquitectura através <strong>de</strong> importantes contributos erespectiva repercussão. Assim <strong>de</strong> modo a po<strong>de</strong>r albergar dois grupos tãodíspares, como eram os monges e os conversos, na verda<strong>de</strong>, os mosteirosapresentam-se com uma divisão <strong>em</strong> dois sectores distintos <strong>de</strong> acordo com <strong>as</strong>estrutur<strong>as</strong> sociais da Or<strong>de</strong>m. Deste modo est<strong>as</strong> eram du<strong>as</strong> vid<strong>as</strong> que não secruzavam fisicamente m<strong>as</strong> que <strong>de</strong>pendiam inteiramente uma da outra nosentido <strong>de</strong> cumprir e honrar a Regra que observavam no stricto sensu.Aos monges estava <strong>de</strong>stinada a parte oriental da igreja com o seu coro ecapel<strong>as</strong> <strong>as</strong>sim como uma ala na qual se inseria a nível do piso térreo, a sacristia,o armarium (biblioteca), o parlatório on<strong>de</strong> o prior recebia os monges, a SalaCapitular (ou sala do capítulo), a sala dos monges <strong>de</strong>stinada ao trabalho163 Ver DIAS, Geraldo Coelho; Do Mosteiro Beneditino I<strong>de</strong>al ao Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento da Vitória. História,espaços e quotidiano dos monges. in “O Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento da Vitória. 400 anos ”; Edições Afrontamento;Porto; 1997; p. 24


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSintelectual e a nível do piso superior o dormitório e <strong>as</strong> latrin<strong>as</strong>. Aos monges aindacabia a utilização dos claustros espaço <strong>de</strong>stinado à leitura.Aos conversos estavam <strong>de</strong>stinad<strong>as</strong> a parte oci<strong>de</strong>ntal da igreja <strong>as</strong>sim comouma ala na qual se inseria a nível inferior o refeitório, o parlatório, o celeiro e aruela (que permitia a ligação com a igreja e <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>pendênci<strong>as</strong> que eramno entanto apen<strong>as</strong> <strong>de</strong>stinad<strong>as</strong> a estes irmãos s<strong>em</strong> ter <strong>de</strong> p<strong>as</strong>sar pelo claustro) ea nível do piso superior o dormitório e <strong>as</strong> latrin<strong>as</strong>.Consequent<strong>em</strong>ente existiam dois corpos no edificado que não só seopunham quanto à sua situação relativamente à igreja, local <strong>de</strong> oraçãocomum a ambos 164 , como também quanto à sua vivência. Apen<strong>as</strong> a igreja e acozinha, cuja utilização possuía diferentes horários quer se trat<strong>as</strong>se <strong>de</strong> mongesou <strong>de</strong> conversos, eram comuns.No entanto, toda a comunida<strong>de</strong> estava presente na igreja nos di<strong>as</strong> <strong>de</strong>festa durante os quais, <strong>de</strong>pois da missa, se encontravam na sala do capítulopara ouvir o aba<strong>de</strong>. Os conversos ficavam do lado <strong>de</strong> fora da sala ouvindo oaba<strong>de</strong> através d<strong>as</strong> abertur<strong>as</strong> que se faz<strong>em</strong> notar ao lado da porta <strong>de</strong> acesso aesta <strong>de</strong>pendência (Fig. 152).277Fig. 152 Sala do Capítulo do Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris (arquivo da autora)164 No entanto <strong>de</strong>ve-se ter <strong>em</strong> atenção que tanto monges como conversos ocupavam também na igrejalocais distintos mantendo-se <strong>de</strong>ste modo a separação.


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSO lado paralelo à igreja <strong>de</strong>stinava-se a saciar tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> necessida<strong>de</strong>s do corpo,ou seja, era composto pelo refeitório, cozinha, lavabo e calefactório.O plano arquitectónico <strong>cister</strong>ciense nunca foi estático pois foi-seadaptando consoante <strong>as</strong> su<strong>as</strong> necessida<strong>de</strong>s e consoante <strong>as</strong> <strong>de</strong>mand<strong>as</strong> darealida<strong>de</strong> do contexto <strong>em</strong> que se inseriam (Fig. 153). Apesar da utilização <strong>de</strong> umplano tipo, dificilmente se encontram du<strong>as</strong> abadi<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses idêntic<strong>as</strong>, pois<strong>de</strong>ve-se ter <strong>em</strong> atenção, não só <strong>as</strong> <strong>de</strong>vid<strong>as</strong> adaptações e alterações, comotambém <strong>as</strong> condicionantes <strong>de</strong> cada local (Esq. 44).278Fig. 153 Planta da Abadia <strong>de</strong> Cister no séc. XVIII, <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> Pe. Stephanus. (1718) 165Assim, num momento inicial, os primeiros refeitórios foram paralelos ao lado doclaustro para mais tar<strong>de</strong> o seu eixo sofrer uma rotação e <strong>as</strong>sumir<strong>em</strong> a165 In ARABEYRE, Patrick e Maurice Bathelier; Atl<strong>as</strong> <strong>de</strong> Citeaux. Le domaine <strong>de</strong> l’abbaye au XVIIIe siècle;Conseil Général <strong>de</strong> la Côte-d’Or, Archives départ<strong>em</strong>entales <strong>de</strong> la Côte-d’Or; Éditions <strong>de</strong> l’Armançon; 1998;p.21


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSperpendicularida<strong>de</strong>. Desta maneira, conseguiu-se não só aumentar a dimensãodos refeitórios, (pois não tinham obstáculos pelo exterior ao seu crescimento),como também a sua capacida<strong>de</strong> permitindo dar resposta ao crescendo <strong>de</strong>vocações. Esta operação permitiu também alterações no que respeita àsdimensões da cozinha e calefactório pois com a rotação do refeitório surgiu umacréscimo <strong>de</strong> espaço livre propício ao alargamento <strong>de</strong>st<strong>as</strong> <strong>de</strong>pendênci<strong>as</strong>.Também como resultado <strong>de</strong>sta adaptação, <strong>em</strong> muitos ex<strong>em</strong>plaresarquitectónicos <strong>cister</strong>cienses, foi construído um piso sobre o calefactório<strong>de</strong>stinado à conservação <strong>de</strong> documentos.279Esq. 44 Esqu<strong>em</strong>atização tipológica e funcional (síntese e <strong>de</strong>senho elaborados pela autora)O el<strong>em</strong>ento morfológico <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>staque <strong>de</strong>ste plano <strong>cister</strong>ciense é a Igrejaque <strong>de</strong>via ficar s<strong>em</strong>pre no ponto mais elevado e orientada para n<strong>as</strong>cente.A igreja situava-se do lado norte com o claustro imediatamente a sul. Eracomo foi referido <strong>de</strong> planta rectangular, com cabeceira recta e capel<strong>as</strong> notransepto sendo dividida sensivelmente a meio separando monges e conversos.Não tinha uma fachada monumental n<strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s torreões. Era <strong>de</strong> umatipologia simples s<strong>em</strong> <strong>de</strong>coração. As naves laterais surgiam qu<strong>as</strong>e à mesmaaltura da central.Os edifícios d<strong>as</strong> <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>pendênci<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong>, para além da igreja,eram erigidos do lado sul da igreja, por ser o que apanha mais hor<strong>as</strong> <strong>de</strong> sol, esendo <strong>as</strong> diferentes <strong>de</strong>pendênci<strong>as</strong> articulad<strong>as</strong> <strong>em</strong> volta do claustro, <strong>de</strong> acordocom <strong>as</strong> <strong>de</strong>slocações normais dos monges e com <strong>as</strong> necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> luz e calor.Deste modo a igreja situa-se na face norte do claustro quadrangular e <strong>as</strong>ul, comunicando com o claustro encontra-se o calefactório, o refeitório e acozinha. O refeitório e a cozinha estavam s<strong>em</strong>pre próximo <strong>de</strong> uma linha <strong>de</strong>


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSágua e articulavam-se directamente com o claustro. A cozinha separava orefeitório dos monges do refeitório dos conversos.Na face oci<strong>de</strong>ntal encontra-se a ala dos conversos que comunica com aigreja por uma porta localizada no ângulo sudoeste do claustro. É também aquique se localiza o celeiro que por se encontrar voltado face a Oeste, recebeapen<strong>as</strong> a incidência do sol do atar<strong>de</strong>cer.Na face oriental encontra-se, no piso térreo, a sacristia e a sala capitularflanquead<strong>as</strong> por p<strong>as</strong>sagens que permit<strong>em</strong> aos monges a saída, para oscampos e terrenos no interior da cerca monástica, salvaguardando a clausura.No piso superior <strong>de</strong>sta ala encontra-se o dormitório dos monges que comunicadirectamente, através <strong>de</strong> uma escada, com a igreja pelo braço adjacente dotransepto. O dormitório ocupava longitudinalmente todo o piso superior eficava virado a Este, para ter sol logo <strong>de</strong> manhã.No ângulo sueste do claustro, ainda no que respeita à ala dos monges eao seu piso térreo, antes da porta <strong>de</strong> acesso à igreja localiza-se o armarium queconsistia num estreito vestíbulo on<strong>de</strong> os monges dispunham os seus livros antes<strong>de</strong> entrar<strong>em</strong> para a igreja ou <strong>de</strong> saír<strong>em</strong> para os terrenos adjacentes.2804.4.TEMPO vs. ESPAÇO: A JORNADA CISTERCIENSEA vida <strong>de</strong> clausura e <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> professada numa comunida<strong>de</strong>monástica <strong>cister</strong>ciense pressupõe uma forte convicção aliada a uma profundavocação. Os momentos fundamentais do dia-a-dia <strong>cister</strong>ciense conjugamt<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> oração, <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> cont<strong>em</strong>plação, que porsua vez são equilibrados através da santificação do próprio t<strong>em</strong>po.S. Bento divi<strong>de</strong> o ano <strong>em</strong> apen<strong>as</strong> du<strong>as</strong> estações: Inverno e Verão. OInverno era contabilizado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro 166 dia <strong>de</strong> Nov<strong>em</strong>bro até à Páscoa, eo Verão, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Páscoa até ao primeiro dia <strong>de</strong> Nov<strong>em</strong>bro.Quanto ao dia este rege-se pelo sist<strong>em</strong>a horário romano, ou seja, o dia e anoite dividiam-se <strong>em</strong> doze partes correspon<strong>de</strong>ntes às hor<strong>as</strong>. A noitecontabilizava-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o oc<strong>as</strong>o ao n<strong>as</strong>cer do sol e o dia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o n<strong>as</strong>cer do solao oc<strong>as</strong>o. Ao fim da sexta hora da noite correspondia a meia-noite e ao fim d<strong>as</strong>exta hora do dia correspondia o meio-dia. Como os di<strong>as</strong> <strong>de</strong> Inverno eram maiscurtos <strong>as</strong> hor<strong>as</strong> do dia eram igualmente reduzid<strong>as</strong> sendo <strong>as</strong> hor<strong>as</strong> da noite maislong<strong>as</strong>.No Verão, pelo contrário, como os di<strong>as</strong> eram maiores, aconteciaprecisamente o inverso sendo <strong>as</strong> hor<strong>as</strong> do dia mais long<strong>as</strong> que <strong>as</strong> da noite. Poreste motivo S. Bento refere na Regra que a hora se <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>terminar segundo166 Calend<strong>as</strong>


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSum cálculo razoável. Assim, “Durante o Inverno, isto é <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>as</strong> calend<strong>as</strong> <strong>de</strong>Nov<strong>em</strong>bro até à Páscoa, levant<strong>em</strong>-se os monges à oitava hora da noite, que sehá-<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar segundo um cálculo razoável” 167 Deste modo a uma horapo<strong>de</strong>riam correspon<strong>de</strong>r <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 45 a 75 minutos nos mol<strong>de</strong>s da medição actualdo t<strong>em</strong>po. 168O dia <strong>de</strong> um monge <strong>cister</strong>ciense t<strong>em</strong> início, na Igreja, com <strong>as</strong> Vigíli<strong>as</strong> 169pel<strong>as</strong> du<strong>as</strong> ou três da madrugada, conforme a época do ano e porconsequência est<strong>as</strong> duram cerca <strong>de</strong> uma hora a uma hora e meia.Com a madrugada iniciam-se <strong>as</strong> Lau<strong>de</strong>s 170 sendo a eucaristia celebradapróximo d<strong>as</strong> sete da manhã.O ofício que se seguia era a Prima. Mais tar<strong>de</strong> na Sala do Capítulo eramlidos, <strong>em</strong> voz alta, um capítulo da Regra <strong>de</strong> S. Bento <strong>as</strong>sim como a martirologia,vári<strong>as</strong> orações eram efectuad<strong>as</strong> para pedir a graça <strong>de</strong> Deus para mais um dia<strong>de</strong> trabalho que se seguia às instruções dad<strong>as</strong> pelo aba<strong>de</strong>.Por último, ainda na Sala do Capítulo eram anunciados os nomes dosirmãos falecidos n<strong>as</strong> vári<strong>as</strong> c<strong>as</strong><strong>as</strong> da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister. Depois do Capitulumsegue-se a lectio divina, ou seja uma hora a du<strong>as</strong> hor<strong>as</strong> <strong>de</strong> leitura espiritual atéao ofício da Tércia 171 .De seguida cada monge executa o trabalho que lhe foi <strong>de</strong>stinado peloaba<strong>de</strong>. Os mais jovens que ainda não tivess<strong>em</strong> sido or<strong>de</strong>nados preparam-separa tal através do estudo não só d<strong>as</strong> escritur<strong>as</strong> como também <strong>de</strong> teologia,filosofia, lei canónica e história da Igreja. Por volta do meio-dia, após o período<strong>de</strong> trabalho, é t<strong>em</strong>po do ofício da sexta 172 .Depois do ofício é altura da refeição que t<strong>em</strong> lugar no refeitório. Osmonges dão <strong>as</strong> graç<strong>as</strong> e com<strong>em</strong> <strong>em</strong> silêncio absoluto ouvindo a leituraefectuada <strong>em</strong> voz alta por um monge durante todo o período da refeição. Sãolidos trechos d<strong>as</strong> escritur<strong>as</strong> seguidos <strong>de</strong> outros textos espirituais seleccionadospelo aba<strong>de</strong>.Após a refeição os monges estão livres para orar ou ler conforme a suavonta<strong>de</strong>. Por volta d<strong>as</strong> du<strong>as</strong> hor<strong>as</strong> da tar<strong>de</strong> é t<strong>em</strong>po do ofício da Noa 173 sendo281167 Ver capítulo VIII R.S.B. in Regra do Patriarca S. Bento; traduzido e anotado do latim pelos Monges <strong>de</strong>Singeverga; 2ª edição; Edições “Ora & Labora”; Mosteiro <strong>de</strong> Singeverga; Singeverga; 1992; p. 45168 Ver Regra do Patriarca S. Bento; traduzido e anotado do latim pelos Monges <strong>de</strong> Singeverga; 2ª edição;Edições “Ora & Labora”; Mosteiro <strong>de</strong> Singeverga; Singeverga; 1992169 Também <strong>de</strong>signad<strong>as</strong> por Matin<strong>as</strong>, do latim matutinus que significa <strong>de</strong> manhã. É a primeira d<strong>as</strong> sete hor<strong>as</strong>canónic<strong>as</strong> <strong>de</strong> oração, é recitada à meia-noite ou às primeir<strong>as</strong> hor<strong>as</strong> do dia. Ver HERVÉ, Lucien; Architectureof Truth – The Cistercian Abbey of Le Thoronet; Phaidon Press Limited; 2001; p.155170 Do latim Laus que significa louvor. É a segunda d<strong>as</strong> sete hor<strong>as</strong> canónic<strong>as</strong> <strong>de</strong> oração, é recitada aoamanhecer com o levantar do sol. Ver HERVÉ, Lucien; Op. cit.; p.156171 Do latim Tertius que significa terceiro e <strong>de</strong> Tertia hora, a terceira hora do dia romano. É a terceira d<strong>as</strong> setehor<strong>as</strong> canónic<strong>as</strong> <strong>de</strong> oração, é recitada cerca d<strong>as</strong> 9h00m. Ver HERVÉ, Lucien; Op. cit.; p.157172 Do latim Sexta hora que significa Sexta hora. É a quarta d<strong>as</strong> sete hor<strong>as</strong> canónic<strong>as</strong> <strong>de</strong> oração, écoinci<strong>de</strong>nte com o meio do dia. Ver HERVÉ, Lucien; Op. cit.; p.157173 Do latim Nona hora que significa Nona hora. É a quinta d<strong>as</strong> sete hor<strong>as</strong> canónic<strong>as</strong> <strong>de</strong> oração, é recitadacerca d<strong>as</strong> 15h00m. Ver HERVÉ, Lucien; Op. cit.; p.158.


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS282seguido por cerca <strong>de</strong> du<strong>as</strong> hor<strong>as</strong> e meia <strong>de</strong> trabalho consoante a altura doano.Por volta d<strong>as</strong> cinco hor<strong>as</strong> da tar<strong>de</strong> proce<strong>de</strong>-se ao ofício d<strong>as</strong> Vésper<strong>as</strong> 174seguido <strong>de</strong> uma refeição ligeira (s<strong>em</strong> ser acompanhada <strong>de</strong> leitura no período<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia 14 <strong>de</strong> Set<strong>em</strong>bro até à Páscoa).Um pequeno intervalo segue a refeição ligeira e antece<strong>de</strong> o ofício d<strong>as</strong>Complet<strong>as</strong> 175 . Uma pequena leitura dá início às Complet<strong>as</strong> ainda na galeria doclaustro junto à Igreja prosseguindo <strong>de</strong>pois já <strong>de</strong>ntro da Igreja. Depois do ofícioos monges <strong>de</strong>slocam-se <strong>em</strong> fila <strong>em</strong> direcção ao dormitório p<strong>as</strong>sando peloaba<strong>de</strong> que os abençoa. 176Deste modo o t<strong>em</strong>po <strong>cister</strong>ciense e respectiva ocupação do espaçomonástico po<strong>de</strong> ser esqu<strong>em</strong>atizado do modo apresentado pela tabela que seapresenta na página seguinte (Esq. 45).“Aparte <strong>de</strong> l<strong>as</strong> hor<strong>as</strong> <strong>de</strong> plegaria en común, la Regla dividía el día<strong>de</strong>l monje en períodos <strong>de</strong> trabajo manual y períodos <strong>de</strong> lectura. Elhorario <strong>de</strong> verano, que <strong>em</strong>pezaba en P<strong>as</strong>cua, <strong>as</strong>ignaba más <strong>de</strong>siete hor<strong>as</strong> al trabajo y tres hor<strong>as</strong> a la lectura; en invierno el período<strong>de</strong> trabajo se acortaba y se aumentaba el ti<strong>em</strong>po <strong>de</strong> lectura. En losdí<strong>as</strong> más largos <strong>de</strong>l verano la Regla preveía dos comid<strong>as</strong>: la primerapoco <strong>de</strong>spués <strong>de</strong>l mediodía y la segunda al comenzar la noche;mientr<strong>as</strong> que el horário <strong>de</strong> invierno <strong>de</strong>jaba margen para una solacomida, que se tenía en torno a l<strong>as</strong> 2.30 <strong>de</strong> la tar<strong>de</strong>, y aun mástar<strong>de</strong> en cuaresma.” 177Segundo Frei Geraldo Coelho Di<strong>as</strong>:“Em princípio o monaquismo não criou qualquer programaarquitectónico-artistico; todavia, com o t<strong>em</strong>po e com a vivênciaprática da vida religiosa, os monges foram dando corpo a umcostume, a um «estatuto», que redundou num estereotipo, o qual,apesar <strong>de</strong> <strong>de</strong> cert<strong>as</strong> adaptações se tornou comum a qu<strong>as</strong>e tod<strong>as</strong><strong>as</strong> instituições religios<strong>as</strong> da Igreja católica ao longo dos t<strong>em</strong>pos eque S. Bernardo e os primeiros Capítulos Gerais Cistercienses tentamregular.” 178174 Do latim Vesperus que significa noite. É a sexta d<strong>as</strong> sete hor<strong>as</strong> canónic<strong>as</strong> <strong>de</strong> oração, é recitada n<strong>as</strong>primeir<strong>as</strong> hor<strong>as</strong> da noite com o por do sol. Ver HERVÉ, Lucien; Op. cit.; p.158175 Do latim Hora completa que significa hora completada. É a última d<strong>as</strong> sete hor<strong>as</strong> canónic<strong>as</strong> <strong>de</strong> oração, érecitada entre <strong>as</strong> 20h00m e <strong>as</strong> 21h00m completando <strong>as</strong> orações do dia. Ver HERVÉ, Lucien; Op. cit.; pp.158-159176 Ver DIMIER, Pe. Anselme; Stones laid before the Lord. A history of mon<strong>as</strong>tic architecture; Cistercian StudiesSeries 152; Cistercian Publications; Michigan; 1999; pp. 48-49177 LAWRENCW, C. H.; Op. cit.; p. 53178 Ver DIAS, Geraldo Coelho; Op. cit.; p. 24


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSV E R à O : h o r á r i o n o c t u r n oH O R A S A C T I V I D A D E L O C A L1ª a 9ª Descanso nocturno Dormitório D9ª Vigíli<strong>as</strong> Igreja Iintervalo - - -11ª a 12ª Lau<strong>de</strong>s Igreja IV E R à O : h o r á r i o d i u r n oH O R A S A C T I V I D A D E L O C A Lintervalo - - -1ª Prima Igreja I1ª ½ Capitulum Sala do Capitulo SC2ª a 3ª Trabalho / Leitura Sala dos MongesExterior - ClaustroSME-C3ª Tércia / Eucaristia Igreja I3ª ½ a 6ª Trabalho / Leitura Sala dos MongesExterior - ClaustroSME-C6ª Sexta Igreja I6ª½ Ablução d<strong>as</strong> mãos Lavabo L6ª½ Almoço Refeitório R6ª a 8ª Repouso Dormitório D9ª Noa Igreja I9ª ½ a 11ª ½ Leitura / Trabalho Sala dos MongesClaustro11ª ½ Vésper<strong>as</strong>Jantar (após <strong>as</strong> vésper<strong>as</strong>)IgrejaRefeitório12ª Complet<strong>as</strong> Igreja II N V E R N O : h o r á r i o n o c t u r n oH O R A S A C T I V I D A D E L O C A L1ª a 8ª Descanso nocturno Dormitório D8ª a 9ª Vigíli<strong>as</strong> Igreja I9ª ½ a 11ª Estudo / Leitura Sala dos Monges SM11ª a 12ª Lau<strong>de</strong>s Igreja II N V E R N O : h o r á r i o d i u r n oH O R A S A C T I V I D A D E L O C A LIntervalo - - -1ª Prima / Eucaristia Igreja I1ª ½ Capitulum Sala do Capitulo SC2ª a 3ª Trabalho / Leitura Sala dos MongesExteriorSME3ª Tércia Igreja I3ª ½ a 6ª Trabalho / Leitura Sala dos MongesExteriorSME6ª Sexta Igreja I6ª a 9ª Trabalho Sala dos MongesExteriorSME9ª Noa Igreja I9ª ½ Ablução d<strong>as</strong> mãos Lavabo L9ª ½ Almoço Refeitório R9ª a 11ª ½ Leitura Sala dos MongesClaustro11ª ½ Vésper<strong>as</strong>Jantar (após <strong>as</strong> vésper<strong>as</strong>)IgrejaRefeitório12ª Complet<strong>as</strong> Igreja ISMCLIRSMCIR283Esq. 45 Horário: t<strong>em</strong>po vs. espaço (elaborado pela autora com b<strong>as</strong>e na RSB)


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSHORÁRIO NOCTURNO VERÃOHORÁRIO DIURNO VERÃOGraf. 21 Ocupação dos espaços monásticos durante o horário <strong>de</strong> Verão nocturno e horário <strong>de</strong> Verão diurno(elaborado pela autora com b<strong>as</strong>e na RSB)284HORÁRIO NOCTURNO INVERNOHORÁRIO DIURNO INVERNOGraf. 22 Ocupação dos espaços monásticos durante o horário <strong>de</strong> Inverno nocturno e horário <strong>de</strong> Invernodiurno (elaborado pela autora com b<strong>as</strong>e na RSB)OCUPAÇÃO VERÃOOCUPAÇÃO INVERNOGraf. 23 Ocupação dos espaços monásticos durante o horário <strong>de</strong> Verão e horário <strong>de</strong> Inverno (elaboradopela autora com b<strong>as</strong>e na RSB)NOTAI: Igreja; D: Dormitório; SC: Sala do Capítulo; SM-C: Sala dos Monges - Claustro; L: Lavabo; R: Refeitório;SM-E: Sala dos Monges - Exterior


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSO conceito <strong>de</strong> mosteiro está ligado ao conceito <strong>de</strong> “encarceramento” m<strong>as</strong><strong>as</strong>sumido como uma opção <strong>de</strong> vida como refere Bada i Eli<strong>as</strong>:“La condición terrenal constituye por sí misma una especie <strong>de</strong>cárcel para el alma, que se ve sometida a la servidumbre <strong>de</strong>lmundo y <strong>de</strong>l <strong>de</strong>monio. Al optar por el mon<strong>as</strong>terio, el monje sustituyeesta cárcel por la servidumbre <strong>de</strong>l claustro, como expresión exterior<strong>de</strong>l encarcelamiento interior y espiritual.” 179Encontram-se espalhados por toda a Europa mosteiros que permanec<strong>em</strong>isolados. Estes mosteiros, seja pela sua integração no território, seja pela suadimensão, seja por <strong>de</strong>finir<strong>em</strong> e construír<strong>em</strong> a paisag<strong>em</strong> na qual se integram,são dotados <strong>de</strong> uma tipologia arquitectónica muito própria.“ Se trata <strong>de</strong> edificaciones sólid<strong>as</strong> y silencios<strong>as</strong> que permanecen<strong>em</strong>bl<strong>em</strong>átic<strong>as</strong> y monumentales en cada lugar, c<strong>as</strong>i si<strong>em</strong>presolitári<strong>as</strong>, recordad<strong>as</strong> <strong>de</strong> vez en cuando por alguna visita cultural osimpl<strong>em</strong>ente turística.” 180Pelo contrário exist<strong>em</strong> outros que se inser<strong>em</strong> <strong>em</strong> cida<strong>de</strong>s ou por el<strong>as</strong> foramabsorvidos.“Algunos mon<strong>as</strong>terios se han transformado en edificaciones diluid<strong>as</strong><strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> la ciudad que, con sus edificios resi<strong>de</strong>nciales y callesruidos<strong>as</strong>, han macizado <strong>de</strong>nsamente el espacio vacío, libre, claro yfavorecedor <strong>de</strong> la percepción monumental <strong>de</strong> sus muros. Hanquedado transformados en «un edificio más»; su percepción pue<strong>de</strong>p<strong>as</strong>ar <strong>de</strong>sapercibida y se <strong>de</strong>be re<strong>de</strong>scubrirlos a través <strong>de</strong> criteriosurbanos.” 181Durante o período nocturno, a ocupação do dormitório intensifica-se no Verão(75%) mais do que no Inverno (59%). Note-se que no Inverno (Graf. 22) o períodonocturno divi<strong>de</strong>-se qu<strong>as</strong>e equitativamente entre o período <strong>de</strong> sono (ocupaçãodo dormitório) e o período <strong>de</strong>stinado ao Ora et Labora (41%), pois uma parte danoite é p<strong>as</strong>sada na igreja (30%), <strong>em</strong> oração, sendo a outra parte p<strong>as</strong>sada naSala dos Monges (11%). Recor<strong>de</strong>-se que a Sala dos Monges <strong>de</strong>veria ser contíguaao calefactório e por isso uma d<strong>as</strong> zon<strong>as</strong> mais quentes do mosteiro.No que respon<strong>de</strong> ao período diurno, do horário <strong>de</strong> Verão (Graf. 21), existe<strong>de</strong> igual modo um gran<strong>de</strong> equilíbrio entre o Ora et Labora, m<strong>as</strong> também estácont<strong>em</strong>plado o <strong>de</strong>scanso uma vez que os di<strong>as</strong> são gran<strong>de</strong>s e é necessáriorestabelecer o corpo <strong>as</strong>sim como o espírito na frescura do dormitório (14%). Operíodo do dia para <strong>as</strong>sistir ao capítulo é sensivelmente o mesmo tanto noInverno como no Verão (Graf. 23). A ocupação da Sala dos Monges/Claustro285179 Cit. BADA I ELIAS, Joan; Teología <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio in “Mon<strong>as</strong>terios – Intervención en el PatrimonioArquitectónico”; Col.lecció “Papers Sert”; Col.legi d’arquitectes <strong>de</strong> Catalunya; Barcelona; 2002180 Ver PLA I GISBERT, Albert; Introducción in “Mon<strong>as</strong>terios – Intervención en el Patrimonio Arquitectónico”;Col.lecció “Papers Sert”; Col.legi d’arquitectes <strong>de</strong> Catalunya; Barcelona; 2002; p. 11181 Cit. I<strong>de</strong>m; p. 11


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS286duplica no horário <strong>de</strong> Verão (30%) <strong>em</strong> relação ao horário <strong>de</strong> Inverno (15%).Também o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> abluções é maior no Verão (5%) do que no Inverno (3%).O t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>stinado à oração e ofício divino, <strong>em</strong> ambos os períodos (Verãoe Inverno) é sensivelmente o mesmo. A ocupação da igreja durante o Inverno é<strong>de</strong> 23% enquanto no Verão é <strong>de</strong> 27% (note-se que também os di<strong>as</strong> <strong>de</strong> verãosão maiores que os <strong>de</strong> Inverno).No que se refere ao t<strong>em</strong>po repartido entre a Sala dos Monges, Claustro eExterior existe algum equilíbrio. Porém no Inverno, este somatório (75%) é superiorao do Verão (60%).No que respeita à ocupação do Refeitório, esta duplica no Inverno pois énecessário cuidar da alimentação do corpo para aguentar os invernosrigorosos. Deste modo, a ocupação do refeitório <strong>em</strong> horário <strong>de</strong> Verão é <strong>de</strong>apen<strong>as</strong> 2% contra os 6% <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> Inverno (mais uma refeição).Note-se que comparando o período <strong>de</strong> Inverno e o <strong>de</strong> Verão, s<strong>em</strong>distinção entre horário diurno e nocturno, verifica-se exactamente a mesmaocupação da Igreja (26%), <strong>em</strong> ambos os períodos, p<strong>as</strong>sando-se o mesmo coma ocupação da Sala do capítulo (2%).O binómio espacial Sala dos Monges - Claustro diminui no Inverno (13%)<strong>em</strong> relação ao Verão (19%) uma vez que na no Inverno a ocupação da Salados Monges é intensificada por estar próximo da fonte <strong>de</strong> calor (Calefactório).O binómio espacial Sala dos Monges - Exterior é claramente superior no Inverno(28%) <strong>em</strong> relação ao Verão (13%) pela razão anteriormente apontada.Também a permanência no dormitório é superior no Verão (35%) <strong>em</strong>relação ao Inverno (26%) o que se compreen<strong>de</strong> pelo tamanho dos di<strong>as</strong> e pelanecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> procurar um local fresco para recuperar corpo e espírito.Assim, po<strong>de</strong>-se afirmar que sensivelmente dois terços do dia, tanto noInverno como no Verão, <strong>de</strong>stinam-se à oração e ao trabalho, restando apen<strong>as</strong>um terço do dia para o <strong>de</strong>scanso.O t<strong>em</strong>po é cíclico, <strong>as</strong>sim como é cíclica a vida na clausura <strong>cister</strong>ciense,acompanhando o Verão e o Inverno <strong>as</strong>sim como o jogo da luz e da sombraque valorizam o espaço arquitectónico tornando-o perfeito para umaexperiencia cont<strong>em</strong>plativa. Como refere Terryl Kin<strong>de</strong>r:“Ciò che si riscontra in una abbazia <strong>cister</strong>ciense, e conabbondanza, sono ‘la presenza e il gioco <strong>de</strong>lla luce’. È la luce <strong>de</strong>lsole che anima l’edificio durante il giorno, tracciando il profilo diogni sporgenza e di ogni vano e valorizzando appieno il particolare<strong>as</strong>chitettonico.” 182182 KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p.228


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS4.5.MINIMALISMO CISTERCIENSE: <strong>de</strong>l Cister <strong>de</strong>l siglo XII al “Minimum” <strong>de</strong>l siglo XXILos principios, fundamentos y b<strong>as</strong>es <strong>de</strong>l i<strong>de</strong>al <strong>cister</strong>ciense, influyen sumaterialización arquitectónica, <strong>de</strong> gran simplicidad y <strong>as</strong>cetismo, tanto en sugénesis en el siglo XII como ahora en el arranque <strong>de</strong>l nuevo milenio (Fig. 154). Laconsecuente conexión entre todos estos principios y la reciente rehabilitación<strong>de</strong> una antigua granja en la actual República Checa (Fig. 155 e 156).Fig. 154 Claustro e Iglesia (archivo John Pawson office)287El arquitecto fue el minimalista John Pawson y la granja es actualmente elMon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur, el primer mon<strong>as</strong>terio <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong>l post-comunismoen la República Checa.Fig. 155 Antigua granja antes <strong>de</strong> la intervención <strong>de</strong> JohnPawson (archivo Mon<strong>as</strong>terio Novy Dvur)


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 156 Antigua granja antes <strong>de</strong> la intervención <strong>de</strong> John Pawson(archivo John Pawson office)288Hay cuestiones para l<strong>as</strong> cuales se busca una respuesta, ¿Cuáles fueran losi<strong>de</strong>ales arquitectónicos <strong>cister</strong>cienses y como se materializaron a lo largo <strong>de</strong> lossiglos?, ¿Cómo se entendió, <strong>de</strong> modo arquitectónico, la espiritualidad<strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong>s<strong>de</strong> la “Apología” <strong>de</strong> San Bernardo h<strong>as</strong>ta nuestros dí<strong>as</strong>?, ¿Cuálesfueron los i<strong>de</strong>ales y la realidad <strong>cister</strong>cienses en su génesis <strong>de</strong>l siglo XII y cuál fuesu legado?, ¿Y en nuestros dí<strong>as</strong>, como se materializan los i<strong>de</strong>ales <strong>cister</strong>cienses?En primer lugar, es conveniente mencionar el hecho <strong>de</strong> que el patrimoniomonástico ha sido concebido según i<strong>de</strong>ales específicos que se traducen enuna realidad material.El mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong>be ser visto como una microciudad, como una ciudadi<strong>de</strong>al, como una ciudad <strong>de</strong> Dios. Por ello, no <strong>de</strong>ben <strong>de</strong>jarse <strong>de</strong> lado l<strong>as</strong>connotaciones simbólic<strong>as</strong>, i<strong>de</strong>ales y espirituales inherentes a este tipo <strong>de</strong>edificios, ni tampoco l<strong>as</strong> transformaciones producid<strong>as</strong> que permitieron ladialéctica entre la pequeña y la gran escala, es <strong>de</strong>cir, <strong>de</strong> la ciudad <strong>de</strong> Dios almon<strong>as</strong>terio y, actualmente, <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio a la ciudad <strong>de</strong>l Hombre.Se entien<strong>de</strong> un mon<strong>as</strong>terio <strong>cister</strong>ciense como un lugar lleno <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ales y<strong>de</strong> espiritualidad, dón<strong>de</strong> se busca a Dios. El mon<strong>as</strong>terio <strong>cister</strong>ciense es <strong>as</strong>í uni<strong>de</strong>al que tiene una representación y materialización que, con los siglostranscurridos, sufrieron algun<strong>as</strong> transformaciones y adaptaciones.Es importante percibir el encuentro entre la arquitectura cont<strong>em</strong>poránea yla arquitectura <strong>cister</strong>ciense pues se pue<strong>de</strong> hacer un paralelo entre la austeraarquitectura <strong>de</strong>l Císter <strong>de</strong>l siglo XII, <strong>de</strong>l plan “ad quadratum” <strong>de</strong> l<strong>as</strong> iglesi<strong>as</strong> y <strong>de</strong>toda la influencia <strong>de</strong>l aparente plan-tipo <strong>de</strong> sus mon<strong>as</strong>terios, en la arquitectura<strong>de</strong> los siglos siguientes (Fig. 157).


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 157 Croquis funcional (archivo John Pawson office)La búsqueda y predilección <strong>de</strong> valles para la implantación <strong>de</strong> los mon<strong>as</strong>terios(Fig. 158) están patentes no solo en la legislación <strong>cister</strong>ciense primitiva sinotambién en los versos:“Bernardus valles, colles Benedictus amabat,Franciscus vicos, celebres Ignatius urbes”. 183Tal como relatan los documentos primitivos <strong>de</strong>l Císter:“ 6 Y <strong>de</strong>spués <strong>de</strong> los muchos trabajos y extr<strong>em</strong>ad<strong>as</strong> dificulta<strong>de</strong>s quehan <strong>de</strong> pa<strong>de</strong>cer los que quieren seguir l<strong>as</strong> huell<strong>as</strong> <strong>de</strong> Cristo,finalmente alcanzaron su <strong>de</strong>seo y llegaron a Císter, que entoncesera un lugar <strong>de</strong> horror y una v<strong>as</strong>ta soledad. 7 Pero aquellos soldados<strong>de</strong> Cristo pensaron que la <strong>as</strong>pereza <strong>de</strong>l lugar no estaba en<strong>de</strong>sarmonía con el firme propósito que en su ánimo tenían yaconcebido, y consi<strong>de</strong>rándolo como preparado por Dios para ellos,amaron tanto el lugar como su i<strong>de</strong>al.” 184Este espacio conquistado a la naturaleza, en el cual el hombre impone unaor<strong>de</strong>n para vivir allí en comunidad, orando y trabajando, estableciendo unvínculo con lo Sagrado y con lo sobrenatural, es un espacio or<strong>de</strong>nado según lavoluntad <strong>de</strong> Dios 185 . (Fig. 159)289183 Cf. DIMIER, Pe. Anselme; Op. cit.; p. 51.“Bernardo amaba valles, Benito colin<strong>as</strong>, Francisco pueblos e Ignacio ciuda<strong>de</strong>s poblad<strong>as</strong>.”184 Exordium Cistercii, cap.I, 6-7185 Cf. DIAS, Geraldo Coelho; Op. cit.; pp.13-37


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 158 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur <strong>de</strong>spués <strong>de</strong> la intervención<strong>de</strong> John Pawson (archivo John Pawson office)290El monje benedictino Gérald <strong>de</strong> Galles (1188), dice según cita Don MaurCocheril 186 , dad a estos monjes una tierra “<strong>de</strong>snuda” o un bosque salvaje,<strong>de</strong>spués <strong>de</strong>jad p<strong>as</strong>ar algunos años y encontraréis no solo iglesi<strong>as</strong> magnífic<strong>as</strong>,sino también viviend<strong>as</strong> que se construyeran alre<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> los mismos. Dicetambién San Bernardo en su Carta 106:“Fíate <strong>de</strong> mi experiencia: encontrarás b<strong>as</strong>tante más en los bosquesque en los libros. Los árboles y l<strong>as</strong> roc<strong>as</strong> te enseñaran lo que nopue<strong>de</strong>n <strong>de</strong>cirte los maestros. ¿O no crees que se pue<strong>de</strong> extraer miel<strong>de</strong> la roca y aceite <strong>de</strong>l peñ<strong>as</strong>co durísimo?” 187En respecto a la elección <strong>de</strong>l lugar, para la fundación <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> NovyDvur, p<strong>as</strong>ó lo mismo y, <strong>de</strong> una ruina, se hizo un mon<strong>as</strong>terio con un lenguajenovedoso y perfectamente integrado en el espíritu <strong>cister</strong>ciense sin olvidar ellugar don<strong>de</strong> se inserta (Fig. 160).Un Mon<strong>as</strong>terio <strong>cister</strong>ciense, sea <strong>de</strong>l siglo XII o <strong>de</strong>l siglo XXI como NovyDvur, <strong>de</strong>bería ser construido lo más lejos posible <strong>de</strong> l<strong>as</strong> zon<strong>as</strong> habitad<strong>as</strong> <strong>de</strong>bidoque el monje, como su nombre indica, tenía que vivir aislado.Así, motivos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>n espiritual y material ejercen un papel <strong>de</strong>cisivo en laelección <strong>de</strong> los lugares <strong>de</strong> edificación <strong>de</strong> cada mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> la Or<strong>de</strong>n <strong>de</strong>lCíster. 188186 Cf. COCHERIL, Dom Maur; Introduction in BRONSEVAL, Frère Clau<strong>de</strong> <strong>de</strong> ; “Peregrinatio Hispanica. Voyage<strong>de</strong> Dom È<strong>de</strong>me <strong>de</strong> saulieu, Abbé <strong>de</strong> Clairvaux, en Espagne et au Portugal (1531-1533)”; (ed. Dom MaurCocheril); PUF; Paris; 1970; p. 28187 Cf. S. BERNARDO; Epistola 106 in “Obr<strong>as</strong> Complet<strong>as</strong> <strong>de</strong> San Bernardo”; (Los Monjes Cistercienses <strong>de</strong> España,ed.); vol. VII; Bibllioteca <strong>de</strong> Autores Cristianos; Madrid; 1994; pp. 390-391188 Cf. DIAS, Geraldo Coelho; A Alma <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal in “Religião e Simbólica”; Granito Editores; Porto;2001


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 159 Parte <strong>de</strong>l edificio monástico ya con la intervención <strong>de</strong> John Pawson(archivo <strong>de</strong> la autora)Un mon<strong>as</strong>terio <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong>be ser consi<strong>de</strong>rado como una ciudad i<strong>de</strong>al ydotado <strong>de</strong> todos los el<strong>em</strong>entos necesarios para su subsistencia.“ 6 Si es posible, <strong>de</strong>be construirse el mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> modo que tengatodo lo necesario, esto es, agua, molino, huerta, y que l<strong>as</strong> divers<strong>as</strong>artes se ejerzan <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio, 7 para que los monjes notengan necesidad <strong>de</strong> andar fuera, porque esto no conviene enmodo alguno a sus alm<strong>as</strong>.” 189 .291Fig. 160 antigua granja antes <strong>de</strong> la intervención(archivo John Pawson office)189 Cf. Regla <strong>de</strong> San Benito; Cap.66, 6-7


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSAsí que el mon<strong>as</strong>terio se <strong>as</strong>ume como una ciudad in<strong>de</strong>pendiente. A<strong>de</strong>más <strong>de</strong>toda su carga simbólica es un lugar funcional don<strong>de</strong> todo tiene su justificación yse sitúa en un lugar planeado pues el mon<strong>as</strong>terio es primordialmente un lugardon<strong>de</strong> habitan los monjes, pero también <strong>de</strong> Dios reflejando la Jerusalén Celesteen la tierra. Para los <strong>cister</strong>cienses:“ 1 Todos nuestros mon<strong>as</strong>terios se fundarán en honor <strong>de</strong> la Reina <strong>de</strong>lCielo y <strong>de</strong> la tierra. 2 Ninguno se edificará en ciuda<strong>de</strong>s, al<strong>de</strong><strong>as</strong> oc<strong>as</strong>tillos. (…) 4 Fuera <strong>de</strong> la puerta <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio no se edificaráninguna vivienda, a no ser los establos para los animales.” 190El mon<strong>as</strong>terio no es sólo un paraíso en la tierra, también los lugares escogidospor los <strong>cister</strong>cienses se convirtieron, a través <strong>de</strong> su labor, en paraísos terrestres.Ellos convirtieron los más <strong>de</strong>sérticos e inhóspitos lugares 191 en “paraísos”,creando en su seno la Ciudad <strong>de</strong> Dios, utilizando para ello diversos recursos,entre los que <strong>de</strong>staca la hidráulica <strong>cister</strong>ciense. 192292Fig. 161 Iglesia <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur (archivo <strong>de</strong> la autora)El claustro, según Bernardo <strong>de</strong> Claraval era el “Paradisum Claustralis” y la vidaen el claustro <strong>cister</strong>ciense no era exclusivamente un i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> vida sino tambiénuna imagen y una anticipación <strong>de</strong>l paraíso (Fig. 161). Según la Carta 64 <strong>de</strong> SanBernardo (a Alejandro, obispo <strong>de</strong> Lincoln) Claraval era Jerusalén en la Tierrapues como dice:190 Cf. Capitula IX; 1-2,4191 Cf. Deuteronómio 32,10192 Cf. TAVARES F. MARTINS, Ana Maria; Do I<strong>de</strong>al no espaço monástico: Utopia e realida<strong>de</strong>. O c<strong>as</strong>o <strong>cister</strong>ciensein “Utopolis journal – utopian studies”; nº 2; Utopia Research Publisher; Madrid


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS“Vuestro Felipe, <strong>de</strong>seando marchar a Jerusalén, dio con un caminomás corto y llegó a don<strong>de</strong> quería. (…) Ya están pisando sus pies losumbrales <strong>de</strong> Jerusalén (…). Ha entrado en la santa ciudad, y lecayó en suerte la herencia <strong>de</strong> los que con razón exclaman: Ya nosois extranjeros ni advenedizos, sino conciudadanos <strong>de</strong> losconsagrados y familia <strong>de</strong> Dios. Junto con ellos entra y sale, comouno consagrado más, y se gloría con los <strong>de</strong>más diciendo: Somosciudadanos <strong>de</strong>l cielo. (…) Y si queréis saber cuál es, se trata <strong>de</strong>Claraval.” 193293Fig. 162 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur, Consagración<strong>de</strong> la Iglesia (archivo Mon<strong>as</strong>terio Novy Dvur)Para los <strong>cister</strong>cienses la simplicidad <strong>de</strong> líne<strong>as</strong>, la pureza <strong>de</strong> l<strong>as</strong> form<strong>as</strong>, laluminosidad y su claro-oscuro se b<strong>as</strong>tan por sí sol<strong>as</strong>, permitiendo la elevaciónhacia Dios (Fig. 162). Para San Bernardo nada <strong>de</strong>bería distraer la mirada y elespíritu <strong>de</strong> la i<strong>de</strong>a <strong>de</strong> Dios. Para John Pawson la arquitectura produce unimpacto en el alma. (Fig. 163)193 S. BERNARDO; Epistola 64 in “Obr<strong>as</strong> Complet<strong>as</strong> <strong>de</strong> San Bernardo”; (Los Monjes Cistercienses <strong>de</strong> España,ed.); vol. VII; Bibllioteca <strong>de</strong> Autores Cristianos; Madrid; 1994; pp.246-247 / Cf. DIAS, Geraldo Coelho;Monaquismo, Arte e Arquitectura – o c<strong>as</strong>o do Mosteiro <strong>de</strong> Alpendurada in “Religião e Simbólica”; GranitoEditores; Porto; 2001;pp.206-207


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 163 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur, Cer<strong>em</strong>onial <strong>de</strong>tomada <strong>de</strong> votos (archivo Mon<strong>as</strong>terio Novy Dvur)294“Al construir para los monjes, el señor Pawson, aún siendo elminimalista absoluto que es, ha tenido que <strong>de</strong>sarrollar unaaproximación aún más radical a la simplicidad”. 194 (Fig. 164)Fig. 164 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur, interior <strong>de</strong> la Iglesia,(archivo Mon<strong>as</strong>terio Novy Dvur)194 Cf. Los Monjes y la Arquitectura – por un monje <strong>de</strong> la Abadia <strong>de</strong> Sept-Fons / Novy Dvur in “John Pawson –T<strong>em</strong><strong>as</strong> y proyectos”, Phaidon Press Limited; 2002; p.72


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSSan Bernardo con<strong>de</strong>naba la ornamentación y la belleza suntuosa no porquefuera insensible a sus encantos, sino todo lo contrario, precisamente por sercapaz <strong>de</strong> sentirlos <strong>de</strong> modo a notar que estos constituían una seduccióninvencible y por eso un peligro irreconciliable con l<strong>as</strong> exigenci<strong>as</strong> <strong>de</strong> losagrado. 195Bernardo <strong>de</strong> Claraval unió la experiencia estética a la religiosa al presentarla arquitectura <strong>cister</strong>ciense como la expresión que más se a<strong>de</strong>cuaba a lanueva actividad religiosa. A partir <strong>de</strong> 1150 se <strong>em</strong>pieza a hablar <strong>de</strong> unaconstrucción y disposición <strong>de</strong> los diferentes espacios arquitectónicos <strong>de</strong> “morenostro” (<strong>de</strong>l nuestro modo).“ 5 Para que entre l<strong>as</strong> abadí<strong>as</strong> se mantenga si<strong>em</strong>pre una unidadindisoluble, establec<strong>em</strong>os, en primer lugar, que la regla <strong>de</strong> SanBenito sea entendida por todos <strong>de</strong> la misma manera, sin <strong>de</strong>sviarse<strong>de</strong> ella ni un ápice.” 196295Fig. 165 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur, Refectorio (archivo Mon<strong>as</strong>terio Novy Dvur)Así que la Regla <strong>de</strong> San Benito dotó al mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> un programa que a su vezgeneró la planimetría <strong>de</strong> su arquitectura. (Fig. 165)De hecho, San Bernardo ha sido constructor <strong>de</strong> materia al impulsar laconstrucción <strong>de</strong> l<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Císter, <strong>de</strong> l<strong>as</strong> cuales hoy todavía subsistenmuch<strong>as</strong>, constituyéndose ej<strong>em</strong>plares vivos o simples huell<strong>as</strong> impregnad<strong>as</strong> <strong>de</strong>li<strong>de</strong>al <strong>cister</strong>ciense.195 Cf. PANOFSKY, Erwin; O significado n<strong>as</strong> artes visuais; Editorial Presença; Lisboa; 1989; p.92196 Cf. Capitula IX; 5


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 166 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur, recorrido <strong>de</strong>l claustro (archivo Mon<strong>as</strong>terio Novy Dvur)296La critica realizada por San Bernardo en la Apología al abad Guillermo 197 (1125)constituye esencialmente el texto el<strong>em</strong>entar en que están patentes sus i<strong>de</strong>ales.El nuevo modo <strong>de</strong> encarar el arte y la arquitectura ya se presentía en laApología que no es un compendio <strong>de</strong> arte y estética sino un tratado <strong>de</strong>espiritualidad monástica. 198Este tratado es resultante <strong>de</strong> una controversia entre Cistercienses eCluniacenses sobre la interpretación <strong>de</strong> la Regla <strong>de</strong> San Benito y se traduce enla respuesta <strong>de</strong> Bernardo, Abad <strong>de</strong> Claraval a Guillermo, Abad <strong>de</strong> SanTeodorico.En la “Apología al abad Guillermo” se encuentra la disertación teórica<strong>de</strong> l<strong>as</strong> diferenci<strong>as</strong> entre l<strong>as</strong> dos observanci<strong>as</strong> <strong>de</strong> la Regla Benedictina que <strong>de</strong>este modo enfrentaban los “benedictinos cluniacenses” a los “benedictinos<strong>cister</strong>cienses”, monjes negros a monjes blancos.A través <strong>de</strong> la crítica al lujo y a los excesos <strong>de</strong> ornamentación, a l<strong>as</strong><strong>de</strong>formaciones y distorsiones fantástic<strong>as</strong> <strong>de</strong>l arte románico, a los excesos <strong>de</strong> l<strong>as</strong>proporciones, San Bernardo abre camino para una estética <strong>de</strong> la mo<strong>de</strong>ración(Fig. 166) <strong>de</strong> l<strong>as</strong> ornamentaciones don<strong>de</strong> la necesidad y la utilidad constituyenlos nuevos criterios estéticos. 199197 Cf. Bernardo <strong>de</strong> Claraval. Apologia para Guilherme, Aba<strong>de</strong>; Geraldo Coelho Di<strong>as</strong> osb (apr.n, trad. ynot<strong>as</strong>);Fundação Eng. António <strong>de</strong> Almeida; Porto; 1997; Cf. Cistercians and Cluniacs. St. Bernard’s apologia toabbot William; Michael C<strong>as</strong>ey ocso (trad.); Cistercian Publications; Michigan; 1970;198 Cf. DIAS, Geraldo Coelho; Espiritualida<strong>de</strong>, comida e arte na polémica dos Monges da Ida<strong>de</strong> Média in“Bernardo <strong>de</strong> Claraval. Apologia para Guilherme, Aba<strong>de</strong>”; Fundação Eng. António <strong>de</strong> Almeida; Porto; 1997;p. 16199 Cf. VITI, Goffredo (dir.); Op. Cit.; p. 31


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSEl plano <strong>de</strong> l<strong>as</strong> iglesi<strong>as</strong> fue titulado, por algunos autores, <strong>de</strong> Plano Bernardinopues traducía l<strong>as</strong> i<strong>de</strong><strong>as</strong> <strong>de</strong> San Bernardo: planta <strong>de</strong> cruz latina, profundo sentido<strong>de</strong> ortogonalidad y alineamientos b<strong>as</strong>ados en un módulo cuadrangular.(Fig.167)Villard <strong>de</strong> Honnecourt 200 en su cua<strong>de</strong>rno (1230) dibujó un plano tipo <strong>de</strong>iglesia con el título “ésta es una iglesia hecha <strong>de</strong> cuadrados para la Or<strong>de</strong>nCisterciense” en el cual no se representa la espesura <strong>de</strong> l<strong>as</strong> pare<strong>de</strong>s lo queapunta para la existencia <strong>de</strong> un plano i<strong>de</strong>al, probabl<strong>em</strong>ente b<strong>as</strong>ado en launidad que caracteriza la arquitectura <strong>cister</strong>ciense. 201“Porque la arquitectura personifica i<strong>de</strong><strong>as</strong>, refleja la i<strong>de</strong>ntidad y da formafísica y significado expresivo a los valores” (Fig. 168) como refiere Fergusson 202297Fig. 167 Plano <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur (archivo John Pawson office)200 Cf. VILLARD DE HONNECOURT; Op. cit.; lám.28201 Cf. FERGUSSON, Peter; Op. cit.; 1984; p.78202 i<strong>de</strong>m; p.pref.


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 168 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur, interior <strong>de</strong>l edificio monástico (archivo Mon<strong>as</strong>terio Novy Dvur)298Fig. 169 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur, Iglesia(archivo <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio Novy Dvur)El proyecto <strong>de</strong> Pawson para el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur y su posteriorconstrucción posibilitaron repensar en términos cont<strong>em</strong>poráneos la tradición<strong>cister</strong>ciense (Fig. 168 e 169). Es curioso que Pawson haya buscado susreferenci<strong>as</strong> arquitectónic<strong>as</strong> en el mon<strong>as</strong>terio <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong> Le Thoronet


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS(Fig.170) <strong>de</strong>l siglo XII (tal como Le Corbusier) <strong>de</strong> modo constante, una décadaantes <strong>de</strong> aceptar el encargo <strong>de</strong> Novy Dvur. (Fig. 171)299Fig. 170 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Le Thoronet (archivo <strong>de</strong> la autora)Fig. 171 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur, interior <strong>de</strong>l edificio monástico,Claustro (archivo Mon<strong>as</strong>terio Novy Dvur)Tal como el plano <strong>de</strong> San Bernardo, también en el plano <strong>de</strong> Novy Dvur, la iglesiaes el espacio más importante, todavía arquitectónicamente el claustro es el


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊScorazón <strong>de</strong> la vida monástica proporcionando el acceso a todos los espaciossignificativos y necesarios a la comunidad <strong>cister</strong>ciense, a<strong>de</strong>más <strong>de</strong> la iglesia, l<strong>as</strong>acristía, la c<strong>as</strong>a capitular, el scriptorium, el refectorio, la cocina, la biblioteca.(Fig. 172)Fig. 172 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur, Biblioteca (archivo Mon<strong>as</strong>terio Novy Dvur)300Es <strong>as</strong>í posible que esta espiritualidad <strong>cister</strong>ciense tenga una materializaciónarquitectónica y que siga influenciando arquitectos cont<strong>em</strong>poráneos, comoJohn Pawson (Fig. 173), no solo en su obra como también instigándoles a lacreación <strong>de</strong> una arquitectura llena <strong>de</strong> espiritualidad. 203abFig. 173 Los dos libros que hacen el puente entre el siglo XII y los arquitectos <strong>de</strong>l siglo XX y XXI. (a) Portada <strong>de</strong>llibro <strong>de</strong> fotografí<strong>as</strong> <strong>de</strong> Le Thoronet (fotografiad<strong>as</strong> por Lucien Hervé) que tanto ha influenciado a Le Corbusiercomo a JohnPawson. (b) Portada <strong>de</strong>l libro “mínimum” obra maestra <strong>de</strong>l pensamiento teórico <strong>de</strong> JohnPawson con referenci<strong>as</strong> recurrentes a la arquitectura <strong>cister</strong>ciense y su influencia en su obra. (imágenesPhaidon Press)203 Ver PAWSON, John ; Minimum ; Phaidon Press Limited; 1996


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊS“El mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur, incluso antes <strong>de</strong> ser finalizado, suponequizá el más importante acontecimiento religioso y arquitectónicoque se ha producido en Europa Central durante este siglo. Quieneslo habiten serán person<strong>as</strong> <strong>de</strong>dicad<strong>as</strong> a la vida cont<strong>em</strong>plativa yaislad<strong>as</strong> <strong>de</strong>l mundo por su vocación. Dentro <strong>de</strong> diez, quince o cienaños, si los monjes son lo b<strong>as</strong>tante fuertes para mantener viva su fe –y por la gracia <strong>de</strong> Dios – la comunidad y la arquitectura se habránfundido como si fueran una sola cosa. Mientr<strong>as</strong> esperamos a queesto suceda permítannos rendir tributo tanto al hombre como alarquitecto por esta obra que sólo pue<strong>de</strong> abrirse parcialmente a lacont<strong>em</strong>plación <strong>de</strong> otr<strong>as</strong> person<strong>as</strong>, como la vida <strong>de</strong> un monje,esencialmente apartada <strong>de</strong>l mundo.” 204 (Fig. 174)301Fig. 174 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur durante la obra (fotografía <strong>de</strong> Bruno Rotival)John Pawson en el discurso respectante a la cer<strong>em</strong>onia <strong>de</strong>l <strong>em</strong>plazamiento <strong>de</strong>la primera piedra <strong>de</strong> la iglesia <strong>de</strong> Novy Dvur en el día 21 <strong>de</strong> Marzo <strong>de</strong>l se refierea la necesidad <strong>de</strong> volver hacia el mo<strong>de</strong>lo arquitectónico <strong>de</strong> san Bernardo y <strong>de</strong>lsiglo XII.El arquitecto minimalista inglés refiere también la énf<strong>as</strong>is <strong>cister</strong>ciense en lacualidad <strong>de</strong> la luminosidad y <strong>de</strong> l<strong>as</strong> proporciones; la simplicidad <strong>de</strong> los muros y<strong>de</strong>l <strong>de</strong>talle. (Fig. 175)204 Cf. Los Monjes y la Arquitectura – por un monje <strong>de</strong> la Abadia <strong>de</strong> Sept-Fons / Novy Dvur in “John Pawson –T<strong>em</strong><strong>as</strong> y proyectos”, Phaidon Press Limited; 2002; pp.72-73


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 175 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur: interior <strong>de</strong>l edificio monástico(archivo John Pawson)302Fig. 176 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur: interior <strong>de</strong>l edificio monástico, cel<strong>as</strong> <strong>de</strong> los monjes(archivo Éditions Gaud)John Pawson refiere también que buscará la forma cont<strong>em</strong>poránea una vezque hubiese habido el rigor en la comprensión <strong>de</strong>l mo<strong>de</strong>lo <strong>cister</strong>ciense original.Aña<strong>de</strong> que habrá una continuación en la estética <strong>de</strong> Novy Dvur <strong>de</strong> la estética<strong>cister</strong>ciense original. (Fig. 176)


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSFig. 177 Discurso <strong>de</strong> John Pawson (archivo John Pawson office)Del mismo modo señala la existencia <strong>de</strong> una simbólica entre p<strong>as</strong>ado y futurocomo afirma el propio arquitecto en su discurso (Fig. 177):“When I first received the commission from the monks, I knew what Iwanted to achieve here at Novy Dvur. It involved going backdirectly to St Bernard's twelfth century architectural mo<strong>de</strong>l for theCistercian or<strong>de</strong>r, with its <strong>em</strong>ph<strong>as</strong>is on the quality of light andproportion, on simple, pared down elevations and <strong>de</strong>tailing. From arigorous un<strong>de</strong>rstanding of the essence of this original mo<strong>de</strong>l, I w<strong>as</strong>sure, would follow the perfect form for its cont<strong>em</strong>porary expression.Some of the architectural vocabulary of Novy Dvur may be new, butthere is a strong un<strong>de</strong>rlying continuity of aesthetic. The cantilevered<strong>de</strong>sign of the cloister, for instance, h<strong>as</strong> no literal prece<strong>de</strong>nt inCistercian architectural history, but is true, I believe, to the spirit of itstwelfth century blueprint. (…) The combination of new and ol<strong>de</strong>l<strong>em</strong>ents h<strong>as</strong> ma<strong>de</strong> the project more complicated, breaking thearchitectural unity which is normal in a mon<strong>as</strong>tery, but there is a nicesymbolism here in the link between p<strong>as</strong>t and future, in theintegration of religious life within a secular context.” 205La arquitectura <strong>de</strong> Nuestra Señora <strong>de</strong> Novy Dvur es un mezcla <strong>de</strong> lo antiguo y<strong>de</strong> lo cont<strong>em</strong>poráneo, <strong>de</strong>l i<strong>de</strong>al y <strong>de</strong> la realidad, <strong>de</strong> lo espiritual y <strong>de</strong> lo secular,conce<strong>de</strong> la vida al nuevísimo mon<strong>as</strong>terio <strong>as</strong>í como simboliza los cambios en laregión don<strong>de</strong> se inserta.303205 PAWSON, John; Speech given at the cer<strong>em</strong>ony of laying the first stone for the church at Novy Dvur; NovyDvur Mon<strong>as</strong>tery; Czech Republic; March 21, 2002 (policopiado)


4. PREMISSAS DO ESPAÇO CISTERCIENSE PORTUGUÊSEn la arquitectura <strong>de</strong> John Pawson la luminosidad, la simplicidad, el“mínimum” son sobre todo b<strong>as</strong>ados en el i<strong>de</strong>al <strong>cister</strong>ciense. Así es interesantepensar en esto y al mismo ti<strong>em</strong>po acordarse <strong>de</strong> la fr<strong>as</strong>e <strong>de</strong> San Bernardo, en sutratado De la Consi<strong>de</strong>ratione, con una muy “arquitectónica” <strong>de</strong>finición <strong>de</strong> Dioscuando escribe:“Quid est Deus? Longitudo, latitudo, sublimit<strong>as</strong> et profundum.” 206Así que podría <strong>de</strong>cirse que Dios podrá ser realmente encontrado en elMon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Pawson, Novy Dvur. Esto es, <strong>de</strong>l Císter <strong>de</strong>l siglo XII h<strong>as</strong>ta elminimum <strong>de</strong>l siglo XXI.304Fig. 178 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur, Capilla-mor(archivo Mon<strong>as</strong>terio Novy Dvur)El mon<strong>as</strong>terio <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong> Nuestra Señora <strong>de</strong> Novy Dvur en la RepúblicaCheca obtuvo el “Frate Sole International Prize for Sacred Architecture”enOctubre <strong>de</strong>l 2008 (Fig. 178).206 “¿Qué es Dios? Longitud, anchura, altura y profundidad.” Ver Tratado De Consi<strong>de</strong>ratione ad EugeniumPapam in “Obr<strong>as</strong> Complet<strong>as</strong> <strong>de</strong> San Bernardo”;vol. II; B.A.C; Madrid; 1994, pp.226-227


ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL5.305Fig. V Fachada barroca do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça(<strong>de</strong>senho <strong>de</strong> Mestre Jorge Braga da Costa cedido pelo autor)


ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL5.5.1. . MORFOLOGIA DAS ARQUITECTURAS DE CISTER EM PORTUGAL5.1.1. CLAUSTRUM5.1.2. SPIRITUS5.1.3. ANIMA5.1.4. CORPUS5.1.5. DOMUS CONVERSORUM5.1.6. EXTERIOR5.2. TIPOLOGIAS DOS MOSTEIROS CISTERCIENSES PORTUGUESES5.2.1. Planimetria dos Mosteiros Cistercienses Portugueses M<strong>as</strong>culinos5.2.2. Planimetria dos Mosteiros Cistercienses Portugueses F<strong>em</strong>ininos306


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL5.1.MORFOLOGIA DAS ARQUITECTURAS DE CISTER EM PORTUGALNo panorama português, o plano dito bernardino (Fig. 179) encontra-se <strong>em</strong>cerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> dos mosteiros m<strong>as</strong>culinos dos quais é um bom ex<strong>em</strong>plo, oMosteiro <strong>de</strong> Alcobaça I. Este Mosteiro, tal como Claraval III, não possuía aábsi<strong>de</strong> circular na sua construção inicial. Quando posteriormente foi necessárioaumentar o número <strong>de</strong> capel<strong>as</strong> a ábsi<strong>de</strong> toma a forma circular (Fig. 180).307Fig. 179 Planta do Mosteiro <strong>de</strong> Claraval 1Fig. 180 Planta <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça <strong>de</strong>senhado por Ernesto Korrodi(DGEMN/IRHU)1 Imag<strong>em</strong> parcial retirada <strong>de</strong> BRAUNFELS, Wolfgang; Mon<strong>as</strong>teries of Western Europe – The Architecture of theOr<strong>de</strong>rs; Thames and Hudson; London 1993; p.80


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALSegundo L. Pressouyre, a Abadia <strong>cister</strong>ciense, inserida na sua cerca, apresenta--se como um conjunto coerente e completo, uma obra-mestra do domínio doespaço e da organização social 2 .5.1.1.CLAUSTRUM308Esq. 46 Esqu<strong>em</strong>atização morfo-tipologica do CLAUSTRUM (elaborado pela autora)Fig. 181 Claustro Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (fotografia autora)2 Ver PRESSOUYRE, León; Le Rêve Cistercien; col. Découverts Gallimard; nº 95; Ed. Gallimard; Paris; 1998; p.39


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALEsq. 47 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa do claustro(elaborada pela autora)O claustro 3 (Esq. 47) é o epicentro do edifício monástico, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhoe <strong>de</strong> funcionalida<strong>de</strong>. Como refere Terryl Kin<strong>de</strong>r, “Il chiostro è il cortile più interno<strong>de</strong>ll’abazia, il cuore <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>tero” .4 É o el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> ligação entre todos osespaços arquitectónicos do mosteiro, é também o el<strong>em</strong>ento que proporciona aluz natural (vital e espiritual) que ilumina parte do edificado monástico. Derivado latim claustrum, ou seja algo <strong>de</strong> fechado, ou algo que possa fechar (Fig.181).309Fig. 182 Claustro do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (fotografia da autora)3 Para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Claustro ver: BANGO, Isidro; El mon<strong>as</strong>terio medieval; Ed. Anaya; Madrid; 1990; pp. 44-45/ KINDER, Terryl N.; I Cisterciensi – vita quotidiana, cultura, arte; Biblioteca di Cultura Medievale; col. Di Fronte eAttraverso; nº 468; Editoriale Jaca book spa; Milano; 1998; pp. 75-87 / KINDER, Terryl N.; L’Europe Cistercienne;col. Les formes <strong>de</strong> la nuit; Ed. Zodiaque; 1998 / BORGES, Nelson Correia; Arquitectura Monástica portuguesa naépoca mo<strong>de</strong>rna (not<strong>as</strong> <strong>de</strong> uma investigação) in MUSEU; IV série; nº7; 1998; pp. 34-42; TOBIN, Stephen; LesCisterciens – Moines et Mon<strong>as</strong>tères d’Europe; Les Éditions du Cerf; Paris 1995 ; pp.100-1024 KINDER, Terryl N.; I Cisterciensi – vita quotidiana, cultura, arte; Biblioteca di Cultura Medievale; col. Di Fronte eAttraverso; nº 468; Editoriale Jaca book spa; Milano; 1998;p. 75


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALO claustro permite dar resposta, <strong>em</strong> termos arquitectónicos, às mais variad<strong>as</strong>exigênci<strong>as</strong> comunitári<strong>as</strong>. Era no claustro que os monges se encontravam antese <strong>de</strong>pois do trabalho, era nele que faziam <strong>as</strong> su<strong>as</strong> leitur<strong>as</strong> e seguiam <strong>as</strong>procissões sendo neste ultimo c<strong>as</strong>o como que um prolongamento da Igreja(Fig.182).Apresenta-se como uma obra-prima da organização e da simplicida<strong>de</strong><strong>cister</strong>cienses. Como refere Tobin:“C’est un chef-d’œuvre d’organisation pratique, élevé à unenouvelle dignité par la simplicité que lui confère la Concepción<strong>cister</strong>cienne. Situé sur le côté sud <strong>de</strong> l’église, chaque fois que c’estpossible afin <strong>de</strong> tirer parti au maximum <strong>de</strong> la lumière naturelle, lecloître est souvent une structure <strong>de</strong> bois en appentis, que l’onr<strong>em</strong>place par une construction <strong>de</strong> pierre une fois tous les autresbâtiments du mon<strong>as</strong>tère achevés.” 5Através d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> galeri<strong>as</strong> liga-se à ala dos monges, dos conversos, do corpus eà igreja que é para a espiritualida<strong>de</strong> do mosteiro o epicentro. A sua função eraessencialmente <strong>de</strong> circulação e não <strong>de</strong> atravessamento do espaço aberto.Os claustros medievais tinham um conceito <strong>de</strong> espaço extr<strong>em</strong>amentefechado, pois <strong>as</strong> arcad<strong>as</strong> que se abriam para os pátios eram <strong>as</strong>sentes <strong>em</strong>elevados parapeitos (Fig. 183).310abFig. 183 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong> (a) e Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (b)(fotografi<strong>as</strong> da autora)5 TOBIN, Stephen; Les Cisterciens – Moines et Mon<strong>as</strong>tères d’Europe; Les Éditions du Cerf; Paris 1995 ; pp.100-102


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALO espírito ren<strong>as</strong>centista altera esta situação ao dotar o claustro <strong>de</strong>“construções à escala terrestre” (Fig. 184) como refere Nelson Correia Borges:“(…) o Ren<strong>as</strong>cimento, com <strong>as</strong> su<strong>as</strong> construções à escala terrestre,celebrativ<strong>as</strong> da luz da inteligência humana, v<strong>em</strong> introduzir o espírito<strong>de</strong> livre fruição do espaço, convidando a entrar e a sair. Estacaracterística é que torna os claustros verda<strong>de</strong>irament<strong>em</strong>o<strong>de</strong>rnos.” 6No entanto a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> dos claustros foi <strong>de</strong>finitivamente afirmada com oclaustro do Mosteiro <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão on<strong>de</strong> <strong>as</strong> arcad<strong>as</strong> comungam jádo espírito inovador do Ren<strong>as</strong>cimento. 7311Fig. 184 Mosteiro <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão (fotografia da autora)Relativamente à tipologia dos claustros 8 , que ainda exist<strong>em</strong> nos mosteiros<strong>cister</strong>cienses portugueses, po<strong>de</strong>mos dividi-los essencialmente <strong>em</strong> cinco tipos:I. Arcad<strong>as</strong> sequentes sobre colun<strong>as</strong>:Este tipo <strong>de</strong> claustro é composto por arcad<strong>as</strong> <strong>de</strong> ritmo sequente<strong>as</strong>sentes sobre colun<strong>as</strong>. São <strong>de</strong>ste tipo os claustros dos Mosteiros <strong>de</strong>Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>, <strong>de</strong> S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>, <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong>Lorvão e <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro (Fig. 185).6 BORGES, Nelson Correia; Op.cit.; pp. 35-367 I<strong>de</strong>m; p. 368 Ibi<strong>de</strong>m; pp. 36-38


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALab312cdFig. 185 Claustros com arcad<strong>as</strong> do tipo I: Mosteiro <strong>de</strong> S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong> (a),Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro(b), Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> (c)Mosteiro <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> do Lorvão (d). (fotografi<strong>as</strong> da autora)II. Arcad<strong>as</strong> sequentes sobre dupla coluna:Este tipo <strong>de</strong> claustro é composto por arcad<strong>as</strong> <strong>de</strong> ritmo sequente<strong>as</strong>sentes sobre colun<strong>as</strong> dupl<strong>as</strong>. São <strong>de</strong>ste tipo os claustros dosMosteiros <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong> e <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Almoster(Fig.186).abFig. 186 Claustros com arcad<strong>as</strong> do tipo II: Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong> (a) e Mosteiro <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Almoster (b). (fotografi<strong>as</strong> da autora)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALIII. Arcad<strong>as</strong> não sequentes com arcatura g<strong>em</strong>inadaEste tipo <strong>de</strong> claustro é composto por arcad<strong>as</strong> não sequentes comarcatura g<strong>em</strong>inada <strong>de</strong>vido à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se utilizar<strong>em</strong>, pilares oucontrafortes que sustivess<strong>em</strong> a cobertura abóbadada. Surge <strong>as</strong>simuma cadência ritmada <strong>de</strong> arcos g<strong>em</strong>inados que se apoiam <strong>em</strong>colun<strong>as</strong> (que po<strong>de</strong>m ser dupl<strong>as</strong> ou não) entre cada pilar ou entrecada contraforte. Este é o c<strong>as</strong>o dos Claustros dos Mosteiros <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Alcobaça, <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris e <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong>Portalegre (Fig. 187).ab313c<strong>de</strong>fFig. 187 Claustros com arcad<strong>as</strong> do tipo III: Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça(a, b), Mosteiro <strong>de</strong> S.Bernardo <strong>de</strong> Portalegre (c, d) e Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> C (e, f). (fotografi<strong>as</strong> da autora)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALIV. Arcad<strong>as</strong> sequentes sobre pilares:Este tipo <strong>de</strong> claustro é composto por arcad<strong>as</strong> <strong>de</strong> ritmo sequente<strong>as</strong>sentes sobre pilares. São <strong>de</strong>ste tipo os claustros dos Mosteiros <strong>de</strong> S.Cristóvão <strong>de</strong> Lafões, Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>, Santa Maria <strong>de</strong>Maceira Dão, S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o novo), S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong>Arouca, Santa Maria <strong>de</strong> Seiça, Nossa Senhora <strong>de</strong> Nazaré doMocambo, Nossa Senhora do Desterro e do Colégio do Espírito Santo(Fig. 188).314a b cd e fg h iFig. 188 Claustros com arcad<strong>as</strong> do tipo IV: Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões(a), Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Maceira Dão (b), mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o novo) (c), Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca (d),Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Seiça (e), Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>de</strong> Nazaré do Mocambo (f), Mosteiro <strong>de</strong>Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> (g), Colégio do Espírito Santo (h)e Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora do Desterro (i).(fotografi<strong>as</strong> da autora, excepto fotografi<strong>as</strong> d, e, i: DGEMN/IHRU)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALV. Colunata sob arquitrave:Este tipo <strong>de</strong> claustro é composto por uma colunata <strong>de</strong> ritmo sequentesobre a qual <strong>as</strong>senta uma arquitrave. Este tipo <strong>de</strong> claustro, <strong>de</strong>ntro dosmosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses, apen<strong>as</strong> aparece no Mosteiro <strong>de</strong>Nossa senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa (Fig. 189).abFig. 189 Claustros com arcad<strong>as</strong> do tipo V: Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora daAssunção <strong>de</strong> Tabosa (a,b). (fotografi<strong>as</strong> da autora)De facto, a funcionalida<strong>de</strong> do claustro é essencial ao cumprimento da vidacíclica vivida pelos monges ou monj<strong>as</strong> <strong>em</strong> clausura, como refere Nelson correiaBorges:“Comunicando com o ar livre, m<strong>as</strong> abrigado do pátio interno, <strong>as</strong>su<strong>as</strong> galeri<strong>as</strong> porticad<strong>as</strong> constituíam um resguardo para os ardoresdo verão e o vento gélido do inverno. Por ali circulam os mongesdurante o dia para cumprir os preceitos da regra, dirigindo-se àigreja ou às divers<strong>as</strong> <strong>de</strong>pendênci<strong>as</strong> claustrais que se articulam à suavolta. Ali se reún<strong>em</strong> antes e <strong>de</strong>pois do trabalho. Nos t<strong>em</strong>pos livres alip<strong>as</strong>seiam, meditam e rezam” 9Muitos dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses, na sua génese não possuíamsobreclaustro. 10 No entanto com o <strong>de</strong>correr do t<strong>em</strong>po começaram a surgirgaleri<strong>as</strong>, abert<strong>as</strong> ou fechad<strong>as</strong>, sobre o piso térreo a que correspon<strong>de</strong> o claustro.O sobreclaustro p<strong>as</strong>sava <strong>as</strong>sim a fazer parte da fachada arquitectónicado próprio claustro.Quanto à tipologia dos sobreclaustros, que se po<strong>de</strong>m ainda observar nosmosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses, po<strong>de</strong>mos dividi-los essencialmente <strong>em</strong> trêstipos:3159 BORGES, Nelson Correia; Op. cit; p. 3910 Para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> sobreclaustro ver: BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; pp. 38-39


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALI. Entablamento recto sobre colun<strong>as</strong> <strong>as</strong>sente <strong>em</strong> parapeitoEste tipo <strong>de</strong> sobreclaustro é composto por um entablamento rectoque <strong>as</strong>senta directamente sobre colun<strong>as</strong> ou colunelos que por suavez <strong>as</strong>sentam <strong>em</strong> parapeito ou balaustrada. O parapeito po<strong>de</strong>apresentar-se como um pano contínuo, como é o c<strong>as</strong>o dosobreclaustro do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Seiça, ou como umpano com abertur<strong>as</strong> ritmad<strong>as</strong> ou balaústres como é o c<strong>as</strong>o dosobreclaustro do Mosteiro <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> do Lorvão (Fig. 190).316abFig. 190 Sobreclaustros do tipo I: Mosteiro S. Mame<strong>de</strong> do Lorvão (a) e Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Seiça (b).(a. fotografia da autora, b. fotografia DGEMN/IHRU )II. Arcatura g<strong>em</strong>inada sobre colun<strong>as</strong> <strong>as</strong>sentes <strong>em</strong> parapeitoEste tipo <strong>de</strong> sobreclaustro é composto por uma arcatura g<strong>em</strong>inada,<strong>as</strong>sente numa coluna ou colunelo que <strong>as</strong>senta directamente <strong>em</strong>parapeito. A arcatura encontra-se confinada entre pilares oucontrafortes. O parapeito apresenta-se como um pano contínuo. São<strong>de</strong>ste tipo os sobreclaustros dos Mosteiros <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Alcobaça, S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre e S. Bento <strong>de</strong> Cástris (Fig. 191).a b cFig. 191 Sobreclaustros do tipo II: Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (a), Mosteiro <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre(b) e Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris (c). (fotografi<strong>as</strong> da autora)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALIII. Pano <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> r<strong>as</strong>gado por janelõesEste tipo <strong>de</strong> sobreclaustro é composto por um pano <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>continuo que é r<strong>as</strong>gado por janelões po<strong>de</strong>ndo seguir (ou não) oritmo previamente marcado pelo claustro. São <strong>de</strong>ste tipo ossobreclaustros dos Mosteiros <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>, S. Cristóvão<strong>de</strong> Lafões e S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o novo). Este último é o único quenão concilia <strong>as</strong> abertur<strong>as</strong> do sobreclaustro com a métrica doclaustro, ao contrário dos dois ex<strong>em</strong>plos referidos anteriormente(Fig.192)a b cFig. 192 Sobreclaustros do tipo III: Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> (a),Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões(b) Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o novo) (c). (fotografi<strong>as</strong> da autora)IV. Mimetismo ClaustralEste tipo <strong>de</strong> sobreclaustro é composto por uma réplica do claustroutilizando apen<strong>as</strong> uma guarda <strong>em</strong> ferro forjado (note-se que estesobreclaustro correspon<strong>de</strong> já à intervenção da Direcção Geral <strong>de</strong>Edifícios e Monumentos (DGEMN) na 1ª meta<strong>de</strong> do século XX. Esteex<strong>em</strong>plo, no âmbito dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses, apen<strong>as</strong>se encontra no Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca (Fig. 193).317aFig. 193 Sobreclaustros do tipo IV: Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca. (a) durantea execução do sobreclaustro, (b) sobreclaustro resultado da reconstrução final(fotografi<strong>as</strong> DGEMN/IHRU)b


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALV. Galeria abertaEste tipo <strong>de</strong> sobreclaustro é composto por uma galeria, a céu abertoe avarandada, que possuía um parapeito constituído por um panocontínuo po<strong>de</strong>ndo ter (ou não bancos) adjacentes ao mesmo(Fig.194). São <strong>de</strong>ste tipo os sobreclaustros dos Mosteiros S. Dinis <strong>de</strong>Odivel<strong>as</strong>, <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazaré do Mocambo e <strong>de</strong> S. Bento<strong>de</strong> Cástris. Este último possui os referidos bancos corridos eadjacentes ao lado interno do parapeito contínuo. É <strong>de</strong> salientar queo Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazaré do Mocambo,intervencionado pela Câmara Municipal <strong>de</strong> Lisboa no final do séculoXX, possui um pano contínuo que constitui o parapeito da galeria. Noentanto, <strong>de</strong> modo ritmado <strong>de</strong> acordo com a cadência d<strong>as</strong> arcad<strong>as</strong>claustrais, surg<strong>em</strong> esgrafitos 11 simulando guard<strong>as</strong> <strong>de</strong> ferro forjadoatravés do recurso a este tipo <strong>de</strong> tratamento cromático, tãocaracterístico <strong>de</strong> algum<strong>as</strong> cida<strong>de</strong>s do Sul <strong>de</strong> Portugal, como é o c<strong>as</strong>o<strong>de</strong> Évora. O Mosteiro <strong>de</strong> S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong> é a excepção à regra,uma vez que é <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> parapeito, apresentando apen<strong>as</strong> umaguarda <strong>de</strong> barr<strong>as</strong> metálic<strong>as</strong> verticais (Fig. 195).318abcdFig. 194 Sobreclaustros do tipo V: Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazaré do Mocambo (a, b),Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris (c,d) (fotografi<strong>as</strong> da autora, excepto (d): DGEMN/IHRU)11 Sobre esgrafitos consultar para mais informação AGUIAR, José; Cor e cida<strong>de</strong> histórica. Estudos cromáticos econservação do património; Publicações FAUP - Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Arquitectura da Universida<strong>de</strong> do Porto; 2002


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALFig. 195 Sobreclaustros do tipo V: Mosteiro <strong>de</strong> S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong> (fotografia da autora)319De facto, com o <strong>de</strong>correr do t<strong>em</strong>po a arquitectura palaciana (Fig.196) começaa impor-se sobre <strong>as</strong> regr<strong>as</strong> arquitectónic<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong> ao ser necessárioexpandir os espaços do mosteiro b<strong>em</strong> como possibilitar a fluida circulaçãonesses mesmos espaços. Refere Nelson Correia Borges:“A influência palaciana é cada vez mais notória, à medida que ot<strong>em</strong>po avança e os edifícios monásticos vão crescendo <strong>em</strong>ultiplicando <strong>as</strong> <strong>de</strong>pendênci<strong>as</strong>, criando por vezes pátios e claustrossecundários. O avanço e <strong>as</strong>sentamento dos beirados l<strong>em</strong>bra aarquitectura civil, m<strong>as</strong> ainda no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> Seiscentos e ao longo<strong>de</strong> todo o século XVIII, o sobreclaustro seculariza-se, <strong>em</strong> pouco<strong>de</strong>ferindo d<strong>as</strong> fachad<strong>as</strong> d<strong>as</strong> c<strong>as</strong><strong>as</strong> nobres urban<strong>as</strong>, com janel<strong>as</strong> <strong>de</strong>sacada e ferros <strong>de</strong> barra, <strong>em</strong> vez d<strong>as</strong> anteriores galeri<strong>as</strong>avarandad<strong>as</strong>” 1212 BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; p. 39


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALFig. 196 Janela do sobreclaustro do Mosteiro <strong>de</strong> S.Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (fotografia da autora)320Note-se que o claustro é para a arquitectura monástica o epicentro e localcom que todos os espaços confinam. É através <strong>de</strong>le que os monges faz<strong>em</strong> <strong>as</strong>ua circulação cumprindo a Regra. Como refere Nelson Correia Borges:“O claustro <strong>as</strong>sume-se como o coração <strong>de</strong> toda a estruturamonástica, como uma força centrípeta e or<strong>de</strong>nadora, <strong>de</strong>ntro daarquitectura monástica, <strong>em</strong> volta da qual se congregam todos osrestantes el<strong>em</strong>entos necessários a que a vida religiosa siga o seucurso regular.” 13Esq. 48 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa da fonte doclaustro (elaborada pela autora)13 BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; p. 34


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALO espaço central é geralmente quadrangular sendo ocupado por um jardim oupor um espaço ver<strong>de</strong>. Nele encontra-se a marcar a sua centralida<strong>de</strong>, umafonte (Esq. 48).No que respeita a este el<strong>em</strong>ento prepon<strong>de</strong>rante na arquitectura<strong>cister</strong>ciense po<strong>de</strong>-se afirmar que com o <strong>de</strong>correr do t<strong>em</strong>po ganhou contornoscada vez mais complexos aproximando-se mesmo da obra escultórica. Por ess<strong>em</strong>otivo os ex<strong>em</strong>plares encontrados actualmente nos mosteiros <strong>cister</strong>ciensesportugueses po<strong>de</strong>m ser cl<strong>as</strong>sificados <strong>de</strong> dois tipos:I. SimplesSão <strong>de</strong>ste tipo <strong>as</strong> fontes que mantém a sua horizontalida<strong>de</strong> sobre <strong>as</strong>ua verticalida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ndo possuir repuxos <strong>de</strong> água ou não. Sãotambém aquel<strong>as</strong> que se aproximam mais do conceito <strong>de</strong> poço doque <strong>de</strong> fonte. Dest<strong>as</strong> últim<strong>as</strong> faz<strong>em</strong> parte <strong>as</strong> fontes dos Mosteiros <strong>de</strong>Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça e <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazaré doMocambo pelos seus contornos circulares e <strong>de</strong> reduzida elevação.Pertenc<strong>em</strong> <strong>de</strong> igual modo a este tipo <strong>as</strong> fontes dos Mosteiros <strong>de</strong>Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong> e <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro (Fig. 197).321abcdFig. 197 Fontes tipo I.: Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro (a), Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>de</strong> Nazaré doMocambo (b), Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong> (c), Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (d) (fotografi<strong>as</strong>da autora)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALII. ComplexaSão <strong>de</strong>ste tipo <strong>as</strong> fontes constituíd<strong>as</strong> com el<strong>em</strong>entos complexos,prepon<strong>de</strong>rant<strong>em</strong>ente escultóricos, e que são contrapost<strong>as</strong>, na suacentralida<strong>de</strong>, por um el<strong>em</strong>ento vertical que po<strong>de</strong>ria possuir repuxos<strong>de</strong> água, ou não. São <strong>de</strong>ste tipo <strong>as</strong> fontes dos Mosteiros <strong>de</strong> São Pedrod<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o novo), S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca, Nossa Senhora daAssunção <strong>de</strong> Tabosa, S. Bento <strong>de</strong> Cástris, S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre, S.Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>, Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar, S. Mame<strong>de</strong> do Lorvão e S.Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (Fig. 198)322a b cd e fg h iFig. 198 Fontes tipo II.: Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o novo) (a), Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong>Arouca (b), Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa (c), Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris (d),Mosteiro <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre (e), Mosteiro <strong>de</strong> S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong> (f), Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Aguiar (g), Mosteiro <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> do Lorvão(h), Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (i). (fotografi<strong>as</strong> daautora, excepto (b) Ed. Gaud, (c) DGEMN/IHRU)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALEsq. 49 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa do lavabo(elaborada pela autora)O Lavabo ou lavatorium 14 encontra-se junto ao refeitório <strong>em</strong> pleno claustroacomodando-se <strong>de</strong> uma maneira geral ao vão <strong>de</strong> uma arcada da galeria doclaustro diante do refeitório (Esq. 49) <strong>de</strong> modo a permitir que os mongespu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> fazer aqui <strong>as</strong> su<strong>as</strong> abluções (Fig. 201). Também aqui, além <strong>de</strong>necessária, a imag<strong>em</strong> da água era simbólica como refere Terryl Kin<strong>de</strong>r:“Poche cose danno un immediato senso di pace, abbondanza eristoro come una fontana zampillante. Dal punto <strong>de</strong> vista spirituale,l’immagine <strong>de</strong>ll’acqua come fonte di vita e strumento dirinnovamento è ricorrente nell’immaginario cristiano. (...) La fontana(...) forniva una sorgente d’acqua pura all interno <strong>de</strong>llábbazia,talvolta l’unica.” 15De igual modo, como tantos outros el<strong>em</strong>entos do espaço monástico,englobando os el<strong>em</strong>entos constituintes dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses,vão sendo alterados e adaptados com o <strong>de</strong>correr do t<strong>em</strong>po. De facto po<strong>de</strong>mseconsi<strong>de</strong>rar dois tipos <strong>de</strong> lavabos nos mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses:I. ComplexoSão <strong>de</strong>ste tipo os lavabos que sobressa<strong>em</strong> d<strong>as</strong> arcad<strong>as</strong> claustraisencontrando abrigo numa construção geralmente octogonal. No seuinterior encontra-se uma fonte, que po<strong>de</strong> possuir <strong>de</strong> um a três níveis,na sua altura. Como refere Tobin, esta construção <strong>de</strong>sapareceu <strong>de</strong>qu<strong>as</strong>e todos os mosteiros <strong>cister</strong>cienses (não só dos portugueses) talvez<strong>de</strong>vido à sua fragilida<strong>de</strong>. 16 No panorama dos mosteiros <strong>cister</strong>ciensesportugueses este ex<strong>em</strong>plo apen<strong>as</strong> po<strong>de</strong> ser encontrado no Mosteiro<strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (Fig. 199).32314 TOBIN, Stephen; Op. cit. ; p.11615 KINDER, Terryl N.; Op. cit. ; 1998;p8316 TOBIN, Stephen; Op. cit ; p.116


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL324Fig. 199 Lavabo tipo I.: Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (fotografi<strong>as</strong> da autora)II. SimplesSão <strong>de</strong>ste tipo os lavabos que se acomodaram ao pano <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>próximo do refeitório, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ter o <strong>de</strong>staque inicial do volumeque sobressaia, <strong>de</strong> entre o espaço claustral imediatamente fronteiroao refeitório, e reduzindo-se a uma simples estrutura que apen<strong>as</strong>aparava a água corrente quando se abriam <strong>as</strong> torneir<strong>as</strong>. Esteslavabos são os que mais subsist<strong>em</strong> nos mosteiros <strong>cister</strong>ciensesportugueses. São <strong>de</strong>ste tipo os lavabos dos Mosteiros <strong>de</strong> Santa Maria<strong>de</strong> Maceira Dão, Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa, S. Cristóvão<strong>de</strong> Lafões, Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>, S. Bento <strong>de</strong> Cástris e <strong>de</strong> SantaMaria do Bouro (Fig. 200).


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALab325c<strong>de</strong>fFig. 200 Lavabo tipo II.: Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dão (a), Mosteiro <strong>de</strong>Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa(b), Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (c),Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro (d, e), Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> (e),Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris (f) (fotografi<strong>as</strong> da autora)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL326Fig. 201 Perspectiva e respectivo plano do lavabo <strong>de</strong> Fontenay, segundo <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> Viollet-le Duc 1717 Imag<strong>em</strong> retirada <strong>de</strong> BAGULE, Lucien; L’Abbaye <strong>de</strong> Fontenay et l’architecture <strong>cister</strong>cienne; A. Rey Imprimeur-Éditeur; Lyon 1912 ; p.36


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALO jardim claustral (Fig. 202) ou “hortus conclusus” era o local on<strong>de</strong> muit<strong>as</strong> vezesse cultivavam hort<strong>as</strong> e plant<strong>as</strong> medicinais para <strong>as</strong> botic<strong>as</strong>, árvores <strong>de</strong> fruto,flores para os altares (Fig. 203).Fig. 202 Laranjeir<strong>as</strong> do pátio do claustro do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça(fotografia da autora)327Fig. 203 Pátio do claustro do Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris (fotografia da autora)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALCom o Ren<strong>as</strong>cimento o jardim claustral é dotado <strong>de</strong> um certo “ar urbanizado”(Fig. 204) apresentando p<strong>as</strong>seios lajeados, muretes que conformam oscanteiros. 18 (Fig. 205)328Fig. 204 Pátio do claustro do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong> (fotografia da autora)Fig. 205 Pátio do claustro do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro (fotografia da autora)18 BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; p. 41


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALActualmente os jardins claustrais dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses estão<strong>de</strong>m<strong>as</strong>iado mo<strong>de</strong>rnizados e adulterados pela cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>, ou entãopelo seu abandono, e <strong>de</strong>sprovidos do seu uso inicial, pelo que não é possíveltipificá-los.No que respeita aos claustros medievais, não <strong>cister</strong>cienses, <strong>em</strong> geralNelson Correia Borges refere que:“O simbolismo do claustro era muit<strong>as</strong> vezes, na época medieval,sublinhado através da escultura e dos vitrais. A escultura confinav<strong>as</strong>e<strong>em</strong> geral aos capitéis, m<strong>as</strong> por vezes, revestia os fustes d<strong>as</strong>colun<strong>as</strong>, <strong>as</strong>sumindo também a forma <strong>de</strong> relevos autónomos e <strong>de</strong>escultura <strong>de</strong> vulto. Normalmente a t<strong>em</strong>ática versava motivosalusivos aos fundadores d<strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns, aos apóstolos, mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> vidacomunitária, à vida <strong>de</strong> Cristo e da Virg<strong>em</strong>, às virtu<strong>de</strong>s.” 19No entanto, alguns mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses adoptaram o cunho d<strong>as</strong>ua época, e da região on<strong>de</strong> se inseriam, abraçando algum simbolismoconfinado aos capitéis como é o c<strong>as</strong>o do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>com os seus capitéis historiados, do séc. XIV, que apresentam cen<strong>as</strong> da vida <strong>de</strong>Cristo (Fig. 206).329Fig. 206 Capiteis historiados do claustro do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong> (fotografia da autora)19 BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; p. 41


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALCom o advento da época mo<strong>de</strong>rna surg<strong>em</strong> <strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns clássic<strong>as</strong> e a expressãoiconográfica é levada para capel<strong>as</strong> <strong>de</strong>vocionais (Fig. 207 e 208). Comoigualmente refere Nelson Correia Borges:“A t<strong>em</strong>ática era, <strong>em</strong> geral, alusiva aos patriarc<strong>as</strong> d<strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns, m<strong>as</strong>aparec<strong>em</strong> igualmente cen<strong>as</strong> da paixão <strong>de</strong> Cristo, da vida dosSantos e alegori<strong>as</strong> morais. S<strong>em</strong>pre funcionou como el<strong>em</strong>entoindutor <strong>de</strong> misticismo, fervor religioso e propiciador <strong>de</strong> meditação eoração. (…) O significado místico e cont<strong>em</strong>plativo, vindo da épocamedieval, encontrou n<strong>as</strong> capel<strong>as</strong> e n<strong>as</strong> pare<strong>de</strong>s a ampliação quea espiritualida<strong>de</strong> seiscentista e setecentista lhe conferiu.” 20330Fig. 207 Capela <strong>de</strong>vocional no claustro do Mosteiro <strong>de</strong> S.Mame<strong>de</strong> do Lorvão (fotografia da autora)20 BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; p. 42


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALFig. 208 Capela <strong>de</strong>vocional no claustro do Mosteiro <strong>de</strong>Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (fotografia da autora)3315.1.2.SPIRITUSEsq. 50 Esqu<strong>em</strong>atização morfo-tipológica do SPIRITUS (elaborado pela autora)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALSe o Claustro (Esq. 50) é o epicentro do Mosteiro, <strong>em</strong> termosarquitectónicos e funcionais, a Igreja 21 é o coração, o epicentro do “corpus”monástico, isto é, o coração que faz pulsar o sangue que flui para o “ora etlabora”, é o centro anímico e espiritual do mosteiro. A igreja encontrava-seorientada <strong>em</strong> direcção ao levantar do sol, ao oriente, e era implantada noponto mais elevado do vale. A sul encontravam-se ancorad<strong>as</strong> <strong>as</strong> <strong>de</strong>mais<strong>de</strong>pendênci<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong>.De um modo geral a igreja <strong>cister</strong>ciense possui uma planta <strong>em</strong> cruz latina,disposta na maior parte dos c<strong>as</strong>os no lado norte do mosteiro, <strong>as</strong>sim comoapresenta uma ábsi<strong>de</strong> direccionada a oriente. Como refere Tobin:“L’abbatiale <strong>cister</strong>cienne gar<strong>de</strong> du plan bénédictin la croix latine,r<strong>em</strong>plaçant l’absi<strong>de</strong> s<strong>em</strong>i-circulaire <strong>de</strong> la tradition bénédictin et leplus récent déambulatoire en <strong>de</strong>mi-cercle avec ses chapellesabsidiales d’inspiration clunisienne, par un chœur <strong>de</strong> petite taille àchevet carré” 22 Esq. 51 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa do coro dos monges332(elaborada pela autora)Deste modo, <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> cruz latina, a igreja era composta geralmente portrês naves sendo a nave central subdividida no coro dos monges (chorusmonachorum), antes do transepto (Esq. 51), e no coro dos conversos (chorusconversorum). (Fig. 209)O coro dos monges ocupa <strong>as</strong>sim <strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> arcad<strong>as</strong> da nave central,diante da capela-mor, e presbitério (Fig. 210 - 211), seguindo-se o coro dos21 Para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Igreja ver: BANGO, Isidro; El mon<strong>as</strong>terio medieval; Ed. Anaya; Madrid; 1990; pp. 42-43 /KINDER, Terryl N.; I Cisterciensi – vita quotidiana, cultura, arte; Biblioteca di Cultura Medievale; col. Di Fronte eAttraverso; nº 468; Editoriale Jaca book spa; Milano; 1998; pp. 89 - 131 / KINDER, Terryl N.; L’Europe Cistercienne;col. Les formes <strong>de</strong> la nuit; Ed. Zodiaque; 1998 / BORGES, Nelson Correia; Arquitectura Monástica portuguesa naépoca mo<strong>de</strong>rna (not<strong>as</strong> <strong>de</strong> uma investigação) in MUSEU; IV série; nº7; 1998; pp. 53 - 55; TOBIN, Stephen; LesCisterciens – Moines et Mon<strong>as</strong>tères d’Europe; Les Éditions du Cerf; Paris 1995 ; pp. 88 - 10022 TOBIN, Stephen; Op. cit; p. 88


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALconversos (ou também apelidado <strong>de</strong> retrocoro), que se encontrava separadopor uma tribuna ou jubeu.a b c333d e fg h iFig. 209 Coro: (a)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro; (b) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>; (c) Mosteiro <strong>de</strong>S. João <strong>de</strong> Tarouca; (d) Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca; (e) Mosteiro <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão; (f,i)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cós; (g) Mosteiro <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre – coro inferior; (h) Mosteiro <strong>de</strong> S.Bernardo <strong>de</strong> Portalegre – coro superior (fotografi<strong>as</strong> da autora, excepto d: fotografia DGEMN/IHRU)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALa b cd e f334g h ij k lm n o


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALpqrs t u335v w xFig. 210-211 Altar-mor / Presbitério: (a)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães; (b) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Ermelo; (c) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro; (d) Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> águi<strong>as</strong>, o novo; (e) Mosteiro<strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o novo; (f) Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa; (g) Mosteiro <strong>de</strong>S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca; (h) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>; (i) Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong>Tarouca; (j) Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões; (k) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dão; (l) Mosteiro<strong>de</strong> Santa Maria da Estrela; (m) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Seiça; (n) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong>Júni<strong>as</strong>; (o) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar; (p) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>; (q) Mosteiro <strong>de</strong>Santa Maria <strong>de</strong> Cós; (r) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Almoster; (s) Mosteiro <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão; (t)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça; (u) Mosteiro <strong>de</strong> S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>; (v) Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong>Cástris; (w) Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>de</strong> Nazaré do Mocambo; (x) Mosteiro <strong>de</strong> S. Paulo <strong>de</strong> Almaziva(fotografi<strong>as</strong> da autora, excepto fotografi<strong>as</strong> DGEMN/IHRU: d,e,f,m,n,x)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALEsq. 52 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa da capela-mor(elaborada pela autora)Presbitério (presbiterium) é também o nome pelo qual se <strong>de</strong>signa a Capelamor,ou melhor o espaço que circunda o altar-mor (Esq. 52), e que ganhaimportância sobretudo a partir do século XVI, no seguimento do Concílio <strong>de</strong>Trento (1545-1563), <strong>as</strong>sim como outros el<strong>em</strong>entos tais como o púlpito, <strong>as</strong> capel<strong>as</strong>laterais e o órgão. 23 (Fig. 212)336a b c dFig. 212 Orgãos: (a)Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca; (b) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>; (c)Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca; (d) Mosteiro <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão (fotografi<strong>as</strong> da autora)O Jubeu separa <strong>as</strong>sim os coros <strong>de</strong> monges e <strong>de</strong> conversos sendo o local a partirdo qual se cantavam os salmos <strong>de</strong> Vigíli<strong>as</strong> e se faziam <strong>as</strong> leitur<strong>as</strong> da Epístola edo Evangelho. Jubeu provém da fr<strong>as</strong>e latina “Jube, Domine, benedicere” queera pronunciada pelo leitor quando subia a este el<strong>em</strong>ento e, antes <strong>de</strong> iniciar <strong>as</strong>ua leitura, pedia a bênção ao celebrante. 24 Os monges enfermos sentavam-se23 DIAS, Geraldo Coelho; Os Mosteiros e a organização dos Espaços: Arquitectura e Espiritualida<strong>de</strong>; textoinédito policopiado; 200624 Cfr. JORGE, Virgolino Ferreira; Organização Espacio-funcional da Abadia Cisterciense Medieva in “Act<strong>as</strong> do1º Encontro Cultural <strong>de</strong> São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões: As Beir<strong>as</strong> e a presença <strong>de</strong> Cister – Espaço, Património


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALjunto ao jubeu e os conversos enfermos sentavam-se próximos do lado poenteda igreja. 25Os el<strong>em</strong>entos exteriores à comunida<strong>de</strong> estavam confinados ao ladooci<strong>de</strong>ntal da igreja e às naves laterais.No que respeita à Igreja na Regra <strong>de</strong> S. Bento apen<strong>as</strong> se encontra comoreferência:“O oratório seja o que o seu nome indica e nenhuma outra coisa ali sefaça ou guar<strong>de</strong>. Findo o Ofício Divino, saiam todos <strong>em</strong> profundosilêncio, possuídos <strong>de</strong> reverência para com Deus; <strong>de</strong> modo que, sealgum irmão quiser continuar a orar <strong>em</strong> particular, não seja estorvadopela impertinência <strong>de</strong> outr<strong>em</strong>.” 26Segundo S. Bento o mosteiro é “...uma escola do serviço do Senhor.” 27 e aIgreja <strong>as</strong>sume-se como ponto fulcral <strong>de</strong>ste microcosmo pois é nela que omonge encontra o sentido da sua vida e concretiza a sua vocação estando<strong>em</strong> comunhão com Deus através do ofício divino e da liturgia. Como refereTerryl Kin<strong>de</strong>r:“(…) le chiese <strong>cister</strong>ciensi venivano progettate e construite comoluoghi di preghiera, di cont<strong>em</strong>plazione e di celebrazione liturgicaper le monache e i monaci che li abitavano. (...) i Cisterciensicercarono di creare un’atmosfera che favorisse lésperienza<strong>de</strong>ll’interiorizzazione, ossia il raggiungimento di Dio attraverso lapreghiera.” 28A utilização da igreja difere <strong>em</strong> muito da d<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns monástic<strong>as</strong> pois os<strong>de</strong>senvolvimentos da liturgia com <strong>as</strong> su<strong>as</strong> miss<strong>as</strong> <strong>de</strong> intercessão e procissõesforam reduzidos <strong>de</strong> modo av<strong>as</strong>salador. As consequênci<strong>as</strong> <strong>de</strong>sta diferenteutilização são perceptíveis no extr<strong>em</strong>o oriental do edifício pois <strong>de</strong>ste modo acapela-mor é quadrangular la<strong>de</strong>ada por du<strong>as</strong> capel<strong>as</strong> alinhad<strong>as</strong>, ao contráriod<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> on<strong>de</strong> existiam <strong>de</strong>ambulatórios e capel<strong>as</strong> radiais, <strong>as</strong>sim comotranseptos elaborados.A cor, quando utilizada n<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses, era o branco ou o brancosujo ou simplesmente a cor da pedra natural à vista. A nave central éfrequent<strong>em</strong>ente iluminada por vári<strong>as</strong> abertur<strong>as</strong> nos tramos perpendiculares aoeixo da igreja. Como refere Terryl Kin<strong>de</strong>r:337edificado, Espiritualida<strong>de</strong>.”; Socieda<strong>de</strong> do Mosteiro <strong>de</strong> São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões; São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões;2006; p.8125 TOBIN, Stephen; Op. cit.; p. 9326 Ver capítulo LII R.S.B. in Regra do Patriarca S. Bento; traduzido e anotado do latim pelos Monges <strong>de</strong>Singeverga; 2ª edição; Edições “Ora & Labora”; Mosteiro <strong>de</strong> Singeverga; Singeverga; 1992; p. 10727 Ver Prólogo in Regra do Patriarca S. Bento; traduzido e anotado do latim pelos Monges <strong>de</strong> Singeverga; 2ªedição; Edições “Ora & Labora”; Mosteiro <strong>de</strong> Singeverga; Singeverga; 1992; p. 1728 KINDER, Terryl N.; Op. cit; pp. 90-91


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL338“L’animazione è data dalla luce che si muove da est a ovestall’interno <strong>de</strong>lla costruzione nel corso <strong>de</strong>lla giornata, da un puntob<strong>as</strong>so sopra l’orizzonte a uno alto nel cielo man mano chedall’inverno si p<strong>as</strong>sa all’estate, da un netto contr<strong>as</strong>to di luci e ombrea una luce diffusa a seconda <strong>de</strong>l t<strong>em</strong>po. È un ritmo lento, e quest<strong>as</strong>tessa lentezza che gioca lungo le linee ben <strong>de</strong>finite<strong>de</strong>llárchitettura, può aiutare particolarmente chi tr<strong>as</strong>corre granparte <strong>de</strong>l t<strong>em</strong>po senza parlare a trovare l’armonia interiore checerca. (...)costruendo una chiesa secondo pricipi geometriciel<strong>em</strong>entari, limitando al minimo la <strong>de</strong>corazione ed evitando diricorrere agli el<strong>em</strong>enti figurativi o al colore (por lo meno nel modo incui all’epoca era impiegato altrove), l’edificio stesso <strong>de</strong>lla chiesaoffra un messaggio di simplicità, armonia, tranquilità che si proponedi essere <strong>as</strong>sorbito nello stile <strong>de</strong> vita – e, in ultima analisi, nel modod’essere – <strong>de</strong>l monaco o <strong>de</strong>lla monaca che lì prega.” 29N<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses utilizava-se na sua altura a razão “perfeita” agostiniana<strong>de</strong> 1:2 como refere von Simson “En ningún otro estilo <strong>de</strong> la arquitectura cristian<strong>as</strong>e hallaron patentes con tanta claridad l<strong>as</strong> razones «perfect<strong>as</strong>» agustinian<strong>as</strong>como en l<strong>as</strong> iglesi<strong>as</strong> <strong>de</strong> la Or<strong>de</strong>n Cisterciense.” 30 Com o <strong>de</strong>correr do t<strong>em</strong>potambém a própria planta da igreja se vai adaptando a distintos territórios,evoluindo para outr<strong>as</strong> soluções construtiv<strong>as</strong> e nov<strong>as</strong> espacialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cunhoregional do meio on<strong>de</strong> se inser<strong>em</strong>.Note-se que o coro nos mosteiros f<strong>em</strong>ininos apresenta-se <strong>de</strong> modo distintopois <strong>as</strong> monj<strong>as</strong> estavam obrigad<strong>as</strong> ao completo isolamento não só dosacerdote como dos <strong>de</strong>mais <strong>as</strong>sistentes do ofício. Assim o coro monásticof<strong>em</strong>inino era separado, por uma gra<strong>de</strong>, a gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> clausura (Fig. 213), oumesmo por uma pare<strong>de</strong> divisória, dos restantes espaços da igreja ou entãolocalizava-se numa galeria sobrelevada <strong>em</strong> relação à igreja. Como refere TerrylKin<strong>de</strong>r:“Un el<strong>em</strong>ento comune a tutte le chiese <strong>de</strong>lle abbazie f<strong>em</strong>minili è larigida separazione fra le monache e il clero, tale per cui l<strong>em</strong>onache partecipavano agli uffici da una tribuna o da una galleri<strong>as</strong>opraelevata, oppure erano separate dal celebrante mediante unagrata. Questa esigenza s<strong>em</strong>bra aver avuto più importanza di moltealtre consi<strong>de</strong>razioni e naturalmente limitava il disegno <strong>de</strong>lla chiesa.Com’è ovvio, il probl<strong>em</strong>a di proce<strong>de</strong>re alla ricostruzione peraumentare il numero di cappelle per la moltiplicazione <strong>de</strong>lle Messenon si presenta nelle c<strong>as</strong>e f<strong>em</strong>minile(...).” 3129 KINDER, Terryl N.; Op. cit.; pp. 92-9330 Cit. SIMSON, Otto von; La catedral gótica; Alianza Forma; Madrid; 2000; pp. 68-6931 KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p. 99


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALa b cd e fFig. 213 Gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> clausura: (a)Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca; (b) Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora daAssunção <strong>de</strong> Tabosa; (c) Mosteiro <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão; (d) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>; (e)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cós; Mosteiro <strong>de</strong> s. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre (fotografi<strong>as</strong> da autora, exceptofotografia b: DGEMN / IHRU )O coro d<strong>as</strong> monj<strong>as</strong> conforma-se no local oposto ao altar-mor, afirmando-seambos os espaços como dois pólos <strong>de</strong> fervor religioso. 32 Deste modocompreen<strong>de</strong>-se que a entrada do t<strong>em</strong>plo não seja axial, como nos m<strong>as</strong>culinos,m<strong>as</strong> sim lateral. No c<strong>as</strong>o dos mosteiros f<strong>em</strong>ininos cujo coro se encontrav<strong>as</strong>obreelevado, a entrada po<strong>de</strong>ria ser axial tal como nos mosteiros m<strong>as</strong>culinos.Deste modo, no que respeita aos mosteiros <strong>cister</strong>cienses f<strong>em</strong>ininos,apresentam-se três tipos <strong>de</strong> entrad<strong>as</strong> na Igreja:I. Acesso lateralSão <strong>de</strong>ste tipo os mosteiros cujo acesso, <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos exteriores àcomunida<strong>de</strong>, se faz por uma porta lateral r<strong>as</strong>gada directamente napare<strong>de</strong> da Igreja. São <strong>de</strong>ste tipo os Mosteiros <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cós,Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa e S. Pedro e S.Paulo <strong>de</strong>Arouca (Fig. 214).339cabFig. 214 Entrad<strong>as</strong> laterais característic<strong>as</strong> dos mosteiros f<strong>em</strong>ininos: Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cós (a), Mosteiro<strong>de</strong> Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa (b), Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca (c) (fotografi<strong>as</strong> daautora)32 BORGES, Nelson Correia; Op. cit; p.55


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALII. Acesso através <strong>de</strong> loggiaSão <strong>de</strong>ste tipo os mosteiros cujo acesso, <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos exteriores àcomunida<strong>de</strong>, se faz através <strong>de</strong> uma loggia que conduz a uma portalateral r<strong>as</strong>gada directamente na pare<strong>de</strong> da Igreja. São <strong>de</strong>ste tipo osMosteiros <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Almoster (vestígios), S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>e S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre (Fig. 215).ab340cdFig. 215 Entrad<strong>as</strong> laterais através <strong>de</strong> loggi<strong>as</strong>: Mosteiro <strong>de</strong> S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong> (a,b), Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Almoster - vestígios (c), Mosteiro <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre (d) (fotografi<strong>as</strong> da autora)III. Acesso indirecto com antecâmaraSão <strong>de</strong>ste tipo os mosteiros cujo acesso, <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos exteriores àcomunida<strong>de</strong>, se faz através <strong>de</strong> uma antecâmara prévia que conduzà porta da Igreja do mosteiro. São <strong>de</strong>ste tipo os Mosteiros <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>, S. Mame<strong>de</strong> do Lorvão, S. Bento <strong>de</strong> Cástris e NossaSenhora da Nazaré do Mocambo (Fig. 216).


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALab341cdFig. 216 Entrad<strong>as</strong> laterais, através <strong>de</strong> antecâmar<strong>as</strong>, nos mosteiros f<strong>em</strong>ininos: Mosteiro S. Mame<strong>de</strong> do Lorvão (a),Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris (b), Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong> (c), Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazarádo Mocambo (d) (fotografi<strong>as</strong> da autora)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALEsq. 53 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa do transepto(elaborada pela autora)342O transepto (Esq. 53) confinava com a ábsi<strong>de</strong> rectangular, <strong>de</strong> carácter sólido eaustero, era no presbitério que se celebrava a eucaristia. O transepto permitiadotar a igreja <strong>de</strong> uma maior espacialida<strong>de</strong> e luminosida<strong>de</strong> (Fig. 217), permitiatambém acolher capel<strong>as</strong> nos seus braços como refere Terryl Kin<strong>de</strong>r:“I transetti, anche se non obbligatori, rendono molto più spaziosal’estr<strong>em</strong>ità orientale <strong>de</strong>lla chiesa, cosa utile per la circolazione ingenere; inoltre erano un luogo adatto per ospitarecappelle rivolte aoriente e a volte anche per cappelle rivolte a occi<strong>de</strong>nte, per lacelebrazione <strong>de</strong>lle Messe private (...). Per alcuni uffici, i monaci cheerano stati di recente sottoposti al sal<strong>as</strong>so dovevano rimaneredavanti a un altare nel transetto.” 33a b cFig. 217 Transepto: Mosteiro Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>(a), Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca (b), Mosteiro <strong>de</strong>Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (c). (fotografi<strong>as</strong> da autora)33 KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p. 109


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALEsq. 54 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa do nártex(elaborada pela autora)Habitualmente a igreja não estava aberta ao público m<strong>as</strong> no entanto existiauma entrada específica, <strong>de</strong>stinada a el<strong>em</strong>entos exteriores à comunida<strong>de</strong>, nafachada principal da igreja, era o pórtico ou nártex. O nártex <strong>as</strong>sinala ap<strong>as</strong>sag<strong>em</strong> do mundo terreno ao local <strong>de</strong> culto sagrado (esq. 54).Os <strong>cister</strong>cienses reduziram o pórtico à sua expressão mais simples aocontrário dos cluniacenses (Fig. 218 e 219). Porém, alguns mosteiros <strong>cister</strong>ciensesapresentam um nártex significativo facto apen<strong>as</strong> compreendido pel<strong>as</strong>influênci<strong>as</strong> arquitectónic<strong>as</strong> do local e região on<strong>de</strong> se inseriam. Tobin refere que:“À l’extérieur <strong>de</strong> la faça<strong>de</strong> occi<strong>de</strong>ntale, <strong>de</strong> nombreuses églisesarborent une espèce <strong>de</strong> portique ou <strong>de</strong> narthex dont le but n’estp<strong>as</strong> immédiat<strong>em</strong>ent apparent. Les narthex ouvragés <strong>de</strong> la traditionclunisienne et bénédictine, prétendument construits pour offrir unabri aux pèlerins, sont un <strong>em</strong>prunt direct aux imposants ‘westwerk’ sicaractéristiques <strong>de</strong> l’architecture carolingienne <strong>de</strong>s VIII e et IX esiècles. IL s<strong>em</strong>ble probable qu’on admettait les portiques commefaisant partie intégrante <strong>de</strong> l’architecture <strong>de</strong> l’église mon<strong>as</strong>tique, etque ceux-ci jouaient un rôle dans les cérémonies et les processions,par ex<strong>em</strong>ple lorsqu’on allumait le cierge p<strong>as</strong>cal pendant la vigile <strong>de</strong>Pâques. Là encore, les Cisterciens se sont débarr<strong>as</strong>sés <strong>de</strong>s outranceset on réduit le portique à sa plus simple expression.” 3434334 TOBIN, Stephen; Op. cit.; p. 97


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALFig. 218 Nártex do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro (fotografia da autora)344Fig. 219 Reconstituição do nártex <strong>de</strong> Fontenay 3535 Imag<strong>em</strong> retirada <strong>de</strong> BAGULE, Lucien; L’Abbaye <strong>de</strong> Fontenay et l’architecture <strong>cister</strong>cienne; A. Rey Imprimeur-Éditeur; Lyon 1912 ; p.24


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALEsq. 55 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa da escada d<strong>as</strong>matin<strong>as</strong> (elaborada pela autora)Na pare<strong>de</strong> sul existia o acesso à sacristia 36 ou “vestiarium” e através <strong>de</strong> umaescadaria, apelidada <strong>de</strong> escada d<strong>as</strong> matin<strong>as</strong> (Esq. 55), tinha-se acesso aodormitório dos monges (Fig. 220). Segundo Tobin: “L’escalier <strong>de</strong>s matines est, laplupart du t<strong>em</strong>ps, la primière chose à avoir été démolie, ce qui explique laprésence énigmatique d’une porte à mi-hauteur d’un mur, ouvrant sur le vi<strong>de</strong>.” 37(Fig. 221)345Fig. 220 Escada d<strong>as</strong> Matin<strong>as</strong>, Abadia <strong>de</strong> Fontenay (arquivo da autora)36 Para uma <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> sacristia ver KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p. 133-13737 TOBIN, Stephen; Op. cit; p. 100


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALad346bcFig. 221 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça: transepto com abertura correspon<strong>de</strong>nte ao vão da escadad<strong>as</strong> matin<strong>as</strong> (a), vista do transepto através da abertura da escada d<strong>as</strong> matin<strong>as</strong> no dormitório (b), troço d<strong>as</strong>escad<strong>as</strong> d<strong>as</strong> matin<strong>as</strong> com vista para porção do dormitório (c); Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro: aberturacorrespon<strong>de</strong>nte às escad<strong>as</strong> d<strong>as</strong> matin<strong>as</strong> (síntese e fotografi<strong>as</strong> da autora)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALEsq. 56 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa da porta dosmonges (elaborada pela autora)Através <strong>de</strong> uma quarta porta, localizada próximo do coro e igualmente napare<strong>de</strong> sul, acedia-se ao claustro (esq. 56): era a porta dos monges (Fig. 222).347abcdFig. 222 Porta dos monges: Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> (a), Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães (b),Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca (fotografi<strong>as</strong> da autora)Na pare<strong>de</strong> norte abria-se a porta dos mortos (Esq. 57) que conduzia aoc<strong>em</strong>itério dos monges (Fig. 223). A morte, para um <strong>cister</strong>ciense, era o momento


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALesperado para o qual se tinha preparado durante toda a sua vida. Est<strong>em</strong>omento era entendido como a p<strong>as</strong>sag<strong>em</strong> do mundo terreno para o mundocelestial. Ou seja, como refere Terryl Kin<strong>de</strong>r: “un felice p<strong>as</strong>saggio da questomondo di pecato e di dolore alla felicità eterna <strong>de</strong>l mondo a venire. È dunquecomprensibili che il momento <strong>de</strong>l trap<strong>as</strong>so fosse accompagnato <strong>de</strong> ognisolennità.” 38ab348c<strong>de</strong>fFig. 223 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães: c<strong>em</strong>itério (a), porta dos mortos (b); Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong>Tarouca: c<strong>em</strong>itério (c, d); Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>: c<strong>em</strong>itério (e), porta dos mortos (f) (fotografi<strong>as</strong>da autora, excepto (e): DGEMN/IHRU)38 KINDER, Terryl N.; Op. cit; p.134


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALEsq. 57 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa da porta dosmortos (elaborada pela autora)No que respeita à igreja como um todo, nos mosteiros <strong>cister</strong>cienses portuguesesque chegaram até à cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>-se observar uma v<strong>as</strong>tautilização <strong>de</strong> tipologi<strong>as</strong> não ficando apen<strong>as</strong> vinculada à métrica e <strong>de</strong>senhoclaravalense o que v<strong>em</strong>, uma vez mais, <strong>de</strong>monstrar o que se v<strong>em</strong> afirmando: aexistência <strong>de</strong> um plano tipo m<strong>as</strong> com espaço para a singularida<strong>de</strong> regional epara a liberda<strong>de</strong> na aplicação d<strong>as</strong> i<strong>de</strong>i<strong>as</strong> <strong>de</strong> S. Bernardo.Deste modo, tanto no que respeita aos mosteiros f<strong>em</strong>ininos como aosmosteiros m<strong>as</strong>culinos, encontram-se plant<strong>as</strong> monoaxiais, biaxiais e centralizad<strong>as</strong>(Esq. 58).349SIMPLES(1 NAVE)S. P. P. AROUCAN. S. ASSUNÇÃO TABOSAS. MAMEDE LORVÃOMOSTEIROSFEMININOSMONOAXIALSTª Mª CÓSS. DINIS ODIVELASN. S. NAZARÉ MOCAMBOPLANTADAIGREJABIAXIALCOMPLEXO(3 NAVES)SIMPLES(1 NAVE)STª Mª ALMOSTERS. BERN. PORTALEGRES. BENTO CÁSTRISCENTRALIZADASTª Mª CELASEsq. 58 Tipologia d<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> d<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses f<strong>em</strong>inin<strong>as</strong> <strong>em</strong>Portugal (síntese e esqu<strong>em</strong>a elaborados pela autora)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALDeste modo os mosteiros f<strong>em</strong>ininos portugueses pertencentes à Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>Cister apresentam a igreja segundo três tipos distintos, segundo a sua planta:I. MonoaxialSão <strong>de</strong>ste tipo <strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> dos mosteiros cuja planta apresenta umúnico eixo, não possuindo transepto. As igrej<strong>as</strong> po<strong>de</strong>m ser monoaxiaissimples (se possuír<strong>em</strong> apen<strong>as</strong> uma nave) ou complex<strong>as</strong> (se possuír<strong>em</strong>mais do que uma nave, no c<strong>as</strong>o português, apresentam três naves).a b c d350e f g hklijFig. 224 Tipo <strong>de</strong> igreja monoaxial simples <strong>em</strong> Mosteiros f<strong>em</strong>ininos: Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca (a,e);Mosteiro <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão (b, f); Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cós (c,g); Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora daNazaré do Mocambo (d,h); Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa (i,j); Mosteiro <strong>de</strong> S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>(k,l) (b,c,d,e,h,l: fotografi<strong>as</strong> da autora; a,g,i,j: fotografi<strong>as</strong> DGEMN/IHRU; f: IPPAR/IGESPAR; k: fotografia CâmaraMunicipal <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALabFig. 225 Tipo <strong>de</strong> Igreja monoaxial complexa <strong>em</strong> mosteiros f<strong>em</strong>ininos: Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Almoster(fotografi<strong>as</strong> da autora)São do tipo monoaxial simples (apen<strong>as</strong> uma nave) <strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> dosMosteiros <strong>de</strong> S. Pedro e Paulo <strong>de</strong> Arouca, nossa Senhora da Assunção<strong>de</strong> Tabosa, S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão, Santa Maria <strong>de</strong> Cós, S. Dinis <strong>de</strong>Odivel<strong>as</strong>, Nossa senhora da Nazaré do Mocambo (Fig. 224). É do tipocomplexo (três naves) a igreja do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Almoster (Fig. 225).351a b cd e fFig. 226 Tipo <strong>de</strong> Igreja biaxial simples <strong>em</strong> Mosteiros f<strong>em</strong>ininos: Mosteiro <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre, (a)nave ecoro, (b) nave e altar-mor, (c) transepto; Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris, (d) nave e coro, (e) nave e altar-mor, (f)transepto (fotografi<strong>as</strong> da autora, excepto (b): DGEMN /IHRU e (c) Éditions Gaud)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALII. BiaxialSão <strong>de</strong>ste tipo <strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> dos mosteiros cuja planta apresenta doiseixos, possuindo <strong>de</strong>ste modo transepto. As igrej<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong>f<strong>em</strong>inin<strong>as</strong> <strong>de</strong>ste tipo apresentam-se como biaxiais simples, isto é,possuindo apen<strong>as</strong> uma nave e um transepto. São do tipo biaxialsimples <strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> dos Mosteiros <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris e <strong>de</strong> s. Bernardo<strong>de</strong> Portalegre (Fig. 226).III. CentralizadaSão <strong>de</strong>ste tipo <strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> dos mosteiros cuja planta apresenta um fococentral. No c<strong>as</strong>o d<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong> f<strong>em</strong>inin<strong>as</strong> est<strong>as</strong> apresentamapen<strong>as</strong> um foco <strong>as</strong>sociado a uma circunferência enquanto <strong>as</strong> igrej<strong>as</strong>monástic<strong>as</strong> <strong>de</strong>ste tipo apresentam mais do que um foco pois <strong>as</strong> su<strong>as</strong>plant<strong>as</strong> são elíptic<strong>as</strong>. Deste tipo, apen<strong>as</strong> o Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria<strong>de</strong> Cel<strong>as</strong> apresenta uma planta centralizada (Fig. 227).352a b c<strong>de</strong>Fig. 227 Tipo <strong>de</strong> Igreja <strong>de</strong> planta centralizada <strong>em</strong> Mosteiros f<strong>em</strong>ininos: Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>(fotografi<strong>as</strong> da autora, excepto (b,c): DGEMN /IHRU)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALSIMPLES(1 NAVE)STª Mª ERMELOSTª Mª JÚNIASS. PEDRO ÁGUIAS, o velhoS. PEDRO ÁGUIAS, o novoMONOAXIALCOL. ESPIRITO SANTOSTª Mª ESTRELAS. PAULO ALMAZIVAMOSTEIROSMASCULINOSCOMPLEXO(3 NAVES)STª Mª FIÃESPLANTADAIGREJACOMPLEXO(3 NAVES)STª Mª ALCOBAÇAABADIA VELHA SALZEDASSTª Mª SALZEDASS. JOÃO TAROUCABIAXIALSTª Mª AGUIARSTª Mª SEIÇAEXCEPÇÕESSTª Mª BOURO353CENTRALIZADAS. CRISTÓVÃO LAFÕESSTª Mª MACEIRA DÃOEsq. 59 Tipologia d<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> d<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses m<strong>as</strong>culin<strong>as</strong> <strong>em</strong>Portugal (síntese e esqu<strong>em</strong>a elaborados pela autora)Tal como os mosteiros f<strong>em</strong>ininos portugueses, pertencentes à Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister,também os mosteiros m<strong>as</strong>culinos portugueses, pertencentes à mesma Or<strong>de</strong>m,apresentam a igreja segundo três tipos distintos (Esq. 59), segundo a sua planta:I. MonoaxialSão <strong>de</strong>ste tipo <strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> dos mosteiros cuja planta apresenta umúnico eixo, não possuindo transepto. Como já foi referido para osmosteiros f<strong>em</strong>ininos, <strong>de</strong> igual modo, <strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> po<strong>de</strong>m ser monoaxiaissimples (se possuír<strong>em</strong> apen<strong>as</strong> uma nave) ou complex<strong>as</strong> (se possuír<strong>em</strong>mais do que uma nave, no c<strong>as</strong>o português, apresentam três naves).São do tipo monoaxial simples (apen<strong>as</strong> uma nave) <strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> dosMosteiros <strong>de</strong> Santa Maria do Ermelo (tendo <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos pertencido aotipo complexo pois ainda se po<strong>de</strong>m observar <strong>as</strong> marc<strong>as</strong> <strong>de</strong> trêsnaves, agora adaptad<strong>as</strong> às mais divers<strong>as</strong> necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALigreja <strong>de</strong> província, tendo mesmo <strong>de</strong>saparecido uma d<strong>as</strong> naves 39 ),Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>, S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (ovelho e o novo),Colégio do Espírito Santo, Santa Maria da Estrela, S. Paulo <strong>de</strong>Almaziva (Fig. 228). É do tipo monoaxial complexo (três naves) aigreja do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães (Fig. 229).a b c354d e fFig. 228 Mosteiros m<strong>as</strong>culinos com Igrej<strong>as</strong> <strong>de</strong> planta monoaxial: (a)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Ermelo; (b)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>; (c) Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o velho; (d) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Mariada Estrela; (e) Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o novo; (f) Mosteiro <strong>de</strong> S. Paulo <strong>de</strong> Almaziva (a,b,c,e,f:fotografi<strong>as</strong> da DGEMN/IHRU; d: fotografia da autora)abFig. 229 Mosteiro m<strong>as</strong>culino com igreja <strong>de</strong> planta monoaxial complexa: Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães(fotografi<strong>as</strong> da autora)39 Para mais informação sobre esta ocorrência consultar: BRAZ, António Manuel da Silva; O Mosteiro e a Igreja<strong>de</strong> Ermelo; Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia – Braga (Universida<strong>de</strong> Católica Portuguesa); Braga; 2009


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALII. BiaxialSão <strong>de</strong>ste tipo <strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> dos mosteiros cuja planta apresenta doiseixos, possuindo <strong>as</strong>sim transepto. As igrej<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong> m<strong>as</strong>culin<strong>as</strong><strong>de</strong>ste tipo apresentam-se como biaxiais complex<strong>as</strong>, isto é, possuindoum corpo <strong>de</strong> três naves e um transepto. São do tipo biaxial complexa(Fig. 231) <strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> dos Mosteiros <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça, SantaMaria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>, Abadia velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>, S. João <strong>de</strong> Tarouca,Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar, Santa Maria <strong>de</strong> Seiça (vestígios). Consi<strong>de</strong>ra-seuma excepção a planta do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro pois osbraços do transepto estão perfeitamente integrados na sequência<strong>de</strong> nichos <strong>de</strong> capel<strong>as</strong> laterais. No entanto como est<strong>as</strong> capel<strong>as</strong>apresentam p<strong>as</strong>sagens <strong>de</strong> um<strong>as</strong> para <strong>as</strong> outr<strong>as</strong> po<strong>de</strong>-se admitir aexistência <strong>em</strong> ambos os lados da nave central <strong>de</strong> uma navecolateral, perfazendo <strong>as</strong>sim <strong>as</strong> três naves que juntamente com aexistência <strong>de</strong> um transepto faz<strong>em</strong> parte <strong>de</strong>sta tipologia (Fig. 230).355abcdFig. 230 Mosteiro m<strong>as</strong>culino com igreja <strong>de</strong> planta biaxial complexa, c<strong>as</strong>o excepcional: Mosteiro <strong>de</strong> SantaMaria do Bouro (a) altar-mor, (b,d) sequência <strong>de</strong> capel<strong>as</strong> colaterais com p<strong>as</strong>sag<strong>em</strong>, (c) braço do transeptopelo qual se ace<strong>de</strong> à sacristia (fotografi<strong>as</strong> da autora)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALa b c356d e fg h ij k lFig. 231 Mosteiros m<strong>as</strong>culinos com igreja <strong>de</strong> planta biaxial complexa: (a,b,c) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Alcobaça; (d,e,f) Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca; (g,h,i) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>; (j,k,l) Mosteiro <strong>de</strong>Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar (fotografi<strong>as</strong> da autora)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALIII. CentralizadaSão <strong>de</strong>ste tipo <strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> dos mosteiros cuja planta apresenta um fococentral. No c<strong>as</strong>o d<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong> f<strong>em</strong>inin<strong>as</strong> est<strong>as</strong> apresentammais <strong>de</strong> um foco <strong>as</strong>sociados a uma forma elíptica enquanto <strong>as</strong>igrej<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong> f<strong>em</strong>inin<strong>as</strong> <strong>de</strong>ste tipo apresentam apen<strong>as</strong> um foco.São possuidores <strong>de</strong> planta centralizada os Mosteiros <strong>de</strong> S. Cristóvão<strong>de</strong> Lafões e Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dão (Fig. 232).ad357becfFig. 232 Mosteiros m<strong>as</strong>culinos com igreja <strong>de</strong> planta centralizada: (a,b,c) Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões;(d,e,f) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dão (fotografi<strong>as</strong> da autora)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL5.1.3.ANIMAEsq. 60 Esqu<strong>em</strong>atização morfo-tipologica da ANIMA (elaborado pela da autora)358A ala oriental era a ala dos monges (Esq. 60), como o nome indica, <strong>de</strong>dicadaaos monges do coro possuindo a sacristia, a biblioteca ou armarium, a sala docapítulo, o parlatório.A sacristia (vestiarium) encontra-se anexa à igreja, sendo geralmente <strong>de</strong>dimensões reduzid<strong>as</strong> (Esq. 61), aqui se guardam, <strong>as</strong> alfai<strong>as</strong> e os paramentoslitúrgicos utilizados pelos monges durante a missa (Fig. 233).Este era também o local on<strong>de</strong> o sacerdote se vestia e <strong>de</strong> transição entre aigreja e os <strong>de</strong>mais espaços monásticos para o monge que celebrava aeucaristia, como refere Terryl Kin<strong>de</strong>r:“Naturalmente la sacrestia era un luogo di sirvizio, ma al t<strong>em</strong>postesso, costituiva anche un’area di transizione psicologica, dove ilmonaco indossa gli abiti sacerdotali e si predispone mentalmente acelebrare la liturgia. Dopo essere uscito dalla chiesa ed esseri tolti iparamenti in sacrestia, la sua fonzione di celebrante<strong>de</strong>ll’Eucaristia.” 4040 Cfr. KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p.134


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALa b cd e fgh359iFig. 233 Sacristia: (a)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães; (b) Mosteiro <strong>de</strong> santa Maria do Bouro; (c) Mosteiro <strong>de</strong>Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>; (d) Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca; (e) Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões; (f)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça; (g) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cós; (h) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Almoster; (i) Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris (fotografi<strong>as</strong> da autora, exceptuando g: arquivo DGEMN/IHRU)Esq. 61 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa da sacristia(elaborada pela autora)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALEsq. 62 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa do armarium(elaborada pela autora)360A par do trabalho manual, a lectio divina e a meditação dos santos livros eraconsi<strong>de</strong>rada uma d<strong>as</strong> activida<strong>de</strong>s principais. A lectio monástica, <strong>de</strong> modoindividual ou <strong>de</strong> modo colectivo, faz parte integrante dos requisitos da vidacomunitária <strong>cister</strong>ciense. 41Por este motivo os monges <strong>cister</strong>cienses necessitavam da existência <strong>de</strong>uma biblioteca ou armarium <strong>de</strong> fácil acesso (Esq. 62).Este era geralmente um pequeno espaço adjacente à Sacristia e à Salado Capítulo, m<strong>as</strong> que dava directamente para o Claustro, sobretudo durante osprimeiros t<strong>em</strong>pos da Or<strong>de</strong>m (Fig. 234).Com o <strong>de</strong>correr do t<strong>em</strong>po <strong>as</strong> obr<strong>as</strong> litúrgic<strong>as</strong> e <strong>de</strong> interesse monástico<strong>cister</strong>cienseforam aumentando pelo que se tornou necessário construirbibliotec<strong>as</strong> <strong>de</strong> maiores dimensões tais como <strong>as</strong> conhec<strong>em</strong>os hoje, <strong>de</strong>stacandosea biblioteca do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça. Como refere NelsonCorreia Borges:“Na época mo<strong>de</strong>rna ganha especial relevo a biblioteca ou livrariaque, por influência da arquitectura palaciana, atinge <strong>em</strong> cert<strong>as</strong>c<strong>as</strong><strong>as</strong> grandiosida<strong>de</strong> invulgar, pela amplidão do espaço e riquezada <strong>de</strong>coração” 4241 Cfr. JORGE, Virgolino Ferreira; Op. cit; p.8242 BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; p.51


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALFig. 234 Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris: armarium(fotografia da autora)361O Scriptorium é um espaço amplo 43 e polivalente que era o local <strong>de</strong> trabalhodos copist<strong>as</strong> e <strong>de</strong> trabalhos intelectuais <strong>as</strong>sim como <strong>de</strong> leitura Esq. 63. M<strong>as</strong>também era on<strong>de</strong> os monges copist<strong>as</strong> se <strong>de</strong>dicavam a manufacturar os livroslitúrgicos e os textos necessários à vida espiritual da comunida<strong>de</strong>.O Scriptorium, ou sala dos monges, consistia geralmente num espaçoamplo e abobadado dividido <strong>em</strong> du<strong>as</strong> partes (Fig. 235), ao centro, por umafileira <strong>de</strong> pilares. 44 Ligada ao Scriptorium monástico está o n<strong>as</strong>cimento datipografia. Com o <strong>de</strong>correr do t<strong>em</strong>po surgirá a biblioteca que atingirá, como jáfoi referido, gran<strong>de</strong>s proporções.Inicialmente, a sala dos noviços podia localizar-se aqui ou nacontiguida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta sala comum <strong>de</strong> trabalho ou, então, noutro sítio fora dazona <strong>de</strong> clausura, separado dos monges. Como refere Terryl Kin<strong>de</strong>r:“In generale, comunque, è forse più opportuno consi<strong>de</strong>rare la salacomune <strong>de</strong>i monaci come un locale multifunzionale in cui ogniabbazia poteva svolgere varie attività a seconda <strong>de</strong>lle proprieesigenze, dall’instruzione <strong>de</strong>i novizi alla copiatura <strong>de</strong>i manoscritti. Lepossibilità sono numerose e senza dubbio sono mutate nel corso <strong>de</strong>i43 Cfr. KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p.148


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALsecoli, in funzione <strong>de</strong>lla transformazione <strong>de</strong>lle attività economiche<strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>tero e <strong>de</strong>l calo <strong>de</strong>lla popolazione mon<strong>as</strong>tica. Come moltialtri ambienti <strong>de</strong>ll’abbazia, la sala comune <strong>de</strong>i monaci sarebbestata adattata a nuovi usi.” 45Esq. 63 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa do scriptorium(elaborada pela autora)362Fig. 235 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça: Scriptorium ou salados monges (fotografia da autora)Numa pare<strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a <strong>de</strong>sta sala <strong>de</strong> trabalho abre-se uma porta <strong>de</strong> acesso aobloco d<strong>as</strong> latrin<strong>as</strong> (domus necessaria) 46 , <strong>as</strong> quais <strong>de</strong>scarregam para um curso<strong>de</strong> água inferior.44 TOBIN, Stephen; Op. cit.; p. 11045 Cfr. KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p.14846 Cfr. JORGE, Virgolino Ferreira; Op. cit.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALEsq. 64 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa do locutório(elaborada pela autora)A ênf<strong>as</strong>e do silêncio da palavra e o espírito do silêncio interior são valoresessenciais da vida monástica pois são entendidos como a melhor forma paraescutar Deus.363abFig. 236 Parlatório do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça: (a) ligação com o claustro, (b) interior -po<strong>de</strong>ndo ser observada ao fundo a porta que se opõe à do claustro entretanto dissimulada pelainstalação da loja do mosteiro neste espaço. (fotografia da autora)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL364O locutório ou parlatório 47 é o espaço on<strong>de</strong> se podia falar, ouvir ou transmitiruma mensag<strong>em</strong> verbal ao aba<strong>de</strong> ou ao prior, para distribuir <strong>as</strong> vári<strong>as</strong> taref<strong>as</strong>manuais doméstic<strong>as</strong> ou receber uma admoestação, isto é, apen<strong>as</strong> <strong>em</strong>circunstânci<strong>as</strong> especiais (Esq. 64).É também através <strong>de</strong>sta divisão que se fazia o acesso à zona posterior doedifício, ao jardim à enfermaria e à botica (Fig. 236). 48 Refere Terryl Kin<strong>de</strong>r que:“Di solito c’erano due parlatori o ‘auditoria’ (sale d’<strong>as</strong>colto), cosìchiamati perché i monaci non vi dovevano entrare se non perchéconvocati e, quando ciò aveniva, dovevano <strong>as</strong>coltare. Uno sitrovava vicino alla cucina ed era usato particolarmente dalcellerario quando si intratteneva con i conversi; l’altro, situatonell’ala orientale, dopo la sala capitolare, era riservato al priore.” 49Note-se que nos mosteiros f<strong>em</strong>ininos o locutório era também apelidado <strong>de</strong>“gra<strong>de</strong>s”, sendo este o único local on<strong>de</strong> se permitia o contacto d<strong>as</strong> monj<strong>as</strong>com pesso<strong>as</strong> estranh<strong>as</strong> à comunida<strong>de</strong>. 50 Como refere Nelson Correia Borges:“As restrições eram rigoros<strong>as</strong>, apen<strong>as</strong> permitindo que n<strong>as</strong> gra<strong>de</strong>s sepu<strong>de</strong>sse falar somente com pais, mães, irmãos e tios, restrições queeram extensiv<strong>as</strong> mesmo a educand<strong>as</strong> e seculares resi<strong>de</strong>ntes nosmosteiros. Mesmo a troca <strong>de</strong> presentes era condicionada pelaautorização da aba<strong>de</strong>ssa e, <strong>em</strong> cert<strong>as</strong> époc<strong>as</strong> do ano litúrgico,como a Quaresma e o Advento era proibido qualquer tipo <strong>de</strong>comunicação com o exterior. As gra<strong>de</strong>s ficavam s<strong>em</strong>pre contígu<strong>as</strong>à portaria”. 51Nos mosteiros f<strong>em</strong>ininos esta era uma sala dividida por du<strong>as</strong> gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ferrocom cerca <strong>de</strong> um metro <strong>de</strong> af<strong>as</strong>tamento entre si impedindo qualquer contactofísico. As visit<strong>as</strong> acediam por uma porta exterior enquanto <strong>as</strong> monj<strong>as</strong> acediampor um corredor interior. Segundo Nelson Correia Borges:“O crescente número <strong>de</strong> religios<strong>as</strong> nos séculos XVII e XVIII – época<strong>em</strong> que <strong>as</strong> famíli<strong>as</strong> eram numeros<strong>as</strong> e gran<strong>de</strong> parte d<strong>as</strong> menin<strong>as</strong>nobres e burgues<strong>as</strong> continuava a ser colocada na vida religiosa evisitada com frequência pelos parentes – fez aumentar aquantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gra<strong>de</strong>s <strong>em</strong> muitos mosteiros. Como ex<strong>em</strong>plo cite-seo c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> Arouca, que dispunha <strong>de</strong> 10 gra<strong>de</strong>s, e o <strong>de</strong> Lorvão, on<strong>de</strong>havia 8.” 5247 Cfr. KINDER, Terryl N.; Op. cit.; pp.144-14648 Cfr. JORGE, Virgolino Ferreira; Op. cit.49 Cfr. KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p.14650 BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; p.4451 I<strong>de</strong>m; p.4452 Ibi<strong>de</strong>m; p.44


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALEsq. 65 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa da Sala doCapitulo (elaborada pela autora)A Sala do Capitulo 53 é o local on<strong>de</strong> se reunia a comunida<strong>de</strong> monástica, paraouvir a leitura e explicação breve <strong>de</strong> um capítulo (caput) da regra <strong>de</strong> SãoBento <strong>as</strong>sim como escutar<strong>em</strong> a palavra do aba<strong>de</strong> (collationes) e discutir<strong>em</strong><strong>as</strong>suntos importantes <strong>de</strong> interesse para o próprio mosteiro (Esq. 65). Como referea Regra <strong>de</strong> S. Bento no seu capítulo III:“ Tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> vezes que no mosteiro houver algum <strong>as</strong>sunto importantea resolver, reúna o aba<strong>de</strong> toda a comunida<strong>de</strong> e diga do que setrata. (…) Se houver a tratar algum <strong>as</strong>sunto <strong>de</strong> menor importânciapara interesse do mosteiro, tome o aba<strong>de</strong> conselho somente comos mais velhos, conforme o que está escrito: ‘Faz tudo comconselho e, uma vez feito, não terás <strong>de</strong> te arrepen<strong>de</strong>r’ [Ecli.32,24]” 54A sala do capítulo é <strong>de</strong>pois da igreja o lugar <strong>de</strong> reunião mais importante esignificativo do mosteiro quer pela sua função, quer pelo seu uso.Também é o local on<strong>de</strong> se proce<strong>de</strong> a outros actos comunitários, tal comoa confissão pública <strong>de</strong> culp<strong>as</strong>, eleição do aba<strong>de</strong>, nomeação dos cargosprincipais e <strong>as</strong> tomad<strong>as</strong> <strong>de</strong> hábito. 5536553 Para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> sala do capítulo ver: BANGO, Isidro; El mon<strong>as</strong>terio medieval; Ed. Anaya; Madrid; 1990;pp. 46-47 / KINDER, Terryl N.; I Cisterciensi – vita quotidiana, cultura, arte; Biblioteca di Cultura Medievale; col.Di Fronte e Attraverso; nº 468; Editoriale Jaca book spa; Milano; 1998; pp. 137-144 / KINDER, Terryl N.; L’EuropeCistercienne; col. Les formes <strong>de</strong> la nuit; Ed. Zodiaque; 1998 / BORGES, Nelson Correia; Arquitectura Monásticaportuguesa na época mo<strong>de</strong>rna (not<strong>as</strong> <strong>de</strong> uma investigação) in MUSEU; IV série; nº7; 1998; pp. 52-5354 Ver capítulo III R.S.B. in Regra do Patriarca S. Bento; traduzido e anotado do latim pelos Monges <strong>de</strong>Singeverga; 2ª edição; Edições “Ora & Labora”; Mosteiro <strong>de</strong> Singeverga; Singeverga; 1992; pp. 28-29(parêntesis recto da autora)55 Cfr. JORGE, Virgolino Ferreira; Op. cit.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALa b cd e f366g h ij k lm n oFig. 237 Sala do Capítulo: (a)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro; (b) Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca; (c)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>; (d) Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões; (e,f) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Aguiar; (g) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong> (h,i) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça; (j) Mosteiro <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Almoster; (k,l) Mosteiro <strong>de</strong> S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>; (m) Mosteiro <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre; (n) Mosteiro<strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris; (o) Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazaré do Mocambo (fotografi<strong>as</strong> da autora,exceptuando b: arquivo Éditions Gaud)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALComo refere Terryl Kin<strong>de</strong>r:“Si tratta <strong>de</strong>lla ‘sala <strong>de</strong>lla comunità’ <strong>de</strong>lla abbazia, un importanteluogo di incontro e uno spazio carico di notevole significato. Qui sisvolgevano attività liturgiche, comm<strong>em</strong>orative, disciplinari e<strong>de</strong>ducative, e qui venivano discusse le questioni interne <strong>de</strong>ll’abbazia.La disposizione <strong>de</strong>lla sala – le aperture di acesso che dovevanopermettere alla luce di entrare e ai suoni di uscire – la <strong>de</strong>corazione el’organizzazione <strong>de</strong>llo spazio interno sono il reflesso <strong>de</strong>lle differentifunzioni di questo luogo. (...) Quando si dice che i monaci e l<strong>em</strong>onache sono ‘in Capitolo’, la fr<strong>as</strong>e <strong>as</strong>sume un significato piùampio, in quanto si riferisce sì all’<strong>as</strong>petto architettonico – la stanza insé -, ma anche a quella riunione che, atraverso la sua attività e le<strong>de</strong>cisioni prese, pl<strong>as</strong>ma tutta la vita <strong>de</strong>lla comunità mon<strong>as</strong>tica.” 56Geralmente a sala do capítulo apresenta uma planta quadrangular por razões<strong>de</strong> comodida<strong>de</strong> visual e acústica. Possuía bancos <strong>em</strong> toda a sua periferia(Fig.237). Devido a uma <strong>de</strong>cisão do Capítulo Geral <strong>de</strong> 1180, os aba<strong>de</strong>s tinham oprivilégio <strong>de</strong> ser aqui sepultados 57 .Depois do século XVII, <strong>em</strong> algum<strong>as</strong> c<strong>as</strong><strong>as</strong> monástic<strong>as</strong> ocupou outros locais.As abertur<strong>as</strong> existentes na pare<strong>de</strong> da sala do capítulo que confinam como claustro permit<strong>em</strong> não só a existência <strong>de</strong> luz natural m<strong>as</strong> também permitiamque os conversos e os noviços ouviss<strong>em</strong> alguns actos capitulares (Fig. 238 e 239).O Capítulo na vida comunitária era essencial para que esta se mantivesse<strong>em</strong> regra e sana (Fig. 240). Quando os capítulos começaram a diminuir e aper<strong>de</strong>r alguma da sua importância b<strong>as</strong>ilar, conduziram entre outros el<strong>em</strong>entosao aligeirar d<strong>as</strong> regr<strong>as</strong> e da vida <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong> no século XV.367Fig. 238 Abertur<strong>as</strong> da Sala do Capítulo do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Alcobaça (fotografia da autora)56 Cfr. KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p.13857 Cfr. JORGE, Virgolino Ferreira; Op. cit.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALFig. 239 Sala do Capítulo do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça(fotografia da autora)No entanto o capítulo é inteiramente restabelecido na vida comunitária, comos movimentos <strong>de</strong> reforma do século XVI e XVII, permitindo a existência <strong>de</strong>ste<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho fundamental no qual o capítulo se <strong>as</strong>sumia como o el<strong>em</strong>entoprincipal na vida quotidiana da comunida<strong>de</strong>. 58368Fig. 240 Abertur<strong>as</strong> da Sala do Capítulo do Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong>Tarouca <strong>em</strong> 1933 (actualmente <strong>de</strong>saparecid<strong>as</strong> encontrando-seapen<strong>as</strong> vestígios arqueológicos), 5958 Cfr. KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p.14059 Imag<strong>em</strong> retirada <strong>de</strong> VASCONCELOS, J. Leite <strong>de</strong>; M<strong>em</strong>óri<strong>as</strong> <strong>de</strong> Mondim da Beira; 2ª Edição <strong>em</strong> Fac-simile dolivro <strong>de</strong> 1933; Ed. Câmara Municipal <strong>de</strong> Tarouca; Tarouca; 2002; p.215


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALEsq. 66 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa da Escada dosMonges (elaborada pela autora)No piso superior da Ala dos monges, ao qual se acedia pel<strong>as</strong> escad<strong>as</strong> dosmonges 60 (Esq. 66) que se localizavam entre o locutório e o scriptorium, tambémchamada escada diurna (Fig. 241), encontrava-se o dormitório dos monges 61(Esq. 67) e <strong>as</strong> latrin<strong>as</strong>.369Fig. 241 Escad<strong>as</strong> dos Monges: Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (fotografi<strong>as</strong> da autora)60 Cfr. KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p.14461 Para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> sala do capítulo ver: BANGO, Isidro; Op. cit.; pp. 52 / BORGES, Nelson Correia; Op. cit.;pp. 47-49


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALEsq. 67 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa do Dormitório dosMonges (elaborada pela autora)370Como refere o capítulo XXII da Regra <strong>de</strong> S. Bento:“Durma cada qual <strong>em</strong> seu leito separado. Receba cada um a roupa<strong>de</strong> cama <strong>de</strong> harmonia com o teor da vida (monástica) e consoante<strong>as</strong> <strong>de</strong>terminações do aba<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong>ndo ser, durmam todos no mesmolugar; se porém, não for possível, por ser<strong>em</strong> muito numerosos,repous<strong>em</strong> <strong>em</strong> grupos <strong>de</strong> <strong>de</strong>z ou <strong>de</strong> vinte, com anciãos que olh<strong>em</strong>por eles. No dormitório haverá uma luz continuamente acesa, até <strong>de</strong>manhã.(…) Estejam os monges s<strong>em</strong>pre aprestados; e dado o sinallevant<strong>em</strong>-se s<strong>em</strong> <strong>de</strong>mora e dê<strong>em</strong>-se pressa por chegar cada qualprimeiro ao ofício divino, m<strong>as</strong> com toda a gravida<strong>de</strong> e modéstia.Os irmãos mais novos não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ter <strong>as</strong> cam<strong>as</strong> uns junto aosoutros, m<strong>as</strong> entr<strong>em</strong>ead<strong>as</strong> com <strong>as</strong> dos anciãos.” 62O dormitório dos monges nos primeiros séculos da vida monástica <strong>cister</strong>cienseera uma ampla sala, localizada no primeiro andar da ala n<strong>as</strong>cente do claustro(Fig. 242).Havia também uma ligação directa à igreja, através <strong>de</strong> uma porta abertana pare<strong>de</strong> do braço adjacente do transepto, como já foi anteriormentereferido, utilizada para ace<strong>de</strong>r aos ofícios nocturnos, era a escada d<strong>as</strong> matin<strong>as</strong>.As cam<strong>as</strong> dispunham-se perpendicularmente às pare<strong>de</strong>s laterais, ficandoa cabeceira junto à pare<strong>de</strong>. Segundo Nelson Correia Borges:“Este preceito, que proibia <strong>as</strong> cel<strong>as</strong> individuais, foi a pouco e poucosendo transgredido, apesar do rigor regral imposto pela reforma<strong>cister</strong>ciense. Por cel<strong>as</strong> individuais entendiam-se divisóri<strong>as</strong> fechad<strong>as</strong>com porta, provida <strong>de</strong> fechadura. Tolerava-se, portanto, aexistência <strong>de</strong> tabiques baixos a separar os leitos, expediente que62 Ver capítulo XXII R.S.B. in Regra do Patriarca S. Bento; traduzido e anotado do latim pelos Monges <strong>de</strong>Singeverga; 2ª edição; Edições “Ora & Labora”; Mosteiro <strong>de</strong> Singeverga; Singeverga; 1992; p. 65


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALaliás, foi também inicialmente combatido. (…) Finalmente, <strong>em</strong> 1666,o papa Alexandre VII, pela bula ‘In Supr<strong>em</strong>a’, autorizou aconstrução <strong>de</strong> cel<strong>as</strong> nos dormitórios, mobilad<strong>as</strong> commo<strong>de</strong>ração.” 63É possível, segundo Virgolino Jorge, que inicialmente, enquanto <strong>as</strong> obr<strong>as</strong> domosteiro não foss<strong>em</strong> concluíd<strong>as</strong>, o dormitório fosse comum para toda acomunida<strong>de</strong>.a b c371d e fgh i jFig. 242 Dormitório dos monges: (a)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça; (b,e) Mosteiro <strong>de</strong> S, João <strong>de</strong>Tarouca; (c,f) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cós; (d) Mosteiro <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão; (g,h) Mosteiro <strong>de</strong> SantaMaria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>; (i) Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca (j) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar(fotografi<strong>as</strong> da autora, exceptuando d,g,h,i: arquivo DGEMN/IHRU)63 BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; p.47


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALEsq. 68 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa d<strong>as</strong> latrin<strong>as</strong>(elaborada pela autora)Numa extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong> do dormitório, oposta à igreja, localizam-se <strong>as</strong> latrin<strong>as</strong>, o“necessarium” ou o “local d<strong>as</strong> necessida<strong>de</strong>s” do mosteiro medieval (Esq. 68). Namaior parte d<strong>as</strong> vezes era construído na continuação do dormitório m<strong>as</strong>também podia ser construído <strong>em</strong> ângulo recto <strong>em</strong> relação ao mesmo (Fig. 243e 244). Isto <strong>de</strong>pendia do aprovisionamento <strong>de</strong> água e da localização doscanais e levad<strong>as</strong> utilizados para a evacuação.372Fig. 243 Latrin<strong>as</strong> ou “necessarium” do Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões(fotografia da autora)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALRefere Terryl Kin<strong>de</strong>r:“Le latrine comunicavano con il dormitorio attraverso due porte,una per entrare e una per uscire, tra le quali è frequente trovareun’apertura o una finestra interna. (...) Nelle latrine, i monacidovevano mostrare il consueto pudore e <strong>de</strong>coro. ‘Quando vanno algabinetto’, recitano gli Ecclesi<strong>as</strong>tica officia, ‘<strong>de</strong>vono n<strong>as</strong>con<strong>de</strong>re ilvolto con il cappuccio (per quanto possibile) e se<strong>de</strong>rsi in modo chele maniche siano piegati di fronte a loro e la cocolla scenda sino aipiedi’ Viò vuol dire, in altre parole. Che tutte le parti <strong>de</strong>l corpo chefuoriuscivano dalla tunica – testa, mani e piedi – dovevano esserecoperte, al fine di preservare il più <strong>as</strong>soluto anonimato.” 64No entanto, <strong>as</strong> latrin<strong>as</strong> não existiam apen<strong>as</strong> nos dormitórios dos monges do coropois existiam noutr<strong>as</strong> partes do edificado monástico como o dormitório dosconversos e a enfermaria.373Fig. 244 Latrin<strong>as</strong> do Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões(fotografia da autora; planta e corte Prof. Virgolino Ferreira Jorge)64 Cfr. KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p.154


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL5.1.4.CORPUSEsq. 69 Esqu<strong>em</strong>atização morfo-tipológica CORPUS (elaborado pela autora)374O calefactório (calefactorium) era o local que proporcionava aquecimento(Esq. 70) ao mosteiro on<strong>de</strong> os monges se podiam aquecer (Fig. 245). Dest<strong>em</strong>odo era o local, à excepção da cozinha, on<strong>de</strong> era permitido fazer fogo paradiluir <strong>as</strong> tint<strong>as</strong> <strong>de</strong> escrita ou a cera e o sebo para o calçado (Fig. 246).Esq. 70 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa do calefactório(elaborada pela autora)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALabcFig. 245 Desenho d<strong>as</strong> chaminés do Calefactório <strong>de</strong> Fontenay (a) e <strong>de</strong> Noirlac (b). Desenho do Calefactório<strong>de</strong> Sénanque (c) 65375aFig. 246 Calefactório do Convento <strong>de</strong> Cristo <strong>em</strong> Tomar (fotografi<strong>as</strong> da autora)b65 Imagens retirad<strong>as</strong> <strong>de</strong> BAGULE, Lucien; L’Abbaye <strong>de</strong> Fontenay et l’architecture <strong>cister</strong>cienne; A. ReyImprimeur-Éditeur; Lyon 1912; pp.44-45 (a,b) correspon<strong>de</strong>m à p.44 e (c) à p.45


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALEsq. 71 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa do refeitório(elaborada pela autora)376O Refeitório dos Monges 66 é o local <strong>de</strong> reunião <strong>de</strong>stinado às refeições tomad<strong>as</strong><strong>em</strong> comunida<strong>de</strong> (Esq. 71). Situa-se na ala oposta à igreja e perpendicularmenteao claustro o que permitia a sua ampliação para o exterior <strong>as</strong>sim como aobtenção <strong>de</strong> uma maior e mais eficaz iluminação natural (Fig. 247). Comorefere Terryl Kin<strong>de</strong>r:“Quando le comunità si espan<strong>de</strong>vano e veniva intrapresa lacostruzione di un chiostro e <strong>de</strong>i suoi edifici circostanti, il refettorio <strong>de</strong>imonaci, così come gli altri ambienti che rispon<strong>de</strong>vano a necessitàdi natura corporale, pren<strong>de</strong>va posto nell’alla di fronte alla chiesa.Se la topografia lo permetteva, il refettorio <strong>cister</strong>ciense eraperpendicolare al chiostro, anziché parallelo, como acca<strong>de</strong> invecenella tradizione bene<strong>de</strong>ttina.Probabilmente questa diversa disposizione, che s<strong>em</strong>bra essersisviluppata in modo <strong>em</strong>pirico, aveva lo scopo di fare maggior spazioagli edifici <strong>de</strong>i conversi lungo l’ala occi<strong>de</strong>ntale e di permetterel’edificazione di una cucina che potesse servire sia al refettorio <strong>de</strong>iconversi che a quello <strong>de</strong>i monaci. (...) Lo spazio disponible lungo ilchiostro era necessariamente limitato e, poiché era di gran<strong>de</strong>praticità che la cucina, le dispense e il calefactorium fossero vicini,si <strong>de</strong>cise di far ruotare il refettorio di 90º e di construirlo versol’esterno, in senso perpendicolare al chiostro.” 6766 Para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Claustro ver: BANGO, Isidro; El mon<strong>as</strong>terio medieval; Ed. Anaya; Madrid; 1990; pp. 54-55/ KINDER, Terryl N.; I Cisterciensi – vita quotidiana, cultura, arte; Biblioteca di Cultura Medievale; col. Di Fronte eAttraverso; nº 468; Editoriale Jaca book spa; Milano; 1998; pp. 165-167 / KINDER, Terryl N.; L’Europe Cistercienne;col. Les formes <strong>de</strong> la nuit; Ed. Zodiaque; 1998 / BORGES, Nelson Correia; Arquitectura Monástica portuguesa naépoca mo<strong>de</strong>rna (not<strong>as</strong> <strong>de</strong> uma investigação) in MUSEU; IV série; nº7; 1998; pp. 50-51; TOBIN, Stephen; LesCisterciens – Moines et Mon<strong>as</strong>tères d’Europe; Les Éditions du Cerf; Paris 1995 ; p.11667 Cfr. KINDER, Terryl N.; Op. cit.; pp. 165-166


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALabcd377efghFig. 247 Refeitório: (a)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro; (b) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Maceira Dão; (c) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (d) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Salzed<strong>as</strong>; (e) Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões; (f) Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong>Arouca (antes d<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> da DGEMN (g) Mosteiro <strong>de</strong> S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>; (h) Mosteiro <strong>de</strong>Nossa Senhora da Nazaré <strong>de</strong> Mocambo (fotografi<strong>as</strong> da autora, exceptuando e, f:arquivo DGEMN/IHRU, g: Câmara Municipal <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>, h: Restaurante “A Travessa”)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALNo entanto exist<strong>em</strong> c<strong>as</strong>os quer pela sua especificida<strong>de</strong> a nível da implantaçãonum terreno extr<strong>em</strong>amente aci<strong>de</strong>ntado quer por ser<strong>em</strong> comunida<strong>de</strong>s com umreduzido número <strong>de</strong> monges nos quais o refeitório surge implantadoparalelamente à ala do claustro como se <strong>de</strong> um mosteiro beneditino <strong>de</strong>trat<strong>as</strong>se. É <strong>de</strong> salientar que o refeitório <strong>cister</strong>ciense não era um simples espaçoon<strong>de</strong> se punha uma mesa na qual se faziam <strong>as</strong> refeições, m<strong>as</strong> sim um espaçosantificado no qual se alimentava o corpo e a alma. No interior do refeitório <strong>as</strong>mes<strong>as</strong> são dispost<strong>as</strong> <strong>em</strong> “U” sendo os <strong>as</strong>sentos junto às pare<strong>de</strong>s (e apen<strong>as</strong> <strong>de</strong>sselado) libertando <strong>as</strong>sim o lado interior para circulação <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> serve <strong>as</strong>refeições. Por vezes o espaldar dos <strong>as</strong>sentos é <strong>de</strong>corado com azulejos (como éo c<strong>as</strong>o do mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões)378Esq. 72 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa do púlpito doleitor, no refeitório (elaborada pela autora)É <strong>de</strong> referir a existência no refeitório do púlpito do leitor 68 (Esq. 72), geralmentelocalizado na pare<strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal e com <strong>as</strong> escad<strong>as</strong> <strong>de</strong> acesso <strong>em</strong>bebid<strong>as</strong> naespessura da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> modo a não impedir n<strong>em</strong> alterar o equilíbrio daespacialida<strong>de</strong> do refeitório (Fig. 248).Fig. 248 Púlpito leitor existente no refeitório do Mosteiro<strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (fotografia da autora)68 ver: BANGO, Isidro; Op. cit.; p. 57 / BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; p. 57


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALEra do púlpito do leitor que se liam durante <strong>as</strong> refeições, cen<strong>as</strong> do martirológio,entre outros textos hagiográficos, <strong>de</strong> carácter bíblico ou espiritual. 69 (Fig. 249)Como refere o capítulo XXXVIII da Regra <strong>de</strong> S. Bento:“À mesa dos irmãos não <strong>de</strong>ve faltar a leitura. (…) Guar<strong>de</strong>-se [àmesa] absoluto silêncio, <strong>de</strong> forma que não se ouça murmúrio oupalavra <strong>de</strong> ninguém, a não ser somente a voz do leitor.” 70De igual modo refere Terryl Kin<strong>de</strong>r:“Il lettore settimanale si esercitava nella lettura <strong>de</strong>l testo durante imomenti <strong>de</strong>dicati alla lettura nel chiostro, per poter essere certo<strong>de</strong>lla pronuncia e <strong>de</strong>lla accentazione.A tavola bisognava osservare un silenzio rigoroso, e quindi gli oggettivenivano p<strong>as</strong>sati senza fare rumore, in modo da poter sentire bene illettore.” 71 a b379Fig. 249 Púlpito do Refeitório: (a) Mosteiro <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Alcobaça; (b) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria doBouro; (c) Mosteiro <strong>de</strong> S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>(fotografi<strong>as</strong> da autora excepto fotografia(c):arquivo da Câmara Municipal <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>)c69 Cfr. JORGE, Virgolino Ferreira; Op. cit.70 Ver capítulo XXXVIII R.S.B. in Regra do Patriarca S. Bento; traduzido e anotado do latim pelos Monges <strong>de</strong>Singeverga; 2ª edição; Edições “Ora & Labora”; Mosteiro <strong>de</strong> Singeverga; Singeverga; 1992; p. 8571 Cfr. KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p. 169


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALA cozinha (Esq. 73) encontrava-se qu<strong>as</strong>e s<strong>em</strong>pre anexa ao refeitório. Aespacialida<strong>de</strong> da cozinha adquire a sua importância consoante o número <strong>de</strong>monges que habitam o mosteiro (Fig. 250).Como refere o capítulo XXXV da Regra <strong>de</strong> S. Bento:“Sirvam-se os irmãos uns aos outros e ninguém seja dispensado doserviço da cozinha, a não ser por motivo <strong>de</strong> doença ou por estaralgum ocupado <strong>em</strong> cois<strong>as</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> utilida<strong>de</strong>. E que, com isto, seadquire maior merecimento e aumento <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>. Aos fracosdê<strong>em</strong>-se ajudantes, para que <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penh<strong>em</strong> este ofício s<strong>em</strong>tristeza. De resto, tenham todos qu<strong>em</strong> os aju<strong>de</strong>, consoante o exigir onúmero da comunida<strong>de</strong> e a situação do lugar”. 72De um modo geral a cozinha apresenta uma planta quadrada ou rectangulartal como salienta Nelson Correia Borges:“(…) é geralmente abobadada e com gran<strong>de</strong> chaminé, ou vári<strong>as</strong>,correspon<strong>de</strong>ndo cada uma à sua lareira. Entre os <strong>cister</strong>ciensespossui s<strong>em</strong>pre água encanada. (…) junto à cozinha situava-se <strong>em</strong>geral, o forno, também <strong>de</strong> dimensões a<strong>de</strong>quad<strong>as</strong> àcomunida<strong>de</strong>.” 73 (Fig. 251)380Esq. 73 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa da cozinha(elaborada pela autora)72 Ver capítulo XXXV R.S.B. in Regra do Patriarca S. Bento; traduzido e anotado do latim pelos Monges <strong>de</strong>Singeverga; 2ª edição; Edições “Ora & Labora”; Mosteiro <strong>de</strong> Singeverga; Singeverga; 1992; p. 8073 BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; p.51


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALa b c381d e fg h iFig. 250 Cozinha: (a,b,c,f) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (d) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro; (e)Mosteiro <strong>de</strong> S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>;; (g) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dão; (h) Mosteiro <strong>de</strong> S. Paulo e S.Pedro <strong>de</strong> Arouca; (i)Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (fotografi<strong>as</strong> da autora excepto fotografia (h):arquivoÉditions Gaud)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALa b cd e f382g h iFig. 251 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro: (a) interior da chaminé, (d) forno, (g) volume externo da chaminé;Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dão: (b,e) forno, (h) interior da chaminé; Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong>Júni<strong>as</strong>; (c) forno e chaminé, (f) volume exterior da cozinha; Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões: interior dachaminé (fotografi<strong>as</strong> da autora, excepto fotografia (f):arquivo DGEMN/IHRU)Deste modo, a cozinha, localiza-se no extr<strong>em</strong>o da ala sul, comunicando com orefeitório dos monges e com o refeitório dos conversos, geralmente através <strong>de</strong>uma “roda” ou “ministra” (Fig. 252 e 253), uma espécie <strong>de</strong> p<strong>as</strong>sa-pratos,servindo <strong>as</strong>sim toda a comunida<strong>de</strong> monástica. As refeições confeccionad<strong>as</strong> nacozinha adquir<strong>em</strong> relevante importância como se po<strong>de</strong> observar no capítuloXXXVIII da Regra <strong>de</strong> S. Bento:“Parece-nos, que serão suficientes <strong>em</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> mes<strong>as</strong>, para arefeição diária – quer se coma à sexta hora, quer à nona – doiscozinhados, <strong>em</strong> atenção às divers<strong>as</strong> enfermida<strong>de</strong>s, para que <strong>as</strong>simqu<strong>em</strong> não po<strong>de</strong>r comer dum, possa comer do outro. Portanto atodos os irmãos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> b<strong>as</strong>tar dois pratos <strong>de</strong> cozinhado. E, se houver


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALfruta ou legumes frescos ajunte-se um terceiro. (…) Às crianç<strong>as</strong> <strong>de</strong>pouca ida<strong>de</strong> não se <strong>de</strong>ve dar a mesma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimentos,m<strong>as</strong> sim menos que aos adultos, guardando-se <strong>em</strong> tudo sobrieda<strong>de</strong>.Da carne <strong>de</strong> quadrúpe<strong>de</strong>s todos se abstenham <strong>em</strong> absoluto,excepto os enfermos extr<strong>em</strong>amente fracos.” 74ab383cdFig. 252 El<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> comunicação entre a cozinha e o refeitório. Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Maceira Dão (a) lado do refeitório, (b) lado da cozinha; Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (c)lado do refeitório, (d) lado da cozinha (fotografi<strong>as</strong> da autora)abFig. 253 Roda, el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> comunicação entre a cozinha e o refeitório.Mosteiro <strong>de</strong> S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong> (a)lado da cozinha, (b) lado do refeitório(fotografi<strong>as</strong>: arquivo da Câmara Municipal <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>)74 Ver capítulo XXXVIII R.S.B. in Regra do Patriarca S. Bento; traduzido e anotado do latim pelos Monges <strong>de</strong>Singeverga; 2ª edição; Edições “Ora & Labora”; Mosteiro <strong>de</strong> Singeverga; Singeverga; 1992; pp. 86-88


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALDe facto são (Fig. 254) pouc<strong>as</strong> <strong>as</strong> cozinh<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses primitiv<strong>as</strong> quechegaram até aos nossos di<strong>as</strong> quer pela evolução d<strong>as</strong> necessida<strong>de</strong>s dacomunida<strong>de</strong> quer por ser um lugar propenso a incêndios como refere TerrylKin<strong>de</strong>r:“Ci sono tre importanti ragioni per cui si sa relativamente poco sullecucine <strong>de</strong>l XII secolo, sia nelle abbazie <strong>cister</strong>ciensi che altrove.Innanzi tutto, nelle cucine cérano <strong>de</strong>i forni e <strong>de</strong>i focolari, e gliincendi rappresentavano un pericolo constante; a volte le cucinedovevano essere ricostruite a causa di inci<strong>de</strong>nti e quindi ben prestovennero regolarmente coperte con volti di pietra. In secondoluogo, la tecnica in questo campo progredì i secoli e ovunque siprepar<strong>as</strong>se il cibo per una comunità numerosa doivenne normalebeneficiare di tali progressi. Infine, era inevitabile la periodic<strong>as</strong>ostituzione di strutture e di materiali che venivano usatiquotidianamente in modo cisì intensivo” 75 (Fig. 255)384Fig. 254 Cozinha, <strong>em</strong> ruín<strong>as</strong>, do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong>Júni<strong>as</strong> na primeira meta<strong>de</strong> do século XX(arquivo DGEMN/IHRU)75 Cfr. KINDER, Terryl N.; Op. cit.; pp.163-64


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALNa Apologia encontra-se a dissertação teórica d<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> entre <strong>as</strong> du<strong>as</strong>observânci<strong>as</strong> da Regra Beneditina que <strong>de</strong>ste modo opunham “beneditinoscluniacenses” a “beneditinos <strong>cister</strong>cienses”, monges negros a monges brancos.É curioso o facto <strong>de</strong> nesta carta, pequeno tratado sobre os preceitos<strong>cister</strong>cienses, encontrarmos algum<strong>as</strong> d<strong>as</strong> pouc<strong>as</strong> observações feit<strong>as</strong> por SãoBernardo relativamente à arte e arquitectura Cisterciense. É ainda mais curiosoencontrar o registo d<strong>as</strong> “utilizações g<strong>as</strong>tronómic<strong>as</strong>” dos ovos (Fig. 257) nummosteiro sendo sugerida uma longa lista d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> variantes culinári<strong>as</strong> <strong>as</strong>simcomo dos cuidados a ter com a ingestão da bebida.Fig. 255 Cozinha do Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca: recriação da culinária medieval(arquivo da autora)385Fig. 256 Cozinha do Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca:recriação da culinária medieval (arquivo da autora)E como é óbvio, seria com <strong>as</strong> erv<strong>as</strong> medicinais, da horta monástica, que sefaziam, na botica, <strong>as</strong> mezinh<strong>as</strong> e preparados para solucionar os hipotéticosprobl<strong>em</strong><strong>as</strong> gástricos <strong>de</strong> tal excesso. Como refere São Bernardo na sua violentacrítica:“A barriga, s<strong>em</strong> dar por ela vai-se enchendo, m<strong>as</strong> a varieda<strong>de</strong> tira of<strong>as</strong>tio. Com efeito enf<strong>as</strong>tiamo-nos dos alimentos puros, como a


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL386natureza os criou, enquanto <strong>de</strong> muitos modos, se faz<strong>em</strong> mistur<strong>as</strong>dum<strong>as</strong> cois<strong>as</strong> com outr<strong>as</strong>, e <strong>de</strong>sprezando os sabores naturais queDeus lhes incutiu, provoca-se a gula com sabores adulterados,p<strong>as</strong>sam-se os limites do necessário e n<strong>em</strong> <strong>as</strong>sim se supera o prazer.Qu<strong>em</strong> seria capaz <strong>de</strong> dizer <strong>de</strong> quantos modos, para calar os <strong>de</strong>mais,só os ovos se <strong>de</strong>itam e bat<strong>em</strong>, com que cuidado se viram, se reviram,mal p<strong>as</strong>sados, b<strong>em</strong> p<strong>as</strong>sados, se reduz<strong>em</strong> e se serv<strong>em</strong> ora cozidos,ora estrelados, ora recheados, ora mexidos, ora sós? Para quê tudoisto, senão para prevenir o f<strong>as</strong>tio? Depois, cuida-se <strong>em</strong> fazeraparecer à vista a qualida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> cois<strong>as</strong> para que uma pessoa nãose <strong>de</strong>leite menos na apresentação que no gosto e quando já oestômago se mostra cheio com gran<strong>de</strong>s arrotos ainda não se satisfeza curiosida<strong>de</strong>. M<strong>as</strong> quando os olhos são seduzidos pel<strong>as</strong> cores, opaladar pelos sabores, o pobre estômago, que n<strong>em</strong> conhece <strong>as</strong>cores n<strong>em</strong> aprecia os sabores, é obrigado a receber tudo eviolentado, fica mais sobrecarregado do que refeito.(…) Já agora, que direi da bebida da água, quando <strong>de</strong> maneiranenhuma, se admite vinho aguado? Todos, sobretudo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quesomos monges, t<strong>em</strong>os um estômago débil (…). M<strong>as</strong> quando <strong>as</strong> vei<strong>as</strong>estiver<strong>em</strong> saturad<strong>as</strong> <strong>de</strong> álcool e toda a cabeça a palpitar,levantando-se da mesa que é que apetece senão dormir? Ora se ésobrigado a levantar-te para <strong>as</strong> vigíli<strong>as</strong> com a digestão por fazer, nãoexecutarás o canto m<strong>as</strong> antes o pranto.” 76abFig. 257 Doces típicos <strong>de</strong> Arouca que ainda hoje se confeccionam com b<strong>as</strong>e n<strong>as</strong> receit<strong>as</strong>d<strong>as</strong> monj<strong>as</strong> do Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca: c<strong>as</strong>tanh<strong>as</strong> <strong>de</strong> ovos e morcel<strong>as</strong>doces (arquivo da autora)76 DIAS, Geraldo Coelho (apresentação, tradução e not<strong>as</strong>); Bernardo <strong>de</strong> Claraval. Apologia para Guilherme,Aba<strong>de</strong>; Fundação Eng. António <strong>de</strong> Almeida; Porto; 1997; p.51-53


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALFig. 258 Cozinha <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro, actualmente restaurante da Pousada <strong>de</strong> SantaMaria do Bouro. A mesa d<strong>as</strong> sobr<strong>em</strong>es<strong>as</strong> é a antiga mesa <strong>de</strong> pedra da cozinha (fotografia daautora)387Fig. 259 Cozinha <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça, pia on<strong>de</strong> corria agua directamente retirada<strong>de</strong> um <strong>de</strong>svio do rio (fotografia da autora)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL5.1.5.DOMUS CONVERSORUMEsq. 74 Esqu<strong>em</strong>atização morfo-tipológica DOMUS CONVERSORUM (elaborado pela autora)388A ala oci<strong>de</strong>ntal ou Domus Conversorum (Esq. 74) era reservada aos conversosencontrando-se ao nível do piso térreo o celeiro, a entrada, o refeitório dosconversos, o corredor ou “ruela” (Esq. 75) dos conversos e no piso superiorencontravam-se os seus dormitórios e latrin<strong>as</strong>. Como refere Terryl Kin<strong>de</strong>r:“È comprensibile, dunque, che la storia architettonica <strong>de</strong>ll’alaocci<strong>de</strong>ntale <strong>de</strong>l chiostro rifletta la storia instituzionale <strong>de</strong>i conversi.Nel XII e nel XIII secolo, quando fu edificata la maggior parte <strong>de</strong>lleabbazie, si rese necessaria una a<strong>de</strong>guata sist<strong>em</strong>azione peraccogliere un’importante forza lavoro.” 77Esq. 75 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa do corredordos conversos (elaborada pela autora)77 Cfr. KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p. 178


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALAs “ruel<strong>as</strong> dos conversos” começam a surgir cerca <strong>de</strong> 1150 no entanto n<strong>em</strong>s<strong>em</strong>pre se encontra este el<strong>em</strong>ento morfo-tipológico, pelo que se po<strong>de</strong> dizerque por vezes eram inexistentes ou então não foram consi<strong>de</strong>rad<strong>as</strong> aquando aconstrução do mosteiro, seja por ter sido reaproveitado um edifíciopreviamente existente. Nest<strong>as</strong> situações <strong>de</strong> inexistência <strong>de</strong> corredor <strong>de</strong>conversos o lado do claustro que lhes correspon<strong>de</strong> é s<strong>em</strong>pre cego. 78389Fig. 260 “Ruela” interior do Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris(fotografia da autora)O corredor dos conversos é uma p<strong>as</strong>sag<strong>em</strong> paralela à ala oci<strong>de</strong>ntal doclaustro, que estabelece a separação entre a zona dos monges e a dos irmãosconversos. No entanto permite <strong>as</strong> ligações entre <strong>as</strong> <strong>de</strong>pendênci<strong>as</strong> dosconversos e a igreja, a cozinha e o exterior do mosteiro (Fig. 260) como refereTobin:78 Ver FERGUSSON, Peter; Les Cisterciens et le Roman in “ Citeaux 1098 – 1998, L’Épopée Cistercienne – Dossiersd’Archeologie”; n. 229; Dec. 97 – Jan. 98; p. 46


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL“(…) ils doivent utiliser cette étroite ruelle qui longe l’alléeocci<strong>de</strong>ntale du cloître mais en est complèt<strong>em</strong>ent séparée par unmur, afin que les contacts entre les moines <strong>de</strong> chœur, souventd’origine noble, et les frères convers illettrés, <strong>de</strong> plus humbleextraction, soient les moins nombreux possible.” 79Esq. 76 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa do refeitóriodos conversos (elaborada pela autora)390O Refeitório dos conversos situa-se na extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong> da ala poente (Esq. 76),oposta à igreja e próxima da cozinha, <strong>em</strong> disposição perpendicular ao claustro,tal como o refeitório dos monges.Esq. 77 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa do celeiro(elaborada pela autora)O celeiro era o armazém geral <strong>de</strong> víveres e dos utensílios correntes do mosteiro,era também o local on<strong>de</strong> se recebiam os géneros alimentícios (Esq. 77). Oceleireiro <strong>as</strong>sume <strong>as</strong> funções <strong>de</strong> maior dificulda<strong>de</strong> e responsabilida<strong>de</strong> na79 TOBIN, Stephen; Op. cit.; p. 97


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALadministração quotidiana do mosteiro logo a seguir ao aba<strong>de</strong> (Fig. 261 e 262).Segundo o capitulo XXXI da Regra <strong>de</strong> S. Bento:“ Para celeireiro do mosteiro <strong>de</strong>ve-se escolher <strong>de</strong> entre os irmãos umque seja sábio, maduro <strong>de</strong> costumes, sóbrio, não <strong>de</strong> muito comer,n<strong>em</strong> orgulhoso, n<strong>em</strong> turbulento, n<strong>em</strong> injuriador, n<strong>em</strong> indolente, n<strong>em</strong>pródigo, m<strong>as</strong> t<strong>em</strong>ente a Deus e que seja como um pai para toda acomunida<strong>de</strong>. (…) Consi<strong>de</strong>re-se tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> alfai<strong>as</strong> e fazenda do mosteirocomo se foss<strong>em</strong> v<strong>as</strong>os sagrados do altar. Nada lhe pareça <strong>de</strong>pequena monta. Não seja n<strong>em</strong> avarento n<strong>em</strong> pródigo e dissipadordos bens do mosteiro; m<strong>as</strong> tudo faça com peso e medida, consoante<strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns do aba<strong>de</strong>.” 80391Fig. 261 Celeiro do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (fotografia da autora)Fig. 262 Interior do Celeiro do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça,actualmente sala <strong>de</strong> exposições e <strong>de</strong> ensaio para um a companhia <strong>de</strong> dançaalcobacense (fotografia da autora)80 Ver capítulo XXXI R.S.B. in Regra do Patriarca S. Bento; traduzido e anotado do latim pelos Monges <strong>de</strong>Singeverga; 2ª edição; Edições “Ora & Labora”; Mosteiro <strong>de</strong> Singeverga; Singeverga; 1992; p. 75


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALEsq. 78 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa do dormitóriodos conversos (elaborada pela autora)392No piso superior da ala dos conversos encontra-se o dormitório dos conversos(Esq. 78). Este dormitório, tal como o dormitório dos monges, é um espaço <strong>de</strong>característic<strong>as</strong> ampl<strong>as</strong> e localiza-se na extensão da ala poente do claustro,sobre o celeiro, a entrada principal e o refeitório dos conversos.O acesso ao dormitório fazia-se através da escada dos conversos quecomunicava com o corredor dos conversos ou com a zona adjacente <strong>de</strong>entrada no mosteiro.À s<strong>em</strong>elhança do que se p<strong>as</strong>sava no piso do dormitório dos monges,também na extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong> do dormitório dos conversos se podia encontrar aexistência <strong>de</strong> latrin<strong>as</strong> que <strong>de</strong>scarregavam para a mesma levada que serviapara <strong>as</strong> <strong>de</strong>scarg<strong>as</strong> d<strong>as</strong> latrin<strong>as</strong> dos monges.A hospedaria ficava próximo da portaria m<strong>as</strong> o mais af<strong>as</strong>tada possível dosespaços habitados pelos monges (Fig. 263). Os laicos são nos termos da regracomo consta do capítulo LIII, hospe<strong>de</strong>s a receber como o próprio Jesus Cristo:“Todos os hóspe<strong>de</strong>s que se apresentam (no mosteiro) sejamrecebidos como se fosse o próprio Cristo, pois Ele dirá [um dia]: «Fuihóspe<strong>de</strong>, e recebeste-me». E a cada qual sejam prestad<strong>as</strong> <strong>as</strong> honr<strong>as</strong>convenientes (…)” 81O acolhimento a viajantes, peregrinos ou apen<strong>as</strong> aqueles que necessitavam <strong>de</strong>pousada era uma d<strong>as</strong> funções dos mosteiros tal como preconiza a Regra <strong>de</strong> S.Bento. O seu traçado, como salienta Nelson Correia Borges “(…)não sediferencia da arquitectura civil, <strong>em</strong>bora os gran<strong>de</strong>s edifícios foss<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre81 Ver capítulo LIII R.S.B. in Regra do Patriarca S. Bento; traduzido e anotado do latim pelos Monges <strong>de</strong>Singeverga; 2ª edição; Edições “Ora & Labora”; Mosteiro <strong>de</strong> Singeverga; Singeverga; 1992; pp. 108-109


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALrepartidos interiormente <strong>em</strong> espaços que seguiam <strong>de</strong> perto o esqu<strong>em</strong>a dosdormitórios(…).” 82A Regra <strong>de</strong> S. Bento especifica que eles <strong>de</strong>veriam dispor <strong>de</strong> uma cozinhaà parte e <strong>de</strong> uma c<strong>as</strong>a <strong>de</strong> hóspe<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> serão preparad<strong>as</strong> cam<strong>as</strong> <strong>em</strong>número suficiente. Assim,“A cozinha do aba<strong>de</strong> e dos hóspe<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ve ser separada, para queos hóspe<strong>de</strong>s que nunca faltam ao mosteiro e vêm a hor<strong>as</strong> incert<strong>as</strong>,não perturb<strong>em</strong> os irmãos. (…)Da hospedaria seja igualmenteencarregado um irmão cuja alma esteja possuída do t<strong>em</strong>or <strong>de</strong> Deus.Nela <strong>de</strong>ve haver cam<strong>as</strong> preparad<strong>as</strong> <strong>em</strong> número suficiente. Assim, ac<strong>as</strong>a do Senhor será por homens sábios sabiamente governada. ” 83a b cFig. 263 Hospedaria: (a) Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca, (b) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça, (c)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> (fotografi<strong>as</strong> da autora)393O Noviciaria é o espaço previsto pela regra <strong>de</strong> S. Bento para a formaçãodaqueles que entram na vida monástica. Deveria estar af<strong>as</strong>tado do resto doedificado monástico e era posto sob a regência do “Mestre dos noviços” aqu<strong>em</strong> competia dar a <strong>de</strong>vida formação. 84“Quando alguém, pela primeira vez se apresentar para abraçar avida monástica, não se lhe facilite a entrada (…). E <strong>as</strong>sim, se orecém-vindo perseverar <strong>em</strong> bater à porta (…) e persiste no seupedido faculte-se a entrada, ficando durante alguns di<strong>as</strong> nahospedaria. Depois p<strong>as</strong>sará para os aposentos dos noviços, on<strong>de</strong>todos se entregu<strong>em</strong> aos exercícios espirituais, comam e durmam.” 85O espaço <strong>de</strong>stinado aos noviços <strong>de</strong>via estar dotado <strong>de</strong> todos os requisitosnecessários tal como o mosteiro segundo a Regra <strong>de</strong> S. Bento. Refere NelsonCorreia Borges:82 BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; p.4383 Ver capítulo LIII R.S.B. in Regra do Patriarca S. Bento; traduzido e anotado do latim pelos Monges <strong>de</strong>Singeverga; 2ª edição; Edições “Ora & Labora”; Mosteiro <strong>de</strong> Singeverga; Singeverga; 1992; pp. 109-11084 DIAS, Geraldo Coelho; Os Mosteiros e a organização dos Espaços: Arquitectura e Espiritualida<strong>de</strong>; textoinédito policopiado; 2006; p.885 Ver capítulo LVIII R.S.B. in Regra do Patriarca S. Bento; traduzido e anotado do latim pelos Monges <strong>de</strong>Singeverga; 2ª edição; Edições “Ora & Labora”; Mosteiro <strong>de</strong> Singeverga; Singeverga; 1992; p. 116


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL“Os noviços <strong>de</strong>viam habitar um lugar apartado do mosteiro (…). Ocorpo <strong>de</strong> edifício a eles <strong>de</strong>stinado <strong>de</strong>via estar provido <strong>de</strong> todos osrequisitos necessários: cel<strong>as</strong>, sala <strong>de</strong> estudo e aula, sala capitular,capela, cozinha, refeitório, instalações para higiene individual –c<strong>as</strong>a da água, lavatório e secreta. (…) e a gran<strong>de</strong>za da noviciariaestava s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong> acordo com a importância da c<strong>as</strong>a.” 86Fig. 264 Portaria do Mosteiro <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre (fotografi<strong>as</strong> da autora)394Na portaria (Fig. 264) encontrava-se geralmente um monge idoso <strong>de</strong> modo aque fosse o único a ter contacto visual para além dos elevados muros da cercamonástica pois exterior era uma tentação à qual o monge <strong>de</strong>via resistir.“À portaria do mosteiro ponha-se um ancião pru<strong>de</strong>nte que saibareceber e transmitir recados e cuja maturida<strong>de</strong> o não <strong>de</strong>ixe andar avaguear. O porteiro <strong>de</strong>ve ter a sua cela junto da portaria, para osque chegam encontr<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre presente qu<strong>em</strong> os atenda.” 87Neste local eram recebidos os viajantes, visit<strong>as</strong> ou pedintes que cheg<strong>as</strong>s<strong>em</strong> aomosteiro como refere Nelson Correia Borges“(…) muito para além da função <strong>de</strong> acolhimento, era na portariaque se punha <strong>em</strong> prática a carida<strong>de</strong> monástica, com a chamada‘esmola da porta’, <strong>em</strong> geral constituída por alimentos – caldo oupão. Este costume tinha também a intenção <strong>de</strong> sufragar os<strong>de</strong>funtos da comunida<strong>de</strong>.” 88 (Fig. 265)86 BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; p.5087 Ver capítulo LXVI R.S.B. in Regra do Patriarca S. Bento; traduzido e anotado do latim pelos Monges <strong>de</strong>Singeverga; 2ª edição; Edições “Ora & Labora”; Mosteiro <strong>de</strong> Singeverga; Singeverga; 1992; p. 13288 BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; p.43


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALFig. 265 Pintura policroma existente num dos caixotões que revest<strong>em</strong>o tecto do refeitório do Mosteiro <strong>de</strong> S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong> (arquivo daCâmara Municipal <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>)395Esq. 79 Esqu<strong>em</strong>atização indicativa da entradaprincipal no mosteiro (elaborada pela autora)A Entrada principal era localizada entre o celeiro e o refeitório dos conversos(Esq. 79). Este espaço servia <strong>de</strong> parlatório dos conversos. (Fig. 266)Fig. 266 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>(arquivo DGEMN/IHRU)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL5.1.6EXTERIORA cerca monástica (Fig. 267) <strong>de</strong> elevad<strong>as</strong> dimensões <strong>de</strong>limita o mosteiro<strong>de</strong>sligando-o do mundo exterior, com o qual faz fronteira, m<strong>as</strong> tambémprotegendo-o da eventual intrusão <strong>de</strong> animais ou pesso<strong>as</strong> (Fig. 260). É umespaço int<strong>em</strong>poral <strong>de</strong> contacto com a natureza por excelência.396Fig. 267 Cerca (lado interior) do Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa(fotografia da autora)A cerca dos mosteiros podia possuir na sua inteira totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>zen<strong>as</strong> <strong>de</strong>hectares <strong>as</strong>sim como construções agrícol<strong>as</strong> e industriais, como forj<strong>as</strong>, ferrari<strong>as</strong>,moinhos, currais, estrebari<strong>as</strong>, fornos e tudo o mais que fosse indispensável à vidaquotidiana e às activida<strong>de</strong>s prátic<strong>as</strong> dos monges.A ocupação do terreno estaria repartida por p<strong>as</strong>tagens, viveiros, jardinspolvilhada por moinhos <strong>de</strong>stinados à moag<strong>em</strong> <strong>de</strong> cerais.Como refere Nelson Correia Borges:“A cerca acabou <strong>as</strong>sim por <strong>as</strong>sumir o significado primitivo dapalavra ‘claustrum’ correspon<strong>de</strong>ndo à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> lugar fechado pormuros e <strong>de</strong>signando a parte d<strong>as</strong> c<strong>as</strong><strong>as</strong> monástic<strong>as</strong> com jardins,hortejos, pomares e áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> recreação reservad<strong>as</strong> exclusivamentepara uso <strong>de</strong> religiosos.A separação <strong>de</strong>ste espaço do exterior, por meio <strong>de</strong> alt<strong>as</strong> pare<strong>de</strong>s,r<strong>em</strong>onta às origens do monaquismo. (…) era uma barreira contra acontaminação do mundo impuro e barulhento do exterior, um


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALauxílio para o fortalecimento do sentimento comunitário e para aobservância da c<strong>as</strong>tida<strong>de</strong> monástica.” 89Fig. 268 Cerca (lado exterior) do Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Conceição <strong>de</strong> Portalegre(fotografia da autora)Nos mosteiros f<strong>em</strong>ininos, muit<strong>as</strong> vezes, algum<strong>as</strong> taref<strong>as</strong> como fiar, bordar, tecerou r<strong>em</strong>endar paramentos litúrgicos, eram realizad<strong>as</strong> no exterior do mosteiro, nosespaços ver<strong>de</strong>jantes do interior da cerca. É a partir do século XVII que <strong>as</strong> cerc<strong>as</strong>monástic<strong>as</strong> começaram a ser “rechead<strong>as</strong>” <strong>de</strong> um s<strong>em</strong> número <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos<strong>de</strong>corativos como tanques, grut<strong>as</strong>, chafarizes ou c<strong>as</strong>cat<strong>as</strong>. 90 M<strong>as</strong> também<strong>de</strong>ntro da cerca monástica exist<strong>em</strong> capel<strong>as</strong>. Como refere Nelson CorreiaBorges:“Meditação e oração eram feit<strong>as</strong>, sobretudo, n<strong>as</strong> capel<strong>as</strong><strong>de</strong>vocionais que se dispuseram pel<strong>as</strong> cerc<strong>as</strong>, <strong>em</strong> locaispro<strong>em</strong>inentes do terreno e conjugad<strong>as</strong> com os caminhos que atéel<strong>as</strong> levavam, por entre jardinzinhos, hortejos, pomares e arvoredo.(…) Ness<strong>as</strong> capel<strong>as</strong> d<strong>as</strong> cerc<strong>as</strong> se podiam fazer retiros espirituais eaté circuitos <strong>de</strong> peregrinação <strong>em</strong> que est<strong>as</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhavam opapel <strong>de</strong> ‘estações’ n<strong>as</strong> romari<strong>as</strong> que, sobretudo, <strong>as</strong> religios<strong>as</strong> sepropunham cumprir, s<strong>em</strong> sair dos muros da clausura.” 91Geralmente o acesso ao exterior da parte interna do mosteiro era feito porquatro port<strong>as</strong> r<strong>as</strong>gad<strong>as</strong> <strong>em</strong> cada um dos lados do complexo monástico. 9239789 BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; p.4590 I<strong>de</strong>m; p.4691 Ibi<strong>de</strong>m; pp.46-4792 Cfr. JORGE, Virgolino Ferreira; Op. cit.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALCERCA MONÁSTICACLAUSURAIGREJADOMÍNIOMONÁSTICO398Esq. 80 Esqu<strong>em</strong>atização dos níveis <strong>de</strong> clausura/privacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um mosteiro <strong>as</strong>sim como <strong>as</strong> su<strong>as</strong>conexões com o restante espaço monástico, constituíd<strong>as</strong>por quatro port<strong>as</strong> – uma <strong>em</strong> cada um dos quatro ladosdo mosteiro - inserido na cerca com o restante espaço(esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)Fig. 269 Apocalipse, Jerusalém celeste,manuscrito francês datado do séc. IX(B.N.F.)O mosteiro medieval além <strong>de</strong> ser visto como uma micro-cida<strong>de</strong> (Esq. 80), nestec<strong>as</strong>o a tentativa <strong>de</strong> se aproximar da Jerusalém Celeste (Fig. 269), <strong>de</strong>via ser vistotambém como uma micro-cida<strong>de</strong> medieval, segundo o t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que seinseria. A cida<strong>de</strong> medieval possuía três níveis <strong>de</strong> segurança e <strong>de</strong>fesa:1.a muralha;2.o terreiro, que consistia numa zona ampla, que circundava a parteexterna do c<strong>as</strong>telo;3.a Torre <strong>de</strong> Menag<strong>em</strong>.No c<strong>as</strong>o do mosteiro <strong>cister</strong>ciense medieval existiam também três níveis <strong>de</strong>“segurança espiritual” (Esq. 81):1.a cerca;2.área <strong>de</strong> clausura ou seja <strong>de</strong> domínio privado dos monges3.a igreja


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALMONASTERIUMCIVITASCERCA1MURALHACLAUSURA2TERREIROIGREJA3TORRE DE MENAGEMSEGURANÇA ESPIRITUALNÍVEISDESEGURANÇASEGURANÇA FÍSICAEsq. 81 Esqu<strong>em</strong>atização comparativa dos níveis <strong>de</strong> segurança do mosteiromedieval e da cida<strong>de</strong> medieval (esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)399Refere a este propósito Terryl Kin<strong>de</strong>r:“Se, dal punto di vista economico, un mon<strong>as</strong>terio mediavalefunzionava pressappoco como un feudo medievale, dal punto divista topografico era molto simile a una città medievale. E come lacittà medievale aveva tre livelli di difesa – le mura cittadine, i cortiliesterni <strong>de</strong>l c<strong>as</strong>tello e il torrione o m<strong>as</strong>chio -, così il mon<strong>as</strong>tero avevatre livelli di quella che potr<strong>em</strong>mo <strong>de</strong>finire sicurezza spirituale. All<strong>em</strong>ura cittadine corrispon<strong>de</strong>va il muro di cinta; ai cortili esterni <strong>de</strong>lc<strong>as</strong>tello l’area <strong>de</strong>lla clausura, dominio privato <strong>de</strong>i monaci; altorrione o machio la chiesa.” 9393 Cfr. KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p.218


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALFig. 270 Cerca do Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro e s. Paulo <strong>de</strong> Arouca nos anos 40 do século XX(arquivo DGEMN/IHRU)400Fig. 271 Cultivo do jardim por monges <strong>cister</strong>cienses na Abadia <strong>de</strong> Sal<strong>em</strong>, Al<strong>em</strong>anha(Editions Gaud)A horta/jardim servia para o cultivo <strong>de</strong> plant<strong>as</strong> medicinais, frut<strong>as</strong> e legumes,servindo também para o combate à ociosida<strong>de</strong> (Fig. 271). Como refere NelsonCorreia Borges:


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL“O combate à ociosida<strong>de</strong> foi uma constante n<strong>as</strong> c<strong>as</strong><strong>as</strong> monástic<strong>as</strong>,<strong>em</strong> todos os t<strong>em</strong>pos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Regra <strong>de</strong> S. Bento e a jardinag<strong>em</strong>uma d<strong>as</strong> ocupações recomendad<strong>as</strong> para preenchimento d<strong>as</strong>hor<strong>as</strong> livres.” 94a b cFig. 272 Mosteiro <strong>de</strong> santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>: Jardins (fotografi<strong>as</strong> da autora)401abFig. 273 Mosteiro <strong>de</strong> santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>: lagar (a) e palheiro (b) (fotografi<strong>as</strong> da autora)O monge medieval cuidadosamente trata da pequena porção <strong>de</strong> terra, que éreservada <strong>de</strong>ntro da horta do mosteiro, para o cultivo d<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> medicinais. Écom o mesmo cuidado que estuda a sua colheita, <strong>as</strong> su<strong>as</strong> proprieda<strong>de</strong>scurativo-medicinais e extrai os el<strong>em</strong>entos com os quais fará os seusmanipulados e preparados.94 BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; p.45


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALÉ numa <strong>de</strong>pendência próxima ou contígua, a botica, o local on<strong>de</strong> estesmesmos preparados e manipulados são guardados. Já no plano <strong>de</strong> Saint-Gallsurge uma <strong>de</strong>pendência com esta finalida<strong>de</strong> localizada no jardim, é o “domusmedicorum”. 95As Botic<strong>as</strong> 96 tornaram-se el<strong>em</strong>entos chave no fabrico <strong>de</strong> r<strong>em</strong>édios para osmonges e mesmo para os leigos.A botica encontrava-se n<strong>as</strong> proximida<strong>de</strong>s da enfermaria, era aqui que sefaziam <strong>as</strong> sangri<strong>as</strong> 97 . Os monges estavam obrigados a uma sangria periódicapelo que teve um gran<strong>de</strong> papel o monge que praticava a tonsura e a sangria(Fig. 274), era o “r<strong>as</strong>or et minutor”, mais tar<strong>de</strong> apelidado <strong>de</strong> barbeiro-sangrador.A sangria foi um dos pilares da medicina medieval sendo praticada já<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a antiguida<strong>de</strong> não só na tradição hipocrática como também estavapresente n<strong>as</strong> escol<strong>as</strong> árabes 98 .402Fig. 274 Sangria, Londres BL MS Harley 3719, fols 158-159Po<strong>de</strong>-se afirmar que os monges boticários surgiram na solidão d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> cel<strong>as</strong>,dotados <strong>de</strong> um saber intrínseco e profundo e que através da oração, do louvora Deus, da simplicida<strong>de</strong> <strong>as</strong>cética e da pobreza procuravam, através doconhecimento e da ciência, a sabedoria <strong>de</strong> Deus e a comunhão com Cristo.Num momento inicial surge a figura do monge herbário que lidava com <strong>as</strong>pequen<strong>as</strong> erv<strong>as</strong> e condimentos, cuja mestria acabaria por se centrar n<strong>as</strong>plant<strong>as</strong> medicinais confeccionando poções e mezinh<strong>as</strong> dando lugar ao mongeboticário (Fig. 276).95 MARTINS, Ana Maria Tavares; O Mosteiro como espaço <strong>de</strong> recuperação do corpo e do espírito in Mosteiro eSaú<strong>de</strong> – Cerca, Botica e Enfermaria. Act<strong>as</strong> do III Encontro Cultural <strong>de</strong> São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões; Ed. Socieda<strong>de</strong>do Mosteiro <strong>de</strong> São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões; São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões, 200896 BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; pp.49-5097 DIAS, Geraldo Coelho; Do Mosteiro Beneditino I<strong>de</strong>al ao Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento da Vitória. História, espaços equotidiano dos monges in “O Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento da Vitória. 400 anos ”; Edições Afrontamento; Porto; 1997;p.3398 LIZARRA LECUE, RAFAEL DE; Botic<strong>as</strong> Monástic<strong>as</strong> Benedictin<strong>as</strong>; texto policopiado; s/d.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALFig. 275 El<strong>em</strong>ento cerâmico paraconservação <strong>de</strong> preparados característicod<strong>as</strong> Botic<strong>as</strong> (arquivo da autora)É do árduo trabalho <strong>de</strong>ste monge, figura genérica <strong>de</strong> todos aqueles que se<strong>de</strong>dicaram ao auxílio dos seus irmãos tanto a nível do corpo terreno como doseu espírito que surge mais tar<strong>de</strong> o monge boticário.403Fig. 276 Botica do Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca (arquivo da autora)A figura do monge vocacionado para o estudo d<strong>as</strong> espécies e dos diversostipos <strong>de</strong> plant<strong>as</strong> surge como uma d<strong>as</strong> figur<strong>as</strong> centrais do mosteiro. É a ele querecorr<strong>em</strong> monges e população <strong>em</strong> geral pois é este que com o seuconhecimento incansável e inesgotável recorre às su<strong>as</strong> poções e mezinh<strong>as</strong>para curar o que é terreno, o que faz parte do corpo, aquilo que mantém esustém o “corpo-monástico”, aqueles corpos frágeis e humanos recipientes quecontém a alma que <strong>as</strong>pira à comunhão com Deus. O pequeno horto <strong>de</strong>plant<strong>as</strong> medicinais <strong>de</strong> distint<strong>as</strong> espécies vocacionad<strong>as</strong> para <strong>as</strong> mais divers<strong>as</strong>mezinh<strong>as</strong> dá orig<strong>em</strong> à mo<strong>de</strong>rna e muitíssimo b<strong>em</strong> apetrechada botica


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALren<strong>as</strong>centista, aquela que viria a ser a botica monástica propriamente dita.Será para s<strong>em</strong>pre referenciada pel<strong>as</strong> su<strong>as</strong> prateleir<strong>as</strong> plen<strong>as</strong> <strong>de</strong> fr<strong>as</strong>cos ev<strong>as</strong>ilh<strong>as</strong> rotulad<strong>as</strong>, chei<strong>as</strong> <strong>de</strong> fármacos, tal como seria referido por Quevedopara aliviar ou r<strong>em</strong>ediar a “<strong>de</strong>senfreada cólera” da doença. 99 A cont<strong>em</strong>plaçãoe o <strong>em</strong>pirismo dos monges boticários, como refere Vicente González, esses“românticos <strong>de</strong> Deus”, proporcionavam meios e modos <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r com alívioàs mais divers<strong>as</strong> maleit<strong>as</strong>.404Fig. 277 Tecto revestido com caixotões apresentando pintur<strong>as</strong> policromad<strong>as</strong><strong>de</strong> divers<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> medicinais, Convento <strong>de</strong> Cristo (fotografia da autora)Os monges herbários e boticários são <strong>as</strong>sim aqueles que, dia a dia,enriqueceram o seu conhecimento através da observação e da experiênciacontínu<strong>as</strong>. São aqueles que começam a redigir os “hortuli”, os “horti” e os“hortus sanitatis” mais por um motivo prático que científico m<strong>as</strong> que virão atornar-se preciosos para o estudo da História da Botânica (Fig. 277). Estes“compêndios” eram o guia, com <strong>de</strong>senhos ou iluminur<strong>as</strong>, a seguir pelos monges,para b<strong>em</strong> eleger<strong>em</strong>, cultivar<strong>em</strong> e recolher<strong>em</strong> <strong>as</strong> plant<strong>as</strong> medicinais. Mais tar<strong>de</strong>,sobretudo a partir do séc. XV, estes compêndios são impressos tornando-severda<strong>de</strong>ir<strong>as</strong> preciosida<strong>de</strong>s e test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> um t<strong>em</strong>po e <strong>de</strong> um saber.No entanto a botica <strong>em</strong> si vai crescendo e dando lugar a locais <strong>de</strong> sabere <strong>de</strong> pesquisa, com laboratório, armazém e <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>pendênci<strong>as</strong>. Tambémcom o p<strong>as</strong>sar do t<strong>em</strong>po, e sobretudo com os alvores ren<strong>as</strong>centist<strong>as</strong>, <strong>as</strong> hort<strong>as</strong>monástic<strong>as</strong> transformam-se <strong>em</strong> jardins botânicos com estuf<strong>as</strong> e instalaçõessofisticad<strong>as</strong> para plant<strong>as</strong> <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za, rarida<strong>de</strong> ou exotismo. Dest<strong>em</strong>odo, os monges boticários aos poucos e poucos, com a graça <strong>de</strong> Deus,através da cont<strong>em</strong>plação e dotados <strong>de</strong> mentes <strong>em</strong>píric<strong>as</strong> foram procurando,buscando, apren<strong>de</strong>ndo e trazendo à luz <strong>as</strong> proprieda<strong>de</strong>s medicinais e99 VICENTE GONZÁLEZ, José <strong>de</strong>; Botic<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong>, cartujan<strong>as</strong> y conventuales en España; tresCtres Editores;Santa Comba – A Coruña, 2002


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALterapêutic<strong>as</strong> daquel<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> cuj<strong>as</strong> pequen<strong>as</strong> s<strong>em</strong>entes lançavam à terra <strong>em</strong>ais tar<strong>de</strong> colhiam no horto do boticário. Est<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> cuidad<strong>as</strong> com toda a<strong>de</strong>dicação e carinho, seguindo o ritmo do Ora et Labora, <strong>de</strong>ram orig<strong>em</strong> amedicamentos utilizados n<strong>as</strong> mais divers<strong>as</strong> patologi<strong>as</strong> 100A Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister dá especial atenção aos idosos e doentes tendo porisso adoptado um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> hospício aberto 101 com capela própria, residênciapara o enfermeiro, jardim on<strong>de</strong> se cultivavam apen<strong>as</strong> espécies medicinais,banhos e claustro.Fig. 278 Enfermaria: Convento <strong>de</strong> Cristo (fotografi<strong>as</strong> da autora)405A Regra <strong>de</strong> S. Bento especifica que cada mosteiro <strong>de</strong>ve ser dotado <strong>de</strong> umaenfermaria 102 ou então existirá um monge <strong>de</strong>stinado a cuidar especificamentedos seus irmãos doentes. Como refere Terryl Kin<strong>de</strong>r:“La ‘raison d’être <strong>de</strong>ll’infermeria era la cura particulare per i monaciche si ammalavano, senza mai dimenticare che essi rimanevanomonaci anche durante la malattia.” 103Do mesmo modo o aba<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve velar pelos enfermos <strong>de</strong> maneira a apercebersese existe algum tipo <strong>de</strong> negligência para com estes. A Regra <strong>de</strong> S. Bentochega mesmo a salientar no seu capitulo 36:“Antes e acima <strong>de</strong> tudo <strong>de</strong>ve-se ter cuidado dos doentes e servi-loscomo se foss<strong>em</strong> Cristo <strong>em</strong> pessoa, pois Ele disse: «Estive doente, efostes-me visitar»; e: «O que fizeste a um <strong>de</strong>stes pequeninos, a mim o100 MARTINS, Ana Maria Tavares; Op. cit.101 Foram ex<strong>em</strong>plo do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> hospício aberto Rievaulx a partir <strong>de</strong> 1150 <strong>as</strong>sim como Tintern.102 Para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> enfermaria KINDER, Terryl N.; Op. cit.; pp. 207-212 / BORGES, Nelson Correia; Op. cit.;p.49103 KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p. 208


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL406fizeste». (…)Para os doentes <strong>de</strong>ve haver uma cela à parte, <strong>de</strong>stinadaa esse fim, e um servente t<strong>em</strong>ente a Deus, diligente e solícito.” 104Segundo Fergusson a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister terá tido contacto com os avançosmedicinais muçulmanos e bizantinos que eram ensinados n<strong>as</strong> gran<strong>de</strong>s escol<strong>as</strong><strong>de</strong> medicina <strong>de</strong> Montpellier e <strong>de</strong> Sallerne. 105A enfermaria <strong>de</strong>veria localizar-se s<strong>em</strong>pre af<strong>as</strong>tada do principal núcleomonástico, não só para evitar contágios e propagação <strong>de</strong> doenç<strong>as</strong> comtambém para dotar os pacientes <strong>de</strong> maior conforto e sossego. Refere NelsonCorreia Borges que “A sua estrutura foi s<strong>em</strong>pre s<strong>em</strong>elhante à do dormitório,quer no t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que foi espaço comum, quer <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se p<strong>as</strong>sar<strong>em</strong> autilizar cel<strong>as</strong> individuais.” 106Os doentes eram divididos <strong>em</strong> três grupos:1. ConvalescençaEste é o mais numeroso grupo composto por aqueles que tivess<strong>em</strong>recent<strong>em</strong>ente utilizado um silício, o que correspondia a uma“enfermida<strong>de</strong>” breve e <strong>de</strong> rápida cura, exceptuando aqueles quetivess<strong>em</strong> complicações resultantes <strong>de</strong>ssa prática (estes curavam-sena enfermaria ao contrário dos primeiros)2. Convalescença “extra chorum”Grupo composto por todos aqueles cujo estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> exigiaque estivess<strong>em</strong> af<strong>as</strong>tados do coro (extra chorum) m<strong>as</strong> nãosuficient<strong>em</strong>ente doentes para que a recuperação d<strong>as</strong> su<strong>as</strong>maleit<strong>as</strong> fosse realizada na enfermaria.3. Convalescença na enfermariaGrupo composto por todos aqueles que apresentavam um quadroclínico grave <strong>de</strong> doença que tinha <strong>de</strong> ser efectivamente tratado naenfermaria.A enfermaria funcionava como um mosteiro <strong>de</strong> reduzid<strong>as</strong> dimensões, atéporque cada doente era antes <strong>de</strong> mais um monge. Refere Terryl Kin<strong>de</strong>r:“L’infermeria funzionava come una sorta di piccolo mon<strong>as</strong>tero nelmon<strong>as</strong>tero. Per quanto possibile, vi si osservava il silenzio e gli ufficivenivano svolti esattamente como in comunità. L’infermiereaccen<strong>de</strong>va la can<strong>de</strong>la per il Mattutino; per i vari uffici portava i libridi cui c’era bisogno dalla chiesa e poi li rimetteva al loro posto; inoltre doveva <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>re quale <strong>de</strong>i fratelli presenti fosse104 Ver Capítulo XXXVI R.S.B. in Regra do Patriarca S. Bento; traduzido e anotado do latim pelos Monges <strong>de</strong>Singeverga; 2ª edição; Edições “Ora & Labora”; Mosteiro <strong>de</strong> Singeverga; Singeverga; 1992; p. 82105 Ver FERGUSSON, Peter; Les Cisterciens et le Roman in “ Citeaux 1098 – 1998, L’Épopée Cistercienne –Dossiers d’Archeologie”; n. 229; Dec. 97 – Jan. 98; p. 47106 BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; p.49


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALmaggiormente in grado di intonare le Ore e le letture, e gli affidavatale incarico.” 107A enfermaria <strong>cister</strong>ciense é <strong>de</strong> difícil localização como afirma Terryl Kin<strong>de</strong>r, poisnão existe listag<strong>em</strong> <strong>de</strong> edifícios obrigatórios para os <strong>cister</strong>cienses. No entanto épossível que fosse inicialmente construída, no séc. XIII, <strong>em</strong> ma<strong>de</strong>ira e mais tar<strong>de</strong>po<strong>de</strong>ria ser substituída por uma <strong>de</strong> pedra como refere Terryl Kin<strong>de</strong>r:“Dov’era ubicata questa ‘stanza speciale’ per i Cisterciensiammalati? È impossible una risposta precisa per i primissimimon<strong>as</strong>teri e non ne è fatta menzione nella lista <strong>de</strong>gli edificiobbligatori necessari al momento <strong>de</strong>lla fondazione. Tuttavia, gli‘Ecclesi<strong>as</strong>tica officia’ che l’infermiere può andare in cucina e nelrefettorio a pren<strong>de</strong>re cuò di cui ha bisogno per il suo ufficio. (...) Èpossible che inizialmente l’infermeria fosse una costruzione in legno,poi sostituita <strong>de</strong> una <strong>de</strong>lle splendi<strong>de</strong> infermerie in pietra <strong>de</strong>l XIIIsecolo, o che fosse una stanza a parte la cui i<strong>de</strong>ntità come anticainfermeria si è persa per la mancanza di caratteri architettonicii<strong>de</strong>ntificativi.” 108Para além <strong>de</strong>sta enfermaria existia uma segunda <strong>de</strong>stinada aos irmãosconversos e po<strong>de</strong>ria ainda existir uma terceira <strong>de</strong>stinada aos visitantes ouhabitantes d<strong>as</strong> proximida<strong>de</strong>s se fosse esse o c<strong>as</strong>o. Esta última no c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> existirseria colocada próximo da porta principal.A construção <strong>de</strong> uma biblioteca (Fig. 279) numa <strong>de</strong>pendência à parte, istoé, projectada especificamente para albergar os livros dos mosteiros era umacontecimento insólito no século XII. Só a partir do século XV se começaram aconstruir especificamente <strong>de</strong>pendênci<strong>as</strong> para os livros, ou seja, bibliotec<strong>as</strong>,uma vez que o “armarium” já não cumpria a sua função <strong>de</strong>vido ao número <strong>de</strong>livros existentes. 109 Refere Terryl Kin<strong>de</strong>r:“La costruzione di grandi biblioteche nell’area immediatamenteall’esterno <strong>de</strong>ll chiostro fu essenzialmente una conseguenza<strong>de</strong>ll’introduzione in Europa <strong>de</strong>lla stampa a caratteri mobili all’inizio<strong>de</strong>gli anni Cinquanta <strong>de</strong>l XV secolo. (...) Le raccolte di libri s<strong>em</strong>prepiù grandi <strong>de</strong>l tardo XII e <strong>de</strong>l XIII secolo non potevano esserecustodite nell’armarium comune e in genere si risolveva il probl<strong>em</strong>adivi<strong>de</strong>ndo lo spazio <strong>de</strong>lla sacrestia in modo da creare anche un<strong>as</strong>tanza per i libri.” 110Depois do início do século XV aumentou a aquisição <strong>de</strong> livros pois a culturaeuropeia estava a transformar-se numa cultura literária e bibliográfica. EmAlcobaça no século XVI o dormitório foi repartido <strong>em</strong> cel<strong>as</strong> individuais <strong>de</strong> modo407107 KINDER, Terryl N.; Op. cit.; p. 210108 I<strong>de</strong>m; p. 210109 Ibi<strong>de</strong>m; p. 196110 Ibi<strong>de</strong>m; p. 196


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALque gran<strong>de</strong> parte do espaço foi utilizada para construir uma nova e grandiosabiblioteca.Fig. 279 Biblioteca do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça reconvertida <strong>em</strong> Asilo<strong>de</strong> 3ª ida<strong>de</strong> (fotografia arquivo Éditions Gaud)408As condições da clausura f<strong>em</strong>inina obrigam a algum<strong>as</strong> alterações no querespeita à constituição do seu plano arquitectónico e organização espacialpelo que apresentam algum<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> no que concerne o mo<strong>de</strong>lopre<strong>de</strong>finido m<strong>as</strong>culino.As construções monástic<strong>as</strong> f<strong>em</strong>inin<strong>as</strong>, <strong>de</strong>vido à sua fábrica <strong>de</strong> estruturamais simplificada e rápida, mostram algum<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> <strong>de</strong> adaptação naplanta e oferec<strong>em</strong> uma varieda<strong>de</strong> construtiva e tipológica maior, isto é, surg<strong>em</strong>dimensões mais reduzid<strong>as</strong> dos espaços monásticos mantendo-se no entanto <strong>as</strong>implicida<strong>de</strong> como mote, tanto no que respeita à sua planta como ao <strong>de</strong>senhodos lugares regulares e d<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong>.É <strong>de</strong> salientar a existência <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos arquitectónicos claramentedistintivos e pertencentes apen<strong>as</strong> aos mosteiros f<strong>em</strong>ininos.Uma <strong>de</strong>pendência exclusivamente existente nos mosteiros f<strong>em</strong>ininos era omirante (Fig. 280). Após o concílio <strong>de</strong> Trento o rigor da vida <strong>de</strong> clausuraintensificou-se pelo que foi necessário dotar o mosteiro <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong>stinadosao <strong>de</strong>safogo e recreação d<strong>as</strong> monj<strong>as</strong>.O mirante era uma espécie <strong>de</strong> logradouro aterraçado localizado numazona elevada do mosteiro, <strong>em</strong> geral próximo da portaria.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALa b cd e fFig. 280 Mirantes <strong>em</strong> mosteiros f<strong>em</strong>ininos: (a)Mosteiro S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca, (b,c) Mosteiro <strong>de</strong> NossaSenhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa, (d) Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris, (e,f) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>(fotografi<strong>as</strong> da autora)Os mirantes ou miradouros constituíam-se como el<strong>em</strong>entos arquitectónicos quefaziam parte integrante do <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> um mosteiro f<strong>em</strong>inino e que, comorefere Nelson Correia Borges:“(…) <strong>as</strong>sumiam a forma <strong>de</strong> torreões e galeri<strong>as</strong>, quer num, quernoutro c<strong>as</strong>o, r<strong>as</strong>gados <strong>de</strong> múltipl<strong>as</strong> janel<strong>as</strong> ou varand<strong>as</strong>, s<strong>em</strong>preprotegid<strong>as</strong> por rótul<strong>as</strong> ou aduf<strong>as</strong>. Ali se podia gozar a tranquilida<strong>de</strong>do sol no Inverno ou a frescura dos ares no Verão e também,certamente, lançar um olhar discreto sobre o mundo exterior.” 111Um outro el<strong>em</strong>ento arquitectónico, igualmente marcadamente f<strong>em</strong>inino, noâmbito da arquitectura monástica é a existência do torno (Fig. 281). Este é umsuporte giratório, próprio dos mosteiros f<strong>em</strong>ininos, que permite a troca <strong>de</strong>objectos com o exterior, s<strong>em</strong> qualquer contacto físico ou visual entre osintervenientes. O torno era também um el<strong>em</strong>ento existente n<strong>as</strong> gra<strong>de</strong>s oulocutórios para o mesmo efeito.409111 BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; pp. 44-45


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALa b c410d e fghFig. 281 Ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> Torno <strong>em</strong> mosteiros f<strong>em</strong>ininos: (a)Mosteiro <strong>de</strong> S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>, (b, c, d, e, f) Mosteiro<strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre, (g, h) Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris (fotografi<strong>as</strong> da autora)No exterior do Mosteiro, m<strong>as</strong> <strong>de</strong>ntro da cerca, existiam além dos jardins, capel<strong>as</strong><strong>de</strong>vocionais (Fig. 282). São <strong>de</strong> referir <strong>as</strong> capel<strong>as</strong> <strong>de</strong> Santo António e SantaUmbelina inserid<strong>as</strong> na cerca do Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca, a Capela <strong>de</strong> N.Senhora da Cabeça do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dão e a Capela


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALdo Senhor da Boa Morte do Mosteiro <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre <strong>as</strong>sim como<strong>as</strong> capel<strong>as</strong> do Desterro do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça e <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>.a b cd e f411g h ijk l mFig. 282 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>: (a,b) exterior da Capela do Desterro, (c) interior da Capela doDesterro; Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca: (d) exterior da Capela <strong>de</strong> Santo António, (e) interior da Capela <strong>de</strong>Santo António, (f) exterior da Capela <strong>de</strong> Santa Umbelina; Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dão: (g)exterior da Capela <strong>de</strong> N. Senhora da Cabeça; Mosteiro <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre: (h) exterior da Capelado Senhor da Boa Morte, (i) interior da Capela do Senhor da Boa Morte; Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Alcobaça: (j,l) exterior da Capela do Destero, (k,m) interior da Capela do Desterro (fotografi<strong>as</strong> da autora,excepto fotografia (b):arquivo DGEMN/IHRU)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL“O estado <strong>em</strong> que chegaram até nós os conventos e mosteirosportugueses – profundamente transformados, porque adaptados afunções para que não tinham sido criados, qu<strong>as</strong>e s<strong>em</strong>prearruinados ou <strong>de</strong>struídos, no todo ou <strong>em</strong> parte, pálid<strong>as</strong> sombr<strong>as</strong>,para não dizer fant<strong>as</strong>m<strong>as</strong>, <strong>de</strong> um p<strong>as</strong>sado muit<strong>as</strong> vezes glorioso –não permite visualizar, n<strong>em</strong> por vezes i<strong>de</strong>ntificar, a função ou arazão <strong>de</strong> ser d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> <strong>de</strong>pendênci<strong>as</strong>. São mudos enigm<strong>as</strong>, n<strong>em</strong>s<strong>em</strong>pre fáceis <strong>de</strong> <strong>de</strong>cifrar. Talvez o conhecimento da sua orgânicaespacial aju<strong>de</strong> a compreendê-los melhor e, oxalá, a preservar estepatrimónio tão nacional como <strong>de</strong>sgraçado.” 112412Fig. 283 Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca, Reconstrução dos Claustros naprimeira meta<strong>de</strong> do século XX. (arquivo DGEMN/IHRU)112 BORGES, Nelson Correia; Op. cit.; p.56


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL5.2.Planimetria dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses413Fig. 284 Planta <strong>de</strong> trabalho d<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> da GGEMN no Mosteiro <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre(fotografia DGEMN/IHRU)


4145. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL415MOSTEIROS MASCULINOS0 2550 m


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL416MOSTEIROS FEMININOS0 2550 m


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALEsq.82 MOSTEIROS CISTERCIENSES PORTUGUESES: ESTRUTURA MORFO-TIPOLÓGICA417MOSTEIROS MASCULINOS01. Sta. Maria <strong>de</strong> Fiães02. Sta. Maria <strong>de</strong> Ermelo03. Sta. Maria do Bouro04. Sta. Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>05. S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o velho06. S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o novo07. Sta. Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>08. S. João <strong>de</strong> Tarouca09. Sta. Maria <strong>de</strong> Seiça10. Abadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>11. Sta. Maria <strong>de</strong> Maceira Dão12. S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões13. Sta. Maria <strong>de</strong> Aguiar14. Sta. Maria <strong>de</strong> Alcobaça15. Sta. Maria da Estrela16. S. Paulo <strong>de</strong> Almaziva17. Espirito Santo1 2103 12 134 5116 7148915 16 17MOSTEIROS FEMININOS01. S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca 07. S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>02. Sta. Maria <strong>de</strong> Almoster 08. N. Sra. da Purificação <strong>de</strong> Tabosa03. S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão09. Sta. Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>04. S. Bento <strong>de</strong> Cástris10. Sta. Maria da Cós05. S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre06. N. Sra. <strong>de</strong> Nazaré <strong>de</strong> Mocambo13247891056


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL01 02 03 0405 060708418091011 12131415 16MOSTEIROS MASCULINOS0 50100 m1817


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALEsq. 83C H E I O S E V A Z I O SMOSTEIROS MASCULINOS01. Sta Maria <strong>de</strong> Fiães02. Sta maria <strong>de</strong> Ermelo03. Sta Maria do Bouro19 20 2104. Sta Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>05. S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o velho)06. S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o novo)07. Abadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>08. Sta Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>2223 2409. S. João <strong>de</strong> Tarouca10. S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões11. Sta Maria <strong>de</strong> Maceira Dão12. Sta Maria <strong>de</strong> Aguiar13. Sta Maria da Estrela2614. S. Paulo <strong>de</strong> Almaziva15. Espírito Santo16. Sta Maria <strong>de</strong> Seiça41917. Sta Maria <strong>de</strong> Alcobaça18. Sta Maria do DesterroMOSTEIROS FEMININOS2519. S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca20. N. Sra da Purificação <strong>de</strong> Tabosa21. S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão22. Sta Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>23. Sta Maria <strong>de</strong> Cós27 28 2924. N. Sra <strong>de</strong> Nazaré <strong>de</strong> Mocambo25. S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>MOSTEIROS FEMININOS26. Sta Maria <strong>de</strong> Almoster27. S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre28. S. Bento <strong>de</strong> Cástris0 50100 m29. N. Sra da Conceição <strong>de</strong> Tavira


4205. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL421MOSTEIROS MASCULINOS0 2550 m


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL422MOSTEIROS FEMININOS0 2550 m


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGALEsq. 84 MOSTEIROS CISTERCIENSES PORTUGUESES: PRINCIPAIS ESPAÇOS DEFINIDORESIgreja Claustro principal Sala do Capítulo Refeitório Cozinha Scriptorium Coro (monj<strong>as</strong>)423MOSTEIROS MASCULINOS01. Sta. Maria <strong>de</strong> Fiães02. Sta. Maria <strong>de</strong> Ermelo03. Sta. Maria do Bouro04. Sta. Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>05. S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o velho06. S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o novo07. Sta. Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>08. S. João <strong>de</strong> Tarouca09. Sta. Maria <strong>de</strong> Seiça10. Abadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>11. Sta. Maria <strong>de</strong> Maceira Dão12. S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões13. Sta. Maria <strong>de</strong> Aguiar14. Sta. Maria <strong>de</strong> Alcobaça15. Sta. Maria da Estrela16. S. Paulo <strong>de</strong> Almaziva17. Espirito Santo1 2103 12 134 5116 7148915 16 17MOSTEIROS FEMININOS01. S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca 07. S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>02. Sta. Maria <strong>de</strong> Almoster 08. N. Sra. da Purificação <strong>de</strong> Tabosa03. S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão09. Sta. Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>04. S. Bento <strong>de</strong> Cástris10. Sta. Maria da Cós05. S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre06. N. Sra. <strong>de</strong> Nazaré <strong>de</strong> Mocambo13247891056


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL424Fig. 285 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar, entrada da Sala doCapitulo (fotografia DGEMN/IHRU)


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL5.2.1.Planimetria dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses m<strong>as</strong>culinos2513244250 5m1 - Capela-mor2 – Absidíolos3 – Nave4 – Sacristia5 - TorrePl. 10 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães 1 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivo IHRU/DGEMN)1 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães (Ver ficha no anexo 9.1.1, pp. 657 - 678) Localização: Lugar do Convento -Fiães / Diocese: Viana do C<strong>as</strong>telo / Distrito: Viana do C<strong>as</strong>telo / Concelho: Melgaço / Freguesia: Fiães / Brevenota historica: Mosteiro m<strong>as</strong>culino construído entre os séculos XIII e XVII. Filiado <strong>em</strong> Tarouca (1173/1194). Aprimeira edificação ali existente terá sido levantada por volta do século XI e <strong>em</strong> 1173 D. Afonso Henriquesdoou-lhe bens reguengos que possuía <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Melgaço ao termo <strong>de</strong> Chaviães. Cerca do ano <strong>de</strong> 1530 sãomandados restaurar, pelo aba<strong>de</strong> João <strong>de</strong> Cós, os edifícios da igreja, c<strong>as</strong>a do capítulo e residência abacial.No século XVII é mandado restaurar o frontispício. No século XVIII é edificada a torre sineira. Em 1834 oMosteiro é extinto e vendido <strong>em</strong> h<strong>as</strong>te pública.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL3120 5m4261 - Capela-mor2 – Nave3 – SacristiaPl. 11IHRU/DGEMN)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Ermelo 2 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivo2 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Ermelo (Ver ficha no anexo 9.1.1, pp. 679 - 700)Localização: Lugar da Igreja /Diocese: Viana do C<strong>as</strong>telo / Distrito: Viana do C<strong>as</strong>telo / Concelho: Arcos <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>vez / Freguesia: Ermelo /Breve nota histórica: Mosteiro m<strong>as</strong>culino construído entre os séculos XIII e XVIII. Inicialmente beneditino <strong>de</strong>poisfiliado <strong>em</strong> Tarouca (séc. XII/XIII). D. Afonso Henriques coutou S. Pedro do Vale <strong>em</strong> favor do Mosteiro. Em 1221D. Afonso II doa-lhe, por testamento, 100 morabitinos e <strong>em</strong> 1271 também D. Afonso III faz uma doação <strong>de</strong> 500libr<strong>as</strong>. Em 1560 o Car<strong>de</strong>al D. Henrique suprime o Mosteiro e a Igreja p<strong>as</strong>sa a paroquial.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL321764105890 510 m4271 - Capela-mor2 – Nave3 – Nartex4 – Sacristia5 – Sala do Capítulo6 - Claustro7 – Residência Paroquial8 – Refeitório (actualmente Salão <strong>de</strong> Fest<strong>as</strong>)9 – Cozinha (actualmente Restaurante)10 – C<strong>em</strong>itérioPl. 12 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro 3 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivo IHRU/DGEMNe planos do arquitecto Eduardo Souto <strong>de</strong> Moura)3 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro (Ver ficha no anexo 9.1.1, pp. 701 - 752) Localização: Pousada <strong>de</strong> SantaMaria do Bouro / Diocese: Braga / Distrito: Braga / Concelho: Amares Freguesia: Bouro / Breve nota histórica:Mosteiro m<strong>as</strong>culino cuja construção ocorreu entre os séculos XI e XVII, recebendo obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> adaptação noséculo XX. Inicialmente começou como ermitério p<strong>as</strong>sando <strong>de</strong>pois a mosteiro beneditino, acabando filiado<strong>em</strong> Alcobaça (1182/1195). Em 1148 D. Afonso Henriques fez doação do couto ao mosteiro. Sofreu gran<strong>de</strong>sobr<strong>as</strong> <strong>de</strong> restauro <strong>em</strong> finais do século XVII. Foi extinto <strong>em</strong> 1834. Em 1853 o órgão foi para a Igreja do BomJesus <strong>de</strong> Braga. Em 1986 parte do edifício monástico foi adquirido pela Câmara Municipal e doado ao entãoIPPC. Em 1989 os arquitectos Eduardo Souto Moura e Humberto Vieira elaboraram um projecto <strong>de</strong>adaptação do que restava do mosteiro a Pousada.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL32146597428880 5m1 - Capela-mor2 – Nave3 – C<strong>em</strong>itério4 – Sacristia5 – Sala do Capítulo6 – Claustro7 – Parlatório8 – Scriptorium (sal<strong>as</strong> <strong>de</strong> trabalho dos monges)9 – CozinhaPl. 13IHRU/DGEMN)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> 4 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivo4 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> (Ver ficha no anexo 9.1.1, pp. 753 - 774)Localização: Pitões d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> /Diocese: Vila Real / Distrito: Vila Real / Concelho: Montalegre / Freguesia: Pitões d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> / Breve notahistórica: Mosteiro m<strong>as</strong>culino construído entre os séculos XII e XVII. Inicialmente er<strong>em</strong>itério, <strong>de</strong>pois mosteirobeneditino, p<strong>as</strong>sou <strong>em</strong> 1247, por Breve, do papa Inocêncio IV, a <strong>cister</strong>ciense. Está inserido <strong>em</strong> pleno ParqueNacional da Peneda–Gerês, junto à marg<strong>em</strong> direita da Ribeira <strong>de</strong> Campesinho. Foi restaurado entre osséculos XVII e XVIII. Extinto <strong>em</strong> 1834.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL210 5m4291 - Capela-mor2 – NavePl. 14 Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o Velho 5 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivoIHRU/DGEMN)5 Mosteiro <strong>de</strong> Mosteiro <strong>de</strong> São Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o Velho (Ver ficha no anexo 9.1.1, pp. 775 - 794)Localização:S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> / Diocese: Lamego / Distrito: Viseu / Concelho: Tabuaço Freguesia: Granjinha / Brevenota histórica: Mosteiro m<strong>as</strong>culino cuja construção ocorreu entre os séculos XII e XIII. Inicialmente er<strong>em</strong>itérioligado aos beneditinos, p<strong>as</strong>sou à Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister por volta <strong>de</strong> 1170. T<strong>em</strong> ligada a si a Lenda <strong>de</strong> D. Tedon, eD. Rausendo, cavaleiros cristãos e da Princesa moura Ardínia.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL67253414300 510 m1 - Capela-mor2 – Nave3 – Sacristia4 – Claustro5 – Sala do Capítulo6 – Cozinha7 – RefeitórioPl. 15 Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o Novo 6 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivoIHRU/DGEMN e no projecto <strong>de</strong> TOPOS-arquitectos)6 Mosteiro <strong>de</strong> São Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o Novo (Ver ficha no anexo 9.1.1, pp. 795 - 820) Localização: Quinta doConvento <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> / Diocese: Lamego / Distrito: Viseu / Concelho: Tabuaço / Freguesia: Távora/ Breve nota histórica: Mosteiro m<strong>as</strong>culino cuja construção ocorreu entre os séculos XII e XXI. Foi reconstruídono século XVI. Em meados do século XVIII foi encerrado por or<strong>de</strong>m do Marquês <strong>de</strong> Pombal, por ser ali opanteão dos Távor<strong>as</strong>. Foi reaberto no reinado <strong>de</strong> D. Maria I. Em 1834 foi o Mosteiro extinto e vendido <strong>em</strong>h<strong>as</strong>te pública. Em 1997 transformou-se numa socieda<strong>de</strong> agrícola p<strong>as</strong>sando a ser produtor <strong>de</strong> “vinho doPorto”.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL23130 5m4311 - Capela-mor2 – Nave3 – AbsidíolosPl. 16 Abadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> 7 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivo IHRU/DGEMN)7 Abadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> (Ver ficha no anexo 9.1.1, pp. 821 - 832) Localização: Quinta da Abadia Velha /Diocese: Lamego / Distrito: Viseu / Concelho: Tarouca / Freguesia: Ucanha / Breve nota histórica: Mosteirom<strong>as</strong>culino cuja construção terá ocorrido cerca <strong>de</strong> 1150. Foi a primitiva construção do Mosteiro <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>,<strong>de</strong> que apen<strong>as</strong> restam <strong>as</strong> fundações.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL21553460 510 m4321 - Capela-mor2 – Nave3 – Sacristia4 – Sala do Capítulo5 – Claustro6 - HospedariaPl. 17 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>IHRU/DGEMN)Salzed<strong>as</strong> 8 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivo8 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> (Ver ficha no anexo 9.1.1, pp. 833 - 876) Localização: Praça AntónioPereira <strong>de</strong> Sousa / Diocese: Lamego / Distrito: Viseu / Concelho: Tarouca / Freguesia: Salzed<strong>as</strong> / Breve notahistórica: Mosteiro m<strong>as</strong>culino construído entre os séculos XII e XIX. Inicialmente beneditino <strong>de</strong>pois filiado <strong>em</strong>Cister, <strong>em</strong> 1196. Em 1163, D. Afonso Henriques doou o Couto <strong>de</strong> Algeris (Salzed<strong>as</strong>) a D. Teresa Afonso, viúva <strong>de</strong>Eg<strong>as</strong> Moniz e esta por sua vez faz doação do mesmo aos monges da Regra <strong>de</strong> S. Bento (seriam beneditinosque p<strong>as</strong>saram <strong>de</strong>pois para a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister). No século XVI, D. João III encerra o Mosteiro sendo restaurado<strong>em</strong> 1564. No século XVIII continuaram <strong>as</strong> r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lações na estrutura do Mosteiro, com incidência na fachadaprincipal sendo construída no século XIX a torre sineira. Em 1834 o Mosteiro é extinto.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL1391214108765114150 510 m2314331 - Capela-mor2 – Nave3 – Sacristia4 – Sala do Capítulo5 – Scriptorium6 –Latrin<strong>as</strong>7 – Cozinha8 – Refeitório9 – Dormitórios10 - Ala dos Conversos11- Claustro12 – Tulha13 – Moinho14 – Hospedaria15 – Torre sineiraPl. 18 Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca 9 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivo IHRU/DGEMN)9 Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca (Ver ficha no anexo 9.1.1, pp. 877 - 920) Localização: S. João <strong>de</strong> Tarouca /Diocese: Lamego / Distrito: Viseu / Concelho: Tarouca / Freguesia: S. João <strong>de</strong> Tarouca / Breve nota histórica:Mosteiro m<strong>as</strong>culino construído entre os séculos XII e XVII. Inicialmente ligado à Or<strong>de</strong>m Beneditina filiou-se <strong>em</strong>1143 <strong>em</strong> Claraval. Teria sido primeiramente um ermitério, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>pois da vitória sobre os mouros, <strong>em</strong>Trancoso, D. Afonso Henriques lançou a primeira pedra da igreja e <strong>em</strong> 1140 p<strong>as</strong>sou Carta <strong>de</strong> Couto aoMosteiro. A construção da torre sineira ocorreu no século XVI e no século XVII foi reformulada e ampliada acapela-mor para receber um retábulo <strong>de</strong> talha dourada. Datam <strong>de</strong> 1718 os azulejos da capela-mor e <strong>de</strong>1766 a encomenda do órgão. Em 1834 o Mosteiro foi extinto.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL1098856137243440 510 m1 - Capela-mor2 – Nave3 – Sacristia4 – C<strong>em</strong>itério5 –Sala do Capítulo6 –Claustro7 – A<strong>de</strong>ga8 – Cozinha9 – Refeitório10 - ScriptoriumPl. 19IHRU/DGEMN)Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões 10 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivo10 Mosteiro <strong>de</strong> São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (Ver ficha no anexo 9.1.1, pp. 921 - 952) Localização: S. Cristóvão <strong>de</strong>Lafões / Diocese: Viseu / Distrito: Viseu / Concelho: S. Pedro do Sul / Freguesia: S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões / Brevenota histórica: Mosteiro m<strong>as</strong>culino filiado na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> 1161. Inicialmente ligado a um ermitério,provavelmente mais tar<strong>de</strong> pertenceu a beneditinos, <strong>em</strong> 1137 D. Afonso Henriques doou ao Mosteiro o Couto<strong>de</strong> Valadares. Em 1704 houve lugar à terceira reconstrução da igreja, após incêndio. Em 1834 foi o Mosteiroextinto e vendido <strong>em</strong> h<strong>as</strong>te pública. Nos anos 80, do século XX a família Osswald adquiriu a parte dosedifícios monásticos e regulares que requalificou para turismo rural. A Igreja pertence à paróquia.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL2138847560 510 m4351 - Capela-mor2 – Nave3 – Sacristia4 – Sala do Capítulo5 – Claustro6 –Cozinha7 – Refeitório8 – TulhaPl. 20 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dão 11 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivoIHRU/DGEMN)11 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dão (Ver ficha no anexo 9.1.1, pp. 953 - 982) Localização: MaceiraDão / Diocese: Viseu / Distrito: Viseu / Concelho: Mangual<strong>de</strong> / Freguesia: Fornos <strong>de</strong> Maceira Dão / Breve notahistórica: Mosteiro m<strong>as</strong>culino construído entre os séculos XII e XVIII. Filiado na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> 1188. Tudocomeçou com a edificação <strong>em</strong> 1161, <strong>de</strong> um ermitério, <strong>em</strong> Moimenta do Dão, fundado por D. SueiroTeodoniz, <strong>em</strong> terr<strong>as</strong> doad<strong>as</strong> por D. Afonso Henriques. Posteriormente, <strong>em</strong> 1168, é fundado um mosteirobeneditino <strong>em</strong> Maceira Dão, num vale entre os maciços <strong>de</strong> Santo António dos Cabaços e <strong>de</strong> Fagil<strong>de</strong>, juntoao regato d<strong>as</strong> Freir<strong>as</strong>, nos limites <strong>de</strong> C<strong>as</strong>al Garcia, que viria a abraçar a reforma <strong>cister</strong>ciense. Em 1613 oMosteiro sofre gran<strong>de</strong> reestruturação sendo praticamente reedificado. Em 1834 o mosteiro é extinto evendido <strong>em</strong> h<strong>as</strong>te pública..


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL786543642130 510 m31 - Capela-mor2 – Nave3 – Absidíolo4 – Sacristia5 – Sala do Capitulo6 – Claustro7 – Armazém8 – HospedariaPl. 21 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar 12 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivoIHRU/DGEMN)12 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar (Ver ficha no anexo 9.1.1, pp. 983 - 1018) Localização: Figueira <strong>de</strong>C<strong>as</strong>telo Rodrigo / Diocese: Guarda / Distrito: Guarda / Concelho: Figueira <strong>de</strong> C<strong>as</strong>telo Rodrigo / Freguesia:C<strong>as</strong>telo Rodrigo / Breve nota histórica: Mosteiro m<strong>as</strong>culino construído entre os séculos XII e XVIII. Inicialmentebeneditino português foi mais tar<strong>de</strong> anexado pelo Reino <strong>de</strong> Leão, sendo filiado na Abadia leonesa <strong>de</strong>Moreruela. Voltou à soberania portuguesa <strong>em</strong> 1169. Em 1810 sofreu a <strong>de</strong>v<strong>as</strong>tação d<strong>as</strong> Inv<strong>as</strong>ões Frances<strong>as</strong>. Em1834 o Mosteiro foi extinto e vendido <strong>em</strong> h<strong>as</strong>te pública. Parte dos antigos edifícios monásticos (hospedaria)está hoje reconvertida num complexo <strong>de</strong> Turismo <strong>de</strong> habitação estando <strong>em</strong> posse <strong>de</strong> particulares.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL210 5m1 - Capela-mor 2 – NavePl. 22 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria da Estrela 13IHRU/DGEMN)(<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivo214370 5m1 - Capela-mor 2 – NavePl. 23 Mosteiro <strong>de</strong> S. Paulo <strong>de</strong> Almaziva 14 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivo IHRU/DGEMN)13 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria da Estrela (Ver ficha no anexo 9.1.1, pp. 1019 - 1030) Localização: Rua da NossaSenhora da Estrela / Diocese: Guarda / Distrito: Guarda / Concelho: Covilhã / Freguesia: Boidobra / Brevenota histórica: Mosteiro m<strong>as</strong>culino construído entre os séculos XIII e XVI. Filiado na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> 1220.Fundado no século XIII, por D. Mendo Aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maceira Dão. Por ser uma fundação <strong>de</strong> Maceira Dão, daí <strong>as</strong>ua <strong>de</strong>signação primitiva no testamento <strong>de</strong> Afonso III como ‘Maceira <strong>de</strong> Covelliana’. Foi suprimido a 1 <strong>de</strong>Maio <strong>de</strong> 1579 e <strong>as</strong> su<strong>as</strong> receit<strong>as</strong> juntaram-se às dos mosteiros do Ermelo e Tamarães dotando o Colégio doEspírito Santo <strong>em</strong> Coimbra.14 Mosteiro <strong>de</strong> São Paulo <strong>de</strong> Almaziva (Ver ficha no anexo 9.1.1, pp. 1031 - 1042) Localização: Largo da Igreja/ Diocese: Coimbra / Distrito: Coimbra / Concelho: Coimbra / Freguesia: São Paulo <strong>de</strong> Fra<strong>de</strong>s / Breve notahistórica: Mosteiro m<strong>as</strong>culino cuja construção ocorreu entre os séculos XI e XVII. Filiado na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister<strong>em</strong> 1221. Des<strong>de</strong> o século XII que o mosteiro albergava uma pequena comunida<strong>de</strong> religiosa ligada à Regra<strong>de</strong> S. Bento. Por volta <strong>de</strong> 1220, Fernando Peres, notário da chancelaria <strong>de</strong> D. Sancho I e chantre da Sé <strong>de</strong>Lisboa, doou o mosteiro aos <strong>cister</strong>cienses e <strong>as</strong>sim, por bula do papa Honório III, surge o Mosteiro <strong>de</strong> S. Paulo<strong>de</strong> Almaziva. Em 1555 o mosteiro foi anexado ao Colégio do Espírito Santo, por vonta<strong>de</strong> do rei D. João III eautorização do papa Júlio III. A partir do século XVII a igreja monástica p<strong>as</strong>sou para a paróquia <strong>de</strong> S. Paulo<strong>de</strong> Fra<strong>de</strong>s.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL122438 0 510 m1 – Igreja (vestígios)2 – ClaustroPl. 24 Colégio do Espírito Santo 15 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivo IHRU/DGEMN)15 Colégio do Espírito Santo (Ver ficha no anexo 9.1.1, pp. 1043 - 1072) Localização: Rua da Sofia / Diocese:Coimbra / Distrito: Coimbra / Concelho: Coimbra / Freguesia: Santa Cruz / Breve nota histórica: Fundado <strong>em</strong>1541, por iniciativa do Car<strong>de</strong>al D. Henrique, pertencendo à Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister, daí também ser conhecido porColégio <strong>de</strong> S. Bernardo. Em 1550 recebeu os primeiros colegiais e foi elevado à categoria <strong>de</strong> Abadia <strong>em</strong>1596. Após a extinção d<strong>as</strong> Or<strong>de</strong>ns Religios<strong>as</strong> <strong>em</strong> 1834, foi o edifício vendido <strong>em</strong> h<strong>as</strong>te pública <strong>em</strong> 1838.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL543210 510 m4391 - Capela-mor2 – Nave3 – Sacristia4 – Sala do Capítulo5 – ClaustroPl. 25IHRU/DGEMN)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Seiça 16 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivo16 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Seiça (Ver ficha no anexo 9.1.1, pp. 1073 - 1092) Localização: Ribeira <strong>de</strong> Seiça /Diocese: Coimbra / Distrito: Coimbra / Concelho: Figueira da Foz / Freguesia: Paião / Breve nota histórica:Mosteiro m<strong>as</strong>culino cuja construção ocorreu entre os séculos XII e XVIII, situa-se no vale da Ribeira <strong>de</strong> Seiça.Filiou-se na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> 1195. Fundado por volta <strong>de</strong> 1162, esteve inicialmente ligado aos fra<strong>de</strong>sCrúzios p<strong>as</strong>sando <strong>de</strong>pois à Regra <strong>de</strong> S. Bento. D. Afonso Henriques <strong>de</strong>u-lhe Carta <strong>de</strong> Couto <strong>em</strong> 1175. D. JoãoIII suprime o Mosteiro no século XVI. Em 1560 D. Seb<strong>as</strong>tião reabre o Mosteiro. Em 1834 é extinto e vendido maistar<strong>de</strong> <strong>em</strong> h<strong>as</strong>te pública <strong>em</strong> 1895. No ano 2000 foi adquirido pela Câmara Municipal da Figueira da Foz.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL19108 796512 13171142 13181614440150 510 m1 - Capela-mor2 – Nave3 – Sacristia Nova4 – Antiga Sacristia5 – Sala do Capitulo6 – Parlatório7 – Scriptorium8 – Cozinha9 – Lavabo10 - Refeitório11 – Claustro12 – Claustro do Car<strong>de</strong>al(ou dos Noviços)13 – Claustro do Rachadoiro14 – Capela do Desterro15 – Celeiro16 - Ala S. Bernardo(antiga Hospedaria)17 – Sala dos Reis18 – Panteão Régio19 - Claustro <strong>de</strong> D. Afonso VIPl. 26 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça 17 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivoIHRU/DGEMN e nos planos cedidos pelo arquitecto João Pedro Falcão <strong>de</strong> Campos)17 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (Ver ficha no anexo 9.1.1, pp. 1093 – 1173) Localização: Alcobaça /Diocese: Lisboa / Distrito: Leiria / Concelho: Alcobaça / Freguesia: Alcobaça / Breve nota histórica: Mosteirom<strong>as</strong>culino da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister, fundado <strong>em</strong> 1153 e construído entre os séculos XII e XX. Só <strong>em</strong> 1223 osmonges habitam <strong>as</strong> <strong>de</strong>pendênci<strong>as</strong> do mosteiro. Entre 1308/1311 é edificado o Claustro <strong>de</strong> D. Dinis. Em 1567 éinstituída a Congregação Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça. Em 1656/1667 é construído o Claustro <strong>de</strong> D. Afonso VI. Osfranceses saqueiam o Mosteiro no ano <strong>de</strong> 1811. Em 1833 os monges abandonam o Mosteiro e no anoseguinte é extinto. Serve <strong>de</strong> Panteão a D. Pedro I e a Inês <strong>de</strong> C<strong>as</strong>tro..


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL5.2.2.Planimetria dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses f<strong>em</strong>ininos321457680 510 m4411 - Capela-mor2 – Nave3 – Coro4 – Claustro5 – Sala do Capitulo6 – Cozinha7 – Refeitório8 – ParlatórioPl. 27 Mosteiro <strong>de</strong> São Pedro e São Paulo <strong>de</strong> Arouca 18 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivoIHRU/DGEMN)18 Mosteiro <strong>de</strong> São Pedro e São Paulo <strong>de</strong> Arouca (Ver ficha no anexo 9.1.2, pp. 1211 - 1254) Localização:Largo <strong>de</strong> Santa Mafalda / Diocese: Porto / Distrito: Aveiro / Concelho: Arouca / Freguesia: Arouca / Brevenota histórica: Mosteiro f<strong>em</strong>inino construído entre os séculos X e XVIII. Entre 1085 e 1095 adoptou a Regra <strong>de</strong>São Bento. Em 1132 D. Afonso Henriques p<strong>as</strong>sou-lhe carta <strong>de</strong> Couto. Em 1220 D. Mafalda, filha <strong>de</strong> D. Sancho I,professa no Mosteiro. Em 1226 o Mosteiro filia-se na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister. A 3 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1886 morre a últimafreira e o Mosteiro é extinto, sendo os seus bens incorporados na Fazenda Pública. Em 1890 é criada aIrmanda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa Mafalda, para salvaguardar o espólio do Mosteiro, on<strong>de</strong> actualmente possui um Museu<strong>de</strong> Arte Sacra e o Centro <strong>de</strong> Estudos “D. Domingos Pinho Brandão”. Em 1990 o Mosteiro foi cedido à CâmaraMunicipal..


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL3122511761498104420 510 m1 - Capela-mor2 – Nave3 – Coro4 – Sacristia5 – Claustro6 – Sala do Capítulo7 – Parlatório8 – Acesso à torre9 – Portaria10 – Mirante11 – Área arruinada (cozinha e refeitório)12 – DormitóriosPl. 28 Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa 19 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> doarquivo IHRU/DGEMN)19 Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa (Ver ficha no anexo 9.1.2, pp. 1255 - 1286) Localização:Tabosa / Diocese: Lamego / Distrito: Viseu / Concelho: Sernancelhe / Freguesia: Carregal / Breve notahistórica: Mosteiro f<strong>em</strong>inino cuja construção r<strong>em</strong>onta aos finais do século XVII. Fundado na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister<strong>em</strong> 1690, por escritura outorgada entre Maria Pereira (a instituidora) e a Congregação <strong>de</strong> Alcobaça. Asprimeir<strong>as</strong> monj<strong>as</strong>, provenientes do Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazaré do Mocambo, chegaram <strong>em</strong> 1692.Em 1834 foi o Mosteiro extinto e vendido <strong>em</strong> h<strong>as</strong>te pública com excepção da igreja que p<strong>as</strong>sou a pertencerà paróquia..


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL784321650 510 m1 - Capela-mor2 – Nave3 – Coro4 – Sacristia5 – Sala do Capítulo6 – Claustro7 – Dormitórios8 - Nártex443Pl. 29 Mosteiro <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> do Lorvão 20 (<strong>de</strong>senho da autora sobre planta do arquivo IHRU/DGEMN)20 Mosteiro <strong>de</strong> São Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão (Ver ficha no anexo 9.1.2, pp. 1287 - 1324) Localização: Pátio doMosteiro - Lorvão / Diocese: Coimbra / Distrito: Coimbra / Concelho: Penacova / Freguesia: Lorvão / Brevenota histórica: Mosteiro f<strong>em</strong>inino construído entre os séculos XII e XX. Filiado na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> 1211. Ér<strong>em</strong>ota a notícia da edificação <strong>de</strong> um espaço mon<strong>as</strong>tico nest<strong>as</strong> paragens, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a lenda que o dáexistente no século VI, p<strong>as</strong>sando pela provável fundação <strong>em</strong> 878 na sequência da primeira reconquista <strong>de</strong>Coimbra, sendo então m<strong>as</strong>culino e <strong>de</strong>dicado a S. Mame<strong>de</strong> e S. Pelágio, até ao século X on<strong>de</strong> a suaimportância é já acentuada. No século XI ingressa na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> S. Bento. Em 1183 é aqui elaborado o “Livrod<strong>as</strong> Aves” <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> beleza artística e <strong>em</strong> 1189 a iluminura <strong>de</strong> excelência “Comentário do Apocalipse”. Em1206 p<strong>as</strong>sa a f<strong>em</strong>inino e abraça posteriormente a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister. Em 1834 o mosteiro é extinto p<strong>as</strong>sando aacolher um hospital psiquiátrico.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL109118321567412130 5m4441 - Capela-mor2 – Nave3 – Coro4 – Nártex5 – Capela <strong>de</strong> Santa Sanches6 – Sacristia7 – P<strong>as</strong>sag<strong>em</strong> para o Claustro8 – Arrumos9 – Sala d<strong>as</strong> Sessões10 – Sala do Capítulo11 – Claustro12 – Serviço13 – Ruín<strong>as</strong> dosantigos aposentosabaciaisPl. 30IHRU/DGEMN)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong> 21 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivo21 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong> (Ver ficha no anexo 9.1.2, pp. 1325 - 1352) Localização: Largo <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong> /Diocese: Coimbra / Distrito: Coimbra / Concelho: Coimbra / Freguesia: Santo António dos Olivais / Breve notahistórica: Mosteiro f<strong>em</strong>inino construído entre os séculos XII e XIX. Filiado na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> 1215. Foifundado <strong>em</strong> 1210 por D. Sancha, filha <strong>de</strong> D. Sancho I, <strong>em</strong> 1219 recebeu <strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> monj<strong>as</strong> e <strong>em</strong> 1293 foisagrado pelo bispo Aymeric D’Eibrad. A 15 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1883 faleceu a última monja e o mosteiro p<strong>as</strong>sou paraa posse do Estado.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL41 2 350 510 m4451 - Capela-mor2 – Nave3 – Coro4 – Sacristia5 – Ruín<strong>as</strong> dos DormitóriosPl. 31 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cós 22 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> do arquivo IHRU/DGEMN)22 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cós (Ver ficha no anexo 9.1.2, pp. 1353 - 1390) Localização: Rua <strong>de</strong> Santa Rita /Diocese: Lisboa / Distrito: Leiria / Concelho: Alcobaça / Freguesia: Cós / Breve nota histórica: Mosteirof<strong>em</strong>inino construído entre os séculos XVI e XVIII, nos Coutos <strong>de</strong> Alcobaça. Fundado na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong>1530. D<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> mandad<strong>as</strong> efectuar pelo Car<strong>de</strong>al Infante D. Afonso apen<strong>as</strong> resta a porta manuelina. Em 1714foi feito o revestimento azulejar d<strong>as</strong> pare<strong>de</strong>s da sacristia e do coro. Foi extinto <strong>em</strong> 1834, sendo vendido <strong>em</strong>h<strong>as</strong>te pública..


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL76584460 510 m423131 - Capela-mor2 – Nave3 – Sacristia4 – Sala do Capítulo5 – Claustro6 – Cozinha7 – Refeitório8 - GaleriaPl. 32 Mosteiro <strong>de</strong> S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong> 23 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivo IHRU/DGEMN)23 Mosteiro <strong>de</strong> São Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong> (Ver ficha no anexo 9.1.2, pp. 1391 - 1428) Localização: Largo <strong>de</strong> D. Dinis/ Diocese: Lisboa / Distrito: Lisboa / Concelho: Odivel<strong>as</strong> / Freguesia: Odivel<strong>as</strong> / Breve nota histórica: Mosteirof<strong>em</strong>inino construído entre os séculos XIV e XVIII. Fundado na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> 1295.A primeira pedra foilançada por D. Dinis ficando <strong>as</strong> monj<strong>as</strong> a viver junto ao Paço Real até 1305 altura <strong>em</strong> que o mosteiro foiconcluído. Em 1516 foi sepultada na sala do capítulo a Aba<strong>de</strong>ssa D. Violante, irmã <strong>de</strong> Pedro Álvares Cabral.Extinção do mosteiro <strong>em</strong> 1834. Em 1898 o Infante D. Afonso solicitou ao Ministério da Fazenda <strong>as</strong><strong>de</strong>pendênci<strong>as</strong> do mosteiro para ali instalar <strong>as</strong> órfãs dos oficiais do Exército, o que veio a acontecer <strong>em</strong> 1900.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL9875634214470 5m1 - Capela-mor2 – Nave(sala <strong>de</strong> exposições t<strong>em</strong>porári<strong>as</strong>)3 – Nártex(Acolhimento Museu)4 – Sacristia5 – Claustro6 – Parlatório7 – Sala do Capítulo(Museu)8 – Cozinha (Restaurante “A Travessa”)9 – Refeitório (Restaurante “A Travessa”)Pl. 33 Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazaré do Mocambo 24 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> doarquivo IHRU/DGEMN)24 Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazaré do Mocambo (Ver ficha no anexo 9.1.2, pp. 1429 - 1462)Localização: Travessa Convento d<strong>as</strong> Bernard<strong>as</strong> / Diocese: Lisboa / Distrito: Lisboa / Concelho: Lisboa /Freguesia: Santos-o-Velho / Breve nota histórica: Mosteiro f<strong>em</strong>inino construído entre os séculos XVII e XVIII.Fundado na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> 1653. D. Antónia Moniz foi a primeira Aba<strong>de</strong>ssa. Com o terramoto <strong>de</strong> 1755ruíram <strong>as</strong> <strong>de</strong>pendênci<strong>as</strong> do lado Sul, incluindo a Igreja. As obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> reconstrução começaram <strong>em</strong> 1778. Éextinto <strong>em</strong> 1834 sendo posteriormente adquirido por Joaquim Lopes Câmara que aí instalou o Colégio <strong>de</strong>Nossa Senhora da Conceição. Foi Villa operária e a Igreja cine-teatro. Actualmente alberga o Museu daMarioneta, habitações e um restaurante.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL865412730 510 m4481 - Capela-mor2 – Nave3 – Coro4 – Sacristia5 – Sala do Capítulo6 – Claustro7 – Fonte8 – Cozinha e Refeitório(adaptados a instalações a gricol<strong>as</strong>)Pl. 34 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Almoster 25 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivoIHRU/DGEMN)25 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Almoster (Ver ficha no anexo 9.1.2, pp. 1463 - 1492) Localização: Largo doConvento / Diocese: Santarém / Distrito: Santarém / Concelho: Santarém / Freguesia: Almoster / Breve notahistórica: Mosteiro f<strong>em</strong>inino construído entre os séculos XII e XX. Fundado na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> 1289, por D.Berengária Aires, aia da rainha Santa Isabel. Em 1910, com a implantação da República, a igreja foivandalizada tendo <strong>de</strong>saparecido azulejos, quadros e um pórtico da sala do capítulo. Em 1956 foramretirad<strong>as</strong> <strong>as</strong> tel<strong>as</strong> atribuíd<strong>as</strong> a Gregório Lopes.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL0 510 m1287654311119102144911111 - Capela-mor2 – Nave3 – Coro4 – Sacristia5 – Sala do Capítulo(Sala dos Oficiais)6 – Claustro7 - Refeitório8 – Cozinha9 – Torre10 – Nártex11 - Hospedaria12 – DormitórioPl. 35 Mosteiro <strong>de</strong> São Bernardo <strong>de</strong> Portalegre 26 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivoIHRU/DGEMN)26 Mosteiro <strong>de</strong> São Bernardo <strong>de</strong> Portalegre (Ver ficha no anexo 9.1.2, pp. 1493 - 1526) Localização: Av. JorgeRobinson / Diocese: Portalegre - C<strong>as</strong>telo Branco /Distrito: Portalegre /Concelho: Portalegre /Freguesia: SãoLourenço / Breve nota histórica: Mosteiro f<strong>em</strong>inino construído entre os séculos XVI e XVIII. Fundado na Or<strong>de</strong>m<strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> 1518, pelo bispo da Guarda, D. Jorge <strong>de</strong> Melo. A consagração da igreja foi feita <strong>em</strong> 1572. Em1878 foi o Mosteiro extinto com a morte da última monja. Em 1879 teve instalado o S<strong>em</strong>inário Diocesano,entre 1880 e 1887 ali funcionou o Liceu e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1911 que está afecto ao Ministério da Defesa Nacional comoEscola Prática <strong>de</strong> Instrução da Guarda Nacional Republicana.


5. ARQUITECTURA CISTERCIENSE EM PORTUGAL76435214500 510 m1 - Capela-mor2 – Nave3 – Sacristia4 – Sala do Capítulo5 – Claustro6 – Cozinha7 – RefeitórioPl. 36 Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris 27 (<strong>de</strong>senho da autora com b<strong>as</strong>e <strong>em</strong> plant<strong>as</strong> do arquivo IHRU/DGEMN)27 Mosteiro <strong>de</strong> São Bento <strong>de</strong> Cástris (Ver ficha no anexo 9.1.2, pp. 1527 - 1554) Localização: Estrada <strong>de</strong>Arraiolos / Diocese: Évora / Distrito: Évora / Concelho: Évora / Freguesia: São Bento / Breve nota histórica:Mosteiro f<strong>em</strong>inino construído entre os séculos XII e XIX. Filiado na Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> 1275. Fundado noséculo XII, no lugar da primitiva ermida <strong>de</strong> S. Bento, erigida por D. Soeiro, bispo <strong>de</strong> Évora, a pedido <strong>de</strong> D.Urraca Ximenes, o Mosteiro cedo abraçou o ramo <strong>cister</strong>ciense. O claustro gótico-mudéjar é datado doséculo XV. A 18 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1890 foi extinto, após a morte da última religiosa..


CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIO6.451Fig. VI Torre e pon<strong>de</strong> da Ucanha, pertencentes ao Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>(<strong>de</strong>senho <strong>de</strong> Mestre Jorge Braga da Costa cedido pelo autor)


CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIO6.6.1. IMPORTÂNCIA DE CISTER NA ARQUITECTURA MEDIEVAL PORTUGUESA6.2. INSERÇÃO CISTERCIENSE NO TERRITÓRIO PORTUGUÊS6.2.1. Esboço do território continental6.2.2. Distribuição geográfica <strong>cister</strong>ciense no território português6.3. TIPO DE IMPLANTAÇÃO NO TERRITÓRIO PORTUGUÊS6.4. MUDANÇAS DE SÍTIO EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS6.5. HIDRÁULICA CISTERCIENSE452


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIO6.1.A IMPORTÂNCIA DE CISTER NA ARQUITECTURA MEDIEVAL PORTUGUESAA arquitectura s<strong>em</strong>pre foi reveladora dos modos e pensamentos <strong>de</strong> umaépoca. Através do significado, que adquire na região on<strong>de</strong> que se insere,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os el<strong>em</strong>entos construtivos e materiais utilizados, à ornamentação utilizadaou da ausência <strong>de</strong>la, um edifício seja religioso ou profano po<strong>de</strong> ser cl<strong>as</strong>sificadoestilisticamente e consequent<strong>em</strong>ente correspon<strong>de</strong>r a uma época cronológicaespecífica.abFig. 286 Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o velho (a), Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> (b)(fotografi<strong>as</strong> da autora)453Deste modo, do edificado <strong>de</strong> uma época <strong>de</strong>stacam-se s<strong>em</strong>pre os edifícios <strong>de</strong>carácter marcante, no c<strong>as</strong>o religioso, edifícios capazes <strong>de</strong> acolher <strong>as</strong> gentes <strong>de</strong>uma região, enquanto marco <strong>de</strong> <strong>de</strong>voção, <strong>de</strong> cultura, <strong>de</strong> doutrina, <strong>em</strong> suma<strong>de</strong> Fé. A arquitectura religiosa é <strong>as</strong>sim um dos maiores e mais amplos test<strong>em</strong>unhosda vivência humana ao longo dos séculos (Fig. 286). É test<strong>em</strong>unho não só<strong>de</strong> receios e flagelos m<strong>as</strong> também <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento e júbilo <strong>de</strong> toda umacomunida<strong>de</strong> e consequent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> todos os grupos sociais que a compõ<strong>em</strong>.A linguag<strong>em</strong> arquitectónica <strong>as</strong>sociada aos primórdios da nacionalida<strong>de</strong>foi o Românico. A expansão da arquitectura românica, <strong>em</strong> Portugal, coincidiucom o reinado <strong>de</strong> D. Afonso Henriques, estando relacionada não só com aorganização eclesiástica diocesana e paroquial m<strong>as</strong> também com os mosteirosd<strong>as</strong> vári<strong>as</strong> or<strong>de</strong>ns monástic<strong>as</strong>, fundados ou reconstruídos no <strong>de</strong>correr dos séculosXII e XIII. Os principais encomendadores <strong>de</strong>sta nova arquitectura foram osbispos (d<strong>as</strong> dioceses então restaurad<strong>as</strong>), os priores e os aba<strong>de</strong>s dos mosteiros. 11 Cfr. MARTINS, Ana Maria Tavares F.; Arquitectura Religiosa n<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong> nos primórdios da Nacionalida<strong>de</strong> in“Arte, Po<strong>de</strong>r e Religião nos T<strong>em</strong>pos Medievais – A I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Portugal <strong>em</strong> Construção”; Ed. CâmaraMunicipal <strong>de</strong> Viseu, Museu Grão V<strong>as</strong>co, Departamento dos Bens Culturais da Diocese <strong>de</strong> Viseu; Viseu 2009;pp 48-59


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOA arquitectura religiosa oci<strong>de</strong>ntal, durante o período medieval, <strong>de</strong>senvolveu-seatravés da constante alteração e mutação dos próprios sist<strong>em</strong><strong>as</strong> construtivosque possibilitaram a sua materialização e exequibilida<strong>de</strong>. Esta mutaçãofoi realizada segundo uma articulação espacial e formal progressiva, <strong>de</strong>acordo com o pensamento oci<strong>de</strong>ntal, <strong>as</strong>sociada a uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> progressocontínuo. A activida<strong>de</strong> construtiva coeva foi v<strong>as</strong>ta e intensa, possibilitando aedificação <strong>de</strong> Catedrais, Mosteiros, Igrej<strong>as</strong> e Capel<strong>as</strong>, isto é possibilitando apequena e gran<strong>de</strong> escala no âmbito da arquitectura religiosa.454aFig. 287 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> (a), Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris (b) (fotografi<strong>as</strong> da autora)bDe facto, a igreja medieval apresenta diferenç<strong>as</strong>, não só <strong>de</strong> nação paranação, como também <strong>de</strong> região para região, po<strong>de</strong>ndo-se referenciar uma leitura,plena <strong>de</strong> variantes, que ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>nota <strong>as</strong> su<strong>as</strong> origens regionaise rurais, b<strong>em</strong> característic<strong>as</strong> e pertencentes ao que se po<strong>de</strong> apelidar <strong>de</strong> românicoevolutivo, segundo factores inerentes ao próprio estilo arquitectónico, ao<strong>de</strong>senvolvimento formal e construtivo, m<strong>as</strong> também à cronologia, isto é, aopróprio T<strong>em</strong>po (Fig. 287). Como refere Carlos A. Ferreira <strong>de</strong> Almeida:“Mais que <strong>em</strong> qualquer outra região, a arquitectura românica portuguesa,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>as</strong> catedrais às igrej<strong>as</strong> mon<strong>as</strong>terais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os c<strong>as</strong>telosàs paroquiais e às ermid<strong>as</strong> que consagram sítios <strong>de</strong> hierofani<strong>as</strong>, <strong>de</strong><strong>de</strong>voção ermítica ou <strong>de</strong> protecção às comunida<strong>de</strong>s agrícol<strong>as</strong> e <strong>de</strong>p<strong>as</strong>tores, t<strong>em</strong> <strong>de</strong> ser sentida e apreciada in situ e nos seus contornosgeográficos e históricos. Só <strong>as</strong>sim, inserida na paisag<strong>em</strong> e no habitatlocal, ele é verda<strong>de</strong>iramente compreensível e só <strong>as</strong>sim se t<strong>em</strong> umarica lição para contar.” 22 Cit. ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira <strong>de</strong>; Arquitectura in “Nos confins da Ida<strong>de</strong> Média”; IPM; 1992; p.75


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIONo que respeita à construção do edificado religioso medieval, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>progresso contínuo evi<strong>de</strong>ncia-se e consubstancia-se n<strong>as</strong> superfícies autoportantese murais, permitindo cada vez mais a articulação <strong>de</strong>st<strong>as</strong> superfícies com amutação <strong>as</strong>sociada a uma evolução da espacialida<strong>de</strong> arquitectónica propriamentedita, ou seja, <strong>as</strong>sociada a uma mutação e evolução do muro autoportantee continuo até a <strong>de</strong>smaterialização do mesmo e permitindo a utilização<strong>de</strong> outro tipo <strong>de</strong> soluções estruturais abobadad<strong>as</strong> (Fig. 288).455abFig. 288 Aparelho românico: (a)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães (fotografia DGEMN); (B) <strong>de</strong>talhe construtivo<strong>de</strong> aparelho românico <strong>de</strong>senhado por Viollet-le-Duc e apresentado no capítulo <strong>de</strong>dicado à construçãoinserido no “Dictionnaire raisonné <strong>de</strong> l’architecture française du XI e au XVI e siècle“ 3Assim, po<strong>de</strong>-se sintetizar este facto na variável relação estabelecida pelobinómio ábsi<strong>de</strong>-transepto uma vez que esta é a articulação responsável peladiferenciação e distinções não só espaciais m<strong>as</strong> também funcionais. Em algunsc<strong>as</strong>os o transepto <strong>as</strong>sume-se qu<strong>as</strong>e como mais uma nave, m<strong>as</strong> esta agoratransversal, <strong>em</strong> oposição ao el<strong>em</strong>ento longitudinal e <strong>de</strong> carácter b<strong>as</strong>ilical, queconforma a nave propriamente dita e à absi<strong>de</strong> que se encontra no seu seguimento.No entanto, <strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> religios<strong>as</strong> românic<strong>as</strong>, <strong>de</strong> carácter mais rurale interior apresentam, <strong>de</strong> certo modo, a antítese do que foi referido ao seranulada esta possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diálogo arquitectónico dado o seu diminutoporte.3 VIOLLET-LE-DUC, E.; La Construcción Medieval [in “Dictionnaire raisonné <strong>de</strong> l’architecture française du XI e auXVI e siècle“]; Instituto Juan <strong>de</strong> Herrera, CEHOPU-Centro <strong>de</strong> Estudios Historicos <strong>de</strong> Obr<strong>as</strong> Public<strong>as</strong> y Urbanismo,CEDEX-Centro <strong>de</strong> Estudios y Experimentación <strong>de</strong> Obr<strong>as</strong> Públic<strong>as</strong>; Madrid 1996; cap. Principios, p. 12


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIO456A importância do transepto é também marcante na <strong>de</strong>finição da funcionalida<strong>de</strong>atribuída à absi<strong>de</strong>, seja ela complexa ou <strong>de</strong> r<strong>as</strong>gos mais simples,po<strong>de</strong>ndo para isso <strong>as</strong>sumir diferentes distanciamentos e posicionamentos <strong>em</strong>relação à cabeceira.É esta relação [ (absi<strong>de</strong> + nave) – transepto ] que <strong>de</strong>termina a planimetriadando orig<strong>em</strong> às distint<strong>as</strong> conformações d<strong>as</strong> plant<strong>as</strong> inerentes a est<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong>,tais como a planta <strong>de</strong> cruz latina ou planta <strong>de</strong> cruz grega, consoante adimensão da relação do binómio referido.No que respeita à estrutura, po<strong>de</strong>-se referir que se evolui ten<strong>de</strong>ncialmente<strong>de</strong> uma estrutura autoportante maciça para uma estrutura mais leve, <strong>de</strong>smaterializada,on<strong>de</strong> a própria estrutura se resume a uma vectorização e consequent<strong>em</strong>aterialização d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> presentes no edificado. Este facto permitecompreen<strong>de</strong>r que na arquitectura medieval a materialização d<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> e aarticulação da estrutura, do próprio edificado, permite conformar e formalizaros espaços arquitectónicos.O muro autoportante, que funcionava como pano <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> homogéneo,e a cobertura <strong>de</strong> carácter contínuo foram gradualmente substituídos pelaestrutura e articulação românic<strong>as</strong>. Surg<strong>em</strong> os contrafortes (Fig. 289) quepermit<strong>em</strong> uma nova espacialida<strong>de</strong>, <strong>as</strong>sociada ao arco <strong>de</strong> volta perfeita,permitindo a composição modular e uma estrutura planimetricamente maisrígida e rigorosa que permite algo mais que a simples agregação <strong>de</strong> situações<strong>de</strong> espacialida<strong>de</strong> diversa.Fig. 289 Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca contrafortes e transepto saliente que se<strong>de</strong>staca do alçado (fotografia da autora)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOSurge ainda a importância do arco formeiro que conduz directamente <strong>as</strong> carg<strong>as</strong>aos pontos <strong>de</strong> sustentação, permitindo diminuir a espessura da pare<strong>de</strong> epermitindo a conjugação <strong>de</strong> novos ritmos planimétricos.a457cbFig. 290 Estrutura d<strong>as</strong> abobad<strong>as</strong> que cobr<strong>em</strong> <strong>as</strong> naves colaterais:(a, b)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>(fotografi<strong>as</strong> da autora); (c) <strong>de</strong>talhe construtivo <strong>de</strong>senhado por Viollet-le-Duc e apresentado no capítulo<strong>de</strong>dicado à construção inserido no “Dictionnaire raisonné <strong>de</strong> l’architecture française du XI e au XVI e siècle;p.179“ 4A estrutura ganhou <strong>as</strong>sim importância e consolidou-se na realização do espaçoarquitectónico, algo que perdurará, evoluindo até à arquitecturacont<strong>em</strong>porânea. Deste modo, o binómio espacialida<strong>de</strong>-estrutura estará par<strong>as</strong><strong>em</strong>pre presente na arquitectura religiosa, m<strong>as</strong> também na militar e nahabitacional.A forma mais el<strong>em</strong>entar <strong>de</strong> uma igreja românica po<strong>de</strong> apresentar-se <strong>de</strong>uma a três naves. De um modo geral, a nave principal apresenta uma alturamais elevada <strong>em</strong> relação às naves laterais, sendo coberta por uma abóbada<strong>de</strong> berço, enquanto <strong>as</strong> naves laterais são cobert<strong>as</strong> por abóbad<strong>as</strong> <strong>de</strong> arestaresultantes do cruzamento <strong>de</strong> du<strong>as</strong> abóbad<strong>as</strong> <strong>de</strong> berço (Fig. 290).4 Imag<strong>em</strong> retirada <strong>de</strong> BAGULE, Lucien; L’Abbaye <strong>de</strong> Fontenay et l’architecture <strong>cister</strong>cienne; A. Rey Imprimeur-Éditeur; Lyon 1912 ; p.20


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIO458Porém, não só a estrutura é importante para esta evolução daarquitectura religiosa medieval, a métrica que gera <strong>as</strong> mais divers<strong>as</strong>espacialida<strong>de</strong>s, é também fundamental. Esta manifesta-se não só <strong>em</strong> termosplanimétricos bidimensionais m<strong>as</strong> também tridimensionalmente, permitindo umamaior sintonia e flui<strong>de</strong>z da i<strong>de</strong>ia espacial aplicada ao edificado religioso, que éao mesmo t<strong>em</strong>po una e diversa n<strong>as</strong> su<strong>as</strong> característic<strong>as</strong>. 5 Este facto permitiuque a pouco e pouco a volumetria da arquitectura religiosa e o seu espaçointerior se uniss<strong>em</strong>, <strong>de</strong> modo cada vez mais intimo, e que por volta do séc. XII,dotada <strong>de</strong> uma maior uniformização, a arquitectura religiosa conseguisse umgran<strong>de</strong> avanço face à importante relação entre a funcionalida<strong>de</strong> espacial, osel<strong>em</strong>entos construtivos e a <strong>de</strong>coração ornamental.A arquitectura religiosa cristã foi entendida, no mundo medieval, comouma “obra <strong>de</strong> arte total” na qual todos os el<strong>em</strong>entos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a estrutura arquitectónica,<strong>as</strong> escolh<strong>as</strong> e particularida<strong>de</strong>s estilístic<strong>as</strong> e <strong>as</strong> manifestações artístic<strong>as</strong>inerentes se interligam, tornando esta uma obra artística coesa e única, na qualos próprios el<strong>em</strong>entos arquitectónicos e su<strong>as</strong> significações permit<strong>em</strong> a existência<strong>de</strong> uma iconografia arquitectónica.Deste modo a própria entrada numa igreja românica encontra-se plena<strong>de</strong> conotações po<strong>de</strong>ndo ser consi<strong>de</strong>rada metaforicamente como uma “portada cida<strong>de</strong>” concomitante entre a cida<strong>de</strong> medieval e a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, a Cívit<strong>as</strong>Dei, tendo cada um dos portais uma simbologia própria. Nos portais a sucessão<strong>de</strong> arquivolt<strong>as</strong> e el<strong>em</strong>entos escultóricos ou simples ornamentos pétreos <strong>de</strong>fin<strong>em</strong>,muit<strong>as</strong> vezes, uma progressão do itinerário a seguir entre o exterior e ointerior, entre o sagrado e o profano. Do mesmo modo a torre sineira, ou campanário,<strong>as</strong>sume carácter <strong>de</strong> um el<strong>em</strong>ento anunciador e revelador <strong>de</strong>steespaço sagrado (note-se que para os <strong>cister</strong>cienses este el<strong>em</strong>ento era consi<strong>de</strong>rado<strong>de</strong>snecessário).Também é importante, no mundo medieval, a p<strong>as</strong>sag<strong>em</strong> da frestaromânica, diminuto r<strong>as</strong>go (Fig. 291), no v<strong>as</strong>to e maciço muro parietal ao amplojanelão gótico test<strong>em</strong>unho não só da evolução da perícia e da técnicaconstrutiva, m<strong>as</strong> também <strong>de</strong> toda uma nova maneira <strong>de</strong> conceber e <strong>de</strong>compreen<strong>de</strong>r o espaço interior e a nova importância que adquire a luz naarquitectura religiosa cristã. Cada vez mais, a luz, se tornou um el<strong>em</strong>entoarquitectónico pleno <strong>de</strong> simbolismo e <strong>de</strong> significado no âmbito da arquitecturamedieval, sobretudo no gótico (Fig. 292).Do mesmo modo, a luz foi utilizada com distintos propósitos, m<strong>as</strong>continuamente como el<strong>em</strong>ento arquitectónico na concepção <strong>de</strong> espaços,não só sagrados, como também profanos.5 Cfr. JORGE, Virgolino Ferreira; Espaço e Euritmia na Abadia Madieval <strong>de</strong> Alcobaça in Separata do “BoletimCultural” da Ass<strong>em</strong>bleia Distrital <strong>de</strong> Lisboa; Série IV; nº 93; Lisboa 1999 e JORGE, Virgolino Ferreira; Arquitectura,medida e número na Igreja <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong> são João <strong>de</strong> Tarouca (Portugal) in Cistercivm – Revista Monástica;nº 208; 1997


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOabFig. 291 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Ermelo: fresta (a), Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça:abertur<strong>as</strong> do transepto (b) (fotografi<strong>as</strong> da autora)459abFig. 292 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Almoster: rosácea vista do interior (a), rosácea vista do exterior(fotografi<strong>as</strong> da autora)Tal el<strong>em</strong>ento é p<strong>as</strong>sível <strong>de</strong> ser aplicado consoante a intenção na concepçãodo espaço arquitectónico, este facto verifica-se por ex<strong>em</strong>plo se se consi<strong>de</strong>rar arosácea, el<strong>em</strong>ento arquitectónico por excelência, utilizado no gótico, comofonte <strong>de</strong> luz, cujo propósito foi sendo alterado à medida que se caminha para o


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOfim da Ida<strong>de</strong> Média, momento <strong>em</strong> que a luz era importante quando <strong>as</strong>sociadaaos retábulos tardo-gótico enquanto seus receptores (Fig. 293).460Fig. 293 Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca: altar-mor barroco como el<strong>em</strong>entoreceptor da luz que banha a capela-mor (fotografia da autora)Deste modo, s<strong>em</strong>pre houve alteração, mutação m<strong>as</strong> também permanência eregionalismos, no <strong>de</strong>licado e longo processo da arquitectura religiosa medievalque vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a arquitectura <strong>de</strong> característic<strong>as</strong> paleocristãs até ao tardogótico.A arquitectura românica portuguesa é essencialmente <strong>de</strong> carácter ruralnão oferecendo uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> soluções quer no que respeita à


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOplanimetria, quer no que respeita à espacialida<strong>de</strong> gerada por novos jogos <strong>de</strong>volumes, sendo os seus planos construtivos b<strong>as</strong>tante mo<strong>de</strong>stos.Porém, no que respeita à <strong>de</strong>coração e escultura ornamental suce<strong>de</strong>precisamente o inverso ao apresentar el<strong>em</strong>entos e motivos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>exuberância e diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> soluções correspon<strong>de</strong>ndo, <strong>de</strong>ste modo a um dos<strong>as</strong>pectos mais característicos e singulares do românico português.461Fig. 294 Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o velho (fotografia da autora)Nos portais românicos, sobretudo nos seus tímpanos encontra-se uma síntese damentalida<strong>de</strong> religiosa e artística da época pois era o local on<strong>de</strong> se inscrevia amensag<strong>em</strong> <strong>de</strong> maior importância religiosa do edificado. Ao contrário da abstracção,utilizada na arte islâmica, a arte cristã, sobretudo do período românico,é uma arte figurativa dotada <strong>de</strong> significado e <strong>de</strong> simbolismo na transmissãoda palavra sagrada, ou seja <strong>de</strong> catequização. Pelo que, s<strong>em</strong>pre subordinad<strong>as</strong>ao organismo arquitectónico, na sua componente estrutural, encontramseescultur<strong>as</strong> e pintur<strong>as</strong>, que tanto po<strong>de</strong>m apresentar cen<strong>as</strong> historiad<strong>as</strong> como oJuízo Final, a Última Ceia, a luta entre o B<strong>em</strong> e o Mal, a dicotomia entre o vício ea virtu<strong>de</strong> ou hagiografi<strong>as</strong> nos pórticos <strong>de</strong> entrada ou ainda ornamentação <strong>de</strong>carácter vegetalista, geométrico ou profano nos capitéis.Deste modo, na arquitectura religiosa <strong>de</strong> cunho românico, a esculturaconcentra-se sobretudo no exterior (Fig. 294 e 295), nos portais, n<strong>as</strong> frest<strong>as</strong> dospanos <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>, com especial <strong>de</strong>staque para <strong>as</strong> da cabeceira, <strong>as</strong>sim como


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOn<strong>as</strong> colun<strong>as</strong> adossad<strong>as</strong>, nos capitéis e nos cachorros nos quais se apoiam <strong>as</strong>cornij<strong>as</strong>. No interior a escultura concentra-se nos capitéis, com <strong>de</strong>staquesobretudo para os do arco triunfal.Fig. 295 Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o velho: águi<strong>as</strong> no arco do pórtico <strong>de</strong> entrada(fotografia da autora)462A arquitectura religiosa românica encontra-se espalhada por todo o territórionacional sendo notória a organização <strong>de</strong> povoados ou <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s ruraisà sua volta. A expansão do Românico, enquanto estilo arquitectónico, apesar<strong>de</strong> coevo à reconquista, não lhe correspon<strong>de</strong> directamente m<strong>as</strong> sim àorganização do espaço territorial nacional.No entanto, é inegável o apoio d<strong>as</strong> comunida<strong>de</strong>s monástic<strong>as</strong>, como osBeneditinos e os Cistercienses, para a consolidação e povoamento do territórioportuguês à medida que se conquistavam os territórios cada vez mais a Sul,aquando <strong>as</strong> lut<strong>as</strong> da reconquista cristã. A Regra <strong>de</strong> S. Bento aliou a vida cont<strong>em</strong>plativaao trabalho manual, sob o l<strong>em</strong>a “Ora et Labora” dividindo entre aoração e o trabalho <strong>as</strong> hor<strong>as</strong> do dia monástico.A Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> S. Bento também foi importante na consolidação do territórioa par da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister tendo-se instalado ainda naquele que era o CondadoPortucalense, a partir do séc. XI.A ocupação do território, por parte dos beneditinos, esteve estritamenterelacionada com a exploração fundiária enquadrando-se numa estrutura social<strong>de</strong> característic<strong>as</strong> senhoriais ou até feudais. A maior parte da arquitecturareligiosa românica foi resultado, do que prevaleceu ao longo dos t<strong>em</strong>pos, <strong>de</strong>mosteiros fundados na referida época e que foram sendo ampliados,modificados e transmutados durante os séculos subsequentes.


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOOs beneditinos instalaram-se inicialmente a Norte m<strong>as</strong> foram-seexpandindo para outr<strong>as</strong> partes do território <strong>de</strong> modo gradual sobretudo a partirdo séc. XIII. Os mosteiros beneditinos apresentam uma tendência para a construção<strong>de</strong> igrej<strong>as</strong> <strong>de</strong> três naves com transepto, <strong>as</strong> variações <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>loforam introduzid<strong>as</strong> como consequência da riqueza da própria fundação, <strong>de</strong>esmol<strong>as</strong> ou do patrocínio dos senhores locais. A cobertura da Igreja, nestaaltura era feita através <strong>de</strong> travejamento <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e telha, sendo abobadadaapen<strong>as</strong> a cabeceira.O Românico enquanto estilo europeu e abrangendo os séculos X, XI e XII(apesar d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> diferenç<strong>as</strong> e característic<strong>as</strong> regionais), po<strong>de</strong> ser entendidocomo um todo, uno e íntegro, sendo-lhe por isso, muit<strong>as</strong> vezes, atribuído o estatuto<strong>de</strong> “primeiro estilo arquitectónico do Oci<strong>de</strong>nte”, sobretudo quando após oano 1000 a Europa iniciou o seu movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e <strong>as</strong>censão, noespaço universal.Para que se atingisse a verda<strong>de</strong>ira “internacionalização” do Românicomuito contribuíram <strong>as</strong> du<strong>as</strong> reform<strong>as</strong> da Regra <strong>de</strong> S. Bento, uma levada a cabopelos Cluniacenses, no séc. X, e outra levada a cabo pelos Cistercienses, noséc. XI. É <strong>de</strong> salientar que a partir do séc. XI, o monaquismo p<strong>as</strong>sou a apresentarcaracterístic<strong>as</strong> b<strong>em</strong> divers<strong>as</strong> do monaquismo <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> Oriental, que oantece<strong>de</strong>ra, centrado no isolamento e no <strong>as</strong>cetismo. 6Na Ida<strong>de</strong> Média, sobretudo no <strong>de</strong>correr do século XII, é importante ter <strong>em</strong>atenção a existência <strong>de</strong> du<strong>as</strong> correntes estétic<strong>as</strong> paralel<strong>as</strong>, m<strong>as</strong> inteiramenteopost<strong>as</strong> no que respeita à espiritualida<strong>de</strong> da arte. Uma <strong>de</strong>fendida por Bernardo<strong>de</strong> Claraval e pelos <strong>cister</strong>cienses, outra <strong>de</strong>fendida por Sugério <strong>de</strong> S. Dinis e peloscluniacenses. 7A arquitectura e a arte <strong>cister</strong>cienses não têm como finalida<strong>de</strong> o <strong>de</strong>leite.Nada <strong>de</strong>verá <strong>de</strong>sviar a atenção <strong>de</strong> Deus. Assim <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o plano d<strong>as</strong> abadi<strong>as</strong> àsimplicida<strong>de</strong> dos materiais escolhidos tudo se conjuga para elevar a procura <strong>de</strong>Deus e busca da santida<strong>de</strong>. Para os <strong>de</strong>fensores da via <strong>as</strong>cética e da pobreza,apen<strong>as</strong> através da libertação dos bens materiais e da dádiva po<strong>de</strong> o Hom<strong>em</strong>encontrar o amor espiritual e Deus.Cister é uma rigorosa <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> perfeição, a arte <strong>cister</strong>ciense éaustera, <strong>de</strong>spojada, disciplinada fundamentando-se na busca <strong>de</strong> pureza <strong>de</strong>linh<strong>as</strong>. Deste modo é feita a apologia <strong>de</strong> uma “estética da pobreza” segundo aqual apen<strong>as</strong> <strong>de</strong>verão ser apresentad<strong>as</strong> form<strong>as</strong> funcionais extr<strong>em</strong>amentesimples, limitando-se à essência, tal como se po<strong>de</strong> observar nos arcos doprimitivo claustro <strong>cister</strong>ciense do mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca.Consequent<strong>em</strong>ente, a uma opulência exuberante que está patente na arteromânica, opõe-se uma estética da pobreza e da simplicida<strong>de</strong> que se limita ao4636 Ver Capítulo 27 Ver Capítulo 4, pp. 219 e seguintes


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIO464essencial, apresentando apen<strong>as</strong> form<strong>as</strong> funcionais <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a simplicida<strong>de</strong>m<strong>as</strong> plena <strong>de</strong> significações.Deste modo <strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong> <strong>cister</strong>cienses caracterizavam-se sobretudo pelaracionalida<strong>de</strong> na articulação dos espaços e o <strong>de</strong>spojamento <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos<strong>de</strong>corativos. No entanto usaram-se soluções locais com materiais disponíveis “inloco” <strong>as</strong>similando <strong>as</strong> tradições culturais existentes. Os <strong>cister</strong>cienses utilizariam aarte e os modos <strong>de</strong> construir característicos da região e do país on<strong>de</strong> se inseriams<strong>em</strong> no entanto <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> aplicar alguns dos princípios que norteavam <strong>as</strong>ua espiritualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carácter austero e simples.Como refere Terryl Kin<strong>de</strong>r:“L’autonomia, che era una <strong>de</strong>lle b<strong>as</strong>i <strong>de</strong>ll’Ordine, si estese anchealla sua architettura e sia l’i<strong>de</strong>azione sia la costruzione rivelano unanotevole libertà, che risulta evi<strong>de</strong>nte sin nei particolari. Nonsorpren<strong>de</strong> che lo stile architettonico diffuso negli anni di maggioreespansione – il romanico con tracce gotiche – sia stato adattato anumerosi <strong>de</strong>i primi edifici <strong>cister</strong>ciensi (...). Dopo la primagenerazione, gli stili regionali hanno esercitato la loro influenzaproprio come quello trapiantato e spesso il resultato è unainterazione fra i due: gli el<strong>em</strong>enti architettonici borgognoni vengonoaccolti nelle chiese parrocchiali <strong>de</strong>lla regione e le tradizioni localivengono <strong>as</strong>similate nei nuovi edifici <strong>cister</strong>cienci. (...) Unità nonsignifica uniformità.” 8O que a arquitectura <strong>cister</strong>ciense traz <strong>de</strong> novo é uma simplicida<strong>de</strong> e umacoerência inédit<strong>as</strong> no seu t<strong>em</strong>po e por ter sido b<strong>as</strong>eada no rigor e na razão dopensamento <strong>de</strong> S. Bernardo é muit<strong>as</strong> vezes apelidada <strong>de</strong> arquitectura bernardinae quando surge uma referência à planta d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> encontra-se a<strong>de</strong>signação <strong>de</strong> planta bernardina.S. Bernardo uniu a experiência estética e a religiosa permitindo criarelações e conclusões acerca <strong>de</strong> uma construção e disposição dos diferentesespaços arquitectónicos <strong>de</strong> “more nostro” tendo por b<strong>as</strong>e o chamado planoBernardino.Deve-se salientar a importância da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister não só na proliferaçãodo românico m<strong>as</strong> também na introdução do gótico <strong>em</strong> Portugal com oMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (Fig. 296) cuja fundação, <strong>em</strong> 1153, estáigualmente <strong>as</strong>sociada à fundação da nacionalida<strong>de</strong> e à figura marcante <strong>de</strong> D.Afonso Henriques. Deste modo é <strong>de</strong> ressalvar a importância do espírito <strong>cister</strong>ciense<strong>em</strong> ambos os estilos arquitectónicos como refere Ferreira <strong>de</strong> Almeida:“A arquitectura <strong>cister</strong>ciense que t<strong>em</strong> <strong>em</strong> Portugal alguns test<strong>em</strong>unhos<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valia é um dos mais notáveis ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> quanto8 Cfr. KINDER, Terryl N.; I Cisterciensi – vita quotidiana, cultura, arte; Biblioteca di Cultura Medievale; col. DiFronte e Attraverso; nº 468; Editoriale Jaca book spa; Milano; 1998; pp.226-227


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOuma arte <strong>de</strong> construir po<strong>de</strong> ser marcada por uma espiritualida<strong>de</strong>(…). O espírito da regra foi marcante que fez escola tanto na versãoestilística românica como na gótica.” 9Fig. 296 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça: absi<strong>de</strong> (Editions Gaud)465A região d<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong>, local <strong>de</strong> introdução da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister no país, como járeferido, foi um espaço propenso à edificação com característic<strong>as</strong> românic<strong>as</strong>dotando <strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> <strong>de</strong> uma espacialida<strong>de</strong> mais ampla consequente <strong>de</strong> umanova organização d<strong>as</strong> m<strong>as</strong>s<strong>as</strong> arquitectónic<strong>as</strong>, com um ritmo e amplitu<strong>de</strong>divers<strong>as</strong> d<strong>as</strong> patentes n<strong>as</strong> anteriores edificações, o que revela uma perfeitacorrespondência com a nova liturgia romana, mais clara e teatral, que Portugalcomeçara a adoptar. Por outro lado p<strong>as</strong>sou a trata-se com mais cuidado oexterior do edificado, com especial predilecção e atenção para a sua entrada,que era a “porta do céu”, el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> separação <strong>de</strong> dois mundos, por umlado o interior, divino e sagrado e por outro o exterior, quotidiano e profano.No entanto, na região d<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong>, é <strong>de</strong> <strong>as</strong>sinalar também a existência <strong>de</strong>um elevado número <strong>de</strong> igrej<strong>as</strong> cuja planimetria apresenta uma nave única eabsi<strong>de</strong>, contr<strong>as</strong>tando com o românico <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong> maior envergadura quepo<strong>de</strong> apresentar três naves, como é o c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> São João <strong>de</strong> Tarouca ou mesmoSalzed<strong>as</strong> (tanto o Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> (Fig. 297) como <strong>as</strong> ruín<strong>as</strong>da Abadia Velha) acrescid<strong>as</strong> <strong>de</strong> transepto e cabeceira composta por absi<strong>de</strong> eabsidíolos. Muit<strong>as</strong> d<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong> ou d<strong>as</strong> Sés apresentavam parte da9 Cfr. ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira <strong>de</strong>; Op. Cit.; p.77


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOnave central ocupada pelo coro <strong>de</strong>stinado aos monges no c<strong>as</strong>o dos mosteirosou no c<strong>as</strong>o d<strong>as</strong> Sés aos cónegos.466Fig. 297 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>: nave lateral (fotografia: arquivo DGEMN / IHRU)N<strong>as</strong> dioceses <strong>de</strong> Viseu e da Guarda há um elevado número <strong>de</strong> igrej<strong>as</strong> queapresentam soluções tardi<strong>as</strong> <strong>de</strong>notando a existência <strong>de</strong> um românico <strong>de</strong> resistência.Cabe ainda referência para ex<strong>em</strong>plares não <strong>cister</strong>cienses <strong>de</strong> inegávelimportância como é o c<strong>as</strong>o da Ermida <strong>de</strong> Paiva (C<strong>as</strong>tro Daire) também conhecidapor “T<strong>em</strong>plo d<strong>as</strong> Sigl<strong>as</strong>” (nome atribuído por A. Lacerda por esta apresentarabundantes marc<strong>as</strong> <strong>de</strong> canteiros) singular no românico português 10 pertencendoà f<strong>as</strong>e que prece<strong>de</strong>u o estilo ogival. A Igreja <strong>de</strong> Cárquere, concelho <strong>de</strong>Resen<strong>de</strong>, apresenta-se como um conjunto arquitectónico <strong>de</strong> característic<strong>as</strong>medievais e monumentais, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> significado regional. Do período medievale <strong>de</strong> característic<strong>as</strong> românic<strong>as</strong> são ainda <strong>de</strong> salientar: a Igreja <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Almacave (Lamego), a Igreja Matriz <strong>de</strong> Linhares, a Igreja Matriz <strong>de</strong> VilaNova <strong>de</strong> Paiva, a Igreja Matriz <strong>de</strong> Armamar, a Igreja Matriz <strong>de</strong> Sernancelhe, aIgreja Matriz <strong>de</strong> Mangual<strong>de</strong>, a Igreja Matriz <strong>de</strong> Tarouca (com <strong>de</strong>staque para opórtico axial <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> românica tardia no qual surge a utilização <strong>de</strong> arqui-10 Cfr. ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira <strong>de</strong> (dir); História da Arte <strong>em</strong> Portugal – o Românico; vol. 3; Alfa; Lisboa;1986; p.53


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOvolt<strong>as</strong> ogivais), a Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora da Fresta (Trancoso) já <strong>de</strong> um românicotardio, <strong>as</strong>sim como alguns vestígios <strong>de</strong> arquitectura medieval n<strong>as</strong> Sés <strong>de</strong>Lamego e <strong>de</strong> Viseu 11 .Po<strong>de</strong>-se <strong>as</strong>sim concluir que na região d<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong>, nos primórdios da nacionalida<strong>de</strong>,a arquitectura religiosa foi <strong>de</strong> feição sobretudo românica, muito<strong>de</strong>vendo a região à Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister, que muito contribuiu para a consolidação<strong>de</strong> uma nação <strong>em</strong> construção.Os seus mosteiros, <strong>em</strong> Portugal, tornaram-se dignos ex<strong>em</strong>plares daarquitectura <strong>cister</strong>ciense europeia, apesar <strong>de</strong> ao longo dos t<strong>em</strong>pos ter<strong>em</strong> sidoadaptados, ampliados e transformados segundo os gostos e os estilos da época(Fig. 298).467Fig. 298 Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o velho durante a reconstrução levada a cabo pelaDGEMN (fotografia: arquivo DGEMN/IHRU)11 Cfr. EUSÉBIO, Maria <strong>de</strong> Fátima; Viseu – A arquitectura religiosa: espaço <strong>de</strong> oração, espaços <strong>de</strong> arte in “Viseu– Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Afonso Henriques”; Ed. AVIS; Viseu 2009; p.160 / MARTINS, Ana Maria Tavares; Viseu – breves not<strong>as</strong>sobre <strong>as</strong> su<strong>as</strong> Igrej<strong>as</strong> e Capel<strong>as</strong> in “Viseu – Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Afonso Henriques”; Ed. AVIS; Viseu 2009; p.180


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOMuitos foram alvo <strong>de</strong> divers<strong>as</strong> recuperações e reabilitações, sobretudo noséculo p<strong>as</strong>sado, seguindo <strong>as</strong> teori<strong>as</strong> <strong>em</strong> voga e que fizeram reviver a suaarquitectura primitiva, como é o c<strong>as</strong>o da pequena Igreja <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong>Águi<strong>as</strong> ou permitiram <strong>de</strong>scobrir a realida<strong>de</strong> escondida e esquecida, como foi oc<strong>as</strong>o da intervenção que pôs a <strong>de</strong>scoberto partes da primitiva estruturamedieval da Igreja <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> ou mesmo os notáveis trabalhos<strong>de</strong> escavação arqueológica conduzidos no Mosteiro <strong>de</strong> São João <strong>de</strong> Taroucaque puseram a <strong>de</strong>scoberto vestígios da estrutura da primitiva abadia (Fig. 299),permitindo perceber que os seus principais espaços, dos quais faz<strong>em</strong> parte oclaustro, a sala do capítulo, a cozinha, <strong>as</strong> latrin<strong>as</strong>, se configuravam segundo oplano tant<strong>as</strong> vezes utilizado pelos <strong>cister</strong>cienses e que reflecte o pensamento <strong>de</strong>S. Bernardo moldado à arquitectura, ao ser um traçado <strong>de</strong> feição claravaliana.468Fig. 299 Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca, vestígios dos claustros, sala do capítulo, cozinha doprimitivo mosteiro (fotografia da autora)S<strong>em</strong> subtileza po<strong>de</strong>-se <strong>as</strong>sim afirmar que a arquitectura medieval portuguesa,<strong>em</strong> particular a existente na região d<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong>, local por on<strong>de</strong> se introduziu aOr<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister no país, é um marco essencial <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional eimag<strong>em</strong> <strong>de</strong> um p<strong>as</strong>sado pujante <strong>de</strong> história e arte que importa divulgar epreservar. 1212 Cfr. MARTINS, Ana Maria Tavares F.; Arquitectura Religiosa n<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong> nos primórdios da Nacionalida<strong>de</strong> in“Arte, Po<strong>de</strong>r e Religião nos T<strong>em</strong>pos Medievais – A I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Portugal <strong>em</strong> Construção”; Ed. Câmara


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIO6.2.A INSERÇÃO CISTERCIENSE NO TERRITÓRIO469Fig. 300 Península Ibérica vista através <strong>de</strong> Satélite <strong>em</strong> 2003Land Rapid Response Team at NASA/GSFC)(fonte: Jacques Descloitres, MODIS6.2.1Um esboço do território continental portuguêsPortugal situa-se a oci<strong>de</strong>nte da Península Ibérica entre <strong>as</strong> latitu<strong>de</strong>s 37º N e42º N e <strong>as</strong> longitu<strong>de</strong>s 6º O e 9,5º O constituindo a maior parte do litoral oci<strong>de</strong>ntalda Península Ibérica (Fig. 300), ocupando um quinto da sua área total. 13 Na suaextensão Norte-Sul atinge 561 km, sendo <strong>de</strong> 218 km a sua maior extensão Este-Oeste, e a sua largura média aproximadamente 160 km. A superfície <strong>de</strong>Portugal continental está avaliada <strong>em</strong> 89 060 km 2 . 14Municipal <strong>de</strong> Viseu, Museu Grão V<strong>as</strong>co, Departamento dos Bens Culturais da Diocese <strong>de</strong> Viseu; Viseu 2009;pp 48-5913 RIBEIRO, Orlando, Hermann Lautensach e Suzanne Daveau; Geografia <strong>de</strong> Portugal, I – A Posição Geográficae o Território; Edições João Sá da Costa; Lisboa; 1998, p.2614 I<strong>de</strong>m, p. 7


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOEm suma, Portugal, apresenta um relevo mais acentuado a norte do rioTejo por oposição a um território mais plano a sul. “Íntim<strong>as</strong> são <strong>as</strong> relaçõesgeográfic<strong>as</strong> <strong>de</strong> Portugal, não só com <strong>as</strong> partes vizinh<strong>as</strong> da Península, a leste e anorte, m<strong>as</strong> também com <strong>as</strong> regiões confinantes do Oceano Atlântico, a oeste ea sul.” 15470Fig. 301 Mappa <strong>de</strong> Hespanha e Portugal: autor Tom<strong>as</strong> Lopez <strong>de</strong> Varg<strong>as</strong>Machuica, 1810 (fonte Biblioteca Nacional)Fig. 302 Spain & Portugal”: autor Henry Teesdale, 1834(fonte Instituto Geográfico Português )15 RIBEIRO, Orlando, Hermann Lautensach e Suzanne Daveau; Op. Cit.;, p. 39


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOEm termos históricos, a carta <strong>de</strong> Portugal (Portugalia et Algarbia) tambémconhecida por “Portugal Deitado” da autoria <strong>de</strong> Álvaro Seco (Fig. 303),elaborada no século XVII, permitiu a existência <strong>de</strong> inúmer<strong>as</strong> reproduções eversões, da mesma carta, impress<strong>as</strong> <strong>em</strong> obr<strong>as</strong> estrangeir<strong>as</strong> distint<strong>as</strong> divulgandoa imag<strong>em</strong> e os contornos <strong>de</strong> Portugal pelo mundo durante cerca <strong>de</strong> um século.471Fig. 303 Portugalia et Algarbia “Portugal Deitado”: autor Álvaro Seco, 1630(fonte Instituto Geográfico Português)Fig. 304 Carta <strong>de</strong> Portugal continental e regiões autónom<strong>as</strong> à escala 1/25000:Autor Instituto Geográfico do Exército (fonte Instituto Geográfico do Exército)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIO472Fig. 305 Portugal continental visto através <strong>de</strong> Satélite <strong>em</strong> 2003 (fonte:Jacques Descloitres, MODIS Land Rapid Response Team atNASA/GSFC)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOFig. 306 Atl<strong>as</strong> geografico d<strong>as</strong> provinci<strong>as</strong> doReino <strong>de</strong> Portugal e Algarve: Província <strong>de</strong> EntreDouro e Minho, 1843, autor <strong>de</strong>sconhecido (fonteBiblioteca Nacional)473No Alto Minho (Fig. 306) surg<strong>em</strong> relevos vigorosos que possu<strong>em</strong> topos aplanadosentre os 1300 a 1400 metros que correspon<strong>de</strong>m às serr<strong>as</strong> da Peneda, Gerês,Soajo e Amarela, separados por vales <strong>de</strong> fractura através dos quais corr<strong>em</strong> osrios Minho, Lima, Cávado e Ave.Em Portugal continental, à medida que se vai <strong>em</strong> direcção a oeste, rumoao Minho litoral, <strong>as</strong> cot<strong>as</strong> vão diminuindo o que permite que os referidos rios seesprai<strong>em</strong> por larg<strong>as</strong> planícies aluviais antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>saguar<strong>em</strong> no OceanoAtlântico. 16Porém a nível interior esta diminuição <strong>de</strong> cot<strong>as</strong> é marcada por patamaresestando b<strong>em</strong> patentes os planaltos n<strong>as</strong> terr<strong>as</strong> do interior sendo mesmo estacaracterística a situação dominante, <strong>em</strong> termos relativos, à totalida<strong>de</strong> doterritório português.16 BRITO, Raquel Soeiro <strong>de</strong>; Portugal Perfíl Geográfico; col. Referência; nº 6; Editorial Estampa; Lisboa 1994; p.49


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOFig. 307 Atl<strong>as</strong> geografico d<strong>as</strong> provinci<strong>as</strong> do Reino <strong>de</strong> Portugal eAlgarve: Provincia <strong>de</strong> Trás-os-Montes, 1843, autor <strong>de</strong>sconhecido(fonte Biblioteca Nacional)474Em direcção a n<strong>as</strong>cente d<strong>as</strong> serr<strong>as</strong> da Peneda, Gerês, Soajo e Amarela, surgeTrás-os-Montes (Fig. 307) apresentando múltipl<strong>as</strong> e distint<strong>as</strong> regiões planáltic<strong>as</strong>entr<strong>em</strong>ead<strong>as</strong> por vales e <strong>de</strong>pressões. São <strong>de</strong>sta zona <strong>as</strong> serr<strong>as</strong> <strong>de</strong> Alvão ePara<strong>de</strong>la, entre <strong>as</strong> quais corre o rio Corgo, ao longo do vale <strong>de</strong> fractura<strong>as</strong>sociado à <strong>de</strong>pressão <strong>de</strong> Chaves-Régua. 17Fig. 308 Atl<strong>as</strong> geografico d<strong>as</strong> provinci<strong>as</strong> do Reino <strong>de</strong> Portugal eAlgarve: Provincia da Beira, 1843, autor <strong>de</strong>sconhecido (fonteBiblioteca Nacional)17 BRITO, Raquel Soeiro <strong>de</strong>; Op. Cit.; p.49


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOA p<strong>as</strong>sag<strong>em</strong> geográfica para a região da Beira (Fig. 308), on<strong>de</strong> se inser<strong>em</strong>os primeiros ex<strong>em</strong>plos <strong>cister</strong>cienses <strong>em</strong> território português, é marcada pelo valedo rio Douro sendo porém caracterizada por uma superfície <strong>de</strong> aplanação <strong>de</strong>orig<strong>em</strong> ainda transmontana.No entanto esta zona planáltica é influenciada por vários <strong>de</strong>slocamentostectónicos dos quais se salienta a Cordilheira Central conformada pel<strong>as</strong> serr<strong>as</strong><strong>de</strong> Arada, Mont<strong>em</strong>uro e Leonil.A Cordilheira Central Separa a Meseta Norte da Meseta Sul que é <strong>de</strong>finidapela Superfície <strong>de</strong> C<strong>as</strong>telo Branco que se esten<strong>de</strong> para sul, sendo apen<strong>as</strong>interrompida por relevos <strong>de</strong> dureza no Alto Alentejo (Fig. 309): <strong>as</strong> serr<strong>as</strong> <strong>de</strong> SãoMame<strong>de</strong> e Estr<strong>em</strong>oz. É igualmente interrompida pel<strong>as</strong> crist<strong>as</strong> <strong>de</strong> Marvão e <strong>de</strong>Évora. 18 Fig. 309 Atl<strong>as</strong> geografico d<strong>as</strong> provinci<strong>as</strong> do475Reino <strong>de</strong> Portugal e Algarve: Provincia da Beira,1843, autor <strong>de</strong>sconhecido (fonte BibliotecaNacional)A separação do Baixo Alentejo é marcada pelo <strong>de</strong>grau da serra <strong>de</strong> Portal(Mendro) que é limitada a sul pela falha da Vidigueira que por sua vez seesten<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Torrão até Moura e Santo Aleixo.18 BRITO, Raquel Soeiro <strong>de</strong>; Op. Cit.; p.49


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIONote-se que, no Baixo Alentejo, a superfície <strong>de</strong> aplanação da Mesetaabrange cot<strong>as</strong> próxim<strong>as</strong> dos 200 metros sendo apen<strong>as</strong> interrompida pel<strong>as</strong> serr<strong>as</strong><strong>de</strong> Grândola, da Vigia e Cal<strong>de</strong>irão (que correspon<strong>de</strong> a um amplo<strong>em</strong>polamento do território apresentando cot<strong>as</strong> acima dos 500 metros) ou entãopor relevos <strong>de</strong> dureza como é o c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> Alcaria (quartzitos) e <strong>de</strong> Ficalho(mármores). 19476Fig. 310 Atl<strong>as</strong> geografico d<strong>as</strong> provinci<strong>as</strong> do Reino <strong>de</strong> Portugal eAlgarve: Algarve, 1843, autor <strong>de</strong>sconhecido (fonte BibliotecaNacional)A serra do Cal<strong>de</strong>irão é limitada a sul por uma escarpa <strong>de</strong> falha que permite<strong>de</strong>marcar a transição para o Algarve. No Algarve (Fig. 310) po<strong>de</strong>m-se distinguirdois tipos <strong>de</strong> relevo: a região interior, <strong>de</strong>nominada Barrocal, que se inclina <strong>em</strong>direcção ao sul, e a região litoral, b<strong>as</strong>tante mais aplanada. O litoral algarvioapresenta igualmente dois tipos <strong>de</strong> costa: uma costa erosiva composta porarrib<strong>as</strong>, entre Sagres e Lagos, e uma costa sedimentar até Vila Real <strong>de</strong> SantoAntónio estando incluíd<strong>as</strong> <strong>as</strong> ilh<strong>as</strong> <strong>de</strong> Faro, Armona e Tavira. 2019 BRITO, Raquel Soeiro <strong>de</strong>; Op. Cit.; pp.49-5020 I<strong>de</strong>m; pp.49-50


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOFig. 311 Atl<strong>as</strong> geografico d<strong>as</strong> provinci<strong>as</strong> doReino <strong>de</strong> Portugal e Algarve: Província daEstr<strong>em</strong>adura, 1843, autor <strong>de</strong>sconhecido (fonteBiblioteca Nacional)477No litoral oci<strong>de</strong>ntal do país, tal como no sul, apresenta-se um importante<strong>de</strong>snível composto pela linha Anadia-Coimbra-Tomar.Assim surg<strong>em</strong> <strong>as</strong> serr<strong>as</strong> da Estr<strong>em</strong>adura (Fig. 311), <strong>de</strong> formato alongadocontr<strong>as</strong>tantes com a planície litoral.Na orla oci<strong>de</strong>ntal são <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar os relevos <strong>de</strong> Leiria, Óbidos e Rio Maior<strong>as</strong>sim como a serra <strong>de</strong> Sintra. 21 Deste modo como refere Raquel Soeiro <strong>de</strong> Brito:“Fica b<strong>em</strong> marcada, pois, a dicotomia entre um PortugalSetentrional, <strong>de</strong> cot<strong>as</strong> médi<strong>as</strong> elevad<strong>as</strong> e perfil predominant<strong>em</strong>ent<strong>em</strong>ontanhoso, e um Portugal Meridional, aplanado a altitu<strong>de</strong>smo<strong>de</strong>st<strong>as</strong>, geralmente compreendid<strong>as</strong> entre 200 m e 400 m, on<strong>de</strong>os relevos, à excepção da Serra e do Barrocal algarvios, sãoapen<strong>as</strong> pontuais.” 2221 BRITO, Raquel Soeiro <strong>de</strong>; Op. Cit.; p.5022 I<strong>de</strong>m; pp.49-50


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIO478aFig. 312 Relevo (a) e Carta <strong>de</strong> Portugal continental (b). Autor: Instituto Geográfico do Exército(fonte: Instituto Geográfico Português)bTambém Orlando Ribeiro refere, quanto às form<strong>as</strong> <strong>de</strong> relevo (Fig. 312) doterritório <strong>de</strong> Portugal continental <strong>em</strong> relação a ao <strong>de</strong> Espanha que:“Ao contrário <strong>de</strong> Espanha, on<strong>de</strong> predominam <strong>as</strong> terr<strong>as</strong> alt<strong>as</strong> e olitoral se resume a uma estreita orla tant<strong>as</strong> vezes interrompida pormontanh<strong>as</strong> sobranceir<strong>as</strong> ao mar, qu<strong>as</strong>e três quart<strong>as</strong> partes (72 porcento) do território português estão abaixo <strong>de</strong> 400 m e apen<strong>as</strong> <strong>em</strong>raros pontos os altos relevos chegam até à costa. As altitu<strong>de</strong>ssuperiores a 700 m ocupam só 12 por cento da superfície do país,muito <strong>de</strong>sigualmente repartid<strong>as</strong> no Norte e no Sul. Ali estãoconcentrad<strong>as</strong> 95 por cento d<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> acima <strong>de</strong> 400 m e algunscimos <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 1000 m se levantam a 50 quilómetros do mar;montanh<strong>as</strong>, planaltos elevados, vales profundos, baci<strong>as</strong> fluviais quese apertam rapidamente para o interior, contr<strong>as</strong>tam com <strong>as</strong> terr<strong>as</strong>baix<strong>as</strong> do sul, constituíd<strong>as</strong> por extens<strong>as</strong> baci<strong>as</strong> <strong>de</strong>primid<strong>as</strong>,peneplanicies pouco elevad<strong>as</strong> e relevos residuais parcelados edistantes. Na meta<strong>de</strong> meridional do País, apen<strong>as</strong> <strong>as</strong> crist<strong>as</strong>


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOquartzític<strong>as</strong> Serra <strong>de</strong> São Mame<strong>de</strong>, junto da fronteira, e <strong>as</strong> cúpul<strong>as</strong>eruptiv<strong>as</strong> <strong>de</strong> Monchique, no Algarve, se ergu<strong>em</strong> acima <strong>de</strong> 700m.” 236.2.2.Distribuição geográfica <strong>cister</strong>ciense no território portuguêsA distribuição dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses, a nível geográfico, éb<strong>as</strong>tante <strong>as</strong>simétrica (Esq. 85). De facto surge uma gran<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong>el<strong>em</strong>entos no norte e centro <strong>de</strong> Portugal ao contrário <strong>de</strong> todo o território a suldo rio Tejo, on<strong>de</strong> <strong>as</strong> implantações são muito limitad<strong>as</strong> (Esq. 86).Este facto é simplesmente explicado por motivos históricos aten<strong>de</strong>ndo àépoca e região geográfica <strong>em</strong> questão. Pois a Reconquista da PenínsulaIbérica, aos muçulmanos, pelos Cristãos, progrediu <strong>de</strong> Norte para Sul. A zonaNorte esteve poucos anos n<strong>as</strong> mãos dos muçulmanos enquanto o Sul esteve<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século VIII ao século XIII submetido a eles. 24479Esq. 85 Localização dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses no território português comapoio da topografia (síntese e esqu<strong>em</strong>a da autora, dados geográficoscedidos pelo Instituto do Ambiente através da b<strong>as</strong>e <strong>de</strong> dados ‘atl<strong>as</strong> doambiente’)23 RIBEIRO, Orlando, Hermann Lautensach e Suzanne Daveau; Op. Cit.; p. 16724 Ver cap. Portugal no contexto ibérico in RIBEIRO, Orlando, Hermann Lautensach e Suzanne Daveau; Op.Cit.; p. 7


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOG É N E R O D E S I G N A Ç Ã O XX YY LATITUDE LONGITUDEMASCULINOSanta Maria <strong>de</strong> Fiães19354757051942º 06’ 15’’ N8º 12’ 40’’ OSanta Maria do Ermelo18704254271141º 51’ 13’’ N8º 17’ 21’’ OSanta Maria do Bouro18856152109041º 39’ 32’’ N8º 16’ 13’’ OSanta Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>21584654023041º 49’ 52’’ N7º 56’ 32’’ OSão Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o velho)25204645648241º 04’ 32’’ N7º 30’ 49’’ OSão Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>25173745762641º 05’ 10’’ N7º 31’ 02’’ OSanta Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>23431045399741º 03’ 15’’ N7º 43’ 30’’ OAbadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>23290245469041º 03’ 38’’ N7º 44’ 30’’ OSão João <strong>de</strong> Tarouca23256044735240º 59’ 40’’ N7º 44’ 46’’ OSanta Maria <strong>de</strong> Aguiar30043343488040º 52’ 36’’ N6º 56’ 29’’ OSão Cristovão <strong>de</strong> Lafões19659342162040º 45’ 48’’ N8º 10’ 24’’ OSanta Maria <strong>de</strong> Maceira Dão22589440531040º 36’ 58’’ N7º 49’ 37’’ OSanta Maria da Estrela25559336506140º 15’ 08’’ N7º 28’ 46’’ OS. Tiago <strong>de</strong> Sever<strong>de</strong>sc.<strong>de</strong>sc.<strong>de</strong>sc.<strong>de</strong>sc.São Paulo <strong>de</strong> Almaziva17769636410240º 14’ 42’’ N8º 23’ 42’’ OColégio do Espírito Santo17473036049940º 12’ 45’’ N8º 25’ 47’’ OSanta Maria <strong>de</strong> Seiça14466734213140º 02’ 45’’ N8º 46’ 53’’ O480Santa Maria <strong>de</strong> AlcobaçaNossa Senhora do Desterro12724711277228704419524539º 32’ 54’’ N38º 43’ 13’’ N8º 58’ 46’’ O9º 08’ 09’’ OSão Bento <strong>de</strong> Xabreg<strong>as</strong>11538319683938º 44’ 05’’ N9º 06’ 22’’ OSanta Maria <strong>de</strong> Tomarães16481630365239º 42’ 01’’ N8º 32’ 36’’ OFEMININOS. Salvador d<strong>as</strong> Bouç<strong>as</strong>15451146864641º 11’ 08’’ N8º 40’ 31’’ OSão Pedro e São Paulo <strong>de</strong> Arouca19044943988640º 55’ 40’’ N8º 14’ 47’’ ON. Srª da Assunção <strong>de</strong> Tabosa24584743823140º 54’ 42’’ N7º 35’ 20’’ OSão João <strong>de</strong> Vale Ma<strong>de</strong>iro<strong>de</strong>sc.<strong>de</strong>sc.<strong>de</strong>sc.<strong>de</strong>sc.São Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão18428236570540º 15’ 35’’ N8º 19’ 04’’ OSanta Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>17624936078940º 12’ 55’’ N8º 24’ 43’’ OSanta Maria <strong>de</strong> Cós12934329297139º 36’ 07’’ N8º 57’ 20’’ OSão Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>10881420314038º 47’ 27’’ N9º 10’ 57’’ ON. Srª da Nazaré do Mocambo11102919390138º 42’ 29’’ N9º 09’ 21’’ OSanta Maria <strong>de</strong> Almoster14296625265539º 14’ 23’’ N8º 47’ 37’’ OSão Bernardo <strong>de</strong> Portalegre26093125898839º 17’ 48’’ N7º 25’ 36’’ OSão Bento <strong>de</strong> Cástris21730117966738º 35’ 03’’ N7º 56’ 04’’ ON. Srª da Nazaré <strong>de</strong> Setúbal13422117316938º 31’ 24’’ N8º 53’ 14’’ ON. Srª da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tavira2438571767337º 07’ 25’’ N7º 38’ 22’’ OEsq. 86 Coor<strong>de</strong>nad<strong>as</strong> geográfic<strong>as</strong>, latitu<strong>de</strong> e longitu<strong>de</strong>, <strong>de</strong> cada mosteiro (esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOEm termos <strong>de</strong> localização geográfica <strong>de</strong>v<strong>em</strong>-se <strong>as</strong>sinalar os quatro mosteirosmais extr<strong>em</strong>os <strong>de</strong> Portugal. Como o mosteiro mais a norte <strong>de</strong> Portugal, surge oMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães (Fig. 313), no Minho, sendo contraposto peloMosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tavira (Fig. 315), o mosteiro mais a sul<strong>de</strong> Portugal, já no Algarve. Do mesmo modo o mosteiro localizado mais aoriente <strong>de</strong> Portugal, é o Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar (Fig. 314), <strong>em</strong>Figueira <strong>de</strong> C<strong>as</strong>telo Rodrigo, sendo contraposto pelo Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhorada Nazaré <strong>de</strong> Mocambo (Fig. 316), localizado <strong>em</strong> Lisboa, com a localizaçãomais oci<strong>de</strong>ntal do País.No entanto exist<strong>em</strong> mosteiros, que não sendo os <strong>de</strong> localizaçãogeográfica mais extr<strong>em</strong>a, po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados como mosteiros <strong>de</strong> fronteira,<strong>as</strong>sumindo outra característica <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>o, pela proximida<strong>de</strong> que possu<strong>em</strong> dafronteira com Espanha. Deste modo, junto da fronteira norte, entre Portugal e aGaliza, encontram-se os mosteiros <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> (Fig. 317), <strong>em</strong>Montalegre, e Santa Maria <strong>de</strong> Fiães, <strong>em</strong> Melgaço. Na zona <strong>de</strong> fronteira maisoriental encontram-se os Mosteiros <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar (que foi fundação<strong>de</strong> Moreruela), <strong>em</strong> figueira <strong>de</strong> C<strong>as</strong>telo Rodrigo, e S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre(Fig.318) <strong>em</strong> Portalegre n<strong>as</strong> proximida<strong>de</strong>s da Serra <strong>de</strong> São Mame<strong>de</strong>.481Fig. 313 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães, no extr<strong>em</strong>o norte <strong>de</strong> Portugal, e como mosteiro <strong>de</strong> fronteira(fotografia Virtual Earth)Fig. 314 Mosteiro <strong>de</strong> Stª Maria <strong>de</strong> Aguiar, no extr<strong>em</strong>o oriental <strong>de</strong> Portugal, e como mosteiro <strong>de</strong> fronteira(fotografia Virtual Earth)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOFig. 315 Mosteiro <strong>de</strong> N. Senhora da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tavira, extr<strong>em</strong>o sul <strong>de</strong> Portugal (fotografia Virtual Earth)482Fig.316 Mosteiro <strong>de</strong> N. Sª da Nazaré do Mocambo no extr<strong>em</strong>o oci<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong> Portugal(fotografia Virtual Earth)Fig. 317 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> , mosteiro <strong>de</strong> fronteira (fotografia Virtual Earth)Fig. 318 Mosteiro <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre , mosteiro <strong>de</strong> fronteira (fotografia Virtual Earth)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOA situação geográfica e a forma alongada do território estão <strong>as</strong>sociad<strong>as</strong> afortes contr<strong>as</strong>tes climáticos.Du<strong>as</strong> caus<strong>as</strong> principais <strong>de</strong>terminam o clima e consequent<strong>em</strong>ente os “tipos<strong>de</strong> t<strong>em</strong>po”: a radiação solar (Esq. 89) e os movimentos d<strong>as</strong> m<strong>as</strong>s<strong>as</strong> <strong>de</strong> ar que secombinam <strong>de</strong> modo distinto no interior <strong>de</strong> cada zona climática. 25“A distribuição regional dos tipos <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e <strong>de</strong> áre<strong>as</strong> climátic<strong>as</strong>resultam, logicamente, <strong>de</strong> posição <strong>em</strong> latitu<strong>de</strong>, altitu<strong>de</strong> eaf<strong>as</strong>tamento do mar, condições gerais que, como já foi referido, atopografia acentua e complica.” 26Em Portugal, <strong>as</strong> t<strong>em</strong>peratur<strong>as</strong> aumentam <strong>de</strong> norte para sul (Esq. 88). Aproximida<strong>de</strong> do oceano Atlântico reduz a amplitu<strong>de</strong> térmica <strong>em</strong> comparaçãocom o interior, on<strong>de</strong> existe um maior arrefecimento <strong>de</strong> inverno e um maioraquecimento <strong>de</strong> verão. Por sua vez, a distribuição da precipitação (Esq. 87) éb<strong>em</strong> marcada <strong>em</strong> todo território sendo compl<strong>em</strong>entada no Inverno, estaçãochuvosa por excelência, por um acréscimo <strong>de</strong> pluviosida<strong>de</strong> contr<strong>as</strong>tante como Verão praticamente isento <strong>de</strong> pluviosida<strong>de</strong>. 27483Esq. 87 Localização dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses no território português comindicação média dos di<strong>as</strong> <strong>de</strong> chuva por ano (síntese e esqu<strong>em</strong>a da autora,dados geográficos cedidos pelo Instituto do Ambiente através da b<strong>as</strong>e <strong>de</strong>dados ‘atl<strong>as</strong> do ambiente’)25 BRITO, Raquel Soeiro <strong>de</strong>; Op. Cit.; p.5026 I<strong>de</strong>m; p.5727 Ibi<strong>de</strong>m; pp.55-56


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOEsq. 88 Localização dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses no território português comindicação da t<strong>em</strong>peratura média por ano (síntese e esqu<strong>em</strong>a da autora, dadosgeográficos cedidos pelo Instituto do Ambiente através da b<strong>as</strong>e <strong>de</strong> dados ‘atl<strong>as</strong>do ambiente’)484Esq. 89 Localização dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses no território português comindicação d<strong>as</strong> hor<strong>as</strong> <strong>de</strong> sol por ano (síntese e esqu<strong>em</strong>a da autora, dadosgeográficos cedidos pelo Instituto do Ambiente através da b<strong>as</strong>e <strong>de</strong> dados ‘atl<strong>as</strong>do ambiente’)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIO“O clima é o mais importante factor natural que contribui, <strong>de</strong>maneira sist<strong>em</strong>ática, para a formação d<strong>as</strong> paisagens (…) é o climaque mo<strong>de</strong>la vertentes, <strong>de</strong>termina comportamentos dos rios, constrói(juntamente com os solos) os mosaicos da vegetação e influenciaainda muito directamente os tipos <strong>de</strong> agricultura. E mesmoactivida<strong>de</strong>s muito recentes como o turismo (…).” 28Os fortes contr<strong>as</strong>tes climáticos presentes <strong>em</strong> Portugal continental tiveramigualmente a sua repercussão na implantação dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses nesteterritório pois era necessário cuidar da agricultura, da vitivinicultura e os mongesnão eram alheios a essa probl<strong>em</strong>ática.Fig. 319 Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o novo) e socalcos <strong>de</strong> vinha (fotografia Virtual Earth)485No entanto erros <strong>de</strong> implantação acontec<strong>em</strong> e por isso estava cont<strong>em</strong>pladana legislação <strong>cister</strong>cienses a mudança <strong>de</strong> sítio, ou seja, a mudança <strong>de</strong> ummesmo mosteiro <strong>de</strong> um local para outro (como foi o c<strong>as</strong>o do Mosteiro <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> ou do Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, Fig. 319).No entanto a dureza do clima s<strong>em</strong>pre se fez sentir, quer a norte do País(Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>) ou no interior (Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria daEstrela, Fig. 320). Como refere Clau<strong>de</strong> Bronserval, secretário <strong>de</strong> D. Èdme Salieu,aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Claraval <strong>de</strong> visita aos mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses no séculoXVI:“Durante os meses <strong>de</strong> Julho, Agosto e Set<strong>em</strong>bro existe um tal calorque ninguém quer residir no mosteiro pois a humida<strong>de</strong> é intolerável.O calor juntamente com a humida<strong>de</strong> prejudica a saú<strong>de</strong> dos seushabitantes” 2928 BRITO, Raquel Soeiro <strong>de</strong>; Op. Cit.; pp.50-5129 Tradução livre da versão francesa editada por Dom Maur Cocheril <strong>de</strong> BRONSEVAL, Frère Clau<strong>de</strong> <strong>de</strong> ;“Peregrinatio Hispanica. Voyage <strong>de</strong> Dom È<strong>de</strong>me <strong>de</strong> saulieu, Abbé <strong>de</strong> Clairvaux, en Espagne et au Portugal(1531-1533)”; (ed. Dom Maur Cocheril); PUF; Paris; 1970; pp. 572-575Trecho original: “Tribus mensibus, iulio, augusto et sept<strong>em</strong>bri, tantus estus ibi<strong>de</strong>m vigere dicitur quod nullus vulttunc in mon<strong>as</strong>terio morari, quia est supramodum humidum, et in caloribus illis facile in illo aere húmidocorrumpunt habitatores ad infirmitat<strong>em</strong>.” (p. 572 e p.574)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOFig. 320 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria da Estrela (fotografia Virtual Earth)Um el<strong>em</strong>ento necessário, <strong>em</strong> termos da análise do território, é também areferencia às zon<strong>as</strong> <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> sísmica (Esq. 90), uma vez que permitecompreen<strong>de</strong>r a escala <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição, <strong>em</strong> muitos mosteiros, sobretudo com ogran<strong>de</strong> terramoto <strong>de</strong> 1755. De facto a zona mais sacrificada e on<strong>de</strong> os estragosforam maiores correspon<strong>de</strong> à área <strong>de</strong> Lisboa (Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora daNazaré do Mocambo, Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora do Desterro, Mosteiro <strong>de</strong> S.Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>) esten<strong>de</strong>ndo-se por Santarém (Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Almoster) e ainda pela região <strong>de</strong> Alcobaça (Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Alcobaça, Colégio da Conceição – totalmente <strong>de</strong>struído – e Mosteiro <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Cós).486Esq. 90 Localização dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses no território português comreferencia às zon<strong>as</strong> sísmic<strong>as</strong> e sua intensida<strong>de</strong> (síntese e esqu<strong>em</strong>a da autora,dados geográficos cedidos pelo Instituto do Ambiente através da b<strong>as</strong>e <strong>de</strong>dados ‘atl<strong>as</strong> do ambiente’)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOOs mosteiros <strong>cister</strong>cienses s<strong>em</strong>pre procuraram o isolamento e muit<strong>as</strong> vezesimplantaram-se longe d<strong>as</strong> vi<strong>as</strong> <strong>de</strong> comunicação. No entanto, s<strong>em</strong>pre quenecessário, os <strong>cister</strong>cienses criaram vi<strong>as</strong> <strong>de</strong> acesso para os seus domínios. Alguns<strong>de</strong>sses caminhos estão na orig<strong>em</strong> <strong>de</strong> algum<strong>as</strong> d<strong>as</strong> noss<strong>as</strong> vi<strong>as</strong> actuais. 30 (Fig.321)Como é o c<strong>as</strong>o da estrada nacional nº 1 (EN 1) que é apen<strong>as</strong> a materialização<strong>de</strong> um antigo percurso criado pelos <strong>cister</strong>cienses.Fig. 321 Mapa topográfico com o troço da Estrada Real <strong>de</strong> Rio Maior a Leiria, datado <strong>de</strong> 1793 31Alguns mosteiros estão na orig<strong>em</strong> <strong>de</strong> povoações, algum<strong>as</strong> atingindo característic<strong>as</strong>e dimensões importantes (como foi o <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong> que cresceu com oMosteiro <strong>de</strong> S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong> (Fig. 322), a própria cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alcobaça ou oc<strong>as</strong>o <strong>de</strong> Valado dos Fra<strong>de</strong>s, antiga granja dos Coutos <strong>de</strong> Alcobaça).No entanto, outros estão <strong>de</strong> tal modo isolados que ainda nos nossos di<strong>as</strong>são <strong>de</strong> difícil acesso como é o c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> (Fig. 323).487Fig. 322 Mosteiro <strong>de</strong> S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong> e envolvente (fotografia Virtual Earth)30 Ver COCHERIL, Dom Maur; Etu<strong>de</strong>s sur le monachisme en Espagne et au Portugal; Collection Portugaise sousle patronage <strong>de</strong> l’institute français au Portugal; societe d’editions “Les Belles Lettres” - Paris; Livraria Bertrand –Lisbonne; 1966 ; p. 36331 In AA.VV.; Seiva Sagrada – a agricultura na região <strong>de</strong> Alcobaça, not<strong>as</strong> históric<strong>as</strong>; Ed. Associação dosAgricultores da Região <strong>de</strong> Alcobaça; 2006; pp. 118-119


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOFig. 323 Caminho <strong>de</strong> acesso ao Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> (fotografia da autora)488O Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong> a uma cida<strong>de</strong> florescentee gran<strong>de</strong> parte d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> granj<strong>as</strong> <strong>de</strong>ram orig<strong>em</strong> a pequen<strong>as</strong> vil<strong>as</strong>. Mosteirosf<strong>em</strong>ininos como Sta Maria <strong>de</strong> Almoster, S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão, São Pedro e SãoPaulo <strong>de</strong> Arouca, inser<strong>em</strong>-se actualmente <strong>em</strong> tecidos urbanos. S. João <strong>de</strong>Tarouca e Sta Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> (Fig. 324) <strong>de</strong>ram orig<strong>em</strong> também a du<strong>as</strong>povoações: S. João <strong>de</strong> Tarouca e Salzed<strong>as</strong> respectivamente.Fig. 324 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> e povoação <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> (fotografia Virtual Earth)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOFig. 325 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça, C<strong>as</strong>telo e cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alcobaça (fotografia Virtual Earth)No entanto a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional, na envolvente imediata, dos mosteirosinseridos <strong>em</strong> tecido urbano é variável.Deste modo, a contr<strong>as</strong>tar com Sta Maria <strong>de</strong> Alcobaça (Fig. 325) que seinsere, hoje <strong>em</strong> dia, no meio urbano, surge Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong>Tabosa (Fig. 326) que se insere numa pequena povoação <strong>de</strong> apen<strong>as</strong> algum<strong>as</strong>habitações.489Fig. 326 Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa e envolvente (fotografia da autora)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIONo que respeita a São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (Fig. 327), nenhuma povoação se<strong>de</strong>senvolveu já que este se encontra num local ermo e isolado como dita opreceito da Regra <strong>de</strong> S. Bento e Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> (Fig. 328) permanec<strong>em</strong>ergulhada no silêncio e no isolamento.Fig. 327 Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (fotografia Virtual Earth)490Fig. 328 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> (fotografia Virtual Earth)O fenómeno <strong>de</strong> urbanização (Fig. 329) <strong>as</strong>sociado a alguns mosteiros<strong>cister</strong>cienses t<strong>em</strong> <strong>de</strong> ter s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> conta os seus locais <strong>de</strong> implantação queexerc<strong>em</strong> uma influência fundamental no <strong>de</strong>senvolvimento do edificadomonástico. Ainda são <strong>de</strong> importância primordial os recursos agrícol<strong>as</strong> eindustriais dos referidos locais on<strong>de</strong> os mosteiros se implantam no território. Dest<strong>em</strong>odo, o probl<strong>em</strong>a da implantação d<strong>as</strong> abadi<strong>as</strong> e mosteiros <strong>cister</strong>cienses écomplexo como refere Dom Maur Cocheril:“Une fondation n’était p<strong>as</strong> une aventure. Il faut en finir avec l’imagesimpliste <strong>de</strong> quelques moines plantant au h<strong>as</strong>ard leur tente en un lieuquelconque du domaine qu’un bienfaiteur leur concè<strong>de</strong> et se mettantaussitôt à l’œuvre pour bâtir église et mon<strong>as</strong>tère.” 3232 Ver COCHERIL, Dom Maur; Op. Cit.; p. 365


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOFig. 329 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong> e envolvente (fotografia Virtual Earth)Dom Maur Cocheril refere no prefácio da sua obra Notes sur l’Architecture et leDécor dans les Abbayes Cisterciennes du Portugal:“Il était donc normal <strong>de</strong> presenter au lecteur l’abbaye <strong>cister</strong>cienneidéale, celle dont le plan se retrouve sous-jacent à celui <strong>de</strong> toutescelles qu’edifirènt les Moines Blancs. (…) Je serais heureux si ce tableaux– une simple esquisse – incitait quelques amis <strong>de</strong> la beauté àentreprendre leur pèlerinage <strong>cister</strong>cien portugais” 334916.3.Tipo <strong>de</strong> Implantação no Território PortuguêsA escolha dos locais on<strong>de</strong> se iriam implantar os mosteiros <strong>cister</strong>ciensesteve, <strong>em</strong> Portugal, sobretudo durante o período inicial, a mesma preocupaçãoque esteve subjacente, a tant<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> implantações <strong>cister</strong>cienses. Ou seja, oslocais <strong>de</strong>viam correspon<strong>de</strong>r não só à interpretação e observância da Regra <strong>de</strong>S. Bento como também à procura “da solidão do <strong>de</strong>serto” e dos seus atributosque <strong>em</strong> muito <strong>de</strong>terminaram a escolha dos locais influenciando mesmo a concepçãoestrutural e morfológica do Mosteiro.Os <strong>cister</strong>cienses, <strong>em</strong> Portugal, procuraram os locais af<strong>as</strong>tados dosgran<strong>de</strong>s centros urbanos, <strong>de</strong> preferência <strong>em</strong> vales férteis e próximos <strong>de</strong> umcurso <strong>de</strong> água para implantar<strong>em</strong> os seus mosteiros <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com oi<strong>de</strong>al <strong>cister</strong>ciense como se po<strong>de</strong> comprovar no esqu<strong>em</strong>a que se segue (Esq. 91).33 Ver COCHERIL, Dom Maur; Notes sur l’Architecture et le Décor dans les Abbayes Cisterciennes du Portugal;col. Fontes Documentais Portugues<strong>as</strong>; vol. V; Fundação Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Português; Paris1972; p. XIV


5060706. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIO70015069014071013067068080 706040120110501008001 02 03410420390380400370 360350340 330 320 31030029020010702802403503601060105010401030101010001020340330320310300290250260270430370380390400420 41004 0506450470600620450460480590580570600610600 62059058061057063046054056046049053047050051052061059060049207 0809340360350620660650640330320300310210310280220230240260 290 280270250240230300310320 33029030031033022032033067034036010 1135012420410607010090130 14012011070808060504030400201201109010013 14155060304050MOSTEIROS MASCULINOS3040302040203040205060701060809050401000 200400 m20304016807060504030201017 18


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIO60Esq. 91I M P L A N T A Ç Ã O50MOSTEIROS MASCULINOS4001. Sta Maria <strong>de</strong> Fiães30740730 720192802903003103202203303403502302002. Sta maria <strong>de</strong> Ermelo03. Sta Maria do Bouro04. Sta Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>05. S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o velho)71023024019022018020021017020021019018006. S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o novo)07. Abadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>70017016008. Sta Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>15009. S. João <strong>de</strong> Tarouca75010. S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões7608090100110120130217080506090402211. Sta Maria <strong>de</strong> Maceira Dão12. Sta Maria <strong>de</strong> Aguiar13. Sta Maria da Estrela701403014. S. Paulo <strong>de</strong> Almaziva15. Espírito Santo16. Sta Maria <strong>de</strong> Seiça120130150140234050602417. Sta Maria <strong>de</strong> Alcobaça18. Sta Maria do Desterro504050MOSTEIROS FEMININOS49350603019. S. Salvador d<strong>as</strong> Bouç<strong>as</strong>2020. S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca6040401021. N. Sra da Purificação <strong>de</strong> Tabosa22. S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão203023. Sta Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>254704804902624. Sta Maria <strong>de</strong> Cós25. S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>46026. N. Sra <strong>de</strong> Nazaré <strong>de</strong> Mocambo50027. Sta Maria <strong>de</strong> Almoster1051028. S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre302030274505205305405505602829. S. Bento <strong>de</strong> Cástris30. N. Sra da Conceição <strong>de</strong> Tavira340330320350360310MOSTEIROS FEMININOS1037029 300 200400 m


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIONo que respeita à localização morfológica dos mosteiros <strong>cister</strong>ciensesportugueses po<strong>de</strong>m-se distinguir quatro tipos <strong>de</strong> implantação no território:montanha, vale (geralmente <strong>as</strong>sociado a uma <strong>de</strong>pressão hidrográfica),planalto e planície (litoral).Deste modo apresentam-se implantados segundo a seguintecategorização:494Esq. 92 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses <strong>de</strong> Montanha(síntese e esqu<strong>em</strong>a da autora)I.Mosteiros <strong>de</strong> MontanhaSão mosteiros <strong>as</strong>sociados a territórios <strong>de</strong> montanha e a elevad<strong>as</strong>altitu<strong>de</strong>s: Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães (Serra da Peneda);Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> (Serra do Gerês); (Esq. 92)II.Mosteiros <strong>de</strong> ValeSão mosteiros <strong>as</strong>sociados a uma <strong>de</strong>pressão hidrográfica: MosteiroSanta Maria do Bouro (rio Cavado); Mosteiro S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIO(rio Vouga); Mosteiro S. Tiago Sever (rio Vouga); Mosteiro SantaMaria do Ermelo (rio Lima); Mosteiro S. João <strong>de</strong> Tarouca (rio Varosa);Mosteiro Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> (ribeira <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>); Abadiavelha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> (rio Varosa); Mosteiro S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> – ovelho (rio Távora); Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> - o novo (rioTávora); Mosteiro Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dão (ribeira <strong>de</strong> Fra<strong>de</strong>s eproximida<strong>de</strong>s do rio Dão); Mosteiro Santa Maria <strong>de</strong> Tomarães(ribeira <strong>de</strong> Tomarães); Mosteiro S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong> (ribeira <strong>de</strong>Odivel<strong>as</strong>); Mosteiro Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa(proximida<strong>de</strong>s do rio Távora); Mosteiro S. João <strong>de</strong> Vale Ma<strong>de</strong>iro (rioMon<strong>de</strong>go); Mosteiro S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão (ribeira <strong>de</strong> Lorvão eproximida<strong>de</strong>s do rio Mon<strong>de</strong>go); Mosteiro Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong> (rioMon<strong>de</strong>go); Mosteiro São Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca (rio Marialva);(Esq. 93)495Esq. 93 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses <strong>de</strong> Vale(síntese e esqu<strong>em</strong>a da autora)III.Mosteiros <strong>de</strong> PlanaltoSão mosteiros <strong>as</strong>sociados a uma zona planáltica, isto é, a umaplanície m<strong>as</strong> <strong>de</strong> elevada altitu<strong>de</strong>: Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria da


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOEstrela (apesar <strong>de</strong> se encontrar junto da serra da Estrela, encontr<strong>as</strong>eespecificamente na Cova da Beira, uma zona planáltica n<strong>as</strong>frald<strong>as</strong> da serra); Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Conceição <strong>de</strong>Portalegre (sopé da Serra <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong>); Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria<strong>de</strong> Aguiar (Cova da Beira/Serra da Marofa); Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong>Cástris (Esq. 94);496Esq. 94 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses <strong>de</strong> Planalto(síntese e esqu<strong>em</strong>a da autora)IV.Mosteiros <strong>de</strong> PlanícieSão mosteiros <strong>as</strong>sociados à proximida<strong>de</strong> com o litoral e <strong>de</strong> cotarelativamente reduzida, próxima do nível do mar: Mosteiro <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Seiça; Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça; Mosteiro <strong>de</strong>S. Paulo <strong>de</strong> Almaziva; Mosteiro <strong>de</strong> S. Salvador d<strong>as</strong> Bouç<strong>as</strong>; Mosteiro<strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Almoster; Colégio do Espírito Santo; Mosteiro <strong>de</strong>S. Bento <strong>de</strong> Xabreg<strong>as</strong>; Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cós; Mosteiro <strong>de</strong>Nossa Senhora do Desterro; Mosteiro Nossa Senhora da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Tavira; Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazaré do Mocambo (Esq.95).


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOEsq. 95 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses <strong>de</strong> Planície(síntese e esqu<strong>em</strong>a da autora)497Note-se que apesar da cl<strong>as</strong>sificação relativa à implantação dos MosteirosCistercienses, tanto f<strong>em</strong>ininos como m<strong>as</strong>culinos, se repartir por Montanha, Vale,Planalto e Planície (Esq. 97 e 98), exist<strong>em</strong> situações <strong>em</strong> que a implantação dosmosteiros abarca um dos tipos <strong>de</strong> implantação principalmente m<strong>as</strong> tambémpo<strong>de</strong> abarcar secundariamente outro tipo como se po<strong>de</strong> observar no Esq. 96.No referido esqu<strong>em</strong>a apresentam-se os quatro tipos <strong>de</strong> implantação e ouniverso <strong>de</strong> mosteiros f<strong>em</strong>ininos e m<strong>as</strong>culinos que é abarcado <strong>as</strong>sim como ospontos <strong>de</strong> contacto entre dois universos, isto é, quando um <strong>de</strong>terminadomosteiro se insere principalmente num dos tipos <strong>de</strong> implantação m<strong>as</strong>secundariamente noutro. A título ex<strong>em</strong>plificativo salienta-se o Mosteiro <strong>de</strong> SantaMaria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> que pertence ao universo dos mosteiros m<strong>as</strong>culinos <strong>de</strong>Montanha como implantação principal, m<strong>as</strong> que <strong>de</strong> facto também seencontra numa situação secundária que po<strong>de</strong> ser entendida como um<strong>as</strong>ituação <strong>de</strong> Vale.


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOMOSTEIROS MASCULINOSMOSTEIROS FEMININOSS. PAULO ALMAZIVACOL. ESPÍRITO SANTOSTª Mª SEIÇASTª Mª ALCOBAÇAN. Sª DESTERROS. SALVADOR BOUÇASSTª Mª CÓSSTª Mª ALMOSTERN. SRª PIEDADE TAVIRASTª Mª ERMELOSTª Mª BOUROS. PEDRO ÁGUIASSTª Mª SALZEDASS. JOÃO TAROUCAS. CRISTÓVÃO DE LAFÕESSTª Mª MACEIRA DÃOS. PEDRO E S. PAULO AROUCAN. SRª ASSUNÇÃO DE TABOSAS. MAMEDE LORVÃOSTª Mª CELASS. DINIS ODIVELASN. SRª NAZARÉ MOCAMBOSTª Mª FIÃESSTª Mª JÚNIASSTª Mª AGUIARSTª Mª ESTRELAS. BERNARDO PORTALEGRES. BENTO DE CÁSTRISPLANÍCIE VALE MONTANHA PLANALTOSTª Mª ALCOBAÇAS. DINIS ODIVELASN. Sª NAZARÉ DO MOCAMBOSTª Mª AGUIARSTª Mª ESTRELAS. BERNARDO PORTALEGRESTª Mª JÚNIASN. Sª. ASSUNÇÃO TABOSAS. CRISTÓVÃO LAFÕES498Esq. 96 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses: implantação no território (síntese e esqu<strong>em</strong>a elaborados pela da autora)Esq. 97 Tipo <strong>de</strong> Implantação no Território dos MosteirosCistercienses Portugueses: Montanha, Planalto, Vale e Planície(síntese e esqu<strong>em</strong>a da autora)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOD E S I G N A Ç Ã O D O M O S T E I R OT I P O D EI M P L A N T A Ç Ã OV Í N C U L OG È N E R OR E A B I L I T A Ç Ã OE N T I D A D E SS. João <strong>de</strong> TaroucaValeFiliadoMIPPARC I C L O D E T A R O U C ASanta Maria <strong>de</strong> AguiarS. Tiago <strong>de</strong> SeverSanta Maria <strong>de</strong> FiãesSanta Maria do ErmeloS. Pedro da Águi<strong>as</strong> – o velhoSanta Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>Abadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>PlanaltoValeMontanhaValeValeValeValeFiliadoFiliadoFiliadoFiliadoFiliadoFiliadoFiliadoMMMMMMMDGEMN/IPPAR-DGEMNDGEMNDGEMNDGEMN/IPPAR-S. Cristóvão <strong>de</strong> LafõesValeFiliadoMPrivadoSanta Maria <strong>de</strong> Maceira DãoValeFiliadoMDGEMN/PrivadoSanta Maria <strong>de</strong> AlcobaçaPlanícieFundadoMDGEMN/IPPARS. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> – o novoValeFiliadoMDGEMN/PrivadoSanta Maria do BouroValeFiliadoMDGEMN/IPPAR/PrivSanta Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>,MontanhaFiliadoMDGEMNSanta Maria <strong>de</strong> SeiçaPlanícieFiliadoMDGEMNSanta Maria <strong>de</strong> TomarãesValeFundadoM-C I C L O D E A L C O B A Ç ASanta Maria da EstrelaS. Paulo <strong>de</strong> AlmazivaColégio do Espírito SantoS. Bento <strong>de</strong> CástrisSanta Maria <strong>de</strong> AlmosterS. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>S. Bento <strong>de</strong> Xabreg<strong>as</strong>N. Srª da Conceição <strong>de</strong> PortalegrePlanaltoPlaníciePlaníciePlanaltoPlanícieValePlaníciePlanaltoFundadoFiliadoFundadoFiliadoFundadoFundadoFundadoFundadoMMMFFFMFIgreja (Populares)DGEMNDGEMNDGEMNDGEMN/IPPARDGEMN/IPPARPrivadoDGEMN499Santa Maria <strong>de</strong> CósPlanícieFundadoFDGEMN/IPPARN. Srª do DesterroPlanícieFundadoMDGEMN/PrivadoN. Srª da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> TaviraPlanícieFundadoFPrivadoN. Srª da Nazaré do MocamboPlanícieFundadoFCML/EGEACN. Srª da Assunção <strong>de</strong> TabosaValeFundadoFDGEMN/PrivadoN. Srª da Nazaré <strong>de</strong> SetúbalPlanícieFiliadoFIPSSão João <strong>de</strong> Vale Ma<strong>de</strong>iroValeFundadoF-R E A L F E M IN I N OSão Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> LorvãoSanta Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>São Pedro e São Paulo <strong>de</strong> AroucaS. Salvador d<strong>as</strong> Bouç<strong>as</strong>ValeValeValePlanícieFiliadoFiliadoFiliadoFiliadoFFFFDGEMN/IPPARDGEMN/IPPARDGEMN/IPPAR-DGEMN – Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais I IPPAR – Instituto Português do Património Arquitectónico ICML – Câmara Municipal <strong>de</strong> Lisboa I EGEAC – Empresa <strong>de</strong> Gestão <strong>de</strong> Equipamentos <strong>de</strong> Animação Cultural I IPS – InstitutoPolitécnico <strong>de</strong> SetúbalEsq. 98 Tipo <strong>de</strong> implantação, por mosteiro, segundo os 3 ciclos previamente apontados <strong>as</strong>sim como qual oseu género e entida<strong>de</strong> que interveniente na sua reabilitação (esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOA norte do rio Douro surge o Portugal <strong>de</strong> montanha, com orientação nortesul,representado pel<strong>as</strong> serr<strong>as</strong> da Peneda, do Gerês, do Barroso, do Soajo,Amarela e entre o rio Cavado e o rio Tâmega, um dos principais afluentes do rioDouro, a serra da Cabreira. Nos meandros <strong>de</strong>st<strong>as</strong> cordilheir<strong>as</strong> montanhos<strong>as</strong>encontram-se os percursos longos e mais ou menos sinuosos <strong>de</strong> rios como oMinho, o Cavado, o Lima e os afluentes da marg<strong>em</strong> direita do rio Douro dosquais faz<strong>em</strong> parte os rios Sabor, Tua Tâmega, Sousa.100150200 250150 250200 150 100 100200150100150200250300400350500450150300ChaviãesCristoval500450 400 350300250Padrenda550Rio Minho600700650100Melgaço50R<strong>em</strong>oãesPradoMonterredondo50Rouss<strong>as</strong>LadrongueiraFiãesSta. Maria <strong>de</strong> FiãesJugaria700100150200250300350Pa<strong>de</strong>rneS. Paio450400500550600650700750800850900950 100010501100Rio Trancoso7508001050 11009501150850 100090012005000 1 Km650 700750Fig. 330 Implantação <strong>de</strong> Montanha: Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães(<strong>de</strong>senho elaborado pela autora)7001150Aqui se encontram os mosteiros <strong>de</strong> montanha, o Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Fiães (Fig. 330) e o Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>, e alguns mosteiros <strong>de</strong>vales como é o c<strong>as</strong>o do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Ermelo (Fig. 331) e doMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro.65070065075090060095085080010001050450400350500 550 600 650 750750700650 500 450600Várzea600 550300 350 400 550400 350450500650750850800700600700Rio C<strong>as</strong>tro Laboreiro550350Para<strong>de</strong>la700650Soajo250300350750350800600550350300500Vilarinho do Souto450400ErmeloSta. Maria do Ermelo2003002501501000 1 Km050100 150 200250Britelo300350Paradamonte400 450500Rio Lima550 600Fig. 331 Implantação <strong>em</strong> Vale: Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Ermelo(<strong>de</strong>senho elaborado pela autora)650700800750800850900950Lindoso1000105011001150550500650700750800850900400450600


6506. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOEntre o rio Douro e o rio Mon<strong>de</strong>go encontra-se o maciço formado pel<strong>as</strong> serr<strong>as</strong><strong>de</strong> Mont<strong>em</strong>uro e <strong>de</strong> Leomil e os vales vincados pelos afluentes da marg<strong>em</strong>esquerda do Douro: o Távora e o Varosa. Nesta área encontram-se os maisantigos mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses pertencentes ao ciclo <strong>de</strong> Tarouca:Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca, Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>, Abadiavelha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>, Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o velho e o novo) m<strong>as</strong>também o Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões.Entre o rio Tejo e o rio Mon<strong>de</strong>go, para o interior, encontra-se a serra daEstrela e a serra da Lousã. Na zona da raia interior encontram-se sobretudomosteiros planálticos como é o c<strong>as</strong>o do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria da Estrela, doMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar (Fig. 332), <strong>em</strong> Riba-Côa. Também na raiainterior, m<strong>as</strong> mais a sul, se encontram outros mosteiros planálticos como é oc<strong>as</strong>o <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre e <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris.600550600550500550 600450600500Rio Águeda400Figueira <strong>de</strong> C<strong>as</strong>telo Rodrigo650650450500500550550Ribeira <strong>de</strong> Aguiar800C<strong>as</strong>telo Rodrigo700750Sta. Maria <strong>de</strong> Aguiar750650600501750700650700Almofala0 1 KmBarrag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Sta. Maria <strong>de</strong> AguiarEscarigoFig. 332 Implantação <strong>em</strong> Planalto: Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar(<strong>de</strong>senho elaborado pela autora)No entanto <strong>as</strong> preferênci<strong>as</strong> dos <strong>cister</strong>cienses incidiam sobretudo n<strong>as</strong> <strong>de</strong>pressõese vales do Dão, com Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dão, e do Mon<strong>de</strong>go com osMosteiros <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Vale Ma<strong>de</strong>iro, Mosteiro S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão <strong>as</strong>simcomo <strong>as</strong> cercani<strong>as</strong> <strong>de</strong> Coimbra com o Mosteiro Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>, Colégiodo Espírito Santo e o Mosteiro <strong>de</strong> S. Paulo <strong>de</strong> Almaziva.Se por um lado a região d<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong> acolhe sobretudo mosteiros <strong>em</strong>situação <strong>de</strong> vale, toda a zona litoral portuguesa acolhe os mosteiros <strong>de</strong> planíciecomo o Mosteiro <strong>de</strong> S. Savador d<strong>as</strong> Bouç<strong>as</strong> (litoral norte), o Mosteiro <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Seiça (litoral centro), Nossa senhora da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tavira (Algarve,Fig. 333). Também se encontram <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> planície os Mosteiros <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Alcobaça e os que <strong>de</strong>le estão próximos como o Mosteiro <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Cós.


Rio Gilão6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIO501501005050 5050505000505050100100Conceição100Caban<strong>as</strong>Santo EstevãoSão Bernardo <strong>de</strong> TaviraTaviraCanal <strong>de</strong> TaviraSanta LuziaOceano AtlânticoPedr<strong>as</strong> <strong>de</strong> El-Rei0 1 KmFig. 333 Implantação <strong>em</strong> Planicie: Mosteiro <strong>de</strong> São Bernardo <strong>de</strong> Tavira ouNossa Senhora da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tavira (<strong>de</strong>senho elaborado pela autora)502Na zona <strong>de</strong> Lisboa, os Mosteiros <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazaré do Mocambo,Nossa Senhora do Desterro e S. Bento <strong>de</strong> Xabreg<strong>as</strong> são consi<strong>de</strong>rados mosteiros<strong>de</strong> planície pela sua situação <strong>de</strong> implantação litoral na bacia do rio Tejo, aindaque morfologicamente o território on<strong>de</strong> se implantam possa <strong>de</strong>notar aexistência <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>clives como é o c<strong>as</strong>o do Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora daNazaré do Mocambo.MOSTEIROS PORTUGUESES (TOTALIDADE)MOSTEIROS CICLO DE TAROUCAGraf. 24 Percentag<strong>em</strong> relativa à generalida<strong>de</strong> dosMosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses quanto ao tipo<strong>de</strong> implantação (esqu<strong>em</strong>a elaborado pela autora)Graf. 25 Percentag<strong>em</strong> relativa à generalida<strong>de</strong> dosMosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses quanto ao tipo<strong>de</strong> implantação segundo o ciclo <strong>de</strong> Tarouca(esqu<strong>em</strong>a elaborado pela autora)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOMOSTEIROS CICLO DE ALCOBAÇAMOSTEIROS CICLO ‘REAL FEMININO’Graf. 26 Percentag<strong>em</strong> relativa à generalida<strong>de</strong> dosMosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses quanto ao tipo <strong>de</strong>implantação segundo o Ciclo <strong>de</strong> Alcobaça(esqu<strong>em</strong>a elaborado pela autora)Graf. 27 Percentag<strong>em</strong> relativa à generalida<strong>de</strong> dosMosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses quanto ao tipo <strong>de</strong>implantação segundo o Ciclo “Real F<strong>em</strong>inino”(esqu<strong>em</strong>a elaborado pela autora)Verifica-se que <strong>de</strong> um modo geral os Mosteiros Cistercienses portugueses(Graf.24) se encontram sobretudo implantados <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> vale (47%) comoseria <strong>de</strong> esperar seguidos d<strong>as</strong> implantações <strong>em</strong> zon<strong>as</strong> <strong>de</strong> planície (34%), <strong>em</strong>zon<strong>as</strong> planáltic<strong>as</strong> (13%) e por fim uma pequena percentag<strong>em</strong> <strong>em</strong> zon<strong>as</strong> <strong>de</strong>montanha (6%).No que respeita aos ciclos existenciais e significativos <strong>de</strong> implantação daOr<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal verifica-se que o Ciclo <strong>de</strong> Tarouca (Graf. 25)conotado com <strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> implantações <strong>cister</strong>cienses no país respeita <strong>em</strong>absoluto a predilecção <strong>cister</strong>ciense pelos vales (80%), repartindo-se os restantesequitativamente pela implantação <strong>de</strong> montanha (10%) e pela implantação <strong>em</strong>planalto).No que respeita à implantação dos mosteiros inseridos no Ciclo do RealF<strong>em</strong>inino (Graf. 27) verifica-se o mesmo, isto é, uma predilecção pel<strong>as</strong>implantações <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> vale (75%) à que se opõe apen<strong>as</strong> uma pequenaparte <strong>de</strong> implantações <strong>em</strong> planície (25%) e nenhuma <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> planaltoou <strong>de</strong> planície.No que respeita ao Ciclo <strong>de</strong> Alcobaça (Graf. 26) verifica-se umapredilecção pela zona <strong>de</strong> planície (50%) o que é compreensível pela áreageográfica <strong>em</strong> que se implantam muitos dos mosteiros <strong>de</strong>ste ciclo, ou seja, azona litoral. Porém logo <strong>de</strong> seguida encontram-se <strong>as</strong> implantações <strong>em</strong>situações <strong>de</strong> vale (27%) sendo <strong>as</strong> restantes implantações repartid<strong>as</strong> porsituações <strong>de</strong> planalto (14%) e <strong>de</strong> montanha (9%).503


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOGraf. 28 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses – altitu<strong>de</strong> <strong>em</strong> metros (gráfico da autora)504Note-se que os mosteiros <strong>de</strong> montanha são-no <strong>de</strong>vido à altitu<strong>de</strong> <strong>em</strong> que seencontram (Graf. 28), no entanto a sua situação procura s<strong>em</strong>pre ser um<strong>as</strong>ituação <strong>de</strong> vale, ou seja, a predilecção por vales é um facto e a escolha <strong>de</strong>uma montanha é rara como é o c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> Pitões d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> ou como S. Cristóvão<strong>de</strong> Lafões que se localiza numa pequena elevação como se <strong>de</strong> uma penínsul<strong>as</strong>e trat<strong>as</strong>se.Como refere Marcel Aubert,“en tout, pour le choix du site, comme pour la disposition <strong>de</strong>s bâtiments,comme pour l’organisation même <strong>de</strong> la vie, on cherchait àcopier Cîteaux, dans cette unité qui est le fon<strong>de</strong>ment même <strong>de</strong> laCharte <strong>de</strong> Charité sur laquelle repose l’Ordre: una caritate, una regula,similibusque vivamus moribus” 34 .Deste modo os mosteiros, ou os seus vestígios que ainda hoje po<strong>de</strong>m ser vistosencontram-se sobretudo <strong>em</strong> vales e <strong>em</strong> território <strong>de</strong> montanha correspon<strong>de</strong>ndoa 61% d<strong>as</strong> implantações no que respeita aos mosteiros m<strong>as</strong>culinos (50% <strong>em</strong>situação <strong>de</strong> vale e 11% <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> montanha) e a 41% no que respeita aosmosteiros f<strong>em</strong>ininos (41% <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> vale e nenhum <strong>em</strong> situação <strong>de</strong>montanha) No entanto também é possível encontrar implantações próxim<strong>as</strong> dolitoral <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> planície (cerca <strong>de</strong> 28% no que respeita aos mosteiros34 Cit COCHERIL, Dom Maur; Etu<strong>de</strong>s sur le monachisme en Espagne et au Portugal; Collection Portugaise sousle patronage <strong>de</strong> l’institute français au Portugal; societe d’editions “Les Belles Lettres” - Paris; Livraria Bertrand –Lisbonne; 1966 ; p.357


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOm<strong>as</strong>culinos e 42% no que respeita aos mosteiros f<strong>em</strong>ininos) <strong>as</strong>sim como algum<strong>as</strong>situações <strong>de</strong> planalto (cerca <strong>de</strong> 11% nos mosteiros m<strong>as</strong>culinos e 17% nosmosteiros f<strong>em</strong>ininos) o que v<strong>em</strong> contrariar <strong>de</strong> certa forma a norma estabelecida(Graf. 29).MOSTEIROS MASCULINOS MOSTEIROS FEMININOSGraf. 29 Percentag<strong>em</strong> relativa aos Mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses quanto ao tipo <strong>de</strong>implantação consoante sejam m<strong>as</strong>culinos ou f<strong>em</strong>ininos (esqu<strong>em</strong>a elaborado pela autora)Apesar <strong>de</strong> os Cistercienses pertencer<strong>em</strong> a uma Or<strong>de</strong>m que requeria a solidão eo isolamento, implantando-se fora do contexto urbano, a transformação e<strong>de</strong>senvolvimento do território permitiu que implantações isolad<strong>as</strong> foss<strong>em</strong> gradualmenteabsorvid<strong>as</strong> pela expansão do tecido urbano e interagiss<strong>em</strong> com ele,como é o c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> Sta Maria <strong>de</strong> Alcobaça e da cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> esta se insere oumesmo Nossa Senhora da Nazaré do Mocambo <strong>em</strong> Lisboa (Fig. 334).505Fig. 334 Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazaré do Mocambo(<strong>de</strong>senho da autora sobre fotografia Virtual Earth)Actualmente a maior parte dos mosteiros subsistentes encontra-se tanto <strong>em</strong>zon<strong>as</strong> rurais como zon<strong>as</strong> urban<strong>as</strong>, uma vez que <strong>as</strong> cida<strong>de</strong>s rapidamente cres-


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOceram fazendo com que os mosteiros outrora af<strong>as</strong>tados foss<strong>em</strong> integrados namalha urbana. Deste modo encontram-se cerca <strong>de</strong> 40% <strong>de</strong> mosteiros <strong>em</strong> zon<strong>as</strong>rurais e idêntica percentag<strong>em</strong> <strong>em</strong> meio urbano. No entanto prevalec<strong>em</strong> cerca<strong>de</strong> 14 % <strong>em</strong> espaços naturais ou protegidos, encontrando-se a restante percentag<strong>em</strong><strong>em</strong> zon<strong>as</strong> mist<strong>as</strong>, isto é, <strong>de</strong> transição entre o meio rural e o meio urbano.Por outro lado, a norte, muito próximo da fronteira com Espanhaencontram-se, <strong>em</strong> território <strong>de</strong> Montanha e meio profundamente rural omosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães (século XII) do qual apen<strong>as</strong> resta a igreja.Um pouco mais a Este inserindo-se <strong>em</strong> pleno Parque Nacional PenedaGerês, num Espaço protegido, encontra-se o pequeno mosteiro <strong>de</strong> Santa Mariad<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> (século XIII). Vale a pena <strong>de</strong>termo-nos um pouco neste mosteiro poisapesar <strong>de</strong> muito arruinado e s<strong>em</strong> qualquer activida<strong>de</strong> continua a ser alvo <strong>de</strong>visita (quer pelos amantes da natureza quer pelos apaixonados pelo patrimónioarquitectónico que por vezes se po<strong>de</strong> encontrar nos lugares mais inesperadoscomo é este c<strong>as</strong>o). Ainda hoje é difícil o acesso a este pequeno mosteirofazendo-se apen<strong>as</strong> a pé por um caminho escarpado e algo perigoso. Esteex<strong>em</strong>plar enquadra-se <strong>em</strong> absoluto no i<strong>de</strong>al <strong>cister</strong>ciense pois está <strong>em</strong>comunhão com a natureza longe <strong>de</strong> tudo e <strong>de</strong> todos, numa situação <strong>de</strong>montanha m<strong>as</strong> ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> vale no fundo do qual corre um ribeiro <strong>de</strong>água cristalina.506Fig. 335 Celebração <strong>de</strong> matrimónio na Igreja doMosteiro <strong>de</strong> santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> (arquivo daautora)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOEste mosteiro volta à vida todos os anos no dia 15 <strong>de</strong> Agosto, dia da Assunção<strong>de</strong> Nossa Senhora, quando a população d<strong>as</strong> al<strong>de</strong>i<strong>as</strong> vizinh<strong>as</strong>, sobretudo daal<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Pitões d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong> se junta <strong>em</strong> procissão e há uma celebração litúrgicana Igreja do mosteiro. Algum<strong>as</strong> excepções têm permitido a utilização da Igrejado mosteiro, para outro tipo <strong>de</strong> celebrações. Esporadicamente os naturais davizinha al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Pitões d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>, <strong>em</strong>igrados noutros países, regressam aPortugal e à sua al<strong>de</strong>ia natal para na igreja do mosteiro se unir<strong>em</strong> <strong>em</strong>matrimónio (Fig. 335).507Graf. 30 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses m<strong>as</strong>culinos – altitu<strong>de</strong> <strong>em</strong> metros (gráfico da autora)Graf. 31 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses f<strong>em</strong>ininos – altitu<strong>de</strong> <strong>em</strong> metros (gráfico da autora)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOG É ND E S I G N A Ç Ã O D O M O S T E I R OI M P L A N T A Ç Ã OA L T I T U D E (m)T I P OMMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães690MONTANHAMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Ermelo50VALEMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro140VALEMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>1020MONTANHAMosteiro <strong>de</strong> São Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o velho)270VALEMosteiro <strong>de</strong> São Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o novo)360VALEMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>570VALEAbadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>480VALEMosteiro <strong>de</strong> São João <strong>de</strong> Tarouca590VALEMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar660PLANALTOMosteiro <strong>de</strong> São Cristovão <strong>de</strong> Lafões270VALEMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dão290VALEMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria da Estrela410PLANALTOMosteiro <strong>de</strong> São Paulo <strong>de</strong> Almaziva80PLANÍCIEColégio do Espírito Santo20PLANÍCIEMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Seiça20PLANÍCIEMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça30PLANÍCIEMosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora do Desterro20PLANÍCIE508FMosteiro <strong>de</strong> S. Salvador d<strong>as</strong> Bouç<strong>as</strong>30PLANÍCIEMosteiro <strong>de</strong> São Pedro e São Paulo <strong>de</strong> Arouca290VALEMosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa710VALEMosteiro <strong>de</strong> São Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão160VALEMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>120PLANÍCIEMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cós30PLANICIEMosteiro <strong>de</strong> São Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>40VALEMosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazaré do Mocambo30PLANICIEMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Almoster20PLANICIEMosteiro <strong>de</strong> São Bernardo <strong>de</strong> Portalegre480PLANALTOMosteiro <strong>de</strong> São Bento <strong>de</strong> Cástris330PLANALTOMosteiro Nossa Senhora da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tavira10PLANICIEEsq. 99 Altitu<strong>de</strong> e implantação dos Mosteiros Cistercienses portugueses(síntese e esqu<strong>em</strong>a elaborados pela autora)Verifica-se que os Mosteiros Cistercienses m<strong>as</strong>culinos (Graf. 30) encontram-se auma altitu<strong>de</strong> geralmente superior à dos Mosteiros Cistercienses f<strong>em</strong>ininos(Graf.31) o que é explicado pelo facto <strong>de</strong> os primeiros mosteiros ter<strong>em</strong> sidom<strong>as</strong>culinos e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r<strong>em</strong> da organização geográfica <strong>de</strong> uma Nação <strong>em</strong>


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOformação que ia conquistando terreno à medida que obrigava ao recuo dosMuçulmanos cada vez mais para sul permitindo que os mosteiros f<strong>em</strong>ininos quesurgiram a partir do século XIII se foss<strong>em</strong> implantando <strong>em</strong> terrenos menos anorte, logo com menor altitu<strong>de</strong>.A implantação mais elevada <strong>de</strong> um Mosteiro Cisterciense Português é ado Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>, a norte do País com 1020 metros <strong>de</strong>altitu<strong>de</strong>, e a implantação menos elevada é a do Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora daPieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tavira, a sul do País, no Algarve, com 10 metros acima do nível domar. Curiosamente trata-se <strong>de</strong> um Mosteiro Cisterciense m<strong>as</strong>culino e <strong>de</strong> umMosteiro Cisterciense f<strong>em</strong>inino respectivamente. É <strong>de</strong> salientar que no querespeita aos Mosteiros Cistercienses f<strong>em</strong>ininos a altitu<strong>de</strong> máxima <strong>de</strong>implantação atingida é a <strong>de</strong> 710 metros que correspon<strong>de</strong> ao Mosteiro <strong>de</strong> NossaSenhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa (Esq. 99).6.4.Mudanç<strong>as</strong> <strong>de</strong> Sítio <strong>em</strong> Território PortuguêsEm Portugal foram alvo <strong>de</strong> transferênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> sitio os Mosteiros <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> e <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>.O Mosteiro <strong>de</strong> Sta Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> foi transferido alguns quilómetros poiscorria o risco <strong>de</strong> ser frequent<strong>em</strong>ente inundado <strong>de</strong>vido a chei<strong>as</strong> do Varosa dadaa sua proximida<strong>de</strong> a esta linha <strong>de</strong> água substituindo <strong>as</strong>sim a Abadia Velha <strong>de</strong>Salzed<strong>as</strong>. S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o velho, foi substituído pelo Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedrod<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o novo, <strong>de</strong>vido à ari<strong>de</strong>z do local da primeira implantação.Tanto a primeira implantação <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> como a primeira implantação<strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> não foram terminad<strong>as</strong> <strong>de</strong>vido à transferência <strong>de</strong> sítio e<strong>de</strong> amb<strong>as</strong> restam os vestígios da igreja, incompleta no c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> ecompleta no c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>. Deste modo po<strong>de</strong>-se comprovar queo oratório seria s<strong>em</strong>pre o primeiro edifício do conjunto monástico a ser erigido<strong>em</strong> pedra.Para que um mosteiro prosper<strong>as</strong>se e se <strong>de</strong>senvolvesse era necessáriocriar um perfeito enraizamento para o qual era necessário uma inteligenteadaptação ao meio. As transferênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> sítio apontam para uma preocupação,por parte dos monges <strong>cister</strong>cienses, <strong>em</strong> relação aos seus territórios no querespeita ao seu <strong>de</strong>senvolvimento e prosperida<strong>de</strong>. No c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> uma primeiraimplantação se mostrar imprópria os <strong>cister</strong>cienses não hesitavam <strong>em</strong> fazer umatransferência <strong>de</strong> sítio ou então regressar à Abadia-mãe. 35 Muit<strong>as</strong> implantações<strong>cister</strong>cienses foram alvo <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> local, quer fosse por falta <strong>de</strong> água,50935 Ver COCHERIL, Dom Maur; Etu<strong>de</strong>s sur le monachisme en Espagne et au Portugal; Collection Portugaise sousle patronage <strong>de</strong> l’institute français au Portugal; societe d’editions “Les Belles Lettres” - Paris; Livraria Bertrand –Lisbonne; 1966 ; p.365


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOágua <strong>em</strong> <strong>de</strong>m<strong>as</strong>ia que pu<strong>de</strong>sse provocar risco <strong>de</strong> inundações, locais<strong>de</strong>m<strong>as</strong>iado buliciosos, insalubrida<strong>de</strong> climática.De S. João <strong>de</strong> Tarouca (1143) subsiste a Igreja que continua <strong>em</strong> activida<strong>de</strong>e da qual se evi<strong>de</strong>ncia a sacristia, <strong>de</strong>stacam-se também os monumentaisdormitórios (séc. XVI e XVII) e os vestígios do elaborado sist<strong>em</strong>a hidráulico. Aigreja apresenta três naves, um largo transepto saliente e uma cabeceira compostapor três capel<strong>as</strong> quadrangulares escalonad<strong>as</strong>. Escavações arqueológic<strong>as</strong>colocaram a <strong>de</strong>scoberto o claustro original (séc. XII) <strong>as</strong>sim como os vestígios daSala do Capítulo, cozinha e latrin<strong>as</strong> (Fig. 336). Deste modo foi possível i<strong>de</strong>ntificarsea planimetria da antiga abadia, que correspon<strong>de</strong> ao mo<strong>de</strong>lo claravalense eao que se intitula <strong>de</strong> românico <strong>cister</strong>ciense. O Mosteiro <strong>de</strong> São João <strong>de</strong>Tarouca, apresenta a sua estrutura medieval pouco alterada pelo que ainda sepo<strong>de</strong> vislumbrar a primitiva planimetria, característica do românico tardio. Poroutro lado, ao possuir Claraval como abadia-mãe apresenta uma singularfamiliarida<strong>de</strong>, tão constante na arquitectura <strong>cister</strong>ciense, ao ser possívelencontrar-se uma planimetria inserida no âmbito do plano bernardino, sendoesta uma extensão da planimetria apresentado por Claraval II.510Fig. 336 Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca com vestígios do seu traçado do primitivo (fotografia Virtual Earth)De igual modo, inseridos na região d<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong>, se encontram os mosteiros <strong>de</strong>Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> (1191) e S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (séc. XII, com novaimplantação no séc. XVI), que <strong>em</strong> muito potenciaram a acção <strong>cister</strong>ciense nopaís. Ambos são ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> sítios, prática que como já foireferido sucedia por vezes com os mosteiros <strong>cister</strong>cienses (Fig. 337 a 340). ASanta Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> correspon<strong>de</strong> uma primeira implantação a NE (AbadiaVelha) da qual se encontram vestígios arqueológicos <strong>em</strong> terrenos <strong>de</strong> umparticular (Quinta da Abadia Velha). Deste modo é possível vislumbrar n<strong>as</strong>ruín<strong>as</strong> da Abadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> (1168) a marca <strong>de</strong> Cister numa igrejaromânica e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte que apresenta indícios <strong>de</strong> três naves, transepto


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOsaliente, cabeceira composta salientando-se a absi<strong>de</strong> e absidíolo poligonais,algo raro nos mosteiros <strong>de</strong>sta or<strong>de</strong>m que usualmente apresentavam umacabeceira recta.700650600650700750800850900850800750550700Cepões550700500Barrocal450Britian<strong>de</strong>Ferreirim450500450400Vila Mea550500450 500450Eira Qui<strong>em</strong>ada500600650700550550GouviãesRio Varosa750Ucanha800MurganheiraAbadia Velha850800Meixedo750Sta. Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>850600SantiagoCimbres950900950950650600550Ribeira <strong>de</strong> Tarouca600 Dalvares650Val<strong>de</strong>vezFormilo750700750600650700550AlmodafaGranja Nova850950800850900950GondomarArgue<strong>de</strong>iraEsporões80090010001050TaroucaOuteiroSanfins8500 1 KmQuinta do Granjão800850Fig. 337 Abadia velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>, mais a norte, e Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>, mais a Sul(<strong>de</strong>senho da autora)511450 4604704804905005105205305405505605705805906106006206306400 200 m650Fig. 338 Abadia velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>, mais a norte, e Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>, mais a Sul(<strong>de</strong>senho da autora)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIO512Fig. 339 Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o novo, a norte eo Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o velho, a sul (fotografiaIgeoE)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIO400 390430460 450380410350340 330 290 280 270 260 250320 310 300370360230210240 220 200 250220 230200 240260 270210300290280280290310300420320310330 340360350570560550530250260270580540590520510500280 270260290240280 290 300310320330340250480230513600590490450 440470 460430420410400390380 370340360 350330320310 3003503703803603904204104304000 200 mFig. 340 Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o novo, a norte e o Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong>Águi<strong>as</strong>, o velho, a sul (<strong>de</strong>senho da autora)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIO6.5.Hidráulica <strong>cister</strong>ciense514Fig. 341 Pormenor do lavabo do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça(fotografia da autora)Num mosteiro <strong>cister</strong>ciense a água era um b<strong>em</strong> essencial, não só imprescindívelà vida quotidiana, no que respeita à higiene e necessida<strong>de</strong>s energétic<strong>as</strong>, comotambém era dotada <strong>de</strong> uma significação e simbólic<strong>as</strong> muito própri<strong>as</strong> comopo<strong>de</strong> ser observado numa leitura atenta dos salmos recitados (Fig. 341).A água era importante para a higiene dos monges (utilização no lavabo elatrin<strong>as</strong>) e para a sua espiritualida<strong>de</strong> (abluções no lavabo). Era tambémimportante para a economia (utilização n<strong>as</strong> forj<strong>as</strong>, moinhos, viveiros, rega) esobretudo para a subsistência dos monges através <strong>de</strong> reserv<strong>as</strong> <strong>de</strong> águapotável.Fig. 342 Desenho do aqueduto <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões antes da sua <strong>de</strong>struiçãoparcial (arquivo DGEMN / IHRU)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOFig. 343 Aqueduto <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (fotografia da autora)Deste modo o mosteiro <strong>cister</strong>ciense necessitava <strong>de</strong> uma dupla infra-estruturahidráulica que fosse eficiente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a captação da própria água corrente, aoseu transporte (Fig. 342 e 343) e distribuição <strong>de</strong>ntro do mosteiro e por fim até àevacuação d<strong>as</strong> águ<strong>as</strong> residuais. Ou seja A água corrente era condiçãoobrigatória (Fig. 344) na escolha da localização da Abadia e <strong>de</strong>via p<strong>as</strong>sarprimeiro pela cozinha e refeitórios, escorrendo <strong>de</strong>pois para <strong>as</strong> latrin<strong>as</strong> situad<strong>as</strong>abaixo dos dormitórios.515Fig. 344 Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o novo (fotografia da autora)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOOs monges necessitavam <strong>de</strong> água para a cozinha, para beber, para a suahigiene pessoal (abluções, barbear, tonsurar, etc.), para a limpeza d<strong>as</strong> latrin<strong>as</strong>e, ainda, para fins agrícol<strong>as</strong> (irrigação dos jardins e pomares) e activida<strong>de</strong>sindustriais (accionamento <strong>de</strong> nor<strong>as</strong>, moinhos, forj<strong>as</strong>, etc.).O sist<strong>em</strong>a hidráulico <strong>cister</strong>ciense (Fig. 345 e 346) representa algo <strong>de</strong>extraordinariamente novo. A linha <strong>de</strong> água s<strong>em</strong>pre foi um el<strong>em</strong>ento constantena escolha dos locais <strong>de</strong> implantação <strong>cister</strong>ciense.516Fig. 345 Mãe-<strong>de</strong>-água do Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (fotografia da autora)Fig. 346 Alçado da Mãe-<strong>de</strong>-água ou “Fonte dos fra<strong>de</strong>s” do Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão<strong>de</strong> Lafões (Desenho do Prof. Virgolino Ferreira Jorge)


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIODepois <strong>de</strong> construído o mosteiro, parte da linha <strong>de</strong> água po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sviadapara limpeza d<strong>as</strong> latrin<strong>as</strong> ou p<strong>as</strong>sar por <strong>de</strong>baixo dos dormitórios para voltar àsuperfície <strong>de</strong> forma dinâmica através do lavabo salpicante <strong>de</strong>stinado àsabluções, <strong>de</strong>pois segue o seu caminho até à cozinha on<strong>de</strong> é utilizada napreparação d<strong>as</strong> refeições para <strong>de</strong>pois seguir novamente o seu curso.“Quiconque a visité un mon<strong>as</strong>tère <strong>cister</strong>cien ne peut manquer <strong>de</strong>r<strong>em</strong>arquer l’immense importance accordée par les architectes ausystème d’égout et <strong>de</strong> tuyauterie en général. (…) Le ruisseau, qui esttoujours un élément clé <strong>de</strong>s sites <strong>cister</strong>ciens, est détourné en amont<strong>de</strong>s latrines. De ce fait, tandis que le courant principal couledirect<strong>em</strong>ent sous les latrines dans une canalisation <strong>de</strong> pierre, uneautre br<strong>as</strong> p<strong>as</strong>se dans une conduite creusée sous le dortoir pourresurgir au niveau do cloitre dans une sorte <strong>de</strong> fontaine <strong>de</strong>stinée auxablutions. Il poursuit son ch<strong>em</strong>in vers les cuisines et rejoint ensuite leruisseau principal.” 36517Fig. 347 Rio Alcoa possui uma série <strong>de</strong> diques e levad<strong>as</strong> ao longo da sua travessia daactual Alcobaça, muitos <strong>de</strong>les com génese no trabalho dos monges alcobacenses(fotografia da autora)36 TOBIN, Stephen; Les Cisterciens – Moines et Mon<strong>as</strong>tères d’Europe; Les Éditions du Cerf; Paris 1995 ; p.107


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIONão só Tobin, pelo anteriormente referido, como também Braunfels apontam ahidráulica <strong>cister</strong>ciense como algo <strong>de</strong> excepcional no contexto e na época <strong>em</strong>que se inseriam os primeiros mosteiros <strong>cister</strong>cienses (Fig. 347). Refere Braunfels:“In all Cistercian mon<strong>as</strong>teries the greatest attention w<strong>as</strong> paid to thewater-supply (...). It is hard to distinguish what w<strong>as</strong> borrowed from theArabs, and what from earlier discoveries, and what refin<strong>em</strong>ents werethen ma<strong>de</strong> from the twelfth and thirteenth centuries right up to theseventeenth. Cleanliness w<strong>as</strong> inherent in Cistercian aesthetics. It is tobe found both in the use of patiently smoothed stones and inprovision of w<strong>as</strong>hrooms; the covered fountains opposite theentrance to refectories became incre<strong>as</strong>ingly elaborate in responseto this use. They are symbolic of the importance of the role playedby water in the mon<strong>as</strong>tery.” 37 (Fig. 348 a 350)518Fig. 348 Lavabo do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça localizado diante da porta doRefeitório (fotografia da autora)Como refere William Beckford, viajante célebre a Portugal do século XVIII, m<strong>as</strong>também hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> letr<strong>as</strong>, bibliófilo, paisagista e arquitecto, nos registos d<strong>as</strong>37 BRAUNFELS, Wolfgang; Mon<strong>as</strong>teries of Western Europe – The Architecture of the Or<strong>de</strong>rs; Thames and Hudson;London 1993; p.94


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOsu<strong>as</strong> viagens por Alcobaça e Batalha (“Recollections of an excursion to Alcobaçaand Batalha”). 38Fig. 349 Pia da cozinha do mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça que tinha águacorrente do Rio (fotografia da autora)519Fig. 350 Indicação da p<strong>as</strong>sag<strong>em</strong> <strong>de</strong> água corrente pela pare<strong>de</strong> da Igreja <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Alcobaça para que se soubesse ao certo a sua localização <strong>em</strong> c<strong>as</strong>o <strong>de</strong>necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguma reparação (fotografia da autora)Como refere Pedro Tavares:“A Água foi <strong>de</strong>terminante e condicionante do comportamento dohom<strong>em</strong> e da Humanida<strong>de</strong>. Na Ida<strong>de</strong> Média, o domínio e o controlo38 Ver Capítulo 7; pp. 529 - 530


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOda água permitiu às Comunida<strong>de</strong>s Monástic<strong>as</strong> <strong>em</strong> conjuntosedificados alcançar<strong>em</strong> um elevado grau <strong>de</strong> gestão, <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>condições <strong>de</strong> Higiene e Salubrida<strong>de</strong>. A estratificação daSocieda<strong>de</strong> Cisterciense e a hierarquização dos seus espaços,encontrava paralelo na gestão do seu Sist<strong>em</strong>a Hidráulico, com <strong>as</strong>eparação entre Rios, Levad<strong>as</strong> e Condut<strong>as</strong>, com característic<strong>as</strong>físic<strong>as</strong>, caudais, controlos, riscos próprios e finalida<strong>de</strong>s distint<strong>as</strong>. Foitambém como “Força Motriz” que a água teve um papelfundamental, causando na Ida<strong>de</strong> Média talvez a Primeira“Revolução Industrial”, na qual os Cistercienses tiveram um papelimportante, Revolução Industrial essa só comparável à do carvãono séc. XIX, à do petróleo no séc. XX e à informática do séc. XXI. (…)Alcobaça torna-se num ex<strong>em</strong>plo interessante <strong>de</strong> constataçãohistórica <strong>de</strong> interacção continuada entre o Hom<strong>em</strong>, a Água e oMeio-Ambiente. Trata-se <strong>de</strong> um dos mais importantes e b<strong>em</strong>conservados Conjuntos Monásticos Cistercienses, com os seusregistos e a sua m<strong>em</strong>ória e também um dos mais sensíveis aosefeitos d<strong>as</strong> chei<strong>as</strong> seculares.” 39 (Fig. 351 e 352)520Fig. 351 S. João <strong>de</strong> Tarouca: sist<strong>em</strong>a hidráulico (fotografia da autora)39 TAVARES, Pedro; Sist<strong>em</strong>a hidráulico <strong>cister</strong>ciense <strong>em</strong> Alcobaça; texto policopiado integrado no dossierfacultado aquando o “Fórum Carta Europeia <strong>de</strong> Abadi<strong>as</strong> e Sítios Cistercienses” que teve lugar no Mosteiro <strong>de</strong>Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça <strong>de</strong> 1 a 3 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2009; Maio 2009; s/paginação


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOabFig. 352 Mosteiro <strong>de</strong> S. João <strong>de</strong> Tarouca(a, b): sist<strong>em</strong>a hidráulico (fotografi<strong>as</strong> da autora)A hidráulica <strong>cister</strong>ciense já era apontada como obra magnífica e vital na<strong>de</strong>scrição do Mosteiro <strong>de</strong> Claraval que se encontra inserido na Patrologialatina:“Abençoada seja a levada do rio que p<strong>as</strong>sa pel<strong>as</strong> numeros<strong>as</strong>oficin<strong>as</strong> da Abadia, por todos os serviços que presta… Primeiro, orio, com ímpeto, toma o moinho <strong>de</strong> <strong>as</strong>salto, ocupando-se aqui e ali,moendo o grão sob o peso d<strong>as</strong> mós <strong>de</strong> pedra e vibrando <strong>as</strong>peneir<strong>as</strong> fin<strong>as</strong> que separam a farinha do farelo. Depois, precipita-separa o edifício seguinte, enchendo <strong>as</strong> cal<strong>de</strong>ir<strong>as</strong> e entregando-se aofogo que o aquece para preparar a cerveja dos fra<strong>de</strong>s, quando avindima é fraca. Não termina aqui, p<strong>as</strong>sando <strong>em</strong> seguida aospisões. Tendo-se primeiro preocupado com a alimentação dosfra<strong>de</strong>s, trata agora do seu vestuário, nunca recusando executar oque lhe é pedido. Eleva e baixa os pesados mecanismos e martelosou, dito <strong>de</strong> outra maneira, <strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong> hidráulic<strong>as</strong> <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira,<strong>de</strong>sta feita poupando muita labuta pesada aos monges … Quantoscavalos ficariam exaustos, quantos homens cansariam os seusbraços nestes trabalhos, que são executados para nós pelo nossorio gracioso, a qu<strong>em</strong> ficamos a <strong>de</strong>ver o nosso vestuário e a nossaalimentação? Quando finalmente <strong>em</strong>erge, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fazer girartant<strong>as</strong> rod<strong>as</strong> e tão rapidamente, v<strong>em</strong> a espumar como se tivesse521


6. CISTER EM PORTUGAL: ARQUITECTURA vs. INSERÇÃO NO TERRITÓRIOsido chicoteado. A seguir, prepara os cabedais e sol<strong>as</strong> necessáriosao calçado dos monges. É, ao mesmo t<strong>em</strong>po, trabalhador duro eenergético. Depois, dividindo-se numa multitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> canaismenores, encaminha-se para <strong>as</strong> mais variad<strong>as</strong> zon<strong>as</strong> do Mosteiro,procurando diligent<strong>em</strong>ente on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser prestável, seja paracozinhar ou ensopar, seja para moer ou lavar, nunca recusando <strong>as</strong>ua colaboração. Por fim, para completar o seu trabalho, arr<strong>as</strong>ta os<strong>de</strong>tritos e leva <strong>as</strong> sujida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>ixando tudo limpo.” 40522Fig. 353 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães: fonte(fotografia da autora)40 “A Água <strong>em</strong> Clairvaux” in “Descriptio mon<strong>as</strong>terii claravallensis”, Patrologia latina” -vol. 185, cols. 570A-571Btradução adaptada por Pedro Tavares in TAVARES, Pedro; Sist<strong>em</strong>a hidráulico <strong>cister</strong>ciense <strong>em</strong> Alcobaça; textopolicopiado integrado no dossier facultado aquando o Encontro “Carta Europeia <strong>de</strong> Abadi<strong>as</strong> e SítiosCistercienses” que teve lugar no Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça <strong>de</strong> 1 a 3 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2009; Maio 2009;s/paginação


CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE7.523Fig. VII Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões(<strong>de</strong>senho <strong>de</strong> Mestre Jorge Braga da Costa cedido pelo autor)


CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE7.5247.1. PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO EM PORTUGAL: Preocupações primordiais7.1.1. A cultura do pitoresco e dos viajantes estrangeiros <strong>em</strong> Portugal7.1.2. A importância <strong>de</strong> Alexandre Herculano7.1.3. A Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais7.1.4. IPPAR / IGESPAR: Instituto <strong>de</strong> Gestão do Património Arquitectónico eArqueológico7.2. ARQUITECTURA E PATRIMÓNIO EM PORTUGAL NO DEALBAR DO SÉCULO XX7.3. PATRIMÓNIO CISTERCIENSE UM LEGADO A PRESERVAR7.3.1. Program<strong>as</strong> Patrimoniais que abrangeram Mosteiros Cistercienses7.3.2. Património Mundial da UNESCO – Mosteiro <strong>de</strong> Alcobaça7.3.3. Candidatur<strong>as</strong> QREN / Programa Estratégico: Rot<strong>as</strong> dos Mosteiros PatrimónioMundial da Humanida<strong>de</strong>7.3.4. Carta Europeia dos Mosteiros e Sítios Cistercienses7.3.5. Um olhar cont<strong>em</strong>porâneo sobre a intervenção no Património Cisterciense7.4. INTEGRACIÓN Y DESARROLLO EN LA CIUDAD CONTEMPORÁNEA7.5. REABILITAÇÃO CONTEMPORÂNEA: DO MINIMUM AO MAXIMUM


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE7.1.PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO EM PORTUGALPreocupações primordiaisPara se compreen<strong>de</strong>r inteiramente a génese <strong>de</strong> uma consciencializaçãopatrimonial nacional há que recuar até ao Portugal setecentista como realçamMiguel Soromenho e Nuno V<strong>as</strong>salo e Silva quando afirmam:“Parece ser com o século XVIII que surg<strong>em</strong> <strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> polític<strong>as</strong>articulad<strong>as</strong> <strong>de</strong> conservação e restauro patrimoniais, con<strong>de</strong>nsad<strong>as</strong>agora num único quadro conceptual e acompanhad<strong>as</strong> por umaampla produção legislativa, pelo aperfeiçoamento dos suportestécnicos <strong>de</strong> intervenção, pelo aparecimento da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> ‘restituição’e <strong>de</strong> um discurso integrador do objecto no seu contexto histórico”1525Fig. 354 1ª e 2ª págin<strong>as</strong> do alvará <strong>de</strong> D. João V (1721) republicado por D. João VI <strong>em</strong> 1802(arquivo IPPAR/IGESPAR)1 SOROMENHO, Miguel e Nuno V<strong>as</strong>salo e Silva; Da Ida<strong>de</strong> Média ao Século XVIII in “Dar futuro ao P<strong>as</strong>sado”;Secretaria <strong>de</strong> Estado da Cultura, Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico; Lisboa1993; p. 28


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE526Em Agosto <strong>de</strong> 1721 D. João V <strong>as</strong>sinou um alvará segundo o qual era atribuídaà Aca<strong>de</strong>mia Real <strong>de</strong> História Portuguesa o exame e a conservação dos“Monumentos antigos”.Desta maneira este alvará po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado o primeiro documento<strong>de</strong> Estado sobre a protecção do património <strong>de</strong>monstrando igualmente o seuinteresse pelo valor histórico. D. João VI, <strong>em</strong> 1802 confirmará este alvará,republicando-o a 4 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong>sse ano.Na realida<strong>de</strong>, após este avanço <strong>em</strong> matéri<strong>as</strong> <strong>de</strong> conservação e salvaguardado património português ter-se-ia que esperar pelos finais do séculoXIX.De facto a preocupação com o Património <strong>em</strong> Portugal, a consciência enecessida<strong>de</strong> da sua salvaguarda, começou a fazer-se notar com mais vigordurante o séc. XIX apesar dos acontecimentos referidos.No entanto, para além do que foi referido no capítulo 3 (sobretudo noponto 3.3.2) relativo à extinção d<strong>as</strong> Or<strong>de</strong>ns religios<strong>as</strong> <strong>em</strong> Portugal e consequent<strong>em</strong>enteà extinção da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister no país, foram vári<strong>as</strong> <strong>as</strong> situaçõesque no início do século XIX tiveram repercussões nef<strong>as</strong>t<strong>as</strong> na arquitectura,monumentos e património cultural nacional: <strong>as</strong> inv<strong>as</strong>ões frances<strong>as</strong>, o conflitoentre absolutist<strong>as</strong> e liberais, a própria extinção d<strong>as</strong> Or<strong>de</strong>ns Religios<strong>as</strong>. JorgeCustódio refere que se tratou sobretudo <strong>de</strong>:“Um movimento <strong>de</strong> afirmação da socieda<strong>de</strong> liberal e romântica,gerado no contexto e no ambiente da intervenção pública da intelectualida<strong>de</strong>ilustrada, ela própria responsável pela criação e fundamentaçãod<strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong> culturais da socieda<strong>de</strong> oitocentista.Implicou o reconhecimento <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> valores patrimoniais,sobretudo monumentais, históricos e nacionais, que importavatransmitir às gerações vindour<strong>as</strong> como herança do p<strong>as</strong>sado. Exigiua formação <strong>de</strong> uma opinião pública, cuja sensibilização era indispensável,e s<strong>em</strong> a qual era impensável criar sinergi<strong>as</strong>.” 2Durante o liberalismo, o Estado não <strong>de</strong>finiu uma política específica e concreta<strong>de</strong> salvaguarda e protecção do património arquitectónico.De facto houve a venda abusiva <strong>de</strong>ste património, actos <strong>de</strong> vandalismoe <strong>de</strong>struição <strong>as</strong>sim como adaptações <strong>de</strong> edifícios religiosos para novos usosque foram <strong>as</strong>sim alvo <strong>de</strong> alterações radicais <strong>de</strong> utilização e função. Comorefere Maria João Baptista Neto:2 CUSTÓDIO, Jorge; De Alexandre Herculano à Carta <strong>de</strong> Veneza (1837-1964) in “Dar futuro ao P<strong>as</strong>sado”;Secretaria <strong>de</strong> Estado da Cultura, Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico; Lisboa1993; p. 33


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE“Com a extinção d<strong>as</strong> Or<strong>de</strong>ns Religios<strong>as</strong> e a consequente <strong>de</strong>samortizaçãodos seus bens <strong>em</strong> 1834 o Estado Liberal viu-se na possesúbita <strong>de</strong> um número consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> imóveis <strong>de</strong> valor histórico.” 3Porém só mais tar<strong>de</strong>, no século XIX, se voltará a sentir o mesmo interesse pelos“Monumentos Pátrios” com o profundo interesse pelo Património arquitectónicoe cultural Português <strong>de</strong>spontado <strong>em</strong> D. Fernando II, rei consorte <strong>de</strong> D.Maria II, que <strong>de</strong>dicou gran<strong>de</strong> interesse às caus<strong>as</strong> do Património Pátrio.527Fig. 355 Gravura, datada <strong>de</strong> c.1855, apresentando o rei D. FernandoII, consorte da rainha D. Maria II. S/l e s/n. (BibliotecaNacional)Ressalvam-se <strong>as</strong>sim <strong>as</strong> acções <strong>em</strong> prol do Património e dos monumentosnacionais levado a cabo não só pela activa participação <strong>de</strong> D. Fernando IIm<strong>as</strong> também por alguns particulares e socieda<strong>de</strong>s erudit<strong>as</strong> d<strong>as</strong> quais se <strong>de</strong>stacama Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses.3 NETO, Maria João Baptista; A Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos nacionais e a intervenção noPatrimónio Arquitectónico <strong>em</strong> Portugal (1929-1999) in “Caminhos do Património”; Direcção Geral dos Edifíciose Monumentos Nacionais; 1999; p.23


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE7.1.1. A cultura do pitoresco e dos viajantes estrangeiros <strong>em</strong> Portugal528De igual modo, foi com o final do século XVIII e com o século XIX que surg<strong>em</strong><strong>as</strong> viagens <strong>de</strong> estrangeiros letrados e ilustres por terr<strong>as</strong> <strong>de</strong> Portugal imbuídos doespírito romântico. Refere Luís Correia:“Na verda<strong>de</strong>, o território português e o seu património arquitectónicoconstruído eram marcados por vári<strong>as</strong> contingênci<strong>as</strong>, fruto <strong>de</strong>circunstânci<strong>as</strong> com origens divers<strong>as</strong> (naturais e human<strong>as</strong>), <strong>em</strong> queos visitantes, provenientes <strong>em</strong> especial do norte da Europa,podiam vislumbrar não só razões que simbolizavam os seus i<strong>de</strong>ais,como também motivos que <strong>de</strong>terminavam a sua intenção <strong>de</strong> viajar,a saber: perpetuar o p<strong>as</strong>sado, cont<strong>em</strong>plar o exótico e mirar o‘pitoresco’.” 4Entre estes estrangeiros que buscavam <strong>as</strong> monumentais ruín<strong>as</strong>, o gótico e o“pitoresco” <strong>de</strong> um país chamado Portugal encontravam-se nomes como oarquitecto irlandês James Murphy 5 (Fig. 357) e o arquitecto inglês William Beckford6 (Fig. 356).N<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> autores estrangeiros, como refer<strong>em</strong> Iva Delgado e Fre<strong>de</strong>ricoRosa, muit<strong>as</strong> vezes:“(…)eram analisados os <strong>de</strong>feitos e <strong>as</strong> virtu<strong>de</strong>s do povo português,normalmente a partir <strong>de</strong> i<strong>de</strong>i<strong>as</strong> pré-concebid<strong>as</strong> então <strong>em</strong> voga.Daí resulta a hierarquização <strong>de</strong> característic<strong>as</strong>, da melhor à pior,banalizad<strong>as</strong> <strong>em</strong> estereótipos. O resultado é paradoxal: um<strong>as</strong> vezesacentua-se a vocação <strong>de</strong> um pequeno povo para feitos universais,outr<strong>as</strong> o atr<strong>as</strong>o e o ensimesmamento, a mediocrida<strong>de</strong> ou oprovincianismo. Por outro lado, a maior parte dos autores europeusrefere Portugal como ‘pitoresco’. Essa <strong>de</strong>signação do foroartístico reflectia <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> da paisag<strong>em</strong> englobandonela os tipos sociais que faziam parte <strong>de</strong>ssa mesma paisag<strong>em</strong>e que criavam um cenário ameno e harmonioso.” 74 CORREIA, Luis; C<strong>as</strong>telos <strong>em</strong> Portugal. Retrato do seu perfil arquitectónico (1509-1949); Imprensa da Universida<strong>de</strong><strong>de</strong> Coimbra; Coimbra 2010; p.1645 MURPHY, James; Viagens <strong>em</strong> Portugal; trd. e not<strong>as</strong> C<strong>as</strong>telo Branco; Livros Horizonte; Lisboa; 1998 (publicado<strong>em</strong> português apen<strong>as</strong> no século XX).6 BECKFORD, William; Alcobaça e Batalha – Recordações <strong>de</strong> Viag<strong>em</strong>; introdução, trdução e not<strong>as</strong> Iva Delgadoe Fre<strong>de</strong>rico Rosa; Ed. Vega; Lisboa 1997 (texto do século XVIII publicado pela primeira vez apen<strong>as</strong><strong>em</strong> 1972, sendo a publicação <strong>em</strong> português <strong>de</strong> 1997).7 DELGADO, Iva e Fre<strong>de</strong>rico Rosa; Introdução in BECKFORD, William; Alcobaça e Batalha – Recordações <strong>de</strong>Viag<strong>em</strong>; introdução, trdução e not<strong>as</strong> Iva Delgado e Fre<strong>de</strong>rico Rosa; Ed. Vega; Lisboa 1997; p.9


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEFig. 356 Gravura representando William Beckford,datada <strong>de</strong> 1835, elaborada por T. A.Dean a partir <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> Sir JoshuaReynolds (Victoria and Albert Museum, BritishGalleries)Fig. 357 Gravura representando James Murphy,s/d, elaborada por W. Newton a partir <strong>de</strong> umapintura a óleo <strong>de</strong> Sir Martin Archer Shee (RIBAarchive)529A William Beckford cabe talvez a mais extraordinária <strong>de</strong>scrição do Mosteiro <strong>de</strong>Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça e da sua grandiosa cozinha, plena <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>,na primeira pessoa aquando a sua visita ao mosteiro a 7 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1794:“A primeira visão do real Mosteiro é imponente: cercada <strong>de</strong> bosquese riachos, a pitoresca al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> cujo seio tranquilo parece<strong>em</strong>ergir alivia-nos do sentimento <strong>de</strong> opressão que a enorme edominadora m<strong>as</strong>sa dos edifícios conventuais inspira. (…) conduziram-meao que julgo ser o mais notável t<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> glutonaria <strong>de</strong>toda a Europa. (…) os meus olhos nunca viram nos mo<strong>de</strong>rnos conventos<strong>de</strong> França, Itália ou Al<strong>em</strong>anha, um espaço tão <strong>de</strong>scomunalreservado a fins culinários. Ao centro <strong>de</strong>sta imensa divisãomagnificamente abobadada, <strong>de</strong> diâmetro não inferior a sessentapés, corre um alegre regato <strong>de</strong> água claríssima que alimentaviveiros perfurados, <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, com os mais belos peixes <strong>de</strong> rio<strong>de</strong> toda a espécie. A seguir a uma fila <strong>de</strong> lareir<strong>as</strong>, estendia-seoutra <strong>de</strong> chaminés, e n<strong>as</strong> mes<strong>as</strong> via-se farinha <strong>de</strong> trigo <strong>em</strong> montes,branca como a neve, pilh<strong>as</strong> <strong>de</strong> açúcar, potes do mais puro azeite,e gran<strong>de</strong> fartura <strong>de</strong> m<strong>as</strong>s<strong>as</strong>, que uma numerosa tribo <strong>de</strong> irmãosleigos e <strong>de</strong> serventes estendia e mo<strong>de</strong>lava <strong>em</strong> c<strong>em</strong> feitios diferen-


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEtes, enquanto cantava tão jovialmente como cotovi<strong>as</strong> num campo<strong>de</strong> milho.” 87.1.2. A importância <strong>de</strong> Alexandre HerculanoPapel prepon<strong>de</strong>rante na divulgação do interesse e benquerença pelosmonumentos históricos teve Alexandre Herculano (Fig. 358) enquanto redactorprincipal da revista “O Panorama” através da qual alertou e <strong>de</strong>spontou interessesno âmbito da preservação e salvaguarda dos monumentos e do patrimónioarquitectónico <strong>em</strong> geral.530Fig. 358 Retrato a água-forte representandoAlexandre Herculano retirado da compilaçãoelaborada por Joaquim Pedro <strong>de</strong>Sousa intitulada “Retratos <strong>de</strong> portuguesesdo século XIX”; s/n; s/l.; c.1859 - c.1865(Biblioteca Nacional)Refere Jorge Custódio que:“É no contexto <strong>de</strong> um movimento radical <strong>de</strong> índole constitucional– o Set<strong>em</strong>brismo - que <strong>de</strong>verá inserir-se a voz e a activida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Alexandre Herculano <strong>em</strong> <strong>de</strong>fesa dos monumentos nacionais. ParaHerculano – consciente d<strong>as</strong> perturbações que o abalo socialestava a provocar na herança histórica – importava reconhecer ai<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> pátria na sucessão dos t<strong>em</strong>pos. Urgia salvar o que <strong>de</strong>mais válido subsistia do antigo edifício social que acabara <strong>de</strong> ruir.Diariamente <strong>as</strong>sistia-se a excessos que punham <strong>em</strong> causa edifíciosreligiosos, monumentos, bens móveis, cuja função se per<strong>de</strong>ra pelalógica d<strong>as</strong> transformações sociais. Gr<strong>as</strong>sava um ‘vandalismo <strong>de</strong>camartelo’ e uma impunida<strong>de</strong> s<strong>em</strong> freios, permissivos <strong>em</strong> relação8 BECKFORD, William; Alcobaça e Batalha – Recordações <strong>de</strong> Viag<strong>em</strong>; introdução, trdução e not<strong>as</strong> Iva Delgadoe Fre<strong>de</strong>rico Rosa; Ed. Vega; Lisboa 1997; pp.35-36


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEà herança e aos valores antigos, contra o qual importava, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>logo, pôr um travão.” 9Também Luís Correia refere que:“Apesar <strong>de</strong> liberal, Herculano consi<strong>de</strong>rava que o corte com AntigoRegime não implicava a eliminação <strong>de</strong> vestígios do p<strong>as</strong>sado,<strong>as</strong>sumindo <strong>de</strong> forma pública, na revista ‘O Panorama’, on<strong>de</strong>expunha os seus pontos <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia da sist<strong>em</strong>ática <strong>de</strong>struiçãodo património cultural e da falta <strong>de</strong> opção e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>polític<strong>as</strong> para por termo a tal <strong>de</strong>struição e ao <strong>de</strong>srespeito que s<strong>em</strong>anifestava quando os edifícios eram reconstruídos ou reparados.(…) o conceito <strong>de</strong> monumento para Alexandre Herculano, representano quadro relacional liberalismo/romantismo, essencialmenteo ‘documento’ cuja função primordial é instruir e concorrerpara a reconstituição do modo como se criou e <strong>de</strong>senvolveu umacivilização, uma socieda<strong>de</strong>.” 10Porém no século XIX a preferência pela arquitectura <strong>de</strong> cariz medieval eranotória como refere Jorge Rodrigues:“Este interesse oitocentista, <strong>de</strong> carácter vincadamente românticoe maioritariamente inspirado pela teoria da ‘unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estilo’ <strong>de</strong>Viollet-le-Duc, foi, <strong>de</strong> resto, responsável por apreciáveis abusos <strong>em</strong>muit<strong>as</strong> d<strong>as</strong> intervenções executad<strong>as</strong> essencialmente virad<strong>as</strong> parae ‘época <strong>de</strong> ouro’ da História da Arte, como o próprio AlexandreHerculano <strong>de</strong>fendia: a Ida<strong>de</strong> Média.” 11Os monumentos nacionais preservavam uma dimensão material do p<strong>as</strong>sado.Eram o reservatório do espírito e da alma <strong>de</strong> uma nação p<strong>as</strong>sada sendoencarados, pelos liberais, como um meio <strong>de</strong> nortear e influenciar uma culturanacional. Como refere Paulo Simões Rodrigues: “Os monumentos tornaram-sefactores <strong>de</strong> progresso social, moral, político e até económico.” 12Alexandre Herculano <strong>de</strong>senvolve n’O Panorama, <strong>em</strong> 1837, cinco pontosessenciais para a consagração <strong>de</strong> monumento como refere Lúcia Ros<strong>as</strong>:“(…) a valorização da arquitectura da Ida<strong>de</strong> Média contra aheg<strong>em</strong>onia clássica; o estabelecimento <strong>de</strong> uma equivalênciaentre <strong>as</strong> ‘virtu<strong>de</strong>s’ da arquitectura ‘gótica’ e <strong>as</strong> virtu<strong>de</strong>s da História<strong>de</strong> Portugal; a inclusão dos monumentos na idiossincr<strong>as</strong>ia danação; a necessida<strong>de</strong> da conservação dos edifícios porque ‘<strong>as</strong>5319 CUSTÓDIO, Jorge; Op. cit; p. 3710 CORREIA, Luis; Op.cit; pp.179-18011 RODRIGUES, Jorge; A Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos nacionais e o restauro dos monumentosmedievais durante o Estado Novo in “Caminhos do Património”; Direcção Geral dos Edifícios e MonumentosNacionais; 1999; p.6912 RODRIGUES, Paulo Simões; O longo t<strong>em</strong>po do património. Os antece<strong>de</strong>ntes da República (1721-1910) in“100 Anos <strong>de</strong> Património: M<strong>em</strong>ória e I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Portugal 1910-2010”; Instituto <strong>de</strong> Gestão do PatrimónioArquitectónico e Arqueológico, I.P.; Lisboa 2010; p.24


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEpedr<strong>as</strong> falam’ ou seja, são test<strong>em</strong>unhos e herança do p<strong>as</strong>sado, ea conservação do p<strong>as</strong>sado como um dos <strong>de</strong>sejáveis vectores dainstrução.” 137.1.3. A Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais532A Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) foi criadacom o objectivo <strong>de</strong> reunir num único organismo os serviços <strong>de</strong> obr<strong>as</strong> dos edifíciose monumentos nacionais <strong>as</strong>sim como dos edifícios on<strong>de</strong> funcionavam osserviços públicos através do <strong>de</strong>creto nº 16791 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1929. 14 Comeste <strong>de</strong>creto estava criada a DGEMN no seio do Ministério do Comércio eComunicações (MCC), mais tar<strong>de</strong> Ministério d<strong>as</strong> Obr<strong>as</strong> Públic<strong>as</strong> e Comunicações(MOPC), que possuía sob a sua alçada a construção, reparação e restauronão só <strong>de</strong> todos os edifícios que pertenciam ao Estado português, comotambém os monumentos consi<strong>de</strong>rados nacionais. O estatuto jurídico <strong>de</strong>stesúltimos era muito diversificado, uma vez que este tipo <strong>de</strong> edifícios estava afectoa diversos ministérios, pois <strong>as</strong> su<strong>as</strong> utilizações eram b<strong>as</strong>tante variad<strong>as</strong>, comorefere Jorge Rodrigues, “quartéis, construções militares, hospitais, repartiçõespúblic<strong>as</strong>, igrej<strong>as</strong> ou simples monumentos s<strong>em</strong> utilização específica, na maioriados c<strong>as</strong>os abandonados ou mal cuidados.” 15O <strong>de</strong>creto nº 16791 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1929 cont<strong>em</strong>pla a existência <strong>de</strong>uma repartição central, du<strong>as</strong> Direcções <strong>de</strong> Edifícios Nacionais (Norte e Sul) e<strong>de</strong> uma Direcção dos Monumentos Nacionais. Como refere Maria João Neto:“(…) coube a partir <strong>de</strong> então ao Serviço <strong>de</strong> Monumentos <strong>as</strong> competênci<strong>as</strong>na elaboração <strong>de</strong> projectos completos para obr<strong>as</strong> <strong>de</strong>reparação, restauro e conservação <strong>de</strong> monumentos e paláciosnacionais, e respectiva execução, por administração ou <strong>em</strong>preitada,s<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser exercida uma rigorosa fiscalização sobreos trabalhos. Cabia também, a estes serviços promover a cooperaçãoentre o Estado e <strong>as</strong> entida<strong>de</strong>s particulares possuidor<strong>as</strong> <strong>de</strong>imóveis cl<strong>as</strong>sificados, b<strong>em</strong> como a actualização do inventáriogeral dos imóveis cl<strong>as</strong>sificados, compreen<strong>de</strong>ndo a organizaçãodo catálogo e o arquivo iconográfico dos monumentos nacionais.Tinha a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> promover e zelar pela observância <strong>de</strong>alguns <strong>as</strong>pectos legais e jurídicos relativos aos monumentos. Assumiu,ainda, a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formular os preceitos técnicos etod<strong>as</strong> <strong>as</strong> regr<strong>as</strong> a ser<strong>em</strong> observad<strong>as</strong>, quer no tratamento e conser-13 I<strong>de</strong>m; p.2414 AA.VV.; Caminhos do Património; Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais; 1999; p.1515 ROSAS, Lúcia; A génese dos monumentos nacionais in “100 Anos <strong>de</strong> Património: M<strong>em</strong>ória e I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.Portugal 1910-2010”; Instituto <strong>de</strong> Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, I.P.; Lisboa 2010; p.43


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEvação, quer na execução d<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> reparação ou restaurodos imóveis.” 16O cargo <strong>de</strong> Director-Geral era ocupado por um engenheiro e o cargo <strong>de</strong>Director do Serviço <strong>de</strong> Monumentos era ocupado por um arquitecto. O Eng.ºmilitar Henrique Gomes da Silva foi a escolha ministerial para ocupar o cargo<strong>de</strong> Director-Geral. Como refere Maria João Neto esta indigitação é explicadapor uma relação <strong>de</strong> lealda<strong>de</strong> e confiança estabelecida na vida militar entreGomes da Silva e os generais que na altura chefiavam o governo. 17 O cargo<strong>de</strong> Director do Serviço <strong>de</strong> Monumentos é <strong>as</strong>sumido pelo Arqt.º Adães <strong>de</strong> Bermu<strong>de</strong>se <strong>de</strong>pois pelo Arqt.º António do Couto Abreu.António <strong>de</strong> Oliveira Salazar à frente da Presidência do Conselho <strong>de</strong> Ministros,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1930, segue a política <strong>de</strong> contenção financeira iniciada comoMinistro d<strong>as</strong> Finanç<strong>as</strong> <strong>em</strong> 1928, uma vez que os efeitos da crise foram longosfazendo-se sentir até 1933-34. Como consequência <strong>de</strong>sta crise houve umaquebra da <strong>em</strong>igração e um aumento do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego.533Fig. 359 Obr<strong>as</strong> levad<strong>as</strong> a cabo pela DGEMN no Mosteiro <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Alcobaça – colocação <strong>de</strong> andaimes (fotografia arquivoDGEMN/IHRU)Deste modo, <strong>em</strong> 1932, o Ministro d<strong>as</strong> Obr<strong>as</strong> Públic<strong>as</strong> Duarte Pacheco criou oComissariado do Des<strong>em</strong>prego pelo que a DGEMN p<strong>as</strong>sou a ter um papel prepon<strong>de</strong>ranteno combate ao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego. Consequent<strong>em</strong>ente a DGEMN p<strong>as</strong>-16 NETO, Maria João Baptista; Op. cit; p.2717 I<strong>de</strong>m; p.28


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE534sou a po<strong>de</strong>r usufruir <strong>de</strong> verb<strong>as</strong> compl<strong>em</strong>entares ao Orçamento <strong>de</strong> Estado,atribuíd<strong>as</strong> pelo Fundo do Des<strong>em</strong>prego, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que n<strong>as</strong> intervenções subsidiad<strong>as</strong>fosse <strong>em</strong>pregue mão-<strong>de</strong>-obra recrutada a partir d<strong>as</strong> list<strong>as</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregados<strong>de</strong> cada conselho ou distrito. Como refere Maria João Neto:“Duarte Pacheco respon<strong>de</strong> a um dos binómios mais importantesdo Estado Novo: mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> versus tradição. A par do <strong>de</strong>senvolvimentodo sector <strong>de</strong> obr<strong>as</strong> públic<strong>as</strong> e infra-estrutur<strong>as</strong>, estandarte<strong>de</strong> mudança, progresso, eficácia e prosperida<strong>de</strong>, procur<strong>as</strong>ecom particular cuidado levar a cabo a tarefa <strong>de</strong> preservaçãodo património arquitectónico nacional, no quadro <strong>de</strong> uma d<strong>as</strong>principais apost<strong>as</strong> culturais-i<strong>de</strong>ológic<strong>as</strong> do regime. (…) Os momentos<strong>de</strong> triunfo da nossa História serv<strong>em</strong> <strong>de</strong> test<strong>em</strong>unho da gran<strong>de</strong>zado p<strong>as</strong>sado e justificam o presente que preten<strong>de</strong> adquirir omesmo estatuto. Para autenticar esses momentos, o regimeencontrou nos monumentos nacionais os documentos vivos, porexcelência, que tinham a particularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comprovar factos efigur<strong>as</strong> d<strong>as</strong> époc<strong>as</strong> <strong>de</strong> glória. Assim, a acção heróica dos nossosprimeiros monarc<strong>as</strong> na conquista e <strong>de</strong>fesa do território nacionalque tinha uma correspondência directa nos antigos mosteiros,catedrais e, sobretudo, nos c<strong>as</strong>telos coevos <strong>de</strong>ssa época.” 18A época <strong>em</strong> que se inseriu a DGEMN e o ambiente vivido levaram à preservaçãodo património arquitectónico nacional, sobretudo do românico e dogótico, como estilos que melhor traduziam <strong>as</strong> i<strong>de</strong>i<strong>as</strong> nacionalist<strong>as</strong> do EstadoNovo. Em Portugal <strong>de</strong> então vigorou a “unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estilo”, a reintegraçãoarquitectónica b<strong>as</strong>eada numa pureza <strong>de</strong> estilo que implicava “o sacrifício <strong>de</strong>el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> outr<strong>as</strong> époc<strong>as</strong>, tidos como atentados estéticos à harmonia dosedifícios. (…) A persistência da prática da ‘unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estilo’ teve ainda a seufavor a valorização dada aos estilos medievais pela produção historiográficada Arte Portuguesa”. 19Deste modo é importante ter presente esta perspectiva sobre a arquitectura,restauros e i<strong>de</strong>ais do Estado Novo para se po<strong>de</strong>r compreen<strong>de</strong>r o papelda Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais na conservação esalvaguarda do património <strong>cister</strong>ciense.A partir dos anos 40 começam a <strong>de</strong>finir-se cartograficamente Zon<strong>as</strong> Especiais<strong>de</strong> Protecção às quais correspondiam disposições legislativ<strong>as</strong>. Nest<strong>as</strong> ZEP <strong>as</strong>envolventes direct<strong>as</strong> dos monumentos eram integrad<strong>as</strong> como figura <strong>de</strong> salvaguardad<strong>as</strong> su<strong>as</strong> vist<strong>as</strong>, volumetria e aparência estética. Muit<strong>as</strong> vezes <strong>as</strong> ZEPeram acompanhad<strong>as</strong> da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> zon<strong>as</strong> “non aedificandi” cautelares <strong>de</strong>18 Ibi<strong>de</strong>m; p.3019 Ibi<strong>de</strong>m; p.32


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEcariz absoluto <strong>de</strong> modo a impedir o <strong>de</strong>svirtuamento da figura <strong>de</strong> cl<strong>as</strong>sificação.20 Após o fim da 2ª Guerra Mundial e da paz na Europa, apesar <strong>de</strong> Portugalse ter mantido neutral, surge o reactivar dos trabalhos. Foi nos anos 50 que seexecutaram projectos com vista à reutilização <strong>de</strong> alguns monumentos sejapara fins <strong>as</strong>sistenciais, sociais, sanitários, turísticos. É nesta altura que o Mosteiro<strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão é transformado <strong>em</strong> hospital psiquiátrico (Fig. 360) e oMosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris reconvertido <strong>em</strong> C<strong>as</strong>a Pia com respectivaescola agrícola (Fig. 361).Fig. 360 Mosteiro <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão durante <strong>as</strong> obr<strong>as</strong>, levad<strong>as</strong> a cabo pela DGEMN na década<strong>de</strong> 50 do século XX, com vista à sua adaptação a hospital psiquiátrico (fotografia arquivo DGEMN/IHRU)535Fig. 361 Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris <strong>em</strong> 2002, aindacomo C<strong>as</strong>a Pia <strong>de</strong> Évora (fotografia da autora)Esta também foi uma época <strong>de</strong> transformação e intervenções <strong>em</strong> Monumentospara que estes foss<strong>em</strong> visitados por elevad<strong>as</strong> individualida<strong>de</strong>s estrangeir<strong>as</strong><strong>de</strong> visita a Portugal. Deste modo <strong>de</strong>stacam-se <strong>as</strong> obr<strong>as</strong> levad<strong>as</strong> a cabo noMosteiro <strong>de</strong> Alcobaça <strong>em</strong> 1949 e mais tar<strong>de</strong> para acolher, <strong>em</strong> Fevereiro <strong>de</strong>20 CUSTÓDIO, Jorge; Op. cit; p. 60


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE1957, a rainha Isabel II <strong>de</strong> Inglaterra. Em poucos anos foram executad<strong>as</strong> inúmer<strong>as</strong>obr<strong>as</strong> dirigid<strong>as</strong> pelo arquitecto João Vaz Martins com vista ao arranjointerno do Mosteiro <strong>de</strong> Alcobaça e ao <strong>em</strong>belezamento dos espaços exterioresque constituíam a envolvente do Mosteiro (Fig. 362).Fig. 362 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça: arranjo exterior do mosteiro, Praça<strong>de</strong> Oliveira Salazar, mais tar<strong>de</strong> Praça 25 <strong>de</strong> Abril, projecto do arquitecto João VazMartins (arquivo DGEMN/IHRU)536Fig. 363 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça: organização do percurso <strong>de</strong> visitado espaço expositivo (arquivo DGEMN/IHRU)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEDeste modo foram <strong>de</strong>salojados alguns serviços que se encontravam a funcionarno Mosteiro e criou-se um circuito <strong>de</strong> visita que abrangia a Igreja, Claustrodo Silêncio, refeitório, cozinha, dormitório (Fig. 363 e 365).537Fig. 364 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça: planta esqu<strong>em</strong>ática do 2º piso on<strong>de</strong> ainda se po<strong>de</strong> vera marcação d<strong>as</strong> cel<strong>as</strong> do dormitório. (arquivo DGEMN/IHRU)aFig. 365 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça: (a) dormitório dos monges antes da intervenção daDGEMN; (b) o mesmo dormitório <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> retirad<strong>as</strong> <strong>as</strong> pare<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>limitavam e constituíam <strong>as</strong>cel<strong>as</strong> aquando <strong>as</strong> obr<strong>as</strong> da DGEMN (arquivo DGEMN/IHRU)b


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEColocaram-se os túmulos <strong>de</strong> D. Pedro e D. Inês <strong>de</strong> C<strong>as</strong>tro nos braços opostosdo transepto p<strong>as</strong>sando a encontrar-se frente a frente, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> lado a ladocomo se encontravam na Sala dos Túmulos (Fig. 366).Fig. 366 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça: Sala dos Túmulos aindacom os túmulos <strong>de</strong> D. Pedro e D. Inês <strong>de</strong> C<strong>as</strong>tro (fotografia datada <strong>de</strong>1954 da autoria do Estúdio Mário Novais, arquivo Biblioteca <strong>de</strong> Artes daFundação Calouste Gulbenkian)538Eventualmente teria sido nesta época que surgiu a lenda popular sobre alocalização dos dois túmulos, posicionado um diante do outro, <strong>de</strong> modo a queos dois históricos amantes se pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> reencontrar, frente a frente, no dia dojuízo final (Fig. 367).Fig. 367 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça: transepto visto atravésdo dormitório (fotografia da autora)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEEm 1960 termina a gestão do Engº Henrique Gomes da Silva à frente daDirecção Geral sendo substituído pelo Engº José Pereira da Silva facto queaugurava um espírito <strong>de</strong> mudança uma vez que o Estado Novo envelhecia.Como refere Maria João Neto:“A abertura progressiva à evolução <strong>de</strong> conceitos e critérios fixadosinternacionalmente no domínio da salvaguarda do patrimónioconstruído, a par <strong>de</strong> uma mobilização interna dos serviços, quecontava com um grupo dinâmico <strong>de</strong> arquitectos dirigentes, nocontacto com áre<strong>as</strong> do saber <strong>de</strong> Arqueologia e História da Artepermitiram uma mo<strong>de</strong>rnização <strong>de</strong> filosofi<strong>as</strong> <strong>de</strong> actuação. Poroutro lado, cada vez mais pesava a consciência da dispersão doregime jurídico do património, on<strong>de</strong> <strong>as</strong>sentava uma inconvenientee prejudicial divisão <strong>de</strong> competênci<strong>as</strong>. (…) Um <strong>de</strong>spacho conjuntod<strong>as</strong> Obr<strong>as</strong> Públic<strong>as</strong> e da Educação e Cultura, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> Nov<strong>em</strong>bro<strong>de</strong> 1974 afirmava a urgente precisão <strong>de</strong> criar ‘uma instituiçãoque se responsabiliz<strong>as</strong>se pela protecção do nosso patrimónioregida por meio <strong>de</strong> legislação a<strong>de</strong>quada e eficiente’.” 21Em 1976 cessava a activida<strong>de</strong> do Engº Pereira da Silva, sendo substituído porJaime Pereira Gomes interinamente até finais <strong>de</strong> 1976. Neste ano é nomeadoo Engº João Miguel Cal<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> C<strong>as</strong>tro Freire. É sob a sua direcção que anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudar e realizar projectos <strong>de</strong> Zon<strong>as</strong> <strong>de</strong> Protecção face aonovo e importante conceito <strong>de</strong> “envolvência” do monumento carente <strong>de</strong>igual modo <strong>de</strong> cuidados <strong>de</strong> conservação. 22Como refere Maria João Neto:“Os novos conceitos <strong>de</strong> ‘conjunto’ e ‘sitio’ implicaram o alargamentoda área a salvaguardar. A DGEMN mostra-se conscienteda evolução da questão <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do património quando apostana noção muito actual <strong>de</strong> ‘conservação integrada’ como metodologiacorrecta <strong>de</strong> actuação. (…) Tornava-se cada vez maisperceptível que o fenómeno da salvaguarda do património arquitectóniconão <strong>de</strong>pendia apen<strong>as</strong> do arquitecto m<strong>as</strong> <strong>de</strong> uma equipainterdisciplinar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Arqueologia e História da Arte até àsEngenhari<strong>as</strong> <strong>de</strong> Estrutur<strong>as</strong>, Materiais, Química, Min<strong>as</strong> e à própriaGeologia. (…)o crescente <strong>de</strong>senvolvimento da industria do turismoimplicava uma relação estreita <strong>de</strong> cooperação com <strong>as</strong> entida<strong>de</strong>sresponsáveis pelo património ambiental, cultural e artístico. Nestedomínio é formada, <strong>em</strong> 1977, uma equipa <strong>de</strong> trabalho no âmbitodo Plano <strong>de</strong> Fomento Turistico-Cultural.” 2353921 NETO, Maria João Baptista; Op. cit; pp.38-3922 I<strong>de</strong>m; p.4023 Ibi<strong>de</strong>m; p.40


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE540A 20 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1978 é criada, por <strong>de</strong>spacho da Secretaria <strong>de</strong> Estado daCultura, a Comissão Organizadora do Instituto <strong>de</strong> Salvaguarda do PatrimónioCultural Natural (ISPCN).Em 1980 é criada a nova lei orgânica da DGEMN, pelo Decreto-Lei204/80 <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> Julho, <strong>as</strong>sim como o Instituto Português do Património Cultural(IPPC) pelo Decreto-Lei 59/80 <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> Abril.A DGEMN e o IPPC, através d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> leis orgânic<strong>as</strong> estabeleceram entãoum compromisso <strong>de</strong> colaboração entre ambos. 24 Em 1989 o cargo <strong>de</strong> DirectorGeral da DGEMN é atribuído ao Engº V<strong>as</strong>co Martins Costa (que será o último aocupar este cargo pois <strong>em</strong> 2007 a DGEMN é extinta).Porém, <strong>em</strong> 1993 é formulada uma nova lei orgânica da DGEMN atravésdo Decreto-Lei 284/93 <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> Agosto <strong>as</strong>sim como do Decreto-Regulamentar29/93 <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> Set<strong>em</strong>bro e da Portaria nº 1027/93 <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> Outubro. É a partir<strong>de</strong>ste momento que p<strong>as</strong>sa a fazer parte da DGEMN promover a organizaçãoe actualização <strong>de</strong> um arquivo documental que leva à constituição do Inventáriodo Património Arquitectónico (IPA).Deste modo todo o acervo que faz parte do IPA foi colocado no Forte <strong>de</strong>Sacavém (imóvel adquirido pela DGEMN especificamente para este propósito)e parcialmente colocado à disposição do público através <strong>de</strong> um terminal<strong>de</strong> consulta informatizado.Consequent<strong>em</strong>ente foi elaborado um v<strong>as</strong>to programa <strong>de</strong> digitalização<strong>de</strong> planos e documentos que veio a aumentar progressivamente o inventário,hoje sob a alçada do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU)uma vez que foi extinta a antiga DGEMN.A partir <strong>de</strong>ste momento o IPA <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong> ao SIPA (Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Informaçãopara o Património Arquitectónico).O SIPA é constituído por um conjunto <strong>de</strong> b<strong>as</strong>es <strong>de</strong> dados interoperacionaisintegrando vári<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> investigação.Esta informação é disponibilizada <strong>de</strong> modo estruturado no que respeitaao valor arquitectónico, documental e simbólico dos imóveis e da paisag<strong>em</strong>humanizada como se po<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r através do esqu<strong>em</strong>a elaboradopelo IHRU. 25 (Esq. 100)24 NETO, Maria João Baptista; Op. cit; pp.40-4125 Cfr. Consulta <strong>em</strong> linha, acedida pela última vez <strong>em</strong> 17 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2010, à página Web[http://www.monumentos.pt/Monumentos/forms/002_A.<strong>as</strong>px] pertencente ao Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Informação parao Património Arquitectónico (SIPA) mantida online pelo IHRU m<strong>as</strong> elaborada pela antiga DGEMN aquandoda criação da página Web do IPA.


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEEsq. 100 Esqu<strong>em</strong>a da interdisciplinarida<strong>de</strong> e relações quefaz<strong>em</strong> parte do Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Informação para o PatrimónioArquitectónico (SIPA). 267.1.4. IPPAR / IGESPAR: Instituto <strong>de</strong> Gestão do Património Arquitectónico eArqueológicoEm 1980 foi criado o Instituto Português do Património Cultural (IPPC) que porsua vez originou diversos organismos com competênci<strong>as</strong> própri<strong>as</strong>.Mais tar<strong>de</strong>, <strong>em</strong> 1992, daria orig<strong>em</strong> ao Instituto Português do PatrimónioArquitectónico e Arqueológico (IPPAR) e <strong>de</strong>pois, <strong>em</strong> 1997, com a criação doInstituto Português <strong>de</strong> Arqueologia (IPA) seria convertido apen<strong>as</strong> no InstitutoPortuguês do Património Arquitectónico. 27Deste modo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1980, <strong>em</strong> primeiro lugar como IPPC, <strong>de</strong>pois com <strong>as</strong>du<strong>as</strong> versões do IPPAR e finalmente, na actualida<strong>de</strong>, com o IGESPAR estesorganismos <strong>de</strong> gestão do património tutelaram <strong>as</strong> aplicações <strong>de</strong> leis relativ<strong>as</strong>ao património arquitectónico e à sua salvaguarda permitindo <strong>as</strong>sim a cl<strong>as</strong>sificação<strong>de</strong> imóveis, <strong>em</strong>itindo pareceres vinculativos e estabelecendo <strong>as</strong> respectiv<strong>as</strong>áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> protecção. 28Também foi responsável pela gestão <strong>de</strong> importantes e significativosmonumentos nacionais e ainda foi responsável por levar a cabo gran<strong>de</strong>sobr<strong>as</strong> <strong>de</strong> conservação e <strong>de</strong> restauro nestes monumentos dos quais é ex<strong>em</strong>plo54126 Esqu<strong>em</strong>a adaptado, pela autora, da consulta <strong>em</strong> linha, acedida pela última vez <strong>em</strong> 17 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong>2010, à página Web [http://www.monumentos.pt/Monumentos/forms/002_A.<strong>as</strong>px] pertencente ao Sist<strong>em</strong>a<strong>de</strong> Informação para o Património Arquitectónico (SIPA) mantida online pelo IHRU m<strong>as</strong> elaborada pelaantiga DGEMN aquando da criação da página Web do IPA.27 PEREIRA, Paulo; Sob o signo <strong>de</strong> Sísifo. Polític<strong>as</strong> do Património Edificado <strong>em</strong> Portugal, 1980-2010 in “100 Anos<strong>de</strong> Património: M<strong>em</strong>ória e I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Portugal 1910-2010”; Instituto <strong>de</strong> Gestão do Património Arquitectónicoe Arqueológico, I.P.; Lisboa 2010; p. 26228 I<strong>de</strong>m; p. 262


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEo Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (Fig. 368). Porém, como refere PauloPereira:“Novos <strong>de</strong>safios apareceram então, na forma <strong>de</strong> propost<strong>as</strong> inovador<strong>as</strong>para a recuperação dos monumentos, sugerindo-se agorareutilizações dos mesmos e a adopção <strong>de</strong> linguagens cont<strong>em</strong>porâne<strong>as</strong>,algo alheio à tradição antiga da DGEMN. Respon<strong>de</strong>ndo aesta conjuntura, o IPPC apetrechou-se <strong>de</strong> modo a <strong>as</strong>segurar aintervenção <strong>em</strong> obra, por volta <strong>de</strong> 1990 e, pouco a pouco, foi-sesubstituindo à instituição irmã, que era habitualmente a interventoranos monumentos que o IPPC tutelava. Por sua vez, os critérios <strong>de</strong> restaurotinham mudado e isso ressente-se na visibilida<strong>de</strong> do própriofenómeno patrimonial. Era necessário um ‘aggiornamento’.” 29542Fig. 368 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça: ala sul reabilitada pelosarquitectos Gonçalo Byrne e João Pedro Falcão <strong>de</strong> Campos (fotografiada autora)O IPPAR (Instituto do Português do Património Arquitectónico)foi, como já sereferiu, alvo <strong>de</strong> uma reestruturação tendo sido criado o Instituto <strong>de</strong> Gestão doPatrimónio Arquitectónico e Arqueológico, I.P., vulgo IGESPAR, no âmbito doprograma PRACE, que resulta <strong>as</strong>sim da fusão do Instituto Português do PatrimónioArquitectónico e do Instituto Português <strong>de</strong> Arqueologia e incorporaainda parte d<strong>as</strong> atribuições da extinta Direcção Geral dos Edifícios e MonumentosNacionais, sob tutela do Ministério do Ambiente, Or<strong>de</strong>namento do Territórioe Desenvolvimento Regional como referido no Decreto-Lei nº 96/2007 <strong>de</strong>29 <strong>de</strong> Março.29 PEREIRA, Paulo; Op. cit; p. 266


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEO Instituto <strong>de</strong> Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, IP, éum instituto público integrado na administração indirecta do estado, prosseguindo<strong>as</strong> atribuições do Ministério da Cultura no âmbito do património culturalarquitectónico e arqueológico (Esq. 101).543Esq. 101 Organograma da composição e hierarqui<strong>as</strong> do Instituto <strong>de</strong> Gestão do PatrimónioArquitectónico e Arqueológico, IGESPAR, com <strong>de</strong>staque para o Serviço <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do Mosteiro<strong>de</strong> Alcobaça. 30A Lei Orgânica do Ministério da Cultura (Decreto-Lei nº 215/2006 <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong>Outubro) cont<strong>em</strong>pla também a criação <strong>de</strong> seis Direcções Regionais <strong>de</strong> Culturacomo serviços periféricos do Ministério da Cultura:1. Norte2. Centro3. Lisboa e Vale do Tejo4. Alentejo5. Algarve30 Esqu<strong>em</strong>a adaptado, pela autora, da consulta <strong>em</strong> linha, acedida pela última vez <strong>em</strong> 4 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong>2010, à página Web [http://www.igespar.pt/pt/about/organograma].


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE544A Missão <strong>de</strong>stes serviços periféricos inclui essencialmente competênci<strong>as</strong> relativ<strong>as</strong>à salvaguarda, valorização e divulgação do património arquitectónico earqueológico. 31O acervo arquivístico gerado pela Direcção-Geral dos Edifícios e MonumentosNacionais e entida<strong>de</strong>s antece<strong>de</strong>ntes foi integrado no Instituto <strong>de</strong> Habitaçãoe Reabilitação Urbana do Ministério do Ambiente, do Or<strong>de</strong>namento doTerritório e do Desenvolvimento Regional, no âmbito do SIPA - Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>Informação para o Património.Deste modo o IGESPAR, I.P. – com se<strong>de</strong> <strong>em</strong> Lisboa – <strong>em</strong> articulação com<strong>as</strong> Direcções Regionais da Cultura, reforça a sua tutela <strong>de</strong> índole normativa eregulamentadora. O IGESPAR t<strong>em</strong> como missão <strong>as</strong>segurar não só a gestão,m<strong>as</strong> também a salvaguarda, a conservação e a valorização dos bens móveise imóveis que constitu<strong>em</strong> o património cultural arquitectónico e arqueológicoportuguês.No entanto, no enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Paulo Pereira, antigo vice-presi<strong>de</strong>nte doIPPAR e historiador:“O IGESPAR criado como instituto público e substituindo o IPPAR,pouco reteve d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> <strong>de</strong>ste, ou reteve-<strong>as</strong> apen<strong>as</strong> formalmente.Per<strong>de</strong>u a autonomia financeira, que era um instrumentofundamental para a política pública e para a organização d<strong>as</strong>candidatur<strong>as</strong> aos apoios comunitários e para a centralização donecessário expediente. Por sua vez, a área da salvaguarda, particularmentesensível, ficou repartida (e mal repartida) por novos organismos<strong>de</strong> ‘tutela’ directa do Ministério da Cultura, <strong>as</strong> direcçõesregionais <strong>de</strong> cultura, com competênci<strong>as</strong> iguais ao IGESPAR…Nestaárea, por ex<strong>em</strong>plo verifica-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dois ‘<strong>de</strong>spachos’do mesmo nível <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> competente, po<strong>de</strong>ndosobrepor-se ou colidir <strong>em</strong> conteúdo. Por sua vez, proce<strong>de</strong>u-se auma reafectação <strong>de</strong> monumentos e a sua dispersão (…). Est<strong>as</strong> alteraçõesdramátic<strong>as</strong>, feit<strong>as</strong> <strong>em</strong> nome da reforma da AdministraçãoPública e do projecto PRACE, constitu<strong>em</strong> talvez o mais <strong>de</strong>s<strong>as</strong>tradoacto <strong>de</strong> toda a história do património <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os t<strong>em</strong>pos da <strong>de</strong>mocracia(e da ditadura…)”. 32E também José Aguiar afirma:“Recent<strong>em</strong>ente, com o PRACE, atenuou-se fort<strong>em</strong>ente o papel doestado como principal actor, directo e processual (i.e. agente doprojecto, da promoção, da gestão dos <strong>em</strong>preendimentos), evoluindo-separa, uma b<strong>em</strong> mais p<strong>as</strong>siva, tentativa <strong>de</strong> regulação e <strong>de</strong>fiscalização. Desapareceu também uma instituição com 75 anos, aDGEMN, o IPPC que foi IPPAR e que ressurge como novo IGESPAR31 i<strong>de</strong>m32 PEREIRA, Paulo; Op. cit; p. 275


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEpartilhando a (ainda algo confusa) gestão com <strong>as</strong> nov<strong>as</strong> secretari<strong>as</strong>da cultura.” 337.2.ARQUITECTURA E PATRIMÓNIO EM PORTUGAL NO DEALBAR DO SÉCULO XXA prática arquitectónica s<strong>em</strong>pre esteve intimamente legada à socieda<strong>de</strong> e àépoca <strong>em</strong> que se insere. No entanto o <strong>de</strong>albar do séc. XX, no que respeita àarquitectura foi, um marco <strong>de</strong> revivalismos e regressos ao p<strong>as</strong>sado <strong>de</strong> carácterhistoricista.Após um Liberalismo que levou à <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> algum património arquitectónico,traduzido pelo ru<strong>de</strong> tratamento do edificado <strong>de</strong> conotações religios<strong>as</strong>,surge um período <strong>de</strong> característic<strong>as</strong> Romântic<strong>as</strong>.Este Romantismo arquitectónico foi consequência do gosto pel<strong>as</strong> viagens,pela antiguida<strong>de</strong>, pela apologia da ruína <strong>em</strong> si e “per si”.Na pintura encontrava-se o gosto pela tragédia, pelo lúgubre e pelossentimentos profundos como se po<strong>de</strong> presenciar <strong>em</strong> obr<strong>as</strong> obra como “Ophelia”<strong>de</strong> Millais, “Beata Beatrix” <strong>de</strong> Rosseti, <strong>as</strong>sim como nos <strong>de</strong>mais trabalhos dosseus companheiros Pré-Rafaelit<strong>as</strong>.Na arquitectura encontrava-se Viollet-le-Duc e o estudo aprofundado daconstrução e arquitectura medievais. Era a época do Neo-gótico, do Neoromânicom<strong>as</strong> também d<strong>as</strong> mistur<strong>as</strong> entre oci<strong>de</strong>nte e oriente através <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entostrazidos <strong>de</strong> viagens a terr<strong>as</strong> longínqu<strong>as</strong> como o Japão que eram <strong>as</strong>similadose integrados na arquitectura europeia.Os mal tratados edifícios <strong>de</strong> outrora, tornaram-se o alvo preferido <strong>de</strong>recuperação, muit<strong>as</strong> vezes estabilizando apen<strong>as</strong> a própria ruína ou entãotransformando algo <strong>de</strong> época medieval noutra arquitectura ainda “maismedieval”, do que alguma vez fora na sua época, como é o c<strong>as</strong>o do Paçodos Duques <strong>de</strong> Bragança <strong>em</strong> Guimarães, no que respeita à arquitecturadoméstica/palaciana e do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar (Fig. 371) oumesmo do Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o velho: dois ex<strong>em</strong>plos <strong>cister</strong>cienses.54533 AGUIAR, José; Após Veneza: do restauro estilístico para o restauro crítico in “100 Anos <strong>de</strong> Património:M<strong>em</strong>ória e I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Portugal 1910-2010”; Instituto <strong>de</strong> Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico,I.P.; Lisboa 2010; p. 234


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEabFig. 369 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar: (a) antes da intervenção <strong>de</strong> restauro apresentando ainda ocampanário e (b) já <strong>em</strong> pleno séc. XXI após o restauro da DGEMN (fotografi<strong>as</strong>: a IHRU/DGEMN, b da autora)O Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar, <strong>em</strong> Figueira <strong>de</strong> C<strong>as</strong>telo Rodrigo, chegaa per<strong>de</strong>r o seu campanário (Fig. 369) e chega mesmo a consi<strong>de</strong>rar-se acrescentarum terceiro tramo ao <strong>de</strong>senho do edifício (Fig. 370).546abFig. 370 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar: (a) levantamento da igreja antes da intervenção <strong>de</strong> restauro e(b) proposta <strong>de</strong> restauro da DGEMN (arquivo IHRU/DGEMN)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEabcFig. 371 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar: (a) antes da intervenção <strong>de</strong> restauro; (b) apeamento dacapela-mor pela DGEMN; (c) após o restauro da DGEMN com a recriação do alçado correspon<strong>de</strong>nteao tardoz da capela-mor (arquivo IHRU/DGEMN)Também <strong>em</strong> termos do património móvel se verifica que tudo o que não vinhareforçar o espírito da Nacionalida<strong>de</strong>, ou seja tudo o que não fosse <strong>de</strong> carizromânico ou gótico, era r<strong>em</strong>ovido. Isto po<strong>de</strong> verificar-se nos inúmeros apeamentos<strong>de</strong> altares barrocos como é o c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar (Fig. 372)ou mesmo do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça547abFig. 372 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar: (a) altar <strong>em</strong> talha dourada barroco antes da intervenção <strong>de</strong>restauro e (b) apeamento do altar durante <strong>as</strong> obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> restauro da DGEMN (arquivo IHRU/DGEMN)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE548Muitos foram os erros <strong>de</strong> interpretação artística imbuídos na prática da “unida<strong>de</strong><strong>de</strong> estilo” pelo que Jorge Rodrigues salienta:“Outro dos erros e abusos frequent<strong>em</strong>ente cometidos foi o da<strong>de</strong>smontag<strong>em</strong> – e eventual <strong>de</strong>struição – <strong>de</strong> muit<strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong><strong>de</strong>corativ<strong>as</strong> dos séculos XVII e XVIII, geralmente <strong>de</strong> feição barroca,que tinham vindo a <strong>de</strong>corar os t<strong>em</strong>plos medievais ao longodos t<strong>em</strong>pos, atestando afinal os p<strong>as</strong>sos diversos da sua existência.Esta <strong>de</strong>smontag<strong>em</strong> verificou-se praticamente <strong>em</strong> todos os t<strong>em</strong>plosintervencionados, permitindo <strong>as</strong>sim a visão “<strong>de</strong>safogada d<strong>as</strong>estrutur<strong>as</strong> – particularmente d<strong>as</strong> cabeceir<strong>as</strong> românic<strong>as</strong> ou gótic<strong>as</strong>– com a construção <strong>de</strong> altares novos, geralmente <strong>em</strong> pedra, pretensamentefeitos segundo os mo<strong>de</strong>los ou o gosto medieval.” 34No início do séc. XX, <strong>as</strong> artes e <strong>em</strong> particular a arquitectura encontravam-seimbuíd<strong>as</strong> <strong>de</strong> um fervilhar <strong>de</strong> <strong>em</strong>oções, concomitante entre o p<strong>as</strong>sado revivalistae o <strong>de</strong>sejo da busca <strong>de</strong> algo novo, <strong>de</strong> acordo com o novo século que n<strong>as</strong>cia,não esquecendo que a produção arquitectónica partilhava <strong>em</strong> muito, <strong>as</strong>ua resposta, com outr<strong>as</strong> du<strong>as</strong> artes afins: a escultura e a pintura.Em Portugal, no extr<strong>em</strong>o oci<strong>de</strong>ntal da Europa, os novos mo<strong>de</strong>los e linguagensarquitectónic<strong>as</strong> s<strong>em</strong>pre tardaram um pouco mais a chegar pelo queo fim do séc. XIX e início do séc. XX correspon<strong>de</strong>u ao período <strong>de</strong> todos os“neos” ou seja, foi o período <strong>de</strong> todos os revivalismos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o neo-gótico, aoneo-românico, ao neo-mudéjar, ao neo-manuelino, entre outros. M<strong>as</strong> tambémfoi época <strong>de</strong> uma fugaz a<strong>de</strong>são à Arte Nova e <strong>de</strong>pois à Arte Deco. Porém amo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> apontava já a sua chegada através <strong>de</strong> alguns visionários futurist<strong>as</strong>que comungavam da “mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>” europeia, b<strong>as</strong>ta l<strong>em</strong>brar que osegundo número da revista “Orpheu”, <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1915 foi, como refere JoséAugusto França, o “r<strong>as</strong>tilho” <strong>de</strong>ssa fixação <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>rnismo hesitante 35 .Após a I Guerra Mundial, a Europa, e consequent<strong>em</strong>ente Portugal, mergulhavamnum clima <strong>de</strong> tensão e <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong>. No que respeita à arquitectura,vivia-se também um período <strong>de</strong> tensão entre o Ecletismo <strong>de</strong> raízes historicist<strong>as</strong>e o que viria a ser apelidado <strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>rnismo, ou seja, algo verda<strong>de</strong>iramentenovo e el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> ruptura com o p<strong>as</strong>sado.Em Portugal, o Mo<strong>de</strong>rnismo oscilou entre o rigor da tradição, <strong>de</strong> carácterregionalista e historicista, e o fervilhar da inovação, da utilização <strong>de</strong> uma linguag<strong>em</strong>arquitectónica inteiramente nova <strong>as</strong>sim como o uso <strong>de</strong> novos materiaiscomo o betão. No entanto, alguns arquitectos portugueses flutuaramentre ambos os modos <strong>de</strong> encarar a arquitectura conseguindo mesmo umagran<strong>de</strong> ambivalência e <strong>de</strong>streza arquitectónica na resposta a est<strong>as</strong> du<strong>as</strong> ver-34 RODRIGUES, Jorge; A Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos nacionais e o restauro dos monumentosmedievais durante o Estado Novo in “Caminhos do Património”; Direcção Geral dos Edifícios e MonumentosNacionais; 1999; p.7735 FRANÇA, José-Augusto; O Mo<strong>de</strong>rnismo (séc. XX) in “História da Arte <strong>em</strong> Portugal”; Lisboa 2004; p. 18


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEtentes. Deste modo, após o golpe militar <strong>de</strong> 1926, surgiu o “Estado Novo” <strong>de</strong>Salazar, formalizado <strong>em</strong> 1933, que procurou uma arquitectura que fosse veículod<strong>as</strong> i<strong>de</strong>i<strong>as</strong> e afirmação <strong>de</strong>ste novo estado.Nesta busca, num primeiro momento, <strong>de</strong>staca-se Raul Lino com os seusestudos sobre a C<strong>as</strong>a Portuguesa e o seu livro “C<strong>as</strong><strong>as</strong> Portugues<strong>as</strong>” editado<strong>em</strong> 1933. Esta é uma obra teórico-prática, <strong>de</strong> cariz regionalista e nacionalista,que discorre sobre a importância da “c<strong>as</strong>a”, entre a economia e a beleza,com ilustrações específic<strong>as</strong> <strong>de</strong> c<strong>as</strong><strong>as</strong> adaptad<strong>as</strong> à região on<strong>de</strong> se inser<strong>em</strong>.Deste modo, torna-se importante a inventariação <strong>de</strong> t<strong>em</strong><strong>as</strong> construtivos,<strong>de</strong>corativos, ambientais, m<strong>as</strong> acima <strong>de</strong> tudo a busca d<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> própri<strong>as</strong>do habitar português, como refere o próprio Raul Lino:“Ainda agora nestes t<strong>em</strong>pos revolutos e <strong>de</strong> profunda transformação<strong>em</strong> todos os <strong>as</strong>pectos da vida, questões que se ligu<strong>em</strong> com anossa moradia não <strong>de</strong>ix<strong>em</strong> <strong>de</strong> preocupar gran<strong>de</strong>s homens <strong>de</strong> Estado,reformadores, sociólogos e estet<strong>as</strong> (…). N<strong>em</strong> a americanizaçãodos costumes, n<strong>em</strong> <strong>as</strong> tendênci<strong>as</strong> colectivist<strong>as</strong> <strong>de</strong> nov<strong>as</strong> organizaçõesconseguiram ainda <strong>de</strong>belar o anseio natural e instintivo noHom<strong>em</strong> <strong>de</strong> possuir habitação própria e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte para si oupara a sua família. Po<strong>de</strong> ser muito bela a vida <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong>, útilou conveniente o aquartelamento ou a habitação colectiva, querseja à sombra da cruz ou da espada, quer à da foice e do marteloou à <strong>de</strong> uma simples moeda <strong>de</strong> oiro; não serve este viver, porém atodo o mundo, e se há qu<strong>em</strong> julgue que o <strong>de</strong>saparecimento doIndivíduo significaria um progresso, estamos por enquanto longe daépoca <strong>em</strong> que toda a gente se haja transformado no hom<strong>em</strong>abelhaque prefere para a sua habitação o alvéolo <strong>de</strong> qualquerc<strong>as</strong>a-colmeia.” 36I<strong>de</strong>ologia e ensino artístico foram os el<strong>em</strong>entos que levaram à gradual <strong>de</strong>finição<strong>de</strong> uma estética arquitectónica regionalista, tradicionalista, e voltadapara os valores históricos do p<strong>as</strong>sado. De facto, foi esta i<strong>de</strong>ologia que alimentoue comungou do novo regime político do Estado Novo, que se constituíacomo uma “nova or<strong>de</strong>m”, como refere Gonçalo C. Moniz:“Este mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> pressupõe a construção <strong>de</strong> uma novaorganização do estado que iria <strong>as</strong>sentar na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> ‘or<strong>de</strong>m’, isto éor<strong>de</strong>m n<strong>as</strong> finanç<strong>as</strong>, pelo equilíbrio do orçamento, or<strong>de</strong>m n<strong>as</strong> ru<strong>as</strong>e nos espíritos, pelo reforço dos po<strong>de</strong>res do estado”. 37Ao aceitar o mo<strong>de</strong>rnismo, um grupo <strong>de</strong> jovens arquitectos esclarecidos einformados sobre <strong>as</strong> característic<strong>as</strong> da nova linguag<strong>em</strong> arquitectónica, queratravés <strong>de</strong> revist<strong>as</strong> da especialida<strong>de</strong>, quer através <strong>de</strong> viagens ao estrangeiro,54936 LINO, Raul; C<strong>as</strong><strong>as</strong> Portugues<strong>as</strong> (reedição da 1ª ed.,1933); Ed. Cotovia; Lisboa 1992; pp. 9-1037 MONIZ, Gonçalo C.; Arquitectos e Políticos. A arquitectura institucional <strong>em</strong> Portugal nos anos 30 in DCPapeles; nº13-14; Ed. UPC; Barcelona 2005; pp.69-70


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE550abraça a nova forma <strong>de</strong> projectar e produzir arquitectura segundo este novomo<strong>de</strong>lo. Também a construção é inovadora graç<strong>as</strong> à utilização do betão eao sist<strong>em</strong>a [pilar+viga+laje], tornando-se uma dualida<strong>de</strong> omnipresente (arquitecturavs. estrutura) na arquitectura mo<strong>de</strong>rnista. Ao mesmo t<strong>em</strong>po a pare<strong>de</strong>torna-se um el<strong>em</strong>ento que po<strong>de</strong> mesmo ser solto da estrutura e mo<strong>de</strong>ladolivr<strong>em</strong>ente pois, através do referido sist<strong>em</strong>a, po<strong>de</strong>m-se fazer maiores r<strong>as</strong>gos,isto é, maiores e mais long<strong>as</strong> abertur<strong>as</strong> <strong>em</strong> toda a extensão da pare<strong>de</strong> pois aestrutura construtiva “per si” liberta-a, o que permite criar uma dualida<strong>de</strong>entre cheios e vazios até então inexplorada.O Estado Novo começa a aceitar o mo<strong>de</strong>rnismo como materializaçãodo seu i<strong>de</strong>ário e a linguag<strong>em</strong> arquitectónica mo<strong>de</strong>rnista apropriada para aconstrução <strong>de</strong> nov<strong>as</strong> e múltipl<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> públic<strong>as</strong> <strong>de</strong> v<strong>as</strong>ta dimensão, sobencomenda <strong>de</strong> Duarte Pacheco. Novos program<strong>as</strong> são equacionados e surg<strong>em</strong>nov<strong>as</strong> exigênci<strong>as</strong>, fornecendo um novo <strong>de</strong>safio e campo <strong>de</strong> intervençãopara esta nova linguag<strong>em</strong> arquitectónica.Dos novos program<strong>as</strong> floresciam aqueles ligados à produção <strong>de</strong> obra <strong>de</strong>carácter público como é o c<strong>as</strong>o <strong>de</strong>: sanatórios, hospitais, liceus, gares, postosdos correios, sal<strong>as</strong> <strong>de</strong> espectáculos m<strong>as</strong> também barragens e gran<strong>de</strong>s obr<strong>as</strong><strong>de</strong> engenharia e <strong>de</strong> infra-estrutur<strong>as</strong> para além do que era estritamente arquitectónico.Note-se que estes program<strong>as</strong> eram aplicados não só <strong>em</strong> Portugal continentale insular m<strong>as</strong> também se estendiam às então colóni<strong>as</strong> ultramarin<strong>as</strong>.Est<strong>as</strong> permitiam um campo <strong>de</strong> experimentação arquitectónico inigualávelpois não existiam tant<strong>as</strong> restrições espaciais como no c<strong>as</strong>o da Metrópole, oespaço amplo e s<strong>em</strong> condicionantes arquitectónic<strong>as</strong> levou à produção <strong>de</strong>alguns dos melhores ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> arquitectura mo<strong>de</strong>rnista elaborada porarquitectos portugueses e permitiu <strong>de</strong> igual modo o <strong>de</strong>senvolvimento dourbanismo ao mesmo nível.O Mo<strong>de</strong>rnismo começa a <strong>de</strong>spontar curiosida<strong>de</strong> e f<strong>as</strong>cínio no seio doEstado Novo, sobretudo pelos ex<strong>em</strong>plares arquitectónicos al<strong>em</strong>ães e italianosque irão influenciar a arquitectura portuguesa <strong>de</strong> então.Esta adaptação ao mo<strong>de</strong>rnismo foi divulgada e gran<strong>de</strong>mente utilizadana Exposição do Mundo Português, <strong>em</strong> 1940.“(…) para ela elaboraram qu<strong>as</strong>e todos os arquitectos do seu t<strong>em</strong>pouma v<strong>as</strong>ta e profusa série <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los, os quais vieram a servir <strong>de</strong>padrão pelos 20 anos seguintes para tipologi<strong>as</strong> <strong>de</strong> equipamentos,habitações e infra-estrutur<strong>as</strong>”. 3838 FERNANDES, José M.; Pousad<strong>as</strong> <strong>de</strong> Portugal: obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> raiz <strong>em</strong> Monumentos in “Caminhos do Património”;Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais; 1999; p.66


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEFig. 373 Cottinelli Telmo: Porta da Fundação, Exposição do Mundo Português(fotografia Estúdio Mário Novais, arquivo Biblioteca <strong>de</strong> Artes da FundaçãoCalouste Gulbenkian)Note-se que a envergadura d<strong>as</strong> gran<strong>de</strong>s obr<strong>as</strong> públic<strong>as</strong> <strong>de</strong> Duarte Pachecosó foi possível através do Ministério d<strong>as</strong> Obr<strong>as</strong> Públic<strong>as</strong> e Comunicações(MOPC) que dava resposta aos diversos program<strong>as</strong> elaborados pelos diferentesministérios. Est<strong>as</strong> respost<strong>as</strong> s<strong>em</strong>pre se apoiaram na arquitectura <strong>de</strong> carizmo<strong>de</strong>rnista <strong>as</strong>sociada <strong>de</strong> igual modo às artes <strong>de</strong>corativ<strong>as</strong>, fosse pintura ouescultura ou mesmo amb<strong>as</strong>, com maior ou menor cunho tradicionalista oucl<strong>as</strong>sicista, m<strong>as</strong> s<strong>em</strong>pre uma resposta consciente <strong>de</strong> que <strong>de</strong>veria ser umaimag<strong>em</strong> arquitectónica e artística do Estado Novo. Para est<strong>as</strong> respost<strong>as</strong>, porparte do MOPC foi necessário estudar os mo<strong>de</strong>los internacionais e uniformizaros critérios <strong>de</strong> intervenção.É nesta altura que a Direcção Geral dos edifícios e Monumentos Nacionais(DGEMN) ganha importância ao utilizar uma equipa multidisciplinar s<strong>em</strong>pre<strong>em</strong> ligação ao ministério-cliente permitindo um diálogo e discussão doprograma com o arquitecto projectista. 39 Este processo era composto por trêsmomentos (Esq. 102).Em primeiro lugar, era feito o levantamento do que existia e d<strong>as</strong> su<strong>as</strong>condicionantes, quer fosse para efeitos <strong>de</strong> restauro, ampliação ou obra nova.Em segundo lugar, era feita uma extensa pesquisa e análise comparativa<strong>de</strong> projectos similares, mesmo que para tal fosse necessário fazer algum<strong>as</strong>visit<strong>as</strong> ao estrangeiro.Em terceiro lugar, <strong>de</strong>finia-se por fim o programa na sua totalida<strong>de</strong> e eraelaborado um projecto-tipo “que permitisse construir com rapi<strong>de</strong>z e economiao maior número <strong>de</strong> edifícios.55139 MONIZ, Gonçalo C.; Op. cit pp.72-73


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEA uniformização da resposta a um probl<strong>em</strong>a obrigava, também, à <strong>de</strong>finição<strong>de</strong> critérios para os projectos excepcionais.” 40 Daí existir um ar tão familiar <strong>em</strong>inúmer<strong>as</strong> obr<strong>as</strong>, sejam postos dos correios, edifícios da CGD, Câmar<strong>as</strong> Municipais,Hospitais, Tribunais, escol<strong>as</strong> e <strong>de</strong>mais edifícios públicos.EDIFÍCIOS1º LEVANTAMENTOEXISTENTECONDICIONANTESOBRA NOVADGEMNOBRASAMPLIAÇÃO2º PESQUISAANÁLISE COMPARATIVAVISITAS AO ESTRANGEIROUNIFORMIDADE DE RESPOSTAUNIDADE DE ESTILORESTAURODEFINIÇÃO TOTALMONUMENTOS NACIONAIS3º PROGRAMAPROJECTO TIPORECONSTITUIÇÃOIDEOLOGIASINTEGRIDADE HISTÓRICADEVOLUÇÃO AO "ORIGINAL"RECONSTRUÇÃOEsq. 102 Processo interventivo da DGEMN (esqu<strong>em</strong>a e síntese elaborados pela autora)552Trabalharam neste sist<strong>em</strong>a Raul Lino (escol<strong>as</strong>), Cottinelli Telmo (estabelecimentosprisionais), Rogério <strong>de</strong> Azevedo (escol<strong>as</strong>), Pardal Monteiro (arquitecto chefeda CGD – Caixa Geral <strong>de</strong> Depósitos), entre outros. De facto,“Mais do que a linguag<strong>em</strong> mo<strong>de</strong>rna, estes novos equipamentosrevelam um processo mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> construir os equipamentos públicossegundo critérios <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s, pesquisa <strong>de</strong>mo<strong>de</strong>los internacionais, elaboração <strong>de</strong> program<strong>as</strong> e <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>soluções tipificad<strong>as</strong>” 41Cabe ainda referir que no que respeita a obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> restauro <strong>de</strong> edifícios oumonumentos, a DGEMN, utilizou <strong>as</strong> teori<strong>as</strong> internacionais, <strong>em</strong> voga nessa época,seguindo por isso uma i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong> <strong>de</strong>puração, reconstruções e reconstituiçõescomo é referido anteriormente (Fig. 374).Nesta época o importante era a integrida<strong>de</strong> histórica entendida segundoos mol<strong>de</strong>s referidos, isto é, a <strong>de</strong>volução ao original, ainda que este originalfosse <strong>de</strong>turpado ou fant<strong>as</strong>iado por conceitos historicist<strong>as</strong>.A título <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plo, a Igreja do Mosteiro <strong>de</strong> Alcobaça foi expurgada <strong>de</strong>tudo o que era Barroco, no seu interior, <strong>de</strong> modo a ser <strong>de</strong>volvida ao seu“estado medieval original” (Fig. 375), o Paço dos Duques <strong>de</strong> Bragança ganhoucontornos que nunca teve e muit<strong>as</strong> igrej<strong>as</strong> românic<strong>as</strong>, espalhad<strong>as</strong> um poucopor todo o país, como é o c<strong>as</strong>o do Mosteiro <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong> São Pedro d<strong>as</strong>Águi<strong>as</strong> - o velho (Tabuaço) foram reconstruídos. Deste modo, Igrej<strong>as</strong>, C<strong>as</strong>telos,40 I<strong>de</strong>m


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEMosteiros ou Palácios foram reconstruídos ao sabor da sua originalida<strong>de</strong> ebeleza primitiv<strong>as</strong> que legitim<strong>as</strong>s<strong>em</strong> os i<strong>de</strong>ais da época.Fig. 374 Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o velho durante a reconstrução levada a cabo pela DGEMN(fotografi<strong>as</strong> do arquivo DGEMN / IHRU)553abFig. 375 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça: (a) altar <strong>em</strong> talha dourada barroco antes da intervenção<strong>de</strong> restauro e (b) altar na actualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter sido apeado aquando <strong>as</strong> obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> restauro daDGEMN (a: arquivo IHRU/DGEMN; b: fotografia da autora)41 Ibi<strong>de</strong>m


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE554Destaca-se também a existência <strong>de</strong> grupos profissionais que no que respeita àprática profissional <strong>de</strong> arquitectura s<strong>em</strong>pre questionaram a arquitectura e omo<strong>de</strong>rno, tendo por isso mesmo, proporcionado um valioso contributo para oMo<strong>de</strong>rnismo <strong>em</strong> Portugal.No Porto, constituiu-se a ODAM (Organização dos Arquitectos Mo<strong>de</strong>rnos)el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> divulgação dos princípios mo<strong>de</strong>rnist<strong>as</strong>, para além “(…)<strong>de</strong> nov<strong>as</strong>form<strong>as</strong> estétic<strong>as</strong> na arquitectura, também uma revalorização da profissão,uma ligação às artes plástic<strong>as</strong> e um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> um controlo eficaz do amadorismo”42 .Destacam-se também <strong>as</strong> teses do ICAT (Iniciativ<strong>as</strong> Culturais Arte e Técnica)<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> significado operativo, cujo principal mentor era Keil do Amaral,e que eram difundid<strong>as</strong> através da revista “Arquitectura”, seu el<strong>em</strong>ento divulgadorpor excelência: “Os seus <strong>as</strong>pectos mais significativos foram o <strong>de</strong> reclamar<strong>em</strong>um discurso teórico e integrador dos princípios <strong>de</strong> Racionalismo europeudos anos trinta do século XX e da leitura br<strong>as</strong>ileira d<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> Le Corbusier.”43 Em 1948 surge o Primeiro Congresso <strong>de</strong> Arquitectura, realizado pelo SindicatoNacional dos Arquitectos. Du<strong>as</strong> décad<strong>as</strong> <strong>de</strong>pois Keil do Amaral afirmaria:“(…) nunca tínhamos tido oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falar <strong>em</strong> arquitectura,<strong>de</strong> maneira que diss<strong>em</strong>os tudo o que consi<strong>de</strong>rávamos importante,<strong>de</strong> uma maneira caótica, m<strong>as</strong> cheia <strong>de</strong> vida e intenções generos<strong>as</strong>,…acreditávamosque havia um mundo novo <strong>em</strong> gestão, maisbelo e equitativo e que tínhamos um papel importante a <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penharnele: uma função social.” 44Vale a pena uma referência ao pensamento arquitectónico <strong>de</strong> Mário Bonito:“Tomando como ponto <strong>de</strong> partida o carácter efémero d<strong>as</strong> form<strong>as</strong> resultantedos meios <strong>de</strong> construção, eis a meta: sol e luz, a escala humana, pureza construtiva,plástica e estética, integração no lugar. Fundamentalmente arquitectura.”457.3.PATRIMÓNIO CISTERCIENSE UM LEGADO A PRESERVARNo campo da reabilitação do legado <strong>cister</strong>ciense português existe um valiosotrabalho <strong>de</strong>senvolvido tanto pelo extinto Instituto Português do PatrimónioArquitectónico (IPPAR) como pela extinta Direcção Geral dos Edifícios e42 SALES, Fátima; A Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. A Arquitectura entre o T<strong>em</strong>po e o Lugar in Guia da Arquitectura Mo<strong>de</strong>rnado Porto (1925-2002); ASA Editores; Porto 2002; p.2043 SALES, Fátima; Op. Cit; p.2044 TOSTÕES, Ana; Os Ver<strong>de</strong>s Anos na Arquitectura Portuguesa dos Anos 50; FAUP; Porto 1997; p.3945 GRANDE, N. e PEREIRA, L. T.; Op. Cit.; p.24


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEMonumentos Nacionais (DGEMN) e a ser <strong>de</strong>senvolvido pelo recém-criado Instituto<strong>de</strong> Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR).Relativamente ao trabalho da DGEMN <strong>de</strong>ve-se ter <strong>em</strong> atenção <strong>as</strong> campanh<strong>as</strong><strong>de</strong> conservação, restauro e reabilitação realizad<strong>as</strong> n<strong>as</strong> últim<strong>as</strong> oitodécad<strong>as</strong>. Relativamente ao trabalho IPPAR é <strong>de</strong> salientar o c<strong>as</strong>o dos Mosteiros<strong>de</strong> Arouca, Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>, S. João <strong>de</strong> Tarouca, Santa Maria <strong>de</strong>Aguiar, Lorvão e Alcobaça.Os trabalhos <strong>de</strong>senvolvidos apontaram para a criação <strong>de</strong> um programaintegrado <strong>de</strong> recuperação e reabilitação do património monástico, queabrangia parte do património <strong>cister</strong>ciense. Este plano integrado visava arecuperação, reabilitação e valorização do património <strong>cister</strong>ciense comotambém o incr<strong>em</strong>ento do interesse cultural pelo território.As actuais linh<strong>as</strong> <strong>de</strong> acção do IPPAR, hoje IGESPAR, relacionam-se com oprosseguimento d<strong>as</strong> intervenções <strong>de</strong> recuperação e valorização dos monumentos,requalificação dos espaços; resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong><strong>as</strong> relacionadoscom o resgate <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>; <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> program<strong>as</strong> <strong>de</strong> utilização e reutilizaçãodos espaços recuperados; recuperação integral dos corpos d<strong>as</strong> Igrej<strong>as</strong>pertencentes aos mosteiros.No entanto, também é objectivo estratégico do IGESPAR a consolidaçãodo legado <strong>cister</strong>ciense potenciando <strong>as</strong> valênci<strong>as</strong> dos extintos IPPAR (InstitutoPortuguês do Património Arquitectónico), IPA (Instituto Português <strong>de</strong> Arqueologia)e área <strong>de</strong> salvaguarda da ex-DGEMN (Direcção Geral dos Edifícios eMonumentos Nacionais). Como refer<strong>em</strong> Lino Tavares Di<strong>as</strong> e Mário Carneiro:“Intervir <strong>em</strong> Património é uma tarefa multimodal, que torna imperativaa existência <strong>de</strong> princípios orientadores, <strong>as</strong>sentes num conhecimentoprofundo da realida<strong>de</strong> que se preten<strong>de</strong> resgatar, do objecto,da(s) sua(s) funcionalida<strong>de</strong>(s), da m<strong>em</strong>ória imaterial <strong>em</strong>anadapor esses test<strong>em</strong>unhos sólidos e tridimensionais. À construção, talcomo a concebeu alguém, uma época, uma forma particular <strong>de</strong>socieda<strong>de</strong>, junta-se-lhe uma dimensão involuntária, por vezessublime, que lhe v<strong>em</strong> dos aci<strong>de</strong>ntes da História e dos efeitos naturaisdo t<strong>em</strong>po.O esforço <strong>de</strong> resgate d<strong>as</strong> diferentes dimensões do patrimónioenvolve, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, além da preservação, conservação e restauro,propriamente ditos, estudos do ‘objecto’ <strong>em</strong> continuida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>carácter arqueológico, histórico, antropológico e ambiental. Poroutro lado à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preservar é somada a responsabilida<strong>de</strong><strong>de</strong> criar ou melhorar <strong>as</strong> condições <strong>de</strong> fruição <strong>de</strong>sses espaços,que se quer<strong>em</strong> (re)vividos.” 4655546 DIAS, Lino Tavares e Mário Carneiro; Tarouca e Cister: Espaço, Espírito e Po<strong>de</strong>r in “Tarouca e Cister: espaço,espírito e po<strong>de</strong>r – act<strong>as</strong>”; Ed. Câmara Municipal <strong>de</strong> Tarouca; Tarouca; 2004


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEGraf. 32 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses: tipo <strong>de</strong> cl<strong>as</strong>sificação(síntese e esqu<strong>em</strong>a elaborado pela autora)556No que respeita à cl<strong>as</strong>sificação do património arquitectónico <strong>cister</strong>ciense, dosex<strong>em</strong>plos estudados, a maior parte encontra-se cl<strong>as</strong>sificada correspon<strong>de</strong>ndoa uma percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> 87% que resulta do somatório da percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong>50% <strong>de</strong> Monumentos Nacionais com a percentag<strong>em</strong> 37% <strong>de</strong> Imóveis <strong>de</strong> InteressePúblico (Graf. 32 e 33).Os restantes valores correspon<strong>de</strong>m a 7% que ainda se encontram “<strong>em</strong>estudo”, isto é, a aguardar cl<strong>as</strong>sificação e 3% que não estão cl<strong>as</strong>sificados. Aestes valores acrescenta-se 3% relativos à cl<strong>as</strong>sificação <strong>de</strong> Património Mundialpela Unesco e que correspon<strong>de</strong>m a um único ex<strong>em</strong>plar, o Mosteiro <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Alcobaça, <strong>de</strong>clarado Património da Humanida<strong>de</strong> <strong>em</strong> 1998 (Esq.103).MOSTEIROS MASCULINOSMOSTEIROS FEMININOSGraf. 33 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses: tipo <strong>de</strong> cl<strong>as</strong>sificação segundo o género(síntese e esqu<strong>em</strong>a elaborado pela autora)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEP R O T E C Ç Ã O ANO Z E P D E S I G N A Ç Ã O D O M O S T E I R O G É N E R OUNESCOPATRIMÓNIO MUNDIAL 1998 sim Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça MM NMONUMENTO NACIONAL 1910/77-Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> FiãesM1977-Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do ErmeloM1950simMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>M1910simMosteiro <strong>de</strong> São Pedro e São Paulo <strong>de</strong> AroucaF1997simMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>M1956/78/98/99simMosteiro <strong>de</strong> São João <strong>de</strong> TaroucaM1932-Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> AguiarM2002-Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Maceira DãoM1910simMosteiro <strong>de</strong> São Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> LorvãoF1910simMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>F1907/10simMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> AlcobaçaM1910simMosteiro <strong>de</strong> São Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>F1920-Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> AlmosterF1910/40/43/48simMosteiro <strong>de</strong> São Bernardo <strong>de</strong> PortalegreF1922simMosteiro <strong>de</strong> São Bento <strong>de</strong> CástrisF557I I P2010simMosteiro <strong>de</strong> São Cristóvão <strong>de</strong> LafõesMIMÓVEL DE INTERESSEPÚBLICO19581955simsimMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do BouroMosteiro <strong>de</strong> São Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o velho)MM1978-Mosteiro <strong>de</strong> São Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o novo)M1971-Abadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>M1971-Mosteiro <strong>de</strong> N. Senhora da Assunção <strong>de</strong> TabosaF2001-Mosteiro <strong>de</strong> São Paulo <strong>de</strong> AlmazivaM1971simColégio do Espírito SantoM1998-Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> SeiçaM1946-Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> CósF1996simMosteiro <strong>de</strong> N. Senhora da Nazaré do MocamboFE EEM ESTUDO- - Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora do Desterro MN C--Mosteiro <strong>de</strong> N. Senhora da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> TaviraFNÃO CLASSIFICADO--Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria da EstrelaMZEP: Zona Especial <strong>de</strong> ProtecçãoEsq. 103 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses: tipo <strong>de</strong> protecção (síntese e esqu<strong>em</strong>a elaborado pela autora)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE558Esq. 104 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses: tipo <strong>de</strong> cl<strong>as</strong>sificação patrimonial(síntese e esqu<strong>em</strong>a elaborado pela autora)A Lei nº107/2001 estabelece <strong>as</strong> b<strong>as</strong>es da política e do regime <strong>de</strong> protecção evalorização do património cultural tendo sido publicada no Diário da Repúblicanº 209 SÉRIE I-A <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> Set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2001.Segundo a alínea nº 2 do artigo nº 15 “Os bens móveis e imóveis po<strong>de</strong>mser cl<strong>as</strong>sificados como <strong>de</strong> interesse nacional, <strong>de</strong> interesse público ou <strong>de</strong> interess<strong>em</strong>unicipal.”Deste modo os Mosteiros Cistercienses portugueses, tanto f<strong>em</strong>ininoscomo m<strong>as</strong>culinos encontram-se cl<strong>as</strong>sificados ou <strong>em</strong> vi<strong>as</strong> <strong>de</strong> cl<strong>as</strong>sificação (Esq.104) segundo <strong>as</strong> seguintes figur<strong>as</strong> legais no âmbito do panorama legislativoportuguês:


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEI.Monumento Nacional (MN)Correspon<strong>de</strong> a um b<strong>em</strong> que se consi<strong>de</strong>ra <strong>de</strong> interesse nacionaluma vez que a respectiva protecção e valorização, no todo ou<strong>em</strong> parte, representa um “valor cultural <strong>de</strong> significado para aNação” 47 .São Monumentos Nacionais os Mosteiros <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Fiães,Santa Maria do Ermelo, Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>, S. Pedro e S. Paulo<strong>de</strong> Arouca, Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>, S. João <strong>de</strong> Tarouca, SantaMaria <strong>de</strong> Aguiar, Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dão, S. Mame<strong>de</strong> do Lorvão,Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>, Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça, S. Dinis <strong>de</strong>Odivel<strong>as</strong>, Santa Maria <strong>de</strong> Almoster, S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre e S.Bento <strong>de</strong> Cástris (Esq. 105).559Esq. 105 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses cl<strong>as</strong>sificados comoMonumento Nacional (síntese e esqu<strong>em</strong>a elaborado pela autora)47 Alínea 4 do artigo nº 15 da Lei nº107/2001 (DR. nº 209 SÉRIE I-A <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> Set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2001) que estabelece<strong>as</strong> b<strong>as</strong>es da política e do regime <strong>de</strong> protecção e valorização do património cultural.


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEII.Imóvel <strong>de</strong> Interesse Público (IIP)Correspon<strong>de</strong> a um b<strong>em</strong> que se consi<strong>de</strong>ra <strong>de</strong> interesse públicouma vez que a respectiva protecção e valorização, no todo ou<strong>em</strong> parte, representa “ainda um valor cultural <strong>de</strong> importâncianacional, m<strong>as</strong> para o qual o regime <strong>de</strong> protecção inerente à cl<strong>as</strong>sificaçãocomo <strong>de</strong> interesse nacional se mostre <strong>de</strong>sproporcionado”.48São imóveis <strong>de</strong> Interesse Público os mosteiros <strong>de</strong> São Cristóvão <strong>de</strong>Lafões, Santa Maria do Bouro, São Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o velho), SãoPedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o novo), Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong> Tabosa,São Paulo <strong>de</strong> Almaziva, Santa Maria <strong>de</strong> Seiça, Santa Maria <strong>de</strong>Cós, Nossa Senhora da Nazaré do Mocambo, Abadia Velha <strong>de</strong>Salzed<strong>as</strong> e Colégio do Espírito Santo (Esq. 106).560Esq. 106 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses cl<strong>as</strong>sificados como Imóvel<strong>de</strong> Interesse Público (síntese e esqu<strong>em</strong>a elaborado pela autora)48 Alínea 5 do artigo nº 15 da Lei nº107/2001 (DR. nº 209 SÉRIE I-A <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> Set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2001) que estabelece<strong>as</strong> b<strong>as</strong>es da política e do regime <strong>de</strong> protecção e valorização do património cultural.


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEIII.Não Cl<strong>as</strong>sificado (NC)Correspon<strong>de</strong> a um b<strong>em</strong> que não se encontra sob a protecção doInstituto <strong>de</strong> Gestão do Património, sendo no entanto p<strong>as</strong>sível <strong>de</strong> ovir a ser <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seja aberto e iniciado o seu processo <strong>de</strong> cl<strong>as</strong>sificação.Pertenc<strong>em</strong> a este tipo os Mosteiros <strong>de</strong> Santa Maria da Estrela e oMosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tavira (Esq. 107).561Esq. 107 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses não cl<strong>as</strong>sificados (síntesee esqu<strong>em</strong>a elaborado pela autora)IV.Em Estudo (EE)Correspon<strong>de</strong> a um b<strong>em</strong> cuja cl<strong>as</strong>sificação se encontra <strong>em</strong> apreciaçãoe <strong>em</strong> estudo pelo IGESPAR tendo <strong>em</strong> vista uma apreciaçãofundamentada sobre o seu valor artístico, cultural e histórico.Em estudo encontra-se apen<strong>as</strong> o Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora doDesterro (Esq. 108).


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE562 Esq. 108 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses <strong>em</strong> estudo (síntese eesqu<strong>em</strong>a elaborado pela autora)De facto os imóveis, conjuntos ou sítios cl<strong>as</strong>sificados b<strong>em</strong> como os imóveis <strong>em</strong>vi<strong>as</strong> <strong>de</strong> cl<strong>as</strong>sificação possu<strong>em</strong> uma ZEP (Zona Especial <strong>de</strong> Protecção) que éestabelecida pela entida<strong>de</strong> <strong>de</strong>tentora da gestão e administração do patrimóniocultural, que neste momento é o Instituto <strong>de</strong> Gestão do PatrimónioArquitectónico e Arqueológico (IGESPAR), tendo s<strong>em</strong>pre o acordo d<strong>as</strong> autarqui<strong>as</strong>locais (Fig. 376).O perímetro d<strong>as</strong> ZEP’s é <strong>de</strong>finido através da <strong>de</strong>lineação do traçado d<strong>as</strong>curv<strong>as</strong> <strong>de</strong> nível do terreno on<strong>de</strong> o imóvel se implanta ou é estabelecido através<strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos referenciais da própria paisag<strong>em</strong> como <strong>as</strong> linh<strong>as</strong> <strong>de</strong> água,cumead<strong>as</strong> entre outros (Fig. 377 a 379). Como refer<strong>em</strong> Ana Figueiredo e MariaHelena Ribeiro dos Santos:“Pensa-se hoje que a cl<strong>as</strong>sificação não se esgota no próprio objectocl<strong>as</strong>sificado, m<strong>as</strong> que, <strong>de</strong> alguma maneira, se expan<strong>de</strong> e abrangea área envolvente, ou seja, a salvaguarda do imóvel p<strong>as</strong>sou aincluir a avaliação e protecção da sua relação com a envolvente,a preservação do seu contexto e do ambiente local. N<strong>as</strong>ceu <strong>as</strong>simo conceito <strong>de</strong> ‘zona <strong>de</strong> protecção’, actualmente uma faixa <strong>de</strong> 50metros como mínimo legal, m<strong>as</strong> que po<strong>de</strong> abranger zon<strong>as</strong> mais v<strong>as</strong>-


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEt<strong>as</strong>, e englobar vários imóveis cl<strong>as</strong>sificados. No âmbito da <strong>de</strong>limitaçãod<strong>as</strong> ‘zon<strong>as</strong> especiais <strong>de</strong> protecção’ – comummente <strong>de</strong>nominad<strong>as</strong>ZEP – foi usual <strong>de</strong>finir zon<strong>as</strong> ‘non aedificandi’, <strong>as</strong> quais tinhamcomo objectivo último isolar o imóvel como forma <strong>de</strong> reforçar e pôr<strong>em</strong> evidência o seu carácter excepcional, <strong>de</strong>stacando-o <strong>de</strong> qualquerproximida<strong>de</strong> construída, e impedindo que qualquer urbanizaçãofutura pu<strong>de</strong>sse vir a prejudicar esta sua leitura.” 49As ZEP’s permitiram gerir o espaço circundante dos bens imóveis cl<strong>as</strong>sificadosou <strong>em</strong> vi<strong>as</strong> <strong>de</strong> cl<strong>as</strong>sificação <strong>de</strong> modo a garantir a coerência e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>construção nova <strong>em</strong> redor ou mesmo adjacente a um imóvel cl<strong>as</strong>sificado(Esq. 109).A lei nº 13/85 publicada <strong>em</strong> Diário da República <strong>em</strong> 6 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1985 éconsi<strong>de</strong>rada a primeira lei que realmente legisla sobre o Património Portuguêse é também esta lei que impl<strong>em</strong>enta <strong>as</strong> zon<strong>as</strong> <strong>de</strong> protecção dos edifícios <strong>em</strong>onumentos portugueses consi<strong>de</strong>rados património, como atesta o artigo nº22:“1 - Os imóveis cl<strong>as</strong>sificados pelo Ministério da Cultura dispõ<strong>em</strong>s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong> uma zona especial <strong>de</strong> protecção.2 - Deverá ser fixada uma zona especial <strong>de</strong> protecção, <strong>em</strong> prazos aestabelecer pelo Ministério da Cultura, sob proposta do IPPC, comaudição d<strong>as</strong> autarqui<strong>as</strong>, nela po<strong>de</strong>ndo incluir-se uma zona nonaedificandi <strong>em</strong> todos os c<strong>as</strong>os, salvo naqueles cujo enquadramentofique perfeitamente salvaguardado com a zona <strong>de</strong> protecçãotipo.3 - Enquanto não for fixada uma zona especial <strong>de</strong> protecção, osimóveis cl<strong>as</strong>sificados beneficiarão <strong>de</strong> uma zona <strong>de</strong> protecção <strong>de</strong>50 m, contados a partir dos limites exteriores do imóvel.” 50Mais tar<strong>de</strong> surge a lei nº 107/01 publicada <strong>em</strong> Diário da República <strong>em</strong> 8 <strong>de</strong>Set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2001 que é <strong>de</strong> facto a lei <strong>de</strong> b<strong>as</strong>es do Património Cultural Portuguêse que abrange a figura da ZEP relacionando o imóvel com a envolventecomo atesta o artigo nº 43:“1 - Os bens imóveis cl<strong>as</strong>sificados nos termos do artigo 15.º da presentelei, ou <strong>em</strong> vi<strong>as</strong> <strong>de</strong> cl<strong>as</strong>sificação como tal, beneficiarão automaticamente<strong>de</strong> uma zona geral <strong>de</strong> protecção <strong>de</strong> 50 m, contadosa partir dos seus limites externos, cujo regime é fixado por lei.2 - Os bens imóveis cl<strong>as</strong>sificados nos termos do artigo 15.º da presentelei, ou <strong>em</strong> vi<strong>as</strong> <strong>de</strong> cl<strong>as</strong>sificação como tal, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> dispor ainda<strong>de</strong> uma zona especial <strong>de</strong> protecção, a fixar por portaria do órgão56349 FIGUEIREDO, Ana e Maria Helena Ribeiro dos Santos; Intervenção <strong>em</strong> áre<strong>as</strong> urban<strong>as</strong> na envolvente <strong>de</strong>edifícios cl<strong>as</strong>sificados in “Estudos/Património”; nº 2; Publicação s<strong>em</strong>estral do IPPAR – Instituto Português doPatrimónio Arquitectónico; 2002; p. 10950 Artigo nº22 da lei nº 13/85 publicada <strong>em</strong> Diário da República 6 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1985.


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEcompetente da administração central ou da Região Autónomaquando o b<strong>em</strong> aí se situar.3 - N<strong>as</strong> zon<strong>as</strong> especiais <strong>de</strong> protecção po<strong>de</strong>m incluir-se zon<strong>as</strong> nonaedificandi.4 - As zon<strong>as</strong> <strong>de</strong> protecção são servidões administrativ<strong>as</strong>, n<strong>as</strong> quaisnão po<strong>de</strong>m ser concedid<strong>as</strong> pelo município, n<strong>em</strong> por outra entida<strong>de</strong>,licenç<strong>as</strong> para obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> construção e para quaisquer trabalhosque alter<strong>em</strong> a topografia, os alinhamentos e <strong>as</strong> cérce<strong>as</strong> e, <strong>em</strong>geral, a distribuição <strong>de</strong> volumes e cobertur<strong>as</strong> ou o revestimentoexterior dos edifícios s<strong>em</strong> prévio parecer favorável da administraçãodo património cultural competente.5 - Exclu<strong>em</strong>-se do preceituado pelo número anterior <strong>as</strong> obr<strong>as</strong> <strong>de</strong>mera alteração no interior <strong>de</strong> imóveis.” 51564Fig. 376 ZEP do Mosteiro <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>, publicada <strong>em</strong> DR <strong>em</strong> Janeiro <strong>de</strong>2011 (fonte Diário da República nº11 <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2011)51 Artigo nº43 da lei nº 107/01 publicada <strong>em</strong> Diário da República <strong>em</strong> 8 <strong>de</strong> Set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2001


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEab565c<strong>de</strong>Fig. 377 Zon<strong>as</strong> Especiais <strong>de</strong> Protecção (ZEP): (a) Mosteiro<strong>de</strong> Santa Maria do Bouro; (b) Mosteiro <strong>de</strong> S.João <strong>de</strong> Tarouca; (c) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong>Júni<strong>as</strong>; (d) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>; (e)Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça; (f) Mosteiro<strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (arquivo IPPAR/IGESPAR)f


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEab566cdFig. 378 Zon<strong>as</strong> <strong>de</strong> Protecção (ZP): (a) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça; (b) Mosteiro <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão;(c) Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca; (d) Mosteiro <strong>de</strong> S. Bento <strong>de</strong> Cástris (arquivo DGEMN/IHRU)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEef567ghFig. 379 Zon<strong>as</strong> <strong>de</strong> Protecção (ZP): (e) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>; (f) Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, oVelho; (g) Mosteiro <strong>de</strong> S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>; (h) Rua da Sofia abrangendo o Colégio do Espírito Santo (arquivoDGEMN/IHRU)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEZONA ESPECIAL DEPROTECÇÃO (ano)D E S I G N A Ç Ã O D O M O S T E I R O G É N E R O P R O T E C-Ç Ã O2008Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>MMN1960Mosteiro <strong>de</strong> São Pedro e São Paulo <strong>de</strong> AroucaFMN2009Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>MMN1999Mosteiro <strong>de</strong> São João <strong>de</strong> TaroucaMMN1954Mosteiro <strong>de</strong> São Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> (o velho)FMN1960Mosteiro <strong>de</strong> São Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> LorvãoFMN1960/2011Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>MMN1957Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> AlcobaçaFMN1957/62Mosteiro <strong>de</strong> São Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>FMN1957Mosteiro <strong>de</strong> São Bernardo <strong>de</strong> PortalegreFMN1962Mosteiro <strong>de</strong> São Bento <strong>de</strong> CástrisMMN2010Mosteiro <strong>de</strong> São Cristovão <strong>de</strong> LafõesMIIP2005Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do BouroMIIP1971Colégio do Espirito SantoMIIP1998Mosteiro <strong>de</strong> Nossa senhora da Nazaré do MocamboFIIP568MN – Monumento Nacional I IIP – Imóvel <strong>de</strong> Interesse PúblicoEsq. 109 Esqu<strong>em</strong>a relativo às Zon<strong>as</strong> Especiais <strong>de</strong> Protecção dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses(esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)7.3.1. Program<strong>as</strong> Patrimoniais que abrangeram Mosteiros CisterciensesPor oc<strong>as</strong>ião dos 900 anos da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister, <strong>em</strong> 1998, muitos foram os eventoscom<strong>em</strong>orativos. Em Portugal realizou-se o congresso internacional “Cister:Espaços, Territórios, Paisag<strong>em</strong>” 52 <strong>de</strong> 16 a 20 <strong>de</strong> Junho, <strong>em</strong> Alcobaça, promovidopelo então IPPAR, do qual resultou a já referida Carta <strong>de</strong> Alcobaça.De igual modo foi elaborado, pelo IPPAR, um estudo sumário sobre osvestígios <strong>cister</strong>cienses <strong>em</strong> Portugal que conformou o relatório preliminar “Itinerários<strong>de</strong> Cister” 53 produzido <strong>em</strong> Março <strong>de</strong> 1998. Este relatório foi fruto do protocolocom o mesmo nome celebrado entre o IPPAR e a então DGT (DirecçãoGeral <strong>de</strong> Turismo) sendo a equipa coor<strong>de</strong>nada por Manuel Lacerda e o trabalho<strong>de</strong>senvolvido pelo Departamento <strong>de</strong> Estudos do IPPAR.52 AA.VV.; Cister: Espaços, Territórios, Paisagens; MC, IPPAR; Lisboa; 200053 Itinerários <strong>de</strong> Cister, Relatório Preliminar; 2 vols; Dep <strong>de</strong> Estudos do IPPAR; Março 1998


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADETambém <strong>em</strong> 1998 a FLUP (Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letr<strong>as</strong> da Universida<strong>de</strong> do Porto)através do grupo <strong>de</strong> investigação GEHVID, com a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> FreiGeraldo Coelho Di<strong>as</strong>, realizou a publicação “Cister no Vale do Douro” 54 .Muito se falou e especulou sobre o Património Cisterciense, sobretudo noque respeita a reabilitação <strong>de</strong>ste Património. Foi no rescaldo <strong>de</strong>ste acontecimentocultural que surgiu a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar esta tese com particular interessepelo legado <strong>cister</strong>ciense e sua reabilitação <strong>as</strong>sim como a sua inserçãono território.Porém, <strong>de</strong>pressa foi perceptível que p<strong>as</strong>sada a <strong>em</strong>oção do momento <strong>as</strong>instituições ligad<strong>as</strong> à gestão do Património <strong>em</strong> Portugal, IPPAR e DGEMN, lentamenteforam reduzindo a sua intenção <strong>de</strong> reabilitação do edificado <strong>cister</strong>ciense.Contudo muito se fez no que respeita às intervenções <strong>em</strong> curso no edificado<strong>cister</strong>ciense.Deste modo o programa “Itinerários <strong>de</strong> Cister” foi extinto e com a transformaçãodo IPPAR <strong>em</strong> IGESPAR, como já foi referido, o interesse pelo património<strong>cister</strong>ciense português transita para um novo programa intitulado “ConjuntosMonásticos” <strong>de</strong> carácter mais abrangente e não direccionado parauma única Or<strong>de</strong>m Monástica como eram os “Itinerários <strong>de</strong> Cister”.Os conjuntos monásticos afectos ao IPPAR que pertenc<strong>em</strong> ao programa“Conjuntos Monásticos” são: Mosteiro <strong>de</strong> Vilar <strong>de</strong> Fra<strong>de</strong>s, Mosteiro <strong>de</strong> Pombeiro,Mosteiro <strong>de</strong> Tibães, Mosteiro <strong>de</strong> Rendufe, Mosteiro <strong>de</strong> São Pedro <strong>de</strong> Cete,Mosteiro <strong>de</strong> Grijó, Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca, Mosteiro <strong>de</strong> S.João <strong>de</strong> Tarouca, Mosteiro <strong>de</strong> Ferreirim, Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar,Mosteiro do Lorvão, Mosteiro <strong>de</strong> Santa Cruz <strong>de</strong> Coimbra, Mosteiro <strong>de</strong> SantaClara-a-velha, Mosteiro <strong>de</strong> santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça, Mosteiro da Batalha,Convento <strong>de</strong> Cristo, Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Almoster, Mosteiro dos Jerónimos,Mosteiro <strong>de</strong> Flor da Rosa. 55Desta forma, o novo programa “Conjuntos Monásticos” apen<strong>as</strong> abrangiaos seguintes seis Mosteiros Cistercienses: S. Pedro e S. Paulo <strong>de</strong> Arouca, S. João<strong>de</strong> Tarouca, Santa Maria <strong>de</strong> Aguiar, S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão, Santa Maria <strong>de</strong>Alcobaça e Santa Maria <strong>de</strong> Almoster (Graf. 34).No entanto, na perspectiva <strong>de</strong>ste programa, Cister correspondia a cercada terça parte dos mosteiros abrangidos correspon<strong>de</strong>ndo a 32% da totalida<strong>de</strong>dos mosteiros à qual se opunha uma percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> 68% relativa aos mosteiros<strong>de</strong> outr<strong>as</strong> Or<strong>de</strong>ns.56954 AA.VV.; Cister no Vale do Douro; GEHVID; Ed Afrontamento; 199955 CALADO, Luís Ferreira, Paulo Pereira e Joaquim P<strong>as</strong>sos Leite; O regresso dos monges. Intervenções doIPPAR <strong>em</strong> conjuntos monásticos. in “Estudos/Património”; nº 2; Publicação s<strong>em</strong>estral do IPPAR – Instituto Portuguêsdo Património Arquitectónico; 2002; p. 5


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEGraf. 34 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses abrangidos pelo programa“Conjuntos monásticos”.(síntese e esqu<strong>em</strong>a elaborado pela autora)570Parte dos mosteiros abrangidos pelo programa “Conjuntos Monásticos” sãoPatrimónio da Humanida<strong>de</strong> (Jerónimos, Batalha, Alcobaça, Convento <strong>de</strong> Cristo)peloque refer<strong>em</strong> Calado, Pereira e Leite:“Est<strong>as</strong> peç<strong>as</strong> constitu<strong>em</strong> referênci<strong>as</strong> centrais da cultura portuguesae o seu estado <strong>de</strong> conservação não é <strong>de</strong> todo probl<strong>em</strong>ático, pese<strong>em</strong>bora os necessários trabalhos <strong>de</strong> manutenção e, para algunsdos c<strong>as</strong>os, <strong>as</strong> obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> requalificação dos espaços que foram efectuad<strong>as</strong>ou se encontram <strong>em</strong> curso, incluindo neste c<strong>as</strong>o os sist<strong>em</strong><strong>as</strong><strong>de</strong> acolhimento para visitantes (guardaria, recepção, loja, instalaçõessanitári<strong>as</strong>) <strong>em</strong> constante melhoramento – ou <strong>em</strong> pura e simplesinstalação nos c<strong>as</strong>os <strong>em</strong> que não existam ainda. (…) Po<strong>de</strong>dizer-se que nestes c<strong>as</strong>os <strong>as</strong> obr<strong>as</strong> jamais param, b<strong>em</strong> como omovimento permanente induzido pelos próprios objectos patrimoniais,uma vez que são dos monumentos mais visitados do país(…).” 56No entanto os restantes conjuntos monásticos abrangidos por este program<strong>as</strong>ão <strong>de</strong> dimensão mais mo<strong>de</strong>sta e pouco visitados por inúmer<strong>as</strong> razões d<strong>as</strong>quais se <strong>de</strong>stacam o facto <strong>de</strong> alguns se encontrar<strong>em</strong> <strong>de</strong>slocados dos tradicionaiscircuitos <strong>de</strong> visita <strong>de</strong> turismo cultural ou religioso; outros encontram-se<strong>em</strong> meio rural e/ou <strong>de</strong> difícil acesso e ainda outros são consi<strong>de</strong>rados menores(o que <strong>de</strong> facto não correspon<strong>de</strong> à verda<strong>de</strong> pois muitos encerram no seu interiorum valioso e sofisticado espólio). 57Refer<strong>em</strong> também Calado, Pereira e Leite:“Quanto à inserção regional, o IPPAR procurou conjugar os imperativospatrimoniais (ou seja, os que <strong>de</strong>corr<strong>em</strong> da necessida<strong>de</strong> incontornável<strong>de</strong> obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> recuperação ou resgate) com a distribuição56 CALADO, Luís Ferreira, Paulo Pereira e Joaquim P<strong>as</strong>sos Leite; Op. cit; p. 657 I<strong>de</strong>m; p. 6


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE<strong>de</strong> investimento <strong>em</strong> termos regionais, tendo <strong>em</strong> conta equilíbriosque visam dar resposta à consolidação <strong>de</strong> recursos patrimoniais d<strong>as</strong>regiões, <strong>em</strong>bora <strong>de</strong> valor amplamente nacional ou mesmo europeu.Po<strong>de</strong>mos <strong>as</strong>sim constatar que, na Região Norte, <strong>de</strong>corr<strong>em</strong> <strong>as</strong>seguintes intervenções: Mosteiro <strong>de</strong> Vilar <strong>de</strong> Fra<strong>de</strong>s; Mosteiro <strong>de</strong>Pombeiro; Mosteiro <strong>de</strong> Tibães; Mosteiro <strong>de</strong> Rendufe; Mosteiro <strong>de</strong> SãoPedro <strong>de</strong> Cete; Mosteiro <strong>de</strong> Grijó e Mosteiro <strong>de</strong> Arouca. Na RegiãoCentro e interior da Beira Alta, verificamos investimentos no Mosteiro<strong>de</strong> Tarouca, Mosteiro <strong>de</strong> Ferreirim, Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>Aguiar, Mosteiro <strong>de</strong> Lorvão, Mosteiro <strong>de</strong> Santa Cruz <strong>de</strong> Coimbra,Mosteiro da Batalha e no Mosteiro <strong>de</strong> Santa Clara-a-Velha. NaRegião <strong>de</strong> Lisboa e Estr<strong>em</strong>adura constatam-se investimentos noMosteiro <strong>de</strong> Alcobaça, Convento <strong>de</strong> Cristo, Mosteiro <strong>de</strong> Almoster eno Mosteiro dos Jerónimos. Para o Alentejo é objecto <strong>de</strong> intervençãonesta f<strong>as</strong>e apen<strong>as</strong> o Mosteiro <strong>de</strong> Flor da Rosa” 58 e ainda “Porsua vez, o património monástico permite uma articulação extr<strong>em</strong>amenteeficaz com o universo do turismo cultural, tendo <strong>em</strong> contaa <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> “cachos” ou zon<strong>as</strong> <strong>de</strong> implantação <strong>de</strong> acessíveli<strong>de</strong>ntificação e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver nos ex<strong>em</strong>plos consi<strong>de</strong>radosmais críticos ou prioritários, acções <strong>de</strong> valorização quepermitam a indução <strong>de</strong>sses conjuntos patrimoniais no universo dosnovos conceitos <strong>de</strong> exploração turística.” 59Deste modo surg<strong>em</strong> critérios objectivos <strong>de</strong> intervenção nos conjuntos monásticosque se distribu<strong>em</strong> por três gran<strong>de</strong>s eixos:Eixo I.Intervenções;Eixo II.Operações <strong>de</strong> Salvamento e Restauro;Eixo III.Estabelecimento <strong>de</strong> “Re<strong>de</strong>s” <strong>de</strong> Monumentos.Destaca-se particularmente o primeiro eixo que tal como refer<strong>em</strong> Calado,Pereira e Leite:“Compreen<strong>de</strong>m a valorização <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s conjuntos monásticoscarenciados <strong>de</strong> uma intervenção global. Trata-se, <strong>em</strong> concreto, <strong>de</strong><strong>as</strong>segurar uma intervenção que conduza à recuperação total d<strong>as</strong>áre<strong>as</strong> vitais dos monumentos (incluindo <strong>as</strong> respectiv<strong>as</strong> cerc<strong>as</strong> s<strong>em</strong>preque tal for possível, os monumentos nucleares, m<strong>as</strong> também opatrimónio difuso e <strong>as</strong> envolventes rurais ou urban<strong>as</strong>). A nova operativida<strong>de</strong><strong>de</strong>stes program<strong>as</strong> esten<strong>de</strong>r-se-á ao restauro do património57158 CALADO, Luís Ferreira, Paulo Pereira e Joaquim P<strong>as</strong>sos Leite; Op. ci; pp. 6-759 I<strong>de</strong>m; p. 16


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEintegrado, b<strong>em</strong> como à instalação <strong>de</strong> sinalética, acolhimento dopúblico e divulgação.” 60Desta forma foram intervencionados os seguintes mosteiros:I.Mosteiro <strong>de</strong> Pombeiro;II.Mosteiro <strong>de</strong> Tarouca;III.Mosteiro <strong>de</strong> Grijó;IV.Mosteiro <strong>de</strong> Rendufe;V.Igreja e Mosteiro <strong>de</strong> Vilar <strong>de</strong> Fra<strong>de</strong>s;VI.Mosteiro <strong>de</strong> Santa Cruz <strong>de</strong> Coimbra;VII.Mosteiro <strong>de</strong> Arouca;VIII.Mosteiro <strong>de</strong> Lorvão.572Graf. 35 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses intervencionados no âmbitodo programa “Conjuntos monásticos”.(síntese e esqu<strong>em</strong>a elaboradopela autora)A percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> mosteiros <strong>cister</strong>cienses intervencionados (37%) mantém-seproporcional à percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> mosteiros <strong>cister</strong>cienses englobados por esteprograma que antes se referira (32%) contra 63% <strong>de</strong> edifícios monásticos <strong>de</strong>outr<strong>as</strong> Or<strong>de</strong>ns (e que no programa correspondiam a uma percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong>68%). (Graf. 35)60 CALADO, Luís Ferreira, Paulo Pereira e Joaquim P<strong>as</strong>sos Leite; Op. cit; p. 17


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADENo que respeita directamente ao património <strong>cister</strong>ciense, no âmbito <strong>de</strong>steprograma, nada se cont<strong>em</strong>plou relativamente ao segundo eixo (operações<strong>de</strong> salvamento e <strong>de</strong> restauro).Porém, no que respeita ao terceiro eixo, relativamente ao estabelecimento<strong>de</strong> “Re<strong>de</strong>s” <strong>de</strong> monumentos salienta-se que se trata <strong>de</strong>:“(…) garantir a ‘sustentabilida<strong>de</strong>’ para <strong>as</strong> intervenções já efectuad<strong>as</strong>com um acréscimo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. A sustentabilida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> intervençõesacima referenciad<strong>as</strong> é mais facilmente perceptível se serelacionar<strong>em</strong> os monumentos a candidatar ao QCA III entre si, ecom outros que <strong>de</strong>corr<strong>em</strong> d<strong>as</strong> intervenções correntes ou que jáforam objecto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s trabalhos <strong>de</strong> recuperação, conservaçãoe valorização.” 61Assim surg<strong>em</strong> essencialmente du<strong>as</strong> “Re<strong>de</strong>s” significativ<strong>as</strong>:I.Triângulo Beneditino 62Constituído pelos Mosteiros Beneditinos <strong>de</strong> Rendufe, Pombeiro eTibães, sendo este último a c<strong>as</strong>a-mãe dos Beneditinos <strong>em</strong> Portugal.II.Património <strong>de</strong> Cister 63Constituido pelos Mosteiros <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça, S. Pedro eS. Paulo <strong>de</strong> Arouca, S. João <strong>de</strong> Tarouca e S. Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lorvão.No entanto algum t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>pois, por força dos encargos e da situação económicavivida, também este programa “Conjuntos Monásticos” foi forçado acessar sendo substituído pelo programa “Mosteiros Portugueses Património daHumanida<strong>de</strong>”.5737.3.2. Património Mundial da Unesco - Mosteiro <strong>de</strong> AlcobaçaO Mosteiro <strong>de</strong> Alcobaça integra a Lista do Património Mundial da UNESCO<strong>de</strong>s<strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1989 (13ª Sessão do Comité do Património Mundial que<strong>de</strong>correu <strong>em</strong> Paris).Este processo teve início por proposta do ICOMOS, <strong>em</strong> Abril <strong>de</strong> 1989,tendo como b<strong>as</strong>e os critérios <strong>de</strong> cl<strong>as</strong>sificação I e IV. Ou seja, teve por b<strong>as</strong>e ofacto <strong>de</strong> “representar uma obra-prima do génio criador humano” 64 (Critério I)o que se justifica pelos seguintes motivos:61 CALADO, Luís Ferreira, Paulo Pereira e Joaquim P<strong>as</strong>sos Leite; Op. cit; p. 1862 I<strong>de</strong>m; pp. 18-1963 Ibi<strong>de</strong>m; pp. 18-1964 Orientação Técnic<strong>as</strong> para a Aplicação da Convenção do Património Mundial (tradução Francisco Agarez– 2005 e actualização Cíntia Pereira <strong>de</strong> Sousa -2008); Organização d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para a EducaçãoCiência e Cultura, Comité Intergovernamental para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural,Centro do Património Mundial; Edição IGESPAR e Comissão Nacional da UNESCO – Portugal; Lisboa 2010;p.28


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE1. Gran<strong>de</strong>za d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> dimensões.2. Pureza e luminosida<strong>de</strong> arquitectónic<strong>as</strong>.3. Beleza do material.4. Rigor na execução.5. Obra-prima da arte gótica <strong>cister</strong>ciense.6. Test<strong>em</strong>unho da estética e do i<strong>de</strong>al <strong>as</strong>cético que caracteriza <strong>as</strong>primeir<strong>as</strong> construções da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister.7. Túmulos <strong>de</strong> D. Pedro e <strong>de</strong> D. Inês - consi<strong>de</strong>rad<strong>as</strong> d<strong>as</strong> mais bel<strong>as</strong>escultur<strong>as</strong> funerári<strong>as</strong> gótic<strong>as</strong>.574Fig. 380 Claustro do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça, acesso à Sala do Capítulo,Parlatório, Dormitório, Sala dos Monges e ao fundo porta da Cozinha do séculoXVIII. (fotografia da autora)M<strong>as</strong> também por “representar um ex<strong>em</strong>plo excepcional <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> construçãoou <strong>de</strong> conjunto arquitectónico ou tecnológico, ou <strong>de</strong> paisag<strong>em</strong> queilustre um ou mais períodos significativos da história humana” 65 (Critério IV) oque se justifica ao apresentar um conjunto único <strong>de</strong> infra-estrutur<strong>as</strong> hidráulic<strong>as</strong>e <strong>de</strong> edifícios monásticos funcionais medievais tais como o Claustro do Silên-65 Orientação Técnic<strong>as</strong> para a Aplicação da Convenção do Património Mundial (tradução Francisco Agarez– 2005 e actualização Cíntia Pereira <strong>de</strong> Sousa -2008); Organização d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> para a EducaçãoCiência e Cultura, Comité Intergovernamental para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural,Centro do Património Mundial; Edição IGESPAR e Comissão Nacional da UNESCO – Portugal; Lisboa 2010;p.28


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEcio, a Sala do Capítulo, o Parlatório, o Dormitório, a Sala dos Monges, o Refeitórioe a Cozinha, essa já do Século XVIII (Fig. 380).7.3.3. Candidatur<strong>as</strong> QREN / Programa Estratégico: Rota dos Mosteiros PatrimónioMundial da Humanida<strong>de</strong>Foi apresentada uma candidatura ao Programa Operacional Regional Centro,Eixo 2, “Desenvolvimento d<strong>as</strong> Cida<strong>de</strong>s e dos Sist<strong>em</strong><strong>as</strong> Urbanos” na área <strong>de</strong>intervenção <strong>de</strong>signada por “Política d<strong>as</strong> Cida<strong>de</strong>s – re<strong>de</strong>s urban<strong>as</strong> para acompetitivida<strong>de</strong> e inovação”, como parceiro - beneficiário.A candidatura foi apresentada pelo Município <strong>de</strong> Tomar (Convento <strong>de</strong>Cristo), <strong>as</strong>sociando, também, para além do IGESPAR, como parceiros, osMunicípios <strong>de</strong> Alcobaça (Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça), Batalha(Mosteiro da Batalha) e Lisboa (Mosteiro dos Jerónimos). De igual modo, sãoentida<strong>de</strong>s parceir<strong>as</strong> do Programa, a Direcção Geral d<strong>as</strong> Artes e o Instituto dosMuseus e da Conservação.A Rota dos Mosteiros Portugueses Património da Humanida<strong>de</strong> constituium dos eixos do Programa Estratégico “Mosteiros Portugueses Património daHumanida<strong>de</strong>” ao "Mais Centro: Instrumento da Política d<strong>as</strong> Cida<strong>de</strong>s - Re<strong>de</strong>sUrban<strong>as</strong> para a Competitivida<strong>de</strong> e Inovação, Eixo Prioritário II" - "Desenvolvimentod<strong>as</strong> Cida<strong>de</strong>s e dos Sist<strong>em</strong>a Urbanos", Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cida<strong>de</strong>s dos Gran<strong>de</strong>sMosteiros Portugueses Património da Humanida<strong>de</strong>.O Programa Estratégico apresenta os seguintes seis Eixos-b<strong>as</strong>e:5751.I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>,2.Atractivida<strong>de</strong>,3.Receptivida<strong>de</strong>,4.Interactivida<strong>de</strong>,5.Visibilida<strong>de</strong>,6.Continuida<strong>de</strong>/Qualida<strong>de</strong>.Por sua vez o plano estratégico subdivi<strong>de</strong>-se <strong>em</strong> nove Linh<strong>as</strong> <strong>de</strong> Intervenção:1.Qualificação dos espaços públicos simbólicos,


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE2.Promoção <strong>de</strong> eventos <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>áticos e animação d<strong>as</strong> cida<strong>de</strong>scomo pólos culturais,3.Vivificação do Património e Qualificação dos equipamentos culturais,4.Criação <strong>de</strong> Roteiros <strong>de</strong> Visita e Interpretação do Território,5.Recepção <strong>de</strong> Visitantes,6.Qualificação dos Serviços Turísticos,7.Plataforma digital turística da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s,8.Marketing, promoção e comunicação,9.Missão Mosteiros <strong>de</strong> Portugal Património da Humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cooperaçãointer-urbana.576Fig. 381 Nova proposta <strong>de</strong> utilização para os Claustros da Portaria e da Hospedariado Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça, no âmbito da “Rota dos MosteirosPortugueses Património da Humanida<strong>de</strong> da Região Centro”, cont<strong>em</strong>plandonovos espaços expositivos, <strong>de</strong> apoio e <strong>de</strong> acolhimento (fonte: C. M. Alcobaça/IGESPAR)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADENesta candidatura o IGESPAR apresenta-se como parceiro lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> três tipos<strong>de</strong> projectos:1.Programação cultural anual d<strong>as</strong> cida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> re<strong>de</strong> tendo comosuporte físico os Mosteiros;2.Criação <strong>de</strong> program<strong>as</strong> <strong>de</strong> visita, produção <strong>de</strong> conteúdos <strong>de</strong>interpretação;3.Realização <strong>de</strong> encontros anuais científicos <strong>em</strong> cada Mosteiro.Compl<strong>em</strong>entarmente o IGESPAR candidatou, no âmbito do QREN, ao ProgramaOperacional Regional do Centro, Eixo Prioritário III, Consolidação e Qualificaçãodos espaços sub-regionais, Regulamento Específico - Património Cultural,o projecto “Rota dos Mosteiros Portugueses Património da Humanida<strong>de</strong> daRegião Centro”, abrangendo os quatro gran<strong>de</strong>s conjuntos monásticos<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do IGESPAR:1.Mosteiro <strong>de</strong> Alcobaça,2.Convento <strong>de</strong> Cristo,3.Mosteiro da Batalha4.Mosteiro dos Jerónimos577Tal facto traduz-se a melhoria global d<strong>as</strong> condições <strong>de</strong> recepção e utilização,conservação, prevenção <strong>de</strong> riscos e segurança <strong>as</strong>sim como espaços <strong>de</strong>interpretação, r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lação <strong>de</strong> instalações sanitári<strong>as</strong>, loj<strong>as</strong>, recepções, restaurante,iluminação cenográfica, extensão <strong>de</strong> circuitos <strong>de</strong> visita, recuperação<strong>de</strong> cobertur<strong>as</strong> e fachad<strong>as</strong>, conservação <strong>de</strong> escultur<strong>as</strong> (Fig. 381).As linh<strong>as</strong> <strong>de</strong> força <strong>de</strong>ste Programa Estratégico, <strong>as</strong>sentam <strong>de</strong>ste modo nosquatro gran<strong>de</strong>s conjuntos monásticos sob a alçada do IGESPAR que <strong>de</strong> igualmodo se encontram inscritos na Lista do Património Mundial da UNESCO. Consequent<strong>em</strong>ente<strong>as</strong> linh<strong>as</strong> <strong>de</strong> força referid<strong>as</strong> consist<strong>em</strong> <strong>em</strong>:“1. Criação da uma Marca <strong>de</strong> referência Internacional <strong>de</strong>stinada areforçar a atractivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Portugal, suportada pelo seu patrimónioicónico e espaços urbanos qualificados e a promover adinamização sócio económica da região.


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE2. Potenciação do Património da Humanida<strong>de</strong> como factor <strong>de</strong>competitivida<strong>de</strong> Nacional, estabelecendo um novo paradigma<strong>de</strong> cooperação interurbana solidária <strong>em</strong> Portugal alicerçada noarco patrimonial Alcobaça – Batalha - Tomar.” 66 (Fig. 382)Fig. 382 Imag<strong>em</strong> relativa à “Rota dos MosteirosPortugueses Património da Humanida<strong>de</strong>da Região Centro” (fonte: C. M.Alcobaça)578“3. Promoção <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cooperação entre est<strong>as</strong> cida<strong>de</strong>s vizinh<strong>as</strong>,permitindo <strong>as</strong>segurar m<strong>as</strong>sa crítica e estruturar os sist<strong>em</strong><strong>as</strong>urbanos, recorrendo nomeadamente a constituição <strong>de</strong> parceri<strong>as</strong>publico-privad<strong>as</strong> e a cooperação entre o Estado e autarqui<strong>as</strong> navalorização e qualificação dos centros urbanos.4. Estruturação do touring cultural e paisagístico e a mobilização <strong>de</strong>parceri<strong>as</strong> sólid<strong>as</strong> para a competitivida<strong>de</strong> e inovação, integrando<strong>as</strong> autarqui<strong>as</strong> locais, instituições do sist<strong>em</strong>a tecnológico, científicoe <strong>de</strong> formação, entida<strong>de</strong>s privad<strong>as</strong> e su<strong>as</strong> <strong>as</strong>sociações,administração regional <strong>de</strong>sconcentrada, agência <strong>de</strong> turismoregional, agentes culturais.5. Valorização d<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> sócio-culturais e a qualificaçãod<strong>as</strong> competênci<strong>as</strong> profissionais.” 67 (Fig. 383 a 386)66 GALVÃO, Andreia; Re<strong>de</strong>s, rot<strong>as</strong> e parceri<strong>as</strong> estruturantes… o c<strong>as</strong>o da rota dos mosteiros portuguesespatrimónio da humanida<strong>de</strong>; texto policopiado integrado no dossier facultado aquando o “Fórum CartaEuropeia <strong>de</strong> Abadi<strong>as</strong> e Sítios Cistercienses” que teve lugar no Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça <strong>de</strong> 1 a3 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2009; Maio 2009; s/paginação.67 I<strong>de</strong>m.


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEFig. 383 Entrada do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (fotografia da autora)579Fig. 384 Novo circuito <strong>de</strong> visita proposto para o Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaçano âmbito da “Rota dos Mosteiros Portugueses Património da Humanida<strong>de</strong> da RegiãoCentro” (fonte: C. M. Alcobaça/IGESPAR)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEFig. 385 Acções <strong>de</strong> valorização propost<strong>as</strong> para o Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaçano âmbito da “Rota dos Mosteiros Portugueses Património da Humanida<strong>de</strong> daRegião Centro” (fonte: C. M. Alcobaça/IGESPAR)580Fig. 386 Acções <strong>de</strong> valorização propost<strong>as</strong> para o Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaçano âmbito da “Rota dos Mosteiros Portugueses Património da Humanida<strong>de</strong> daRegião Centro” (fonte: C. M. Alcobaça/IGESPAR)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE7.3.4. Carta Europeia dos Mosteiros e Sítios Cistercienses / Rota Europeia d<strong>as</strong>Abadi<strong>as</strong> CisterciensesNo momento <strong>em</strong> que os gran<strong>de</strong>s program<strong>as</strong> <strong>de</strong> intervenção no património <strong>cister</strong>cienseforam sendo <strong>de</strong>ixados <strong>de</strong> parte a nível nacional surge um crescenteinteresse a nível europeu pelos ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong>sta or<strong>de</strong>m <strong>em</strong> Portugal (Esq.110).De facto <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1998 até à actualida<strong>de</strong> o património <strong>cister</strong>ciense portuguêstentou a sua inserção num plano abrangente e transeuropeu.Como foi referido anteriormente, no capítulo 1, <strong>em</strong> 1993 a Carta Europeiados Mosteiros e Sítios Cistercienses é materializada ao ser gerada pelanecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preencher um vazio no âmbito do interesse gerado pelolegado europeu da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister tanto no que respeita ao gran<strong>de</strong> públicocomo historiadores, estudiosos e apaixonados pela arte e arquitectura medievaissobretudo no que respeita ao âmbito <strong>de</strong> Cister.ITINERÁRIOS DE CISTERUNIVERSO CISTERCIENSEPORTUGUÊS1998S. PEDRO E S. PAULO AROUCAS. JOÃO DE TAROUCASTA. MARIA DE AGUIAR581PROGRAMAS IPPAR - IGESPARCONJUNTOS MONÁSTICOSS. MAMEDE DE LORVÃOSTA. MARIA DE ALCOBAÇASTA. MARIA DE ALMOSTERMOSTEIROS PORTUGUESESPATRIMÓNIO DA HUMANIDADESTA. MARIA DE ALCOBAÇA2011Esq. 110 Mosteiros <strong>cister</strong>cienses abrangidos pelos diversos program<strong>as</strong> patrimoniais com início <strong>em</strong> 1998 atravésdo IPPAR até à actualida<strong>de</strong>, ou seja 2011, através do IGESPAR(síntese e esqu<strong>em</strong>a elaborados pelaautora)Refere Léon Pressouyre no Preambulo dos Estatutos da Carta Europeia dosMosteiros e Sítios Cistercienses que estes locais continuam a ser uma lição inscritan<strong>as</strong> paisagens <strong>em</strong> que se inser<strong>em</strong>, nos bosques e n<strong>as</strong> pedr<strong>as</strong>. 68Refere também Andreia Galvão, relativamente aos mosteiros pertencentesà “Rota dos Mosteiros Portugueses Património da Humanida<strong>de</strong>:68 Ver Estatutos da Carta Europeia dos Mosteiros e Sítios Cistercienses, anexo 9.2.3,


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE582“Se outrora a sua edificação obe<strong>de</strong>ceu a critérios <strong>de</strong> territorialida<strong>de</strong>,estratégia e solidarieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a orig<strong>em</strong> d<strong>as</strong> primeir<strong>as</strong> or<strong>de</strong>nsreligios<strong>as</strong> e da consolidação d<strong>as</strong> fronteir<strong>as</strong> da Europa, porque nãopotenciar est<strong>as</strong> moles como ex<strong>em</strong>plos catalisadores da actualização<strong>de</strong>sses valores <strong>em</strong> valores cont<strong>em</strong>porâneos e fundamentaispara à sustentabilida<strong>de</strong> da socieda<strong>de</strong> cont<strong>em</strong>porânea como aeco-pedagogia, a sustentabilida<strong>de</strong>, a cidadania e a cooperaçãocom <strong>as</strong> comunida<strong>de</strong>s/inclusão e o <strong>de</strong>senvolvimento através dacriação e oferta <strong>de</strong> serviços e produtos na perspectiva turísticocultural?”69Como foi referido anteriormente, Portugal já faz parte da Carta Europeia dosMosteiros e Sítios Cistercienses sendo representado pelos Mosteiros <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Alcobaça, Mosteiro <strong>de</strong> São Pedro e São Paulo <strong>de</strong> Arouca, S. Cristóvão<strong>de</strong> Lafões, Santa Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong> e Nossa Senhora da Assunção <strong>de</strong>Tabosa.A Carta Europeia dos Mosteiros e Sítios Cistercienses t<strong>em</strong> o propósito <strong>de</strong>estabelecer uma ligação entre os proprietários, gestores ou animadores dosSítios e Abadi<strong>as</strong> Cistercienses abertos ao gran<strong>de</strong> público e fazer-se representarjunto d<strong>as</strong> colectivida<strong>de</strong>s e administrações locais, regionais, nacionais e internacionaiscomo está patente no artigo 1º dos seus estatutos. 70A Ass<strong>em</strong>bleia-geral <strong>de</strong> 2009, da Carta Europeia dos Mosteiros e Sítios Cisterciensesteve lugar, fora <strong>de</strong> França pela primeira vez, na Abadia <strong>de</strong> Alcobaça,<strong>em</strong> Portugal, no dia 1 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2009 e foram proferid<strong>as</strong> <strong>as</strong> seguintespalavr<strong>as</strong> no antigo Refeitório do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (localon<strong>de</strong> <strong>de</strong>correu a <strong>as</strong>s<strong>em</strong>bleia):“Eis-nos reunidos num dos mais bonitos sítios <strong>de</strong>ixados pela civilização<strong>cister</strong>ciense m<strong>as</strong> também numa d<strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong> mais af<strong>as</strong>tad<strong>as</strong>do berço borgonhês que viu n<strong>as</strong>cer a Or<strong>de</strong>m <strong>cister</strong>ciense. Eis comoisso é simbólico para a nossa Carta, que se quer portadora dosvalores <strong>de</strong> um turismo cultural ex<strong>em</strong>plar, e que se propõe <strong>de</strong>senvolvera sua acção à escala da Europa.É por isso que tenho primeiro a agra<strong>de</strong>cer os nossos hóspe<strong>de</strong>s <strong>de</strong>Alcobaça que organizaram este “Capítulo geral” com uma gran<strong>de</strong>preocupação <strong>de</strong> acolhimento, à altura da reputação do patrimóniomundial que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m com sucesso, fazendo <strong>de</strong> Alcobaçauma referência internacional. Estamos extr<strong>em</strong>amente felizes e orgulhosospor realizar a nossa Ass<strong>em</strong>bleia Geral nos vossos veneráveismuros carregados <strong>de</strong> história.” 7169 GALVÃO, Andreia; Op. cit70 Ver Estatutos da Carta Europeia dos Mosteiros e Sítios Cistercienses, anexo 9.2.3,71 Discurso <strong>de</strong> abertura da Ass<strong>em</strong>bleia-geral <strong>de</strong> 2009, da Carta Europeia dos Mosteiros e Sítios Cistercienses,;texto policopiado integrado no dossier facultado aquando o “Fórum Carta Europeia <strong>de</strong> Abadi<strong>as</strong> e Sítios


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEDestaca-se que recent<strong>em</strong>ente foi criada a APOC – Associação Portuguesa<strong>de</strong> Cister 72 e entre os seus objectivos salientam-se os seguintes: promover,acompanhar e apoiar a restauração, <strong>em</strong> Portugal, da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister;estudar e divulgar a história da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal; promover oestudo e restauro do património cultural português – imóvel, móvel e imaterial– legado pela Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister. 73Deste modo surge um r<strong>as</strong>go <strong>de</strong> esperança face às Arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong> Cistere ao Património <strong>cister</strong>ciense português. Salienta-se ainda, que já no final daredacção <strong>de</strong>sta tese, a 10 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2010, na Abadia <strong>de</strong> l’Escaladieufoi entregue a menção “Rota Cultural do Conselho da Europa” 74 à Rota Europeiad<strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong> Cistercienses.(Fig. 387)583Fig. 387 Menção “Rota Europeia d<strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong> Cistercienses” outorgada pelo Conselho daEuropa (retirado da pagina web http://www.culture-routes.lu acedida no dia 27 <strong>de</strong> Março<strong>de</strong> 2011)O principal objectivo da Rota Europeia d<strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong> Cistercienses é a <strong>de</strong>monstraçãoe comprovação da importância e significado do legado <strong>cister</strong>ciense.Esta Rota apresenta o trabalho <strong>de</strong> uma Or<strong>de</strong>m monástica que foi capaz <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolver o espaço e território europeus aten<strong>de</strong>ndo não só às particularida<strong>de</strong>sregionais <strong>de</strong> cada implantação, <strong>em</strong> cuja nação se inseriam, m<strong>as</strong> tambémpor ter sido capaz <strong>de</strong> criar um r<strong>as</strong>go <strong>de</strong> familiarida<strong>de</strong> n<strong>as</strong> su<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong>e um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento arquitectónico e espacial, seja àCistercienses” que teve lugar no Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça <strong>de</strong> 1 a 3 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2009; Maio2009; s/paginação.72 Cfr. Anexo 9.2.4.73 Cfr. Artigo 2º dos Estatutos da Associação Portuguesa <strong>de</strong> Cister (APOC); texto policopiado; p.174 Apesar <strong>de</strong> datada <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2010


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEpequena escala como os mosteiros, seja à gran<strong>de</strong> escala como <strong>as</strong> granj<strong>as</strong> e ainserção estratégica no território (como foi o c<strong>as</strong>o da consolidação da nacionalida<strong>de</strong>nos primórdios <strong>de</strong> Portugal). O legado Cisterciense constitui-se <strong>de</strong>staforma como marco <strong>de</strong> um património cultural europeu comum. Os paísesincluídos nesta Rota são: Bélgica, Republica Checa, Dinamarca, França, Al<strong>em</strong>anha,Itália, Espanha, Portugal, Suécia e Suíça. 75 (Fig. 388)584Fig. 388 Mapa dos Países incluídos na “Rota Europeia d<strong>as</strong>Abadi<strong>as</strong> Cistercienses” (retirado da pagina webhttp://www.coe.int/t/dg4/cultureheritage/culture/routesacedida no dia 27 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2011)A Rota Europeia d<strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong> Cistercienses está apoiada nos sítios e abadi<strong>as</strong><strong>cister</strong>cienses que estão abertos ao público e que são m<strong>em</strong>bros da CartaEuropeia d<strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong> e Sítios Cistercienses.Enquadrada no programa d<strong>as</strong> Rot<strong>as</strong> Culturais do Conselho da Europa, aRota Europeia d<strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong> Cistercienses, t<strong>em</strong> como cerne primordial o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> vári<strong>as</strong> acções <strong>de</strong> cooperação entre distintos domínios, taiscomo o turismo cultural, que revele a existência <strong>de</strong> vestígios materiais ou imateriais<strong>de</strong> um património comum. Para além do mais, este facto revela umavonta<strong>de</strong>, igualmente comum, na promoção da diversida<strong>de</strong> transeuropeiatanto no eixo este-oeste como no eixo norte-sul. Outro ponto importante é arepresentação <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo europeu <strong>de</strong> “ecologia cultural” no que se refereà or<strong>de</strong>nação dos territórios rurais, isto é, a organização d<strong>as</strong> abadi<strong>as</strong> inserid<strong>as</strong>no território e os seus espaços arquitectónicos, o <strong>de</strong>senvolvimento apoiado75 Cfr. Dossier <strong>de</strong> Presse – R<strong>em</strong>ise <strong>de</strong> la mention “Itinéraire Culturel du Conseil <strong>de</strong> l’Europe” à la Route européenne<strong>de</strong>s abbayes <strong>cister</strong>ciennes; Abbaye <strong>de</strong> l’Escaladieu; 10 déc<strong>em</strong>bre 2010 (acedido online no dia 27<strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2011 <strong>em</strong> http://www.coe.int/t/dg4/cultureheritage/culture/routes/AbbayePress_fr.pdf)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEnos recursos locais, como a hidráulica <strong>cister</strong>ciense ou <strong>as</strong> zon<strong>as</strong> florestais, os jardinse <strong>as</strong> paisagens. Não obstante, são igualmente importantes os encontrosculturais, educativos e científicos. A Abadia <strong>de</strong> l’Escaladieu é a coor<strong>de</strong>nadorada Rota Cultural, <strong>em</strong> ligação com o Conselho da Europa e <strong>as</strong> activida<strong>de</strong>s daCarta Europeia d<strong>as</strong> Abadi<strong>as</strong> e Sítios Cistercienses, para além <strong>de</strong> se encarregarda animação global do programa <strong>de</strong> acções. 767.3.5.Um olhar cont<strong>em</strong>porâneo sobre a intervenção no Património CistercienseDe facto <strong>as</strong> intervenções no Património Cisterciense são mais intervenções <strong>de</strong>restauro do que <strong>de</strong> reabilitação apesar <strong>de</strong>, por algum t<strong>em</strong>po como foi referido,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1998 (ano da celebração dos 900 anos <strong>de</strong> Cister) até ao início doséculo XXI, muito se ter i<strong>de</strong>alizado e especulado no âmbito da reabilitação(Arouca, Alcobaça, S. João <strong>de</strong> Tarouca, Salzed<strong>as</strong>).No entanto não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar o trabalho e <strong>as</strong> intervençõeslevad<strong>as</strong> a cabo no Património Cisterciense, ainda que por vezes, tenham sidointervenções mo<strong>de</strong>st<strong>as</strong> e tímid<strong>as</strong> <strong>em</strong> relação ao que se <strong>de</strong>sejara para algum<strong>as</strong>d<strong>as</strong> Arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong> Cister.Para além dos trabalhos referidos levados a cabo pelos antigos IPPAR eDGEMN também os Municípios investiram na reabilitação d<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong>Cister. Tal é o c<strong>as</strong>o da Câmara Municipal <strong>de</strong> Lisboa com o Mosteiro <strong>de</strong> NossaSenhora da Nazaré do Mocambo. Este é também, e talvez, mais conhecidopor Convento d<strong>as</strong> Bernard<strong>as</strong> e localiza-se no Bairro da Madragoa. Foi fundado<strong>em</strong> 1653 sobre pré-existenci<strong>as</strong>, totalmente <strong>de</strong>struído durante o gran<strong>de</strong> terramoto<strong>de</strong> Lisboa <strong>em</strong> 1755 e reconstruído posteriormente por Giacomo Azzolini.O projecto <strong>de</strong> reabilitação foi elaborado pelo grupo <strong>de</strong> Arquitectos ARCHI III.Actualmente coexist<strong>em</strong> neste espaço monástico o museu da Marioneta, 34habitações, zon<strong>as</strong> <strong>de</strong> comércio e um restaurante.O legado <strong>cister</strong>ciense também foi tido <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração pela CâmaraMunicipal <strong>de</strong> Coimbra que se interessou pela revitalização e reconversão paisagísticada Cerca do Colégio <strong>de</strong> S. Bernardo integrada na malha urbana dacida<strong>de</strong> e protegido pela ZEP da Rua da Sofia (Fig. 389).Esta reconversão está a cargo do Arquitecto João Men<strong>de</strong>s Ribeiro, autordo Centro <strong>de</strong> Artes Visuais <strong>de</strong> Coimbra também com ligação ao interior daCerca.58576 Cfr. Newsletter nr. 48; European Charter of Cistercian Abbeys and Sites; February 2011; pp. 3-4 / Dossier <strong>de</strong>Presse – R<strong>em</strong>ise <strong>de</strong> la mention “Itinéraire Culturel du Conseil <strong>de</strong> l’Europe” à la Route européenne <strong>de</strong>s abbayes<strong>cister</strong>ciennes; Abbaye <strong>de</strong> l’Escaladieu; 10 déc<strong>em</strong>bre 2010 (acedido online no dia 27 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong>2011 <strong>em</strong> http://www.coe.int/t/dg4/cultureheritage/culture/routes/AbbayePress_fr.pdf)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE586Fig. 389 Rua da Sofia e Colégio do Espírito Santo (Delimitação do Colégio do Espírito Santo elaboradapela autora sobre el<strong>em</strong>ento gráfico constante do ca<strong>de</strong>rno elaborado para o Concurso Público<strong>de</strong> I<strong>de</strong>i<strong>as</strong> para a Reabilitação da Rua da Sofia <strong>em</strong> 2003)As reabilitações cont<strong>em</strong>porâne<strong>as</strong> são por vezes executad<strong>as</strong> por alguns particularese instituições privad<strong>as</strong> como é o c<strong>as</strong>o do Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong>Lafões (Fig. 390 e 391).Fig. 390 Aspectos da reabilitação do Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (fotografi<strong>as</strong> da autora)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEFig. 391 Aspectos da reabilitação do Mosteiro <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões (fotografi<strong>as</strong> da autora)Outr<strong>as</strong> vezes <strong>as</strong> reabilitações cont<strong>em</strong>porâne<strong>as</strong> têm o apoio do Estado e estãoafect<strong>as</strong> a entida<strong>de</strong>s privad<strong>as</strong> como é o c<strong>as</strong>o d<strong>as</strong> “Pousad<strong>as</strong> <strong>de</strong> Portugal”, d<strong>as</strong>quais faz parte integrante o Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro com projecto<strong>de</strong> reabilitação dos Arquitectos Eduardo Souto <strong>de</strong> Moura e Humberto Vieira(Fig. 392).O projecto <strong>de</strong> reabilitação foi elaborado <strong>de</strong> modo a construir uma pousadacom <strong>as</strong> pedr<strong>as</strong> do antigo mosteiro, o que implicou uma nova estrutura,com novos significados e funções. Souto <strong>de</strong> Moura parte da ruína <strong>cister</strong>ciensepara a Pousada <strong>as</strong>sumindo fazer um edifício “novo”, cont<strong>em</strong>porâneo afirmando:“Não estou a restaurar um mosteiro. Estou a construir uma pousadacom <strong>as</strong> pedr<strong>as</strong> <strong>de</strong> um Mosteiro”. 77587Fig. 392 Aspectos da reabilitação do Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro (fotografi<strong>as</strong> da autora)Existe um certo paralelismo entre algum<strong>as</strong> d<strong>as</strong> utilizações, p<strong>as</strong>sad<strong>as</strong> e presentes,dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses. A morfologia do mosteiro adapta-se com relativ<strong>as</strong>implicida<strong>de</strong> à sua utilização como hotel pois uma cozinha po<strong>de</strong> ser transformadanuma cozinha, <strong>as</strong> cel<strong>as</strong> dos monges <strong>em</strong> quartos <strong>de</strong> hóspe<strong>de</strong>s, a77 Ver MOURA, Eduardo Souto <strong>de</strong>; Reconversão do mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro numa pousada in“Santa Maria do Bouro”; White & Blue, lda.; Lisboa; 2001; p.44


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEbiblioteca <strong>em</strong> auditório, o refeitório <strong>em</strong> restaurante, o claustro <strong>em</strong> pátio centrale <strong>as</strong>sim sucessivamente. Esta foi a adaptação que alguns dos mosteirostiveram, <strong>em</strong> Portugal, é o c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro, Santa Maria <strong>de</strong>Aguiar, S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões.Outros foram adaptados a hospitais como é o Mosteiro do Lorvão, hojehospital psiquiátrico (Fig. 393), o Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora do Desterro, hojeum dos hospitais públicos <strong>de</strong> Lisboa, m<strong>as</strong> também Santa Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong> aoestar ligado ao Hospital pediátrico <strong>de</strong> Coimbra.Fig. 393 Aspectos da reabilitação do Mosteiro <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> do Lorvão e adaptação a hospital psiquiátrico(fotografi<strong>as</strong> arquivo DGEMN/IRHU)588Outros ainda foram adaptados a escol<strong>as</strong> ou instituições do Estado como é oc<strong>as</strong>o <strong>de</strong> S. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong> que é uma escola para <strong>as</strong> filh<strong>as</strong> dos militares eestá afecto ao Ministério da Defesa, S. Bento <strong>de</strong> Cástris que albergou até hápouco t<strong>em</strong>po uma instituição pública <strong>de</strong> apoio às crianç<strong>as</strong> <strong>de</strong>sprotegid<strong>as</strong>,para on<strong>de</strong> se planeia a <strong>de</strong>slocação do Museu Nacional da Música ou o c<strong>as</strong>omuito particular do Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Conceição <strong>de</strong> Portalegre,hoje mais conhecido por Mosteiro <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre que é a EscolaPrática do Agrupamento <strong>de</strong> Instrução da GNR <strong>de</strong> Portalegre. (Fig. 394)Fig. 394 Mosteiro <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre/Agrupamento <strong>de</strong> Instrução da GNR <strong>de</strong>Portalegre ainda com a respectiva cerca monástica (fotografia da autora)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEFig. 395 Mosteiro <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre: Sala do Capítulo com vitralapresentando <strong>as</strong> arm<strong>as</strong> da GNR (fotografia da autora)A manutenção e conservação <strong>de</strong>ste mosteiro são executad<strong>as</strong> diariamentepelos próprios soldados. Neste ex<strong>em</strong>plo conservam-se certos paralelismos coma sua utilização inicial, isto é, a igreja continua a ser igreja/espaço expositivo(Fig. 397), os dormitórios <strong>de</strong>ram lugar às camarat<strong>as</strong> dos soldados e a Sala doCapítulo é a sala <strong>de</strong> reuniões dos oficiais (Fig. 395).589Fig. 396 Mosteiro <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre: Sala do Capítulo(fotografia da autora)No dia <strong>em</strong> que foi feita a visita no âmbito <strong>de</strong>sta tese estava tudo preparadopara uma reunião <strong>de</strong> preparação para o crisma dos soldados (Fig. 396). É


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEcurioso se pensarmos que, mesmo com uma ocupação tão diferente da <strong>cister</strong>ciense,a espiritualida<strong>de</strong> e Deus não estão muito distantes <strong>de</strong>sta sala.ab590cFig. 397 Mosteiro <strong>de</strong> S. Bernardo <strong>de</strong> Portalegre (fotografi<strong>as</strong> da autora)A par d<strong>as</strong> Bernard<strong>as</strong> do Mocambo <strong>de</strong> Lisboa e do Colégio do Espírito Santo<strong>em</strong> Coimbra também o Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Conceição <strong>de</strong> Tavira(Fig. 398) vai ter uso resi<strong>de</strong>ncial. O Mosteiro <strong>de</strong> Tavira após a extinção d<strong>as</strong>Or<strong>de</strong>ns foi utilizado como fábrica <strong>de</strong> moag<strong>em</strong> e m<strong>as</strong>s<strong>as</strong> a vapor sendo seragora transformado <strong>em</strong> condomínio fechado também pelo traço do arquitectoEduardo Souto <strong>de</strong> Moura (Fig. 399).Fig. 398 Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Conceição <strong>de</strong> Tavira (fotografia Virtual Earth)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEEste novo espaço resi<strong>de</strong>ncial inserido no antigo Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora daConceição <strong>de</strong> Tavira ou “Convento d<strong>as</strong> Bernard<strong>as</strong>” como é mais conhecido,albergará 78 habitações que variam entre a tipologia T0 e T5. É um condomíniofechado <strong>de</strong> luxo que se aproveita d<strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong> pré-existentes para umnovo uso completamente distinto dos seus antece<strong>de</strong>ntes monásticos ou industriais.ab591cdFig. 399 Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Conceição <strong>de</strong> Tavira: (a, b) antes da intervenção do arqto.Eduardo Souto <strong>de</strong> Moura; (c,d) simulação 3D da reabilitação dos exteriores (a,b: arquivo DGEMN /IHRU; c,d: arquivo LT Design)O Mosteiro <strong>de</strong> Nossa senhora da Conceição <strong>de</strong> Tavira foi vendido <strong>em</strong> h<strong>as</strong>tapública após a extinção d<strong>as</strong> Or<strong>de</strong>ns Religios<strong>as</strong> tendo sofrido inúmer<strong>as</strong> alterações,algum<strong>as</strong> violent<strong>as</strong>, aquando a adaptação a Fábrica <strong>de</strong> Moagens eM<strong>as</strong>s<strong>as</strong> a vapor pelo que ficou gran<strong>de</strong>mente <strong>de</strong>scaracterizado e <strong>de</strong>sprovidoda <strong>de</strong>marcação dos espaços monásticos originais. As cel<strong>as</strong> auster<strong>as</strong> <strong>de</strong> outroradão lugar às habitações <strong>de</strong> luxo <strong>de</strong> hoje com o cunho minimalista do ArquitectoEduardo Souto <strong>de</strong> Moura (Fig. 400)Fig. 400 Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Conceição <strong>de</strong> Tavira, simulação 3D da reabilitação: interior<strong>de</strong> habitação-tipo (arquivo LT Design)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEaFig. 401 Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Conceição <strong>de</strong> Tavira (a), Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Seiça (b)(arquivo DGEMN/IHRU)b592Existe um outro Mosteiro cuja utilização teve também fins industriais (Fig. 401): oMosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Seiça. Nele foi instalada uma fábrica <strong>de</strong> <strong>de</strong>sc<strong>as</strong>que<strong>de</strong> arroz e chegou a ter tal importância, como indústria, que teve o privilégio<strong>de</strong> ter uma linha <strong>de</strong> caminho-<strong>de</strong>-ferro com apea<strong>de</strong>iro específico parautilização própria (Fig. 402).Fig. 402 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Seiça e apea<strong>de</strong>iro (arquivo DGEMN/IHRU)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEFig. 403 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Seiça: interior da igreja (arquivo DGEMN/IHRU)É hoje test<strong>em</strong>unho do legado <strong>cister</strong>ciense (Fig. 403) m<strong>as</strong> também é um importanteex<strong>em</strong>plar <strong>de</strong> arqueologia industrial pois ainda se encontra no seu interiora maquinaria <strong>de</strong> <strong>de</strong>sc<strong>as</strong>que <strong>de</strong> arroz (Fig. 404).593Fig. 404 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Seiça: interior com el<strong>em</strong>entosda maquinaria da industria <strong>de</strong> <strong>de</strong>sc<strong>as</strong>que <strong>de</strong> arroz, arqueologiaindustrial (arquivo DGEMN/IHRU)De facto, durante o séc. XX, existiram intervenções no património <strong>cister</strong>ciensequer por parte do IPPAR, quer por parte da DGEMN, particulares ou outr<strong>as</strong>entida<strong>de</strong>s como se po<strong>de</strong> observar no Esq. 111.O mosteiro <strong>de</strong> Alcobaça foi também objecto da reabilitação da Ala Sul,transformada <strong>em</strong> espaço cultural on<strong>de</strong> se realizam exposições t<strong>em</strong>porári<strong>as</strong>. Éa “Ala São Bernardo” cujo projecto <strong>de</strong> reabilitação, da autoria dos ArquitectosGonçalo Byrne e João Pedro Falcão <strong>de</strong> Campos, é <strong>de</strong> carácter minimalista.Deste modo consolidou-se o piso térreo permitindo a criação <strong>de</strong> espaços polivalentese um espaço <strong>de</strong>stinado ao uso paroquial no primeiro piso.


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADED E S I G N A Ç Ã O D O M O S T E I R O V Í N C U L O G È N E R O R E A B I L I T A Ç Ã OE N T I D A D E SS. João <strong>de</strong> TaroucaFiliadoMIPPARC I C L O D E T A R O U C ASanta Maria <strong>de</strong> AguiarS. Tiago <strong>de</strong> SeverSanta Maria <strong>de</strong> FiãesSanta Maria do ErmeloS. Pedro da Águi<strong>as</strong> – o velhoSanta Maria <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>Abadia Velha <strong>de</strong> Salzed<strong>as</strong>FiliadoFiliadoFiliadoFiliadoFiliadoFiliadoFiliadoMMMMMMMDGEMN/IPPAR-DGEMNDGEMNDGEMNDGEMN/IPPAR-S. Cristóvão <strong>de</strong> LafõesFiliadoMPrivadoSanta Maria <strong>de</strong> Maceira DãoFiliadoMDGEMN/PrivadoSanta Maria <strong>de</strong> AlcobaçaFundadoMDGEMN/IPPARS. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong> – o novoFiliadoMDGEMN/PrivadoSanta Maria do BouroFiliadoMDGEMN/IPPAR/PrivSanta Maria d<strong>as</strong> Júni<strong>as</strong>,FiliadoMDGEMNSanta Maria <strong>de</strong> SeiçaFiliadoMDGEMNSanta Maria <strong>de</strong> TomarãesFundadoM-594C I C L O D E A L C O B A Ç ASanta Maria da EstrelaS. Paulo <strong>de</strong> AlmazivaColégio do Espírito SantoS. Bento <strong>de</strong> CástrisSanta Maria <strong>de</strong> AlmosterS. Dinis <strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>S. Bento <strong>de</strong> Xabreg<strong>as</strong>N. Srª da Conceição <strong>de</strong> PortalegreFundadoFiliadoFundadoFiliadoFundadoFundadoFundadoFundadoMMMFFFMFIgreja (Populares)DGEMNDGEMNDGEMNDGEMN/IPPARDGEMN/IPPARPrivadoDGEMNSanta Maria <strong>de</strong> CósFundadoFDGEMN/IPPARN. Srª do DesterroFundadoMDGEMN/PrivadoN. Srª da Pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> TaviraFundadoFPrivadoN. Srª da Nazaré do MocamboFundadoFCML/EGEACN. Srª da Assunção <strong>de</strong> TabosaFundadoFDGEMN/PrivadoN. Srª da Nazaré <strong>de</strong> SetúbalFiliadoFIPSSão João <strong>de</strong> Vale Ma<strong>de</strong>iroFundadoF-R E A L F E M IN I N OSão Mame<strong>de</strong> <strong>de</strong> LorvãoSanta Maria <strong>de</strong> Cel<strong>as</strong>São Pedro e São Paulo <strong>de</strong> AroucaS. Salvador d<strong>as</strong> Bouç<strong>as</strong>FiliadoFiliadoFiliadoFiliadoFFFFDGEMN/IPPARDGEMN/IPPARDGEMN/IPPAR-DGEMN – Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais I IPPAR – Instituto Português do Património ArquitectónicoI CML – Câmara Municipal <strong>de</strong> Lisboa I EGEAC – Empresa <strong>de</strong> Gestão <strong>de</strong> Equipamentos <strong>de</strong> Animação Cultural I IPS – InstitutoPolitécnico <strong>de</strong> SetúbalEsq. 111 Esqu<strong>em</strong>a relativo às entida<strong>de</strong>s envolvid<strong>as</strong> na reabilitação dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses portugueses(esqu<strong>em</strong>a e síntese da autora)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEDe facto os trabalhos realizados a cargo dos Arquitectos Gonçalo Byrne eJoão Pedro Falcão <strong>de</strong> Campos abrangeram uma v<strong>as</strong>ta perspectiva multidisciplinarque agregou distintos saberes na forma <strong>de</strong> uma crítica continua queperscruta “o t<strong>em</strong>po e o espaço <strong>de</strong> um património tão rico quanto vulnerável”78 como refere Byrne:“A verda<strong>de</strong> é que este ‘modus operandi’ se t<strong>em</strong> revelado tão lentoquanto rico e provavelmente nele resi<strong>de</strong>, pelo menos <strong>em</strong> parte,não só o manancial <strong>de</strong> ‘conhecimento-revelação’ que t<strong>em</strong> brotadodo chão, como o sucessivo reajuste da própria atitu<strong>de</strong> projectualque procura ‘pisar leve’, <strong>em</strong>bora com clareza, trabalhandomateriais preexistentes e novos com a convicção <strong>de</strong> que se instituicom este processo a sua própria cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>, na longuíssimavida <strong>de</strong>ste notável monumento.” 79Como seria <strong>de</strong>sejável para muitos dos mosteiros <strong>cister</strong>cienses <strong>em</strong> territórionacional, <strong>em</strong> Alcobaça, proce<strong>de</strong>u-se à longa e <strong>de</strong>morada tarefa processualque consistiu essencialmente <strong>em</strong>:“Resgatar espaços da Abadia que estavam consignados a usosque dificultavam a apreensão da sua globalida<strong>de</strong>;Consolidar estrutur<strong>as</strong> e el<strong>em</strong>entos que o simples <strong>de</strong>correr do t<strong>em</strong>povai fragilizando;Revelar <strong>as</strong>pectos ocultados pelo t<strong>em</strong>po que confirmam ou introduz<strong>em</strong>outr<strong>as</strong> versões interpretativ<strong>as</strong> na história do monumento;Reacondicionar espaços edificados ou exteriores que permitamoutr<strong>as</strong> leitur<strong>as</strong> ou mesmo usos que se integr<strong>em</strong> numa perspectivaestratégica <strong>de</strong> valorizar conjuntos.” 80Ao longo do t<strong>em</strong>po muit<strong>as</strong> foram <strong>as</strong> intervenções no Património Cisterciensecomo se po<strong>de</strong> comprovar pelo esqu<strong>em</strong>a anterior.Porém, Paulo Pereira 81 refere a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma valorização através<strong>de</strong>:1.Trabalhos <strong>de</strong> conservação e restauro <strong>de</strong> âmbito limitado <strong>de</strong> modoa <strong>as</strong>segurar a sobrevivência do b<strong>em</strong> e a permitir a sua fruição.2.Promoção do inventário do património móvel e integrado <strong>em</strong> cadamonumento.3.Promoção do restauro do Património móvel e integrado.59578 BYRNE, Gonçalo; Santa Maria <strong>de</strong> Alcobça: o regresso ao presente in “Estudos/Património”; nº 2; Publicaçãos<strong>em</strong>estral do IPPAR – Instituto Português do Património Arquitectónico; 2002; p.5679 I<strong>de</strong>m; p.5680 Ibi<strong>de</strong>m; p.5681 PEREIRA, Paulo; Cister como Património in “Tarouca e Cister: espaço, espírito e po<strong>de</strong>r – act<strong>as</strong>”; Ed. CâmaraMunicipal <strong>de</strong> Tarouca; Tarouca 2004; pp. 407-408


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE5964.Trabalhos <strong>de</strong> conservação e <strong>de</strong> restauro <strong>de</strong> modo a <strong>as</strong>segurar umaamplificação da fruição (sinalética, regime <strong>de</strong> abertura e guardaria).5.Trabalhos <strong>de</strong> requalificação que impliqu<strong>em</strong> a instalação <strong>de</strong> estrutur<strong>as</strong>que valoriz<strong>em</strong> o edificado patrimonial (a nível <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entoscomo iluminação exterior ou simples equipamentos <strong>de</strong> apoio).6.Musealização <strong>de</strong> espólios ou acervos patrimoniais.7.Instalação <strong>de</strong> centros <strong>de</strong> acolhimento.8.Instalação <strong>de</strong> centros interpretativos e centros explicativos (<strong>em</strong>zon<strong>as</strong> reabilitad<strong>as</strong> ou construíd<strong>as</strong> <strong>de</strong> raiz <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que permitam areconstrução da história do lugar)9.Instalação <strong>de</strong> observatórios <strong>de</strong> paisag<strong>em</strong>.10.Circuitos pedonais e <strong>de</strong> trekking (inclusão d<strong>as</strong> cerc<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong>)11.Recuperação d<strong>as</strong> cerc<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong> através <strong>de</strong> projectos <strong>de</strong> arquitecturapaisagista.12.Restauro, conservação e valorização através <strong>de</strong> uma perspectivaglobal que abarque os el<strong>em</strong>entos referidos nos pontos anteriores.Est<strong>as</strong> Arquitectur<strong>as</strong> adquiriram estatuto <strong>de</strong> marcos <strong>de</strong> uma nação <strong>em</strong>ergentee do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma cultura, sobretudo enquanto sist<strong>em</strong>a interligadoe coeso que se rege por um mesmo conjunto <strong>de</strong> valores e i<strong>de</strong>ais. Na realida<strong>de</strong>,do conjunto <strong>de</strong>st<strong>as</strong> Arquitectur<strong>as</strong>, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> faz<strong>em</strong> parte integrante osresultados que se t<strong>em</strong> obtido através d<strong>as</strong> su<strong>as</strong> reabilitações, reutilizações ealteração <strong>de</strong> significados e significânci<strong>as</strong>. A relação d<strong>as</strong> Arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong> Cistercom o futuro, isto é com o presente, encontra-se profundamente vinculadaà questão <strong>de</strong> como reabilitar, ao tipo <strong>de</strong> acções que exist<strong>em</strong> neste âmbito, àsestratégi<strong>as</strong> a utilizar, aos métodos e instrumentos aplicados.Em 1998 escreveu-se a Carta <strong>de</strong> Alcobaça, fruto <strong>de</strong> um congresso internacionalque ocorreu <strong>em</strong> Alcobaça do qual resultou um conjunto <strong>de</strong> conclusõescuj<strong>as</strong> <strong>de</strong>terminações se tentam impl<strong>em</strong>entar s<strong>em</strong>pre que possível. Salientam-setrês pontos:“3. O reconhecimento da singularida<strong>de</strong> do património da Or<strong>de</strong>m<strong>de</strong> Cister <strong>de</strong>signadamente pelo modo como esta se relacionoucom o espaço, ocupando-o, regrando-o, criando-o ou recrian-


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEdo-o e, b<strong>em</strong> <strong>as</strong>sim, explorando-o e <strong>de</strong>senvolvendo-o, no campomaterial e simbólico;4. O reconhecimento da especificida<strong>de</strong> da herança da Or<strong>de</strong>m<strong>de</strong> Cister cristalizada nos vestígios, test<strong>em</strong>unhos, monumentos <strong>em</strong><strong>em</strong>óri<strong>as</strong> residuais e activ<strong>as</strong>, express<strong>as</strong> ainda hoje nos particularismosd<strong>as</strong> vivênci<strong>as</strong> dos territórios outrora <strong>cister</strong>cienses;6. O reconhecimento do património da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister comopólo catalisador da regeneração d<strong>as</strong> respectiv<strong>as</strong> envolventesurban<strong>as</strong> e d<strong>as</strong> componentes paisagístic<strong>as</strong> e ambientais comaquele relacionad<strong>as</strong>;” 82Relativamente ao legado <strong>cister</strong>ciense e seu resgate, enquadrado num<strong>as</strong>ocieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação, refere Paulo Pereira:“Na procura da excepção, portanto se situaria a nossa possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> resgate, <strong>de</strong> resgate da matéria <strong>de</strong> reconhecimento da beleza<strong>de</strong> restauro <strong>de</strong> uma axiologia <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> valores estáveise positivos. Estaríamos ou estar<strong>em</strong>os já perante a socieda<strong>de</strong> da salvaguarda(…). Uma socieda<strong>de</strong> da conservação m<strong>as</strong> não <strong>de</strong> conservadores,<strong>em</strong> que o projecto da nossa cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong> p<strong>as</strong>sarápela manutenção e não pela construção. Pelo restauro e nãopela renovação. Pelo reconhecimento <strong>de</strong>sse conjunto <strong>de</strong> cois<strong>as</strong> aque chamamos património cultural e que, providos <strong>de</strong> sentido simbólico,precisamente, iluminam o nosso caminho.” 83De facto uma visão cont<strong>em</strong>porânea do património <strong>de</strong>verá <strong>de</strong> fazer face aosnovos paradigm<strong>as</strong> <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> cida<strong>de</strong>s europei<strong>as</strong>, b<strong>as</strong>ead<strong>as</strong> nadupla qualificação, da vida urbana e dos respectivos estatutos i<strong>de</strong>ntitários,culturais e criativos. Como refere Andreia Galvão:“Se o século XX colocou o patamar do património na sua dimensãoeconómica e tecnológica, o século XXI aponta a sua dimensãosocial como um dos <strong>as</strong>pectos fulcrais para o seu entendimento,como b<strong>em</strong> o reflecte a Convenção <strong>de</strong> Faro sobre o valor do patrimóniocultural na socieda<strong>de</strong> cont<strong>em</strong>porânea. Desta forma o patrimónioadquire a sua real dimensão social e p<strong>as</strong>sará a ser entendidonecessariamente como parte <strong>de</strong> uma política integral e fazendoparte activa do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> comunida<strong>de</strong>s.” 8459782 Alíne<strong>as</strong> nº 3, 4 e 6 da carta <strong>de</strong> Alcobaça constante na sua integralida<strong>de</strong> no anexo 9.2.2., pp. 1595-1596<strong>de</strong>sta tese.83 PEREIRA, Paulo; Op. Cit; p.41284 GALVÃO, Andreia; Op.cit


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE7.3.INTEGRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO NA CIDADE CONTEMPORANEA598El patrimonio monástico <strong>de</strong>be ser entendido no sólo como el<strong>em</strong>ento participanteen el diseño <strong>de</strong> la ciudad sino también como polo revitalizador y participanteen su <strong>de</strong>sarrollo.Es posible encontrarse, en este tipo <strong>de</strong> patrimonio arquitectónico, poruna parte, el cruce <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos, valores e i<strong>de</strong>ales tanto a nivel espiritual,como histórico o incluso cultural. Por otra parte, gana gran importancia el planeamientoy su interacción como parte significativa y contribuyente para eldicho <strong>de</strong>sarrollo.La edificación monástica <strong>de</strong>berá ser consi<strong>de</strong>rada no sólo como parte integrantey <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> un entorno urbano sino también como el<strong>em</strong>ento<strong>de</strong> construcción y <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nación <strong>de</strong>l territorio. No se <strong>de</strong>be olvidar la vital importancia,tanto t<strong>em</strong>poral como espacial, que tuvieron l<strong>as</strong> ór<strong>de</strong>nes monástic<strong>as</strong>en el <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong>l tejido urbano <strong>de</strong> una ciudad que a su vez se encuentraincluida en un país.Debe tenerse en cuenta que la transformación y <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong>l territorioha hecho posible que implantaciones aislad<strong>as</strong> hayan sido gradualmente absorbid<strong>as</strong>por la expansión <strong>de</strong>l tejido urbano, como es el c<strong>as</strong>o <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio<strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong> Sta Maria <strong>de</strong> Alcobaça y <strong>de</strong> la ciudad (Fig. 406) don<strong>de</strong> éstese encuentra (sobre todo <strong>de</strong>spués <strong>de</strong> la extinción <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Ór<strong>de</strong>nes religios<strong>as</strong> en1834) o hayan sido incluid<strong>as</strong> en el propio tejido urbano como es el c<strong>as</strong>o <strong>de</strong>lConvento <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Bernard<strong>as</strong> do Mocambo, en Madragoa, Lisboa, cuya fundaciónfue posterior (Fig. 405). Estos serán los dos ej<strong>em</strong>plos, en que nos vamos ab<strong>as</strong>ar, en relación a la integración y al <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong>l patrimonio monástico enciuda<strong>de</strong>s cont<strong>em</strong>poráne<strong>as</strong>.aFig. 405 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> N. Senhora da Nazaré do Mocambo, en la actualidad “Convento d<strong>as</strong> Bernard<strong>as</strong>”(fotografía <strong>de</strong> la autora)b


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEFig. 406 Ciudad <strong>de</strong> Alcobaça con la integración <strong>de</strong>l terrero y Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (fotografia<strong>de</strong> la autora)Aunque los <strong>cister</strong>cienses pertenecían a una Or<strong>de</strong>n que exigía soledad y aislamiento,instalándose lejos <strong>de</strong>l contexto urbano, con el transcurrir <strong>de</strong>l ti<strong>em</strong>poalgun<strong>as</strong> ciuda<strong>de</strong>s absorbieron estos fragmentos <strong>de</strong> planeamiento a micro escalaconvirtiéndose en parte integrante <strong>de</strong> otro organismo, la macro escala,integrando, interactuando y constituyendo parte <strong>de</strong>l tejido urbano <strong>de</strong> la ciudadcont<strong>em</strong>poránea.Al referirnos a la importancia <strong>de</strong> la rehabilitación <strong>de</strong>l patrimonio monásticono nos po<strong>de</strong>mos olvidar <strong>de</strong> que cada c<strong>as</strong>o es un c<strong>as</strong>o distinto y que sussingularida<strong>de</strong>s específic<strong>as</strong> tienen si<strong>em</strong>pre cabida. Un conjunto monástico queesté integrado en un contexto urbano o simpl<strong>em</strong>ente en su periferia ha sidosi<strong>em</strong>pre un el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> influencia o transformación pues pue<strong>de</strong> ser entendidocomo un polo agregador o <strong>de</strong> renovación <strong>de</strong>l tejido urbano (l<strong>as</strong> Bernard<strong>as</strong>),o por el contrario como una barrera a la expansión <strong>de</strong> la ciudad (Alcobaçah<strong>as</strong>ta la extinción <strong>de</strong> l<strong>as</strong> ór<strong>de</strong>nes religios<strong>as</strong> en 1834) o también como pologenerador <strong>de</strong> nuevos aglomerados (como sucedió con los “Coutos” <strong>de</strong> Alcobaça).No obstante los primeros mon<strong>as</strong>terios <strong>cister</strong>cienses aparecen en Portugal,en el siglo XII, lejos <strong>de</strong>l contexto urbano. Dado que l<strong>as</strong> fundaciones <strong>de</strong> la Or<strong>de</strong>n<strong>de</strong>l Císter, en este País, estuvieron sobre todo en los primeros siglos <strong>de</strong> suhistoria, <strong>as</strong>ociad<strong>as</strong> a objetivos <strong>de</strong> ocupación y gestión <strong>de</strong>l territorio.Incluidos en el ámbito <strong>de</strong> este estudio se encuentran algunos c<strong>as</strong>os significativosque se sitúan <strong>de</strong>ntro o fuera <strong>de</strong>l tejido urbano: el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Alcobaça(siglo XII) actualmente <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> la ciudad, hoy en día consi<strong>de</strong>radomarco histórico y cultural a<strong>de</strong>más <strong>de</strong> Patrimonio Mundial o el Convento <strong>de</strong> l<strong>as</strong>Bernard<strong>as</strong> <strong>de</strong> Mocambo (siglo XVII), en Lisboa, en pleno tejido urbano (inicial-599


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE600mente mon<strong>as</strong>terio <strong>cister</strong>ciense, hoy con usos tan heterogéneos como el <strong>de</strong>Museo <strong>de</strong> la Marioneta, resi<strong>de</strong>nci<strong>as</strong> privad<strong>as</strong> y una pequeña zona comercial).Otros en cambio aislados, lejos <strong>de</strong>l contexto urbano, pero muy próximosa ciuda<strong>de</strong>s con l<strong>as</strong> que interactúan, como por ej<strong>em</strong>plo el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> S.Bento <strong>de</strong> Cástris (siglo XII), en Évora, que jamás se vio absorbido por la expansión<strong>de</strong> la ciudad. H<strong>as</strong>ta poco ti<strong>em</strong>po fue una institución pública (C<strong>as</strong>a Pia <strong>de</strong>Évora) pero ahora está <strong>de</strong>voluto mientr<strong>as</strong> espera que ahí se instale el MuseoNacional <strong>de</strong> la Música.En primer lugar, es conveniente mencionar el hecho <strong>de</strong> que el patrimoniomonástico ha sido concebido según i<strong>de</strong>ales específicos que se traducen enuna realidad material. El mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong>be ser visto como una microciudad,como una ciudad i<strong>de</strong>al, como una ciudad <strong>de</strong> Dios. Por ello, no <strong>de</strong>ben <strong>de</strong>jarse<strong>de</strong> lado l<strong>as</strong> connotaciones simbólic<strong>as</strong>, i<strong>de</strong>ales y espirituales inherentes a estetipo <strong>de</strong> edificios, ni tampoco l<strong>as</strong> transformaciones producid<strong>as</strong> que permitieronla dialéctica entre la pequeña y la gran escala, es <strong>de</strong>cir, <strong>de</strong> la ciudad <strong>de</strong> Diosal mon<strong>as</strong>terio y, actualmente, <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio a la ciudad <strong>de</strong>l Hombre.La ciudad es una coexistencia, construida por innúmer<strong>as</strong> relacionescomplej<strong>as</strong> entre aquello que la constituye tanto materialmente como inmaterialmente,todo aquello que le da vida y le confiere existencia, siendo un<strong>as</strong>veces <strong>de</strong> sumisión y otr<strong>as</strong> <strong>de</strong> reacción. La ciudad posee una estricta relacióncon la sociedad que la habita, ya sea una ciudad en el sentido estricto, o unamicrociudad como es el mon<strong>as</strong>terio. A<strong>de</strong>más éste también pue<strong>de</strong> ser potenciadory generador <strong>de</strong> ciudad.El espacio monástico se pue<strong>de</strong> constituir como un organismo territorialque se apropia <strong>de</strong>l territorio, mo<strong>de</strong>lándolo y alterándolo conforme a sus necesida<strong>de</strong>sy cuyo espacio arquitectónico es edificado según l<strong>as</strong> necesida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>lespíritu y <strong>de</strong>l cuerpo. Tanto en la vertiente física como en la espiritual éste esel lugar construido por los hombres y or<strong>de</strong>nado según la voluntad <strong>de</strong> Dios.El monacato procura una respuesta para algun<strong>as</strong> <strong>de</strong> l<strong>as</strong> más profund<strong>as</strong><strong>as</strong>piraciones <strong>de</strong>l alma humana: la búsqueda <strong>de</strong> la perfección y el <strong>de</strong>seo <strong>de</strong> lacont<strong>em</strong>plación. Para que esto sea posible, es necesario la “fuga mundi” (fuga<strong>de</strong>l mundo) para buscar una unión <strong>de</strong>l espíritu con Dios y el espacio ajustadoes el mon<strong>as</strong>terio dón<strong>de</strong> se vive en comunidad. Duby refiere que fue “Ganandofuerza la creencia <strong>de</strong> que el mundo era nocivo, <strong>de</strong>stinado a pudrirse, y <strong>de</strong>que el ti<strong>em</strong>po era una implacable usura, el mon<strong>as</strong>terio fue entendido como(…) una forma <strong>de</strong> fuga <strong>de</strong>l mundo. Salvar lo que podía ser salvado en el momentoen que todo naufragaba.” 85En el c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> los <strong>cister</strong>cienses la búsqueda <strong>de</strong> Dios era permitida a través<strong>de</strong> la <strong>as</strong>cesis y <strong>de</strong>l total <strong>de</strong>spojamiento, sin cualquier tipo <strong>de</strong> solicitaciones ex-85 DUBY, Georges; São Bernardo e a Arte Cisterciense; col. Sinais; Edições ASA; Fevereiro 1997; p.33


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEtern<strong>as</strong> al alma, buscando también el paraíso perdido. Fraternidad, pobreza,simplicidad, silencio son l<strong>as</strong> palabr<strong>as</strong>-clave <strong>de</strong> la espiritualidad <strong>cister</strong>ciense.Los Cistercienses procuran un regreso al origen tanto <strong>de</strong> la Regla <strong>de</strong> SanBenito, exenta <strong>de</strong> l<strong>as</strong> interpretaciones y <strong>de</strong>svíos <strong>de</strong> los siglos transcurridos, comoa los “Padres <strong>de</strong>l Desierto” que también en su momento buscaron la “fugamundi” y establecieron los principios <strong>de</strong>l monacato para posicionarse en unti<strong>em</strong>po y en un espacio apartado <strong>de</strong>l mundo <strong>de</strong> los hombres, viviendo paraalcanzar a Dios y soñando con un mundo mejor, con el paraíso. Ese paraísoceleste encontrará vari<strong>as</strong> aproximaciones terrestres que toman forma en losmon<strong>as</strong>terios, diminut<strong>as</strong> réplic<strong>as</strong> <strong>de</strong> la inmensa Jerusalén Celeste, el Paraíso enla Tierra y Ciudad <strong>de</strong> Dios. Como refiere Mourão “La comunidad es un espacioproducido por la práctica <strong>de</strong>l lugar y <strong>de</strong> la articulación <strong>de</strong> l<strong>as</strong> diferenci<strong>as</strong> (…).El lugar es el palimpsesto. La comunidad es antes <strong>de</strong> nada un lugar marcado,es <strong>de</strong>cir, la materialización <strong>de</strong> un espacio que señala otro espacio, heterotópico,con el que se comunica. Un lugar institucional, un medio <strong>de</strong> vida, tr<strong>as</strong>cen<strong>de</strong>ntal(…) que la conecta a lo invisible que le es esencial” 86 . El espaciomonástico es <strong>as</strong>í el reflejo <strong>de</strong> un i<strong>de</strong>al, <strong>de</strong> una visión <strong>de</strong>l mundo, <strong>de</strong> un sist<strong>em</strong>a<strong>de</strong> valores que organiza y mo<strong>de</strong>la todo.Un mon<strong>as</strong>terio <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong>be ser consi<strong>de</strong>rado como una ciudad i<strong>de</strong>aly dotado <strong>de</strong> todos los el<strong>em</strong>entos necesarios para su subsistencia. “Si es posible,<strong>de</strong>be construirse el mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> modo que tenga todo lo necesario, estoes, agua, molino, huerta, y que l<strong>as</strong> divers<strong>as</strong> artes se ejerzan <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio,para que los monjes no tengan necesidad <strong>de</strong> andar fuera, porqueesto no conviene en modo alguno a sus alm<strong>as</strong>.” (RSB, Cap.66, 6-7). Así que elmon<strong>as</strong>terio se <strong>as</strong>ume como una ciudad in<strong>de</strong>pendiente. A<strong>de</strong>más <strong>de</strong> toda sucarga simbólica es un lugar funcional don<strong>de</strong> todo tiene su justificación y se sitúaen un lugar planeado pues el mon<strong>as</strong>terio es primordialmente un lugar don<strong>de</strong>habitan los monjes, pero también <strong>de</strong> Dios reflejando la Jerusalén Celeste enla tierra. Para los <strong>cister</strong>cienses “Todos nuestros mon<strong>as</strong>terios se fundarán enhonor <strong>de</strong> la Reina <strong>de</strong>l Cielo y <strong>de</strong> la tierra. Ninguno se edificará en ciuda<strong>de</strong>s,al<strong>de</strong><strong>as</strong> o c<strong>as</strong>tillos. (…) 4 Fuera <strong>de</strong> la puerta <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio no se edificará ningunavivienda, a no ser los establos para los animales.” (Capitula 9; 1-2,4) Severá en los siglos siguientes como este propósito ha sido cambiado o adaptadoa l<strong>as</strong> nuev<strong>as</strong> realida<strong>de</strong>s. Según Pressouyre 87 la Abadía <strong>cister</strong>ciense, inserida<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> su cerca, se presenta como un conjunto coherente y completo, unaobra maestra <strong>de</strong>l dominio <strong>de</strong>l espacio y <strong>de</strong> la organización social.Es <strong>de</strong> resaltar que en Portugal, los mon<strong>as</strong>terios <strong>cister</strong>cienses fueron implantadosa la imagen <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Claraval <strong>de</strong>finiendo <strong>as</strong>í una carac-60186 MOURÃO, José Augusto; A Comunida<strong>de</strong> como prática do lugar e interlocução in “Convers<strong>as</strong> à volta dosConventos”; C<strong>as</strong>a do Sul Editora; 2002; pp.51-5287 PRESSOUYRE, León; Le Rêve Cistercien; col. Découverts Gallimard; nº 95; Ed. Gallimard; Paris; 1998 ; p. 132


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEterística tipológica <strong>de</strong>l lugar. Un ej<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> este tipo <strong>de</strong> implantación es elMon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça (Fig. 407).5010050100100150150100150150100150150150200501000 1 Km100150150150100Fig. 407 Confluencia <strong>de</strong> los ríos Alcoa y Baça (Diseño <strong>de</strong> la autora)602Para la evolución morfológica <strong>de</strong> la ciudad <strong>de</strong> Alcobaça ha sido <strong>de</strong> significativaimportancia el componente geográfico y físico constituido por la topografía,por los ríos Alcoa y Baça (que dan nombre al mon<strong>as</strong>terio y a la ciudady que son el<strong>em</strong>entos vitales en l<strong>as</strong> implantaciones <strong>cister</strong>cienses). (Fig. 408 y 409)Fig. 408 D<strong>em</strong>arcación <strong>de</strong> los ríos Alcoa y Baça en el plano ZEP <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio<strong>de</strong> Alcobaça (Diseño <strong>de</strong> la autora sobre plano <strong>de</strong> la DGMN / IHRU)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADETambién el componente histórico, <strong>de</strong>stacándose la importancia <strong>de</strong>l Rey D.Afonso Henriques en la fundación <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio y el componente social yhumano caracterizados por la presencia <strong>cister</strong>ciense, que durante más <strong>de</strong> 600años transformó este territorio. La existencia <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio <strong>cister</strong>ciense fundado,el 8 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1153, justo antes <strong>de</strong> la muerte <strong>de</strong> San Bernardo, hoy MonumentoNacional y Patrimonio <strong>de</strong> la Humanidad, es un el<strong>em</strong>ento prepon<strong>de</strong>ranteen el <strong>de</strong>sarrollo y crecimiento <strong>de</strong> la ciudad.603Fig. 409 Plan la ciudad <strong>de</strong> Alcobaça con la integración <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa María <strong>de</strong> Alcobaça comoel<strong>em</strong>ento generador <strong>de</strong> espacio y consecuent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> ciudad (Dibujo cedido por uno <strong>de</strong> los autores<strong>de</strong>l proyecto, arqto. João Pedro Falcão <strong>de</strong> Campos)De hecho el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Alcobaça ha sido creado a la imagen y s<strong>em</strong>ejanza<strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Claraval 88 , pero por l<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> <strong>de</strong>l suelo, su plant<strong>as</strong>ufrió una rotación, encontrándose la iglesia al sur y todo el resto al norte. Elmon<strong>as</strong>terio se <strong>as</strong>ume como un organismo urbano que sigue generando condicionespropici<strong>as</strong> para la creación <strong>de</strong> ciudad pues ésta se apropia <strong>de</strong> los espaciosque en otros ti<strong>em</strong>pos pertenecieron al mon<strong>as</strong>terio y que quedaron dis-88 Ver en el capítulo 5, p.299, los planos <strong>de</strong> Claraval y <strong>de</strong> Alcobaça (dibujado por el arquitecto Ernesto Korrodi)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEponibles <strong>de</strong>spués <strong>de</strong> la extinción <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Ór<strong>de</strong>nes monástic<strong>as</strong>, por <strong>de</strong>creto, en1834.Fig. 410 Fotografía aérea <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio y ciudad <strong>de</strong> Alcobaça antes <strong>de</strong> la intervención<strong>de</strong> los arquitectos Gonçalo Byrne y João Pedro Falcão <strong>de</strong> Campos (IgeoE)604Fig. 411 Fotografía aérea <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio y ciudad <strong>de</strong> Alcobaça antes <strong>de</strong> la intervención<strong>de</strong> los arquitectos Gonçalo Byrne y João Pedro Falcão <strong>de</strong> Campos (Virtual Earth)El mon<strong>as</strong>terio evoluciona <strong>de</strong> una situación <strong>de</strong> micro escala, en la que eraequiparado a una microciudad autosuficiente, a una situación <strong>de</strong> macro escalaen la que <strong>de</strong>s<strong>em</strong>peña un papel <strong>de</strong> organismo urbano que se adapta auna nueva situación. El área correspondiente al cercado <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio (inicialmenteterritorio agrícola) y al propio mon<strong>as</strong>terio, ha sido absorbida por laciudad, l<strong>as</strong> construcciones se aproximaron y la propia ciudad ha reclamado


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEpara si este espacio <strong>de</strong> recogimiento que en otros ti<strong>em</strong>pos pertenecía sólo aDios, por eso Alcobaça presenta hoy esta forma (Fig. 410 y 411).El plano <strong>cister</strong>ciense, presente en el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Alcobaça, en eltranscurso <strong>de</strong>l ti<strong>em</strong>po, ha sufrido innumer<strong>as</strong> alteraciones y ampliaciones, nuevosespacios han sido yuxtapuestos al plano i<strong>de</strong>al <strong>cister</strong>ciense.El mon<strong>as</strong>terio sufrió daños graves con el terr<strong>em</strong>oto <strong>de</strong> 1755 y con l<strong>as</strong>trágic<strong>as</strong> inundaciones <strong>de</strong> 1772, el número <strong>de</strong> claustros se ha multiplicado(a<strong>de</strong>más <strong>de</strong>l claustro que lleva el nombre <strong>de</strong>l Rey D. Dinis, surgió el claustro <strong>de</strong>lCar<strong>de</strong>nal, el claustro <strong>de</strong>l Rachadoiro) y nuev<strong>as</strong> al<strong>as</strong> nacieron aumentando ydotando a l<strong>as</strong> nuev<strong>as</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nci<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong> <strong>de</strong> un mayor número <strong>de</strong> celd<strong>as</strong>y permitiendo la creación <strong>de</strong> su grandiosa biblioteca (Fig. 412).605Fig. 412 Fotografía aérea <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio y ciudad <strong>de</strong> Alcobaça(archivo DGEMN / IHRU)A lo largo <strong>de</strong>l ti<strong>em</strong>po el mon<strong>as</strong>terio ha sido visto <strong>de</strong> modos distintos y ha tenidodivers<strong>as</strong> utilizaciones (fue teatro durante c<strong>as</strong>i 100 años, ayuntamiento, cárcel,se<strong>de</strong> <strong>de</strong> un grupo <strong>de</strong>portivo, cuartel militar, <strong>as</strong>ilo, alojó innúmeros comercios,almacenes y resi<strong>de</strong>nci<strong>as</strong>, la continuación <strong>de</strong> esta lista es prácticamente interminable).(Fig. 413 h<strong>as</strong>ta 416)abFig. 413 Refugiados Boers instalados en la Biblioteca <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Alcobaça nel 1901(a); Asilo instaladoen la Biblioteca en 1913 (archivo DGEMN / IHRU)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEFig. 414 Cine-Teatro instalado en el Refectorio <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça(archivo DGEMN / IHRU)606Fig. 415 Cine-Teatro instalado en el Refectorio <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> SantaMaria <strong>de</strong> Alcobaça. Todavía se pue<strong>de</strong> observar l<strong>as</strong> column<strong>as</strong> <strong>de</strong>l refectorio(archivo DGEMN / IHRU)Fig. 416 Refectorio <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça.(fotografía <strong>de</strong> la autora)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEEl Mon<strong>as</strong>terio se encuentra hoy <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>l c<strong>as</strong>co histórico <strong>de</strong> Alcobaça, queen otros ti<strong>em</strong>pos correspondió al centro <strong>de</strong> la ciudad, y en el que se <strong>de</strong>stacabala importancia <strong>de</strong>l “Rossio” sobre todo durante el siglo XIX (Fig. 417 h<strong>as</strong>ta419).En l<strong>as</strong> poblaciones y ciuda<strong>de</strong>s portugues<strong>as</strong> se encuentra con frecuenciauna estructura urbana dón<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> la Edad Media se distribuyen plaz<strong>as</strong> y espaciosabiertos con utilizaciones distint<strong>as</strong> y usos bien <strong>de</strong>finidos.No obstante para l<strong>as</strong> gran<strong>de</strong>s feri<strong>as</strong> o conm<strong>em</strong>oraciones ha sido necesariala creación <strong>de</strong> un espacio público enteramente distinto, o sea, un espaciosuficient<strong>em</strong>ente ancho que pudiera recibir todo el tipo <strong>de</strong> eventos (Fig. 420 -422). A este espacio se ha llamado “Rossio” y se ha convertido en uno <strong>de</strong> losmás característicos r<strong>as</strong>gos <strong>de</strong> la estructura urbana portuguesa.Fig. 417 Perfil 2 <strong>de</strong>l Rossio <strong>de</strong> Alcobaça in Proyecto <strong>de</strong> investigación “Inventário doEspaço Publico <strong>em</strong> Portugal, a Praça” (PI – FA UTL - DGOT)607Fig. 418 Diseño <strong>de</strong>l Rossio <strong>de</strong> Alcobaça in Proyecto <strong>de</strong> investigación “Inventário doEspaço Publico <strong>em</strong> Portugal, a Praça” (PI – FA UTL - DGOT)Fig. 419 Perfil 1 <strong>de</strong>l Rossio <strong>de</strong> Alcobaça in Proyecto <strong>de</strong> investigación “Inventário doEspaço Publico <strong>em</strong> Portugal, a Praça” (PI – FA UTL - DGOT)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADECon el transcurrir <strong>de</strong>l ti<strong>em</strong>po el “Rossio” se ha afirmado como un espaciopúblico multifuncional pero también como un espacio social <strong>de</strong> gran importanciapara la ciudad.Fig. 420 Rossio <strong>de</strong> Alcobaça (archivo DGEMN / IHRU)608En Alcobaça el “Rossio” funcionaba en el espacio térreo anexo al mon<strong>as</strong>terio,<strong>de</strong>lante <strong>de</strong> la fachada <strong>de</strong> la Iglesia <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça.Este era un lugar <strong>de</strong> intercambios, pero también <strong>de</strong> p<strong>as</strong>eo, era el espaciopúblico por excelencia, un espacio <strong>de</strong> la ciudad y para la ciudad(Fig.421).Sin <strong>em</strong>bargo, la expansión <strong>de</strong> la ciudad provocó un <strong>de</strong>splazamiento <strong>de</strong>ésta en relación al c<strong>as</strong>co histórico. A partir <strong>de</strong> este momento el mon<strong>as</strong>terio se<strong>as</strong>ume fundamentalmente como un marco histórico y cultural.Fig. 421 Rossio <strong>de</strong> Alcobaça (archivo DGEMN / IHRU)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEFig. 422 Rossio <strong>de</strong> Alcobaça: ejercicios <strong>de</strong> artillería(archivo DGEMN / IHRU)El mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Alcobaça fue renovado y ampliado h<strong>as</strong>ta el siglo XVI y <strong>de</strong>spuésh<strong>as</strong>ta el XVIII. En un p<strong>as</strong>ado más cercano, el mon<strong>as</strong>terio ha sido objeto<strong>de</strong> la rehabilitación <strong>de</strong>l ala sur, tr<strong>as</strong>formada en espacio cultural, don<strong>de</strong> se realizanexposiciones t<strong>em</strong>porales (Fig. 423).Es el ala “San Bernardo” y cuy<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> rehabilitación, <strong>de</strong> la autoría <strong>de</strong>los arquitectos Gonçalo Byrne y João Pedro Falcão <strong>de</strong> Campos, fueron <strong>de</strong>carácter minimalista, consolidando la planta baja, creando espacios polivalentesy un espacio en el primer piso para utilización parroquial.609Fig. 423 Aspectos <strong>de</strong>l Ala sur <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Alcobaça, el Ala São Bernardo (fotografí<strong>as</strong> <strong>de</strong> la autora)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEEl mon<strong>as</strong>terio <strong>cister</strong>ciense, <strong>de</strong>l que Sta. Maria <strong>de</strong> Alcobaça es ej<strong>em</strong>plo, nacido<strong>de</strong>l cruce <strong>de</strong> un i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> vida monacal, <strong>as</strong>umiéndose como una ciudad i<strong>de</strong>alsegún un plano <strong>de</strong> unidad y simplicidad, vivienda <strong>de</strong> los hombres pero también<strong>de</strong> Dios, da origen a una ciudad, no planeada, formando parte integrante<strong>de</strong> su tejido urbano y <strong>as</strong>umiendo característic<strong>as</strong> <strong>de</strong> otra realidad bien distinta<strong>de</strong> aquella para la que fue planeado. A<strong>de</strong>más la ciudad ha ganado conesta intervención pues esta se ha extendido h<strong>as</strong>ta la propia ciudad (Fig 424h<strong>as</strong>ta 426) y a sus espacios públicos (más allá <strong>de</strong>l Rossio)610Fig. 424 Plan la ciudad <strong>de</strong> Alcobaça con la integración <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio<strong>de</strong> Santa María <strong>de</strong> Alcobaça como el<strong>em</strong>ento generador<strong>de</strong> espacio. Zona <strong>de</strong> espacio público <strong>de</strong> la confluencia <strong>de</strong> los dosríos, el Alcoa y el Baça (marca circular <strong>de</strong> la autora sobre diseñocedido por el arqto. João Pedro Falcão <strong>de</strong> Campos)a b cd e fFig. 425 Confluencia <strong>de</strong> los ríos Alcoa y Baça: espacio público. Central hidráulica (a); espacio público anexo(b); marcación <strong>de</strong> l<strong>as</strong> dos cañad<strong>as</strong> <strong>de</strong> los dos ríos enfatizad<strong>as</strong> por la arquitectura <strong>de</strong> Byrne y Falcão <strong>de</strong> Campos(c); muro <strong>de</strong> soporte con divers<strong>as</strong> salid<strong>as</strong> <strong>de</strong> agu<strong>as</strong> residuales <strong>de</strong>l suelo (fotografi<strong>as</strong> <strong>de</strong> la autora)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEabcdFig. 426 Confluencia <strong>de</strong> los ríos Alcoa y Baça: espacio público. Central hidráulica (a); espacio público anexo(b); marcación <strong>de</strong> l<strong>as</strong> dos cañad<strong>as</strong> <strong>de</strong> los dos ríos enfatizad<strong>as</strong> por la arquitectura <strong>de</strong> Byrne y Falcão <strong>de</strong>Campos (c); muro <strong>de</strong> soporte con divers<strong>as</strong> salid<strong>as</strong> <strong>de</strong> agu<strong>as</strong> residuales <strong>de</strong>l suelo (fotografi<strong>as</strong> <strong>de</strong> la autora)611Sin <strong>em</strong>bargo, el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Alcobaça, jamás <strong>de</strong>jará <strong>de</strong> provocar admiracióny su i<strong>de</strong>al sigue vivo, aún en nuestros di<strong>as</strong>, por la austeridad <strong>de</strong> la blancura<strong>de</strong> sus piedr<strong>as</strong>, por la imponencia <strong>de</strong> su configuración y por la funcionalidad<strong>de</strong> sus espacios que todavía subsisten y que han sido adaptados a la realidadactual, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>peñando otr<strong>as</strong> funciones pero sin <strong>de</strong>jar <strong>de</strong> afirmar sus orígenesc<strong>as</strong>i minimalist<strong>as</strong> (Fig. 427).abFig. 427 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Alcobaça: Ala San Bernardo (a); exterior <strong>de</strong>l transepto <strong>de</strong> la iglesia (b)(fotografi<strong>as</strong> <strong>de</strong> la autora)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEAsí pues un i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> espacio monástico b<strong>as</strong>ado en un plano se pue<strong>de</strong> traduciren una realidad material que confluye hacia una apropiación <strong>de</strong>l espacioi<strong>de</strong>al ganando cuerpo, transformándose y originando, a veces, ciuda<strong>de</strong>s en elsentido estricto <strong>de</strong> la palabra, ciuda<strong>de</strong>s no planead<strong>as</strong>. Quiere <strong>de</strong>cir <strong>de</strong> lo planeadoa lo no planeado, <strong>de</strong> lo regular a lo irregular, <strong>de</strong> lo i<strong>de</strong>al a la realidad(Fig. 428-429).612Fig. 428 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa María <strong>de</strong> Alcobaça (fotografia <strong>de</strong> la autora)Fig. 429 Fuente lateral <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio y nuevo espacio público, producto <strong>de</strong> la recalificación<strong>de</strong> la zona envolvente <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio, para usufructo <strong>de</strong> la población, inauguradaen el 20 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong>l 2005 y financiada por el ayuntamiento, fondos comunitariosy Estado portugués (fotografía <strong>de</strong> la autora)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEFig. 430 Planta topographica da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa, siglo XVIII (archivo IGP con marcación <strong>de</strong> la autora)El Convento <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Bernard<strong>as</strong>, como es más conocido, se encuentra en Lisboa(Fig. 430) y es un c<strong>as</strong>o totalmente distinto <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Alcobaça. Es unafundación b<strong>as</strong>tante posterior a Alcobaça, cinco siglos separan los dos edificios.Pero ambos han sido objeto <strong>de</strong> rehabilitaciones parciales o incluso totalesen los últimos años que han cambiado el modo <strong>de</strong> aprovechar estos espacios.613Fig. 431 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Nossa Senhora da Nazaré do Mocambo (fotografía <strong>de</strong> la autora)El Convento <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Bernard<strong>as</strong> (Fig. 431) también llamado <strong>de</strong> Nossa Senhora daNazaré do Mocambo (el nombre “Convento <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Bernard<strong>as</strong>” se adoptó porquel<strong>as</strong> religios<strong>as</strong> que lo habitaban pertenecían al Or<strong>de</strong>n <strong>de</strong>l Císter <strong>as</strong>í comoSan Bernardo) está en el barrio <strong>de</strong> Madragoa, en Lisboa, en otros ti<strong>em</strong>pos unpoblado <strong>de</strong> pescadores que, a partir <strong>de</strong>l siglo XVI, fue integrado en una vía


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEribereña <strong>de</strong> expansión hacia occi<strong>de</strong>nte. 89 Ésta había sido h<strong>as</strong>ta aquel momentouna zona propensa a la existencia <strong>de</strong> mon<strong>as</strong>terios y conventos extraurbanos(Fig. 432 - 434).Fig. 432 Planta <strong>de</strong> la ciudad <strong>de</strong> Lisboa <strong>de</strong> los finales <strong>de</strong>l siglo XIX(archivo CML con marcación <strong>de</strong> la autora)614Fig. 433 Planta <strong>de</strong> la ciudad <strong>de</strong> Lisboa “levantamento <strong>de</strong>senhado sob a direcção <strong>de</strong> J. A. V. da Silva Pinto”con fecha <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong>l 1909 (archivo CML con marcación <strong>de</strong> la autora)89 GASPAR, J.; Os espaços conventuais e o metabolismo da cida<strong>de</strong> in “Convers<strong>as</strong> à volta dos Conventos”;C<strong>as</strong>a do Sul Editora; 2002; p.


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEFig. 434 Carta Militar 1/25 000 (Lisboa), siglo XX (archivo IGeoE)En ese momento, alre<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> este Convento, se <strong>em</strong>pezó a construir ciudad.De hecho este convento correspon<strong>de</strong> a una fundación mucho más reciente,habiendo sido fundado en 1653, sobre preexistenci<strong>as</strong> (fue inicialmente lugar<strong>de</strong> recogimiento <strong>de</strong> mujeres penitentes y <strong>de</strong>vot<strong>as</strong> siendo <strong>de</strong>spués convertidoen convento) y totalmente <strong>de</strong>struido por el terr<strong>em</strong>oto <strong>de</strong> Lisboa en 1755. Fue<strong>de</strong>spués reconstruido por el arquitecto Giacomo Azzolini (Fig. 435).Después <strong>de</strong> la extinción <strong>de</strong> l<strong>as</strong> ór<strong>de</strong>nes religios<strong>as</strong> por <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 1834, elconvento fue preservado h<strong>as</strong>ta la muerte <strong>de</strong> la última monja. Posteriormentefue vendido a particulares y su principal función fue la enseñanza ya que allífuncionaron los colegios: Académico Lisbonense, Senhora da Conceição y Politécnico<strong>de</strong> Luís Rodrigues.615Fig. 435 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> N. Señora <strong>de</strong> Nazaret <strong>de</strong> Mocambo:entrada (fotografía <strong>de</strong> la autora)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEEn Junio <strong>de</strong> 1924 fue abierta una sala usada como cine y teatro que ocupabala iglesia <strong>de</strong>l antiguo convento (la capilla-mayor fue incluso sustituida por unpalco), se llamaba “Cine-Esperança” (Fig. 436).A<strong>de</strong>más este espacio fue también utilizado por una filarmónica (Fig. 437),posteriormente transformado en una ebanistería y en un almacén <strong>de</strong> mueblesusados.616Fig. 436 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> N. Señora <strong>de</strong> Nazaret <strong>de</strong> Mocambo: todaví<strong>as</strong>e vislumbran los r<strong>as</strong>gos <strong>de</strong>l cine-teatro (monograma conl<strong>as</strong> iníciales C y E <strong>de</strong> Cine Esperanza) con el palco dón<strong>de</strong> estabala capilla-mor (fotografía <strong>de</strong> la autora)Fig. 437 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> N. Señora <strong>de</strong> Nazaret <strong>de</strong> Mocambo: todaví<strong>as</strong>e vislumbran los vestigios / m<strong>em</strong>ori<strong>as</strong> <strong>de</strong> haber sido unespacio se<strong>de</strong> <strong>de</strong> una filarmónica (fotografía <strong>de</strong> la autora)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEEn el edificio monástico residía, en condiciones precari<strong>as</strong> una población significativa.En la planta baja funcionaban tabern<strong>as</strong> y carbonerí<strong>as</strong> (Fig. 436).abFig. 438 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> N. Señora <strong>de</strong> Nazaret <strong>de</strong> Mocambo antes <strong>de</strong> la obra <strong>de</strong> rehabilitación:(a) patio y (b) esgrafitos (archivo DGEMN/IHRU)En 1996 hubo un concurso <strong>de</strong> arquitectura promovido por el ayuntamientocon vist<strong>as</strong> a su rehabilitación, los vencedores fueron ARQUI III. Este proyectocompren<strong>de</strong> la rehabilitación <strong>de</strong>l espacio conventual repartido en 34 resi<strong>de</strong>nci<strong>as</strong>,cuatro tiend<strong>as</strong>, un restaurante, un centro <strong>de</strong> convivencia para la terceraedad, un club social y el Museo <strong>de</strong> la Marioneta, <strong>as</strong>í como una sala polivalenteque correspon<strong>de</strong> a la iglesia y está conectada con el museo. En 1999 se iniciaronl<strong>as</strong> obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> rehabilitación/reconversión <strong>de</strong>l convento (Fig. 439) y seconcluyeron entre 2001 y 2002 (Fig. 440).617Fig. 439 Fotografía aérea N. Señora <strong>de</strong> Nazaret <strong>de</strong> Mocambo durante la obra <strong>de</strong> rehabilitación(archivo IgeoE)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEFig. 440 Fotografía aérea <strong>de</strong>l N. Señora <strong>de</strong> Nazaret <strong>de</strong> Mocambo <strong>de</strong>spués <strong>de</strong> la rehabilitación (VirtualEarth)618De hecho los mon<strong>as</strong>terios y conventos proporcionaron a la ciudad cont<strong>em</strong>poránea,sobre todo a partir <strong>de</strong> los siglos XIX y XX, espacios expectantes onuevos campos <strong>de</strong> experimentación <strong>de</strong> diversos modos y medios que se traducenen vertientes que van <strong>de</strong>s<strong>de</strong> la rehabilitación, la reutilización, h<strong>as</strong>ta larenovación y la reconversión.Son espacios que se adaptan a nuev<strong>as</strong> situaciones, a nuevos usos, ensuma se actualizan al incluir e integrar los valores <strong>de</strong>l presente en su historia(Fig. 441). L<strong>as</strong> transformaciones <strong>de</strong> los edificios patrimoniales y su consecuentea<strong>de</strong>cuación a l<strong>as</strong> necesida<strong>de</strong>s vivenciales cont<strong>em</strong>poráne<strong>as</strong> son hoy una <strong>de</strong>l<strong>as</strong> principales preocupaciones en el ámbito <strong>de</strong> la construcción <strong>de</strong> la ciudadcont<strong>em</strong>poránea.Fig. 441 Aspectos <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> N. Señora <strong>de</strong> Nazaret <strong>de</strong> Mocambo (fotografí<strong>as</strong> <strong>de</strong> la autora)Así que la historia es un instrumento <strong>de</strong> análisis y crítica que permite lectur<strong>as</strong>,<strong>de</strong> los edificios, continuamente renovad<strong>as</strong>. A<strong>de</strong>más <strong>de</strong> la historia que permiteesta transformación <strong>de</strong> modo crítico también la “(…) «socialización» <strong>de</strong>l patrimonioedilicio frente a la territorialización (…) implica a nivel disciplinar, la


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEparticipación <strong>de</strong> cienci<strong>as</strong> como la geografía, la economía, sociología, antropología,etc.” 90La ciudad, es lugar <strong>de</strong> encuentro y reencuentro, en la cual interaccionandistintos intereses y el<strong>em</strong>entos sean económicos, culturales o incluso i<strong>de</strong>alesque permiten, a través <strong>de</strong>l patrimonio arquitectónico subsistente, proporcionara la ciudad cont<strong>em</strong>poránea una respuesta posible y positiva frente a l<strong>as</strong> exigenci<strong>as</strong><strong>de</strong> la época cont<strong>em</strong>poránea sean ést<strong>as</strong> físic<strong>as</strong>, sociales o culturales(Fig. 442).619Fig. 442 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> N. Señora <strong>de</strong> Nazaret <strong>de</strong> Mocambo y sucalle durante l<strong>as</strong> fiest<strong>as</strong> <strong>de</strong> Lisboa(fotografí<strong>as</strong> <strong>de</strong> la autora)Posteriormente a la época <strong>de</strong> gran expansión <strong>de</strong> l<strong>as</strong> ciuda<strong>de</strong>s, en el momentoen que la periferia <strong>em</strong>pieza a alcanzar otra significación, surge el momento <strong>de</strong>reecuacionar, por lo menos en parte <strong>de</strong> ést<strong>as</strong>, su propio <strong>de</strong>senvolvimiento surgiendouna nueva perspectiva, una cultura <strong>de</strong> recuperación y rehabilitación,en suma <strong>de</strong> la transformación <strong>de</strong>l patrimonio edificado existente.90 CASTILLO, J.; La relación patrimonio arquitectónico-territorio: un reto para el historiador <strong>de</strong>l arte in “IAPH,Historia <strong>de</strong>l Arte y Bienes Culturales”; Editorial Comares; Granada 1998; p.29


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE“El trabajo proyectual sobre la arquitectura existente <strong>de</strong>viene <strong>as</strong>í reflexivoy ecléctico, en busca <strong>de</strong> la a<strong>de</strong>cuación a fines concretos,relacionándose con el edificio original <strong>de</strong> una manera profunda<strong>de</strong>s<strong>de</strong> el punto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> la disciplina. El probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> la continuidado discontinuidad figurativa entre lo nuevo y lo viejo pier<strong>de</strong> su interpretaciónmás superficial para convertirse en un diverso instrumentocompositivo.” 91En consecuencia, el enlace entre el viejo y el nuevo se traduce en la “m<strong>em</strong>oria”<strong>de</strong>l nuevo que es en simultaneo un vínculo dialéctico entre el p<strong>as</strong>ado y elfuturo que se materializa en el presente (Fig. 443).“En la oposición <strong>de</strong>clarada entre lo antiguo y lo nuevo, entre conservacióne innovación, resi<strong>de</strong> el carácter mismo <strong>de</strong> la intervención,su constante y renovada condición histórica. El monumento/documentose configura teatro <strong>de</strong> atención analítica e interpretativa;pero al mismo t<strong>em</strong>po lugar <strong>de</strong> nuevo uso, palestra <strong>de</strong> la innovación,<strong>de</strong> l<strong>as</strong> tecnologí<strong>as</strong> más avanzad<strong>as</strong> si se <strong>de</strong>sea, o <strong>de</strong> laconcepción espacial <strong>de</strong> hoy en día.” 92620Fig. 443 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> N. Señora <strong>de</strong> Nazaret <strong>de</strong> Mocambo: vestigios <strong>de</strong>l coro y pintur<strong>as</strong>murales <strong>de</strong> los principios <strong>de</strong>l siglo XX, m<strong>em</strong>ori<strong>as</strong> <strong>de</strong> dos ti<strong>em</strong>pos – el <strong>de</strong> Mon<strong>as</strong>terioy el <strong>de</strong> cine-teatro (fotografí<strong>as</strong> <strong>de</strong> la autora)91 CAPITEL, A.; Metamorfosis <strong>de</strong> monumentos y teorí<strong>as</strong> <strong>de</strong> la restauración; Alianza Editorial, Madrid 1999;p.14692 TORSELLO, B. ; Proyecto, conservación, innovación in “Loggia”; nº 8; 1996 ; pp.14-16


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEa b cFig. 444 Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> N. Señora <strong>de</strong> Nazaret <strong>de</strong> Mocambo que actualmente alberga el Museo <strong>de</strong> la Marioneta:zona <strong>de</strong> exposición (a); tienda <strong>de</strong>l museo (b); cartel <strong>de</strong> anuncio <strong>de</strong> apertura <strong>de</strong> los nuevos espacios <strong>de</strong>lmuseo (c)(fotografí<strong>as</strong> <strong>de</strong> la autora excepto c – Museo <strong>de</strong> la Marioneta / EGEAC)Según el artículo 7º <strong>de</strong> la Carta europea <strong>de</strong>l patrimonio arquitectónico “Laconservación integrada se lleva a cabo mediante la aplicación <strong>de</strong> técnic<strong>as</strong>a<strong>de</strong>cuad<strong>as</strong> <strong>de</strong> restauración y con la elección correcta <strong>de</strong> l<strong>as</strong> funciones apropiad<strong>as</strong>.(…) <strong>de</strong>be ser una <strong>de</strong> l<strong>as</strong> primer<strong>as</strong> consi<strong>de</strong>raciones a tener en cuentaen todo proyecto regional y urbano.” También es referido por C<strong>as</strong>tillo que:“(…) el <strong>as</strong>pecto <strong>de</strong>finidor <strong>de</strong> la protección <strong>de</strong>l patrimonio arquitectónicoen la actualidad es la consi<strong>de</strong>ración <strong>de</strong> éste como unaunidad o conjunto <strong>de</strong> bienes inmuebles perfectamente integrados yvinculados con el organismo urbano don<strong>de</strong> participan y, <strong>as</strong>í mismo,con la totalidad <strong>de</strong>l territorio (con la multitud <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos que locomponen) que le circunda. Es esta consi<strong>de</strong>ración la que sustentala utilización <strong>de</strong> los instrumentos rectores <strong>de</strong>l <strong>de</strong>sarrollo, evolución omodificación <strong>de</strong> un <strong>de</strong>terminado ámbito espacial, fundamentalmenteel planeamiento urbano y territorial, como el mecanismomás a<strong>de</strong>cuado para llevar a cabo la acción sobre el patrimonioinmueble.” 93Refiere Andreia Galvão que la herencia, los testimonios y los recursos patrimoniales<strong>em</strong>bl<strong>em</strong>áticos <strong>de</strong> la i<strong>de</strong>ntidad <strong>de</strong> l<strong>as</strong> ciuda<strong>de</strong>s, <strong>as</strong>í como <strong>de</strong> l<strong>as</strong> comunida<strong>de</strong>sy regiones son cada vez más un t<strong>em</strong>ario <strong>de</strong> clara opción para unagestión que <strong>as</strong>enté en un <strong>de</strong>sarrollo sostenible. A<strong>de</strong>más el conocimiento y lautilización <strong>de</strong>l patrimonio son, en la actualidad, el<strong>em</strong>entos indispensables par<strong>as</strong>u salvaguardia, sostenibilidad y valoración <strong>as</strong>í como factores <strong>de</strong> progreso enl<strong>as</strong> más distint<strong>as</strong> vertientes <strong>de</strong>l <strong>de</strong>sarrollo subrayándose en particular la inter-62193 CASTILLO, J.; Op. cit; p.28


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia entre la cultura y la cualificación <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> la comunidad. 94(Fig. 444)El patrimonio monástico representa <strong>as</strong>imismo un medio y una alternativa<strong>de</strong> <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> l<strong>as</strong> ciuda<strong>de</strong>s cont<strong>em</strong>poráne<strong>as</strong> y consecuent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>l territorio(Fig. 445). En conclusión un pensamiento <strong>de</strong> Lacroix:“(…) el patrimonio no pue<strong>de</strong> olvidar que su verda<strong>de</strong>ra finalidad esel <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> la persona. Para <strong>de</strong>s<strong>em</strong>peñar eficazmente este papel,es importante que dicho patrimonio no sea museografiado,congelado. Tan sólo, podrá cumplir su vocación intelectual, afectiva,espiritual, si se acerca al público, si se familiariza y se vuelve losuficient<strong>em</strong>ente atrayente.” 95y recordando el artículo 9º <strong>de</strong> la Carta europea <strong>de</strong>l patrimonio arquitectónico:“Cada generación tiene sólo una vida para interesarse en este patrimonio y esresponsable <strong>de</strong> transmitirlo a l<strong>as</strong> generaciones futur<strong>as</strong>.” y como refiere Augé“Apen<strong>as</strong> ten<strong>em</strong>os ti<strong>em</strong>po <strong>de</strong> envejecer un poco que ya nuestro p<strong>as</strong>ado sevuelve historia (…)” 96 .622Fig. 445 M<strong>em</strong>oria <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio en la Toponimia <strong>de</strong> la ciudad (Fotografía <strong>de</strong> la autora)94 GALVÃO, Andreia; Re<strong>de</strong>s, rot<strong>as</strong> e parceri<strong>as</strong> estruturantes… o c<strong>as</strong>o da rota dos mosteiros portugueses patrimónioda humanida<strong>de</strong>; texto policopiado integrado en el dosier facultado a cuando el “Fórum CartaEuropeia <strong>de</strong> Abadi<strong>as</strong> e Sítios Cistercienses” que tuvo lugar en el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça<strong>de</strong>l 1 h<strong>as</strong>ta el 3 <strong>de</strong> Mayo <strong>de</strong>l 2009; Mayo 2009; s/paginación.95 LACROIX, Michel; O Princípio <strong>de</strong> Noé ou a Ética da Salvaguarda; Editora Piaget; Lisboa; 1999; p.18896 AUGÉ, Marc ; Não-Lugares. Introdução a uma antropologia da sobr<strong>em</strong>o<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>; Bertrand Editora; VendaNova; 1998; p. 34


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE7.4.REABILITAÇÃO CONTEMPORANEA: DO MINIMUM AO MAXIMUMOs Mosteiros <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça e <strong>de</strong> santa Maria do Bouro, alvo <strong>de</strong>obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> reabilitação no séc. XXI são ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> intervenções minimalist<strong>as</strong>no seguimento do espírito e da estética da Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister do séc. XII(Fig.446). Refere Gerard García-Ventosa:“En la evolución <strong>de</strong> la arquitectura se repiten cíclicamente momentos<strong>de</strong> crisis que conllevan una revisión <strong>de</strong> los planteamientosarquitectónicos que la suportan y que <strong>de</strong>s<strong>em</strong>bocan normalmenteen el retorno a la sobriedad, el rechazo a la ornamentación y unregreso a la búsqueda <strong>de</strong> la esencia.” 97No entanto, existe uma ténue linha que <strong>de</strong>limita a intervenção minimalista daintervenção maximalista.Como refere Josep Maria Montaner: “La misma esencia <strong>de</strong>l minimalismoes contradictoria. La voluntad <strong>de</strong> conseguir lo máximo con el mínimo <strong>de</strong> mediosformales constituye, en realidad, una posición maximalista.” 98623Fig. 446 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça: Ala S. Bernardo (fotografi<strong>as</strong> da autora)97 SAVI, Vittorio e Josep Montaner; Less is more. Mimalismo en arquitectura y otr<strong>as</strong> artes; Colegio <strong>de</strong> Arquitectos<strong>de</strong> Cataluña y ACTAR; 1996; p.898 SAVI, Vittorio e Josep Montaner; Op. cit; p.108


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEDeste modo, Alcobaça, <strong>de</strong>ntro do espírito minimalista é alvo <strong>de</strong> umaintervenção igualmente minimalista (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a preocupação com a luz até àpormenorização construtiva e linguag<strong>em</strong> arquitectónica utilizada).Tratou-se <strong>de</strong> reabilitar transformando o mínimo possível e realçando o<strong>de</strong>talhe no seguimento <strong>de</strong> uma arquitectura cheia <strong>de</strong> espiritualida<strong>de</strong> eexpoente máximo do minimalismo <strong>cister</strong>ciense do séc. XII (Fig. 447 e 448).624Fig. 447 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça: fotografia da 1ª meta<strong>de</strong> do século XXdaquela que é actualmente <strong>de</strong>signada por Ala S. Bernardo (fotografia DGEMN/IHRU)Fig. 448 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça: fotografia da 1ª meta<strong>de</strong> do século XXdaquela que é actualmente <strong>de</strong>signada por Ala S. Bernardo com sobreposição <strong>de</strong>foto da mesma ala na actualida<strong>de</strong> (fotografia da autora sobre fotografia daDGEMN/IHRU)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEQuanto ao Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro, refere o arquitecto EduardoSouto <strong>de</strong> Moura, autor da sua reabilitação juntamente com o arquitectoHumberto Vieira, que:“La intención <strong>de</strong> este proyecto es adaptar, o mejor utilizar la piedranatural disponible para construir una obra <strong>de</strong> nueva planta. Es unedificio nuevo en el que intervienen vari<strong>as</strong> voces y funciones (algun<strong>as</strong>ya registrad<strong>as</strong>, otr<strong>as</strong> esperando ser construid<strong>as</strong>), pero no es lareconstrucción <strong>de</strong>l edificio en su forma original.En este proyecto son más importantes l<strong>as</strong> ruin<strong>as</strong> que el ‘convento’;ést<strong>as</strong> están al <strong>de</strong>scubierto, se pue<strong>de</strong>n manipular, igual que lo fue eledificio durante la historia.” 99 (Fig. 449)625Fig. 449 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro: <strong>de</strong>pois da intervenção (fotografia da autora)“La finalidad <strong>de</strong> esta postura no es la <strong>de</strong> expresar o representar unc<strong>as</strong>o excepcional que justifique la elaboración <strong>de</strong> un manifestó, sinocumplir con un precepto <strong>de</strong> la arquitectura que a lo largo <strong>de</strong>lti<strong>em</strong>po viene manteniéndose más o menos inalterable. En el proceso<strong>de</strong> diseño, se persiguió una condición <strong>de</strong> luci<strong>de</strong>z que mediaraentre la forma y el programa. Ante dos caminos posibles a seguir,optamos por rechazar la consolidación pura y simple <strong>de</strong> l<strong>as</strong> ruin<strong>as</strong>en beneficio <strong>de</strong> la cont<strong>em</strong>plación, y preferimos introducir materia-99 MOURA, Eduardo Souto <strong>de</strong>; Reforma <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro en Parador Nacional in“Revista Internacional <strong>de</strong> Arquitectura 2G – Eduardo Souto <strong>de</strong> Moura, obra reciente”; n. 5; Barcelona 1998;p.52


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEles, usos, form<strong>as</strong> y funciones nuev<strong>as</strong> entre ‘les choses’ tal como dijoLe Corbusier. El ‘pintoresquismo es cuestión <strong>de</strong>l <strong>de</strong>stino, no un ingrediente<strong>de</strong>l proyecto o <strong>de</strong>l programa.” 100626Fig. 450 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro: claustros (fotografi<strong>as</strong> da autora)100 MOURA, Eduardo Souto <strong>de</strong>; Op. Cit; p.52


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEA intervenção no Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro é inserida no espírito minimalistado séc. XX e XXI, que caracteriza muit<strong>as</strong> da obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> Souto <strong>de</strong> Moura.No entanto esta intervenção é, apesar <strong>de</strong> tudo, reveladora <strong>de</strong> uma abordag<strong>em</strong>maximalista pois com <strong>as</strong> pedr<strong>as</strong> <strong>de</strong> um mosteiro, como refere o arquitecto,executou-se obra nova chegando ao ponto <strong>de</strong> replicar parcialmenteos claustros com estrutur<strong>as</strong> <strong>de</strong> betão bujardado e envelhecido com algunsmétodos pouco ortodoxos (Fig. 450) para que a integração fosse perfeita porisso afirmar-se que esta intervenção é caracterizada por um minimalismo“maximalista”.627Fig. 451 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro: <strong>de</strong>pois da intervenção (fotografia da autora)Refere ainda Jacques Lucan que :“(…) la reconversión <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio no persigue recobrar un estadooriginario que, por no haber existido jamás, nunca se perdió; la reconversiónes el inicio <strong>de</strong> un episodio más <strong>de</strong> un prolongado historialarquitectónico. Un examen precipitado induciría a pensar quel<strong>as</strong> intervenciones que Souto <strong>de</strong> Moura lleva a cabo se circunscribena aquellos arreglos imprescindibles para el funcionamiento <strong>de</strong>un hotel que se acomoda en una antigua edificación que no requieretrabajos <strong>de</strong> entidad. Sin <strong>em</strong>bargo, un examen más atento<strong>de</strong>scubre sutiles variaciones, cambios c<strong>as</strong>i secretos, que ponen enevi<strong>de</strong>ncia por un lado la transformación habida en los edificios preexistenteso la reconstrucción <strong>de</strong> l<strong>as</strong> partes ruinos<strong>as</strong>, mientr<strong>as</strong> que


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEpor otro, <strong>de</strong>svelan la adopción <strong>de</strong> soluciones uniformes para cadauno <strong>de</strong> los principales el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> la arquitectura.” 101 (Fig. 451)Fig. 452 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro: <strong>de</strong>pois da intervenção (fotografia da autora)628Salienta José Manuel Fernan<strong>de</strong>s que naquela que é agora a Pousada <strong>de</strong> SantaMaria do Bouro “(…)foi <strong>de</strong>liberada a manutenção da expressão poética doconjunto como imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> ‘ruína’ – a cobertura s<strong>em</strong> telha, com terra; o claustrocomo arcada escultórica – <strong>as</strong>sumindo-se o objecto como ‘conjunto <strong>de</strong>materiais’ a tratar e a interpretar, não já como edifício unitário a restaurar.” 102(Fig. 452 e 453)Fig. 453 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro: <strong>de</strong>pois da intervenção (fotografia da autora)101 LUCAN, Jaques; La tr<strong>as</strong>mutación <strong>de</strong> la materia in “Revista Internacional <strong>de</strong> Arquitectura 2G – EduardoSouto <strong>de</strong> Moura, obra reciente”; n. 5; Barcelona 1998; p.10102 FERNANDES, José Manuel; Pousad<strong>as</strong> <strong>de</strong> Portugal: obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> raiz <strong>em</strong> Monumentos in “Caminhos do Património”;Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais; 1999


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEPara reforçar ainda mais esta noção saliente-se que muitos dos el<strong>em</strong>entoscomponentes do mosteiro, como é o c<strong>as</strong>o d<strong>as</strong> magnífic<strong>as</strong> port<strong>as</strong> <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iramaciça trabalhad<strong>as</strong>, foram retirad<strong>as</strong> do seu local (antiga Sala do Capítulo) e<strong>de</strong>stituíd<strong>as</strong> da sua função primordial <strong>de</strong> “porta”, que permite a transição entredois locais, para p<strong>as</strong>sar<strong>em</strong> a ser objectos artísticos (ainda que inseridos no seucontexto) p<strong>as</strong>saram a ser obr<strong>as</strong> <strong>de</strong> arte revelador<strong>as</strong> <strong>de</strong> um património <strong>de</strong>t<strong>em</strong>pos idos tal qual uma obra <strong>de</strong> “ready-ma<strong>de</strong>” se trat<strong>as</strong>se (Fig. 454). Note-seque a “porta” encontra-se colocada ao lado <strong>de</strong> uma d<strong>as</strong> p<strong>as</strong>sagens (mantendouma certa afinida<strong>de</strong> com o facto <strong>de</strong> servir <strong>de</strong> p<strong>as</strong>sag<strong>em</strong> para outroespaço) da ala do restaurante da Pousada estando uma d<strong>as</strong> folh<strong>as</strong> colocada<strong>em</strong> sentido invertido (Fig. 455 e 456).629abFig. 454 (a) Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro: folha 1 da antiga porta da Sala do Capítuloactualmente no interior da Pousada apresentada como obra <strong>de</strong> arte e colocada napare<strong>de</strong> <strong>em</strong> posição invertida (fotografia da autora); (b) “A fonte” <strong>de</strong> Marcel Duchamp,1917 (fotografia <strong>de</strong> A. Stieglitz)De certo modo recorda um pouco a “fonte” <strong>de</strong> Marcel Duchamp quando olhamospara a “porta” <strong>de</strong>ste mosteiro <strong>cister</strong>ciense ou mesmo para o lavabo(Fig. 457) colocado à entrada do restaurante (antiga cozinha).Por um lado é louvável, a preservação <strong>de</strong>stes el<strong>em</strong>entos como partessignificativ<strong>as</strong> e integrantes <strong>de</strong>ste local, agora el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque pelo seuvalor patrimonial e elevados a obra <strong>de</strong> arte, seja entendido na acessão <strong>de</strong>“Objet trouvé” seja na acessão <strong>de</strong> “ready-ma<strong>de</strong>” patrimonial.


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE630Fig. 455 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro: porta da Sala do Capítulo constituídapor du<strong>as</strong> folh<strong>as</strong> – agora no interior da Pousada apresentada como obra<strong>de</strong> arte – <strong>em</strong> fotografia da 1ª meta<strong>de</strong> do séc. XX (fotografia DGEMN/IHRU)Fig. 456 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro: folha 2 da antiga porta da Sala doCapítulo actualmente no interior da Pousada apresentada como obra <strong>de</strong> arte(fotografia da autora)


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEFig. 457 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro: lavabona entrada do restaurante (fotografia da autora)631De facto como refere José Aguiar:“Da predominante e excessiva (re)fusão velho-novo – fundamente--se o novo <strong>de</strong>senho no contr<strong>as</strong>te ou na analogia para com a pre -existência, e este é, <strong>de</strong> longe, o processo mais corrente entre nós –po<strong>de</strong> resultar algo que no futuro po<strong>de</strong>rá até constituir-se como umnovo monumento; o resultado <strong>de</strong> um PROJECTO que construiu como – ou no – já construído, e que a crítica exalta e, <strong>de</strong>pois, a históriada arquitectura irá estabelecer como relevante – ou não - enquantoprojecto <strong>de</strong> arte dando-lhe (ou não) o estatuto <strong>de</strong> uma nova(outra) ‘obra-<strong>de</strong>-arte’ (e penso no Bouro como ex<strong>em</strong>plo) No entanto,como prática – e disse-o muit<strong>as</strong> vezes Brandi -, estes processos eestes projectos não pertenc<strong>em</strong> ao campo estrito do RESTAURO,consi<strong>de</strong>rando-os inadmissíveis numa ‘boa’ praxis da CONSERVA-ÇÃO <strong>de</strong> património cultural.” 103 (Fig. 458 e 459)103 AGUIAR, José; Após Veneza: do restauro estilístico para o restauro crítico in “100 Anos <strong>de</strong> Património:M<strong>em</strong>ória e I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Portugal 1910-2010”; Instituto <strong>de</strong> Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico,I.P.; Lisboa 2010; p. 232


7. CISTER: PATRIMÓNIO, REABILITAÇÃO E CONTEMPORANEIDADEFig. 458 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça: Ala S.Bernardo (fotografia da autora)632Fig. 459 Mosteiro <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro (fotografiada autora)


CONCLUSIONES8.633Fig. VIII Mosteiro <strong>de</strong> S. Pedro d<strong>as</strong> Águi<strong>as</strong>, o velho(<strong>de</strong>senho <strong>de</strong> Mestre Jorge Braga da Costa cedido pelo autor)


634CONCLUSIONES8.


8. CONCLUSIONES8.CONCLUSIONESDespués <strong>de</strong> una investigación dificultada, por variad<strong>as</strong> situaciones yocurrenci<strong>as</strong>, se llega ahora a l<strong>as</strong> conclusiones finales <strong>de</strong> un trabajo arduo perogratificante. Efectivamente, toda la labor fue dificultada luego <strong>de</strong>s<strong>de</strong> el iniciopor:1. el trámite procesual necesario a la obtención <strong>de</strong> información;2. la inexistencia <strong>de</strong> dibujos y planos completos <strong>de</strong> los edificiosmonásticos <strong>cister</strong>cienses portugueses;3. la necesidad <strong>de</strong> hacer, o rehacer, varios planos <strong>de</strong> implantacióncon b<strong>as</strong>e en los planos 1:25.000 <strong>de</strong>l IGeoE para la comprensión <strong>de</strong>la inserción en el territorio <strong>de</strong> los edificios <strong>cister</strong>cienses;4. la creación <strong>de</strong> una b<strong>as</strong>e <strong>de</strong> datos, tanto en Acess como utilizandolos Sist<strong>em</strong><strong>as</strong> <strong>de</strong> Información Geográfica, para la producción <strong>de</strong> losmap<strong>as</strong> t<strong>em</strong>áticos;5. la distancia entre los mon<strong>as</strong>terios y l<strong>as</strong> accesibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> algun<strong>as</strong>ubicaciones;6. el <strong>de</strong>sanimo por veces provocado por el estado <strong>de</strong>l patrimonio<strong>cister</strong>ciense portugués y la absoluta imposibilidad en socorrerlo;7. l<strong>as</strong> dificulta<strong>de</strong>s personales que implica hacer una tesis, por vecescon prejuicio para la familia y amigos, otr<strong>as</strong> con el apoyo <strong>de</strong> estospero con l<strong>as</strong> adversida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> la propia condición humana.Una vez con la información compilada y con los datos reunidos fue necesariotrabajarlos y encontrar una forma <strong>de</strong> presentarlos.Consecuent<strong>em</strong>ente ha sido necesaria la investigación <strong>de</strong> losantece<strong>de</strong>ntes, el origen y la estructura <strong>de</strong>l propio Císter portugués.Se entien<strong>de</strong> <strong>as</strong>í la importancia que los Padres <strong>de</strong>l Desierto han tenido en el<strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong>l pensamiento <strong>cister</strong>ciense. También fue necesaria la comprensión<strong>de</strong>l monacato benedictino, sea por l<strong>as</strong> reform<strong>as</strong> <strong>de</strong>sarrollad<strong>as</strong> (Cluny y Císter),sea por la necesidad <strong>de</strong> oposición, reformista <strong>de</strong>l Císter a Cluny. A<strong>de</strong>más por lamisma necesidad <strong>de</strong> oposición ha n<strong>as</strong>cido el Císter como reforma <strong>de</strong>l Or<strong>de</strong>nBenedictino, esto es, por la necesidad <strong>de</strong> volver a algo más simples y original,para volver a la fe y a la origen <strong>de</strong> la Regla <strong>de</strong> San Benito con la importancia<strong>de</strong> la simplicidad y espiritualidad <strong>de</strong> los Padres <strong>de</strong>l Deserto 1 .Después <strong>de</strong> establecer un puente entre los orígenes <strong>de</strong>l monacato y elgénisis <strong>de</strong>l Císter fue necesaria la comprensión, no solo <strong>de</strong> sus orígenes, <strong>as</strong>ícomo <strong>de</strong> su fundación. Es necesario subrayar la importancia <strong>de</strong> la figura <strong>de</strong>Roberto <strong>de</strong> Molesme, fundador <strong>de</strong>l Or<strong>de</strong>n <strong>de</strong>l Císter en 1098, <strong>as</strong>í como toda la6351 Cfr. Volumen I; capitulo 1


8. CONCLUSIONES636epopeya <strong>de</strong> la construcción <strong>de</strong> una reforma y <strong>de</strong> un mon<strong>as</strong>terio que llevan elmismo nombre.Todavía, en relación al <strong>de</strong>sarrollo <strong>cister</strong>ciense, ha sido importante <strong>de</strong>stacarlos tres impulsores <strong>de</strong>l Císter, los aba<strong>de</strong>s Roberto (el primer abad), Alberico (conél llegó la consolidación <strong>de</strong> la Or<strong>de</strong>n) y Esteban (el legislador <strong>de</strong> la Or<strong>de</strong>nCisterciense por excelencia) para que se pueda compren<strong>de</strong>r el papel que SanBernardo tuvo en la divulgación, en el <strong>de</strong>sarrollo y en la afirmación <strong>de</strong> la Or<strong>de</strong>n<strong>de</strong>l Císter. Fue necesario compren<strong>de</strong>r que a pesar <strong>de</strong>l importante papel<strong>de</strong>s<strong>em</strong>peñado por San Bernardo (y a<strong>de</strong>más <strong>de</strong> él ser uno <strong>de</strong> los más conocidos<strong>cister</strong>cienses) antes <strong>de</strong> su llegada el Císter ya era el Císter, esto es, ya existía uncorpus legislativo y espiritual <strong>cister</strong>ciense previo. De San Bernardo interesaretener que ha sido él el motor <strong>de</strong>l <strong>de</strong>sarrollo y <strong>de</strong> la expansión <strong>de</strong>l Císter portoda la Europa. 2Para que se comprenda la arquitectura <strong>cister</strong>ciense fue forzosocompren<strong>de</strong>r el Císter como un todo, esto es, su b<strong>as</strong>e legislativa, los documentosprimitivos y la Regla <strong>de</strong> San Benito. A pesar <strong>de</strong> nada se haber escrito comonormativa arquitectónica <strong>cister</strong>ciense, se verifica, por afinidad entre los <strong>de</strong>másmon<strong>as</strong>terios <strong>cister</strong>cienses, un cierto “aire <strong>de</strong> familia”, una homogeneidad que esresultante <strong>de</strong> la unanimidad en relación a la Regla <strong>de</strong> San Benito (la mássignificativa documentación y legislación en que se b<strong>as</strong>a la Or<strong>de</strong>n <strong>de</strong>l Císter sonla Regla <strong>de</strong> San Benito y la Carta <strong>de</strong> Caridad).Los fundamentos <strong>de</strong> la espiritualidad y vida <strong>cister</strong>ciense, con b<strong>as</strong>e en estanormativa, son como se ha verificado: la fi<strong>de</strong>lidad, la pobreza (autonomía), launiformidad <strong>de</strong> principios y <strong>de</strong> práctica <strong>de</strong> vida, l<strong>as</strong> visitaciones, el capitulogeneral, la in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia no solo económica pero también en relación a lospo<strong>de</strong>res civiles. 3Para la comprensión <strong>de</strong> la arquitectura <strong>cister</strong>ciense también fueimportante la noción <strong>de</strong> la estructura social <strong>de</strong> la Or<strong>de</strong>n y la importancia <strong>de</strong> losConversos en la misma. Debido a esta estructura social existía en el mon<strong>as</strong>terio<strong>cister</strong>ciense una dualidad que se reflexionaba no solo en l<strong>as</strong> vid<strong>as</strong> <strong>de</strong> los monjesy <strong>de</strong> los conversos como también existían reparticiones especific<strong>as</strong> en el propioedificio monástico ya que monjes y conversos hacían sus vid<strong>as</strong> c<strong>as</strong>i sin cruzarse,ocupando distint<strong>as</strong> plaz<strong>as</strong> mismo en los actos comunes (liturgia y capitulo).También los conversus han sido importantes para el Císter por su labor en l<strong>as</strong>granj<strong>as</strong> y por haber permitido la existencia <strong>de</strong> l<strong>as</strong> mism<strong>as</strong> ya que eran lapredominante fuerza laboral en ell<strong>as</strong>.Para una mejor <strong>de</strong>finición <strong>de</strong> la ocupación y utilización <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio<strong>cister</strong>ciense se ha estudiado el ciclo <strong>de</strong> vida en el mon<strong>as</strong>terio, esto es, como era2 Cfr. Volumen I; capitulo 2; pp.64 y siguientes3 Cfr. Volumen I; capitulo 2; pp.83 y siguientes. Cfr. Volumen I; capitulo 2; esqu<strong>em</strong>a 8; p.84


8. CONCLUSIONESocupado el día monástico y cual el porcentaje <strong>de</strong> permanencia en los distintosespacios que hacen parte integrante <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio <strong>cister</strong>ciense. 4Se concluye que el “Ora et Labora” es, en <strong>de</strong>finitiva, el generador <strong>de</strong> lautilización <strong>de</strong> los distintos espacios <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio. Pero un edificio monástico,a<strong>de</strong>más <strong>de</strong> sus habitantes necesita, <strong>de</strong> un suporte teórico y espiritual para quetodo haga sentido.Así fue necesario explorar l<strong>as</strong> constituyentes el<strong>em</strong>entares <strong>de</strong> la Or<strong>de</strong>n <strong>de</strong>lCíster, esto es, a<strong>de</strong>más <strong>de</strong> la uniformidad <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong>l trabajo manual y <strong>de</strong> laoración, es importante retener la <strong>de</strong>voción a María (la “Mater Cistercientium”),la austeridad y pobreza, <strong>as</strong>í como la soledad y sobre todo la Simplicidad. 5Para un entendimiento <strong>de</strong>l Císter en Portugal fue necesario compren<strong>de</strong>r lafigura <strong>de</strong> D. Afonso Henriques como quien permitió la dis<strong>em</strong>inación <strong>de</strong>l Císterpor todo el país ya que era primordial su parte en la consolidación <strong>de</strong> lanacionalidad (1143). Los Cistercienses con el incentivo <strong>de</strong> D. Afonso Henriquesse fueran instalando al largo <strong>de</strong> todo el territorio portugués mientr<strong>as</strong> seconquistaban l<strong>as</strong> tierr<strong>as</strong> a los musulmanes.En conclusión, la ocupación <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong>l territorio portugués present<strong>as</strong>econ una <strong>as</strong>imétrica distribución: más al norte se encuentran el mayor número <strong>de</strong>fundaciones y filiaciones <strong>cister</strong>cienses al p<strong>as</strong>o que est<strong>as</strong> en el sur son másesc<strong>as</strong><strong>as</strong> ya que el territorio se encontraba ocupado por los musulmanes. Sin<strong>em</strong>bargo, esto permitió singularida<strong>de</strong>s en la arquitectura <strong>cister</strong>cienseportuguesa como es el c<strong>as</strong>o <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> San Benito <strong>de</strong> Cástris, cerca <strong>de</strong>Évora, que presenta el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> arquitectura mozárabe, algo francamenteinusual en la arquitectura <strong>de</strong> esta Or<strong>de</strong>n cuya cuña se encuentra en Francia, enCiteaux (Císter). 6En Portugal la afirmación e implantación <strong>de</strong>l Císter se ha consolidado através <strong>de</strong> tres gran<strong>de</strong>s ciclos 7 .En primer lugar existe el a que llamamos Ciclo <strong>de</strong> Tarouca (toma sunombre <strong>de</strong>l primer mon<strong>as</strong>terio <strong>cister</strong>ciense en tierr<strong>as</strong> <strong>de</strong> Portugal) que seencuentra <strong>as</strong>ociado a los principios <strong>de</strong> la nacionalidad y a la región <strong>de</strong> l<strong>as</strong>Beir<strong>as</strong> don<strong>de</strong> se insertaron los primeros mon<strong>as</strong>terios <strong>de</strong>l Císter en Portugal. 8Por otra parte se encuentra el Ciclo <strong>de</strong> Alcobaça (tomando el nombre <strong>de</strong>lmás significativo mon<strong>as</strong>terio <strong>cister</strong>ciense portugués al largo <strong>de</strong> toda la historia<strong>de</strong>l país) que se encuentra <strong>as</strong>ociado a la grandiosidad <strong>de</strong> la Or<strong>de</strong>n y con lavinculación <strong>de</strong> los Cistercienses al territorio portugués consolidándolo yocupándolo con una sabia gestión <strong>de</strong>l territorio (véanse los Coutos <strong>de</strong>6374 Cfr. Volumen I; capitulo 3; p.280 y siguientes / Cfr. Volumen I; capitulo 3; esqu<strong>em</strong>a 45; p.283 / Cfr. Gráficos 21,22 y 23 in Volumen I; capitulo 3; p.2845 Cfr. Volumen I; capitulo 2; pp.96 y siguientes. / Cfr. esqu<strong>em</strong>a 9 in Volumen I; capitulo 2; p.986 Cfr. Volumen I; capitulo 3; pp.103 y siguientes / Cfr. Volumen I; capitulo 2; fig. 34; p.987 Cfr. Volumen I; capitulo 3; pp.113 y siguientes. /Cfr. Esq. 17; Vol. I; cap.3; p.1168 Cfr. Volumen I; capitulo 3; pp.117 y siguientes.


8. CONCLUSIONES638Alcobaça <strong>as</strong>í como todo el <strong>de</strong>sarrollo cultural <strong>de</strong>l país respecto al arte, a laagricultura y al crecimiento <strong>de</strong> poblaciones) y que correspon<strong>de</strong> a una f<strong>as</strong>e másmadura <strong>de</strong>l <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> la Or<strong>de</strong>n en Portugal. 9 Este mon<strong>as</strong>terio fue tambiénse<strong>de</strong> <strong>de</strong> la Congregación Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça, a partir <strong>de</strong> 1567, cuando losCistercienses portugueses se <strong>de</strong>svinculan <strong>de</strong> la obediencia al Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong>Claraval en Francia.Pero hay un tercer ciclo, <strong>de</strong> gran importancia para la comprensión <strong>de</strong>lCíster portugués, que es el Ciclo <strong>de</strong>l Real F<strong>em</strong>enino 10 , o sea, es un ciclo<strong>as</strong>ociado a la versión f<strong>em</strong>enina <strong>de</strong>l Císter en Portugal y que solo ha sido posiblegraci<strong>as</strong> al interese y <strong>de</strong>dicación al Císter <strong>de</strong> los mi<strong>em</strong>bros f<strong>em</strong>eninos <strong>de</strong> la C<strong>as</strong>aReal <strong>de</strong> Portugal.Sin duda la más gran<strong>de</strong> huella ha sido <strong>de</strong>jada por el Ciclo <strong>de</strong> Alcobaça,seguido por el Ciclo <strong>de</strong> Tarouca y por el Ciclo <strong>de</strong>l Real F<strong>em</strong>enino. Pero estahuella territorial tiene que ver con l<strong>as</strong> circunstanci<strong>as</strong> históric<strong>as</strong> <strong>de</strong> la formación<strong>de</strong> este país como h<strong>em</strong>os visto.A<strong>de</strong>más, fue imprescindible percibir que, tal como los tres ciclosesenciales, la Or<strong>de</strong>n <strong>de</strong>l Císter en Portugal posee tres momentos cronológicosesenciales <strong>de</strong> gran importancia para que se perciban también susarquitectur<strong>as</strong>.De esta forma, se registra un primer momento <strong>de</strong> unión con el Císter (1143-1567), en el que l<strong>as</strong> fundaciones y filiaciones <strong>cister</strong>cienses ayudaron a formar yconsolidar Portugal como nación.Después un segundo momento (1567-1834), no menos importante ya quese traduce en la <strong>de</strong>svinculación <strong>de</strong> los Cisterciense portugueses al “Cístermadre”.Es con este acto <strong>de</strong> disociación que n<strong>as</strong>ce, en Portugal, laCongregación Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça cuyo nombre completo era“Congregación <strong>de</strong> Santa María <strong>de</strong> Alcobaça <strong>de</strong> la Or<strong>de</strong>n <strong>de</strong> San Bernardo enlos Reinos <strong>de</strong> Portugal y <strong>de</strong>l Algarve”. Con este gesto, nuev<strong>as</strong> regl<strong>as</strong> ynormativ<strong>as</strong> <strong>de</strong>terminaron l<strong>as</strong> acciones <strong>de</strong> los <strong>cister</strong>cienses portugueses y conell<strong>as</strong> una gran reforma <strong>de</strong> los edificios existentes, su ampliación y/o nuevaconstrucción. 11En <strong>de</strong>finitiva con la Congregación Autónoma <strong>de</strong> Alcobaça, y laautonomía <strong>de</strong>l Císter portugués, muchos mon<strong>as</strong>terios han sido incorporados a lanuevísima Congregación pero, por otra parte, algunos fueron suprimidos(todavía antes <strong>de</strong> la extinción <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Ór<strong>de</strong>nes religios<strong>as</strong>) y otros, fueron a su vez,fundados. De este modo, fue fundamental percibir cuales los mon<strong>as</strong>teriosincorporados, cuales los suprimidos y cuales los fundados ya que este período9 Cfr. Volumen I; capitulo 3; pp.123 y siguientes.10 Cfr. Vol. I; cap. 3; pp.123 y siguientes.11 Cfr. Vol. I; cap. 3; pp.136 y siguientes


8. CONCLUSIONES<strong>de</strong>l Císter portugués carece <strong>de</strong> estudios que permitan una visión global <strong>de</strong>todos los mon<strong>as</strong>terios. 12Es <strong>de</strong> referir, <strong>de</strong> igual forma, una interesante aportación no solo para elestudio <strong>de</strong> este período como también para el estudio <strong>de</strong> los mon<strong>as</strong>terios<strong>cister</strong>cienses portugueses, <strong>as</strong>í como para el estudio histórico en general. En laparte <strong>de</strong> atrás <strong>de</strong> l<strong>as</strong> sill<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Coro-alto <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> San Bernardo <strong>de</strong>Portalegre se ha notado la existencia <strong>de</strong> un largo y completo escrito que se ha<strong>de</strong>cido traer a la luz <strong>de</strong>l siglo XXI.Este escrito no es posible <strong>de</strong> leerse “in sito” por la proximidad <strong>de</strong>l coro conla pared, sea por la falta <strong>de</strong> iluminación, sea por la distancia <strong>de</strong> lectura, y poreso se han tomado much<strong>as</strong> fotografí<strong>as</strong> que se han montado como un mosaicoy que se anexan en esta tesis. 13No pue<strong>de</strong> presumirse <strong>de</strong> que sea una verda<strong>de</strong>ra <strong>de</strong>scubierta, pero se<strong>de</strong>sconoce este registro y por eso es importante la recuperación <strong>de</strong> estam<strong>em</strong>oria, con la transcripción en su versión integral 14 y su inclusión, en esta tesis,en portugués adaptado. 15 Este texto es más que una curiosidad ya que cuentael tr<strong>as</strong>lado <strong>de</strong> l<strong>as</strong> monj<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> San Bernardo <strong>de</strong> Portalegre para el<strong>de</strong> Odivel<strong>as</strong>, <strong>as</strong>í como ofrece fech<strong>as</strong> <strong>de</strong>l regreso <strong>de</strong> l<strong>as</strong> monj<strong>as</strong> a su mon<strong>as</strong>terio<strong>de</strong>spués que la reina D. Maria I <strong>as</strong>cendió al trono y ha or<strong>de</strong>nado que sevolvieran a abrir los mon<strong>as</strong>terios que se habían cerrado 16 antes durante elAbadiado <strong>de</strong>l Comendatario D. Manoel <strong>de</strong> Mendonça. Este testimonio escritoen la ma<strong>de</strong>ra <strong>de</strong>l coro-alto permite percibir l<strong>as</strong> fech<strong>as</strong> <strong>de</strong> la restauración <strong>de</strong>ledificio monástico, cuant<strong>as</strong> person<strong>as</strong> han trabajado en ello, cuánto ti<strong>em</strong>potardó la obra, como fueron recibid<strong>as</strong> l<strong>as</strong> monj<strong>as</strong> en su regreso, por la ciudad <strong>de</strong>Portalegre y sus ciudadanos. 17Sin <strong>em</strong>bargo, es a partir <strong>de</strong>l año1834 que el Císter <strong>em</strong>pieza su rápidaextinción en tierr<strong>as</strong> lus<strong>as</strong> y con la extinción <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Ór<strong>de</strong>nes religios<strong>as</strong><strong>de</strong>saparecieron los Cistercienses <strong>de</strong> Portugal. 18Fue necesario compren<strong>de</strong>r la extinción <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Ór<strong>de</strong>nes religios<strong>as</strong> para quese percibieran dos implicaciones direct<strong>as</strong> en los mon<strong>as</strong>terios Cistercienses: suabandono y su cambio <strong>de</strong> uso.Si por un lado hubo mon<strong>as</strong>terios que se <strong>de</strong>terioraron muchísimo por elabandono, por otro han sido precisamente los cambios <strong>de</strong> uso que los hansalvado <strong>de</strong> la ruina.63912 Cfr. Esq. 24 in vol. I; cap. 3, p. 14013 Cfr. Fig. 463, in vol. III; cap. 9 (anexos); p. 161214 Cfr. Vol. III; cap. 9 (anexos) pp. 1610 – 1612, en forma <strong>de</strong> anexo con transcripción integral15 Cfr. Vol. III; cap. 9 (anexos) pp. 145 – 146, en portugués cont<strong>em</strong>poráneo adaptado por la autora16 Cfr. Esq. 24 in vol. I; cap. 3, p. 14017 Esta será ciertamente una <strong>de</strong> l<strong>as</strong> investigaciones a proseguir <strong>de</strong>spués <strong>de</strong> esta tesis.18 Cfr. Vol. I; cap. 3; p. 143 y siguientes


8. CONCLUSIONESab640cdFig. 460 Ej<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> nuevos usos en antiguos mon<strong>as</strong>terios <strong>cister</strong>ciense portugueses. (a) Pousada <strong>de</strong> SantaMaria do Bouro en el antiguo Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro; (b) Ala San Bernardo – zona <strong>de</strong>exposiciones t<strong>em</strong>porales en el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça; (c) Museo <strong>de</strong> la Marioneta en elantiguo Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Nuestra Señora <strong>de</strong> Nazareth <strong>de</strong> Mocambo; (d) El “Teatro da Cerca <strong>de</strong> São Bernardo”insertado <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> la antiguo muro <strong>de</strong> clausura <strong>de</strong>l Colegio <strong>de</strong> San Bernardo (o Colegio <strong>de</strong>l Espirito Santo)en Coimbra (fotografí<strong>as</strong> <strong>de</strong> la autora).Así que con los nuevos usos en est<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> monástic<strong>as</strong>, nuev<strong>as</strong>soluciones arquitectónic<strong>as</strong> y urbanístic<strong>as</strong> han sido encontrad<strong>as</strong>. 19 Vé<strong>as</strong>e elMon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>l Bouro, o como <strong>de</strong> la ruina <strong>de</strong> un mon<strong>as</strong>terio, elarquitecto Eduardo Souto <strong>de</strong> Moura ha conseguido construir una Posada.Vé<strong>as</strong>e el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> San Bernardo <strong>de</strong> Portalegre que es una escuelapráctica <strong>de</strong> la GNR. Vé<strong>as</strong>e el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Alcobaça con su Rossio 20 . El Rossiose ha transformado en el espacio público por excelencia durante el siglo XIX,mientr<strong>as</strong> antes figuraba como adro <strong>de</strong> la Iglesia monástica. En el siglo XXI,finales <strong>de</strong>l siglo XX, este espacio ha regresado a su origen, como espacio <strong>de</strong>lmon<strong>as</strong>terio, a través <strong>de</strong> la intervención <strong>de</strong> Gonçalo Byrne.De esta forma, l<strong>as</strong> Arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Císter en Portugal han sido testigos <strong>de</strong>la historia <strong>de</strong> una nación y han sobrevivido a inúmeros cambios y agitaciones19 Cfr. vol. I; cap. 7; pp.598 y siguientes20 Cfr. vol. I; cap. 7; pp.608 y siguientes


8. CONCLUSIONESculturales, naturales e incluso históric<strong>as</strong>. Al contrario <strong>de</strong> los monjes y monj<strong>as</strong> queen ellos habitaban y que han <strong>de</strong>saparecido <strong>de</strong> Portugal para no más regresar(a pesar algun<strong>as</strong> tentativ<strong>as</strong> fallad<strong>as</strong> <strong>de</strong> que se habló en el <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> estatesis) est<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> permanecieron y fueran utilizad<strong>as</strong> <strong>de</strong> distintos modos.Algunos <strong>de</strong> estos nuevos usos l<strong>as</strong> han salvado, como es el c<strong>as</strong>o <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio<strong>de</strong> Alcobaça, <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> San Bernardo <strong>de</strong> Portalegre, <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong>S. Bento <strong>de</strong> Cástris.Otros han <strong>de</strong>saparecido físicamente y c<strong>as</strong>i <strong>de</strong> la m<strong>em</strong>oria colectivaportuguesa como son los c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> S. Tiago <strong>de</strong> Sever, S. João <strong>de</strong> Vale Ma<strong>de</strong>iro, S.Salvador d<strong>as</strong> Bouç<strong>as</strong>.Otros han sido fundaciones muy breves como es el c<strong>as</strong>o <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong>Xabreg<strong>as</strong> en Lisboa.Otros a su vez se están arruinando como son los c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> los Mon<strong>as</strong>terios<strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Maceira Dão (por falta <strong>de</strong> capital y program<strong>as</strong> <strong>de</strong>rehabilitación que incluyan los mon<strong>as</strong>terios hoy propiedad privada), SantaMaria d<strong>as</strong> Juni<strong>as</strong> o Santa Maria <strong>de</strong> Seiça (que es hoy una fuerte amenaza puesse está colapsando).Pero ni todo son <strong>de</strong>sgraci<strong>as</strong> y pue<strong>de</strong>n encontrarse mon<strong>as</strong>teriosrehabilitados que se presentan cual fénix renacida <strong>de</strong> l<strong>as</strong> ceniz<strong>as</strong> como es elc<strong>as</strong>o <strong>de</strong>l otrora muchísimo arruinado Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Santa Maria do Bouro queen la actualidad es un edificio <strong>de</strong> cuño cont<strong>em</strong>poráneo y que se ha b<strong>as</strong>ado enl<strong>as</strong> m<strong>em</strong>ori<strong>as</strong> <strong>de</strong> una Or<strong>de</strong>n monástica y en l<strong>as</strong> piedr<strong>as</strong> <strong>de</strong> una ruina<strong>cister</strong>ciense. Para eso Souto <strong>de</strong> Moura ha utilizado un pensamiento muy próximo<strong>de</strong>l <strong>as</strong>cético y simples pensamiento bernardino, <strong>de</strong> apología <strong>de</strong>l mínimo y <strong>de</strong> loaustero, que hoy po<strong>de</strong>mos llamar c<strong>as</strong>i <strong>de</strong> precursor <strong>de</strong>l minimalismo.Un pensamiento similar ha sido adoptado por Gonçalo Byrne y por JoãoPedro Falcão <strong>de</strong> Campos en la rehabilitación <strong>de</strong>l Ala San Bernardo <strong>de</strong>lMon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Alcobaça (Ala Sur). Aquí pue<strong>de</strong> verse <strong>de</strong> nuevo una aplicacióncont<strong>em</strong>poránea <strong>de</strong>l pensamiento <strong>de</strong> san Bernardo y <strong>de</strong> sus argumentosutilizados en la Apología a Guillermo Abad que mucho contribuyó para lacomprensión <strong>de</strong>l pensamiento arquitectónico <strong>cister</strong>ciense pues nada ha sidoescrito en términos <strong>de</strong> normativ<strong>as</strong> arquitectónic<strong>as</strong>. En la Arquitectura<strong>cister</strong>ciense son más l<strong>as</strong> cos<strong>as</strong> que no se pue<strong>de</strong>n hacer que l<strong>as</strong> que se pue<strong>de</strong>n,<strong>as</strong>í podría afirmarse que la reglamentación y normativa sí que existe, pero por lanegativa.Otr<strong>as</strong> rehabilitaciones han sido marcos importantes en la salvaguardia <strong>de</strong>la m<strong>em</strong>oria <strong>cister</strong>ciense en Portugal y en la reutilización <strong>de</strong> estos espacios pornuev<strong>as</strong> utilizaciones. Es ej<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> est<strong>as</strong> rehabilitaciones el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong>Nuestra Señora <strong>de</strong> Nazaréth <strong>de</strong> Mocambo (más conocido como Convento <strong>de</strong>l<strong>as</strong> Bernard<strong>as</strong> en Lisboa) que ha sido villa operaria, cine-teatro, se<strong>de</strong> <strong>de</strong>filarmónica y ahora es el Museo <strong>de</strong> la Marioneta, espacio compartido conhabitaciones, un restaurant. También es ej<strong>em</strong>plo, la recuperación paisajística la641


8. CONCLUSIONES642cerca monástica <strong>de</strong>l Colegio <strong>de</strong> San Bernardo en Coimbra por el Arquitectominimalista João Men<strong>de</strong>s Ribeiro. 21Los arquitectos cont<strong>em</strong>poráneos supieron vislumbrar el espirito <strong>de</strong>l mínimo<strong>de</strong>l siglo XII y aplicarlo en el siglo XXI, vé<strong>as</strong>e la Ala San Bernardo <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio<strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong> Alcobaça y <strong>de</strong> algún modo también el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> SantaMaria do Bouro con intervención <strong>de</strong>l arquitecto Eduardo Souto <strong>de</strong> Moura (quefue galardonado este año con el pr<strong>em</strong>io Pritzker). A<strong>de</strong>más, recient<strong>em</strong>ente h<strong>as</strong>ido dada la noticia <strong>de</strong> que el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong>l Lorvão será objeto <strong>de</strong> unarecalificación general <strong>de</strong> su envolvente que estará a cargo <strong>de</strong>l Arquitecto JoãoMen<strong>de</strong>s Ribeiro. Habrá también un concurso para la recuperación <strong>de</strong> su órgano<strong>de</strong> dos car<strong>as</strong> (hacia la capilla-mor y hacia el coro <strong>de</strong> l<strong>as</strong> monj<strong>as</strong>). 22Así que se comprendió que hay una relación directa entre la simplicidad y<strong>as</strong>cetismo <strong>cister</strong>cienses con el lenguaje arquitectónico <strong>de</strong>l siglo XXI y finales <strong>de</strong>lsiglo XX, sobre todo con los arquitectos más próximos <strong>de</strong>l minimalismo. Claroque los principios que mueven un arquitecto minimalista san distintos <strong>de</strong> los qu<strong>em</strong>ovieron los monjes constructores <strong>cister</strong>cienses <strong>de</strong>l siglo XII, pero ambosbuscaban lo mismo: la pureza <strong>de</strong> la expresión mínima, unos por i<strong>de</strong>alesespirituales, otros por i<strong>de</strong>ales estéticos.Para que esta afirmación pudiera ser comprobada se hace referencia enel capítulo 4 al “minimalismo <strong>cister</strong>ciense” precisamente porque <strong>de</strong> eso setrataba. Hay un ej<strong>em</strong>plo, que a pesar <strong>de</strong> no ser portugués, ha sido vital en estaconclusión: el ej<strong>em</strong>plo <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur en Republica Checa, elprimer mon<strong>as</strong>terio <strong>cister</strong>ciense (o mejor Trapista para ser más precisa) <strong>de</strong>l postcomunismoy obra <strong>de</strong> un arquitecto que se <strong>as</strong>ume como minimalista y quereconoce a su vez la influencia <strong>de</strong>l Císter <strong>de</strong>l siglo XII en su obra 23 . Se trata <strong>de</strong>larquitecto John Pawson y por eso cabe referirlo y referir este mon<strong>as</strong>terio en estatesis 24 (este mon<strong>as</strong>terio ha recibido el pr<strong>em</strong>io internacional Frate Sole para laarquitectura sacra en 2008).Así cuando se encuentran referenci<strong>as</strong> en esta tesis al minimalismo<strong>cister</strong>ciense se compren<strong>de</strong> el largo recorrido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> el Císter <strong>de</strong>l siglo XII al“mínimum” <strong>de</strong>l siglo XXI. Ha sido también Byrne con João Pedro Falcão <strong>de</strong>Campos que han rehabilitado la ala Sur <strong>de</strong>l Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Alcobaça y losespacios públicos más inmediatos <strong>de</strong> este mon<strong>as</strong>terio con un lenguajeimpregnado <strong>de</strong>l “mínimum” <strong>de</strong>l siglo XXI que no afronta la coherenciaproyectual y espiritual <strong>de</strong> los primeros Cistercienses <strong>de</strong>l siglo XII. Compárense losresultados <strong>de</strong> Byrne y Falcão <strong>de</strong> Campos, en el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Alcobaça, conlos resultados <strong>de</strong> John Pawson en el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Novy Dvur. Claro que para21 Cfr. vol. I; cap. 7; pp. 598 - 62222 Cfr. Jornal <strong>de</strong> Notici<strong>as</strong> <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 201023 Esto está bien patente en el escrito teórico PAWSON, John ; Minimum ; Phaidon Press Limited; 199624 Cfr. vol. I; cap. 4; pp. 287-304


8. CONCLUSIONEShacer este puente ha sido necesario socorrernos <strong>de</strong> otro arquitecto largamenteinfluenciado por el Císter, tanto en la pureza <strong>de</strong> l<strong>as</strong> form<strong>as</strong>, como en la verdad<strong>de</strong> los materiales, que ha sido Le Corbusier. La influencia ejercida, en la obra <strong>de</strong>Le Corbusier, por el mon<strong>as</strong>terio <strong>cister</strong>ciense <strong>de</strong> Le Thoronet en Francia escomprensible también en el proyecto <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio dominico <strong>de</strong> La Tourette.Curiosamente este mon<strong>as</strong>terio es algo que une Le Corbusier a John Pawson y alCíster como se ha comprobado. En <strong>de</strong>finitiva el Císter influencia o hainfluenciado inúmeros arquitectos. 25Pero no solo ha sido importante compren<strong>de</strong>r la evolución y los momentos<strong>as</strong>ociados al Císter en Portugal. También fue <strong>de</strong> máxima importancia percibir ellenguaje arquitectónico <strong>de</strong>sarrollado por el Císter y por la utilización <strong>de</strong> losdistintos estilos arquitectónicos (Vé<strong>as</strong>e el capítulo 3) en Portugal. Todo esto escomprensible por la evolución histórica y cultural <strong>de</strong>l país. Es <strong>de</strong> subrayar laimportancia <strong>de</strong> la llegada <strong>de</strong>l estilo gótico a Portugal con la construcción <strong>de</strong>lmon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Alcobaça.Pero si fue fundamental percibir el Císter en Portugal también lo fuepercibir l<strong>as</strong> pr<strong>em</strong>is<strong>as</strong> <strong>de</strong>l espacio <strong>cister</strong>ciense portugués (vé<strong>as</strong>e capitulo 4). Así,la comprensión <strong>de</strong> la construcción <strong>de</strong>l espacio monástico <strong>cister</strong>ciense fue unaetapa imprescindible no solo para la arquitectura <strong>cister</strong>ciense portuguesa perotambién para su inserción en el territorio. Se comprueba que la búsqueda <strong>de</strong> los<strong>cister</strong>cienses por valles se aplica en Portugal, que se pue<strong>de</strong> encontrar elllamado plan bernardino en algunos mon<strong>as</strong>terios, sobre todo en Alcobaça,pero que no podr<strong>em</strong>os <strong>de</strong>cir que en Portugal los mon<strong>as</strong>terios seguían un planidéntico ya que muchos mon<strong>as</strong>terios han sido filiados y no fundados o sea, seutilizaron l<strong>as</strong> pre-existenci<strong>as</strong> <strong>de</strong> los edificios que albergaban l<strong>as</strong> anteriorescomunida<strong>de</strong>s. Pero también contribuyó para esta parte la comprensión <strong>de</strong>lmon<strong>as</strong>terio como ciudad i<strong>de</strong>al y como paradisum claustralis, eso sí que seaplica a todos los mon<strong>as</strong>terios <strong>cister</strong>cienses portugueses 26 .Se concluye <strong>as</strong>í que la arquitectura <strong>cister</strong>ciense se reparte por cuatroconceptos novedosos: la mo<strong>de</strong>rnidad, el mínimo, la uniformidad y larepetición 27 . Pero estos conceptos se compren<strong>de</strong>n por la necesidad <strong>de</strong>austeridad, <strong>de</strong> simplicidad y <strong>de</strong> funcionalidad <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio <strong>cister</strong>ciense. Noobstante, la uniformidad y la repetición pue<strong>de</strong>n ser puest<strong>as</strong> en causa por lalibertad y por los regionalismos como es lo que p<strong>as</strong>a con los mon<strong>as</strong>teriosportugueses que están muy intrincados en l<strong>as</strong> regiones don<strong>de</strong> se insertan.Fue a<strong>de</strong>más necesario comprobar si existe en Portugal la aplicación <strong>de</strong>lplan bernardino o no, como ya ha sido mencionado, pero para eso tambiénfue necesario compren<strong>de</strong>r lo que pensaban varios autores sobre este <strong>as</strong>unto 2864325 Cfr. vol. I; cap. 4; p.300 / cfr. vol. I; cap. 4; pp. 239-24626 Cfr. vol. I; cap. 4; p. 23527 Cfr. Esq. 42 in vol. I; cap. 4; p. 23728 Cfr. vol. I; cap.47; pp. 246 - 249


8. CONCLUSIONES644ya que hay los apologist<strong>as</strong> <strong>de</strong> la existencia <strong>de</strong> dicho plano y los que al revés noadmiten su existencia. Bien, respecto a esto, si lo cre<strong>em</strong>os que existe un plandicho bernardino, pero también es verdad que en Portugal como se habíamencionado antes no se pudo poner en práctica si<strong>em</strong>pre esto por lo que elplan en Portugal ha sido si<strong>em</strong>pre adaptado y vinculado, no solo a losregionalismos cuando se hacia una fundación, pero también a l<strong>as</strong>preexistenci<strong>as</strong> cuando se optaba por filiaciones.Si se ha buscado lo que distintos autores afirmaban en este apartado,también se buscó los registros <strong>de</strong> los distintos planes tipo <strong>de</strong> un mon<strong>as</strong>terio<strong>cister</strong>ciense que se hicieron y se estudiaron durante el siglo XX y XXI. 29Sin <strong>em</strong>bargo, cuando se habla <strong>de</strong> planos es necesario compren<strong>de</strong>r sumorfología, <strong>as</strong>í como la duración <strong>de</strong> la jornada monástica y la utilizaciónespacio-t<strong>em</strong>poral <strong>de</strong>l mon<strong>as</strong>terio por los monjes o monj<strong>as</strong>. 30Con más <strong>de</strong>talle fue necesario estudiar la morfología <strong>de</strong> l<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong><strong>de</strong>l Císter en Portugal (lo que correspon<strong>de</strong> a todo el capitulo 5) dividiendo esteestudio por todos los espacios funcionales <strong>de</strong>l edificio monástico. 31Consecuent<strong>em</strong>ente se han tipificado l<strong>as</strong> arcatur<strong>as</strong> claustrales y aportando unanueva <strong>de</strong>finición en esta tipificación: el mimetismo claustral, o sea, se aplicaesta <strong>de</strong>finición cuando estamos ante un claustro <strong>de</strong>saparecido o inexistente yque en el siglo XX fue proyectado por la Dirección General <strong>de</strong> los Edificios yMonumentos Nacionales. Lo h<strong>em</strong>os llamado <strong>as</strong>í por ser en <strong>de</strong>finitiva una mimesis<strong>de</strong> algún tramo claustral subsistente o una mimesis <strong>de</strong> otro claustro <strong>cister</strong>cienseportugués. 32Se han tipificado l<strong>as</strong> fuentes, los lavabos pero también l<strong>as</strong> iglesi<strong>as</strong> y susaccesos.Es <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar que si no hay un plan tipo para los mon<strong>as</strong>terios <strong>cister</strong>ciensesportugueses lo hay seguramente para l<strong>as</strong> iglesi<strong>as</strong> <strong>de</strong> estos mon<strong>as</strong>terios, seaniglesi<strong>as</strong> <strong>de</strong> mon<strong>as</strong>terios f<strong>em</strong>eninos 33 , sean iglesi<strong>as</strong> <strong>de</strong> mon<strong>as</strong>terios m<strong>as</strong>culinos 34 .Consecuent<strong>em</strong>ente se han tipificado los planes <strong>de</strong> l<strong>as</strong> iglesi<strong>as</strong> (f<strong>em</strong>enin<strong>as</strong> om<strong>as</strong>culin<strong>as</strong>) según plan monoaxial, biaxial o centralizado. A<strong>de</strong>más el planmonoaxial y el plan biaxial se subdividieron en otr<strong>as</strong> dos: simples (con una naveapen<strong>as</strong>) o complexa (con tres naves). Cuanto a l<strong>as</strong> iglesi<strong>as</strong> m<strong>as</strong>culin<strong>as</strong> se hapresentado un c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> excepción (presenta tres naves pero se comportafuncionalmente como si tuviera una nave solamente).En esta tesis hay la posibilidad <strong>de</strong> tener todos los planes <strong>de</strong> los mon<strong>as</strong>terios<strong>cister</strong>cienses portugueses en una misma escala, propiciando una visión <strong>de</strong>29 Cfr. vol. I; cap. 4; pp. 264 - 27530 Cfr. graf. 21, graf. 22 y graf. 23 in vol. I; cap. 4; p. 28431 Cfr. vol. I; cap. 5; pp. 307-41232 Cfr. vol. I; cap. 5; pp. 316 - 31733 Cfr. vol. I; cap. 5; pp. 349 - 35234 Cfr. vol. I; cap. 5; pp. 353 - 357


8. CONCLUSIONESconjunto que comprueba la particularidad <strong>de</strong>l Císter en Portugal 35 . Estaaportación ha sido muy importante ya que existen varios planos pero la granparte no están completos, siendo apen<strong>as</strong> trozos <strong>de</strong> planos. A estos planos sesobrepuso el estudio <strong>de</strong> los distintos espacios funcionales <strong>de</strong> un mon<strong>as</strong>terio<strong>cister</strong>ciense. Con esto se comprobó que pese la necesidad <strong>de</strong> una coherenciaformal y funcional <strong>cister</strong>ciense, ni si<strong>em</strong>pre se cumplen con los principios <strong>de</strong>l planbernardino, por lo que esto viene a reforzar lo que se ha afirmado antes 36 .Consecuent<strong>em</strong>ente fue necesario cambiar la escala <strong>de</strong> la visión <strong>de</strong>conjunto para una visión unitaria <strong>de</strong> cada mon<strong>as</strong>terio, para que se percibieracómo funcionaban estos espacios y esto ha dado aun más fuerza a laafirmación <strong>de</strong> que el plan <strong>cister</strong>ciense o bernardino está presente en intenciónpero no en conformación <strong>de</strong> la morfología <strong>de</strong> los mon<strong>as</strong>terios portugueses porl<strong>as</strong> mism<strong>as</strong> razones que presentamos a lo largo <strong>de</strong> esta conclusión. 37No obstante la arquitectura <strong>cister</strong>ciense ha sido fundamental en el<strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> la arquitectura medieval portuguesa. 38La inserción <strong>cister</strong>ciense en el territorio portugués ha sido igualmenteimportante. Para su comprensión fue necesario percibir el territorio portugués 39 ,la distribución geográfica 40 <strong>de</strong> los mon<strong>as</strong>terios y su inserción en el territorio. 41Se subrayan l<strong>as</strong> conclusiones sobre la implantación <strong>de</strong>l Císter portuguéscon b<strong>as</strong>e en el estudio que fue anteriormente mencionado. En <strong>de</strong>finitiva losmon<strong>as</strong>terios portugueses, en su mayor parte, han buscado los locales lejos <strong>de</strong>poblaciones, o sea, el “<strong>de</strong>sierto <strong>cister</strong>ciense” que <strong>de</strong>spués ha florecido engranj<strong>as</strong> y <strong>de</strong>spués en poblados como es el c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> la Granja <strong>de</strong> Valado dosFra<strong>de</strong>s cerca <strong>de</strong> Alcobaça y toda la labor <strong>de</strong> los monjes alcob<strong>as</strong>enses. Seconcluyó que todos los mon<strong>as</strong>terios portugueses están junto a líne<strong>as</strong> <strong>de</strong> agua,<strong>de</strong> mayor o menor dimensión, como era habitual en esta Ór<strong>de</strong>n. 42De este modo se concluye a<strong>de</strong>más que hay cuatro tipos específicos <strong>de</strong>implantación en el territorio. Así se encuentran mon<strong>as</strong>terios <strong>de</strong> Montaña, <strong>de</strong>Valle, <strong>de</strong> Altiplano y <strong>de</strong> Planicie. (Vé<strong>as</strong>e el capitulo 6).No obstante hay algunos mon<strong>as</strong>terios que se encuentran en el límite <strong>de</strong>est<strong>as</strong> tipificaciones compartiendo algun<strong>as</strong> característic<strong>as</strong> <strong>de</strong> otr<strong>as</strong>tipificaciones, pero no l<strong>as</strong> suficientes para que se abarquen en ell<strong>as</strong>. Por eso seha sintetizado est<strong>as</strong> conclusiones en el Esq. 96, incluso se ha listado todos los64535 Cfr. vol. I; cap. 5; pp. 414 - 41936 Cfr. vol. I; cap. 5; pp. 420 - 42337 cfr. vol. I; cap. 5; pp. 425 - 45038 Cfr. vol. I; cap. 6; pp. 453-46839 Cfr. vol. I; cap. 6; pp. 469-47840 Cfr. Esq. 86 in vol. I; cap. 6; p. 48041 Cfr. vol. I; cap. 6; pp. 479 - 49142 Esto se comprueba con el Esq. 91 <strong>de</strong> l<strong>as</strong> pp. 492 – 493 en el que en una misma escala grafica secompren<strong>de</strong> la implantación <strong>de</strong> los mon<strong>as</strong>terios <strong>cister</strong>ciense portugueses.


8. CONCLUSIONES646mon<strong>as</strong>terios según los ciclos principales que se mencionaron antes, como sepresenta en el Esq. 98. 43Así que la mayor parte <strong>de</strong> los mon<strong>as</strong>terios <strong>cister</strong>cienses portugueses estánen una situación <strong>de</strong> valle, como es habitual en el Císter, pero también haymuchos ej<strong>em</strong>plares en situación <strong>de</strong> planicie ya que esto una vez más secompren<strong>de</strong> por la historia <strong>de</strong> este país y por l<strong>as</strong> filiaciones o fundacionesportugues<strong>as</strong>. Lo mismo se concluye con la altitud a que se encuentran estosmon<strong>as</strong>terios (en una primera f<strong>as</strong>e al norte con más altitud y <strong>de</strong>spués<strong>em</strong>pezando a distribuirse por zon<strong>as</strong> con menor altitud, c<strong>as</strong>i si<strong>em</strong>pre coinci<strong>de</strong>ntescon situaciones <strong>de</strong> valle. 44 Se comprueban también los cambios <strong>de</strong> sitio, pornecesidad, <strong>de</strong> algunos mon<strong>as</strong>terios como estaba cont<strong>em</strong>plado en la práctica<strong>de</strong>l Císter por toda la Europa. 45 A<strong>de</strong>más esto comprueba la necesidad <strong>de</strong> estosmon<strong>as</strong>terios esteren cerca <strong>de</strong>l agua, pero también l<strong>as</strong> consecuenci<strong>as</strong> <strong>de</strong> talproximidad, y <strong>de</strong> la obra hidráulica <strong>cister</strong>ciense 46 .Una vez abarcad<strong>as</strong> l<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Císter en Portugal <strong>as</strong>í como suinserción en el territorio ha sido necesario compren<strong>de</strong>r como est<strong>as</strong> fueranrehabilitad<strong>as</strong> al largo <strong>de</strong>l ti<strong>em</strong>po, o sea fue necesario compren<strong>de</strong>r l<strong>as</strong>preocupaciones con el patrimonio portugués <strong>de</strong>s<strong>de</strong> su inicio, o sea <strong>de</strong>s<strong>de</strong> elalvará <strong>de</strong> D. João V en el siglo XVIII (vé<strong>as</strong>e el capitulo 7). Para que estacomprensión fuera posible no solo se abarcaron l<strong>as</strong> preocupacionespatrimoniales primordiales, como también la importancia <strong>de</strong>l rey consorte D.Fernando II 47 ; la cultura <strong>de</strong> lo pintoresco y <strong>de</strong> los viajantes <strong>de</strong> ochocientos comolos arquitectos William Beckford y James Murphy 48 ; la importancia <strong>de</strong>lpensamiento y <strong>de</strong> l<strong>as</strong> crític<strong>as</strong> ejercid<strong>as</strong> por Alexandre Herculano 49 ; la génisis <strong>de</strong>la Dirección General <strong>de</strong> los Edificios y Monumentos Nacionales (DGEMN) 50 ; Lagénisis <strong>de</strong>l Instituto Portugués <strong>de</strong>l Patrimonio Arquitectónico (IPPC y <strong>de</strong>spuésIPPAR) 51 .No obstante para que este entendimiento fuera posible fue necesariopercibir la práctica <strong>de</strong> la arquitectura y <strong>de</strong> la salvaguardia <strong>de</strong>l patrimonio aprincipios <strong>de</strong>l siglo XX, ya que este ha sido un momento particular en la historia<strong>de</strong> Portugal con consecuenci<strong>as</strong> para la rehabilitación, restauración ysalvaguardia <strong>de</strong>l patrimonio portugués. 52 Con b<strong>as</strong>e en todo esto se partió paraun abordaje al patrimonio específicamente <strong>cister</strong>ciense. Se ha concluido que43 Cfr. Esq. 96 in vol. I; cap. 6; p. 498 / Cfr. Esq. 98 in vol. I; cap. 6; p. 49944 Cfr. vol. I; cap. 6; pp. 502 – 509 con particular <strong>de</strong>staque para el Esq. 99 <strong>de</strong> la p. 50845 Cfr. vol. I; cap. 6; pp. 509 - 51346 Cfr. vol. I; cap. 6; pp. 514 - 52247 Cfr. vol. I; cap. 7; pp. 526 - 52748 Cfr. vol. I; cap. 7; pp. 528 - 52949 Cfr. vol. I; cap. 7; pp. 530 - 53250 Cfr. vol. I; cap. 7; pp. 532 - 54051 Cfr. vol. I; cap. 7; pp. 541 - 54552 Cfr. vol. I; cap. 7; pp. 545 - 554


8. CONCLUSIONESc<strong>as</strong>i todos los mon<strong>as</strong>terios <strong>cister</strong>cienses portugueses poseen protecciónpatrimonial repartiéndose por l<strong>as</strong> figur<strong>as</strong> legales <strong>de</strong> “Monumento Nacional”(MN) y <strong>de</strong> “Inmueble <strong>de</strong> Interés Público” (IIP), siendo que Alcobaça a<strong>de</strong>más <strong>de</strong>MN pertenece al listado <strong>de</strong> UNESCO respecto al Patrimonio Mundial. 53 Es <strong>de</strong>subrayar que todo este patrimonio monástico, cuando bajo alguna figura <strong>de</strong>protección, posee una ZEP (Zona Especial <strong>de</strong> Protección) 54Se aporta también un estudio sobre los program<strong>as</strong> patrimoniales queabarcaron el patrimonio monástico <strong>cister</strong>ciense portugués 55 y que permitieronuna mirada cont<strong>em</strong>poránea y específica sobre la intervención en estepatrimonio. 56 Se subraya la importancia <strong>de</strong> la síntesis presente en el Esq.110 57 ,que permitió concluir sobre este apartado.En <strong>de</strong>finitiva, cuando se <strong>em</strong>pezó esta tesis la realidad <strong>cister</strong>ciense y laactualidad <strong>de</strong> sus rehabilitaciones eran primordiales en el plan <strong>de</strong>intervenciones patrimoniales <strong>de</strong> Portugal. En el año <strong>de</strong> 1998 todo el universo<strong>cister</strong>ciense portugués era abarcado por el programa <strong>de</strong>l antiguo IPPARllamado “Itinerarios <strong>de</strong>l Císter”, pero más tar<strong>de</strong> dio lugar al programa“Conjuntos monásticos” don<strong>de</strong> apen<strong>as</strong> seis mon<strong>as</strong>terios <strong>cister</strong>cienses seintegraban y más tar<strong>de</strong> aún, este último programa ha dado plaza al programa“Mon<strong>as</strong>terios Portugueses Patrimonio <strong>de</strong> la Humanidad” (y que es el programavigente en este final <strong>de</strong> tesis, esto es, en el año <strong>de</strong> 2011) que, <strong>de</strong> los mon<strong>as</strong>terios<strong>cister</strong>cienses, integra el Mon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> Alcobaça.De este modo, no porque no tengan interese, pero por l<strong>as</strong> condicioneshistórico-económic<strong>as</strong> <strong>de</strong>l país, los mon<strong>as</strong>terios <strong>cister</strong>cienses han sido relegadospara un según plano <strong>de</strong> acción. Curiosamente es precisamente cuando p<strong>as</strong>aesto que surge la Asociación portuguesa <strong>de</strong>l Císter (APOC) <strong>as</strong>í como parte <strong>de</strong>los mon<strong>as</strong>terios portugueses <strong>em</strong>piezan haciendo parte <strong>de</strong> la “Carta Europea <strong>de</strong>los Mon<strong>as</strong>terios y Sitios Cistercienses” y consecuent<strong>em</strong>ente hacen parteintegrante <strong>de</strong> la “Ruta Europea <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Abadí<strong>as</strong> Cistercienses”.Así que se llega a l<strong>as</strong> conclusiones <strong>de</strong> esta tesis con un r<strong>as</strong>go <strong>de</strong> esperanzarelativamente al patrimonio y a l<strong>as</strong> arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong>l Císter en Portugal. Es <strong>de</strong>subrayar que fue apen<strong>as</strong> en el día 10 <strong>de</strong> Dici<strong>em</strong>bre <strong>de</strong>l 2010, en la Abadía <strong>de</strong>l’Escaladieu que fue entregue la mención “Itinerario Cultural <strong>de</strong>l Consejo <strong>de</strong> laEuropa” a la “Ruta Europea <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Abadí<strong>as</strong> Cistercienses” que tiene comoprincipal objetivo la <strong>de</strong>mostración <strong>de</strong> la importancia y significado <strong>de</strong>l legado<strong>cister</strong>ciense que es entendido como el marco <strong>de</strong> un patrimonio culturaleuropeo común.64753 Cfr. vol. I; cap. 7; pp. 554 - 56854 Cfr. vol. I; cap. 7; pp. 562 - 56855 Cfr. vol. I; cap. 7; pp. 569 - 58456 Cfr. vol. I; cap. 7; pp.585 - 63257 Cfr. Esq. 110 vol. I; cap. 7; p. 581


8. CONCLUSIONESEn <strong>de</strong>finitiva, surge un creciente interese por el Císter entre los estudiosos,académicos y profesionales <strong>de</strong>l patrimonio, <strong>de</strong> la historia y <strong>de</strong> la cultura<strong>cister</strong>ciense con la APOC y un grandísimo interese por parte <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>sinternacionales como es el c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> la Ruta Cultural <strong>de</strong>l Consejo <strong>de</strong> Europa, osea, la “Ruta Europea <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Abadí<strong>as</strong> Cistercienses” y la “Carta Europea <strong>de</strong> losMon<strong>as</strong>terios y Sitios Cistercienses” 58 .Es <strong>de</strong> subrayar que esta tesis ha levado a una activa colaboración con laAsociación Portuguesa <strong>de</strong>l Císter (APOC) 59 e investigación académic<strong>as</strong> en loscentros <strong>de</strong> investigación C-MADE <strong>de</strong> la UBI y Centro Arnaldo Araujo <strong>de</strong> ESAPdon<strong>de</strong> la autora es investigadora. Es <strong>de</strong> subrayar que a lo largo <strong>de</strong> esta tesisjamás se ha parado <strong>de</strong> producir conocimiento científico, sea a través <strong>de</strong>publicaciones <strong>de</strong> artículos o act<strong>as</strong> 60 , sea a través <strong>de</strong> la participación en58 Cfr. vol. I; cap. 7; pp. 581 - 58564859 la autora está organizando el Simposio internacional “Cister: Espacios y Patrimonio” en una organizaciónconjunta APOC / DECA-UBI, o sea, en una organización que abarca la Asociación Portuguesa <strong>de</strong>l Cister(APOC)y la Universidad <strong>de</strong> Beira Interior a través <strong>de</strong> su Departamento <strong>de</strong> Ingeniería civil y Arquitectura (DECA-UBI) al que se juntará el centro <strong>de</strong> investigación C-MADE (Centro <strong>de</strong> Materiales y Tecnologí<strong>as</strong> constructiv<strong>as</strong>)<strong>de</strong> la misma Universidad y que tendrá lugar en Marzo <strong>de</strong> 2012, algunos meses antes <strong>de</strong>l gran CongresoInternacional en Alcobaça organizado también por la APOC en 2012.60 MARTINS, Ana Maria Tavares; Cister <strong>em</strong> Portugal, <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>m a Congregação, segundo uma perspectivaarquitectónica in Or<strong>de</strong>ns Religios<strong>as</strong> 2010; (coord. José Eduardo Franco); Ed. CLEPUL (en edición) / MARTINS,Ana Maria Tavares; Cistercians in Portugal from Or<strong>de</strong>r to Congregation: an architectonic point of view, inReligious Or<strong>de</strong>rs 2010; (coord. José Eduardo Franco); Ed. CLEPUL (en edición)/ MARTINS, Ana Maria Tavares;Medieval Cistercian Heritage: from the I<strong>de</strong>al to the the Reality in Act<strong>as</strong> do Ist International Meeting EAHN –European Architectural History Network (June 17-20, 2010), Guimarães, Portugal and Book of Abstracts ;JorgeCorreia (Ed.); CHAM – Centro <strong>de</strong> História <strong>de</strong> Além Mar; EAUM – Escola <strong>de</strong> Arquitectura da Universida<strong>de</strong> doMinho; EAHN – European Architectural History Network; 2010 (ACTAS: ISBN 978-989-95563-9-3 / BOOK OFABSTRACTS: ISBN 978-989-96163-2-5) / MARTINS, Ana Maria Tavares; Cistercian Architectural Heritage <strong>as</strong> CulturalLandmarks in Act<strong>as</strong> do HERITAGE 2010 - 2nd International Conference on Heritage and SustainableDevelopment; Ed. Greenlines Institute; June 2010 (ISBN 978-989-95671-3-9) / MARTINS, Ana Maria Tavares;MINIMALISMO CISTERCIENSE: <strong>de</strong>l Cister <strong>de</strong>l siglo XII al “Minimum” <strong>de</strong>l siglo XXI in Act<strong>as</strong> do II CongresoInternacional <strong>de</strong> Arquitectura Religiosa Cont<strong>em</strong>poránea - ARQUITECTURA RELIGIOSA CONTEMPORÁNEA: ENTREEL CONCEPTO Y LA IDENTIDAD; Ed. Fundación Santa María Nai, Delegación <strong>de</strong> Ourense <strong>de</strong>l COAG; Ourense,2009 (en edición) / MARTINS, Ana Maria Tavares; Not<strong>as</strong> <strong>de</strong> uma investigação <strong>em</strong> Arquitectura: <strong>as</strong> Arquitectur<strong>as</strong><strong>de</strong> Cister n<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong>; Ed. UBI; Covilhã, 2009 (en edición) / MARTINS, Ana Maria Tavares; AS BEIRAS BERÇO DECISTER EM PORTUGAL: MARCAS DE 9 SÉCULOS DE ARQUITECTURA in Act<strong>as</strong> <strong>de</strong>l IV Congreso Internacional sobreel Císter en Galicia y en Portugal; Tomo II; Ediciones Monte C<strong>as</strong>ino; Zamora 2010; pp.881-904 (TOMO II: ISBN978-84-614-1760-5 / OBRA COMPLETA: ISBN 978-84-614-1760-2) / MARTINS, Ana Maria Tavares; As marc<strong>as</strong> dolegado <strong>cister</strong>ciense na região d<strong>as</strong> Beira in Act<strong>as</strong> RIPAM_3: 3º Encontro Internacional sobre PatrimónioArquitectónico do Mediterraneo; Lisboa, 2009 (en edición) / MARTINS, Ana Maria Tavares; ARQUITECTURAS DELCÍSTER EN PORTUGAL: rehabilitaciones recientes in Act<strong>as</strong> <strong>de</strong>l III Congreso Internacional sobre el Císter enGalicia y en Portugal – tomo I; Ediciones Monte C<strong>as</strong>ino; Zamora, 2006 (ISBN: 978-84-930553-7-9) / MARTINS, AnaMaria Tavares; El Patrimonio Monástico: Integración y <strong>de</strong>sarrollo en la Ciudad Cont<strong>em</strong>poránea in VII CongresoInternacional <strong>de</strong> Rehabilitación <strong>de</strong>l Patrimonio Arquitectónico y Edificación (Yaiza 2004); Centro Internacionalpara la Conservación <strong>de</strong>l Património. CICOP.ESPAÑA; Tenerife 2004 (ISBN: 84-609-1697-9)/ MARTINS, Ana MariaTavares; The Mon<strong>as</strong>tery <strong>as</strong> the City of God: I<strong>de</strong>als and Reality. Sta Maria <strong>de</strong> Alcobaça, a portuguese c<strong>as</strong>e in“THE PLANNED CITY?”; Ed. Attilio Petruccioli, Michele Stella, Giuseppe Strappa; vol. III; Union Gráfica CorcelliEditrice; Bari 2003 (ISBN: 88-7329-043-4) / MARTINS, Ana Maria Tavares; Do i<strong>de</strong>al no espaço monástico: utopia erealida<strong>de</strong>. O c<strong>as</strong>o <strong>cister</strong>ciense in UTOPOLIS Journal”; vol. II Ed. Utopia Research Publisher; Madrid 2007 (ISSN:1886-4120)


8. CONCLUSIONEScongresos nacionales 61 o internacionales 62 , sea a través <strong>de</strong> ponenci<strong>as</strong> paracongresos y capítulos <strong>de</strong> libros por invitación directa 6361 MARTINS, Ana Maria Tavares; Not<strong>as</strong> <strong>de</strong> uma investigação <strong>em</strong> Arquitectura: <strong>as</strong> Arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong> Cister n<strong>as</strong>Beir<strong>as</strong> que tuvo lugar en la Universidad <strong>de</strong> la Beira Interior – Departamento <strong>de</strong> Ingeniera Civil y Arquitectura,Covilhã, en Novi<strong>em</strong>bre <strong>de</strong>l 2009 / MARTINS, Ana Maria Tavares; O MOSTEIRO COMO ESPAÇO DERECUPERAÇÃO DO CORPO E DO ESPÍRITO presentado en la tercera edición <strong>de</strong> los Encuentros Culturales en S.Cristóvão <strong>de</strong> Lafões subordinada al t<strong>em</strong>a Mon<strong>as</strong>terio y Salud: cerca, botica y enfermaría, que tuvo lugar en elMon<strong>as</strong>terio <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões, Portugal, en los dí<strong>as</strong> 11 y 12 <strong>de</strong> Mayo <strong>de</strong>l 2007 (con invitación <strong>de</strong> laComisión Científica <strong>de</strong> los Encuentros Culturales <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões) / MARTINS, Ana Maria Tavares;CIDADE E TURISMO vs. ARQUITECTURA E TURISMO: o c<strong>as</strong>o d<strong>as</strong> Rot<strong>as</strong> <strong>de</strong> Cister que tuvo lugar en el AuditorioDelmira Calado, <strong>de</strong> la Escuela Superior Gallaecia, en Vila Nova <strong>de</strong> Cerveira, Portugal en el 26 <strong>de</strong> Febrero <strong>de</strong>l2007 / MARTINS, Ana Maria Tavares; As arquitectur<strong>as</strong> <strong>de</strong> Cister <strong>em</strong> Portugal. A actualida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> su<strong>as</strong>reabilitações e a sua inserção no território que tuvo lugar en el Auditorio Delmira Calado, <strong>de</strong> la EscuelaSuperior Gallaecia, en Vila Nova <strong>de</strong> Cerveira, Portugal a 28 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 200662 MARTINS, Ana Maria Tavares; Cister <strong>em</strong> Portugal, <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>m a Congregação, segundo uma perspectivaarquitectónica in “Congreso Internacional Ór<strong>de</strong>nes y Congregaciones Religios<strong>as</strong> en Portugal – m<strong>em</strong>oria,Presencia y Diáspor<strong>as</strong>” integrado en l<strong>as</strong> conm<strong>em</strong>oraciones oficiales <strong>de</strong>l Centenario <strong>de</strong> la República, con elalto patrocinio <strong>de</strong> la Presi<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> la República y con el patrocinio <strong>de</strong> la Comisión Nacional para l<strong>as</strong>Conm<strong>em</strong>oraciones <strong>de</strong>l Centenario <strong>de</strong> la República que tuvo lugar, en Lisboa, en la Fundación CalousteGulbenkian <strong>de</strong>l 02 al 05 <strong>de</strong> Novi<strong>em</strong>bre / MARTINS, Ana Maria Tavares; AS BEIRAS BERÇO DE CISTER EMPORTUGAL: MARCAS DE 9 SÉCULOS DE ARQUITECTURA presentada en el IV Congreso Internacional sobre elCíster en Galicia y en Portugal que tuvo lugar en Braga y en Ourense, en Octubre <strong>de</strong>l 2009 / MARTINS, AnaMaria Tavares; As marc<strong>as</strong> do legado <strong>cister</strong>ciense na região d<strong>as</strong> Beira presentado en el RIPAM_3: 3 er EncuentroInternacional sobre Patrimonio Arquitectónico <strong>de</strong>l Mediterráneo que tuvo lugar en la Universidad Lusíada <strong>de</strong>Lisboa en Octubre <strong>de</strong>l 2009 / MARTINS, Ana Maria Tavares; AS ARQUITECTURAS DE CISTER NAS BEIRASpresentada en el Congreso Internacional – Afonso Henriques 900 años <strong>de</strong>spués que tuvo lugar en el TeatroViriato, Viseu, en Seti<strong>em</strong>bre <strong>de</strong>l 2009 (con invitación <strong>de</strong>l Comisario <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Com<strong>em</strong>oraciones <strong>de</strong> los 900 anos<strong>de</strong>l Nacimiento <strong>de</strong> D. Afonso Henriques, Prof. Dr. João Silva <strong>de</strong> Sousa FCSH-UNL y <strong>de</strong>l Ayuntamiento <strong>de</strong> Viseu) /MARTINS, Ana Maria Tavares; ARQUITECTURAS DEL CÍSTER EN PORTUGAL: rehabilitaciones recientes presentadoen el III Congreso Internacional sobre el Císter en Galicia y Portugal que tuvo lugar en Ourense – Oseira,España, <strong>de</strong>l 22 al 24 <strong>de</strong> Seti<strong>em</strong>bre <strong>de</strong>l 2005 / MARTINS, Ana Maria Tavares; El Patrimonio Monástico:Integración y <strong>de</strong>sarrollo en la Ciudad Cont<strong>em</strong>poránea presentada en el VII Congreso Internacional <strong>de</strong>Rehabilitación <strong>de</strong>l Patrimonio Arquitectónico y Edificación que tuvo lugar en Yaiza, Lanzarote, España <strong>de</strong>l 12al 16 <strong>de</strong> Julio <strong>de</strong>l 2004 y cuya participación fue financiada por la FCT – Fundación para la Ciencia yTecnología / MARTINS, Ana Maria Tavares; Cistercian Architectures in Portugal. Insertion in the territory and theactuality of its rehabilitations <strong>em</strong> THE 2004 CISTERCIAN STUDIES CONFERENCE within the 39th INTERNATIONALMEDIEVAL STUDIES CONGRESS que tuvo lugar en la Western Michigan University en Kalamazoo (Michigan) –E.U.A. <strong>de</strong>s<strong>de</strong> el 6 al 9 <strong>de</strong> Mayo <strong>de</strong> 2004 / MARTINS, Ana Maria Tavares; The Mon<strong>as</strong>tery <strong>as</strong> the City of God:I<strong>de</strong>als and Reality. Sta Maria <strong>de</strong> Alcobaça, a portuguese c<strong>as</strong>e en el ISUF2003 – International S<strong>em</strong>inar on UrbanForm – “The Planned City?” que tuvo lugar en el C<strong>as</strong>tello Svevo, en Trani – Italia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> el 3 al 6 <strong>de</strong> Julio <strong>de</strong>l2003 y cuya participación fue financiada por la FCT – Fundación para la Ciencia y Tecnología / MARTINS, AnaMaria Tavares; Do i<strong>de</strong>al no espaço monástico: utopia e realida<strong>de</strong>. O c<strong>as</strong>o <strong>cister</strong>ciense no 4th InternationalUtopian Studies Conference – “Utopian City”, organizado pela USS – Utopian Studies Society con lacolaboración <strong>de</strong> la Universidad Europea <strong>de</strong> Madrid, que tuvo lugar en la Universidad Europea <strong>de</strong> Madrid –España, entre los dí<strong>as</strong> 25 y 29 <strong>de</strong> Junio <strong>de</strong>l 2003 y cuya participación fue financiada por la FCT – Fundaciónpara la Ciencia y Tecnología.63 MARTINS, Ana Maria Tavares; AS ARQUITECTURAS DE CISTER NAS BEIRAS in Act<strong>as</strong> do Congresso Internacional– Afonso Henriques 900 anos <strong>de</strong>pois; Viseu, 2009 (con invitación <strong>de</strong>l Comisario <strong>de</strong> l<strong>as</strong> Com<strong>em</strong>oraciones <strong>de</strong> los900 anos <strong>de</strong>l Nacimiento <strong>de</strong> D. Afonso Henriques, Prof. Dr. João Silva <strong>de</strong> Sousa FCSH-UNL y <strong>de</strong>l Ayuntamiento<strong>de</strong> Viseu) / MARTINS, Ana Maria Tavares; Arquitectura Religiosa n<strong>as</strong> Beir<strong>as</strong> nos primórdios da Nacionalida<strong>de</strong> inCatálogo da Exposição “Arte, Po<strong>de</strong>r e Religião nos T<strong>em</strong>pos Medievais – A I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Portugal <strong>em</strong>Construção” (patente en el Museo Grão V<strong>as</strong>co en Viseu <strong>de</strong>l 14 <strong>de</strong> Agosto al 14 <strong>de</strong> Novi<strong>em</strong>bre); Ed. CâmaraMunicipal <strong>de</strong> Viseu, Museu Grão V<strong>as</strong>co, Departamento dos Bens Culturais da Diocese <strong>de</strong> Viseu; Viseu, 2009ISBN:978-972-8215-26-2 (con invitación <strong>de</strong> la Comisaria <strong>de</strong> la exposición, Prof. Doutora Maria <strong>de</strong> FátimaEusébio) / MARTINS, Ana Maria Tavares; O Mosteiro como espaço <strong>de</strong> recuperação do corpo e do espírito in649


8. CONCLUSIONES650Que este sea un registro <strong>de</strong>l estado <strong>de</strong> los mon<strong>as</strong>terios <strong>cister</strong>ciensesportugueses en el principio <strong>de</strong>l milenio. Que sirva <strong>de</strong> m<strong>em</strong>oria futura y para quelos <strong>de</strong>más investigadores puedan utilizar este estudio e informaciones en élcontenid<strong>as</strong> para arranque <strong>de</strong> sus propi<strong>as</strong> investigaciones. Que este inventario,juntamente con el routier <strong>de</strong> Don Maur Cocheril, sirvan para una perspectivaglobal <strong>de</strong> los mon<strong>as</strong>terios <strong>cister</strong>cienses portugueses, <strong>de</strong> su arquitectura, <strong>de</strong> suimportancia como patrimonio arquitectónico, histórico y cultural, pero tambiéncomo un marco histórico fundamental en el <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> una nación y <strong>de</strong> unpaís en formación.Se concluye que esta tesis es una importante aportación para laimpl<strong>em</strong>entación <strong>de</strong> un plan director para este tipo <strong>de</strong> patrimonio, que escrucial para la protección <strong>de</strong> este tipo tan particular <strong>de</strong> patrimonio histórico,cultural y arquitectónico. No obstante eso será todo otro trabajo cuyo caminoha sido abierto en <strong>de</strong>finitiva con esta tesis. Esto porque cada mon<strong>as</strong>terio es unc<strong>as</strong>o que merece ser estudiado y profundizado en un cuadro multidisciplinar.A pesar <strong>de</strong> esta tesis intentar proporcionar una visión <strong>de</strong> síntesis por unaparte y multidisciplinar por otra parte, no hay duda <strong>de</strong> que es un trabajo queapen<strong>as</strong> <strong>de</strong>scubre una diminuta parte <strong>de</strong> todo el coloso que es el universo <strong>de</strong>lCíster portugués.Sería bueno, tanto académicamente como humanamente, si esta tesisfuera capaz <strong>de</strong> motivar y ayudar a <strong>de</strong>sarrollar otros trabajos <strong>de</strong> investigación,compensando <strong>as</strong>í todo el trabajo presente en estos tres tomos, como dijo SanBernardo <strong>de</strong> Claraval: “que este sea el fin <strong>de</strong>l libro pero no <strong>de</strong> lainvestigación.” 64 , o sea, que este sea el “punto y aparte” <strong>de</strong> esta tesis perojamás <strong>de</strong> la investigación <strong>de</strong>sarrollada sobre el Císter portugués.Mosteiro e Saú<strong>de</strong> – Cerca, Botica e Enfermaria. Act<strong>as</strong> do III Encontro Cultural <strong>de</strong> São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões; Ed.Socieda<strong>de</strong> do Mosteiro <strong>de</strong> São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões; São Cristóvão <strong>de</strong> Lafões, 2008 (con invitación <strong>de</strong> laComisión Científica <strong>de</strong> los Encuentros Culturales <strong>de</strong> S. Cristóvão <strong>de</strong> Lafões) / MARTINS, Ana Maria Tavares; OMosteiro <strong>de</strong> Tabosa in Letr<strong>as</strong> Aquilinian<strong>as</strong> – nº 1; Ed. Confraria Aquiliniana; Viseu, 2007; ISBN: 978-989-95382-0-7(con invitación <strong>de</strong> la Comisión Científica <strong>de</strong> la revista Letr<strong>as</strong> Aquilinian<strong>as</strong>) / MARTINS, Ana Maria Tavares;Espaço Monástico: da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus à Cida<strong>de</strong> do Hom<strong>em</strong> in Estudos <strong>em</strong> Homenag<strong>em</strong> ao Prof. Doutor JoséAma<strong>de</strong>u Coelho Di<strong>as</strong> – vol. 1; Dpto <strong>de</strong> Ciênci<strong>as</strong> e Técnic<strong>as</strong> do Património e Dpto <strong>de</strong> História; Edição daFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letr<strong>as</strong> da Universida<strong>de</strong> do Porto; Porto, 2006; ISBN: 972-8932-17-0 (con invitación <strong>de</strong>lhomenajeado, Pe. Geraldo Coelho Di<strong>as</strong> – Frei Geraldo)64 DUBY, Georges; São Bernardo e a Arte Cisterciense; col. Sinais; Edições ASA; Fevereiro 1997; p. 206

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!