11.07.2015 Views

raparigas e rapazes no ensino superior em portugal no final dos ...

raparigas e rapazes no ensino superior em portugal no final dos ...

raparigas e rapazes no ensino superior em portugal no final dos ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

RAPARIGAS E RAPAZESNO ENSINO SUPERIOREM PORTUGAL NO FINALDOS ANOS 90Cristina Rocha e Sofia Marques da Silva*O texto que aqui se apresenta procura dar conta de um estudo de carácterexploratório realizado <strong>no</strong> âmbito de um projecto de investigação de<strong>no</strong>minado«A auto<strong>no</strong>mia visível das <strong>raparigas</strong> e a desafectação <strong>dos</strong> <strong>rapazes</strong> naescola». Num contexto <strong>em</strong> que se assiste à divulgação de da<strong>dos</strong> que apontampara um maior sucesso académico das <strong>raparigas</strong> e para um eventual afastamento<strong>dos</strong> <strong>rapazes</strong> da escola, analisam-se os da<strong>dos</strong> estatísticos relativos àsentradas <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s de 1997, 1998 e 1999, para detectar aefectiva presença de <strong>raparigas</strong> e de <strong>rapazes</strong> <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> <strong>no</strong>s últimosa<strong>no</strong>s do século XX.Palavras-chave: ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> <strong>em</strong> Portugal, igualdade de oportunidadespor sexo, fim do século XXEducação, Sociedade & Culturas, nº 25, 2007, 169-182IntroduçãoA investigação exploratória de que este texto procura dar conta desenvolveu--se entre 2000 e 2002 <strong>no</strong> âmbito de um projecto de investigação 1 .* Universidade do PortoCIIE – Centro de Investigação e Intervenção Educativas da Faculdade de Psicologia e de Ciências daEducação (Porto/Portugal).1«A Auto<strong>no</strong>mia Visível das Raparigas e a Desafectação <strong>dos</strong> Rapazes da Escola?», Projectode Investigação financiado pela Fundação para a Ciência e a Tec<strong>no</strong>logia – PIHM/C/SOC/15098/1999 –169


ção natural, pela incorporação de alu<strong>no</strong>s de outros estratos sociais, b<strong>em</strong> comoveio a revelar uma permeabilidade acentuada à incorporação das <strong>raparigas</strong>.Não só o crescimento do ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> não se entende independent<strong>em</strong>enteda extensão da escolarização, como tal fenóme<strong>no</strong> provocou alteraçõesirreversíveis a nível social sendo hoje de «indiscutível relevância na configuraçãodas sociedades actuais, e uma dimensão inquestionável de socialização,isto é, de produção e reprodução social» (Vieira, 1996: 316). Esta percepcionase<strong>no</strong>meadamente através de uma maior procura do ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> pelas<strong>raparigas</strong> que, sendo uma tendência europeia, apresenta uma maior acentuação<strong>no</strong> contexto português (Saavedra et al., 2004: 64).Se a intensificação do aumento de alunas <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> significa que oensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> é uma possibilidade <strong>em</strong> termos de percurso e de futuro, aquelasconcentram, até ao fim <strong>dos</strong> a<strong>no</strong>s 1960, as suas escolhas nas áreas de Letrase de Ciências, formações conducentes ao ensi<strong>no</strong> como saída profissional. Apartir <strong>dos</strong> a<strong>no</strong>s 1970, com o aparecimento e desenvolvimento do ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong>particular e do ensi<strong>no</strong> politécnico e com a diversificação da oferta de formaçõesentretanto operada <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> público (Amaral et al. 2002), as<strong>raparigas</strong> vê<strong>em</strong> não só aumentadas as suas possibilidades de ingresso como deescolha, dada a diversidade de formações entretanto disponíveis, vindo ainda ater a possibilidade de aceder às formações tradicionalmente masculinas. Seidentificamos a Medicina Dentária, o Nutricionismo e a Gestão como <strong>no</strong>vasoportunidades então surgidas, ter<strong>em</strong>os que destacar a Medicina e o Direitocomo áreas tradicionalmente masculinas, entretanto com uma f<strong>em</strong>inização consolidada.Não pode deixar de se considerar que a diversificação das possibilidades deescolha <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> se concretizou enquanto «escolhas», foi potenciadae lida como plausível pelas <strong>raparigas</strong> <strong>no</strong> quadro de um conjunto de transformaçõessocietais enquadradas numa cultura de direitos e de igualdade de oportunidadescada vez mais acentuada, conducentes a uma grande tolerância,<strong>no</strong>meadamente <strong>no</strong> que se refere à possibilidade de ingresso <strong>no</strong> mercado detrabalho.Se o aumento da presença f<strong>em</strong>inina <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> secundário, <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong>e nas profissões t<strong>em</strong> sido objecto de alguma investigação por parte <strong>dos</strong>cientistas sociais, é sobretudo a comunicação social qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> colocado a172


questão e alertado a sociedade portuguesa para a «invasão» do ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong>pelas mulheres. De par com esta invasão, t<strong>em</strong> sido salientada também a maiorpresença das <strong>raparigas</strong> <strong>no</strong>s outros níveis escolares, b<strong>em</strong> como o seu melhoraproveitamento <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s terminais do ensi<strong>no</strong> secundário.Fontes e metodologiaNo seguimento das preocupações teóricas que <strong>no</strong>rteiam este projecto, ecom base <strong>no</strong>s indícios de que na segunda metade do século XX se assiste atransformações nas relações das mulheres com o sist<strong>em</strong>a educativo que necessitade ser avaliada e interpretada, incidir<strong>em</strong>os neste estudo exploratório sobrealgumas fontes estatísticas relativas aos três últimos a<strong>no</strong>s do século XX, procurandorealizar uma fotografia ampla <strong>no</strong> sentido de captar os traços gerais comque se delimita o fenóme<strong>no</strong> <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s que <strong>final</strong>izam o século XX.A recolha de da<strong>dos</strong> estatísticos, entre outros, foi efectuada na biblioteca daFaculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto,<strong>no</strong> Centro de Investigação de Políticas do Ensi<strong>no</strong> Superior (CIPES) e <strong>no</strong> InstitutoNacional de Estatística (INE). Procuraram-se da<strong>dos</strong> que permitiss<strong>em</strong>caracterizar o acesso e (in)sucesso das <strong>raparigas</strong> <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> <strong>no</strong>s finaisda década de 1990 para os a<strong>no</strong>s de 1997, 1998 e 1999. Os da<strong>dos</strong> recolhi<strong>dos</strong>foram posteriormente trata<strong>dos</strong> segundo o método de análise de conteúdo.A presença de <strong>raparigas</strong> e <strong>rapazes</strong> <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong>A pesquisa na base de da<strong>dos</strong> do CIPES relativa ao ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> (públicoe privado) permite-<strong>no</strong>s uma primeira visão geral relativamente ao acesso aoensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong>, por sexo, <strong>no</strong>s três a<strong>no</strong>s referi<strong>dos</strong>.173


QUADRO 1Candidaturas e matrículas <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> público e privado por a<strong>no</strong>,a nível nacional para o ensi<strong>no</strong> público e privadoMovimento 1997 1998 1999 TotalCandidatos/as 77453 75904 70712 224069Matrículas 44087 44873 45252 134212Fonte: Base de da<strong>dos</strong> do CIPES referente ao acesso ao ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> para os a<strong>no</strong>s de 1997, 1998 e 1999.Pela análise do Quadro 1, verificamos que, entre 1997 e 1999, o decrescimentoda procura do ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> não é acompanhado pelo decrescimentodo número de pessoas inscritas. Embora a candidatura ao ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> diminuaprogressivamente ao longo destes três a<strong>no</strong>s, as matrículas apresentam umaexpressão crescente, respectivamente de 56%, 59% e 63% para 1997, 1998 e1999.QUADRO 2Candidaturas e matrículas <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> público e privado por a<strong>no</strong> epara o sexo f<strong>em</strong>ini<strong>no</strong>, a nível nacional, para o ensi<strong>no</strong> público e privadoMovimento 1997 1998 1999 TotalCandidatas 47222 45951 43330 136503Matrículas 25453 25422 26123 76998Fonte: Base de da<strong>dos</strong> do CIPES referente ao acesso ao ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> para os a<strong>no</strong>s de 1997, 1998 e 1999.QUADRO 3Candidaturas e matrículas <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> público e privado por a<strong>no</strong> epara o sexo masculi<strong>no</strong>, a nível nacional, para o ensi<strong>no</strong> público e privadoMovimento 1997 1998 1999 TotalCandidatos 30231 29953 27382 87566Matrículas 18634 19451 19129 57214Fonte: Base de da<strong>dos</strong> do CIPES referente ao acesso ao ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> para os a<strong>no</strong>s de 1997, 1998 e 1999.174


Observada a distribuição das candidaturas por sexo, verificamos para as<strong>raparigas</strong> (Quadro 2) que as suas candidaturas são <strong>em</strong> maior número do que as<strong>dos</strong> <strong>rapazes</strong> (Quadro 3).QUADRO 4Matrículas por sexo <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> público e privado por a<strong>no</strong>,a nível nacional para o ensi<strong>no</strong> público e privado. Valores percentuaisA<strong>no</strong> Matrículas Raparigas Rapazes Total1997 44087 57.7 42.3 1001998 44873 56.6 43.4 1001999 45252 57.7 42.3 100Total 134212 57.3 42.7 100Fonte: Base de da<strong>dos</strong> do CIPES referente ao acesso ao ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> para os a<strong>no</strong>s de 1997, 1998 e 1999.As matrículas das <strong>raparigas</strong> apresentam também valores percentuais <strong>superior</strong>esaos <strong>dos</strong> <strong>rapazes</strong>. Como se pode ver pelo Quadro 4, <strong>em</strong> cada um <strong>dos</strong>a<strong>no</strong>s <strong>em</strong> presença, <strong>no</strong> total, mais de metade das matrículas <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong>são protagonizadas pelas <strong>raparigas</strong>.QUADRO 5Valores percentuais das matrículas <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> público e privadopor a<strong>no</strong> intra-sexo a nível nacionalA<strong>no</strong> Raparigas Rapazes1997 53.9 60.71998 55.3 64.91999 60.2 69.8Total 56.4 65.3Fonte: Base de da<strong>dos</strong> do CIPES referente ao acesso ao ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> para os a<strong>no</strong>s de 1997, 1998 e 1999.No entanto, se atendermos à expressão percentual das matrículas intra-sexo(Quadro 5) verificamos que, <strong>no</strong> global, as matrículas das <strong>raparigas</strong> correspond<strong>em</strong>a 56,4% das candidaturas que protagonizam, ao passo que para os <strong>rapazes</strong>175


a percentag<strong>em</strong> de matrículas é de 65.3%, tal como é <strong>superior</strong> para cada a<strong>no</strong>,por relação com a sua candidatura, a percentag<strong>em</strong> de <strong>rapazes</strong> que se matricula.Quer isto dizer que <strong>em</strong>bora as <strong>raparigas</strong> se candidat<strong>em</strong> <strong>em</strong> maior número, étambém nas suas hostes que a «mortalidade» é maior, acabando os <strong>rapazes</strong> porperder me<strong>no</strong>s efectivos. A sua candidatura apresenta assim mais probabilidadede se converter <strong>em</strong> matrícula do que a das <strong>raparigas</strong> que parec<strong>em</strong> sofrer deuma vulnerabilidade maior na concretização da entrada na universidade.Estes valores permit<strong>em</strong>-<strong>no</strong>s concluir para estes a<strong>no</strong>s que, <strong>no</strong> total, 44% das<strong>raparigas</strong> candidatas ao ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> não viram convertida a sua candidatura<strong>em</strong> inscrição, ao passo que para os <strong>rapazes</strong> tal situação se pauta pelos 35%.QUADRO 6Matrículas por sexo <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> público e privado por a<strong>no</strong>,a nível nacional para o ensi<strong>no</strong> público e privado. Valores percentuaisÁreas1997 1998 1999 TotalRaparigas Rapazes Raparigas Rapazes Raparigas Rapazes Raparigas RapazesDireito 874 393 945 392 978 423 2797 1208Letras/Líng./ 1703 332 1666 319 1632 362 5001 1013LiteraturasComunicação/ 1064 330 993 324 1065 350 3122 1004JornalismoEducação/Ens./ 4506 1362 4511 1380 5041 1369 14058 4111AnimaçãoEngenharia 4558 8259 4448 8990 4027 8189 13033 25438Ciências 2169 1263 2910 1255 2018 1223 7097 3741Desporto 130 255 166 274 206 336 502 865Artes 465 337 484 354 598 399 1547 1090Arquit./ 451 321 505 340 513 364 1469 1025Tec<strong>no</strong>l. ArtísticasC. Sociais e Humanas 1964 840 2107 985 2114 957 6185 2782Saúde 2347 895 2507 981 2484 946 7338 2822Eco<strong>no</strong>m. e Gest./ 4679 3710 4292 3489 4618 3629 13589 10828Secretar./Cont.Turismo/Hotel. 324 139 418 201 437 211 1179 951Tradução 155 48 115 40 97 40 367 128Fonte: Base de da<strong>dos</strong> do CIPES referente ao acesso ao ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> para os a<strong>no</strong>s de 1997, 1998 e 1999.176


Os resulta<strong>dos</strong> do Quadro 6 permit<strong>em</strong> uma visão geral sobre a distribuiçãode <strong>rapazes</strong> e <strong>raparigas</strong> <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong>, ao longo <strong>dos</strong> três a<strong>no</strong>s, nas diferentesáreas científicas e de formação. No presente quadro os diferentes cursosforam agrupa<strong>dos</strong> <strong>em</strong> áreas científicas e de formação: Direito; Letras/Línguas/Literaturas; Comunicação e Jornalismo; Educação/Ensi<strong>no</strong>/Animação; Engenharias;Ciências; Desporto; Artes; Arquitecturas/Tec<strong>no</strong>logias Artísticas; CiênciasSociais e Humanas; Saúde; Eco<strong>no</strong>mia e Gestão/Secretariado/Contabilidade;Turismo/Hotelarias; Tradução.Para cada um <strong>dos</strong> cursos agrupa<strong>dos</strong> e para cada a<strong>no</strong>, contabilizou-se onúmero de inscrições para <strong>rapazes</strong> e <strong>raparigas</strong>. A partir deste processo foi permitidoconstatar que as <strong>raparigas</strong> se apresentam <strong>em</strong> maior número na generalidade<strong>dos</strong> cursos com excepção de Engenharia e Desporto. Em Engenharia,curso tradicionalmente masculi<strong>no</strong>, o número de <strong>rapazes</strong> é ainda claramente<strong>superior</strong>, cerca do dobro das <strong>raparigas</strong>. Na área de Desporto, também mais«masculina», o número de <strong>raparigas</strong> t<strong>em</strong> vindo a aumentar significativamente.Pela análise deste quadro, pod<strong>em</strong> verificar-se também algumas das tendênciasapontadas anteriormente que se reportam à presença significativa das <strong>raparigas</strong><strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong>. Se pod<strong>em</strong>os constatar que permanec<strong>em</strong> <strong>em</strong> grand<strong>em</strong>aioria <strong>no</strong>s cursos tradicionalmente f<strong>em</strong>ini<strong>no</strong>s, como por ex<strong>em</strong>plo <strong>em</strong> Letras/Línguas e Literaturas e Educação/Ensi<strong>no</strong>/Animação, verifica-se que conquistaram,de seguida, <strong>no</strong>vos cursos, como Comunicação e Jornalismo e CiênciasSociais e Humanas, apropriando-se ainda de redutos tradicionalmente masculi<strong>no</strong>scomo o Direito, com uma maior expressão, e a Engenharia.No que se refere à área da Saúde, que engloba cursos como Enfermag<strong>em</strong>,Farmácia, Medicina, Medicina Dentária, Medicina Veterinária, Nutricionismoetc., o maior peso das <strong>raparigas</strong> <strong>no</strong> global é assegurado não só por uma maiorpresença <strong>no</strong>s cursos tradicionalmente f<strong>em</strong>ini<strong>no</strong>s (Enfermag<strong>em</strong> e Farmácia),b<strong>em</strong> como por uma presença <strong>em</strong> cursos tradicionalmente masculi<strong>no</strong>s (Medicinae Medicina Veterinária).177


A situação de <strong>rapazes</strong> e <strong>raparigas</strong> <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> básico e secundárioNo seguimento da intenção exploratória que <strong>no</strong>rteava esta pesquisa, procurámosconfrontar esta presença das <strong>raparigas</strong> <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> recorrendo aoutros da<strong>dos</strong> relativos ao sist<strong>em</strong>a de ensi<strong>no</strong> através da consulta das estatísticasda educação <strong>no</strong> Instituto Nacional de Estatísticas (INE). Procurámos confrontara situação de <strong>rapazes</strong> e <strong>raparigas</strong> <strong>no</strong>s d<strong>em</strong>ais níveis de ensi<strong>no</strong> reporta<strong>dos</strong> aoa<strong>no</strong> de inscrição <strong>em</strong> cada ciclo (1º a<strong>no</strong> do 1º ciclo, 5º a<strong>no</strong> do 2º ciclo, 7º a<strong>no</strong>do 3º ciclo e 10º a<strong>no</strong> para o ensi<strong>no</strong> secundário), para os a<strong>no</strong>s <strong>em</strong> que a populaçãodo ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong>, agora <strong>em</strong> estudo, <strong>em</strong> média, terá procedido à suamatrícula.GRÁFICO 1Matrículas <strong>no</strong> 1º a<strong>no</strong> do 1º ciclo do ensi<strong>no</strong> básico por sexo e a<strong>no</strong>8600084000820008000078000760007400072000700001985 1986 1987RapazesRaparigasGRÁFICO 2Matrículas <strong>no</strong> 5º a<strong>no</strong> do 2º ciclo do ensi<strong>no</strong> básico por sexo e a<strong>no</strong>90000850008000075000RapazesRaparigas700001989 1990 1991178


Tanto à entrada da escola primária (Gráfico 1) como à entrada do 2º ciclo(Gráfico 2), somos confrontadas com um maior número de <strong>rapazes</strong> <strong>no</strong> acto deinscrição.GRÁFICO 3Matrículas <strong>no</strong> 7º a<strong>no</strong> do 3º ciclo do ensi<strong>no</strong> básico por sexo e a<strong>no</strong>100000800006000040000RapazesRaparigas2000001991 1992 1993É a partir do 7º a<strong>no</strong> (Gráfico 3) que o número de matrículas de <strong>raparigas</strong> seaproxima, ultrapassando ligeiramente para 1991 e 1992 o número de matrículasde <strong>rapazes</strong>.GRÁFICO 4Matrículas <strong>no</strong> 10º a<strong>no</strong> do ensi<strong>no</strong> secundário por sexo e a<strong>no</strong>800007000060000500004000040000200001000001994 1995 1996RapazesRaparigasA tendência verificada para o 7º a<strong>no</strong> de escolaridade v<strong>em</strong> a ser confirmadaaquando da entrada <strong>no</strong> 10º a<strong>no</strong> de escolaridade. Com efeito, <strong>raparigas</strong> e <strong>rapazes</strong>equival<strong>em</strong>-se <strong>no</strong> acto de matrícula com um ligeiro predomínio das <strong>raparigas</strong><strong>em</strong> dois a<strong>no</strong>s lectivos.179


GRÁFICO 5Matrículas <strong>no</strong> 1º a<strong>no</strong> do ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> por sexo e a<strong>no</strong>3000025000200001500010000500001994 1995 1996RapazesRaparigasSe atendermos ao Gráfico 5, somos levadas a considerar que é ao longo doensi<strong>no</strong> secundário e aquando da entrada <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> que ocorr<strong>em</strong> osfenóme<strong>no</strong>s mais significativos do ponto de vista da relação <strong>dos</strong> jovens, porsexo, com o ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong>. Na verdade, é neste nível de ensi<strong>no</strong> que a discrepânciaentre <strong>rapazes</strong> e <strong>raparigas</strong> <strong>em</strong> favor das <strong>raparigas</strong> se acentua.No global, parece poder dizer-se, pela análise <strong>dos</strong> gráficos, que a frequênciada escolaridade básica e secundária não apresenta grandes matizes porsexo, sendo a entrada <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> que marca algumas distâncias.Apreciações finaisEmbora este estudo se apresente com um carácter <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente exploratório,permite-<strong>no</strong>s chegar a algumas apreciações finais. Com estas, quer<strong>em</strong>osenfatizar o aumento do número de <strong>raparigas</strong> <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> e a sua distribuiçãopor todas as áreas de formação, quer <strong>no</strong>s cursos tradicionalmente f<strong>em</strong>ini<strong>no</strong>s,quer <strong>no</strong>s tradicionalmente masculi<strong>no</strong>s, b<strong>em</strong> como nas <strong>no</strong>vas áreas deformação. No entanto, como vimos, esta presença mais consistente das <strong>raparigas</strong><strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> na passag<strong>em</strong> do século XX para o século XXI não existeindependent<strong>em</strong>ente de dois outros fenóme<strong>no</strong>s: o da me<strong>no</strong>r expressão <strong>dos</strong><strong>rapazes</strong> na candidatura à universidade e o da me<strong>no</strong>r efectivação das matrículasdas <strong>raparigas</strong> por relação com a sua candidatura. É como se os <strong>rapazes</strong> compensass<strong>em</strong>na efectividade da matrícula, por relação com a sua candidatura, os180


el<strong>em</strong>entos que perd<strong>em</strong> <strong>no</strong> terminus do ensi<strong>no</strong> secundário, uma vez que, paraeles, manter-se na escola, realizando o ensi<strong>no</strong> básico e o ensi<strong>no</strong> secundário,parece constituir um esforço maior. Por seu lado, as <strong>raparigas</strong>, cuja presençaaumenta à medida que avançamos <strong>no</strong>s graus de ensi<strong>no</strong>, com maior acentuaçãoa partir do 10º a<strong>no</strong>, parec<strong>em</strong> estar mais à vontade <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong>. No entanto, seasseguram com mais efectividade que os <strong>rapazes</strong> a sua candidatura ao ensi<strong>no</strong><strong>superior</strong>, acabam por ser me<strong>no</strong>s consistentes na sua concretização através damatrícula.No âmbito deste estudo não é possível proceder a interpretações que nãocorram o risco de ser fantasiosas e abusivas. A relação das <strong>raparigas</strong> e <strong>dos</strong> <strong>rapazes</strong>com o ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> é um fenóme<strong>no</strong> de complexidade tão acentuadaque só se presta ao conhecimento com base <strong>em</strong> estu<strong>dos</strong> aprofunda<strong>dos</strong> tanto<strong>no</strong> pla<strong>no</strong> teórico como <strong>em</strong>pírico.Contacto: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade do Porto, RuaDr. Manuel Pereira da Silva, 4200-392 PortoE-mail: crocha@fpce.up.pt; sofiamsilva@fpce.up.ptReferências bibliográficasAMARAL, Alberto, CORREIA, Fernanda, MAGALHÃES, António, ROSA, Maria João, SANTIAGO, RuiA., & TEIXEIRA, Pedro (2002). O ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> pela mão da eco<strong>no</strong>mia. Fundação das UniversidadesPortuguesas.ARAÚJO, Helena C., MAGALHÃES, Maria José, FONSECA, Laura, ROCHA, Cristina, SILVA, SofiaMarques da, & GOMES, Lúcia (2002). Relatório <strong>final</strong> do projecto «A auto<strong>no</strong>mia visível das<strong>raparigas</strong> e a desafectação <strong>dos</strong> <strong>rapazes</strong> da escola?». Porto: FPCE-UP/FCT.ARNOT, Madeleine, DAVID, Miriam, & WEINER, Gaby (1998). Closing the gender gap. Cambridge:Polity Press.ALMEIDA, Miguel Vale de (1995). Senhores de si. Uma interpretação antropológica da masculinidade.Lisboa: Fim de Século.CARAÇA, João M. G., CONCEIÇÃO, Pedro, & HEITOR, Manuel V. (1996). Uma perspectiva sobrea missão das universidades. Análise Social, 139, 1201-1233.MARTINS, Susana da Cruz, MAURITTI, Rosário, & COSTA, António Firmi<strong>no</strong> (2005). Condiçõessocioeconómicas <strong>dos</strong> estudantes do ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong> <strong>em</strong> Portugal. Lisboa: Direcção de Serviçosde Acção Social – Direcção-Geral do Ensi<strong>no</strong> Superior.ROCHA, Cristina, & FERREIRA, Manuela (2002). Aprender a ser rapaz entre <strong>rapazes</strong> e <strong>raparigas</strong>.181


Masculinidades <strong>em</strong> duas escolas C+S do Distrito do Porto. Trabalhos de Antropologia e Et<strong>no</strong>logia,42(1-2), 49-68.ROSA, Maria João Valente (2000). Notas sobre a população – Desequilíbrios entre sexos. AnáliseSocial, 151-152, 703-709.SAAVEDRA, Luísa, ALMEIDA, Leandro S., GONÇALVES, Alberti<strong>no</strong>, & SOARES, Ana Paula (2004).Pontos de partida, pontos de chegada: impacto de variáveis sócio-culturais <strong>no</strong> ingresso aoensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong>. Sociedade e Cultura, 6, 63-84.SEDAS NUNES, Adérito (1968). A população universitária portuguesa: Uma análise preliminar.Análise Social, 22/23/24, 295-385.VIEIRA, Maria Manuel (1996). Transformações recentes <strong>no</strong> campo do ensi<strong>no</strong> <strong>superior</strong>. AnáliseSocial, 131-132, 315-373.WILLIS, Paul (1991). Aprendendo a ser trabalhador. Porto Alegre: Artes Médicas.182

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!