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“Lo más olvidado del olvido” de Isabel Allende

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Aqui, mesmo uma mulher que caminhou <strong>de</strong>cidida com um homemno sentido <strong>de</strong> sua liberda<strong>de</strong>, em busca da superação, vê-se embargada pelovestígio <strong>de</strong> um regime cruento – e masculino. O prazer não se realiza, o que fazvaler para ela apenas a busca autêntica do prazer, <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>cendo somente emprojeto ao regime <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo que castra sua libido. Isto, aliás, vale muitíssimo, jáque, a meu ver, a concretização do sexo não implica o prazer necessário para amulher, quando prevalece uma divisão <strong>de</strong> papéis sexuais on<strong>de</strong> o prazer <strong>de</strong>stina-seao homem ao passo que a responsabilida<strong>de</strong>, à mulher. Vale muitíssimo, eprincipalmente, também porque, segundo Simone <strong>de</strong> Beauvoir (2005), a liberda<strong>de</strong>é projeto e se realiza em projeto.O quarto, diferente da cela on<strong>de</strong> o homem esteve “fermentando ensus propios excrementos, <strong>de</strong>mente” (ALLENDE: 2008, p. 145) tem uma janela, poron<strong>de</strong> entra a luz do lugar, o vento. No Dicionário <strong>de</strong> imagens, símbolos, mitos,termos e conceitos bacherlardianos, <strong>de</strong> Agripina Encarnación Alvarez Ferreiraencontram-se as seguintes palavras: “a janela como objeto onírico”, “a janelaabre-se para o mundo” e “a janela simboliza a apreensão <strong>de</strong> um mundo em <strong>de</strong>virque se oculta em seu interior” (FERREIRA: 2008, p. 109).Se consi<strong>de</strong>rarmos o espaço psicológico do conto, que atravessa olongo sofrimento da ditadura, em oposição ao espaço físico, eles não sedistinguem precisamente. Em um momento, a narradora nos coloca num quartohabitado por exilados, on<strong>de</strong> uma mulher busca o prazer com um homem queconheceu na mesma manhã. Em outro, estamos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma cela com umhomem que sofre a tortura e tem o que serão cicatrizes ainda sangrento. Emborasintamos o recobro <strong>de</strong> uma memória apavorante para os personagens <strong>de</strong> talnarrativa, a suavida<strong>de</strong> com que a narradora realiza essa fissura do espaço e dotempo é similar ao vento que entra pela janela.Então, num espaço on<strong>de</strong> os elementos se atravessam, o que éinterno e o que é externo? (Um personagem é externo à outra ou também seatravessam é outra pergunta possível nesta reflexão). No entanto, urge pensar noque essa janela po<strong>de</strong>ria ocultar. Afinal, não se sabe nesse conto o que é presente11

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