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“Lo más olvidado del olvido” de Isabel Allende

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dialética entre o interior e o exterior. E para o contexto histórico da ditaduraespecífico do texto, o conto constitui-se o hiato entre a liberda<strong>de</strong> e a prisão.Por que importa observar que a mulher tomou a ação <strong>de</strong> levar ohomem para o seu quarto com o objetivo <strong>de</strong> fazer amor?Segundo Bensusan (2004), no seu artigo “Observações sobre alibido colonizada: tentando pensar ao largo do patriarcado”, vivemos num regimeon<strong>de</strong> o <strong>de</strong>sejo é agenciado, colonizado porque politizável, ou seja, não éautêntico, porque não se articula por si mesmo, antes, por uma série <strong>de</strong> filtros,<strong>de</strong>pendências <strong>de</strong> fatores prescritivos que <strong>de</strong>vem orientar o <strong>de</strong>sejo. Bensusansupõe que “a origem da colonização da libido seja o comprometimento daspessoas no projeto da reprodução da espécie” (BENSUSAN: 2004, p. 132).Situação em que salta às vistas que o homem assume o conforto <strong>de</strong> quem goza(tem o <strong>de</strong>sejo realizado) com a distribuição dos papéis, enquanto a mulher ficacom a fatia dolorosa – a maternida<strong>de</strong>.Não há dúvida, conforme observou Montecino (1988), que asrelações <strong>de</strong>sequilibradas entre os gêneros se reproduzem na escritura, um campo<strong>de</strong> disputa pelo po<strong>de</strong>r, que para ser encampado é necessário, no mínimo, saberexpressar-se através da escrita. A importância da escrita, portanto, é aimportância da continuida<strong>de</strong> ou, para ser singelo, é a importância <strong>de</strong> um lugar paraon<strong>de</strong> vai a alma.Garretas (1998), ao afirmar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se assumir umapostura subjetiva diante da história, não previu o resultado do alijamento quesofrem as mulheres, quando arremessadas do barco da história: o trauma. Omesmo trauma que embarga a voz e que impe<strong>de</strong> a elaboração simbólica,linguística (GAGNEBIN: 2002). Os dois personagens do conto aqui analisadoapresentam dois comportamentos: um não consegue fazer a elaboração simbólicae linguística, a outra, sim. Tanto que oculta suas marcas, seu trauma com outrosímbolo, agora do universo feminino: os braceletes. Um símbolo do universofeminino cobre o trauma <strong>de</strong> um regime masculino. Isto, no entanto, não quer dizerque a personagem queira que a história que viveu seja esquecida, escondida. Ela9

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