versão on-line - Programa de Pós-graduação em Ciências da ...
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Ant<strong>on</strong>io Carlos Santosmo<strong>de</strong>los anteriores, fun<strong>da</strong>r um novo estilo que rejeita as “belas letras” e as“belas-artes” c<strong>on</strong>forma<strong>da</strong>s pelas poéticas, e por isso se aferra à ciência, umaespécie <strong>de</strong> “doença” do final do século, basta l<strong>em</strong>brar que é neste final <strong>de</strong>século que a ciência c<strong>on</strong>strói as teorias racistas que sustentam e “explicam”a superiori<strong>da</strong><strong>de</strong> do hom<strong>em</strong> branco europeu que, assim, po<strong>de</strong>ria escravizars<strong>em</strong> culpa cristã as outras etnias do planeta.São esses “meios subalternos” a que se refere o teórico húngaro quechamam a atenção <strong>de</strong> Roland Barthes, <strong>em</strong> seu famoso ensaio <strong>de</strong> 1968 “Oefeito <strong>de</strong> real” (1988, p.158), aqueles “pormenores ‘supérfluos’” que aanálise estrutural <strong>de</strong>sprezava. Barthes percebe que a singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>de</strong>scrição, que “não se justifica por nenhuma finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ação ou <strong>de</strong>comunicação” (1968, p. 160), “<strong>de</strong>signa uma questão <strong>da</strong> maior importânciapara a análise estrutural <strong>da</strong> narrativa” (i<strong>de</strong>m) e o que ele busca é a“significação <strong>de</strong>ssa insignificância”. E essa significação é o aceno que essessignificantes faz<strong>em</strong> como a dizer “nós somos o real”. Barthes, no entanto,não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ap<strong>on</strong>tar a diferença entre “esse novo verossímil” e o antigo:“esse novo verossímil é muito diferente do antigo, pois não é n<strong>em</strong> orespeito <strong>da</strong>s ‘leis do gênero’, n<strong>em</strong> sequer a sua máscara, mas proce<strong>de</strong> <strong>da</strong>intenção <strong>de</strong> alterar a natureza triparti<strong>da</strong> do signo para fazer <strong>da</strong> notação osimples enc<strong>on</strong>tro <strong>de</strong> um objeto e <strong>de</strong> sua expressão”. (1968, p. 165) Atentativa <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r esse aspecto colado ao referente do signo“realista” reaparece na leitura que Barthes faz <strong>da</strong> fotografia <strong>em</strong> A câmaraclara (1984), na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que afirma seu caráter indicial, materializad<strong>on</strong>a expressão ça a été que dá c<strong>on</strong>ta <strong>de</strong> um corpo que efetivamente esteve ládiante câmera. Ir<strong>on</strong>icamente, Rancière afirma ser pouco provável que oautor <strong>da</strong>s Mitologias acreditasse que a fotografia fosse uma <strong>em</strong>anaçãodireta do corpo exposto:É mais verossímil que este mito lhe tenha servido para expiaro pecado do mitólogo <strong>de</strong> antes: o <strong>de</strong> ter querido <strong>de</strong>stituir domundo visível seus artifícios, <strong>de</strong> ter transformado seusespetáculos e seu prazeres <strong>em</strong> um gran<strong>de</strong> tecido <strong>de</strong> sintomase <strong>em</strong> um comércio suspeito <strong>de</strong> signos. O s<strong>em</strong>iólogo searrepen<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter passado uma boa parte <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong> a dizer:Atenção! Isso que vocês tomam por uma evidência visível é<strong>de</strong> fato uma mensag<strong>em</strong> secreta pela qual uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> ouum po<strong>de</strong>r se legitima ao se naturalizar, ao se fun<strong>da</strong>r naevidência s<strong>em</strong> frase do visível. Ele torce o sinal para o outrosentido valorizando, a título <strong>de</strong> punctum, a evidência s<strong>em</strong>frase <strong>da</strong> fotografia para rejeitar na platitu<strong>de</strong> do studium amaneira <strong>de</strong> <strong>de</strong>cifrar as mensagens. (RANCIÈRE, 2003, p.18).195