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O conceito de igualdade de oportunidades educacionais

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secundária. Apenas o currículo e os exames <strong>de</strong>stas últimas escolas proporcionavam a admissãoao ensino superior.O que é mais surpreen<strong>de</strong>nte é a duração da influência <strong>de</strong>sta estrutura dual. Mesmo hojeem Inglaterra, um século <strong>de</strong>pois (e, <strong>de</strong> formas distintas, na maioria dos países europeus),existe uma estrutura dual <strong>de</strong> educação secundária pública com apenas um dos ramos aproporcionar o currículo para a admissão ao ensino superior. Em Inglaterra, este ramo incluias voluntary schools ainda existentes, as quais, através da manutenção das suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>sindividuais, se integraram no sistema apoiado pelo Estado.Esta comparação entre a Inglaterra e os Estados Unidos ilustra claramente o impacto daestrutura <strong>de</strong> classes sociais no <strong>conceito</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>educacionais</strong> nessa socieda<strong>de</strong>. NaInglaterra do século XIX, o <strong>conceito</strong> <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>educacionais</strong> dificilmenteera tido em consi<strong>de</strong>ração; o sistema estava concebido para proporcionar oportunida<strong>de</strong>s<strong>educacionais</strong> diferenciadas <strong>de</strong> acordo com a posição <strong>de</strong> cada um na vida. Também nosEstados Unidos, a ausência <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>educacionais</strong> para os negros no sul foi consequênciada estrutura feudal e <strong>de</strong> castas da socieda<strong>de</strong> amplamente rural. O <strong>conceito</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s<strong>educacionais</strong> diferenciadas, implícito na Education Act <strong>de</strong> 1870 em Inglaterra,parece <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> dois tipos: as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>correntes da industrialização,no sentido <strong>de</strong> uma educação básica para a força <strong>de</strong> trabalho, e os interesses dos pais emterem um dos seus filhos com uma boa formação académica. As classes médias po<strong>de</strong>riam colmatarambas as necessida<strong>de</strong>s, proporcionando um sistema <strong>de</strong> ensino gratuito para as criançasoriundas das classes trabalhadoras, e um sistema <strong>de</strong> propinas (que logo foi suplementado pelosapoios do Estado) para os seus próprios filhos. A longa duração <strong>de</strong>ste sistema diferenciado<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>u não apenas do facto histórico <strong>de</strong> as voluntary schools serem anteriores à emergência<strong>de</strong> um sistema público, mas também do facto <strong>de</strong> permitir colmatar estas duas necessida<strong>de</strong>s: anecessida<strong>de</strong> colectiva, por parte da comunida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> uma força trabalhadora formada, e o interesseindividual da classe média numa educação melhor para os seus filhos. Servia ainda umaterceira necessida<strong>de</strong>: a <strong>de</strong> manter a or<strong>de</strong>m social existente – um sistema <strong>de</strong> estratificação, que eraum passo retirado <strong>de</strong> um sistema feudal <strong>de</strong> classes sociais fixas, mas <strong>de</strong>lineado para prevenirum <strong>de</strong>safio geral das crianças da classe trabalhadora às posições das crianças da classe média.A semelhança <strong>de</strong>ste sistema com aquele que existia no sul para conce<strong>de</strong>r oportunida<strong>de</strong>sdiferenciadas a negros e brancos é impressionante, tal como é a semelhança das estruturas <strong>de</strong>classe na Inglaterra da segunda meta<strong>de</strong> do século XIX com a estrutura <strong>de</strong> casta branco-negrodos Estados Unidos do sul da primeira meta<strong>de</strong> do século XX.Nos Estados Unidos, quase <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, o <strong>conceito</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>educacionais</strong> teveum significado especial que se focalizava na igualda<strong>de</strong>. Este significado incluía os seguinteselementos:140


(1) Facultar uma educação gratuita, até <strong>de</strong>terminado nível, que constituía o ponto principal<strong>de</strong> integração na força <strong>de</strong> trabalho;(2) Conce<strong>de</strong>r um currículo comum a todas as crianças, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da suaorigem;(3) Em parte por <strong>de</strong>lineação e em parte <strong>de</strong>vido à baixa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional, assegurarque as crianças das diferentes origens frequentassem a mesma escola;(4) Assegurar a igualda<strong>de</strong> numa <strong>de</strong>terminada localida<strong>de</strong>, uma vez que os impostos locaiseram o meio <strong>de</strong> sustento das escolas;Esta concepção <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s ainda é apoiada por muitas pessoas; porém,ela contém alguns pressupostos que não são óbvios. Em primeiro lugar, assume implicitamenteque a existência <strong>de</strong> escolas gratuitas elimina as fontes económicas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>oportunida<strong>de</strong>s. No entanto, as escolas gratuitas não significam que, para as famílias <strong>de</strong> todosos níveis económicos, os custos da educação <strong>de</strong> uma criança fiquem reduzidos a zero.Quando a educação gratuita foi implementada, muitas famílias não tinham possibilida<strong>de</strong>s quepermitissem que os seus filhos frequentassem a escola para além <strong>de</strong> uma ida<strong>de</strong> precoce. Oseu trabalho era necessário para a família – quer nas zonas rurais, quer nas zonas urbanas.Mesmo <strong>de</strong>pois da aprovação das leis do trabalho infantil esta situação persistiu no campo.Estas fontes económicas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s foram diminuindo (até ao ensinosecundário); contudo, durante uma certa época, eram uma enorme fonte <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>. Emalguns países continuam a sê-lo, e no ensino superior continuam certamente.Para além das necessida<strong>de</strong>s económicas da família, os problemas inerentes à estruturasocial levantaram questões ainda mais fundamentais sobre a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s<strong>educacionais</strong>. A frequência escolar continuada impedia que um rapaz se especializasse noofício do seu pai. Assim, ao tirar partido da «igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>educacionais</strong>», ofilho <strong>de</strong> um artesão ou <strong>de</strong> um pequeno comerciante per<strong>de</strong>ria a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se envolvernas ocupações que muito provavelmente iria ocupar. A herança familiar da profissão a todosos níveis sociais era ainda tão forte, e a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entrada na força <strong>de</strong> trabalho era ainda tãoprecoce que o ensino secundário interferia com as oportunida<strong>de</strong>s das crianças da classetrabalhadora; enquanto criava oportunida<strong>de</strong>s aos níveis sociais superiores, limitava-as aosníveis inferiores.Uma vez que o que resta <strong>de</strong>sta estrutura social ainda permanece na actual socieda<strong>de</strong>americana, o dilema não po<strong>de</strong> ser totalmente ignorado. A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma experiência educacionalcomum implica que esta experiência tenha apenas como efeito o alargamento do número<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s e nunca o efeito da exclusão <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s. Porém, claramente, istonunca será inteiramente verda<strong>de</strong> enquanto esta experiência impedir uma criança <strong>de</strong> seguir141


<strong>de</strong>terminados percursos profissionais. Esta questão ainda surge com o currículo diferenciadodo ensino secundário – um programa académico numa escola secundária tem o efeito, nãoapenas <strong>de</strong> manter em aberto as oportunida<strong>de</strong>s que surgem através da educação continuada,mas também <strong>de</strong> encerrar oportunida<strong>de</strong>s que um programa vocacional mantém abertas.Um segundo pressuposto implícito neste <strong>conceito</strong> <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s é ofacto <strong>de</strong> que as oportunida<strong>de</strong>s residirem na exposição a um <strong>de</strong>terminado currículo. A quantida<strong>de</strong><strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> é, assim, calculada em termos do nível do currículo a que a criança éexposta. Quanto maior o currículo disponibilizado a um <strong>de</strong>terminado grupo <strong>de</strong> crianças,maiores serão as suas oportunida<strong>de</strong>s.A questão mais interessante sobre este pressuposto é o papel relativamente passivo daescola e da comunida<strong>de</strong> em relação ao papel da criança. A escola tem a obrigação <strong>de</strong> «conferiroportunida<strong>de</strong>s», estando disponível, facilitando o acesso geográfico à criança, livre <strong>de</strong>custos (para além do valor do tempo da criança) e com um currículo que não a exclua doensino superior. A obrigação <strong>de</strong> «aproveitar a oportunida<strong>de</strong>» está do lado da criança ou da suafamília, e assim o seu papel é <strong>de</strong>finido como activo: a responsabilida<strong>de</strong> pelo sucesso é sua.Apesar do facto <strong>de</strong> o papel da escola ser relativamente passivo e <strong>de</strong> o papel da criança ou dafamília ser activo, a utilização <strong>de</strong>ste serviço social <strong>de</strong>ixou rapidamente <strong>de</strong> ser uma escolha dospais ou das crianças, para ser uma escolha do estado. Des<strong>de</strong> que emergiram as leis da escolarida<strong>de</strong>obrigatória no século XIX, a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> requerida tem sofrido uma mobilida<strong>de</strong>ascen<strong>de</strong>nte periódica.Este <strong>conceito</strong> <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>educacionais</strong> tem estado implícito na maioriada prática educacional ao longo da maior parte do período da educação pública nos séculosXIX e XX. Contudo, foi <strong>de</strong>safiado inúmeras vezes; foram levantadas questões sérias pornovas condições na educação pública. A primeira, nos Estado Unidos, foi um <strong>de</strong>safio aosegundo pressuposto, o currículo comum. Este <strong>de</strong>safio ocorreu em primeiro lugar no princípiodo século XX, com a expansão do ensino preparatório e secundário. Até à publicação dorelatório do comité da National Education Association (NEA), emitido em 1918, o currículo padronizadonas escolas preparatórias e secundárias era, em primeiro lugar, o clássico, a<strong>de</strong>quadopara a admissão na universida<strong>de</strong>. A maior afluência <strong>de</strong> adolescentes sem <strong>de</strong>stino universitárionas escolas preparatórias e secundárias levou à necessida<strong>de</strong> imediata <strong>de</strong> alteração do currículopara um mais ajustado à nova maioria. Isto não quer dizer que o currículo tenha sidoalterado imediatamente nas escolas, nem que todas as escolas o tenham alterado <strong>de</strong> formaigual, mas que os sete «princípios essenciais» do relatório da NEA se tornaram numa forteinfluência no movimento em torno <strong>de</strong> um currículo menos rígido em termos académicos. Aintrodução do novo currículo não-clássico foi raras vezes, se é que o foi alguma vez, expressaem termos <strong>de</strong> um conflito entre aqueles para quem a escola preparatória e secundária era142


uma preparação para a universida<strong>de</strong> e aqueles para quem ela representava o fim do ensino;todavia, era esse o caso. Observar-se-ia uma «<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>» enquanto se continuasse a utilizarum currículo que servia a minoria e não estivesse elaborado para suprir as necessida<strong>de</strong>s damaioria; e a mudança <strong>de</strong> currículo pretendia conjugar o currículo com as necessida<strong>de</strong>s danova maioria nas escolas.Em muitas escolas, esta mudança assumiu a forma <strong>de</strong> diversificação do currículo, em vezda substituição <strong>de</strong> um pelo outro; o currículo preparatório para a universida<strong>de</strong> manteve-se,embora mais brando. Assim, o tipo <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s que emergia do currículoreformulado do ensino preparatório e secundário era radicalmente diferente do <strong>conceito</strong> daescola primária que tinha emergido anteriormente. A i<strong>de</strong>ia inerente ao novo currículo doensino preparatório e secundário parecia ter sido a <strong>de</strong> assumir, como dado adquirido, osdiversos percursos profissionais que os adolescentes iriam seguir <strong>de</strong>pois da escola preparatóriae secundária e a <strong>de</strong> referir (implicitamente) que existe uma maior igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s<strong>educacionais</strong> para um rapaz que não vá para a universida<strong>de</strong> se ele tiver um currículoapropriado do que se tiver um currículo <strong>de</strong>lineado para a entrada na universida<strong>de</strong>.Existe apenas uma dificulda<strong>de</strong> nesta <strong>de</strong>finição: assume como adquirido o que <strong>de</strong>veria serproblemático – que um <strong>de</strong>terminado rapaz terá um <strong>de</strong>terminado percurso profissional oueducacional pós-secundário. Uma coisa que tem <strong>de</strong> se assumir como dado adquirido é queaproximadamente 70 por cento <strong>de</strong> uma turma do primeiro ano <strong>de</strong> uma escola preparatória esecundária não frequentará a universida<strong>de</strong>; contudo, atribuir a uma criança em particular,um currículo <strong>de</strong>lineado para esses 70 por cento, anula a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> essa criança entrarnuma universida<strong>de</strong>. No entanto, atribuir a todas as crianças um currículo <strong>de</strong>lineado para os 30por cento que irão frequentar a universida<strong>de</strong> gera <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> relativamente àquelas que, nofinal do ensino preparatório e secundário, acabam por se juntar aos 70 por cento que não vãoentrar na universida<strong>de</strong>. Este é um dilema real e que nenhum sistema educacional resolveupor completo. É ainda mais geral do que a dicotomia universida<strong>de</strong>/não-universida<strong>de</strong>, poisexiste uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferentes percursos que os adolescentes escolhem <strong>de</strong>pois daconclusão do ensino preparatório e secundário. Por exemplo, em Inglaterra, um aluno quepretenda entrar numa universida<strong>de</strong> tem <strong>de</strong> se especializar em artes ou ciências, nos últimosanos da escola preparatória e secundária. No gymnasium alemão ocorre uma especializaçãosemelhante; e isto apenas no grupo que preten<strong>de</strong> frequentar a universida<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong> encontrar--se uma ainda maior especialização nos currículos não-universitários, especialmente nas escolassecundárias <strong>de</strong> cariz vocacional, técnico e comercial.A caraterística que distingue este <strong>conceito</strong> <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>educacionais</strong> éo facto <strong>de</strong> que este aceita como dado adquirido o futuro pretendido da criança. Enquanto o<strong>conceito</strong> discutido anteriormente <strong>de</strong>ixava inteiramente em aberto o futuro da criança, este143


a utilização da “raça”, enquanto base para a frequência escolar, violava liberda<strong>de</strong>s fundamentais.Todavia, o que é importante para a evolução do <strong>conceito</strong> <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>sé o facto <strong>de</strong> ter sido introduzido um pressuposto novo e diferente, o pressuposto <strong>de</strong> que aigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, <strong>de</strong> certa forma, dos efeitos do ensino. Creio que a <strong>de</strong>cisãoteria tido uma base mais sólida se não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>sse dos efeitos do ensino, mas apenas daviolação da liberda<strong>de</strong>; porém, ao introduzir a questão dos efeitos do ensino, o Tribunal trouxea público os objectivos implícitos da igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>educacionais</strong> – ou seja, osobjectivos relacionados com os resultados da escola – para os quais o <strong>conceito</strong> original estavadirigido <strong>de</strong> forma um pouco estranha.Po<strong>de</strong> verificar-se através <strong>de</strong> uma simples experiência mental que estes objectivos estavam,na verda<strong>de</strong>, subjacentes ao <strong>conceito</strong>. Suponhamos que as primeiras escolas funcionavamapenas durante uma hora por semana e tinham sido frequentadas por crianças <strong>de</strong> todas asclasses sociais. Esta situação iria ao encontro dos pressupostos explícitos do <strong>conceito</strong> inicial<strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s uma vez que a escola é gratuita, com um currículo comum efrequentada por todas as crianças da localida<strong>de</strong>. Contudo, obviamente, não teria sido aceite,mesmo nessa altura, como geradora <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s, porque os seus efeitosseriam muito reduzidos. Os recursos <strong>de</strong> educação adicionais facultados pelas famílias dasclasses média e alta, quer em casa, com um tutor, quer em escolas privadas, teriam criadograves <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s nos resultados.Deste modo, a <strong>de</strong>pendência do <strong>conceito</strong> dos resultados ou dos efeitos do ensino, quetinha permanecido oculta até 1954, foi <strong>de</strong>svendada parcialmente pela <strong>de</strong>cisão do SupremoTribunal. No entanto, isto não foi o fim, pois criou mais problemas do que aqueles que resolveu.Po<strong>de</strong>ria permitir avaliar as gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, tais como as criadas pelo sistema dual<strong>de</strong> escolas no sul, ou por um sistema como o da experiência que acima <strong>de</strong>screvi. Porém, nãopermite mais nada para além disso. Ainda é mais confuso, porque a <strong>de</strong>cisão não utilizou osefeitos do ensino como critério <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, mas apenas como justificação para um critério<strong>de</strong> integração racial: a integração emergiu por si só como base para um novo <strong>conceito</strong> <strong>de</strong>igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>educacionais</strong>. Assim, a i<strong>de</strong>ia dos efeitos do ensino como umelemento do <strong>conceito</strong> foi introduzida, mas imediatamente ofuscada por outra, o critério daintegração racial.A fase seguinte da evolução <strong>de</strong>ste <strong>conceito</strong> foi, na minha opinião, o Office of EducationSurvey of Equality of Educational Opportunity [Estudo da Igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Oportunida<strong>de</strong>sEducacionais do Gabinete <strong>de</strong> Educação]. Este estudo foi elaborado sob um mandato da CivilRights Act <strong>de</strong> 1964 para o Comissário da Educação avaliar a «falta <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s<strong>educacionais</strong>» nos grupos raciais e em outros grupos nos Estados Unidos. A evolução <strong>de</strong>ste<strong>conceito</strong> e a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m conceptual que esta evolução gerou tornaram a <strong>de</strong>finição da tarefa145


extremamente difícil. O <strong>conceito</strong> original po<strong>de</strong>ria ser examinado através da <strong>de</strong>terminação dograu <strong>de</strong> acesso <strong>de</strong> todas as crianças <strong>de</strong> uma localida<strong>de</strong> às mesmas escolas e ao mesmo currículo,sem encargos financeiros. A existência <strong>de</strong> vários currículos do ensino secundário,a<strong>de</strong>quados para diferentes futuros, podia ser facilmente avaliada. Todavia, a atribuição <strong>de</strong> umcurrículo específico a uma criança implica a aceitação do <strong>conceito</strong> <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong>, que assumeo futuro como dado adquirido. Adicionalmente, a introdução das novas interpretações, aigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada pelos resultados escolares e a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>finida através da integraçãoracial, ainda complicaram mais esta questão.Como consequência, no planeamento do estudo tornou-se óbvio que não existia um<strong>conceito</strong> único <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>educacionais</strong>, e que o estudo teria <strong>de</strong> facultarinformação relevante para uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>conceito</strong>s. A base sobre a qual isto foi feito po<strong>de</strong>ser observada através da reprodução <strong>de</strong> um excerto <strong>de</strong> um memorando interno que <strong>de</strong>terminavao <strong>de</strong>senho do estudo:O ponto <strong>de</strong> segunda importância [<strong>de</strong>pois da questão da <strong>de</strong>scoberta da intenção do Congresso, que assumiuque o estudo não tinha o propósito <strong>de</strong> localizar a discriminação premeditada, mas <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>educacional sem observar a intenção dos que têm autorida<strong>de</strong>] segue-se ao primeiro e diz respeito à <strong>de</strong>finição<strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>. Um tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido em termos das diferenças do input dacomunida<strong>de</strong> na escola, como a <strong>de</strong>spesa por aluno, com a escola, com as bibliotecas, com a qualida<strong>de</strong> dosprofessores e outras quantida<strong>de</strong>s semelhantes.Um segundo tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido em termos <strong>de</strong> composição racial da escola, <strong>de</strong> acordocom a <strong>de</strong>cisão do Supremo Tribunal, em que a segregação do ensino é inerentemente <strong>de</strong>sigual. Na primeira<strong>de</strong>finição, a questão da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> através da segregação está excluída, mas na última existirá <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><strong>de</strong> educação num sistema escolar enquanto as escolas do sistema tiverem uma composição racial diferente.Um terceiro tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> incluiria várias caraterísticas intangíveis da escola, bem como os factoresdirectamente <strong>de</strong>tectáveis pelos inputs da comunida<strong>de</strong> na escola. Estas características intangíveis são, porexemplo, o moral do professor, as suas expectativas relativamente aos alunos, o nível <strong>de</strong> interesse dos alunosna aprendizagem, entre outras. Todos estes factores po<strong>de</strong>m afectar o impacto da escola num <strong>de</strong>terminadoaluno que a frequenta. No entanto, tal <strong>de</strong>finição não sugere on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>ve parar, ou quão relevantes estesfactores po<strong>de</strong>m ser para a qualida<strong>de</strong> da escola.Consequentemente, po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido um quarto tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> em termos das consequências daescola para os indivíduos com origens e capacida<strong>de</strong>s iguais. Nesta <strong>de</strong>finição, a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s<strong>educacionais</strong> é a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> resultados, dado o mesmo input individual. Nesta <strong>de</strong>finição, a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>po<strong>de</strong> surgir das diferenças nos investimentos na escola e/ou da composição “racial” e/ou <strong>de</strong> mais aspectosintangíveis como acima <strong>de</strong>scrito.Esta <strong>de</strong>finição iria, obviamente, requerer que se <strong>de</strong>ssem dois passos na <strong>de</strong>terminação da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>. Emprimeiro lugar, é necessário <strong>de</strong>terminar o efeito <strong>de</strong>stes vários factores nos resultados <strong>educacionais</strong> (concebendoos resultados <strong>de</strong> uma forma abrangente, não incluindo apenas os resultados, mas também as atitu<strong>de</strong>sem relação à aprendizagem, auto-imagem e talvez outras variáveis). Assim, é possível <strong>de</strong>terminar <strong>de</strong> váriasformas a qualida<strong>de</strong> da escola em termos do seu efeito nos alunos. Em segundo lugar, é necessário utilizarestas medidas <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> logo que estejam <strong>de</strong>terminadas, e <strong>de</strong>limitar a exposição diferencial <strong>de</strong> negros (ououtros grupos) e brancos nas escolas <strong>de</strong> elevada e baixa qualida<strong>de</strong>.146


Um quinto tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido em termos das consequências da escola para os indivíduos<strong>de</strong> origens e capacida<strong>de</strong>s diferentes. Nesta <strong>de</strong>finição, a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>educacionais</strong> é a igualda<strong>de</strong><strong>de</strong> resultados em face <strong>de</strong> investimentos individuais diferentes. Os exemplos mais impressionantes <strong>de</strong><strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> que aqui se encontravam eram as crianças das famílias <strong>de</strong> outra língua, por exemplo, espanholaou ameríndia. Outros exemplos eram as crianças com fracos resultados, oriundas <strong>de</strong> famílias <strong>de</strong> expressãoverbal pobre ou sem experiências que conduzissem a comportamentos <strong>de</strong> facilida<strong>de</strong> conceptual.Uma <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>stas, levada ao extremo, implica que a igualda<strong>de</strong> educacional apenas seja conseguidaquando os resultados escolares (resultados e atitu<strong>de</strong>s) forem os mesmos para as minorias raciais e religiosas epara o grupo dominante.A base para o <strong>de</strong>lineamento do estudo é indicada por outro segmento <strong>de</strong>ste memorando:Assim, o estudo irá centrar o seu esforço principal na quarta <strong>de</strong>finição, mas irá também facultar informaçãorelevante para as cinco <strong>de</strong>finições possíveis. Deste modo, assegura-se o pluralismo que é obviamente necessárionuma <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>. A principal justificação para esta focalização é o facto dos resultados<strong>de</strong>sta abordagem po<strong>de</strong>rem ser melhor traduzidos em políticas que irão melhorar os efeitos da educação. Osresultados das duas primeiras abordagens (investimentos tangíveis para a escola e segregação) po<strong>de</strong>m certamenteser traduzidos em políticas, mas não existe uma evidência clara <strong>de</strong> que estas políticas irão melhorar osefeitos da educação; e enquanto as políticas para implementar a quinta <strong>de</strong>finição iriam certamente melhoraros efeitos da educação, parece dificilmente possível que o estudo pu<strong>de</strong>sse facultar informação que dirigisseessas políticas.Em geral, tornou-se evi<strong>de</strong>nte que o nosso papel não é <strong>de</strong>finir o que constitui a igualda<strong>de</strong> para propósitos <strong>de</strong>elaboração das políticas. Esta <strong>de</strong>finição será um resultado da interacção <strong>de</strong> uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> interesses e irácertamente diferir, algumas vezes, à medida que diferem estes interesses. O nosso papel <strong>de</strong>veria ser o <strong>de</strong> indicaro estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>finido na varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> formas que parecem razoáveis nesta altura.Deste modo, o estudo foi concebido como instrumento pluralista, dada a varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>conceito</strong>s <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s em educação. No entanto, sugiro que apesar daintenção <strong>de</strong>clarada <strong>de</strong> não tomar partido por qualquer <strong>de</strong>stas i<strong>de</strong>ias diferentes, o estudo<strong>de</strong>senvolveu uma nova fase na evolução do <strong>conceito</strong>, uma vez que as <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong>para as quais o estudo foi <strong>de</strong>senhado se divi<strong>de</strong>m nitidamente em dois grupos. As trêsprimeiras <strong>de</strong>finições diziam respeito aos recursos <strong>de</strong> investimento: em primeiro lugar, aos queforam levados para a escola através <strong>de</strong> acções da administração da escola (instalações, currículo,professores); em segundo lugar, aos recursos levados para a escola pelos outros alunos,pelas suas origens <strong>educacionais</strong> que constituem um recurso para a escola; e em terceiro lugar,as características intangíveis como o «moral», que resultam da interacção <strong>de</strong> todos estes factores.A quarta e quinta <strong>de</strong>finições eram relativas aos efeitos do ensino. Assim, as cinco <strong>de</strong>finiçõesforam divididas em três relacionadas com os inputs na escola e duas relacionadas comos efeitos do ensino. Quando o Relatório emergiu, não mencionou cinco medidas diferentes<strong>de</strong> igualda<strong>de</strong>, uma por cada uma <strong>de</strong>stas <strong>de</strong>finições, mas focou-se nitidamente nesta dicotomia,dando-se informações no capítulo 2 sobre <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> investimento relevante para147


a primeira e segunda <strong>de</strong>finições; no capítulo 3, informação sobre as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s dos resultados,relevante para a quarta e quinta <strong>de</strong>finições e também, no capítulo 3, informação sobrea relação do input nos resultados, novamente relevante para a quarta e quinta <strong>de</strong>finições.Embora não seja central para esta discussão, é interessante notar que a avaliação da relaçãodos inputs da escola com os efeitos no <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong>monstrou que essas caraterísticas<strong>de</strong> input das escolas, que são mais idênticas para negros e brancos, têm menos efeito no seu<strong>de</strong>sempenho. As magnitu<strong>de</strong>s das diferenças entre escolas frequentadas por negros e asfrequentadas por brancos eram as seguintes: a menor era relativa a instalações e currículo; eem seguida, a qualida<strong>de</strong> dos professores; a maior assentava nas origens <strong>educacionais</strong> doscolegas <strong>de</strong> escola. A or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> importância <strong>de</strong>stes investimentos no <strong>de</strong>sempenho dos alunosnegros é precisamente a mesma: instalações e currículo, a menos importante; a qualida<strong>de</strong> dosprofessores era a seguinte, e a origem dos colegas <strong>de</strong> escola, a mais importante.Tornando explícita a dicotomia entre investimentos e resultados, e não focalizando a atençãoapenas nos inputs mas também nos resultados, o Relatório mostrou o que estivera subjacentea todos os <strong>conceito</strong>s <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>educacionais</strong>, mas que tinhapermanecido bem oculto: que o <strong>conceito</strong> implicava efectiva igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s, ouseja, igualda<strong>de</strong> naqueles elementos que têm efeitos reais na aprendizagem. O motivo <strong>de</strong> terpermanecido um pouco oculto, obscurecido por <strong>de</strong>finições que envolvem inputs, é, suspeitoeu, <strong>de</strong>vido ao facto <strong>de</strong> a investigação educacional não estar, até ao momento, preparada para<strong>de</strong>monstrar quais os elementos que têm efeitos reais na aprendizagem. A controvérsia quero<strong>de</strong>ou o Relatório indica que a medição dos efeitos é ainda alvo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sentendimentos;contudo, o ponto crucial é o <strong>de</strong> que os efeitos dos inputs passaram a constituir a basepara a avaliação da qualida<strong>de</strong> da escola (e, assim, da igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s), em vez <strong>de</strong>utilizarem certos inputs por <strong>de</strong>finição como medidas <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> (por exemplo, as turmaspequenas são melhores do que as gran<strong>de</strong>s, os professores bem pagos são melhores do queos mal pagos, por <strong>de</strong>finição).Aliás, seria favorável se o assunto pu<strong>de</strong>sse permanecer assim – se simplesmente atravésda utilização dos efeitos da escola, em vez <strong>de</strong> usar inputs como base para o <strong>conceito</strong>, osproblemas se resolvessem. Mas não é esse, <strong>de</strong> todo, o caso. O conflito entre a quarta e quinta<strong>de</strong>finições discutidas anteriormente <strong>de</strong>monstra isso. O conflito po<strong>de</strong> ser ilustrado recorrendo<strong>de</strong> novo à experiência mental referida – conce<strong>de</strong>ndo uma educação normalizada <strong>de</strong> uma horapor semana, em condições idênticas, para todas as crianças. Pela quarta <strong>de</strong>finição, ao controlartodas as diferenças <strong>de</strong> origem das crianças, os resultados dos negros e brancos seriamiguais e, por isso, por <strong>de</strong>finição, existiria igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s. Todavia, porque estaescolarida<strong>de</strong> mínima teria um efeito mínimo, as crianças provenientes <strong>de</strong> famílias fortes anível educacional iriam ter muito mais oportunida<strong>de</strong>s <strong>educacionais</strong> do que as outras. E148


porque estas fortes origens <strong>educacionais</strong> se encontram com maior frequência entre os brancosdo que entre os negros, seriam gran<strong>de</strong>s as diferenças <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho geral entre brancos enegros – e, por isso, surgiria uma <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s pela quinta <strong>de</strong>finição.É evi<strong>de</strong>nte, a partir <strong>de</strong>sta experiência hipotética, que o problema do que constitui a igualda<strong>de</strong><strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s não está resolvido. O problema tornar-se-á ainda mais evi<strong>de</strong>nte com aapresentação dos gráficos que ilustram alguns dos resultados do estudo do Gabinete <strong>de</strong> Educação.A linha mais alta na Figura 1 mostra o <strong>de</strong>sempenho nas aptidões verbais dos brancosdo nor<strong>de</strong>ste urbano nos 1º, 3º, 6º, 9º e 12º anos. A segunda linha mostra o <strong>de</strong>sempenho em cadaum <strong>de</strong>stes anos, dos brancos do su<strong>de</strong>ste rural. A terceira linha representa o <strong>de</strong>sempenho dosnegros do nor<strong>de</strong>ste urbano. A quarta apresenta o <strong>de</strong>sempenho dos negros do su<strong>de</strong>ste rural.Quando comparados com os brancos do nor<strong>de</strong>ste urbano, cada um dos três restantesgrupos apresenta um padrão diferente. A comparação com os brancos do sul rural mostraos dois grupos a começarem quase do mesmo ponto no primeiro ano e a divergirem aolongo dos anos escolares. A comparação com os negros do nor<strong>de</strong>ste urbano apresenta osdois grupos a começarem mais distanciados no primeiro ano e permanecendo à mesmadistância. A comparação com os negros do sul rural mostra os dois grupos a começarem maisdistanciados e a separarem-se muito mais ao longo dos anos escolares.FIGURA 1Padrões <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho nas aptidões verbais nos vários anos escolares, por raça e região5654525048464442403836343230Brancos do nor<strong>de</strong>ste urbanoBrancos do sul ruralNegros do nor<strong>de</strong>ste urbanoNegros do sul ruralMédia dos resultados nacionais em cada ano = 50Desvio Padrão = 10149


Qual <strong>de</strong>stas, se é que alguma <strong>de</strong>las o faz, apresenta igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>educacionais</strong>entre grupos regionais e raciais? Qual apresenta a maior <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s?Penso que a segunda pergunta é mais fácil <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r do que a primeira. A última comparaçãoque mostra as diferenças iniciais e o maior aumento da diferença do 1º até ao 12º anoparece ser a melhor candidata <strong>de</strong>vido à maior <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>.A primeira comparação, com os brancos do sul rural, também parece <strong>de</strong>monstrar <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>vido à crescente diferença ao longo dos 12 anos. E em relaçãoà segunda comparação, com uma diferença aproximadamente constante entre negros e brancosdo nor<strong>de</strong>ste urbano? Será que se trata <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s? Penso que não.Significa, com efeito, apenas que o período escolar <strong>de</strong>ixou a média dos negros ao mesmonível <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho, relativamente aos brancos, quando começaram – neste caso, conseguindomais do que cerca <strong>de</strong> 15 por cento dos brancos e menos do que 85 por cento dosbrancos. Po<strong>de</strong> também acontecer que, na ausência da escola, estas linhas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhopu<strong>de</strong>ssem ter divergido <strong>de</strong>vido às diferenças dos ambientes familiares; ou talvez tivessempermanecido à mesma distância, como se apresentam neste gráfico (embora a níveis maisbaixos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho para ambos os grupos, na ausência da escola). Se se tratasse daprimeira situação, po<strong>de</strong>ríamos dizer que a escola, mantendo as linhas paralelas, constituiuuma força em direcção à igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s. Porém, na ausência <strong>de</strong> tal conhecimento,não po<strong>de</strong>mos sequer afirmar isso.Como seria apresentada nestes gráficos a total igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>educacionais</strong>?Po<strong>de</strong> argumentar-se <strong>de</strong> forma persuasiva que <strong>de</strong>veriam mostrar uma convergência, <strong>de</strong> talforma que, mesmo que dois grupos <strong>de</strong> população começassem a sua escolarida<strong>de</strong> com níveismédios diferentes <strong>de</strong> aptidão, a média do grupo que começasse mais abaixo movimentar-se-ia<strong>de</strong> forma a coincidir com a do grupo que começasse mais acima. Abrindo um parêntesis,<strong>de</strong>veria referir que isto não implica que o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> todos os alunos passasse a seridêntico, mas apenas que as médias dos dois grupos da população que começassem emníveis diferentes passassem a ser idênticas. A diversida<strong>de</strong> dos resultados individuais po<strong>de</strong>riaser tão gran<strong>de</strong> como, ou maior do que a diversida<strong>de</strong> no 1º ano.No entanto, existem questões sérias sobre esta <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s.Esta igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s implica que, durante o período escolar, não existam outrasinfluências, tais como o ambiente familiar, que afectem o <strong>de</strong>sempenho durante os 12 anos escolares,embora estas influências possam divergir bastante para os dois grupos populacionais.Concretamente, implica que os ambientes familiares brancos, predominantemente da classemédia, e os ambientes familiares negros, predominantemente da classe baixa, não irão produzirefeitos no <strong>de</strong>sempenho que manteriam estas médias afastadas. Tal pressuposto parece altamenteirreal, especialmente tendo em vista a importância geral da origem familiar no <strong>de</strong>sempenho.150


Todavia, se estas possibilida<strong>de</strong>s forem reconhecidas, então, até que ponto po<strong>de</strong>m ir, antesque haja <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>educacionais</strong>? Diferença constante na escola? Aumento<strong>de</strong> diferenças? A ausência <strong>de</strong> respostas a estas questões começa por conferir um sentido <strong>de</strong>uma nova fase na evolução do <strong>conceito</strong> <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>educacionais</strong>. Estasquestões dizem respeito à relativa intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dois conjuntos <strong>de</strong> influências: as que são semelhantespara os dois grupos, principalmente na escola, e as que são diferentes, principalmenteno lar ou no bairro. Se as influências da escola forem, não apenas semelhantes para os doisgrupos, mas também muito fortes relativamente às influências divergentes, então os doisgrupos avançarão em conjunto. Se as influências da escola forem muito fracas, então os doisgrupos avançarão isoladamente. Ou, mais genericamente, a intensida<strong>de</strong> relativa das influênciasconvergentes da escola e as influências divergentes externas à escola <strong>de</strong>termina a eficácia dosistema educativo, proporcionando igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>educacionais</strong>. Nesta perspectiva,apenas se po<strong>de</strong> alcançar total igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s se todas as influências externas àescola <strong>de</strong>saparecerem, uma condição que surgiria apenas no advento dos colégios internos.Dadas as influências divergentes existentes, a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s apenas po<strong>de</strong> ser abordadae nunca totalmente alcançada. O <strong>conceito</strong> torna-se num dos graus <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> à igualda<strong>de</strong><strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s. Esta proximida<strong>de</strong> é, então, <strong>de</strong>terminada não apenas pela igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>inputs na educação, mas também pela intensida<strong>de</strong> das influências da escola relativamente àsinfluências divergentes externas. Isto é, a igualda<strong>de</strong> dos resultados não é tão <strong>de</strong>terminada pelaigualda<strong>de</strong> dos inputs em recursos, mas mais pelo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>stes recursos em gerar <strong>de</strong>sempenho.É aqui, então, que se encontra presentemente o <strong>conceito</strong> <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>educacionais</strong>.Observámos uma evolução que po<strong>de</strong>ria ter sido antecipada há um século e meio atrás,quando surgiram os primeiros <strong>conceito</strong>s, ainda que bastante diferentes do <strong>conceito</strong> primariamente<strong>de</strong>senvolvido. Esta diferença é fortalecida se examinarmos mais implicações do <strong>conceito</strong> actual,tal como eu o <strong>de</strong>screvi. Ao <strong>de</strong>screver o <strong>conceito</strong> original, indiquei que o papel da comunida<strong>de</strong> eda instituição educativa era relativamente passivo; esperava-se que conce<strong>de</strong>ssem um conjunto <strong>de</strong>recursos públicos gratuitos. A responsabilida<strong>de</strong> por um uso proveitoso <strong>de</strong>sses recursos pertenciaà criança e à sua família. Mas a evolução do <strong>conceito</strong> inverteu estes papéis. A implicação do<strong>conceito</strong> mais recente, tal como o <strong>de</strong>screvi, é que a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar <strong>de</strong>sempenho é dainstituição educativa e não da criança. A diferença do <strong>de</strong>sempenho no 12º ano entre a média dosnegros e a média dos brancos é, <strong>de</strong> facto, o grau da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s, e a redução<strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> é da responsabilida<strong>de</strong> da escola. Esta mudança na responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>correlogicamente dos inputs para os efeitos do ensino. Quando ocorreu essa mudança, tal como nosúltimos anos, a responsabilida<strong>de</strong> da escola passou do aumento e distribuição igual da sua «qualida<strong>de</strong>»para um aumento da qualida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>sempenho dos seus alunos. Esta é uma mudançanotável e que <strong>de</strong>veria ter fortes consequências na prática da educação nos anos vindouros.151

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