11.07.2015 Views

Veias linfonodais: uma causa pouco conhecida de varizes - SciELO

Veias linfonodais: uma causa pouco conhecida de varizes - SciELO

Veias linfonodais: uma causa pouco conhecida de varizes - SciELO

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ARTIGO DE REVISÃO<strong>Veias</strong> <strong>linfonodais</strong>: <strong>uma</strong> <strong>causa</strong> <strong>pouco</strong> <strong>conhecida</strong><strong>de</strong> <strong>varizes</strong>Lymph no<strong>de</strong> veins: a little-known cause of varicose veinsAndré Paciello Romualdo, Roberto <strong>de</strong> Moraes Bastos, Alessandro Cappucci, Mathias Fatio,Andréa Tsunoda, Pollyanna Campos, Alberto Lobo Machado, Eduardo Hi<strong>de</strong>ki Tokura *ResumoAbstractAs veias <strong>linfonodais</strong> fazem parte <strong>de</strong> <strong>uma</strong> re<strong>de</strong> venosa no triângulo<strong>de</strong> Scarpa, que liga em vários pontos o sistema venoso superficial àsveias profundas, e po<strong>de</strong>m tanto ser <strong>causa</strong> <strong>de</strong> incompetência do sistemavenoso superficial quanto estar envolvidas na recorrênciapós-safenectomia. Na rotina diária dos exames <strong>de</strong> Doppler venoso <strong>de</strong>membros inferiores, temos notado <strong>de</strong> maneira cada vez mais freqüentea associação das veias <strong>linfonodais</strong> com <strong>varizes</strong> primárias e recorrentes.A a<strong>de</strong>quada caracterização <strong>de</strong>ssas veias po<strong>de</strong> ajudar na compreensãodo mecanismo fisiopatológico do aparecimento das <strong>varizes</strong> e permitirum controle e tratamento mais dirigidos. Este artigo lança luz sobreos aspectos anatômicos e fisiológicos das veias <strong>linfonodais</strong>, objetivandochamar a atenção dos profissionais envolvidos no diagnóstico <strong>de</strong>doenças venosas dos membros inferiores para <strong>uma</strong> <strong>causa</strong> <strong>pouco</strong>difundida <strong>de</strong> <strong>varizes</strong>.Palavras-chave: Safena, Doppler, <strong>varizes</strong>.Lymph no<strong>de</strong> veins are part of a venous network in Scarpa’striangle, communicating in many points the superficial venous systemand the <strong>de</strong>ep veins, and may either be the cause of incompetence ofthe superficial venous system, or be involved in recurrent varicose veinsafter saphenous vein stripping. In the daily routine of venous Dopplerexamination of the lower extremities, an increasingly frequentassociation of lymph no<strong>de</strong> veins with primary and/or recurrent varicoseveins has been noticed. Appropriate characterization of these veinsmay help to un<strong>de</strong>rstand the pathophysiological mechanism of varicosevein appearance and provi<strong>de</strong> a more focused approach to follow-upand treatment. This article sheds some light on the anatomical andphysiological aspects of lymph no<strong>de</strong> veins, drawing the attention ofprofessionals involved in the diagnosis of venous disor<strong>de</strong>rs of the lowerextremities to a little-known cause of varicose veins.Keywords: Saphenous, Doppler, varicose veins.IntroduçãoO exame ultra-sonográfico com Doppler coloridotem um papel fundamental no diagnóstico e no seguimentodas variadas doenças vasculares, particularmenteno estudo venoso dos membros inferiores.Tratamos neste artigo <strong>de</strong> <strong>causa</strong> <strong>pouco</strong> <strong>conhecida</strong> <strong>de</strong><strong>varizes</strong>, as veias <strong>linfonodais</strong>, que tanto po<strong>de</strong>m estar relacionadasà forma primária quanto aos casos <strong>de</strong> recorrênciada doença varicosa. Tais veias têm sidoi<strong>de</strong>ntificadas com freqüência cada vez maior pelos médicosque trabalham com diagnósticos vasculares, daí aimportância do seu conhecimento como possível fatoretiológico da doença <strong>de</strong>scrita.<strong>Veias</strong> <strong>linfonodais</strong>: aspectos anatômicosA junção safeno-femoral po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como osegmento venoso femoral <strong>de</strong>limitado pelas valvas suprae infra-safena, bem como pelas valvas terminal e préterminalda crossa da veia safena magna 1,2 . As tributáriasproximais que drenam entre as valvas pré-terminale terminal são as veias ilíaca circunflexa superficial (trajetolateral), epigástrica superficial (trajeto cranial) epu<strong>de</strong>nda externa (trajeto medial). Essas veias po<strong>de</strong>m serúnicas ou múltiplas, po<strong>de</strong>m drenar isoladamente ou emtronco único, e ainda terminar diretamente na veia femoralcomum. Tais veias têm importância clínica porquepo<strong>de</strong>m ser fonte <strong>de</strong> refluxo da safena magna nos casos<strong>de</strong> valvas terminais competentes e pré-terminais incompetentes(Figuras 1 e 2). As tributárias distais são as veiassafena acessória anterior (trajeto lateral), que encontraa safena magna entre as valvas terminal e pré-terminal,e a safena acessória posterior (trajeto medial), drenandofreqüentemente distalmente à valvapré-terminal 1-3 .* Fleury - Medicina e Saú<strong>de</strong>, São Paulo, SP.Não foram <strong>de</strong>clarados conflitos <strong>de</strong> interesse associados à publicação <strong>de</strong>ste artigo.Artigo submetido em 24.06.08, aceito em 14.10.08.J Vasc Bras. 2008;7(4):364-369.Copyright© 2008 by Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Angiologia e <strong>de</strong> Cirurgia Vascular364


<strong>Veias</strong> <strong>linfonodais</strong> - Romualdo AP et al. J Vasc Bras 2008, Vol. 7, Nº 4 365bem caracterizado ao estudo ultra-sonográfico e dopplerfluxométrico(Tabela 1, Figuras 3e4).As veias <strong>linfonodais</strong> fazem parte <strong>de</strong> <strong>uma</strong> re<strong>de</strong> venosano triângulo <strong>de</strong> Scarpa, que liga em vários pontos o sistemavenoso superficial às veias profundas. Cranialmente,po<strong>de</strong>m prolongar-se para as veiasinguinoabdominais e pu<strong>de</strong>ndas externas e po<strong>de</strong>m, ainda,perfurar a fáscia cribiforme conectando-se à veia femoral,fazendo o papel <strong>de</strong> pequenas perfurantes femoraisdiretas 4 . Tais veias já foram objeto <strong>de</strong> estudo anatômicoem cadáveres, tendo sido caracterizadas em 19% doscasos 5 .Figura 1 - Veia safena magna incompetente à custa <strong>de</strong> tributáriasda crossa. A valva terminal é competente e apré-terminal incompetente. As setas indicam o sentidodo fluxoA re<strong>de</strong> venosa linfonodal se apresenta sob a forma<strong>de</strong> veias tortuosas, normalmente entre1e3mm<strong>de</strong>diâmetro,subaponeuróticas, situadas entre a safena acessóriaanterior e a safena magna. Essas veias se conectamà safena magna ao longo dos seus 10 a 15 cm proximais,e suas conexões craniais são difíceis <strong>de</strong> precisar peloultra-som, por seu pequeno calibre e tortuosida<strong>de</strong>, tendofrequentemente um trajeto translinfonodal, esse, sim,<strong>Veias</strong> <strong>linfonodais</strong>: aspectos hemodinâmicosEm <strong>uma</strong> série com 100 pacientes operados porincompetência da safena magna, Lemasle et al. encontraramveias <strong>linfonodais</strong> como <strong>causa</strong> principal do refluxoem 6% dos casos 4 . Essa frequência é provavelmentesubestimada em estudos <strong>de</strong> <strong>causa</strong>s <strong>de</strong> incompetência dasafena magna por ser necessária <strong>uma</strong> pesquisa dirigidapara sua a<strong>de</strong>quada caracterização (Figura 5e6).Mais bem <strong>de</strong>finido é o seu papel na recorrência póssafenectomia.Alguns autores já tentaram associar acaracterização das veias <strong>linfonodais</strong> ectasiadas com neovascularização,inclusive sendo observadas, ao estudohistológico pós-operatório, veias <strong>linfonodais</strong> dispásicasque a<strong>de</strong>ntram nos linfonodos e penetram no tecidolinfático 6-9 . Porém, à luz do conhecimento anatômicoatual, fica claro que se trata <strong>de</strong> hipertrofia <strong>de</strong> vasos préexistentessob efeito <strong>de</strong> fatores angiogênicos (Figuras 7,8 e 9).Na rotina diária dos exames <strong>de</strong> Doppler venoso <strong>de</strong>membros inferiores, temos notado <strong>de</strong> maneira cada vezmais freqüente a associação das veias <strong>linfonodais</strong> com<strong>varizes</strong> primárias e recorrentes.Figura 2 - Veia safena magna (seta branca) incompetente. Afonte do refluxo éaveiailíaca circunflexa superficial(seta cinza)Conseqüências terapêuticasA recorrência <strong>de</strong> <strong>varizes</strong> é comum após a cirurgiaenvolvendo a veia safena magna. Taxas acima <strong>de</strong> 40%em 5 anos têm sido <strong>de</strong>scritas, e aproximadamente 20%das cirurgias <strong>de</strong> <strong>varizes</strong> são realizadas visando a correção<strong>de</strong> veias recorrentes 8,10 . De acordo com a opiniãoprevalente, menor taxa <strong>de</strong> recorrência po<strong>de</strong> ser esperadacom a fleboextração da veia safena magna, ligação


366 J Vasc Bras 2008, Vol. 7, Nº 4 <strong>Veias</strong> <strong>linfonodais</strong> - Romualdo AP et al.Tabela 1 - Critérios ultra-sonográficos das veias <strong>linfonodais</strong> inguinaisRe<strong>de</strong> venosa tortuosa na topografia da lâmina linfonodalSituada mais freqüentemente entre as veias safena acessória anterior e magnaConecta-se ao tronco da veia safena magna (ou acessória anterior) ao longo dos seus 10 a 15 cm proximaisTrajeto translinfonodalFigura 3 - Veia linfonodal (setas brancas) <strong>de</strong> aspecto habitual, drenando na crossa da veia safenamagna (seta cinza)Figura 4 - Veia linfonodal <strong>de</strong> aspecto habitual (setas brancas) nos planos longitudinal e transversal,drenando na veia safena magna acessória anterior incompetente (setas cinza)da junção safeno-femoral junto à veia femoral comum einterrupção <strong>de</strong> veias tributárias proximais 7 .Dentre as principais fontes <strong>de</strong> refluxo comumenteassociadas à recorrência, <strong>de</strong>stacam-se a persistência <strong>de</strong>coto residual incompetente, a neovascularização, veiasperfurantes incompetentes não tratadas e tributárias residuaisda crossa <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> tratamento cirúrgico incorreto.Tais achados justificam a ressecção estendida dastributárias da junção safeno-femoral, além <strong>de</strong> suas própriastributárias primárias, visando <strong>uma</strong> <strong>de</strong>sconexãomais efetiva, e evitando, assim, que vasos neoformadosconectem os sistemas profundo e superficial 6,11-14 .A abordagem cirúrgica das veias <strong>linfonodais</strong> é tecnicamentecomplicada e mesmo <strong>de</strong>saconselhável, já quesão <strong>de</strong> pequeno calibre, friáveis e hemorrágicas, além <strong>de</strong>provavelmente <strong>de</strong>letério para o sistema linfático regional.Quando as veias <strong>linfonodais</strong> são a principal fonte<strong>de</strong> refluxo troncular da safena magna, estando a valvaterminal competente, existe <strong>uma</strong> tendência a não se realizara crossectomia, já que é inútil do ponto <strong>de</strong> vistahemodinâmico <strong>de</strong>sconectar <strong>uma</strong> crossa competente.Além disso, sob o aspecto evolutivo, a agressão cirúrgicapo<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar um processo angiogênico sobreveias imaturas pré-existentes. O tratamento sugerido,


<strong>Veias</strong> <strong>linfonodais</strong> - Romualdo AP et al. J Vasc Bras 2008, Vol. 7, Nº 4 367Figura 5 - Veia linfonodal (seta) como fonte <strong>de</strong> refluxo da veiasafena magnaentão, repousaria na <strong>de</strong>struição do tecido varicoso subjacentepor flebectomia ou escleroterapia até o pontoda junção das veias <strong>linfonodais</strong> com a veia safena magna.ConclusãoAs veias <strong>linfonodais</strong> têm aspectos anatômicos e fisiológicosbem <strong>de</strong>finidos. Porém, o seu verda<strong>de</strong>iro papelcomo <strong>causa</strong> <strong>de</strong> <strong>varizes</strong> e sua abordagem mais a<strong>de</strong>quadaainda estão por ser estabelecidos, já que carecem <strong>de</strong>maior número <strong>de</strong> estudos. Acreditamos que este artigopossa chamar a atenção dos profissionais envolvidoscom o tema, colaborando com a discussão e elucidaçãoda sua real importância.Figura 6 - Veia linfonodal ectasiada (setas) <strong>de</strong>termina refluxona veia safena magnaFigura 7 - Recorrência <strong>de</strong> <strong>varizes</strong>: veia linfonodal (setas) ingurgitando hilo e <strong>de</strong>terminando <strong>varizes</strong>


368 J Vasc Bras 2008, Vol. 7, Nº 4 <strong>Veias</strong> <strong>linfonodais</strong> - Romualdo AP et al.Figura 8 - A) Coto residual (seta cinza) drenando em veia linfonodal (seta branca) e B) <strong>de</strong>terminando<strong>varizes</strong> recorrentes (seta cinza)Figura 9 - Pós-operatório com <strong>varizes</strong> recorrentes à custa <strong>de</strong> veias <strong>linfonodais</strong> (setas)Referências1. Caggiati A, Bergan J, Gloviczki P, et al. Nomenclature of theveins of the lower limbs: an international interdisciplinaryconsensus statement. J Vasc Surg. 2002;36:416-22.2. Caggiati A, Bergan J, Gloviczki P, et al. Nomenclature of theveins of the lower limbs: Extensions, refinements, and clinicalapplication. J Vasc Surg. 2005;41:719-24.3. Cavezzi A, Labropoulos N, Partsch H, et al. Duplex ultrasoundinvestigation of the veins in chronic venous disease of the lowerlimbs-UIP consensus document. Part II. Anatomy. VASA.2007;36:62-71.4. Lemasle P, Uhl F, Lefrebve-Vilar<strong>de</strong>bo M, Baud J, Gillot C.Veines lynpho-ganglionnaires inguinales. Aspects anatomiqueset écographiques. Consequences sur la <strong>de</strong>finition <strong>de</strong> laneogenese. Consequences therapeutiques. Phlebologie.1999;52:263-269.5. Guarrido M. A crossa da veia safena magna, estudo anatômicoe correlação médico-cirúrgica. Tese <strong>de</strong> livre docênciaapresentada na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina Fe<strong>de</strong>ral FluminenseRio <strong>de</strong> janeiro, 1975.6. Kohler A, Dirsch O, Brunner U. [Veno-lymphaticangiodysplasia as the cause of recurrent inguinal varicoseveins]. VASA. 1997;26:52-4.7. Franco G. La néovasculogenèse existe-t-elle? Récidivesvariqueuses post-chirurgicales. Point <strong>de</strong> vue d’um explorateur.Actualités Vasculaires Internat. 1992;1:41-3.8. Franco G, Nguyen, K. Apport <strong>de</strong> l’echo-Doppler dans lesrécidives variqueuses post-opératoires au niveau <strong>de</strong> la régioninguinale. Phlébologie. 1995;48:241-50.9. Franco G. Exploration ultrasonographiche <strong>de</strong>s récidivesvariqueuses post-chirurgicales. Phlébologie. 1998;51:403-13.10. França GJ, Timi JRR, Vidal EA, Oliveira A, Secchi F,Miyamotto M. O eco-Doppler colorido na avaliação das<strong>varizes</strong> recidivadas. J Vasc Bras. 2005;4:161-6.11. Chandler JG, Pichot O, Sessa C, Schuller-Petrovi¢ S, Osse FJ,Bergan JJ. Defining the role of exten<strong>de</strong>d saphenofemoraljunction ligation: a prospective comparative study. J Vasc Surg.2000;32:941-53.12. Fischer R, Lin<strong>de</strong> N, Duff C, Jeanneret C, Chandler JG, SeeberP. Late recurrent saphenofemoral junction reflux after ligationand stripping of the greater sphenous vein. J Vasc Surg.2001;34:236-40.


<strong>Veias</strong> <strong>linfonodais</strong> - Romualdo AP et al. J Vasc Bras 2008, Vol. 7, Nº 4 36913. Dwerryhouse S, Davies B, Harradine K, Earnshaw JJ.Stripping the long saphenous vein reduces the rate ofreoperation for recurrent varicose veins: Five-year results of arandomized trial. J Vasc Surg. 1999;29:589-92.14. Van Rij AM, Jiang P, Solomon C, Christie RA, Hill GB.Recurrence after varicose vein surgery: a prospective long-termclinical study with duplex ultrasound scanning and airplethysmography. J Vasc Surg. 2003;38:935-43.Correspôn<strong>de</strong>ncia:André Paciello RomualdoRua Martiniano <strong>de</strong> Carvalho, 836/32, bloco 101321-000 São Paulo, SPTel.: (11) 3283.0980E-mail: andre.romualdo@fleury.com.brAviso aos ex-resi<strong>de</strong>ntesSe você foi resi<strong>de</strong>nte até 2007 e ainda não está inscritoem sua Regional, procure regularizar sua situaçãopara passar a receber o J Vasc Bras imediatamente, sem qualquer ônus.Aju<strong>de</strong> a manter o cadastro da SBACV atualizado.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!