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uma reinterpretação neutra das teorias da sucessão ecológica à luz ...

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4SUMÁRIOINTRODUÇÃO ........................................................................................................... 61 AS TEORIAS SOBRE A SUCESSÃO ECOLÓGICA ...................................... 101.1 Um pouco de história <strong>da</strong> ecologia de comuni<strong>da</strong>des................................ 101.2 História <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>teorias</strong> sobre a sucessão ecológica .................................... 121.2.1 Tendências reducionistas ................................................................ 181.2.2 Tendências mecanicistas................................................................. 191.2.3 Tendências ao não-equilíbrio........................................................... 221.3 S<strong>uma</strong>rizando o estado <strong>da</strong> arte <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>teorias</strong> <strong>da</strong> sucessão ecológica ........ 231.3.1 Definições e escopo de estudo........................................................ 231.3.2 Escopo <strong>da</strong> sucessão: tempo e tspaço ............................................. 251.3.3 Causas e mecanismos..................................................................... 271.3.4 Biodiversi<strong>da</strong>de e funcionamento <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>de sucessionais ..... 301.3.5 A estocastici<strong>da</strong>de nas <strong>teorias</strong> sucessionais..................................... 331.3.5.1 Modelos de processos de markov................................................ 331.3.5.2 Modelos de loteria........................................................................ 341.3.6 O problema do clímax...................................................................... 351.4 Conclusões ............................................................................................. 372 TEORIAS SOBRE A BIODIVERSIDADE DAS COMUNIDADESECOLÓGICAS.......................................................................................................... 392.1 Histórias dos estudos sobre a estrutura e biodiversi<strong>da</strong>de nas comuni<strong>da</strong>des:O estabelecimento <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem tradicional.......................................................... 402.2 História <strong><strong>da</strong>s</strong> idéias <strong>neutra</strong>s...................................................................... 472.2.1 História dos argumentos neutros ..................................................... 472.2.2 História dos modelos (matemáticos) neutros................................... 482.2.3 Reações <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de científica .................................................. 542.3 O estado <strong>da</strong> arte <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong> ........................................................... 602.3.1 Pressupostos ................................................................................... 622.3.1.1 Neutrali<strong>da</strong>de - simetria ou equivalência. ...................................... 622.3.1.2 Saturação: o somatório-zero e a constância do tamanho populacional<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. .................................................................................................... 652.3.1.3 Metacomuni<strong>da</strong>de.......................................................................... 662.3.1.4 Especiação em modelos neutros ................................................. 682.3.1.5 O mecanismo estocástico: assembléia por dispersão limita<strong>da</strong> .... 702.3.2 Principais previsões e inferências em questão e seus testes.......... 71


8Para isso, primeiramente executamos <strong>uma</strong> revisão histórica <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>teorias</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong>ucessão e de seus precedentes, sendo que no decorrer do texto, apontamos seusprincipais vieses e desvios teóricos e simultaneamente os arcabouços epistemológicosque serviram de sustentação de alg<strong>uma</strong>s de suas diversas variantes. To<strong>da</strong> esta revisãohistórica visa narrar como estabeleceram-se as <strong>teorias</strong> sucessionais mais aceitas naatuali<strong>da</strong>de as quais serão s<strong>uma</strong>riamente expostas na segun<strong>da</strong> metade do primeirocapítulo, e criticamente analisa<strong><strong>da</strong>s</strong> na sua conclusão.O segundo capítulo estará voltado a discutir a visão <strong>neutra</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de demaneira geral e abrangente. Pretende-se inicialmente narrar a história dos estudos epensamentos sobre a biodiversi<strong>da</strong>de como foram tradicionalmente desenvolvidos (i.e. sob<strong>uma</strong> agen<strong>da</strong> de pesquisa a<strong>da</strong>ptacionista-selecionista sensu Voltolini e Eble, 1994) paraposteriormente contrastar com a história não menos antiga <strong><strong>da</strong>s</strong> idéias e modelos neutrossobre a biodiversi<strong>da</strong>de. Depois desta revisão histórica mostraremos de que maneira a osecólogos receberam e enfrentaram o estabelecimento <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong>, visandocontextualizar o ambiente em que atualmente a teoria vem sendo testa<strong>da</strong>. Visto isso,partiremos a analisar de maneira um pouco mais aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong> os detalhesepistemológicos <strong>da</strong> Teoria Neutra <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de. Na atual conjuntura, a teoria <strong>neutra</strong>usa extensivamente técnicas de modelagem matemática, por isso, abor<strong>da</strong>remosbrevemente alguns detalhes técnicos destas modelagens visando identificar oscomponentes epistemológicos pressupostos na teoria <strong>neutra</strong>.No mesmo capítulo, abor<strong>da</strong>remos a teoria de maneira crítica, procurando relatarraciocínios considerados falhos em meio às modelagens. Nesta seção, também veremoscomo a Teoria Neutra <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de (TNB), tem enfrentado alguns dos testesempíricos a que ela vem sendo submeti<strong>da</strong>. Por fim, veremos, que sem embargo e apesar<strong>da</strong> pesa<strong>da</strong> crítica e dos diversos testes, ela tem resistido e melhorado, e carrega consigoalguns méritos e perspectivas que, por sua fertili<strong>da</strong>de, poderão estender-se a outras áreas<strong>da</strong> ecologia de comuni<strong>da</strong>des.É especificamente sobre esta extensão <strong>da</strong> TNB para a sucessão ecológica quetrata o último capítulo. Num primeiro momento este capítulo visa responder até que pontoé possível estender os conceitos e pressupostos <strong>da</strong> TNB para a atual teoria <strong>da</strong> sucessãoe de que maneira estes pressupostos podem ser conflitantes com os pressupostos <strong>da</strong>


9teoria <strong>da</strong> sucessão. Em segui<strong>da</strong>, procuramos embasar nossas próprias sugestões econjecturas de aplicação <strong>da</strong> TNB, tendo em conta as considerações levanta<strong><strong>da</strong>s</strong> durante arevisão bibliográficas dos primeiros capítulos. Por fim, prezando pelo pluralismometodológico, traçamos <strong>uma</strong> visão de futuro para a linha de pesquisa <strong><strong>da</strong>s</strong> mu<strong>da</strong>nçasvegetacionais na qual a complexi<strong>da</strong>de serviria de base para unir o determinismo e aestocastici<strong>da</strong>de. Neste futuro acreditamos que estocastici<strong>da</strong>de, deriva e contingênciadeverão voltar a ocupar seu merecido lugar a muito eclipsado pelo viés determinista <strong>da</strong>ciência moderna, e constituirão a base (mais nem sempre dominarão) <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>teorias</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong>ucessão.


MARS/AVRIL 2008VILLE DE SAINT-APOLLINAIREST APO LOISIRSN°76« BALADES DU MERCREDIS »SAINT-APO DETENTELes 5 et 19 MarsRendez-vous à 13h50 à la Maison des Associations.A partir d'Avril, une balade du mercredi sera proposée chaque semaine.« RANDO VERS MOLOY ET FRENOIS »Dimanche 16 MarsRando de 13 km (dénivellée 300m)Rendez-vous à 13h20 à la Maison des Associations.« LE SENTIER DES ROCHES VERS SAINT ROMAIN »Dimanche 30 MarsRando de 15 km (dénivellée 300m)Rendez-vous à 13h20 à la Maison des Associations.« JOURNÉE DE RANDO DANS LE PAYS DES TROIS RIVIÈRES »Dimanche 13 AvrilRando de 22 km (dénivellée 450m). Prévoir un pique-nique.Rendez-vous à 9h à la Maison des Associations« JOURNÉE SUR LE GR7 EN CÔTE D'OR AUTOUR DE L'ÉTANG VERGY »Dimanche 27 AvrilCinq distances, de 11 à 25 km, <strong>da</strong>ns le cadre de la valorisation du GR7 en 2008.Rendez-vous à 9h à la Maison des Associations pour le départ des 19,22 et 25 kmou à 13h20 pour les 11 et 15 km.SAINT-APO GENTLEMEN RUGBY« CHALLENGE « MIMO »Dimanche 6 Avril de 10h à 13hChallenge « mimo » contre Auxonne – Match traditionnel en mémoire de GillesJANINStade de Rugby Gille JANINTout publicASSOCIATIONS11


11do século XIX. Sabe-se que Ernest Haeckel cunhou o termo “Oecologie” em 1866derivando-o <strong>da</strong> palavra “Oeconomie” que referia-se ao gerenciamento de finanças, que nocaso seria um alocação de recursos escassos, através <strong>da</strong> “luta pela existência”. O termopermaneceu ignorado, sendo utiliza<strong>da</strong> a expressão “economia <strong>da</strong> natureza”, para sereferir ao estudos naturalistas com enfoques ecológicos. Em contraponto, em 1880Forbes propôs a metáfora de “balanço <strong>da</strong> natureza” em <strong>uma</strong> tentativa de distinguir a“ciência embrionária <strong>da</strong> ecologia” <strong>da</strong> antiga metáfora <strong>da</strong> economia <strong>da</strong> natureza 1 . Somenteem 1893 o termo foi alterado para sua grafia moderna, passando ao uso comum, duranteo Congresso Botânico Internacional. Contudo acreditamos que ora como economia oraum balanço ou equilíbrio essas analogias forneceram substrato para a continui<strong>da</strong>de de<strong>uma</strong> visão metafísica <strong>da</strong> plenitude <strong>da</strong> natureza, sempre em ordem, harmônica e estável,idéia essa presente até os dias de hoje, principalmente no discurso ambientalista.Há historiadores que afirmam que a ecologia, como a conhecemos, só chegou aser possível com o fracasso de Huxley 2 , tendo surgido como <strong>uma</strong> solução de segun<strong>da</strong>geração para o estabelecimento <strong>da</strong> biologia como <strong>uma</strong> disciplina científica. Isso nos levaa concluir, assim como Browler (1998 apud McIntosh, 1985) que muitos dos primeirosecólogos não foram evolucionistas, outrossim, eram cientistas preocupados em adotar esistematizar as técnicas de medição e quantificação considera<strong><strong>da</strong>s</strong> eficazes nas ciênciasexatas. A ecologia não brotou só do <strong>da</strong>rwinismo, senão de <strong>uma</strong> extensão <strong>da</strong> fisiologiatratando <strong><strong>da</strong>s</strong> relações do organismo com seu entorno. Não houve <strong>uma</strong> disciplinaecológica fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em resposta a <strong>uma</strong> iniciativa teórica ou posição filosófica particular, noinício a ecologia não foi estrutura<strong>da</strong> sobre <strong>uma</strong> base comum, houve sim vários grupos decientistas buscando modernizar os estudos de campo.Outros ecólogos dessa época, colocaram grande ênfase nas interações entre asdiferentes espécies. Como exemplo temos Stephen A. Forbes em sua conferência “The1 Pois, a metáfora <strong>da</strong> mão invisível emprestava conotação teológica ao termo, e os ecólogos julgavam desnecessária a noção de <strong>uma</strong>enti<strong>da</strong>de organizadora exterior à natureza.2 Que junto com a Hooke, buscava aliar fisiologistas e morfologistas para empreender a estruturação <strong>da</strong> biologia como ciênciaunitária, conforme pressupunha o ideal positivista em mo<strong>da</strong> na era pós-<strong>da</strong>rwiniana (final do século XIX). No entanto os estudosde “aficionados naturalistas de campo” também fun<strong>da</strong>mentaram empiricamente as <strong>teorias</strong> dos Darwinistas sendo a base <strong><strong>da</strong>s</strong>eleção natural deduzi<strong>da</strong> através de inferências de a<strong>da</strong>ptação e migração sendo construí<strong><strong>da</strong>s</strong> sobre <strong>da</strong>dos de campo dos préecólogos


12lake as a microcosm” de 1887 descreveu o equilíbrio entre pre<strong>da</strong>dores e presas. E nomesmo ano Karl Möbius enunciou explicitamente o conceito de comuni<strong>da</strong>de biológica ou“biocenose” ao estu<strong>da</strong>r um banco de ostras. Seis anos antes (em 1981) Karl Semper naobra “Animal Life as Affected by the Natural Conditinos of Existence” apresentou a <strong>uma</strong>interpretação volta<strong>da</strong> às relações tróficas que manteriam as “comuni<strong>da</strong>des” organiza<strong><strong>da</strong>s</strong>em cadeias tróficas e também conjecturas sobre proporções entre os níveis tróficos quelembravam a descrição de pirâmides tróficas.1.2 História <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>teorias</strong> sobre a sucessão ecológicaEm seu sumário histórico Clemensts (1916 apud Gleason, 1927) afirma que asprimeiras menções ao fenômeno <strong>da</strong> sucessão remetem ao ano de 1685, mas que “afun<strong>da</strong>mental importância do desenvolvimento <strong>da</strong> vegetação” só foi reconheci<strong>da</strong> a partir dedos trabalhos de Hult em 1885. Por outro lado cabe ressaltar que Adolphe Dureau de laMalle 3 (1777–1857) em 1825 apesar de não ser o primeiro a tratar do fenômeno <strong><strong>da</strong>s</strong>ucessão ecológica foi o primeiro a usar a expressão e cogitá-la como <strong>uma</strong> possível leigeral <strong><strong>da</strong>s</strong> socie<strong>da</strong>des vegetais 4 descrevendo-a como <strong>uma</strong> “alternância ou sucessãoalternativa na reprodução de espécies vegetais”(Acot, et. al. 1999). Existe neste caso <strong>uma</strong>confusão terminológica, pois o conceito de De la Malle era análogo <strong>da</strong> rotação <strong><strong>da</strong>s</strong>culturas, e não um processo de maturação em direção a um estado de equilíbrio(atribuído a Clements). Seu conceito assemelha-se muito mais aos pensamentos doséculo XX, onde as mu<strong>da</strong>nças na composição florísticas são considera<strong><strong>da</strong>s</strong> endógenas àscomuni<strong>da</strong>des.Sob outro ponto de vista histórico, considera-se que o ver<strong>da</strong>deiro criador do termosucessão, no sentido como conhecemos, tenha sido Japetus Steenstrup em 1842 querelacionava o fenômeno com mu<strong>da</strong>nças climáticas recentes (mecanismo e tempo estesnão explicitados por de la Malle). Dois alunos de Steenstrup, Christian Vaupell (1821–1862) e Eugenius Warming (1841–1924) desenvolveram posteriormente esta linha de3 De la Malle. Mémoire sur l'alternance ou sur ce problème: la succession alternative <strong>da</strong>ns la reproduction des espèces végétalesvivant en société, est-elle une loi générale de la nature. Annales des sciences naturelles, v. 15, 1825. p. 353-3814 Conforme vimos anteriormente o termo “comuni<strong>da</strong>de” só foi cunhado em 1887 por Möbius.


13pesquisa, e difundiram as interpretações (externalistas) na qual fatores exteriores aoselementos <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de (clima, ambiente,...) exerciam a condução do fenômeno <strong><strong>da</strong>s</strong>ucessão.Warming começou a sua carreira científica graças a um estudo <strong>da</strong> vegetaçãobrasileira. E como professor e pesquisador em Copenhagem tornou-se um influentebotânico. Em 1885 publicou a obra “Plantesamfund”, a qual foi posteriormente traduzi<strong>da</strong>ao inglês em 1909 como “Oecology of plants”, onde ele argumentava que as capaci<strong>da</strong>desfísicas <strong><strong>da</strong>s</strong> plantas determinam os lugares onde elas podiam e onde não podiamsobreviver. Vejamos <strong>uma</strong> parte do texto de Warming que influenciou to<strong>da</strong> <strong>uma</strong> geração deecólogos e reflete a ideologia <strong>da</strong> ecologia de comuni<strong>da</strong>des em seu início:O termo “comuni<strong>da</strong>de” implica diversi<strong>da</strong>de mais também ao mesmo tempo certauniformi<strong>da</strong>de organiza<strong>da</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong> uni<strong>da</strong>des. As uni<strong>da</strong>des são as muitas plantasindividuais que existem em to<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, seja um bosque de faias, <strong>uma</strong>pra<strong>da</strong>ria ou um páramo. Se estabelece a uniformi<strong>da</strong>de quando certos fatoresatmosféricos, terrestres e outros já descritos [anteriormente], estão cooperando, eaparece já seja porque certa economia defini<strong>da</strong> imprime sua chancela natotali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, ou porque várias formas de desenvolvimento secombinam para formar um só agregado que tem um aspecto definido econstante(Warming, 1909 apud Bowler, 1998).Também expunha que as plantas de <strong>uma</strong> determina<strong>da</strong> região formavam <strong>uma</strong>“comuni<strong>da</strong>de”, uni<strong>da</strong> por to<strong>da</strong> <strong>uma</strong> varie<strong>da</strong>de de interações. Porém ele foi avesso a to<strong>da</strong>interpretação místicas ou (em <strong>uma</strong> interpretação atual) holísticas <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des, e nãoconsiderava a comuni<strong>da</strong>de final <strong>da</strong> sucessão como um conjunto de seres superiores.Para Warming as relações entre as espécies era conseqüência <strong>da</strong> evolução quetrabalhava para produzir interações mútuas <strong><strong>da</strong>s</strong> quais se beneficiariam to<strong><strong>da</strong>s</strong> as espéciesparticipantes. Vejamos outro trecho de Warming, no qual fica notória a influência históricado (neo)<strong>da</strong>rwinismo 5 , aqui expressa na metáfora de “luta” por espaço na comuni<strong>da</strong>dechamado de “terra prometi<strong>da</strong>”:A luta é causa<strong>da</strong> pelo empenho de parte <strong><strong>da</strong>s</strong> espécie para estender sua área dedistribuição com a aju<strong>da</strong> dos meios de migração tais como os possuem. A “terraprometi<strong>da</strong>”é o clamor de to<strong><strong>da</strong>s</strong> as comuni<strong>da</strong>des, sejam elas h<strong>uma</strong>nas ou vegetais.Milhões e milhões de sementes, esporos e corpos reprodutivos semelhantes sãodispersados anualmente para que as espécies possam colonizar novas5 Cabe ressaltar que nesta época aquilo que conhecemos como neo-<strong>da</strong>rwinismo ain<strong>da</strong> não existia, pois só surgiu nas déca<strong><strong>da</strong>s</strong> de 1920e 30, porém não consideramos que as idéias de Warming expressem realmente a interpretação <strong>da</strong>rwinista, sendo <strong>uma</strong>reinterpretação bastante caricata que segue a tendência <strong>da</strong> época de enfocar apenas sobre a seleção natural.


14locali<strong>da</strong>des; no entanto perecem milhões e milhões porque são dissemina<strong><strong>da</strong>s</strong> emlugares onde as condições físicas ou a natureza do solo não impingem seudesenvolvimento, ou onde as outras espécies são mais fortes. (Warming, 1909apud Bowler, 1998).Outra importante precursora do desenvolvimento <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> sucessão foi a teoriado ciclo geomorfológico ou ciclo de erosão desenvolvi<strong>da</strong> em 1884 pelo geólogo egeógrafo William Morris Davis (1850 - 1934). Esta teoria enfocava um desenvolvimentoprogressivo e metódico <strong>da</strong> paisagem, iniciando com <strong>uma</strong> superfície de erosão eterminando com <strong>uma</strong> planície. Este desenvolvimento foi comparado em analogias com odesenvolvimento h<strong>uma</strong>no (Glenn-Lewin, Peet e Veblen 1992).Glenn-Lewin, Peet e Veblen afirmam que em 1893, Warming apresentou <strong>uma</strong> visãogeral <strong>da</strong> sucessão, mas foram Henry Chandler Cowles (1869–1939), e FrederickClements (1874–1945), que fizeram um uso mais extenso do conceito de sucessão, eestabeleceram <strong>uma</strong> varia<strong>da</strong> terminologia para as distintas séries e etapas.Glenn-Lewin, Peet e Veblen (1992) relatam que Cowles foi um dos pupilos de T. C.Chamberlin o qual foi colaborador de Davis. E explicam que Cowles estendeu osconceitos <strong>da</strong> teoria do “ciclo geológico” (proposta em 1899 por Davis e que trazia aanalogia ontogenética), para a vegetação de duna do Lago Michigan, sendo que seutrabalho foi o primeiro a descrever <strong>uma</strong> série sucessional completa no penúltimo ano doséculo XIX. Cowles tornou-se importante influência para os ecólogos do início do séculoXX.Estes primeiros estudos (ex 6 : Cowles, 1899; Cooper, 1913; Clements, 1916) <strong><strong>da</strong>s</strong>ucessão ecológica descreviam a seqüência de espécies que ocupavam sucessivamente<strong>uma</strong> área, posteriormente os estudos passaram a descrever mu<strong>da</strong>nças em outrasvariáveis como biomassa, produtivi<strong>da</strong>de, diversi<strong>da</strong>de, amplitude de nicho.Apesar dos vários estudos botânicos empíricos do início do século foi Clementsquem pela primeira vez sintetizou o processo sucessional em <strong>uma</strong> teoria lógica queposteriormente tornou-se hegemônica até a metade do século XX.Conforme conceito básico proposto por Clements “Sucessão é o processouniversal de desenvolvimento <strong><strong>da</strong>s</strong> formações [vegetais]. Ele ocorre repeti<strong>da</strong>mente na6 Apenas a título de esclarecimento sobre o formato de citações adotado, as citações de obras que se encontram precedi<strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>da</strong>expressão “ex:” não foram consulta<strong><strong>da</strong>s</strong> e estão presentes apenas para que o leitor possa procurar saber mais.


15história de to<strong>da</strong> formação climácica, e pode reaparecer to<strong>da</strong> vez que houver condiçãofavorável” (Clements, 1916. grifo nosso). Vejamos outro trecho bastante revelador <strong>da</strong>estrutura lógica de desenvolvimento organicista <strong><strong>da</strong>s</strong> formações vegetais como propostopor Clemensts:“O reconhecimento do desenvolvimento como a causa e explicação de to<strong><strong>da</strong>s</strong> asformações climácicas existentes, nos faz concluir que to<strong>da</strong> vegetação tem sidodesenvolvimentalmente relaciona<strong>da</strong>; em resumo, to<strong>da</strong> formação climácica tem suafilogenia bem como sua ontogenia. Isso leva mais <strong>uma</strong> vez a suposições que osprocessos e funcionamentos <strong><strong>da</strong>s</strong> vegetações atuais podem ter sido em essênciaos mesmos ocorridos no passado geológico, e que os princípios e processosaparentes nas seres hoje existentes servem igualmente bem para análises emca<strong>da</strong> eosere (seres paleoecologicas). Como <strong>uma</strong> conseqüência, poderá serpossível esboçar ousa<strong>da</strong>mente o traçado <strong>da</strong> sucessão de “populações de plantas”em várias eras e períodos, e organizar de modo preliminar o novo campo <strong>da</strong>paleoecologia...” (Clements, 1916)Esta citação também demonstra o espírito teórico empreendedor deste importanteautor e sua vontade de tornar os estudos ecológicos consonantes com as <strong>teorias</strong>desenvolvimentais (ex: Weisman) e com a teoria Darwiniana que começava a firmar-seenquanto teoria unificadora <strong>da</strong> biologia. Assim como Davis, Clements observou analogiasentre o desenvolvimento <strong>da</strong> vegetação e o desenvolvimento h<strong>uma</strong>no e interpretou asucessão como um processo altamente ordenado e previsível - tanto quanto a história devi<strong>da</strong> dos organismos. A origem <strong>da</strong> ideologia organicista <strong>da</strong> teoria Clementiana está noclássico “Principles of Biology”, do filósofo evolucionista Herbert Spencer, que em suaépoca tornou-se a bíblia do positivismo (Comtiano-Spenceriano) e foi adotado com fervorquase religioso pela nova ciência . No entanto, cabe ressaltar que Clements raramenteutilizou o termo “super-organismo”, freqüentemente empregado para caricaturar sua teoria(Ulanowicz, 1999).Ain<strong>da</strong> segundo a teoria de Clements “a vegetação deveria convergir para umclímax, cujas características <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de seriam controla<strong><strong>da</strong>s</strong> unicamente pelo clima,sendo esta a organização de maior estabili<strong>da</strong>de”. Ele enfatizava a importância <strong><strong>da</strong>s</strong>“modificações ambientais causa<strong><strong>da</strong>s</strong> pela vegetação, que deixavam o ambiente maisfavorável para plantas de clímax e menos para colonizadores iniciais, e a este processodenominou reação” (Glenn-Lewin, et al., 1992).


16A teoria de Clements foi prontamente critica<strong>da</strong> por seus contemporâneos,especialmente por Henry A. Gleason 7 e Arthur G. Tansley 8 . Gleason (1917, 1926 apudGlenn-Lewin, et al., 1992), não concor<strong>da</strong>va com a analogia organicista (organismic) <strong><strong>da</strong>s</strong>ucessão, acreditava que as plantas apresentavam um comportamento individualista eque sua distribuição seria fortuita resultando em formações vegetais não ordena<strong><strong>da</strong>s</strong>.Nesta visão a vegetação é o produto <strong>da</strong> soma (conjunção) <strong>da</strong> distribuição de todos osindivíduos que o habitam (Colinvaux, 1973, apud Matthes e Martins, 1996). Gleason(1926) e posteriormente Whittaker (1951, 1956, 1965 apud Hubbell 2001) classificaram ateoria de Clements como inconsistente com os <strong>da</strong>dos empíricos sobre as comuni<strong>da</strong>desvegetais.Gleason enfatizava que a vegetação é um fenômeno muito influenciado pela sortena colonização (arrival), mais que também é mol<strong>da</strong>do (worked out) pela disputa entre asespécies disponíveis na comuni<strong>da</strong>de (biocenose) interações essas que não produziamnovas uni<strong>da</strong>des de comuni<strong>da</strong>des, outrossim um gradiente de mu<strong>da</strong>nças contínuasconforme as mu<strong>da</strong>nças de ambiente. Essas conclusões de Gleason são bastantesemelhantes às do seu contemporâneo russo Ramensky 9 (1884–1953) apesar de possuirmenor quantificação e tratamento estatístico(McIntosh, 1985).Segundo Glenn-Lewin, Peet e Veblen (1992) Tansley (1871–1955) não concor<strong>da</strong>vacom o caráter convergente (monoclimácico) <strong>da</strong> “teoria clementiana” e tambémargumentava que ela era inconsistente com a seleção natural ao nível de indivíduo. Apartir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de trinta, com os acontecimentos subseqüentes à grande seca <strong><strong>da</strong>s</strong>plantações no meio oeste <strong>da</strong> América do Norte, observou-se que alguns sítios nãoretornaram à composição inicial, e concluiu-se que não há necessariamente um clímaxúnico ou <strong>uma</strong> tendência irrevogável a um ponto estável final <strong>da</strong> sucessão. De acordo comDajoz (1973 apud Matthes e Martins, 1996), a teoria convergente do monoclimax (cilmax7 Gleason Henry Allan Gleason (1882-1975) ecólogo, botânico e taxonomista estadunidense que foi o principal criador <strong>da</strong>interpretação individualista <strong>da</strong> sucessão. Suas principais publicações sobre a sucessão foram feitas em 1917, 1926, 1927, 1939.8 Tansley foi um dos primeiros botânicos a estu<strong>da</strong>r comuni<strong>da</strong>des de plantas usando métodos de amostragem semelhantes aosdesenvolvidos por Frederic Clementes. Publicou suas críticas ao pensamento de Clements em 1935.9 Ele foi também, a frente dos ecólogos de seu tempo, um dos primeiros a utilizar o desvio padrão como <strong>uma</strong> medi<strong>da</strong> de variânciaentre diferentes amostras (McIntosh, 1985). Na Rússia ele foi o primeiro proponente <strong>da</strong> idéia <strong>da</strong> visão de que as comuni<strong>da</strong>des sãocompostas de espécies comportando-se individualisticamente.


17climático) já não era bem aceita pelos ecologistas europeus, para os quais poderiamexistir vários clímax em <strong>uma</strong> mesma região – esta é a teoria do policlimax, desenvolvi<strong>da</strong>por Tansley em 1939 e oposta ao monoclimax.El-Hani (2006) sintetiza este período com as frase “inicialmente, os ecólogosbuscaram propor <strong>teorias</strong> e leis descritas como ‘reais’ (ex: nicho, principio <strong>da</strong> exclusãocompetitiva), incluindo modelos matemáticos derivados <strong>da</strong> física e <strong>da</strong> química (ex:modelos de Lotka e Volterra, log-série, log-normal), que tiveram um papel central nachama<strong>da</strong> ‘era doura<strong>da</strong> <strong>da</strong> ecologia teórica’, nas déca<strong><strong>da</strong>s</strong> de 1920 a 1940”.Na déca<strong>da</strong> de 50 as disputas entre holistas e reducionistas tornaram-se bastantesacirra<strong><strong>da</strong>s</strong> e na déca<strong>da</strong> de 19660 Hutchinson (1903–1991) descrevia o que chamamos de“problema holo/merológico” apontando que em seus primórdios a ecologia dividiu-se emdois ramos divergentes (a holológica e a merológica) diferindo-se fun<strong>da</strong>mentalmentequanto ao conceito de comuni<strong>da</strong>de.Na déca<strong>da</strong> de 1960, Ramon Margalef 10 e Eugene Odum 11 tentaram unificar asvárias <strong>teorias</strong> <strong>da</strong> sucessão em termos termodinâmicos e parâmetros ecossistêmicos.Margalef aplicou a teoria <strong>da</strong> informação propondo que ecossistemas apresentavam <strong>uma</strong>tendência de acumulo de informações (tróficas e de biodiversi<strong>da</strong>de) (Glenn-Lewin, Peet eVeblen, 1992). Já Eugene Odum apresentou <strong>uma</strong> lista de tendências que postulavam quecom o passar do tempo a comuni<strong>da</strong>de “aumentaria a densi<strong>da</strong>de” <strong><strong>da</strong>s</strong> teias ecológicas, aorganização dos estratos e <strong>da</strong> heterogenei<strong>da</strong>de espacial, o estreitamento <strong><strong>da</strong>s</strong>especializações de nicho, <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de dos ciclos de vi<strong>da</strong> dos organismos,quanti<strong>da</strong>de de informação (com redução <strong>da</strong> entropia); e a pressão de seleção favoreceriaos “controles por retroalimentação (seleção-K) em detrimento do crescimento rápido(seleção-r)” (Odum, E., 1969 apud Connell e Slatyer, 1977). Por fim, também propôs queas comuni<strong>da</strong>des e ecossistemas desenvolveriam em direção a <strong>uma</strong> maior homeostase.As idéias destes dois cientistas <strong>da</strong> metade do século influenciaram e incentivaramgerações de pesquisadores, porém muitos aspectos ain<strong>da</strong> continuam carentes de suporte10 Nascido em 1919 e falecido em 2004 ele foi um limnólogo e ecólogo espanhol. Alg<strong>uma</strong>s de suas publicações mais influentes<strong>da</strong>tam de 1958, 1963, 1968.11 Ecólogo estadunidense pioneiro <strong>da</strong> ecologia de ecossistemas, foi colega de Arthur Tansley e irmão de Howard Thomas Odum.Seus mais influentes trabalhos foram publicados em 1953 e 1969.


18empírico (Glenn-Lewin, Peet e Veblen, 1992). Por possuírem semelhanças filosóficas coma teoria de Clements as idéias dos irmãos Odum e de Margalef bem como outras idéiascomplementares à visão de Clements (ex: Drury e Nisbet, 1973; e Phillips, 1934,1935)foram classifica<strong><strong>da</strong>s</strong> como <strong>teorias</strong> holistas 12 por alguns historiadores <strong>da</strong> ecologia (ex:McIntosh, 1980 e 1981) e abertamente acusa<strong><strong>da</strong>s</strong> de serem teleológicas ou metafísicas(Finegan, 1984).Finegan (1984) acrescenta que a ecologia holística defende que ecossistemaspossuem proprie<strong>da</strong>des emergentes. Ain<strong>da</strong> segundo este autor tais <strong>teorias</strong> freqüentementeconsideram a ocorrência <strong><strong>da</strong>s</strong> mu<strong>da</strong>nças sucessionais em estágios através de “on<strong><strong>da</strong>s</strong>” deinvasão por grupos de espécies, e acredita-se que também são controla<strong><strong>da</strong>s</strong> pela própriavegetação. Na teoria holística o controle biológico <strong>da</strong> ciclagem de nutrientes no desenrolar<strong>da</strong> sucessão é enfatizado (Finegan, 1984), ao passo que as influências externas comodistúrbios de larga escala, variações climáticas e imigração de novas espécies sãorelega<strong><strong>da</strong>s</strong> a papeis minoritários ou considerados constantes (Glenn-Lewin, et al., 1992).Glenn-Lewin, Peet e Veblen (1992) remetem à metade <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70 osurgimento <strong><strong>da</strong>s</strong> duas tendências principais que têm dominado as pesquisas na dinâmicade vegetação: (1) um afastamento <strong><strong>da</strong>s</strong> explicações holísticas do fenômeno <strong>da</strong> sucessãopara abor<strong>da</strong>gens reducionistas e mecanicistas que enfatizam causas próximas dohabitat local nas mu<strong>da</strong>nças vegetacionais; (2) um afastamento do paradigma de equilíbriopara o paradigma de não-equilíbrio. Trataremos destas tendências ao reducionismo, aomecanicismo e ao não-equilíbrio nas próximas seções.1.2.1 Tendências reducionistasConforme escrevem Matthes e Martins (1996), as <strong>teorias</strong> reducionistas têm-sebaseado nas interpretações de Gleason, em que as comuni<strong>da</strong>des de plantas sãoconsidera<strong><strong>da</strong>s</strong> como conjuntos fortuitos de populações, ca<strong>da</strong> qual com seu própriocomportamento. Neste conceito, o processo sucessional não é determinístico como <strong>uma</strong>12 O termo holismo foi cunhado por Jan Christiaan Smuts em 1926.


19proprie<strong>da</strong>de emergente <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, e sim, <strong>uma</strong> função <strong><strong>da</strong>s</strong> variações apresenta<strong><strong>da</strong>s</strong>pelas populações de espécies ao longo do tempo.Matthes e Martins (1996) destacam que a moderna interpretação do modelo <strong>da</strong>“composição florística inicial” (a sigla usa<strong>da</strong> em inglês é IFC) de Egler, que foi publicado1954, se constitui na base de alg<strong>uma</strong>s <strong>teorias</strong> reducionistas. Nestes modelos, to<strong><strong>da</strong>s</strong> asespécies que participam <strong>da</strong> sucessão se estabelecem desde o início ou logo após aabertura de um sítio. A sucessão seria meramente <strong>uma</strong> dominância fisionômicaseqüencial do local por espécies com diferentes ciclos de vi<strong>da</strong>, taxas de crescimento ediferentes tamanhos na maturi<strong>da</strong>de.Nesta conjuntura parâmetros <strong><strong>da</strong>s</strong> dinâmicas demográficas tornaram-se o cerne dosmodelos sucessionais quantitativos. Nas visões reducionistas os processos sucessionaispassam a ser vistos também como um resultado de processos de composição 13 <strong>da</strong>comuni<strong>da</strong>de – mu<strong>da</strong>ndo ao longo do tempo – e dedutível no nível <strong>da</strong> dinâmica <strong><strong>da</strong>s</strong>populações.Procuramos durante essa pesquisa <strong>teorias</strong> <strong>da</strong> ecologia de comuni<strong>da</strong>des queabor<strong><strong>da</strong>s</strong>sem as menores enti<strong>da</strong>des ontologicamente definíveis (evitando o problema degeneralizações artificiais). Essas <strong>teorias</strong> estão inseri<strong><strong>da</strong>s</strong> no que chamamos deabor<strong>da</strong>gens individualistas, onde <strong>uma</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong> representantes mais recentes na ecologia decomuni<strong>da</strong>des é a Teoria Neutra <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de. Mais vale lembrar que as abor<strong>da</strong>gensrealmente individualistas <strong>da</strong> sucessão não são de modo algum novas. “Westhoff (1951) eMuller-Dombosis e Ellenberg (1974) já reconheciam a comuni<strong>da</strong>de como sendo <strong>uma</strong>associação de plantas individuais” (Van Andel, Bakker e Grootjans, 1993), e não umconjunto de populações de plantas em interação.1.2.2 Tendências mecanicistasUlanowicz (1999) relata que o aparecimento <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>teorias</strong> mecanicistas <strong>da</strong> ecologiateve berço nos Estados Unidos <strong>da</strong> América em meio ao movimento tecnocrático que tanto13 Cabe um esclarecimento a o que ele pretende ao usar o termo composição: “Por composição me refiro a determina<strong><strong>da</strong>s</strong> espécie, quetendo nicho característico, co-existem em <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong><strong>da</strong>.”(Hubbell, 2001)


20influenciou os trabalhos de Howard Thomas Odum 14 e George Leonard Clarke 15 epersistiu principalmente nos estudos <strong>da</strong> modelagem de ecossistemas.Mais foi na déca<strong>da</strong> de 1980 que a ecologia de comuni<strong>da</strong>des desenvolveurapi<strong>da</strong>mente o enfoque mecanicista, onde o objetivo é compreender os processossubjacentes aos padrões ecológicos e as restrições que operam sobre eles. Uma ênfaseespecial foi posta sobre as restrições decorrentes de características morfológicas,fisiológicas e comportamentais dos organismos. Segundo Van Andel, Bakker e Grootjans(1993) nessas déca<strong><strong>da</strong>s</strong> foi cri<strong>da</strong> <strong>uma</strong> terminologia fenomenológica para sugerir aexistência de conhecimentos objetivos sobre os mecanismos <strong>da</strong> sucessão, os quais foramrotulados como “modelos”, “cenários” ou “classes”.Na proposta de Pickett et al (1987 apud Van Andel, Bakker e Grootjans, 1993)estes termos que visam descrever, explicar e prever aspectos <strong>da</strong> sucessão podem serassim definidos: vias sucessionais são padrões temporais de mu<strong>da</strong>nças vegetacionais;causas são agentes, circunstâncias ou ações responsável por padrões sucessionais; emecanismos são interações que contribuem para as mu<strong>da</strong>nças sucessionais.Conseqüentemente <strong>uma</strong> sere sucessional é um tipo particular de via, que pode dependerde conjunto de causas e/ou mecanismos sucessionais. Modelos são construtosconceituais para descrever e explicar vias sucessionais ou para prever o “percurso” de<strong>uma</strong> sucessão particular combinando vários mecanismos, especificando as relações entreos mecanismos e as vias sucessionais por eles mol<strong>da</strong><strong><strong>da</strong>s</strong>. Os conceitos e definições maisusados ao se tratar de mecanismo em sucessão estão bem esclarecidos no trabalho deVan Andel, Bakker e Grootjans (1993).Dentre os vários modelos surgidos nesta época podemos citar o importantetrabalho de Connell e Slatyer (1977, citado 1543 vezes até 04/06/2009 segundo o Google14 Ecólogo estadunidense nascido em 1924 e falecido em 2002, formou-se em zoologia, foi orientado por Hutchinson em seu PhD.Junto com seu irmão Eugene Odum foi um dos pioneiros <strong>da</strong> ecologia de ecossistemas com a publicação de 1953 do“Fun<strong>da</strong>mentals in Ecology”. Sua obra reuniu aspectos <strong>da</strong> teoria cibernética ao enfoque energético <strong>da</strong>do pelos trabalhos alg<strong>uma</strong>svezes publicados em conjunto com o irmão. Outro livro que merece menção é “Systems Ecology: an introduction” de 1983 queapresenta <strong>uma</strong> visão termodinâmica dos ecossistemas e mantém a direcionali<strong>da</strong>de ao estágio de clímax presente nos trabalhosanteriores. A influência dos irmão Odum foi tão grande em nossos tempos que Mansson e McGlade (1993) cunharam o termo“Od<strong>uma</strong>nia”.15 Nascido em 1905, publicou em 1954 um livro denominado “Elements of Ecology” onde usava a metáfora de engrenagens para aspopulações de <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de.


21Acadêmico) que traz <strong>uma</strong> boa síntese dos “mecanismos” <strong>da</strong> sucessão mais usados hojeem dia.Conforme modelo de Connell e Slatyer (1977) os mecanismos que determinam asmu<strong>da</strong>nças <strong>da</strong> composição de espécies <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de podem ser divididos em trêsmodelos: o primeiro modelo exposto por ele é o de facilitação que sugere que oestabelecimento e crescimento <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies tardias é dependente <strong>da</strong> ação <strong><strong>da</strong>s</strong> plantasiniciais (onde apenas alg<strong>uma</strong>s plantas estariam aptas a colonizar estes ambientes) em“preparar o terreno”, e somente depois <strong>da</strong> implantação <strong><strong>da</strong>s</strong> iniciais é que as tardias seinstalariam. O segundo modelo é o <strong>da</strong> tolerância, e afirma que a seqüência de espécies éproduzi<strong>da</strong> pela existência de espécies com diferentes “estratégias” de exploração derecursos, desta forma as espécies tardias seriam aquelas capazes de tolerar menoresníveis de recursos que as iniciais (ou seja, seriam mais eficientes). Finalmente o terceiromodelo é o <strong>da</strong> inibição em que to<strong><strong>da</strong>s</strong> as espécies resistiriam à invasão dos competidores,assim os primeiros ocupantes inibem o estabelecimento dos posteriores até a sua mortepor senescência ou devido a <strong>da</strong>nos causados por “inimigos naturais” ou pelo ambientefísico.Quanto à competição Connell e Slatyer (1977) explicam que os modelos defacilitação e tolerância necessitam que as espécies iniciais sejam mortas em competição[para serem substituí<strong><strong>da</strong>s</strong>] pelas tardias (o sombreamento é enfatizado como estratégiacompetitiva). No modelo <strong>da</strong> inibição isso não precisa acontecer (p. 1124), logo não énecessário que alg<strong>uma</strong> espécie possua superiori<strong>da</strong>de sobre as outras (p. 1138). Destaforma, reinterpretamos que estes autores incipientemente consideravam a possibili<strong>da</strong>dede a comuni<strong>da</strong>de ser composta através seguindo os pressupostos neutros <strong>da</strong> simetria eequivalência respectivamente (que serão tratados e definidos na seção 2.3.1.1 sobre a<strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de p. 62)Finegan (1984) relembra que desde o início <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem mecanicista propôs-seque facilitação, tolerância, inibição e alogênese são mecanismos independentes nasucessão e podem, portanto, afetar o mesmo indivíduo sucessivamente ousimultaneamente durante seu ciclo de vi<strong>da</strong>. Matthes e Martins (1996) comentam que asinterpretações reducionistas, <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 80, sobre os fatores autogênicos restringiramseaos modelos <strong>da</strong> “tolerância” e <strong>da</strong> “inibição”, que a hipótese de facilitação foi rejeita<strong>da</strong> eque as mu<strong>da</strong>nças autogênicas [sobre o ambiente] foram vistas mais como fatores neutros


22ou inibidores, do que como forças que dirigem a sucessão. No início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 90 VanAndel, Bakker e Grootjans (1993) alertavam que o vieses reducionista com ênfase emcompetição poderia resultar em <strong>uma</strong> subestimação de outros mecanismos de mu<strong>da</strong>nçavegetacional. Neste contexto crítico, na déca<strong>da</strong> de 1990 vários autores propuseram <strong>uma</strong>retoma<strong>da</strong> do mecanismo de facilitação e <strong><strong>da</strong>s</strong> interações entre animais e plantas.1.2.3 Tendências ao não-equilíbrioO início <strong>da</strong> valorização do equilíbrio para o não-equilíbrio iniciou-se com os estudosde Hugh M. Raup 16 e Alex S. Watt 17 entre as déca<strong><strong>da</strong>s</strong> de 30 e 50. Watt, alertou paradependência <strong>da</strong> escala de análise ao inferir-se estabili<strong>da</strong>de em <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de e em1947 propôs o modelo do “ciclo de crescimento florestal” no qual as mu<strong>da</strong>nças de padrãoespacial são dirigidos pelos ciclos de vi<strong>da</strong> dos próprios indivíduos, assim que passampelas fases de crescimento, de maturi<strong>da</strong>de e de degeneração. (Matthes e Martins, 1996).Já Raup contestava a morosi<strong>da</strong>de que deveria apresentar um processo sucessional naausência de distúrbios ambientais (Glenn-Lewin, et al., 1992), como supostamentepostulado por Clements. A título de ilustração Glenn-Lewin e Van der Maarel (1992) citamcomo adeptos <strong>da</strong> proposição de não equilíbrio Raup, Drury e Nisbet, Connel, Pickett,Wiens, Chensson e Case, Davis, e DeAngelis e Waterhouse.Tendo em vista a hipótese de que a perturbação é um mecanismo determinante nacomposição <strong><strong>da</strong>s</strong> florestas (perturba<strong><strong>da</strong>s</strong> pelo homem ou não) Denslow (1980 apud Matthese Martins, 1996) propõe que as estratégias de regeneração são dependentes do padrãode distribuição <strong><strong>da</strong>s</strong> clareiras. Seus estudos culminaram em <strong>uma</strong> linha de pesquisa <strong>da</strong>dinâmica de clareiras sintetiza<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> de 70.Em contraste Lieberman et al (1980 apud Matthes e Martins, 1996), discor<strong>da</strong>m <strong>da</strong>distinção de clareira versus não-clareira e argumentam que o gradiente de luminosi<strong>da</strong>de,desde sombra densa até à plena insolação, é situação que ocorre normalmente nasflorestas tropicais.16 Publicou em 195717 Alexander Stuart Watt nascido em 1892 Botânico e ecólogo vegetal inglês 1919, 1934. Seu trabalho mais influente foi o artigo“Pattern and process in the plant community” publicado em 1947. Watt faleceu em 1985.


231.3 S<strong>uma</strong>rizando o estado <strong>da</strong> arte <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>teorias</strong> <strong>da</strong> sucessão ecológicaA sucessão consiste de mu<strong>da</strong>nças que se estendem por déca<strong><strong>da</strong>s</strong>, séculos oumesmo milênios, e que se sobrepõem a flutuações e ritmos mais breves ( Margalef,1982). Tendo em mente essa ampla escala de tempo em que ocorrem as dinâmicas <strong><strong>da</strong>s</strong>comuni<strong>da</strong>des vegetais e também a diversi<strong>da</strong>de de ecossistemas sobre os quais pretendeseaplicar estudos sucessionais cabe primeiramente definir alguns termos e limitações denosso trabalho.1.3.1 Definições e escopo de estudoHistoricamente os trabalhos chaves e fun<strong>da</strong>dores do campo <strong>da</strong> sucessão foram emgrande parte desenvolvidos para comuni<strong>da</strong>des vegetais, seja em campos abandonados,florestas ou vegetação de lagos, e mais tardia e minoritariamente foram criados estudossobre a sucessão de animais bentônicos (principalmente em costões e recifes),saprófagos (sucessão heterotrófica em troncos, fezes e cadáveres onde destaca-se aciência forense). Os estudo de sucessão de animais vagantes são minoritários, sendo quegeralmente estão relacionados ao tamanho corporal e nível trófico desses animais.Recentemente, as interações entre animais e plantas durante a sucessão tambémconquistou espaço na pesquisa <strong><strong>da</strong>s</strong> mu<strong>da</strong>nças vegetacionais, com destaque pararelações ecológicas de parasitismo, herbivoria polinização e dispersão.De acordo com Burrows (1990 apud Van Andel, Bakker e Grootjans, 1993) existetanta confusão no uso do termo sucessão, e ele traz consigo um histórico de significaçõesagrega<strong><strong>da</strong>s</strong> tão mutante e confuso, que seria melhor abandoná-lo e substituir peladesignação mais geral de mu<strong>da</strong>nças vegetacionais. Na mesma linha Davis et al. (2005)chegaram a conclusão que ecólogos que estu<strong>da</strong>m comuni<strong>da</strong>des vegetais comumente nãousam percepções surgi<strong><strong>da</strong>s</strong> em outras sub-disciplinas de pesquisas, e nem tentam fazerde seus conceitos facilmente acessíveis para investigadores em outras áreas. Elespropõem que as várias áreas de especiali<strong>da</strong>de de ecologia vegetal poderiam serreunifica<strong><strong>da</strong>s</strong> sob o termo mais geral de ecologia de mu<strong>da</strong>nça vegetacionais. Taisconclusões foram obti<strong><strong>da</strong>s</strong> através de <strong>uma</strong> análise bibliográfica de várias áreas <strong>da</strong>pesquisas em ecologia vegetal (biologia de invasão, ecologia de sucessão, dinâmica declareiras e manchas, e efeitos de mu<strong>da</strong>nça globais em plantas). Neste trabalho


24utilizaremos ambos os termos indistintamente, <strong>uma</strong> vez que o enfoque <strong>da</strong>do em nossapesquisa foi bastante restrito aos temas <strong>da</strong> sucessão.O Glossário <strong>da</strong> Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Ab’Sabber et al.,1997) define a sucessão como “substituição progressiva de <strong>uma</strong> ou mais espécies,populações, comuni<strong>da</strong>des, por outra, em determina<strong>da</strong> área ou em um biótopo;compreende to<strong><strong>da</strong>s</strong> as etapas desde a colonização ou estabelecimento <strong><strong>da</strong>s</strong> espéciespioneiras até o clímax (...)”. Já Hubbell (2001) define sucessão como mu<strong>da</strong>nça direcionalno tempo, <strong>da</strong> composição de espécies e <strong>da</strong> fisionomia em <strong>uma</strong> única área onde o climapermanece efetivamente constante. Observamos nestas duas definições elementos queconferem direcionali<strong>da</strong>de e a noção de progresso, o que implica atribuir começo e fim aoprocesso sucessional o que pode não ter valor real (Glenn-Lewin, et al., 1992),principalmente levando-se em consideração o caráter cíclico dos distúrbios. Outraquestão a ser levanta<strong>da</strong> é quão constante e quanto tempo o clima deve permanecer nesteestado para delimitarmos temporalmente o fenômeno <strong>da</strong> sucessão?Uma definição um pouco mais ampla e que consideramos mais adequa<strong>da</strong> àslimitações e práticas de investigação científica <strong>da</strong> sucessão é <strong>da</strong><strong>da</strong> por Connell e Slatyer,1977 referindo-se a “mu<strong>da</strong>nças observáveis em <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de ecológica após <strong>uma</strong>perturbação que abra um espaço relativamente amplo” (grifo nosso). Mais o quanto amplodeve ser o espaço perturbado, e quanto tempo é necessário para analisarmos ofenômeno sucessional? Entendemos que a expressão “relativamente amplo” pode estarrelaciona<strong>da</strong> tanto ao tamanho dos organismos que habitam a área aberta, quanto aotamanho <strong>da</strong> área em relação ao seu entorno, parece-nos que falta clareza na escolha dedos termos empregados nas definições ecológicas. Já quanto ao tempo quanto utilizam aexpressão “mu<strong>da</strong>nças observáveis” os autores já estão definindo grosseiramente umintervalo de tempo limitado pela capaci<strong>da</strong>de de observação h<strong>uma</strong>na que por sua vezacreditamos restringe-se a “estudos de vegetações recentes” e não a estudospaleoecológicos, os quais estariam tratando de mu<strong>da</strong>nças vegetacionais milenares.Analisando estes conceitos vemos como o termo “sucessão” pode ser usado paradescrever muitos tipos de mu<strong>da</strong>nças na comuni<strong>da</strong>de em <strong>uma</strong> ampla escala de espaço,tempo e intensi<strong>da</strong>de (Finegan, 1984).Acreditando que as mu<strong>da</strong>nças na vegetação seguem um gradiente temporalPickett et al, (1987 apud Glenn-Lewin e Van der Maarel, 1992) construíram <strong>uma</strong>


25“hierarquia de causas sucessionais” onde pretende-se s<strong>uma</strong>rizar as diferentesabor<strong>da</strong>gens temporais em um esquema com sete classes ou escalas temporaiscrescentes, e sobrepostas em certo grau, a citar: flutuações, dinâmica de clareiras,sucessão cíclica, sucessão secundária, sucessão primária e sucessão secular ou delongo tempo. Neste contínuo conforme aumenta-se o tempo analisado, também aumentaa amplitude espacial <strong><strong>da</strong>s</strong> mu<strong>da</strong>nças estruturais e composicionais e a magnitude <strong><strong>da</strong>s</strong>forças ou causas envolvi<strong><strong>da</strong>s</strong>. Neste trabalho focalizaremos as escalas espacial e temporal<strong>da</strong> sucessão secundária, tratando as outras escalas de maneira mais superficial.“Em termos gerais, a sucessão florestal secundária é influencia<strong>da</strong> porestocastici<strong>da</strong>de, biologia <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies incluindo suas interações com outrasespécies (ambos entre plantas, ou entre planta e animais), e pelo interrelacionamentode componentes bióticos e abióticos (vegetação e clima). Todosestes fatores, em última instância, determinam a composição florística particularde <strong>uma</strong> i<strong>da</strong>de (fase) e influenciam também o grau de recuperação estrutural efuncional <strong>da</strong> vegetação.”(Guariguata e Ostertag, 2001).Segundo Guariguata e Ostertag, (2001) grande parte dos estudos sobre asucessão secundária enfocou sobre a seguinte questão: espécie ou grupo de espéciedominam em determinado estágio <strong>da</strong> sucessão? Eles citam outros assuntos que recebemanálise tais como: fatores afetando primeira colonização, mu<strong>da</strong>nças nas proprie<strong>da</strong>des de<strong>luz</strong> e solo, interações e retroalimentações entre a vegetação e a terra, taxas e modos deacumulação de biomassa, produtivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> floresta e composição de espécies.Para Glenn-Lewin (1992) “Os ecólogos contemporâneos vêem as mu<strong>da</strong>nçasvegetacionais como resultantes de populações interagindo em meio a flutuações nascondições ambientais atribuindo-se maior importância aos distúrbios. Também aceitam asmu<strong>da</strong>nças contínuas na vegetação como norma”. Outra diferença (em relação ao holismo)é que o processo de sucessão não é interpretado como se ocorresse em séries de etapasdistintas, outrossim resulta de mu<strong>da</strong>nças irregulares e variáveis <strong><strong>da</strong>s</strong> populações atravésdo tempo, faltando ordenação ou uniformi<strong>da</strong>de (Whittaker, 1953 apud Matthes e Martins,1996).1.3.2 Escopo <strong>da</strong> sucessão: tempo e espaçoQuanto a escala temporal <strong>da</strong> dinâmica vegetacional pode ser dividi<strong>da</strong> grosseira earbitrariamente em três segmentos: 1) mu<strong>da</strong>nças de curto prazo, ou flutuações, 2)mu<strong>da</strong>nças de longo prazo, ou milenares e 3) as mu<strong>da</strong>nças de escala intermediária,aquelas que são usualmente o domínio <strong>da</strong> sucessão.


26Glenn-Lewin e Van der Maarel (1992) define flutuações como variações temporaisinstáveis na composição de espécies durante curtos períodos de tempo e geralmenteocorrem em resposta a mu<strong>da</strong>nças ambientais em escalas igualmente breves tais comoestações mais chuvosas ou secas, quentes ou frias. Por outro lado, a sucessão éusualmente evidente ao longo de poucas déca<strong><strong>da</strong>s</strong> a poucos séculos. A direcionali<strong>da</strong>detem sido cita<strong>da</strong> como a característica que distingue a sucessão <strong><strong>da</strong>s</strong> flutuações, porém adireção é defini<strong>da</strong> arbitrariamente e só após o fato ocorrido. Por fim as mu<strong>da</strong>nças delongo espectro demoram muitos séculos ou milênios e resultam de mu<strong>da</strong>nças ambientaisde longo tempo, tais como as mu<strong>da</strong>nças climáticas globais, as ocasiona<strong><strong>da</strong>s</strong> pelodesenvolvimento de solos ou através de migração de espécies através de regiões.Miles (1979 apud Glenn-Lewin e Van der Maarel, 1992) diferencia a sucessão <strong><strong>da</strong>s</strong>flutuações pois a primeira envolve mu<strong>da</strong>nças nas espécies dominantes ou diagnósticas, eem contraste quando as mu<strong>da</strong>nças são flutuações as espécies dominantes oudiagnósticas não mu<strong>da</strong>m, e novas espécies não entram na comuni<strong>da</strong>de, ou se elasentram elas não tornam-se espécies diagnósticas. Porém ele pondera que existemsituações intermediárias que não podem ser incluí<strong><strong>da</strong>s</strong> em um dos dois casos.O mesmo problema <strong><strong>da</strong>s</strong> distinções arbitrárias se aplica a definir a sucessão como<strong>uma</strong> mu<strong>da</strong>nça qualitativa (altera a composição de espécies) e as flutuações comoquantitativas (altera a abundância relativa), a menos que as mu<strong>da</strong>nças qualitativasincluam to<strong><strong>da</strong>s</strong> as migrações, ou extirpações ocorri<strong><strong>da</strong>s</strong> na comuni<strong>da</strong>de,independentemente <strong>da</strong> importância ou período de tempo que as espécies envolvi<strong><strong>da</strong>s</strong>tenham residido ou venham a residir.Em adição a to<strong>da</strong> esta complicação existe o problema <strong>da</strong> freqüência deobservações, onde o que parece <strong>uma</strong> mu<strong>da</strong>nça direcional se observarmos maisespaça<strong>da</strong>mente pode parecer <strong>uma</strong> flutuação de observarmos com maior freqüência(Austin, 1981 apud Glenn-Lewin e Van der Maarel, 1992)Quanto a dinâmica espacial, Glenn-Lewin e Van der Maarel, 1992 consideramnovamente a existência de contínuo onde na escala horizontal temos: desde clareirasmuito pequenas, passando por processos de fase, regeneração, dinâmicas de grandeescala e por fim mu<strong>da</strong>nças na paisagem.Espacialmente a comuni<strong>da</strong>de é interpreta<strong>da</strong> como um mosaico mutável demanchas com diferentes tamanhos, i<strong>da</strong>des, estruturas e composições(Glenn-Lewin e Van


27der Maarel, 1992), sendo que as comuni<strong>da</strong>des adjacentes devem trocar espécies até queelas sejam igualmente compostas(Horn, 1974). Endossam a idéia de mosaico: Watt,Webb, Pickett, Hubbell e Foster. Um importante descritor do processo responsável peloaspecto de mosaico <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des sucessionais é o conceito de nucleação deYarranton e Morrson (1974 apud Glenn-Lewin e Van der Maarel, 1992). Segundo eles oprocesso de sucessão pode ser visto como <strong>uma</strong> expansão e coalescência de núcleosinicialmente pequenos. Seguindo esta linha, Glenn-Lewin e Van der Maarel, 1992apontam que alguns dos mais bem sucedidos modelos de dinâmica vegetal estão sendogerados pela somação de processos de pequena escala ou de regeneração de clareiras(porém para críticas ver Szwagrzyk, 1990).1.3.3 Causas e mecanismosGuariguata e Ostertag, (2001) citando Walker e Chapin, ilustram os fatores ecausas que influenciam mu<strong>da</strong>nças <strong>da</strong> seguinte forma:“o início é marcado, pela maior importância de fatores que governam acolonização (ex: condições para a formação de substrato, período de entra<strong>da</strong> desementes, presença de sementes e gemas armazena<strong><strong>da</strong>s</strong> no solo). O processosegue até um estádio tardio onde a habili<strong>da</strong>de competitiva e a tolerância àscondições ambientais <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies (determina<strong><strong>da</strong>s</strong> primeiramente pelas taxasespécie-específicas de crescimento, longevi<strong>da</strong>de, tamanho máximo emmaturi<strong>da</strong>de e grau de tolerância a sombra) ditam fortemente os padrões desubstituição <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies ao longo do tempo.”Na déca<strong>da</strong> de 90 o desenvolvimento <strong>da</strong> tendência mecanicista tinha chegado a umpatamar de diversi<strong>da</strong>de teórica nunca antes por ela experimentado, com o acúmulo depelo menos variados mecanismos conforme s<strong>uma</strong>rizado abaixo.


28Tabela 1: compilação hierárquica <strong><strong>da</strong>s</strong> causas, processos e fatores <strong>da</strong> dinâmica vegetacional(a<strong>da</strong>ptado de Pickett, et al. !987 apud Glenn-Lewin e Van der Maarel, 1992)Causa geral Condições ou Fatores que influenciamAutoresprocessosconsideradosDisponibili<strong>da</strong>de deespaçoDisponibili<strong>da</strong>dediferencialespéciesdeDistúrbio de grossaescalaDispersãoestocastici<strong>da</strong>deEstoquepropágulosDisponibili<strong>da</strong>derecursose/oudedeTamanho do distúrbio,intensi<strong>da</strong>de, duração, dispersãoConfiguração <strong>da</strong> paisagem,agentes de dispersãoTempo desde o último distúrbio,usos pretéritos do soloCondição do solo, topografia,microclima, história do localHorn, 1975, 1976Drury e Nisbet, 1971,1973; Pickett, 1976;Tilman, 1985,1988Diferençascomportamento<strong><strong>da</strong>s</strong> espéciesnoEcofisiologia Requisitos para germinação,taxas de assimilação ecrescimento, diferenciaçãopopulacionalHistória de vi<strong>da</strong>Padrão de alocação de recursosvegetativos, freqüência e modo dereproduçãoDrury e Nisbet, 1973;Pickett, 1976; Noble eSlatyer, 1980; Egler,1954; Peet eChristensen, 1980Estresse ambientalCompetiçãoAlelopatiaHerbivoria/pre<strong>da</strong>ção edoençasCiclos climáticos, história do local,espécies que ocuparam antesHierarquia competitiva, presençade competidores, identi<strong>da</strong>de doscompetidores, distúrbiosautóctones, pre<strong>da</strong>dores,herbívoros, disponibili<strong>da</strong>de derecursosEstrutura e química do solo,micróbios, espécies vizinhasCiclos climáticos, ciclospopulacionais do pre<strong>da</strong>dor, vigore defesas vegetais, composição<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, agrupamentoespacial (patchiness)Finegan (1984) cita ain<strong>da</strong> com exemplo de autores <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>teorias</strong> mecanicistasColinvaux, Nierin e Goodwin, Connell e Slatyer e Miles.Visto o grande número de autores que admitem que o processo subjacente àdinâmica vegetacional é realizado no nível <strong><strong>da</strong>s</strong> populações <strong><strong>da</strong>s</strong> plantas constituintes,então torna-se útil examinar os mecanismos populacionais que geram os padrões <strong>da</strong>


29comuni<strong>da</strong>de. Para Glenn-Lewin e Van der Maarel (1992) “os mecanismo podem resultar,por um lado de proprie<strong>da</strong>des <strong><strong>da</strong>s</strong> próprias plantas, como habili<strong>da</strong>de de colonização,crescimento e desenvolvimento e características do ciclo de vi<strong>da</strong>; e por outro lado deinterações <strong>da</strong> plantas com outros tipos de organismos ou entre duas espécies de plantas.”Nesse último caso o estabelecimento é interpretado em termos de habili<strong>da</strong>de de invasãoou resistência à invasão pela vegetação existente. Estes mecanismos, diferem demaneira espécie-específica e estão relacionados na tabela abaixo (tabela 2), conformesua origem e o efeito que causam no processo.Tabela 2: Classificação <strong><strong>da</strong>s</strong> causas freqüentemente atribuí<strong><strong>da</strong>s</strong> à sucessão (células centrais)conforme a origem do mecanismo subjacente (colunas) e o efeito causado (linhas). Classes a<strong>da</strong>pta<strong><strong>da</strong>s</strong> deGlenn-Lewin e Van der Maarel (1992).Origem do mecanismo Intrínseca a população Relações entre populaçõesFenômeno observadoCrescimento diferencialSubstituição de espécies(nichista)Resposta variáveis ambientaisTaxa de crescimentoDiferenças de germinaçãoSenescênciaCompetição intraespecíficaDispersão não zoocoricaProdução de propágulosResposta variáveis ambientaisFacilitaçãoCompetição(interacionista)Invasão/InibiçãoAlelopatiaHerbivoria, patógenos eparasitasZoocoriaFacilitaçãoCompetiçãoTendo em consideração as duas possibili<strong>da</strong>des de origem causal dos mecanismossucessionais (segundo a citação de Glenn-Lewin e Van der Maarel do parágrafo anterior),desenvolvemos <strong>uma</strong> classificação dessas explicações causais <strong>da</strong> sucessão, distinguindoasem duas classes conforme exposto na tabela 2. A primeira classe, que chamaremos deinteracionista (ou interacionista/selecionista), atribui às relações ecológicas entre espécieso papel de determinar as mu<strong>da</strong>nças vegetacionais; e a segun<strong>da</strong> denominamos nichista(ou também nichista/a<strong>da</strong>ptacionista), infere que as diferenças de nichos inerentes àsespécies explicariam a sobrevivência e reprodução diferencial de suas populações.Visando tornar previsível o efeito <strong>da</strong> miríade de requisitos de nicho <strong><strong>da</strong>s</strong> muitas espéciesde <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de, esta segun<strong>da</strong> vertente acaba por agrupar as característicassíndromes e classifica as espécies quanto suas síndromes quanto a estratégias de vi<strong>da</strong> (rou K) ou grupos funcionais. Na seção a seguir trataremos os argumentos dessas duas


30linhas explicativas sobre a sucessão, e sua influência sobre o funcionamento e abiodiversi<strong>da</strong>de <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des sucessionais.Os processos de mu<strong>da</strong>nça vegetacional podem ser interpretados como fruto decrescimento diferencial, o que só causa alterações na fisionomia <strong>da</strong> vegetação ou através<strong>da</strong> substituição de espécies que modifica tanto a fisionomia quanto a composição,(reprodução, migração e estabelecimento diferenciais). E sobre esta segun<strong>da</strong>interpretação que pretendemos discutir no decorrer deste capítulo.1.3.4 Biodiversi<strong>da</strong>de e funcionamento <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>de sucessionaisPrimeiramente utilizaremos a descrição de Caswell (1979) para tratar sobre a linhaque chamamos interacionista 18 :“Convencionalmente, aceita-se que ca<strong>da</strong> espécie que ocupa prosperamente <strong>uma</strong>comuni<strong>da</strong>de faz o “espaço de nicho 19 ” dela mais diverso (tanto de modo adversoquanto propício) para pelo menos alguns dos futuros ocupantes em potencial.Deste modo conforme a comuni<strong>da</strong>de se torna mais diversa e as interaçõesinterespecíficas ficam mais complica<strong><strong>da</strong>s</strong>, tal diversificação começa a gerar <strong>uma</strong>nova diversi<strong>da</strong>de de nichos e o número de espécies continua a aumentar em umtipo de realimentação positiva”. (Caswell, 1979)Caswel (1979) explica que a estratégia interacionista prediz que, estando as outrascircunstâncias favoráveis (sine qua non), a diversi<strong>da</strong>de deverá aumentar, levandotambém, a <strong>uma</strong> crescente autodeterminação do funcionamento <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. Comoisso o "isolamento" <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, em relação aos impactos do ambiente, aumenta ca<strong>da</strong>vez mais e então as espécies continuarão encontrando condições toleráveis parapoderem sobreviver.Ain<strong>da</strong> que riqueza de espécies de <strong>uma</strong> floresta antiga seja alcança<strong>da</strong> em poucasdéca<strong><strong>da</strong>s</strong> após o abandono, o retorno a <strong>uma</strong> composição de espécies similar a <strong>uma</strong>floresta antiga é um processo muito mais longo, devido principalmente ao maior tempo desubstituição <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies <strong>da</strong> copa (Finegan, 1996 apud Guariguata e Ostertag, 2001).Estudos empíricos têm apontado que a riqueza <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies lenhosas aumenta18 O autor originalmente tratava estas idéias como argumentos <strong>da</strong> teoria de nicho.19 O autor originalmente usa a expressão “niche space” para tratar <strong>da</strong> biocenose.


31rapi<strong>da</strong>mente nos primeiros anos <strong>da</strong> sucessão, e em poucas déca<strong><strong>da</strong>s</strong> alcança riquezascomparáveis a florestas primárias.“Além <strong><strong>da</strong>s</strong> riqueza de espécies, acredita-se que diferenças na composição relativade formas de vi<strong>da</strong> de florestas em sucessão também podem ter implicações para ofuncionamento do ecossistema.” (Guariguata e Ostertag, 2001). Segundo a interpretaçãotradicional as espécies dominantes são as principais determinantes <strong><strong>da</strong>s</strong> característicasecossistêmicas <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des, tais como produtivi<strong>da</strong>de, estabili<strong>da</strong>de e sucessão, e poroutro lado o aspecto <strong>da</strong> riqueza de espécies está mais relacionado com as espéciessubordina<strong><strong>da</strong>s</strong> (Grime, 1987 apud Van Andel, Bakker e Grootjans, 1993).Porém a diversi<strong>da</strong>de não aumenta sem limite. Um fator importante responsável poresta limitação é o nível de flutuação e variabili<strong>da</strong>de inerente no ambiente. Esta variaçãoatua perturbando a estrutura de nicho <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de até que certas porções do espaçode nicho não poderem permanecer tempo suficiente para garantir o sustento <strong>da</strong>população <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies que precisem de períodos mais longos para completarem seusciclos de vi<strong>da</strong> 20 .“Com podemos observar, o papel de interações biológicas está no cerne dosmodelos de regulação de diversi<strong>da</strong>de, segundo as quais a estrutura decomuni<strong>da</strong>de em geral, e a diversi<strong>da</strong>de em particular, são gera<strong><strong>da</strong>s</strong> por interaçõesbiológicas. Quanto maior for a contribuição relativa <strong>da</strong> dinâmica do sistema deinterações biótica para regulação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, em resposta a variações defatores ambientais abióticos, maior será a diversi<strong>da</strong>de predita” (Caswel, 1976).Conforme Horn (1974) “não existe nenhum limite técnico para o número deespécies que podem co-habitar o ambiente remen<strong>da</strong>do <strong>da</strong> sucessão inicial. Quanto maiseficientes forem as espécies em dispersarem-se para vacâncias, menos aberturasexistem em um <strong>da</strong>do tempo e menor é a diversi<strong>da</strong>de de pioneiras como a diversi<strong>da</strong>debaixa de alg<strong>uma</strong>s primeiras comuni<strong>da</strong>des sucessivas atesta”. As fases intermediárias desucessão devem ser misturas de espécie primárias e tardias, e conseqüentemente maioré sua diversi<strong>da</strong>de. Horn (1974) explica que em <strong>teorias</strong> de nicho clássicas, é esperado quea convergência nas história de vi<strong>da</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong> plantas do últimos estágios resulte em per<strong>da</strong> deespécie através <strong>da</strong> exclusão competitiva.20 Em outras escolas <strong>da</strong> ecologia de comuni<strong>da</strong>de as variações também oram interpreta<strong><strong>da</strong>s</strong> me modo negativo, ora como ruído,limitando a habili<strong>da</strong>de do sistema de controlar sua própria dinâmica; ora superando a habili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de para transmitirinformações para seu próprio futuro.


32Diversos autores criaram formas heuristicamente úteis de classificar as espéciesquanto a síndrome que apresentam relaciona<strong><strong>da</strong>s</strong> os estádios sucessionais. Dentre ascaracterísticas considera<strong><strong>da</strong>s</strong> em tais classificações temos: (in)tolerância à sombra (emdiferentes i<strong>da</strong>des), condições de luminosi<strong>da</strong>de na germinação, taxa de crescimento,mínima i<strong>da</strong>de reprodutiva, quanti<strong>da</strong>de de propágulos produzidos, longevi<strong>da</strong>de, forma dedispersão, dormência <strong>da</strong> semente ... Tais atributos são elencados e agrupados emsíndromes para dividir as espécies em grupos ecológicos. Uma síntese dos vários gruposecológicos criados para descrever os atributos vitais <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies <strong>da</strong> sucessão pode seraprecia<strong>da</strong> no trabalho de Reis (1993) conti<strong>da</strong> em anexo.As generalizações sobre a substituição <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies com estratégia de história devi<strong>da</strong> contrastantes foram super-simplifica<strong><strong>da</strong>s</strong>. Não obstante, Reis, (1993) alerta paracomplexi<strong>da</strong>de de classificações até o momento gera<strong><strong>da</strong>s</strong> em vários estudos de sucessão econsidera que qualquer classificação a ser utiliza<strong>da</strong> é artificial. Ele explica:“Artificiali<strong>da</strong>de <strong><strong>da</strong>s</strong> classificações expressa-se, pois dentro <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des ca<strong>da</strong>espécie possui um número enorme de particulari<strong>da</strong>des, que quando reuni<strong><strong>da</strong>s</strong>formam um contínuo de formas e tempos de vi<strong>da</strong> intermediários, e desta maneira,dificilmente poder-se-ia enquadrá-las em um único sistema de classificação [<strong>uma</strong>vez que] a evolução deve ter dotado-as de características que evitamsobreposição de nichos ecológicos.” (Reis, 1993)Consideramos que, em princípio não há na<strong>da</strong> errado em considerar ascaracterísticas <strong><strong>da</strong>s</strong> populações durante a sucessão, porém usá-las como única forma deexplicação torna a nossa visão <strong>da</strong> sucessão simples demais.Outra questão sobre o papel <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de no funcionamento <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>deain<strong>da</strong> permanece sem compreensão: Qual a importância de recuperar a composiçãooriginal de espécies para manutenção original <strong>da</strong> floresta. Em um experimento realizadopor Ewel (1991 apud Guariguata e Ostertag, 2001) em áreas recém desmata<strong><strong>da</strong>s</strong> equeima<strong><strong>da</strong>s</strong> foram cria<strong><strong>da</strong>s</strong> três comuni<strong>da</strong>des sucessionais diferentes: <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>decoloniza<strong>da</strong> sem interferência(controle); em outra tentou-se imitar o padrão sucessionalesperado <strong>da</strong> área quanto a função <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies mas não quanto a florística; e <strong>uma</strong>terceira em que foi aumentado proposita<strong>da</strong>mente a diversi<strong>da</strong>de de espécies através doacréscimo de no mínimo 20 espécies exóticas adiciona<strong><strong>da</strong>s</strong> mensalmente. Ao final de 5anos as comuni<strong>da</strong>des não diferiram quanto a retenção de nutrientes, a quanti<strong>da</strong>de denutrientes caiu em todos os tratamentos, a riqueza de espécies não afetou a taxa deherbivoria entre os tratamentos, que outrossim variou de espécie para espécie. Estes


33resultados apontam para <strong>uma</strong> robustez quanto tratamos <strong>da</strong> recuperação decaracterísticas funcionais do ecossistema, independentemente <strong>da</strong> riqueza de espécies ou<strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de funcional. Tais resultados são muito semelhantes aos pressupostos <strong>da</strong><strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de que serão expostos no capítulo 2.Tendo observado que os ecossistemas podem recuperar funções muito antes derecuperar a semelhança com as composições florísticas prévias à perturbação, Walker(1992 apud Guariguata e Ostertag, 2001) explica tal fato pela existência de redundânciasecológicas funcionais entre as espécies vegetais, i.e., de um ponto de vista doecossistema muitas espécies de plantas podem executar funções semelhantes. Nestesentido pelo menos dentro dos grupos de espécies redun<strong>da</strong>ntes a equivalência funcional,que é outro pressuposto <strong>da</strong> Teoria Neutra <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de, também está sendo relata<strong>da</strong>para a sucessão.1.3.5 A estocastici<strong>da</strong>de nas <strong>teorias</strong> sucessionaisSomente na últimas déca<strong><strong>da</strong>s</strong> do século XX, é que encontramos <strong>teorias</strong>sucessionais inerentemente estocásticas, sendo essas representa<strong><strong>da</strong>s</strong> por escassos,porém notórios, exemplos:1.3.5.1 Modelos de processos de MarkovSegundo Horn (1974) já nas déca<strong><strong>da</strong>s</strong> de 50 e 60 MacArthur reconhecia que ospadrões de estabelecimento de espécies ao longo <strong>da</strong> sucessão refletem proprie<strong>da</strong>desestocásticas rotineiras de um processo de substituição planta-a-planta surgidos comoconseqüências diretas do teorema ergódigo dos processos de Markov 21 . No modelo maissimples para tal processo(um modelo Markoviano), ca<strong>da</strong> planta tem probabili<strong>da</strong>desdetermina<strong><strong>da</strong>s</strong> de ser substituí<strong>da</strong> por outra de seu tipo ou por plantas de outras espécies.Uma seqüência sucessiva é modela<strong>da</strong> por múltiplas réplicas de <strong>uma</strong> distribuição inicial deespécies ao longo de <strong>uma</strong> matriz de probabili<strong>da</strong>des. Em 1975 Horn publicou um trabalho21 Esses processos são um caso particular de processos estocásticos com estados discretos (o parâmetro, em geral o tempo, pode serdiscreto ou contínuo) e que apresenta a proprie<strong>da</strong>de Markoviana, chama<strong>da</strong> assim em homenagem ao matemático AndreiAndreyevich Markov. A definição desta proprie<strong>da</strong>de, também chama<strong>da</strong> de memória markoviana, é que os estados anteriores sãoirrelevantes para a predição dos estados seguintes, desde que o estado atual seja conhecido.


34onde revisou outras aplicações dessas <strong>teorias</strong> estocásticas simples para sucessão eobteve vários novos resultados, particularmente quanto às relações envolvendoperturbação extrínsecas, padrões de reprodução, diversi<strong>da</strong>de, e estabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>comuni<strong>da</strong>de de clímax.O modelo de Usher 22 que a sucessão segue um Processo de Markov onde aprobabili<strong>da</strong>de de ocorrer um determinado estado futuro de variável aleatória sobconsideração, neste caso a composição de espécies <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, está condiciona<strong>da</strong>unicamente pelo estado imediatamente anterior, e então não depende <strong>da</strong> história maisremota <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de (sendo assim também nega a facilitação).Em seus estudos Horn buscou relacionar novas <strong>teorias</strong> <strong>da</strong> dinâmica de população(<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70) com os efeitos dedutíveis sobre os padrões sucessionais. Segundo suainterpretação muitos dos padrões notáveis de sucessão são conseqüências diretas desubstituições estocásticas de <strong>uma</strong> planta por outra. Ele acreditava que, em vias gerais,depois de <strong>uma</strong> perturbação temporária, <strong>uma</strong> seqüência repetível de mu<strong>da</strong>nças deveriaconvergir assintoticamente para <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de semelhante ao clímax original. Eafirmava que os padrões <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de são independentes <strong><strong>da</strong>s</strong> a<strong>da</strong>ptações biológicasdiferenciais de espécies para estágios sucessionais, entretanto acreditava que asa<strong>da</strong>ptações afetavam a veloci<strong>da</strong>de e a clareza dos padrões.Porém não devemos confundir a valorização <strong>da</strong> aleatorie<strong>da</strong>de em Horn com<strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de. Ilustraremos sua interpretação mecanicista não <strong>neutra</strong> com a seguintecitação:“a sucessão secundária é resultado de competição interespecífica, com asespécies pioneiras freqüentemente vencendo espécie mais tardias na colonizaçãoinicial <strong><strong>da</strong>s</strong> clareiras, mais talvez competindo excessivamente entre elas,posteriormente elas mesmas produzem um ambiente em que espécies maisvelhas são competitivamente superiores”. (Horn, 1974)1.3.5.2 Modelos de loteriaO Modelo de Loteria foi formalizado por Sale em 1977. De acordo com estemodelo, “<strong>uma</strong> vez que muitas espécies diferentes podem ocupar <strong>uma</strong> abertura particular,22 Publicado em 1979.


35os colonizadores iniciais de <strong>uma</strong> área são um subconjunto estocástico do estoqueoriginal” (Del Moral, 1999). Ain<strong>da</strong> segundo esse autor, posteriormente ao modelo de Sale,em 1982 Hanski desenvolveu o modelo de carrossel para estender o modelo de loteriaatravés de tempo. Desenvolvimentos desses modelos foram elaborados posteriormentepor autores como Shmi<strong>da</strong> e Ellner, Collins, Kikvidze, Van der Maarel e Sykes. Del Moral(1999) explica que por este modelo a substituição individual é estocástica, basea<strong>da</strong> emhabili<strong>da</strong>de de dispersão e proximi<strong>da</strong>de <strong><strong>da</strong>s</strong> fontes de semente. Isto cria <strong>uma</strong> relação dedependência muito fraca entre <strong>uma</strong> espécie e seu ambiente.A estes modelos sucessionais atribuímos o rótulo de modelos pré-neutros porconsiderar que apesar de conterem elementos de estocastici<strong>da</strong>de estes modelos foramcriados em um contexto histórico de transição e não contêm os pressupostos essenciaispara serem considerados ver<strong>da</strong>deiramente neutros. Veremos estes pressupostos quandoestivermos tratando <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de no capítulo 2.1.3.6 O problema do clímaxPara Daubenmire (1968 apud Schorn, 2005), o clímax é um produtomulticondicionado <strong>da</strong> sucessão, sendo o resultado do ajustamento dos constituintesambientais (fatores pedológicos, climáticos e bióticos, que constituem o complexoambiental). Assim, às diferentes combinações desses, correspondem diversos estados declímax, em <strong>uma</strong> mesma região climática (policlímax). Atualmente, a teoria mais aceita é ado clímax padrão de Whittaker 23 , a qual é <strong>uma</strong> “fusão <strong>da</strong> teoria de Gleason e Tansley”segundo Glenn-Lewin, et al. (1992), em que a composição, a estrutura de espécies, e adinâmica de <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de de clímax são determina<strong><strong>da</strong>s</strong> pelo ambiente total doecossistema (to<strong><strong>da</strong>s</strong> as características bióticas e abióticas e não por um só aspecto, comopor exemplo, o clima) (Matthes e Martins, 1996).Mueller-Dombois e Ellenberg (1974 apud Schorn, 2005) afirmam que esse conceitorecebe a adesão de diversos autores, que apontam a existência de várias comuni<strong>da</strong>desclímax,to<strong><strong>da</strong>s</strong> elas em equilíbrio com os habitats locais, dentro de <strong>uma</strong> mesma região23 Publica<strong>da</strong> em 1953.


36climática. Essas comuni<strong>da</strong>des auto-perpetuáveis podem ser distingui<strong><strong>da</strong>s</strong> como clímacesedáficas ou topográficas, caso o complexo de fatores controladores <strong>da</strong> sucessão estejamais fortemente ligado ao hábitat do que ao clima prevalecente.Horn (1974) critica os conservacionistas e advogados <strong>da</strong> preservação quefreqüentemente citam a generalização convencional de que diversi<strong>da</strong>de produzestabili<strong>da</strong>de, discutindo que as comuni<strong>da</strong>des naturais mais biodiversas deviam serconserva<strong><strong>da</strong>s</strong> devido a sua influência estabilizadora sobre as comuni<strong>da</strong>des artificiais maissimples. Porém, ele adverte para o possível contra argumento lógico de que seecossistemas mais biodiversos são inerentemente estáveis, eles não deveriam precisarde proteção. Ele propõe a visão oposta, de que as comuni<strong>da</strong>des de clímax mais diversassão inerentemente frágeis, é <strong>uma</strong> argumentação muito mais poderosa para exigirproteção de perturbação h<strong>uma</strong>na, e de seu manejo responsável.Uma estratégia de pesquisa recente sobre o tema <strong><strong>da</strong>s</strong> dinâmica de comuni<strong>da</strong>des éa dos princípios extremos (extremal principles) ou funções de meta (goal function). Essamatriz teórica nasceu sob a influência <strong><strong>da</strong>s</strong> idéias de Odum e Margalef e integraparâmetros de fluxos de energia e matéria com parâmetros de biodiversi<strong>da</strong>de 24 por meiode modelagem matemática. Essa linha de argumentação, utiliza-se interações tróficaspara justificar tendências determina<strong><strong>da</strong>s</strong>, que se tratariam de generalizações e princípiosvigentes no ecossistema em sucessão. Essas tendências, atratores ou orientadorestrazem sempre o aumento <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de de processamento earmazenamento dos parâmetros ligados a energia e informação. Como exemplo deprincípios extremos temos os princípios de maximização: de potência (ex: Lotka), dearmazenamento (ex: Jörgensen e Mejer), de energia e potência corporifica<strong><strong>da</strong>s</strong> (ex:Odum), de ascendência (ex: Ulanowicz), de dissipação, entropia, ou exergia (ex:Prigogine e Stengers; Brooks e Wiley; Schneider e Kay), e de ciclagem de energia ematéria (ex: Morowitz). Para <strong>uma</strong> revisão destes princípios e seus conceitos agregadosver Fath, Patten e Choi (2001).Por outro lado autores como Mueller-Dombois e Ellenberg (1974 apud Schorn,2005) discor<strong>da</strong>m <strong>da</strong> existência de um estádio de clímax estático e final, pois, segundo24 Os quais recebem o rótulo de informação conti<strong>da</strong> no sistema.


37eles, a sucessão na reali<strong>da</strong>de não termina, mas assume veloci<strong>da</strong>de tão lenta que épraticamente imperceptível.1.4 Conclusões“O estudo dos ciclos de vi<strong>da</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies primárias e secundárias ligado aomodelo <strong>da</strong> distribuição dos mesmos permite-nos entender a sucessão como umprocesso autecológico e compreender o fenômeno <strong>da</strong> regeneração em aspectosque tem ficado fora <strong><strong>da</strong>s</strong> possibili<strong>da</strong>des de trabalhos sinecológicos tradicionais,permitindo analisar as relações diretas entre as espécies particulares e oambiente”. (Gómez-Pompa e Vazqués-Yanes, 1985 apud Matthes e Martins, 1996)É com essa frase que Matthes e Martins (1996) encerram sua revisão sobreconceitos em sucessão ecológica. Acreditamos que ela reflete e sintetiza o espírito <strong><strong>da</strong>s</strong><strong>teorias</strong> de sucessão, adota<strong><strong>da</strong>s</strong> pela maioria dos cientistas <strong>da</strong> época em que foi cita<strong>da</strong>.Observa-se a tendência de redução ao nível populacional, a tendência mecanicista comcunho ecofisiológico e a utilização bastante questiona<strong>da</strong> de classificações arbitrárias deespécies quanto ao seus status sucessionais.Diferindo dos pressupostos anteriormente expostos, acreditamos que a ativi<strong>da</strong>debásica de cientistas é a geração de esquemas conceituais que expliquem os padrões 25observados na natureza, ou nas palavras parafrasea<strong><strong>da</strong>s</strong> de MacArthur (1972 apud Peet1992) a ativi<strong>da</strong>de científica visa procurar padrões repetidos, não apenas acumular fatoscomo na história natural. A ciência deve ser geral em seus princípios. Visando adequar-seao ideal de ciência anteriormente exposto “a teoria <strong>da</strong> sucessão não deve depender[exclusivamente] <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies particulares presentes nas áreas de estudo” (Peet 1992) etão pouco assumir que somente conhecimentos auto-ecológicos muitas vezes específicospodem fornecer <strong>uma</strong> explicação completa para o fenômeno <strong>da</strong> sucessão.Na disputa teórica entre holístas e reducionistas Finegan (1984), aponta limitaçõesnas interpretações dos dois grupos. Segundo ele a sucessão, sob a visão holista, éinterpreta<strong>da</strong> como um processo de desenvolvimento de um ecossistema em direção a<strong>uma</strong> estabili<strong>da</strong>de máxima (sob a bandeira <strong>da</strong> resistência a distúrbios) e eficiência máximana utilização de recursos. Por outro lado a narrativa reducionista <strong><strong>da</strong>s</strong> déca<strong><strong>da</strong>s</strong> de 70 e 8025 Incluindo processos com um tipo de padrões com historici<strong>da</strong>de.


38falhou, por duas razões: ela negligenciava a natureza <strong>da</strong> dispersão, e sua generalizaçãosobre as mu<strong>da</strong>nças ambientais e sobre as espécies exploradoras e conservadorastornou-se <strong>uma</strong> tese insustentável. E defende que <strong>uma</strong> terceira abor<strong>da</strong>gem sintética deveser procura<strong>da</strong>(Finegan, 1984), acreditamos que os mecanismos de dispersão estocástica<strong>da</strong> Teoria Neutra <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de (TNB) possam ser <strong>uma</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong> partes desta abor<strong>da</strong>gemsintética a que Finegan se refere. No terceiro capítulo apontaremos nossas sugestões decomo a TNB deverá proceder para assumir um importante papel nesta síntese.Neste ínterim, e relembrando o exposto neste capítulo, observamos que ostrabalhos mais recentes sobre a sucessão têm enfocado em aspectos <strong>da</strong> estrutura <strong>da</strong>comuni<strong>da</strong>de e no funcionamento do ecossistema, e direcionado-se a abor<strong>da</strong>gens maismecanicistas e reducionistas. Não obstante, El-Hani (2006) sugere que muitos ecólogostendem a referir-se reitera<strong>da</strong>mente à complexi<strong>da</strong>de, historici<strong>da</strong>de e diversi<strong>da</strong>de dossistemas ecológicos, em vez de buscarem meios de construir modelos simplificados,tratáveis, mas que, ain<strong>da</strong> assim, forneçam insights importantes sobre tais sistemas.


392 TEORIAS SOBRE A BIODIVERSIDADE DASCOMUNIDADES ECOLÓGICAS“A ver<strong>da</strong>de se encontra<strong>da</strong> na simplici<strong>da</strong>de, e não namultiplici<strong>da</strong>de e confusão de coisas.”Sir Isaac Newton“Na reali<strong>da</strong>de, a ciência e a arte vêm aos homens porintermédio <strong>da</strong> experiência, porque a experiência criou a arte ea inexperiência, o acaso”AristótelesAo longo deste capítulo veremos o surgimento histórico <strong><strong>da</strong>s</strong> duas principais linhasde pesquisa <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des ecológicas. De acordo com Hubbel(2001) o conflito 26 entre estas duas “visões de mundo” foi exposto inicialmente pela “teoriade biogeografia de ilhas” de MacArthur e Wilson (em 1967), apesar de talvez só ter sidopercebido em compreensões posteriores a esta publicação. Veremos na seção 2.1 (p. 40)as <strong>teorias</strong> tradicionais basea<strong><strong>da</strong>s</strong> em nicho. Na seção 2.2 será discutido a história (p. 47) eos pressupostos (p.62) <strong>da</strong> tradição oposta, ou seja a teoria <strong>neutra</strong>.26 Conflito este exposto inicialmente pela “teoria de biogeografia de ilhas” de MacArthur e Wilson, apesar de talvez só ter sidopercebido através de <strong>uma</strong> compreensão posterior a esta publicação.


402.1 Histórias dos estudos sobre a estrutura e biodiversi<strong>da</strong>de nascomuni<strong>da</strong>des: O estabelecimento <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem tradicionalSegundo McIntosh (1985) já em 1908 Grimell falava que “a competição entreespécies resultava <strong>da</strong> adoção de habitats e estratégias de alimentação similares, maisnão idênticas”, porém ele só utilizou o termo nicho em 1917. Ain<strong>da</strong> na revisão histórica deMcIntosh foi Elton em 1927 quem definiu formalmente o conceito de nicho de um animalcomo seu “status na comuni<strong>da</strong>de, ... o que ele está fazendo, ou mais especificamente,suas relações quanto a comi<strong>da</strong> ou inimigos”. Para Mcintosh é fato anômalo que Eltontenha incorporado o nicho como um conceito principal para ecologia, sem no entanto, terenfatizado na competição como fizeram Grimell, Clements, Tansley e outros tantosecólogos do início do século XX. Além disso além <strong>da</strong> função <strong>da</strong> espécie o conceito deElton também incorporava <strong>uma</strong> função abstrata desenvolvi<strong>da</strong> pela espécie para acomuni<strong>da</strong>de e que poderia ser preenchi<strong>da</strong> por qualquer espécie <strong>da</strong> mesma varie<strong>da</strong>de.Em 1920 o importante limnólogo Germânico August Thienemann (1882–1960)identificou três importantes princípios, que relacionavam a composição e biodiversi<strong>da</strong>des<strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des com o seu funcionamento, a saber: a) quanto maior a diversi<strong>da</strong>de decondições em <strong>uma</strong> locali<strong>da</strong>de, maior será o número de espécies que habitam estacomuni<strong>da</strong>de; b) quanto mais as condições de um local derivarem do normal, bem comodos valores ótimos para as espécies, menor será o número de espécies que ocorrem lá, emaiores o número de indivíduo de ca<strong>da</strong> espécies que conseguem ocorrem; c)quanto maistempo <strong>uma</strong> locali<strong>da</strong>de permanece na mesma condição, mais rica é a comuni<strong>da</strong>de e maisestável ela será (McIntosh, 1985).Segundo McIntosh (1985) o terceiro princípio de Tienemann pode ser um legadodo “balanço <strong>da</strong> natureza” e dos conceitos de evolução comumente atribuídos à “ecologiaclássica”. Por outro lado ele pondera que alguns dos principais “ecólogos clássicos” comoClements e Tansley já afirmavam que o número de espécies poderia decair no Clímax,logo alguns clássicos já consideravam a possibili<strong>da</strong>de de um desenvolvimento nãoprogressivo e estabilizador <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des vegetais, e explicavam isso por efeito <strong>da</strong>competição <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies climácicas.A maioria dos ecólogos concor<strong>da</strong>ria que o nascimento de ecologia matemáticaocorreu durante a déca<strong>da</strong> de 20 (vale lembrar que os ecólogos anteriores já estaremdispostos ma padronizar e quantificar seus estudos). O impulso inicial veio por influência


41dos trabalhos de Lotka e Volterra independentemente publicados, que tratavam sobre adinâmica entre duas populações <strong>uma</strong> sendo de presas e a outra de pre<strong>da</strong>dores. Porém,Bowler (1998) esclarece que as fórmulas de Alfred J. Lotka(1880-1949) publica<strong><strong>da</strong>s</strong> em1925 não obtiveram muito efeito até serem associa<strong><strong>da</strong>s</strong> com o trabalho do físico VitoVolterra (1860-1940), que publicou em 1926 modelos de relações entre presas epre<strong>da</strong>dores utilizando equações diferençais retira<strong><strong>da</strong>s</strong> de modelos <strong>da</strong> termodinâmica degases ideais (onde colisões perfeitamente elásticas foram compara<strong><strong>da</strong>s</strong> com relação depre<strong>da</strong>ção). Outra influência de Volterra foram os <strong>da</strong>dos estatísticos sobre estoquespesqueiros produzidos por seu genro, e biólogo marinho, Umberto D’Ancora colhidosdurante a primeira guerra mundial.Tendo em mente os modelos de Lotka e Volterra, Gause publicou, em 1934, adoutrina central de teoria de nicho em seu princípio de exclusão competitiva, que declara,parafraseando, que “duas espécies não podem coexistir indefini<strong>da</strong>mente sobre ummesmo recurso limitante”. Ele testou esta idéia usando as celebres equações de Lotka–Volterra para experimentos de competição in vitro onde duas populações de Parameciumsp. realizavam <strong>uma</strong> dinâmica de exclusão competitiva. Um corpo teórico, desenvolveu-sea partir <strong>da</strong> rejeição ao organicismo, mais especificamente <strong>da</strong> rejeição <strong>da</strong> idéia agrega<strong>da</strong>ao organicismo que se tratava <strong><strong>da</strong>s</strong> suposições de seleção natural em níveis maiores queas populações, e para tanto baseou-se na teoria de nicho, ou mais especificamente noPrincípio de Gause <strong>da</strong> Exclusão Competitiva.Segundo Norris (2003) o conceito do nicho ecológico foi re-construído como <strong>uma</strong>implicação deste princípio, visando descrever qual a proporção do montante dos recurso(espaço de nicho <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de) que deveria ser encontra<strong>da</strong> e conquista<strong>da</strong> por ca<strong>da</strong>espécie para garantir sua perpetuação (ver Whittaker et al. 1973). Caswell (1976) explicaque esta porção de nicho é em parte determina<strong>da</strong> por características abióticas doambiente atuando sobre as necessi<strong>da</strong>des/afini<strong>da</strong>des do organismo, mas <strong>uma</strong> parteconsiderável é defini<strong>da</strong> pelas interações com outros membros <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.Etienne e Alonso (2007) relatam que conforme difundiu-se o conceito de nichoecológico ele também evoluiu consideravelmente desde quando criado Grinnell até 1957quando foi formalmente definido por Hutchinson como um hipervolume em um espaçomultidimensional de recursos (por exemplo <strong>luz</strong>, nutrientes, estrutura) e tornou-se adefinição de nicho mais aceita. Uma <strong><strong>da</strong>s</strong> implicações dessa definição foi o


42desenvolvimento de <strong>uma</strong> teoria que explica a coexistência de espécies como resultado docompartilhamento de recurso ao longo de muitos eixos de nicho (um nicho, <strong>uma</strong> espécie).O conceito de Hutchinson, tornou peculiar à ca<strong>da</strong> espécie a característica funcional denicho (que para Elton poderia ser desenvolvi<strong>da</strong> por <strong>uma</strong> espécie semelhante) ou seja,Hutchinson trouxe consigo a máxima de <strong>uma</strong> espécie, um nicho.Os teóricos logo aperceberam-se de que o compartilhamento de nicho não poderiaser completamente irrestrito, sob o risco de exclusão competitiva, outrossim, está sujeito acompensações em características de história <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. O princípio de Gause implicou quedeveria haver um máximo tolerável de sobreposição no uso de recursos compartilhadospara duas espécies coexistirem ou, em outras palavras, deveria existir algum limite desimilari<strong>da</strong>de entre os nichos de espécie coexistentes. Hubbell, (2005) cita comodefensores desta lógica Hutchinson, MacArthur e Levins, MacArthur.Segundo Leibold (1995), diversas avaliações históricas recentes forneceramconceitos de nicho que contrastam com revisões antigas (ex: Allee et al., Whittaker et al.,Hutchinson). Estas novas versões distinguem-se em grande parte por enfocarem: ora nadiferença entre "hábitat" e "aspectos funcionais" do nicho, ora, na importância <strong>da</strong><strong>da</strong> pararelação entre nichos <strong>da</strong> espécie diferentes. Segundo Gewin (2006) outra saí<strong>da</strong> adota<strong>da</strong>pelos teóricos de nicho contemporâneos (especificamente Leibold, 1995) foi refinar oconceito de nicho em dois componentes: por um lado os requisitos de <strong>uma</strong> espécie paraexistir em um ambiente particular, por outro, os impactos que ela tem em seu ambiente.A título de ilustração apresentamos duas explicações para a coexistência deespécies. Primeiramente a coexistência pode ser resultado de diferenças espaciais denicho: ain<strong>da</strong> que haja exclusão competitiva localmente, com a heterogenei<strong>da</strong>de derecurso pode haver coexistência em maiores escalas espaciais. Deste modo, aheterogenei<strong>da</strong>de de habitats possibilita a coexistência de múltiplas espécies porque asespécies são melhores em suportar determinados fatores ambientais e piores em li<strong>da</strong>routros (Chesson, 2000 apud Hérault, 2007). Outra explicação é forneci<strong>da</strong> através dediferenciações de nicho ao longo do eixo temporal, essa particularmente exige <strong>uma</strong>combinação com condições de não-equilíbrio pois de outra forma não haveria tempo paraque as duas espécies se estabelecessem desenvolvendo rotinas diferentes.Através dos desdobramentos e deduções feitas para a coexistência estabeleceu-sea abor<strong>da</strong>gem hegemônica para explicação <strong>da</strong> estrutura <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de: a visão <strong>da</strong>


43assembléia de nichos (niche-assembly) conforme denomina Hubbell, advertindo sobre orisco de caricaturá-la com tal denominação. De acordo com Norris (2003) nesta visão,espécies diferentes são limita<strong><strong>da</strong>s</strong> pelo mesmo recurso, qualquer que seja o melhorcompetidor eventualmente deverá excluir todos outros. A diversi<strong>da</strong>de é manti<strong>da</strong> pelaseparação e diferenciação <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies em nichos ecológicos específicos, permitindo aca<strong>da</strong> espécie seu próprio domínio de superiori<strong>da</strong>de competitiva e portanto admitindo queas espécies deveriam estar distribuí<strong><strong>da</strong>s</strong> heterogeneamente e em pequena escalaespacial. Os adeptos desta visão também defendem que a comuni<strong>da</strong>de é um grupo deespécies interagindo, sendo que suas ausências, presenças e abundâncias podem serdeduzi<strong><strong>da</strong>s</strong> através de “regras de composição” que atuam sobre no nicho ecológico deca<strong>da</strong> espécie.Buscando descrever os padrões espaciais estratégia tradicional foi assumir quenas comuni<strong>da</strong>des ecológicas, ca<strong>da</strong> espécie possui inerentemente um hipervolume denicho multidimensional (sensu Hutchinson's), e então, para descrever tal complexi<strong>da</strong>de demaneira fidedigna, dever-se-ia construir modelos bastante complexos desde o princípio,incorporando tantos detalhes, sobre o crescimento e as interações de ca<strong>da</strong> espécie comas outras e com seu ambiente físico, quanto possível (Hubbell, 2005). Sendo assim,“entender a resposta de <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de a qualquer tipo de mu<strong>da</strong>nça exigeconhecimento de como as espécies diferem, e como estas diferenças afetam suasrespostas às mu<strong>da</strong>nças ambientais” (Leigh, 2007). Nesta visão, as <strong>teorias</strong> qualitativas eprocessuais são muito mais úteis que <strong>teorias</strong> quantitativas sobre padrões e que nãopossam considerar os processos.Ain<strong>da</strong> sob estas visões, <strong>uma</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong> conseqüências do foco nas a<strong>da</strong>ptações (queexigem um tempo evolutivo) e na assembléia de nichos foi a tendência de aceitação doequilíbrio e de <strong>uma</strong> visão estática dos nichos e <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>de. As visões <strong>da</strong>composição de nichos cost<strong>uma</strong>m explicar as comuni<strong>da</strong>des como composiçõespersistentes, resistentes a perturbações e previsíveis (ver exceções na seção 1.2.3 sobretendências <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>teorias</strong> de sucessão ao não-equilíbrio. p. 22) tudo isso devido ao equilíbrioa<strong>da</strong>ptativo dos membros <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies, ca<strong>da</strong> qual tendo evoluído para ser o melhorcompetidor em seu próprio nicho (Poutin 1982 apud Hubbell 2001). Elas usam oargumento universal de que as espécies co-evoluem de maneira especializa<strong>da</strong> adetermina<strong><strong>da</strong>s</strong> circunstâncias ambientais e buscaram adequação e apoio na teoria


44hegemônica <strong>da</strong> biologia evolutiva ou seja na síntese neo-<strong>da</strong>rwinista. A idéia de equilíbriofoi promovi<strong>da</strong> e sustenta<strong>da</strong>, principalmente pela ecologia matemática, que investia seusesforços na tentativa de prever o balanço ecológico entre espécies competidoras dediferentes nichos, pre<strong>da</strong>dores e suas presas, ciclos de matéria, etc.Como podemos observar, as abor<strong>da</strong>gens convencionais para o problema <strong>da</strong>distribuição de abundância relativa <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies enfocaram em regras amplas eaplicáveis to<strong><strong>da</strong>s</strong> as espécies <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de para explicar a divisão dos recursos(geralmente explicações fisiológicas de cunho a<strong>da</strong>ptacionista ou competitivas).Desde os dias de Gause, as discussões acerca <strong>da</strong> composição e coexistência depopulações em comuni<strong>da</strong>de foram e vêm sendo construí<strong><strong>da</strong>s</strong> quase exclusivamente emtermos de nicho e competição. Isso ocorreu apesar <strong><strong>da</strong>s</strong> numerosas tentativas, menosdifundi<strong><strong>da</strong>s</strong> e prósperas, para ampliar as discussão e incluir mecanismos adicionais.Segundo Voltolini e Eble (1994) a ecologia convencional explica a maioria dos padrões derelações entre organismos e destes com o meio dentro de <strong>uma</strong> visão evolutivaselecionista-a<strong>da</strong>ptacionista.Peters (1976) explica brilhantemente o critério de classificação <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>teorias</strong> comocientíficas de acordo com o positivismo lógico e diferencia as <strong>teorias</strong> científicas <strong><strong>da</strong>s</strong>explicações metafísicas. Segundo ele, “<strong>uma</strong> teoria científica é um modo formalizado detratar e prever fatos do mundo empírico. Em contraste, as tautologias são partes deestudos <strong><strong>da</strong>s</strong> relações lógicas independente de empirismo.” e acrescenta “logo astautologias não são sujeitas a falsificações empíricas e nem geram previsões.” Ambosraciocínios podem ter lugar em ciência, porém não devem ser confundi<strong><strong>da</strong>s</strong>.O perigo na utilização <strong><strong>da</strong>s</strong> tautologias aparece quando aceitamos e nosacost<strong>uma</strong>mos com elas ao ponto de substituir, inconscientemente, previsões científicaspela metafísica dos sistemas tautológicos (Peters, 1976). Peters também alerta para umgrande número de <strong>teorias</strong> tautológicas na ecologia e biologia evolutiva de sua época,sendo que as que mais nos interessam são: a teoria do monoclímax de Clements (1916),o principio <strong>da</strong> exclusão competitiva (Gause), os modelos de competição (Volterra ed’Ancora), nicho e equilíbrio de (Hutchinson), as explicações para a origem <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de(Pianka), a seleção r e K (MacArthur e Wilson), e os postulados sobre as tendênciassucessionais (E. Odum). Para Peters (1976), os conceitos de seleção natural e a<strong>da</strong>ptaçãopossuem erros de formulação em sua estrutura lógico-epistemológica induzidos por


45tautologias. Deste modo, Voltolini e Eble (1994) argumentam que os conceitos baseadosnas explicações selecionista-a<strong>da</strong>ptacionistas tornam-se intestáveis.Segundo Voltolini e Eble (1994) a inércia do paradigma funcionalista, que vemsendo perpetuado em biologia evolutiva, conseqüentemente também na ecologia, quebusca adequação com a tradição unificadora <strong>da</strong> biologia evolutiva, desdenha a ver<strong>da</strong>delógica de que “a mera existência de <strong>uma</strong> boa a<strong>da</strong>ptação entre os organismos e oambiente é <strong>uma</strong> evidência insuficiente para inferir a ação <strong>da</strong> seleção natural” (Gould eLewontin, 1979 apud Voltolini e Eble, 1994). Um exemplo de resultado deste desdém <strong><strong>da</strong>s</strong>estratégias selecionista-a<strong>da</strong>ptacionistas foi encontrado por Silvertown(citado por Voltolinie Eble, 1994), que obteve que só 13 documentos desde 1990 que fornecem evidências deque diferenças de nicho observa<strong><strong>da</strong>s</strong> proporcionam a co-existência de espécies.Para Gewin (2006) os ecólogos são propensos a prematuramente concluir que sediferenças de nicho são encontra<strong><strong>da</strong>s</strong> entre espécies, devem existir alg<strong>uma</strong>scompensações entre as espécies para permitir que elas coexistam. E cita Mark McPeekque diz “Nós temos que mostrar que estas diferenças ecológicas causam compensaçõesentre espécies e deste modo influenciam em sua coexistência,” e também a exposição doecólogo de comuni<strong>da</strong>des vegetais Peter Adler, “As pessoas aceitaram o nicho tãointuitivamente que ele acabou não estando bem testado ...”.Chave (2004) explica que as <strong>teorias</strong> de coexistência por diferenciação de nichoestão principalmente preocupa<strong><strong>da</strong>s</strong> com processos puramente determinísticos, conduzidosem comuni<strong>da</strong>des com um pequeno número de espécies que interagem através de regrasfixas, como as prescritas nas equações de Lotka-Volterra. E diferencia, em contraste, ateoria <strong>neutra</strong> que está principalmente preocupa<strong>da</strong> com comuni<strong>da</strong>des ricas em espécies(florestas tropicais, recifes de corais) e com muitas espécies raras, onde o papel <strong>da</strong>estocastici<strong>da</strong>de na escala individual se torna inevitável.No campo empírico “o foco nas variações individuais de aptidão, a<strong>da</strong>ptação e nichotêm mol<strong>da</strong>do experimentos e estudos dos processos de competição [e coexistência],seleção e a<strong>da</strong>ptação em pequenas escalas [espaciais e temporais]”. (Hubbell, 2001).Como estes processos podem demorar ou exigir grandes áreas para terem alg<strong>uma</strong>efetivi<strong>da</strong>de, a utili<strong>da</strong>de destes estudos tornar-se questionável. Tilman (1989 apud Hubbell2001), por exemplo, revisou alg<strong>uma</strong>s centenas de estudos de competição de plantas eobteve que metade dos estudos foi realiza<strong>da</strong> em espaços de até um metro quadrado, e


46três quartos foram feitos em parcelas menores que 100 metros quadrados (10X10m).Somente 15% dos estudos duraram mais que três anos!Norris (2003) afirma que o uso de teoria de nicho para explicar a regulari<strong>da</strong>de depadrões de abundância de espécie nunca foi completamente bem sucedido. Ain<strong>da</strong>permanecem sem resposta questões como: por que os recursos são repartidos de modoa produzir os padrões de dominância numérica e rari<strong>da</strong>de comumente observados? E oque acontece quando o processo de divisão cessa, o resultado seria a previsão irreal deum número fixo de espécies atingindo o equilíbrio? Como veremos no próximo capítulo,para Hubbell, parte <strong>da</strong> resposta está expressa em um padrão empírico não exibido porespécies, mas sim, por indivíduos independentemente <strong><strong>da</strong>s</strong> característicasmorfofisiológicas <strong>da</strong> espécie a qual pertence.A Teoria de Composição de Nichos tem sido re-trabalha<strong>da</strong> para responder àalg<strong>uma</strong>s críticas modernas, e anomalias aponta<strong><strong>da</strong>s</strong> nos parágrafos anteriores. Uma <strong><strong>da</strong>s</strong><strong>teorias</strong> secundárias cria<strong><strong>da</strong>s</strong> explica a coexistência de espécie em um mesmo nichoatravés <strong>da</strong> existência de compensações (trades-offs) (ex: Tilman; Kneitel e Chase). Ouseja, se duas espécies de um mesmo nicho coexistem 27 , elas devem manter “trades-off”.Por exemplo, <strong>uma</strong> espécie deve ser melhor em se esconder e a outra em fugir, demaneira que exista um balanço entre esta proprie<strong>da</strong>des (Chase e Leibold 2003 apudBotelho, 2007).Ain<strong>da</strong> sobre as compensações Hubbell (2005) acrescenta que em <strong>teorias</strong>basea<strong><strong>da</strong>s</strong> em recursos, ou também denomina<strong>da</strong> teoria-R* , as compensações acontecemem todos lugares porque eles são essenciais para explicar a coexistência. Por exemplo,na competição entre duas espécies por dois recursos limitados, a coexistência estávelacontece só quando ca<strong>da</strong> espécie tiver um maior ponto de compensação <strong>da</strong>exigência(R*) para aquele recurso que mais limita seu próprio crescimento, o querepresenta <strong>uma</strong> substituição na habili<strong>da</strong>de de explorar os dois recursos.Talvez o discurso mais característico dos cientistas que adotam a teoria tradicional,na atuali<strong>da</strong>de, tenha sido expressado na frase de Clark (2008) que escreve “a competição27 Visto que o nicho é específico de ca<strong>da</strong> espécie, o autor deve ter utilizado a palavra nicho em um sentido amplo, talvez melhordefinido como guil<strong>da</strong>.


47precisa ser delimita<strong>da</strong> no espaço e o tempo, um requisito que as diferenças de nichopodem cumprir, desde que elas não são sejam dimensionalmente baixas.” Em outraspalavras, quanto mais detalhes acrescentarmos, tanto mais verossímil tornaremos nossas<strong>teorias</strong> ecológicas.2.2 História <strong><strong>da</strong>s</strong> idéias <strong>neutra</strong>s2.2.1 História dos argumentos neutrosAnalisando historicamente a literatura, Hubbell (2001) encontrou que os elementos<strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong> possuem precedentes já no início do século XX. As <strong>teorias</strong> decomposição pela dispersão existem no mínimo desde 1922 com o livro de J. C. Willischamado “Age and Area, a Study of Geographic Distribution and Origin in Species”. Oreconhecimento <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> sorte e dispersão para estrutura de comuni<strong>da</strong>des nãoé novo. Etienne e Alonso (2007) também apontam um estudo de 1922 onde Grinnell játratava <strong>da</strong> sorte em seu conceito de espécies acidentais, i.e. espécies que foramobserva<strong><strong>da</strong>s</strong> só <strong>uma</strong> vez, são apenas do resultado de dispersão. Idéias similares foramdesenvolvi<strong><strong>da</strong>s</strong> independentemente por Gleason (nas déca<strong><strong>da</strong>s</strong> de 20 e 30) e que segundoEtienne e Alonso (2007) assume que as espécies são independente <strong>uma</strong>s em relação àsoutras e só acontecem em <strong>uma</strong> locali<strong>da</strong>de devido a sorte e dispersão. Hubbell (2001)acrescenta que Gleason propôs seu conceito individualista <strong>da</strong> distribuição vegetalargumentando contra a visão extrema de “composição determina<strong>da</strong> pelo nicho” defendi<strong>da</strong>por seu contemporâneo Frederick Clements. O conceito individualista foi amplamenteignorado até que em 1953 Whittaker começou a endossá-lo novamente (Etienne eAlonso, 2007).Já a noção de equivalência ecológica nas espécies é mais recente segundoHubbell (2001), contudo não é de modo algum <strong>uma</strong> nova idéia (ex.: Hubbell, 1979;Goldberg e Werner, 1983; Shmi<strong>da</strong> e Ellner, 1984).De acordo com a perspectiva de composição por dispersão (dispersal-assembly),as comuni<strong>da</strong>des são conjuntos abertos, e fora do equilíbrio de espécies postas juntasprincipalmente por sorte, história e dispersão limita<strong>da</strong> e ao acaso. As espécies vão e vêm,e sua presença ou ausência é dita<strong>da</strong> pela dispersão randômica e extinção estocástica.(Hubbell, 2001). Portanto Hubbell propõe que a coexistência <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies deve ser


48explica<strong>da</strong> por fatores historicamente contingentes, como por exemplo: quais espécieschegaram primeiro à comuni<strong>da</strong>de; quantas espécies os recursos de <strong>uma</strong> determina<strong>da</strong>área podem sustentar em um <strong>da</strong>do momento, etc (Botelho, 2007).A Teoria Neutra Unifica<strong>da</strong> <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de e Biogeografia de Hubbell (2001) foiinspira<strong>da</strong> pela teoria de “biogeografia de ilhas” de MacArthur e Wilson (em 1967) que jáera considera<strong>da</strong> radical para sua época, não só por romper com a visão Neo-<strong>da</strong>rwinistatradicional de comuni<strong>da</strong>des compostas de espécies co-a<strong>da</strong>pta<strong><strong>da</strong>s</strong> e com equilíbriodemográfico, mas também por ter sido cria<strong>da</strong> por MacArthur, um dos principais teóricos<strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>teorias</strong> de “composição de nichos”. Tal teoria prediz um número de espécie (deequilíbrio) que estarão presentes em ambientes isolados ou Ilhas, basea<strong><strong>da</strong>s</strong> em taxas deimigração e extinção local que são eles mesmos dependentes do tamanho de ilha e graude isolamento (Norris, 2003).A biogeografia de ilhas de MacArthur e Wilson também não incluía especiaçãocomo <strong>uma</strong> fonte de novas espécies, e ele diz pouco sobre a dinâmica de comuni<strong>da</strong>des nailha principal ou continente, vendo eles como a fonte de imigrantes potenciais <strong><strong>da</strong>s</strong> quais acomuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ilha foi composta. E como essa teoria não trata a dinâmica <strong><strong>da</strong>s</strong>populações, só pode predizer a diversi<strong>da</strong>de de espécies; não dizendo na<strong>da</strong> sobreabundância relativa. A teoria <strong>neutra</strong> do Hubbell representa <strong>uma</strong> tentativa para preencherestes lacunas teóricas do modelo clássico de biogeografia de ilhas. Originalmente, dizHubbell, seu trabalho foi construído visando somar um mecanismo de especiação parabiogeografia de ilha e a fim de calcular um número de equilíbrio predito de espécie não sópara ilhas mas para metacomuni<strong>da</strong>des continentais sob deriva ecológica de somatóriozero.2.2.2 História dos modelos (matemáticos) neutrosVem do final do século retrasado, com o trabalho dos pioneiros <strong>da</strong> ecologia vegetalamericana Clements e Pound, a difusão <strong><strong>da</strong>s</strong> abor<strong>da</strong>gens quantitativas para o estudo <strong><strong>da</strong>s</strong>espécies vegetais componentes de <strong>uma</strong> determina<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. Anteriormente havia acrença na existência de enti<strong>da</strong>des naturais descritíveis, caracterizáveis, reconhecíveis emapeáveis, denomina<strong><strong>da</strong>s</strong> “associações”, “cenoses”, “formações” ou “socie<strong>da</strong>des”seguindo a tradição naturalista de Alexander von Humboldt (1769–1859 difusor <strong>da</strong>estatística biogeográfica que serviu de precursora dos métodos introduzidos por


49Clements) e Joakim Schouw 28 (1789—1852 publicou em 1822). Clements e Poundsedimentaram os métodos de contagem numérica e de estudo por quadrats comoessenciais para distinguir comuni<strong>da</strong>des vegetais mu<strong>da</strong>nças em <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de.McIntosh (1985) relata que, já no século XVIII, Gilbert White (1720–1793; publicouem 1789) falava que “quanto mais <strong>uma</strong> área é examina<strong>da</strong>, tantas mais espécies serãoencontra<strong><strong>da</strong>s</strong>”. Há historiadores que atribuem a Paul Jaccard (1868–1944; publicou em1901) o primeiro registro de que há um aumento no número de espécies conforma a áreaamostra<strong>da</strong>.O botânico dinamarquês Christen Raunkaier 29 estudou mais profun<strong>da</strong>mente aquestão <strong>da</strong> escala ou tamanho <strong>da</strong> amostra e usou amplamente parâmetros de freqüênciarelativa de espécies. Como principal contribuição desde ecólogo temos <strong>uma</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong>generalizações estatísticas <strong>da</strong> ecologia de comuni<strong>da</strong>des chama<strong>da</strong> “lei de freqüências deRaunkaier”. Ele observou que se os números de espécies de ca<strong>da</strong> <strong>uma</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong> cinco classesde freqüência utiliza<strong><strong>da</strong>s</strong> por ele(20% do total), fossem arranjados em seqüência, adescrição resultante seria <strong>uma</strong> “curva em J invertido”. Em outras palavras, as freqüênciasdeclinavam nos primeiros 20% e depois aumentavam nas espécies pertencentes aosoutros 80%. Porém vem de Olof Arrhenius 30 a primeira formulação matemática sobre aRelação Espécies por Área RE/A.O número de espécies tornou-se ca<strong>da</strong> vez mais importante como um atributo <strong><strong>da</strong>s</strong>comuni<strong>da</strong>des. Em 1948 Preston explorou mais a relação espécie área e incorporou aidéia de <strong>uma</strong> distribuição canônica de espécies no seu trabalho de 1962. Maisrecentemente Connor e McCoy revisaram e criticaram praticamente to<strong><strong>da</strong>s</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong>formulações matemáticas <strong>da</strong> relação espécie área.Ain<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> de 40, um grupo de biólogos e estatísticos liderados pelo grandeestatístico <strong>da</strong> genética de populações, Sir Ronald Fisher, observaram, não por acaso, queo formato <strong>da</strong> curva de abundância <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies de <strong>uma</strong> determina<strong>da</strong> área era bastanteinvariável, e cogitaram que tal formato deveria estar associado a um padrão teórico28 Criador <strong><strong>da</strong>s</strong> nomenclaturas de tais uni<strong>da</strong>des vegetais que constavam do nome <strong>da</strong> “espécie dominante” acrescido do sufixo latino“etum”.29 Nascido em 1860 e falecido em 1938; publicou sobre esse tema em 1908, 1910, 1918 e 1934.30 Nascido em 1896 e falecido em 1977; publicou sobre esse tema em 1918, 1920, 1921 e 1923.


50subjacente. Em 1943 o grupo de Fisher, propôs um elegante método para modelar aabundância de espécies amostra<strong><strong>da</strong>s</strong> em comuni<strong>da</strong>des biológicas com muitas espécies, aqual deveria seguir a distribuição log-série de probabili<strong>da</strong>des. De acordo com o modelo deFisher assumindo-se que nenh<strong>uma</strong> espécie é muito abun<strong>da</strong>nte, o número esperado deindivíduos amostrado em qualquer espécie poderia ser modela<strong>da</strong> por um processo deamostragem de Poisson 31 para qualquer espécie <strong>da</strong><strong>da</strong>. Porém Fisher originalmente nãojustificou sua hipótese <strong>da</strong> distribuição de binômio negativo. Na mesma déca<strong>da</strong> Prestondefendeu o uso de <strong>uma</strong> distribuição log-normal como um modelo mais adequado.Alguns anos mais tarde, MacArthur divulgou e endossou a estocastici<strong>da</strong>de naecologia e propôs outro modelo, conhecido como o "modelo de bastão quebrado", queassume regras de assembléia <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des com a partilha seqüencial e fortuita dosrecursos entre os nichos. Neste modelo, o recurso está em provisão fixa e é representadopor um segmento de comprimento unitário. Uma primeira espécie ocuparia e povoariafortuitamente <strong>uma</strong> fração deste recurso. A segun<strong>da</strong> espécie então ocupa <strong>uma</strong> fraçãofortuita do recurso restante, e assim por diante. MacArthur conjecturou que <strong>uma</strong>distribuição de abundância relativa característica <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de poderia ser deriva<strong>da</strong>através deste algoritmo. Muitas hipóteses semelhantes, os denominados modelos dequebra seqüencial, foram inventados (ex: Sugihara em 80; Tokeshi na déca<strong>da</strong> de 90) sódiferindo quanto às regras que regem o processo de partilha.Mencionamos este modelo aqui, porque ele tem <strong>uma</strong> história interessante: depoisde anos de debates aquecidos acima de sua pertinência ecológica, na mesma déca<strong>da</strong> emque foi criado o modelo de MacArthur, Cohen demonstrou que ele era matematicamenteequivalente ao modelo de Fisher onde o parâmetro k tende a 1(um) ao invés de zerocomo no modelo log-series. Por outro lado cinco déca<strong><strong>da</strong>s</strong> depois Etienne e.Olff (2005apud Etienne e Alonso, 2007) levantam a questão que embora a "teoria quebra debastão" tenha sido considera<strong>da</strong> <strong>uma</strong> teoria de assembléia de nicho, pode-se discutir seela não é mesmo <strong>uma</strong> teoria <strong>neutra</strong>, pois ela trata as espécie como equivalentes, ou seja,as características <strong><strong>da</strong>s</strong> espécie não importam na quantia do espaço de nicho que elerecebe no procedimento <strong>da</strong> quebra de bastão. Porém, tantos como outros modelos úteis31 Onde a variável em questão é aleatória e o evento (ou enti<strong>da</strong>de) de interesse está homogeneamente distribuído.


51na ecologia de comuni<strong>da</strong>des, a teoria de quebra de bastões é um conjunto de algoritmossimples para gerar padrões de abundância assemelhando a aqueles realmenteobservados na natureza o que contrata e diferencia a teoria <strong>neutra</strong>, pois, esta tem baseontológica em processos biológicos realistas, como nascimento, morte, extinção, edispersão.Diante de to<strong><strong>da</strong>s</strong> as controvérsias gera<strong><strong>da</strong>s</strong> sobre os padrões de composição deespécies <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des, e inserido em um contexto científico onde acreditava-se queàs relações entre as espécies poderiam explicar tais padrões, Caswell (1976) utilizou-sedos modelos criados por Moran para testar as crenças. Ele retrata que o processo deteste de modelos rivais:“Idealmente, o processo de desenvolvimento teórico convergiria relativamenterápido para um conjunto de hipóteses que não podem ser rejeita<strong><strong>da</strong>s</strong>. Porém nareali<strong>da</strong>de, por várias razões, as coisas freqüentemente não funcionam muito bem.Pode não ser fácil conseguir resolução suficiente para discernir entre váriosmodelos competindo sendo que todos sucedem razoavelmente bem (ourazoavelmente mal) em explicar os padrões observados. Freqüentemente,podemos acrescentar um poder considerável a esta abor<strong>da</strong>gem pelo uso de um"modelo neutro". Em tal modelo todo o conjunto de forças que competem por umlugar na explicação do padrão é eliminado.” (Caswell, 1976)Assim ele justifica a criação do modelo neutro para servir de comparação. Omodelo resultante é neutro com respeito a alguns fatores e naturalmente pode ou não serneutro com respeito a outros fatores. O modelo neutro criado por Caswell (1976) visavagerar um padrão previsto, para ser testado contra as observações de campo.Os modelos neutros aplicados à estrutura de comuni<strong>da</strong>des pertencem á família dosmodelos estocásticos. As proprie<strong>da</strong>des matemáticas desses modelos foramextensivamente estu<strong>da</strong>dos no fim <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 60 e início de 70 por Karlin e MacGregor,Ewens e também Watterson, porém aplicados ao contexto distinto <strong>da</strong> genética depopulações. Não obstante, desde a déca<strong>da</strong> de 40, alguns estatísticos ligados à genéticade populações já vinham formulando modelos estatísticos neutros bastante gerais, quepoderiam ser aplicados a alelos de <strong>uma</strong> população ou também às espécies de <strong>uma</strong>comuni<strong>da</strong>de. Como exemplo de pioneiros <strong><strong>da</strong>s</strong> formulações matemáticas <strong>neutra</strong>s temosKen<strong>da</strong>ll na déca<strong>da</strong> de 40, e nos anos 50 Wette e Motoo Kimura, entretanto, vale lembrarque Kimura somente propôs sua teoria <strong>neutra</strong> <strong>da</strong> evolução molecular em 1968.O final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1960 assistiu um deslocamento dos estudos de comuni<strong>da</strong>depara a elaboração de modelos orientados por padrões e derivados de observações depopulações, comuni<strong>da</strong>des e ecossistemas reais. Isso aconteceu, quando <strong>uma</strong> série de


52ecólogos com fortes inclinações teóricas começou a levar mais em conta padrõesobserváveis nos sistemas ecológicos no desenvolvimento de modelos. Entre estes,Robert MacArthur desempenhou um papel especialmente importante.(El-Hani, 2006)Neste contexto, é relevante a distinção, feita por Grimm (publica<strong>da</strong> em 1994), entreduas abor<strong>da</strong>gens <strong>da</strong> modelagem matemática em ecologia: primeiro, a modelagem queGrimm denominou ‘de estilo livre’ (free-style), que busca a generali<strong>da</strong>de sem <strong>da</strong>r especialatenção à testabili<strong>da</strong>de e à escala apropria<strong>da</strong> de aplicação. Foi este estilo de modelagemque predominou na ecologia <strong>da</strong> primeira metade do século XX. O segundo estilo demodelagem foi característico <strong>da</strong> tendência <strong>da</strong> ecologia teórica que se afirmou a partir dofinal dos anos 1960. Grimm o denomina modelagem ‘orienta<strong>da</strong> por padrões’, <strong>uma</strong> vez quetoma como ponto de parti<strong>da</strong> para a construção de modelos algum padrão observável nanatureza. A dependência do padrão e de <strong>uma</strong> escala particular limita a generali<strong>da</strong>de detais modelos, mas de maneira a aumentar seu poder preditivo. (El-Hani, 2006)Seguindo um importante trabalho teórico de Moran 32 ; em 1967 Karlin e McGregorpropuseram um modelo para a manutenção de polimorfismos em populações naturais. Aocontrário do modelo de Ken<strong>da</strong>ll 33 , seu modelo assume populações de tamanho fixo. Seumodelo estava originalmente descrito no contexto <strong>da</strong> genética de população, mas elepode ser prontamente traduzido para ecologia de comuni<strong>da</strong>de se as palavras "especie","especiação" e "comuni<strong>da</strong>de" substituirem as palavras "tipo", "mutação" e "população",respectivamente.Watterson 34 e Caswell (1976) foram os primeiros a fazer a conexão entre agenética de população e ecologia de comuni<strong>da</strong>de. Watterson forneceu um detalhado (mastécnico) relatório <strong><strong>da</strong>s</strong> implicações <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> genética de população quando aplica<strong>da</strong>para ecologia, com <strong>uma</strong> ênfase particular em curvas espécies-área. Já Caswell (1976) feztambém <strong>uma</strong> notável tentativa de promover esta teoria na ecologia de comuni<strong>da</strong>de.Chave (2004) acredita que estes assuntos foram posteriormente abor<strong>da</strong>dos por Hubbell32 Publicado em 1958.33 Publicado em 1948.34 Em um artigo publicado em 1974 denominado “The sampling theory of selectively <strong>neutra</strong>l alleles”.


53(1979), e acrescenta que o modelo presente nesse artigo é equivalente ao de Karlin eMcGregor.Sessenta anos depois <strong>da</strong> publicação do modelo log-série de Fisher, o <strong>neutra</strong>lismocresceu de <strong>uma</strong> mera suposição técnica a um modelo estatístico matematicamenteconsistente e <strong>uma</strong> teoria testável. Neste contexto histórico Chave (2004) ressalta otrabalho de Karlin e McGregor como um dos trabalhos teóricos mais importantes. JáHubbell (2001) ressalta que dentre os mais importantes estudos ecológicos para as idéias<strong>neutra</strong>s está a Teoria de Biogeografia de Ilhas 35 de MacArthur e Wilson. Ele explica queas implicações <strong>da</strong> teoria de MacArthur e Wilson foram bastante difundidos e aplicadosprincipalmente pela área <strong>da</strong> conservação ao tratar de fragmentos florestais e desenho deuni<strong>da</strong>des de conservação. Mas Hubbel (2001) demonstra desapontamento com osdesenvolvimentos teóricos <strong>da</strong> Biogeografia de Ilhas dentro <strong>da</strong> ecologia de comuni<strong>da</strong>des,pois em sua opinião produziu desdobramentos teóricos esporádicos que restringiram-se aretrabalhar alguns aspectos basais <strong>da</strong> teoria, sendo que só quatro déca<strong><strong>da</strong>s</strong> depois seusfrutos diversificaram e disseminaram-se com a explosão <strong>da</strong> pesquisa sobremetacomuni<strong>da</strong>des.Muitos modelos de distribuição de espécies por área, como é o caso <strong>da</strong>Biogeografia de Ilhas motivaram e continuam a motivar muitos interesses, porém, a faltade consenso persiste e com o agravante de que pelo menos outros quarenta modelosforam propostos (revistos em Tokeshi, 1993; McGill et al., 2007). Segundo Prado (2007) aproliferação de tantos modelos teóricos para explicar um mesmo padrão empírico é umreconhecido embaraço para os ecólogos, embaraço que foi definido em <strong>uma</strong> revisãorecente sobre o assunto como “fracasso científico coletivo” (ver: McGill, Maurer e Weiser,2006 e a seção 2.3.4 sobre Testes p. 85).Uma nova vira<strong>da</strong> nos modelos neutros aconteceu com a publicação do modelo demetacomuni<strong>da</strong>de de Hubbell (2001). Segundo De Marco (2006) parte considerável dosargumentos e, principalmente, as deduções matemáticas necessárias à construção <strong>da</strong>Teoria unifica<strong>da</strong> <strong>neutra</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e biogeografia (TUNB) foram toma<strong><strong>da</strong>s</strong>35 Publica<strong>da</strong> em trabalhos de 1963, 1967.


54emprestado <strong>da</strong> Teoria Neutra de Evolução Molecular de Kimura 36 . Muitas <strong><strong>da</strong>s</strong> deduçõesmatemáticas necessárias envolvem um esforço analítico árduo que foi minimizadoutilizando-se os resultados previamente atingidos no campo <strong>da</strong> genética e evolução, poisesses mostraram-se adequados e encurtaram muito dos caminhos.McGill, Maurer e Weiser (2006) acrescentam que os modelos neutros publicadosantes de 2000 não modelam explicitamente a migração vin<strong>da</strong> de <strong>uma</strong> metacomuni<strong>da</strong>de epodem ser chamados modelos de não metacomuni<strong>da</strong>de. Por exemplo, Caswell (1976),seguiu diretamente os modelos analíticos <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong> <strong>da</strong> evolução molecular 37 ,modelando somente a dinâmica de comuni<strong>da</strong>des locais que não interagiam com <strong>uma</strong>metacomuni<strong>da</strong>de. No modelo de Caswell, o aparecimento de <strong>uma</strong> nova espécie em <strong>uma</strong>comuni<strong>da</strong>de local é o equivalente a <strong>uma</strong> mutação dentro de <strong>uma</strong> população (especiaçãopor mutação pontual).Embora Hubbell (2001) rejeite o trabalho de Caswell (1976) porque ele envolvetamanhos de população infinitos em comuni<strong>da</strong>des locais, as primeiras tentativas deHubbell também apresentavam ausência de modelos para metacomuni<strong>da</strong>de,qualitativamente invocando especiação e imigração para evitar a fixação a longo prazo de<strong>uma</strong> única espécie (McGill, Maurer e Weiser, 2006).Segundo Gewin (2006) a teoria <strong>neutra</strong> tem suas raízes na genética de população,e também conta com a noção de diversi<strong>da</strong>de fortuitamente gera<strong>da</strong>. Hubbell mostrouempiricamente que a dispersão (i.e., a distribuição espacial de plantas e outrosorganismos) não é ilimita<strong>da</strong>.2.2.3 Reações <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de científicaAo contrário <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong> <strong>da</strong> genética de populações para populações finitas, aTNB teve <strong>uma</strong> repercussão muito maior na literatura científica, tornando o livro no qualHubbell apresentou formalmente a TNB (Hubbell 2001) um best seller na ecologia(Cassemiro e Padial, 2008).36 Principalmente através dos melhoramentos <strong><strong>da</strong>s</strong> formulações publicados no livro “The <strong>neutra</strong>l theory of molecular evolution” de198337 Ex: Ewens 1972, Karlin e McGregor 1972, Trajstman 1974, Watterson 1974


55De fato, <strong>uma</strong> busca no portal virtual Scopus revelou que Hubbell (2001) já foi citado1.174 vezes desde 2000 (quando alguns autores já o citavam como “no prelo”) até 28 demaio de 2009, segundo o site de busca Scopus (http://www.scopus.com). O número decitações cresceu de forma conspícua desde 2000 até 2008 (figura 1), e agora pareceapresentar <strong>uma</strong> estabilização, o que poderia ser interpretado como meia-vi<strong>da</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong>citações (Moe<strong>da</strong> et al. 1998 apud Cassemiro e Padial, 2008). Isso sugere que essapublicação ain<strong>da</strong> está repercutindo no meio científico porém vem reduzindo sua força.Segundo Cassemiro e Padial (2008) esse número é altamente expressivo em ecologia, ecomparam o artigo de George Evelin Hutchinson sobre o nicho multidimensional,publicado em 1959 (42 anos antes <strong>da</strong> publicação do livro do Hubbell), por exemplo, foicitado 1.293 vezes até 3 de junho de 2008.N°. Citações250200150100500124 142 218 222 232184481 32000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008AnoFigura 1: Histograma mostrando a distribuição do número de publicações científicas que citam olivro de Hubbeell (2001) ao longo dos anos após suas publicações (segundo o site Scopus).Cassemiro e Padial (2008) afirmam que o livro do Hubbell, mesmo que publicadosomente em 2001, está entre os trabalhos mais citados (Figura 2). Nesse caso, somentenove artigos foram mais citados.


56Figura 2: Histograma mostrando a distribuição do número de citações de 56.709 artigos publicadosnos 22 periódicos com maior expressão em ecologia (fator de impacto maior que 3) nos últimos 30 anos.Ca<strong>da</strong> barra representa classes de número de citações (intervalo de 20 citações por barra). As setasmostram o número de citações do artigo mais citados (segundo Weir e Cockerham, 1984 apud Cassemiro ePadial, 2008) e livros com relevante importância conceitual selecionados. (A<strong>da</strong>ptado de Cassemiro e Padial,2008)Cassemiro e Padial, consideram que além <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de e inovação desses noveartigos, seu maior número de citações deve estar relacionado com duas característicasintrínsecas que afetam a citação dessas nove publicações:a) esses artigos são mais antigos e;b) trabalhos metodológicos (cinco desses nove) devem ser mais citados do quetrabalhos conceituais, pois apresentam <strong>uma</strong> maior aplicação em diferentes campos depesquisa.Porém advertem que essa comparação não é totalmente adequa<strong>da</strong> devido ao fatode que um livro deve ter padrão de citações diferente do que artigos. Lembramos tambémque recentemente observa-se um fenômeno de massificação <strong><strong>da</strong>s</strong> publicações científicasque pode ter contribuído bastante para um maior número de citações de Hubbell quandocomparado a artigos anteriores a déca<strong>da</strong> de noventa.A resposta de muitos ecólogos teóricos para idéias de Hubbell, segundo Norris(2003), talvez esteja simboliza<strong>da</strong> pela opinião de James H. Brown, que em <strong>uma</strong> revisãopublica<strong>da</strong> na revista Evolution, chama o livro de Hubbell um “marco miliário” — e entãocontinua a rejeitar sua premissa fun<strong>da</strong>mental. Tal premissa é a <strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de e está em


57conflito com aquela que tem a muito tempo sido <strong>uma</strong> doutrina fun<strong>da</strong>mental de ecologia decomuni<strong>da</strong>de: a noção que populações de espécies são regula<strong><strong>da</strong>s</strong> por competição.Um importante empecilho enfrentado pela teoria <strong>neutra</strong>, é de ordem psicológica, econcerne à suposição de equivalência entre indivíduos. Bell (2001 apud Chave, 2004)comenta neste sentido que “talvez ecólogos tenham dificul<strong>da</strong>des em aceitar que asdiferenças que eles tanto reconhecem claramente em seus estudos <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies não têmnenh<strong>uma</strong> significância funcional para a comuni<strong>da</strong>de, enquanto que os geneticistas,li<strong>da</strong>ndo com manchas em um gel, são mais propensos a aceitar as idéias <strong>neutra</strong>s”.Visto dessa forma, De Marco (2006) cita três tipos de restrições possivelmenteaponta<strong><strong>da</strong>s</strong> por pesquisadores de campo, formados sob <strong>uma</strong> ótica tradicional e que comcerteza se sentem-se desconfortáveis frente as implicações <strong>da</strong> TNB:a) Os organismos não são iguais: diferenças de tamanho corporal entre espéciesque co-ocorrem em comuni<strong>da</strong>des naturais fazem com que haja grandes diferenças deprobabili<strong>da</strong>de per capita de produzir filhotes, morrer ou migrar, <strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>uma</strong> relação geralentre tamanho corporal e características bionômicas nas espécies. Essas diferençastambém afetam o padrão de uso <strong>da</strong> energia total disponível no sistema entre indivíduos econseqüentemente entre espécies;b) As abundâncias totais por uni<strong>da</strong>de de área podem variar muito entre manchasdentro <strong>da</strong> mesma comuni<strong>da</strong>de;c) Interações entre espécies parecem reger, pelo menos para alguns conjuntos deespécies, a dinâmica de muitas populações de animais ou plantas.A teoria <strong>neutra</strong> gerou muita controvérsia porque ela sugere <strong>uma</strong> visão radicalmentediferente sobre a comuni<strong>da</strong>des ecológicas. Para Botelho (2007) os modelos neutros temsofrido certa resistência, principalmente por não se encaixarem em muitos dospressupostos neo<strong>da</strong>rwinistas.McGill, Maurer e Weiser (2006) afirmam que a teoria <strong>neutra</strong> contradiz 100 anos deecologia de comuni<strong>da</strong>de (desde Elton em 1927, passando por Gause 1934, Odum 1959,MacArthur 1972, Roughgarden 1979, Pianka 1988, até trabalhos atuais como Maurer1999). De Marco (2006) explica que o modelo neutro direta ou indiretamente coloca emxeque muito do que se percebe sob a estrutura de comuni<strong>da</strong>des naturais, principalmenteno que tange a interpretação de assembléias deterministicamente organiza<strong><strong>da</strong>s</strong> por“compatibili<strong>da</strong>de” de nicho ou fracamente desenvolvi<strong>da</strong> através de sua história.


58Leigh (2004 apud Leigh, 2007) expõe outro modo de reação. Visto que “todos osecólogos buscam <strong>uma</strong> teoria quantitativa que considere os padrão e os processos que osgeram” e que até o momento, “nenh<strong>uma</strong> teoria geral em ecologia de comuni<strong>da</strong>de realizoueste feito”. A promessa unificadora <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong> trouxe a esperança de substituir umconjunto caótico de explicações qualitativas sobre padrões de diversi<strong>da</strong>de os quaisnenhum argumento, observação ou experiência pareceram capazes de solucionar, por<strong>uma</strong> teoria capaz de predição quantitativa bem sucedi<strong>da</strong>. Não é de admirar que algunsecólogos tenham sau<strong>da</strong>do a teoria <strong>neutra</strong> como a salvação <strong>da</strong> ecologia (Leigh, 2007).Hubbell também tem sido criticado por chamar prematuramente seus modelos de"teoria unifica<strong>da</strong>". Algum ecólogos proeminentes, como Dan Simberloff, não acreditamque a ecologia de comuni<strong>da</strong>de identificará princípios gerais que permitirão apenas <strong>uma</strong>teoria unifica<strong>da</strong> pois a ecologia é muito complexa. McGill, Maurer e Weiser (2006)questionam a escolha de Hubbell (2001), pois a expressão unifica<strong>da</strong> implica em <strong>uma</strong>teoria aplicável a todos os organismos e em to<strong><strong>da</strong>s</strong> as escalas (ver seção 2.3.3 Escopos.p. 72). Hubbell assinala que a teoria <strong>neutra</strong> <strong>da</strong> ecologia de comuni<strong>da</strong>des está ain<strong>da</strong> emsua infância compara<strong>da</strong> com a <strong>da</strong> genética de população.A despeito de to<strong>da</strong> discussão teórica gera<strong>da</strong> pelas TNB, poucos esforços empíricospara testar a TNB foram realizados. Segundo De Marco (2006) existem mais artigosdiscutindo teoricamente aspectos <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong> (ex: Volkov et al., 2003; Chave, 2004;Fuentes, 2004; Alonso e Mckane, 2004: Hubbell e Bor<strong>da</strong>-De-Agua, 2004; Maurer e McGill,2004; Hubbell, 2006; Hu et al., 2006) do que artigos tentando avaliar com <strong>da</strong>dos suaspredições (ex: Mcgill, 2003; Dornelas et al., 2006; Thompson e Townsend, 2006).Discutiremos sobre testes empíricos <strong>da</strong> TNB na seção 2.3.4 Testes (p. 85).Outros ecólogos, porém, vêem a teoria <strong>neutra</strong> como <strong>uma</strong> distração em meio aosúltimos cem anos de desenvolvimentos teóricos que foram incorporados pelos trabalhobaseados em nicho. “A 'navalha de Occam' não deve envolver a expulsão de coisas quenós sabemos que são importantes", diz Peter Chesson. A estocastici<strong>da</strong>de demográfica é<strong>uma</strong> força bastante fraca quando compara<strong>da</strong> com as diferenças de nicho e variabili<strong>da</strong>deambiental” diz Chesson (apud Gewin, 2006), lembrando que ambos os mecanismos sãodesconsiderados nos modelos de Hubbell.Nesta linha de pensamento a simples vali<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> importância do nicho para adiversi<strong>da</strong>de é um avanço crucial. “Nós resolveremos problemas reunindo a complexi<strong>da</strong>de


59do que nós sabemos que é ver<strong>da</strong>deiramente, o coração de nossos objetos de estudo, emlugar de imaginar que eles são muito mais simples do que realmente eles são,” dizChesson (apud Gewin, 2006).Clark (2008) vai além e sugere que <strong>uma</strong> guina<strong>da</strong> dramática nas pesquisasecológicas para um enfoque na <strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de, resultando talvez em <strong>uma</strong> ascensão deteoria <strong>neutra</strong> como armação conceitual dominante, poderá ter um custo em termos derelevância científica e compreensão <strong><strong>da</strong>s</strong> ameaças reais à biodiversi<strong>da</strong>de. Custo esse queos ecólogos poderão errar ao apreciar.Clark (2008) vê dificul<strong>da</strong>de em como progresso científico pode vir através de <strong>uma</strong>visão de que as espécie são completamente intercambiáveis, ou seja, de rejeitar ahipótese que elas são específicas. Critica um dito “movimento dos defensores <strong>da</strong> literatura<strong>neutra</strong>” que tem tirado o enfoque dos processos reconhecidos e deslocado para rejeiçãodum modelo que é predominantemente estocástico, e contém menos do que é conhecido.Ele argumenta que <strong>uma</strong> vez que a visão <strong>neutra</strong> de manutenção <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de estásem nenhum processo, torna-se difícil relacioná-la com problemas reais. Paraexemplificar tal dificul<strong>da</strong>de de aplicação, Clark apresenta <strong>uma</strong> suposta ignorância, emrelação à TNB, por parte de periódicos de conservação e ecologia aplica<strong>da</strong> como o"Conservation Biology" quando comparado ao impacto que teve na ecologia em geral.Veja o gráfico utilizado por Clark para ilustrar a insensibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> conservação àsimplicações na TNB.Número de citaçõesAno de publicaçãoFigura 3: Número de artigos publicados por ano, contendo as expressões “<strong>neutra</strong>l process”, “<strong>neutra</strong>ltheory” ou “<strong>neutra</strong>l forces” em dois periódicos, um voltado a conservação “Conservation Biology” e outro deecologia em geral “Ecology Letters”. A<strong>da</strong>ptado de Clark (2008)Por outro lado, ele relata <strong>uma</strong> preocupação com a possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong>marginalizar a ciência <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de, competindo por recursos com estudos baseados


60em processo, tendo em vista a pequena oferta de políticas para conservação. (para umcontra-ponto a essa idéia ver a conclusão)Ao longo deste capítulo, procuraremos fornecer subsídios para demonstrar: que osdesenvolvimentos teóricos, matemáticos e mesmo a rejeição de modelos <strong>da</strong> TNB têmproporcionado avanços para ecologia; que as críticas de Clark cita<strong><strong>da</strong>s</strong> acima além deprematuras estão bastante equivoca<strong><strong>da</strong>s</strong>; e que suas preocupações acerca <strong>da</strong>aplicabili<strong>da</strong>de e “custo” <strong>da</strong> TNB são bastante preconceituosas.2.3 O estado <strong>da</strong> arte <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong>Não convencidos de que diferenças entre as espécies por si só guiam a dinâmicade comuni<strong>da</strong>de, ecólogos como Stephen Hubbell e Graham Bell, desenvolveramindependentemente <strong>uma</strong> teoria para determinar até que ponto os padrões observados nanatureza podiam ser explicados por forças fortuitas, ou estocásticas, fora do controle <strong><strong>da</strong>s</strong>espécies. Outra forma de ver o modelo de Hubbell, é perceber que ele diferencia-se dostrabalhos prévios por tentar descrever um mecanismo específico de população e estendêloa escalas espaciais mais amplas para explicar como a diversi<strong>da</strong>de biológica mu<strong>da</strong> noespaço e no tempo (Maurer e McGill, 2004 apud Cassemiro e Padial, 2008).Alonso; Etienne e McKane (2006) explicam sob <strong>uma</strong> empirista e hipotético-dedutivaa TUNB, afirmando que ela remete a dois princípios básicos, que, por sua vez, baseadosem duas observações biológicas. As primeiras é que indivíduos de espécies distintas masque pertencem a <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de ecológica funcionalmente uniforme parecem ser“controlados” por semelhantes taxas de nascimento, morte e dispersão. Isso implica nadenomina<strong>da</strong> <strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de, equivalência, ou simetria suposição, que inclui especiação<strong>neutra</strong>. A segun<strong>da</strong> observação, é que sistemas ecológicos estão constantementesaturados, o que leva ao que Hubbell (2001) chama de suposição <strong>da</strong> "dinâmica de somazero".Conforme Norris (2003), a "deriva ecológica de somatório zero” e é justamente oque faz <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong>, <strong>neutra</strong>. Sob deriva ecológica, todos os indivíduos nacomuni<strong>da</strong>de, não importando qual sua espécie, têm probabili<strong>da</strong>des iguais de reproduzir,morrer, imigrar para outra localização, e em alg<strong>uma</strong>s versões/modelos, adquirir <strong>uma</strong>mutação que eventualmente resulta em especiação (ver especiação por mutação pontal).


61A figura 4: mostra os principais componentes, processos e variáveis analisados nasdinâmicas de deriva ecológica de <strong>uma</strong> TNB espacialmente implícita 38 .Figura 4: Uma representação esquemática do mais citado modelo neutro de acordo com Hubbell(2001). A comuni<strong>da</strong>de local recebe imigrantes <strong>da</strong> metacomuni<strong>da</strong>de que apresenta um equilíbrio entreespeciação e extinção. (A<strong>da</strong>ptado de Etienne e Alonso, 2007)Segundo Hérault até 2007, já foram propostos pelo menos 10 diferentes modelosneutros (revisados em Chave et al., 2002; McGill, Maurer e Weiser, 2006) Porem todosestes modelos compartilham a designação neutros por compartilharem pelo menosalg<strong>uma</strong>s idéias que constituem os ingredientes essenciais do pensamento neutro, e sobreas quais desenvolve-se a modelagem. A estas idéias denominamos pressupostos, sendoo que o principal deles, como o nome já diz, é a <strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de.38 Que não considera relações de espaciali<strong>da</strong>de ao modelar espacialmente a comuni<strong>da</strong>de, apenas dividindo-a em duas porções quesão a comuni<strong>da</strong>de local e a meta comuni<strong>da</strong>de.


622.3.1 PressupostosVeremos na próxima seção, em mais detalhes, quais seriam os ingredientesessenciais de <strong>uma</strong> teoria <strong>neutra</strong>.2.3.1.1 Neutrali<strong>da</strong>de - simetria ou equivalência.Hubbell (2001) define a <strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de <strong>da</strong> seguinte forma: “Por neutro eu quero dizerque a teoria trata os organismos de <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de trófica defini<strong>da</strong> comoessencialmente idênticos em suas probabili<strong>da</strong>des per capita de reprodução, morte,migração e especiação”. Isso “não significa que to<strong>da</strong> espécie tem <strong>uma</strong> chance igual deocupar <strong>uma</strong> vacância no ambiente. Os indivíduos são iguais, mas espécie, comoenti<strong>da</strong>des coletivas, não são” (Norris, 2003). Gotelli e McGill (2006) lembram que asuposição de taxas demográficas per capita idênticas difere em outras <strong>teorias</strong>, como abiogeografia de ilha, que assumem taxas idênticas por espécies.Segundo Gewin (2006) a controversa Teoria Unifica<strong>da</strong> Neutra <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de eBiogeografia (TUNB) surgiu abrindo mão <strong><strong>da</strong>s</strong> vantagens competitivas e a<strong>da</strong>ptaçõesespecíficas às condições do microambiente e ain<strong>da</strong> mais hereticamente, vendo espéciesdiferentes como funcionalmente equivalentes. Para ela essa duas crenças podem sertrata<strong><strong>da</strong>s</strong> sob o rótulo de “fitness invariance” 39 . Na mesma linha encontramos em <strong>uma</strong> notade ro<strong>da</strong>pé De Marco (2006) a tradução de <strong>uma</strong> citação retira<strong>da</strong> de Gotelli e McGill (2006)onde lê-se: “modelos neutros sugerem que diferenças consistentes de nicho não existem(are not present) e que a estrutura <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de pode ser explica<strong>da</strong> por colonização,migração e extinção aleatórias”.No entanto, discor<strong>da</strong>mos destas opiniões, preferindo a explicação de Hérault(2007) segundo a qual “os modelos neutros não assumem que to<strong><strong>da</strong>s</strong> espécies devem seridênticas em to<strong><strong>da</strong>s</strong> suas características biológicas, mas que essas diferenças não estãoliga<strong><strong>da</strong>s</strong> com suas taxas demográficas de ca<strong>da</strong> um dos seus indivíduos.” A TNB nãoconsidera que as diferenças morfológicas ou comportamentais <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies não têm39 Preferimos a expressão “fitness” irrelevante ou insignificante pois acreditamos que a pretensão de Hubbell não era tão radical aoponto de negar diferenças entre espécies.


63conseqüências ecológicas. “Certamente as diferenças seletivas são operacionais, mas éinteressante ver se tais diferenças são fortes suficientemente para superar as forçasestocástica (ou fortuitas)" (Bell, 2001 apud Gewin, 2006) e em que parâmetros <strong>da</strong>comuni<strong>da</strong>de elas atuam.Segundo Clark (2008) os termos usados no contexto <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong> podem seraplicados sobre diferentes níveis de complexi<strong>da</strong>de, conforme tratados abaixo na figura 5:podem estar representando a <strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de <strong><strong>da</strong>s</strong> respostas e efeitos relacionados avariáveis ambientais e recursos compartilhados (nível 1); <strong><strong>da</strong>s</strong> taxas demográficas <strong><strong>da</strong>s</strong>populações (nível2); de crescimento populacional e medi<strong><strong>da</strong>s</strong> de aptidão nas espécies(nível 3) ou ain<strong>da</strong> nos padrões de abundância <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, inclusive biodiversi<strong>da</strong>de(nível 4).Figura 5: Organização dos termos usados no debate neutro, por nível deorganização/complexi<strong>da</strong>de. Quando os conceitos entre os níveis estão relacionados por setas elasrepresentam relações causais unilaterais, assim por exemplo, diferenças de nicho (nível 1) influenciam astaxas demográficas (nível 2), mas taxas demográficas semelhantes não implicam nichos semelhantes.Testes de <strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de em padrões de abundância de espécie (nível 4) estão bastante distantes <strong><strong>da</strong>s</strong>diferenças de nicho e <strong><strong>da</strong>s</strong> semelhanças de taxas demográficas. A<strong>da</strong>ptado de Clark (2008)


64Conforme representado na figura 5, duas espécies podem ocupar nichos diferentesno nível dos recursos e requisitos ambientais, e ain<strong>da</strong> assim serem classificados como‘<strong>neutra</strong>s' no nível 2. Desta forma o conceito de equivalência pode ser visto como umdesacoplamento entre o nicho e as taxas demográficas.Chave (2004) adverte que a suposição de equivalência entre indivíduos é difícil deavaliar: embora os prospectos de reprodução e morte sejam assumidos iguais entreindivíduos, os eventos de nascimento e morte em reali<strong>da</strong>de - ao menos no nível individual- são determina<strong><strong>da</strong>s</strong> por processos estocásticos e contingentes. Conseqüentemente, sóse pode testar a suposição que to<strong>da</strong> espécie deve ter as mesmas taxas de nascimento emortali<strong>da</strong>de, não se esquecendo que a equivalência entre espécie é necessária, mas nãoé condição suficiente para equivalência entre indivíduos (ver a seção 2.3.4 Testes p. 85).Segundo Norris (2003) a teoria tem sido caracteriza<strong>da</strong> como <strong>uma</strong> pretensiosaequivalência em parâmetros demográficos <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies, mas este não énecessariamente o caso. As espécies podem diferir em coeficientes de natali<strong>da</strong>de, porexemplo, desde que elas compartilhem <strong>uma</strong> mesma probabili<strong>da</strong>de per capita de ocuparvacâncias na comuni<strong>da</strong>de. Dentro destes limites, variações ecológicas e compensaçõesem características <strong><strong>da</strong>s</strong> histórias <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> continuam possíveis. Desta forma, Hubbell (2001)também argumenta que a suposição de equivalência individual pode ser mais verossímilmanto acreditam muitos ecólogos.SimetriaSegundo Chave (2004) a simetria surge como <strong>uma</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong> implicações <strong>da</strong><strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de, pois <strong>uma</strong> vez que as espécies são ecologicamente equivalentes, acompetição interespecífica deve ser simétrica. Se a mu<strong>da</strong>nça de espécie (especiação)não afeta a habili<strong>da</strong>de competitiva do novo organismo frente às espécies do seu entorno,incluindo-se a espécie <strong>da</strong> qual originou-se, as espécies envolvi<strong><strong>da</strong>s</strong> neste cenário sãodefini<strong><strong>da</strong>s</strong> como simétricas. Note-se que, competição e compartilhamento de nicho ain<strong><strong>da</strong>s</strong>ão possíveis. O que simplesmente não existe são vencedores e perdedores previsíveis,e então aqueles processos não determinam a composição <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de (Norris 2003).Chesson e Rees explicam a simetria com a seguinte frase: “A identi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>espécie de um individuo não tem nenhum efeito para os possíveis destinos do indivíduoou para os destinos de sua descendência, e nem parece ter qualquer influência nos


65destinos de outros indivíduos.” (Chesson e Rees, 2007 apud Clark 2008. grifo nosso)Essa definição faz <strong>uma</strong> diferença importante no caso onde o modelo atribui a espéciesdiferentes os mesmos valores de parâmetros demográficos sem explicitar que asespécies não são as mesmas.Clark (2008) propõe que um modelo neutro deve ser definido como aquele que ésimétrico no nível individual (nível 3 em seu esquema). Porém, de acordo com a definiçãode simetria exposta no parágrafo anterior e segundo o próprio Clark este é o caso domodelo de Lotka-Volterra, um modelo que tem sido comumente exemplificado comosendo a base <strong>da</strong> teoria de composição de nichos. Já Hubbell (2005) afirma que to<strong>da</strong>espécie, em to<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de trófica defini<strong>da</strong>, viola a suposição de simetria até certoponto, mas a questão novamente é, quão boa é está aproximação?Talvez, a questão central proposta por Hubbell seja, na ver<strong>da</strong>de, se o nichodetermina a estrutura <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des ou se essas são determina<strong><strong>da</strong>s</strong> principalmente pordispersão e probabili<strong>da</strong>de de chega<strong>da</strong> ao local? Para Cassemiro e Padial (2008) essaquestão tem um enfoque puramente instrumentalista, visto que Hubbell observou que aestrutura de muitas comuni<strong>da</strong>des pode ser explica<strong>da</strong> simplesmente pela probabili<strong>da</strong>de dechega<strong>da</strong> relaciona<strong>da</strong> a limitações na dispersão <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies. Nesse sentido, as espécies“funcionariam” como equivalentes em relação as suas restrições ambientais, ou seja,seus nichos ecológicos (Hubbell 2005).2.3.1.2 Saturação: o somatório-zero e a constância do tamanhopopulacional <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.Uma <strong><strong>da</strong>s</strong> suposições chaves <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong> é que, dentro de grupos de espécieecologicamente semelhante, os indivíduos tendem a ocupar a paisagem até um ponto desaturação. A Teoria Unifica<strong>da</strong> Neutra <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de e biogeografia surgiu através de<strong>uma</strong> tentativa para modelar a dinâmica de comuni<strong>da</strong>des ecológicas sujeitas a estalimitação geral, que Hubbell chama a “restrição (Constraint) de somatório-zero.”Etienne e Olff (2004 apud Etienne e Alonso, 2007) explicam que um modo deincorporar o efeito de interações entre espécies, que indubitavelmente existem, em vez de


66assumir que elas não têm importância 40 é a adocção <strong>da</strong> “suposição de somatório zero”.Em outras palavras o pressuposto de somatório zero gera dinâmicas dependentes dedensi<strong>da</strong>de entre indivíduos de várias espécies.Hubbell (2001:54, 312) sustenta que a dinâmica de somatório zero é a principalrestrição (constraint) aplicável a <strong>uma</strong> teoria <strong>neutra</strong>. Porém existem vários problemas comessas declarações aparentemente precisas. Primeiramente, Caswell (1976) demonstrouque os resultados neutros para população constantes vs. infinitamente crescentes sãobem parecidos. Bell (2000, 2001, 2003) permitiu flutuações populacionais que reduzissema capaci<strong>da</strong>de suporte e ain<strong>da</strong> assim produziu resultados semelhantes.Hubbell (2001) fornece três exemplos de quando podemos esperar <strong>uma</strong> violação<strong>da</strong> suposição <strong>da</strong> dinâmica de somatório-zero: em comuni<strong>da</strong>des sob regimes deperturbação severos, ao agregar táxons que são muito dissimilares quanto a “posição” nacadeia tróficas, ou ain<strong>da</strong>, quando há variação na provisão de recurso. Com isso eleexplicitamente declara que a dinâmica de somatório zero não exige <strong>uma</strong> capaci<strong>da</strong>desuporte constante, permitindo heterogenei<strong>da</strong>de temporal e sendo assim o pressuposto desomatório zero não parece ser tão importante quanto inicialmente pensado.2.3.1.3 Metacomuni<strong>da</strong>deOs primeiros modelos neutros consideravam apenas a dinâmica <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>delocal a qual não interagia com <strong>uma</strong> metacomuni<strong>da</strong>de, e praticamente não tratavam devariáveis espaciais. Esses modelos puramente locais de dinâmica <strong>neutra</strong> resultavam emfixação de <strong>uma</strong> espécie única, o que na maioria <strong><strong>da</strong>s</strong> vezes não condiz com a reali<strong>da</strong>de.Dentre essas primeiras tentativas destacamos os modelos usados por Caswell(1976) e os de Hubbell anteriores a 1997, nos quais modelos para metacomuni<strong>da</strong>deestavam ausentes. Eles invocavam especiação e imigração (exclusivi<strong>da</strong>de dos modelosde Hubbell) dentro comuni<strong>da</strong>de local para evitar a fixação a longo prazo de <strong>uma</strong> únicaespécie. Nestes primeiros modelos a especiação era descrita qualitativamente, sendo que40 Como, por exemplo, fazem os modelos neutros de Diserud e Engen, 2000; Engen e Lande, 1996; He, 2005.


67nos modelos de Caswell essa era a única forma de aporte de novas espécies para acomuni<strong>da</strong>de.Assim, o enfoque principal desses primeiros modelos de Hubbell foi sobre longostempos até a extinção, o que permitia a coexistência de espécies. Isto proporcionou umenfoque no desequilíbrio natural para os modelos ao invés de fixar um ponto equilíbriorígido como fazem os modelos de matriz de Lotka-Volterra <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.Segundo McGill, Maurer e Weiser (2006) em todos os modelos neutrosdesenvolvidos em 2000 e após, o acréscimo de emigrações vin<strong><strong>da</strong>s</strong> de <strong>uma</strong> fonte regional,ou entorno para dentro <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de local o que resultou em diminuição <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>defixação para <strong>uma</strong> espécie única. Desde então surge a idéia de distinguir as comuni<strong>da</strong>deslocais <strong><strong>da</strong>s</strong> demais comuni<strong>da</strong>des de <strong>uma</strong> região, surge o termo metacomuni<strong>da</strong>de.Segundo Norris (2003) <strong>uma</strong> metacomuni<strong>da</strong>de é um grupo de espéciessemelhantes quanto ao comportamento trófico espalha<strong><strong>da</strong>s</strong> sobre <strong>uma</strong> área geográficaampla e que é constituí<strong>da</strong> por várias comuni<strong>da</strong>des locais. Ele explica que ametacomuni<strong>da</strong>de deve se analisa<strong>da</strong> ao longo de um período de tempo suficientementelongo para que ocorram eventos de especiação durante a dinâmica de distribuição.Em um nível local, o modelo exige <strong>uma</strong> fonte de novas espécies — imigrantes <strong>da</strong>metacomuni<strong>da</strong>de circun<strong>da</strong>nte – que mantém os padrões de diversi<strong>da</strong>de e previne <strong>uma</strong>eventual dominação total dos recursos pela espécie mais abun<strong>da</strong>nte (Norris, 2003).Portanto a migração garante dinamici<strong>da</strong>de às populações locais que, de outra forma,tenderiam ao equilíbrio.Assim como nas comuni<strong>da</strong>des locais, a metacomuni<strong>da</strong>de é governa<strong>da</strong> por derivade somatório zero e constantemente sofre extinções. Para manter a biodiversi<strong>da</strong>de asmetacomuni<strong>da</strong>des contam com um grande espaço geográfico que permite a coexistênciade tantas espécies quanto o processo evolutivo de deriva seja capaz de gerar ao longo deum tempo geológico.Dessa forma, assume-se que a metacomuni<strong>da</strong>de é tão grande e que suasmu<strong>da</strong>nças acontecem tão lentamente, e assim, ela acaba por ser completamenteindependente e invariável em relação à comuni<strong>da</strong>de local. McGill, Maurer e Weiser (2006)denomina esta dinâmica de "suposição rápido-lento" (dinâmica local rápi<strong>da</strong>, dinâmicade metacomuni<strong>da</strong>de lenta). Segundo eles a "suposição rápido-lento" é conveniente para


68modelagem, mas é biologicamente não realística por assumir que a metacomuni<strong>da</strong>de étão grande que pode ser considera<strong>da</strong> invariável mas ao mesmo tempo é suficientementepequena para que todos os indivíduos na metacomuni<strong>da</strong>de tenham a mesmaprobabili<strong>da</strong>de de migrar para a comuni<strong>da</strong>de local.Para McGill, Maurer e Weiser (2006) a idéia de <strong>uma</strong> metacomuni<strong>da</strong>de ou fonteregional de espécies apesar de útil, é impossível de ser interpreta<strong>da</strong> fisicamente e comprecisão (ver os problemas de estimação a priori dos parâmetros na seção 2.3.4 sobretestes p. 85). Outrossim, existe fora <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de local <strong>uma</strong> quanti<strong>da</strong>de de espéciesdistribuí<strong><strong>da</strong>s</strong> de maneira relativamente contínua com muita contribuição <strong><strong>da</strong>s</strong> populaçõespróximas e pouca contribuição <strong><strong>da</strong>s</strong> populações mais remotas.Segundo Leigh (2007) os ecólogos teóricos neutros enfocaram, construíramformulas e a<strong>da</strong>ptaram-nas (freqüentemente de maneira prospera), quase exclusivamentefeitas para descrever distribuições de abundância de comuni<strong>da</strong>des locais, que recebemmigrantes de <strong>uma</strong> metacomuni<strong>da</strong>de, sem tentarem eliminar, ou pelo menos testar aimportância de, suposições auxiliares não realísticas como o estoque original panmítico(ou metacomuni<strong>da</strong>de). Como “estoque panmítico” Leigh define como a “comuni<strong>da</strong>defictícia onde os propágulos podem dispersar de <strong>uma</strong> ponta à outra <strong>da</strong> área por elaocupa<strong>da</strong>” (Leigh, 2007).O que vem sendo feito sim, é a modelagem de metacomuni<strong>da</strong>des espacialmentede explícitas nos quais as uni<strong>da</strong>des básicas dos modelos são as muitas comuni<strong>da</strong>deslocais são explicitamente posiciona<strong><strong>da</strong>s</strong> no espaço e este posicionamento influencia amigração entre as comuni<strong>da</strong>des locais. Assim a metacomuni<strong>da</strong>de é modela<strong>da</strong> como asoma <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des locais. Ain<strong>da</strong> sobre este pressuposto, Leigh afirma que somentematemáticos profissionais, os quais não são lidos por biólogos, tentaram derivardistribuições de abundância de espécie onde os jovens dispersam só a <strong>uma</strong> distâncialimita<strong>da</strong> de seus ancestrais.2.3.1.4 Especiação em modelos neutrosHubell (2001) reconhece que, em última instância, a origem de novas espécies é aresponsável para a manutenção a diversi<strong>da</strong>de na metacomuni<strong>da</strong>de. Nesse caso, aespeciação sob <strong>uma</strong> ótica <strong>neutra</strong> se dá por: (i) <strong>uma</strong> mutação única ou pontual (point


69mutation mode) pode causar o surgimento de <strong>uma</strong> nova espécie a partir <strong>da</strong> reprodução doindivíduo mutado, ou pela hibridização de outras espécies já presentes no pool regionalou ain<strong>da</strong> pela fixação de <strong>uma</strong> poliploidia (ii) subdivisão de espécies alopátricas através devicariância (random fission mode). Entretanto, Hubbell (2001) assume que o tempo deespeciação é extremamente lento nesses modelos. De fato, a especiação por deriva é<strong>uma</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong> principais críticas à TNB (ver seção 2.2.3 Reações <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de científica.p. 54). Hubbell (2001, 2005) argumenta que a exclusão competitiva de espécies levariatanto tempo para influenciar significativamente a composição de espécies <strong><strong>da</strong>s</strong>comuni<strong>da</strong>des que de fato fenômenos como especiação, dispersão e deriva ecológicatornariam-na irrelevante.Outros modos de especiação <strong>neutra</strong> são possíveis na TNB, e têm sido realmentediscutidos por Hubbell,(1997, 2001) mas abor<strong>da</strong>gens analíticas ain<strong>da</strong> não têm sidoaplica<strong><strong>da</strong>s</strong> para os modelos neutros correspondentes (ver também Keymer, Fuentes eMarquet, 2008 para um interessante modelo de dinâmica de especiação que alterna entremomentos de deriva ecológica e exclusão competitiva)Um grupo de críticos concentrou-se em testes <strong><strong>da</strong>s</strong> predições <strong>neutra</strong>s sobremu<strong>da</strong>nças ao longo do tempo. Tem-se sugerido que a deriva ecológica não pode explicaras rápi<strong><strong>da</strong>s</strong> mu<strong>da</strong>nças observa<strong><strong>da</strong>s</strong> na abundância <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies e que necessitariaespécies muito velhas para serem reais(Nee, 2005 apud Etienne e Alonso, 2007). Porexemplo, Leigh (1981 apud Leigh, 2007) demonstrou que, de acordo com a teoria <strong>neutra</strong>,o tempo médio para extinção de <strong>uma</strong> população contendo N adultos era maior que Ngerações. Desprovido de <strong>da</strong>dos para apoiar seus argumentos, ele sugeriu que espéciesmuito comuns não deveriam durar tanto tempo no registro fóssil, e concluiu que asextinções de tais espécies devem ser causa<strong><strong>da</strong>s</strong> por alg<strong>uma</strong> mu<strong>da</strong>nça em seus ambientes.Em 2003 Ricklefs conseguiu reunir <strong>da</strong>dos sustentando sua dedução que espécies comunspossuem vi<strong><strong>da</strong>s</strong> mais curtas do que teoria <strong>neutra</strong> prediz.Robert Ricklefs (apud Norris, 2003) crítica as estimativas de longevi<strong>da</strong>de <strong><strong>da</strong>s</strong>espécie nos modelos neutros. Devido ao enorme número de indivíduos <strong>da</strong>metacomuni<strong>da</strong>de, extinções devido a deriva são infreqüentes. Sem mecanismos deresposta diferencial (nas espécies) às mu<strong>da</strong>nças ambientais, discute Ricklefs, adiversi<strong>da</strong>de no modelo neutro atingiria níveis não realistas, e espécies persistiriam muito


70mais do que é indicado pelo registro fóssil. Porém, para Etienne e Alonso isso só éver<strong>da</strong>de para as versões atuais do modelo neutro, e acreditam que versões estendi<strong><strong>da</strong>s</strong>poderão resolver estes problemas.2.3.1.5 O mecanismo estocástico: assembléia por dispersão limita<strong>da</strong>A maior parte dos modelos neutros explica que as mu<strong>da</strong>nças <strong>da</strong> composição deespécies ao longo do espaço são devi<strong><strong>da</strong>s</strong> a um mesmo processo subjacente decorrentedos limites nas distâncias de dispersão <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies; a qual tornam-se mais acentua<strong><strong>da</strong>s</strong>quanto mais rara for a espécie (McGill, Maurer e Weiser, 2006). Isto está em contrastecom a suposição tradicional de que as mu<strong>da</strong>nças na estrutura <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de sãodevi<strong><strong>da</strong>s</strong> a a<strong>da</strong>ptações de espécie diferentes às condições locais (Whittaker, 1975 apudMcGill, Maurer e Weiser, 2006).Esta suposição pode gerar previsões bastante varia<strong><strong>da</strong>s</strong>, sobre relações deespécies por área (RE/A), a diminuição <strong><strong>da</strong>s</strong> semelhanças com distância, a diversi<strong>da</strong>de debeta, as quais McGill, Maurer e Weiser (2006) denomina coletivamente como “previsõesde dispersão limita<strong>da</strong>".Ao adicionar a dispersão como um elemento chave para a ecologia, a atual teoria<strong>neutra</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de tornou-se <strong>uma</strong> teoria essencialmente espacial, ain<strong>da</strong> que oespaço seja tratado implicitamente.Por exemplo: assumindo-se que a deriva ecológica é contínua, diferentes espéciesirão dominar diferentes comuni<strong>da</strong>des locais durante certos períodos. Segundo Cassemiroe Padial (2008) a teoria prediz que comuni<strong>da</strong>des locais devem seguir <strong>uma</strong> mesmadinâmica de deriva e quando isola<strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>uma</strong>s <strong><strong>da</strong>s</strong> outras, por alg<strong>uma</strong> barreira de dispersão,decrescem em similari<strong>da</strong>de com o passar do tempo. Então Cassemiro e Padial (2008)propõem que a variação espacial na estrutura <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de é <strong>uma</strong> conseqüência deeventuali<strong>da</strong>des (contingências) que acumulam ao longo do tempo e espaço, ao invés deum resultado <strong>da</strong> heterogenei<strong>da</strong>de ambiental acoplado com a<strong>da</strong>ptações ecológicas únicasde diferentes espécies.Vale a pena notar que as predições de RE/A (em inglês usa-se a sigla SAR) podemenvolver ver<strong>da</strong>deiramente <strong>uma</strong> estruturação espacial ou pode só predizer diversi<strong>da</strong>decomo <strong>uma</strong> função do “tamanho” <strong>da</strong> amostra (número de indivíduos de pontos amostrados)independentemente <strong>da</strong> estrutura espacial.(McGill, Maurer e Weiser,2006) Esta segun<strong>da</strong>


71predição é mais corretamente chama<strong>da</strong> <strong>uma</strong> curva de coletores e pois não trata comvariáveis espaciais realmente mensura<strong><strong>da</strong>s</strong>.Uma <strong><strong>da</strong>s</strong> grandes vantagens <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong> é que ela é <strong>uma</strong> teoria deamostragem. Como explicam Etienne e Alonso (2007) as predições são feitas para <strong>uma</strong>amostra <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de local, e podem deste modo ser prontamente aplica<strong><strong>da</strong>s</strong> para<strong>da</strong>dos, que normalmente representam <strong>uma</strong> amostra do total <strong>da</strong> metacomuni<strong>da</strong>de. Aproprie<strong>da</strong>de de amostragem <strong>da</strong> teoria nos permite definir a comuni<strong>da</strong>de local como <strong>uma</strong>amostra; conseqüentemente assume-se normalmente que o tamanho <strong>da</strong> amostra ésemelhante ao tamanho <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de local. A natureza de amostragem de teoria <strong>neutra</strong>proporcionou <strong>uma</strong> visão <strong>da</strong> limitação de dispersão como um efeito de amostragem.Neste contexto, a fórmula de amostragem dos limites de dispersão foiprovavelmente, <strong>uma</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong> realizações mais relevantes <strong>da</strong> ecologia teórica <strong>neutra</strong>, desde2001. Poucos autores analisaram também modelos espacialmente explícitos O cálculo <strong>da</strong>probabili<strong>da</strong>de, P(x), de dois indivíduos, que estão separados por <strong>uma</strong> certa distância x,pertencerem à mesma espécie é outra realização teórica importante. Porém quando estapredição foi testa<strong>da</strong> usando <strong>da</strong>dos espaciais de florestas tropicais, um resultadoinconclusivo foi obtido, o que implicaria que a comuni<strong>da</strong>de ecológica comporta a<strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de somente em alg<strong>uma</strong>s escalas espaciais (Alonso; Etienne e McKane, 2006).Etienne e Alonso (2007) explicam que quando <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de local éamostra<strong>da</strong>, as informações que obtemos sobre a provável diversi<strong>da</strong>de regional é filtra<strong>da</strong>pela habili<strong>da</strong>de limita<strong>da</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies <strong>da</strong> metacomuni<strong>da</strong>de para dispersarem-se econtribuírem para a comuni<strong>da</strong>de local que é o que foi realmente amostrado. Etienne eAlonso (2005 apud Etienne e Alonso, 2007) propuseram que esse processo de filtragempoder ser precisamente representado por <strong>uma</strong> distribuição de amostragem, a dispersãolimita<strong>da</strong>multinomial. Porém, como a probabili<strong>da</strong>de de imigração “m” depende de tamanhode amostra, a comparação dos valores de m para amostras com tamanhos diferentetorna-se complica<strong>da</strong>.2.3.2 Principais previsões e inferências em questão e seus testesHérault (2007) afirma que os modelos neutros capturam surpreendentementealguns dos padrões mais extensamente estu<strong>da</strong>dos em ecologia de comuni<strong>da</strong>des, a citar:


72grau abundância relativa, relação entre o número de espécies por área e dinâmica desubstituição de espécies. Além de gerar alguns índices de diversi<strong>da</strong>de de espécie.Por déca<strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>da</strong>dos empíricos têm sugerido que em quase to<strong><strong>da</strong>s</strong> as comuni<strong>da</strong>des aRE/A é hiperbólica (curva<strong>da</strong> de maneira côncava) e mo<strong>da</strong>l em <strong>uma</strong> escala de abundâncialogarítmica (na déca<strong>da</strong> de 30 temos Motomura e Raunkiaer na de 40 Preston e Fisher). Ateoria <strong>neutra</strong> prediz <strong>uma</strong> distribuição de probabili<strong>da</strong>de conheci<strong>da</strong> na teoria molecular<strong>neutra</strong> como distribuição de Ewens, mas com alg<strong>uma</strong>s mu<strong>da</strong>nças devido à adição <strong>da</strong>migração e <strong>da</strong> metacomuni<strong>da</strong>de, passando a ser chama<strong>da</strong> na ecologia <strong>neutra</strong> deDistribuição Multinomial de Somatório-Zero (DMS- ou no inglês a sigla é ZSM) (Hubbell2001).Embora exista <strong>uma</strong> diversi<strong>da</strong>de de <strong>teorias</strong> <strong>neutra</strong>s, elas compartilham alg<strong>uma</strong>spredições semelhantes sendo que existem duas predições quase universais que são: aDistribuição <strong>da</strong> Abun<strong>da</strong>ncia <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies deve seguir <strong>uma</strong> função Multinomial deSomatório Zero (DMSZ); a RE/A e os limites de dispersão.Segundo Prado (2007) como são hipóteses explícitas sobre as quanti<strong>da</strong>desrelativas <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies na comuni<strong>da</strong>de, os modelos de distribuição de abundância sãomuito mais informativos que índices sintéticos de diversi<strong>da</strong>de. Apesar disso, e de sualonga história na ecologia de comuni<strong>da</strong>des, os modelos de distribuição têm sido bemmenos usados que os índices para comparar diversi<strong>da</strong>de biológica entre amostras.Se as comuni<strong>da</strong>des são coleções acidentais de espécies onde as espécies podemser substituí<strong><strong>da</strong>s</strong> por espécies de um mesmo nível trófico ou grupo funcional, sem com issocomprometer o funcionamento de todo ecossistema, então resulta que as espécies em<strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de não são altamente co-a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> ou codepententes. Corroborando comesta visão, o que se observa em ecologia é que as relações de dependência ecológicasespecíficas entre espécies de mesmo nível trófico (tais como relações de mutualismoobrigatório ou parasitismo) são bastante raras e efêmeras.2.3.3 EscoposEsta seção visa reunir e s<strong>uma</strong>rizar alg<strong>uma</strong>s explicações para perguntasfreqüentemente feitas sobre alcance, abrangência e limitações <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong> <strong>da</strong>


73biodiversi<strong>da</strong>de tais como: existem limitações inerentes ao uso <strong>da</strong> TNB? Quais seriamessas? O que pode e o que não pode ser explicado por modelos neutros?2.3.3.1 Escopo ontológico: forças <strong>neutra</strong>s existem, e são necessárias?Clark (2008) adverte para a percepção difundi<strong>da</strong> de que elementos estocásticossão forças <strong>neutra</strong>s existentes na natureza, está sendo em parte, justifica<strong>da</strong> por conceitoscomo simetria e mecanismos equalizadores. É sobre esse último conceito quediscutiremos a seguir.Essa questão <strong>da</strong> existência e natureza dos mecanismos equalizadores(dependentes de densi<strong>da</strong>de) também não é ponto pacífico dentre os próprios teóricosneutros. Por exemplo, Chave (2004) defende que os mecanismos dependentes dedensi<strong>da</strong>de ou outros efeitos estabilizadores são impossíveis nos modelos neutros. Paraexplicar sua afirmação ele propõe que suponhamos o seguinte mecanismo equalizadorhipotético: a taxa de mortali<strong>da</strong>de aumentando proporcionalmente à abun<strong>da</strong>ncia <strong><strong>da</strong>s</strong>espécies, de tal forma que as espécies raras teriam <strong>uma</strong> vantagem acima <strong><strong>da</strong>s</strong> espéciescomuns. Segundo Chave, em um trabalho de 2003 Hubbell sugeriu que tais modelospossam ser chamados neutros desde que a intensi<strong>da</strong>de do efeito dependente dedensi<strong>da</strong>de seja igual entre as espécies, porém, chave contra-argumenta que neste caso,um individuo de <strong>uma</strong> espécie rara iria então ter prospectos mais baixos de morte que umindividuo de <strong>uma</strong> espécie comum. Deste modo, segundo Chave et al. (2002 apud Chave,2004) os modelos dependentes de densi<strong>da</strong>de são incompatíveis com a suposição deequivalência entre indivíduos.Mesmo Hubbell (2001) já havia anteriormente mostrado-se contrário a taismecanismos. Ao tratar dos modelos de loteria, publicados na déca<strong>da</strong> de 80 por autorescomo Warner ou Chesson, Hubbell explica que eles diferem <strong>da</strong> deriva ecológica <strong>neutra</strong>por ter um processo de nascimento de indivíduos dependente de densi<strong>da</strong>de, o queacarretaria em <strong>uma</strong> vantagem reprodutiva para espécies raras. Tal modelo também difere<strong>da</strong> TUNB ao aceitar processos determinísticos de morte, mas para Hubbell o maisimportante é que esse modelo possui a mesma dinâmica de somatório zero com asespécies sendo <strong>neutra</strong>s a medi<strong>da</strong> eu seguem a mesmas regras de base per capta.


74Gewin (2006) relata que posteriormente a teoria <strong>neutra</strong> foi modifica<strong>da</strong> para refletiras crescentes evidências que as taxas de mortali<strong>da</strong>de e nascimento não são fixas, masao invés disso dependem <strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população. Por exemplo, <strong>uma</strong> populaçãogrande de <strong>uma</strong> espécie é mais suscetível a pre<strong>da</strong>dores ou patógenos. A espécie rarapode então ter <strong>uma</strong> vantagem simplesmente por causa de sua rari<strong>da</strong>de.De outra forma, Clark (2008) faz <strong>uma</strong> crítica não aos aspectos técnicos <strong>da</strong> TNB,mais sim sua ontologia, discutindo sobre a interpretação de que a estocastici<strong>da</strong>de ocorrena natureza como <strong>uma</strong> força real. Ele afirma que essa noção confusa penetra osargumentos teóricos e empíricos <strong>da</strong> disputa sobre a vali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> TNB em ambos os lados(e também dentre os ecólogos conciliadores). Abaixo citamos alg<strong>uma</strong>s afirmaçõespresentes no trabalho de Clark (2008):“A estocastici<strong>da</strong>de é um atributo de modelos”. E “não existe nenh<strong>uma</strong> evidência <strong>da</strong>estocastici<strong>da</strong>de em escalas observáveis <strong>da</strong> natureza”. Por exemplo “quando umindividuo se reproduz ou morre ‘aleatoriamente’ esse evento é resultado deprocessos reais.” Esses “processos podem ser desconhecidos ou podemosescolher não incluí-los em nossos modelos”. Mas a “falta de informações não podeser confundi<strong>da</strong> com a existência de <strong>uma</strong> força estocástica.” (Clarck, 2008 passim)Segundo Clark conceitos como ‘mecanismos equalizadores' e ‘simetria' podem serconfusos, mais independentemente de como os autores os entendem, é importantereconhecer que eles não fazem a teoria <strong>neutra</strong> mais útil, e apenas possuem aplicação nacompreensão de modelos estocásticos mas não constituindo forças atuantes na natureza.Em parte, endossamos as idéias de Clark no que diz respeito a estocastici<strong>da</strong>de serum atributo de modelos, mais especificamente modelos não-determinísticos, ondeexistem variáveis que por não podermos determinar são assumi<strong><strong>da</strong>s</strong> como aleatórias.Porém acreditamos que existe <strong>uma</strong> má interpretação por Clark ao defender que a nãoexistência de <strong>uma</strong> força estocástica implica na inutili<strong>da</strong>de dos conceitos <strong>da</strong> TNB.Conforme veremos na seção 3.2.2.3 (p. 119) os modelos estocásticos podem ser <strong>uma</strong>primeira aproximação para a modelagem de sistemas complexos.


752.3.3.2 Escala espacial: qual o espectro de tamanhos <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des emque se aplicam os modelos neutros?McGill, Maurer e Weiser (2006) questionam ‘‘Sob que escala as variações dea<strong>da</strong>ptação <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies (quanto a condições ambientais heterogêneas) são irrelevantespara a dinâmica <strong>da</strong> população?" Existem diferentes pontos de vista quanto a escala emque teoria <strong>neutra</strong> se aplica. Hubbell (2001) e Bell apresentaram <strong>da</strong>dos empíricos obtidosem escalas espaciais de 0.25 m 2 até to<strong><strong>da</strong>s</strong> as lhas britânicas ou um pe<strong>da</strong>çosignificativamente amplo do Oceano Pacífico.E sugerem que a importância <strong>da</strong> a<strong>da</strong>ptação à variação ambiental é verifica<strong>da</strong> emescalas muito pequenas (locais analisando organismos únicos) ou em escala global(tundra vs. região tropical). Para eles é possível, mas não comprovado, que a<strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de quanto a heterogenei<strong>da</strong>de acontece em escalas intermediárias.McGill, Maurer e Weiser (2006) executou um teste dos modelos neutros de DMSZe DE/A através de <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> floresta tropical <strong>da</strong> Ilha de Barro Colorado e usando to<strong><strong>da</strong>s</strong> asmelhores práticas cita<strong><strong>da</strong>s</strong> anteriormente. Eles estimaram θ e m para parcelas comdiferentes tamanhos variando de 1 a 50 hectares. E constataram que θ sistematicamenteaumenta com a escala enquanto m sistematicamente diminui. Tal variação dosparâmetros com a escala contradiz a teoria <strong>neutra</strong>? Para McGill, Maurer e Weiser (2006)a resposta é "certamente que sim para θ". Eles lembram que θ = 2JMV; Então <strong>uma</strong>mu<strong>da</strong>nça significativa em θ entre 1 ha e 50 ha (36.33 vs. 47.57) é equivalente àdeclaração que a parcela de 50 ha experimenta <strong>uma</strong> taxa 31% maior <strong>da</strong> especiação <strong>da</strong>metacomuni<strong>da</strong>de que os enredos de 1 ha. Contudo ambos os enredos de 1 ha e de 50ha são tão pequenos que deviam ter metacomuni<strong>da</strong>des quase idênticas. Diferentementede θ, o parâmetro m deveria variar com a escala, e segundo os autores m mu<strong>da</strong> nadireção certa ficando menor, ou seja, menos indivíduos vêm de fora <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de locala medi<strong>da</strong> que a comuni<strong>da</strong>de local aumenta.Uma outra possível abor<strong>da</strong>gem seria determinar em que escala espacial aplica-sea TNB é considerar tamanho <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de ao invés do espaço que ela ocupa, sobreisso McGill, Maurer e Weiser (2006) apresenta <strong>uma</strong> estimativa bastante útil basea<strong>da</strong> em<strong>uma</strong> bem conheci<strong>da</strong> inferência <strong>da</strong> genética de população, sobre o espectro de ação <strong><strong>da</strong>s</strong>eleção, e por exclusão temos a deriva. Segundo tal estimativa, a seleção só pode


76dominar quando 4Ns >> 1 e a deriva domina quando 4Ns


77espécies podia ser particiona<strong>da</strong> em espécies persistentes, aquelas que permaneciammais de 10 anos no registro, e espécies ocasionais, para as que permaneciam menos que10 anos e eram encontra<strong><strong>da</strong>s</strong> em abundâncias menores. Além disso, eles mostraram quea distribuição de abundância <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies diferi<strong>da</strong> entre os dois grupos, espéciespersistentes seguindo <strong>uma</strong> distribuição de log-normal, enquanto espécies ocasionaisseguiram <strong>uma</strong> distribuição de log-série. Conseqüentemente, somente espécies raraspoderiam ser <strong>neutra</strong>s. Porém, Chave (2004) acredita que isto significa que o modeloneutro ain<strong>da</strong> funciona para a espécies raras, as quais são virtualmente impossíveis deestu<strong>da</strong>r empiricamente, e para as quais modelos preditivos são muito necessários.Cito os resultados contidos nos trabalhos de Bell e Magurran & Henderson poisdificilmente observamos estudos sobre a TNB em escalas de tempo compatíveis com asucessão, sendo estes dois os que possuíam períodos de estudos semelhantes aosutilizados na sucessão florestal.2.3.3.4 Escopo explicativo2.3.3.4.1 Nulo ou neutroUm assunto particular que é importante ressaltar, para evitar confusões, é adistinção entre neutro e nulo. Embora modelos nulos normalmente não sejam discutidosneste contexto, Gotelli e McGill (2006) em um trabalho bastante criterioso, explicam que“embora os tradicionais modelos nulos normalmente preservam eficazmente muitas <strong><strong>da</strong>s</strong>proprie<strong>da</strong>des considera<strong><strong>da</strong>s</strong> relevantes do nicho” - por definição diferentes entre asespécies – “como os abundância total de ocorrência <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies (que freqüentementerefletem massa corporal e nível trófico), num modelo neutro elas seriam descarta<strong><strong>da</strong>s</strong>”.Uma vez que, os modelos nulos tradicionais continuam assumindo que a ocorrências <strong><strong>da</strong>s</strong>espécies é fortuita e independente, então eles são nulos com respeito a interações entreespécies. Já os modelos neutros quando usados como nulos excluem claramenteinterações entre espécies e também as diferenças de nicho.Para os modelos nulos tradicionais, a hipótese alternativa (H1) é que as interaçõesentre espécies são importantes, já para os modelos neutros, a H1 cerca tanto asinterações entre espécies quanto as diferenças <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies. Estas distinções podeparecer sutis, mas tem conseqüências importantes na lógica <strong><strong>da</strong>s</strong> conclusões científicas.


78É importante ressaltar que a teoria <strong>neutra</strong> funciona como <strong>uma</strong> hipótese nulasomente quando nos referimos as inferências estatísticas nas quais hipóteses alternativase nulas são confronta<strong><strong>da</strong>s</strong>, e não no sentido amplo, no qual a hipótese nula se refere aosprocessos mecanicistas baseados em estocastici<strong>da</strong>de.Gotelli e Graves (1996 apud Gotelli e McGill, 2006) apresentam <strong>uma</strong> definiçãooperacional de modelos nulos <strong>da</strong> forma como têm sido aplicados na ecologia decomuni<strong>da</strong>des:“Um modelo nulo é um modelo gerador de padrões que é baseado naaleatorização de <strong>da</strong>dos ecológicos ou amostragem fortuita de <strong>uma</strong> distribuiçãoconheci<strong>da</strong> ou especifica<strong>da</strong>. O modelo nulo é projetado com respeito a algumprocesso ecológico ou evolutivo sob o qual temos interesse. Certos <strong>da</strong>dos sãodeixados constantes, e a outros é permitido variar estocasticamente para quecriem novos padrões de assembléia. A randomização é planeja<strong>da</strong> para produzirum padrão que seria esperado na ausência dum mecanismo ecológico particular”.(Gotelli e McGill, 2006)A distinção que Gotelli e McGill (2006) fazem entre o modelo neutro como hipótesenula e o modelo neutro como modelo baseado em processo também havia sido discuti<strong>da</strong>por Bell (2000), que distingue entre hipóteses nulas estatística (SNH) e hipóteses nulasdinâmicas (DNH). As estatisticamente nulas são os modelos nulos tradicionais baseadosem aleatorização de <strong>da</strong>dos empíricos (estocastici<strong>da</strong>de aplica<strong>da</strong> a <strong>da</strong>dos existentes). Já asdinamicamente nulas incorporam processos estocásticos em um modelo biológico(estocastici<strong>da</strong>de aplica<strong>da</strong> a modelos baseados em processos). A teoria <strong>neutra</strong> é <strong>uma</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong>primeiras DNH <strong>da</strong> ecologia. Para Gotelli e McGill (2006), o fato de que teoria <strong>neutra</strong>originou-se como <strong>uma</strong> SNH, mas atualmente ser trata<strong>da</strong> de maneira dinamicamente nulacausa muita confusão. “O modelo nulo deste modo funciona como <strong>uma</strong> hipóteseestatística nula normal para detectar padrões, em contraste às hipóteses científicas quefornecem um mecanismo para explicar algum padrão” (Gotelli e Ellison 2004 apud Gotteli,2006).Em essência Gotelli e McGill (2006) consideram a teoria <strong>neutra</strong>, principalmente,como <strong>uma</strong> forma particular de hipótese nula para testar outras <strong>teorias</strong>. Por estas razão,eles sugerem que a falsificação estatística de hipóteses nulas simples continuara adesempenhar um papel importante na avaliação <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong>. Além disso, assuposições de mecanismo subjacentes aos modelos neutros (como equivalência deespécie, a dinâmica de substituição de espécies através por deriva¸ e dispersãoestocástica) devem ser diretamente testa<strong><strong>da</strong>s</strong> (Harte 2003).


79Acerca <strong>da</strong> estimativa de parâmetros nos dois tipos de modelo (nulo e neutro)Gotelli e McGill (2006) aponta que na maioria nas análises de modelos neutros, algunsdos parâmetros usados nas previsões devem ser estimados indiretamente por algoritmosde ajuste-de-curva que geram <strong>uma</strong> melhor adequação dos resultados aos valores de<strong>da</strong>dos particulares e fixos. Eles discorrem que tal método de ajuste-de-curva éproblemáticas porque ao usarmos um valor, por exemplo, de m (taxa de migração) queforneça a ‘‘melhor adequação’’ estatística aos <strong>da</strong>dos observados, influenciará os testes demaneira a favorecer o modelo neutro. Por outro lado os modelos nulos também exigem‘‘parâmetros’’ que são usados para gerar as predições. Porém Gotelli e McGill (2006)consideram que, a medi<strong>da</strong> que mais parâmetros biologicamente específicos sãoincorporados no modelo nulo, ele eventualmente irá ‘‘cruzar a linha’’ e deverá passar a servisto como um modelo baseado em processo. Mas muitos modelos nulos são bastantesimples de modo que contêm só alg<strong>uma</strong>s restrições e não especificam mecanismosparticulares.McGill, Maurer e Weiser (2006) demonstram e alertam para fraqueza de testes quemostram um adequação <strong>da</strong> previsão de Distribuição Multinomial de Somatório-Zero(DMSZ) frente aos <strong>da</strong>dos empíricos, <strong>uma</strong> vez que eles são conseqüência simples doflexibili<strong>da</strong>de do método de ajuste-de-curva utilizado.Vejamos o exemplo demonstrado em McGill, Maurer e Weiser (2006) exposto nafigura 6.


80Figura 6: Efeito <strong>da</strong> escolha dos parâmetros. Essa figura mostra porque o método de ajuste-decurvamulitnomial de somatório-zero (MSZ) é tão bem sucedi<strong>da</strong>. Ambos os gráficos usam o <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Ilhade Barro Colorado (Panamá) para <strong>uma</strong> floresta de árvore tropicais. (A) O segundo parâmetro, θ, é variadopara obter um bom ajuste aos <strong>da</strong>dos no lado direito. (B) O terceiro parâmetro, m (migração), é variado paraobter um melhor ajuste no lado à esquerdo. Hubbell (2001) foi o primeiro a sugerir esta abor<strong>da</strong>gem básicade ajustar h para o lado direito e então m para o lado esquerdo.McGill, Maurer e Weiser (2006) explicam que a DMSZ é extraordinariamenteflexível em ajustar-se aos <strong>da</strong>dos de distribuição de espécies na área ocupa<strong>da</strong> pelacomuni<strong>da</strong>de (DE/A) pois ca<strong>da</strong> parâmetro é independente. J estabelece a escala, hcontrola a forma <strong>da</strong> curva à direita <strong>da</strong> mo<strong>da</strong> e m controla a forma à esquer<strong>da</strong> <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>.Deste modo para qualquer <strong>da</strong>do empírico de DE/A, as chances de escolha de θ e m quese ajustem bem aos <strong>da</strong>dos são muito altas. Logo, testes de adequação empírica queutilizem variáveis aperfeiçoa<strong><strong>da</strong>s</strong> para ajustarem-se aos <strong>da</strong>dos empíricos podem estarincorrendo em erro estatístico de tipo II ou seja falha incorreta <strong>da</strong> rejeição do modeloneutro (Gotelli e McGill, 2006).Segundo McGill, Maurer e Weiser (2006) como a teoria <strong>neutra</strong> não possuiparâmetros que permaneçam constantes ao longo variações realistas em outrosparâmetros (como escalas temporais e/ou espaciais), torna impossível o sucesso <strong>da</strong>


81teoria <strong>neutra</strong> em testes, comparando ao log-normal, que usam parâmetros definidos a-priori.Segundo Harte (2003) um subterfúgio para justificar a distribuição log-normal é queela pode surgir do teorema do limite central, que em sua declaração mais familiar, diz quea soma de muitas variáveis aleatórias independentes e com mesma distribuição deprobabili<strong>da</strong>de tende à distribuição normal, ou em outras palavras descreve <strong>uma</strong> funçãogaussiana. Assim como no limite central a distribuição log-normal aparece naturalmente<strong>da</strong> distribuição do produto de variáveis aleatórias e independentes. Suponhamos umexemplo em que as taxas nascimento e mortali<strong>da</strong>de de várias espécies são governa<strong><strong>da</strong>s</strong>por numerosos fatores fortuitos que agem de maneira multiplicativa, com um produtodiferente para ca<strong>da</strong> espécie. Neste exemplo, <strong>uma</strong> epidemia dizima <strong>uma</strong> população a umterço, <strong>uma</strong> boa estação dobraria a taxa per capita de natali<strong>da</strong>de de outra e assim pordiante. Então, desde a déca<strong>da</strong> de 70 May relacionava matematicamente esse tipo decanário com a curva de distribuição de espécies log-normal. Em contraste com a teoria<strong>neutra</strong>, neste modelo as diferenças de espécies estão construí<strong><strong>da</strong>s</strong> desde o início.Porém para Harte (2003) a distribuição log-normal não é exatamente <strong>uma</strong> teoria(explicativa), mas sim <strong>uma</strong> função matemática proposta; sua conexão com a abundânciarelativa <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies foi motiva<strong>da</strong> por um modelo conceitual de como o crescimento e amorte são regulados em ecologia. Alem disso esse modelo classicamente não se aplica aamostras e não é <strong>uma</strong> explicação mecanicista <strong>da</strong> distribuição de abundância fun<strong>da</strong><strong>da</strong> emprocessos. Apesar destas limitações, esse modelo foi e ain<strong>da</strong> é extensivamente usadocomo alternativa à <strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de (Alonso, Etienne e McKane, 2006)Na opinião de Harte os advogados <strong>da</strong> distribuição log-normal fariam melhoresserviços à sua causa se examinassem realmente e modelassem os mecanismosdominantes de crescimento e morte, conferindo aplicabili<strong>da</strong>de a teorema do limite central,e então fazendo um enxame <strong><strong>da</strong>s</strong> previsões testáveis - não só sobre a abundânciarelativas <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies mas também sobre as taxas de mortali<strong>da</strong>de e crescimento sobdiferentes circunstâncias, sobre a relação entre tamanho de corpo e abundância, sobre asdistribuições espaciais <strong><strong>da</strong>s</strong> espécie, e sobre séries temporais de flutuações naspopulações sob condições ambientais diferentes.2.3.3.4.2 Epifenômenos: quando processos não-neutros resultam em padrões


82neutros?Padrões não necessariamente implicam em processo e essa máxima também évali<strong>da</strong> para os modelos neutros. Recentemente, outros estudos confirmaram que modelosnão neutros predizem padrões que são difíceis de distinguir dos neutros. Diversosestudos tem contrastado padrões de abundância de espécie preditos por modelos desimulação de ambos os tipos (neutros e não neutros), e têm obtido padrões dedistribuição semelhantes (ex: Bell, 2000; Chave, 2004; Chave et al., 2002).Sob o argumento de que a distribuição log-série na metacomuni<strong>da</strong>de não implicanecessariamente em <strong>uma</strong> dinâmica <strong>neutra</strong>, Leigh (2007) toma como pondo de parti<strong>da</strong> omodelo de seleção flutuante que Gillespie criou na déca<strong>da</strong> de 90 para igualar adistribuição log-série de freqüências alélicas na teoria <strong>neutra</strong> de evolução molecular comseu. Leigh compara a explicação não <strong>neutra</strong> de Gillespie seu análogo <strong>da</strong> ecologia decomuni<strong>da</strong>des, que seriam os modelos <strong>da</strong> loteria (ex: Sale 1977, 1978; Chesson eWarner, 1981; Chesson e Warner, 1981; Hatfield e Chesson, 1989), - nos quais espéciesde árvores coexistem ao partilharem temporalmente as aberturas de clareiras e em anosdiferentes, espécies diferentes são mais bem sucedi<strong><strong>da</strong>s</strong> em ocupar estas “aberturas”.Purves e Pacala (2005 apud Leigh, 2007) sugerem que <strong>uma</strong> distribuição log-série nametacomuni<strong>da</strong>de não implica a ausência de processos não neutros fortes.Outro trabalho que adverte para o problema de padrões neutros é McGill, Maurer eWeiser (2006) que afirmam ser preciso precaução pois cenários baseados em nichotambém podem gerar equivalência na aptidão per capta. Ele propões um cenário em que<strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de tem <strong>uma</strong> espécie por nicho, e onde os nichos não estão sobrepostos, eca<strong>da</strong> espécie atingiu a capaci<strong>da</strong>de para aquele nicho. Neste cenário hipotético, ca<strong>da</strong>espécie teria aptidão equivalente mas a deriva não desempenhou nenhum papel nadeterminação de suas abundâncias.Na mesma linha Alonso; Etienne e McKane (2006) apresentam outras trêspossíveis maneiras de processos ecológicos não neutros poderem originar padrõesneutros, violando <strong>da</strong> suposição <strong>da</strong> equivalência:CompensaçõesComo Hubbell (2001) declarou: “as compensações durante história de vi<strong>da</strong> igualama aptidão relativa per capita entre espécies de <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de, e isso fornece as


83condições para "deriva ecológica". Segundo Alonso; Etienne e McKane (2006) umexemplo de circunstancias onde um processo de compensação gera um padrão neutrosão os modelos competitivos hierárquicos analisado por Tilman em 1994, que obteve <strong>uma</strong>distribuição de abundância log-série media<strong>da</strong> por compensações específicas entrehabili<strong>da</strong>de de colonização e persistência. Semelhantes compensações têm sidoreporta<strong><strong>da</strong>s</strong> em modelos de comuni<strong>da</strong>des espacialmente explícitas.Invariância de escalaPueyo (2006 apud Alonso; Etienne e McKane, 2006) analisou um cenário onde nãohavendo limitações de dispersão, a curva de abundância <strong>neutra</strong> espera<strong>da</strong> éessencialmente <strong>uma</strong> lei de potência com expoente (-1). Tendo em vista que asdistribuições de lei de potência são invariantes sob escalas de agregação, ele descreve apossibili<strong>da</strong>de de formar sub-guil<strong><strong>da</strong>s</strong> onde as espécies pertencentes são <strong>neutra</strong>s entre simais competiriam com espécies de outras sub-guil<strong><strong>da</strong>s</strong>, mais de se as sub-guil<strong><strong>da</strong>s</strong> nãointeragem por estarem distribuí<strong><strong>da</strong>s</strong> heterogeneamente, a comuni<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> mostrará omesmo padrão neutro, mesmo as espécies pertençam a <strong>uma</strong> só guil<strong>da</strong>.A complexi<strong>da</strong>de <strong><strong>da</strong>s</strong> interações ecológicas e a "fusão" <strong><strong>da</strong>s</strong>competitivashierarquiasAlonso; Etienne e McKane (2006), discorrem que alg<strong>uma</strong>s experiências (e citamTilman e Gause) podem apontar para a existência de hierarquias competitivas nanatureza. Porém afirmam que estas hierarquias não seriam capazes de resistir sobcondições variáveis como mecanismos de coexistência complexa, variabili<strong>da</strong>deambiental, perturbações e inimigos naturais específicos. , hierarquias competitivas rígi<strong><strong>da</strong>s</strong>fracassam em controlar interações competitivas. Em longo termo, isto imprevisibili<strong>da</strong>depoderia fazer com que espécies não equivalentes passarem a comportar-se quase demaneira <strong>neutra</strong>, ocasionando padrões neutros em pelo menos alg<strong>uma</strong>s escalas deespaço e tempo.2.3.3.5 Abrangência: o que um modelo neutro pode ou não explicar?Devido pretensa universali<strong>da</strong>de do pressuposto <strong>da</strong> equivalência entre espécies ateoria <strong>neutra</strong> deveria aplicar-se a todos os tipos organismos. Porém McGill, Maurer eWeiser (2006) defendem que testes empíricos devem ser utilizados para identificar em


84que subconjuntos de organismos e em que escala espacial a <strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de é espera<strong>da</strong>.Ain<strong>da</strong> sobre a aplicabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> TNB assunto Chave (2004) sugere que, ‘‘a teoria <strong>neutra</strong>está explicitamente preocupa<strong>da</strong> com comuni<strong>da</strong>des de organismos residentes (geralmenteplantas, ou animais sésseis).’’ Por fim, na definição de comuni<strong>da</strong>de <strong>neutra</strong> de Hubbell(2001: p. 6) há um limite de aplicação <strong>da</strong> TNB a <strong>uma</strong> ‘‘comuni<strong>da</strong>de trófica defini<strong>da</strong>’’,porém mais adiante em seu trabalho ele sugere que teoria <strong>neutra</strong> possa aplicar-setambém a múltiplas guil<strong><strong>da</strong>s</strong> tróficas (2001 p. 312).Segundo Alonso; Etienne e McKane (2006) a teoria <strong>neutra</strong> de Hubbell é projeta<strong>da</strong>para se aplica<strong>da</strong> em amostras de <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de, não só para a comuni<strong>da</strong>de como umtodo. Isto é <strong>uma</strong> proprie<strong>da</strong>de importante, porque ele facilita confrontação do modeloneutro com os <strong>da</strong>dos empíricos, deste modo, a teoria é feita sob medi<strong>da</strong> para realizarteste empíricos.Tilman (apud Gewin 2006)assinala que a teoria <strong>neutra</strong> é limita<strong>da</strong> porque é incapazde predizer que espécies são raras ou abun<strong>da</strong>ntes. “Se nós somarmos maiscomplexi<strong>da</strong>de à parte <strong>da</strong> competição dos modelos, nós explicamos mais <strong>da</strong>quilo quevemos na natureza — por que certas espécies são abun<strong>da</strong>ntes, quais são as raras, quemu<strong>da</strong>nças na resposta observaremos quando ocorrerem alterações de gradientesambientais ou clima ao longo de em determinado tempo.” To<strong>da</strong>via, a teoria <strong>neutra</strong> forçou<strong>uma</strong> maior avaliação <strong>da</strong> importância de forças estocásticas. Inspirados pelos trabalhos deHubbell, os recentes experimentos e modelos de Tilman incorporam forças fortuitas comotambém trocas competitivas entre espécies.Leigh (2007) afirma que diferentemente dos geneticistas de população, osecólogos teóricos neutros ignoraram as modificações sofri<strong><strong>da</strong>s</strong> ao longo do tempo,falhando em testar se padrões neutros são gerados por processos neutros. Eles tambémabandonaram a tarefa de testar o que ocorre quando pares de espécie divergemsimultaneamente em resposta a <strong>uma</strong> nova barreira assim como fizeram suas contrapartes<strong>neutra</strong>s <strong>da</strong> genética de população.Os teóricos neutros mais analíticos renunciaram às <strong>teorias</strong> espacialmenteexplícitas. Por outro lado as <strong>teorias</strong> espacialmente explícitas enfocam nos movimentos<strong><strong>da</strong>s</strong> espécies e assumem <strong>uma</strong> condição estacionária muito improvável, ou seja,diferentemente dos geneticistas de população, nenhum ecólogo considerou o modo, ou a


85veloci<strong>da</strong>de, de aproximação desta condição estacionária. Leigh (2007) afirma que comexceção de Chave et al., em 2002, as predições analíticas de curvas de espécie por área,que requerem o uso de matemática espacialmente explícita, foram desenvolvi<strong><strong>da</strong>s</strong> pormatemáticos profissionais, cujas derivações poucos biólogos podem entender.2.3.4 TestesEm ecologia o método de testar <strong>uma</strong> teoria em pequenas escalas espaciais etemporais está relativamente bem desenvolvido: trata-se do uso de experiências demanipulação contra a hipótese nula na qual a manipulação não tem nenhum efeito. Osmétodos apropriados de <strong>teorias</strong> de grande escala, onde tais experiências sãoimpossíveis, permanecem menos claros.Segundo De Marco (2006) a teoria <strong>neutra</strong> apresenta <strong>uma</strong> quanti<strong>da</strong>de enorme depredições testáveis e que merecem um avanço de campo, com testes planejados e sepossíveis com <strong>uma</strong> abor<strong>da</strong>gem experimental. Chave (2004) afirma que de maneira amplaos testes feitos para as <strong>teorias</strong> <strong>neutra</strong>s podem ser divididos em duas classes: testes <strong><strong>da</strong>s</strong>suposições de teoria e testes <strong><strong>da</strong>s</strong> predições de teoria. Trataremos nesta seção somentedos testes de predições.Gotelli e McGill (2006) escrevem que infelizmente, a <strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de é muito maisdifícil de testar na ecologia que na evolução molecular, porque em ecologia não existe (ouain<strong>da</strong> não se descobriu) um análogo <strong><strong>da</strong>s</strong> regiões sinônimas dos códon que permitisse<strong>uma</strong> calibração empírica imediata de taxas de deriva. Esta aparente “impossibili<strong>da</strong>de”para calibrar empiricamente as taxas de deriva ecológica, seja ela momentânea oudinâmica trouxe muita dificul<strong>da</strong>de em testar rigorosamente a TNB, e talvez seja adiferença mais importante entre teoria <strong>neutra</strong> <strong>da</strong> evolução e a <strong>da</strong> ecologia(Gotelli e McGill,2006). Tendo em vista o exposto, Gotelli e McGill (2006) concluem que a inabili<strong>da</strong>de paramedir diretamente muitos dos importantes parâmetros dos modelos neutros limita muitosua utili<strong>da</strong>de como <strong>uma</strong> hipótese nula para padrões de testes empíricos.McGill, Maurer e Weiser (2006) complementam a crítica mostrando que asprevisões deriva<strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong> que não usam métodos de ajuste-de-curva,outrossim buscam definições a priori dos parâmetro utilizados nas equações, sãofacilmente falseáveis. Segundo eles


86“De fato, é surpreendentemente difícil de medir parâmetros a priori para a teoria<strong>neutra</strong>. O parâmetro m, ou seja, a porcentagem de indivíduos nascidos cujos paisresidem do lado de fora <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de local, [...] é muito difícil de medirdiretamente e existe um debate considerável sobre a precisão <strong><strong>da</strong>s</strong> tentativas demedir m (ou o equivalente de fluxo de gene) indiretamente através deseqüenciamento molecular (ver Whitlock e McCauley 1999). Também éamplamente aceito que m é dependente <strong>da</strong> escala,[... logo] na prática mraramente é conhecido e extraordinariamente é difícil de medir.” (McGill, Maurer eWeiser, 2006)Os modelos nulos também exigem ‘‘parâmetros’’ que são usados para gerar aspredições. Mas Gotelli e McGill (2006) esclarecem que, a medi<strong>da</strong> que mais parâmetrosbiologicamente específicos são incorporados no modelo nulo, ele eventualmente irá‘‘cruzar a linha’’ e deverá passar a ser visto como um modelo baseado em processo. Masmuitos modelos nulos são bastante simples de modo que contêm só alg<strong>uma</strong>s restrições enão especificam mecanismos particulares.McGill, Maurer e Weiser (2006) também buscaram descrever a constante debiodiversi<strong>da</strong>de (θ), como um parâmetro mensurável a priori. Em <strong>uma</strong> interpretação direta,a estimativa de θ é <strong>da</strong><strong>da</strong> pela fórmula: θ = 2J M ν, onde J M é o tamanho de população <strong>da</strong>metacomuni<strong>da</strong>de e ν é a taxa de especiação. Visto isso, eles discutem que em princípio,deveria ser possível estimar θ, porém na prática, a taxa de especiação “ν” raramente éconheci<strong>da</strong> e extraordinariamente difícil de medir. Além disso, as estimativas do tamanho<strong>da</strong> metapopulação estão debilmente defini<strong><strong>da</strong>s</strong>.Cassemiro e Padial (2008) relacionam as conclusões anteriormente expostas eafirmam que a taxa de imigração pode não refletir o fluxo gênico real de <strong>uma</strong>metacomuni<strong>da</strong>de, isso resulta no chamado paradoxo dispersão-fluxo gênico, observadofreqüentemente em metacomuni<strong>da</strong>des aquáticas.Os modelos neutros predizem que qualquer característica de <strong>uma</strong> <strong>da</strong><strong>da</strong> espécie(por exemplo, tamanho de corpo) não deveria estar correlaciona<strong>da</strong> com sua abundânciana comuni<strong>da</strong>de local já que abundância na comuni<strong>da</strong>de local é completamentedetermina<strong>da</strong> pela deriva. Entretanto, a distribuição de qualquer característica <strong><strong>da</strong>s</strong>espécies (por exemplo, tamanho de corpo) deve ser <strong>uma</strong> amostragem fortuita <strong>da</strong>distribuição <strong>da</strong> metacomuni<strong>da</strong>de, que por sua vez, sob o modelo de metacomuni<strong>da</strong>de<strong>neutra</strong>, devia não mostrar nenh<strong>uma</strong> correlação com abundâncias na metacomuni<strong>da</strong>de.Segundo McGill, Maurer e Weiser (2006) existem vários estudos bem conhecidos quefalsificam estas predições, por exemplo, a massa corporal dos indivíduos em


87comuni<strong>da</strong>des locais não é <strong>uma</strong> amostra fortuita <strong>da</strong> metacomuni<strong>da</strong>de e pode estarsignificativamente correlaciona<strong>da</strong> com a abundância em ambas as escalas, local e <strong>da</strong>metacomuni<strong>da</strong>de.Igualmente, alguns autores criticam que as regras de assembléia por nichoresultam em assembléias locais com <strong>uma</strong> estrutura taxonômica que não é representativa<strong>da</strong> estrutura taxonômica <strong>da</strong> metacomuni<strong>da</strong>de (ex: Diamond 1975, Fox 1987, Gotelli eGraves 1996, Kelt e Brown 1999, Weiher e Keddy 1999). Estes padrões estão todos emclara contradição com a predição <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong> que diz que características <strong><strong>da</strong>s</strong>espécies devem estar distribuí<strong><strong>da</strong>s</strong> de modo fortuito dentro de <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de local(porém sob restrições <strong>da</strong> metacomuni<strong>da</strong>de).Cassemiro e Padial (2008) afirmam que as duas predições centrais <strong>da</strong> TNB sãopouco corrobora<strong><strong>da</strong>s</strong> em testes empíricos. E cita McGill, Maurer e Weiser (2006) quemostraram, usando oito medi<strong><strong>da</strong>s</strong> estatísticas diferentes de adequação empírica, que adistribuição <strong><strong>da</strong>s</strong> abundâncias é mais robustamente modela<strong>da</strong> pela estratégia tradicional,através de <strong>uma</strong> curva log-normal, do que a predição multinomial de somatório zero. Porfim, eles mostram que os testes empíricos publicamos rejeitam opressivamente predições<strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong> diferentes <strong>da</strong> DMSZ para RE/A. Por outro lado testes mais fracos sãomais favoráveis às predições <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong>.Além disso, Ricklefs (2006 apud Cassemiro e Padial, 2008) argumenta que aspredições <strong>da</strong> TNB sobre a substituição de espécies entre locais (beta-diversi<strong>da</strong>de) e sobrea distribuição <strong><strong>da</strong>s</strong> abundâncias de espécies só são váli<strong><strong>da</strong>s</strong> quando a taxa de especiação éestima<strong>da</strong> independentemente. Esse autor, em um esforço empírico, observou que asubstituição de espécies em pools regionais acontece muito rapi<strong>da</strong>mente para serexplica<strong>da</strong> somente por processos mecanicistas estocásticos e os indivíduos sãodemasia<strong>da</strong>mente numerosos para que as populações desapareçam somente por derivaem um tempo conveniente. Considerando tanto o modelo de especiação por mutação(point mutation mode) quanto o de especiação por subdivisão de espécies alopátricasatravés de vicariância (random fission mode), Ricklefs (2006 apud Cassemiro e Padial,2008) afirma refutar a TNB.Uma dificul<strong>da</strong>de levanta<strong>da</strong> por Prado (2007) para os testes <strong>da</strong> TNB é que osmétodos estatísticos tradicionalmente usados não são adequados. Em geral, infere-se


88que abundâncias observa<strong><strong>da</strong>s</strong> ajustam-se aos valores previstos por diferentes modelos setestes de aderência, como Qui-quadrado ou Kolmogorov-Smirnov, não indicam desviossignificativos. Porém, ele adverte que este é um uso equivocado <strong>da</strong> lógica de teste designificância, pois coloca o modelo de distribuição testado como a hipótese nula, o que fazcom que sua aceitação depen<strong>da</strong> mais <strong>da</strong> força do teste do que <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de do ajuste.Além disso, esses testes não são adequados para comparação de diferentes modelos,pois avaliam o ajuste a <strong>uma</strong> única distribuição por vez. Testes múltiplos trazem outrosproblemas (Manly, 1992 apud Prado, 2007) e muitas vezes são inconclusivos, pois écomum que os ajustes de diferentes modelos pareçam iguais.McGill, Maurer e Weiser (2006) observaram que em testes de modelos neutrostodos os autores usam a distribuição log-normal como <strong>uma</strong> hipótese nula. Mas diferentesversões do modelo log-normal já foram usa<strong><strong>da</strong>s</strong> sob o mesmo rótulo de modelo nulo paratestar os modelos neutros. Eles propõem que existam níveis variados de força naspredição e testes, e discutem que a teoria <strong>neutra</strong> começou com testes fracos e está agoraprogredindo para testes mais fortes.Para Harte (2003) <strong>uma</strong> vez que ambas as predições dos modelos lognormal e <strong>da</strong>teoria <strong>neutra</strong> parecem muito boas, e quando o assunto é espécies raras elas sãoessencialmente indistinguíveis, cabe <strong>uma</strong> questão: devíamos realmente nos importar se<strong>uma</strong> função adere ligeiramente melhor que a outra? Ou de modo mais geral, como ostestes <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>teorias</strong> deveriam prosseguir na ecologia? Para Harte (2003) as disputas sobrese essa ou aquela função aderem ligeiramente melhor a <strong>uma</strong> abundância relativa deespécie empírica provavelmente não trazem avanços aos estudos.2.3.5 Perspectivas aponta<strong><strong>da</strong>s</strong>A pergunta central desta seção é: o que os ecólogos devem fazer a respeito <strong>da</strong>teoria <strong>neutra</strong> neste momento, <strong>da</strong>do o atual balanço <strong><strong>da</strong>s</strong> evidências? Para Chave é muitocedo para especular sobre o futuro <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong>. Nee e Stone (2003) fornecem <strong>uma</strong>resposta bastante óbvia para a questão: “o futuro <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>dedepende do que se possa pensar sobre o que fazer com ela”. Porém nesta resposta estáo a linha condutora para o encerramento deste trabalho; explicando, primeiramenteiremos nessa seção apontar o que as pessoas têm sugerido para o futuro <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong>(primeiro no fortalecimento dos testes e depois <strong>da</strong> teoria), visando posteriormente


89desenvolver no capítulo <strong><strong>da</strong>s</strong> considerações finais, nossas sugestões relacionando a teoria<strong>neutra</strong> e a sucessão.Em um artigo sobre os testes <strong>da</strong> TNB, McGill, Maurer e Weiser (2006) sugeremque <strong>uma</strong> forma de fortalecê-los é comparar os <strong>da</strong>dos empíricos com as predições domodelo usando-se, estimativas realistas de parâmetros elabora<strong><strong>da</strong>s</strong> a priori (i.e., sem usarparâmetros do modelo para maximizar o ajuste). O caminho mais desejável paradesenvolver estimativas a priori é ter um modelos de mecanismos que forneçamsignificados específicos aos parâmetros e permitam medi<strong><strong>da</strong>s</strong> independentes, direto dosparâmetros observados ou medidos. Sendo que tal habili<strong>da</strong>de forneceria maior força <strong>da</strong>teoria <strong>neutra</strong>.Analisando diferentes testes de modelos neutros McGill, Maurer e Weiser (2006)formularam <strong>uma</strong> lista <strong><strong>da</strong>s</strong> melhores práticas (estatisticamente falando) para testes comoas cita<strong>da</strong> abaixo:práticas.“1) Usar métodos analíticos, ao invés de simulações randomiza<strong><strong>da</strong>s</strong> de Monte queCarlo[apenas matematicamente aleatoriza<strong><strong>da</strong>s</strong>], para obter as DMSZ, pois essesegundo método exigem um número muito grande de simulações para atingirprecisão na abundância <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies mais raras;2) Analisar a adequação do modelo em <strong>uma</strong> varie<strong>da</strong>de de medi<strong><strong>da</strong>s</strong>, em diferentesescalas de abundância para proporcionar um teste mais robusto e com amploajuste;3) Usar métodos de estimação de parâmetro que não contam com otimização dosparâmetros (para as medi<strong><strong>da</strong>s</strong> do modelo usa<strong><strong>da</strong>s</strong> nos próprios testes), isso deveser evitado ao estimar a flexibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> função que está sendo testa<strong>da</strong>;4) Usar <strong>da</strong>dos coletados em um único instante de tempo, e não a média temporal(ou pelo menos em um lapso de tempo muito menor que o tempo de <strong>uma</strong>geração);5) Atribuir intervalos de confiança para estimativas de parâmetro e/ou valores de Ppara testes de hipóteses nulas;6) Usar <strong>uma</strong> função log-normal contínua e não trunca<strong>da</strong> ao invés de aproximaçõesde Preston ou a log-normal de Poisson.” (McGill, Maurer e Weiser, 2006)Eles afirma que até 2006, nenhum teste foi executado seguindo todos estas boasUma solução promissora para estes problemas metodológicos segundo Prado(2007) seria o uso do princípio de verossimilhança estatística para criar protocolos decomparação simultânea de várias hipóteses concorrentes. Um dos mais simples é aseleção de modelos basea<strong>da</strong> em índices de informação, que ordenam um conjunto demodelos de acordo com sua plausibili<strong>da</strong>de frente aos <strong>da</strong>dos, levando em conta sua


90parcimônia. Na escala de McGill, Maurer e Weiser (2006), essa seria a categoria maisrigorosa de testes de ajustes dos <strong>da</strong>dos a modelos teóricos. Através deste método seriapossível, por exemplo, avaliar se um gradiente ambiental afeta o tipo de distribuição deabundância, ou apenas a sua forma.Considerando as perspectivas apenas do ponto de vista dos testes empíricos <strong>da</strong>teoria De Marco (2006) lista as seguintes áreas como interessantes objetos de pesquisa:a) Ajustes à distribuição predita pela teoria <strong>neutra</strong> em <strong>uma</strong> varie<strong>da</strong>de de situaçõese grupos biológicos distintos, já que os testes até agora se restringiram a grupos de aves,árvores, plâncton e corais;b) Avaliar a premissa <strong>da</strong> equivalência entre indivíduos em diferentes assembléiasde espécies. Uma maneira de fazer isso é avaliar se a abundância permanece constantepor uni<strong>da</strong>de de área no mesmo tipo de assembléia em diferentes sistemas;c) Uma <strong><strong>da</strong>s</strong> mais interessantes predições do modelo e que não parece muitocomplexa de testar é de que espécies endêmicas e/ou raras (defini<strong>da</strong> em termos deabundância) devem ser recentes. De Marco (2006) também aponta que essa hipótesepode ser testa<strong>da</strong> com grupos com filogenia mais estabeleci<strong>da</strong> e com bons <strong>da</strong>dos dedistribuição. E sugere que talvez alguns grupos de insetos (libélulas e abelhas) e amaioria dos vertebrados satisfaçam essas condições.Em s<strong>uma</strong>, ao longo dos desenvolvimentos adicionais <strong>da</strong> teoria, será precisoinventar testes mais fortes que possam descobrir alguns sinais não neutros no ruídoneutro.“Tem-se sugerido que comparações de semelhanças entre comuni<strong>da</strong>desdiferentes pertencendo a mesma metacomuni<strong>da</strong>de podem ser <strong>uma</strong> nova possibili<strong>da</strong>de deteste para teoria <strong>neutra</strong>, porém ain<strong>da</strong> faltam ferramentas analíticas fortes”(Etienne eAlonso, 2007).No futuro as <strong>teorias</strong> <strong>neutra</strong>s deverão, segundo Leigh Jr. (2007), buscar previsõessobre:1 distribuições de abundância de espécie em locali<strong>da</strong>des de tamanhos diferentes,curvas de espécie-área em diferentes escalas e processos de substituição de espécies


91onde a extinção equilibra ambas especiação e dispersão (a similari<strong>da</strong>de na composiçãode espécies diminui entre dois sítios conforme aumenta distância que os separa);2 o modo, e a veloci<strong>da</strong>de, de aproximação/tendência a um maior equilíbrio;3 as mu<strong>da</strong>nças, de curto e longo prazo, na composição de espécie em sítios detamanhos diferentes;sobreviver;tempo;4 a distribuição <strong>da</strong> faixa de tamanhos nas espécies(ver Bell, 2001);5 a taxa de propagação <strong><strong>da</strong>s</strong> novas espécies afortuna<strong><strong>da</strong>s</strong> o bastante para6 a estimativa de vi<strong>da</strong> média de <strong>uma</strong> espécie que tenha N adultos em um <strong>da</strong>doLeigh (2007) estima que as suposições simples <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong> devem possibilitarque ela torne-se a base de <strong>uma</strong> síntese sobre limites de dispersão. Para ele esta síntesedeverá ser suplementa<strong>da</strong> por um sub-modelo incluindo <strong>uma</strong> teoria <strong>neutra</strong> de especiação.Hubbell (2001) desenvolveu muitos elementos desta síntese, mas muito do que ele previuain<strong>da</strong> resta para ser feito.Finalmente, para um apanhado geral do atual cenário de pensamentos sobre aTNB, cabe um breve relato histórico retirado de Leigh (2007) e retrata como iniciou aformação <strong>da</strong> opinião de <strong>uma</strong> boa parte dos ecólogos tradicionais:“há alg<strong>uma</strong>s déca<strong><strong>da</strong>s</strong> atrás, a teoria ecológica <strong>da</strong> divergência a<strong>da</strong>ptátiva dirigi<strong>da</strong>por competição construiu suas evidências em padrões, não em processos (vejaHutchinson, 1959; MacArthur, 1960, 1969, 1972). Porém, com o passar do tempo,estas <strong>teorias</strong> tornaram-se enfoca<strong><strong>da</strong>s</strong> em processos e basea<strong>da</strong> em experimentos(ver, por exemplo, Kitajima, 1994; Schluter, 1994; Good et al., 2004, 2006; Grant eGrant, 2006), em grande parte graças aos trabalhos de seus críticos (ex: Dayton,1973; Connor e Simberloff, 1979; Connell, 1980).” (Leigh, 2007)Ele ressalta a ironia destas circunstâncias, pois graças aos críticos <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>teorias</strong>nichistas [alguns dos quais envolvidos com aspectos do pensamento neutro], osproponentes <strong><strong>da</strong>s</strong> divergências a<strong>da</strong>ptativas hoje podem argumentar sobre a importância deprocesso frente aos teóricos neutros orientados por padrões. Ain<strong>da</strong> mais ironicamente,(Chave 2004) diz que duas déca<strong><strong>da</strong>s</strong> mais tarde, alguns dos críticos <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong>endossar <strong>uma</strong> abor<strong>da</strong>gem dogmaticamente falsificacionista para rejeitar a modelagemfeita sobre padrões <strong>da</strong> Teoria Neutra <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de.


92Visando demonstrar o grande interesse dos ecólogos em testar ou até apresentartestes que demonstrem falhas nas previsões <strong>da</strong> TNB, listamos na tabela 3 o número decitações de artigos que testam e/ou revisam testes <strong>da</strong> TNB. Nessa tabela estão expostosos três artigos de maior impacto que se propuseram testar as Teorias Neutras <strong>da</strong>Biodiversi<strong>da</strong>de (Consideramos apenas os artigos que atingiram pelo menos 50 citaçõesaté o momento segundo o site Scopus):Tabela 3: Artigos testando a teoria <strong>neutra</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de com mais de cinqüenta citações, o quepode indicar relevante impacto.Autores Título Ano CitaçõesScopusMcGill A test of the unified <strong>neutra</strong>l theory of biodiversity 2003 152 170Fargione, Brown e Community assembly and invasion: an experimental 2003 115 165Tilmantest of <strong>neutra</strong>l versus niche processesMcGill, Maurer eWeiserEmpirical evaluation of <strong>neutra</strong>l theory 2006 59 79CitaçõesGoogleAcadêmicoMostrando um cenário bem diferente do apresentado por McGill, Maurer e Weiser(2006), Cassemiro e Padial (2008) relatam que em sua meta-análise, dos 1.018 trabalhosque citaram Hubbell (2001) desde sua publicação até 2007 (contidos na base de <strong>da</strong>dosScopus) e observam que 18 trabalhos refutam e 35 corroboram a TNB em estudosempíricos formais. Eles também relatam um crescimento dos estudos que concor<strong>da</strong>mcom a TNB, enquanto que os que refutam não apresentam padrão temporal claro (figura7). Isso pode indicar que os pesquisadores estão encontrando predições condizentes coma TNB na maioria dos estudos.


93Figura 7: Número de artigos que refutam e corroboram a TNB com testes empíricos ao longo dosanos desde a publicação de Hubbell (2001) até 2007 (Fonte: Cassemiro e Padial, 2008)Buscando fugir do rótulo de falsificacionistas, apontado por Chave (2004), McGill,Maurer e Weiser (2006) citam Lakatos que escreve ‘‘as tão fala<strong><strong>da</strong>s</strong> 'refutações' nãolegitimam um fracasso empírico, como Popper pensava, já que todos os programas depesquisa crescem em um oceano permanente de anomalias.’’ E na próxima frase,sugerem um caminho para a TNB, novamente citando Lakatos ‘‘O que realmente contasão as previsões dramáticas, inespera<strong><strong>da</strong>s</strong>, atordoantes: alg<strong>uma</strong>s dessas já sãosuficientes para alterar o status quo’’. Na fase inicial <strong>da</strong> TNB pareceu que a adequaçãoempírica (que ele denomina testes de nivele A) era essa tal previsão atordoante.McGill, Maurer e Weiser (2006) acreditam que “através de <strong>uma</strong> análise maiscui<strong>da</strong>dosa (com testes ca<strong>da</strong> vez mais fortes) veremos que a teoria <strong>neutra</strong> está longe deser tão dramática para proporcionar algum avanço”. E acrescenta que existe na situaçãoatual <strong>uma</strong> debili<strong>da</strong>de de apoio empírico à teoria <strong>neutra</strong>. “O programa de pesquisa primáriopara teoria <strong>neutra</strong> deverá desenvolver estas previsões dramáticas, inespera<strong><strong>da</strong>s</strong> eatordoantes” (Nee e Stone, 2003)McGill, Maurer e Weiser (2006) concluem sua revisão sobre os testes <strong><strong>da</strong>s</strong>previsões <strong>da</strong> TNB <strong>da</strong> seguinte forma:“Resta à teoria <strong>neutra</strong> <strong>uma</strong> extraordinária e talvez exclusiva elegância como teoriaecológica. Tal elegância é um indicativo de que a teoria <strong>neutra</strong> terá algum papel


94importante para ecologia. [...]Nós sugerimos que mesmo que a teoria <strong>neutra</strong> sópossa explicar <strong>uma</strong> fração relativamente pequena <strong><strong>da</strong>s</strong> variações naturais, elaain<strong>da</strong> é <strong>uma</strong> hipótese estatística nula extraordinariamente boa para <strong>uma</strong> varie<strong>da</strong>demuito ampla de perguntas. Entretanto, para teoria <strong>neutra</strong> suceder como qualqueroutro modelo dinamicamente nulo (Enquist et al. 2002) ou teoria alternativa, apesquisa precisa enfocar na padronização de ferramentas para implementar ostestes, entender as implicações de suposições subjacentes a ca<strong>da</strong> soluçãoanalítica <strong>da</strong> DMSZ, e a promover a publicação dos códigos de computador visandoum debate público seguro sobre os méritos dos diversos modelos.” (McGill, Maurere Weiser, 2006)Segundo Chave (2004) a ecologia, assim como qualquer outra ciência, não precisasó de <strong>teorias</strong> preditivas mas também <strong><strong>da</strong>s</strong> conceituais. As ciências físicas abun<strong>da</strong>m de taisexemplos: a teoria cinética de gases desenvolvi<strong>da</strong> no século XIX não é <strong>uma</strong>representação útil <strong>da</strong> natureza (exceto talvez para gases interestelares). Porém, osconceitos fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> física estatística (entropia, temperatura, energia livre) foramprimeiro definidos corretamente dentro desta teoria. A teoria <strong>neutra</strong> em sua formulaçãoatual se assemelha à teoria cinética dos gases: não é <strong>uma</strong> descrição totalmentepertinente <strong>da</strong> natureza, e em sua mais radical interpretação, é cega para todos osmecanismos biológicos que podem contribuir para diferenciação de nicho emcomuni<strong>da</strong>des reais, mas contém aspectos importantes que outras <strong>teorias</strong> não possuem,ou ignoraram: ela coloca <strong>uma</strong> ênfase forte em estocastici<strong>da</strong>de, li<strong>da</strong> com assembléiasgrandes de indivíduos de tipos diferentes, e faz suposições sobre os modos com queestes indivíduos interagem.Mais, um programa de pesquisa deve eventualmente ser exposto aos “fatos <strong>da</strong>vi<strong>da</strong> real”. Os artigos de McGill (2003) e McGill, Maurer e Weiser (2006) evidenciam,talvez muito precocemente, que pelo menos para alguns <strong>da</strong>dos, a teoria <strong>neutra</strong> temresultados piores que o modelo nulo mais antigo e simples de log-normal. Porém selevarmos em conta que “nenhum experimento, relatório experimental, declaração deobservação [...] pode levar por si só à falsificação. Pois não existe nenh<strong>uma</strong> falsificaçãoantes do aparecimento de <strong>uma</strong> teoria melhor” (Lakatos 1970 apud Chave, 2004). Destemodo Chave (2004) considera que até agora os testes têm sido mais utilizados paramelhorar a teoria ao invés de falsificá-la. Sendo assim, Nee e Stone (2003) afirmam demaneira otimista que os resultados conflitantes com os atuais modelos nulos não são ofim para teoria <strong>neutra</strong>: outrossim, são apenas o “fim do início”.Novamente, citamos Lakatos (1970 apud Chave, 2004): “podemos avaliarprogramas de pesquisas mesmo depois de sua refutação, devido a seu poder heurístico:


95quantos novos fatos elas produziram, quão grande foi sua capaci<strong>da</strong>de para explicar asrefutações no decorrer de sua acessão?” Não por considerarmos que a TNB já tenha sidorefuta<strong>da</strong>, apenas esperamos que ela esteja ressurgindo com <strong>uma</strong> modelagem maisrobusta. Mais a título de fechamento desta seção, retomamos a questão do poderheurístico: o que dizer do incremento que elas proporcionaram à matemática ecológica?Com estes critérios, a teoria <strong>neutra</strong> emerge como <strong>uma</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong> mais valiosas de nossostempos.2.3.5.1 MéritosA teoria <strong>neutra</strong> ganha aderentes através de suas predições bem sucedi<strong><strong>da</strong>s</strong>,especialmente de distribuições de abundância de espécie e, em menos quanti<strong>da</strong>de,substituição de espécies. To<strong>da</strong>via, a teoria <strong>neutra</strong> pode proporcionar um resumoeconômico, e talvez até um método executável de interpolação, para muitos tipos de<strong>da</strong>dos de diversi<strong>da</strong>de de florestas extensas, e ricas em número de espécie como aAmazônia. Estes sucessos, porém, dependem de parâmetros imensuráveis, como a taxade especiação "ν" e suposições não realistas como <strong>uma</strong> metacomuni<strong>da</strong>de panmíticaA robustez fun<strong>da</strong>mental e permanente <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>teorias</strong> <strong>neutra</strong>s, contudo, é a grandesimplici<strong>da</strong>de de suas suposições. Estas suposições simples permitem o desenvolvimento<strong>da</strong> teoria em assuntos como curvas de espécie-área, substituição de espécie e padrõesfilogenéticos, que por outro lado, não são precisos pelas <strong>teorias</strong> mecanicistas. A teoria<strong>neutra</strong> <strong>da</strong> substituição de espécies voltou sua atenção para como a origem local edispersão finita de diferentes espécies de plantas contribuem para a substituição <strong><strong>da</strong>s</strong>espécies (Leigh et al., 2004 apud Leigh, 2007).No entanto, a teoria ecológica <strong>neutra</strong> ain<strong>da</strong> tem menos a contribuir, compara<strong>da</strong> asua contraparte <strong>da</strong> genética de população, ao prover hipóteses nulas naturais e tambémtestáveis para que se possa avaliar o significado <strong>da</strong> varie<strong>da</strong>de nos processos biológicos(Leigh, 2007).Finalmente, Polya (1954 apud Leigh, 2007) enfatizou a importância de resolverproblemas mais simples como um degrau (stepping stone) para se resolver os maisdifíceis a ele relacionados. A síntese <strong>neutra</strong> pode servir como este degrau para odesenvolvimento de <strong>uma</strong> teoria mais realista.


96Norris (2003) e Alonso, Etienne e McKane (2006) demonstram entusiasmo emrelação aos índices criticados por McGill, Maurer e Weiser (2006) por não seremdefiníveis a priori. Alonso, Etienne e McKane (2006) dizem que finalmente, após váriosanos de índices estatísticos de diversi<strong>da</strong>de com uso prático, mas de difícil interpretaçãodinâmica, a teoria <strong>neutra</strong> forneceu “o número fun<strong>da</strong>mental de biodiversi<strong>da</strong>de”, que tem<strong>uma</strong> interpretação sóli<strong>da</strong> em termos de <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de <strong>neutra</strong>. Norris (2003) acrescentaque diversi<strong>da</strong>de e abundância são descritas no modelo neutro em termos desseparâmetro matemático único, que por sua vez, é <strong>uma</strong> função de somente duas variáveis:o número total de indivíduos na metacomuni<strong>da</strong>de e a taxa ou probabili<strong>da</strong>de deespeciação. Com estas duas informações , o modelo neutro faz predições que sãobastante semelhantes aos <strong>da</strong>dos de abundância relativa de <strong>uma</strong> varie<strong>da</strong>de de grupos deespécies, desde árvores tropicais até copepodes marinhos.Alonso, Etienne e McKane (2006) afirmam que o mesmo pode ser dito sobre onúmero de dispersão fun<strong>da</strong>mental como <strong>uma</strong> medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> limite de dispersão médio <strong>da</strong>comuni<strong>da</strong>de local sob estudo e, conseqüentemente, estimativa de diversi<strong>da</strong>de de beta.Estas medi<strong><strong>da</strong>s</strong> podem correlacionar-se bem com as quanti<strong>da</strong>des reais que elas tentamrepresentar e poder ser usa<strong><strong>da</strong>s</strong> para comparar diversi<strong>da</strong>de e o grau de isolamento emdiferentes áreas. Como existem métodos disponíveis para estimativa estas quanti<strong>da</strong>desde <strong>da</strong>dos de abundância, valerá a pena investigações adicionais neste assunto.Resumindo, os três principais méritos <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong> são:“Primeiro, um mérito filosófico: a ciência (reducionista) está determina<strong>da</strong> emencontrar o conjunto mínimo de processos que podem explicar satisfatoriamenteos fenômenos observados. A teoria <strong>neutra</strong> identifica um conjunto mínimo mascomum de mecanismos que atuam em to<strong><strong>da</strong>s</strong> as comuni<strong>da</strong>des ecológicasfuncionalmente homogêneas. Este conjunto comum de mecanismos pode estarprogressivamente obscurecido por <strong>uma</strong> cascata de fatores ecológicos ca<strong>da</strong> vezmenos importante e mais dependentes do sistema/contexto. [...] Por essa razão,está sendo extensiva e prosperamente utiliza<strong>da</strong> como um modelo nulo e ele devecontinuar a sendo usa<strong>da</strong> como tal. Segundo, um mérito prático: a teoria <strong>neutra</strong>fornece um método para avaliar diversi<strong>da</strong>de de espécie de <strong>uma</strong> jeitopotencialmente melhor do que fazem os índices de diversi<strong>da</strong>de prévia. Terceiro, emais importante, um mérito intelectual: a teoria <strong>neutra</strong> nutriu e nutre um ricodebate sobre as estruturas <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des durante os últimos anos, desafiandoas abor<strong>da</strong>gens basea<strong><strong>da</strong>s</strong> em nicho com <strong>uma</strong> combinação simples de <strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de,estocastici<strong>da</strong>de, amostragem e dispersão.”(Alonso, Etienne e McKane, 2006)


972.3.5.2 Afrouxamento dos pressupostos e conciliaçõesGotelli e McGill (2006) argumentam que as <strong>teorias</strong> de nicho deviam serfun<strong>da</strong>menta<strong><strong>da</strong>s</strong> sobre um cenário de deriva, <strong>uma</strong> vez que <strong>uma</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong> implicaçõeslevanta<strong><strong>da</strong>s</strong> com os desenvolvimentos <strong>da</strong> TNB é que a deriva provavelmente sempre estápresente. Então <strong>uma</strong> pergunta interessante não é se a deriva acontece, mas se processosa<strong>da</strong>ptativos acontecem também, e como dominam os padrões nas comuni<strong>da</strong>des.Gotelli e McGill (2006) ain<strong>da</strong> expõem que grande parte <strong>da</strong> ecologia, tem visto asrelações entre a teoria <strong>neutra</strong> e a de nicho como um conflito ou escolha do tipo "ou <strong>uma</strong>teoria ou outra" ao invés de ver a teoria de nicho como um extensão e acréscimo à teoria<strong>neutra</strong>. O que nos parece estar em jogo neste tipo de interpretação, é a submissão <strong><strong>da</strong>s</strong><strong>teorias</strong> de nicho, que são historicamente mais antigas, a um cenário cujo plano de fundoé dominado por estocastici<strong>da</strong>de. Conjecturamos que tal submissão não acontecerá emmenos de <strong>uma</strong> geração de cientistas, pois esta questão ultrapassa a esfera de influênciados argumentos puramente racionais.Gewin 2006 expressa um intento conciliador citando Harpole: “Não é o caso deescolher ou nicho ou <strong>neutra</strong>s — ambas as coisas estão acontecendo. Trata-se dedeterminar a importância relativa <strong>da</strong> duas”, também cita McPeek que diz “O que falta aca<strong>da</strong> teoria é o que tem na outra”. Porém, ela esclarece que a suposição <strong>da</strong> <strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>deprovavelmente será descarta<strong>da</strong> em qualquer tentativa de fusão <strong><strong>da</strong>s</strong> duas <strong>teorias</strong>. “Umavez você combina <strong>teorias</strong>, você tem que jogar fora o conceito de <strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de, mas vocênão tem que jogar fora outros aspectos de teoria <strong>neutra</strong> como estocastici<strong>da</strong>de oudispersão,” diz Etienne.Por outro lado, muitos teóricos acreditam que <strong>uma</strong> fusão é desnecessária. McGill(citado por Gewin, 2006) por exemplo, acredita que o legado <strong>da</strong> teoria <strong>neutra</strong> é o grandeprogresso matemático em desenvolvimento em torno do conjunto suposições <strong>neutra</strong>s,através de tal progresso foram possíveis múltiplas e inovadoras predições.Segundo Alonso, Etienne e McKane (2006) os futuros desenvolvimentos <strong>da</strong> teoria<strong>neutra</strong> sem dúvi<strong>da</strong> relaxarão a suposição de <strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de. Isto deverá ser feito de talmodo que <strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de surja naturalmente como um caso limitar. Segundo eles é provávelque as comuni<strong>da</strong>des ecológicas freqüentemente não sejam <strong>neutra</strong>s, mas elas tambémnão são comuni<strong>da</strong>des estritamente forma<strong><strong>da</strong>s</strong> por hierarquias competitivas (Tilman, 1994


98apud Alonso, Etienne e McKane, 2006) Eles conjecturam (baseados em Etienne e Olff,2004; Purves e Pacala, 2006) que dentro de <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de maior, podem haversubcomuni<strong>da</strong>des <strong>neutra</strong>s relaciona<strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>uma</strong>s com as outras através de processos nãoneutros. Nestes cenários, as espécies seriam permutáveis dentro de ca<strong><strong>da</strong>s</strong>ubcomuni<strong>da</strong>de e deste modo, ecologicamente e funcionalmente equivalentes.Apesar de testes mais estritos <strong><strong>da</strong>s</strong> predições recentemente não têm corroborado ateoria <strong>neutra</strong>, sua abor<strong>da</strong>gem sistemática forçou os ecólogos a explorar seus princípios.De fato, muitos ecólogos agora aceitam que as <strong>teorias</strong> não são mutuamente exclusivas.Tendo em mente o anteriormente exposto Gewin (2006) acredita que através <strong><strong>da</strong>s</strong>propostas de fusão <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>teorias</strong> nichistas e <strong>neutra</strong>s os ecólogos estarão se esforçandopara atingir maiores graus do poder preditivo o que exigirá um nível de rigor ain<strong>da</strong> nãovisto na ecologia.A teoria <strong>neutra</strong> foi e ain<strong>da</strong> é considera<strong>da</strong> por muitos ecólogos como <strong>uma</strong> mu<strong>da</strong>nçaradical <strong><strong>da</strong>s</strong> já estabeleci<strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>teorias</strong> de nicho. Porém, para Chave (2004) as <strong>teorias</strong> denicho e <strong>neutra</strong> são complementares, não contraditórias. Ele acrescenta que as tentativaspara unificar estas duas <strong>teorias</strong> atualmente estão dificulta<strong><strong>da</strong>s</strong> não só por problemasmatemáticos mas também por preconceitos psicológicos ...Dentro dos problemas matemáticos citados por Chave, temos <strong>uma</strong> situação emque os testes de hipóteses nulas levam a <strong>uma</strong> familiar interpretação dicotômica de H0contra não-H0. Mas Gotelli e McGill (2006) sugerem outro modo de testar os modelosneutros, como hipótese nula, ele sugere que <strong>uma</strong> possível abor<strong>da</strong>gem seria “particionar avariância” e tenta avaliar a contribuição relativa de diferentes mecanismos que atuamsimultaneamente nos padrões observados.Mesmo Hubbell (2001) sugere que a unificação completa em <strong>uma</strong> teoria <strong>da</strong>biodiversi<strong>da</strong>de deve incluir aspectos importantes <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>teorias</strong> do nicho, e que essa teoriaain<strong>da</strong> está para ser desenvolvi<strong>da</strong>.Etienne e Alonso (2007) apontam modelos neutros recentemente vêm permitindovariações no tamanho <strong>da</strong> metacomuni<strong>da</strong>de, ou seja, já existem afrouxamentos nasuposição de somatório zero (ex: He, 2005; Volkov et al., 2003, 2005) . Um exemplonotável segundo esses autores, é o modelo de Volkov et al.(2003) que tem a proprie<strong>da</strong>decuriosa de não respeitar a suposição de soma zero no nível regional, mas faz uso desta


99suposição no nível local. Curiosamente, ambos os trabalhos de Volkov contam com acolaboração de Hubbell que em princípio argumentava em favor <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de <strong><strong>da</strong>s</strong>uposição de somatório zero.2.3.5.3 Relações transversaisConsideramos que atualmente existe a tendência interdisciplinar de procuraranalogias e formulações matemáticas de outros campos do pensamento científico paratratar alguns problemas <strong>da</strong> TNB. Neste sentido 3 importantes contribuições estão vindo defora <strong>da</strong> ecologia demográfica, a citar: Ecologia de ecossitemas, evolução molecular, efísica estatística.Conforme relata Gewin (2006) enquanto alguns ecólogos buscam fundir as <strong>teorias</strong><strong>neutra</strong>s e de nicho, Hubbell está tentando combinar teoria <strong>neutra</strong> com modelos ecológicosde alometrias metabólicas (ex: Kooijman 1986 e seu modelo dinâmico de orçamentosenergéticos (Dynamic Energy Budgets); Brown, 2004 e sua Teoria Metabólica <strong>da</strong>Ecologia; para <strong>uma</strong> revisão crítica destas duas <strong>teorias</strong> metabólicas <strong>da</strong> ecologia ver Vander Meer 2006), que buscam explicar relações constantes ou previsíveis entre variáveismorfofisiológicas <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies (tais como o tamanho de corpo e taxa metabólica) evaiáveis demográficas (como tamanho e densi<strong>da</strong>de populacional e taxas de reprodução,longevi<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de). Gewin (2006) acredita que usando esta abor<strong>da</strong>gem, pode serpossível de ligar as variações de energia através do espaço e o tempo com o número deindivíduos de to<strong><strong>da</strong>s</strong> as espécies, além de conferir um elo adicional entre a física e aecologia de comuni<strong>da</strong>des.Segundo Etienne e Alonso (2007) o modelo neutro com mutação de ponto é umexato analógico do modelo neutro de evolução molecular em genética de população, comas palavras indivíduos substituindo genes, espécies substituindo alelos e especiaçãosubstituindo mutação. Segundo eles, isso abre um grande conjunto de ferramentasmatemáticas e estatísticas desenvolvi<strong><strong>da</strong>s</strong> na genética de população, para uso também naecologia de comuni<strong>da</strong>des.Porém, para um olhar mais ponderado dessas analogias entre ecologia decomuni<strong>da</strong>des e genética de populações, vejamos o que escrevem Nee e Stone (2003):“embora os modelos neutros de evolução os <strong>da</strong> estrutura <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>decompartilhem semelhanças, existem, diferenças claras entre ambos tanto em


100relação aos processos subjacentes às mu<strong>da</strong>nça quanto nos <strong>da</strong>dos disponíveispara testar-los. Enquanto no modelo <strong>da</strong> evolução molecular os mesmos quatronucleotídeos básicos já forneceram gigabytes de <strong>da</strong>dos de seqüências e cujaevolução de ca<strong>da</strong> locus é efetivamente independente.Em contraste, nos modelos neutros de composição de comuni<strong>da</strong>des envolvem umnúmero extremamente maior de estados alternativos (o número de espécie),ligados por processos indefinidos de substituição. Isso faz os modelos específicosmuito mais difíceis de definir, e atualmente existem menos <strong>da</strong>dos disponíveis paratestá-los. Além disso, na teoria <strong>neutra</strong> unifica<strong>da</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de e biogeografia,ca<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de é equivalente a um único loco: e não existe nenh<strong>uma</strong>possibili<strong>da</strong>de aqui de testar diferentes locos (comuni<strong>da</strong>des) através de testesequivalentes.”(Nee e Stone, 2003)Visto as diferenças entre os dois campos Nee e Stone (2003) sugerem que,diferente de alelos,árvores podem ter alg<strong>uma</strong>s proprie<strong>da</strong>des que são ideais paraestu<strong>da</strong>r. Reformulando um resultado <strong>da</strong> genética de população (ex: Tavare, 1984), ateoria <strong>neutra</strong> prediz que, se tomarmos <strong>uma</strong> amostra fortuita de árvores <strong>da</strong> floresta, aprobabili<strong>da</strong>de que qualquer espécie particular seja a mais antiga, em termos de quandoela surgiu por especiação, é proporcional a sua freqüência na amostra. Eles acreditamque esta estimativa de i<strong>da</strong>de de <strong>uma</strong> espécies pode ser testa<strong>da</strong> confrontando-a com amedi<strong><strong>da</strong>s</strong> de relógio molecular. O que para eles poderá desenvolver <strong>uma</strong> possívelavaliação pela teoria <strong>neutra</strong> ecológica que de outro modo seria é mais difícil deimplementar para alelos.Etienne e Alonso (2007) acreditam que futuros avanços poderão ser realizadostraçando-se paralelos entre a genética de populações e a teoria <strong>neutra</strong> <strong>da</strong> evoluçãomolecular e que esta estratégia deve receber maior atenção, a medi<strong>da</strong> que maisresultados matemáticos venham ser obtidos neste campo.“Por exemplo, a teoria espacial coalescente pode aju<strong>da</strong>r a incorporar filogenia naecologia de comuni<strong>da</strong>des. A aplicação de ferramentas, conceitos, e idéias <strong>da</strong> físicaestatística na ecologia também merece estudos adicionais. Energia é um conceitochave em ambas física e ecologia. Em biologia evolutiva, analogias matemáticascom a física estatística também abriram portas para <strong>uma</strong> poderosa maquinariaestatística que pode render novas idéias na evolução quase-<strong>neutra</strong>. Nóscreditamos que tentativas interessantes poderiam ser feitas para introduzirrestrições enérgicas na modelagem estocástica usa<strong>da</strong> para desenvolver a teoria<strong>neutra</strong> atual.”( Etienne e Alonso, 2007)Uma <strong><strong>da</strong>s</strong> metas <strong>da</strong> física estatística é predizer o comportamento de um sistemaque consiste em um coletivo partículas. Embora estas enti<strong>da</strong>des individuais possam terum comportamento supostamente complexo e próprio, normalmente suposiçõesrelativamente simples sobre suas dinâmicas microscópicas e suas interações sãosuficientes para obtermos as proprie<strong>da</strong>des macroscópicas do sistema. A questão central


101para Etienne e Alonso (2007) é compreender que suposições são essenciais no nívelindividual para explicar proprie<strong>da</strong>des macroscópicas observa<strong><strong>da</strong>s</strong> no nível do sistemainteiro. Esta abor<strong>da</strong>gem foi muito bem sucedi<strong>da</strong> para física. Durante a última déca<strong>da</strong> elatem sido aplica<strong>da</strong> a um número crescente de sistemas biológicos, e em particular, paraecologia de comuni<strong>da</strong>des. A teoria <strong>neutra</strong> de comuni<strong>da</strong>des é um exemplo claro destaabor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong> “mecânica estatística”.A partir de suposições extraordinariamente simples sobre a dinâmica de morte enascimento de indivíduos, <strong>uma</strong> grande varie<strong>da</strong>de de implicações podem ser deriva<strong><strong>da</strong>s</strong>para diferentes proprie<strong>da</strong>des <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des ecológicas, por exemplo, a forma deárvores filogenéticas para a distribuição geográfica de espécie no espaço etempo(Etienne e Alonso, 2007) .2.4 ConclusõesComo vimos na história dos estudos <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de, as pesquisas foramencaminhando-se para <strong>uma</strong> complexificação crescente de tal forma que ao final do séculoXX, existiam tantas explicações para os padrões de biodiversi<strong>da</strong>de, tantas causas efatores influenciado estes padrões que a comuni<strong>da</strong>de científica ficou em dúvi<strong>da</strong> seexistiria a possibili<strong>da</strong>de de estu<strong>da</strong>r a biodiversi<strong>da</strong>des <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des, e a forma comoelas estabeleciam-se (Ex: Mcgill, 2007 ver a designação de “fracasso científico coletivo”na p.55).Para alguns filósofos como Lawton (1999 apud El-Hani, 2006) a ecologia decomuni<strong>da</strong>des deveriam merecer menor atenção na agen<strong>da</strong> de pesquisa ecológica. Elejustifica que seria muito difícil encontrar leis na ecologia de comuni<strong>da</strong>des devido aonúmero de contingência intratável nas escalas intermediárias <strong><strong>da</strong>s</strong> quais se ocupa aecologia de comuni<strong>da</strong>des. E então, tal agen<strong>da</strong> deveria ocupar-se de buscar e descreverleis ecológicas em áreas mais previsíveis como a ecologia de populações ou a macroecologia.Com base no exposto ao longo <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> metade deste capítulo acreditamos quea teoria <strong>neutra</strong> trouxe, novo fôlego para a ecologia de comuni<strong>da</strong>des. Críticos <strong>da</strong><strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de como Clark (2008) admitem que a teoria <strong>neutra</strong> contribuiu para oreconhecimento <strong><strong>da</strong>s</strong> limitações de modelos de nicho dimensionalmente baixos, mas não


102ajudou solucioná-las. E acrescenta que mesmo este problema, já havia sidoeloqüentemente descrito a quase meio-século atrás com o clássico trabalho deHutchinson, “The paradox of the plankton“, publicado em 1961.Consideramos, que muito além de apontar falhas na teoria tradicional, na pior <strong><strong>da</strong>s</strong>hipóteses, a TNB proporcionou <strong>uma</strong> revitalização do uso de modelos estatisticamentenulos para testar supostos mecanismos que de outra forma seriam consideradosver<strong>da</strong>deiros de antemão. Além disso, os modelos neutros fornecem testes <strong><strong>da</strong>s</strong> própriassuposições <strong>da</strong> <strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de(e.i. equivalência e simetria), logo, <strong>teorias</strong> como a de Hubbellsão valiosas pois, ao contrário <strong><strong>da</strong>s</strong> tautologias, elas podem falhar em alguns testes. Aofalhar, elas nos contarão sobre a importância dos mecanismos que elas em princípioconsideravam falsos.Levantando outra questão, Gewin (2006) pergunta:“Qual é o nível de precisão eacurácia devemos exigir de <strong>uma</strong> teoria?”. E argumenta que a teoria de Newton é <strong>uma</strong>aproximação <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de geral. Ela acredita que o que Hubbell quer com sua teoria éprovocar rigor nos debates científicos <strong>da</strong> ecologia. E sugere em tom conciliador que, “deum ponto de vista filosófico, o modelo neutro pode ser <strong>uma</strong> primeira aproximação paraestu<strong>da</strong>rmos a estrutura macroscópica <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des, e posteriormente, pode-se inserirelementos relevantes tirados <strong>da</strong> teoria de nicho.”Sustentamos um ponto de vista levemente diferente de Gewin, pois acreditamosque não se trata apenas de melhorar o poder preditivo <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>teorias</strong> existentes utilizando-semodelos neutros como plano de fundo. Modelos neutros têm valor preditivo por si só,principalmente situações complexas, pois, “estocastici<strong>da</strong>de e ordem são relevantes para ocomportamento do sistema complexo” (Mazzocchi, 2008).Colocamo-nos completamente contra a opinião de Clark, segundo qual a teoria<strong>neutra</strong> representa <strong>uma</strong> distração teórica que está tirado o enfoque dos processos hámuito conhecidos. Se assumirmos <strong>uma</strong> posição teórica onde considerarmos todos asinferências do passado como se estivessem tão bem fun<strong>da</strong>menta<strong><strong>da</strong>s</strong> que questioná-lasconstitui <strong>uma</strong> per<strong>da</strong> de tempo, então ciências bastante preditivas como a mecânicaestariam muito próximas de encerrar suas ativi<strong>da</strong>des de pesquisa.Clark também argumenta que a teoria <strong>neutra</strong> está tirando atenção e financiamentos<strong><strong>da</strong>s</strong> ciências <strong>da</strong> conservação. Nós por outro lado acreditamos que a ecologia aplica<strong>da</strong>, e


103mais especificamente a área <strong>da</strong> pesquisa em conservação, recebeu um incremento nosinvestimentos, principalmente com a recente revigoramento do ambientalismo. Nesteínterim, acreditamos que as ciências <strong>da</strong> conservação não estão entre as disciplinascientíficas mais carentes de financiamento. E preferimos adotar <strong>uma</strong> visão pluralista deciência, para a qual o desenvolvimento <strong>da</strong> pesquisa científica está aberto a to<strong>da</strong>possibili<strong>da</strong>de de pesquisa (desde que respeite os limites éticos e possibilite estudosistemático testável empiricamente). Sendo assim, as disciplinas científicas não devem“digladiar-se” com argumentos de cunho financeiro quando estão tratando do mérito desuas idéias.Contudo, compartilhamos <strong>da</strong> opinião acautela<strong>da</strong> de Hull e Falcucci (1999) sobre ouso de modelos em ecologia. Eles afirmam:“Lotka e Volterra têm <strong>uma</strong> mensagem para ecólogos. Fun<strong>da</strong>mentalmente,sugerem que o ecólogo aceite as ferramentas matemáticas [e por extenção osmodelos] como formalizações necessárias. E então, quando as perguntas originaisse tornarem irrelevantes e surgirem novas perguntas, devemos mu<strong>da</strong>r asferramentas. A pesar do modelo de Lotka-Volterra tem seu valor originali<strong>da</strong>de, elenão explicava as relações estruturais e as variações temporais. Seu determinismoe reducionismo não se fizeram suficientes, mas sem ter estu<strong>da</strong>do seus casos, nãoteríamos sabido disto.” Hull e Falcucci (1999)Encerramos nossas conclusões com nossa visão do que esperamos de um Modelo,para no próximo capítulo sugerirmos a aplicação de modelos neutros para as <strong>teorias</strong> <strong><strong>da</strong>s</strong>ucessão. Nas palavras de Harte (2003):“Talvez os ecólogos algum dia desenvolvam <strong>uma</strong> teoria cujas simplificações seassemelham ao suposição dos gases ideais na termodinâmica e na físicaestatística: <strong>uma</strong> suposição aparentemente absur<strong>da</strong> (moléculas pontuais, emcolisões puramente elásticas) mas que resultou em previsões incrivelmenteprecisas para <strong>uma</strong> multidão de fenômenos. Nenhum físico diria que, porque PVnão é exatamente igual nRT, termodinâmica clássica está erra<strong>da</strong>. Vamos esperarque os ecólogos prestem a atenção nesta mensagem.” (Harte, 2003)


1043 CONSIDERAÇÕES FINAIS:CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA NEUTRA DA BIODIVERSIDADEPARA OS ESTUDOS DA SUCESSÃO“O pensamento complexo não rejeita, de maneira alg<strong>uma</strong>, aclareza, a ordem, o determinismo, mas os sabe insuficientes”Edgar MorinAntes de expormos nossas sugestões e recomen<strong>da</strong>ções de como a teoria podecontribuir para a teoria <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de cabe respondermos <strong>uma</strong> questão fun<strong>da</strong>mentalconcernente à consistência entre os pressupostos destas duas <strong>teorias</strong>.3.1 É possível <strong>uma</strong> teoria <strong>neutra</strong> <strong>da</strong> sucessão ecológica?De um modo bastante conformado com o papel exercido pela Teoria Neutra <strong>da</strong>Biodiversi<strong>da</strong>de Bell (2002) afirma que ela “é <strong>uma</strong> teoria sobre diversi<strong>da</strong>de; não <strong>uma</strong> teoriade processos como a sucessão ecológica, <strong>da</strong> mesma maneira que a teoria <strong>neutra</strong> <strong>da</strong>genética de população não é <strong>uma</strong> teoria de a<strong>da</strong>ptação”. Mas após expor esta limitação,expões que “dentro de seu domínio limitado, porém, é muito bem sucedi<strong>da</strong>, e apresenta aimpressionante habili<strong>da</strong>de de explicar padrões que, por um século, têm embaraçadoecólogos e que ain<strong>da</strong> não haviam sido tão desafiados”.A pesar de tratar de temas comuns à sucessão, tais como: “dominância”, rari<strong>da</strong>de,densi<strong>da</strong>de e abundância de indivíduos, número de espécies em <strong>uma</strong> área, a teoria <strong>neutra</strong>tem apresentado questões bastante diferentes <strong><strong>da</strong>s</strong> propostas para estudos de sucessão.Por exemplo, a teoria <strong>neutra</strong> importa-se com a as proporções <strong>da</strong> abundância deindivíduos <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies mais freqüentes, porém não determina explicitamente queespécies ou tipos de espécies devem estar com as maiores freqüências em um


105determinado lugar e período durante o processo <strong>da</strong> sucessão. Ela também não foioriginalmente desenvolvi<strong>da</strong> para tratar de outras variáveis presentes em estudos desucessão, como biomassa, produção primária, ciclagem de nutrientes, relaçõesecológicas (pre<strong>da</strong>ção, parasitismo, polinização) e estrutura de redes tróficas.Além disso, a teoria <strong>neutra</strong> assume equivalência funcional ao nível <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>deinteira, para Hubbell (2005) isto é muito mais geral do que é tipicamente admitido pelosecofisiologistas e ecólogos de ecossistema quando eles agrupam espécies semelhantesem grupos funcionais (por exemplo Reich, Walters e Ellsworth 1997). Hubbell 2005também ressalta que não existe nenh<strong>uma</strong> dicotomia clara <strong><strong>da</strong>s</strong> histórias <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,separando as síndromes em grupos funcionais. De fato, ele supõe que existe um contínuoe espécies intermediárias entre os extremos de características <strong>da</strong> história de vi<strong>da</strong>, e quetambém existe um contínuo em outras características as demográficas como taxas defecundi<strong>da</strong>de, mortali<strong>da</strong>de, e crescimento, tamanhos de população, distribuições de classede espessura de caule, e densi<strong>da</strong>de de madeira.Hubbell (2005) explica que reconhecer grupos funcionais implica aceitar que asdiferenças de nicho entre estes grupos importa para (e pode determinar) a composição,estabili<strong>da</strong>de e poder de recuperação <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des sobre perturbação. Contudo eleargumenta que essa importância continua bastante controversa. Horn (1974) já alertavaque o aumento assintótico <strong>da</strong> riqueza <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des ao longo <strong>da</strong> sucessão poderia serresultado trivial <strong>da</strong> colonização e portanto a independente do efeito <strong><strong>da</strong>s</strong> a<strong>da</strong>ptaçõesespecíficas para determinados estádios. Mais, para Horn as a<strong>da</strong>ptações de statussucessional podiam ter efeito na veloci<strong>da</strong>de recuperação.Utilizaremos a frase de Norris, abaixo cita<strong>da</strong>, para observar outros dois pontosconflitantes entre a TNB e os estudos de sucessão. A teoria <strong>neutra</strong> emerge de <strong>uma</strong>descrição matemática <strong>da</strong> deriva ecológica de somatório zero funcionando sobre muitasgerações (Norris, 2003; grifo nosso). Primeiro, os estudos de sucessão geralmenteestu<strong>da</strong>m comuni<strong>da</strong>des que, ao menos no primeiro momento após a perturbação, estãoaumentando ou diminuindo o número total de indivíduos, mesmo que só num curtoperíodo inicial, o que claramente não é condizente com a suposição de somatório zero.Consideramos este conflito menos importante pois conforme discutido na seção sobre opressuposto <strong>da</strong> saturação e sometório zero (p. 64), até Hubbell já não considera estasuposição tão crucial para sua teoria e diversos modelos vêm sendo desenvolvidos


106eliminando tais suposições (EX; Volvok, 2003). Já o segundo ponto, que trata do longotempo exigido para análises <strong>neutra</strong>s, é bastante preocupante para as possíveisaplicações <strong>da</strong> TNB à sucessão. Também é freqüente vermos nas fórmulas de modelosneutros o limite temporal <strong><strong>da</strong>s</strong> equações diferenciais tendendo ao infinito (t→∞).Acreditamos que no futuro com o aumento do uso de modelagem espacialmenteexplícita e o desenvolvimento de melhores estimativas de taxa de especiação, venhadesaparecer ou amenizar esse problema decorrente <strong>da</strong> suposição “rápido-lento” que,como vimos na seção 2.3.1.3 sobre a metacomuni<strong>da</strong>de (p. 65), foi gera<strong>da</strong> pelo uso demodelagens espacialmente implícitas. Parte desta tendência a escalas de tempo eespaço maiores que as <strong>da</strong> sucessão é <strong>da</strong><strong>da</strong> pelo intento unificador <strong>da</strong> teoria de Hubbellpara analisar não só as dinâmicas de comuni<strong>da</strong>des locais como também a biogeografia.Ain<strong>da</strong> assim concor<strong>da</strong>mos com a recomen<strong>da</strong>ção de McGill, Maurer e Weiser(2006) para a redução dos intervalos de tempo utilizados para teste de modelos neutros.To<strong>da</strong>via, acreditamos que a meta de condução de pesquisas de sucessão por prazosmais longos deve ser melhor valoriza<strong>da</strong> e persegui<strong>da</strong>. Uma outra forma, para tentarresolver essa questão está em modelagens <strong>neutra</strong>s um pouco mais processuais, as quaispoderão auxiliar-nos na compreensão do processo de estruturação <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des.Esta linha de pesquisa já teve <strong>uma</strong> boa contribuição em 2004 com o trabalho de Etienne eOlff. Tal trabalho traz <strong>uma</strong> abor<strong>da</strong>gem genealógica para teoria <strong>neutra</strong> e considerasimultaneamente tempo e espaço retomando as mesmas proprie<strong>da</strong>des ergódicas dosprocessos de Markov usa<strong><strong>da</strong>s</strong> por Sale na déca<strong>da</strong> de 70.Ain<strong>da</strong> sobre esse tipo de modelo neutro processual, Leigh (2007) considera quesuas previsões para mu<strong>da</strong>nças ao longo do tempo freqüentemente servem como boashipóteses nulas, porque falsificá-las, diferentemente <strong>da</strong> maioria <strong><strong>da</strong>s</strong> falsificações <strong><strong>da</strong>s</strong>previsões de <strong>teorias</strong> não-<strong>neutra</strong>s had hoc sobre a distribuições de abundância de espécie,freqüentemente sugerem hipóteses alternativas que podem eluci<strong>da</strong>r o processo deorganização <strong><strong>da</strong>s</strong> florestas.A estado atual do desenvolvimento <strong><strong>da</strong>s</strong> duas <strong>teorias</strong> permite concluir que sãomuitos os pontos contrastantes entre a TNB e as Teorias <strong>da</strong> Sucessão Ecológica. Porémnem tudo diverge entre estas duas <strong>teorias</strong>, conforme vimos no final <strong>da</strong> seção 1.3.4 sobrebiodiversi<strong>da</strong>de na sucessão (p. 29) já existem na sucessão estudos experimentais eobservações de redundância funcional correlatos à equivalência funcional (ao menos em


107pequenos grupos de espécies, não em to<strong>da</strong> “comuni<strong>da</strong>de trófica” como propõe Hubbel,2001).Dado o exposto, e tendo como ponto de parti<strong>da</strong> as tendências históricasdesenvolvi<strong><strong>da</strong>s</strong> nas déca<strong><strong>da</strong>s</strong> de 70 e 80 para a sucessão, conforme visto no primeirocapítulo, podemos identificar três vieses epistemológicos construídos ao longo <strong>da</strong> históriarecente <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>teorias</strong> <strong>da</strong> sucessão ecológica, a citar: A) Reducionismo – onde os elementos<strong>da</strong> base (populações) desenvolvem a dinâmica que explica o sistema (comuni<strong>da</strong>de); B)Mecanicismo de causas eficientes – que busca explicar a composição <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de pormecanismos e causas subjacentes com cunho nichista/a<strong>da</strong>ptacionista ouinteracionista/selecionista; C) Negação <strong>da</strong> teleologia ou do equilíbrio - considera váriaspossibili<strong>da</strong>des de clímax que não atingem um só estado de equilíbrio composicionaldeterminável a partir <strong><strong>da</strong>s</strong> condições iniciais; também considera-se que o climax nãoprecisa ter <strong>uma</strong> composição invariável de espécies.Primeiro cabe ressaltar que a TNB, como apresenta-se atualmente, estádesenvolvi<strong>da</strong> na tradição reducionista <strong>da</strong> ciência moderna. Para explicar as “proprie<strong>da</strong>desmacroscópicas” <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de a TNB substituiu o enfoque nas “proprie<strong>da</strong>desespecíficas <strong><strong>da</strong>s</strong>” ou “relações entre as” partes componentes <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, no casopopulações, e passou para a focar no comportamento médio <strong>da</strong> dinâmica intrínseca eestocástica dos elementos de menor nível de complexi<strong>da</strong>de, os indivíduos. Esta estratégiapode refletir <strong>uma</strong> mu<strong>da</strong>nça maior na biologia, que para Daniel Simberloff (1980) naecologia, só veio a acontecer meio século depois de ter se iniciado na genética depopulações 41 e na biologia evolutiva por influências de disciplinas científicas como atermodinâmica (a transformação <strong>da</strong> “clássica” á “estatística”). Para ele estamospresenciando <strong>uma</strong> revolução materialista-probabilistica onde “deixamos de enfatizar assemelhanças entre comuni<strong>da</strong>des diferentes e passamos a procurar diferenças entre elas,partimos de análises de grupos de populações para populações individuais...” - lembre-seque o artigo foi escrito em 1980 - e enfim, “enfocando em enti<strong>da</strong>des materiais eobserváveis ao invés de construtos ideais”.41 Está deixando de explicar a evolução dos fenótipos basea<strong>da</strong> na enti<strong>da</strong>de metafórica dos genes e passa agora a estudá-la porseqüências nucleotídicas (ver: Keller, 2001; El-Hani, 1995).


108Um argumento a favor desta vira<strong>da</strong> metodológica é que a modelagem <strong>neutra</strong> parapadrões macro-ecológicos (de comuni<strong>da</strong>des a domínios biogeográficos) proporcionou oacréscimo de um método de tratamento amostral robusto e inovador. Acreditamos que talmétodo poderá possibilitar um melhor tratamento <strong><strong>da</strong>s</strong> questões <strong>da</strong> dispersão, que comovimos nas conclusões do primeiro capítulo, foram bastante negligencia<strong><strong>da</strong>s</strong> pelos estudossucessionais reducionistas até a déca<strong>da</strong> de 80. Sendo assim podemos observar que tantoas <strong>teorias</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de quanto as <strong>teorias</strong> <strong>da</strong> sucessão estão seguindo a mesmatendência ao reducionismo.Outro viés epistemológico é a aceitação do não equilíbrio, que reporta ao problemado clímax. Botelho (2007) explica que originalmente as Teorias de Composição de Nichospreviam que as comuni<strong>da</strong>des deveriam possuir <strong>uma</strong> estrutura estável que foihistoricamente mol<strong>da</strong><strong>da</strong> por “competição entre” e “a<strong>da</strong>ptações de” espécie diferentes àscondições microclimáticas locais (ver Whittaker, 1975). Se um evento disponibilizarecursos, o equilíbrio é restabelecido. Mais recentemente, com o desenvolvimento dosestudos de dinâmica de clareiras tanto a idéia de um clímax dinâmico retomou parte doespaço perdido a estabili<strong>da</strong>de quanto a estocastici<strong>da</strong>de retoma seu papel frente àsexplicações tradicionais que ain<strong>da</strong> compartilham características nichistas. To<strong>da</strong>via, ain<strong>da</strong>resta dentre os “ecólogos de clareiras” aqueles que insistem em usar classificações deespecifici<strong>da</strong>des funcionais <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies, denominando-as de “espécies de clareira”.Como alternativa a tradição estabeleci<strong>da</strong> Botelho (2007) esclarece que a TNB não temesperado que a estrutura seja estável, mas dinâmica. Ca<strong>da</strong> vez que recursos sãodisponibilizados, ocorre <strong>uma</strong> "deriva ecológica" e <strong>uma</strong> nova estrutura é estabeleci<strong>da</strong>.Vimos também que já existem alguns modelos estocásticos para dinâmicas <strong>da</strong>vegetação (Processos de Markov e loteria de espaços). To<strong>da</strong>via, Van Hulst (1992)discorre que na ausência de <strong>uma</strong> estrutura teórica de suporte para interpretação dosresultados dos modelos estocásticos de dinâmicas vegetacionais, a estocastici<strong>da</strong>detornou-se, <strong>uma</strong> explicação minoritária e posterior a escolha dos outros modelos, ao invésde <strong>uma</strong> parte essencial <strong>da</strong> modelagem vegetacional.Em virtude do que foi mencionado, propomos que a teoria <strong>neutra</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>denão destoa completamente <strong><strong>da</strong>s</strong> tendências recentes dos estudos sucessionais. Eacreditamos que no futuro esta teoria poderá agregar as diferentes abor<strong>da</strong>gens


109estocásticas em um corpo teórico melhor sedimentado para dessa forma a deriva poderretomar seu espaço eclipsado pelo determinismo.3.2 Por <strong>uma</strong> teoria sistêmica <strong>da</strong> sucessão ecológica quase-<strong>neutra</strong>É crescente o número de publicações que se destinam a fazer <strong>uma</strong> abor<strong>da</strong>gemsistêmica nas mais diferentes áreas <strong>da</strong> ciência. Uma grande parte delas abor<strong>da</strong> assuntoscomo “caos determinístico”, “fractais”, “matemática não linear”, “diagrama de bifurcação”,“autômatos celulares”, “redes fora de escala”, “redes livres de escala” ... atribuindo aalg<strong>uma</strong> porção destas ferramentas os rótulos de pesquisa, abor<strong>da</strong>gem, visão oupensamento sistêmicos.Também é raro ouvir alguém declara-se firmemente contra "<strong>uma</strong> abor<strong>da</strong>gem desistemas" o que para Checkland (1984) provavelmente indica não a força <strong>da</strong> idéia massim a debili<strong>da</strong>de carrega<strong>da</strong> por estas palavras. Checkland explica que essa expressão étão livremente usa<strong>da</strong>, e significa tantas coisas diferentes para pessoas diferentes, quemuitos potenciais oponentes provavelmente considerariam "<strong>uma</strong> abor<strong>da</strong>gem de sistemas"não como invencível mas como <strong>uma</strong> idéia que não que vale a pena atacar. Manson(2001) acrescenta que a natureza exata <strong>da</strong> pesquisa complexa é difícil de estimar devidoà ampla gama de idéias surgi<strong>da</strong> nas múltiplas disciplinas em que elas estão sendotrata<strong><strong>da</strong>s</strong>. Buscaremos ao longo desta seção tornar bastante clara nossa visão <strong><strong>da</strong>s</strong> <strong>teorias</strong>sistêmicas.Manson (2001) considera que na prática, a teoria <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de não é na<strong><strong>da</strong>s</strong>imples, pois não há nenh<strong>uma</strong> teoria <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de identificável. Outrossim, o que há éum número de <strong>teorias</strong> comprometi<strong><strong>da</strong>s</strong> com sistemas complexos agrega<strong><strong>da</strong>s</strong> sob o rótulogenérico de pesquisa <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de. Em segui<strong>da</strong> Manson passa a listar <strong>uma</strong> série demetodologias abrangentes usa<strong><strong>da</strong>s</strong> na pesquisa atribuindo a elas o rótulo <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de(ex: complexi<strong>da</strong>de algorítmica, complexi<strong>da</strong>de de agregados...).Utilizaremos <strong>uma</strong> paráfrase de Ison e Sclindwein (2006) para descrever como seconstroem as pesquisa sistêmica em nossa perspectiva: “ao desenvolvermos nossascrenças e <strong>teorias</strong> estamos inserindo-nos em tradições. Uma tradição é <strong>uma</strong> cadeia depreconceitos (ou pré-entendimentos), pressupostos que fornecem respostas e estratégiaspossíveis para ação.” Assim como Ison e Schlindwein acreditamos que os pressupostos


110de <strong>uma</strong> matriz de pesquisa produzem <strong>uma</strong> melhor caracterização de sua tradição, aoinvés de descrevê-las através <strong><strong>da</strong>s</strong> ferramentas que elas usam.Ison e Schlindwein acrescentam que “tradições não são só modos de ver e agirmas um caminho para ocultar outros modos; elas surgem no fazer e constituem a base depráxis. Portanto, tradições não devem ser vistas apenas como rótulos para modos deação.” Para ter <strong>uma</strong> breve noção de como se estrutura a matriz <strong>da</strong> pesquisa sistêmica,examinaremos os pressupostos sistêmicos e sua epistemologia tendo como base asrevisões de Vasconcellos (2002) e Mazzocchi (2008). Mas antes porém, para facilitar acompreensão, começarei por descrever seu contraponto, a tradição simplificadora ouNewtoniana.3.2.1 A tradição newtoniana.Desde dos tempos de Newton, e sobre influências filosóficas do positivismo, amecânica clássica vem sendo considera<strong>da</strong> como a fun<strong>da</strong>ção de pesquisa científica.Ulanowicz (1999) s<strong>uma</strong>riza a abor<strong>da</strong>gem newtoniana e enumera cinco argumentos<strong>da</strong> metafísica newtoniana:- determinismo (conhecendo-se condições iniciais saberemos a trajetóriafutura),- fechamento causal (não existem forças externas além <strong><strong>da</strong>s</strong> prescritas pelateoria),- reversibili<strong>da</strong>de temporal (conhecendo-se to<strong><strong>da</strong>s</strong> as condições atuaispodemos descobrir os processos do passado),- atomismo (possibili<strong>da</strong>de de decomposição dos corpos em níveis menores),- universali<strong>da</strong>de (as lei são aplicáveis em qualquer lugar, a qualquer tempoe em qualquer escala).Segundo Mazzocchi (2008), os cientistas, inclusive muitos dos ecólogos, adotaramo reducionismo, principalmente em dois níveis: no ontológico - em termos de suaconcepção do mundo e as coisas <strong><strong>da</strong>s</strong> quais é feito, assume que tudo que existe nanatureza é constituído por um conjunto de elementos unitários que comportam-se em <strong>uma</strong>maneira regular e previsível; e no nível epistemológico - em termos de sua abor<strong>da</strong>gempara compreensão <strong><strong>da</strong>s</strong> coisas, argumenta que os conceitos fun<strong>da</strong>mentais, leis e <strong>teorias</strong>


111de um nível <strong>da</strong>dos de organização pode ser deriva<strong>da</strong> (ou extrapola<strong>da</strong>) de conceitos, leis e<strong>teorias</strong> pertencendo a um nível mais baixo.Parte <strong>da</strong> crítica ao reducionismo epistemológico está relaciona<strong>da</strong> à exposição <strong>da</strong>inadequação dos métodos de seleção causal para a compreensão de alguns processosbiológicos. Segundo El-Hani: “este procedimento metodológico constitui o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>explicação dos fenômenos por meio de um conjunto restrito de fatores selecionados <strong>da</strong>totali<strong>da</strong>de <strong><strong>da</strong>s</strong> relações que conformam os sistemas complexos. É mais plausível, noentanto, que os próprios sistemas complexos sejam a melhor explicação de seusprodutos, de modo que o entendimento <strong><strong>da</strong>s</strong> relações entre o sistema como um todo esuas partes constituintes deveria ser a base dos modelos explicativos dos fenômenosbiológicos e sociais.”Recentemente em ecologia, surgiram muitas críticas também ao reducionismoontológico as quais alertam para as limitações de suas explicações, sendo o principalargumento, é que o elas simplificam excessivamente a natureza. Esse é o mesmoargumento dos nichistas em relação à TNB. To<strong>da</strong>via, questionamos a legitimi<strong>da</strong>de <strong><strong>da</strong>s</strong>críticas nichistas através <strong>da</strong> descrição de um método simplificador, conti<strong>da</strong> em um trechodo livro “Pensamento sistêmico” de Vasconcellos (2002):“O método de análise simples começa por retirar o objeto de estudo de seucontexto inicial. Para tanto, o ponto de parti<strong>da</strong> é a separação <strong><strong>da</strong>s</strong> partes, estaoperação lógica é chama<strong>da</strong> disjunção. Com base nas disjunções estabelecem-secategorias que em segui<strong><strong>da</strong>s</strong> poderão passar por <strong>uma</strong> classificação, o passo final éde natureza ontológica e pode acontecer quando o cientista passa a considerarque a natureza de tal separação é real e/ou objetiva”. (Vasconcellos, 2002)Consideramos que a descrição acima aplica-se também para as explicaçõesbasea<strong><strong>da</strong>s</strong> em classificação de espécies (nichistas), sejam as classificações feitas emgrupos funcionais, requisitos de recursos e/ou condições ambientais ou sobre estratégiasde vi<strong>da</strong>. Justificamos esta afirmação, pois ao fazer <strong>uma</strong> classificação estamos utilizandoinerentemente o processo de disjunção. Alem disso, e considerando a riqueza destasclassificações (ver a tabela de Piña-Rodrigues, Costa e Reis, 1980 apud Reis, 1993 emanexo), acreditamos que a disjunção pode estar muito freqüentemente sendo usado demaneira acrítica.Na figura 8 (retira<strong>da</strong> de Reis, 1999) vemos um exemplo de abor<strong>da</strong>gem simplificadora<strong>da</strong> sucessão florestal. Na coluna <strong>da</strong> direita observa-se o processo de disjunção sendousado para separar o tempo do processo sucessional em intervalos discretos. No centro


112temos o enfoque nos elementos principais, no caso as espécies, e só <strong>uma</strong> rotaunidirecional, o que denota <strong>uma</strong> tendência a um estágio final (quiçá mais estável),veremos na seção 3.2.2.2 sobre o pressuposto sistêmico <strong>da</strong> “Complexi<strong>da</strong>de estrutural” (p.116) que o foco dos estudos sistêmicos está nas relações entre esses elementos, e estáaberto a múltiplas rotas e múltiplas alternativas de clímaces dinâmicos. Valecontextualizar que na terceira coluna (a <strong>da</strong> direita) tempos a menção <strong>da</strong> relação ecológica<strong>da</strong> dispersão, logo, este trabalho não é um exemplo padrão, que de outra forma deverianão conter nenh<strong>uma</strong> relação entre os elementos além <strong>da</strong> semelhança adota<strong>da</strong> para adisjunção. Por fim, na mesma na coluna à direita podemos interpretar o enfoque na formade dispersão como <strong>uma</strong> seleção causal.Figura 8: Exemplo de estudo sobre sucessão secundária <strong>da</strong> mata atlântica aparentemente inseridoem <strong>uma</strong> tradição bastante simplificadora. (A<strong>da</strong>ptado de Klein 1979-1980 42 apud Reis, 1999).42 No trabalho de Klein o enfoque nas espécies ain<strong>da</strong> está evidente, na maioria <strong><strong>da</strong>s</strong> vezes existe também <strong>uma</strong> convergência para umsó clímax, porém ele apresenta múltiplas rotas que são determina<strong><strong>da</strong>s</strong> (i.e. por seleção causal) pelas circunstâncias edáficas (ouseja também considera o contexto).


113A partir <strong><strong>da</strong>s</strong> metafísica newtoniana várias tradições em outras disciplinascientíficas, incluindo-se a ecologia, desenvolveram suas visões tendo como ponto departi<strong>da</strong> ou a negação ou a defesa destes argumentos, quer isola<strong>da</strong>mente ou em conjunto.Em ecologia, por exemplo os estocásticos colocaram-se contra determinismo e a favor doreducionismo e <strong>da</strong> universali<strong>da</strong>de na maioria <strong><strong>da</strong>s</strong> vezes. Já o mecanicismo, muitas vezes,mostrou-se afeito ao reducionismo e determinismo; e no início do século os organicistasadotaram um ponto de vista determinista e universal com sua idéia de tendência aoclímax único, mais eram contra o atomismo.3.2.2 A visão sistêmicaSegundo Hull e Falcucci (1999) “os sistemas naturais mostraram o erro na práticade separar variáveis únicas, já que o processo inteiro requer a compreensão de ambos otodo, os elementos e as interconexões”. E afirmam que "não estu<strong>da</strong>mos ecologia de <strong>uma</strong>maneira ecológica...". eles explicam que “o pensamento de sistemas surgiu visandoresponder à impotência do reducionismo face de grande complexi<strong>da</strong>de.”As idéias de sistemas são bastante remotas, por exemplo, o filósofo gregoAristóteles (384–322 aC) já havia descrito o fenômeno de emergência 43 em seu tratadoMetafísica como, “O todo é mais que a soma de suas partes.” Checkland (1984) contaque historicamente não surpreende o fato deste tipo de pensamento ter sido desenvolvido- antes de serem alterados para descrever enti<strong>da</strong>des de qualquer tipo - pelosdenominados "biólogos organismicos" (Woodger. Hal<strong>da</strong>ne. Lloyd Morgan. Henderson.Canon. Bertalanlfy ) que duvi<strong>da</strong>vam que o organismo biológico podia ser adequa<strong>da</strong>menteinvestigado pelos métodos puramente reducionistas <strong>da</strong> ciência de suas épocas. Mas odesenvolvimento consciente <strong><strong>da</strong>s</strong> idéias e linguagem para expressar os sistemas sóoriginaram-se no fim <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 40 e foi por volta <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1960, graças aoadvento de computadores mais eficientes e técnicas matemáticas mais refina<strong><strong>da</strong>s</strong> que amodelagem de sistemas estabeleceu-se.43 A noção de emergência está também associa<strong>da</strong> com a idéia que o mundo natural consiste em níveis hierárquicos de organizaçãoque variam <strong><strong>da</strong>s</strong> partículas subatômico até moléculas, ecossistemas e além (De Haan, 2006). Ca<strong>da</strong> nível é caracterizado e regidopor leis, [comportamentos, processos] emergentes que não aparecem nos níveis mais baixos de organização.


114Em contraste com a metafísica newtoniana, Ulanowicz propõe <strong>uma</strong> metafísicaecológica que substitui os pressupostos mecanicistas do fechamento,determinismo, universali<strong>da</strong>de, reversibili<strong>da</strong>de e atomismo pelas assunções deabertura, no sentido de que indeterminação surge sempre, em to<strong><strong>da</strong>s</strong> as escalas;contingência, na medi<strong>da</strong> em que processos bióticos estão vinculados apropensões, não a forças newtonianas; granulari<strong>da</strong>de, no sentido de que amagnitude do efeito de eventos em um nível hierárquico diminui à medi<strong>da</strong> quesubimos n<strong>uma</strong> hierarquia de níveis, em virtude dos efeitos <strong>da</strong> restrição e seleçãoque níveis superiores exercem sobre níveis inferiores (determinaçãodescendente); historici<strong>da</strong>de; e organicismo, respectivamente. (El-Han, 2006)Vasconcellos (2002) desenvolve <strong>uma</strong> caracterização do pensamento sistêmico,como contrapondo a três idéias que segundo ela estão associa<strong><strong>da</strong>s</strong> ao pensamentosimplificador:Pressupostos SimplificadoresObjetivi<strong>da</strong>deSimplici<strong>da</strong>deEstabili<strong>da</strong>dePressupostos SistêmicosIntersubjetivi<strong>da</strong>deComplexi<strong>da</strong>deInstabili<strong>da</strong>deOrganizaremos as próximas seções tratando os pressupostos sistêmicos, na aordem exposta acima, estabelecendo paralelos entre o pensamento sistêmicos e a teoria<strong>neutra</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de, e expondo nossas sugestões e recomen<strong>da</strong>ções para estudos <strong><strong>da</strong>s</strong>ucessão que sejam ao mesmo tempo quase-neutros 44 e sistêmicos.3.2.2.1 Inters-subjetivi<strong>da</strong>de e contextualização teóricaPara Vasconcellos (2002) no pensamento sistêmico sabe-se que “o conhecimentoé relativo às condições de observação, o cientista não tem um conhecimento objetivo doobjeto/fenômeno analisado, o que tem é <strong>uma</strong> interpretação do objeto/fenômeno no estadoe contexto em que foi descrito/produzido.”É preciso que ao assumir um modo de pensamento neutro, o cientista admita seusmodelos apenas como modelos, entendendo que os padrões e processos simples eprevisíveis por eles apontados são insuficientes para refletir o comportamento complexo44 Usamos este termo em analogia com o uso deste mesmo termo por Tomoko Ohta em sua Teoria quase-<strong>neutra</strong> <strong>da</strong> evoluçãomolecular, publica<strong>da</strong> em 1992.


115<strong>da</strong> sucessão. Segundo a noção do observador, os cientistas deviam estar mais cientesque o conhecimento científico é sempre desenvolvido sob o limite de restrições(Mazzocchi, 2008). Tendo isso em mente, o cientista <strong>da</strong> <strong>neutra</strong>li<strong>da</strong>de estará um passo afrente, e poderá melhor subsidiar a complexificação de sua teoria pois estará contribuindopara a clareza dos métodos utilizados.Neste sentido, É desejável também o retorno do observador a sua observação paradesta forma delimitar as condições que levaram a sua interpretação particular. Portantoconsideramos que Hubbell, exceto pelo problema palavra unifica<strong>da</strong> no título de seutrabalho, mostrou-se epistemologicamente bem preparado para a complexificação de suateoria, <strong>uma</strong> vez que, apesar de demonstrar firmeza na escolha dos pressupostos <strong>da</strong> TNB,não é rígido quanto a esses pressupostos chegando, por diversas vezes, a admitir afalsi<strong>da</strong>de dos mesmos. É essencial que nas futuras reinterpretações <strong>da</strong> TNBmantenhamos a noção de modelo presente nas palavras de Hubbell.Na introdução do trabalho de Caswell (1976) podemos ver que, longe dedesconsiderar a importância de tais interações entre as espécies, ele se propôs a testarsua importância: Vejamos alguns trechos:“Função e estrutura (fisiologia e morfologia, crescimento e forma, operação epadrão) são aspectos duais de qualquer sistema. Um sistema, em quaisquer <strong><strong>da</strong>s</strong>definições comumente encontra<strong><strong>da</strong>s</strong>, é (1) <strong>uma</strong> coleção de enti<strong>da</strong>des que, (2)influenciam mutuamente o comportamento <strong>uma</strong>s <strong><strong>da</strong>s</strong> outras.” (Caswell, 1976)“Existem <strong>uma</strong> “dependência mútua de estrutura e função” que permeia opensamento biológico em todos os níveis, e grande parte <strong>da</strong> biologia tentaentender os sistemas vivos através <strong>da</strong> eluci<strong>da</strong>ção e <strong>da</strong> interdependência entreestrutura e função.” (Caswell, 1976)“A ecologia, em particular, já foi defini<strong>da</strong> como o estudo <strong>da</strong> estrutura e função deecossistemas.” (Caswell, 1976)Caswell (1976) já propôs seu modelo delibera<strong>da</strong>mente para examinar opressuposto, de que a estrutura de comuni<strong>da</strong>des é basea<strong>da</strong> em interações ecológicas.Ele reconhece que seu modelo era neutro para tais interações (i.e. desconsidera suainfluencia sobre os padrões).Consideramos a TNB muito mais clara e franca, que as <strong>teorias</strong> nichistas (que porexemplo utilizam explicações ad hoc contudo, muitas vezes sem admiti-las), tanto emrelação às implicações do seu método de estudo por modelagem (expostas no parágrafoanterior) quanto às limitações de suas inferências. Como exemplo de tal franqueza temosno trabalho de Hubbell trechos onde admite de suas simplificações: “Existem muitosaspectos de organização de comuni<strong>da</strong>de que atualmente fogem do âmbito <strong>da</strong> TNB, como


116a organização tróficas de comuni<strong>da</strong>des, ou o que controla o número de níveis tróficas, ouain<strong>da</strong> como biodiversi<strong>da</strong>de à um nível tróficas afeta diversi<strong>da</strong>de em outros níveistróficas.”(Hubbell, 2001)É exatamente sobre estes aspectos mencionados por Hubbell que trataremos napróxima seção.3.2.2.2 Complexi<strong>da</strong>de estruturalConforme exposto na seção anterior, para os modelos neutros o efeito <strong><strong>da</strong>s</strong>interações entre espécies é nulo, então devemos considerar essa limitação <strong>da</strong> TNB, pois<strong>da</strong> forma como foi construí<strong>da</strong>, cria-lhe <strong>uma</strong> incompatibili<strong>da</strong>de com a teoria <strong>da</strong>complexi<strong>da</strong>de. Vasconcellos expões que “para a teoria dos sistemas complexos “perceberum [sistema] complexo significa perceber que suas partes constitutivas se comportam,<strong>uma</strong>s em relação ás outras, de tal ou qual modo que não podemos nem imaginar umobjeto a não ser em conexão com os outros” (Wittgenstein 1921 apud Vasconcellos,2002). Neste mote, visando incrementar a TNB, apoiamos sua associação com modelosde desenvolvidos dentro <strong>da</strong> “Teoria de Assembléia de Comuni<strong>da</strong>des” (TAC), pois comoveremos adiante a TAC faz estudos de modelagem estocástica de invasão biológica emcomuni<strong>da</strong>des representa<strong><strong>da</strong>s</strong> por redes tróficas, isso poderá oferecer à TNB um poucomais de complexi<strong>da</strong>de e realismo, devido a natureza relacional abor<strong>da</strong><strong>da</strong> pelasassembléias. Porém devemos atentar para o fato <strong>da</strong> teoria de assembléia decomuni<strong>da</strong>des (por invasão) também fazer parte <strong><strong>da</strong>s</strong> abor<strong>da</strong>gens reducionistas, porém,diferentemente <strong>da</strong> TNB, o reducionismo aplicado no tipo de modelo de assembléia decomuni<strong>da</strong>des é feito ao nível de trofoespécies.Esclarecemos que o escopo deste trabalho não permite tratar <strong><strong>da</strong>s</strong> muitas variações<strong><strong>da</strong>s</strong> “Teorias de Assembléia de Comuni<strong>da</strong>des”, que diferem quanto alguns pressupostos eprevisões, então estaremos tratando to<strong><strong>da</strong>s</strong> sob o mesmo rótulo. A titulo de ilustraçãoHang-Kwang e Pimm (1993) listaram alg<strong>uma</strong>s <strong><strong>da</strong>s</strong> características que variam entre osdiversos modelos:“Os detalhes dos modelos são muitos e envolvem muitas suposições. Os modelosde assembléia de comuni<strong>da</strong>des requerem e podem diferir conforme alg<strong>uma</strong>sescolhas como: a forma <strong><strong>da</strong>s</strong> equações, as regras que estabelecem as interaçõesentre espécies, maneiras de gerar coeficientes de interação, e métodos numéricospara integrar as equações conforme a comuni<strong>da</strong>de acrescenta e/ou perdeespécies.” (Hang-Kwang e Pimm 1993).


117Discussões mais extensas sobre as diferentes suposições <strong>da</strong> TAC podem serencontra<strong><strong>da</strong>s</strong> em Drake (1990), Post & Pimm (1983) e Pimm (1991). Abaixo explicamosalguns dos aspectos dessa Teoria.No livro de Roger Lewin (1993) sobre a complexi<strong>da</strong>de ele rotula o modelo dePimm como um exemplo de abor<strong>da</strong>gem complexa, talvez pela capaci<strong>da</strong>de do modelogerar padrões complexos a partir de regras aparentemente simples e de certa formaaleatórias, vejamos o trecho do livro em que ele descreve de modo bem compreensível omodelo:“Tudo começou quando Pimm e Mac Post tentaram construir comuni<strong>da</strong>desecológicas num modelo de computador. Eles acrescentaram <strong>uma</strong> espécie de ca<strong>da</strong>vez (planta, herbívoros e carnívoros), ca<strong>da</strong> <strong>uma</strong> defini<strong>da</strong> matematicamente comum pequeno conjunto de comportamentos[equações], tais como o tamanho doterritório exigido tipicamente por indivíduo, e que outras espécies poderiam ser suapresa ou seu pre<strong>da</strong>dor. Alg<strong>uma</strong>s espécies tiveram sucesso em penetrar noecossistema em desenvolvimento, enquanto outras fracassaram.”(Lewin, 1993)As comuni<strong>da</strong>des são forma<strong><strong>da</strong>s</strong> por espécies de diferentes níveis tróficos eminteração que “desenvolvem-se através de um processo de assembléia de comuni<strong>da</strong>des,no qual ca<strong>da</strong> espécie pode invadir, persistir, ou tornar-se extinta, desde que sejatroficamente viável” 45 (Hang-Kwang e Pimm, 1993). Eles explicam que “ca<strong>da</strong> momento emque a observação <strong>da</strong> composição de espécies é realiza<strong>da</strong> é denominado estado, ca<strong>da</strong>estado é <strong>uma</strong> combinação sem igual de presença ou ausência <strong>da</strong> espécie e a assembléiaé <strong>uma</strong> sucessão de estados.” (Hang-Kwang e Pimm, 1993). O processo de assembléia decomuni<strong>da</strong>de é formado por <strong>uma</strong> seqüência de estados de comuni<strong>da</strong>des com composiçãode espécies diferentes.Alguns dos modelos de assembléia contêm muitos elementos fortuitos tanto naescolha dos parâmetros de interação quanto na seqüência em que as espécies sãotesta<strong><strong>da</strong>s</strong> (inseri<strong><strong>da</strong>s</strong> na comuni<strong>da</strong>de) para sua habili<strong>da</strong>de de invadir. O sucesso de invasãode <strong>uma</strong> espécie é dependente de quais as outras espécies que estão presentes nomomento <strong>da</strong> invasão. Porém é importante relatar que, ao menos nos primeiros modelos<strong>da</strong> TAC, o que diferencia <strong>uma</strong> espécies <strong>da</strong> outra é suas relações tróficas (são45 Por exemplo um animal herbívoro é inviável em <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de que não tenha sido invadi<strong>da</strong> anteriormente por espéciesvegetais não podem invadir na ausência de plantas.


118trofoespécies) e não especifici<strong>da</strong>des no aproveitamento dos recursos ambientais (nichoclássico). Nos testes de invasão, os programas (baseados em modelos teóricos deassembléia) devem repetir varias vezes as dinâmicas de invasão para deduzir osparâmetros qualitativos <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des possíveis, forma<strong><strong>da</strong>s</strong> a partir do “estoqueregional” de espécies. O que os programas tem obtido é que a ca<strong>da</strong> ro<strong>da</strong><strong>da</strong> de invasão acomuni<strong>da</strong>de final torna-se mais estável, ou seja, as espécies obtêm menos êxito, amedi<strong>da</strong> que a comuni<strong>da</strong>de amadurece. Na dinâmica assembléia com os sucessos efracassos <strong><strong>da</strong>s</strong> várias espécies ca<strong>da</strong> vez que altera-se <strong>uma</strong> espécie de um determinadoestado <strong>da</strong> assembléia, to<strong>da</strong> a composição futura <strong>da</strong> assembléia pode mu<strong>da</strong>r de rotaresultando em <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de climácica bastante altera<strong>da</strong>. Então, as comuni<strong>da</strong>des sãoextremamente sensíveis às contingências, porém, resilientes quanto às as proprie<strong>da</strong>desde nível superior. Existem múltiplos estados alternativos de clímax, mais a suaestabili<strong>da</strong>de quase 46 sempre.Antes mesmo <strong>da</strong>, publicação dos primeiros modelos de assembléia decomuni<strong>da</strong>des Levins e Lewontin (1980) já afirmavam tacitamente “existem muitasconfigurações no nível <strong><strong>da</strong>s</strong> populações que se preservam as mesmas proprie<strong>da</strong>desqualitativas em diferentes comuni<strong>da</strong>de. Isso permite considerar <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de comopersistente apesar de ela estar constantemente mu<strong>da</strong>ndo as proporções de suasespécies”. E já legitimavam tal abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong> seguinte forma “a noção de múltiplosestados alternativos nas comuni<strong>da</strong>des é <strong>uma</strong> conseqüência natural do reconhecimento <strong>da</strong>complexi<strong>da</strong>de biológica, não um improviso feito ad hoc em um paradigma em declínio.”Vimos que estudos de assembléia de comuni<strong>da</strong>des (ex: Post e Pimm, 1983; Drake,1985, 1988, 1990; Mithen e Lawton, 1986; Robinson e Dickerson, 1987; Robinson eValentine, 1979; e Tregonning e Roberts, 1978, 1979) fornecem explicações paraproprie<strong>da</strong>des qualitativas no nível <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des ecológicas (como estabili<strong>da</strong>de,resistência à invasão ... ) através de simulações computacionais, e já existemexperimentos de microcosmos para comuni<strong>da</strong>des de microorganismos que corroboram os<strong>da</strong>dos previstos pelos modelos <strong>da</strong> TAC.46 Utilizo quase sempre pois existem situações onde a comuni<strong>da</strong>de regride, diminuindo em número de espécies drasticamente, emeventos ditos críticos.


119Este tipo de estudo também possui relevante interesse para nosso trabalho, não sópela natureza estocástica de seus modelos, mais também por tratar de parâmetrostemporais composição e estruturação <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des, bem como, por gerar inferênciasparâmetros qualitativos sobre as comuni<strong>da</strong>des (ex: estabili<strong>da</strong>de e resiliência). Logosdefendemos que eles demonstram boa aplicação para sucessão ecológica.Já dentro <strong>da</strong> linha mecanicista <strong>da</strong> sucessão ecológica, O’Neill et al (1986 apud VanAndel, et al., 1993) propõem o reconhecimento de <strong>uma</strong> hierarquia dupla, representa<strong>da</strong> por<strong>uma</strong> abor<strong>da</strong>gem de populações/comuni<strong>da</strong>de (relacionando as histórias de vi<strong>da</strong> e com aevolução) e por processos/funções (relacionando as ciclagens de nutrientes e energia).Eles sugerem que “é muito possível e até razoável manter um conceito individualista(Glensoniano) <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de e um conceito holístico <strong><strong>da</strong>s</strong> funções dos ecossistemas”. Eacrescentam que, “o que chamamos de mecanismos depende do nível de organização doestudo. De fato, o que consideramos mecanismo em um nível pode ser determinadocomo efeito em outro (Pickett, et al., 1987 apud Van Andel, et al., 1993) e os mecanismospor si só podem ser classificados como causas eficientes (sensu Aristóteles)”.Levins e Lewontin (1980) reforçam a idéia de que “a comuni<strong>da</strong>de é um “todo”contingente surgido <strong><strong>da</strong>s</strong> interações recíprocas entre os níveis inferiores(indivíduos epopulações) e superiores (ecossistemas e biosfera), mas não são completamentedetermináveis por ambos.” Acreditamos que seja necessário um melhor tratamentoontológico para os chamados “níveis de complexi<strong>da</strong>de” e do fenômeno de emergênciaIsso será essencial para trazer credibili<strong>da</strong>de para os estudos sistêmicos, pois de outraforma poderemos cair nas armadilhas de considerar agrupamentos arbitrários eproprie<strong>da</strong>des de modelos como se fossem reais.3.2.2.3 A imprevisibili<strong>da</strong>deStorch e Gastón (2005) justificam sua afirmativa de que “as comuni<strong>da</strong>desecológicas e ecossistemas são bons exemplos de sistemas complexos”. Da seguinteforma:“Elas compreendem números grandes de enti<strong>da</strong>des interagindo, em muitasescalas de observação, e sua dinâmica são freqüentemente não-lineares (ascausas não são proporcionais às conseqüências). Isso leva à imprevisibili<strong>da</strong>de eaté aparente estocastici<strong>da</strong>de . Não é possível predizer ou avaliar com precisão astrajetórias de desenvolvimento <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de e a dinâmica de população, mesmosobre as características de <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de particular. (Storch e Gaston, 2005)


120Isto não significa que tudo em ecologia de comuni<strong>da</strong>de é impossível de predizer oucaótico. Apenas estamos defendendo que com as atuais técnicas de mensuração eprocessamento matemático, ain<strong>da</strong>, não é possível prever com precisão o comportamentofuturo <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des quanto a composição e ao arranjo espacial <strong><strong>da</strong>s</strong> espécies.Reitsma (2002) faz <strong>uma</strong> importante diferenciação entre teoria do caosdeterminístico e a dinâmica dos sistemas complexos:“A teoria do caos li<strong>da</strong> com sistemas dinâmicos simples, com mu<strong>da</strong>nças nãolineares, e fechados. Eles são extremamente sensíveis para condições iniciais,sendo que qualquer diminuta diferença ou perturbação resulta em respostascaóticas mas que são determináveis se tivermos conhecimento <strong>da</strong> estrutura erelações entre as suas partes.Já o enfoque <strong>da</strong> Teoria <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de atua em sistemas dinâmicos complexos,com mu<strong>da</strong>nças não lineares, mas que são sistemas abertos. Os sistemascomplexos respondem a perturbação por auto-organizando de forma emergente eque não pode ser predita de <strong>uma</strong> compreensão de suas partes.” (Reitsma, 2002)Diferentemente de Storch e Gastón, Vasconcellos (2002) interpreta a complexi<strong>da</strong>dede um sistema natural <strong>da</strong> seguinte forma: “as noções de simples e complexo [eacreditamos que <strong>da</strong> mesma forma estocástico ou determinístico] não são proprie<strong>da</strong>desintrínsecas <strong><strong>da</strong>s</strong> coisas, mas dependem fun<strong>da</strong>mentalmente <strong><strong>da</strong>s</strong> condições lógicas eempíricas em que tomamos conhecimento dessas coisas” (Atlan 1984 apud Vasconcellos,2002).Reitsma (2002) explica “que as evidências de dinâmicas caóticas para processosbiológicos envolvem sistemas isolados simples (como moléculas)”. E que “o caos só podeser encontrado nas idealizações ou modelos sobre sistemas reais, mas não é evidentenos próprios sistemas [biológicos]”. Tal observação reforça as críticas feitas por Clark(2008) expostas na seção 2.2.3 sobre as “Reações <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de científica” à TNB (p.54). Portanto defendemos que as comuni<strong>da</strong>des devem ser interpreta<strong><strong>da</strong>s</strong> não comosistemas caóticos (fechados), mais sim como sistemas complexos longe do equilíbrio.Vejamos o que diz Vasconcellos (2002) sobre estes sistemas:“Em um sistema longe do equilíbrio em que suas partes também estejam bastanterelaciona<strong><strong>da</strong>s</strong>(ou seja um sistema complexo), <strong>uma</strong> flutuação ocorri<strong>da</strong> em <strong>uma</strong>pequena parte poderia invadir todo sistema amplificando seus efeitos e alterando ofuncionamento de todo sistema. A este momento em que um processo quaseimprovável pode acontecer em todo sistema, a flutuação contingente pode seramplifica<strong>da</strong> pela energia e estrutura do sistema e tomar todo sistema de maneirainespera<strong>da</strong>, a este fenômeno dá se o nome de ponto de bifurcação. É importanteressaltar que a flutuação em si não causaria na<strong>da</strong>, ela depende <strong>da</strong> amplificaçãooportuniza<strong>da</strong> pelo sistema.”(Vasconcellos, 2002)


121Sendo assim, aparentemente Storch e Gaston reconhecem o fenômeno de autoorganização<strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des com a seguinte frase. “A imprevisibili<strong>da</strong>de eindeterminação do destino <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des não são causa<strong><strong>da</strong>s</strong> somente pela <strong>da</strong>imensidão de fatores que afetam as histórias <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de indivíduos e populações, mastambém por causa <strong><strong>da</strong>s</strong> proprie<strong>da</strong>des inerentes à sua própria dinâmica — processosmesmo que simples podem levar a padrões complexos.” (Storch e Gaston, 2005. grifonosso).A teoria de assembléia de comuni<strong>da</strong>des é um exemplo de teoria que prevê em umprocesso simples e aleatório o surgimento de padrões complexos e proprie<strong>da</strong>desmacroscópicas do sistema (i.e. a resiliência e a resistência <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de). Porémdefendemos que, se admitirmos a meta de complexificar as <strong>teorias</strong> ecológicas, para caso<strong>da</strong> Teoria de Assembléia devemos admitir a deriva também no clímax, como previsto nateoria <strong>neutra</strong>, pois o foco na estabili<strong>da</strong>de torna a TAC incompatível com o pressuposto <strong>da</strong>instabili<strong>da</strong>de.3.3 Considerações finaisSegundo Vasconcellos (2002) “nenhum ponto de vista pode abarcar o objeto comoum todo. Diferentes visões podem complementar-se mas também não são capazes de<strong>da</strong>r conta <strong>da</strong> totali<strong>da</strong>de do real.” Então ela explica que cientista que adota o pensamentosistêmico resgata e integra as diferentes faces <strong>da</strong> ciência tradicional, e sente-se livre parausar as técnicas, recursos e métodos desenvolvidos na tradição simplificadora, quandoacha necessário; porém, usá-los-á de modo muito diferente de como o fazia antes ...Vimos ao longo deste trabalho que a teoria <strong>neutra</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de desenvolveu seusestudos, em um primeiro momento obtendo boas previsões para a distribuição deabun<strong>da</strong>ncia de espécies e também para a relação entre a quanti<strong>da</strong>de de espécies e aárea. Este êxito inicial recentemente passou a ser contestado, e de um modo geral oenfoque nestas previsões afastou a TNB dos estudos <strong>da</strong> sucessão ecológica, tornando as“problemáticas analisa<strong><strong>da</strong>s</strong>” quase como incomensuráveis. No entanto alguns trabalhos,sobre a sucessão e sobre a TNB têm utilizado métodos semelhantes (ex: modelos deloteria/carrossel e abor<strong>da</strong>gens genealógicas para modelos neutros usam cadeias deMarkov) ou têm corroborado (ex: as demonstrações de redundância podem corroborar opressuposto neutro <strong>da</strong> equivalência funcional). E por considerar que em <strong>uma</strong> visão


122epistemológica mais aberta a teoria <strong>neutra</strong> e as recentes <strong>teorias</strong> <strong>da</strong> sucessãocompartilham muitas semelhanças. Então, sugerimos a possibili<strong>da</strong>de de desenvolvimentode <strong>uma</strong> matriz teórica <strong>da</strong> sucessão (quase-) <strong>neutra</strong> que seria integra<strong>da</strong> sob um olharsistêmico.Vimos por fim que a teoria <strong>neutra</strong> <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de possui alg<strong>uma</strong>s limitações quepoderiam incompatibilizar tal empreendimento. Então, expusemos nossas propostas para<strong>uma</strong> complexificação <strong>da</strong> TNB e consideramos que ain<strong>da</strong> é muito cedo para abandonar aTeoria Neutra <strong>da</strong> Biodiversi<strong>da</strong>de pelo fato de ela ser reducionista. Muito pelo contrário, aTNB poderá passar a compor as estratégias de explicação sistêmicas para processosdinâmicos <strong><strong>da</strong>s</strong> comuni<strong>da</strong>des, pois sistemas complexos podem possuir tanto processoscontingentes que geram <strong>uma</strong> deriva de difícil previsão (talvez até imprevisível), quantotendências previsíveis as quais não devem ser estu<strong>da</strong><strong><strong>da</strong>s</strong> limitando-se a poucas causas.Visando evitar falsas expectativas sobre as abor<strong>da</strong>gens e práticas <strong>da</strong> pesquisasistêmica, consideremos a ponderação, sistêmica <strong>da</strong> frase de El-Hani:“Não se deve esperar, no entanto, que as abor<strong>da</strong>gens sistêmicas dos processos biológicos esociais resultem em descrições plenas <strong>da</strong> série de interações que são necessárias para aprodução de um fenômeno complexo. A proposição de que o objeto de estudo <strong><strong>da</strong>s</strong> ciênciasbiológicas e sociais deve ser a relação entre parte e todo, que é responsável pela dinâmicados sistemas evolutivos, implica não só <strong>uma</strong> crítica ao reducionismo, mas também aopróprio holismo. Uma abor<strong>da</strong>gem sistêmica deve investigar os fenômenos n<strong>uma</strong> escalacompatível com as capaci<strong>da</strong>des h<strong>uma</strong>nas...”(El-Hani, 1995)Segundo Vasconcellos (2002), só um mundo concebido como ordenado, em quehá repetição de e invariabili<strong>da</strong>de dos elementos básicos, constância, onde as relaçõesentre as variáveis são altamente prováveis, pode ser descrito por meio de leis e princípiosexplicativos [pertencentes a <strong>uma</strong> matriz teórica universal]. No caso <strong>da</strong> TNB os elementosbásicos são indivíduos equivalentes, a constância está na regra do somatório-zero, e asrelações entre as variáveis seguem o modelo <strong>da</strong> deriva estocástica.Visto desta forma, poderíamos pensar que a TNB é um retrocesso para <strong>uma</strong> metasistêmica <strong>da</strong> ecologia. Mas considerando pequena analogia com a física, foi preciso havera termodinâmica clássica (que agrupa as moléculas em conjuntos distintos por suasproprie<strong>da</strong>des macroscópicas) para haver a termodinâmica estatística (que analisa ocomportamento de partículas regulares com movimentos estocásticos, mais que emconjunto, seguem to<strong><strong>da</strong>s</strong> a mesma “lei dos grandes números”) e finalmente, foi precisodesenvolver-se a termodinâmica estatística para que cientistas como Prigogine


123desenvolvessem a termodinâmica distante do equilíbrio que trata energeticamente ossistemas complexos. Esperamos que <strong>uma</strong> transformação teórica como esta possa ocorrerna ecologia.


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