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Entre o investimento e a ameaça - Clube de Jornalistas

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Não peça a objetivida<strong>de</strong> porque elanão existe. Somos subjetivos aocolocarmos no papel uma meravírgula. Mas temos <strong>de</strong> ser honestos.E a honestida<strong>de</strong> se consegue, emprimeiro lugar, respeitando a verda<strong>de</strong>factualem 2006. Mas toda a imprensa fingia, se dizia isenta. Tantahipocrisia dói (ri).Então a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> voto foi para por as cartas na mesa?Fiz como faz o New York Times que <strong>de</strong>clara: “Somos afavor do Sr. Obama”. Os jornais europeus também fazemisso. Você se <strong>de</strong>fine. Você po<strong>de</strong> até dizer: o adversário ébom, mas nós achamos que este é melhor.Ainda assim é possível manter uma cobertura equilibrada?Mas o que toda a mídia fez com o Lula em 2002? E em1989? Conseguiram eleger o Collor!Todo o mundo sabia que ele não era “caçador <strong>de</strong> marajás”coisa nenhuma. E a mídia compactuou com isso.Quem inventou esse lema caçador <strong>de</strong> marajás? A Veja!Você já disse que até 1964 tinha sido um jornalista <strong>de</strong> algumamaneira mercenário. Explique melhor.Eu virei jornalista por causa <strong>de</strong> um terno azul marinho,não é uma piada. Quando eu tinha 15 anos haveria omundial <strong>de</strong> futebol no Brasil e meu pai foi convidadopelos ex-colegas italianos para escrever sobre apreparação. Como ele <strong>de</strong>testava futebol, me perguntou seeu gostaria <strong>de</strong> escrever. Ao saber quanto me pagariam,pensei que o dinheiro daria para fazer um terno azul marinhopara ir aos bailes <strong>de</strong> sábado. E escrevi os tais artigos.Depois foi montada em São Paulo a agência Ansa, on<strong>de</strong>trabalhei como tradutor. Aí fui para a Itália, trabalhei látrês anos até que o Victor Civita (dono da Editora Abril naépoca) ir a Roma e me convidar para voltar ao Brasil.Voltei porque ele me ofereceu um salário que, naquelemomento para mim, era absolutamente impensável naItália. E mercenário, sim, porque vim fazer uma revista <strong>de</strong>automóveis. Eu disse ao Civita que não distinguia umVolkswagen <strong>de</strong> uma Merce<strong>de</strong>s. Para mim, automóveis sãocoisas que não tem o menor interesse. Mas ele me convenceudizendo que se a Quatro Rodas <strong>de</strong>sse certo, eu iriadirigir uma revista semanal (a Veja – ainda sem nome),que eles tinham planos <strong>de</strong> lançar. Eu vivia apertado comose vivia na Europa no final dos anos 1950, não comiacarne todos os dias. Então aceitei fazer uma revista <strong>de</strong>automóveis e foi um sucesso.Até hoje é.Olha, é a única coisa que merece o meu orgulho. Sementen<strong>de</strong>r nada <strong>de</strong> carros fiz uma revista que sobreviveulargamente a mim e continua fiel aos intuitos iniciais. Erauma revista que cobria muito turismo, o que permitiu aosCivita, <strong>de</strong>pois, criar os Guias Quatro Rodas (que foram osprimeiros guias <strong>de</strong> restaurantes do Brasil). Tinha muitosbons repórteres, gente que sabia escrever. Eles não iam sócontar que tinha um hotel assim, assado, faziam matériassociológicas. Descreviam o lugar: a paisagem física ehumana.Depois você foi para o Jornal da Tar<strong>de</strong>, não é?Na verda<strong>de</strong>, em 1964, já <strong>de</strong>pois do golpe, o Julio <strong>de</strong>Mesquita Neto me convidou para fazer a edição <strong>de</strong>esportes do Estadão. Eu estava a fim <strong>de</strong> me livrar daQuatro Rodas, porque o projeto da tal revista tinha gora-JJ|Out/Dez 2009|35

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