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A Metamorfose dos Gostos _Pierre Bourdieu - FESP

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lhe a competência necessária para objetivar um gosto. Mais exatamente, o artistaé alguém que reconhecemos como tal, reconhecendo-nos naquilo que ele faz,reconhecendo naquilo que ele fez aquilo que teríamos feito se soubéssemos fazêlo.É um "criador", palavra mágica que podemos empregar uma vez definida aoperação artística como operação mágica, isto é, tipicamente social. (Falar deprodutor, como se deve fazer, com muita freqüência, para romper com arepresentação comum do artista como criador − privando-se assim de todas ascumplicidades imediatas que esta linguagem tem certeza de encontrar, tanto entreos "criadores" quanto entre os consumidores, que gostam de se pensar como"criadores", com o tema da leitura como recriação −, é correr o risco de esquecerque o ato artístico é um ato de produção de tipo muito particular pois deve fazerexistir numa forma completa algo que já estava lá, exatamente à espera de suaaparição, e fazê-lo existir de uma maneira bem diferente, isto é, como uma coisasagrada, como objeto de crença).Os gostos, como conjunto de escolhas feitas por uma pessoa determinada,são, portanto, o produto de um encontro entre o gosto objetivado do artista e ogosto do consumidor. Falta compreender por que, a um dado momento do tempo,existem bens para to<strong>dos</strong> os gostos (ainda que, sem dúvida, não haja gosto parato<strong>dos</strong> os bens); por que os clientes mais diversos encontram objetos de seu gosto.(Em toda análise que faço, pode-se substituir mentalmente objeto de arte por bemou serviço religioso. A analogia com a Igreja mostra assim que o aggiornamentoum pouco precipitado substituiu uma oferta bastante monolítica por uma ofertamuito diversificada, satisfazendo to<strong>dos</strong> os gostos, missa em francês, latim, debatina, de roupa civil, etc.). Para dar conta deste ajustamento quase miraculoso daoferta à procura (com a exceção que representa a oferta maior do que a procura),poderíamos invocar, como faz Max Weber, a busca consciente do ajustamento, atransação calculada <strong>dos</strong> clérigos com as expectativas <strong>dos</strong> leigos. Assim, istosignificaria supor que o padre de vanguarda que oferece aos moradores de umsubúrbio operário uma missa "Iiberada" ou o padre integrista que reza sua missaem latim, têm uma relação cínica, ou pelo menos calculada, com sua clientela,estabelecendo com ela uma relação de oferta e procura inteiramente consciente;que ele está informado da demanda − não se sabe como, já que ela não sabe seformular e só se conhece ao se reconhecer em sua objetivação − e que se esforçapara satisfazê-la (há sempre esta suspeita em relação ao escritor de sucesso: seuslivros tiveram sucesso porque ele foi ao encontro das demandas do mercado,3

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