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4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo Nos ...

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<strong>4.</strong> CARACTERIZAÇÃO <strong>DA</strong> ÁREA<strong>4.</strong>1 <strong>Uso</strong> e Ocupação <strong>do</strong> <strong>Solo</strong><strong>Nos</strong> últimos 30 anos a pressão antrópica sobre a área reduziu a coberturavegetal de forma preocupante. As fotos aéreas <strong>do</strong> projeto FAB/SUDENE(GERAN-1970) e <strong>do</strong> projeto FIDEM (1983), provenientes <strong>do</strong> aero-levantamento<strong>do</strong> 1º/6º GAV da Base Aérea <strong>do</strong> Recife, vem comprovar que a área <strong>do</strong> entornoda reserva, na década de 70, apresentava cobertura vegetal quase contígua.As fotos da década de 80 demonstravam que a UC estan<strong>do</strong> inserida em áreainsularizada e quase nenhuma ocorrência de vegetação nativa no entornoten<strong>do</strong> consegui<strong>do</strong> manter parcialmente sua integridade. Porém, preocupaatualmente o avanço <strong>do</strong>s cultivos sobre as matas e quanto ainda seráderruba<strong>do</strong> pelos agricultores. Talvez a área não suporte mais 10 anos depressão antrópica.Foram identificadas duas unidades de conservação próximas a Gurjaú. AReserva Ecológica da Mata <strong>do</strong> Contra Açude, pertencente a duas propriedadesprivadas, localizadas a Nordeste da Usina Bom Jesus, no município <strong>do</strong> Cabode Santo Agostinho, com 114,56 hectares, defendida pela mesma Lei Estadualque criou Gurjaú (Nº 9989 de 1987). A área apresentava-se, em 1988, em bomesta<strong>do</strong> de Conservação, com monocultura da cana-de-açúcar no entorno(PERNAMBUCO, 2001:32). E Reserva Ecológica da Mata <strong>do</strong> Bom Jardim,inserida em única propriedade privada próxima ao Engenho Monte, localizadano mesmo município, com 245,28 hectares definida pela mesma lei estadual.Apresentava-se, em 1988, sem alteração, com monocultura de cana-de-açúcarno entorno (PERNAMBUCO, 2001:33). Essas Unidades de Conservação eáreas protegidas que foram criadas e não pertenciam às categorias previstasno SNUC, serão reavaliadas no prazo de até <strong>do</strong>is anos (SNUC, 2000:29).As atividades desenvolvidas em toda a bacia <strong>do</strong> Gurjaú interferem direta ouindiretamente na dinâmica <strong>do</strong> manancial hídrico. As massas de água não são sistemasfecha<strong>do</strong>s; antes precisam ser consideradas como parte de maiores bacias de drenagemou sistemas hidrográficos (ODUM, 1983:122). Os principais problemas que afetam os


mananciais hídricos são decorrentes <strong>do</strong> manejo inadequa<strong>do</strong> <strong>do</strong> solo e também dautilização incorreta de agrotóxicos, realizada por mora<strong>do</strong>res que praticam agricultura desubsistência e cultivo de cana de açúcar no entorno da reserva pela Usina Bom Jesus eseus engenhos. Essa atitude causa poluição, assoreamentos, contaminações <strong>do</strong>s cursosd’água e margens <strong>do</strong>s açudes e rio.<strong>Nos</strong> açudes de Gurjaú, Secupema e São Salva<strong>do</strong>r observou-se margensassoreadas e cultivadas com lavouras de subsistência.O açude de Gurjaú foi construí<strong>do</strong> sob o leito inundável <strong>do</strong> rio de mesmo nome,localiza<strong>do</strong> na porção Sul da Reserva, em terras <strong>do</strong> antigo Engenho São João.As margens encontram-se bem protegidas, salvo em alguns pontos onde seavista cultivo. No trecho <strong>do</strong> açude de Gurjaú pelo rio, até o Engenho São Brázobservam-se alguns sítios de bananas (Musa sp), macaxeira (manihot sp), emamão (Carica sp), alterna<strong>do</strong>s, onde deveria estar a mata ciliar. Em alguns“braços” <strong>do</strong> rio morto, incrustam-se sítios de bananeiras (Musa sp) dentro damata ciliar, competin<strong>do</strong> com pioneiras em regeneração, forman<strong>do</strong> um disclímaxantropogênico. Esses sistemas de culturas não são estáveis da forma comosão gerencia<strong>do</strong>s, pois estão sujeitos à erosão e lixiviação.Nas margens <strong>do</strong> açude encontramos algumas gramíneas e vegetação aquáticano leito como: Eichhornia e Nymphaea. Não há mora<strong>do</strong>res nessas localidades,mas avistam-se cais para atracamento de barcos e jangadas.O açude de Secupema apresenta características distintas: foi construí<strong>do</strong>posteriormente ao Açude de Gurjaú, sob o leito <strong>do</strong> Riacho São Salva<strong>do</strong>r,localiza<strong>do</strong> na região central da reserva, em terras <strong>do</strong> antigo EngenhoSecupema. Em área de relevo ondula<strong>do</strong>, possui suas margens com algumasencostas íngremes, por vezes desprovidas de vegetação ciliar.Alguns mora<strong>do</strong>res vivem no local há mais de 35 anos e relataram que o açudeera “limpo” periodicamente pela SANER (atual COMPESA). Há pelo menosdez anos, eles roçavam até cinco metros da margem para fazer manutençãonos açudes.Hoje os mora<strong>do</strong>res afirmam que “tem muito lixo no açude”, proveniente dasresidências próximas. As pessoas não têm como se "livrar" <strong>do</strong> lixo então jogamdentro <strong>do</strong> açude. Não há coleta de lixo nem saneamento básico, os dejetoshumanos são lança<strong>do</strong>s diretamente ao ar livre, sujeito a lixiviamento. Osmora<strong>do</strong>res confirmam que usam o açude para banhos, lavar roupas e


pescarias nas quais já capturaram: Traíra, Cará, Piaba, Gundelo e alguns jáviram Capivara.Avistam-se nas margens locais de criação de Caprinos, Suínos, Eqüinos,Patos, etc. e pontos de armadilhas para Capivara. As encostas desmatadas <strong>do</strong>açude contrastam com a vegetação ciliar.O açude de São Salva<strong>do</strong>r foi construí<strong>do</strong> sob o leito inundável <strong>do</strong> riacho demesmo nome, localiza<strong>do</strong> na porção Norte da Reserva, em terras <strong>do</strong> antigoEngenho São Salva<strong>do</strong>r. É o açude com presença de maior ação antrópicadentro da reserva. Sua lâmina d’água apresenta-se bastante reduzida. Asmargens não se encontram protegidas, em toda a borda observa-se a práticada cultura de subsistência, especialmente a macaxeira. Há vários pontos ondesão avista<strong>do</strong>s cultivos de posseiros e mora<strong>do</strong>res das margens usam bombaspara puxar água. Também se observam alguns sítios de bananas (Musa sp),macaxeira (manihot sp), onde deveria estar a mata ciliar.Da mata ciliar que margeava o açude, pouco resta. Na área que foi assoreada,próxima ao açude, é fácil identificar processos de competição com capins,espécies pioneiras como a embaúba (Cecropia sp.), forman<strong>do</strong> um disclímaxantropogênico.Numa das margens existe um córrego chama<strong>do</strong> Córrego <strong>do</strong> Abacaxi, que foiparcialmente destituí<strong>do</strong> de vegetação para cultivos diversos. Os mora<strong>do</strong>res sãoantigos, provavelmente, estão no local há cerca de 30 anos. <strong>Nos</strong> últimosmeses, foi intensificada a construção de moradias nas re<strong>do</strong>ndezas <strong>do</strong> açude eem toda a Reserva.Os posseiros visam a resulta<strong>do</strong>s econômicos a curto prazo e devastam asflorestas para plantio de cana-de-açúcar, por ser uma cultura de fácilmanutenção, ter merca<strong>do</strong> certo (a Usina Bom Jesus compra toda a produção),e por utilizarem veículos da própria usina para escoar o produto. Os poucosgêneros alimentícios produzi<strong>do</strong>s pelos posseiros são leva<strong>do</strong>s de ônibus afeiras livres de Jaboatão ou Cabo.Há características que dão certo grau de homogeneidade à área estudada: apobreza, a falta de informação e os poucos recursos. Reproduzida nessesaspectos fica a situação geral da problemática ambiental, com todas asdificuldades para encontrar soluções. Talvez apenas medidas de pequenoalcance, quase paliativas, possam ser tomadas em nível regional ou local.


Sabe-se <strong>do</strong> desprestígio de certos órgãos de planejamento junto àcomunidade, seja das mais diferentes esferas. Levantamentos, Diagnósticos,Relatórios, Recomendações, Planos e Projetos existem em quantidade, masfaltam medidas concretas na solução <strong>do</strong>s problemas fundamentais.A regularização <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> solo implicaria no disciplinamento deste erecuperação das áreas desflorestadas e matas ciliares preven<strong>do</strong> amanutenção <strong>do</strong>s açudes e nascentes. Porém a ausência desta faz daexistência de atividades agrícolas com expansão desenfreada e "loteamentos"de chácaras um perigo para a manutenção <strong>do</strong> ecossistema.<strong>4.</strong>2 Meio Biótico<strong>4.</strong>2.1 Levantamento de anfíbiosIntroduçãoA Mata Atlântica tem papel de destaque entre os ecossistemas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.Apresenta alto número de espécies e eleva<strong>do</strong> grau de endemismo. Todavia,trata-se de um <strong>do</strong>s habitats mais ameaça<strong>do</strong>s <strong>do</strong> planeta - razão pela qual foirecentemente incluída na lista de hotspots globais (Myers et al. 2000). Açõesantrópicas, cuja implementação remonta aos i<strong>do</strong>s de 1500, reduziram estepatrimônio biológico e genético a um conjunto de pequenos remanescentesflorestais (Fundação SOS Mata Atlântica 1992, Lima 1998). No Nordeste <strong>do</strong>Brasil, os fragmentos que ainda restam da Mata Atlântica totalizam apenascerca de 3% de sua extensão original (Câmara 1992). Tal redução de áreasflorestadas representa um perigo iminente à fauna e flora brasileiras, emespecial às espécies endêmicas <strong>do</strong> Nordeste, poden<strong>do</strong> causar alterações naabundância das populações naturais e eventualmente provocar a extinção deespécies locais (Laurance e Bierregaard 1997).Em cenários como o acima descrito, populações naturais de anfíbios merecemespecial atenção dada sua vulnerabilidade a mudanças ambientais. A maioriadas espécies de anfíbios (cujo nome vem <strong>do</strong> grego amphi = duas, bios = vida)possui <strong>do</strong>is mo<strong>do</strong>s de vida distintos: de seus ovos eclodem larvas aquáticas,ou girinos, que se metamorfoseiam em jovens com mo<strong>do</strong> de vida terrestre. Apele permeável destes animais torna-os particularmente expostos a alteraçõesfísicas e químicas da água, <strong>do</strong> solo, e <strong>do</strong> ar, fazen<strong>do</strong> deste grupo um excelentebio-indica<strong>do</strong>r. Adicionalmente, anfíbios constituem elementos-chave na cadeia


alimentar <strong>do</strong>s ecossistemas naturais (Stebbins e Cohen 1997, Pounds et al.1999).A despeito de sua importância ecológica e como patrimônio genético, poucosabemos sobre os anfíbios <strong>do</strong> Nordeste <strong>do</strong> Brasil (<strong>do</strong>s Santos e Carnaval2002). Ironicamente, é possível que o desaparecimento da Mata Atlânticanesta região esteja levan<strong>do</strong> à extinção espécies ainda desconhecidas dacomunidade científica. Frente ao supracita<strong>do</strong>, foi com satisfação queparticipamos <strong>do</strong>s levantamentos das espécies de anfíbios da Reserva deGurjaú, numa iniciativa com vistas à conservação deste remanescente florestalsitua<strong>do</strong> na Zona da Mata Sul <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Pernambuco.A Reserva de Gurjaú constitui um <strong>do</strong>s fragmentos de mata que compõem oComplexo Catende, área amplamente reconhecida como prioritária paraconservação e estu<strong>do</strong>s aprofunda<strong>do</strong>s da fauna e flora no Nordeste <strong>do</strong> Brasil.São dignas de nota as recomendações referentes a esta micro-regiãoencontradas nos <strong>do</strong>cumentos gera<strong>do</strong>s pelo workshop “Áreas Prioritárias paraConservação da Biodiversidade da Mata Atlântica no Nordeste”, realiza<strong>do</strong> noano de 1993 em Itamaracá, PE, e no workshop “Avaliação e Ações Prioritáriaspara a Conservação <strong>do</strong>s Biomas Floresta Atlântica e Campos Sulinos”,realiza<strong>do</strong> em Atibaia, SP, em 1999. Atualmente, a área consta como prioritáriapara pesquisa e conservação no Esta<strong>do</strong> de Pernambuco (Secretaria deCiência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco 2002).O presente relatório apresenta e discute os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s durante olevantamento quantitativo e qualitativo das espécies de anfíbios da Reserva deGurjaú, efetua<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong> de Agosto de 2002 a Abril de 2003. Ao fim <strong>do</strong>presente, são feitas algumas recomendações conservacionistas com base nasinformações levantadas.METODOLOGIAEsforço de Coleta e Áreas AmostradasDe mo<strong>do</strong> a gerar da<strong>do</strong>s qualitativos sobre a anurofauna da Reserva de Gurjaú,efetuaram-se 233 horas-homens de busca ativa de anfíbios em diferentespartes da Reserva, entre Agosto de 2002 e Abril de 2003. Durante os mesesde Agosto, Setembro, Novembro, Dezembro, Fevereiro, Março e Abril, os


trabalhos de busca foram executa<strong>do</strong>s por <strong>do</strong>is membros da equipe, varian<strong>do</strong>entre 16 e 26 horas-homem por mês. <strong>Nos</strong> meses de Outubro e Janeiro, trêsmembros participaram das buscas em campo, as quais corresponderam a 46 e41 horas-homem, respectivamente (Figura 3).50Horas-homem de busca ativa454035302520151050Ago.2002Set.2002Out.2002Nov.2002Dez.2002Jan.2003Fev.2003Mar.2003Abr.2003Figura 3 - Esforço mensal de captura de anfíbios na Reserva de Gurjaú através de busca ativadurante os meses de Agosto de 2002 a Abril de 2003.Para os trabalhos de busca ativa, percorreram-se a pé aproximadamente 22km de trilhas em áreas florestadas e áreas abertas dentro da área da Reservade Gurjaú, amostran<strong>do</strong>-se os seguintes ambientes: Trilha A – Aproximadamente, 2,4 Km de borda de mata ao longo daestrada de terra paralela à represa e que conecta a Barragem de Gurjaúà Barragem de Sucupema, incluin<strong>do</strong> poças laterais, poças temporárias,ambientes inunda<strong>do</strong>s pela água da barragem e vegetação adjacente. Atrilha corresponde ao trecho inicial da estrada de terra, estenden<strong>do</strong>-seda Barragem de Gurjaú até a área de cultura de cana; Trilha B - Aproximadamente 1,3 Km de borda de mata ao longo daestrada de terra que conecta a Barragem de Gurjaú à Barragem deSecupema, incluin<strong>do</strong> poças laterais, poças temporárias, ambientesinunda<strong>do</strong>s pela barragem e vegetação adjacente. A trilha estende-se dacultura de cana até a Barragem de Secupema; Trilhas C, D e E – Margem leste <strong>do</strong> riacho forma<strong>do</strong> pela Barragem deGurjaú e entorno da mata a oeste da Barragem de Gurjaú; Trilha F - Area de lavoura e cultivo de frutas nas proximidades da TrilhaA; Trilha G - Trilha na Mata da Porteira Preta;


Trilha H - Trilha na Mata <strong>do</strong> Sítio <strong>do</strong> Pica-Pau, passan<strong>do</strong> pela Barragemde Secupema, dirigin<strong>do</strong>-se para oeste até a cultura de cana; Trilha I - Trilha na Mata <strong>do</strong> Bonde; Trilha J - Trilha na Mata <strong>do</strong> Enxofre (alcançada com auxílio de bote); Trilha K - Arre<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s tanques de decantação e alojamento, junto àsede da COMPESA.Com vistas a complementar os da<strong>do</strong>s gera<strong>do</strong>s por procura ativa,registraram-se também os exemplares eventualmente captura<strong>do</strong>s em 39armadilhas tipo pitfall montadas pela Equipe de Répteis, sen<strong>do</strong> cada armadilhacomposta por quatro baldes (Heyer et al. 1994). Ao longo <strong>do</strong>s meses deAgosto a Abril, 30 armadilhas foram mantidas abertas na mata adjacente àtrilha principal que conecta a Barragem de Gurjaú à Barragem de Secupema(Trilha I), sen<strong>do</strong> conferidas a cada três dias. Entre os meses de Novembro aAbril, nove armadilhas adicionais foram colocadas na Mata <strong>do</strong> Enxofre (TrilhaJ), seguin<strong>do</strong>-se a mesma meto<strong>do</strong>logia.PROCEDIMENTOS DE BUSCA ATIVADurante to<strong>do</strong>s os dias de visita à Reserva, foi efetuada uma saída a campo noperío<strong>do</strong> noturno para busca ativa de indivíduos. Saídas a campo tambémforam executadas durante o dia, para coleta de indivíduos com atividadediurna, coleta de larvas e desovas.A cada saída noturna percorreu-se ao menos uma das trilhas selecionadaspara amostragem. Indivíduos adultos foram localiza<strong>do</strong>s visualmente, com oauxílio de lanternas, ou através de suas vocalizações. O tempo depermanência na trilha variou conforme o número de indivíduos presentes,oscilan<strong>do</strong> entre duas e quatro horas. Saídas diurnas também oscilaram emduração, varian<strong>do</strong> de meia hora a cinco horas.Para cada saída de campo foi preenchida uma ficha (Anexo I), em que seanotaram da<strong>do</strong>s a respeito da data de coleta, equipe de trabalho, horário deinício <strong>do</strong>s trabalhos de campo, horário de término <strong>do</strong>s trabalhos de campo,temperatura, condições <strong>do</strong> tempo, espécies encontradas, número deindivíduos avista<strong>do</strong>s para cada espécie, ambiente utiliza<strong>do</strong> por cada espécie


(mata, reservatório, poça temporária, água corrente, etc.), e micro-ambienteutiliza<strong>do</strong> (folhas sobre poça, galhos de árvores, chão da mata, etc.).Representantes adultos das espécies encontradas foram manualmentecoleta<strong>do</strong>s e posteriormente sacrifica<strong>do</strong>s e preserva<strong>do</strong>s em meio líqui<strong>do</strong>, demo<strong>do</strong> a constituirem testemunhos da identificação taxonômica. Girinos tambémforam coleta<strong>do</strong>s com auxílio de peneiras durante excursões diurnas, emanti<strong>do</strong>s em lotes individuais.LEVANTAMENTO QUANTITATIVOCom vistas a permitir uma comparação quantitativa a respeito da freqüência deencontro das diferentes espécies de anfíbios da Reserva de Gurjaú,compilaram-se to<strong>do</strong>s os registros visuais efetua<strong>do</strong>s nas trilhas A, B, C, D, E, eH, bem como nas áreas das trilhas G, I, e J onde a borda da mata se aproximada água da barragem, totalizan<strong>do</strong> 20 noites de observação. O levantamentoquantitativo se restringiu às áreas acima mencionadas uma vez que asmesmas se assemelham quanto aos micro-ambientes que apresentam, sen<strong>do</strong>aparentemente ocupadas pelo mesmo conjunto de espécies. De mo<strong>do</strong> amanter a amostragem uniforme, os da<strong>do</strong>s compila<strong>do</strong>s para fins de análisequantitativa foram coleta<strong>do</strong>s por <strong>do</strong>is componentes da equipe (G. Moura e M.Silva). Visan<strong>do</strong> a uniformizar os da<strong>do</strong>s, o número de indivíduos observa<strong>do</strong>s porespécie foi dividi<strong>do</strong> pelo número total de homens-hora de amostragemefetua<strong>do</strong> na noite <strong>do</strong> registro. Para fins de comparação, os resulta<strong>do</strong>s foramplota<strong>do</strong>s por espécie.PROCEDIMENTOS EM LABORATÓRIOOs exemplares coleta<strong>do</strong>s para fins de identificação foram trasporta<strong>do</strong>s emsacos plásticos para o alojamento. Antes de serem sacrifica<strong>do</strong>s, os indivíduosforam fotografa<strong>do</strong>s e observa<strong>do</strong>s quanto à sua coloração em vida. Seguin<strong>do</strong>recomendações e meto<strong>do</strong>logias discutidas na literatura (Heyer et al. 1994), osindivíduos foram anestesia<strong>do</strong>s em solução de clorobutanona ou etanol efixa<strong>do</strong>s em solução de formaldeí<strong>do</strong> a 10%. Após uma semana de fixação,todas as carcaças foram transferidas para solução de etanol a 70%. Girinoscoleta<strong>do</strong>s em estágios iniciais de desenvolvimento foram manti<strong>do</strong>s emaquários, para que se desenvolvessem, permitin<strong>do</strong> assim sua identificação.


Girinos em estágios mais avança<strong>do</strong>s tiveram seu padrão de colori<strong>do</strong> descrito eforam fixa<strong>do</strong>s e manti<strong>do</strong>s em solução de formaldeí<strong>do</strong> a 5% (Heyer et al. 1994).Os exemplares coleta<strong>do</strong>s foram adiciona<strong>do</strong>s à Coleção Herpetológica <strong>do</strong>Laboratório de Vertebra<strong>do</strong>s da Universidade Federal de Pernambuco.Resulta<strong>do</strong>sComponentes da BiodiversidadeVinte e seis (26) espécies de anfíbios, todas pertencentes à Ordem Anura,foram registradas em Gurjaú. Quatro famílias encontram-se representadas naReserva, a saber: Bufonidae (04 espécies), Hylidae (12 espécies),Leptodactylidae (09 espécies) e Ranidae (01 espécie) (Tabela I, Figura 4).4%15%35%46%BufonidaeHylidaeLeptodactylidaeRanidaeFigura 4 - Representatividade das famílias de Anuros na Reserva de Gurjaú.A acumulação de registros de espécies não se deu de forma homogênea aolongo <strong>do</strong>s trabalhos de levantamento. Vinte anfíbios foram registra<strong>do</strong>s durantea primeira metade <strong>do</strong>s trabalhos de campo (de Agosto a Novembro de 2002),enquanto seis táxons adicionais foram registra<strong>do</strong>s entre Dezembro de 2002 eAbril de 2003 (Figura 5).3025201510509 Ago.11 Ago.31 Ago.8 Set.15 Set.17 Out.19 Out.21 Out.3 Nov.6 Dez.21 Dez.16 Jan.19 Jan.22 Jan.9 Fev.23 Fev.8 Mar.30 Mar.20 Abr.27 Abr.


Figura 5 - Total acumula<strong>do</strong> <strong>do</strong> número de espécies de anfíbios registradas na Reserva de Gurjaú entre osmeses de Agosto de 2002 e Abril de 2003.Tabela 6 - Lista <strong>do</strong>s anfíbios anuros da Reserva de Gurjaú. Nomes populares, quan<strong>do</strong> existentes, sãoforneci<strong>do</strong>s na coluna à direita.ORDEM ANURAFamília BufonidaeBufo crucifer Wied-Neuwied, 1821Bufo granulosus Spix, 1824Bufo jimi Stevaux, 2002Frostius pernambucensis (Bokermann, 1962)Família HylidaeHyla albomarginata Spix, 1824Hyla atlantica Caramaschi and Velosa, 1996Hyla branneri Cochran, 1948Hyla decipiens Lutz, 1925Hyla aff. nana Boulenger, 1889Hyla raniceps (Cope, 1862)Hyla semilineata Spix, 1824Phyllodytes luteolus (Wied-Neuwied, 1824)Phyllomedusa hypochondrialis (Daudin,1800)Scinax auratus (Wied-Neuwied, 1821)Scinax nebulosus (Spix, 1824)Scinax x-signatus (Spix, 1824)Família LeptodactylidaeAdenomera cf. marmorata Steindachner,1867Eleutherodactylus sp.Leptodactylus labyrinthicus (Spix, 1824)Leptodactylus natalensis Lutz, 1930Leptodactylus ocellatus (Linnaeus, 1758)Leptodactylus troglodytes Lutz, 1926Physalaemus cuvieri Fitzinger, 1826Proceratophrys boiei (Wied-Neuwied, 1824)Pseu<strong>do</strong>paludicola sp.Família RanidaeRana palmipes Spix, 1824“sapo cururu”“cururuzinho”“sapo cururu grande”, “sapo boi”“perereca verde”“pererequinha amarela”“r㔓rã de listra”“sapinho amarelo”“perereca de banheiro”, “raspa côco”“sapinho da mata”“gia pimenta”, “rã pimenta”, “gia boi”“caçote marrom”, “caçote”“rã manteiga”“caçote da barreira”“sapinho <strong>do</strong> oi”, “foi-não-foi”“sapo boi”, “sapo de chifre”“caçote verde”, “caçote”DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL


Os anfíbios de Gurjaú diferiram no tocante à utilização <strong>do</strong> espaço físico daReserva (Tabela 7).Tabela 7 - Sítios de encontro das espécies de anuros da Reserva de Gurjau.EspécieEntorno daRepresaInterior daMataAdenomera cf. marmorata X XBufo crucifer X XBufo granulosus X XBufo jmiXEleutherodactylus sp. X XFrostius pernambucensisXHyla atlanticaXHyla albomarginataXHyla branneriXHyla decipiensXHyla aff. nanaXHyla ranicepsXHyla semilineata X XLeptodactylus labyrinthicus X XLeptodactlys natalensisXLeptodactylus ocellatusXLeptodactlus troglodytesXPhyllodytes luteolusXPhyllomedusa hypochondrialis XPhysalaemus cuvieri X XProceratophrys boieiXPseu<strong>do</strong>paludicola sp.XRana palmipes X XScinax auratusXScinax nebulosusXScinax x-signatusXA maioria das espécies (58% <strong>do</strong> total) foi encontrada nas proximidades daágua represada pelas barragens da COMPESA. São elas: Bufo jimi, Frostiuspernambucensis, Hyla atlantica, H. albomarginata (Figura 6), H. branneri, H.decipiens, H. aff. nana, H. raniceps, Leptodactylus natalensis, L. ocellatus,Phyllomedusa hypochondrialis, Pseu<strong>do</strong>paludicola sp., Scinax auratus, S.nebulosus e S. x-signatus. A existência de discos adesivos nos de<strong>do</strong>s dasespécies pertencentes à família Hylidae (H. atlantica, H. albomarginata, H.branneri, H. decipiens, H. aff. nana, H. raniceps, P. hypochondrialis, S. auratus,S. nebulosus e S. x-signatus) permitem às mesmas ocupar a vegetação semiaquática,arbustiva, ou arbórea junto à água. Já as espécies pertecentes às


famílias Bufonidae e Leptodactylidae (como B. jimi, L. natalensis, L. ocellatus ePseu<strong>do</strong>paludicola sp., por exemplo), desprovidas de discos adesivos, serestringem ao chão das trilhas, matas, e áreas alagadas no entorno darepresa.Figura 6 - Hyla albomarginata, Gurjau, janeiro de 2003.Oito espécies (31% <strong>do</strong> total) foram registradas tanto nas imediações darepresa, quanto no interior da mata. São elas: Adenomera cf. marmorata, Bufocrucifer, B. granulosus, Eleutherodactylus sp., Hyla semilineata, Leptodactlyslabyrinthicus, Physalaemus cuvieri e Rana palmipes. Dentre essas,Eleutherodactylus sp. e H. semilineata são capazes de utilizar a vegetaçãolocal como abrigo e área de vocalização. As demais se limitam a ocupar ochão da mata.Três espécies – Leptodactylus troglodytes, Phylodytes luteolus eProceratophrys boiei (Figura 7) – foram registradas exclusivamente em áreasde mata. Novamente se observaram diferenças no tocante ao micro-habitatutiliza<strong>do</strong> pelas espécies: enquanto P. luteolus foi capaz de utilizar a vegetaçãolocal como sítio de abrigo, os leptodactylideos L. troglodytes e P. boiei serestringiram ao chão da mata, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> captura<strong>do</strong>s em armadilhas <strong>do</strong> tipopitfall.


Figura 7 - Proceratophrys boiei (Fotografia de S.A. Roda).SÍTIOS DE VOCALIZAÇÃO E SÍTIOS REPRODUTIVOSAtravés da observação de desovas, girinos, e atividades de vocalização, foipossível registrar os ambientes utiliza<strong>do</strong>s para fins reprodutivos por 18 das 26espécies locais (Tabela 8). Oito espécies – Hyla atlantica (Figura 7), H.albomarginata, H. semilineata, H. raniceps, Phyllomedusa hypochondrialis,Scinax auratus, S. nebulosus e S. x-signatus – vocalizaram sobre vegetaçãoarbustiva ou arbórea próxima à represa. Três espécies – H. branneri, Hyla aff.nana (Figura 8) e Hyla decipiens – vocalizaram unicamente sobre asgramíneas parcialmente submersas pela água da represa e/ou sobre avegetação subaquática.Figura 8 - Hyla atlântica Gurjaú, janeiro de 2003.No tocante às espécies de chão, quatro espécies – Bufo jimi, Leptodactyluslabyrinthicus, Pseu<strong>do</strong>paludicola sp. e Rana palmipes – utilizaram as margens


da represa como sítio de vocalização. Pseu<strong>do</strong>paludicola sp. diferenciou-se dasdemais por vocalizar unicamente em áreas encharcadas e elameadas,geralmente por entre gramíneas parcialmente inundadas.Figura 9 - Hyla aff. nana Gurjaú, janeiro de 2003.Hyla semilineata e Rana palmipes foram capazes de utilizar, como sítio dedesova, a água corrente por entre as rochas abaixo da Barragem de Gurjaú.Pseu<strong>do</strong>paludicola sp. e Scinax x-signatus também utilizaram este ambientecomo sítio de vocalização.Leptodactylus natalensis e Physalaemus cuvieri destacaram-se das demaisespécies da Reserva por reproduzirem-se em poças temporárias, às vezesutilizan<strong>do</strong> ambientes aquáticos de curta duração. Em várias ocasiões,indivíduos reprodutivamente ativos foram encontra<strong>do</strong>s na água acumulada emdepressões rasas formadas pelos pneus <strong>do</strong>s carros que circulavam nas trilhasA e B.As atividades de vocalização de Eleutherodactylus sp. Diferenciaram-se dasdemais por ocorrerem na borda e no interior da mata, muitas vezes em locaisafasta<strong>do</strong>s da água.No tocante à utilização de diferentes tipos de corpos d’água como sítio dereprodução, observamos que o entorno da represa foi a área em que seregistrou o maior número de espécies com atividade de vocalização, desovase/ou girinos (14 táxons). Todavia, poças temporárias e áreas de gramíneasinundadas não diferiram muito quanto ao número de anfíbios aí registra<strong>do</strong>s,ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> utilizadas por 11 e 10 espécies, respectivamente (Tabela 8).Tabela 8 - Sítios de vocalização, desova, e/ou desenvolvimento de girinos pelas espécies deanuros da Reserva de Gurjau.EspécieRepresaPoçasTemporáriasAlaga<strong>do</strong>sÁguaCorrenteMata


Bufo jmiXEleutherodactylus sp.Hyla albomarginata X X XHyla atlantica X X XHyla branneri X X XHyla decipiens X XHyla aff. nanaXHyla ranicepsXHyla semilineata X X XLeptodactylusX X XlabyrinthicusLeptodactlys natalensisXPhyllomedusaX X XhypochondrialisPhysalaemus cuvieriXPseu<strong>do</strong>paludicola sp. X X XRana palmipes X X XScinax auratus X X XScinax nebulosus X X XScinax x-signatus X XXTOLERÂNCIA À AÇÃO HUMANAAs espécies de anuros da Reserva de Gurjaú diferiram no que diz respeito aograu de tolerância a modificações ambientais causadas pelo Homem (Tabela9). Indivíduos de Adenomera cf. marmorata, Bufo crucifer, B. jimi,Eleutherodactylus sp., Hyla semilineata, Phyllodytes luteolus, Rana palmipes eScinax x-signatus foram registra<strong>do</strong>s em locais onde a vegetação localencontra-se em contato com, ou é parcialmente substituída por, áreas decultivo e lavoura. Representantes de Bufo granulous, B. jimi, Leptodactlyluslabyrinthicus e S. x-signatus foram encontra<strong>do</strong>s em imediações de construçõeshumanas, tal como a sede da COMPESA. Nenhuma das demais 16 espécies(i.e., 62% <strong>do</strong> total) foi registrada em áreas intensamente modificadas por açãohumana.Tabela 9 - Ocorrência das espécies de anfíbios em ambientes modifica<strong>do</strong>s pelo Homem.


EspéciesÁreas de Cultivo eLavouraImediações deConstruçõesAdenomera cf. marmorata X -Bufo crucifer X -Bufo granulosus - XBufo jmi X XEleutherodactylus sp. X -Frostius pernambucensis - -Hyla atlantica - -Hyla albomarginata - -Hyla branneri - -Hyla decipiens - -Hyla aff. nana - -Hyla raniceps - -Hyla semilineata X -Leptodactylus labyrinthicus - XLeptodactlys natalensis - -Leptodactylus ocellatus - -Leptodactlus troglodytes - -Phyllodytes luteolus X -Phyllomedusa- -hypochondrialisPhysalaemus cuvieri - -Proceratophrys boiei - -Pseu<strong>do</strong>paludicola sp. - -Rana palmipes X -Scinax auratus - -Scinax nebulosus - -Scinax x-signatus X X<strong>DA</strong>DOS QUANTITATIVOSDezoito espécies foram registradas visualmente durante os levantamentosquantitativos: Bufo crucifer, B. granulosus, B. jimi, Eleutherodactylus sp.,Frostius pernambucensis, Hyla albomarginata, H. atlantica, H. branneri, H.raniceps, H. semilineata, Leptodactylus labyrinthicus, L. natalensis, L.ocellatus, Phyllomedusa hypochondrialis, Physalaemus cuvieri, Rana palmipes,Scinax auratus e S. x-signatus.O número de indivíduos avista<strong>do</strong>s variou entre táxons (Figura 9). Hylasemilineata e Rana palmipes foram as espécies registradas com maisfreqüência, sen<strong>do</strong> encontradas em relativa abundância. Enquanto asobservações de indivíduos de H. semilineata deram-se de forma homogêneaao longo <strong>do</strong>s trabalhos de campo, um maior número de indivíduos de R.palmipes foi registra<strong>do</strong> nos primeiros meses de amostragem <strong>do</strong> que nos mesesseguintes.


Bufo jimi, Eleutherodactylus sp. e Leptodactylus labyrinthicus apresentaramrazoável número de registros visuais, sen<strong>do</strong> encontra<strong>do</strong>s na maioria <strong>do</strong>smeses. Uma das noites de levantamento (7 de Dezembro) apresentoucondições apropriadas à reprodução de B. jimi, acarretan<strong>do</strong> em um grandenúmero de encontros de indivíduos da espécie, to<strong>do</strong>s em atividade reprodutiva.Bufo crucifer, Hyla albomarginata, H. atlantica, H. branneri, Leptodactylusnatalensis e Physalaemus cuvieri foram avista<strong>do</strong>s em menores números,porém ao menos em três ocasiões. Bufo granulosus, Frostius pernambucensis,Hyla raniceps, Leptodactylus ocellatus, Phyllomedusa hypochondrialis, Scinaxauratus e S. x-signatus apresentaram as mais reduzidas taxas de encontrosvisuais, sen<strong>do</strong> avistadas uma ou duas vezes dentre as 20 noites deamostragem.87654321010 Ago.11 Ago.07 Set.87654321010 Ago.11 Ago.07 Set.87654321010 Ago.11 Ago.07 Set.87654321010 Ago.11 Ago.07 Set.876543210Bufo cruciferBufo jimi07 Set.15 Set.2 Nov.25 Nov.6 Dez.7 Dez.21 Dez.2 Fev.9 Fev.Frostius pernambucensisHyla atlanticaHyla raniceps07 Set.15 Set.2 Nov.25 Nov.6 Dez.7 Dez.21 Dez.2 Fev.9 Fev.07 Set.15 Set.2 Nov.25 Nov.6 Dez.7 Dez.21 Dez.2 Fev.9 Fev.07 Set.15 Set.2 Nov.25 Nov.6 Dez.7 Dez.21 Dez.2 Fev.9 Fev.16 Fev.16 Fev.23 Fev.8 Mar.23 Mar.30 Mar.13 Abr.20 Abr.26 Abr.16 Fev.23 Fev.8 Mar.23 Mar.30 Mar.13 Abr.20 Abr.26 Abr.16 Fev.23 Fev.8 Mar.23 Mar.30 Mar.13 Abr.20 Abr.26 Abr.23 Fev.8 Mar.23 Mar.30 Mar.13 Abr.20 Abr.26 Abr.87654321087654321010 Ago.11 Ago.07 Set.87654321010 Ago.11 Ago.07 Set.87654321010 Ago.11 Ago.07 Set.876543210Bufo granulosusEleutherodactylus sp.10 Ago.11 Ago.07 Set.Hyla albomarginataHyla branneriHyla semilineata07 Set.15 Set.2 Nov.25 Nov.6 Dez.7 Dez.21 Dez.2 Fev.9 Fev.16 Fev.23 Fev.07 Set.15 Set.2 Nov.25 Nov.6 Dez.7 Dez.21 Dez.2 Fev.9 Fev.16 Fev.07 Set.15 Set.2 Nov.25 Nov.6 Dez.7 Dez.21 Dez.2 Fev.9 Fev.16 Fev.07 Set.15 Set.2 Nov.25 Nov.6 Dez.7 Dez.21 Dez.2 Fev.9 Fev.8 Mar.23 Mar.30 Mar.13 Abr.20 Abr.26 Abr.23 Fev.8 Mar.23 Mar.30 Mar.13 Abr.20 Abr.26 Abr.23 Fev.8 Mar.23 Mar.30 Mar.13 Abr.20 Abr.26 Abr.16 Fev.23 Fev.8 Mar.23 Mar.30 Mar.13 Abr.20 Abr.26 Abr.


1011070715225672129162382330132026101107071522567212916238233013202610 10 Ago. Ago.11 11 Ago. Ago.07 07 Set. Set.07 07 Set. Set.15 15 Set. Set.2 Nov. 2 Nov.25 Nov.25 6 Dez. Nov.76 Dez. Dez.10 Ago.217 Dez. Dez.11 Ago.21 2 Fev. Dez.07 Set.92 Fev. Fev.07 Set.16 9 Fev. Fev.15 Set.2316 Fev. Fev.2 Nov.823 Mar. Fev.25 Nov.23 Mar.6 Dez.308 Mar. Mar.7 Dez.13 23 Abr. Mar.21 Dez.20 30 Abr. Mar.2 Fev.26 13 Abr. Abr.9 Fev.10 Ago.20 Abr.16 Fev.11 Ago.26 Abr.23 Fev.10 Ago.07 Set.8 Mar.11 Ago.07 Set.23 Mar.07 Set.15 Set.30 Mar.07 Set.2 Nov.13 Abr.15 Set.25 Nov.20 Abr.2 Nov.6 Dez.26 Abr.25 Nov.7 Dez.6 Dez.21 Dez.7 Dez.2 Fev.21 Dez.9 Fev.10 Ago.2 Fev.16 Fev.11 Ago.9 Fev.23 Fev.07 Set.16 Fev.8 Mar.07 Set.23 Fev.23 Mar.15 Set.8 Mar.30 Mar.2 Nov.23 Mar.13 Abr.25 Nov.30 Mar.20 Abr.6 Dez.13 Abr.26 Abr.7 Dez.20 Abr.21 Dez.26 Abr.2 Fev.10 Ago.9 Fev.11 Ago.16 Fev.07 Set.23 Fev.07 Set.8 Mar.15 Set.23 Mar.2 Nov.30 Mar.25 Nov.13 Abr.6 Dez.20 Abr.7 Dez.26 Abr.21 Dez.2 Fev.10 Ago.9 Fev.11 Ago.16 Fev.07 Set.23 Fev.07 Set.8 Mar.15 Set.23 Mar.2 Nov.30 Mar.25 Nov.13 Abr.6 Dez.20 Abr.7 Dez.26 Abr.21 Dez.2 Fev.9 Fev.16 Fev.23 Fev.8 Mar.23 Mar.30 Mar.13 Abr.20 Abr.26 Abr.Figura 89 - Número de indivíduos avista<strong>do</strong>s por horas.homem de amostragem para cada espécie7 Leptodactylus labyrinthicus8de anfíbio 8Leptodactylus natalensis6 em trilhas da Reserva de Gurjaú (detalhes em7Meto<strong>do</strong>logia).76554433221100AMOSTRAGEM EM PITFALLUm pequeno número de indivíduos foi captura<strong>do</strong> em armadilhas <strong>do</strong> tipo pitfall(Tabela10).876543210876Leptodactylus ocellatusPhysalaemus cuvieriTabela 5 10 - Número de indivíduos captura<strong>do</strong>s em 30 armadilhas5na Trilha I (Agosto de 2002 a43Abril de22003) e em 9 armadilhas na Trilha J (Novembro 1 de 2002 a Abril de 2003).10Scinax auratusEspécieNúmero deIndivíduosTrilha INúmero deIndivíduosTrilha JAdenomera cf. marmorata 83 -7Bufo crucifer 6Scinax x-signatus5-4Bufo granulosus 31 -Bufo jmi 02- -Eleutherodactylus sp. 3 -Frostius pernambucensis - -Hyla atlantica - -Hyla albomarginata - -Hyla branneri - -Hyla decipiens - -Hyla aff. nana - -Hyla raniceps - -Hyla semilineata 3 1Leptodactylus labyrinthicus - -Leptodactlys natalensis - -Leptodactylus ocellatus - -Leptodactlus troglodytes 3 -Phyllodytes luteolus - -Phyllomedusa hypochondrialis - -Physalaemus cuvieri 5 -Proceratophrys boiei - 5Pseu<strong>do</strong>paludicola sp. - -Rana palmipes 1 -Scinax auratus - -Scinax nebulosus - -Scinax x-signatus - -65432108765432108764320Phyllomedusa hypochondrialisRana palmipes


Dentre as 26 espécies registradas na Reserva, apenas nove (35% <strong>do</strong> númerototal) foram capturadas em pitfall. São elas: Adenomera cf. marmorata, Bufocrucifer, B. granulosus, Eleutherodactylus sp., Hyla semilineata, Leptodactylustroglodytes, Physalaemus cuvieri, Proceratophrys boiei e Rana palmipes. Onúmero de indivíduos coleta<strong>do</strong>s oscilou ligeiramente entre as espécies,pertencen<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s à mesma ordem de grandeza e varian<strong>do</strong> entre 1 e 6.DISCUSSÃOA Classe Amphibia é composta por três ordens: Anura (incluin<strong>do</strong> os sapos, rãse pererecas), Caudata (salamandras) e Gymnophiona (cecílias) (Stebbins eCohen 1997). Os levantamentos da Reserva de Gurjaú registraram apenas aocorrência de anuros. Tal ausência de representantes das ordens Caudata eGymnophiona não surpreende. No que se refere à Ordem Caudata, apenasuma espécie ocorre no Brasil. Trata-se de Bolitoglossa altamazonica (Cope),cuja distribuição no território nacional é restrita à Amazônia (Frost 2002). Noque se refere à Ordem Gymnophiona, o número de representantes no paístambém é baixo quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> ao número de anuros (Duellman 1999).Adicionalmente, o hábito fossorial das cecílias torna sua amostragem difícil. Amaior parte <strong>do</strong>s registros para este grupo é feita graças a encontros casuais,geralmente após fortes chuvas (Heyer et al. 1994). Da<strong>do</strong> que os trabalhos delevantamento biológico em Gurjaú foram executa<strong>do</strong>s em meses de poucapluviosidade, não é de se estranhar a ausência de representantes dessaOrdem nas amostragens.No tocante aos anuros registra<strong>do</strong>s em Gurjaú, nota-se a granderepresentatividade das Famílias Hylidae e Leptodactylidae – as quaiscorresponderam, respectivamente, a 46% e 35% das espécies amostradas(Figura 4). Uma vez que essas constituem as famílias mais ricas em espéciesna região Neotropical (Duellman e Trueb 1994), não causa surpresa que omesmo padrão seja observa<strong>do</strong> a nível local.No que se refere a questões taxonômicas, 21 anfíbios anuros de Gurjaúpuderam ser identifica<strong>do</strong>s ao nível de espécie. Todavia, somente através de


uma ampla revisão das espécies brasileiras <strong>do</strong>s gêneros Adenomera,Eleutherodactylus e Pseu<strong>do</strong>paludicola, incluin<strong>do</strong> exemplares provenientes deoutras regiões <strong>do</strong> país, será possível esclarecer a taxonomia <strong>do</strong>s exemplaresde Adenomera cf. marmorata, Eleutherodactylus sp. e Pseu<strong>do</strong>paludicola sp.coleta<strong>do</strong>s na Reserva. Esses três gêneros de leptodactilídeos sãonotoriamente conheci<strong>do</strong>s por sua complexidade taxonômica e pelo número dequestões ainda pendentes no que se refere à sua sistemática. Hyla aff. nanatambém merece especial atenção, poden<strong>do</strong> tratar-se de uma espécie aindanão descrita. De mo<strong>do</strong> a confirmar a sua identificação, será necessário coletaruma série maior de exemplares em Gurjaú, comparan<strong>do</strong>-a a espécimes de H.nana obti<strong>do</strong>s em diversas áreas <strong>do</strong> país e fora dele. Atualmente, H. nana é tidacomo espécie amplamente distribuída na América <strong>do</strong> Sul, existin<strong>do</strong> registros<strong>do</strong> Nordeste <strong>do</strong> Brasil ao Paraguai, incluin<strong>do</strong> o norte da Argentina, leste daBolívia, Uruguai e Bacia <strong>do</strong> Prata (Frost 2002). É provável que uma revisãodesses exemplares revele que os mesmos representem um conjunto deespécies distintas, fazen<strong>do</strong> de H. nana um complexo de espécies.A anurofauna de Gurjaú contém elementos e representantes de diversosecossistemas brasileiros. Onze espécies encontradas em Gurjaú (ou seja, 42%<strong>do</strong> total) são endêmicas da Mata Atlântica. Trata-se de Adenomera cf.marmorata, Bufo crucifer, Eleutherodactylus sp, Frostius pernambucensis, Hylaatlantica, H. branneri, H. decipiens, H. semilineata, Phyllodytes luteolus,Proceratophrys boiei e Scinax auratus. Cinco táxons ocorrem na MataAtlântica, Cerra<strong>do</strong> e Caatinga: Bufo jimi, Leptodactylus labyrinthicus, L.natalensis, L. troglodytes e Physalaemus cuvieri. Cinco espécies sãoencontradas na Mata Atlântica, Amazônia/Guianas, Cerra<strong>do</strong> e Caatinga: Bufogranulosus, Hyla raniceps, Leptodactylus ocellatus, Phyllomedusahypochondrialis e Scinax x-signatus. Três espécies ocorrem na Mata Atlânticae Amazônia - Hyla albomarginata, Scinax nebulosus e Rana palmipes(Duellman 1999). Nenhuma das espécies registradas até o momento encontrasena Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas deExtinção, recentemente atualizada pelo Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente edisponível em seu website, http://www.meioambiente.gov.br /port/sbf/index.cfm.A ocorrência de Frostius pernambucensis na Reserva de Gurjaú merecedestaque. Trata-se de uma espécie endêmica da Mata Atlântica Nordestina,


cuja distribuição conhecida limitava-se, até o momento, ao Horto Florestal DoisIrmãos (PE) e à Reserva de Murici (AL) (Bokermann 1962, Peixoto e Freire1998). O registro de F. pernambucensis em Gurjaú amplia sua área deocorrência dentro <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Pernambuco, e faz da Reserva área prioritáriapara conservação da espécie.À excessão de Hyla aff. nana, todas as demais espécies de anurosencontradas em Gurjaú (Tabela 6) possuem registro de ocorrência emPernambuco. Compilações recentes indicam que 65 espécies de anfíbiosanuros encontram-se registradas para o Esta<strong>do</strong> (<strong>do</strong>s Santos e Carnaval 2002,O. L. Peixoto, comunicação pessoal). A anurofauna representada na Reservade Gurjaú inclui 40% desse número. Táxons habitat-específicos, avista<strong>do</strong>s emoutras áreas de mata <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, não foram, até o momento, registra<strong>do</strong>s emGurjaú. É o caso, por exemplo, de Hylomantis granulosa (Cruz), espécieendêmica de Pernambuco e listada pelo Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente comocriticamente em perigo, e Scinax gr. catharinae, registrada em Jaqueira. Fatosemelhante ocorre com alguns táxons que utilizam bromeliáceas como abrigoou sítio de reprodução, tal como Gastrotheca fissipes (Boulenger), registradano Horto Dois Irmãos, Caetés e Jaqueira, e Scinax pachycrus (Miranda-Ribeiro), encontrada em Tapacurá, Jaqueira, Brejo <strong>do</strong>s Cavalos, e na ReservaBiológica de Serra Negra. Também não foram registradas em Gurjaú algumasespécies tolerantes a ambientes de borda de mata e áreas abertas,normalmente encontradas em diversas altitudes no Esta<strong>do</strong> de Pernambuco. Éo caso, por exemplo, de Hyla crepitans Wied-Neuwied, H. elegans Wied-Neuwied, H. minuta Peters e Scinax eurydice (Bokermann) (<strong>do</strong>s Santos eCarnaval 2002).A ausência de tais registros pode se dever ao fato da anurofauna de Gurjaúainda estar subestimada. Apesar da curva de acumulação de espécies teralcança<strong>do</strong> um platô, estabilizan<strong>do</strong>-se ao fim <strong>do</strong>s trabalhos de campo (Figura4), é importante ter em mente que o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> ano em que o presentelevantamento foi efetua<strong>do</strong> não constitui o mais apropria<strong>do</strong> para amostragensde anfíbios. Anfíbios são facilmente observa<strong>do</strong>s durante sua época dereprodução, a qual, no Nordeste <strong>do</strong> Brasil, está intimamente relacionada aoperío<strong>do</strong> de chuvas (Arzabe 1998). Uma vez que o presente levantamentoiniciou-se ao fim da estação chuvosa, ten<strong>do</strong> que ser concluí<strong>do</strong> antes <strong>do</strong> início


das fortes chuvas na região da Zona da Mata Sul de Pernambuco, é possívelque o número real de espécies de anfíbios existentes na Reserva de Gurjaúexceda os 26 táxons registra<strong>do</strong>s até o momento. Futuros trabalhos de campona Reserva deverão contribuir com novos registros para a localidade.A ausência de determinadas espécies na Reserva pode estar tambémassociada às características topográficas locais. Por estar localizada em áreade mata de baixada e próxima ao mar, é natural que a anurofauna de Gurjaúapresente diferenças em relação às observadas nos brejos, florestas dealtitude, e/ou áreas de caatinga <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Pernambuco.Observações sobre os ambientes ocupa<strong>do</strong>s pelas diferentes espécies deanfíbios em Gurjaú mostraram que as mesmas são capazes de partilhar ossítios de abrigo e reprodução existente na Reserva através da utilizaçãodiferenciada <strong>do</strong>s vários micro-habitats disponíveis (Tabelas 3 e 4). Oestabelecimento de mecanismos de partilha de recursos entre espécies deanfíbios – através de diferenças temporais e espaciais no que se refere aosseus sítios de reprodução e vocalização, por exemplo – é um temaamplamente reconheci<strong>do</strong> na literatura (Duellman e Trueb 1994, Heyer et al.1994). Todavia, uma vez que a maioria das espécies de Gurjaú depende decorpos d’água para se reproduzir, é importante ressaltar que a manutenção depoças permanentes, poças temporárias, alaga<strong>do</strong>s e riachos na mata é crucial àpermanência das populações locais.Quatro espécies registradas na Reserva são reconhecidamente restritas aambientes floresta<strong>do</strong>s. Trata-se de Adenomera cf. marmorata,Eleutherodactylus sp., Frostius pernambucensis e Proceratophrys boiei.Adenomera marmorata e espécies <strong>do</strong> gênero Eleutherodactylus depositamseus ovos no chão úmi<strong>do</strong> da mata ao invés de utilizarem o meio aquático comosítio de desova – e conseqüentemente dependem da existência de florestasúmidas (Lutz 1949, Heyer 1973). De mo<strong>do</strong> a garantir a manutenção dessaspopulações em Gurjaú, é imprescindível proteger os remanescentes de MataAtlântica incluída na área da Reserva, se possível reflorestan<strong>do</strong> as áreasantropicamente impactadas que hoje existem na propriedade e conectan<strong>do</strong> osfragmentos de mata ainda existentes. A baixa taxa de captura de indivíduos deP. boiei em armadilhas (Tabela 10) pode ser interpretada como um alerta parao perigo de extinção de algumas populações locais. Ademais, as observaçõesde campo sugerem que apenas uma pequena parte <strong>do</strong> conjunto das espécies


locais é capaz de ocupar as áreas da Reserva mais intensamente alteradaspelo Homem, tais como zonas de cultivo, lavoura, e habitações.Duas espécies registradas em Gurjaú são reconhecidamente associadas àbromélias, utilizan<strong>do</strong>-as como sítio de abrigo e/ou reprodução. Trata-se dePhyllodytes luteolus e Frostius pernambucensis (Peixoto 1995, Peixoto e Freire1998). Uma vez que bromeliáceas consistem em grande foco de atenção porsua exploração comercial e uso ornamental, é importante que se estabeleçaum mecanismo de fiscalização sobre a retirada dessas plantas na área daReserva.No que se refere às freqüências de encontro de anuros em Gurjaú (Figura 9), ofato de algumas espécies terem si<strong>do</strong> registradas uma única vez não deve servisto como alarmante. Em verdade, é extremamente difícil avaliar o tamanhode uma população de anfíbios sem se amostrar uma imensa quantidade dedias. Como exemplo, podemos citar o caso das espécies com reproduçãoexplosiva, cujos machos e fêmeas vêm à água para se reproduzir durantepoucas noites ao ano, esconden<strong>do</strong>-se sob folhas, em troncos de árvores, oupermanecen<strong>do</strong> enterra<strong>do</strong>s pelo restante <strong>do</strong> tempo (Duellman e Trueb 1994).Todavia, foi surpreendente, em Gurjaú, a baixa taxa de encontros deespécimens de Hyla raniceps, espécie geralmente abundante em ambientesde borda de mata e áreas abertas no Nordeste <strong>do</strong> Brasil (<strong>do</strong>s Santos eCarnaval 2002, Frost 2002).Resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s com armadilhas <strong>do</strong> tipo pitfall (Tabela 10) foramconsistentes com as informações geradas por busca ativa. Representantes dasfamílias Bufonidae, Hylidae, Leptodactylidae e Ranidae foram registra<strong>do</strong>satravés da técnica. É interessante observar que uma espécie da famíliaHylidae (a saber, Hyla semilineata) tenha si<strong>do</strong> amostrada nos pitfalls.Representantes dessa família possuem discos adesivos nas pontas <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s<strong>do</strong>s pés e das mãos, permitin<strong>do</strong>-lhes escalar os tubos de PVC que compõemas armadilhas, e assim escapar com relativa facilidade. Os repeti<strong>do</strong>s encontrosde indivíduos de H. semilineata no interior <strong>do</strong>s tubos de PVC <strong>do</strong>s pitfallssugerem que a espécie esteja utilizan<strong>do</strong>-os como local de abrigo.CONCLUSÕES


Da<strong>do</strong> o presente esta<strong>do</strong> de conservação da Floresta Atlântica Nordestina, éessencial o estabelecimento de reservas e áreas de proteção ambiental queefetivamente protejam e restaurem o ambiente natural outrora presente nestaregião. Neste contexto, a Reserva de Gurjaú tem condições de exercer umimportante papel na conservação <strong>do</strong>s recursos florestais brasileiros. Comvistas à manutenção das populações naturais ainda existentes na Reserva, éimprescindível que se restaurem os ambientes floresta<strong>do</strong>s aí existentes.Futuramente, é desejável que se promovam corre<strong>do</strong>res de mata paracomunicação entre a Reserva e outros remanescentes da Zona da Mata Sul dePernambuco. Vinte e seis espécies de anfíbios anuros foram registradas naárea da Reserva, das quais onze são endêmicas da Mata Atlântica. Aocorrência de Frostius pernambucensis faz de Gurjáu a terceira área para aqual essa espécie, endêmica da Mata Atlântica Nordestina, é conhecida. Noque se refere especificamente à comunidade de anfíbios de Gurjaú, éimportante não somente preservar e conectar os remanescentes de mataainda existentes na área da Reserva, mas também garantir a manutenção dediferentes sistemas de água <strong>do</strong>ce como forma de se maximizar a gama desítios reprodutivos disponíveis às espécies. Adicionalmente, a fiscalizaçãosobre retirada de bromélias é crucial para manutenção de algumas populaçõeslocais.AGRADECIMENTOSDr. Sergio P. C. Silva, Dr. Oswal<strong>do</strong> L. Peixoto, Dr. Ulisses Caramaschi, Dr.José Pombal Jr. e Ednilza M. Santos permitiram o acesso às coleçõesherpetológicas ZUFRJ, EI-UFRRJ, MNRJ, e Coleção Herpetológica-UFPE parafins de comparação de material, auxilian<strong>do</strong> na identificação de algunsexemplares. Joca e Bibiu auxiliaram nos trabalhos de campo.ANEXO I


Resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s levantamentos da anurofauna de Gurjaú obti<strong>do</strong>s via busca ativaData10 Ago. 11 Ago. 30 Ago.31 Ago. 07 Set 08 Set 14 Set 15 Set 17 Out. 17 Out. 18 Out. 18 Out. 19 Out. 19Out. 19 Out. 19 Out. 20 Out. 20 Out.Trilha * A B C D E F G H A C H I K J J A G CHorário N N N N N N N N N N D N D N N N D NHomens.hora 6 4 4 4 4 4 4 4 9,5 0,5 2 6 0,5 1,5 6 3,5 4,5 6Adenomera cf. marmorata 1Bufo crucifer 1 2Bufo granulosus 2Bufo jimi 1 2Eleutherodactylus sp. 1 2 2 2 5 1 2Frostius pernambucensisHyla atlantica 1 2 1Hyla albomarginata 2 1 2 1 2Hyla branneri 1 4 3 4Hyla decipiensHyla ranicepsHyla aff. nanaHyla semilineata 4 10 20 13 4 3 2 2 12 3 4 2 1Leptodactylus labyrinthicus 1 3 2 1Leptodactylus natalensis 3 3Leptodactylus ocellatus 1 1Phyllodytes luteolusPhyllomedusa hypochondrialis 1Physalaemus cuvieri 1 2 1Pseu<strong>do</strong>paludicola sp. 5 7Rana palmipes 7 28 1 3 3 3 6 1 4 1 1 3Scinax auratus 2 1 1Scinax nebulosus 4 3 1 1Scinax x-signatus 1Data 21 Out. 21 Out. 2 Nov. 3 Nov. 25 Nov. 6 Dez. 7 Dez. 21 Dez.22 Dez. 16 Jan. 16 Jan. 17 Jan. 18 Jan. 18 Jan. 18. Jan.18 Jan. 18 Jan. 19 Jan.Trilha * G G A, B, I C G H J C, D, E C C A H, B,A J J A C H,B,A CHorário N N N N N N N N D N N N n N N N D DHomens.hora 2 4 6.5 6 6 5.5 8 8.5 4 4 1.5 4 1 7 1 3 <strong>4.</strong>5 2Adenomera cf. marmorata 2 1 1Bufo crucifer 1Bufo granulosus 1 1Bufo jimi 1 1 1 30 2 11 1Eleutherodactylus sp. 4 2 2 1 2 1 1 1Frostius pernambucensisHyla atlantica 2 2Hyla albomarginata 1 1 1Hyla branneri 1 1 4 1Hyla decipiens 1Hyla raniceps 1Hyla aff. nana 4 3Hyla semilineata 6 2 8 4 2 2 7 8 6 girinos 1 girinosLeptodactylus labyrinthicus 1 2 1 1 1Leptodactylus natalensis 2Leptodactylus ocellatus 1Phyllodytes luteolus 1Phyllomedusa hypochondrialis 1 1Physalaemus cuvieri 1Pseu<strong>do</strong>paludicola sp. 20 7Rana palmipes 5 1 1 1 3 1 girinos 4 1 1 2 girinosScinax auratus 1Scinax nebulosus 2 1Scinax x-signatus 1 2 1


Data 19 Jan. 19 Jan. 20 Jan. 20 Jan.21 Jan. 2 Fev. 9 Fev. 9 Fev. 16 Fev. 23 Fev. 8 Mar. 23 Mar. 30 Mar. 30 Mar. 13 Abr. 20 Abr. 26 Abr. 27 Abr.Trilha * I A G G F A G G A,B C,D J A G G J B, I D,E CHorário N N N N DHomens.hora 1 3 2 4 3 4 2 2 9 9 10.5 4 2 3 6 6 6 4Adenomera cf. marmorata 1 1Bufo crucifer 1 1Bufo granulosus 1Bufo jimi 1 1 1 2 1 1 1Eleutherodactylus sp. 1 2 1 1 1Frostius pernambucensis 1Hyla atlantica 1 1 3 1Hyla albomarginata 1Hyla branneri 3 1Hyla decipiens 1Hyla raniceps 1Hyla aff. nanaHyla semilineata 1 1 girinos 1 3 8 2 1 5 4 2 5 6Leptodactylus labyrinthicus 1 3 2 2 1 1 1Leptodactylus natalensis 2Leptodactylus ocellatus 1Phyllodytes luteolusPhyllomedusa hypochondrialis 1Physalaemus cuvieriPseu<strong>do</strong>paludicola sp.Rana palmipes 1 1 14 5 2 5 1 3 7 1 6 10 1 4Scinax auratus 2 1Scinax nebulosus 2Scinax x-signatus 2 2<strong>4.</strong>2.2 Levantamento de RépteisIntroduçãoDentre as 50.300 espécies de vertebra<strong>do</strong>s, existem no mun<strong>do</strong> 7866 espéciesde répteis assim distribuídas: 4470 lacertílios (57%), 2920 serpentes (37%),292 quelônios (4%), 156 anfisbenídeos (2%), 23 crocodilianos (0,3%) e 2tuataras (0,025%) (Uetz 2000).De to<strong>do</strong>s os representantes vertebra<strong>do</strong>s da fauna brasileira, o répteis são osmenos estuda<strong>do</strong>s, principalmente no litoral da região Nordeste (Morais eMorais 1987; Borges 1991). Os poucos trabalhos existentes consideram,basicamente, descrições de espécies e algumas poucas informações de suabiologia, haven<strong>do</strong> por isso muita carência de da<strong>do</strong>s para realização de estu<strong>do</strong>smais aprofunda<strong>do</strong>s.Em Pernambuco, o conhecimento desse grupo animal está restrito a poucasinformações sobre algumas espécies de diferentes regiões <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>,principalmente, da caatinga (Ramos 1941; Cordeiro e Hoge 1973; Vanzolini etal. 1980; Morais e Morais 1987; Silva 2001). Nas décadas passadas, muitostrabalhos demográficos foram realiza<strong>do</strong>s com répteis, embora quase que suatotalidade realizada na América <strong>do</strong> Norte e África (Pianka 1967; Pianka 1973;Huey e Pianka 1977).No Brasil, são poucos os estu<strong>do</strong>s que enfocam os répteis em áreas de grandeempreendimento e que supostamente sofrem forte influência da ação


antrópica. Apenas recentemente tenta-se fazer tais estu<strong>do</strong>s, entretanto, quaseto<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s nas regiões central e sudeste (Pinto 1999; Sluys 2000).A tentativa de monitorar populações oferece a oportunidade de estimar seustamanhos e a distribuição de seus representantes no ambiente. Com essasinformações pode-se, com maior precisão, fazer afirmações quanto ao seunível atual de conservação.O presente estu<strong>do</strong> tem como objetivo disponibilizar uma listagem das espéciesde répteis encontradas na Reserva Ecológica de Gurjaú, determinar os níveisde conservação e oferecer informações que subsidiem um plano de manejosustentável consideran<strong>do</strong> as atividades realizadas na estação de tratamentode água e as populações humanas residentes na área.METODOLOGIAÁrea de Estu<strong>do</strong>A área de estu<strong>do</strong> está contida na Reserva Ecológica de Gurjaú, município <strong>do</strong> Cabo deSanto Agostinho (34 o 56’ 30’’ W; 8 o 21’ 30’’ S). A temperatura e a pluviosidade para omunicípio apresentam valores anuais médios, respectivamente, de 25 o C e 180 mm,enquanto a altitude varia de 30 a 50 m. A reserva possui 600 ha, dividi<strong>do</strong>s em 15 matas,além de três rios e três represas utilizadas no abastecimento de grande parte <strong>do</strong> Recife.Foram escolhi<strong>do</strong>s os maiores fragmentos de Mata para o estu<strong>do</strong>: Mata Secupema e MataCuxio, cujas dimensões são, aproximada e respectivamente, 1,0 km x 0,8 km e 0,8 km x0,6 km.COLETA DE <strong>DA</strong>DOSAs atividades de campo foram realizadas no perío<strong>do</strong> de agosto de 2002 a maio de 2003.A meto<strong>do</strong>logia utilizada para avaliar a biodiversidade de répteis consistiu no uso de trêstécnicas: procura ativa, uso de armadilhas de interceptação e queda (pit-fall) segun<strong>do</strong> atécnica de Gibbons e Semlitsch (1981) e captura por terceiros.A técnica de procura ativa consistiu na realização de caminhadas lentas, em diferenteshorários, desde o amanhecer até à noite, em abrigos que os lagartos e serpentespoderiam usar como refúgio. A procura de quelônios foi realizada, durante o perío<strong>do</strong>diurno, em trilhas e poças temporárias. A procura de crocodilianos foi realizada comembarcação, à noite, com a utilização de lanternas e laços de captura apropria<strong>do</strong>s.


Foram instaladas 40 armadilhas de interceptação e queda, formadas por quatrorecipientes (canos de PVC) com 0,4 m de profundidade por 0,25 m de largura,enterra<strong>do</strong>s até a borda <strong>do</strong> solo e interliga<strong>do</strong>s por cercas-guia (drift-fences) de lonaplástica de 5 m de comprimento por 0,4 m de altura, forman<strong>do</strong> um “Y” (Figuras 10 e11).Lona plástica com5 m de comprimento0,4 mBC0,4 mM0,25 mmAFigura 10: Esquema gráfico da armadilha de interceptação e queda. As letras A, B, C e M representam osrecipientes enterra<strong>do</strong>s até a margem superior <strong>do</strong> solo.


Figura 11 - Armadilha de interceptação e queda utilizada no levantamento <strong>do</strong>s répteis da ReservaEcológica de Gurjaú, no perío<strong>do</strong> de agosto de 2002 a maio de 2003. (Foto: Maria Eduarda Larrázabal,2002).As armadilhas foram instaladas a cada 25 m, ao longo de um transecto de 775m na MataSecupema (30 armadilhas) e em um transecto de 250 m na Mata Cuxio (10 armadilhas)(Figura 11).


Figura 12 - Área de instalação das armadilhas de queda para levantamento <strong>do</strong>s répteis daReserva Ecológica de Gurjaú. (Fonte: FIDEM, 1987).Embora a captura por terceiros não tenha si<strong>do</strong> incentivada, alguns exemplaresmortos foram obti<strong>do</strong>s por <strong>do</strong>ação da comunidade local. Esse material foipreserva<strong>do</strong> em formol 10% até o momento da identificação e tomba<strong>do</strong> naColeção Didática de Répteis da Universidade Federal de Pernambuco.A maioria <strong>do</strong>s répteis foi capturada, identificada e devolvida ao mesmo local dacaptura. Alguns animais foram leva<strong>do</strong>s ao Laboratório de AnimaisPeçonhentos e Toxinas da UFPE para identificação ao nível de espécie, sen<strong>do</strong>posteriormente soltos no mesmo ponto de captura. Alguns lagartos foramfotografa<strong>do</strong>s e as fotos enviadas para o Dr. Miguel Trefault Rodrigues, Diretor<strong>do</strong> Museu de Zoologia da USP, que gentilmente procedeu à identificação.


ESFORÇO DE CAPTURAA equipe empreendeu, aproximadamente, 175 horas para instalação dasarmadilhas e 240 horas para coleta <strong>do</strong>s animais. A instalação das armadilhasfoi realizada utilizan<strong>do</strong> perío<strong>do</strong>s contínuos de quatro dias ao mês, com exceção<strong>do</strong> mês de agosto de 2002 quan<strong>do</strong> foram utiliza<strong>do</strong>s oito dias. A verificação dasarmadilhas e a procura ativa <strong>do</strong>s répteis foram realizadas a cada três dias noperío<strong>do</strong> de setembro de 2002 a maio de 2003.RESULTADOS E DISCUSSÃOForam captura<strong>do</strong>s e avista<strong>do</strong>s um total de 246 espécimes de répteis (220capturas e 26 avistamentos), sen<strong>do</strong> a maioria da subordem Sauria (181 spp.,175 capturas e 6 avistamentos), segui<strong>do</strong> de Serpentes (42 spp., 40 capturas e2 avistamentos), Crocodylia (14 spp., 5 capturas e 9 avistamentos) e Quelonia(10 spp., 2 capturas e 8 avistamentos) (Figura 13).Crocodilianos5,7%Quelônios4,0%Serpentes17,0%Lagartos73,3%Figura 13 - Distribuição proporcional entre número de capturas e avistamentos de répteis na Reserva deGurjaú, de Agosto de 2002 a Maio de 2003.O número de capturas e avistamentos de serpentes e lagartos variaramsignificativamente nos meses estuda<strong>do</strong>s. As serpentes foram maisabundantes nos perío<strong>do</strong>s de agosto a outubro de 2002 e abril a maio de


2003, enquanto os lagartos foram mais abundantes exatamente no perío<strong>do</strong>complementar a estes meses: novembro de 2002 a abril de 2003. Osquelônios foram avista<strong>do</strong>s durante to<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de estu<strong>do</strong> e oscrocodilianos a partir de outubro de 2003 (Figura14).Lagartos Serpentes Crocodilianos Quelônios4035302520151050ago/02set/02out/02nov/02dez/02jan/03fev/03mar/03abr/03mai/03Figura 14 - Distribuição mensal de capturas e/ou avistamentos <strong>do</strong>s grupos de répteis naReserva de Gurjaú, de Agosto de 2002 a Maio de 2003. As barras representam o número deanimais coleta<strong>do</strong>s e avista<strong>do</strong>s.Dentre os répteis captura<strong>do</strong>s e avista<strong>do</strong>s, os lacertílios foram os maisabundantes. A espécies Kentropyx calcarata (Figura 15) foi capturada 60vezes nas armadilhas de interceptação e queda durante o perío<strong>do</strong> de estu<strong>do</strong>,seguida de Anotosaura sp n. (39) e Mabuya heathi (22), porém a maioria <strong>do</strong>sanimais apresentou um número reduzi<strong>do</strong> de capturas e avistamentos (Figura16).


Figura 15 - Kentropyx calcarata (calango) captura<strong>do</strong> na Mata <strong>do</strong> Secupema, na Reserva deGurjaú (Fotografia Maria Eduarda Larrázabal, 2002).605040A. Lagartos punctatusP.geoffranusQuelôniosSerpentesTyphops sp.3020100K. calcarataAnatosaura spM. nigropunctataC. latirosstisE. catenatusS. torquatusA. punctatusP.geoffranusTyphops sp.T. teguiximA. ameivaG. darwiiniE. cenchriaI. cenchoaO. trigeminus


Figura 16 - Número de capturas e avistamentos das espécies de répteis mais abundantes daReserva de Gurjaú, durante o perío<strong>do</strong> de agosto de 2002 a maio de 2003.Dentre todas as serpentes capturadas, a serpente fossorial Typhops sp1. foi encontradaem maior número (Figura 17). Com certeza esse resulta<strong>do</strong> não reflete a abundânciarelativa dessa espécie, provavelmente, deve-se ao tipo de armadilha utilizada, queprivilegia a captura de animais terrícolas e fossoriais. O encontro dessa serpente foifortemente relaciona<strong>do</strong> com o aumento da pluviosidade. Esse comportamento tambémfoi encontra<strong>do</strong> na distribuição relativa de serpentes da Amazônia.Figura 17 - Typhops sp1 capturada na Mata <strong>do</strong> Sucupema, na Reserva de Gurjaú (FotografiaMaria Eduarda Larrázabal, 2002).A única espécie de quelônio identificada na Reserva de Gurjaú, Phrynops geoffroanus,pertence à família Chelidae (Figura 18, Tabela 11). Essa espécie já havia si<strong>do</strong> descritapara o esta<strong>do</strong> de Pernambuco, sen<strong>do</strong> também encontrada na caatinga (Vanzolini et al1980; Rodrigues 2000).


ABFigura 18 - Vista <strong>do</strong>rsal (A) e ventral (B) de Phrynops geoffroanus (cága<strong>do</strong> de barbicha)captura<strong>do</strong> na Mata <strong>do</strong> Secupema, na Reserva de Gurjaú. (Foto: Cláudio Cazal, 2003).Iguanidae7%Gymnophtalmidae7%Scincidae14%Teiidae22%Polychrotidae14%Gekkonidae22%Tropiduridae14%Figura 19 - Representatividade das famílias de Lagartos na Reserva de Gurjaú, durante operío<strong>do</strong> de agosto de 2002 a maio de 2003.Os lagartos foram distribuí<strong>do</strong>s em 15 espécies e sete famílias, que não variaramsignificativamente em representatividade: Polychrotidae (03 sp.), Gekkonidae (03 sp),Teiidae (03 sp), Tropiduridae (2 sp.), Scincidae (02 sp) e Gymnophaltidae (01 sp)(Figura 19, Tabela I.). Esse resulta<strong>do</strong> apresenta certa discrepância com o padrãoespera<strong>do</strong> (em que as famílias Teiidae, Iguanidae e Gekkonidae, seriam as maisabundantes em termos de espécies capturadas).As serpentes representaram o maior número de espécies encontradas (25 espécies),distribuídas em apenas quatro famílias, apresentan<strong>do</strong> significativa representatividade nafamília Colubridae (18 sp), e menor número de espécies nas famílias Boidae (03 sp),


Viperidae (02 sp) e Typhlopidae (02 sp) (Figura 20, Tabela 11). Esse resulta<strong>do</strong> estácompatível com o espera<strong>do</strong>, uma vez que a família Colubridae compreende 63% dasespécies de serpentes conhecidas (Uetz 2000).Boidae12%Viperidae8%Typhlopidae8%Colubridae72%Figura 20 - Representatividade das famílias de Serpentes na Reserva de Gurjaú, duranteo perío<strong>do</strong> de agosto de 2002 a maio de 2003.Apenas uma espécie de crocodiliano, pertencente à família Alligatoridae foi registradana Reserva de Gurjaú (Figura 21, Tabela 11).Figura 21. Caiman latirostris (jacaré-<strong>do</strong>-papo-amarelo) captura<strong>do</strong> na Barragem, na Reserva deGurjaú. (Fotografia Cláudio Cazal, 2002).


Tabela 11 - Lista de espécies identificadas na Reserva de GurjaúClassificação Nomenclatura científica – Espécie Nome popularORDEM TESTUDINATASUBORDEM PLEUDIRAFAMÍLIA CHELI<strong>DA</strong>E 1 Phrynops geoffroanus Schweigger,1812ORDEM SQUAMATASUBORDEM SAURIAFAMÍLIA IGUANI<strong>DA</strong>EFAMÍLIATROPIDURI<strong>DA</strong>EFAMÍLIAIguana iguana Linnaeus, 174823 Strobilurus torquatus Wiegmann,Cága<strong>do</strong> de barbichaCamaleãoLagartixa18344 Tropidurus hispidus Spix 1825 LagartixaPOLYCHROTI<strong>DA</strong>E 5 Anolis punctatus Daudin, 1802 Papa-vento6 Enyalius catenatus Wied 1821 Papa-vento7 Polychrus acutirostris Spix, 1825 CamaleãoFAMÍLIA GEKKONI<strong>DA</strong>E 8 Coleodactylus meridionalisBoulenger 18889 Gymnodactylus darwinii Gray 184510 Hemidactylus mabouia Moreau de VíboraJones 1818FAMÍLIA TEII<strong>DA</strong>E 11 Ameiva ameiva Linnaeus, 1758 Calango12 Kentropyx calcarata Spix, 1825 Calango13 Tupinambis teguixim Linnaeus, 1758 TejuFAMÍLIAGYMNOPHTALMI<strong>DA</strong>EAnotosaura spn.FAMÍLIA SCINCI<strong>DA</strong>E 15 Mabuya macrorhyncha Hoge, 194616 Mabuya heathi Spix, 1825


Tabela 11 - Continuação da lista de espécies identificadas na Reserva de Gurjaú.Classificação Nomenclatura científica - Espécie Nome popularSUBORDEMSERPENTESFAMÍLIATYPHLOPI<strong>DA</strong>E1718Typhlops sp1Typhlops sp2Cobra –cegaCobra –cegaFAMÍLIA BOI<strong>DA</strong>E 19 Boa constrictor Linnaeus, 1758 Jibóia20 Corallus hortulanus Linnaeus, 175821 Epicrates cenchria Linnaeus, 1758 Cobra siri-de-fogoFAMÍLIACOLUBRI<strong>DA</strong>E 22 Apostolepis sp.Cope 186223 Atractus potschi Fernandes 199524 Clelia clelia Daudin, 1803 Mussurana25 Clelia plumbea Wield, 182026 Dendrophidion dendrophis Schlegel,183727 Drymarchon corais Boie 182728 Helicops leopardinus Schlegel, 1837 Cobra-d’água29 Imantodes cenchoa Linnaeus, 175830 Leptodeira annulata Linnaeus, 1758 Dormideira31 Liophis cobellus Linnaeus 1758 Jararaquinha32 Oxybelys aeneus Wagler, 1824 Cobra-cipó33 Oxyrhopus trigeminus Duméril, Bibron Falsa-corale Duméril, 185434 Oxyrhopus petola Linnaeus, 1758 Falsa-coral35 Philodryas olfersii Lichternstein, 1823 Cobra-verde36 Pseu<strong>do</strong>boa nigra Duméril, Bibron e MussuranaDuméril, 185437 Siphlophis compressus Daudin 180338 Spilotes pullatus Linnaeus, 1748 Caninana39 Linnaeus, 1748FAMÍLIA VIPERI<strong>DA</strong>E 40 Bothrops sp. Jararaca41 Crotalus durissus cascavella Wagler, Cascavel1824ORDEMCROCODYLIAFAMÍLIAALLIGATORI<strong>DA</strong>E42 Caiman latirostris Daudin 1802 Jacaré-<strong>do</strong>-papoamareloVinte espécies de serpentes foram identificadas através da captura <strong>do</strong>sanimais e duas através de avistamento (Spilottes pulatus e Drymarchon


corais). A última foi avistada junto da lona de uma das armadilhas na MatadeSecupema o que permitiu a estimativa de seu comprimento (2,6m),apresentan<strong>do</strong> cor negra uniforme e comportamento agressivo característicodessa espécie, ao avistar a equipe (levantou a região anterior <strong>do</strong> corpo,inflan<strong>do</strong> a região gular avermelhada) (Coborn 1991; Wolfgang Wüster,comunicação pessoal).A maioria das espécies de serpentes encontradas na reserva de Gurjaú foi encontrada emambientes altera<strong>do</strong>s como Liophis cobella (Martins 1994) ou tolerantes a ambientesabertos (campos ou caatinga) e fecha<strong>do</strong>s (matas) tais como Boa constrictor, Cléliaclelia, Corallus hortulanus, Crotalus durisus cascavella, Epicrates cenchria,Dendrophidion dendrophis, Helicops leopardinus, Leptodeira annulata, Oxybelisaeneus,Oxyrhopus trigeminus, Philodryas olfersii, Pse<strong>do</strong>boa nigra, Spilotes pullatus eCrotalus durissus cascavella (Vanzolini 1948; Cordeiro e Hoge 1973; Rodrigues 1986;Nascimento et al 1987; Cunha e Nascimento 1993; Martins 1994; Rodrigues 2000;Marques 2001; Silva 2001; Pinho 2002). O que sugere que as Matas estudadas naReserva de Gurjaú, escolhidas por estarem em melhor esta<strong>do</strong> de conservação,apresentam áreas abertas, que possibilitam a presença de animais não exclusivos àsregiões de Mata Atlântica.Da mesma forma, algumas espécies de lagartos estão relacionadas a áreas maisensolaradas, sen<strong>do</strong> facilmente encontradas tanto em borda quanto no interior das matas,estan<strong>do</strong> associadas a grandes clareiras no interior destas (Pough et al 1998; Zug et al2001). Na reserva de Gurjaú foram relata<strong>do</strong>s Ameiva ameiva, Kentropyx calcarata,Tropidurus hispidus, Tupinambis teguixin e Mabuya heathi, espécies que apresentampouca exigência quanto ao nível de preservação de áreas florestais. A espécieStrobilurus torquatus destaca-se por ser um lagarto heliófilo relativamente raro,encontra<strong>do</strong> no solo somente em áreas degradadas, pois originalmente preferem copas degrandes árvores (Rodrigues et al. 1989). Por outro la<strong>do</strong>, Gymnodactylus darwinii eAnotosaura sp. n. são espécies fortemente associadas a áreas sombreadas e folhiço demata representadas em fragmentos bem preserva<strong>do</strong>s. Espécies como Anolis puncatatus,Enyalius catenatus e Polychrus acutirostris apresentaram baixo nível de captura,provavelmente devi<strong>do</strong> à natureza arborícola dessas espécies (Zamprogno et al 2001).Com relação à distribuição geográfica, apenas duas espécies de serpentes são exclusivasde Mata Atlântica (Clelia plumbea e Siphophis compressus) (Nascimento et al 1987;


Marques 2001), cinco espécies são encontradas na Mata Atlântica e na Amazônia(Atractus potschi, Dendrophidion dendrophis, Imantodes cenchoa, Liophis cobellus eOxyrhopus petolaI) (Cordeiro e Hoge 1973; Vanzolini 1986; Nascimento et al 1987;Nascimento e Lima Verde 1989; Cunha e Nascimento 1993; Martins 1994; Marques2001), quatro espécies são encontradas na caatinga e Mata Atlântica (Corallushortulanus, Helicops leopardinus, Pseu<strong>do</strong>boa nigra e Crotalus durissus cascavella)(Cordeiro e Hoge 1973; Rodrigues 2000; Silva 2001; Pinho 2002) e oito espécies sãoencontradas na caatinga, Amazônia e Mata Atlântica (Boa constrictor, Epicratescenchria, Clelia clelia, Leptodeira annulata, Oxybelys aeneus, Oxyrhopus trigeminus,Philodryas olfersii e Spilotes pullatus) (Vanzolini 1948; Cordeiro e Hoge 1973;Vanzolini 1986; Nascimento et al 1987; Nascimento e Lima Verde 1989; Cunha eNascimento 1993; Martins 1994; Rodrigues 2000; Silva 2001; Marques 2001).Embora não tenham si<strong>do</strong> registra<strong>do</strong>s endemismos dentre as 25 espécies de serpentesamostradas em Gurjaú, sete representam novas descrições para o esta<strong>do</strong> de Pernambuco(Corallus hortulannus, Atractus potschi, Clelia plumbea, Dendrophidion dendrophis,Drymarchon corais, Imantodes cenchoa e Oxyrhopus petola).Portanto, dentre as 57 espécies de serpentes registradas para o Esta<strong>do</strong> de Pernambuco,incluin<strong>do</strong>-se as sete espécies identificadas nesse estu<strong>do</strong>, a fauna herpetológica daReserva de Gurjaú inclui 43,86% <strong>do</strong> total de espécies <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de Pernambuco(Cordeiro e Hoge, 1973; Silva 2001; Pinto 2002).Dentre as 15 espécies de lagartos capturadas em Gurjaú, quatro espécies (Enyaliuscatenatus, Gymnodactylus darwinii, Strobilurus torquatus e Anotosaura sp.n.) sãoendêmicas de Mata Atlântica, apresentan<strong>do</strong> raríssimos relatos em outros ambientes.Anotosaura sp. n. é uma espécie ainda não descrita, capturada apenas na Paraíba,portanto, constitui o primeiro relato para Pernambuco (Rodrigues 1990).As demais espécies são também encontradas em outros biomas: cinco espécies sãoencontradas na caatinga, cerra<strong>do</strong>, Amazônia e Mata Atlântica (Ameiva ameiva,Hemidactylus mabouia, Mabuya heathi, Mabuya macrorhyncha, Tropidurus hispidus)(Vanzolini 1972, 1974, 1976, Vanzolini et al 1980, Rodrigues 1987, 1990 e 2000), duasespécies em caatinga, Amazônia e Mata Atlântica (Iguana iguana, Tupinambis teguixin)(Cunha 1961; Vanzolini 1972, 1974, 1976; Vanzolini et al 1980; Cunha 1981;Rodrigues 1987, 1990; Silva Jr e Site Jr 1995; Rodrigues 2000), uma espécie emcaatinga, cerra<strong>do</strong> e Mata Atlântica (Polychrus acutirostris) (Vanzolini 1972, 1974,


1976, Vanzolini et al 1980, Rodrigues 1987, 1990; Vitt 1991, Araujo e Colli 1998;Rodrigues 2000) e uma espécie em caatinga e Mata Atlântica (Coleodactylusmeridionalis) (Vanzolini 1972, 1974, 1976; Vanzolini et al 1980; Rodrigues 1987, 1990e 2000).Embora tenhamos que considerar o vício de amostragem devi<strong>do</strong> ao uso de armadilhasde interceptação e queda, a grande maioria das serpentes identificadas foi terrícola efossorial (22 espécies terrícolas e fossoriais e três arborícolas e subarborícolas), o queindica que um percentual alto da ofiofauna tem condições mínimas de nicho estruturalpara resistir a perturbações na floresta (Vanzolini 1986). As armadilhas utilizadasoferecem grande sucesso de captura para quase to<strong>do</strong>s os tipos de lagartos encontra<strong>do</strong>s nareserva, com exceção <strong>do</strong>s grandes lagartos (Tupinambis teguixin) e aqueles com hábitosextremamente arborícolas (Iguana iguana, Anoles puincatatus e Polychrus acutirostris)ou fortemente associa<strong>do</strong>s a outros habitats/microhabitats.A curva de espécies, representan<strong>do</strong> o total acumula<strong>do</strong> de táxons durante o perío<strong>do</strong> deestu<strong>do</strong>, sugere que não tenha si<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong> o plateau de saturação de espécies paraserpentes. Por outro la<strong>do</strong>, os demais grupos foram eficientemente amostra<strong>do</strong>s (Figura22).2520SerpentesQuelôniosLagartosCrocodilianos151050AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAIFigura 22 - Curva de acumulação de espécies de serpentes e lagartos na Reserva de Gurjaú,com base em resulta<strong>do</strong>s de busca ativa, captura em armadilhas de interceptação e queda ecaptura por terceiros, entre os meses de agosto de 2002 e maio de 2003.


CONCLUSÕESOs resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s sugerem que os fragmentos avalia<strong>do</strong>s na Reserva deGurjaú apresentam relevante diversidade de répteis principalmente deserpentes e lagartos, que apresentam oito novos registros para o esta<strong>do</strong> dePernambuco, quatro espécies endêmicas e uma rara. Por outro la<strong>do</strong>, osmesmos fragmentos estão submeti<strong>do</strong>s a forte impacto pela ação antrópica.Esta pode ser comprovada pela presença de várias espécies adaptáveis aambientes degrada<strong>do</strong>s, pelo pequeno número de animais registra<strong>do</strong>s de cadaespécie, bem como pela constante destruição de armadilhas durante o estu<strong>do</strong>e pela presença de trilhas, armadilhas de caça<strong>do</strong>res e cães <strong>do</strong>mésticos nointerior das matas examinadas.Cabe ressaltar que se faz necessário um trabalho intenso de educaçãoambiental, uma vez que as serpentes são consideradas animais perigosos epor isso são sacrificadas indiscriminadamente pela população humana local,apesar de apenas duas espécies dentre as 22 registradas oferecerem risco.Além dessa atividade predatória, os lagartos Iguana iguana e Tupinambisteguixin, o quelônio Phrynops geoffroanus e o crocodiliano Caiman latirostrissão espécies de potencial sinergético, sen<strong>do</strong> consumidas de forma nãosustentável pela população humana local.Diante <strong>do</strong> exposto, sugere-se que há forte necessidade de execução demedidas mitiga<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>s impactos ambientais para manutenção e recuperaçãoda importante fauna herpetológica evidenciada na Reserva.Deve-se lembrar que quanto maior a área protegida, tanto maior será adiversidade e a resistência <strong>do</strong>s animais ao desgaste causa<strong>do</strong> pela proximidadee inserção das populações humanas (Vanzolini 1986). Com certeza, medidasque visem reconstituir os fragmentos originais trarão grandes benefícios parafauna de répteis, tão significante e ainda tão pouco conhecida, da ReservaEcológica de Gurjaú.<strong>4.</strong>2.3 Levantamento de AvesIntrodução


A Mata Atlântica é considerada o bioma de maior diversidade biológica <strong>do</strong>planeta, no entanto, é pouco conservada. Segun<strong>do</strong> Almeida (2000), basea<strong>do</strong>nos níveis atuais de degradação, esta floresta encontra-se com abiodiversidade comprometida, onde muitas espécies já foram extintas, semmesmo serem descritas. A Floresta Atlântica colabora de forma expressivapara que o Brasil seja considera<strong>do</strong> o país da megabiodiversidade, possuin<strong>do</strong>um alto nível de endemismo em to<strong>do</strong>s os grupos taxonômicos, incluin<strong>do</strong> aves,primatas, borboletas e plantas (Aleixo 1997, Silva e Tabarelli 2000). Éconsiderada, pela UNESCO, Reserva da Biosfera, sen<strong>do</strong> uma das três maioresprioridades de conservação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> (Consórcio Mata Atlântica UNICAMP,1992; Meyrs et al. 2000)Dos 36,8% de área original da Floresta Atlântica Nordestina, restam apenascerca de 3% (Willis e Oniki 1992). Para o esta<strong>do</strong> de Pernambuco esta áreaapresentava 34,14% <strong>do</strong> original, restan<strong>do</strong> atualmente 4,6% (Gonzaga deCampos 1912, SNE 1994).Segun<strong>do</strong> Sick (1997), o Brasil possui 1677 espécies de aves, entre residentese visitantes, das quais 212 são endêmicas e de distribuição restrita nos limitesda Mata Atlântica. As observações realizadas sobre aves em Pernambucoocorreram principalmente na mata Atlântica (Forbes 1881, Pinto 1940, Berla1946, Coelho 1979, Azeve<strong>do</strong> Júnior 1990 e Azeve<strong>do</strong> Júnior et al. 1998, TelinoJúnior et al. 2000).Segun<strong>do</strong> Roda (2002), foram registradas 498 espécies de aves paraPernambuco, das quais 46 estão listadas como ameaçadas (IBAMA 2003).A avifauna pode funcionar como bioindica<strong>do</strong>ra das condições ambientaisconstituin<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s grupos que melhor responde a impactos causa<strong>do</strong>s aomeio ambiente, uma vez que desaparecem rapidamente quan<strong>do</strong> este éaltera<strong>do</strong>, atingin<strong>do</strong> níveis insuportáveis (Regala<strong>do</strong> e Silva 1997).O levantamento avifaunístico contribui não só para a caracterização de umambiente, como também para um melhor conhecimento da distribuiçãogeográfica das espécies, além de funcionar como subsídios para trabalhos demonitoramento e manejo (Almeida 2000, Regala<strong>do</strong> et al. 2000). Dessa forma,fornece da<strong>do</strong>s relevantes para a conservação da diversidade biológica,extremamente ameaçada no Brasil.


A conservação consiste em uma premissa básica para a manutenção dabiodiversidade. Dentre os diversos fatores que acarretam na perda dadiversidade biológica, destaca-se a redução das áreas naturais e a caça decomercialização, sobretu<strong>do</strong> nas proximidades <strong>do</strong>s centros urbanos (Azeve<strong>do</strong>Júnior et al. 1998).Desta forma, pretende-se com este estu<strong>do</strong> conhecer a composiçãoavifaunística da Reserva Ecológica de Gurjaú, bem como fornecer subsídiospara projetos conservacionistas, principalmente no que tange ao manejosustenta<strong>do</strong> da Unidade.MATERIAL E MÉTODOSÁrea de Estu<strong>do</strong>Inserida em uma única propriedade, pertencente à Companhia Pernambucanade Abastecimento de Água (COMPESA), onde existe uma Estação deTratamento de Água (ETA), a Reserva de Gurjaú possui uma área de 1.077,10ha definida pela Lei Estadual Nº 9.989 de 1987. Apresenta-se como uma áreatípica de uma mata, ainda bem conservada, com vegetação de grande porteassociada à vegetação de médio e pequeno porte. O local encontra-sebastante ameaça<strong>do</strong>, não só em decorrência da exploração canavieira, como<strong>do</strong> uso indiscrimina<strong>do</strong> pelos posseiros para pecuária, fruticulltura e agriculturade subsistência. O trabalho foi realiza<strong>do</strong> nas matas <strong>do</strong> Mané <strong>do</strong> Doce, Cuxio ede Secupema.MÉTODOS DE AMOSTRAGEM <strong>DA</strong> AVIFAUNAAmostragem Quantitativa.O levantamento quantitativo foi realiza<strong>do</strong> no horário compreendi<strong>do</strong> entre 5h e30 min às 9h e 30min, durante cinco dias consecutivos. As observações foramrealizadas em uma trilha pré-existente na Reserva, com cerca de <strong>4.</strong>000 metros,abrangen<strong>do</strong> o interior e a borda da mata. Além das espécies já registradas nolevantamento da trilha, foram realizadas caminhadas pelo interior e pela borda<strong>do</strong>s fragmentos com pontos de escuta e observação (Almeida et al. 1999),durante cinco dias, das 15h às 17h e 30min. Os ambientes adjacentes aosfragmentos foram considera<strong>do</strong>s nesta amostragem. Foram anotadas as


espécies com o tipo de registro (visual ou escuta), estrato ocupa<strong>do</strong> (<strong>do</strong>ssel,sub-bosque ou solo), local <strong>do</strong> registro (interior, borda ou áreas adjacentes),observações gerais sobre o comportamento <strong>do</strong>s indivíduos e algumascondições ambientais relevantes. As observações foram realizadas combinóculos 8mm x 30mm e as vocalizações registradas através de grava<strong>do</strong>rAIWA modelo TP560 com microfone externo para casos dúbios.CAPTURASForam utilizadas 20 redes de neblina de 36mm de malha, 12 m decomprimento e 2,5m de altura. Essas redes foram dispostas em linhas de rede,em uma seqüência única, segun<strong>do</strong> a meto<strong>do</strong>logia a<strong>do</strong>tada por Bierregaard Jr.e Lovejoy (1989). Foram armadas desde o interior da mata até atingir a bordae área adjacente, amostran<strong>do</strong> os ambientes da área (Figura 23). A capturaocorreu em cinco dias consecutivos a cada mês amostra<strong>do</strong>, permanecen<strong>do</strong> asredes abertas das 5h às 10h, e das 15h às 17h, horários que concentrammaior número de indivíduos ativos (Figura 24).A Identificação das espécies foi realizada através de referências básicas eguias de campo ilustra<strong>do</strong>s (Dunning 1987, Ridgely & Tu<strong>do</strong>r 1994a, b e Sick1997) e as vocalizações gravadas foram comparadas às existentes no arquivosonoro <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res. A separação de indivíduos machos e fêmeas foirealizada através da análise da plumagem.AMOSTRAGEM QUALITATIVAForam consideradas para a elaboração da listagem específica as espéciesregistradas nos levantamentos quantitativos, nas capturas e os registrosvisuais e auditivos de aves através de caminhadas realizadas pelos diversosfragmentos de mata de Gurjaú.


Figura 23 - Mata da Reserva de Gurjaú evidencian<strong>do</strong> as Matas <strong>do</strong> Cuxió e Secupema, locais de captura ede levantamento quantitativo para o grupo aves.Figura 24 -: Rede de captura (rede de neblina) armada na Mata <strong>do</strong> Cuxió na Reserva deGurjaú, detalhan<strong>do</strong> um indivíduo de Leptopogon amaurocephalus no momento da captura em 2de outubro de 2002.


RESULTADOS E DISCUSSÃOForam relacionadas 225 espécies de aves para a reserva de Gurjaú, com umtotal de 14 ameaçadas, de acor<strong>do</strong> com a listagem apresentada pelo InstitutoBrasileiro <strong>do</strong> Meio Ambiente e <strong>do</strong>s Recursos Naturais Renováveis em 2003. Asespécies ameaçadas relacionadas para Gurjaú foram: Thalurania watertonii,Momotus momota macgraviana, Picumnus exilis pernambucensis,Conopophaga liineata cearae, Conopophaga melanops nigrifons, Curaeusforbesi, Tangara cyanocephala corallina, Tangara fastuosa, Xenops minutusalagoanus, Myrmeciza ruficauda, Pyriglena leuconota pernambucensis,Thamnophilus aethiops distans, Thamnophilus caerulesces, Platyrinchusmystaceus niveigularis (Figuras de 25 a 28).No que se refere ao censo, foram registradas 177 espécies, corresponden<strong>do</strong> a78,67% <strong>do</strong> total de espécies catalogadas para a área. A freqüência deocorrência variou de 0,09% a 8,36% para os não Passeriformes; de 0,03% a9,46% para os Passeriformes Suboscines e de 0,04% a 14,55% para osPasseriformes Oscines (Tabela 12).As espécies mais abundantes <strong>do</strong>s não Passeriformes foram: Laterallus viridis,Porphyrula martinica, Jacana jacana, Pionus maximiliani, Piayia cayana,Crotophaga ani, Glaucis hirsuta, Phaethornis ruber e Galbula ruficauda. (Figura29). Para os Passeriformes Suboscines os mais abundantes foram:Herpsilochmus rufimarginatus, Formicivora grisea, Sittasomus griseicapillus,Zimmerius gracilipes, Elaenia flavogaster, Hemitriccus zosterops, Todirostrumcinereum, Tolmomyias flaviventris, Pitangus sulphuratus, Myiozetetes similis,Legatus leucophaius, Tyrannus melancholicus, Chiroxiphia pareola e Manacusmanacus (Figura 30). Os Passeriformes Oscines mais abundantes foram:Thryothorus genibarbis, Troglodytes musculus, Ramphocaenus melanurus,Turdus leucomelas, Cyclarhis gujanensis, Vireo chivi, Coereba flaveola,Thraupis palmarum, Euphonia violacea, Arremon taciturnus e Saltator maximus(Figura 31)Foi registrada a presença da placa de incubação em algumas aves capturadasna reserva de Gurjaú. Segun<strong>do</strong> Sick (1997), a placa incubatória costuma serrestrita às fêmeas, entretanto, Davis (1945) registrou a presença da placa dechoco em machos de tiranídeos. A tabela 13 relaciona as aves, sexo, e os


perío<strong>do</strong>s que foram observa<strong>do</strong>s o sinal de choco. Os exemplares da tabela 13,sem dimorfimo sexual aparecem com o sexo indetermina<strong>do</strong>. Foram registra<strong>do</strong>sCamptostoma obsoletum, Coereba flaveola, transportan<strong>do</strong> material paraconstrução <strong>do</strong> ninho em um arbusto em 13 de setembro de 2002. Estasobservações sugerem o mês de setembro como parte <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> reprodutivodestas espécies.Trabalhos desenvolvi<strong>do</strong>s nas matas da Estação Ecológica de Tapacurádetectaram o perío<strong>do</strong> de maio a outubro para a reprodução de algumas avesde mata (Azeve<strong>do</strong> Júnior e Serrano 1987 e Azeve<strong>do</strong> Júnior 1990). Em Gurjaú,o perío<strong>do</strong> reprodutivo foi de setembro a fevereiro com registro em março eoutro em junho.Foram observa<strong>do</strong>s na beira da Mata Mané <strong>do</strong> Doce, um ban<strong>do</strong> com cincoTangara fastuosa e um Tangara cyanocephala corallina, em 28 de agosto de2002. Em 14 de setembro, <strong>do</strong>is indivíduos de Tangara fastuosa foram vistoscomen<strong>do</strong> frutos de bananeira na borda da mata acima citada. Comumenteessas aves são observadas em beira de mata e são muito apreciadas porpassarinheiros (Sick, 1997).Os beija-flores: Glucis hirsuta, Phaethornis ruber, Eupetomena macroura,Amazilia vesicolor e Heliothrix aurita foram observa<strong>do</strong>s visitan<strong>do</strong> o “mangará”das bananeiras na mata <strong>do</strong> Mané <strong>do</strong> Doce. Na mesma localidade, Euphoniaviolacea, Tangara fastuosa, Tangara cyanocephala, Dacnis cayana,Cyanerpes cyaneus e Saltator maximus, alimentavam-se de bananascultivadas entre os fragmentos de mata da reserva de Gurjaú.A riqueza da avifauna de Gurjaú constituída por 225 espécies, com representantesameaça<strong>do</strong>s e endêmicos reforça a necessidade da implantação de uma unidade deconservação que proteja esses recursos, consideran<strong>do</strong>, sobretu<strong>do</strong>, a pressão antrópica <strong>do</strong>desmatamento, da implantação de culturas agrícolas e da caça de comercialização.As Matas <strong>do</strong> Mané <strong>do</strong> Doce, Cuxio e <strong>do</strong> Secupema, em função da ocorrênciade exemplares ameaça<strong>do</strong>s e endêmicos, deveriam ser interligadas porcorre<strong>do</strong>res, aceleran<strong>do</strong> o processo de restauração.


773476Laterallus viridisPorphyrula martinicaJacana jacana8864Pionus maximilianiPiaya cayanaCrotophaga aniGlaucis hirsuta54434837Phaethornis ruberGalbula ruficaudaFigura 25 - Freqüência de ocorrência das espécies de aves mais abundantes (NãoPasseriformes), quantificadas entre agosto de 2002 a abril de 2003 na Reserva de Gurjaú,Pernambuco.119126171212290117157103111136108178119251Herpsilochmus rufimarginatusFormicivora griseaSittasomus griseicapillusZimmerius gracilipesElaenia flavogasterHemitriccus zosteropsTodirostrum cinereumTolmomyias flaviventrisPitangus sulphuratusMyiozetetes similisLegatus leucophaiusTyrannus melancholicusChiroxiphia pareolaFigura 26 - Freqüência de ocorrência das espécies de aves Manacus mais manacus abundantes (Passeriformes:Suboscines), quantificadas entre agosto de 2002 a abril de 2003 na Reserva de Gurjaú,Pernambuco.


103173162126Thryothorus genibarbisTroglodytes ae<strong>do</strong>n96142Ramphocaenus melanurusTurdus leucomelasCyclarhis gujanensis341192Vireo chiviiCoereba flaveolaThraupis palmarum147Euphonia violaceaArremon taciturnus223247Saltator maximusFigura 27 - Freqüência de ocorrência das espécies de aves mais abundantes (Passeriformes:Oscines), quantificadas entre agosto de 2002 a abril de 2003 na Reserva de Gurjaú,Pernambuco.Figura 28 - Tangara fastuosa captura<strong>do</strong> na Mata <strong>do</strong> Mané <strong>do</strong> Doce, Reserva de Gurjaú em 13de setembro de 2002 (espécie ameaçada)


Figura 29 - Conopophaga melanops (macho) captura<strong>do</strong> na Mata <strong>do</strong> Secupema, Reserva deGurjaú em 2 de outubro de 2002 (espécie ameaçada).Figura 30 - Conopophaga melanops (fêmea) captura<strong>do</strong> na Mata <strong>do</strong> Secupema, Reserva deGurjaú em 3 de outubro de 2002 (espécie ameaçada).


Figura 31 – Platyrhynchos mystaceus captura<strong>do</strong> na Mata <strong>do</strong> Sucupema, Reserva de Gurjaú em3 de outubro de 2002 (espécie ameaçada).Tabela 12 – Listagem das aves da reserva de Gurjaú apresentan<strong>do</strong> a freqüência de ocorrência(FO) das espécies relacionadas.ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME POPULAR FOORDEM TINAMIFORMESFAMÍLIA TINAMI<strong>DA</strong>E001 Crypturellus soui nhambu-mata-cachorro 0,47002 Crypturellus parvirostris nhambu-espanta-boiada 0,28003 Crypturellus tataupa nhambu-de-pé-roxo004 Nothura boraquira co<strong>do</strong>rna-de-cabeça-preta 0,19ORDEM PODICIPEDIFORMESFAMÍLIA PODICIPEDI<strong>DA</strong>E005Tachybaptus <strong>do</strong>minicus mergulhão-pequeno006 Podilymbus podiceps mergulhão-caça<strong>do</strong>r 0,19ORDEM CICONIIFORMESFAMÍLIA ARDEI<strong>DA</strong>E007 Casmerodius albus garça-branca-grande008 Egretta thula garça-branca-pequena 0,09009 Bulbucus ibis garça-vaqueira 0,85010 Butorides striatus socozinho 0,09011 Tigrisoma lineatum socó-boi 0,47


012 Ixobrychus exilis socoí-vermelho013 Botaurus pinatus socó-boi-marron 0,09FAMÍLIA CATHARTI<strong>DA</strong>E014 Coragyps atratus urubú-de-cabeça-preta 1,71015 Cathartes aura urubú-de-cabeça-vermelha 1,8016 Cathartes burrovianus urubú-de-cabeça-amarelaORDEM ANSERIFORMESFAMÍLIA ANATI<strong>DA</strong>E017 Dendrocygna viduata irerê018 Amazonetta brasiliensis patarrona019 Nomonyx <strong>do</strong>minicus bico-roxoORDEM FALCONIFORMESFAMÍLIA ACCIPITRI<strong>DA</strong>E020 Elanus leucurus gavião-peneira021 Gampsonyx swainsonii gavião-pombo022 Lepto<strong>do</strong>n cayanensis gavião-de-cabeça-cinza 1,04023 Buteo albicaudatus gavião-de-cauda-branca024 Asturina nitida gavião-pedrez 0,19025 Buteo brachyurus gavião-de-cauda-curta 0,28026 Rupornis magnirostris gavião-carijó 2,37027 Buteogallus urubutinga gavião-preto 0,09028 Spizaetus tyrannus gavião-pega-macaco 0,28FAMÍLIA FALCONI<strong>DA</strong>E029 Herpetotheres cachinnans acauã 0,47030 Micrastur semitorquatus gavião-relógio 0,09031 Micrastur gilvicollis gavião-mateiro 0,28032 Milvago chimachima carrapateiro 0,19033 Caracara plancus carcará 0,28ORDEM GALLIFORMESFAMÍLIA CRACI<strong>DA</strong>E034 Ortalis araucuan aracuãORDEM GRUIFORMESFAMÍLIA ARAMI<strong>DA</strong>E035 Aramus guarauna carão 0,19Continuação da Tabela 12Ordem/Família/EspécieNome PopularFoFAMÍLIA RALLI<strong>DA</strong>E036 Aramides cajanea três-potes 0,28


037 Porzana albicollis sanã-carijó038 Laterallus viridis saracura-marron 3,23039 Gallinula chloropus frango-d'água-preta040 Porphyrula martinica frango-d'água-azul 7,22ORDEM CHARADRIIFORMESFAMÍLIA JACANI<strong>DA</strong>E041 Jacana jacana jaçanã 6,08FAMÍLIA CHARADRII<strong>DA</strong>E042 Vanellus chilensis tetéu 0,38ORDEM COLUMBIFORMESFAMÍLIA COLUMBI<strong>DA</strong>E043 Columbina passerina rolinha-cinzenta044 Columbina minuta rolinha-cafofa 0,85045 Columbina talpacoti rolinha-cau<strong>do</strong>-de-feijão 0,76046 Leptotila rufaxilla juriti 7,5047 Geotrygon montana parari 1,04ORDEM PSITTACIFORMESFAMÍLIA PSITTACI<strong>DA</strong>E048 Aratinga leucophthalmus maritaca 0,09049 Aratinga cactorum gangarra 0,19050 Forpus xanthopterygius tuim 0,95051 Touit surda apuim-de-cauda-amarela 1,61052 Pionus maximiliani maitaca-de-maximiliano 3,51ORDEM CUCULIFORMESFAMÍLIA CUCULI<strong>DA</strong>E053 Piaya cayana alma-de-gato 4,56054 Crotophaga ani anu-preto 4,08055 Guira guira anu-branco056 Tapera naevia peitica 0,19ORDEM STRIGIFORMESFAMÍLIA STRIGI<strong>DA</strong>E057 Otus choliba corujinha-<strong>do</strong>-mato058 Pulsatrix perspicillata murucututu059 Glaucidium brasilianum caburé 0,09060ORDEM CAPRIMULGIFORMESFAMÍLIA NYCTIBII<strong>DA</strong>ENyctibius griseusFAMÍLIA CAPRIMULGI<strong>DA</strong>Emãe-da-lua


061 Nictidromus albicollis bacurau 0,09062 Hydropsalis brasiliana bacurau-rabo-de-tesouraORDEM APODIFORMESFAMÍLIA APODI<strong>DA</strong>E063 Reinarda squamata tesourinha 0,57FAMÍLIA TROCHILI<strong>DA</strong>E064 Glaucis hirsuta balança-rabo-de-bico-torto 5,13065 Phaethornis pretrei rabo-branco-de-sobre-amarelo 0,47066 Phaethornis ruber besourinho-da-mata 8,36067 Eupetomena macroura beija-flor-rabo-de-tesoura 0,66068Melanotrochilus fuscusbeija-flor-de-rabo-preto-ebranco069 Anthracothorax nigricollis beija-flor-de-veste-preta 1,23070 Chrysolampis mosquitus beija-flor-vermelho 1,52071Chlorestes notatusbeija-flor-safira-de-gargantaazul2,47072 Chlorostilbon aureoventris besourinho-de-bico-vermelho 0,28073 Thalurania watertonii * beija-flor-das-costas-violeta 1,14074 Hylocharis cyanus beija-flor-roxo 0,47075 Amazilia versicolor beija-flor-de-banda-branca 0,09076 Amazilia fimbriata beija-flor-de-garganta-branca 0,19077 Amazilia leucogaster beija-flor-de-barriga-branca 0,19078 Heliothryx aurita beija-flor-de-bochecha-azul 0,38079 Heliactin cornuta chifre-de-ouroORDEM TROGONIFORMESFAMÍLIA TROGONI<strong>DA</strong>E080 Trogon viridis surucuá-de-barriga-amarela 0,28081 Trogon curucui surucuá-de-coroa-azul 0,76ORDEM CORACIFORMESFAMÍLIA ALCEDINI<strong>DA</strong>E082 Ceryle torquata martin-pesca<strong>do</strong>r-grande083 Chloroceryle amazona martin-pesca<strong>do</strong>r-verde 0,19084 Chloroceryle americana martin-pesca<strong>do</strong>r-pequeno 1,52085 Chloroceryle aenea martin-pesca<strong>do</strong>r-anão 0,09FAMÍLIA MOMOTI<strong>DA</strong>E086 Momotus momota * udu-de-coroa-azulORDEM PICIFORMESFAMÍLIA GALBULI<strong>DA</strong>E087 Galbula ruficauda bico-de-agulha 7,31FAMÍLIA BUCCONI<strong>DA</strong>E


088 Nystalus maculatus joão-bobo 0,38FAMÍLIA RAMPHASTI<strong>DA</strong>E089 Pteroglossus aracari araçari-de-bico-branco 2,75090 Pteroglossus inscriptus araçari-miú<strong>do</strong>-de-bico-risca<strong>do</strong> 0,85FAMÍLIA PICI<strong>DA</strong>E091 Picumnus cirratus pica-pau-anão-barra<strong>do</strong> 0,76092 Picumnus exilis * pica-pau-anão-<strong>do</strong>ura<strong>do</strong> 2,56093 Picumnus fulvescens pica-pau-anão-de-pernambuco 2,09094 Dryocopus lineatus pica-pau-de-banda-branca 0,09095 Veniliornis passerinus pica-pau-pequeno 0,76096 Veniliornis affinis pica-pau-de-asa-vermelha 1,61ORDEM PASSERIFORMESFAMÍLIA FORMICARII<strong>DA</strong>E097 Taraba major cancão-de-fogo098 Thamnophilus <strong>do</strong>liatus choca-barrada099 Thamnophilus palliatus choca-listrada 0,36100 Thamnophilus caerulescens * espanta-raposa 0,42101 Thamnophilus aethiops * choca-lisa 0,82102 Dysithamnus mentalis choquinha-lisa 0,39103 Thamnomanes caesius ipecuá 0,39104 Myrmotherula axillaris choquinha-de-flancos-brancos 2,61105 Herpsilochmus rufimarginatus chorozinho-de-asa-ruiva 3,36106 Herpsilochmus atricapillus chorozinho-de-chapéu-preto 0,49107 Formicivora grisea papa-formiga-par<strong>do</strong> 3,62108 Pyriglena leuconota * papa-taoca109 Myrmeciza ruficauda * papa-formiga-de-cauda-ruiva 0,36110 Conopophaga melanops * chupa-dente-de-máscara-preta111 Conopophaga lineata * chupa-denteFAMÍLIA FURNARII<strong>DA</strong>E112 Furnarius leucopus amassa-barro113 Synallaxis frontalis tio-antônio 0,36114 Poecilurus scutatus estrelinha-preta 0,13115 Certhiaxis cinnamomea casaca-de-couro 0,33116 Phacello<strong>do</strong>mus rufifrons ferreiro 0,88117 Xenops minutus * bico-vira<strong>do</strong>-miú<strong>do</strong> 0,42118 Xenops rutilans bico-vira<strong>do</strong>-carijó 0,1FAMÍLIA DENDROCOLAPTI<strong>DA</strong>E119 Sittasomus griseicapillus arapaçu-verde 3,52120 Xiphorhynchus picus arapaçu-de-bico-branco 2,41121 Lep<strong>do</strong>colaptes angustirostris arapaçu-<strong>do</strong>-cerra<strong>do</strong> 0,03


122 Lep<strong>do</strong>colaptes fuscus arapaçu-raja<strong>do</strong> 0,55FAMÍLIA TYRANNI<strong>DA</strong>E123 Zimmerius gracilipes poairo-de-sobrancelha 3,88124 Camptostoma obsoletum risadinha 1,11125 Phaeomyias murina bagageiro126 Myiopagis viridicata guaracava-esverdiada127 Myiopagis gaimardii maria-pechim 0,49128 Elaenia flavogaster maria-já-é-dia 8,18129 Elaenia spectabilis guaracava-grande 0,1130 Elaenia mesoleuca gordinho 0,06131 Elaenia cristata papa-enxeico 0,03132 Mionectes oleagineus abre-asas 0,23133 Leptopogon amaurocephalus cabeçu<strong>do</strong> 2,09134 Capsiempis flaveola marianinha 1,21135 Hemitriccus zosterops sebinho-olho-branco 5,8136 Hemitriccus margaritaceiventer sebinho-olho-de-ouro 0,42137 Todirostrum cinereum relojinho 4,43138 Poecilotriccus fumifrons ferreirinho 0,07139 Ryncocyclus olivaceus bico-chato-olivaceo 0,68140 Tolmomyias sulphurescens bico-chato-de-orelha-preta 0,1141 Tolmomyias poliocephalus bico-chato-de-cabeça-cinza 0,78142 Tolmomyias flaviventris bico-chato-amarelo 5,12143 Platyrinchus mystaceus patinho144 Myiobius barbatus assadinho-de-peito-<strong>do</strong>ura<strong>do</strong> 0,03145 Myiophobus fasciatus felipe-de-peito-risca<strong>do</strong> 0,23146 Lathrotriccus euleri enferruja<strong>do</strong> 0,1147 Cnemotriccus fuscatus guaracavuçu 0,03148 Fluvicola nengeta lavadeira 1,01149 Arundinicola leucoephala viuvinha150 Machetornis rixosus bem-te-vi-<strong>do</strong>-ga<strong>do</strong> 0,13151 Rhytipterna simplex planadeira 0,16152 Myiarchus ferox mané-besta 0,52153 Miyarchus tyrannulus mané-besta 0,16154 Myiarchus swainsoni irrê 0,16155 Myiarchus tuberculifer maria-cavaleira-pequena 2,41156 Pitangus sulphuratus bem-te-vi 9,46157 Megarhynchus pitangua bem-te-vi-de-bico-de-gamela 1,04158bem-te-vizinho-de-coroavermelha5,58Myiozetetes similis159 Myiodynastes maculatus bem-te-vi-raja<strong>do</strong> 0,03160 Legatus leucophaius bem-te-vi-pirata 3,88161 Empi<strong>do</strong>nomus varius peitica 0,03162 Tyrannus melancholicus suiriri 4,11163 Pachyramphus viridis caneleiro-verde 0,03164 Pachyramphus polichopterus caneleiro-preto 1,24


165 Pachyramphus validus caneleiro-de-chapéu-preto 0,1FAMÍLIA PIPRI<strong>DA</strong>E166 Pipra rubrocapilla cabeça-encarnada 2,28167 Chiroxiphia pareola tangará 6,91168 Manacus manacus rendeira 3,81169 Neopelma pallescens fruxu 0,16170 Schiffornis turdinus flautin-marron 0,03FAMÍLIA HYRUNDINI<strong>DA</strong>E171 Tachycineta albiventer an<strong>do</strong>rinha-<strong>do</strong>-rio 2,05172 Progne chalybea an<strong>do</strong>rinha-<strong>do</strong>méstica-grande173 Alopocheli<strong>do</strong>n fucata an<strong>do</strong>rinha-morena 0,04174 Stelgi<strong>do</strong>pteryx ruficollis an<strong>do</strong>rinha-serra<strong>do</strong>r 2,01175 Hirun<strong>do</strong> rustica an<strong>do</strong>rinha-de-ban<strong>do</strong> 0,13FAMÍLIA TROGLODYTI<strong>DA</strong>E176 Donacobius atricapillus chauá 1,83177 Thryothorus genibarbis garrinchão-pai-avô 6,91178 Troglodytes musculus cambaxirra 5,38FAMÍLIA MUSCICAPI<strong>DA</strong>E179 Ramphocaenus melanurus balança-rabo-de-bico-curvo 6,06180 Polioptila plumbea balança-rabo-de-chapéu-preto 0,77181 Turdus rufiventris sabiá-laranjeira 1,37182 Turdus leucomelas sabiá-branca 8,19183 Turdus amaurochalinus sabiá-poca 0,04184 Turdus fumigatus sabiá-da-mata 0,09FAMÍLIA VIREONI<strong>DA</strong>E185 Cyclarhis gujanensis pitiguari 6,27186 Vireo chivi juruviara 10,5187 Hylophilus poicilotis verdinho-coroa<strong>do</strong> 0,04FAMÍLIA EMBEREZI<strong>DA</strong>E188 Basileuterus flaveolus canário-<strong>do</strong>-mato 0,64189 Basileuterus culicivorus pula-pula190 Coereba flaveola sebito 9,51191 Cissopis leveriana pêga192 Thlypopsis sordida saíra-canário 0,04193 Nemosia pileata saíra-de-chapéu-preto 0,38194 Tachyphonus cristatus tiê-galo 0,68195 Tachyphonus rufus joão-moleque 0,3196 Ramphocelus bresilius sangue-de-boi197 Thraupis sayaca sanhaçu-de-bananeira 0,43198 Thraupis palmarum sanhaçu-de-coqueiro 14,5199 Euphonia chlorotica vem-vem 0,64


200 Euphonia violacea guriatã 4,1201 Tangara fastuosa * pintor202 Tangara cyanocephala * verdelin203 Tangara cayana frei-vicente 1,96204 Tangara velia saíra-diamante205 Dacnis cayana saí-azul 0,81206 Cyanerpes cyaneus saíra-beija-flor 0,55207 Sicalis luteola mané-mago208 Volatinia jacarina tiziu 0,34209 Sporophila lineola bigode210 Sporophila nigricollis papa-capim ou cabeça-preta 0,04211 Sporophila albogularis gola<strong>do</strong>212 Sporophilla leucoptera patativa-chorona 0,09213 Sporophila bouvreuil caboclinho214 Tiaris fuliginosa cigarra-de-coqueiro215 Arremon taciturnus tico-tico-da-mata 4,39216 Paroaria <strong>do</strong>minicana galo-de-campina217 Saltator maximus trinca-ferro 7,38218 Cacicus solitarius bauá219 Icterus cayanensis xexéu 0,3220 Icterus jamacaii concriz 0,09221 Leistes superciliaris espanta-boiada222 Curaeus forbesi * papa-arroz 0,3223 Molothrus bonariensis chopim, galdérioFAMILIA PASSERI<strong>DA</strong>E224 Passer <strong>do</strong>mesticus pardal 0,64FAMÍLIA ESTRILDI<strong>DA</strong>E225 Estrilda astrild bico-de-lacre 0,13*Espécies ameaçadas de acor<strong>do</strong> com IBAMA (2003)Tabela 13 – Presença de placa de incubação em aves capturadas no centro da mata deSecupema (08 13 33,3” S , 35 03 44,1” W), na Reserva de Gurjaú, Pernambuco.Espécie Quantidade Sexo Perío<strong>do</strong>Turdus leucomela 5 Indetermina<strong>do</strong> 01-10-2002Manacus manacus 2 Fêmeas 01-10-2002\\Chiroxiphia pareola 2 sFêmeas 01-10-2002Gluacis hirsuta 2 Indetermina<strong>do</strong> 02-10-2002Turdus rufiventris 1 Indetermina<strong>do</strong> 02-10-2002Leptopogon1 sIndetermina<strong>do</strong> 02-10-2002Conopophaga cearae 1 Indetermina<strong>do</strong> 02-10-2002amaurocephalusMyrmotherula axilaris 1 Macho 03-10-2002Manacus manacus 1 Fêmea 03-10-2002Hemitriccus zosterops 1 Indetermina<strong>do</strong> 03-10-2002Pipra rubrocapilla 1 Fêmea 03-10-2002


Rhynchocyclus olivaceus 1 Indetermina<strong>do</strong> 03-10-2002Myrmotherula axillaris 1 Macho 04-10-2002Myrmotherula axillaris 1 Fêmea 04-10-2002Chiroxiphia pareola 1 Fêmea 05-11-2002Platyrinchus mystaceus 1 Fêmea 05-11-2002Glaucis hirsuta 1 Indetermina<strong>do</strong> 05-11-2002Manacus manacus 1 Fêmea 05-11-2002Conopophaga cearae 1 Indetermina<strong>do</strong> 06-11-2002Manacus manacus 4 Fêmeas 07-11-2002Pipra rubrocapilla 6 Fêmeas 06-12-2002Manacus manacus 1 Fêmea 06-12-2002Mionectes oleagineus 1 Indetermina<strong>do</strong> 07-12-2002Tolmomyias flaviventris 1 Indetermina<strong>do</strong> 07-12-2002Veniliornis affinis 1 Indetermina<strong>do</strong> 07-12-2002Chiroxiphia pareola 2 Fêmeas 08-12-2002Saltator maximus 1 Indetermina<strong>do</strong> 08-12-2002Neopelma pallescens 1 Fêmea 08-12-2002Pipra rubrocapilla 1 Fêmea 16-01-2003Chiroxiphia pareola 1 Fêmea 16-01-2003Glaucis hirsuta 1 Indetermina<strong>do</strong> 16-01-2003Manacus manacus 3 Fêmeas 17-01-2003Myiobius barbatus 1 Indetermina<strong>do</strong> 15-02-2003Rhynchocyclus olivaceus 1 Indetermina<strong>do</strong> 15-02-2003Thamnophilus aethiops 1 Fêmea 16-02-2003Neopelma pallescens 1 Fêmea 23-03-2003*Rhynchocyclus olivaceus 2 Indetermina<strong>do</strong> 17-06-2003* Foram captura<strong>do</strong>s ao mesmo tempo na mesma rede. Esta informação sugere que seja umcasal com o macho também apresentan<strong>do</strong> a placa de incubação. Davis (1945) relata aobservação de placa em macho de alguns tiranídeos.<strong>4.</strong>2.4 Levantamento de MamíferosIntroduçãoDe acor<strong>do</strong> com Meyrs et al. (2000) a Mata Atlântica apresenta 250 espécies demamíferos, das quais 55 são endêmicas. A fragmentação tem produzi<strong>do</strong>graves conseqüências para este grupo, em particular para as espécies demaior porte, verifican<strong>do</strong>-se o desaparecimento total de algumas delas emcertas regiões e localidades. A conjunção desses fatores levou a inclusão de69 dessas na lista oficial de espécies da fauna brasileira ameaçadas deextinção (MMA, 2003).Poucas Unidades de Conservação (UC) localizadas em áreas de MataAtlântica, particularmente no Nordeste brasileiro, foram inventariadas de mo<strong>do</strong>satisfatório, haven<strong>do</strong> consideráveis lacunas no conhecimento taxonômico e


iogeográfico da maioria <strong>do</strong>s gêneros e espécies, de forma que novasespécies e novas localidades de ocorrência são freqüentemente registradas acada novo estu<strong>do</strong>. As listas de espécies ameaçadas constituem-se nasferramentas mais apropriadas para guiar as ações governamentais e políticaspúblicas com vistas à preservação. O controle <strong>do</strong> tráfico e comércio ilegal deanimais, também não pode prescindir dessas listas (MMA/SBF, 2002b). Daí aimportância da realização <strong>do</strong> inventário da biodiversidade das matas <strong>do</strong>Sistema Gurjaú que servirá de subsídio para a recategorização e embasará oplano de manejo desta UC.Assim, o presente estu<strong>do</strong> objetivou inventariar a mastofauna terrestre existenteem Gurjaú. Esse trabalho inicial deverá também dar origem a futuros estu<strong>do</strong>sde monitoramento, que possibilitem o acompanhamento da dinâmica daspopulações de mamíferos da área (Monteiro da Cruz, 1998), principalmentedaquelas espécies cuja instabilidade populacional possa comprometer asobrevivência das mesmas nos fragmentos desta UC.METODOLOGIAÁrea de Estu<strong>do</strong>Preparaçãoda ÁreaO presente estu<strong>do</strong> foi desenvolvi<strong>do</strong> em vários fragmentos da RESG (Figura32). As capturas <strong>do</strong>s animais foram antecedidas pela abertura de novas trilhase mapeamento das trilhas já existentes, com o uso de GPS (parageorreferenciamento das localidades de amostragem), e bússola e trenas paraa definição <strong>do</strong>s pontos de coleta, devidamente identifica<strong>do</strong>s através de fitasplásticas, e distantes 50m um <strong>do</strong> outro. Para cada área de amostragemselecionada foi utilizada de uma a duas trilhas cuja extensão variou entre 300me 1000m.InventárioPara o levantamento da mastofauna foram utilizadas quatro meto<strong>do</strong>logias: 1)captura com armadilhas metálicas (<strong>do</strong> tipo Tomahawk); 2) visualização emcampo; 3) identificação através de vestígios; 4) entrevistas com a comunidadelocal (Wilson et al., 1996). Foram realizadas excursões mensais com duraçãode 04 a 06 dias consecutivos cada, entre agosto de 2002 e abril de 2003. A


classificação taxonômica a<strong>do</strong>tada neste estu<strong>do</strong> foi a de Wilson e Reeder(1992).Captura e ProcessamentoNas capturas, foram utilizadas armadilhas de <strong>do</strong>is tamanhos (45X15X15cm e75X30X30cm), dispostas em cada ponto de coleta, em número de 01 a 03,procuran<strong>do</strong>-se, quan<strong>do</strong> possível, colocar ao menos uma no solo e outrasuspensa (a cerca de 1,5m - 2,0m <strong>do</strong> solo). Como iscas, foram utiliza<strong>do</strong>s frutos(banana e abacaxi) e paçoca de amen<strong>do</strong>im, sen<strong>do</strong> as armadilhas iscadas erevisadas a cada 24 horas. O esforço de captura, no presente estu<strong>do</strong>, foicalcula<strong>do</strong> a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong>-se a fórmula: EF = NA X NC, onde EF= esforço decaptura, NA= número de armadilhas utilizadas e NC= número de dias decaptura. As armadilhas foram colocadas em 03 fragmentos: Mata da Zabé (01trilha), Mata <strong>do</strong> Cuxio (02 trilhas) e Mata Gurjaú-Secupema (02 trilhas), comopode ser visto na Figura 32. Além disso, em apenas uma ocasião, fez-se umaamostragem na região próxima à Estação de Tratamento de Água (ETA) daCompesa.Os animais captura<strong>do</strong>s foram leva<strong>do</strong>s a uma sala de processamento ondeforam anestesia<strong>do</strong>s com Cloridrato de Quetamina (50mg/ml), para em seguidaserem processa<strong>do</strong>s. A <strong>do</strong>sagem <strong>do</strong> anestésico (10 a 30mg/Kg de peso) varioude acor<strong>do</strong> com a espécie e a classe etária de cada animal. Os da<strong>do</strong>s demorfometria, peso, esta<strong>do</strong> clínico e reprodução foram coleta<strong>do</strong>s e anota<strong>do</strong>s emfichas individuais. Além disso, to<strong>do</strong>s os indivíduos foram marca<strong>do</strong>s através detatuagem na cauda. Os animais cuja identificação não foi possível foramsacrifica<strong>do</strong>s, após anestesia, e adequadamente conserva<strong>do</strong>s para posterioridentificação, através de chaves taxonômicas específicas para cada grupo, oupor comparação com material deposita<strong>do</strong> nas coleções da UFPE e UFRPE. Osespécimens assim coleta<strong>do</strong>s encontram-se deposita<strong>do</strong>s na coleção demamíferos <strong>do</strong> Departamento de Biologia, Área de Zoologia, da UFRPE.Visualizações em CampoAs visualizações em campo <strong>do</strong>s mamíferos (avistamentos), foram feitasdurante os percursos realiza<strong>do</strong>s no transecto Gúrjaú/Secupema (a pé ou de


carro) e nas trilhas de diversos fragmentos de mata (a pé), em diferenteshorários (Figura 32). Para os animais avista<strong>do</strong>s foram anota<strong>do</strong>s os nomes daespécie, o horário e o local da observação, além <strong>do</strong> número de indivíduos.Aqui foram consideradas não apenas as visualizações feitas pela equipe demastofauna, mas também àquelas realizadas pelos componentes das demaisequipes de levantamento de fauna.Identificação Através de VestígiosDurante os percursos, também foram realizadas observações de vestígios <strong>do</strong>sanimais: pegadas, restos alimentares, fezes, pêlos e carcaças. Além <strong>do</strong>sfragmentos de mata onde foram realizadas as capturas, a busca de vestígiostambém foi realizada em outros fragmentos da região percorri<strong>do</strong>s pela equipede mastofauna e no transecto Gurjaú/Secupema de 4Km de extensão(Figura 32). As pegadas e carcaças encontradas foram fotografadas eidentificadas com o auxílio de guias específicos (Becker e Dalponte 1991;Emmons e Feer, 1999).Entrevistas com a Comunidade LocalFoi utiliza<strong>do</strong> um questionário para as entrevistas com a comunidade local,dividi<strong>do</strong> em três partes: identificação, grau de conhecimento/consciência sobrea situação da flora e fauna locais e informação sobre as prováveis espéciesque existem ou já existiram na área (sob foco qualitativo e quantitativo). Paraesta última parte, foram utiliza<strong>do</strong>s desenhos e pranchas coloridas (Emmons eFeer, 1999; Eisenberg e Redford, 1999) para orientar os entrevista<strong>do</strong>s quantoà identificação <strong>do</strong>s animais. Deu-se prioridade às pessoas que moram na áreahá muitos anos, e àquelas que já praticaram ou ainda praticam a caça. Asegunda parte <strong>do</strong> questionário inclui a coleta de informações sobre o esta<strong>do</strong> deconservação <strong>do</strong> bioma e da biota atual e remota da UC, e buscou indíciossobre a pressão de caça a que está submetida à mastofauna local. Parainclusão de espécies citadas nas entrevistas na lista de mamíferos das matas<strong>do</strong> Sistema Gurjaú, levou-se em consideração a confiabilidade nas respostas


<strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s e a porcentagem de citações (a partir de 70% deconcordância).Figura 32 – Matas <strong>do</strong> Sistema GurjaúResulta<strong>do</strong>sDurante o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> foram inventariadas 32 espécies de mamíferospara as matas <strong>do</strong> Sistema Gurjaú, pertencentes às ordens Didelphimorphia (04gêneros, 06 espécies), Xenarthra (05 gêneros, 05 espécies), Rodentia (11gêneros, 11 espécies), Lagomorpha (01 gênero e 01 espécie), Carnivora (08gêneros, 08 espécies) e Primates (01 gênero, 01 espécie), como pode serconstata<strong>do</strong> na Tabela 15. Dentre estas, o gato-<strong>do</strong>-mato (Leopardus tigrinus)encontra-se na lista oficial da fauna brasileira ameaçada de extinção, nacategoria vulnerável (MMA, 2003). Além disso, vale ressaltar, a existência deuma espécie endêmica <strong>do</strong> Nordeste brasileiro, Callithrix jacchus (sagüi), e deum pequeno marsupial, Monodelphis americana (Figura 33), endêmico da Mata


Atlântica. Os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s através de cada uma das meto<strong>do</strong>logiasa<strong>do</strong>tadas se encontram pormenoriza<strong>do</strong>s a seguir.CapturasAo longo <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, através da utilização das armadilhas metálicas, ocorreram44 capturas e 04 recapturas de mamíferos de pequeno porte (Tabela 14). Alémdisso, 04 marsupiais caíram nas armadilhas montadas para répteis, <strong>do</strong> tipo pitfall,e 01 tamanduá-mirim, Tamandua tetradactyla (Figura 34), foi captura<strong>do</strong>manualmente por uma pessoa da comunidade, e encaminha<strong>do</strong> à equipe depesquisa<strong>do</strong>res. As espécies mais capturadas foram Didelphis albiventris eMarmosa murina (Figura 35), com 10 e 9 indivíduos, respectivamente. Duranteo processamento <strong>do</strong>s espécimens captura<strong>do</strong>s, constatatou-se que 01 deDidelphis albiventris e 03 fêmeas de Didelphis marsupialis tinham filhotes nomarsúpio (Figura 36).Figura 33 – Monodelphis americana captura<strong>do</strong> na Mata Secupema em novembro de 2002


Figura 34 – Tamandua tetradactyla encontra<strong>do</strong> na Mata Secupema em março de 2003.Figura 35 – Marmosa murina capturada na Mata da Zabé em setembro de 2002.


Figura 36 – Didelphis marsupialis com filhote captura<strong>do</strong> na Mata <strong>do</strong> Cuxiu em dezembro de2002.Visualizações em CampoAtravés das visualizações em campo, pôde-se observar 07 espécies demamíferos, das quais 02 também foram capturadas. Assim, os avistamentospermitiram a inclusão de 05 espécies diferentes na lista (Tabela 15), dasordens Xenarthra (01), Rodentia (02), Lagomorpha (01) e Carnivora (01).Identificação Através de VestígiosA maioria <strong>do</strong>s vestígios encontra<strong>do</strong>s constitui-se de pegadas. Quatro espécies(03 roe<strong>do</strong>res e 01 carnívoro) puderam ser identificadas e acrescentadas à listaatravés <strong>do</strong>s rastros. Além disso, duas carcaças de Bradypus variegatus foramencontradas flutuan<strong>do</strong> no Lago Gurjaú (Tabela 15).Durante o trabalho de campo, também foi possível constatar a existência daatividade de caça nos vários fragmentos de mata percorri<strong>do</strong>s, através dapresença de “esperas”, “fojos”, armadilhas para tatus, cápsulas de balas deespingarda, tiros de arma de fogo, presença e lati<strong>do</strong> de cães e perfuração àbala na mandíbula de uma das carcaças de preguiça. Além disso, observou-se


a existência de grandes canis de cães de caça (da raça Fox Hunter) em váriaspropriedades e posses da área.Foram também identifica<strong>do</strong>s indícios de caça associada à venda de animais,especificamente a capivara – Hydrochaeris hydrochaeris – a maior espécievivente de roe<strong>do</strong>r <strong>do</strong> planeta. Em uma ilhota (com menos de 01ha), no açudede Secupema, um tipo de armadilha grande foi construída para a captura decapivaras, em local escondi<strong>do</strong> da visão de quem faz o percurso de carro ou apé na margem <strong>do</strong> açude. Cultivou-se um milharal, cerca<strong>do</strong> com arame eestacas resistentes, limita<strong>do</strong> por apenas <strong>do</strong>is acessos em forma de “fojo” – umtipo de armadilha artesanal para captura de animais vivos, semelhante a umalçapão – que, no caso específico, correspondia a valas de 1,0m X 1,0m X1,5m, cobertas por uma base estrutural de gravetos, forrada por materiais daserrapilheira local. Pelo alto investimento <strong>do</strong> empreendimento, questionou-sesobre a possibilidade de que esta captura não se limitasse à caça paraalimentação ou criação <strong>do</strong> animal como pet (animal de estimação) pelacomunidade local, mas pudesse estar associada ao comércio ilegal daespécie.Entrevistas com a Comunidade LocalNo total, foram realizadas 32 entrevistas. A partir das informações contidas nosquestionários, foi possível listar mais 11 espécies de mamíferos (06 carnívoros,02 roe<strong>do</strong>res e 03 tatus), como pode ser observa<strong>do</strong> na Tabela 15. Constatou-seainda que, há cerca de 30 anos atrás, existiam macacos-prego (Cebus apella),vea<strong>do</strong>s (Mazama gouazoupira) e porcos-<strong>do</strong>-mato (Tayassu tajacu), que hoje seencontram extintos na região.Também através das entrevistas foi possível tomar conhecimento de quãogrande é a pressão de caça local, que não se limita aos caça<strong>do</strong>res da própriacomunidade mais inclui também os provenientes <strong>do</strong>s municípios <strong>do</strong> entorno.Os mamíferos mais caça<strong>do</strong>s são, sobretu<strong>do</strong>, cutias, tatus e pacas, secunda<strong>do</strong>spor quatis, raposas e capivaras. O méto<strong>do</strong> tradicional de se caçar na região éatravés <strong>do</strong> uso de espingardas, cães de caça e construção de “esperas”,segui<strong>do</strong> <strong>do</strong> uso de armadilhas artesanais. A caça geralmente serve para sercomida como petisco, acompanhada por bebidas alcoólicas (principalmente a


cachaça), e mais raramente para servir de animal de estimação (cutia, papamel,quati, tatu, coelho, paca, capivara).Foi unânime e enfaticamente negada, a caça comercial de animais vivos,apesar <strong>do</strong>s indícios levanta<strong>do</strong>s nesta pesquisa. Foram freqüentes os relatos deque a “caça à raposa” vem sen<strong>do</strong> praticada há muitos anos como esporte,utilizan<strong>do</strong>-se inclusive, afora cães fareja<strong>do</strong>res e espingardas, de cavalos demontaria. Segun<strong>do</strong> os entrevista<strong>do</strong>s, esta modalidade de esporte tem si<strong>do</strong>praticada, quase que exclusivamente, pelas classes mais abastadas dapopulação.Tabela 14 – Áreas de amostragem, esforço de captura, número de animais captura<strong>do</strong>s comrespectivas ordens, da mastofauna inventariada nas matas <strong>do</strong> Sistema Gurjaú.EXCURSÃO ÁREAS ESFORÇO DECAPTURANÚMERO DEANIMAISCAPTURADOSORDENS1 ETA, Mata da Zabé 30 X 2 = 60 7 Rodentia eDidelphimorphia2 Mata da Zabé, Mata 60 X 3 = 180 1 DidelphimorphiaGurjaú/Secopema3 Mata Gurjaú/Secopema 60 X 3 = 180 3 Didelphimorphia ePrimates4 Mata Gurjaú/Secopema 73 X 2 = 146 4 Didelphimorphia5 Mata Gurjaú/Secopema 73 X 6 = 438 8 Rodentia eDidelphimorphia6 Mata Gurjaú/Secopema 73 X 6 = 438 5 Rodentia eDidelphimorphia7 Mata Gurjaú/Secopema,Mata <strong>do</strong> Cuxiu8 Mata Gurjaú/Secopema,Mata <strong>do</strong> Cuxiu9 Mata Gurjaú/Secopema,Mata <strong>do</strong> CuxiuTOTALETA, Mata da Zabé,Mata Gurjaú/Secopema,Mata <strong>do</strong> Cuxiu54 X 3 = 162 6 Rodentia eDidelphimorphia74 X 4 = 296 10 Rodentia,Didelphimorphia ePrimates74 X 4 = 296 4 Rodentia,Didelphimorphia ePrimates2196 48 Rodentia,Didelphimorphia ePrimatesTabela 15 – Lista da mastofauna inventariada nas matas <strong>do</strong> Sistema GurjaúORDEM FAMÍLIA ESPÉCIE NOMEVULGARMÉTODO DEAMOSTRAGEM


DidelphimorphiaDidelphidaeDidelphis albiventris (Lund,1840)D. marsupialis(Linnaeus, 1758)Marmosa murina(Linnaeus, 1758)Monodephis <strong>do</strong>mestica(Wagner, 1842)M. americana (Müller,1776)Micoureus demerarae(Thomas, 1905)Xenarthra Bradypodidae Bradypus variegatus(Schinz, 1825)Dasypodidae Dasypus novemcinctus(Linnaeus, 1758)Euphractus sexcinctus(Linnaeus, 1758)Cabassous unicinctus(Linnaeus, 1758)Myrmecophagida Tamandua tetradactylae(Linnaeus, 1758)Rodentia Muridae Rattus sp. (Fisher,1803)Musmusculus(Linnaeus, 1758)AgoutidaeCavidaeErethizontidaeSciuridaeHydrochaeridaeNectomys sp. (Peters,1861)Ako<strong>do</strong>n sp. (Meyen,1833)Holochilus sp. (Brandt,1835)Agouti paca (Linnaeus,1766)Dasyproctaprymnolopha (Wagler,1831)Cavia aperea(Erxleben, 1777)Coendu prehensilis(Linnaeus, 1758)Sciurus aestuans(Linnaeus, 1766)Hydrochaerishydrochaeris(Linnaeus, 1766)Lagomorpha Leporidae Sylvilagus brasiliensis(Linnaeus, 1758)TimbúCachorro <strong>do</strong>matoCuícaRato fidalgoPreguiçaTatuverdadeiroTatu pebaTatu rabo decouroTamanduámirimRatazana,ratoCatitaRato d’águaRatoRato de canaPacaCutiaPreáCoenduParacatotaCapivaraCoelho <strong>do</strong>matoC, EC, ECCCC, EVC, A, EEEEC, VP, EC, EC, ECC, AEEVP, EA, EVP, EA, EVP, EA, E


Carnivora Canidae Cer<strong>do</strong>cyon thous(Linnaeus, 1766)Felidae Leopardus tigrinus(Schreber, 1775)Felis yagouarondi(Lacépède, 1809)Mustelidae Eira barbara(Linnaeus, 1758)Galictis vittata(Schreber, 1776)Lontra longicaudis(Olfers, 1818)Procyonidae Procyon cancrivorus(G. Cuvier, 1798)Nasua nasua(Linnaeus, 1766)Primates Callitrichidae Callithrix jacchus(Linnaeus, 1758)RaposaGatomaracajáRaposa degatoPapa melFurãoLontraGuará decanaQuatiSagüiA, EEEEEEVP, EEC, A, ELegenda: C = Captura; VC = Vestígio/carcaça; VP = Vestígio/pegadas; A = Avistamento; E = EntrevistaDISCUSSÃOA diversidade da mastofauna terrestre encontrada nas matas <strong>do</strong> SistemaGurjaú assemelha-se às de outros estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s em remanescentes deMata Atlântica no esta<strong>do</strong> de Pernambuco como, por exemplo, o ParqueEstadual Dois Irmãos, a Estação Ecológica de Tapacurá, a Estação Ecológicade Caetés e a Área Piloto RBMA-Complexo Igarassu/Itapissuma/Itamaracá(Monteiro da Cruz et al., 2002); também é bastante similar àquela <strong>do</strong> inventáriode mamíferos realiza<strong>do</strong> por Fernandes (2003) em fragmentos de mata noesta<strong>do</strong> de Alagoas.Apesar da quantidade de espécies registradas (32) ter si<strong>do</strong> razoável, o númerode capturas (48, ocorren<strong>do</strong> 04 recapturas) foi pequeno em relação ao esforçode captura realiza<strong>do</strong> (2196). Vale salientar que apenas 12 espécies foramcapturadas em armadilhas; 09 foram adicionadas à lista através de vestígiose/ou avistamentos e outras 11, através das entrevistas com a comunidade.Provavelmente o uso de outros tipos de armadilhas, como as de Sherman(para animais bem pequenos), ou laços e grades pit-fall (para animais demédio e grande porte) (Wilson et al., 1996), possibilitaria o aumento <strong>do</strong> númerode indivíduos captura<strong>do</strong>s, mas não necessariamente o de espécies.O fato da maioria <strong>do</strong>s mamíferos encontra<strong>do</strong>s constituir-se de animais depequeno porte era um resulta<strong>do</strong> já espera<strong>do</strong> para a região estudada. Isto sedeve, provavelmente, ao alto grau de fragmentação da área, que encontra-se


próxima a centros urbanos, apresentan<strong>do</strong> uma grande pressão antrópica econseqüente uso <strong>do</strong>s recursos naturais, de maneira desordenada. A presençade assentamentos humanos pode agir como meio de introdução de espéciesexóticas e <strong>do</strong>mésticas que passam a competir, ou até mesmo predar, asespécies nativas de plantas e animais (Miller e Hobbs, 2002). No casoespecífico <strong>do</strong>s mamíferos, a caça e o desmatamento exacerba<strong>do</strong>s são osprováveis agentes responsáveis pelo seu desaparecimento gradual nas matasde Gurjaú, pois estes, segun<strong>do</strong> How e Dell (2000), são os vertebra<strong>do</strong>s emmaior desvantagem nos remanescentes de mata urbanos. De acor<strong>do</strong> comMiller e Hobbs (2002), os assentamentos humanos representam inúmerasbarreiras para o deslocamento <strong>do</strong>s vertebra<strong>do</strong>s terrestres, especialmente nocaso das espécies de mamíferos que possuem uma grande área de uso e queacabam confrontan<strong>do</strong> com pessoas. Pimentel (2000), em estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> naCosta Rica, também aponta os fatores caça e desmatamento como causas dadiminuição da mastofauna terrestre da região.Observou-se também que a maioria das espécies inventariadas estão bemadaptadas a áreas perturbadas, sobretu<strong>do</strong> àquelas próximas a cursos d`água,plantações e pastagens (Emmons e Feer, 1999; Eisenberg e Redford, 1999), oque é comum de se encontrar em Gurjaú. De acor<strong>do</strong> com Terborgh (1984apud Pimentel, 2000), em florestas perturbadas, observa-se odesaparecimento de mamíferos de grande porte e o estabelecimento deespécies generalistas e de menor tamanho, sem muito valor de caça. Assim,espécies como Leopardus tigrinus e Felis yagouarondi, essencialmentecarnívoras e bastante caçadas, terão poucas chances de continuar existin<strong>do</strong>na região. Um fato preocupante em relação à atividade de caça local demamíferos, é que esta não é de subsistência, servin<strong>do</strong> como uma forma delazer para a comunidade, além de haver indícios <strong>do</strong> comércio ilegal dealgumas espécies. A falta de fiscalização é resulta<strong>do</strong>, inequivocamente, <strong>do</strong>descaso <strong>do</strong> proprietário da área, o próprio governo.Espirito Santo (2002) fala sobre um consenso, amplamente aceito hoje, de queáreas protegidas não podem ser administradas isoladas <strong>do</strong> que ocorre no seuentorno. Ele propõe vários mo<strong>do</strong>s de abordagem para que a comunidade <strong>do</strong>entorno passe a se responsabilizar pela preservação da área, pois, de acor<strong>do</strong>com Shutkin (2000, apud Miller e Hobbs, 2002), os esforços para proteção dehabitats obtêm melhores resulta<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> a comunidade local se mantém


informada e envolvi<strong>do</strong>s no processo, <strong>do</strong> que quan<strong>do</strong> as ordens eregulamentações vêm de um órgão superior.Pelo potencial que as matas <strong>do</strong> Sistema Gurjaú demonstram ter, nesta rápidaavaliação ecológica, e pelo nível de ameaça que parte considerável de suamastofauna vem sofren<strong>do</strong>, sugerimos que sejam contempla<strong>do</strong>s no seu Planode Manejo a implantação de corre<strong>do</strong>res ecológicos, em curto prazo,concebi<strong>do</strong>s a partir de novos cenários para a conservação de suabiodiversidade.<strong>4.</strong>2.5 Levantamento da vegetaçãoIntroduçãoAs florestas tropicais são ecossistemas que abrigam alta biodiversidade,engloban<strong>do</strong> cerca de <strong>do</strong>is terços <strong>do</strong> total de espécies existentes no planeta. OBrasil graças as suas duas grandes florestas – a amazônica e a atlântica – sedestaca como um <strong>do</strong>s países possui<strong>do</strong>res da maior biodiversidade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,possuin<strong>do</strong> cerca de 357 milhões de hectares de florestas, 30% de todas asflorestas tropicais <strong>do</strong> planeta, mais que o <strong>do</strong>bro da área de quem ocupa osegun<strong>do</strong> lugar, a In<strong>do</strong>nésia (Almeida, 2000).Sen<strong>do</strong> o Brasil detentor da maior biodiversidade que se conhece, <strong>do</strong>s cerca de1,4 milhão de organismos conheci<strong>do</strong>s pela ciência, 10% vivem em territóriobrasileiro (Mittermeier et al, 1992), é imperativo que a população nordestina seconscientize sobre o valor ambiental e sócio-econômico da biodiversidade.Entretanto este bioma vem sen<strong>do</strong> destruí<strong>do</strong> pela ação antrópica onde grandeparte de sua diversidade está sen<strong>do</strong> extinta antes mesmo que se conheça opotencial ecológico, genético e a importância econômica das espécies.Alguns grandes fragmentos ainda estão conserva<strong>do</strong>s, como é o caso da reserva ora emestu<strong>do</strong> que é a de Gurjaú, que apresenta uma biodiversidade incomparável à de outrasreservas faltan<strong>do</strong> apenas que o governo <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de Pernambuco defina urgentementeuma forma de preservar e conservar aquela unidade.METODOLOGIALocalização


A área em estu<strong>do</strong> localiza-se no litoral sul de Pernambuco entre os municípios<strong>do</strong> Jaboatão <strong>do</strong>s Guararapes e Cabo de St° Agostinho, ditan<strong>do</strong> 40 Km <strong>do</strong>centro de Recife entre a latitude 8°13’33” e longitude 35°13’44” oeste deGreenwich e XXX ocupan<strong>do</strong> uma área de 1070 hectares.ClimaOs municípios de Jaboatão <strong>do</strong>s Guararapes e Cabo de St° Agostinhoapresentam na classificação de Köeppen clima <strong>do</strong> tipo Am’s que pode serdefini<strong>do</strong> como clima tropical chuvoso de monção com verão seco e menos de60mm no mês mais seco, com precipitação pluviométrica anual total muitoelevada (SUDENE, 1973).No litoral sul, o <strong>do</strong>mínio absoluto da massa equatorial atlântica caracterizadapelos ventos alísios <strong>do</strong> hemisfério sul que sofrem reforço com as invasões dasmassas polares ocasionam as chuvas de inverno. Os meses mais chuvosossão junho e julho, enquanto os meses mais secos são outubro, novembro edezembro. A precipitação anual total atinge valores acima de 2000mm(SUDENE 1973).PROCEDIMENTO DE CAMPO E LABORATÓRIOFloraConforme meto<strong>do</strong>logia apresentada, as visitas a campo foram realizadas duasvezes ao mês seguin<strong>do</strong> a sistemática das trilhas existentes. Como tambémnovas trilhas implantadas para observações e coletas. O perío<strong>do</strong> de coletaainda se estendera por 5 a 6 meses devi<strong>do</strong> a maioria das espécies arbóreas earbustivas não se encontrarem na fase reprodutiva.As espécies botânicas foram classificadas seguin<strong>do</strong> o sistema de Cronquist(1998). Cada indivíduo que foi coleta<strong>do</strong> recebe um único número de coleta cujorespectivo registro constará na caderneta de campo. Nestas cadernetas foramanotadas todas as observações relativas ao hábito de crescimento e


características específicas (cor da flor, o<strong>do</strong>r, presença de látex ou resina nocaule e algumas características no fruto), isto é, características florais evegetativas que possam ser modificadas e processo de secagem dasamostras. O número de duplicatas coletadas foram sempre três. Observaramsetambém os nomes vulgares da<strong>do</strong>s pelo mateiro, que foram anota<strong>do</strong>s ecompara<strong>do</strong>s com os já existentes na literatura. O material foi processa<strong>do</strong>segun<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> de Mori et al (1989) e incorpora<strong>do</strong>s aos acervos <strong>do</strong>sherbários IPA e UFRPE.No laboratório, o material foi seca<strong>do</strong> em estufa a 60°C e identifica<strong>do</strong> usan<strong>do</strong>-secomo auxílio, microscópio esterioscópico binocular tipo lupa, comparan<strong>do</strong>-secom espécies <strong>do</strong> acervo <strong>do</strong> herbário e usan<strong>do</strong> literatura especificada.Resulta<strong>do</strong>sOs resulta<strong>do</strong>s encontra<strong>do</strong>s estão além <strong>do</strong> espera<strong>do</strong>, principalmente comrelação à quantidade e qualidade das espécies, de importância da preservaçãoda flora, interesse econômico para a região tais sejam: formação de bancos desementes de espécies madeireiras a serem usadas para produção de mudasno reflorestamento com espécies nativas, plantas alimentícias, ornamentais,extração de cipós para uso em artesanato (Figuras 36 a 39).Lista das EspéciesAs espécies foram coletadas nos diversos fragmentos existentes na área em estu<strong>do</strong>, ondeforam separadas nas diversas matas que possuem nomes locais denomina<strong>do</strong>s pelomateiro que nos acompanha e população local (Tabela 16 e 17).


Família Nome Científico Nome VulgarImportânciaEconômicaAnnonaceae Cymbopetalum brasiliense (Vell.) Benth ex BaillMonnimiaceae Siparuna guianensis Aubl.Lauraceae Cinnamomum chana Vatt louro MadeireiraOcotea opifera Mart. louro MadeireiraMyristicaceae Virola gardineri (DC.) Warb. urucuba MadeireiraMyrsinaceae Ardisia sp.Piperaceae Piper marginatum pimenta de macacoAristolochiaceae Aristolochia trilobata L. papo de perú OrnamentalNymphaeaceae Nymphea ampla água pé OrnamentalUlmaceae Trema micranta (L.) BlumeMoraceae Clarisia racemosa Ruiz. Et Pavon orticica da mata MadeireiraFicus gameleira gameleira MadeireiraBrosimum discolor quiri MadeireiraSorotea ilicifolia Miq.Helicostylis tomentosa (Poepp. et Endl.) Macbr. amoraUrticaceae Boehmeria cylindrica (L.) Siv. urtigaLaportea aestuans (L.) Cav. urtiga InseticidaPilea hyalina Fenzl. língua de sapo MedicinalPilea microphilla (L.) Lielm. brilhantinaNyctaginaceae Guapira opposita Nees.Pisonia subcordata Sw.Amaranthaceae Gomphrena sp.Cactaceae Rhipsalis cassuta rabo de calango OrnamentalPolygonaceae Coccoloba cf. alnifolia Casar cabaçúOchnaceae Ouratea fieldingiana (Gardn.) Engl. batiputáMarcgraviaceae Sourabia guianensisQuiinaceae Quiina pernambucensisClusiaceae Tovomita brasiliensis (Mart.) Walp. Mangue da mataClusia nemorosa Mey mata paú OrnamentalCaraipa densifolia camaçarí MadeireiraFamília Nome Científico Nome VulgarImportânciaEconômicaSymphonia globulifera L. bulandí MadeireiraCaraipa densiflora Mart. camaçarí MadeireiraEleocarpaceae Sloanea obtusifolia (Moric) Schum. mamajuda MadeireiraBombacaceae Eriotheca crenulaticalyx A. Robyns munguba da mataTiliaceae Apeiba albiflora Ducke pau de jangada MadeireiraLecythidaceae Lecythes pizonis Cambess. sapucaia MadeireiraEschweilera luschnatii Miers. embiriba MadeireiraGustavia augustaFlacourtiaceae Casearia aff. commersoniana CambessCasearia cf. javitensis H. B. K. cafezinho <strong>do</strong> matoLacistemataceae Lacistema sp. cocão brancoViolaceae Rinorea sp.Sapotaceae Chrysophyllum splendens Spreng. asa de morcegoChrysophyllum rufum Mart caimito MadeireiraLucuma grandiflora DC. oiti trubáPra<strong>do</strong>sia latescens (Vell.) Radlk cabraiba brancaMicropholis gardneriana (DC) Warb. prejuí MadeireiraManilkara salzmanii (A. DC.) Hit. Lam. maçaranduba MadeireiraMyrtaceae Calyptrantes sp.Campomanesia dichotoma Berg.


Família Nome Científico Nome VulgarImportânciaEconômicaGomidesiana martiana DC.Capparaceae Cleome spinosa mussambê MedicinalMyristicaceae Virola gardineri (DC.) Warb. urucuba MadeireiraChrysobalanaceae Couepia rufa Ducke oiti coró ComestívelHirtella cf. birconis Mart. et Zucc. faxineiroPo<strong>do</strong>stemonaceae Mourera fluviatilis Aublet. muraréFabacea Mimos. Inga bahiensis Benth ingá MadeireiraInga cf. disantha ingá de cabelo MadeireiraInga thibaudiana DC. ingá táboa MadeireiraI. blanchetiana Benth ingá MadeireiraFamília Nome Científico Nome VulgarImportânciaEconômicaI. fagifolia (L.) Willd ingá MadeireiraMacrosamanea pedicellare (DC.) Kleinh. jaguarana MadeireiraPithecellobium avaremotemo Mart. barbatimão MadeireiraP. saman (Jacq.) Benth bordão de velho MadeireiraFabacea Mimos.(cont.) Schranckia leptocarpa DC. malícia MadeireiraStryphinodendron pulcherrimum (Wild.) Hochr. favinhaPlathymenia reticulata Benth amarelo MadeireiraParkia pendula Benth visgueiro MadeireiraFabacea Caes. Copaifera nitida Mart. pau d'óleo OleaginosaHymenaea martiana Hayne. jatobá MadeireiraPeltogyne recifensis Ducke barabu MadeireiraBauhinia rubiginosa Bong. mororó MadeireiraBauhinia sp.Dialium guianensis (Aubl.) Sandw.et. Barneby pau ferro MadeireiraSclerolobium densiflorum Benth ingá porco MadeireiraSenna occidentalis L.Swartzia pickelii Killip ex Ducke jacarandá branco MadeireiraFabacea Fab. Lonchocarpus guillerminianus MadeireiraOrmosia bahiensis olho de cabra MadeireiraPterocarpus violaceus pau sangue MadeireiraDerris neuroscapha Benth. piacaZollernia paraensis Hub. pau santo MadeireiraBowdichia virgilioides H. B. K. sucupira mirim MadeireiraBauhinia sp.Pterocarpus cf. violaceus Vog. pau sangue MadeireiraMelastomataceae Clidemia hirta (L.) D. Don.Miconia albicansCombretaceae Buchenavia capitata Eichl. esparrada MadeireiraOlacaceae Schoepfia brasiliensis A. DC. cabelinhoLolanthaceae Psittacanthus dichrous Mart. erva de passarinhoFamília Nome Científico Nome VulgarImportânciaEconômicaCelastraceae Maytenus sp.Euphorbiaceae Actinostemom megalophyllaAparisthemium cordatumCroton glandulosoCroton hirtus L.Maprounea sp. pinga orvalho Madeireira


Família Nome Científico Nome VulgarImportânciaEconômicaEuphorbiaceae(cont.) Mabea sp.Pera ferruginea Muell. Arg. sete cascos MadeireiraPogonophora schomburkiana Miers cocãoRicheria grandis Vahl. jaqueira d'água MadeireiraCni<strong>do</strong>scolus urens cansançãoCroton lobatus feijão de rolinha MadeireiraSapindaceae Allophylus edulis (St. Hil.) Radlk.Cupania racemosa (Vell.) Radlk. caboatãSerjania cf. glabrata KunthSerjania salzmanniana Schlecht.Talisia sp. pitomba de macacoBurseraceae Protium aracouchini Marchand amesclinhaProtium cf. giganteum Engl. amesclãoProtium heptaphyllum (Aubl.) Marchand amescla de resinaAnacardiaceae Tapirira guianensis Aubl. cupiuba MadeireiraSimaroubaceae Simarouba amara Aubl. praiba MadeireiraPicramnia glazioviana subsp. freijó da mataRutaceae Hortia arborea Engler. laranjinhaMeliaceae Trichilia lep<strong>do</strong>ta Mart caboatã lisa MadeireiraHumiriaceae Saccoglottis guianensis Benth Oití de morcegoErythroxylaceae Erythroxylum cf. grandifolium Mart. jaqueira da mata MadeireiraErythroxylum squamatum Sw.Malpighiaceae Biyrsonima sericea DC. Muricí da mataPolygalaceae Polygala paniculata L. barba de são pedroFamília Nome Científico Nome VulgarImportânciaEconômicaAraliaceae Schefflera morototoni morototó MadeireiraLoganiaceae Spigelia flemmingianaApocynaceae Aspi<strong>do</strong>sperma discolor Pau falha MadeireiraHimatanthus bracteatus Angélica MadeireiraSolanaceae Physalis neesiana camapu MedicinalPicramnia glazioviana subsp.freijó da mataSolanum sp.Convolvulaceae Merremia umbellata (L.) Urb. gitiranaVerbenaceae Aegiphila vetellinifoliaCitharaexylum pernambucensis salgueiro OrnamentalLamiaceae Leonotis nepetaefolia (L.) R. Br. cordão de frade OrnamentalMarsypianthes chamaedrys (Vahl.) Kuntz.Heretiaceae Cordia allio<strong>do</strong>ra Cham. gargáubaCordia tokeve gargáubaCordia verbenacea maria pretaAcanthaceae Aphelandra nudaRuellia bahiensisCampanulaceae Cephalostigma bahiensis A. DC. OrnamentalCentropoghon cornutus (L.) Druce MelíferaRubiaceae Coccocypselum cordifoliumFaramea salicifoliaGonzalagunia dicodeaPsychotria bahiensis DC. erva de rato TóxicaPsychotria racemosa (Aubl.)Rauesh. erva de rato Tóxica


Família Nome Científico Nome VulgarImportânciaEconômicaPsychotria manipouroides DC. erva de rato TóxicaSalzmania nitida DC.Asteraceae Acanthospermum hispidum DC. federação MedicinalElephantopus angustifoliusCommelinaceaeVernonia scorpioides (Lam.) Pers.Dichorisandra albomarginata LindenFamília Nome Científico Nome VulgarImportânciaEconômicaDichorisandra thyrsiflora OrnamentalCyperaceae Calyptrocarya glomerulata (Brongn) Urb. OrnamentalCyperus larcus Lam.Cyperus lascum Lam.Cyperus luzulae (L.) Retz capim estrelaCyperus sphacelatus RollbCyperaceae Hypolytrum bullatum C. B. ClarkeScleria pterota Presl. tiriricaPoaceae Chloris barbata (L.) Sw.Chloris inflata Link.Poaceae (cont.) Digitaria horizontalis Wild.Digitaria insularis Mez ex Ekman pé de galinhaEchinolaena inflexa (Poir) ChaseEragrostis articulata (Schr.) NeesHomolepis alturensis (H. B. K.) ChaseIchnanthus tenuis (Presl.)Ichnanthus sp.Olyra latifolia L.Paspalum varginatum Swartz.Panicum lascum Siv.Setaria setosa (Swartz) P. Beauv.Sporobolus tenuissimus (Schrank.) Kuntz.Heliconiaceae Heliconia psittacorum L. paquevira OrnamentalCostaceae Costus sp.Marantaceae Calathea cf. pernambucensis Loes OrnamentalCalathea sp. OrnamentalCtenanthe pernambucensis Arns et Mayo OrnamentalIschinosiphon gracilis (Rudge) Koern. OrnamentalMaranta arundinacea L. araruta ComestívelMaranta andersoniana Arns et Mayo OrnamentalFamília Nome Científico Nome VulgarImportânciaEconômicaMarantaceae(cont.) Maranta sp. OrnamentalMarantaceae Monotagma plurispicatum (Koern.)Saranthe klotzschiana (Koern.) Eichl.Stromanthe porteana Gris.Stromanthe tonkat (Aubl.) Eichl.Arecaceae Bactris pickelii Burret coquinho ComestívelPontederiaceae Pontederia cordata L. OrnamentalSmilacaceae Smilax campestris Griseb.Dioscoriaceae Dioscoria trifida cará nambu Comestível


Família Nome Científico Nome VulgarImportânciaEconômicaAraceae Anthurium pentaphyllum (Aubl.) G. Don. anturio OrnamentalMonstera andansonii Scott. jibóia da mata OrnamentalPhilodendrum imbe Schott imbé OrnamentalAraceae (cont.) Philodendrum fragantissimum (Hook.) imbé OrnamentalBromeliaceae Aechmea aquilega (Salisb.) Griseb. gravatá OrnamentalAechmea cf. fulgens Brongn. gravatá OrnamentalAechmea ligulata (L.) Baker. gravatá OrnamentalAechmea mulfordii L. B. Smith gravatá OrnamentalCanistrum aurantiacum E. Moren OrnamentalOrchidaceae Cyrtopodium cff. Andersonii R. Br. rabo de tatu OrnamentalEpidendrum cff. cinnabarinum Salm. epidendro OrnamentalVanilla chamissonis Kl. baunilha OrnamentalVanilla palmarum Lindl. baunilha OrnamentalTabela 17 – Lista de espécies ameaçadas da Mata AtlânticaFamília Nome Científico Nome VulgarImportânciaEconômicaMoraceae Clarisia racemosa Ruiz. Et Pavon orticica da mata MadeireiraLecythidaceae Gustavia augustaSapotaceae Micropholis gardneriana (DC) Warb. prejuí MadeireiraMyristicaceae Virola gardineri (DC.) Warb. urucuba MadeireiraChrysobalanaceae Couepia rufa Ducke oiti coró ComestívelDiscussão e ConclusãoDos grandes fragmentos de Mata Atlântica existentes em Pernambuco, areserva de Gurjaú ainda está entre as mais conservadas em relação àvegetação e flora pernambucana. É grande o número de áreas com belezasênica <strong>do</strong> conjunto água, vegetação, flora e fauna, que precisam serconservadas para as gerações futuras.A proteção da flora existente na área requer urgência, já que existe umacomunidade habitan<strong>do</strong> a área e retiran<strong>do</strong> para o sustento os materiais dafloresta para uso na alimentação, construção de moradias, artesanato, etc. Oque concorre para a degradação <strong>do</strong> ecossistema ali existente.Devi<strong>do</strong> aos endemismos a alta ocorrência de espécies raras de árvores(Micropholis gardneriana (DC) Warb, prejuí), arbustos (Psychotria sp.possivelmente espécie nova) ervas ornamentais de grande porte (Costus sp.) e


ervas de valor medicinal incontestável precisam ser estudadas antes que seacabem.Por essas evidências, salienta-se a importância da preservação da área pelabiodiversidade sugerin<strong>do</strong> a criação de uma Unidade de Conservação para asMatas de Gurjaú.Figura 37 - Heliconia psittacorum Sw.(paquevira) espécie abundante nas matas deGurjaú. Abril de 2003.


Figura 38 – Centropogon cornutus (L) Druce observa<strong>do</strong> na borda da Mata <strong>do</strong> Cuxió,Gurjaú, em abril de 2003.Figura 39– Cayaponia tayuya Cogn. (Cucurbitaceae) observada na Mata <strong>do</strong> Mané <strong>do</strong> Doce, Gurjaú, emabril de 2003.


Figura 40 – Calathaea sp (Marantaceae) observada na borda da Mata <strong>do</strong> Mané <strong>do</strong> Doce, Gurjaú, em abrilde 2003.<strong>4.</strong>2.6 Ecologia da vegetação arbóreaIntroduçãoPor ser um ecossistema complexo, a floresta tropical sempre é um desafiopara a ciência florestal. O conhecimento desse recurso é uma necessidade,visto que, a cada momento, intervenções sucessivas acontecem, sem amínima preocupação com a conservação desse recurso natural. Oentendimento da complexa dinâmica que envolve as florestas tropicais inicia-sepelo levantamento da florística e fitossociologia. A identidade das espécies e ocomportamento das mesmas em comunidades florestais são o começo de to<strong>do</strong>processo para a compreensão deste ecossistema. Com o conhecimento deparâmetros básicos da vegetação, as técnicas de manejo surgem como umaforma de conservação e preservação da diversidade das espécies e, atémesmo de subsidiar a recuperação de fragmentos florestais, em processo dedegradação Marangon (1999).


Os trabalhos em florestas nativas, embora de importância crescente, sofremgrandes limitações, motivadas pela falta de informações das espécies. Além <strong>do</strong>desconhecimento das espécies existentes, se desconhece também osfenômenos que ocorrem nas florestas ou em espécies isoladas, mesmo osmais simples como floração, mudança foliar e frutificação.Por outro la<strong>do</strong>, atualmente, uma má utilização <strong>do</strong> solo e da água e a forma deutilização <strong>do</strong>s recursos florestais têm proporciona<strong>do</strong> sérios danos a essesrecursos, comprometen<strong>do</strong> seriamente a biodiversidade. No momento, acobertura vegetal da região Nordeste se apresenta muito fragmentada e emmal esta<strong>do</strong> de conservação, principalmente, as áreas, anteriormente ocupadaspor contínuos florestais. Esses remanescentes necessitam urgentemente depesquisas básicas, no senti<strong>do</strong> de subsidiar ações de conservação,preservação e recuperação dessas áreas.Desde o início da colonização <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Pernambuco, a vegetação damata atlântica vem sen<strong>do</strong> explorada para diversos fins, o que causou adescaracterização da paisagem natural e <strong>do</strong> clima regional, geran<strong>do</strong> perdas debiodiversidade local e alterações da dinâmica das populações e comunidadesvegetais e animais. Somente na última década tem cresci<strong>do</strong> o interesse emresgatar as informações sobre a vegetação de mata atlântica no Esta<strong>do</strong>,especialmente a florística e a fitossociologia (Ferraz et al. 2002). Desta forma,a compreensão da dinâmica de sucessão e crescimento das florestas tendema contribuir para a utilização racional desses recursos, por meio de técnicasadequadas de manejo. Segun<strong>do</strong> Rolim (1997), a discussão em torno dasustentabilidade das florestas tropicais é de extrema importância para aaplicação de técnicas de manejo. Nesse senti<strong>do</strong>, Jardim et al. (1993) afirmamque os vários sistemas silviculturais aplicáveis ao manejo da floresta,objetivan<strong>do</strong> o rendimento sustentável, ainda exigem conhecimentos básicossobre a dinâmica de crescimento e recomposição da floresta nativa original,para que possam ser aplica<strong>do</strong>s com sucesso, sem comprometer aestabilidade, a renovabilidade e a sustentabilidade desse recurso.Lamprecht (1964), afirma que o estu<strong>do</strong> da estrutura da floresta secundária produzanálises importantes sobre a dinâmica e as tendências <strong>do</strong> desenvolvimento futuro da


floresta. Nesse senti<strong>do</strong>, os estu<strong>do</strong>s fitossociológicos se tornam imprescindíveis, poisestabelecem as bases para a dinâmica de florestas naturais.A fitossociologia envolve o estu<strong>do</strong> das interrelações de espécies vegetaisdentro de uma dada comunidade vegetal, no caso em questão, comunidadesvegetais arbóreas. Tal estu<strong>do</strong> se refere ao conhecimento quantitativo dacomposição, estrutura, funcionamento, dinâmica, história, distribuição erelações ambientais da comunidade vegetal.A taxonomia vegetal, fitogeografia e as ciências florestais servem de base paraa fitossociologia que se apóia nessas áreas e possui estreitas relações com asmesmas. Sen<strong>do</strong> assim pretende-se analisar o esta<strong>do</strong> atual de conservação davegetação arbórea da reserva de Gurjaú.MATERIAL E METODOSLevantamento FitossociológicoNas matas Mané <strong>do</strong> Doce, Cuxio, Passarinho e Prejuí foram lançadas um totalde 40 parcelas de 10 x 25 m (250 m1), distanciadas entre si 25 m. Em cadamata, instalaram-se 10 parcelas sistematizadas no senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> maiorcomprimento da área de estu<strong>do</strong>. Nas parcelas foi mensura<strong>do</strong> e identifica<strong>do</strong>to<strong>do</strong> vegetal arbóreo, com circunferência à altura <strong>do</strong> peito (CAP) maior ou iguala 15,0 cm, a 1,30 m <strong>do</strong> solo, conforme Marangon (1999).PARÂMETROS FITOSSOCIOLÓGICOSNa análise fitossociológica foram usadas estimativas <strong>do</strong>s parâmetros daestrutura horizontal que envolve a freqüência, a densidade e a <strong>do</strong>minância.Tais parâmetros, quan<strong>do</strong> reuni<strong>do</strong>s em uma única expressão, determinam ovalor de importância e o valor de cobertura que proporcionará o conhecimentoda importância de cada espécie na comunidade florestal estudada. Adistribuição diamétrica foi analisada por meio da distribuição <strong>do</strong> número deárvores por classes de diâmetro com intervalos de 5,0 cm, a partir de um CAP


(circunferência à altura <strong>do</strong> peito) mínimo de 15,0 cm, que equivale a um <strong>DA</strong>P(diâmetro a altura <strong>do</strong> peito) de 4,77 cm.Diversidade FlorísticaPara a análise da heterogeneidade, calcularam-se os índices de diversidadede Shannon (H3), conforme Mueller-Dombois & EllenberG (1974).Regeneração NaturalA regeneração natural das espécies será baseada na meto<strong>do</strong>logia empregadapor Finol (1971) e modificada por Volpato (1994).Nas unidades amostrais implantadas para o estu<strong>do</strong> fitossociológico foram locadas subunidadesde 5 m x 5 m (25 m²). A classe 1 contemplou indivíduos com altura mínima de1,0 a 2,0 m; a classe 2, com indivíduos de 2,0 m a 3,0 m e a classe 3, com indivíduossuperiores a 3,0 m e CAP (circunferência à altura <strong>do</strong> peito) menor que 15,0 cm. Paracada espécie foram estima<strong>do</strong>s os parâmetros: freqüência e densidade absoluta e relativaem cada classe de altura pré estabelecida.RESULTADOSMata Mané Do DoceFITOSSOCIOLOGIAEm uma área amostrada de 2500 m 2 (0,25 ha), equivalente a 10 parcelas de 10m x 25 m, foram encontra<strong>do</strong>s 296 indivíduos arbóreos, com 18 indivíduosmortos. A maior altura foi detectada em um indivíduo de Simarouba amara(Simarubaceae) com 35 m e o maior diâmetro encontra<strong>do</strong> foi em um segun<strong>do</strong>indivíduo da mesma espécie com 70,03 cm. Nesta mata foram amostradas 23famílias, 49 gêneros, 55 espécies e um índice de diversidade de SHANNON eWEAVER (H') 3,52 nats/espécies. Quan<strong>do</strong> se estima o número de indivíduospor hectare, que é de 1180 indivíduos, é um número baixo para FlorestaAtlântica. Ferraz (2002), em estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> na zona da Mata Norte, municípiode São Vicente Férrer, Pernambuco, encontrou 1521 indivíduos por hectare.


Fica evidente, e os da<strong>do</strong>s irão mostrar isto, que a mata Mane <strong>do</strong> Doce sofreuum corte seletivo bastante intenso nos últimos anos. Os parâmetrosfitossociológicos (Tabela 18) mostram a estrutura da mata com as espéciesmais presentes na área com ênfase em Densidade Relativa, FreqüênciaRelativa e Dominância Relativa.Tabela 18 – Parâmetros fitossociológicos da Mata Mané <strong>do</strong> Doce, onde DR = Densidade Relativa, FR =Freqüência Relativa, DOR = Dominância Relativa e VI = Valor de ImportânciaNome científico DR(%) FR(%) DOR(%) VISimarouba amara 3,72 3,31 16,68 23,70Annona glabra 9,46 6,62 4,84 20,92Brosimum discolor 10,81 4,64 4,54 19,99Caraipa densifolia 3,38 3,97 8,90 16,25Diplotropis purpurea var.brasiliensis 2,36 1,99 11,12 15,48Pogonophora schomburkiana 4,73 3,97 6,07 14,78Eschweilera ovata 4,73 3,31 3,54 11,58Mabea occidentalis 4,39 3,31 3,15 10,85Tapirira guianensis 3,72 2,65 3,86 10,22Schefflera morototoni 2,03 2,65 3,93 8,61Thyrsodium schomburgkianum 2,36 3,31 2,36 8,04Brosimum conduru 2,70 2,65 2,37 7,72Euphorbiaceae 1,35 1,99 2,95 6,29Protium giganteum 2,70 2,65 0,87 6,23Ocotea opifera 2,70 1,99 0,90 5,59Dialium guianensis 1,69 2,65 1,05 5,39Manilkara salzmanii 1,69 1,99 1,39 5,06Maprounea guianensis 2,36 1,99 0,61 4,96Guatteria schlechtendaliana 2,70 1,99 0,27 4,96Pera ferruginea 0,68 1,32 2,52 4,52Pourouma guianensis 1,69 1,99 0,61 4,28Sttyphnodendron pulcherrimum 0,68 0,66 2,87 4,20Psychotria sessilis 1,69 1,99 0,33 4,01Macrosamanea pedicellaris 0,68 1,32 1,84 3,84Aspi<strong>do</strong>sperma discolor 1,01 1,99 0,66 3,66Cupania racemosa 1,35 1,99 0,30 3,64Bowdichia virgilioides 0,68 1,32 1,57 3,57Lecythes pisonis 0,68 1,32 1,34 3,34Himatanthus bracteatus 1,35 1,32 0,51 3,19Myrcia fallax 1,01 1,99 0,11 3,11Cecropia glaziovi 1,35 0,66 0,80 2,82Trichilia silvatica 1,01 1,32 0,19 2,52Psychotria cartaginensis 1,35 0,66 0,49 2,51Rheedia gardineriana 1,01 1,32 0,15 2,49Miconia albicans 0,68 1,32 0,34 2,34Nectandra cuspidata 0,68 1,32 0,17 2,17Pouteria grandiflora 0,68 1,32 0,17 2,17


Ocotea glomerata 0,68 1,32 0,14 2,14Helicostylis tomentosa 0,68 1,32 0,11 2,11Byrsonima sericea 0,34 0,66 0,35 1,35Inga thibaudiana 0,34 0,66 0,24 1,24bucho de via<strong>do</strong> 0,34 0,66 0,21 1,21Virola gardneri 0,34 0,66 0,04 1,04Casearia arborea 0,34 0,66 0,03 1,03Peltophorum dubium 0,34 0,66 0,03 1,03Sorocea hilarii 0,34 0,66 0,03 1,03Amaioua guianensis 0,34 0,66 0,02 1,02Guapira oposita 0,34 0,66 0,02 1,02Psychotria martiana 0,34 0,66 0,02 1,02As espécies de maior VI (Valor de Importância) foram: Simarouba amara,Annona glabra, Brosimum discolor, Caraipa densifolia, Diplotropis purpurea var.brasiliensis, Pogonophora schomburkiana, Eschweilera ovata, Mabeaoccidentalis, Tapirira guianensis e Schefflera morototoni. Em relação ao total deespécies amostradas, as famílias mais presentes foram Euphorbiaceae eMoraceae, com 9,09 % cada. Leguminosae Mimosoideae, com 7,27 %,Lauraceae e Rubiaceae, com 5,45 % cada. Anacardiaceae, Annonaceae,Apocynaceae, Lecythidaceae, Leguminosae Caesalpinioideae e LeguminosaePapilionoideae, com 3,63 % cada.DISTRIBUIÇÃO DIAMÉTRICAQuan<strong>do</strong> se analisa a distribuição diamétrica (Figura 40) na Mata Mané <strong>do</strong>Doce, verifica-se, na primeira classe de diâmetro (0,0 – 5,0 cm) 13 indivíduos.Na segunda classe (5,1 – 10, 0 cm) há um aumento expressivo no número deindivíduos que sobe para 115. Nas classes subseqüentes ocorre uma quedagradativa até a ultima Classe, que é a décima quinta (15). No caso dasprimeiras classes, devi<strong>do</strong> ao fato de existir um corte seletivo na área, há umaregeneração natural nas clareiras, provocada pelas derrubadas, que vemrecompon<strong>do</strong> a mata. Esta dinâmica ocorre em função da ação antrópica naárea que induz a distribuição diamétrica na forma de “J” inverti<strong>do</strong>, o que éespera<strong>do</strong> para uma floresta ineqüiânea secundária.


Número de indivíduos12011010090807060504030201001311569301811Mata Mané <strong>do</strong> Doce10161 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15Classes de diâmetro1523201Figura 41– Distribuição diamétrica <strong>do</strong>s indivíduos arbóreos da Mata Mané <strong>do</strong> Doce em Classes dediâmetros com intervalo entre classes de 5,0 cm.Da quarta classe (15,1 – 20,0 cm) até a oitava (35,1 – 40,0 cm) há umatendência das espécies se distribuírem de forma mais balanceada nacomunidade florestal ali instalada. Nestas classes, as espécies pre<strong>do</strong>minantessão as secundárias iniciais e tardias, apesar da distribuição diamétricacaracterizar um estágio de sucessão ainda inicial. Este comportamento provamais uma vez que o corte seletivo vem provocan<strong>do</strong> este comportamento nacomunidade. As demais classes apresentam indivíduos remanescentes quesobreviveram aos cortes seletivos e se destacam em relação à comunidadecomo um to<strong>do</strong> (Figura 41). Indivíduos de Diplotropis purpúrea var.brasiliensia60,80 cm de <strong>DA</strong>P, Caraipa densifolia, com 64,94 cm de <strong>DA</strong>P e Simarubaamara com 70,03 cm de <strong>DA</strong>P caracterizam bem estes remanescentes na MataMané <strong>do</strong> Doce.A presença de espécies com declínio no número de indivíduos nas classesdiamétricas de valores intermediários e mais altos pode estar comprometida naevolução <strong>do</strong>s estágios sucessionais, visto que, nesse caso, pode não estarsen<strong>do</strong> eficiente o seu processo de regeneração ou, até mesmo, por se trataremde espécies pioneiras, que em condições normais não toleram competição e àmedida que os diâmetros vão aumentan<strong>do</strong> essas espécies vão desaparecen<strong>do</strong>.


Por outro la<strong>do</strong>, a presença de espécie em várias classes de diâmetros,apresentan<strong>do</strong> uma distribuição mais uniforme, tenden<strong>do</strong> a um balanceamento,neste caso indica um estágio sucessional mais avança<strong>do</strong> com estratos melhoresdefini<strong>do</strong>s. A presença das espécies que compõem estes estratos, nas trêsclasses de alturas em regeneração indica a garantia das mesmas na tipologiaflorestal da área estudada.REGENERAÇÃO NATURALNas dez sub-parcelas amostradas encontraram-se 205 indivíduos,pertencentes a 27 famílias, e 38 espécies no levantamento da regeneraçãonatural da Mata Mané <strong>do</strong> Doce. As estimativas <strong>do</strong>s parâmetrosfitossociológicos da regeneração natural encontram-se na Tabela 19 a seguir.Tabela 19 – Parâmetros fitossociológicos de regeneração natural da Mata Mané <strong>do</strong> Doce, ondeDR = Densidade Relativa, FR = Freqüência Relativa , DOR = Dominância Relativa e VI = Valorde.Importância.Nome científico DR(%) FR(%) DOR(%) VIAnnona glabra 18,14 8,60 13,79 40,53Protium giganteum 8,82 6,45 23,82 39,10Pogonophora schomburkiana 4,41 5,38 22,96 32,75Nectandra cuspidata 8,82 4,30 6,49 19,61Eschweilera ovata 5,88 5,38 4,36 15,62Siparuna guianensis 4,41 3,23 3,80 11,44Gratteria schlechtendaliana 5,88 2,15 2,78 10,82Brosimum discolor 3,92 4,30 2,57 10,79Brosimum conduru 4,41 5,38 0,76 10,55Myrcia rostrata 2,94 5,38 0,61 8,93Miconia albicans 1,96 4,30 2,01 8,27Maprounea guianensis 2,45 2,15 1,85 6,45Caraipa densifolia 2,45 2,15 1,22 5,83Pouteria grandiflora 1,47 3,23 0,86 5,56Psychotria sessilis 2,45 2,15 0,91 5,51Cordia no<strong>do</strong>sa 1,47 3,23 0,26 4,96Campomanesia xanthocarpa 1,47 3,23 0,23 4,93Mabea occidentalis 1,96 2,15 0,50 4,61Sorocea hilarii 1,47 2,15 0,66 4,28Rheedia gardneriana 1,47 2,15 0,51 4,14Ficus gomeleira 1,96 1,08 1,08 4,11Simarouba amara 0,98 2,15 0,86 3,99Dialium guianensis 0,98 1,08 1,72 3,78Indeterminada 0,98 2,15 0,33 3,46Eugenia sp 0,98 2,15 0,18 3,31Cestrum megalophyllum 1,47 1,08 0,34 2,89Manilkara salzmanii 0,49 1,08 1,19 2,76


Pourouma guianensis 0,49 1,08 1,19 2,76Trichilia silvatica 0,98 1,08 0,66 2,72Pera ferruginea 0,49 1,08 0,53 2,10Thyrsodiumschomburgkianum 0,49 1,08 0,38 1,95Ocotea opifera 0,49 1,08 0,13 1,70Allophylus sericeus 0,49 1,08 0,13 1,70Agonandra sp 0,49 1,08 0,08 1,65Casearia arbórea 0,49 1,08 0,06 1,63Erythroxylum squamatum 0,49 1,08 0,06 1,63Swartza pickelii 0,49 1,08 0,05 1,61Aspi<strong>do</strong>sperma discolor 0,49 1,08 0,03 1,60As dez espécies mais presentes na regeneração natural que mais sedestacaram em to<strong>do</strong>s os parâmetros fitossociológicos estuda<strong>do</strong>s foram:Annona glabra, Protium giganteum, Pogonophora schomburkiana, Eschweileraovata, Siparuna guianensis, Gratteria schlechtendaliana, Brosimum discolor,Brosimum conduru, Myrcia rostrata e Miconia albicans.Ao se comparar com as adultas, verifica-se que a maioria encontrada naregeneração possui representantes desenvolven<strong>do</strong>-se normalmente na MataMané <strong>do</strong> Doce. Analisan<strong>do</strong> a composição da vegetação arbórea da Mata Mané<strong>do</strong> Doce verifica-se que as espécies com grande número de indivíduos nasclasses menores de diâmetro tendem a estar presentes na floresta futuradaquele local. Essa afirmativa é constatada quan<strong>do</strong> se observam naregeneração os resulta<strong>do</strong>s e se verifica a presença dessas espécies emdestaque no povoamento. Fica evidente, no entanto, que a Mata Mané <strong>do</strong>Doce está desenvolven<strong>do</strong> seu processo sucessional de forma eficiente egarantin<strong>do</strong> a fitofisionomia da região, ou seja, a Floresta Ombrófila Densa deEncosta. Citiadini-Zanette (1995), afirma que as espécies que ocorrem emtodas as classes de altura teoricamente possuiriam maior potencial paraparticipar da composição futura da floresta, ou seja, são as que melhorconseguem estabelecer-se na floresta futura.O destaque fica para Annona glabra, com 38 indivíduos. É uma espéciesecundária inicial, que normalmente possui altura média de 12 m e diâmetroem torno de no máximo 25,0 cm. Essa espécie é seguida por Protimgiganteum com 18 indivíduos amostra<strong>do</strong>s. É também uma espécie secundáriainicial cujas dimensões estão próximas da Annona glabra.Mata <strong>do</strong> Cuxio


FITOSSOCIOLOGIAEm uma área amostrada de 2500 m 2 (0,25 ha), equivalente a 10 parcelas de10 m x 25 m, foram encontra<strong>do</strong>s 274 indivíduos arbóreos, com 13 indivíduosmortos. A maior altura foi detectada em indivíduos de Esclerolobiumdensifolium e Parkia pendula, ambas com 35 m, os maiores diâmetrosencontra<strong>do</strong>s foram das espécies citadas, com respectivamente 72,75 cm e80,85 cm. Foram amostradas 22 famílias, 44 gêneros, 50 espécies e um índicede diversidade de SHANNON e WEAVER (H') 3,50 nats/espécies. O númerode indivíduos estima<strong>do</strong> por hectare é de 1096. Resulta<strong>do</strong> muito próximo daMata <strong>do</strong> Mané <strong>do</strong> Doce com 1180 indivíduos. Os parâmetros fitossociológicos(Tabela 20) mostram a estrutura da mata com as espécies mais presentes naárea com ênfase em Densidade Relativa, Freqüência Relativa e DominânciaRelativa.As espécies de maior VI (Valor de Importância) foram: Caraipa densifolia, Manilkarasalzmanii, Diplotropis purpurea var. brasiliensis, Euphorbiaceae, Brosimum discolor,Annona salzmanii, Protium heptaphyllum, Thyrsodium schomburgkianum,Pogonophora schomburkiana e Parkia pendula estas espécies são as de maior destaquena Mata <strong>do</strong> Cuxio. Em relação ao total de espécies amostradas, as famílias maispresentes foram Euphorbiaceae com 9,09 %, Lauraceae e Myrtaceae com 5,45 % cada,Anacardiaceae, Apocynaceae, Burseraceae, Lecythidaceae, LeguminosaeCaesalpinioideae, Moraceae, Rubiaceae e Sapotaceae com 3,63 % cada.Tabela 20 – Parâmetros fitossociológicos da Mata <strong>do</strong> Cuxio, onde DR = Densidade Relativa,FR = Freqüência Relativa , DOR = Dominância Relativa e VI = Valor de Importância.Nome científico DR(%) FR(%) DoR(%) VICaraipa densifolia 4,03 2,58 16,88 23,49Manilkara salzmanii 9,89 6,45 4,22 20,56Diplotropis purpurea var.brasiliensis 2,56 3,23 10,16 15,95Euphorbiaceae 4,40 3,23 6,66 14,28Brosimum discolor 6,96 3,87 2,59 13,42Annona salzmanii 5,49 3,87 3,50 12,87Protium heptaphyllum 5,49 5,16 2,20 12,86Thyrsodium schomburgkianum 5,49 3,87 3,24 12,60Pogonophora schomburkiana 4,03 5,16 2,51 11,70


Parkia pendula 1,47 2,58 6,58 10,63Sclerolobium densiflorum 1,10 1,29 8,05 10,44Protium giganteum 2,93 3,87 2,97 9,78Guatteria schlechtendaliana 4,40 3,87 1,06 9,33Brosimum conduru 3,30 2,58 2,36 8,24Nectandra cuspidata 3,30 3,23 0,46 6,98Pouteria grandiflora 2,56 2,58 1,79 6,93Aspi<strong>do</strong>sperma discolor 2,93 1,94 1,86 6,72Eschweilera apiculata 1,83 2,58 1,98 6,39indeterminada 1,47 1,94 2,13 5,53Eugenia sp 2,20 2,58 0,41 5,19Himathantus bracteatus 1,47 2,58 1,02 5,06Tapirira miriantha 0,73 1,29 3,01 5,03Eschweilera ovata 1,47 1,94 1,37 4,77Dialium guianensis 1,47 1,94 1,26 4,66Pourouma guianensis 1,47 1,94 1,24 4,64Schefflera morototoni 1,47 1,94 0,64 4,04Rheedia gardneriana 1,47 1,94 0,41 3,81Cecropia glaziovi 1,47 1,29 1,03 3,79Virola gardineri 1,10 1,94 0,72 3,76Psychotria sessilis 1,47 1,94 0,18 3,58Bowdichia virgilioides 0,37 0,65 2,45 3,46Mabea occidentalis 1,10 1,29 0,66 3,05Calipthrantes sp 1,47 0,65 0,48 2,59Pera ferruginea 0,73 1,29 0,47 2,50Miconia calvescens 0,37 0,65 1,18 2,19Simarouba amara 0,73 0,65 0,71 2,09Ocotea opifera 0,73 1,29 0,05 2,08Zanthoxyllum rhoifolium 0,37 0,65 0,51 1,53Lonchocarpus guilleminianus 0,73 0,65 0,08 1,45Bucho de vea<strong>do</strong> 0,37 0,65 0,39 1,41Hyeronima alchorneoides 0,37 0,65 0,09 1,10Cupania racemosa 0,37 0,65 0,08 1,09Annona glabra 0,37 0,65 0,07 1,08Maytenus ilicifolia 0,37 0,65 0,06 1,07Psychotria cartaginensis 0,37 0,65 0,06 1,07Trichilia silvatica 0,37 0,65 0,04 1,06Mapronea guianesis 0,37 0,65 0,04 1,05Myrcia rostrata 0,37 0,65 0,04 1,05Ocotea o<strong>do</strong>rifera 0,37 0,65 0,02 1,04Vismia guianesis 0,37 0,65 0,02 1,03DISTRIBUIÇÃO DIAMÉTRICAA distribuição diamétrica (Figura 41) na Mata <strong>do</strong> Cuxio é bastante semelhanteà Mata <strong>do</strong> Mane <strong>do</strong> Doce. Verifica-se na primeira classe de diâmetro (0,0 – 5,0cm) 19. Na segunda classe (5,1 – 10, 0 cm) há um aumento expressivo nonúmero de indivíduos que sobe para 124 indivíduos. Nas classes


subseqüentes ocorre uma queda gradativa até a ultima Classe que é a décimasexta (16). No caso das primeiras classes, a situação é semelhante à MataMane <strong>do</strong> Doce, existe corte seletivo na área, há uma regeneração natural nasclareiras, provocadas pelas derrubadas, que vêm recompon<strong>do</strong> a mata. Estadinâmica ocorre em função da ação antrópica na área o que provoca, commais intensidade, uma distribuição diamétrica na forma de “J” inverti<strong>do</strong> o que,normalmente, é espera<strong>do</strong> para uma floresta ineqüiânea secundária.Da terceira classe (10,0 - 15,1 cm) até a oitava (60,1 - 65 cm) há umatendência das espécies se distribuírem de forma decrescente e gradativa nacomunidade florestal ali instalada. Quan<strong>do</strong> se compara com a Mata Mané <strong>do</strong>Doce, o que se verifica é a presença de um corte seletivo ainda mais intenso.Nestas classes as espécies pre<strong>do</strong>minantes são as secundárias iniciais etardias. As demais classes apresentam indivíduos remanescentes quesobreviveram aos cortes seletivos e se destacam em relação à comunidadecomo um to<strong>do</strong>. Indivíduos de Esclerolobim densiflorum com 72,75 cm de <strong>DA</strong>P,e Parkia pendula com 80, 85 cm de <strong>DA</strong>P são os representantes destesremanescentes.Número de Indivíduos1301201101009080706050403020100124Mata <strong>do</strong> Cuxio411927 2211 105 52 3 2 1 0 1 11 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16Classess de DiâmetroFigura 42 – Distribuição diamétrica <strong>do</strong>s indivíduos arbóreos da Mata <strong>do</strong> Cuxio em Classes de diâmetroscom intervalo entre classes de 5,0 cm.REGENERAÇÃO NATURAL


Nas dez sub-parcelas amostradas encontraram-se 228 indivíduos pertencentesa 20 famílias e 34 espécies no levantamento da regeneração natural da Mata<strong>do</strong> Cuxio. As estimativas <strong>do</strong>s parâmetros fitossociológicos da regeneraçãonatural encontram-se na Tabela 21 a seguir.Tabela 21 – Parâmetros fitossociológicos de regeneração natural da Mata <strong>do</strong> Cuxio, onde DR =Densidade Relativa, FR = Freqüência Relativa , DOR = Dominância Relativa e VI = Valor deImportância.Nome científico DR(%) FR(%) DoR(%) VIMyrcia rostrata 21,49 6,80 7,37 35,66Manilkara salzmanii 4,82 5,83 17,02 27,67Protium giganteum 1,75 2,91 18,09 22,76Mabea occidentalis 10,53 3,88 3,81 18,22Pouteria scytalophora 7,89 7,77 0,27 15,93Euphorbiaceae 5,70 5,83 1,50 13,03Miconia calvescens 2,19 3,88 5,05 11,13Rheedia gardneriana 3,95 4,85 2,30 11,10Ingá tibaudiana 3,51 6,80 0,40 10,71Brosimum conduru 2,63 3,88 3,47 9,99Siparuna guianensis 1,32 2,91 5,69 9,92Psychotria sessilis 4,82 2,91 1,92 9,66Annona glabra 0,88 0,97 7,06 8,91Nectandra cuspidata 2,19 3,88 1,81 7,88Miconia albicans 3,51 3,88 0,27 7,66Thyrsodium schomburgkianum 2,63 2,91 2,03 7,57Eschweilera apiculata 2,19 3,88 1,26 7,33Pogonophora schomburkiana 1,75 2,91 1,72 6,39Brosimum discolor 0,44 0,97 4,97 6,38Ixora sp 2,63 2,91 0,40 5,95Swartza pickelii 3,07 1,94 0,27 5,28Rheedia sp 1,75 2,91 0,14 4,81Cupania racemosa 1,32 1,94 1,32 4,58Parkia pendula 0,88 0,97 2,40 4,25Eschweilera ovata 0,44 0,97 2,83 4,24Simaruba amara 1,75 1,94 0,30 4,00Campomanesia xanthocarpa 0,44 0,97 2,40 3,81Protium heptaphyllum 0,88 1,94 0,68 3,50Cordia no<strong>do</strong>sa 0,44 0,97 1,72 3,13Pouteria grandiflora 0,44 0,97 1,03 2,44Schefflera morototoni 0,44 0,97 0,20 1,61Miconia sp 0,44 0,97 0,15 1,56Zanthoxylum roifolium 0,44 0,97 0,10 1,51Diplotropis purpurea var.brasiliensis 0,44 0,97 0,04 1,45As dez espécies mais presentes na regeneração natural que mais sedestacaram em to<strong>do</strong>s os parâmetros fitossociológicos estuda<strong>do</strong>s foram: Myrcia


ostrata, Manilkara salzmanii, Protium giganteum, Mabea occidentalis, Pouteriascytalophora, Euphorbiaceae, Rheedia gardneriana, Inga tibaudiana eBrosimum conduru.Quan<strong>do</strong> se compara com as adultas, verifica-se que a maioria encontrada emregeneração possui representantes desenvolven<strong>do</strong>-se normalmente na Mata<strong>do</strong> Cuxio. A situação da comunidade é a mesma da Mata Mané <strong>do</strong> Doce, ouseja, a composição da vegetação arbórea da Mata <strong>do</strong> Cuxio apresenta asespécies com grande número de indivíduos nas classes menores de diâmetrotenden<strong>do</strong> a estarem presentes na floresta futura desta comunidade.O destaque fica para Myrcia rostrata que apresenta características desecundária inicial, também em destaque Manilkara salzmanii e Protiumgiganteum. São espécies que possuem características de tardia e secundáriainicial, respectivamente. Muito provavelmente estarão na floresta futura.Mata <strong>do</strong> PiriquitoFITOSSOCIOLOGIAEm uma área amostrada de 2500 m 2 (0,25 ha ), equivalente a 10 parcelas de10 m x 25 m, foram encontra<strong>do</strong>s 251 indivíduos arbóreos, com 7 indivíduosmortos. A maior altura foi detectada em indivíduos de Taprira guianensis eBoudichia virgilioides. A primeira, com 66,53 cm de diâmetro e 35 m de altura. Asegunda, com 62,71 cm de diâmetro e 38 m de altura. Foram amostra<strong>do</strong>s 19famílias, 43 gêneros, 48 espécies e um índice de diversidade de SHANNON eWEAVER (H') 3,47 nats/espécies. O número de indivíduos estima<strong>do</strong> porhectare é de 1004, muito próximo da Mata <strong>do</strong> Cuxio, que foi de 1096, e menorda Mata Mané <strong>do</strong> Doce, com 1180 indivíduos. Os parâmetros fitossociológicos(Tabela 22) mostram a estrutura da mata com as espécies mais presentes naárea, com ênfase em Densidade Relativa, Freqüência Relativa e DominânciaRelativa.As espécies de maior VI (Valor de Importância) foram: Pera ferruginea, Thyrsodiumschomburgkianum, Eugenia sp, Protium heptaphyllum, Helicostylis tomentosa,Nectandra cuspidata, Annona glabra, Ocotea opifera, Bowdichia virgilioides eEschweilera ovata. Em relação ao total de espécies amostradas as famílias mais


presentes foram Moraceae 8,33 %, Euphorbiaceae, Leguminosae papilionoideae eSapotaceae com 6,25 % cada e. Anacardiaceae, Burseraceae, Lauraceae, Lecythidaceae,Leguminosae Mimosoideae com 4,16 % cada.Tabela 22 – Parâmetros fitossociológicos da Mata <strong>do</strong> Periquito, onde DR = Densidade Relativa, FR =Freqüência Relativa, DOR = Dominância Relativa e VI = Valor de Importância.Nome científico DR(%) FR(%) DOR(%) VIPera ferruginea 1,71 1,42 20,02 23,15Thyrsodium schomburgkianum 11,11 4,96 0,02 16,10Eugenia sp 1,28 1,42 12,40 15,10Protium heptaphyllum 8,12 4,96 0,53 13,61Helicostylis tomentosa 7,26 4,96 0,56 12,79Nectandra cuspidata 5,98 4,96 1,51 12,46Annona glabra 0,43 4,96 6,06 11,45Ocotea opifera 2,56 3,55 5,05 11,16Bowdichia virgilioides 4,27 3,55 2,04 9,86Eschweilera ovata 4,27 4,26 0,44 8,97Casearia arborea 0,85 1,42 5,97 8,24Erythroxylum squamatum 0,85 1,42 5,74 8,02Euphorbiaceae 2,56 2,13 3,20 7,89Myrcia fallax 4,70 2,84 0,18 7,72Tapirira guianensis 2,99 4,26 0,03 7,28Schefflera morototoni 2,56 3,55 1,14 7,25Pogonophora schomburkiana 0,43 0,71 5,64 6,78Lonchocarpus guilleminianus 1,71 2,13 2,82 6,65Parkia pendula 2,14 2,84 1,54 6,52Aspi<strong>do</strong>sperma sp 3,85 2,13 0,22 6,20Maclura sp 2,99 2,84 0,31 6,13Miconia bentaniana 2,99 2,84 0,24 6,07Himathantus bracteatus 1,28 2,13 2,60 6,01Simarouba amara 2,99 2,84 0,17 6,00Caraipa densifolia 1,28 1,42 3,13 5,83Trichilia silvatica 0,85 1,42 3,31 5,59Myrcia rostrata 1,28 1,42 2,43 5,13Prunus sellowii 1,71 2,13 0,60 4,44Eschweilera apiculata 1,28 2,13 1,01 4,42Siparuna guianensis 2,14 2,13 0,04 4,31Mapronea guianensis 0,85 0,71 2,50 4,07Inga thibaudiana 1,71 2,13 0,16 4,00Miconia albicans 1,28 2,13 0,50 3,90Diplotropis purpurea var.brasiliensis 0,43 0,71 2,55 3,68Protium giganteum 0,85 1,42 0,47 2,75Manilkara salzmanii 1,28 0,71 0,74 2,73Ideterminada 0,43 0,71 1,04 2,18Artocarpus integrifólia 0,43 1,42 0,12 1,97Pouteria grandiflora 0,43 0,71 0,82 1,96Chrysophyllum gonocarpum 0,43 0,71 0,65 1,78Sloanea obtusifolia 0,43 0,71 0,58 1,71Sebastiana sp 0,85 0,71 0,02 1,59Couepia rufa 0,43 0,71 0,35 1,48


Tapirira miriantha 0,43 0,71 0,19 1,33Ficus gomeleira 0,43 0,71 0,18 1,32Sorocea hilarii 0,43 0,71 0,13 1,27Pourouma guianensis 0,43 0,71 0,04 1,18DISTRIBUIÇÃO DIAMÉTRICAA distribuição diamétrica (Figura 42) na Mata <strong>do</strong> Periquito é bastante semelhante àMata <strong>do</strong> Cuxio. Verificam-se, na primeira classe de diâmetro (0,0 – 5,0 cm), 6indivíduos. Na segunda classe (5,1 – 10, 0 cm) há um aumento expressivo no número deindivíduos, que sobe para 109. Nas classes subseqüentes ocorre uma queda gradativa atéa ultima Classe que é a décima quarta (14). No caso das primeiras classes, a situação ésemelhante à Mata <strong>do</strong> Cuxio. Há corte seletivo na área, o que promove uma regeneraçãonatural nas clareiras, provocadas pelas derrubadas, e conseqüentemente um númerogrande de indivíduos jovens no local. Esta dinâmica ocorre em função da ação antrópicana área onde a distribuição diamétrica apresenta-se na forma de “J” inverti<strong>do</strong>, oespera<strong>do</strong> para uma floresta ineqüiânea secundária.Número de indivíduos12011010090807060504030201006109513020106Mata <strong>do</strong> Piriquito1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14Classes de diâmetro5332312Figura 43 – Distribuição diamétrica <strong>do</strong>s indivíduos arbóreos da Mata <strong>do</strong> Piriquito em Classes dediâmetros com intervalo entre classes de 5,0 cm.Da terceira classe (10,1 - 15,0 cm) até a oitava (60,1 - 65 cm) há umatendência das espécies se distribuírem de forma decrescente e gradativa nacomunidade florestal <strong>do</strong> local. Situação muito semelhante à Mata <strong>do</strong> Cuxio,


descrita anteriormente. As demais classes apresentam indivíduosremanescentes que sobreviveram aos cortes seletivos e se destacam emrelação à comunidade como um to<strong>do</strong>. Indivíduos de Taprira guianensis eBoudichia virgilioides são, sem dúvidas, representantes autênticos destesremanescentes com, respectivamente, 66,53 cm de diâmetro e 35 m de alturae 62,71 cm de diâmetro e 38 m de altura.REGENERAÇÃO NATURALDas dez sub-parcelas amostradas encontraram-se 193 indivíduos pertencentesa 18 famílias e 35 espécies no levantamento da regeneração natural da Mata<strong>do</strong> Piriquito. As estimativas <strong>do</strong>s parâmetros fitossociológicos da regeneraçãonatural encontram-se na Tabela 22, a seguir.Tabela 22 – Parâmetros fitossociológicos da regeneração natural da Mata <strong>do</strong> Piriquito, onde DR =Densidade Relativa, FR = Freqüência Relativa , DOR = Dominância Relativa e VI = Valor deImportância.Nome científico DR(%) FR(%) DoR(%) VISiparuna guianensis 16,06 7,79 14,37 38,23Helicostylis tomentosa 10,88 6,49 14,81 32,19Eschweilera ovata 11,92 5,19 10,79 27,90Protium giganteum 4,66 9,09 9,03 22,78Annona glabra 6,22 7,79 5,66 19,67Cordia no<strong>do</strong>sa 8,29 5,19 3,04 16,52Protium heptaphyllum 6,74 5,19 2,70 14,64Thyrsodiumschomburgkianum 4,15 3,90 5,84 13,88Inga blancheitiana 3,11 1,30 9,23 13,64Sorocea hilarii 3,63 6,49 0,71 10,83Brosimum discolor 1,04 2,60 3,93 7,56Pouteria grandiflora 2,59 2,60 1,41 6,59Myrcia rostrata 2,07 1,30 3,17 6,54Brosimum conduru 2,07 2,60 1,85 6,52Miconia albicans 2,59 2,60 0,98 6,17Nectandra cuspidata 0,52 1,30 3,80 5,62Eschweilera apiculata 1,55 2,60 0,69 4,84Psychotria sessilis 1,55 2,60 0,23 4,38


Myrcia fallax 1,04 2,60 0,37 4,00Parkia pendula 0,52 1,30 2,03 3,85Cestrum megalophyllum 1,04 1,30 0,64 2,97Macrosamanea pedicellaris 1,04 1,30 0,56 2,90Ocotea opifera 0,52 1,30 0,95 2,77Cupania racemosa 0,52 1,30 0,68 2,50Aspi<strong>do</strong>sperma sp 0,52 1,30 0,46 2,27Eugenea sp 0,52 1,30 0,36 2,18Miconia bentaniana 0,52 1,30 0,36 2,18Caraipa densifolia 0,52 1,30 0,28 2,09Maclura sp 0,52 1,30 0,28 2,09Campomanesia xanthocarpa 0,52 1,30 0,20 2,02Pogonophora schomburkiana 0,52 1,30 0,20 2,02Casearia arborea 0,52 1,30 0,14 1,96Cecropia glaziovi Snethlage 0,52 1,30 0,09 1,91Inga thibaudiana 0,52 1,30 0,09 1,91Manilkara salzmanii 0,52 1,30 0,09 1,91As dez espécies mais presentes na regeneração com destaque em to<strong>do</strong>s osparâmetros fitossociológicos estuda<strong>do</strong>s foram: Siparuna guianensis,Helicostylis tomentosa, Eschweilera ovata, Protium giganteum, Annona glabra,Cordia no<strong>do</strong>sa, Protium heptaphyllum, Thyrsodium schomburgkianum , Ingablancheitiana e Sorocea hilarii.Comparadas com as adultas, verifica-se que a maioria encontrada emregeneração possui representantes desenvolven<strong>do</strong>-se normalmente na Mata<strong>do</strong> Periquito. A situação da comunidade é a mesma das Matas até entãoestudadas, ou seja, a composição da vegetação arbórea da Mata <strong>do</strong> Periquitoapresenta as espécies com grande número de indivíduos nas classes menoresde diâmetro tenden<strong>do</strong> a estarem presentes na floresta futura destacomunidade.O destaque fica para Siparuna guianensis, uma espécie secundária bemcaracterística das florestas Estacionais Semidecíduas e das FlorestasOmbrófilas Densas. Também se destaca Helicostylis tomentosa e Eschweileraovata. Possuem características de secundária inicial e tardia, respectivamente.São espécies garantidas na fitofisionomia futura.Mata <strong>do</strong> PrejuíFITOSSOCIOLOGIA


Na área de amostral de 2500 m 2 (0,25 ha ), equivalente a 10 parcelas de 10 m x25 m, foram encontra<strong>do</strong>s 256 indivíduos arbóreos, com 10 indivíduos mortos. Amaior altura foi detectada em um indivíduo de Pera ferruginea com 35 m e omaior diâmetro em um indivíduo de Parkia pendula com 89,45 cm. Foramamostra<strong>do</strong>s 24 famílias, 53 gêneros, 58 espécies e um índice de diversidade deSHANNON e WEAVER (H') 1,59 nats/espécies. Quan<strong>do</strong> se estima o número deindivíduos por hectare, é de 102<strong>4.</strong> Número próximo da Mata <strong>do</strong> Piriquito, que foide 1004, difere um pouco da Mata <strong>do</strong> Cuxio, de 1096, e menor que a MataMané <strong>do</strong> Doce, com 1180 indivíduos. Os parâmetros fitossociológicos (Tabela23) mostram a estrutura da mata com as espécies mais presentes na área comênfase em Densidade Relativa, Freqüência Relativa e Dominância Relativa.Tabela 23 – Parâmetros fitossociológicos da Mata <strong>do</strong> Prejuí, onde DR = Densidade Relativa, FR= Freqüência Relativa, DOR = Dominância Relativa e VI = Valor de Importância.Nome científico DR(%) FR(%) DoR VIPera ferruginea 1,95 1,41 77,96 81,33Annona glabra 11,72 7,04 2,04 20,80Guatteria schelchtendaliana 8,20 2,82 0,67 11,69Thyrsodium schomburgkianum 5,47 4,93 0,66 11,06Nectandra cupidata 3,91 4,93 1,31 10,15Parkia pendula 1,56 2,11 4,29 7,97Brosimum discolor 3,52 3,52 0,51 7,55Euphorbiaceae 3,91 2,82 0,78 7,51Diplotropis purpurea var.brasiliensis 3,13 2,11 2,27 7,50Eschweilera ovata 3,91 2,82 0,55 7,27Helicostylis tomentosa 3,13 2,82 0,35 6,29Protium heptaphyllum 3,13 2,82 0,32 6,26Tapirira guianensi 2,73 2,11 1,40 6,25Pouteria grandiflora 3,13 2,82 0,22 6,16Protium giganteum 2,34 3,52 0,11 5,97Miconia albicans 1,95 2,82 0,63 5,40Dialium guianensis 1,95 2,82 0,51 5,28Myrcia rostrata 1,56 2,82 0,04 4,42Mabea occidentalis 2,34 1,41 0,39 4,14Simaruba amara 1,56 2,11 0,24 3,92Rheedia gardneriana 1,56 2,11 0,08 3,76Ezembeckia sp 2,73 0,70 0,31 3,75Pogonophora schomburgkiana 1,95 1,41 0,27 3,64Pourouma guianensis 1,17 2,11 0,12 3,40Schefflera morototoni 1,17 2,11 0,06 3,35Pouteria scytalophora 1,56 1,41 0,30 3,27Bowdichia virgilioides 1,17 1,41 0,59 3,17


Clusia nemorosa 1,17 1,41 0,20 2,78Byrsonia sericea 0,78 1,41 0,53 2,72Rubiaceae 1,17 1,41 0,08 2,66Erythoxilum scamatum 1,17 1,41 0,04 2,62Indeterminada 0,78 1,41 0,20 2,39Croton gladulosum 0,78 1,41 0,19 2,38Virola gardneri 0,78 1,41 0,08 2,27Cordia selloriana 0,78 1,41 0,06 2,25Ocotea o<strong>do</strong>rifera 0,78 1,41 0,03 2,22Cupania racemosa 1,17 0,70 0,02 1,90Ocotea opifera 0,39 0,70 0,34 1,43Sttyphnodendron pulcherrimum 0,39 0,70 0,28 1,37Maclura sp 0,39 0,70 0,18 1,27Piptocarpa sp 0,39 0,70 0,16 1,26Annona glabra 0,39 0,70 0,13 1,22Manilkara salzmanii 0,39 0,70 0,08 1,18Hirtella racemosa 0,39 0,70 0,08 1,17Caraipa densifolia 0,39 0,70 0,07 1,16Rudgea erythrocarpa 0,39 0,70 0,06 1,16Aspi<strong>do</strong>sperma sp 0,39 0,70 0,06 1,16Brosimum conduru 0,39 0,70 0,05 1,15Sloanea obtusifolia 0,39 0,70 0,03 1,12Gomidesia blanchetiana 0,39 0,70 0,02 1,11Sebastiana sp 0,39 0,70 0,01 1,11Psyconthria cartaginensis 0,39 0,70 0,01 1,10Sorocea hilarii 0,39 0,70 0,01 1,10Ouratea castanaefolia 0,39 0,70 0,01 1,10Swartza pickelii 0,39 0,70 0,01 1,10Eschwelera apiculata 0,39 0,70 0,00 1,10Lonchocarpus guilleminianus 0,39 0,70 0,00 1,10Symphonia globulifera 0,39 0,70 0,00 1,10As espécies de maior VI (Valor de Importância) foram: Pera ferruginea,Annona glabra Guatteria schlchtendaliana, Thyrsodium schomburgkianum,Nectandra cuspidata, Parkia pendula, Brosimum discolor, Euphorbiaceae,Diplotropis purpurea var. brasiliensis e Eschweilera ovata., as de maiordestaque na Mata <strong>do</strong> Prejuí. Em relação ao total de espécies amostradas, asfamílias mais presentes foram Euphorbiaceae 10,34 %, Moraceae 6,89 %,Annonaceae e Sapotaceae 5,17 % cada, Anacardiaceae, burseraceae,Guttiferae, Lauraceae, Lecythidaceae, Leguminosae Mimosoideae,Leguminosae Papilionoideae e Myrtaceae 3,44 % cada.


DISTRIBUIÇÃO DIAMÉTRICAA distribuição diamétrica (Figura 43) na Mata <strong>do</strong> Prejuí é semelhante à Mata <strong>do</strong> Cuxio e<strong>do</strong> Piriquito. Verifica-se na primeira classe de diâmetro (0,0 – 5,0 cm) 19 indivíduos. Nasegunda classe (5,1 – 10, 0 cm) há um aumento expressivo no número de indivíduos quesobe para 97. Nas classes subseqüentes ocorre uma queda gradativa até a sétima classe(30,1 – 35,0). No caso das primeiras classes, a situação é semelhante às Matas até aquianalisadas. Há corte seletivo na área, promoven<strong>do</strong> uma regeneração natural nas clareirasprovocadas pelas derrubadas, e conseqüentemente, um número grande de indivíduosjovens no local, recompon<strong>do</strong> a mata. Esta dinâmica ocorre em função da ação antrópicana área que induz ainda mais a distribuição diamétrica na forma de “J” inverti<strong>do</strong>, oespera<strong>do</strong> para uma floresta ineqüiânea secundária.Da terceira classe (10,1 - 15,0 cm) até a sétima (35,1 – 40,0 cm) há umatendência das espécies se distribuírem de forma decrescente e gradativa nacomunidade florestal ali instalada. Situação muito semelhante ás matasanteriormente descritas. As demais classes apresentam indivíduosremanescentes que sobreviveram aos cortes seletivos e se destacam emrelação à comunidade como um to<strong>do</strong>. Indivíduos de Parkia pendula e Peraferruginea são representantes autênticos destes remanescentes com,respectivamente, 89,45 cm de diâmetro e 25 m de altura e 35,33 cm dediâmetro e 35 m de altura.


1009790Número de Indivíduos80706050403020100Mata <strong>do</strong> Prejuí4233191812571 1 2 1 1 1 0 1 11 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17Classes de DiâmetroFigura 44– Distribuição diamétrica <strong>do</strong>s indivíduos arbóreos da Mata <strong>do</strong> Prejuí em Classes de diâmetroscom intervalo entre classes de 5,0 cm.REGENERAÇÃO NATURALNas dez sub-parcelas amostradas encontraram-se 217 indivíduos pertencentesa 23 famílias e 43 espécies no levantamento da regeneração natural da Mata<strong>do</strong> Prejuí. As estimativas <strong>do</strong>s parâmetros fitossociológicos da regeneraçãonatural encontram-se na Tabela 24 a seguir.Tabela 24 – Parâmetros fitossociológicos da regeneração natural da Mata <strong>do</strong> Prejui, onde DR =Densidade Relativa, FR = Freqüência Relativa , DOR = Dominância Relativa e VI = Valor deImportância.Nome científico DoR DR FR VIAnnona glabra 10,37 12,44 8,65 31,46Guatteria schlechtendaliana 6,08 13,36 3,85 23,29Pouteria grandiflora 10,01 5,53 4,81 20,35Brosimum discolor 6,84 6,45 5,77 19,06Protium giganteum 8,87 4,15 5,77 18,79Brosimum conduru 5,28 4,61 4,81 14,69Siparuna guianensis 5,25 5,07 3,85 14,16Protium heptaphyllum 8,30 1,84 2,88 13,03Eschweilera ovata 0,91 5,07 6,73 12,71Helicostylis tomentosa 6,85 3,69 1,92 12,46Mabea occidentalis 7,80 1,84 0,96 10,61


Rheedia gardineriana 3,72 2,30 3,85 9,87Myrcia sylvática 2,55 1,38 2,88 6,81Psychotria sessilis 2,01 1,84 2,88 6,74Miconia albicans 1,11 2,30 2,88 6,30Nectandra cuspidata 1,46 1,84 2,88 6,19Eugenia sp 1,34 1,84 2,88 6,07Thyrsodiumschomburgkianum 1,03 1,84 2,88 5,76Pouteria scythalophora 1,09 2,30 1,92 5,32Licania rigida 1,57 2,30 0,96 4,83Cassia ferruginea 3,05 0,46 0,96 4,47Eschweilera apiculata 0,72 1,38 1,92 4,03Simaruba amara 0,25 1,38 1,92 3,56Erythroxyllum scamatum 0,70 1,38 0,96 3,04CampomanesiaXanthocarpa 0,10 1,84 0,96 2,90Sorocea hilarii 0,26 1,38 0,96 2,60Cordia no<strong>do</strong>sa 0,42 0,92 0,96 2,31Swatza pickelii 0,38 0,92 0,96 2,26Allophyllus edulis 0,28 0,92 0,96 2,16Psychotria carthaginensis 0,53 0,46 0,96 1,95Allophyllus sericeus 0,08 0,46 0,96 1,51Cordia sellowiana 0,08 0,46 0,96 1,51Erythroxyllum squamatum 0,08 0,46 0,96 1,51Macrosamanea pedicellaris 0,08 0,46 0,96 1,51Ocotea glomerata 0,08 0,46 0,96 1,51Pogonophoraschomburgkiana 0,08 0,46 0,96 1,51Pouruma guianensis 0,08 0,46 0,96 1,51Symphonia globulifera 0,08 0,46 0,96 1,51Casearia arborea 0,05 0,46 0,96 1,47Inga thibaudiana 0,05 0,46 0,96 1,47Prunus selowii 0,04 0,46 0,96 1,46Dialiuim guianensis 0,02 0,46 0,96 1,44Inga thibaudiana 0,02 0,46 0,96 1,44Psychotria sessilis 0,01 0,46 0,96 1,44indeterminada 0,01 0,46 0,96 1,43As dez espécies mais presentes na regeneração natural que se destacaramem to<strong>do</strong>s os parâmetros fitossociológicos estuda<strong>do</strong>s foram: Annona glabra,Guatteria schlechtendaliana, Pouteria grandiflora, Brosimum discolor, Protiumgiganteum, Brosimum conduru Protium heptaphyllum, Siparuna guianensisProtium heptaphyllum, Eschweilera ovata, e Helicostylis tomentosa.


Se comparadas com as adultas, verifica-se que a maioria encontrada emregeneração possui representantes desenvolven<strong>do</strong>-se normalmente na Mata<strong>do</strong> Prejuí. A comunidade encontra-se com a mesma tendência, em termos deestrutura, das matas até então estudadas, ou seja, a composição da vegetaçãoarbórea da Mata <strong>do</strong> Prejuí apresenta espécies com grande número deindivíduos nas classes menores de diâmetro tenden<strong>do</strong> a estarem presentes nafloresta futura da comunidade arbórea estudada.O destaque fica para Annona glabra., espécie secundária característica daFloresta Ombrófila Densa. Destaca-se ainda Guatteria schlechtendaliana ePouteria grandiflora, espécies que possuem características de secundáriainicial, sen<strong>do</strong> que as mesmas estariam garantidas na floresta futura.Análise da Reserva de GurjaúFITOSSOCIOLOGIANa área amostrada de 1,0 hectare, equivalente a 40 parcelas de 10 m x 25 m(250 m 2 ), corresponden<strong>do</strong> às quatro matas estudadas, foram encontra<strong>do</strong>s 1075indivíduos arbóreos, com 48 indivíduos mortos. A maior altura foi detectada emum indivíduo de Pera ferruginea com 35 m e o maior diâmetro em um indivíduode Parkia pendula (Figura 44) com 89,45 cm. Foram amostra<strong>do</strong>s 36 famílias, 81gêneros, 104 espécies e um índice de diversidade de SHANNON e WEAVER(H') 3,97 nats/espécies. Ferraz (2002) encontrou 1521 indivíduos arbóreos em1,0 ha, pertencentes a 58 famílias, 96 gêneros e 151 espécies arbóreas emestu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> no município de São Vicente Férrer – PE.


Figura 45 – Exemplar de Parquia pendula com 89,45 cm de diâmetro e 25,0 m de altura, mostran<strong>do</strong> aexuberância de remanescentes presentes nas matas da Reserva de Gurjaú.Segun<strong>do</strong> Martins (1991), o índice de diversidade de SHANNON é influencia<strong>do</strong>pela amostragem, oferecen<strong>do</strong> uma boa indicação da diversidade específica epossibilitan<strong>do</strong> comparar florestas em locais distintos. Estu<strong>do</strong>s em Mata Atlânticarealiza<strong>do</strong>s por Melo & Matovani (1994), na ilha <strong>do</strong> Car<strong>do</strong>so-SP apresentaramvalor de 3,64; Citadini-Zanette (1995), em Orleans-SC e Negrelle (1995), emItapoá-SC, mostram, respectivamente, valores de 3,81 e 3,62.Nota-se uma grande variação nos valores de índice de diversidadeapresenta<strong>do</strong>s mesmo dentro de uma mesma região fitogeográfica. Isso sedeve, principalmente, às diferenças nos estágios de sucessão soma<strong>do</strong>s àsdiscrepâncias das meto<strong>do</strong>logias diferenciadas de amostragem, níveis deinclusão, esforços de identificações taxonômicas além, obviamente, dasdissimilaridades florísticas que as diferentes comunidades apresentam.O número de indivíduos (1075) para Mata Atlântica não é <strong>do</strong>s melhores. Isto sedeve tão somente ao corte seletivo na área, ocorren<strong>do</strong> em tempos passa<strong>do</strong>scom mais intensidade que nos dias atuais, porém, ainda continua nas matasda Reserva de Gurjaú.Espécies com maiores valores de VI das Matas da Reserva de Gurjaú:Simarouba amara, Annona glabra, Brosimum discolor, Caraipa densifolia,Diplotropis purpurea var. brasiliensis, Pogonophora schomburkiana,


Eschweilera ovata, Mabea occidentalis, Tapirira guianensis, Scheffleramorototoni, Manilkara salzmannii,, Euphorbiacea, Annona salzmannii, Protiumheptaphyllum, Thyrsodium schomburgkianum, Parkia pendula, Pera ferruginea,Eugenia sp, Helicostylis tomentosa, Nectandra cuspidata, Ocotea opifera,Bowdichia virgilioides e Guatteria schlechtendaliana.Famílias mais presentes nas matas da Reserva de Gurjaú: Anacardiaceae,Annonaceae, Apocynaceae Burseraceae, Euphorbiaceae, Guttiferae,Lauraceae, Lecythidaceae, Leguminosae Caesalpinioideae, LeguminosaeMimosoideae, Leguminosae Papilionoideae, Moraceae, Myrtaceae, Sapotaceaee Rubiaceae.DISTRIBUIÇÃO DIAMÉTRICAQuan<strong>do</strong> se analisa a área como um to<strong>do</strong>, verifica-se que, nas três primeirasclasses de diâmetro (0,0 – 5,0 cm de 5,1 – 10,0 cm e 10,1 – 15,0 cm),encontra-se o maior número de indivíduos da comunidade em questão, ouseja, 697 (Figura 46). As demais apresentam uma diminuição no número deindivíduos à medida que o diâmetro aumenta. Isso é espera<strong>do</strong> para umafloresta inequiânea secundária em estágio inicial de sucessão, que apresentauma curva em forma de “J” inverti<strong>do</strong> na sua distribuição diamétrica. As matasque constituem a Reserva de Gurjaú possuem características de florestanatural inequiânea, (Figura 45) conforme conceito da<strong>do</strong> por François DeLioucourt, em 1898, segun<strong>do</strong> Meyer et al. (1952), cita<strong>do</strong>s por Mariscal Flores(1993).


Figura 46 – Detalhe da distribuição diamétrica de indivíduos das espécies arbóreas na Reserva de Gurjaú.O número muito grande de indivíduos nas classes iniciais mostra que esta comunidade éjovem. Essa característica em classes de diâmetro menores significa que a regeneraçãoestá eficiente, garantin<strong>do</strong> a formação da tipologia florestal da região. Para Silva-Júnior(1984), um maior número de indivíduos nas classes mais baixas mostra que acomunidade está em fase inicial de desenvolvimento. Afirmação semelhante faz Martins(1991) ao estudar a Mata da Capetinga, no Esta<strong>do</strong> de São Paulo. Segun<strong>do</strong> o referi<strong>do</strong>autor, o excesso de classes baixas, em detrimento das médias, indica que a populaçãoarbórea dessa mata ainda está em crescimento, sen<strong>do</strong> constituída na maioria por jovens(Figura 46).


500450444Reserva de Gurjaú400350Número de indivíduos3002502001501971261005005678463831Figura 47 – Distribuição diamétrica de indivíduos arbóreos da Reserva de Gurjaú, por classes diamétricas,cujo intervalo entre classes é de 5,0 cm.151 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 1812Classes de diâmetro810532121Na realidade, a reserva de Gurjaú sofre corte seletivo em toda a sua extensão.Tais cortes, clandestinos, geram grandes clareiras e o processo de sucessãonaquele local se reinicia. Por serem várias em toda área, as pre<strong>do</strong>minânciasde indivíduos jovens na mata é sempre incrementa<strong>do</strong>, o que sugere umestágio sucessional ainda inicial, mesmo com indivíduos remanescentes queescapam <strong>do</strong> corte seletivo, e são, na maioria das vezes, de porte considerável.Isto ficou bem claro quan<strong>do</strong> destacamos por mata as espécies de maior portepara cada área específica.REGENERAÇÃO NATURAL


Nas 40 subparcelas, de 5,0 x 5,0 m, lançadas para estu<strong>do</strong> de regeneração,foram amostra<strong>do</strong>s 843 indivíduos, evidencian<strong>do</strong> uma excelente capacidade deregeneração das espécies arbóreas na área de estu<strong>do</strong>. Ao se comparar comas adultas, verifica-se que a maioria das espécies encontradas emregeneração possui indivíduos adultos desenvolven<strong>do</strong> normalmente na áreade estu<strong>do</strong>. Analisan<strong>do</strong> a composição da vegetação arbórea <strong>do</strong> local, verifica-seque as espécies com grande número de indivíduos nas classes menores dediâmetro tendem a estar presentes na floresta futura <strong>do</strong> local. Essa afirmativaé constatada quan<strong>do</strong> se observa na regeneração os resulta<strong>do</strong>s e se verifica apresença dessas espécies em destaque no povoamento. Fica evidente, noentanto, que a vegetação arbórea estudada vem desenvolven<strong>do</strong> seu processosucessional de forma eficiente, garantin<strong>do</strong> a fitofisionomia da região. Citadini-Zanette (1995) afirma que as espécies que ocorrem em todas as classes dealtura da regeneração teoricamente possuíriam maior potencial para participarda composição futura da floresta, ou seja, são as que melhor conseguemestabelecer-se na floresta futura.Na Figura 47 pode se verificar o desempenho da regeneração na áreaestudada, que apresenta em sua dinâmica tendências diferenciadas,principalmente quanto ao número de indivíduos por parcela. Para cada local,ao longo da amostragem, ficaram claras as mudanças neste senti<strong>do</strong>, emfunção basicamente <strong>do</strong> <strong>do</strong>ssel mais fecha<strong>do</strong> (Figura 48) ou mais aberto eambiente com mais umidade ou com menos.Espécies que mais se destacaram na regeneração em termos de parâmetrosfitossociológicos das matas da Reserva de Gurjaú são: Annona glabra,Guatteria schlechtendaliana, Pouteria grandiflora, Brosimum discolor, Protiumgiganteum, Brosimum conduru, Protium heptaphyllum, Siparuna guianensis,Eschweilera ovata, Helicostylis tomentosa, Cordia no<strong>do</strong>sa, Thyrsodiumschomburgkianum, Inga blancheitiana, Sorocea hilarii, Myrcia rostrata,Manilkara salzmannii, Mabea occidentalis, Pouteria scytalophora,Euphorbiaceae, Rheedia gardneriana, Inga tibaudiana, Pogonophoraschomburkiana e Miconia albicans. Estas espécies, além de possuíremrepresentantes adultos, aparecem nas três classes de altura de regeneração.Neste caso as mesmas estarão garantidas na floresta futura e, sem dúvidas,farão parte da fitofisionomia da região.


Figura 48 – Detalhe da regeneração nas matas da Reserva de Gurjaú, em local de <strong>do</strong>ssel mais aberto,apresentan<strong>do</strong> uma grande densidade.Figura 49 - Detalhe <strong>do</strong> <strong>do</strong>ssel mais fecha<strong>do</strong> da área de estu<strong>do</strong>, com tronco de Macrosamaneapedicellaris, em primeiro plano.<strong>4.</strong>2.7 Biologia da ConservaçãoIntroduçãoO fim <strong>do</strong> século XX e a passagem <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> para o terceiro milêniotrouxeram algumas preocupações e novos desafios. O “ano 2000” tem si<strong>do</strong>


liga<strong>do</strong> com freqüência à denominação de iniciativas internacionais queconsideram um planejamento a longo prazo para as atividades de naturezaglobal. São exemplos: a Agenda 21, Educação 2000+, Botânica 2000,espécies 2000, Agenda Sistemática 2000. Entretanto, novos paradigmas sobrea mudança global, diversidade e sustentabilidade emergem como resulta<strong>do</strong> deum aumento crescente na escala de percepção e de compreensão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.Eles refletem também uma maior consciência <strong>do</strong> poder da humanidade parainfluenciar seu ambiente de forma dramática, chegan<strong>do</strong> a modificar o curso desua própria evolução.Além disso, as questões que emanam da diversidade biológica, mudançaglobal e desenvolvimento sustentável constituem a tríade sobre a qual sebaseou a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,realizada em 1992, no Rio de Janeiro (ECO 92). A Convenção sobre aDiversidade Biológica, assinada nessa época por mais de 162 países, foiratificada. Esta Convenção representa uma importante conquista, visan<strong>do</strong> freara destruição das espécies, habitats e ecossistemas, consideran<strong>do</strong> abiodiversidade um recurso para a construção <strong>do</strong> desenvolvimento.A biodiversidade pode ser entendida de duas formas: pode ser vista como umrecurso e/ou como uma propriedade da vida. A percepção pública dabiodiversidade evoluiu rapidamente de um estágio <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pelo me<strong>do</strong> daperda de certas espécies carismáticas da fauna e flora, para aquele daConvenção, no qual a biodiversidade é percebida como um recurso preciosoque devemos conservar e manejar para benefício de gerações humanaspresentes e futuras.Há pouco mais de dez anos, pouca importância era dada ao conceito dediversidade biológica, surgin<strong>do</strong> o termo biodiversidade aproximadamente em1986. Geralmente os taxonomistas tratam os grupos florísticos e faunísticoscomo organizações em mosaicos de espécies. A descrição e os índices dediversidade biológica tratam apenas <strong>do</strong> número de espécies que integram ascomunidades, ecossistemas e paisagens. Por outro la<strong>do</strong>, os biólogosmoleculares, os geneticistas e os biólogos <strong>do</strong> desenvolvimento se centram,sobretu<strong>do</strong>, em demonstrar a unidade da vida, mais que explicar qual osignifica<strong>do</strong> da biodiversidade (Dobson 1995; Younès 2001).


A biologia da conservação é uma ciência multidisciplinar que foi desenvolvidacomo resposta à crise com a qual a diversidade biológica se confrontaatualmente (Soulé 1985).A biologia da conservação tem <strong>do</strong>is objetivos: primeiro, entender os efeitos daatividade humana nas espécies, comunidades e ecossistemas, e, segun<strong>do</strong>,desenvolver abordagens práticas para prevenir a extinção de espécies e, sepossível, reintegrar as espécies ameaçadas ao seu ecossistema funcional(Primack e Rodrigues 2001).Diante da necessidade de tratar as sérias ameaças à diversidade biológica,não solucionada pelas disciplinas tradicionais aplicadas, é que surgiu a biologiada conservação.A biologia da agricultura, silvicultura, <strong>do</strong> gerenciamento da vida silvestre e dapiscicultura ocupam-se basicamente com o desenvolvimento de méto<strong>do</strong>s paragerenciar umas poucas espécies para fins merca<strong>do</strong>lógicos e de recreação.Geralmente estas disciplinas não tratam da proteção de todas as espéciesexistentes nas comunidades, e caso as tratem, o fazem como um assuntosecundário (Primack e Rodrigues op cit).A biologia da conservação complementa as disciplinas aplicadas fornecen<strong>do</strong>uma abordagem mais teórica e geral para a proteção da diversidade biológica;ela se difere das demais disciplinas porque leva em consideração, em primeirolugar, a preservação a longo prazo de todas as comunidades biológicas, ecoloca os fatores econômicos em segun<strong>do</strong> plano (Primack e Rodrigues op cit).As disciplinas de biologia populacional, taxonomia, ecologia e genéticaconstituem o centro da biologia da conservação e muitos profissionaisprocedem dessas áreas.Uma vez que grande parte da crise da biodiversidade tem origem na pressãoexercida pelo homem, a biologia da conservação também incorpora idéias eespecificidade de várias outras áreas, além da biologia. Por exemplo, alegislação e a política ambiental dão sustentação à proteção governamental deespécies raras e ameaçadas e de habitats em situação crítica. A éticaambiental oferece fundamento lógico para a preservação das espécies. Asciências sociais, tais como antropologia, sociologia e geografia fornecem apercepção de como as pessoas podem ser encorajadas e educadas paraproteger as espécies encontradas em seu ambiente imediato. Os economistasambientais analisam o valor econômico da diversidade biológica para sustentar


argumentos em favor da preservação. Ecologistas e climatologistas deecossistemas monitoram as características físicas e biológicas <strong>do</strong> meioambiente e desenvolvem modelos para prever as respostas para os distúrbios.Sob vários aspectos a biologia da conservação é uma disciplina de crise. Asdecisões sobre assuntos relativos à conservação são tomadas diariamente,muitas vezes com informação limitada, e com forte pressão <strong>do</strong> tempo. Abiologia da conservação tenta fornecer respostas a questões específicasaplicáveis a situações reais. Tais questões são levantadas no intuito dedeterminar as melhores estratégias para proteger as espécies raras, conceberreservas naturais, iniciar programas de reprodução para manter a variaçãogenética de pequenas populações e harmonizar as preocupaçõesconservacionistas com as necessidades <strong>do</strong> povo e governo locais.As funções ambientais de regulação, suporte, produção e informação sãoatribuídas, sobretu<strong>do</strong>, às áreas naturais. A Biologia da Conservação tem porfinalidade proteger essas áreas naturais, promover a qualidade de vida, econseqüentemente viabilizar o desenvolvimento sustenta<strong>do</strong>. Dessa forma, aBiologia da Conservação busca assegurar que as populações possamcontinuar a responder as variações ambientais de uma forma adaptativa. AReserva de Gurjaú constitui uma dessas áreas naturais de Pernambuco.A Reserva de Gurjaú encontra-se inserida na porção Sul da regiãometropolitana <strong>do</strong> Recife, precisamente na divisa <strong>do</strong>s municípios de Jaboatão<strong>do</strong>s Guararapes, Cabo de Santo Agostinho e Moreno. Está situada a Noroesteda usina Bom Jesus, entre os engenhos São Salva<strong>do</strong>r, São Brás e São JoãoRochas Velhas, com cerca de 744,47 ha inserida no município <strong>do</strong> Cabo deSanto Agostinho, 157,44 ha em Jaboatão <strong>do</strong>s Guararapes e 157,19 ha emMoreno, totalizan<strong>do</strong> 1.077,10 ha. A reserva foi criada através <strong>do</strong> DecretoEstadual n o 9.985 de 13 de janeiro de 1987.O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) cria<strong>do</strong> pela LeiFederal n o 9.985 de 18 de junho de 200 não contempla a categoria de ReservaEcológica, daí a necessidade da recategorização em área de proteção integralou de uso sustenta<strong>do</strong>, no entanto, a legislação estabeleceu cerca de <strong>do</strong>is anospara enquadramento sem que o Esta<strong>do</strong> tomasse qualquer decisão sobre suasreservas, dentre elas a Reserva Ecológica de Gurjaú.Por outro la<strong>do</strong>, Gurjaú, que apresenta mais de 1000 ha, enquadra-se em umtamanho mínimo necessário para torna-se viável como unidade de


conservação segun<strong>do</strong> alguns autores. Dessa forma, pretende-se caracterizaros mora<strong>do</strong>res da Reserva de Gurjaú, quanto ao uso <strong>do</strong> solo, relação com omeio ambiente e percepção ambiental. Associan<strong>do</strong> essa diagnose osresulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s levantamentos da biodiversidade, para elaboração de umzoneamento da área e proposição de uma unidade, segun<strong>do</strong> critériosestabeleci<strong>do</strong>s pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação.METODOLOGIAFoi realiza<strong>do</strong> um reconhecimento de toda a área da Reserva, servin<strong>do</strong>-se demapas, evidencian<strong>do</strong>-se os marcos topográficos, assim como com a ajuda deum mora<strong>do</strong>r de Gurjaú.Para um melhor aproveitamento das visitas de campo e a título de meto<strong>do</strong>logiade trabalho, a Reserva Gurjaú foi dividida em <strong>do</strong>is subconjuntos, sen<strong>do</strong> oprimeiro (Área 1) compreendi<strong>do</strong> por: Rua da Capela, Rua da Cachoeira, Rua<strong>do</strong>s Ventos, Porteira Preta, Sítio Porteira Preta, Jaqueira e Sítio <strong>do</strong>s Periquitose o segun<strong>do</strong> (Área 2), por São Salva<strong>do</strong>r. Primeiramente os trabalhos deBiologia da Conservação foram aqueles relaciona<strong>do</strong>s à área 1. A segundaetapa foi a área 2, localizada em São Salva<strong>do</strong>r, onde foi encontra<strong>do</strong> o maioradensamento populacional de posseiros com atividades agrícolas desubsistência e comercial, assim como pecuária. Assim, a Área 1 foi aquela queconstituiu a primeira etapa <strong>do</strong>s levantamentos. Dan<strong>do</strong>-se continuidade a deSão Salva<strong>do</strong>r, a Área 2, foi trabalhada por um perío<strong>do</strong> mais longo por tratar-sede uma área onde foi observa<strong>do</strong> um maior adensamento populacional deposseiros com atividades agrícolas de subsistência e comercial e também depecuária de pequeno porte (Fig. 49). Para um melhor reconhecimento dasáreas recenseadas, foram confecciona<strong>do</strong>s croquis dividin<strong>do</strong> a reserva emsetores – em São Salva<strong>do</strong>r, setores de A a L - ten<strong>do</strong>-se o cuida<strong>do</strong> degeoreferenciar cada casa.Questionários foram aplica<strong>do</strong>s entre os posseiros/mora<strong>do</strong>res da reserva deGurjaú com o objetivo de aferir a forma de uso <strong>do</strong> solo, conflitos, relação com omeio ambiente e percepção ambiental na área da reserva, avaliar o tipo deatividade agrícola, relação <strong>do</strong> posseiro com a reserva (forma de uso),


perspectivas com a implantação de uma unidade de conservação, dentreoutras, conforme modelo em anexo.Os questionários sócio-econômico-ambientais foram aplica<strong>do</strong>s durante seisdias por mês no perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> levantamento. Por ocasião da diagnose, foramanotadas as coordenadas geográficas de todas as posses.Ao final <strong>do</strong> levantamento foram associa<strong>do</strong>s os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s na diagnosesócio-econômica-ambiental com aqueles da biodiversidade resultan<strong>do</strong> naproposta de zoneamento da unidade, assim como a sugestão da sua forma deuso.Resulta<strong>do</strong>sUma vez conhecida a área da Reserva Gurjaú, foi da<strong>do</strong> início o levantamentopara o estu<strong>do</strong> da Biologia da Conservação. Ao total, foram aplica<strong>do</strong>s 284questionários entre os posseiros da reserva de Gurjaú. Menos de 5% dessetotal não foram entrevista<strong>do</strong>s, uma vez que as casas encontravam-se fechadasou desocupadas. Nestes casos foram feitas outras tentativas no intuito deencontrar os mora<strong>do</strong>res, mas não houve sucesso. Mesmo assim, as casasforam georeferenciadas. Este percentual foi encontra<strong>do</strong> em São Salva<strong>do</strong>r.Foram evidenciadas 23 casas de farinha, sen<strong>do</strong> 20 em São Salva<strong>do</strong>r (área 2) e3 entre Porteira Preta e Cuxio (área 1). Diversas religiões e crenças estãopresentes entre os posseiros, encontran<strong>do</strong>-se desde a religião católica, àevangélica e os cultos afro-brasileiros, como expressões da religiosidade.Para uma melhor compreensão das diversas situações encontradas ao longo<strong>do</strong> trabalho estão apresenta<strong>do</strong>s a seguir resumo de cada rua e localidade,como também figuras (Figs. 50 a 66 para a área 1 e Figs. 67 a 85 para a área2) que ilustram as respostas obtidas durante o levantamento.


Figura 50 – Mapa da reserva Gurjaú, mostran<strong>do</strong> o adensamento populacional de posseiros.Área 1Rua da Capela:Rua principal de acesso à estação de tratamento de água da COMPESA. Nelalocalizam-se as casas mais antigas, construídas pelo então Departamento deSaneamento e Esgoto (DSE). Nessa rua foram contactadas oito famílias. Amédia de idade <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s foi de 45,8 anos. A maioria é nascida ecriada em Gurjaú, apesar de alguns desenvolverem atividades em outraslocalidades. Nela encontra-se instalada uma escola que atende uma pequenaparte das crianças <strong>do</strong> Ensino Fundamental <strong>do</strong> entorno. O Ensino Médio éassegura<strong>do</strong> pelas escolas da cidade <strong>do</strong> Cabo e de outras localidades. Existeuma capela católica que atualmente não exerce atividades religiosas, estan<strong>do</strong>fechada.Rua da Cachoeira:


Rua de maior movimento de Gurjaú. Foram contactadas 25 famílias, cujamédia de idade <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s foi de 42,24 anos. Todas as casas, emalvenaria, foram construídas pelo DSE, visan<strong>do</strong> abrigar os seus funcionários.As moradias possuem em média <strong>do</strong>is quartos, duas salas, cozinha e banheiro.São abastecidas com água da COMPESA e possuem energia elétrica.Entretanto, atualmente não são saneadas. O sistema de esgoto implanta<strong>do</strong> nagestão <strong>do</strong> DSE, não mais funciona. Consistia em sistema de tubulaçãoconduzin<strong>do</strong> os esgotos <strong>do</strong>mésticos a uma espécie de lagoa de decantação,situada próximo ao portão principal da ETA. Atualmente este sistema encontrasedesativa<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> a maioria das casas um sistema de fossa séptica ou atémesmo lançamento de seus dejetos diretamente no rio Gurjaú. Em todas ascasas entrevistadas há presença de crianças em idade escolar. Foievidenciada uma igreja evangélica. Nessa rua podem ser encontra<strong>do</strong>s osmora<strong>do</strong>res mais antigos de Gurjaú, dentre eles, D. Báia, com 103 anos deidade, nascida e criada em Gurjaú. Sua família constitui a maioria <strong>do</strong>smora<strong>do</strong>res da rua da Cachoeira, entre filhos, netos e bisnetos. No final dessarua pode ser encontrada uma cachoeira, que, nos finais de semana, constitui aúnica forma de lazer para os mora<strong>do</strong>res de Gurjaú, atrain<strong>do</strong> também turistasda região. Esse tipo de atividade favorece a economia local, onde algunsmora<strong>do</strong>res montam barracas visan<strong>do</strong> a venda de diversos produtos, a exemplode bebidas alcoólicas e alimentos. Esse tipo de atividade, apesar de agradar aalguns, desagrada à maioria <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res que se queixa <strong>do</strong> aumento depessoas estranhas transitan<strong>do</strong> nas imediações, diminuin<strong>do</strong> a tranqüilidade. Atotalidade <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res aprecia a moradia pela calma <strong>do</strong> local. Esse ponto éextremamente importante, já que a maior riqueza para eles é a tranqüilidade ecalma de Gurjaú, motivo pelo qual não demonstram interesse em morar emoutro lugar. Do total de entrevista<strong>do</strong>s dessa rua, 68% foram mulheres, dasquais 100% não possuem atividade fora <strong>do</strong> <strong>do</strong>micílio. Trinta e sete criançasforam registradas, sen<strong>do</strong> a maioria em idade escolar. Dessas, poucas estudamna escola situada na Rua da Capela. A maioria freqüenta escolas em SãoSalva<strong>do</strong>r e outras na cidade <strong>do</strong> Cabo. Dos entrevista<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sexo masculino(32%) a maioria é aposentada <strong>do</strong> então DSE e COMPESA. Uma pequenaquantidade possui roça<strong>do</strong> em pequenos latifúndios próximos à barragem deGurjaú e outra tem plantação de subsistência no quintal de casa. Essasculturas são basicamente constituídas por roça, macaxeira e banana. Apenas


um mora<strong>do</strong>r negocia com frutos extraí<strong>do</strong>s da mata. Do total de casasexistentes nessa rua, 64% delas retiram lenha seca da mata para fogões àlenha, alegan<strong>do</strong> a falta de condições financeiras para adquirirem botijões degás que atualmente apresentam preço eleva<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> indaga<strong>do</strong>s quanto àsquestões relacionadas ao Meio Ambiente, nota-se uma falta de informaçãomuito grande e um despreparo, mesmo entre aqueles que possuem certaescolaridade. Entretanto, quan<strong>do</strong> pergunta<strong>do</strong>s sobre o esta<strong>do</strong> de conservaçãoda Reserva Gurjaú, a grande maioria respondeu que a área não estava sen<strong>do</strong>bem cuidada e sempre se referem a perío<strong>do</strong>s remotos em que a segurança daETA era efetiva, atribuída ao maior número de pessoal de vigilância, osportões sempre fecha<strong>do</strong>s e um maior cuida<strong>do</strong> com o ambiente. Algunsconsideram que a área está aban<strong>do</strong>nada e que qualquer pessoa podeadentrar. Apesar <strong>do</strong> desconhecimento sobre conceitos que poderiam aferir oconhecimento ambiental da comunidade, algumas questões são ligadas aobom senso de cada um e aparecem claramente. Um exemplo é a apreensãode animais silvestres. A maioria das casas possui animais silvestres emcativeiro, sem objetivar o comércio, visto a pouca quantidade encontrada.Culturalmente, as pessoas costumam ter esse tipo de atividade sem envolvertráfico. Foi observa<strong>do</strong> que, ao serem aborda<strong>do</strong>s sobre a questão, muitostentavam omitir tais informações, temen<strong>do</strong> que a equipe de entrevista<strong>do</strong>respertencessem ao IBAMA ou CPRH, e levassem seus animais de estimação, oque segun<strong>do</strong> informações fornecidas por eles, aconteceu em algum momento.Após absorverem o verdadeiro objetivo da pesquisa, tratavam de informar omais próximo à realidade, ajudan<strong>do</strong> sobremaneira a melhor diagnose. Um <strong>do</strong>sproblemas aqui detecta<strong>do</strong> foi o lançamento de poluentes no rio Gurjaú. Apesarde não se identificarem temen<strong>do</strong> represálias, afirmam que constantemente écoloca<strong>do</strong> carrapaticida no rio para facilitar a pesca <strong>do</strong> Pitú, camarãopertencente à espécie Machrobachium carcinus, comumente encontrada naregião, apesar de seu declínio populacional. Para uns, são pessoas de fora dacomunidade que realizam esse tipo de crime ambiental, para outros sãoantigos mora<strong>do</strong>res de Gurjaú que atualmente residem em outras localidades,mas que têm conhecimento sobre esse recurso faunístico e que voltam para talatividade. Para outros, existem mora<strong>do</strong>res atuais que praticam tal ação. Narealidade, a totalidade <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s lamenta esse tipo de atividade. Outroproblema aponta<strong>do</strong> por eles é a falta de um posto médico. Uma questão


elevante foi levantada não só nessa rua como também nas demais levantadasfoi a ausência completa de coleta de lixo. To<strong>do</strong> o lixo produzi<strong>do</strong> é lança<strong>do</strong>entre as bananeiras (atrás de casa) próximo à estrada, ou então à margem <strong>do</strong>rio. Esse tipo de problema é o mais preocupante, uma vez que a comunidadetende a aumentar e, conseqüentemente, produzir maior quantidade de lixo.Eles não têm idéia de reciclagem. Propõem para a futura uma ação maisefetiva no senti<strong>do</strong> de viabilizar oficinas que permitam minimizar esses impactosao meio ambiente, capazes de comprometer sobremaneira a qualidadeambiental da Reserva Gurjaú.Rua <strong>do</strong>s Ventos:Rua situada nas proximidades da Sede da ETA Gurjaú, fazen<strong>do</strong> a ligaçãoentre a rua da Capela e a rua da Cachoeira. Foram entrevistadas 25 famílias,com média de idade entre eles de 33,5 anos. O acesso a essa rua éassegura<strong>do</strong> pela rua da Capela. O conjunto de casas é bem heterogêneo,possuin<strong>do</strong> construções mais antigas, da época <strong>do</strong> DSE, como também outrasem taipa. Quarenta e quatro crianças vivem entre os entrevista<strong>do</strong>s, em suamaioria estudan<strong>do</strong> em escolas da localidade ou de São Salva<strong>do</strong>r. As casaspossuem em sua maioria <strong>do</strong>is quartos, duas salas, banheiro e cozinha. Pelorelevo, os quintais das casas ficam localiza<strong>do</strong>s nas encostas <strong>do</strong>s morros, o quede certa forma representa um fator negativo às atividades de agricultura desubsistência. A criação de animais se restringe às aves (Passeriformes emcativeiro, como animais de estimação e poucas galinhas para o consumo). Sãoraras outras criações, exceto alguns que possuem criação de suínos, atividadeesta que incita controvérsias entre mora<strong>do</strong>res, alegan<strong>do</strong> mau cheiro, etc. Damesma forma, na rua anterior a maioria <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s foi <strong>do</strong> sexo feminino,representan<strong>do</strong> 64%. A grande maioria nasceu e foi criada em Gurjaú. Asmulheres se ocupam <strong>do</strong> lar, não contribuin<strong>do</strong> em termos de remuneração paraa renda familiar. As atividades exercidas pelos mora<strong>do</strong>res da rua <strong>do</strong>s Ventosassemelham-se aquelas da rua da Cachoeira. Foram identifica<strong>do</strong>s funcionáriosda COMPESA e outros possuin<strong>do</strong> atividades externas a Gurjaú, como, porexemplo, funcionários de empresas de bebidas, localizadas na região, assimcomo zela<strong>do</strong>res e porteiros de prédios da Zona Sul da Região Metropolitana <strong>do</strong>Recife. O nível de escolaridade <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s vai desde o analfabetismo


até o primeiro grau menor, muitas vezes incompleto. Apesar dessa situação,to<strong>do</strong>s acreditam na educação, e esforçam-se para que seus filhos freqüentema escola. Da mesma forma que as demais ruas levantadas, são unânimes emreivindicarem um posto médico para a comunidade, pois alegam que é grandea distância que separa Gurjaú <strong>do</strong> posto médico mais próximo, agravada pelafalta de transporte em caso de emergência. Não existe coleta de lixo nessa ruacomo também nas demais.Porteira PretaÁrea mais afastada da Sede da ETA Gurjaú. Essa área conhecida comoPorteira Preta é distinta de outra localidade conhecida como Sítio PorteiraPreta. Essa divisão deve-se ao fato da área ser muito grande e de difícilconfiguração para a localização. Os próprios mora<strong>do</strong>res fazem essa diferença.A área levantada tem início na estrada que liga à Usina Bom Jesus a São Brazaté a Fazenda de Sr. Manoel. As coordenadas de cada casa foram anotadas,com a intenção de, no futuro, apresentar um mapa com a localização, visan<strong>do</strong>uma melhor compreensão. Nesse trecho são evidencia<strong>do</strong>s desde conjuntos decasas construídas de taipa até granjas de pequeno, médio e grande porte,constituin<strong>do</strong> os maiores latifúndios dentro da área da reserva. Os mora<strong>do</strong>resde baixa renda são originários de Gurjaú, ten<strong>do</strong> nasci<strong>do</strong> nas imediações, mashá até os que já constituem a terceira geração de posseiros de Gurjaú. Outrostêm suas propriedades utilizadas apenas em finais de semana. Outrospossuem atividade pecuária envolven<strong>do</strong> ga<strong>do</strong> leiteiro e ovino. É nesse trechoque pode ser observada uma maior ação antrópica que vem diminuin<strong>do</strong> a áreada reserva Gurjaú. As propriedades avançam em direção às matas, tornan<strong>do</strong>mais e mais escasso este recurso. Foi observada uma grande quantidade decaça<strong>do</strong>res nesse trecho. Foram entrevistadas 15 famílias, cuja média de idadeentre as pessoas entrevistadas foi de 45,8 anos. Existem poucas crianças. Asatividades exercidas pela comunidade de baixa renda são variadas, in<strong>do</strong> desdeo plantio de roça para a extração da farinha, até fruteiras (banana, graviola,acerola, mamão, etc:), como também o plantio de cana-de-açúcar para a UsinaBom Jesus. Entre os posseiros, poucos utilizam agrotóxicos, exceto aquelesque possuem uma maior área e que plantam cana-de-açúcar. Estes recorrem


à utilização de adubos químicos e defensivos agrícolas para a obtenção demelhores colheitas. Nesse trecho encontram-se instaladas duas casas-defarinhaque, além de servirem aos proprietários (posseiros), são alugadas aosdemais interessa<strong>do</strong>s pelo valor médio de R$ 5,00/dia (Cinco reais/dia). No localpode ser evidencia<strong>do</strong> no entorno a vegetação de Mata Atlântica,constantemente ameaçada pelo desmatamento. São duas matas importantesda região, a <strong>do</strong> Cuxio e a <strong>do</strong> Manoel <strong>do</strong> Doce, nomes esses bastanteconheci<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res locais. Dos 38 mora<strong>do</strong>res, 15 são crianças emidade escolar. Do total de entrevista<strong>do</strong>s, 60% são <strong>do</strong> sexo feminino. Asmulheres participam das atividades agrárias, trabalhan<strong>do</strong> no plantio.JaqueiraTrecho localiza<strong>do</strong> entre a Porteira Preta e o Sítio Porteira Preta. São poucasfamílias de posseiros que ali vivem. A atividade exercida pela maioria é aagricultura. Foram entrevistadas sete famílias, cuja média de idade entre elesfoi de 46,14 anos. Existem 26 adultos e 13 crianças em idade escolar moran<strong>do</strong>nessa “rua”. Como nas demais localidades, o índice de analfabetismo éeleva<strong>do</strong> e a percepção ambiental é limitada. Todas as atividades exercidaspelos posseiros não são por eles consideradas como prejudiciais ao meioambiente. As construções são em sua maioria de alvenaria, possuin<strong>do</strong> fossaséptica. A coleta <strong>do</strong> lixo não é assegurada e quan<strong>do</strong> pergunta<strong>do</strong>s sobre quedestino se dá ao lixo gera<strong>do</strong>, a maioria afirmou que, quan<strong>do</strong> em grandequantidade, queimam, mas normalmente jogam nas bananeiras como formade adubo. Nota-se que, de forma geral, para essa e outras localidades osentrevista<strong>do</strong>s não têm consciência <strong>do</strong> que seja reciclagem. Para eles, mesmoos sacos plásticos servem de adubo para as bananeiras que após essa açãotornam-se viçosas e produzem frutos de melhor sabor. Entretanto, jáverificaram que garrafas tipo PET não são ideais e nesse caso, as queimam.Muitos <strong>do</strong>s posseiros não possuem empregos, exceto um deles que trabalhana COMPESA. Nessa área foi registrada uma casa de farinha que atende nãosomente ao proprietário, como também aos vizinhos que utilizam essasinstalações no sistema de aluguel.


Sítio <strong>do</strong>s Periquitos/ Sítio Porteira PretaEncontra-se perfazen<strong>do</strong> o conjunto Porteira Preta, entretanto constitui-se de<strong>do</strong>is sítios de mais ou menos 10 hectares cada, pertencentes a duas famílias,originárias da região. Com a morte de um <strong>do</strong>s posseiros, um desses sítios foidividi<strong>do</strong> entre os herdeiros que possuem casas na localidade. Essashabitações são construídas em taipa e não possuem saneamento básicofazen<strong>do</strong> com que os posseiros utilizem a natureza para as suas necessidadesfisiológicas. Não existe coleta de lixo, pioran<strong>do</strong> ainda mais as condiçõessanitárias locais. Poucas casas possuem fossas, que atendem, muitas vezes,vários mora<strong>do</strong>res que não tiveram condições de construírem as suas. Osegun<strong>do</strong> sítio também em condições próximas ao primeiro possui atividade deagricultura, plantan<strong>do</strong> cana-de-açúcar, roça e banana. Ao total têm posse noSítio Porteira Preta 23 famílias, cuja média de idade entre os entrevista<strong>do</strong>s é40,13 anos. Foi observa<strong>do</strong> um número eleva<strong>do</strong> de desemprega<strong>do</strong>s e como nasdemais localidades uma ociosidade acentuada por parte das mulheres.Localidade mais afastada das demais abriga apenas uma família que não éoriginária da região. A ocupação desse sítio foi decorrente de uma açãoidenizatória por parte de Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> ao posseiro que vivia em outrosítio próximo à Barragem Pirapama. Há <strong>do</strong>is anos foi comprada a posse eatualmente é exercida a atividade de agricultura, com o plantio de milho, feijão,banana, maracujá, roça, macaxeira, tanto para o comércio, como parasubsistência.33%AdultosCrianças67%


Figura 51 - Percentual de adultos e crianças residentes da Área 1, entre agosto e dezembro de2002.Grau de Instrução1% Analfabeto3%22%Alfabetiza<strong>do</strong>22%1º Grau Menor2%1º Grau MaiorEnsino Médio17%33%MagistérioContabilidadeFigura 52 - Grau de instrução <strong>do</strong>s posseiros na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto edezembro de 2002.29%Alvenaria71%TaipaFigura 53 – Tipos de construção encontra<strong>do</strong>s na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto edezembro de 2002.


Figura 54 – Número de cômo<strong>do</strong>s por casa encontra<strong>do</strong>s na área 1 da reserva Gurjaú, entreagosto e dezembro de 2002.0%100%SimNãoFigura 55 – Situação <strong>do</strong> fornecimento de energia elétrica por casa na área 1 da reserva Gurjaú,entre agosto e dezembro de 2002.6%Cacimba27%Poço62%Poço e cacimba5%Compesa


Rio Gurjaú36%37%CórregoCéu aberto18%9%CanalizaçãocomunitáriaFigura 56 – Esta<strong>do</strong> de saneamento na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de2002.0%SimNão100%Figura 57 – Coleta de lixo na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.


36%SimNão64%3%Sim97%NãoFigura 59 – Situação da utilização de defensivos agrícolas na agricultura na área 1 da reservaGurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.


10%SimNão90%Figura 60– Situação da utilização de fertilizantes na área 1 da reserva Gurjáu, entre agosto edezembro de 2002.Sim53%47%NãoFigura 61 – Prática de atividade pecuária na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembrode 2002.


2%Comércio30%43%SubsistênciaComércio/Subsistênciavazias25%Figura 62 – Objetivo das atividades agrícolas e pecuárias desenvolvidas pelos posseiros daárea 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.41%SimNão59%Figura 63 – Retirada de lenha seca da mata pelos posseiros da área 1 da reserva Gurjaú paraos fogões de lenha, entre agosto e dezembro de 2002.


Retira algum outro recurso vegetal?22%Casca deÁrvoresCasca/Resina/Folha1%2%2%2%Casca/FolhasRaizCaibros eLinhas71%Não utilizaFigura 64 – Utilização de recursos vegetais pelos posseiros da área 1 da reserva Gurjaú, parafins medicinais, construção e subsistência, entre agosto e dezembro de 2002.25%SimNão75%Figura 65 – Atividade de caça exercida pelos posseiros da área 1, entre agosto e dezembro de2002.Área 2São Salva<strong>do</strong>r:


Esta área corresponde àquela de maior adensamento populacional da reservaGurjaú. Ao total foram contabilizadas 177 moradias de posseiros, em suamaioria de taipa (89%), sen<strong>do</strong> detectada uma forte expansão de construção denovas casas. O trabalho de aplicação de questionários foi desenvolvi<strong>do</strong> entredezembro de 2002 a abril de 2003, apesar de terem si<strong>do</strong> realizadas visitasdesde abril de 2002. Existe no local uma atividade de subsistência in<strong>do</strong> desdepequenos lotes ao re<strong>do</strong>r das casas até sítios de maior importância, onde severifica uma diferença social entre os mora<strong>do</strong>res. Foram evidenciadas cerca de20 casas de farinha, atividade esta que requer uma maior vigilância peloprocesso em si, desde a utilização de madeira para os fornos e fogões oresíduo que é lança<strong>do</strong> diretamente no ambiente sem qualquer tipo detratamento. Desde que a área foi visitada pela primeira vez até a conclusãodas entrevistas, houve um aumento considerável nas construções de novascasas. Acredita-se que o fato de estar por vir um novo direcionamento para areserva fez com que os posseiros se interessassem em ampliar as suasposses para uma posterior indenização. Este crescimento é nota<strong>do</strong> pelosposseiros quan<strong>do</strong> são questiona<strong>do</strong>s sobre as novas construções. As possestambém são ampliadas pelo crescimento da família. As crianças crescem eformam novas famílias próximas às casas <strong>do</strong>s pais. As atividades ali realizadasvão desde a cultura de subsistência até às atividades comerciais, a exemplode cana-de-açúcar, banana, mamão, entre outras. São Salva<strong>do</strong>r sofrefortemente o problema <strong>do</strong> desmatamento, seja por alguns mora<strong>do</strong>res queaumentam suas posses avançan<strong>do</strong> em direção às matas, com técnicassilenciosas (estrangulamento de árvores de grande porte, técnicas estascomuns na região), até pela utilização de equipamentos mais sofistica<strong>do</strong>s porexplora<strong>do</strong>res de madeiras de lei que não residem na localidade. Estes últimosrealizam o corte da madeira, muitas vezes durante o dia, vin<strong>do</strong> buscar os toroscaí<strong>do</strong>s durante à noite. Os mora<strong>do</strong>res têm ciência dessas atividades,entretanto, não comentam por temerem represálias contra a família. A situaçãofinanceira <strong>do</strong>s posseiros em sua maioria é bastante crítica, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong>encontradas algumas famílias viven<strong>do</strong> em total miséria, sem ter condiçõesmínimas de vida. Poucos são aqueles que se destacam dessa situação, ten<strong>do</strong>esses um trabalho digno, como agricultor, comerciante, ou então trabalhamfora da reserva, manten<strong>do</strong>, entretanto, suas casas na reserva. O desempregoé o maior problema enfrenta<strong>do</strong> pelos posseiros. É geral a desocupação seja


pelas mulheres quanto pelos homens. As famílias são numerosas e aquantidade de crianças é muito grande. O índice de analfabetismo éconsiderável por parte <strong>do</strong>s adultos. As crianças vão à escola, apesar dadistância entre as moradias e a mesma. Existe uma linha de ônibus queassegura o transporte <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res. Trata-se de uma empresa particularpertencente a um <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res da reserva. Durante a estação chuvosa, osdeslocamentos ficam bastante prejudica<strong>do</strong>s já que as condições das estradasde barro impossibilitam o acesso. Existem muitas igrejas nessa área, em suamaioria, evangélicas. Os posseiros que moram perto <strong>do</strong>s açudes utilizam aágua para a irrigação de suas lavouras, para o consumo humano e de animais,assim como para a lavagem de roupa. <strong>Nos</strong> finais de semana, a área é visitadapor parentes e amigos <strong>do</strong>s posseiros que, em busca de lazer, utilizam-se <strong>do</strong>saçudes da COMPESA para banho, esportes. As figuras 67 a 85 mostram arealidade de São Salva<strong>do</strong>r a partir de informações obtidas durante a aplicação<strong>do</strong>s questionários sócio-econômico-ambientais.


1%7%3%7%< 2020 - 2912%30 - 3923%40 - 4950 - 5912%60 - 6970 - 7914%21%80 - 89> 90Figura 66 – Faixa etária <strong>do</strong>s posseiros de São Salva<strong>do</strong>r (área 2 da reserva Gurjaú) entredezembro de 2002 e abril de 2003.39%AdultosCrianças61%Figura 67 – Percentual de adultos e crianças de São Salva<strong>do</strong>r (área 2 da reserva Gurjaú) entredezembro de 2002 e abril de 2003.


9%5%AnalfabetoAlfabetiza<strong>do</strong>40%1º Grau Menor1º Grau Maior40%Ensino Médio6%MagistérioContabilidadeFigura 68 – Grau de instrução <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s em São Salva<strong>do</strong>r (área 2 da reserva Gurjaú)entre dezembro de 2002 e abril de 2003.11%AlvenariaTaipa89%Figura 69 – Tipos de construção encontra<strong>do</strong>s em São Salva<strong>do</strong>r (área 2 da reserva Gurjaú)entre dezembro de 2002 e abril de 2003.


120%2% 4%7%239%4518%11%67816%Figura 70 – Número de cômo<strong>do</strong>s por casa em São Salva<strong>do</strong>r (área 2 da reserva Gurjaú) entredezembro de 2002 e abril de 2003.13%91%SimNão99%Figura 71– Situação de fornecimento de energia elétrica entre os posseiros de São Salva<strong>do</strong>r(área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.


Fossa45%55%No matoFigura 72- Esta<strong>do</strong> de saneamento das casas situadas em São Salva<strong>do</strong>r (área 2 da reservaGurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.9%CacimbaPoçoPoço e cacimbaCompesa91%Figura 73 – Formas de abastecimento d´água das casas de São Salva<strong>do</strong>r (área 2 da reservaGurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.


0%SimNão100%Figura 74 - Coleta de lixo em São Salva<strong>do</strong>r (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002e abril de 2003.18%SimNão82%Figura 75 – Atividade agrícola em São Salva<strong>do</strong>r (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de2002 e abril de 2003.


19%SimNão81%Figura 76 - Situação da utilização de defensivos agrícolas na agricultura em São Salva<strong>do</strong>r (área2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.19%SimNão81%Figura 77 - Situação da utilização de fertilizantes em São Salva<strong>do</strong>r (área 2 da reserva Gurjaú)entre dezembro de 2002 e abril de 2003.


Sim45%55%NãoFigura 78 – Prática de atividade pecuária em São Salva<strong>do</strong>r (área 2 da reserva Gurjaú) entredezembro de 2002 e abril de 2003.2%SimNão98%Figura 79 - Objetiva das atividades agrícolas e pecuárias desenvolvidas pelos posseiros emSão Salva<strong>do</strong>r (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.Cultivo e Criação destina<strong>do</strong> a que?2%Comércio37%Subsistência


Comércio/SubsistênciaFigura 80 - Retirada de lenha seca da mata pelos posseiros em São Salva<strong>do</strong>r (área 2 dareserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.Utiliza outro recurso vegetal?9% 2%2%Casca de ÁrvoresCasca/Resina/FolhaCasca/FolhasFolhaCaibros e Linhas87%Não utiliza


14%SimNão86%Figura 81 – Utilização de recursos vegetais pelos posseiros de São Salva<strong>do</strong>r (área 2 da reservaGurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.


26%SimNão74%Figura 82– Retirada de frutos da mata para uso de subsistência pelos posseiros de SãoSalva<strong>do</strong>r (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.ConclusõesTanto a área 1 quanto a 2 não possuem nenhum tipo de saneamentobásico ou coleta de lixo, fazen<strong>do</strong> com que os dejetos sejam lança<strong>do</strong>s acéu aberto ou diretamente no rio. O lixo não sofre nenhum tipo dereciclagem, sen<strong>do</strong> queima<strong>do</strong>, lança<strong>do</strong> à beira da estrada ousimplesmente joga<strong>do</strong> entre as bananeiras. Não existe nenhum tipo decoleta de lixo, agravan<strong>do</strong> os impactos ambientais;O índice de analfabetismo ultrapassa 70% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s;A totalidade <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s preocupa-se com a qualidade da água,mesmo contribuin<strong>do</strong> para a poluição da mesma;As atividades exercidas nas proximidades das matas põem em risco aintegridade da biodiversidade;A maioria <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s não tem conhecimento das questõesrelacionadas ao Meio Ambiente;Com relação à biodiversidade encontrada na reserva Gurjaú, assimcomo a forma de uso <strong>do</strong> solo entende-se que:Consideran<strong>do</strong>,Os anfíbios endêmicos da Mata Atlântica (Bufo crucifer, Hyla atlantica,H. branneri, H. semilineata, Phyllodytes cf. luteolus, Scinax auratus,Adenomera sp., Eleutherodactylus sp. e Pseu<strong>do</strong>paludicola sp.);


Os répteis endêmicos da Mata Atlântica (Enyalius catenatus, Strobilurustorquatus, Mabuya macrorrhyncha e Anotosaura sp.); As aves ameaçadas: Thalurania watertonii, Momotus momotamacgraviana, Picumnus exilis pernambucensis, Conopophaga liineatacearae, Conopophaga melanops nigrifons, Curaeus forbesi, Tangaracyanocephala corallina, Tangara fastuosa, Xenops minutus alagoanus,Myrmeciza ruficauda, Pyriglena leuconota pernambucensis,Thamnophilus aethiops distans, Thamnophilus caerulesces, Platyrinchusmystaceus niveigularis. Os mamíferos: Monodelphis americana, endêmico da Mata Atlântica,Callithix jachus, endêmico para o Nordeste e Leopordus tigrinusameaça<strong>do</strong> de extinção; As espécies vegetais endêmicas para Pernambuco (Maprounea sp ,Calathea cf. pernanbucensis, Ctenanthe pernambucensis Arns et Mayoe Maranta andersoniana Arns et Mayo); As espécies vegetais endêmicas da Mata Atlântica (Erythroxylum cf.grandifolium Mart. e Henriettea succosa DC.); Que a Mata Atlântica constitui um <strong>do</strong>s biomas mais ameaça<strong>do</strong>s <strong>do</strong>Planeta sen<strong>do</strong> considera<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s “hotspots” de biodiversidade; A baixa densidade da população humana, historicamente composta porfuncionários de Gurjaú, próximos aos fragmentos onde foramrelacionadas às espécies endêmicas/ameaçadas; Propõe-se uma unidade de conservação <strong>do</strong> tipo proteção integral, aexemplo de uma Estação Ecológica (ESEC).Consideran<strong>do</strong>, O grande adensamento populacional em São Salva<strong>do</strong>r, o uso eocupação <strong>do</strong> solo (atividades de subsistência, agricultura de cana-deaçúcar,banana e pecuária) que vem ao longo <strong>do</strong>s anos ocasionan<strong>do</strong>uma grande perda da cobertura vegetal original; Propõe-se então para esta área, uma unidade de conservação de usosustentável, a exemplo de uma Área de Proteção Ambiental (APA).


Figura 83 – Mapa proposto para a criação de duas unidades de conservação em Gurjaú, a emazul compreende a UC de uso sustentável e a de linha pontilhada vermelha a linha a UC deproteção integral.


Figura 84 - Cenas de uso <strong>do</strong>s recursos hídricos em São Salva<strong>do</strong>r, onde são observadasfamílias lavan<strong>do</strong> roupas. Área sugerida de uso sustentável.Anexo I


QUESTIONÁRIO SOBRE <strong>DA</strong>DOS SÓCIO-AMBIENTAIS <strong>DA</strong> POPULAÇÃO RESIDENTE NARESERVA ECOLÓGICA DE GURJAÚ, CABO DE SANTO AGOSTINHO, JABOATÃO DOSGUARARAPES E MORENO.PESQUISADOR: <strong>DA</strong>TA: / /NOME:Sexo: M ( ) F ( ) Idade: Esta<strong>do</strong> Civil: casa<strong>do</strong> ( ) solteiro ( ) viúvo ( ) outros:Nº residentes: adultos ( ) crianças ( Instrução: analfabeto ( ) alfabetiza<strong>do</strong> ( ) 1º grau menor ( ))1º maior ( ) ensino médio ( ) outros:Quantas crianças estudam:Quantos trabalham:Em que:Ocupação pesquisa<strong>do</strong>: Renda: R$ Renda da família: R$Tempo de moradia na Reserva: Motivo: nasci<strong>do</strong> ( ) trabalha ETA ( ) chegou criança ( )Moradia construída pela COMPESA:Casamento ( ) outros:S NOutros:Tipo de construção: alvenaria ( ) taipa ( ) outros: Nº cômo<strong>do</strong>s: Eletricidade: S NSaneamento: S ( ) N ( ) Tipo:Água: poço ( ) Compesa ( ) outros:Se for fossa, qual a localização:Coleta de lixo:Se não tiver saneamento nem coleta de lixo qual os tratamentos da<strong>do</strong>s aos dejetos e aos resíduos:Atividade agrícola: S ( ) N ( ) Onde:Por quem:Tipo de cultivo:Pecuária: S ( ) N ( ) Tipo:Dentro da reserva: S ( ) N ( )Local: várzea ( ) Próximo ao açude ( )encosta ( ) clareiras ( ) outros:Localização:dentro da Reserva ( )fora ( )Criação: confina<strong>do</strong> ( ) solto ( )Criação e/ou cultivo destina<strong>do</strong> a que: comércio ( )subsistência ( )comércio e subsistência ( )Tempo cultivo ( )Tempo: pecuária ( )Utilização de agrotóxicos: S ( ) N ( ) como é utiliza<strong>do</strong>:Utilização de fertilizantes: S ( ) N ( ) Quais:Onde compra:Utiliza irrigação no cultivo: S ( ) N Como é feita:( )Tira lenha da Mata: S ( ) N ( )Que outro tipo de recurso vegetal?Folhas ( ) casca de árvores ( ) outros( )Como é retirada:Como é retira<strong>do</strong>:Para que fim?Quais?Caça: S ( ) N ( ) Quais: cutia ( ) teju ( ) aracuã ( ) tatu ( ) quati ( ) capivara ( ) rolinha (( ) jacaré ( ) outros:Tipo: comércio ( ) subsistência ( ) lazer ( )Captura animal silvestre: S ( ) N ( )Quais: curiatã ( ) pinto( ) sabiá ( )Outros:Para que fins: criação( )comercialização ( )Retira frutos da mata?ingá( )inhame( )jaca( )outros ( )Quais:Para que fins:Aspectos positivos de se morar dentro da Reserva:Aspectos negativos:Se tivesse opção de morar fora da Reserva, se mudaria?O que vem a ser meio ambiente?) pomba


Acha que a Reserva está sen<strong>do</strong> bem protegida?Por que?A presença de pessoas moran<strong>do</strong> na Reserva põe em risco sua conservação?Por que?As atividades exercidas dentro da Reserva comprometem sua conservação?Por que?Qual a importância da Reserva para a região?O que poderia ser feito para manter ou melhorar a Reserva?Como mora<strong>do</strong>r o que poderia fazer para conservar a Reserva?<strong>4.</strong>3 Meio Antrópico<strong>4.</strong>3.1 Característica da população da ReservaO perfil <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res da Reserva Ecológica de Gurjaú tem muda<strong>do</strong> desde oúltimo cadastramento feito pela COMPESA em 1988, no levantamentorealiza<strong>do</strong> próximo a ETA Gurjaú (CAMINHA 2002), a área apresentou umsignificativo aumento populacional, com o crescimento familiar novas casasforam sen<strong>do</strong> construídas para absorver as novas famílias que iam sen<strong>do</strong>criadas, os chefes de família deixavam seus filhos recém-casa<strong>do</strong>s construíremnos “quintais” de suas casas aumentan<strong>do</strong> o número de residências comocaracteriza<strong>do</strong> abaixo:30,30% não apresentam nenhum vínculo com a COMPESA;25,50% são parentes de funcionários da COMPESA;14,00% são funcionários da COMPESA;11,65% são ex-funcionários/aposenta<strong>do</strong>s da COMPESA;11,60% são funcionários de firmas terceirizadas pela COMPESA;6,95% são funcionários <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Pernambuco.


O número de pessoas sem vínculo com a COMPESA é quase um terço dapopulação mora<strong>do</strong>ra no entorno da ETA, o que representa uma invasão daárea. O número de parentes de funcionários também é expressivo, justifica<strong>do</strong>pela construção de moradias nos quintais das casas <strong>do</strong>s pais, quan<strong>do</strong> os filhoscasam ou, como expressou uma entrevistada: - “meu pai se aposentou, paranão entregar a casa preferiu deixar eu morar aqui”.Segun<strong>do</strong> Caminha (2002), a religião de quase metade <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res é aCatólica Apostólica Romana, com 48,84%, seguida da Evangélica, com37,20%, distribuída entre Batista e Adventista. 13,96% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s nãotêm religião.Os da<strong>do</strong>s referentes à escolaridade <strong>do</strong> chefe de família mostram que 18,60%não têm escolaridade; 6,98% são alfabetiza<strong>do</strong>s; 30,24% possuem o 1º graumenor; 20,93% o 1º grau maior e 23,25% estão cursan<strong>do</strong> ou cursaram o 2ºgrau, um percentual eleva<strong>do</strong> de mora<strong>do</strong>res não iniciaram o 2º grau. Dentre oschefes de família, 39,54% apresentam uma renda familiar mensal menor que<strong>do</strong>is salários-mínimos; 4,65% estão desemprega<strong>do</strong>s; 34,88% apresentam umarenda entre 2 a 4 salários-mínimos e 9,30% recebem mais de 4 saláriosmínimos.Destes últimos, muitos são aposenta<strong>do</strong>s da COMPESA.No que diz respeito à relação homem /mulher entre os mora<strong>do</strong>res da ETA deGurjaú a proporção é de 48,65% de homens para 51,35% de mulheres(CAMINHA 2002).<strong>4.</strong>3.2 Condições de Infra-estruturaAs moradias são, em sua maioria, de alvenaria ten<strong>do</strong> ainda algumas casasconstruídas de taipa, o abastecimento de água é realiza<strong>do</strong> pela COMPESA nagrande maioria, haven<strong>do</strong> poucas casas com poço/cisterna onde consomem aágua sem nenhum tratamento.Com relação às condições de manejo de resíduos sóli<strong>do</strong>s o destino final <strong>do</strong> lixorepresenta um grande problema, já que não há coleta na Reserva e nenhumadas três Prefeituras <strong>do</strong>s municípios que a integram têm uma ação sistemáticapara coleta de lixo. Os mora<strong>do</strong>res jogam seus resíduos diretamente na mata,fazem queimadas destes a céu aberto ou criam seus próprios “pontos de lixo” ,


crian<strong>do</strong> um grave impacto por conta da poluição tanto <strong>do</strong> solo quanto <strong>do</strong>slençóis freáticos e proliferação de ratos.No que se refere ao saneamento básico, a maioria das casas possuembanheiro e fossa séptica, entretanto a grande maioria não possui nenhumaforma de tratamento <strong>do</strong> esgoto que é lança<strong>do</strong> no Rio Gurjaú causan<strong>do</strong> acontaminação da rede hidrográfica que leva a morte de vários peixes ecamarões. A situação tende a causar sérios problemas tanto para a populaçãolocal que utiliza a água <strong>do</strong> rio para beber e cozinhar, como para a regiãometropolitana <strong>do</strong> Recife que utiliza a água tratada <strong>do</strong> mesmo rio. Apesar dascondições precárias de saneamento e destino final <strong>do</strong> lixo, não há relatos de<strong>do</strong>enças infecto-contagiosas, sen<strong>do</strong> a gripe e a diarréia as mais comunsprincipalmente nas crianças.Outros responsáveis pela poluição hídrica e <strong>do</strong> solo são as populaçõesflutuantes (sitiantes e veranistas), que após as estadias <strong>do</strong>s finais de semana eferia<strong>do</strong>s deixam seus resíduos sóli<strong>do</strong>s acumula<strong>do</strong>s nas margens da cachoeira,barragens e mata.Dentro da Reserva existe a Escola Municipal Dr. Eudes Sobral de 1ª a 4ªséries e com turma de Alfabetização para Jovens e Adultos. A escola faz parte<strong>do</strong> Projeto Criança Cidadã que paga aos pais R$ 25,00 (vinte e cinco reais)para que as crianças permaneçam na escola e é mantida pela Prefeitura <strong>do</strong>Cabo de Santo Agostinho, contan<strong>do</strong> com verbas <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> de Manutenção eDesenvolvimento <strong>do</strong> Ensino Fundamental e Valorização <strong>do</strong> Magistério(FUNDEF), o tema “ Meio Ambiente” é desenvolvi<strong>do</strong> com os alunos através deuma proposta pedagógica da Secretaria de Educação.<strong>4.</strong>3.3 Visão das Comunidades sobre a U.C.<strong>Nos</strong> últimos cem anos, o homem adquiriu o poder de influenciar decisivamente naconstituição e equilíbrio <strong>do</strong>s ecossistemas, de alterar os padrões de distribuiçãogeográfica <strong>do</strong>s animais, plantas, microorganismos e de acelerar o ritmo <strong>do</strong>s processos deevolução da crosta terrestre e da biosfera (ROCHA 1997).Erosão, poluição e extinção das espécies animais e vegetais constituem eventos ouprocessos naturais, mas sua aceleração e desorganização como subprodutos das


atividades humanas descontroladas, comprometem a estabilidade <strong>do</strong>s sistemasecológicos e <strong>do</strong>s ciclos naturais.A Reserva Ecológica de Gurjaú retrata a aceleração <strong>do</strong> esgotamento <strong>do</strong>srecursos naturais por possuir uma grande quantidade de mora<strong>do</strong>res em seuinterior, que ten<strong>do</strong> em vista a precariedade em que vivem sob diferentesaspectos sociais, como a falta de trabalho, infra-estrutura precária, crescimentodesordena<strong>do</strong> da população e outros, vêm-se ten<strong>do</strong> que desmatar a área paracultivo da cana-de-açúcar e agricultura de subsistência, além de utilizarem amadeira para lenha e construção de casas.Partin<strong>do</strong> dessas problemáticas, faz-se necessária a caracterização de to<strong>do</strong>s osmora<strong>do</strong>res da Reserva, pois o envolvimento da comunidade é de totalimportância. Sem o entendimento, o apoio, a participação e a colaboração dapopulação nenhum projeto tem sustentabilidade. Para Ellen (1982, apudMORÁN, 1990), as relações ambientais <strong>do</strong> Homo sapiens só podem sercompreendidas se incluírem o papel da cultura e das instituições sociais queintervêm entre o homem e o ambiente.Cada pessoa, psicologicamente, tem uma percepção <strong>do</strong> meio ambiente e desua qualidade que é individual, incomunicável e irreversível. Conforme Morán(1990, p. 89), a percepção influi no comportamento, tanto ou mais <strong>do</strong> que arealidade física <strong>do</strong> ambiente. Biologicamente, esta percepção encontra-selimitada às condições anatômicas e fisiológicas da espécie humana e seprocessa dentro <strong>do</strong>s padrões culturais, geográficos e históricos. Sen<strong>do</strong>, então,os mecanismos perceptivos e cognitivos para conhecer o meio ambientepróprios da espécie humana, a imagem mental que as pessoas constroemdesse meio ambiente segue determina<strong>do</strong>s padrões e o somatório destasimagens individuais representa a imagem pública, que determina a qualidadeambiental. Assim, como variam as percepções e as imagens mentais arespeito da qualidade ambiental, também variam as atitudes diante <strong>do</strong> meioambiente e os valores a ele atribuí<strong>do</strong>s. As respostas ao meio ambiente variam,então, de acor<strong>do</strong> com as escalas de percepção e de valor (OLIVEIRA, 1983,apud MACHADO, 1997).Partin<strong>do</strong> de to<strong>do</strong>s esses pressupostos, é que foi inicia<strong>do</strong> um trabalho classifica<strong>do</strong> comoEtnoecológico, onde procura-se entender a percepção que o indivíduo tem <strong>do</strong> local a


partir de sua experiência de vida. Pois entende-se que a criação de uma verdadeiraUnidade de Conservação não pode terminar com a publicação ou determinação <strong>do</strong> atopúblico.Dan<strong>do</strong> continuidade ao trabalho etnoecológico inicia<strong>do</strong> com a população residente <strong>do</strong>entorno da ETA, partiu-se para outras duas áreas denominadas:Engenho São Salva<strong>do</strong>r e Engenho Porteira Preta.O Engenho São Salva<strong>do</strong>r localiza-se ao norte da ETA, onde as maiorias das atividadesagrícolas são exercidas e possui duas associações (Associação <strong>do</strong>s Pequenos ProdutoresRurais de São Salva<strong>do</strong>r- ASPROSA e Associação <strong>do</strong>s Pequenos Mora<strong>do</strong>res de SãoSalva<strong>do</strong>r). Com uma população acima de 1000 pessoas e mais de 550 famílias, segun<strong>do</strong>informação de Everal<strong>do</strong> José da Silva, vice-presidente da última associação citada, aárea apresentou um aumento populacional grande por conta de construçõesdesordenadas, provenientes da especulação imobiliária realizada por alguns mora<strong>do</strong>res<strong>do</strong> local, como cita um mora<strong>do</strong>r “nem a COMPESA, nem a polícia podem me tirardaqui, pois a madeira que eu construí a minha casa eu comprei em uma madeireira, e oterreno eu comprei por R$ 2.500,00”, “ aqui nesse local há 10 anos havia uma casa,hoje tem 18”A maioria <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> local demonstram nostalgia ao falar de como era a Reservano passa<strong>do</strong> “é uma pena ver isso aqui sen<strong>do</strong> toma<strong>do</strong> pela cana, principalmente pelaqueimada que deixa a terra pobre”, “isso aqui era uma beleza, dava gosto, cadamora<strong>do</strong>r pagava para morar aqui e quan<strong>do</strong> não podia trabalhar dava um dia deserviço para limpar ou fiscalizar, hoje tá tu<strong>do</strong> aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>” “a mata acabou-se porqueo pessoal foi fazer roça” “ meu pai dizia, meu filho não entre no asseiro, antes o <strong>do</strong>no<strong>do</strong> sítio tinha o compromisso de deixar o asseiro quan<strong>do</strong> havia vigilância, hoje to<strong>do</strong>mun<strong>do</strong> invade a mata para roça<strong>do</strong>”.Quan<strong>do</strong> questiona<strong>do</strong>s sobre qual seria a alternativa para que a mata voltasse a ser comoantes, a grande maioria diz que “se voltasse a vigilância, não tinha mais derrubada demadeira”, “ aqui só tinha um vigia e dava conta da mata todinha, meu pai quan<strong>do</strong> quizfazer a casa dele teve que dar 10 viagens a Gurjau para conseguir autorização para


construir a sua casa, cada casa era construída assim o cabra tinha que batalhar muitopara conseguir autorização para construir ou derrubar um pau” “ se a comunidade forenvolvida, isso aqui volta a ser mata”, “quan<strong>do</strong> a estrada é ruim, não tem como passarcarro pesa<strong>do</strong> e não tem como tirar madeira”.A população apesar de não entender os termos: Reserva Ecológica, Unidade deConservação, Área protegida; demonstram conhecimento nativo com relação àimportância de preservação da área ao fazer comentários <strong>do</strong> tipo “esse Engenho é ricoem água, tem pra mais de 200 olhos d’água aqui, moça”, “sabe porque não tem bicho?por causa da caça e derrubada da madeira”, “daqui a pouco a gente não vai ter maiságua, porque quase não tem mais planta aqui”, “era bom que a associação comprasseoutro engenho e coloca-se algumas famílias lá, porque São Salva<strong>do</strong>r tá lota<strong>do</strong>” “ obicho é ser vivo, tem direito de viver, a mata sem criação não é mata” “ só o céu émelhor para morar <strong>do</strong> que São Salva<strong>do</strong>r” .Outro Engenho levanta<strong>do</strong> foi o de Porteira Preta. Localiza<strong>do</strong> a leste da ETA, possui os<strong>do</strong>is maiores fragmentos de mata da Reserva: Mata <strong>do</strong> Cuxio e Mata da Zabé. Possui omenor núcleo populacional de toda a Reserva, mas nem por isso os problemas sãomenores, como em toda a área há pequenos sítios com culturas de subsistência, plantiode cana-de-açúcar com conseqüente prática de queimada, falta de coleta de lixo e o maisagravante: grandes propriedades particulares, com pastos, viveiros, canis e cultivos queavançam subtrain<strong>do</strong> a mata.A visão da comunidade também não destoa das demais. Segun<strong>do</strong> mora<strong>do</strong>res, a invasão eo desmatamento ocorrem por “falta de vigilância, quan<strong>do</strong> tinha vigia na mata, ninguémtirava um pau seco daqui” “a gente vê o desmatamento, mas não pode fazer nada, vemgente de fora desmatar, quan<strong>do</strong> o governo tomava conta era muito diferente” “moça,aqui tem até canil, como é que numa terra <strong>do</strong> Governo, o cabra chega, faz a casa e criaaté cachorro para caçar? Se tivesse vigilância isso não acontecia não”.Desde que se iniciou o contato com os mora<strong>do</strong>res, reforçou-se a idéia da Reserva sóexistirá enquanto Unidade de Conservação quan<strong>do</strong> sua função sócio-cultural estiverassegurada, ninguém pode apreciar ou proteger uma coisa que não conhece ou julga serinútil ou até mesmo perigosa ou nociva. É na educação que reside o principal problemaa ser supera<strong>do</strong> para despertar uma consciência geral <strong>do</strong> povo, da necessidade eimportância da conservação <strong>do</strong>s ecossistemas (ROCHA 1997).


<strong>4.</strong>4 Análise de risco ambiental<strong>4.</strong><strong>4.</strong>1 Fogo e energiaA Reserva Ecológica de Gurjaú situa-se numa área considerada de risco de incêndiosdevi<strong>do</strong> a uma prática secular implantada nos cultivos da monocultura cana-de-açucarque usa o fogo como auxiliar na limpeza de cana para o corte, além da queima <strong>do</strong> lixo<strong>do</strong>méstico pratica<strong>do</strong> pela comunidade.O cultivo da cana-de-açucar, no entorno imediato da Reserva, nos engenhospertencentes à Usina Bom Jesus, não contam com nenhuma faixa de proteção ou aceiroem to<strong>do</strong> o perímetro que possa impedir a disseminação <strong>do</strong> fogo, durante a época dacolheita.Na Área de Gurjaú, não há coleta de lixo, motivo pelo qual os mora<strong>do</strong>resarmazenam e queimam os resíduos sóli<strong>do</strong>s atrás de suas casas, poden<strong>do</strong>ocasionar incêndios na mata.A maioria das residências localizadas no interior da reserva possui energiaelétrica, sen<strong>do</strong> este mais um fator de risco, visto que um curto circuito poderáprovocar incêndios. Outra situação de risco é a presença de ligaçõesclandestinas, com fios desencapa<strong>do</strong>s, atravessan<strong>do</strong> as matas para energizaralgumas residências mais afastadas.<strong>4.</strong><strong>4.</strong>2 Passivo ambientalComo passivo ambiental pode-se destacar as principais intervençõesantropicas. A presença de estradas no interior da Reserva é potencialmentedanosa para a conservação desta, pois favorece a exploração clandestina demadeira e o acesso de pessoas à procura de novas áreas para moradia eatividades agrícolas.Existem três estradas principais que cortam a reserva:Estrada de Secupema tem aproximadamente 3,7 km que margeia oaçude de Gurjaú, desde a Barragem até o açude de Secupema. É umaestrada estreita cuja manutenção esporádica é feita pela COMPESA.Normalmente é interditada por troncos acidentalmente caí<strong>do</strong>s durante operío<strong>do</strong> de chuvas. É usada pela comunidade para retirada de lenha


seca, e transporte <strong>do</strong>s produtos agrícolas colhi<strong>do</strong>s nas roças existentesdentro da mata, bem como para lazer e caça. Possui uma estradasecundária que leva ao Engenho Roças Velhas e várias trilhas estreitasque levam a roças existentes nas matas. Esta estrada corta as matas<strong>do</strong> Macaco Macuca, Limão e Periquito.Estrada <strong>do</strong> Cuxiu, com aproximadamente 1,8Km se inicia atrás dacasa de D. Maria Cabocla in<strong>do</strong> até à Mata de Cau, e termina no acessoao perímetro de entorno da Reserva. Apresenta-se em esta<strong>do</strong> razoávelde conservação. Esta estrada corta as matas <strong>do</strong> Cuxiu e São Brás,


possui algumas trilhas secundárias que levam a cultivos nas margens<strong>do</strong> Açude de Gurjaú.Estrada de São Salva<strong>do</strong>r corta toda a Reserva na sua porção Norte. Éa mais extensa e com intenso fluxo de veículos dan<strong>do</strong> acesso aos trêsmunicípios (Cabo, Moreno e Jaboatão), onde transitam os transportescoletivos. Apresenta diversas pontes de madeira que cobrem cursosd’água e muitas estão em péssimo esta<strong>do</strong> de conservação, fican<strong>do</strong>intransitáveis nos perío<strong>do</strong>s de chuvas. A manutenção da mesma é feitapela Usina Bom Jesus no perío<strong>do</strong> que antecede a colheita da cana.Outro passivo ambiental é o gasoduto da Transpetro que corta a Reserva, temuma extensão de 556m por 12m de largura. O duto está a 1,5m deprofundidade <strong>do</strong> solo e transporta gás natural. To<strong>do</strong> o percurso da tubulaçãodentro da Reserva é marca<strong>do</strong> com piquetes de 5m em 5m. A inspeção da áreaé realizada trimestralmente por helicóptero e semanalmente por andarilhos(funcionários que passam no local). O corte da vegetação é feito comfreqüência, mensalmente no perío<strong>do</strong> chuvoso, o que mantém esta faixasempre aberta impossibilitan<strong>do</strong> a recuperação natural da vegetação.<strong>4.</strong>5 PLANEJAMENTO<strong>4.</strong>5.1 Proposta de Pré-Zoneamento da Reserva Ecológica de GurjaúO zoneamento constitui um instrumento de ordenamento territorial usa<strong>do</strong> comorecurso para se atingir melhores resulta<strong>do</strong>s no manejo da Unidade, poisestabelece usos diferencia<strong>do</strong>s para cada zona, segun<strong>do</strong> seus objetivos. Paraobter, desta forma, maior proteção, pois cada zona será manejada seguin<strong>do</strong>normas para elas estabelecidas.O zoneamento é identifica<strong>do</strong> pela Lei nº 9.985/2000: definição de setores ouzonas em uma Unidade de Conservação com objetivos de manejo enormas específicas, com propósito de proporcionar os meios e as


condições para que to<strong>do</strong>s os objetivos da Unidade possam seralcança<strong>do</strong>s de forma harmônica e eficaz. (Roteiros Meto<strong>do</strong>lógicos <strong>do</strong>IBAMA, 2002).Com o objetivo de mostrar a aplicabilidade e necessidade <strong>do</strong> zoneamento paraefetiva aplicação <strong>do</strong>s demais instrumentos da Política Nacional <strong>do</strong> MeioAmbiente foi proposto um Pré - Zoneamento da Reserva elabora<strong>do</strong> pelaequipe da FADURPE e os Técnicos Nahum Tabatinich (CPRH) e MariaCatarina Cabral de Medeiros (IBAMA). Estes mapas temáticos que derãosubsídio à primeira reunião técnica que tem como objetivo discutir areclassificação e zoneamento da Reserva.A proposta de pré-zoneamento ambiental da Reserva Ecológica de Gurjaú foielaborada com os seguintes objetivos:Conservar e recuperar os ecossistemas naturais de relevânciaecológica;Proteger os mananciais hídricos, bem como riachos e açudes.Definir as áreas que terão manejo e normas específicas.A área foi dividida em cinco 5 zonas (Figura 88): Zona de uso Extensivo; Zona de uso Especial; Zona de Recuperação 1; Zona de Recuperação 2; Zona de Ocupação Temporária.Este zoneamento foi realiza<strong>do</strong> levan<strong>do</strong>-se em conta áreas onde existe o maiorrisco de ocorrência de erosão, uso e ocupação <strong>do</strong> solo e ausência oufragmentação da vegetação nativa. Os corpos d’água que atravessam aReserva merecem maior atenção pois estão submeti<strong>do</strong>s a maiores riscos e são


os principais pontos a serem visita<strong>do</strong>s e monitora<strong>do</strong>s, devi<strong>do</strong> ao assoreamentoe por serem mantene<strong>do</strong>res <strong>do</strong> sistema hídrico de abastecimento.Cabe destacar que o zoneamento pressupõe uma constante revisão e umaatualização periódica <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s sociais, econômicos, culturais e ambientais.Figura 85 – Proposta de Zoneamento da Reserva Ecológica de Gurjaú


<strong>4.</strong>5.2 Zona de <strong>Uso</strong> ExtensivoÉ aquela constituída em sua maior parte por áreas naturais, poden<strong>do</strong>apresentar algumas alterações humanas. O objetivo <strong>do</strong> manejo é amanutenção de um ambiente natural com mínimo impacto humano, apesar deoferecer acesso aos públicos com facilidade para fins educativos e recreativos.Essa área abrangerá os fragmentos compreendi<strong>do</strong>s entre os açudes de Gurjaúe Secupema.ALTERNATIVAS DE USOEducação Ambiental;Visitação disciplinada;Pesquisa científica de acor<strong>do</strong> com as normas <strong>do</strong> Plano de Manejo;Fiscalização;Monitoramento Ambiental;Trânsito de veículos a baixa velocidade, máximo de 40 km e proibição<strong>do</strong> uso de buzina;No caso de embarcações, não será permiti<strong>do</strong> o uso de motores abertose mal regula<strong>do</strong>s.<strong>4.</strong>5.3 ZONA DE USO ESPECIALVisa criar oportunidades e facilitar a recreação educativa e a educaçãoambiental, concentran<strong>do</strong> os visitantes nessa zona fornecen<strong>do</strong> todas asinformações sobre a importância da Unidade, de forma a minimizar osimpactos sobre as zonas mais restritivas.Toda a infra-estrutura disponível dentro da UC como centro de visitantes,alojamentos, prédio da ETA (Estação de Tratamento de Água da Compesa),deverá estar inserida nessa zona, estan<strong>do</strong> sua utilização condicionada àcapacidade de suporte estabelecida para as mesmas, bem como deverãoestar harmonicamente integradas com o meio ambiente, não sen<strong>do</strong> permiti<strong>do</strong>


que o material usa<strong>do</strong> para construção ou reforma seja retira<strong>do</strong> <strong>do</strong>s recursosnaturais da UC, os resíduos sóli<strong>do</strong>s gera<strong>do</strong>s nas infra-estruturas previstasdeverão ser acondiciona<strong>do</strong>s separadamente, recolhi<strong>do</strong>s periodicamente edeposita<strong>do</strong> em local destina<strong>do</strong> para tal.As atividades previstas devem levar o visitante a entender a filosofia e aspráticas de conservação da natureza. O trânsito de veículos será feito a baixasvelocidades (máximo de 40km), sen<strong>do</strong> proibi<strong>do</strong> o uso de buzinas. Afiscalização será intensa nessa zona.ALTERNATIVAS DE USODeverá conter sede da Unidade e centralização <strong>do</strong>s serviços da mesma;Estacionamento de veículos só será permiti<strong>do</strong> para funcionários epresta<strong>do</strong>res de serviços;A fiscalização deverá ser permanente e intensiva;Proibi<strong>do</strong> o uso de buzina;O centro de visitantes, museu e outros serviços ofereci<strong>do</strong>s ao público,como lanchonetes e instalações para serviços de guias e condutores,somente poderão estar localiza<strong>do</strong>s nesta zona;Visitação com fins recreativos e educacionais;Essa zona poderá conter sinalização educativa, interpretativa ouindicativa.<strong>4.</strong>5.4 Zona de RecuperaçãoEssa zona tem por objetivo recuperar o ecossistema de forma natural, pormeio de processos de sucessão ecológica, ou por ações de recuperaçãoprojetadas e acompanhadas.


Essa classificação contempla áreas alteradas pelo homem, sen<strong>do</strong> consideradaprovisória que, depois de restauradas deverão ser incorporadas a uma zonapermanente. Está constituída por Áreas de Preservação Permanentedesprovidas de cobertura florestal e áreas degradadas por agricultura anual esazonal. As áreas deverão ser objeto de manejo específico e a restauraçãopoderá ser natural ou induzida, somente sen<strong>do</strong> permitida a utilização deespécies nativas, deven<strong>do</strong> ser eliminadas as espécies exóticas porventuraexistentes.Os trabalhos de recuperação induzida poderão ser interpreta<strong>do</strong>s para o públicono Centro de Visitantes, as pesquisas sobre os processos de regeneraçãonatural deverão ser incentivadas.Não serão instaladas infra-estruturas, com exceção daquelas necessárias aostrabalhos de recuperação induzida, que serão provisórias e preferencialmenteconstruídas de madeira. Os resíduos sóli<strong>do</strong>s gera<strong>do</strong>s nestas instalações terãoo mesmo tratamento cita<strong>do</strong> na zona de uso intensivo.O acesso a ela será restrito aos pesquisa<strong>do</strong>res e pessoal técnico, ressalvada asituação de eventuais mora<strong>do</strong>res.Devi<strong>do</strong> às características <strong>do</strong>s fragmentos de matas e à situação atual daReserva, a área de recuperação foi subdividida em duas outras.Zona de Recuperação I: Mata <strong>do</strong> Cuxiu e margens <strong>do</strong>s açudes São Salva<strong>do</strong>r,Secupema e Gurjaú, bem como bordas de nascentes e riachos.Zona de Recuperação II: Fragmentos de matas na área sul <strong>do</strong> Engenho SãoSalva<strong>do</strong>r, nas proximidades <strong>do</strong> açude de Secupema.ALTERNATIVAS DE USOZona de Recuperação IRecuperação natural ou induzida das áreas degradadas, principalmentenas APP’s (Áreas de Preservação Permanente);


Acesso restrito aos pesquisa<strong>do</strong>res, pessoal técnico e eventuaismora<strong>do</strong>res;Delimitação das áreas <strong>do</strong>s posseiros;Não será permiti<strong>do</strong> o aumento das áreas de plantio pelos posseiros;As pesquisas sobre os processos de regeneração natural deverão serincentivadas;A fiscalização será permanente nesta zona;Serão priorizadas tecnologias agrícolas com alternativas de baixoimpacto.Zona de Recuperação IIDisciplinamento da área com delimitação <strong>do</strong>s cultivos <strong>do</strong>s posseiros;Recuperação Induzida da vegetação de borda das nascentes e cursosd’água;Educação Ambiental com a população residente (mata ciliar, nascentes,saúde e meio ambiente);Fiscalização permanente;Estu<strong>do</strong> específico para possível recuperação da mata nativa emconsórcio com agrofloresta;Avaliar a possibilidade de Implementação de corre<strong>do</strong>res ecológicosentre os fragmentos.<strong>4.</strong>5.5 Zona de Ocupação TemporáriaEsta zona tem por objetivo utilizar sustentavelmente os recursos florestais efaunísticos, promover sistemas de produção sustentáveis que utilizamcomponentes arbóreos (floricultura, agroflorestas, fruticulturas) desenvolverpesquisa científica e apoiar as atividades de recreação, educação einterpretação ambiental.


Para esta zona será estabeleci<strong>do</strong> um Termo de Compromisso com aspopulações residentes dentro da UC que definirá caso a caso as normasespecíficas (Roteiro Meto<strong>do</strong>lógico <strong>do</strong> IBAMA,2002).ALTERNATIVAS DE USOFiscalização permanente;Realizar cadastramento da população com o objetivo de evitar novasocupações;Elaborar Termo de Compromisso com os mora<strong>do</strong>res sobre o uso daterra (como recomenda o Roteiro Meto<strong>do</strong>lógico <strong>do</strong> IBAMA, 2002);Delimitar a área de cultivo de cada mora<strong>do</strong>r;Iniciar a Educação Ambiental de base;Recuperação com reflorestamento induzi<strong>do</strong> das APP’s (Áreas dePreservação Permanente) e nascentes;Proceder estu<strong>do</strong>s para implantação de fossas sépticas de baixo custo eimpacto ambiental;Implantação de sistema de tratamento da água cinza oriunda dalavagem de roupas, louças e banho;Estimular o cultivo da agricultura sustentável (orgânica) com rotação deculturas;Avaliar a possibilidade de implantar sistemas de agrofloresta;Planejar o condicionamento das estradas localizadas nesta zona,utilizan<strong>do</strong> como subsídio o mapa de restrições.


<strong>4.</strong>5.6 Locais de Interesse Histórico-CulturalAlguns resquícios de interesse histórico-cultural são encontra<strong>do</strong>s tanto naReserva como no entorno imediato.INTERIOR <strong>DA</strong> RESERVARuínas de São Salva<strong>do</strong>r: Onde existia a casa grande <strong>do</strong> engenhoSão Salva<strong>do</strong>r, fotografada por Gilberto Osório de Andrade, em 1984,está restrito a um banheiro (denomina<strong>do</strong> banheiro das princesas) eresquícios de uma casa de moenda.Banheiro das princesas: Local onde as sinhazinhas da antiga CasaGrande <strong>do</strong> Engenho São Salva<strong>do</strong>r faziam seus banhos. Essebanheiro foi edifica<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong> riacho São Salva<strong>do</strong>r. Foi construí<strong>do</strong>em estrutura de alvenaria com piso de cerâmica provavelmenteusan<strong>do</strong> mão de obra escrava. Era usa<strong>do</strong> para banhos e trocas deroupas. Até bem pouco tempo, permaneciam de pé as paredes <strong>do</strong>banheiro que serviam a mora<strong>do</strong>res locais, estes disseram que aestrutura de pedra e telhas que cobriam o banheiro foi retirada porvândalos, e que havia uma porta no local. Restam o piso e omecanismo de renovação de água que é muito engenhoso.Parecen<strong>do</strong> uma piscina estilo colonial.Casa da Moenda: No mesmo Engenho, acharam-se estruturas deuma antiga casa de moenda de pedras e um eixo de ferro. Há poucotempo atrás tinha no local os mecanismos de moer a cana. Ummora<strong>do</strong>r explicou que a água descia pelo cano <strong>do</strong> açude de SãoSalva<strong>do</strong>r e vinha para a moenda mover o eixo e os mecanismos. Oantigo proprietário levou os mecanismos quan<strong>do</strong> foi desapropria<strong>do</strong>.O local devia ser restaura<strong>do</strong> e incluí<strong>do</strong> num roteiro de visitaçãopública e construí<strong>do</strong> um museu onde se mostraria um antigoengenho de cana de açúcar.


Resquícios da estrada <strong>do</strong> troler: (Engenho Gurjaú) Com o objetivode transportar to<strong>do</strong> o material necessário às obras de abastecimentode água da capital e transporte da cana-de-açúcar produzida nosengenhos da área, foram construí<strong>do</strong>s, provavelmente em 1914,alguns quilômetros de via férrea de 1 bitola de largura, para umalocomotiva inglesa <strong>do</strong> tipo troler provavelmente de 1870 (século XIX).Esta locomotiva, que pertenceu à Usina Dr. José Rufino, funcionouaté cerca de trinta anos atrás. Os trilhos foram retira<strong>do</strong>s pela UsinaBom Jesus, fican<strong>do</strong> a trilha de pedras. Na escritura lavrada em 1913,o proprietário que vendeu a área para o Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, seobrigou a construir a referida via, aproveitan<strong>do</strong> o leito da estrada derodagem que vai <strong>do</strong> Engenho São João até a cidade <strong>do</strong> Cabo.O percurso <strong>do</strong>s trilhos que atravessavam a Reserva ia <strong>do</strong> Pontilhão que existiusobre o rio Gurjaú no Engenho São Brás, in<strong>do</strong> ao longo deste, atravessan<strong>do</strong> oTributário <strong>do</strong> riacho São Salva<strong>do</strong>r seguin<strong>do</strong> ao Norte para as terras <strong>do</strong>Engenho Roças Velhas e Usina Bom Jesus.Esta trilha foi muito usada pelos mora<strong>do</strong>res antigos, haven<strong>do</strong> relatos de que aárea <strong>do</strong>s trilhos era limpa periodicamente. Na época em que a via era usadaexistia um ponto de abastecimento de água para o troler no local onde ostrilhos deixavam o Açude de Gurjaú.Segun<strong>do</strong> funcionários PETROFLEX, na BR-101, o antigo troler que erausa<strong>do</strong> para transportar cana-de-açúcar para a Usina Bom Jesus é o que estáexposto na frente da mesma.Conjunto arquitetônico da ETA: importante por se tratar daprimeira estação de tratamento de água <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Pernambuco,construída entre 1944/1952. A citada ETA Gurjaú substituiu aimplantada por Saturnino de Brito em 1918 e constava de 04baterias, cada uma com 08 filtros de pressão, alojadas em um prédioque foi paulatinamente amplia<strong>do</strong> à medida que se aumentava acapacidade <strong>do</strong> tratamento. Esta edificação foi objeto de recenterestauração para preservação de suas características arquitetônicasoriginais, estan<strong>do</strong> o patrimônio em perfeito esta<strong>do</strong> (COMPESA - ACS


Assessoria de Comunicação Sócia l- Histórico <strong>do</strong> Saneamento eDa<strong>do</strong>s Institucionais).ENTORNO IMEDIATO <strong>DA</strong> RESERVAA demarcação <strong>do</strong> perímetro da Reserva lançou dúvidas acerca <strong>do</strong>s limites dabarragem de Gurjaú. É provável que a área onde está situada a sede <strong>do</strong>Engenho São Brás (conjunto edifica<strong>do</strong>) pertença ao extinto DSE(Departamento de Saneamento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>), ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> desapropria<strong>do</strong> porocasião da ampliação da barragem. Se os marcos encontra<strong>do</strong>s forem leva<strong>do</strong>sem consideração e os <strong>do</strong>cumentos forem localiza<strong>do</strong>s, parte <strong>do</strong> engenho SãoBrás deverá ser incorpora<strong>do</strong> aos limites da Reserva Ecológica de Gurjaú.Conjunto edifica<strong>do</strong> <strong>do</strong> Engenho São Brás: Este Engenho foiindica<strong>do</strong>, entre outros, pela FIDEM (Fundação de Desenvolvimentoda Região Metropolitana <strong>do</strong> Recife) para ser preserva<strong>do</strong> pelo Esta<strong>do</strong>ou pelo Município, porém, nada foi feito para a sua preservação.Conforme esta indicação, deve-se fazer o tombamento e restauraçãoa nível estadual <strong>do</strong> conjunto edifica<strong>do</strong>, tombamento a nível federal(IPHAN- Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) daCapela e da Casa Grande, demolição da construção recente situadaentre a Capela e a Senzala e a integração a um roteiro turístico.<strong>Nos</strong> estu<strong>do</strong>s de 1978, feitos pela FIDEM, o Engenho foi funda<strong>do</strong> em dataanterior a 1630, por Antônio da Silva e tem uma capela consagrada a SãoBrás.Por ocasião da <strong>do</strong>minação holandesa em Pernambuco o Engenho São Bráspertenceu aos invasores que ali construíram benfeitorias. Com a restauraçãode Pernambuco, o Engenho, então de fogo morto passou a pertencer aFazenda Real e foi entregue aos seus antigos mora<strong>do</strong>res. Em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séc.XIX, o Engenho São Brás pertencia a João de Barros Accioly (FIDEM, 1978).O engenho acha-se implanta<strong>do</strong> em um sítio de relevo acidenta<strong>do</strong> cujatopografia varia de cota de 60 m a 130m, com uma paisagem marcada pelas


eservas vegetais e grandes espelhos d’águas, próximo aos açudes deSecupema e Gurjaú.A sede, em 1978, achava-se composta de Capela e Casa Grande, com ascaracterísticas antigas preservadas. Sen<strong>do</strong> a Capela um exemplo excepcionalda arquitetura religiosa, apresenta-se como a mas rica e valiosa <strong>do</strong>s engenhosda Região Metropolitana <strong>do</strong> Recife e também o elemento de maior importância<strong>do</strong> conjunto. Destacan<strong>do</strong>-se os trabalhos de talha <strong>do</strong> altar–mor <strong>do</strong>s altarescolaterais, <strong>do</strong> púlpito e das sanefas. FIDEM, 1978.O esta<strong>do</strong> de conservação que em 1978 era regular, hoje é péssimo. O imóveldeve ser considera<strong>do</strong> urgentemente por risco de perda <strong>do</strong> Patrimônio Histórico.Está sem uso e já foi saquea<strong>do</strong> por diversas vezes, sen<strong>do</strong> as ossadas elápides de túmulos conti<strong>do</strong>s em seu interior, remexi<strong>do</strong>s e revira<strong>do</strong>s, em buscade jóias e dentes de ouro, devi<strong>do</strong> ao valor de nobreza que tais senhorestinham.A igreja está com risco de desmoronar e o altar-mor já tombou. A Casa Grandeé de apenas um pavimento envolvi<strong>do</strong> por alpendres, com cobertura em quatroáguas, o esta<strong>do</strong> de conservação é regular e o uso residencial.A Senzala assentada à esquerda da Capela, ainda possui a estrutura originalembora o esta<strong>do</strong> de conservação e as condições de habitabilidades sejamprecárias. É utilizada como moradia de trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> engenho. Entre aCapela e a Senzala foi construída uma casa recente de pavimento único,prejudican<strong>do</strong> a qualidade <strong>do</strong> conjunto.<strong>4.</strong>6 MAPEAMENTO TEMÁTICOIntroduçãoA necessidade de conhecer a realidade física atual da área da Reserva deGurjaú com a situação de <strong>Uso</strong> e Ocupação de <strong>Solo</strong>s é a primeira atividade aser realizada para se traçar planos necessários à definição <strong>do</strong> futuro daReserva.A inexistência de material cartográfico recente reforçou a necessidade de seelaborar uma base cartográfica digital e um conjunto de mapas temáticos paraservirem de fonte de informação e de base para as equipes multidisciplinares


que deverão trabalhar nas ações envolvidas na coleta de informações sobre omeio ambiente e da população que hoje ocupa a área da Reserva.A região foi inicialmente mapeada na Década de 70 pela então FIDEM, queproduziu ortofotocartas em escala de 1:10.000. Buscan<strong>do</strong> atualizar estematerial adquiriu-se um recorte com 64 km² de imagem <strong>do</strong> Satélite Quickbird.A partir desses <strong>do</strong>is produtos disponíveis foram elabora<strong>do</strong>s ortofotocartasatuais, modelo digital de terreno e um conjunto de mapas temáticos(vegetação, casas, rede hídrica, uso <strong>do</strong> solo e malha viária).A importância <strong>do</strong> mapeamento é fornecer as bases para estu<strong>do</strong>s ambientaiscompostos da: Modelagem <strong>do</strong> Terreno; Estu<strong>do</strong>s Hídricos (redes, bacias, volumes de água, vazão); Cálculo Real de Áreas com Cobertura Vegetal; Base para levantamentos quantitativos e qualitativos deBiodiversidade; Ferramenta para Engenharias (Agronomia, Civil, Mecânica); Mapas geológicos e pe<strong>do</strong>lógicos; Estu<strong>do</strong>s de Áreas Impactadas; Mapas de declividade; Elaborar Sistemas de Informações Geográficos.To<strong>do</strong> o material produzi<strong>do</strong> foi disponibiliza<strong>do</strong> em formato digital para futurasreferências nos grupos de pesquisa e para futura criação <strong>do</strong> Sistema deInformações Geográficas para manejo ambiental da Reserva Ecológica deGurjaú.<strong>4.</strong>6.1 Objetivo PrincipalMapear a área da Reserva Ecológica de Gurjaú utilizan<strong>do</strong> imagens de satélitede alta resolução Quickbird para produção de Ortofotocartas digitais e mapastemáticos para uso em estu<strong>do</strong>s ambientaisOBJETIVOS ESPECÍFICOSProcessar imagem Quickbird, corrigin<strong>do</strong>-a em função de pontos decontrole em campo;


Processar ortofotocartas FIDEM para elaboração de MDT;Elaborar mapas temáticos da Reserva Ecológica de Gurjaú;Elaborar Ortofotos Digitais em escala 1:2000 da Reserva Ecológica deGurjaú;Elaborar Sistema de Informação Geográfico.Materiais e Méto<strong>do</strong>sSeqüência <strong>do</strong>s TrabalhosORTOFOTOCARTASIMAGEM QUICKBIRDDIGITALIZAÇÃOPROCESSAMENTO:- Equalização- Georreferenciamento- MosaicagemMDTRECORTE <strong>DA</strong> IMAGEMPROCESSAMENTO:- Ortocorreção- Fusão PancromáticaVETORIZAÇÃOMAPAS TEMÁTICOS<strong>4.</strong>6.2 Processamento das OrtofotosPara se iniciar as atividades <strong>do</strong> mapeamento fez-se levantamento <strong>do</strong> materialcartográfico existente. Foram utilizadas as Ortofotocartas FIDEM 78/50, 78/55,79/00, 79/05, 79/50 e 79/55, em escala 1:10.000 <strong>do</strong> ano de 1975.O objetivo <strong>do</strong> processamento é a conversão <strong>do</strong> material <strong>do</strong> formato analógicopara o formato digital, extrain<strong>do</strong>-se a hipsometria para a elaboração de umModelo Digital de Terreno para ser utiliza<strong>do</strong> na ortorretificação da imagem desatélite Quickbird.As ortofotocartas foram digitalizadas utilizan<strong>do</strong>-se meto<strong>do</strong>logia desenvolvida noGEOLAB/DTR/UFRPE, capturan<strong>do</strong>-se 25 imagens raster para cada carta, comárea de 1 km². As imagens finais possuem formato TIF, padrão RGB eresolução de 600 dpi.Após a digitalização, as imagens foram processadas para reduzir os efeitos dacaptura, retificação, realce, georreferenciamento e mosaicagem.


A retificação tem por finalidade alinhar as imagens em função da malha decoordenadas originais, assumin<strong>do</strong>-se que a mesma esteja no Sistema deProjeção Cartográfica UTM, datum SAD69 médio. Foram utiliza<strong>do</strong>s 9 pontosde controle consideran<strong>do</strong>-se as linhas da grade existentes. O méto<strong>do</strong> de ajusteutiliza<strong>do</strong> foi o polinomial de 2ª ordem por convolução cúbica. Esta mesmaoperação tende a reduzir o efeito das distorções da captura.Foi realiza<strong>do</strong> o realce com a finalidade de melhorar a capacidade visual para avetorização das isolinhas hipsométricas, toman<strong>do</strong>-se como base o histogramapara o processamento <strong>do</strong> conjunto total de imagens.Após o realce procedeu-se a mosaicagem das imagens para o conjunto dequadrículas originais de cada ortofotocarta.Das ortofotos mosaicadas fez-se a vetorização de todas as isolinhas dahipsometria produzin<strong>do</strong>-se arquivos em formato “tab”.Elaboração <strong>do</strong> Modelo Digital de TerrenoModelar o terreno é representar as suas feições através de um modelomatemático que se aproxime da realidade em campo.Para este procedimento, utilizou-se o conjunto de isolinhas hipsométricas <strong>do</strong>terreno. As etapas e parâmetros da modelagem foram as seguintes: Conversão de isolinhas em pontos; Interpolação matemática usan<strong>do</strong> méto<strong>do</strong> <strong>do</strong> Vizinho Próximo; O modelo de agregação de pontos foi de células quadradas; A distância de interpolação 0,65 com média em pontos coincidentes; O méto<strong>do</strong> de solução foi por declividade; Fator de assimetria: 2,00; Fator de suavização: 2,00 com exponencial 6ª ordem; Limites de borda por convexidade; Tamanho <strong>do</strong> pixel: 2,00 m; Triângulo máximo (la<strong>do</strong>): 1.198,30m.<strong>4.</strong>6.3 Processamento da Imagem de SatéliteA imagem adquirida foi um recorte de Imagem de Satélite Quickbird com asseguintes características:


A imagem foi entregue com os da<strong>do</strong>s necessários a ortocorreção; Foram entregues duas imagens, uma conten<strong>do</strong> 4 bandas (R,G,B e NIR– Pixel 2 m) e outra com a banda PAN (0,61 m); Área total <strong>do</strong> recorte: 64 km²; Cobertura de nuvens: 3%.Foi realizada uma ortocorreção para corrigir o efeito da distorção radial daimagem utilizan<strong>do</strong>-se pontos obti<strong>do</strong>s em campo por alvos facilmenteidentificáveis, utilizan<strong>do</strong> o MDT obti<strong>do</strong> das ortofotos corrigidas e o coeficientede correção disponibiliza<strong>do</strong> pelo fornece<strong>do</strong>r.Após a ortocorreção fez-se uma fusão pancromática, que é a ampliação <strong>do</strong>pixel das bandas VNIR (RGB e NIR) em função da banda PAN.<strong>4.</strong>6.4 Elaboração das OrtofotocartasApós a panfusão foram criadas 48 ortofotocartas com 1 km² em formatovetorial “tab” para serem editadas no software MapInfo e em formato deimpressão “pdf”.<strong>4.</strong>6.5 Elaboração <strong>do</strong>s Mapas TemáticosPor classificação visual elaboraram-se vários mapas temáticos que refletem ouso e ocupação <strong>do</strong>s solos existentes no interior da área demarcada pelaCOMPESA como sen<strong>do</strong> da Reserva Ecológica de Gurjaú e das áreasadjacentes à mesma, compreenden<strong>do</strong> os seguintes temas: matas, redehidrográfica, vias de acesso, habitações, áreas cultivadas.<strong>4.</strong>6.6 Produtos Finaisa) 48 Ortofotocartas em escala 1:2. 000 editáveis no software MapInfo;b) 48 Ortofotocartas em formato de impressão pdf;


c) Conjunto de mapas temáticos editáveis no MapInfo correspondentesaos temas de cobertura vegetal, vias de acesso, rede hidrográfica,habitações no interior da reserva, áreas cultivadas.d) Modelo Digital de Terreno editável no MapInfo com módulo VerticalMapper.5. CARACTERIZAÇÃO <strong>DA</strong> ZONA DE AMORTECIMENTO5.1 Avaliação <strong>do</strong>s impactos sobre o entorno.O critério utiliza<strong>do</strong> para identificação da Zona de Amortecimento foi o daResolução CONAMA 13/90, onde o limite de 10km ao re<strong>do</strong>r da Unidade deveráser o ponto de partida para a definição da Zona, a partir deste limite vai-seaplican<strong>do</strong> critérios para a inclusão, exclusão e ajuste de áreas da zona deamortecimento, aproximan<strong>do</strong>-a ou afastan<strong>do</strong>-a da Unidade. 2O Zoneamento constitui-se em um instrumento de manejo que apóia aadministração na definição das atividades que podem ser desenvolvidas emcada setor, orienta as formas de uso das diversas áreas, ou mesmo proíbedeterminadas atividades por falta de zonas apropriadas.A transição de zonas de proteção e pouca intervenção para aquelas commenor nível de proteção e com grande interferência humana, deve- se dar deforma harmônica e gradual, passan<strong>do</strong>, de preferência, pelas categoriasintermediárias de zonas.Como existe a necessidade de serem “amorteci<strong>do</strong>s” os impactos dasatividades de uma zona para outra, dentro de uma Unidade de Conservação, épreciso “frear-se” os efeitos das atividades externas às Unidades deConservação sobre o interior desta. Muitas Unidades de Conservação temseus limites caracteriza<strong>do</strong>s por mudanças drásticas entre a natureza e aagricultura, a produção madeireira ou o desenvolvimento urbano.Nesses casos é necessária a determinação de um gradiente de zonas, nãosen<strong>do</strong> recomendável estabelecerem-se zonas de alto grau de proteção emáreas que farão limites com aglomera<strong>do</strong>s urbanos ou com quaisquer outrasatividades antrópicas (Miller 1980).Para facilitar a identificação da Zona de Amortecimento, bem como áreas designificância utilizaram-se o georeferenciamento <strong>do</strong>s limites e de marcos nocampo (como sedes <strong>do</strong>s engenhos, trechos <strong>do</strong> rio, barragens, cultivos, etc...).

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