a arma da cultura e os universalismos parciais - Cultura Digital
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Em 2007, o projeto foi amplamente noticiado na grande imprensa. Inicialmentecirculou uma versão distorci<strong>da</strong>, pois afirmava que uma <strong>da</strong>s ementas estaria propondo ‗ odesvio de recurs<strong>os</strong>‘ <strong>da</strong> lei Rouanet para <strong>os</strong> ‗templ<strong>os</strong> religi<strong>os</strong><strong>os</strong>‘ (Folha de São Paulo,04/04/2007). Notícia divulga<strong>da</strong>, replica<strong>da</strong>, contesta<strong>da</strong> e re-apresenta<strong>da</strong>, a prop<strong>os</strong>tasofreu uma forte reação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, em especial, de artistas e intelectuais.Artistas e celebri<strong>da</strong>des, agentes tradicionalmente envolvid<strong>os</strong> na produção <strong>da</strong> <strong>cultura</strong>nacional como o então ministro <strong>da</strong> <strong>Cultura</strong>, Gilberto Gil, vieram a público manifestar-secontra a prop<strong>os</strong>ta. A associação automática do projeto de lei com uma imagem reifica<strong>da</strong><strong>da</strong> IURD como a ―igreja mercantil que confunde <strong>os</strong> pobres para tirar dinheiro deles‖imp<strong>os</strong>sibilitou um exame mais ponderado <strong>da</strong> prop<strong>os</strong>ta, levando em conta inclusive seusp<strong>os</strong>síveis efeit<strong>os</strong> p<strong>os</strong>itiv<strong>os</strong>, na distribuição mais democrática d<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> do FundoNacional <strong>da</strong> <strong>Cultura</strong> (FNC). Em 2009, o senador João Tenório assinou um parecerfavorável à modificação do primeiro ponto, mas contrário ao segundo. Neste últimocaso, o senador Marcello Crivella, que talvez pretendesse utilizar a ‗<strong>arma</strong> <strong>da</strong> <strong>cultura</strong>‘para atender interesses de sua própria clientela religi<strong>os</strong>a e de parceir<strong>os</strong> mais próxim<strong>os</strong>,acabou ‗<strong>da</strong>ndo um tiro pela culatra‘.Nesta comunicação vou explorar <strong>os</strong> argument<strong>os</strong> implícit<strong>os</strong> no caso do projeto delei de Crivella seguindo as seguintes questões: porque <strong>os</strong> evangélic<strong>os</strong>, esses agentesreligi<strong>os</strong><strong>os</strong> que têm sido tão eficazes na conquista de um espaço no campo <strong>da</strong> política nocenário nacional (Freston 1993, Oro, Corten e Dozon 2003, Burity e Machado 2003,Machado 2006), têm tido uma atuação tão marca<strong>da</strong>mente desastr<strong>os</strong>a no terreno <strong>da</strong><strong>cultura</strong>? Porque quando esses líderes tentam apropriar-se <strong>da</strong> linguagem ‗<strong>da</strong> <strong>cultura</strong>‘ ebuscam apresentar <strong>os</strong> seus ‗objet<strong>os</strong> sagrad<strong>os</strong>‘ como ‗objet<strong>os</strong> de <strong>cultura</strong> e de arte‘, estes,ao invés de encontrar o conforto do reconhecimento social, são remetid<strong>os</strong> ao campo doespúrio, do não autêntico, do mercado?Porque não é raro ouvir d<strong>os</strong> líderes evangélic<strong>os</strong>que o que eles fazem ‗não é <strong>cultura</strong>‘, mas algo sagrado que deve ser mantido ‗emseparado‘? Será que <strong>os</strong> evangélic<strong>os</strong> são incapazes de segurar a ‗<strong>arma</strong> <strong>da</strong> <strong>cultura</strong>‘ poralgum defeito congênito?O primeiro passo que tomo para explorar estas questões é o <strong>da</strong> atenção adiversi<strong>da</strong>de interna do campo evangélico. De forma alguma a IURD pode ser descritacomo um representante ‗médio‘ deste segmento social. A p<strong>os</strong>ição desta igreja nocampo, muito pelo contrário, é singular, assim como sua história, que é relativamente