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Ciclos Limites da Equação de van der Pol - Unesp

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Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual PaulistaCâmpus <strong>de</strong> São José do Rio PretoInstituto <strong>de</strong> Biociências, Letras e Ciências Exatas<strong>Ciclos</strong> limites e a equação<strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>Pedro Toniol CardinOrientador: Prof. Dr. Paulo Ricardo <strong>da</strong> SilvaDissertação apresenta<strong>da</strong> ao Instituto <strong>de</strong> Biologia, Letras eCiências Exatas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual Paulista, campus<strong>de</strong> São José do Rio Preto, como parte dos requisitospara a obtenção do título <strong>de</strong> Mestre em MatemáticaSão José do Rio PretoMarço - 2008


Aos meus pais,José Carlos Cardin e MariaAntonia Toniol Cardine as minhas queri<strong>da</strong>s irmãs,Juciene e Laila<strong>de</strong>dico.


“É impossível proce<strong>de</strong>r ao infinito na série dos seres que se geram sucessivamente.Deve-se admitir, por isso, que existe um ser necessário que tenha em si to<strong>da</strong> a razão <strong>de</strong>sua existência, e do qual proce<strong>da</strong>m todos os outros seres. A este chamamos Deus.”(São Tomás <strong>de</strong> Aquino)


Agra<strong>de</strong>cimentosA DEUS, que é a fonte e o caminho <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong>.Aos meus pais e minhas duas irmãs pelo apoio e por sempre estarem do meu lado.Ao meu tio Valdir Cardin e sua família que inicialmente me acolheu na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> SãoJosé do Rio Preto e por sua enorme aju<strong>da</strong> na minha vivência e na minha a<strong>da</strong>ptação nestenovo lugar.A minha namora<strong>da</strong> pelo incondicional amor e por sua paciente espera.Aos meus amigos <strong>de</strong> república e <strong>da</strong> minha ci<strong>da</strong><strong>de</strong> Ilha Solteira, pelos momentos <strong>de</strong><strong>de</strong>scontração.Aos meus amigos <strong>da</strong> minha turma <strong>de</strong> pós-graduação, e <strong>de</strong>mais amigos <strong>da</strong> <strong>Unesp</strong> pelocompanheirismo em todos os momentos.Aos meus professores <strong>de</strong> graduação e pós-graduação. Em especial ao Prof o . Dr. PauloRicardo <strong>da</strong> Silva, pela orientação, incentivo, crença e paciência na elaboração <strong>de</strong>ste trabalho.A to<strong>da</strong>s as pessoas e funcionários do IBILCE que, direta ou indiretamente, contribuírampara a elaboração <strong>de</strong>ste trabalho.A CAPES pelo auxílio financeiro.


ResumoNesta dissertação estu<strong>da</strong>mos critérios para <strong>de</strong>terminar a existência, a não existência e aunici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ciclos limites <strong>de</strong> campos <strong>de</strong> vetores planares. Mais especificamente, estu<strong>da</strong>mosequações <strong>de</strong> Lienard ẍ + f(x, ẋ)ẋ + g(x) = 0, on<strong>de</strong> f e g satisfazem <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>shipóteses. Em particular estu<strong>da</strong>mos a equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> ẍ + ε(x 2 − 1)ẋ + x = 0,a qual é conheci<strong>da</strong> <strong>da</strong> teoria dos circuitos elétricos. Provamos a existência e a unici<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> ciclos limites para estas equações. Por fim estu<strong>da</strong>mos a equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> como parâmetro ε ↑ ∞ e o fenômeno canard que ocorre ao consi<strong>de</strong>rarmos um parâmetroadicional α. As técnicas utiliza<strong>da</strong>s são as usuais <strong>de</strong> Análise Assintótica.Palavras chave: <strong>Ciclos</strong> limites, campo <strong>de</strong> vetores planares, bifurcação <strong>de</strong>Hopf, equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>, sistemas <strong>de</strong> Lienard.


AbstractIn this work we study the existence, the non existence and the uniqueness of limit cycles ofplanar vector fields. More specifically, we study Lienard equations ẍ+f(x, ẋ)ẋ+g(x) = 0,where f and g satisfy some hypothesis. In particular we study the <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> equationẍ + ε(x 2 − 1)ẋ + x = 0, which is knew of the circuit theory. We prove the existence andthe uniqueness of limit cycles for these equations. In the last part we study the <strong>van</strong> <strong>de</strong>r<strong>Pol</strong> equation with the parameter ε ↑ ∞ and the canard phenomenon which appears whenwe consi<strong>de</strong>r an additional parameter α. The techniques employed are the usual in theAsymptotic Analysis.Key words: Limit cycles, planar vector fields, Hopf bifurcation, <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>equation, Lienard systems.


SumárioIntrodução 91 Fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> Teoria Qualitativa 121.1 Campos vetoriais e fluxos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121.2 Retrato <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> um campo vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161.3 Equivalência e conjugação <strong>de</strong> campos vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . 221.4 Estrutura local dos pontos singulares hiperbólicos . . . . . . . . . . . . . . 261.5 Estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> local segundo Liapunov . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 272 Campos Planares 312.1 Órbitas periódicas e o critério <strong>de</strong> Bendixson . . . . . . . . . . . . . . . . . 312.2 O teorema <strong>de</strong> Poincaré–Bendixson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 352.3 Fluxos e conjuntos limites em superfícies . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 422.4 <strong>Ciclos</strong> limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 462.5 Estrutura local <strong>da</strong>s órbitas periódicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 492.5.1 A transformação <strong>de</strong> Poincaré . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 493 A Equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> para Circuitos Elétricos 533.1 Circuito elétrico RLC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 533.2 A equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 563.3 Uma bifurcação <strong>de</strong> Andronov–Hopf . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 664 Sistemas <strong>de</strong> Lienard 717


84.1 Existência <strong>de</strong> soluções periódicas para equações <strong>de</strong> Lienard via Poincaré–Bendixson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 734.2 Existência <strong>de</strong> centros para equações <strong>de</strong> Lienard . . . . . . . . . . . . . . . 764.3 <strong>Ciclos</strong> limites <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> Lienard . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 814.3.1 Alguns resultados recentes sobre ciclos limites <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> Lienard 864.4 O 16 ◦ Problema <strong>de</strong> Hilbert . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 915 A Equação ẍ + ε(x 2 − 1)ẋ + x = 0 com ε → +∞ 935.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 935.2 Os problemas e os resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 965.3 Alguns teoremas básicos <strong>de</strong> aproximação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1035.4 Relaxamento <strong>de</strong> oscilação clássico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1075.4.1 O fluxo–rápido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1085.4.2 As varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s estável e instável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1105.4.3 Saindo <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1165.4.4 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1215.5 O Fenômeno Canard . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1235.5.1 O caso <strong>de</strong>generado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1245.5.2 O caso geral: análises . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1275.5.3 Patos sub–críticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131Referências Bibliográficas 135


IntroduçãoO estudo global <strong>da</strong>s curvas que são <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s por equações diferenciais tem seu início coma memória <strong>de</strong> Henry Poincaré num artigo publicado em 1881, “Sur les courbes définies parune équation différentielle”. Iniciou-se com este trabalho uma linha <strong>de</strong> pensamento e <strong>de</strong>contribuições conheci<strong>da</strong> como Teoria Qualitativa <strong>da</strong>s Equações Diferenciais Ordinárias, naqual a pesquisa sobre ciclos limites, que são órbitas periódicas isola<strong>da</strong>s, é uma <strong>da</strong>s partesmais interessantes e difíceis. Questões como a não existência, a existência, a unici<strong>da</strong><strong>de</strong> eoutras proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos ciclos limites tem sido estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s extensivamente. São conhecidosos métodos <strong>de</strong> Bendixson-Dulac, para a não existência; o Teorema <strong>de</strong> Poincaré-Bendixson,para a existência; métodos <strong>de</strong> Poincaré, Andronov, Cherkas, Levinson, Leontovich, Lienard,Massera entre outros, para a unici<strong>da</strong><strong>de</strong>; e a análise <strong>da</strong> Aplicação <strong>de</strong> Primeiro Retorno<strong>de</strong> Poincaré <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> numa seção transversal ao fluxo planar, para estudo <strong>da</strong> estabili<strong>da</strong><strong>de</strong>.Os ciclos limites <strong>de</strong> campos <strong>de</strong> vetores foram <strong>de</strong>finidos por Poincaré. No final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong><strong>de</strong> 20 <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>, Lienard e Andronov, no estudo <strong>de</strong> oscilações não–lineares <strong>de</strong> fenômenoselétricos, obtiveram certas equações especiais <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> or<strong>de</strong>m para as quais ocorriamos ciclos limites i<strong>de</strong>alizados por Poincaré. Des<strong>de</strong> então, a não existência, a existência, aunici<strong>da</strong><strong>de</strong> e outras proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos ciclos limites foram estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s extensivamente pormatemáticos e físicos, e mais recentemente também por químicos, biólogos e economistas.O método mais conhecido para provar a não existência <strong>de</strong> ciclos limites em umaregião simplesmente conexa do plano é o método <strong>de</strong> Bendixson-Dulac e algumas <strong>de</strong> suasvariações. O método <strong>da</strong>s funções <strong>de</strong> Dulac também dá limites superiores para o número<strong>de</strong> trajetórias fecha<strong>da</strong>s em regiões multiplamente conexas.O conhecido Teorema <strong>de</strong> Poincaré–Bendixson nos fornece um caminho para provarmosa existência <strong>de</strong> ciclos limites quando temos convenientes condições satisfeitas. O problema9


10<strong>da</strong> unici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um ciclo limite para um <strong>de</strong>terminado sistema é, em geral, mais difícil quea existência. Alguns critérios para a unici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ciclos limites po<strong>de</strong>m ser obtidos usandoa estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> ou a instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos ciclos limites. Existem métodos para a unici<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvidos por Poincaré, Andronov, Cherkas, Levinson, Leontovich, Lienard, Massera,Sansone, Zhang Zhifen e muitos outros.Um dos métodos mais eficientes para se estu<strong>da</strong>r problemas <strong>de</strong> existência e unici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ciclos limites no plano é a análise <strong>da</strong> aplicação <strong>de</strong> primeiro retorno <strong>de</strong> Poincaré, <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>numa seção transversal ao fluxo. Infelizmente, tal análise em geral não é muito simples.Os problemas mais difíceis aparecem quando um sistema planar apresenta mais queum ciclo limite e tentamos enten<strong>de</strong>r sua distribuição sobre o plano. De fato, o problemamais famoso sobre ciclos limites é <strong>de</strong>vido ao matemático alemão David Hilbert; conhecidocomo 16 ◦ Problema <strong>de</strong> Hilbert:Qual é o número máximo <strong>de</strong> ciclos limites para um campo <strong>de</strong> vetorespolinomial <strong>de</strong> grau menor ou igual a n e quais são as suas posições relativas no plano?Outro interessante problema é <strong>de</strong>terminar o número <strong>de</strong> ciclos limites que bifurcam <strong>de</strong>um ponto crítico, <strong>de</strong> um gráfico ou ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> um centro.No presente trabalho nos propomos a estu<strong>da</strong>r os diferentes critérios para <strong>de</strong>terminar aexistência, a não existência e a unici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ciclos limites <strong>de</strong> campos <strong>de</strong> vetores planares.Para isso, começamos no primeiro capítulo a relembrar os fun<strong>da</strong>mentos básicos <strong>da</strong> TeoriaQualitativa <strong>da</strong>s Equações Diferenciais Ordinárias. No segundo capítulo provamosalguns critérios (como o critério <strong>de</strong> Bendixson e o Teorema <strong>de</strong> Poincaré–Bendixson) paraa não–existência ou existência <strong>de</strong> ciclos limites <strong>de</strong> sistemas planares. No terceiro capítuloiniciamos o estudo <strong>da</strong> famosa equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>, fazendo um estudo completo do retrato<strong>de</strong> fase para um caso particular <strong>de</strong>sta equação, a saber, quando o parâmetro ε é iguala 1. No quarto capítulo nos atemos ao estudo dos chamados Sistemas <strong>de</strong> Lienard, dosquais a equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> é um caso particular. Terminamos este capítulo fazendoum pequeno relato sobre o 16 o Problema <strong>de</strong> Hilbert. Finalmente, no quinto capítulo,estu<strong>da</strong>mos novamente a equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> agora com o parâmetro ε ten<strong>de</strong>ndo aoinfinito. Veremos que, se introduzirmos mais um parâmetro α na equação, constataremos


11o surgimento <strong>de</strong> um fenômeno que foi <strong>de</strong>nominado pelos matemáticos que o <strong>de</strong>scobriram<strong>de</strong> Fenômeno Canard, que será <strong>de</strong>scrito naquele capítulo.


Capítulo 1Fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> Teoria QualitativaNeste capítulo apresentamos alguns conceitos e resultados fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> Teoria Qualitativa<strong>da</strong>s Equações Diferenciais Ordinárias que serão utilizados no <strong>de</strong>correr do texto.Para um <strong>de</strong>senvolvimento mais amplo <strong>de</strong>stes assuntos, recomen<strong>da</strong>mos a leitura <strong>da</strong> terceiraparte <strong>de</strong> [14].1.1 Campos vetoriais e fluxosSeja U um subconjunto aberto do espaço euclidiano R n . Um campo vetorial <strong>de</strong> classeC r , 1 ≤ r ≤ ∞ ou r = ω, em U é uma aplicação X : U → R n <strong>de</strong> classe C r . Isto é, as<strong>de</strong>riva<strong>da</strong>s parciais, até or<strong>de</strong>m r <strong>de</strong> X se r < ∞, e to<strong>da</strong>s se r = ∞, existem e são contínuasem U; se r = ω, o campo é analítico em U, isto é, a série <strong>de</strong> Taylor <strong>de</strong> X em todo ponto<strong>de</strong> U converge uniformemente para X numa vizinhança <strong>de</strong>sse ponto.Ao campo vetorial X está associado a equação diferencialx ′ = X(x), on<strong>de</strong> x ′ = dxdt(1.1)e reciprocamente, à equação diferencial (1.1) está associado o campo <strong>de</strong> vetores X.As soluções <strong>de</strong>sta equação, isto é, as aplicações diferenciáveis ϕ : I → U (I intervalo<strong>da</strong> reta) tais queϕ ′ (t) = dϕ (t) = X(ϕ(t)) (1.2)dtpara todo t ∈ I, são chama<strong>da</strong>s trajetórias ou curvas integrais <strong>de</strong> X.12


13Figura 1.1: Trajetórias do campo X.Um ponto x 0 ∈ U é dito ponto singular <strong>de</strong> X se X(x 0 ) = 0 e ponto regular <strong>de</strong> X seX(x 0 ) ≠ 0.Se x 0 é ponto singular então ϕ(t) = x 0 , t ∈ R, é solução <strong>de</strong> (1.1). Reciprocamente, seϕ(t) = x 0 , t ∈ R, é solução <strong>de</strong> (1.1) então x 0 é ponto singular <strong>de</strong> X, pois0 = ϕ ′ (t) = X(ϕ(t)) = X(x 0 ).Uma trajetória ϕ : I → U <strong>de</strong> X chama-se máxima se para to<strong>da</strong> trajetória ψ : J → Utal que I ⊆ J e ϕ = ψ| I se tenha I = J e conseqüentemente ϕ = ψ. Neste caso I chama-seintervalo máximo.A equação (1.1) (ou (1.2)) admite a seguinte interpretação geométrica: ϕ é uma curvaintegral <strong>de</strong> X se, e somente se, seu vetor veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> ϕ ′ (t) em t coinci<strong>de</strong> com o valor docampo X em ϕ(t). Veja a figura 1.1.Uma equação diferencial do tipo (1.1) é chama<strong>da</strong> equação diferencial autônoma, <strong>de</strong>vidoao fato que o campo X in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> variável t.Teorema 1.1.1. Seja X um campo vetorial <strong>de</strong> classe C r , 1 ≤ r ≤ ∞ ou r = ω.a) (Existência e unici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> soluções máximas). Para ca<strong>da</strong> x ∈ U existeum intervalo aberto I x on<strong>de</strong> está <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> a única solução máxima ϕ x <strong>de</strong> (1.1) tal queϕ x (0) = x.


14b) (Proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> grupo). Se y = ϕ x (t) e t ∈ I x , então I y = I x − t = {r − t : r ∈I x } e ϕ y (s) = ϕ x (t + s) para todo s ∈ I y .c) (Regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> com relação às condições iniciais). O conjunto Ω = {(t, x) :x ∈ U, t ∈ I x } é aberto em R n+1 e a aplicação ϕ : Ω → R n <strong>da</strong><strong>da</strong> por ϕ(t, x) = ϕ x (t) é <strong>de</strong>classe C r , 1 ≤ r ≤ ∞ ou r = ω, em Ω.Demonstração – Ver [14], pgs. 211 e 239. Observamos que esta <strong>de</strong>monstração valetambém quando R n é substituído por um espaço <strong>de</strong> Banach E, veja [8].Definição 1.1.2. A aplicação ϕ : Ω → U chama-se fluxo gerado por X.Note que as condições <strong>da</strong> <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> fluxo <strong>de</strong> classe C r estão satisfeitas, isto é,ϕ(0, x) = x e ϕ(t + s, x) = ϕ(t, ϕ(s, x)), sendo que a última condição é váli<strong>da</strong> apenas nascondições do teorema 1.1.1. É claro que se I x = R para todo x, o fluxo gerado por X éum fluxo <strong>de</strong> classe C r em U. Entretanto, muitas vezes I x ≠ R. Por este motivo o fluxogerado por X é chamado freqüentemente <strong>de</strong> fluxo local ou grupo local a um parâmetrogerado por X. Esta última <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong>corre do fato <strong>de</strong> que a condição b) do teorema1.1.1 <strong>de</strong>fine, quando Ω = R × U, um homomorfismo do grupo aditivo dos reais no grupodos difeomorfismos <strong>de</strong> classe C r <strong>de</strong> U munido <strong>da</strong> operação <strong>de</strong> composição. Ou seja, ohomomorfismo é t ↦→ ϕ t , e temos ϕ t+s = ϕ t ◦ ϕ s e ϕ −t = ϕ −1t , para ϕ t (x) = ϕ(t, x). Éváli<strong>da</strong> assim a imagem <strong>de</strong> que os pontos <strong>de</strong> U fluem ao longo <strong>da</strong>s trajetórias <strong>de</strong> X domesmo modo que um fluido <strong>de</strong>sloca-se ao longo <strong>de</strong> suas linhas <strong>de</strong> corrente.Corolário 1.1.3. Seja X um campo vetorial C r , r ≥ 1, em U ⊆ R n . Se x ∈ U eI x = (ω − (x), ω + (x)) é tal que ω + (x) < ∞ (resp. ω − (x) > −∞) então ϕ x (t) ten<strong>de</strong> a∂U quando t → ω + (x) (resp. t → ω − (x)), isto é, para todo compacto K ⊆ U existeε = ε(K) > 0 tal que se t ∈ [ω + (x) − ε, ω + (x)) (resp. t ∈ (ω − (x), ω − (x) + ε]) entãoϕ x (t) ∉ K.Demonstração – Por contradição suponhamos que exista um compacto K ⊆ Utal que para todo ε > 0 exista t ε ∈ [ω + (x) − ε, ω + (x)) tal que ϕ x (t ε ) ∈ K. Então,em particular, para ca<strong>da</strong> n ∈ IN existe t n ∈ [ω + (x) − 1 , ω n +(x)) tal que ϕ x (t n ) ∈ K.


15É claro que t n → ω + (x). Pela compaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> K, passando a uma subseqüência senecessário, po<strong>de</strong>mos supor que a seqüência (ϕ x (t n )) n∈IN converge a um ponto x 0 ∈ K.Sejam b > 0 e α > 0 tais que B b × I α ⊆ Ω, on<strong>de</strong> B b = {y ∈ R n : |y − x 0 | ≤ b} ⊆ Ue I α = {t ∈ R : |t| < α}. Observe que é possível escolher α > 0 tal que B b × I α ⊆ Ω.Com efeito, basta encontrarmos r > 0 tal que B(x 0 , r) ⊂ U e lembrarmos que, conformeo Teorema <strong>de</strong> Existência e Unici<strong>da</strong><strong>de</strong>, o comprimento do intervalo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas do re <strong>da</strong> constante <strong>de</strong> limitação do campo X em B(x 0 , r) ⊂ U. (Para mais <strong>de</strong>talhes veja[2], Teorema 10.12, página 385). Para encontrar r > 0 tal que B(x 0 , r) ⊂ U supomos ocontrário, ou seja, supomos que∀r > 0, ∃ x r ∈ K , B(x r , r) U.Assim, tomando r = 1 ntemos que∃ x n ∈ K, ∃ x ′ n ∉ U , |x ′ n − x n | < 1 n .Como K é compacto, po<strong>de</strong>mos supor, sem per<strong>da</strong> <strong>de</strong> generali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que existe x ∈ K talque x n → x. Assim também temos x ′ n → x ∈ K ⊂ U. Como U é aberto, existe umabola <strong>de</strong> centro em x conti<strong>da</strong> em U, mas isso é uma contradição já que <strong>de</strong>sta forma x ′ npertenceria a essa bola para n suficientemente gran<strong>de</strong> e portanto x ′ n também estaria emU para n suficientemente gran<strong>de</strong>.Prosseguindo, temos pela parte (c) do teorema 1.1.1, Ω é aberto. Pela parte (b),ϕ x (t n + s) está <strong>de</strong>finido para s < α e coinci<strong>de</strong> com ϕ y (s) para n suficientemente gran<strong>de</strong>,on<strong>de</strong> y = ϕ x (t n ). Mas então t n + s > ω + (x), contradição.Corolário 1.1.4. Se ϕ é uma solução <strong>de</strong> (1.1) <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> no intervalo máximo I e ϕ(t 1 ) =ϕ(t 2 ) para t 1 ≠ t 2 , então I = R e ϕ(t + c) = ϕ(t) para todo t, on<strong>de</strong> c = t 2 − t 1 . Isto é, ϕé periódica.Demonstração – Definindo ψ : [t 2 , t 2 + c] → R n por ψ(t) = ϕ(t − c), tem-seψ ′ (t) = ϕ ′ (t − c) = X(ϕ(t − c)) = X(ψ(t)) e ψ(t 2 ) = ϕ(t 1 ) = ϕ(t 2 ). Em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong>unici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s soluções, tem-se [t 2 , t 2 + c] ⊆ I e ϕ(t) = ϕ(t + c) se t ∈ [t 1 , t 2 ]. Prosseguindo


16<strong>de</strong>sta maneira, obtemos I = R e ϕ(t + c) = ϕ(t) para todo t ∈ R.Antes <strong>de</strong> finalizar esta seção, <strong>da</strong>remos a <strong>de</strong>finição do que vem a ser um conjunto limite.Este conceito será usado para <strong>de</strong>monstrar o último teorema <strong>de</strong>ste capítulo e será bastanteexplorado no Capítulo 2.Definição 1.1.5. Seja X : U → R n um campo <strong>de</strong> classe C 1 no aberto U ⊆ R n . Seω + (p) = +∞, <strong>de</strong>finimos o conjunto ω–limite do ponto p ∈ U (e <strong>de</strong>notaremos por ω(p))como sendo o conjunto dos pontos q ∈ U para os quais existe uma seqüência t n → +∞tal queϕ(t n , p) → q.Analogamente, se ω − (p) = −∞, <strong>de</strong>finimos o conjunto α–limite do ponto p ∈ U comosendo o conjunto α(p) dos pontos q ∈ U para os quais existe uma seqüência t n → −∞ talqueϕ(t n , p) → q.Prova-se que o conjunto ω–limite <strong>de</strong> um ponto x ∈ U é fechado e invariante. Casoa semi-órbita positiva O + (x) = {ϕ x (t) : 0 ≤ t ≤ ω + (x)} seja limita<strong>da</strong> então ω(x) écompacto, conexo e não-vazio. Se y ∈ ω(x) então ω(y) = ω(x). Resultados análogos valemtambém para o conjunto α–limite. As provas <strong>de</strong>stas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser encontra<strong>da</strong>sem [14], Teorema 5, página 245.1.2 Retrato <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> um campo vetorialDefinição 1.2.1. O conjunto O(p) = {ϕ(t, p) : t ∈ I p }, isto é, a imagem <strong>da</strong> curva integral<strong>de</strong> X pelo ponto p, chama-se órbita <strong>de</strong> X pelo ponto p.Observe queq ∈ O(p) ⇔ O(p) = O(q)pois se q ∈ O(p), q = ϕ(t 1 , p) e ϕ(t, q) = ϕ(t, ϕ(t 1 , p)) = ϕ(t + t 1 , p) e I p − t 1 = I q .Em outros termos, duas órbitas <strong>de</strong> X coinci<strong>de</strong>m ou são disjuntas. Isto é, U fica<strong>de</strong>composto numa união disjunta <strong>de</strong> curvas diferenciáveis, po<strong>de</strong>ndo ca<strong>da</strong> uma ser:


171. Imagem biunívoca <strong>de</strong> um intervalo <strong>de</strong> R;2. Um ponto;3. Homeomorfa a um círculo.No segundo caso {p} = O(p), a órbita chama-se órbita singular; no terceiro caso aórbita chama-se fecha<strong>da</strong> ou periódica. O leitor interessado po<strong>de</strong> verificar em [14], pg.217, que em termos <strong>da</strong> trajetória máxima ϕ <strong>de</strong> (1.1) em I, os ítens acima correspon<strong>de</strong>màs seguintes alternativas:1. ϕ é injetora;2. I = R e ϕ é constante;3. I = R e ϕ é periódica, isto é, existe um c > 0 tal que ϕ(t + c) = ϕ(t) para todot ∈ R, e ϕ(t 1 ) ≠ ϕ(t 2 ) se |t 1 − t 2 | < c.Definição 1.2.2. O conjunto aberto U, munido <strong>da</strong> <strong>de</strong>composição em órbitas <strong>de</strong> X, chamaseretrato <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> X. As órbitas são orienta<strong>da</strong>s no sentido <strong>da</strong>s curvas integrais docampo X.Nas representações gráficas indicamos o sentido positivo <strong>de</strong> percurso <strong>da</strong>s órbitas pormeio <strong>de</strong> setas.Exemplo 1. Vamos <strong>de</strong>screver o retrato <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> um campo X = (P, Q) em R 2 , on<strong>de</strong>P (x, y) = P (x) é uma função contínua que tem um número finito <strong>de</strong> zeros, a sabera 1 < a 2 < . . . < a n e Q(x, y) = −y. Denotamos a 0 = −∞ e a n+1 = ∞.Em ca<strong>da</strong> intervalo (a i , a i+1 ), i = 0, 1, . . . , n, P tem sinal constante. Fixemos umintervalo (a i , a i+1 ) no qual P é positivo. Então, se x ∈ (a i , a i+1 ) temos que ϕ(t, x), asolução <strong>de</strong> x ′ = P (x) por x, é estritamente crescente no seu intervalo máximo I x =(ω − (x), ω + (x)).Além disso po<strong>de</strong>mos afirmar que:i) Quando t → ω − (x), ϕ(t, x) → a i e quando t → ω + (x), ϕ(t, x) → a i+1 .


18Figura 1.2: Gráfico <strong>de</strong> P .Figura 1.3: Retrato <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> X.De fato: Se ϕ(t, x) → b > a i quando t → ω − (x), como ϕ(t, b) é estritamente crescentesegue-se que as órbitas O(x) e O(b) se interceptam, e em conseqüência O(x) = O(b) oque é uma contradição. Isto mostra que ϕ(t, x) → a i se t → ω − (x). Da mesma formavê-se que ϕ(t, x) → a i+1 se t → ω + (x).ii) Se i ≥ 1 temos que ω − (x) = −∞, pois para todo t ∈ I x temos ϕ(t, x) > a i > −∞,e isso implica <strong>de</strong>vido ao corolário 1.1.3 que ω − (x) = −∞.iii) Se i < n temos que ω + (x) = ∞, pois <strong>da</strong> mesma forma que (ii), para todo t ∈ I xtemos que ϕ(t, x) < a i+1 < ∞ e isso implica novamente pelo corolário 1.1.3 que ω + (x) =∞.Uma análise similar po<strong>de</strong> ser utiliza<strong>da</strong> para estu<strong>da</strong>r o caso em que P (x) é negativo nointervalo (a i , a i+1 ).É claro que se ψ(t, y) é solução <strong>de</strong> y ′ = Q(x, y) = −y então ψ(t, y) = ye −t .Assim, o fluxo <strong>de</strong> X é <strong>da</strong>do por φ(t, x, y) = φ (x,y) (t) = (ϕ(t, x), ye −t ).O gráfico <strong>de</strong> P e o retrato <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> X po<strong>de</strong>m ser vistos nas figuras 1.2 e 1.3. □Exemplo 2. Sistemas bidimensionais simples. São bem conhecidos os retratos <strong>de</strong> fasedos sistemas x ′ = Ax + r(x), on<strong>de</strong> A é uma matriz 2 × 2 com <strong>de</strong>t A ≠ 0 e r é <strong>de</strong> classe C 1em R 2 com jacobiano Dr(0) = 0. Teremos que to<strong>da</strong>s as configurações que apresentaremosdo sistema linear x ′ = Ax, com algumas exceções (a saber, quando os pontos singularesnão forem hiperbólicos, conceito que introduziremos adiante), continuarão váli<strong>da</strong>s para


19Figura 1.4: Caso a 1 : nó atrator (λ 2 < λ 1 < 0), caso a 2 : nó repulsor ou fonte (λ 2 > λ 1 > 0).o sistema não–linear x ′ = Ax + r(x) numa vizinhança do ponto singular (0, 0). Maisprecisamente, o retrato <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> x ′ = Ax + r(x) numa vizinhança <strong>de</strong> (0, 0) é a imagemdo retrato <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> x ′ = Ax por um homeomorfismo h, próximo <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>finidonuma vizinhança <strong>de</strong> (0, 0).A condição <strong>de</strong>t A ≠ 0 diz que a origem 0 ∈ R 2 é o único ponto singular do sistemalinear. O tipo <strong>de</strong> ponto singular em x = 0 ∈ R 2 e suas características <strong>de</strong> estabili<strong>da</strong><strong>de</strong>são <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s pelos autovalores λ 1 , λ 2 <strong>da</strong> matriz <strong>de</strong> coeficientes A. Por sua vez, osautovalores <strong>de</strong> A são as raízes do polinômio característicop(λ) = λ 2 − (traçoA)λ + <strong>de</strong>tAdo qual obtemosDistinguimos os seguintes casos:λ 1 , λ 2 = traçoA ± √ (traçoA) 2 − 4 <strong>de</strong>tA2a) Os autovalores λ 1 , λ 2 <strong>de</strong> A são reais e distintos.b) Os autovalores são complexos conjugados: λ 1 = α + iβ e λ 2 = ¯λ 1 = α − iβ, com β ≠ 0.c) Os autovalores são reais e iguais: λ 1 = λ 2 = λ ≠ 0.Denotamos por E 1 e E 2 os subespaços gerados pelos vetores que compõem uma base<strong>de</strong> R 2 na qual a matriz <strong>da</strong> parte linear está em forma canônica <strong>de</strong> Jor<strong>da</strong>n.A partir <strong>de</strong>sses três casos, são gerados os seguintes subcasos, como esboçados nasfiguras 1.4, 1.5, 1.6, 1.7 e 1.8.Como mencionado acima, pequenas perturbações em alguns dos, ou todos os, coefi-.


20Figura 1.5: Caso a 3 : sela (λ 2 > 0 > λ 1 ).Figura 1.6: Caso b 1 : centro (α = 0), caso b 2 : foco estável (α < 0), caso b 3 : foco instável (α > 0).Figura 1.7: Caso c 1 : nó próprio atrator(λ < 0), caso c ′ 1: nó próprio repulsor (λ > 0).


21Figura 1.8: Caso c 2 : nó impróprio atrator(λ < 0), caso c ′ 2: nó impróprio repulsor (λ > 0).cientes <strong>da</strong> matriz A, são refleti<strong>da</strong>s em pequenas perturbações nos autovalores. No casodo centro, isto é, quando os autovalores são imaginários puros, uma ligeira mu<strong>da</strong>nça noscoeficientes, faz com que os autovalores λ 1 e λ 2 tenham novos valores λ ′ 1 = α ′ + iβ ′ eλ ′ 2 = α ′ − iβ ′ , on<strong>de</strong> α ′ é pequeno em valor absoluto e β ′ ≈ β. Se α ′ ≠ 0, o que acontecequase sempre, então as trajetórias do sistema perturbado são espirais.Se os autovalores λ 1 e λ 2 são iguais, a singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> é um nó. Pequenas perturbaçõesnos coeficientes, normalmente fazem com que as raízes iguais se separem. Se as raízessepara<strong>da</strong>s são reais, então a singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> do sistema perturbado permanece um nó, masse as raízes separa<strong>da</strong>s são complexas conjuga<strong>da</strong>s, então a singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> torna-se um pontoespiral.□O exemplo seguinte mostra um dos novos casos on<strong>de</strong> o homeomorfismo h mencionadoanteriormente é global e explícito.Exemplo 3. Seja X : R 2 → R 2 <strong>da</strong>do por X(x, y) = (x, −y + x 3 ). O fluxo <strong>de</strong> X é <strong>da</strong>doporon<strong>de</strong> t ∈ R e (a, b) ∈ R 2 .ϕ(t, (a, b)) =(ae t ,(b − a34)e −t + a34 e3t )Consi<strong>de</strong>re a “sela” Y (x, y) = (x, −y) e seja ψ(t, p) o seu fluxo. Então h : R 2 → R 2<strong>da</strong><strong>da</strong> por h(x, y) = (x, y + x3 ) satisfaz h(ψ(t, p)) = ϕ(t, h(p)). De fato, um cálculo simples4


22Figura 1.9: Retrato <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> Y e <strong>de</strong> X do exemplo 3.nos dá que o fluxo <strong>de</strong> Y é ψ(t, (a, b)) = (ae t , be −t ). Assim, temos quePor outro lado,h(ψ(t, (a, b))) = h(ae t , be −t ) = (ae t , be −t + a34 e3t ).ϕ(t, h(a, b)) = ϕ(t, (a, b + a34 )) = (aet , (b + a34 − a34 )e−t + a34 e3t ) = (ae t , be −t + a34 e3t ).□1.3 Equivalência e conjugação <strong>de</strong> campos vetoriaisIntroduzimos a seguir várias noções <strong>de</strong> equivalência entre dois campos vetoriais, as quaispermitem comparar seus retratos <strong>de</strong> fase.Definição 1.3.1. Sejam X 1 e X 2 campos vetoriais <strong>de</strong>finidos nos abertos U 1 e U 2 doR n , respectivamente. Dizemos que X 1 é topologicamente equivalente (resp. C r –equivalente) a X 2 se existe um homeomorfismo (resp. um difeomorfismo <strong>de</strong> classe C r )h : U 1 → U 2 que leva órbitas <strong>de</strong> X 1 em órbitas <strong>de</strong> X 2 preser<strong>van</strong>do a orientação. Maisprecisamente, se p ∈ U 1 e O 1 (p) é a órbita orienta<strong>da</strong> <strong>de</strong> X 1 passando por p então h(O 1 (p))é a órbita orienta<strong>da</strong> O 2 (h(p)) <strong>de</strong> X 2 passando por h(p).


23Observe que esta <strong>de</strong>finição estabelece uma relação <strong>de</strong> equivalência entre campos <strong>de</strong>finidosem abertos <strong>de</strong> R n , ou seja, é reflexiva, simétrica e transitiva. O homeomorfismo h chamaseequivalência topológica (resp. diferenciável) entre X 1 e X 2 .Definição 1.3.2. Sejam ϕ 1 : Ω 1 → R n e ϕ 2 : Ω 2 → R n os fluxos gerados pelos camposX 1 : U 1 → R n e X 2 : U 2 → R n , respectivamente. Dizemos que X 1 é topologicamenteconjugado (resp. C r – conjugado) a X 2 quando existe um homeomorfismo (resp. umdifeomorfismo <strong>de</strong> classe C r ) h : U 1 → U 2 tal que h(ϕ 1 (t, x)) = ϕ 2 (t, h(x)) para todo(t, x) ∈ Ω 1 .Neste caso, tem-se necessariamente I 1 (x) = I 2 (h(x)). O homeomorfismo h chama-seconjugação topológica (resp. C r – conjugação) entre X 1 e X 2 .A relação <strong>de</strong> conjugação também é uma relação <strong>de</strong> equivalência entre campos <strong>de</strong>finidosem abertos <strong>de</strong> R n . É claro que to<strong>da</strong> conjugação é uma equivalência. Uma equivalência hentre X 1 e X 2 leva ponto singular em ponto singular e órbita periódica em órbita periódica.Se h for uma conjugação, o período <strong>da</strong>s órbitas periódicas também é preservado.Exemplo 4. A função h : R 2 → R 2 <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> por h(x, y) = (x, y + x34 ) é uma Cr – conjugaçãoentre X(x, y) = (x, −y) e Y (x, y) = (x, −y +x 3 ). Com efeito, basta ver o exemplo3 <strong>da</strong> seção anterior. □Exemplo 5. SejamA =⎛⎝ 0 a−a 0⎞⎠ e B =⎛⎝ 0 b−b 0matrizes <strong>de</strong> R 2 com a > 0 e b > 0. Os sistemas x ′ = Ax e x ′ = Bx <strong>de</strong>finem centros cujasórbitas periódicas tem período 2π ae 2π , respectivamente. Se a ≠ b, estes sistemas nãobsão conjugados, pois vimos que uma conjugação preserva o período <strong>da</strong>s órbitas periódicas.Por outro lado, h = Id : R 2 → R 2 é uma C r – equivalência.⎞⎠□O lema seguinte fornece uma caracterização para a conjugação diferenciável. Utilizaremostal lema na <strong>de</strong>monstração do Teorema do Fluxo Tubular a seguir.


24Lema 1.3.3. Sejam X 1 : U 1 → R n e X 2 : U 2 → R n campos <strong>de</strong> classe C r nos abertos U 1U 2 <strong>de</strong> R n e h : U 1 → U 2 um difeomorfismo <strong>de</strong> classe C r . Então h é uma conjugação entreX 1 e X 2 se e somente seDh(p)X 1 (p) = X 2 (h(p)), ∀p ∈ U 1 . (1.3)Demonstração – Sejam ϕ 1 : Ω 1 → U 1 e ϕ 2 : Ω 2 → U 2 os fluxos <strong>de</strong> X 1 e X 2 , respectivamente.Suponhamos que h satisfaz (1.3). Dado p ∈ U 1 , seja ψ(t) = h(ϕ 1 (t, p)), t ∈ I 1 (p).Então ψ é solução <strong>de</strong> x ′ = X 2 (x), x(0) = h(p), poisψ ′ (t) = Dh(ϕ 1 (t, p))· ddt ϕ 1(t, p) = Dh(ϕ 1 (t, p))·X 1 (ϕ 1 (t, p)) (1.3)= X 2 (h(ϕ 1 (t, p))) = X 2 (ψ(t)).Portanto h(ϕ 1 (t, p)) = ϕ 2 (t, h(p)). Logo, h é uma conjugação entre X 1 e X 2 .Reciprocamente, suponhamos que h seja uma conjugação. Então para (t, p) ∈ Ω 1tem-se que h(ϕ 1 (t, p)) = ϕ 2 (t, h(p)). Deri<strong>van</strong>do esta relação com respeito a t em t = 0,obtém-se (1.3).Definição 1.3.4. Sejam X : U → R n um campo <strong>de</strong> classe C r , r ≥ 1, no aberto U ⊆ R ne A ⊆ R n−1 um aberto. Uma aplicação diferenciável f : A → U <strong>de</strong> classe C r chama-seseção transversal local <strong>de</strong> X (<strong>de</strong> classe C r ) quando, para todo a ∈ A, Df(a)(R n−1 ) eX(f(a)) geram o espaço R n .Observação. Consi<strong>de</strong>remos Σ = f(A) munido <strong>da</strong> topologia induzi<strong>da</strong>. Se f : A → Σ forum homeomorfismo, é usual dizermos que Σ é uma seção transversal <strong>de</strong> X.Exemplo 6. Sejam p ∈ U um ponto regular e {v 1 , . . . , v n−1 , X(p)} uma base <strong>de</strong> R n .Consi<strong>de</strong>remos B(0, δ) uma bola <strong>de</strong> R n−1 com centro na origem e raio δ > 0.Para δsuficientemente pequeno, f : B(0, δ) → U <strong>da</strong><strong>da</strong> por f(x 1 , . . . , x n−1 ) = p + ∑ n−1i=1 x iv i éuma seção transversal local <strong>de</strong> X em p.□Teorema 1.3.5 (do fluxo tubular). Sejam p um ponto regular <strong>de</strong> X : U → R n <strong>de</strong> classeC r , 1 ≤ r ≤ ∞ ou r = ω, e f : A → Σ uma seção transversal local <strong>de</strong> X <strong>de</strong> classe C r


25Figura 1.10: Fluxo tubular local na vizinhança <strong>de</strong> um ponto regular.com 0 ∈ A e f(0) = p. Então existem uma vizinhança V <strong>de</strong> p em U e um difeomorfismoh : V → (−ε, ε) × B <strong>de</strong> classe C r , on<strong>de</strong> ε > 0 e B é uma bola aberta em R n−1 <strong>de</strong> centrona origem 0 = f −1 (p) tais que:1. h(Σ ∩ V ) = {0} × B;2. h é uma C r –conjugação entre X |V e o campo constante Y : (−ε, ε) × B → R n <strong>da</strong>dopor Y = (1, 0, 0, . . . , 0) ∈ R n .Demonstração – Sejam ϕ : Ω → U o fluxo <strong>de</strong> X e F : Ω A → U, on<strong>de</strong> Ω A = {(t, u) :(t, f(u)) ∈ Ω}, <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> por F (t, u) = ϕ(t, f(u)). F aplica linhas paralelas em curvasintegrais <strong>de</strong> X. Como DF (0) é um isomorfismo temos, pelo Teorema <strong>da</strong> Função Inversa,que F é um difeomorfismo local em 0 = (0, ¯0) ∈ R × R n−1 .Assim, existem ε > 0 e uma bola B em R n−1 com centro na origem 0 tais que F |(−ε,ε)×Bé um difeomorfismo sobre o aberto V = F ((−ε, ε) × B). Seja h = (F |(−ε,ε)×B ) −1 . Entãoh(Σ ∩ V ) = {0} × B, pois F (0, u) = f(u) ∈ Σ, para todo u ∈ B. Isto prova (1).Por outro lado, h −1 conjuga Y e X, poisDh −1 (t, u) · Y (t, u) = DF (t, u) · (1, 0, . . . , 0) = D 1 F (t, u) == X(ϕ(t, f(u))) = X(F (t, u)) = X(h −1 (t, u))para todo (t, u) ∈ (−ε, ε) × B. Logo pelo lema 1.3.3, h −1 é uma conjugação <strong>de</strong> Y e X, oque prova (2).


26Figura 1.11: Figura relativa ao corolário 1.3.6Corolário 1.3.6. Sejam X um campo <strong>de</strong> classe C r e Σ uma seção transversal <strong>de</strong> X,conforme teorema anterior. Para todo ponto p ∈ Σ existem ε = ε(p) > 0, uma vizinhançaV <strong>de</strong> p em R n e uma função τ : V → R <strong>de</strong> classe C r , 1 ≤ r ≤ ∞ ou r = ω, tais queτ(V ∩ Σ) = 0 e1. para todo q ∈ V , a curva integral ϕ(t, q) <strong>de</strong> X |V é <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> e biunívoca em J q =(−ε + τ(q), ε + τ(q));2. ξ(q) = ϕ(τ(q), q) ∈ Σ é o único ponto on<strong>de</strong> ϕ(., q) |J qq ∈ Σ ∩ V se e somente se τ(q) = 0.intercepta Σ. Em particular,Demonstração – Sejam h, V e ε como no teorema do fluxo tubular. Ponhamosh = (−τ, η). O campo Y <strong>da</strong>quele teorema satisfaz a to<strong>da</strong>s as afirmações acima. Como hé uma C r – conjugação, conclui-se que X também satisfaz estas afirmações.1.4 Estrutura local dos pontos singulares hiperbólicosSeja p um ponto regular <strong>de</strong> um campo vetorial X, <strong>de</strong> classe C r , r ≥ 1. Pelo Teoremado Fluxo Tubular, sabemos que existe um difeomorfismo <strong>de</strong> classe C r que conjuga X, emuma vizinhança <strong>de</strong> p com o campo constante Y = (1, 0, 0, . . . , 0). Conseqüentemente, osdois campos X e Y são localmente C r – conjugados em torno <strong>de</strong> pontos regulares. Por


27causa <strong>de</strong>sta observação po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar satisfatório o conhecimento qualitativo local<strong>da</strong>s órbitas <strong>de</strong> um campo vetorial em torno <strong>de</strong> pontos regulares, sendo que existe apenasuma classe <strong>de</strong> conjugação diferenciável local.Se p é um ponto singular, a situação é bem mais complexa. Mesmo nos sistemaslineares já se apresentam várias classes diferentes <strong>de</strong> conjugação diferenciável. Em R 2temos a sela, o centro, o nó, etc.Nesta seção estu<strong>da</strong>remos os pontos singulares hiperbólicos.Definição 1.4.1. Um ponto singular p <strong>de</strong> um campo vetorial X : U ⊆ R n → R n , <strong>de</strong>classe C r , r ≥ 1, chama-se hiperbólico se todos autovalores <strong>da</strong> matriz jacobiana <strong>de</strong> Xem p, DX(p), tem parte real diferente <strong>de</strong> zero.Prova-se que se X e Y são campos <strong>de</strong> classe C 1 localmente conjugados em vizinhançasdos pontos singulares p e q, respectivamente, então p é hiperbólico se e somente se q éhiperbólico.O teorema seguinte nos garantirá que o comportamento numa vizinhança <strong>de</strong> um pontosingular hiperbólico é sempre mo<strong>de</strong>lado pelo comportamento <strong>da</strong> parte linear.Teorema 1.4.2 (Grobman-Hartman). Sejam X : U → R n um campo vetorial <strong>de</strong> classeC 1 no aberto U ⊆ R n e p um ponto singular hiperbólico. Então existem vizinhanças V <strong>de</strong>p em U e W <strong>de</strong> 0 em R n tais que X |V é topologicamente conjugado a DX(p) |W .A <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong>ste teorema é <strong>da</strong><strong>da</strong> em [14], (capítulo IX, página 294). Na figura(1.12) temos representados os retratos <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> um campo não linear numa vizinhança<strong>de</strong> um ponto singular hiperbólico e <strong>de</strong> seu linearizado.1.5 Estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> local segundo LiapunovNo intuito <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r o comportamento assintótico <strong>de</strong> uma órbita, é interessante usar ométodo <strong>da</strong>s funções <strong>de</strong> Liapunov.


28Figura 1.12: Campo não linear e seu linearizado.Definição 1.5.1. Dados X : U ⊆ R n → R n um campo <strong>de</strong> classe C 1 e p ∈ U umasingulari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> X, temos que• p é estável se <strong>da</strong>do qualquer ε > 0, existe um δ > 0, tal que ‖x − p‖ < δ implica‖ϕ(t, x) − p‖ < ε, para todo t > 0;• p é instável se não for estável;• p é assintoticamente estável se p é estável e, além disso, existe ε > 0, tal que‖x − p‖ < ε implicalim ϕ(t, x) = p;t→+∞• p é assintoticamente instável se p é instável e, além disso, existe ε > 0, tal que‖x − p‖ < ε implicalim ϕ(t, x) = p.t→−∞Sejam X : U ⊆ R n → R n um campo <strong>de</strong> classe C 1 no aberto U e f : U → R umafunção também <strong>de</strong> classe C 1 . Definimos a <strong>de</strong>riva<strong>da</strong> <strong>de</strong> f na direção <strong>de</strong> X no ponto p ∈ UporX · f(p) = ∇f(p) · X(p).Definição 1.5.2. Dados o campo X, a função f como acima e p ∈ U ponto singular <strong>de</strong>X, temos que


291. f é função <strong>de</strong> Liapunov para o campo X se f(x) ≥ 0 para todo x ∈ U, f(x) = 0se, e somente se, x = p e X · f(x) ≤ 0, para todo x ∈ U;2. f é função <strong>de</strong> Liapunov estrita para o campo X se f é função <strong>de</strong> Liapunov ealém disso X · f(x) = 0 se, e somente se, x = p.Observação. Note que a condição X · f(x) ≤ 0, para todo x ∈ U e X · f(x) = 0 se,e somente se, x = p, significa que as trajetórias <strong>de</strong> X cruzam os níveis <strong>de</strong> f no sentido<strong>de</strong>crescente. De fato, se ϕ(t, x) é a trajetória <strong>de</strong> X pelo ponto regular x numa vizinhança<strong>de</strong> p então ϕ(t, x) ≠ p e portantoddf(ϕ(t, x)) = ∇f(ϕ(t, x)) · ϕ(t, x) = ∇f(ϕ(t, x)) · X(ϕ(t, x)) < 0.dt dtTeorema 1.5.3 (Critério <strong>de</strong> Liapunov). Se p é uma singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> isola<strong>da</strong> do campoX : U ⊆ R n → R n <strong>de</strong> classe C 1 e se existir uma função <strong>de</strong> Liapunov f <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> emalgum domínio D ⊆ R n contendo p, então p é singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> estável. Se f for função <strong>de</strong>Liapunov estrita, então p será singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> assintoticamente estável.Demonstração – Po<strong>de</strong>mos supor que p = 0. Tomemos ε > 0 suficientemente pequenotal que B(0, ε) esteja conti<strong>da</strong> nos domínios do campo X e <strong>da</strong> função f. Como a esfera <strong>de</strong>raio ε é um compacto do R n po<strong>de</strong>mos tomar α > 0 o mínimo <strong>de</strong> f nesta esfera, ou seja,f(x) ≥ α, para todo x, com ‖x‖ = ε.Como f(x) = 0 somente em x = 0, existe 0 < δ < ε tal que f(x) < α, para todox ∈ B(0, δ) e tem-se que nenhuma solução começando em B(0, δ) po<strong>de</strong> encontrar a esfera‖x‖ = ε pois f não po<strong>de</strong> crescer ao longo <strong>de</strong> uma solução. Portanto, temos que 0 é estável.Para provar a segun<strong>da</strong> parte usaremos aqui o conceito <strong>de</strong> ω–limite que foi introduzidona primeira seção <strong>de</strong>ste capítulo. Tomemos ϕ(t, x) uma trajetória começando em x ∈B(0, δ)−{0}. Como ‖ϕ(t, x)‖ < ε, para todo t > 0, segue que ω(x) ≠ ∅ (ver proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>sdo ω–limite <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> sua <strong>de</strong>finição). Afirmamos que f| ω(x) é constante. De fato, seq 1 , q 2 ∈ ω(x) então existem seqüências t n , t ′ n tais queϕ(t n , x) → q 1 e ϕ(t ′ n, x) → q 2 .


30Consi<strong>de</strong>rando subseqüências <strong>de</strong> t n , t ′ n, t n tais que t 1 n k< t 2 n k< t 3 n ktemos, uma vez que f<strong>de</strong>cresce ao longo do fluxo,f(ϕ(t 1 n k, x)) > f(ϕ(t 2 n k, x)) > f(ϕ(t 3 n k, x))e assim f(q 1 ) ≥ f(q 2 ) ≥ f(q 1 ) e portanto f(q 1 ) = f(q 2 ).Suponhamos que exista y ∈ ω(x) tal que y ≠ 0. Da invariância <strong>de</strong> ω(x) segue queO(y) ⊂ ω(x). Segue então que f| O(y) é constante. Logo, (f ◦ ϕ y ) ′ (t) = 0, para todot ∈ I(y) e portanto X · f(ϕ y (t)) = 0, para todo t ∈ I(y). Como f é estrita segue queϕ y (t) = 0, para todo t ∈ I(y) e portanto y = 0.


Capítulo 2Campos Planares2.1 Órbitas periódicas e o critério <strong>de</strong> BendixsonDizemos que um campo <strong>de</strong> vetores <strong>de</strong>finido no plano R 2 , ou em um aberto do R 2 , é umcampo planar. Observamos que as equações diferenciais ordinárias <strong>de</strong> 2 a or<strong>de</strong>m clássicasF (x, x ′ , x ′′ ) = 0, x ∈ Rquando expressas na forma <strong>de</strong> sistemas bidimensionais, via a mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> variável y = x ′ ,têm suas soluções sendo trajetórias <strong>de</strong> campos planares.Existem vários resultados específicos <strong>de</strong> campos planares, e praticamente todos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>messencialmente do famoso Teorema <strong>da</strong> Curva <strong>de</strong> Jor<strong>da</strong>n e, por isso mesmo, nãosão válidos em R n , para n ≥ 3.Uma curva fecha<strong>da</strong> simples é um conjunto C ⊆ R n que é imagem homeomorfa docírculo unitário S 1 ⊆ R 2 . Uma curva fecha<strong>da</strong> simples planar, ou então uma Curva <strong>de</strong>Jor<strong>da</strong>n é uma curva fecha<strong>da</strong> simples em R 2 . O Teorema <strong>de</strong> Jor<strong>da</strong>n afirma que se C é umacurva <strong>de</strong> Jor<strong>da</strong>n então R 2 −C tem exatamente duas componentes conexas cujas fronteirascoinci<strong>de</strong>m com C, uma limita<strong>da</strong>, <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> interior <strong>de</strong> C (int C), que é simplesmenteconexa e outra ilimita<strong>da</strong>, <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> exterior <strong>de</strong> C (ext C). Assim∂(int C) = C = ∂(ext C).Embora intuitivamente óbvio quando se trata <strong>de</strong> curvas simples, não é difícil <strong>de</strong> se convencerque a afirmação do Teorema não é exatamente elementar. Uma <strong>de</strong>monstração do31


32Teorema <strong>da</strong> Curva <strong>de</strong> Jor<strong>da</strong>n, que não será <strong>da</strong><strong>da</strong> aqui, po<strong>de</strong> ser encontra<strong>da</strong>, por exemplo,em [9], página 169.Seja X : U → R 2 um campo <strong>de</strong> classe C 1 no aberto U ⊆ R 2 . Se a órbita O(x) <strong>de</strong>X por x ∈ U é periódica então O(x) é uma curva <strong>de</strong> Jor<strong>da</strong>n, e portanto o interior e oexterior <strong>de</strong> O(x) estão bem <strong>de</strong>finidos pelo Teorema <strong>da</strong> Curva <strong>de</strong> Jor<strong>da</strong>n. Po<strong>de</strong> acontecer,evi<strong>de</strong>ntemente, que int O(x) U, mas quando int O(x) ⊆ U temos o seguinte resultadoclássico sobre a inexistência <strong>de</strong> órbitas periódicas, conhecido como critério <strong>de</strong> Bendixson.Antes disso porém, consi<strong>de</strong>remos uma classe especial <strong>de</strong> campos que também não possuemórbitas periódicas.Exemplo 1. Seja f : U → R uma função <strong>de</strong> classe C 2 no aberto U ⊆ R 2 . Dizemos que ocampo <strong>de</strong> vetores X = − grad f : U → R 2 é o campo gradiente <strong>de</strong> potencial f; o sinal− é tradicional.Como sabemos do Cálculo a duas variáveis, em ca<strong>da</strong> ponto p ∈ U o vetor gradiente <strong>de</strong>f em p é ortogonal a curva <strong>de</strong> nível S = {y ∈ U : f(y) = f(p)} <strong>de</strong> f por p; assim, <strong>da</strong>doum vetor v tangente a S em q ∈ S, temos sempre 〈v, grad f(q)〉 = 0 on<strong>de</strong> 〈·, ·〉 indica oproduto escalar <strong>de</strong> R 2 . Se o gradiente for não nulo em p então, localmente, a curva <strong>de</strong>nível S é uma superfície unidimensional em R 2 .Note que os pontos singulares do campo gradiente X são os pontos críticos do potencialf. Por outro lado, se ϕ(t) é uma solução <strong>de</strong> x ′ = X(x) então(f ◦ ϕ) ′ (t) = Df(ϕ(t)) · ϕ ′ (t) = 〈grad f(ϕ(t)), X(ϕ(t))〉= 〈−X(ϕ(t)), X(ϕ(t))〉 = −|X(ϕ(t))| 2 ≤ 0e portanto (f ◦ ϕ)(t) não é crescente ao longo <strong>da</strong>s trajetórias <strong>de</strong> um campo gradiente.Mais do que isso, se ϕ(0) = x 0 é um ponto regular <strong>de</strong> X (X(x 0 ) ≠ 0), então X(ϕ(t)) ≠ 0para ca<strong>da</strong> t pela unici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s soluções e portanto f(ϕ(t)) é estritamente <strong>de</strong>crescente.Assim, nenhum campo gradiente possui trajetória periódica, pois caso contrário seϕ(t) = ϕ(t + T ) acarretaria f(ϕ(t + T )) < f(ϕ(t)) = f(ϕ(t + T )), pois como f(ϕ(t)) é<strong>de</strong>crescente, temos t < t+T implica f(ϕ(t+T )) < f(ϕ(t)), o que é uma impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>. □


33Exemplo 2. Campos lineares hiperbólicos constituem outro caso em que não se temsoluções periódicas. Lembremos que um campo linear X é hiperbólico se todos os seusautovalores têm parte real diferente <strong>de</strong> zero. Para o caso n = 2, vimos pelo exemplo 2 <strong>da</strong>seção 1.2 do capítulo 1 que as fontes, os poços, os nós, as selas e os focos são hiperbólicos.Já o centro nos fornece um exemplo <strong>de</strong> um campo não hiperbólico. Portanto, neste caso,vemos que os campos lineares hiperbólicos não apresentam soluções periódicas. □Lembremos que o divergente do campo X, div X : U → R é <strong>de</strong>finido pordiv X(x, y) = ∂X 1∂x (x, y) + ∂X 2(x, y) = tr(DX(x, y))∂yon<strong>de</strong> X 1 e X 2 são as funções componentes <strong>de</strong> X = (X 1 , X 2 ). Também lembramos que umaberto U 0 ⊆ R 2 é dito simplesmente conexo se int C ⊆ U 0 para ca<strong>da</strong> curva <strong>de</strong> Jor<strong>da</strong>nC ⊆ U 0 . Visualmente isto significa que U 0 não possui buracos.Proposição 2.1.1 (Bendixson, 1901). Seja U 0 ⊆ U um aberto simplesmente conexo talque div X não é i<strong>de</strong>nticamente nulo e nem troca <strong>de</strong> sinal em U 0 . Então X não possuiórbita periódica inteiramente conti<strong>da</strong> em U 0 .Demonstração – Suponhamos que Γ = O(x) seja uma órbita periódica <strong>de</strong> X e<strong>de</strong>notemos G = int Γ. Temos que Γ é parametriza<strong>da</strong> por uma solução (x 1 , x 2 ) <strong>de</strong> x ′ =X(x) <strong>de</strong> modo que dx 1 = X 1 dt e dx 2 = X 2 dt. Se G ⊆ U 0 então pelo Teorema <strong>de</strong> Green,temos∫∫G∫∫div XdA =G( ∂X1(x 1 , x 2 ) + ∂X ) ∮2(x 1 , x 2 ) dA =∂x 1 ∂x 2ΓX 1 dx 2 − X 2 dx 1 = 0poisX 1 dx 2 − X 2 dx 1 = (−X 2 , X 1 ).(dx 1 , dx 2 ) = (−X 2 , X 1 )(X 1 , X 2 )dt = 0dt = 0.Como X é <strong>de</strong> classe C 1 em G, segue que o divergente <strong>de</strong> X é contínuo e portanto∫∫div X = 0 implica que ou div X ≡ 0 em G ou então div X troca <strong>de</strong> sinal em G.G


34yxFigura 2.1: Campo <strong>de</strong> vetores do exemplo 3.Exemplo 3. Seja X(x, y) = (y − x 3 , −x 3 ). Temos que div X(x, y) = −3x 2 , assimdiv X(x, y) ≤ 0 com div X(x, y) = 0 se e somente se x = 0 e portanto div X não é i<strong>de</strong>nticamentenulo e nem troca <strong>de</strong> sinal em nenhum aberto <strong>de</strong> R 2 . Logo, pelo Critério <strong>de</strong>Bendixson, X não possui órbita periódica. Observe, pela figura 2.1 que isto não é <strong>de</strong> todoóbvio, pois o campo X tem jeito <strong>de</strong> centro não linear. Observe também que o campo Xnão é gradiente, e nem é um campo linear hiperbólico. Assim, a proposição anterior nãoé um caso particular do exemplo 1, nem do exemplo 2. Pelo exemplo a seguir concluímostambém que tampouco esses dois exemplos são casos particulares <strong>da</strong> proposição. De modoque agora temos três critérios distintos que garantem a inexistência <strong>de</strong> órbitas periódicaspara um campo vetorial planar.□Exemplo 4. Consi<strong>de</strong>re as funções f, g : R 2 → R <strong>da</strong><strong>da</strong>s por f(x, y) = x 2 − y 2 eg(x, y) = x 3 . Note que os campos gradiente X(x, y) = − grad f(x, y) = (−2x, 2y) eY (x, y) = − grad g(x, y) = (−3x 2 , 0) são tais que div X(x, y) = −2+2 = 0 e div Y (x, y) =−6x. Logo div X é i<strong>de</strong>nticamente nulo e div Y mu<strong>da</strong> <strong>de</strong> sinal em R 2 . Pelo exemplo 1, oscampos X e Y não possuem soluções periódicas já que são campos gradientes. □Exemplo 5. O campo B(x, y) = (x, −y) é linear hiperbólico, pois tem como autovalores±1, <strong>de</strong> modo que o campo B é uma sela e é tal que div B(x, y) = 1 − 1 = 0. Pelo exemplo2, o campo B não possui soluções periódicas. □


352.2 O teorema <strong>de</strong> Poincaré–BendixsonPassamos agora ao teorema <strong>de</strong> Poincaré-Bendixson, que é um dos poucos resultados geraissobre existência <strong>de</strong> órbitas periódicas <strong>de</strong> campos não lineares, classificando os possíveisconjuntos ω–limite <strong>de</strong> uma trajetória limita<strong>da</strong> <strong>de</strong> um campo planar com um número finito<strong>de</strong> singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s no fecho.Lembramos aqui que <strong>da</strong>do X : U → R 2 um campo <strong>de</strong> classe C 1 no aberto U ⊆ R 2com ω + (p) = +∞, o conjunto ω–limite do ponto p ∈ U (<strong>de</strong>notado por ω(p)) é o conjuntodos pontos q ∈ U para os quais existe uma seqüência t n → +∞ tal queϕ(t n , p) → q.Analogamente, se ω − (p) = −∞, o conjunto α–limite do ponto p ∈ U é o conjunto α(p)dos pontos q ∈ U para os quais existe uma seqüência t n → −∞ tal queϕ(t n , p) → q.Para simplificar a <strong>de</strong>monstração do teorema <strong>de</strong> Poincaré-Bendixson vamos dividi-laem quatro lemas. Em todos usamos a seguinte notação: <strong>da</strong>do p ∈ U, sempre que usarmosω(p) supomos implicitamente que [0, +∞) ⊆ I(p). Também <strong>de</strong>notamos por O + (p) asemi-órbita positiva <strong>de</strong> X por p, {ϕ p (t) : 0 ≤ t ≤ ω + (p)} ; ϕ p : I(p) → U <strong>de</strong>notará comosempre a trajetória maximal <strong>de</strong> X por p, com I(p) = (ω − (p), ω + (p)). Também precisamos<strong>de</strong> seções transversais. Como dim R 2 = 2, uma seção transversal a X é uma aplicaçãoξ : I → U diferenciável no intervalo aberto I ⊆ R tal que 0 ∈ I e {X(ξ(s)), ξ ′ (s)} ⊆ R 2é linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, para todo s ∈ I. Dados x, y ∈ ξ(I), [x, y] <strong>de</strong>notará o segmentonão orientado contido em ξ(I) <strong>de</strong> extremos x e y. No que segue, <strong>de</strong>notaremos porΣ = ξ(I) uma seção transversal a X.Lema 2.2.1. Sejam Σ uma seção transversal a X e x ∈ U um ponto regular <strong>de</strong> X.Suponhamos que t 1 < t 2 ∈ I(x) são tais que ϕ x (t i ) = x i ∈ Σ, i = 1, 2 e que ϕ x (t) ∉ Σpara todo t 1 < t < t 2 . Então temos


36Figura 2.2: Referente ao lema 2.2.1.1. x 1 = x 2 se, e somente se, O(x) é periódica;2. Se x 1 ≠ x 2 então O(x) ∩ [x 1 , x 2 ] = {x 1 , x 2 }.Demonstração – Se ϕ x (t 1 ) = x 1 = x 2 = ϕ x (t 2 ) então é claro que O(x) é periódica,pois t 1 < t 2 . Suponhamos que x 1 ≠ x 2 e <strong>de</strong>notemos por C = [x 1 , x 2 ]∪{ϕ x (t) : t 1 ≤ t ≤ t 2 }.Como ϕ x (t 1 ) = x 1 e ϕ x (t 2 ) = x 2 temos que C é uma curva <strong>de</strong> Jor<strong>da</strong>n. Chamemos <strong>de</strong> G =int C e H = ext C. Temos quatro casos a consi<strong>de</strong>rar como ilustrados na figura 2.2. Oprimeiro com ϕ x (t) ∈ G para t < t 1 e ϕ x (t) ∈ H para t > t 2 . O segundo com ϕ x (t) ∈ Hpara t < t 1 e ϕ x (t) ∈ G para t > t 2 . O terceiro com ϕ x (t) ∈ G para t < t 1 e ϕ x (t) ∈ Hpara t > t 2 e por fim o quarto caso com ϕ x (t) ∈ H para t < t 1 e ϕ x (t) ∈ G para t > t 2 .Em todos os casos, ϕ x (t) ∉ C para t ∈ I(x) − [t 1 , t 2 ] e portanto O(x) não é periódica eO(x) ∩ [x 1 , x 2 ] = {x 1 , x 2 }.Corolário 2.2.2. Sejam Σ uma seção transversal a X e x ∈ U um ponto regular <strong>de</strong> X talque O + (x) ∩ Σ ≠ ∅. Se O(x) é periódica então ♯(O(x) ∩ Σ) = 1. Se O(x) não é periódicaentão O + (x) ∩ Σ = {x n : n ∈ P }, on<strong>de</strong> ∅ ̸= P ⊆ IN, x n = ϕ x (t n ), (t n ) é monótona em R


37e (x n ) é monótona em Σ, no seguinte sentido: na seção Σ, x n sempre está entre x n−1 ex n+1 .Demonstração – Em primeiro lugar, ♯(O + (x) ∩ Σ) ≤ ♯IN, isto é, O + (x) ∩ Σ é nomáximo enumerável. De fato, tomando uma caixa <strong>de</strong> fluxo para Σ obtemos δ > 0 talque se ϕ x (t) ∈ Σ então ϕ x (s) ∉ Σ, para todo s tal que 0 < |s − t| < δ. Segue entãoque o conjunto dos tempos t tais que ϕ x (t) ∈ Σ é discreto, logo enumerável. Pela parte1 do Lema 2.2.1, O(x) é periódica se, e somente se, ♯(O + (x) ∩ Σ) = 1. Suponhamos queO(x) não é periódica. Se ♯(O + (x) ∩ Σ) = 2, a afirmação do Corolário é óbvia. Consi<strong>de</strong>remoso caso em que ♯(O + (x) ∩ Σ) = 3. Sejam então x ni = ϕ x (t ni ), i = 1, 2, 3 tais quet n1 < t n2 < t n3 . Se x n1 < x n2 temos x n2 < x n3 pois caso contrário temos x n1 < x n3 < x n2e então x n3 ∈ [x n1 , x n2 ] ou então temos x n3 < x n1 < x n2 e então x n1 ∈ [x n3 , x n2 ], ambosimpossíveis pela parte 2 do Lema 2.2.1. Logo x n1 < x n2 < x n3 . De modo análogo, sex n1 > x n2 então x n1 > x n2 > x n3 . Para ♯(O + (x) ∩ Σ) > 3, basta prosseguir o mesmoraciocínio acima, e chegamos que a seqüência (x n ) = (ϕ x (t n )) é monótona.Lema 2.2.3. Sejam Σ uma seção transversal a X e x ∈ U um ponto regular <strong>de</strong> X. Sey ∈ ω(x) ∩ Σ então O + (x) ∩ Σ = {x n : n ∈ IN} on<strong>de</strong> (x n ) é uma seqüência monótonaem Σ. Mais do que isso, (x n ) é constante se, e somente se, O(x) é periódica e (x n ) éestritamente monótona se, e somente se, O(x) não é periódica.Demonstração – Tomemos uma caixa <strong>de</strong> fluxo h : (−δ, δ) × I → U para Σ. Sey ∈ ω(x) ∩ Σ, existe uma seqüência (t ∗ n), com t ∗ n → +∞ tal que ϕ(t ∗ n, x) → y. Semper<strong>da</strong> <strong>de</strong> generali<strong>da</strong><strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos supor que ϕ(t ∗ n, x) ∈ h((−δ, δ) × I), e portanto, projetandopelo fluxo obtemos seqüência (t n ) tal que ϕ(t n , x) ∈ Σ e |t n − t ∗ n| → 0 <strong>de</strong> modoque t n → +∞ e ϕ(t n , x) → y. Assim {ϕ(t n , x) : n ∈ IN} ⊆ O + (x) ∩ Σ. Se O(x) éperiódica o Lema é óbvio. Caso contrário, obtemos ϕ(t n , x) ≠ ϕ(t m , x) para todo n ≠ me portanto ♯(O + (x) ∩ Σ) ≥ ♯IN, e pelo Corolário 2.2.2 resulta que ♯(O + (x) ∩ Σ) = ♯IN eque (x n ) = (ϕ x (t n )) é uma seqüência estritamente monótona.


38Figura 2.3: Referente ao lema 2.2.3.Corolário 2.2.4. Sejam Σ uma seção transversal a X e x ∈ U um ponto regular <strong>de</strong> X.Se ω(x) ∩ Σ ≠ ∅ então ♯(ω(x) ∩ Σ) = 1.Demonstração – Se O(x) é periódica aplicamos o Corolário 2.2.2 ( <strong>de</strong> fato se O(x)é periódica então O(x) = ω(x)). Se O(x) não é periódica então pelo Lema 2.2.3O + (x) ∩ Σ = {x n : n ∈ IN} é uma seqüência estritamente monótona em Σ. Usandoa mesma construção do Lema 2.2.3, é fácil ver que ca<strong>da</strong> y ∈ ω(x) ∩ Σ é limite <strong>de</strong> umasubseqüência <strong>de</strong> (x n ). Como (x n ) é monótona, duas subseqüências tem o mesmo e únicolimite, <strong>de</strong> modo que ♯(ω(x) ∩ Σ) = 1.Lema 2.2.5. Seja x ∈ U um ponto regular <strong>de</strong> X tal que ω(x) é compacto e conexo. Seexiste y ∈ ω(x) tal que O(y) é periódica então ω(x) = O(y) é uma órbita periódica.Demonstração – Seja y ∈ ω(x) tal que O(y) é periódica. Então O(y) ⊆ ω(x) já que oω–limite é invariante pelo fluxo. Suponhamos que ω(x)−O(y) ≠ ∅. Como ω(x) é conexo eO(y) é fechado (≃ S 1 ) temos que ω(x) − O(y) não é fechado em ω(x), <strong>de</strong> modo que existeuma seqüência yn ∗ → y 0 , e, pela compaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ω(x), y 0 ∈ ω(x) − (ω(x) − O(y)) = O(y)e yn ∗ ∈ ω(x) − O(y). Seja Σ uma seção transversal <strong>de</strong> X em y 0 . Projetando pelo fluxoobtemos a partir <strong>da</strong> seqüência (yn) ∗ uma seqüência (y n ), com y n = ϕ(s n , yn), ∗ |s n | → 0, talque y n ∈ Σ e y n → y 0 . Mas yn ∗ ∈ ω(x) − O(y) <strong>de</strong> modo que y n ∈ ω(x) − O(y). Tambémtemos que {y n : n ∈ IN} ⊆ ω(x) ∩ Σ. Pelo Corolário 2.2.4, ♯(ω(x) ∩ Σ) = 1 <strong>de</strong> modo


39Figura 2.4: Figura referente ao lema 2.2.5.que força<strong>da</strong>mente ω(x) ∩ Σ = {y 0 } e portanto, y n = y 0 ∈ O(y), para todo n ∈ IN, o queé impossível pois y n ∉ O(y). Isto mostra que ω(x)−O(y) = ∅ e portanto ω(x) = O(y).Lema 2.2.6. Seja x ∈ U um ponto regular <strong>de</strong> X tal que ω(x) é compacto e conexo. Seexistem y ∈ ω(x) e z ∈ ω(y) tais que X(z) ≠ 0 então O(y) é periódica e ω(x) = O(y).Demonstração – Suponha que y ∈ ω(x). É claro que O + (y) ⊆ ω(x) e que ω(y) ⊆O + (y) ⊆ ω(x). Suponhamos que existe z ∈ ω(y) tal que X(z) ≠ 0. Tomando Σ umaseção transversal a X em z obtemos, pelo Lema 2.2.3, que O + (y)∩Σ = {y n : n ∈ IN}, com(y n ) monótona, mas O + (y) ⊆ ω(x), <strong>de</strong> modo que {y n : n ∈ IN} = O + (y) ∩ Σ ⊆ ω(x) ∩ Σ eportanto pelo Corolário 2.2.4, (y n ) não po<strong>de</strong> ser estritamente monótona mas é constante,<strong>de</strong> modo que O(y) é periódica. Pelo Lema 2.2.5, ω(x) = O(y) é uma órbita periódica.Teorema 2.2.7 (Poincaré-Bendixson, ± 1900). Seja x ∈ U <strong>da</strong>do e suponhamos que existeum compacto K ⊆ U tal que O + (x) ⊆ K e ♯(K ∩ Sing(X)) < +∞. Então, vale que:1. ω(x) contém somente pontos regulares <strong>de</strong> X se, e somente se, ω(x) é uma órbitaperiódica.2. ω(x) contém somente pontos singulares <strong>de</strong> X se, e somente se, ω(x) é um pontosingular.


403. ω(x) contém pontos singulares e regulares <strong>de</strong> X se, e somente se, existem x 1 , . . . , x k ∈Sing(X) tais que ω(x) = {x 1 , . . . , x k } ∪ {O(y λ ) : λ ∈ Λ}, on<strong>de</strong> Λ ≠ ∅ e ca<strong>da</strong> O(y λ )é uma órbita regular tal que α(y λ ) = {x iλ } e ω(y λ ) = {x jλ } com i λ , j λ ∈ {1, . . . , k}.Demonstração – As três recíprocas são óbvias e como por hipótese O + (x) é limita<strong>da</strong><strong>de</strong>corre que ω(x) é compacto, conexo e não vazio. Se ω(x) não contém pontos singularesentão tomando y ∈ ω(x) temos ∅ ̸= ω(y) ⊆ ω(x) e portanto existe z ∈ ω(y) tal queX(z) ≠ 0. Pelo Lema 2.2.6, ω(x) = O(y) é uma órbita periódica, o que prova a parte 1.Se ω(x) ⊆ Sing(X) então ω(x) = {x 0 } é uma órbita singular, já que ω(x) ⊆ K ∩ Sing(X)é um subconjunto conexo <strong>de</strong> um conjunto finito, o que prova a parte 2. Suponhamosque ω(x) contém pontos singulares e regulares <strong>de</strong> X. Então existem x 1 , . . . , x k ∈ K taisque ω(x) ∩ Sing(X) = {x 1 , . . . , x k }. Seja y ∈ ω(x) − Sing(X). Mostremos que α(y) eω(y) são exatamente uma <strong>de</strong>stas singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Como y ∈ ω(x) temos ∅ ̸= ω(y) ⊆ ω(x)e caso ω(y) ∩ {x 1 , . . . , x k } = ∅ teríamos z ∈ ω(y) tal que X(z) ≠ 0 e portanto, peloLema 2.2.6, O(y) = ω(x) é uma órbita periódica, acarretando ω(x) ∩ Sing(X) = ∅,contrário ao suposto. Assim, ω(y) ⊆ Sing(X) ∩ K e portanto existe x jλ ∈ {x 1 , . . . , x k }tal que ω(y) = {x jλ }. Analogamente, com a versão <strong>de</strong> α–limite do Lema 2.2.6 obtemosα(y) ⊆ Sing(X).Corolário 2.2.8. Os únicos conjuntos ω–limite compactos, não-vazios e sem singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> um campo planar são as órbitas periódicas do campo.Observação 1. Um conjunto ω–limite como o do caso 3 do teorema anterior é <strong>de</strong>nominado<strong>de</strong> grafo. Alguns exemplos são <strong>da</strong>dos na figura 2.5.Observação 2. Tudo que foi feito até aqui para conjuntos ω–limite vale também para conjuntosα–limite, <strong>de</strong> maneira óbvia: basta lembrar que ω −X (x) = α X (x). Assim tambémtemos um Teorema <strong>de</strong> Poincaré-Bendixson que classifica os conjuntos α–limite.Proposição 2.2.9. Seja γ uma órbita periódica <strong>de</strong> X tal que int γ ⊆ U. Então existe


41k = 3, L = {1,2,3,4,5,6}k = 1, L = {1}k = 4, L = {1,2,3,4}Figura 2.5: Exemplos <strong>de</strong> grafos.pelo menos uma singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> X em int γ.Demonstração – Seja γ 0 uma órbita periódica <strong>de</strong> X tal que G = int γ 0 ⊆ U. EntãoG é um compacto invariante por X e, como duas órbitas distintas não se cruzam, <strong>da</strong>dox ∈ G temos O(x) ⊆ G. Assim para x ∈ G temos ∅ ̸= ω(x) ⊆ G. Se supormos queSing(X) ∩ G = ∅ então pelo Teorema <strong>de</strong> Poincaré-Bendixson necessariamente ω(x) é umaórbita periódica. Se ω(x) = γ 0 então pela observação 3 do Teorema <strong>de</strong> Poincaré-Bendixsonpelo mesmo motivo α(x) é uma órbita periódica <strong>de</strong> X e assim α(x) = γ 1 ≠ γ 0 . De fato,se γ 1 = γ 0 então x ∈ γ 0 e isso contradiz o fato <strong>de</strong> termos escolhido x ∈ G. Assim, pelahipótese Sing(X) ∩ G = ∅, obtemos outra órbita periódica em G = int γ 0 . Retomando oprocesso com γ 1 e G 1 = int γ 1 , novamente Sing(X) ∩ G = ∅ produz outra órbita periódicaγ 2 tal que γ 2 ⊆ G 1 . Intuitivamente no limite obteremos uma singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>, isto é, uma“órbita periódica” <strong>de</strong> período nulo. Para formalizar isto, usamos o Lema <strong>de</strong> Zorn: setodo subconjunto totalmente or<strong>de</strong>nado tem cota superior então o conjunto possui elementomaximal. No nosso caso, <strong>de</strong>finimos Γ = {γ : γ é órbita periódica <strong>de</strong> X e int γ ⊆ G}.Como γ 0 ∈ Γ, Γ ≠ ∅. A or<strong>de</strong>m em Γ é (a inversa <strong>da</strong> <strong>da</strong><strong>da</strong>) por inclusão: γ 1 ≤ γ 2 se, esomente se, int γ 2 ⊆ int γ 1 . Seja Φ ⊆ Γ um conjunto totalmente or<strong>de</strong>nado e tomemosK = ⋂ {int γ : γ ∈ Φ}. Pela Proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Interseção Finita K é compacto e K ≠ ∅.É fácil ver que K é invariante por X. Tomando x ∈ K temos então que O(x) ⊆ K eportanto ω(x) ⊆ K, α(x) ⊆ K. Se Sing(X) ∩ G = ∅ então ω(x) ou α(x) é uma órbitaperiódica γ k tal que int γ k ⊆ K e portanto γ k ≥ γ, para todo γ ∈ Φ. Assim Φ possuicota superior. Pelo Lema <strong>de</strong> Zorn, existe γ ∗ ∈ Γ tal que γ ∗ ≥ γ, para todo γ ∈ Γ. Masse Sing(X) ∩ G = ∅ então tomando x ∈ int γ ∗ novamente obtemos uma órbita periódicaγ ′ (= ω(x) ou = α(x)) tal que int γ ′ ⊆ int γ ∗ , ou seja, γ ′ > γ ∗ . Como γ ′ ∈ Γ, isso é


42impossível e prova a proposição.Exemplo 6. O campo X(x, y) = (y, −x 4 − 1) não possui órbita periódica, pois não seanula em ponto algum <strong>de</strong> R 2 . Note que div X ≡ 0 em R 2 , X não é campo gradiente enem é um campo linear hiperbólico.□2.3 Fluxos e conjuntos limites em superfíciesComo na esfera S 2 ain<strong>da</strong> vale o Teorema <strong>da</strong> Curva <strong>de</strong> Jor<strong>da</strong>n, também o Teorema <strong>de</strong>Poincaré-Bendixson vale para campos <strong>de</strong>finidos em S 2 . Mas já no toro bidimensionalT 2 não vale nenhum <strong>de</strong>stes dois teoremas, pois po<strong>de</strong>mos obter campos X em T 2 taisque ω(x) = T 2 para certos x ∈ T 2 , ou seja, ω(x) é compacto, conexo e não contémsingulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s nem é órbita periódica. O exemplo 7 abaixo mostra este caso. Tampoucoem R 3 vale o Teorema <strong>de</strong> Poincaré-Bendixson.Para utilizarmos no exemplo 7, provaremos agora dois lemas sobre algumas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>sdo conjunto dos números reais.Lema 2.3.1. Seja G ⊆ R, G ≠ {0} um subgrupo aditivo e G +positivos pertencentes a G. Temoso conjunto dos reais(a) G + é não vazio;(b) Se inf G + = 0 então G é <strong>de</strong>nso em R;(c) Se inf G + = a > 0 então a ∈ G + e G = {0, ±a, ±2a, ...}.Demonstração – Com efeito, provaremos que <strong>da</strong>do r ∈ R tem-se que para todoε > 0, (r − ε, r + ε) ∩ G ≠ ∅. Consi<strong>de</strong>remos primeiro o caso em que r > 0. A proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>Arquimediana dos números reais garante que existe um número racional <strong>da</strong> forma 1 , com nn ∈ IN, tal que 1 < r e 1 < ε. Temos que 0 < 1 e como 0 é o ínfimo <strong>de</strong> n n n G+ , entãoexiste t ∈ G + tal que 0 < t < 1 . Consi<strong>de</strong>re a seqüência (a n i) i∈IN = (it) i∈IN e seja j o maiornatural tal que jt < r. Assimr − ε < r < (j + 1)t = jt + t < r + 1 n < r + ε.


43Como (j + 1)t ∈ G temos que (r − ε, r + ε) ∩ G ≠ ∅.Suponhamos agora que r = 0. Pela <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> ínfimo, para todo ε > 0, existet ∈ G + ⊂ G tal que 0 < t < ε e assim segue o resultado.Agora se r < 0 então −r > 0 e assim pelo primeiro caso garantimos a existência <strong>de</strong>um elemento t ∈ G tal que t ∈ (−r − ε, −r + ε) e portanto −t ∈ (r − ε, r + ε), o quetermina a prova <strong>de</strong> que G é <strong>de</strong>nso em R.Provamos agora o item (c). Se tivéssemos que a ∉ G + , pela <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> ínfimoexistiriam g, h ∈ G + tais que a < h < g < a + a. Logo, 0 < g − h < (a + a) − a = a < a.2 2 2Mas como g, h ∈ G + então g−h ∈ G + , o que é absurdo pois g−h < a = inf G + . Portanto,a ∈ G + ⊂ G. Como G é um grupo, segue que vale a inclusão {0, ±a, ±2a, ...} ⊆ G.Mostremos agora a inclusão contrária. Seja g ∈ G. Pela algoritmo <strong>da</strong> divisão, po<strong>de</strong>mosescrever g = aq + r, com 0 ≤ r < a. Isto nos dá que r = g − aq e <strong>da</strong>í concluímosque r ∈ G. Mostremos que r = 0. De fato, se r ≠ 0 teríamos 0 < r < a e r ∈ G + , oque é absurdo pois a = inf G + . Logo r = 0 e portanto g = aq ∈ {0, ±a, ±2a, ...}. AssimG ⊆ {0, ±a, ±2a, ...} e logo vale a igual<strong>da</strong><strong>de</strong>.Lema 2.3.2. Dado d ∈ R − Q o conjunto T = {nd + m : n, m ∈ Z} é <strong>de</strong>nso em R.Demonstração – Afirmamos que T é um subgrupo do grupo aditivo (R, +). De fato:• tomando m = n = 0 segue que 0 ∈ T ;• seja x ∈ T . Logo, x = m + nd, com m, n ∈ Z e, <strong>de</strong>ssa maneira, −x = −m − nd,com −m, −n ∈ Z e então −x ∈ T ;• por fim, se x, y ∈ T então x = m + nd, com m, n ∈ Z e y = m 1 + n 1 d, comn 1 , m 1 ∈ Z. Assim x + y = (m + m 1 ) + (n + n 1 )d, com (m + m 1 ), (n + n 1 ) ∈ Z.Portanto x + y ∈ T .Mostremos agora que 0 = inf T + , on<strong>de</strong> T + <strong>de</strong>nota o conjunto dos números positivospertencentes a T . A partir <strong>da</strong>í, po<strong>de</strong>remos concluir que T é <strong>de</strong>nso em R, aplicando o lema2.3.1.


44Para provar que 0 = inf T + supomos que inf T + = a > 0. Assim pela parte (c) do lema2.3.1, temos que a = m + nd para algum m, n ∈ Z, e T = {0, ±a, ±2a, · · · }. Fazendon = 0 observamos que Z ⊆ T , e fazendo m = 0 temos que todos os múltiplos <strong>de</strong> d,{d, 2d, · · · , nd, · · · }, pertencem a T .Distinguimos dois casos:• primeiro suponha que a = m + nd on<strong>de</strong> m ∈ Z e n ∈ Z ∗ . Seja β ∈ Z. Como Z ⊆ Ttemos que β = ka = k(m + nd) <strong>da</strong>í tiramos que d = β−kmknpois d é irracional;∈ Q o que é absurdo,• suponha agora que a = m + nd com m ∈ Z e n = 0. Assim todos os elementos <strong>de</strong>T são inteiros e isto obriga d ser um número inteiro, o que é absurdo.Logo inf T + = 0 e do lema 2.3.1 concluímos que T é <strong>de</strong>nso em R.Exemplo 7. Seja X 0 (x, y) = (x 0 , y 0 ) ≠ (0, 0) um campo constante em R 2 . É imediatoverificar que o fluxo <strong>de</strong>ste campo é <strong>da</strong>do por ϕ(t, x, y) = (x + tx 0 , y + ty 0 ). O campo X 0induz um campo X no toro T 2 . As trajetórias paralelas do campo X 0 são leva<strong>da</strong>s emtrajetórias do campo X que se enrolam paralelamente no toro. É claro que o campo Xnão apresenta singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Isto po<strong>de</strong> ser visto mais simplesmente quando i<strong>de</strong>ntificamoso toro T 2 com o quadrado tubular R = [0, 1)×[0, 1). Na figura 2.6 apresentamos o retrato<strong>de</strong> fase <strong>de</strong> X na versão R do toro. Observe que as trajetórias <strong>de</strong> X inicialmente (para tpequeno) são linhas retas, até que atingem pela primeira vez um dos lados <strong>de</strong> R. Nestemomento <strong>de</strong>vemos i<strong>de</strong>ntificar o lado <strong>de</strong> cima <strong>de</strong> R com o <strong>de</strong> baixo e o lado esquerdo como direito. A trajetória continua em R e tem como traço segmentos <strong>de</strong> reta paralelos, apartir do ponto <strong>de</strong> entra<strong>da</strong>, o qual é i<strong>de</strong>ntificado com o ponto <strong>de</strong> saí<strong>da</strong>. A trajetória po<strong>de</strong>então ser vista como uma seqüência <strong>de</strong> segmentos <strong>de</strong> reta, todos com a mesma inclinação,sempre <strong>de</strong>ntro do quadrado R, sendo o fluxo <strong>de</strong> X em R <strong>da</strong>do porϕ(t, x, y) = (x, y) + t(x 0 , y 0 )(mod 1).O comportamento <strong>da</strong>s trajetórias <strong>de</strong> X <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> inclinação <strong>de</strong>stas retas, que é ainclinação do vetor (x 0 , y 0 ) que <strong>de</strong>fine o campo constante X 0 no plano. Supomos que


454(t,x)4(t,x)4(t,x)4(t,x)Figura 2.6: Retrato <strong>de</strong> fase do campo constante X.(x 0 , y 0 ) = (1, d) com d ≠ 0. Se a inclinação d é um número racional l , então para ca<strong>da</strong>q(x, y) valeϕ(q, x, y) = (x, y) + q(x 0 , y 0 )(mod1) = (x, y) + (q, l)(mod1) = (x, y)(mod1),<strong>de</strong> modo que to<strong>da</strong>s as órbitas <strong>de</strong> X são periódicas. Reciprocamente, se alguma órbita<strong>de</strong> X é periódica, digamos ϕ(T, x, y) = (x, y) + T (x 0 , y 0 )(mod1) = (x, y)(mod1) entãoT (x 0 , y 0 ) = (x, y) + T (x 0 , y 0 ) − (x, y) ∈ Z 2 , ou seja, existem m, n ∈ Z tais que T (x 0 , y 0 ) =T (1, d) = (n, m) ∈ Z 2 e portanto T = n ∈ Z e d = m Tum número racional.= m n∈ Q, ou seja, a inclinação d éSendo assim, obtemos uma dicotomia: se a inclinação d <strong>da</strong>s trajetórias é racional,to<strong>da</strong>s as órbitas <strong>de</strong> X são periódicas e se d é irracional nenhuma órbita <strong>de</strong> X é periódica.Vamos mostrar agora que se d é irracional ca<strong>da</strong> órbita no toro é <strong>de</strong>nsa no toro. Assim,em particular, como nenhuma órbita no toro é uma singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> nem é periódica, estecampo exibe um contra-exemplo ao teorema <strong>de</strong> Poincaré-Bendixson no toro, já que oconjunto ω–limite <strong>de</strong> qualquer ponto no toro é o próprio toro, portanto é não-vazio, nãopossui singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> e não é uma órbita periódica.Supomos então que d é irracional. Para ca<strong>da</strong> t = n ∈ Z temos que ϕ(t, 0, 0) =ϕ(n, 0, 0) = (0, 0) + n(1, d)(mod1) = (0, 0) + (n, nd)(mod1) = (0, nd). Para ca<strong>da</strong> n ∈ Z,


46vamos i<strong>de</strong>ntificar o ponto (0, nd) com o ponto (0, x n ), on<strong>de</strong> x n ∈ [0, 1],Afirmação: O conjunto {x n : n ∈ Z} é <strong>de</strong>nso em [0, 1].E temos portanto, que a trajetória ϕ <strong>de</strong> X em T 2 passa por um conjunto <strong>de</strong>nso <strong>de</strong>pontos do círculo {0} × [0, 1] <strong>de</strong> T 2 . Isto mostra que a órbita <strong>de</strong> X por (0, 0) é <strong>de</strong>nsa notoro T 2 . Como to<strong>da</strong>s as órbitas <strong>de</strong> X são translações em R 2 <strong>da</strong> órbita por (0, 0), to<strong>da</strong>s asórbitas <strong>de</strong> X com inclinação irracional são <strong>de</strong>nsas em T 2 .Prova <strong>da</strong> Afirmação: Para provar a afirmação, aplicamos o lema 2.3.2. Assim apartir <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ntificação x ∼ y se, e somente se, existe n ∈ Z tal que y = x + n, tomamospara ca<strong>da</strong> n ∈ Z um x n ∈ [0, 1] tal que nd ∼ x n e concluimos que {x n : n ∈ Z} é <strong>de</strong>nsoem [0, 1].□2.4 <strong>Ciclos</strong> limitesNo que segue, continuamos <strong>de</strong>notando por X : U ⊆ R 2 → R 2 um campo <strong>de</strong> classe C 1<strong>de</strong>finido no aberto U.Definição 2.4.1 (Ciclo limite). Um ciclo limite do campo X é uma órbita periódicaisola<strong>da</strong> <strong>de</strong> X. Mais precisamente, uma órbita periódica γ <strong>de</strong> X é um ciclo limite <strong>de</strong> Xse existir um aberto U 0 ⊆ U tal que γ ⊆ U 0 e O(z) não é órbita periódica para nenhumz ∈ U 0 .Exemplo 8. Consi<strong>de</strong>re o campoX(x, y) = ( −y − x(−1 + x 2 + y 2 ), x − y(−1 + x 2 + y 2 ) ) .Fazendo a mu<strong>da</strong>nça para coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s polares x = r cos θ e y = r sin θ obtemos quex = r cos θ ⇒ x ′ = r ′ cos θ − rθ ′ sin θy = r sin θ ⇒ y ′ = r ′ sin θ + rθ ′ cos θ.Masx ′ = −y − x(−1 + x 2 + y 2 ) = −r sin θ − r cos θ(−1 + r 2 )y ′ = x − y(−1 + x 2 + y 2 ) = r cos θ − r sin θ(−1 + r 2 )


47e assim temos−r sin θ − r cos θ(−1 + r 2 ) = r ′ cos θ − rθ ′ sin θ (2.1)r cos θ − r sin θ(−1 + r 2 ) = r ′ sin θ + rθ ′ cos θ. (2.2)Multiplicando a equação (2.1) por (cos θ) e a equação (2.2) por (sin θ) e em segui<strong>da</strong>somando as duas obtemosr ′ = −r(−1 + r 2 ).Agora multiplicando a equação (2.1) por (− sin θ) e a equação (2.2) por (cos θ) esomando as duas obtemosθ ′ = 1.Dessa forma, obtemos o seguinte sistema em coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s polares⎧⎨ r ′ = −r(−1 + r 2 )⎩θ ′ = 1(2.3)do qual obtemos θ(t) = t+θ 0 e r(t) <strong>da</strong>do implicitamente por lnr(1−r 2 ) 1 2= t+c. Observemosque para esboçarmos o retrato <strong>de</strong> fase no plano xy basta observarmos o sinal <strong>de</strong> r ′ e <strong>de</strong>θ ′ :• θ ′ = 1 > 0 e portanto a componente angular é crescente;• r ′ = −r(−1 + r 2 ) e portanto a componente radial é crescente para 0 < r < 1 e<strong>de</strong>crescente para r > 1;• (r, θ) = (1, t) e (r, θ) = (0, t) são soluções <strong>de</strong> (2.3) que nas coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s cartesianasrepresentam um ciclo limite e uma singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>, respectivamente.Na figura 2.7 temos esboçado o retrato <strong>de</strong> fase do campo X.□Definição 2.4.2. Dizemos que γ é um ciclo limite estável se existir um aberto U 0 ⊆ Utal que γ ⊆ U 0 e ω(x) = γ para ca<strong>da</strong> x ∈ U 0 ; γ é um ciclo limite instável se existirum aberto U 0 ⊆ U tal que γ ⊆ U 0 e α(x) = γ para ca<strong>da</strong> x ∈ U 0 ; γ é um ciclo limitesemi-estável se existir um aberto U 0 ⊆ U tal que γ ⊆ U 0 e ω(x) = γ, para ca<strong>da</strong> x ∈ U 0 ∩


48Figura 2.7: Retrato <strong>de</strong> fase do campo <strong>de</strong> vetores do exemplo 8.ext γ e α(x) = γ, para ca<strong>da</strong> x ∈ U 0 ∩ int γ ou então ω(x) = γ, para ca<strong>da</strong> x ∈ U 0 ∩ int γe α(x) = γ, para ca<strong>da</strong> x ∈ U 0 ∩ ext γ.Observação. Equivalentemente, o ciclo limite γ é dito é estável se lim d(ϕ(t, q), γ) = 0,t→∞para todo q ∈ U 0 ; γ será instável quando lim d(ϕ(t, q), γ) = 0, para todo q ∈ U 0; et→−∞finalmente γ será semi-estável quando lim d(ϕ(t, q), γ) = 0, para todo q ∈ U 0 ∩ ext γt→∞e lim d(ϕ(t, q), γ) = 0, para todo q ∈ U 0 ∩ int γ, ou lim d(ϕ(t, q), γ) = 0, para todot→−∞ t→∞q ∈ U 0 ∩ int γ e lim d(ϕ(t, q), γ) = 0, para todo q ∈ U 0 ∩ ext γ.t→−∞Observemos que o ciclo limite do exemplo acima é estável.Proposição 2.4.3. Seja γ um ciclo limite <strong>de</strong> X. Então ou γ é estável ou instável ousemi–estável.Demonstração – Como X(y) ≠ 0 para todo y ∈ γ existe um aberto U 1 ⊆ U talque γ ⊆ U 1 e X(y) ≠ 0 para ca<strong>da</strong> y ∈ U 1 . Tomamos y 0 ∈ γ e uma seção transversalΣ a X em y 0 . Pela continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma solução ϕ, existe Σ 0 ⊆ Σ tal que Σ 0 é aberto,y 0 ∈ Σ 0 e para ca<strong>da</strong> y ∈ Σ 0 existe t > 0 tal que ϕ y (t) ∈ Σ, com t próximo ao período<strong>de</strong> γ. Olhando para esta aplicação <strong>de</strong> retorno em Σ, temos quatro casos, fixando doispontos y 1 < y 0 < y 2 em Σ, que correspon<strong>de</strong>m aos casos <strong>de</strong>sta Proposição. Os segmentos<strong>de</strong> trajetória <strong>de</strong>terminam uma região na qual não há nem singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s e nem órbitas


49Figura 2.8: Figura referente a Proposição 2.4.3.periódicas exceto γ e portanto pelo Teorema <strong>de</strong> Poincaré-Bendixson segue a Proposição.Veja figura 2.8.2.5 Estrutura local <strong>da</strong>s órbitas periódicas2.5.1 A transformação <strong>de</strong> PoincaréA transformação <strong>de</strong> Poincaré associa<strong>da</strong> a uma órbita fecha<strong>da</strong> γ <strong>de</strong> um campo vetorial éum difeomorfismo π que <strong>de</strong>screve o comportamento do campo em uma vizinhança <strong>de</strong> γ.Sejam {ϕ(t, p) : 0 ≤ t ≤ T } uma órbita periódica <strong>de</strong> período T <strong>de</strong> um campo X <strong>de</strong>classe C r , r ≥ 1 ou r = ω, <strong>de</strong>finido no aberto U ⊆ R n e Σ uma seção transversal a X emp. Em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> continui<strong>da</strong><strong>de</strong> do fluxo ϕ <strong>de</strong> X, para todo ponto q ∈ Σ próximo <strong>de</strong> pa trajetória ϕ(t, p) permanece próxima a γ, com t em um intervalo compacto pré-fixado,por exemplo, [0, 2T ]. Define-se π(q) como o primeiro ponto on<strong>de</strong> esta órbita interceptaΣ. Seja Σ 0 o domínio <strong>de</strong> π. Naturalmente p ∈ Σ 0 e π(p) = p.Muitas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s do campo X perto <strong>de</strong> γ se refletem em π. Por exemplo, as órbitasperiódicas <strong>de</strong> X vizinhas <strong>de</strong> γ correspon<strong>de</strong>m aos pontos periódicos <strong>de</strong> π, que são os pontosq ∈ Σ 0 para os quais π n (q) = q para algum inteiro n ≥ 1. O comportamento assintótico<strong>da</strong>s órbitas <strong>de</strong> X perto <strong>de</strong> γ também é <strong>de</strong>scrito pela transformação <strong>de</strong> Poincaré π. Assimlimn→∞ πn (q) = p implica limt→∞d(ϕ(t, q), γ) = 0.Observação. A seção Σ consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> acima é uma hipersuperfície ou uma subvarie<strong>da</strong><strong>de</strong>diferenciável (n−1)–dimensional do aberto U ⊆ R n . Po<strong>de</strong>-se supor que a varie<strong>da</strong><strong>de</strong> Σ que


50aqui aparece é um disco <strong>de</strong> um subespaço vetorial ou afim <strong>de</strong> R n , sem que isto constituauma restrição séria.A seguir, vamos <strong>de</strong>monstrar que π : Σ 0 → Σ é um difeomorfismo <strong>de</strong> classe C r , r ≥ 1ou r = ω, sobre sua imagem Σ 1 = π(Σ 0 ). Vamos usar o Teorema do Fluxo Tubular eseu corolário 1.3.6 para <strong>da</strong>r precisão a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> π. Seja V uma vizinhança <strong>de</strong> p <strong>da</strong><strong>da</strong>pelo corolário 1.3.6. Como ϕ(T, p) = p existe uma vizinhança Σ 0 <strong>de</strong> p em Σ tal queϕ(T, q) ∈ V para todo q ∈ Σ 0 . Seja ξ : V → Σ a aplicação <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> no corolário 1.3.6.Pomos π : Σ 0 → Σ <strong>da</strong><strong>da</strong> por π(q) = ξ(ϕ(T, q)).Outra expressão para π é π(q) = ϕ(T + τ(ϕ(T, q)), q), on<strong>de</strong> τ : V → R é o tempo τ(x)que leva a órbita por x em V para interceptar Σ. Do teorema <strong>da</strong>s funções implícitas, τ é<strong>de</strong> classe C r .Destas expressões, resulta que π é <strong>da</strong> mesma classe <strong>de</strong> diferenciabili<strong>da</strong><strong>de</strong> que X. Ainversa π −1 : Σ 1 → Σ 0 <strong>de</strong> π é <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> tomando-se o campo −X. Fica provado que π éum difeomorfismo C r , com r ≥ 1 ou r = ω.Observação. Voltando aos ciclos limites, teremos que sua relação com a transformação<strong>de</strong> Poincaré vai ser a seguinte: γ será um ciclo limite <strong>de</strong> X por p se, e somente se, p é umponto fixo isolado <strong>de</strong> π. Ain<strong>da</strong>,1. γ é estável se, e somente se, |π(x) − p| < |x − p|, para todo x ≠ p próximo <strong>de</strong> p;2. γ é instável se, e somente se, |π(x) − p| > |x − p|, para todo x ≠ p próximo <strong>de</strong> p;3. γ é semi-estável se, e somente se, |π(x) − p| < |x − p|, para todo x ∈ Σ ∩ ext γpróximo <strong>de</strong> p e |π(x) − p| > |x − p|, para todo x ∈ Σ ∩ int γ próximo <strong>de</strong> p, ou ocontrário.Em particular, se X é analítico, e π(x) não é a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>, então π(x) = p + a k (x −p) k + · · · , com a k ≠ 0.Portanto, se k é impar, γ é estável se a k < 0 e instável se a k > 0. Se k é par γ ésemi-estável. Se π(x) = x, isto é, todos os a k são zero, γ está no interior <strong>de</strong> uma faixa <strong>de</strong>órbitas periódicas <strong>de</strong> X.


51ggestávelx=yinstávelx=ygraf pgraf pggx=yx=ygraf psemi-estáveisgraf pFigura 2.9: <strong>Ciclos</strong> limites e respectivos gráficos <strong>da</strong> aplicação <strong>de</strong> Poincaré π.No caso em que X é C 1 , se π ′ (x) < 1, po<strong>de</strong>mos aplicar o teorema do valor médio econcluir que γ é estável. Por outro lado, γ é instável se π ′ (x) > 1. Veja a figura 2.9.O teorema abaixo, cuja <strong>de</strong>monstração po<strong>de</strong> ser obti<strong>da</strong> em [13], página 30, estabeleceuma condição suficiente para que uma órbita periódica seja um ciclo limite estável.Teorema 2.5.1. Seja X = (X 1 , X 2 ) : U → R 2 um campo vetorial <strong>de</strong> classe C 1 no abertoU ⊆ R 2 . Seja γ uma órbita periódica <strong>de</strong> X <strong>de</strong> período T e π : Σ 0 → Σ a transformação<strong>de</strong> Poincaré em uma seção transversal Σ em p ∈ γ. Então(∫ T)π ′ (p) = exp div X(γ(t))dt .0


52Em particular, se ∫ Tdiv X(γ(t))dt < 0 então γ é estável, e se ∫ Tdiv X(γ(t))dt > 0, γ é0 0instável.


Capítulo 3A Equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> paraCircuitos ElétricosNeste capítulo faremos um estudo qualitativo <strong>da</strong> equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> (com o parâmetroε = 1). Tal equação é um caso particular <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s equações <strong>de</strong> Lienard. As equações<strong>de</strong> Lienard mo<strong>de</strong>lam o sistema físico <strong>de</strong> um circuito elétrico RLC. Na primeira seçãocomeçamos enten<strong>de</strong>ndo matematicamente o que vem a ser um tal circuito. A segun<strong>da</strong>seção será to<strong>da</strong> <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> ao estudo <strong>da</strong> equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> (com o parâmetro ε = 1).Na terceira seção estu<strong>da</strong>remos uma classe mais geral <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> Lienard e encontraremosuma bifurcação <strong>de</strong> Andronov–Hopf para esta família.3.1 Circuito elétrico RLCExemplos <strong>de</strong> circuitos elétricos RLC em série e em paralelo po<strong>de</strong>m ser observados na figura3.1. Vamos explorar somente o circuito a esquer<strong>da</strong> <strong>da</strong> figura 3.1, que é um circuito RLCem série. O circuito tem três ramos, um resistor marcado por R, um indutor marcadopor L e um capacitor marcado por C.Através <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> ramo do circuito passa uma corrente elétrica que é medi<strong>da</strong> por umnúmero real. Denotemos por i R , i L e i C as medi<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s correntes elétricas pelo resistor,indutor e capacitor, respectivamente. As flechas na figura do circuito RLC indicam ocaminho que a corrente percorre.53


54Figura 3.1: Circuitos elétricos RLC em série e em paralelo.Representaremos num <strong>da</strong>do momento o estado <strong>da</strong>s correntes no circuito por um pontoi = (i R , i L , i C ) ∈ R 3 . A Lei <strong>de</strong> Corrente <strong>de</strong> Kirchhoff (LCK) afirma que a corrente totalfluindo em um nó é igual a corrente total fluindo fora <strong>de</strong>ste nó. Para o nosso caso isso éequivalente aLCK : i R = i L = −i C .Isto <strong>de</strong>fine um subespaço unidimensional K 1 <strong>de</strong> R 3 dos estados físicos <strong>da</strong> corrente.O estado do circuito é caracterizado pela corrente elétrica i = (i R , i L , i C ) juntamentecom a voltagem ou tensão elétrica através <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> ramo. Denotemos as medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ssasvoltagens por v R , v L e v C no ramo resistor, indutor e capacitor, respectivamente. Atensão elétrica é a diferença <strong>de</strong> potencial e para medi-la utilizamos um aparelho chamadovoltímetro. A medi<strong>da</strong> v R <strong>da</strong> voltagem no resistor será então <strong>da</strong><strong>da</strong> pela diferença entre amedi<strong>da</strong> <strong>da</strong> voltagem no nó β e no nó α,V (β) − V (α) = v R .A direção <strong>da</strong> flecha é o que <strong>de</strong>termina se v R = V (β) − V (α) ou se v R = V (α) − V (β).O estado <strong>da</strong> voltagem no circuito será representado por um ponto v = (v R , v L , v C ) ∈R 3 . Neste caso, temos quev R + v L − v C = (V (β) − V (α)) + (V (α) − V (γ)) − (V (β) − V (γ)) = 0.


55Essa igual<strong>da</strong><strong>de</strong> também é conheci<strong>da</strong> como Lei <strong>de</strong> Voltagem <strong>de</strong> Kirchhoff (LVK). EntãoLV K : v R + v L − v C = 0.Isto <strong>de</strong>fine um subespaço bidimensional K 2 <strong>de</strong> R 3 dos estados físicos <strong>da</strong> voltagem.O espaço produto R 3 × R 3 é o espaço para o circuito. Os estados (i, v) ∈ R 3 × R 3satisfazendo as leis <strong>de</strong> Kirchhoff formam um subespaço tridimensional do espaço R 3 × R 3 .Fisicamente falando, o resistor no circuito RLC <strong>de</strong>sempenha uma relação sobre acorrente i R e a voltagem v R . No nosso circuito <strong>de</strong>finimos essa relação por uma funçãof : R → R, assim temos a relação v R = f(i R ). No caso em que R é um resistor linearconvencional temos que f é linear, e então v R = K · i R . Essa relação também é conheci<strong>da</strong>como 1 a Lei <strong>de</strong> Ohm. Para funções não-lineares temos uma Lei <strong>de</strong> Ohm generaliza<strong>da</strong>. Ográfico <strong>da</strong> função f é <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> a característica do resistor.Um ponto (i, v) ∈ R 3 × R 3 satisfazendo LCK, LVK e também f(i R ) = v R será umestado físico do circuito e o conjunto Υ ⊆ R 3 × R 3 é o conjunto formado pelos estadosfísicos. Assim Υ é o conjunto <strong>de</strong> pontos (i R , i L , i C , v R , v L , v C ) em R 3 × R 3 que satisfazemLCK, LVK e a Lei <strong>de</strong> Ohm generaliza<strong>da</strong>.No rumo para encontrar uma mo<strong>de</strong>lagem matemática para o nosso circuito, a Lei <strong>de</strong>Fara<strong>da</strong>y especifica que para o indutor e para o capacitor valem queL d dt i L(t) = v L (t) e C d dt v C(t) = i C (t)on<strong>de</strong> L e C são constantes positivas chama<strong>da</strong>s <strong>de</strong> indutância e capacitância, respectivamente.Po<strong>de</strong>mos simplificar o conjunto Υ dos estados físicos obser<strong>van</strong>do que i L e v C <strong>de</strong>terminamas outras quatro coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s. De fato, basta notar pela LCK que i R = i L e i C = −i L ,pela Lei <strong>de</strong> Ohm generaliza<strong>da</strong> v R = f(i R ) = f(i L ) e pela LVK, v L = v C −v R = v C −f(i L ).Portanto po<strong>de</strong>mos usar R 2 como nosso espaço <strong>de</strong> estados, com coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s <strong>da</strong><strong>da</strong>s por(i L , v C ).Dessa forma po<strong>de</strong>mos reescrever as equações <strong>da</strong> Lei <strong>de</strong> Fara<strong>da</strong>y porL d dt i L = v L = v C − f(i L ) e C d dt v C = i C = −i L .


56Em particular, como se trata apenas <strong>de</strong> um exemplo, po<strong>de</strong>mos tomar L = C = 1. Escrevendox = i L e y = v C , obtemos o seguinte sistema <strong>de</strong> equações diferencial planardxdt= y − f(x)dydt= −x.Este sistema é uma forma particular dos conhecidos sistemas <strong>de</strong> Lienard.3.2 A equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>A clássica família <strong>de</strong> equações <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> é a família a 1 parâmetro <strong>de</strong> equações <strong>de</strong>segun<strong>da</strong> or<strong>de</strong>m <strong>da</strong><strong>da</strong> poron<strong>de</strong> ε > 0.ẍ + ε(x 2 − 1)ẋ + x = 0,Consi<strong>de</strong>remos a seguinte mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s:∫X = x, Y = ẋ +ε(x 2 − 1)dx.Assim, voltando a <strong>de</strong>notar as variáveis por x e y, obtemos o sistema <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m<strong>da</strong>do pordxdtdydt= y − ε( x33 − x)= −x.Fazendo a mu<strong>da</strong>nça linear <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s(x 1 , y 1 ) = ( x √3,y√3),(3.1)temos que a análise <strong>da</strong> família (3.1) é equivalente a análise <strong>de</strong>dxdtdydt= y − ε(x 3 − x)= −x.O sistema acima é do tipo Lienard com f(x) = ε(x 3 − x).(3.2)


57Vamos estu<strong>da</strong>r o retrato <strong>de</strong> fase do sistema (3.2) para ε = 1, ou seja, estu<strong>da</strong>remos oseguinte sistemaquedxdtdydt= y − x 3 + x= −x.(3.3)Temos que uma singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> do sistema (3.3) é um ponto (x, y) ∈ R 2 satisfazendo⎧⎨⎩y − x 3 + x = 0−x = 0Isso nos dá que a origem (0, 0) é a única singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> do sistema <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> (3.3).Para analisar esta singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>re o linearizado do campo X(x, y) = (y −x 3 + x, −x) na origem. Po<strong>de</strong>mos associar tal campo linearizado com o sistema diferencialY ′ = AY , on<strong>de</strong>A = DX(0, 0) =⎛⎝ 1 1−1 0Os autovalores <strong>de</strong> A são <strong>da</strong>dos como raízes do polinômio <strong>de</strong> 2 ◦ grau⎞⎠ .p(λ) = <strong>de</strong>t(A − λI 2 ) = λ 2 − λ + 1do qual obtemosλ ± = 1 2(1 ± √ )3i .Assim vemos que a origem é um foco instável para A, ou então, topologicamente falando,a origem é uma fonte para A. Como a parte real <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> autovalor <strong>de</strong> A é não nula, temosque a origem é uma singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> hiperbólica do campo X e, portanto, pelo teorema 1.4.2<strong>de</strong> Grobman-Hartman a origem é uma fonte para a equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>.Nosso objetivo agora é <strong>da</strong>r uma <strong>de</strong>scrição completa do retrato <strong>de</strong> fase <strong>da</strong> equação <strong>de</strong><strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>. Para isso, <strong>de</strong>notemos por ϕ t o fluxo do sistema (3.3).Teorema 3.2.1. Para a equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> existe uma única solução periódica nãotrivialpara a qual to<strong>da</strong> outra solução (exceto o ponto singular na origem) ten<strong>de</strong>.


58Figura 3.2: Campo <strong>de</strong> vetores <strong>da</strong> equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> nas curvas u + , u − , h + , h − e nas regiõesA, B, C, D.Provaremos este teorema adiante. Para isto, <strong>de</strong>finiremos uma transformação <strong>de</strong> Poincarée chegaremos que esta possui um único ponto fixo o qual correspon<strong>de</strong> a única soluçãoperiódica não-trivial <strong>da</strong> equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>.Nosso próximo passo é mostrar que to<strong>da</strong> solução regular gira ao redor <strong>da</strong> origem nosentido horário. Para isso, vamos dividir o plano em quatro regiões abertas disjuntas, naqual <strong>de</strong>notamos por A, B, C e D, como dispostas na figura 3.2. Essas quatro regiões são<strong>da</strong><strong>da</strong>s como complemento <strong>da</strong>s curvasy − x 3 + x = 0−x = 0.Para ser mais preciso, <strong>de</strong>finimos as seguintes quatro curvas:u + = {(x, y) : y > 0, x = 0},h + = {(x, y) : x > 0, y = x 3 − x},u − = {(x, y) : y < 0, x = 0},h − = {(x, y) : x < 0, y = x 3 − x}.Estas curvas são disjuntas e juntamente com a origem elas formam a fronteira <strong>da</strong>s regiõesA, B, C e D.


59O comportamento do campo <strong>de</strong> vetores X(x, y) = (y − x 3 + x, −x) <strong>da</strong>do pela equação<strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> em cima <strong>de</strong>stas quatro curvas e nas regiões A, B, C e D po<strong>de</strong> ser vistona figura 3.2. Essa figura sugere que as trajetórias do campo giram em forma espiral aoredor <strong>da</strong> origem no sentido horário. Os próximos resultados vão tornar isto mais preciso.Observação. Po<strong>de</strong>-se verificar facilmente que o campo X(x, y) = (y − x 3 + x, −x) ésimétrico em relação a origem, isto é, X(−x, −y) = −X(x, y).Isto significa que se(x(t), y(t)) é uma curva solução, então (−x(t), −y(t)) também será.Proposição 3.2.2. Qualquer trajetória do campo X começando sobre u + entra na regiãoA e cruza as curvas h + , u − e h − no sentido horário, passando pelas regiões B, C e Dantes <strong>de</strong> retornar a u + .Demonstração – Seja (x(t), y(t)) uma curva solução para o sistema (3.3) começandosobre u + , ou seja, (x(0), y(0)) ∈ u + . Então x(0) = 0 e y(0) > 0. Uma vez que x ′ (0) > 0,segue que x(t) cresce para t pequeno e isso faz com que tal solução entre na região A.Agora em A temos que y ′ (t) < 0 <strong>de</strong> modo que esta solução <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>crescer na direção <strong>de</strong>y e isso fará com que a solução encontre h + . Sobre h + ain<strong>da</strong> temos y ′ (t) < 0 e x ′ = 0 <strong>de</strong>modo que a solução <strong>de</strong>cresce na direção <strong>de</strong> y entrando na região B. Em B temos x ′ (t) < 0e y ′ (t) < 0 <strong>de</strong> modo que a solução vai em direção sudoeste e assim não po<strong>de</strong> voltar paraA. Ficam duas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s: ou a solução cruza u − ou então ten<strong>de</strong> a −∞ na direção <strong>de</strong>y e nunca cruza u − .Suponhamos que este último caso aconteça. Seja (x 0 , y 0 ) um ponto sobre essa soluçãona região B. Como x(t) nunca é zero em B, então a curva solução (x(t), y(t)) situa-se nafaixa S <strong>da</strong><strong>da</strong> por 0 < x ≤ x 0 , y ≤ y 0 , e por hipótese temos que y(t) → −∞ quando t → t 0para algum t 0 . Provemos que t 0 = ∞. Para isso, note que pelo Teorema Fun<strong>da</strong>mental doCálculoy(t) − y 0 =∫ ty ′ (s)ds =∫ t00−x(s)ds. (3.4)Mas 0 < x(s) ≤ x 0 e assim só po<strong>de</strong>mos ter y(t) → −∞ se t → ∞.Analisemos agora x(t) para 0 ≤ t < ∞. Temos que x ′ = y−x 3 +x. Como a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>


60p(y)y*yy(1,0)a(y)Figura 3.3: A aplicação <strong>de</strong> Poincaré π e a aplicação α sobre u + .−x 3 + x é limita<strong>da</strong> na faixa S e y(t) → −∞ quando t → ∞, segue quex(t) − x 0 =∫ tx ′ (s)ds =∫ t00[y(s) − x 3 (s) + x(s)]ds → −∞ (3.5)quando t → ∞. Mas isso contradiz que x(t) > 0. Portanto essa solução <strong>de</strong>ve cruzar u − .Usando a simetria do campo X, segue então que tal solução <strong>de</strong>ve passar através <strong>da</strong>sregiões C e D e retornar a u + <strong>de</strong> modo similar.No que segue, i<strong>de</strong>ntificaremos o eixo dos y com os números reais. Assim se y 1 , y 2 ∈u + ∪ u − escrevemos y 1 > y 2 para dizer que y 1 está acima <strong>de</strong> y 2 .De posse <strong>da</strong> última proposição, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir uma transformação <strong>de</strong> Poincaré πsobre a semi-reta u + . Assim, <strong>da</strong>do um ponto (0, y 0 ) ∈ u + , <strong>de</strong>finimos π(y 0 ) como sendoa coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong> y do primeiro retorno <strong>de</strong> ϕ t (0, y 0 ) para u + , com t > 0.Pela unici<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>da</strong>s soluções temos que π é injetora. Ain<strong>da</strong> pela unici<strong>da</strong><strong>de</strong>, note que se y 1 > y 2 entãoπ(y 1 ) > π(y 2 ), como po<strong>de</strong> ser visto na figura 3.4.O próximo teorema é equivalente ao teorema 3.2.1 na versão <strong>da</strong> transformação <strong>de</strong>Poincaré.Teorema 3.2.3. A transformação <strong>de</strong> Poincaré <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> acima tem um único ponto fixoem u + .Além disso, a seqüência π n (y) = π ◦ π n−1 (y) ten<strong>de</strong> a esse ponto fixo quandon → ∞ para todo y ∈ u + .


61y1y2y1y2p(y 1)p(y 2)a(y 2)a(y 1)Figura 3.4: Comportamento <strong>da</strong>s aplicações α e π em pontos distintos.A fim <strong>de</strong> provar o teorema, <strong>de</strong>finimos uma aplicação α : u + → u − on<strong>de</strong>, para ca<strong>da</strong>(0, y) ∈ u + , α(y) é a coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong> y do primeiro encontro <strong>de</strong> ϕ t (0, y) com u − , on<strong>de</strong> t > 0.Note pela figura 3.4 que se y 1 > y 2 então α(y 1 ) < α(y 2 ).Definimos também para ca<strong>da</strong> (0, y) ∈ u + a aplicação δ : u + → R <strong>da</strong><strong>da</strong> porδ(y) = 1 )(α(y) 2 − y 2 .2Observação. Pela unici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s soluções, existe um único ponto (0, y ∗ ) ∈ u + e tempo t ∗tal que o pe<strong>da</strong>ço <strong>da</strong> curva solução {ϕ t (0, y ∗ ) : 0 ≤ t ≤ t ∗ } intercepta a curva h + no ponto(1, 0) on<strong>de</strong> h + encontra o eixo dos x. Este fato po<strong>de</strong> ser visto na figura 3.3.Usaremos as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> função δ enunciados na proposição seguinte, para completara prova do teorema 3.2.3.Proposição 3.2.4. A função δ <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> acima satisfaz as seguintes proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s:1. δ(y) > 0 se y < y ∗ ;2. δ(y) é monótona, para y > y ∗ , e ten<strong>de</strong> a −∞ quando y → ∞.Demonstração – Consi<strong>de</strong>re W : R 2 → R a função energia para o sistema (3.3) que é<strong>da</strong><strong>da</strong> por∫ xW (x, y) = y22 + xdx = 1 2 (x2 + y 2 ).0


62Seja p ∈ u + , com p < y ∗ , e suponha que α(p) = ϕ τ (p). Denote por γ(t) = (x(t), y(t))para 0 ≤ t ≤ τ a curva solução ligando p ∈ u + a α(p) ∈ u − . Pela <strong>de</strong>finição temosδ(p) = 1 2 (α(p)2 − p 2 ) = 1 2 (y(τ)2 − y(0) 2 ) = W (x(τ), y(τ)) − W (x(0), y(0)).Assimδ(p) =∫ τ0dW (x(t), y(t))dt.dtMas pela Regra <strong>da</strong> Ca<strong>de</strong>ia, temos queddt W (x, y) = ∇W (x, y) · (x′ , y ′ ) = (x, y) · (y − x 3 + x, −x) = −x 4 + x 2 = x 2 (1 − x 2 ).Logoδ(p) =∫ τ0∫dτdt W (x(t), y(t))dt =0x(t) 2 (1 − x(t) 2 )dt. (3.6)Como p < y ∗ segue que 0 < x(t) < 1, e então o integrando x(t) 2 (1 − x(t) 2 ) é positivo,e portanto δ(p) > 0. Isso prova a parte 1 <strong>da</strong> proposição.Antes <strong>de</strong> começar a prova <strong>da</strong> parte 2, lembremos <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>finições.Sejam γ : [a, b] → R 2 uma curva C 1 por partes no plano, com γ(t) = (x(t), y(t)), eF : R 2 → R uma função. Definimos∫γF (x, y) =∫ baF (x(t), y(t))dt.Se tivermos que x ′ (t) ≠ 0 para a ≤ t ≤ b, então ao longo <strong>de</strong> γ, y é uma função <strong>de</strong> x.Assim, po<strong>de</strong>mos escrever y = y(x). Neste caso, usando mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> variáveis temos∫ baF (x(t), y(t))dt =∫ x(b)x(a)F (x, y(x)) dtdx dx.Portanto∫γF (x, y) =∫ x(b)x(a)F (x, y(x))dx.dx/dtSe y ′ (t) ≠ 0 temos uma expressão similar.Em vista disto, po<strong>de</strong>mos simplificar a última igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> (3.6) reescrevendo-a como∫δ(p) = x 2 (1 − x 2 ),γ


63pa(p)(1,0)Figura 3.5: As curvas γ 1 , γ 2 e γ 3 .on<strong>de</strong> γ é a curva ligando p a α(p) <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> anteriormente.Dividimos esta curva solução γ em três curvas γ 1 ,γ 2 e γ 3 como exposto na figura 3.5.Vamos restringir nossa atenção para os pontos p ∈ u + com p > y ∗ . As curvas γ 1 e γ 3estão <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s para 0 ≤ x ≤ 1, e a curva γ 2 está <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> para y 1 ≤ y ≤ y 2 . Temos entãoqueδ(p) = δ 1 (p) + δ 2 (p) + δ 3 (p)on<strong>de</strong>∫δ i (p) = x 2 (1 − x 2 ),γ ii = 1, 2, 3.Note que, ao longo <strong>de</strong> γ 1 , y(t) po<strong>de</strong> ser olhado como uma função <strong>de</strong> x. Assimδ 1 (p) =∫ 10x 2 (1 − x 2 ∫)1x 2 (1 − x 2 )dx =dx/dt0 y − x 3 + x dx.Quando p cresce sobre o eixo y, y − x 3 + x cresce (para (x, y) ∈ γ 1 ).Portanto δ 1 (p)<strong>de</strong>cresce quando p cresce.Sobre γ 3 , ain<strong>da</strong> po<strong>de</strong>mos olhar y(t) como uma função <strong>de</strong> x. Neste caso,δ 3 (p) =∫ 01x 2 (1 − x 2 ∫)1x 2 (1 − x 2 ∫)1dx = −dx/dt0 y − x 3 + x dx = x 2 (1 − x 2 )0 −(y − x 3 + x) dx.Quando p cresce sobre o eixo y, y−x 3 +x <strong>de</strong>cresce (para (x, y) ∈ γ 3 ), e assim −(y−x 3 +x)


64Figura 3.6: O gráfico <strong>da</strong> função δ.cresce. Portanto δ 3 (p) <strong>de</strong>cresce quando p cresce.Sobre γ 2 , x(t) po<strong>de</strong> ser olhado como uma função <strong>de</strong> y, que está <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> para y 1 ≤ y ≤y 2 e x ≥ 1. Portanto, temos queδ 2 (p) =∫ y1x(y) 2 (1 − x(y) 2 )y 2dy/dtdy =∫ y1y 2−x(y)(1 − x(y) 2 )dy =∫ y2y 1x(y)(1 − x(y) 2 )dy.Como x(y) ≥ 1 então o último integrando acima é negativo, e portanto δ 2 (p) < 0.Quando p cresce, o domínio <strong>de</strong> integração [y 1 , y 2 ] torna-se ca<strong>da</strong> vez maior e a curva γ 2move-se para a direita. Portanto x(y) cresce <strong>de</strong> modo que x(y)(1 − x(y) 2 ) <strong>de</strong>cresce. Segueque δ 2 (p) <strong>de</strong>cresce quando p cresce e assimlim δ 2(p) = −∞.p→∞Conseqüentemente, δ(p) também <strong>de</strong>cresce e ten<strong>de</strong> a −∞ quando p → ∞. Isso prova aparte 2 <strong>da</strong> proposição.Parte do gráfico <strong>da</strong> função δ po<strong>de</strong> ser visto na figura 3.6.Antes <strong>da</strong> prova do teorema 3.2.3 <strong>de</strong>finimos uma aplicação β : u − → u + <strong>da</strong> seguintemaneira: para ca<strong>da</strong> (0, y) ∈ u − , β(y) é o primeiro ponto <strong>de</strong> intersecção <strong>da</strong> trajetóriaϕ t (0, y) pelo ponto (0, y) com u + . Note que, π(y) = (β ◦ α)(y). Pela simetria, temostambém que β(y) = −α(−y). Ain<strong>da</strong>, po<strong>de</strong>mos observar pela figura 3.7, que se y 1 > y 2então β(y 1 ) < β(y 2 ).


65b(y 2)b(y 1)y1y2Figura 3.7: Comportamento <strong>da</strong> aplicação β em pontos distintos.Demonstração do teorema 3.2.3: A Proposição 3.2.4 nos diz que a função δ troca<strong>de</strong> sinal. Assim pelo Teorema do Valor Intermediário existe um y 0 ∈ u + tal que δ(y 0 ) = 0.Como a função δ é monótona temos que y 0 é o único ponto em u + que satisfaz δ(y) = 0.Conseqüentemente α(y 0 ) = −y 0 e aplicando β nesta última igual<strong>da</strong><strong>de</strong> obtemos queπ(y 0 ) = β(α(y 0 )) = β(−y 0 ) = −α(y 0 ) = y 0 .Portanto y 0 é o único ponto fixo <strong>da</strong> transformação <strong>de</strong> Poincaré π.Mostraremos agora que a seqüência π n (y) = π◦π n−1 (y) ten<strong>de</strong> a esse ponto fixo quandon → ∞ para todo y ∈ u + .Seja então y ∈ u + com y > y 0 . Assim temos queπ(y) > π(y 0 ) = y 0 .Como δ é <strong>de</strong>crescente segue que δ(y) < δ(y 0 ) = 0 e assimδ(y) < 0 ⇒ α(y) 2 < y 2 ⇒ |α(y)| < y ⇒ −y < α(y).Portanto π(y) = β(α(y)) < β(−y) = −α(y) < y. Assim, vemos que se y > y 0 entãoy 0 < π(y) < y. Aplicando π nesta última <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> obtemos então quey 0 = π(y 0 ) < π(π(y)) < π(y) < ye por indução, po<strong>de</strong>mos mostrar quey 0 < π n+1 (y) < π n (y) < y,


66Figura 3.8: Retrato <strong>de</strong> fase <strong>da</strong> equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>para todo n ∈ IN.Assim, a seqüência (π n (y)) n∈INé monótona <strong>de</strong>crescente e limita<strong>da</strong> por y 0 e y, logoexiste y 1 ≥ y 0 em u + tal que π n (y) → y 1 . Note que y 1 é um ponto fixo <strong>de</strong> π, pois pelacontinui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> π, temosπ(y 1 ) = π( limn→∞π n (y)) = limn→∞π(π n (y)) = y 1 .Como π tem um único ponto fixo, então y 1 = y 0 . Isso mostra que a solução por (0, y)ten<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma espiral para a solução periódica em (0, y 0 ) quando t → ∞.O caso quando y < y 0 é análogo e será omitido aqui. Como to<strong>da</strong> solução não-trivialencontra u + , a prova do teorema está completa.E <strong>de</strong>ssa forma, fica completo a <strong>de</strong>scrição do retrato <strong>de</strong> fase <strong>da</strong> equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>quando o parâmetro ε é igual a 1. Tal retrato po<strong>de</strong> ser visualizado na figura 3.8.3.3 Uma bifurcação <strong>de</strong> Andronov–HopfComeçamos esta seção, ilustrando através <strong>de</strong> um exemplo, o que vem a ser uma bifurcação<strong>de</strong> Andronov-Hopf. Logo após, estu<strong>da</strong>mos uma classe mais geral <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> Lienardon<strong>de</strong> também encontramos uma bifurcação <strong>de</strong>ste tipo. Mais especificamente, <strong>de</strong>screvere-


67mos como o retrato <strong>de</strong> fase do sistema <strong>de</strong> Lienard, agora com a função f <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>um parâmetro µ, po<strong>de</strong> mu<strong>da</strong>r quando tal parâmetro µ varia. Informalmente falando, umvalor µ 0 on<strong>de</strong> existe uma mu<strong>da</strong>nça na classe topológica do retrato <strong>de</strong> fase é chamado umponto <strong>de</strong> bifurcação.Uma bifurcação <strong>de</strong> Andronov–Hopf em sistemas planares acontece exatamente quandovemos o nascimento <strong>de</strong> um ciclo limite a partir <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> umfoco. Mais especificamente, quando consi<strong>de</strong>ramos uma família <strong>de</strong> campos planares X ′ =X(x, y, µ) e µ 0 ∈ R, com singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> p(µ) = (x 0 (µ), y 0 (µ)) satisfazendo que p(µ) é umfoco estável para µ < µ 0 , um foco instável para µ > µ 0 e DX(p(µ 0 )) não é hiperbólica,então temos uma bifurcação <strong>de</strong> Andronov–Hopf.Exemplo. Consi<strong>de</strong>re o campoX(x, y) = ( −y − x(µ + x 2 + y 2 ), x − y(µ + x 2 + y 2 ) ) .A origem é uma singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> do campo X e o sistema linearizado é <strong>da</strong>do por⎛ ⎞Y ′ = AY = ⎝ −µ −1 ⎠ Y.1 −µOs autovalores são −µ ± i, e assim esperamos uma bifurcação quando µ = 0. Note queneste valor o sistema <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser hiperbólico.Para vermos o que acontece quando µ passa por 0 façamos a mu<strong>da</strong>nça para coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>spolares x = r cos θ e y = r sin θ. Assim vamos obter, <strong>da</strong> mesma forma como foifeita no exemplo 8 <strong>da</strong> seção 4 do capítulo 2, o seguinte sistema em coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s polares⎧⎨ r ′ = −r(µ + r 2 ). (3.7)⎩ θ ′ = 1O retrato <strong>de</strong> fase do campo X no plano xy é obtido analisando-se o sinal <strong>de</strong> r ′ e <strong>de</strong>θ ′ . Distinguimos os três seguintes casos do retrato <strong>de</strong> fase <strong>de</strong> X, ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<strong>de</strong> certos valores <strong>de</strong> µ. Observamos que nos três casos a componente angular é semprecrescente, pois θ ′ = 1 > 0:


68• Se µ > 0, temos que r ′= −r(µ + r 2 ) < 0, para todo r > 0, <strong>de</strong> modo que acomponente radial é <strong>de</strong>crescente. Assim to<strong>da</strong> solução ten<strong>de</strong> para a origem em formaespiral, ou seja, a origem é um foco atrator para o campo X;• Para µ < 0, a componente radial é crescente para 0 < r < √ −µ e <strong>de</strong>crescentepara r > √ −µ. Além disso r ′ = 0 se r = √ −µ, assim o círculo <strong>de</strong> raio √ −µ emcoor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s cartesianas representa um ciclo limite para o campo X. No exemplo 8<strong>da</strong> seção 4 do capítulo 2, estu<strong>da</strong>mos o caso particular on<strong>de</strong> µ = −1;• Quando µ = 0 temos que r ′ = −r 3 < 0, para todo r > 0, <strong>de</strong> modo que a componenteradial é <strong>de</strong>crescente. Assim to<strong>da</strong> solução ten<strong>de</strong> para a origem em forma espiral.Neste caso, dizemos que a origem é um foco fraco. Note que para este valor <strong>de</strong> µ ocampo X <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser hiperbólico.Portanto vemos um exemplo <strong>de</strong> uma bifurcação <strong>de</strong> Andronov–Hopf, sendo queµ = 0 é o ponto <strong>de</strong> bifurcação. Na figura 3.9 temos visualizado como o retrato <strong>de</strong> fase docampo X mu<strong>da</strong> com o respectivo valor do parâmetro µ.□Estu<strong>da</strong>remos agora uma classe mais geral <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> Lienard, on<strong>de</strong> a função fagora <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> um parâmetro µ ∈ R. O comportamento físico do circuito será então<strong>de</strong>scrito pelo sistema <strong>de</strong> equações diferenciais em R 2dxdtdydt= y − f µ (x)= −x.Particularmente aqui vamos consi<strong>de</strong>rar o caso especial on<strong>de</strong> a função f µ é <strong>da</strong><strong>da</strong> porf µ (x) = x 3 − µx, on<strong>de</strong> µ ∈ [−1, 1]. Ou seja, estu<strong>da</strong>remos sistemas <strong>da</strong> formadxdtdydt= y − x 3 + µx= −x.(3.8)Po<strong>de</strong>mos pensar o parâmetro µ como sendo a temperatura do resistor. Quando µ = 1temos o sistema <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> <strong>da</strong> seção anterior.


69Figura 3.9: Variação do retrato <strong>de</strong> fase do sistema (3.7) no plano (x, y).Começamos o estudo vendo que a origem continua sendo a única singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> dosistema (3.8). O sistema linearizado <strong>de</strong> (3.8) é <strong>da</strong>do por⎛Y ′ = AY = ⎝ µ ⎞1 ⎠ Y. (3.9)−1 0Os autovalores <strong>de</strong> A são as raízes do polinômio <strong>de</strong> 2 ◦ graup(λ) = <strong>de</strong>t(A − λI 2 ) = λ 2 − µλ + 1do qual obtemosλ ± = 1 2(µ ± √ )µ 2 − 4 .Assim po<strong>de</strong>mos tirar que:• Para −1 ≤ µ < 0 os autovalores λ ± são complexos com parte real negativa e, assim,temos que a origem é um foco estável para o sistema linearizado (3.9), ou então,topologicamente falando, a origem é um poço para o sistema (3.9). Como nestecaso a origem é singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> hiperbólica, segue pelo teorema 1.4.2 <strong>de</strong> Grobman-Hartman que a origem também é um poço para o sistema (3.8). E portanto, to<strong>da</strong>solução ten<strong>de</strong> para origem;


70Figura 3.10: Variação do retrato <strong>de</strong> fase do sistema (3.8) no plano.• Quando 0 < µ ≤ 1 os autovalores λ ± são complexos com parte real positiva e, nestecaso, a origem é um foco instável para o sistema linearizado (3.9), ou topologicamentefalando, a origem é uma fonte para o sistema (3.9), e novamente pelo teorema1.4.2 <strong>de</strong> Grobman-Hartman temos que a origem também é uma fonte para o sistema(3.8). A análise feita na seção 3.2 po<strong>de</strong> ser aplica<strong>da</strong> neste caso em que µ ∈ (0, 1].E assim vemos o nascimento <strong>de</strong> uma única solução periódica γ µ quando µ passaatravés <strong>de</strong> zero. Tal solução atrai to<strong>da</strong> outra solução não–trivial e além disso, temosque γ µ → 0 quando µ → 0;• O valor µ = 0 é exatamente quando o sistema (3.8) <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser hiperbólico, poisneste caso temos os autovalores imaginários puros λ ± = ±i.Fica então <strong>de</strong>finido um exemplo <strong>de</strong> uma bifurcação <strong>de</strong> Andronov–Hopf, sendoque µ = 0 é o ponto <strong>de</strong> bifurcação. Note pela figura 3.10 que a estrutura básica do retrato<strong>de</strong> fase do sistema (3.8) mu<strong>da</strong> quando µ passa pelo valor 0.


Capítulo 4Sistemas <strong>de</strong> LienardO objetivo <strong>de</strong>ste capítulo é o estudo <strong>de</strong> equações diferenciais ordinárias <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> or<strong>de</strong>mque po<strong>de</strong>m ser escritas comoẍ + f(x, ẋ)ẋ + g(x) = 0. (4.1)Tais equações são conheci<strong>da</strong>s como equações <strong>de</strong> Lienard.Na literatura existente sobre o assunto encontramos duas maneiras distintas paraencontrarmos um sistema planar equivalente. A primeira <strong>de</strong>las é a maneira usual, queconsiste em consi<strong>de</strong>rarmos ẋ = y e assim o sistema planar é <strong>da</strong>do porẋ = y, ẏ = −f(x, y)y − g(x). (4.2)A segun<strong>da</strong> maneira é utiliza<strong>da</strong> somente para o caso particular em que f(x, ẋ) = f(x),isto é, para equações do tipoẍ + f(x)ẋ + g(x) = 0. (4.3)Para chegar no sistema planar equivalente a esta equação via essa segun<strong>da</strong> maneira,vamos mu<strong>da</strong>r a variável x <strong>da</strong> equação (4.3) para s e <strong>da</strong>í temos¨s + F ′ (s)ṡ + g(s) = 0 (4.4)on<strong>de</strong> F ′ (s) = f(s). Perante a mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s x = s e y = ṡ + F (s) temos queẏ = ¨s + F ′ (s)ṡ = −g(s) = −g(x)71


72eẋ = ṡ = y − F (s) = y − F (x)e no qual chegamos ao sistema⎧⎨⎩ẋ = y − F (x)ẏ = −g(x). (4.5)O Teorema <strong>de</strong> Poincaré–Bendixson estabelecido no capítulo 2 é usualmente utilizadopara estabelecer a existência <strong>de</strong> órbitas periódicas <strong>de</strong> certos sistemas. Um problemamuito mais <strong>de</strong>licado é <strong>de</strong>terminar o número exato <strong>de</strong> ciclos limites <strong>de</strong> um certo sistemaou <strong>de</strong> uma certa classe <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> parâmetros. Estu<strong>da</strong>mos neste capítuloresultados clássicos sobre a existência e a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ciclos limites <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong>Lienard (4.5) para F, g satisfazendo <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s condições. O primeiro resultado queestu<strong>da</strong>remos sobre a unici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ciclos limites dos sistemas (4.5), foi primeiro estabelecidopelo físico francês A. Lienard e por essa razão os sistemas <strong>da</strong> forma (4.5) são chamados<strong>de</strong> Sistemas <strong>de</strong> Lienard.Esta forma inclui a famosa equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>ẍ + ε(x 2 − 1)ẋ + x = 0 (4.6)<strong>da</strong> teoria dos circuitos elétricos como um caso especial.Lembremos que na primeira seção do Capítulo 3 foi estabelecido pela análise física <strong>de</strong>um circuito elétrico RLC um caso particular <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> Lienard, on<strong>de</strong> naquele casog(x) = x. Na segun<strong>da</strong> seção do Capítulo 3 <strong>de</strong>mos uma <strong>de</strong>scrição completa do retrato <strong>de</strong>fase <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> Lienard (a equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> (4.6) com o parâmetro ε = 1),sendo as funções F e g <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s por F (x) = x 3 − x e g(x) = x.O capítulo está organizado <strong>da</strong> seguinte maneira. Inicialmente vamos aplicar o Teorema<strong>de</strong> Poincaré–Bendixson para encontrarmos órbitas periódicas <strong>de</strong> equações <strong>de</strong> Lienard <strong>da</strong>forma geral (4.1). Em segui<strong>da</strong> estabeleceremos condições para a existência <strong>de</strong> um centropara o caso on<strong>de</strong> f(x, ẋ) = f(x) e finalmente estabeleceremos condições para a existência<strong>de</strong> ciclos limites. Observamos que para obtermos ciclos limites a forma apropria<strong>da</strong> para


73a equação <strong>de</strong> Lienard é a <strong>da</strong><strong>da</strong> pelo sistema (4.5) e as técnicas utiliza<strong>da</strong>s serão merasgeneralizações do que já estu<strong>da</strong>mos quando analisamos a existência <strong>de</strong> ciclos limites <strong>da</strong>equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>.4.1 Existência <strong>de</strong> soluções periódicas para equações<strong>de</strong> Lienard via Poincaré–BendixsonO Teorema <strong>de</strong> Poincaré-Bendixson po<strong>de</strong> ser empregado para obter outros teoremas sobrea existência <strong>de</strong> soluções periódicas <strong>de</strong> tipos mais abrangentes <strong>de</strong> equações diferenciais. Oseguinte resultado é um <strong>de</strong>stes teoremas. O tipo <strong>de</strong> equação diferencial que investigaremosé <strong>da</strong> forma (4.1). O sistema equivalente à equação é <strong>da</strong>do por (4.2).Teorema 4.1.1. Suponhamos que as funções f e g na equação (4.1) sejam contínuas eque se verifiquem as seguintes condições:1. existe a > 0 tal que f(x, y) > 0 quando x 2 + y 2 > a 2 ;2. f(0, 0) < 0 (e portanto f(x, y) < 0 numa vizinhança <strong>da</strong> origem);3. g(0) = 0, g(x) > 0 quando x > 0, e g(x) < 0 quando x < 0;4. G(x) = ∫ xg(u)du → ∞ quando x → ∞.0Então, nestas condições, a equação <strong>de</strong> Lienard (4.1) tem pelo menos uma solução periódica.Demonstração – Pela condição 3 temos que, g(0) = 0 e g(x) ≠ 0 para x ≠ 0. Issonos diz que a origem é a única singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> do sistema (4.2). Consi<strong>de</strong>remos a funçãoε(x, y) = 1 2 y2 + G(x).Essa função representa a energia do sistema <strong>de</strong> Lienard (4.2).Claramente temos que G(0) = 0 e G(x) > 0 quando x ≠ 0. Além disso, a função Gé monótona crescente para o infinito (por 4) e é contínua. Portanto, segue também queε(0, 0) = 0 e ε(x, y) > 0 para x ≠ 0 e y ≠ 0 (ou seja, a função ε é positiva <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>), e ε é


74Figura 4.1: Figura referente ao Teorema 4.1.1.contínua e cresce monotonicamente em to<strong>da</strong> direção radial <strong>da</strong> origem. Portanto a família<strong>de</strong> curvas <strong>de</strong> nívelε(x, y) = cconsiste <strong>de</strong> curvas fecha<strong>da</strong>s simples ao redor <strong>da</strong> origem. Quando c → 0 as curvas <strong>de</strong>níveis se aproximam <strong>da</strong> origem e quando c → ∞ eles se tornam infinitamente distantes<strong>da</strong> origem (essa é a principal conseqüência <strong>da</strong> condição 4).Po<strong>de</strong>mos escolher um nível c suficientemente pequeno, digamos c = c 1 , e chamaremosa curva <strong>de</strong> nível por ζ 1 , <strong>de</strong> modo que ζ 1 esteja inteiramente conti<strong>da</strong> na vizinhança <strong>da</strong>origem on<strong>de</strong>, pela condição 2, f(x, y) < 0. Vamos examinar uma trajetória ϕ 1 começandoem um ponto sobre ζ 1 . Temos que,˙ε(x, y) = ∇ε(x, y) · (ẋ, ẏ) = (g(x), y) · (y, −f(x, y)y − g(x)) = −y 2 f(x, y).Assim, para todo (x, y) sobre a curva ζ 1 (exceto quando y = 0), temos que ˙ε é positivo,pois f(x, y) < 0. Então, vamos escolher a trajetória ϕ 1 começando em um ponto sobre ζ 1com y ≠ 0. Dessa forma, a trajetória ϕ 1 segue em direção ao exterior <strong>de</strong> ζ 1 e nunca po<strong>de</strong>ir para o interior <strong>de</strong> ζ 1 , visto que para isso acontecer a trajetória ϕ 1 iria cruzar o interior<strong>de</strong> alguma curva <strong>de</strong> nível em direção a origem, mas isso seria um absurdo pois ˙ε ≥ 0 sobre


751-11-11Figura 4.2: Região on<strong>de</strong> encontramos uma órbita periódica <strong>da</strong> equação 4.7.to<strong>da</strong> curva <strong>de</strong> nível suficientemente próxima a ζ 1 , assim como sobre ζ 1 .Po<strong>de</strong>mos escolher também, pela condição 4, uma outra curva <strong>de</strong> nível ζ 2 para c suficientementegran<strong>de</strong>, digamos c = c 2 , <strong>de</strong> modo que ζ 2 esteja inteiramente fora do círculox 2 + y 2 = a 2 on<strong>de</strong>, pela condição 1, f(x, y) > 0. Seja ϕ 2 uma trajetória começandosobre ζ 2 ou cruzando ζ 2 . Para todo (x, y) sobre ζ 2 (exceto quando y = 0), temos que ˙εé negativo, pois f(x, y) > 0. Assim, to<strong>da</strong> trajetória começando sobre ζ 2 ou cruzando ζ 2segue em direção ao interior <strong>de</strong> ζ 2 , ou são tangentes (quando y = 0). Com um argumentosimilar como o <strong>da</strong>do acima, tal trajetória não po<strong>de</strong> mais escapar para o exterior <strong>de</strong> ζ 2 .Portanto, vemos que qualquer trajetória começando sobre ζ 1 ou sobre ζ 2 permanecena região limita<strong>da</strong> por ζ 1 e ζ 2 , e assim, pelo Teorema <strong>de</strong> Poincaré-Bendixson, existe umasolução periódica nessa região.Exemplo. Como uma aplicação do teorema anterior, vamos mostrar que a equaçãoẍ + (x 2 + ẋ 2 − 1)ẋ + x 3 = 0 (4.7)tem uma solução periódica, e vamos localizá-la entre duas curvas <strong>de</strong> nível <strong>da</strong> função ε.Aplicaremos o teorema para as funções f e g <strong>da</strong><strong>da</strong>s por f(x, y) = x 2 +y 2 −1 e g(x) = x 3 .Temos que, as funções G e ε serão <strong>da</strong><strong>da</strong>s porG(x) =∫ x0g(u)du = x44eε(x, y) = y22 + x44


76e as curvas <strong>de</strong> nível <strong>de</strong> ε são <strong>de</strong>scritas pela equaçãox 44 + y22 = c.A solução periódica obti<strong>da</strong> pelo teorema situa-se entre duas curvas <strong>de</strong> nível <strong>da</strong> função ε,uma no interior, e outra no exterior, <strong>da</strong> curva f(x, y) = 0 ou x 2 + y 2 = 1, e melhor será aprecisão <strong>da</strong> região que compreen<strong>de</strong>rá a solução periódica quanto melhor for a escolha <strong>da</strong>sduas curvas <strong>de</strong> nível no interior e no exterior <strong>de</strong> x 2 + y 2 = 1. O que queremos encontrar érespectivamente o min / max <strong>de</strong> x44 + y22 sujeito a x2 + y 2 = 1. O cálculo, usando o métododos multiplicadores <strong>de</strong> Lagrange, nos dá que max = 1 e min = 1 , respectivamente. (Veja2 4a figura 4.2).□4.2 Existência <strong>de</strong> centros para equações <strong>de</strong> LienardNesta seção, estabeleceremos a existência <strong>de</strong> um centro para a equação diferencial anteriormente<strong>de</strong>fini<strong>da</strong>ẍ + f(x)ẋ + g(x) = 0. (4.8)ou então para o sistema equivalente⎧⎨ ẋ = y⎩ẏ = −f(x)y − g(x). (4.9)Teorema 4.2.1. Suponhamos que em alguma vizinhança <strong>da</strong> origem as funções f e g <strong>da</strong>equação (4.8) ou então do sistema equivalente (4.9) sejam contínuas e que se verifiquemas seguintes condições:1. f(x) é ímpar, e quando x > 0, f(x) é só positiva ou só negativa;2. g(x) é ímpar, e g(x) > 0 quando x > 0 (e portanto g(0) = 0);3. g(x) > αf(x)F (x) para x > 0, on<strong>de</strong> F (x) = ∫ xf(u)du e α > 1.0Então, nestas condições, a origem é um centro para a equação <strong>de</strong> Lienard (4.8).


77Antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrarmos o teorema acima vejamos o seguinte exemplo.Exemplo. Como uma aplicação do teorema anterior, vamos mostrar que a equaçãoẍ + xẋ + x 3 = 0tem um centro na origem. Definindo as funções f e g como f(x) = x e g(x) = x 3 teremosentão que as condições 1 e 2 são satisfeitas, pois f e g são funções ímpares, f(x) = x ésó positiva no semi-plano x > 0 e g(x) = x 3 > 0 quando x > 0. Também temos queF (x) = 1 2 x2 , e portanto f(x)F (x) = 1 2 x3 . Dessa forma,g(x) − αf(x)F (x) = 1 2 x3 (2 − α)e assim quando 1 < α < 2 temos que g(x) > αf(x)F (x) para todo x > 0, e logo acondição 3 é satisfeita. (Veja figura 4.3).□Observemos que o sistema planar equivalente a equação do exemplo acima, cujo retrato<strong>de</strong> fase é <strong>da</strong>do na figura 4.3, é⎧⎨⎩ẋ = yẏ = −xy − x 3 . (4.10)É claro que, sendo a existência <strong>de</strong> um centro invariante por equivalência topológica, setivéssemos consi<strong>de</strong>rado a mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> Lienard concluiríamos também que o sistemapossui um centro na origem.⎧⎨⎩ẋ = y − x22ẏ = −x 3Demonstração do Teorema 4.2.1. Vamos supor na condição 1 que f(x) > 0 quandox > 0. O caso f(x) < 0 é análogo, basta trocar t por −t. Uma vez que as funções f eg são ímpares, as trajetórias do sistema (4.9) são simétricas em relação ao eixo y. Maisespecificamente, o campo <strong>de</strong> vetores X(x, y) = (y, −f(x)y −g(x)) é reversível com relação


78Figura 4.3: Retrato <strong>de</strong> fase do sistema 4.10.a involução linear R(x, y) = (−x, y), isto é,X ◦ R = −R ◦ Xe o conjunto dos pontos fixos <strong>de</strong> R é exatamente o eixo y.Pela condição 2, temos que a origem é a única singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> do sistema <strong>de</strong> Lienard(4.9). Consi<strong>de</strong>remos novamente a função energiaon<strong>de</strong> G(x) = ∫ x0 g(u)du.ε(x, y) = 1 2 y2 + G(x)Assim como no teorema anterior, a família <strong>de</strong> curvas <strong>de</strong> nívelε(x, y) = con<strong>de</strong> c > 0 é um parâmetro, <strong>de</strong>fine uma família <strong>de</strong> curvas fecha<strong>da</strong>s simples ao redor<strong>da</strong> origem. Quando c → 0 as curvas fecha<strong>da</strong>s se aproximam <strong>da</strong> origem. Vamos consi<strong>de</strong>raraqui uma tal família, <strong>de</strong> modo que as curvas estejam conti<strong>da</strong>s na vizinhança <strong>da</strong>origem on<strong>de</strong> as condições do teorema estão satisfeitas (para isso basta tomar parâmetrosc suficientemente pequenos).Seja ζ 0 um membro arbitrário <strong>de</strong>ssa família, e consi<strong>de</strong>re a trajetória ϕ começando emum ponto A <strong>da</strong> intersecção <strong>de</strong> ζ 0 com o eixo y. Neste ponto, temos y > 0 e assim ẋ > 0,


79Figura 4.4: Trajetória presa num nível <strong>da</strong> função energia.<strong>de</strong> modo que ϕ a<strong>van</strong>ça para à direita no primeiro quadrante. Temos também que,˙ε(x, y) = −y 2 f(x)e, neste caso, para todo (x, y) sobre a trajetória ϕ, temos que ˙ε é negativo. Então atrajetória ϕ segue em direção ao interior <strong>de</strong> ζ 0 e tem <strong>de</strong> permanecer aí e, <strong>de</strong>ssa forma, ϕvai encontrar o eixo dos x em um ponto B no interior <strong>da</strong> curva ζ 0 .Neste ponto temos y = 0 e x > 0, <strong>de</strong> modo que, ẋ = 0 e ẏ = −g(x) < 0 e, então atrajetória <strong>de</strong>cresce na direção <strong>de</strong> y e entra no quarto quadrante e não volta mais para oprimeiro quadrante. Além disso, como ˙ε(x, y) < 0 no quarto quadrante, a trajetória ϕcontinua no interior <strong>de</strong> ζ 0 . Neste momento, po<strong>de</strong>mos ter duas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s: ou ϕ cruzao eixo y em algum ponto C on<strong>de</strong> y < 0, ou então ten<strong>de</strong> ao único ponto <strong>de</strong> equilíbrio naorigem.Mostremos que esta última possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> não po<strong>de</strong> acontecer. No quarto quadrantetemos que ẋ < 0, porém ẏ = −f(x)y − g(x) po<strong>de</strong> assumir valores positivos e negativos.Para tratar este caso, consi<strong>de</strong>remos a curvay = − g(x)f(x) .Sobre esta curva temos que ẏ = 0 (e também dydx= 0), e ela divi<strong>de</strong> a região on<strong>de</strong> ẏ > 0


80<strong>da</strong>quela on<strong>de</strong> ẏ < 0. Suponhamos inicialmente que tal curva se aproxima <strong>da</strong> origem, ouseja, que[lim − g(x) ]= 0.x→0 f(x)Entrando no quarto quadrante, a trajetória ϕ se encontra na região acima <strong>da</strong> curvay = − g(x)f(x)on<strong>de</strong> se tem ẋ < 0 e ẏ < 0. Assim, ϕ <strong>de</strong>cresce na direção <strong>de</strong> x e <strong>de</strong> y e portanto<strong>de</strong>ve encontrar tal curva em um ponto R <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s (x 1 , y 1 ). Neste ponto, ẋ < 0 eẏ = 0 e então ϕ <strong>de</strong>cresce na direção <strong>de</strong> x ficando agora abaixo <strong>da</strong> curva y = − g(x)f(x)on<strong>de</strong> setem ẋ < 0 e ẏ > 0 e, <strong>de</strong>ssa maneira, ϕ <strong>de</strong>cresce na direção <strong>de</strong> x e cresce na direção <strong>de</strong> yencontrando o eixo dos y em um ponto C <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s (0, y 0 ). Mostremos que y 0 < 0.No arco <strong>de</strong>terminado pelos pontos R e C, ̂RC, temos quePortanto,y 0 = y 1 −∫ x10dydx dx = y 1 +∫ x10y 1 − y 0 =∫ x10dydx dx.[f(x) + y −1 g(x)]dx = − g(x ∫ x11)f(x 1 ) + F (x 1) + y −1 g(x)dx0< − g(x 1)f(x 1 ) + F (x 1) (pois g(x) > 0, y ≤ 0 sobre 0 ≤ x ≤ x 1 )< −αF (x 1 ) + F (x 1 ) < 0 (pela condição 3).Logo y 0 < 0, e pela simetria <strong>da</strong>s trajetórias do sistema (4.9) em relação ao eixo y, segueque ϕ é uma trajetória fecha<strong>da</strong>.Retornamos agora para a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> que a curva y = − g(x)f(x)não passa através <strong>da</strong>origem. Como g(x) > 0 e f(x) > 0 quando x > 0, então a curva situa-se inteiramenteabaixo do eixo x, e neste caso, a trajetória ϕ também <strong>de</strong>ve permanecer abaixo do eixo xcomo mostrado na figura 4.5, e assim não po<strong>de</strong> ten<strong>de</strong>r ao ponto singular na origem.Finalmente, como todo esta argumentação é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> do pontoA <strong>da</strong> origem, segue que a origem é um centro para o sistema (4.9).


81Figura 4.5: Curva y = −g(x)/f(x) não atingindo a origem.4.3 <strong>Ciclos</strong> limites <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> LienardNesta seção, vamos consi<strong>de</strong>rar sistemas <strong>de</strong> Lienard <strong>da</strong> forma⎧⎨ ẋ = y − F (x)⎩ẏ = −g(x).(4.11)Vamos primeiramente provar um teorema <strong>de</strong>vido ao físico francês A. Lienard. Para asfunções F e g satisfazendo <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s condições, este resultado garante a existência <strong>de</strong>um único ciclo limite para o sistema (4.11). No restante <strong>da</strong> seção apresentaremos algunsoutros resultados sobre a existência e a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ciclos limites para (4.11).Teorema 4.3.1 (Lienard). Suponhamos que as funções F e g no sistema (4.11) sãofunções ímpares e <strong>de</strong> classe C 1 em R tais que g ′ (x) > 0 para todo x, F (0) = 0, F ′ (0) < 0,F tem um único zero positivo em x = a e é monótona crescente para infinito para x ≥ a.Então o sistema <strong>de</strong> Lienard (4.11) tem exatamente um ciclo limite o qual é estável.Observamos que a hipótese <strong>de</strong> que g ′ (x) > 0 para todo x po<strong>de</strong> ser trocado pela hipótesemais geral xg(x) > 0 para todo x ≠ 0. Apenas observamos que a prova neste caso seria umpouco diferente <strong>da</strong> prova que <strong>da</strong>remos. Mais <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong>ste outro caso po<strong>de</strong> ser encontradoem [11].Demonstração – A prova do Teorema <strong>de</strong> Lienard segue os mesmos passos <strong>da</strong> prova


82sobre a unici<strong>da</strong><strong>de</strong> do ciclo limite feita na segun<strong>da</strong> seção do Capítulo 3 para a equação <strong>de</strong><strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> com o parâmetro ε = 1.Uma singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> do sistema (4.11) é um ponto (x, y) ∈ R 2 satisfazendo que y = F (x)e g(x) = 0 e pelas hipóteses sobre as funções F, g temos que a origem (0, 0) é o único pontosingular do sistema <strong>de</strong> Lienard (4.11). Para analisar esta singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>remos olinearizado do campo X(x, y) = (y−F (x), −g(x)) na origem. Po<strong>de</strong>mos associar tal campolinearizado com o sistema diferencial Y ′ = AY , on<strong>de</strong>⎛⎞A = DX(0, 0) = ⎝ −F ′ (0) 1⎠ .−g ′ (0) 0Os autovalores <strong>de</strong> A são <strong>da</strong>dos como raízes do polinômio <strong>de</strong> 2 ◦ graup(λ) = <strong>de</strong>t(A − λI 2 ) = λ 2 + F ′ (0)λ + g ′ (0)do qual obtemosλ ± = 1 2(−F ′ (0) ± √ )F ′ (0) 2 − 4g ′ (0) .Como g ′ (x) > 0 para todo x, segue que F ′ (0) 2 − 4g ′ (0) ≤ F ′ (0) 2 e assim a parte do autovalorobti<strong>da</strong> do cálculo <strong>da</strong> raiz ou é imaginária ou tem módulo menor que |F ′ (0)| <strong>de</strong>modo que o ponto singular na origem é instável pois F ′ (0) < 0, ou então, topologicamentefalando, a origem é uma fonte para A. Como a origem é uma singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> hiperbólica docampo X pelo teorema 1.4.2 <strong>de</strong> Grobman-Hartman a origem também é uma fonte para osistema <strong>de</strong> Lienard.Note que o fluxo do sistema (4.11) sobre o eixo positivo dos y é horizontal e apontapara à direita, enquanto que no eixo negativo dos y é horizontal mas agora apontandopara à esquer<strong>da</strong>. Já sobre a curva y = F (x) o fluxo é vertical apontando para baixoquando x > 0 e apontando para cima quando x < 0. Na figura 4.6 temos o campo <strong>de</strong>direções do sistema (4.11).Como por hipótese as funções F e g são ímpares, verifica-se facilmente que o campoX(x, y) = (y −F (x), −g(x)) associado ao sistema <strong>de</strong> Lienard (4.11) é simétrico em relaçãoa origem, isto é, X(−x, −y) = −X(x, y). Isto significa que se (x(t), y(t)) é uma curvasolução, então (−x(t), −y(t)) também será.


83yy = F(x)axFigura 4.6: Campo <strong>de</strong> vetores <strong>da</strong> equação <strong>de</strong> Lienard.Por um argumento análogo aquele <strong>da</strong>do na Proposição 3.2.2, qualquer trajetória ϕcomeçando em um ponto sobre o eixo positivo dos y, <strong>de</strong>ve cruzar verticalmente a curvay = F (x) e então cruzar horizontalmente o eixo y negativo. Pela simetria do sistema(4.11), segue que a trajetória ϕ <strong>de</strong>ve retornar ao eixo y positivo <strong>de</strong> modo similar e ϕ seráuma trajetória fecha<strong>da</strong> se, e somente se, bater na mesma altura no eixo y positivo e noeixo y negativo. De fato, lembrando a <strong>de</strong>monstração <strong>da</strong> Proposição 3.2.2, temos que asconclusões tira<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong>s equações (3.4) e (3.5) são exatamente as mesmas pois ashipóteses sobre F e g garantem isso.Dessa forma, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir novamente, assim como foi feita na seção 3.2, a transformação<strong>de</strong> Poincaré π, e as aplicações α e δ sobre o eixo positivo dos y.De modo similar, a Proposição 3.2.4 sobre a função δ também continua váli<strong>da</strong> agorapara as funções F e g nas hipóteses do Teorema <strong>de</strong> Lienard. Apenas <strong>de</strong>ve-se notar agoraque a função energia para o sistema (4.11) tem a formae, <strong>de</strong>ssa forma, teremos queδ(p) =∫ τ0W (x, y) = y22∫dτdt W (x(t), y(t))dt =∫ xy2+ G(x) =2 + g(x)dx00∫−g(x(t))F (x(t))dt =on<strong>de</strong> γ(t) = (x(t), y(t)), 0 ≤ t ≤ τ é a curva ligando p a α(p).γ−g(x)F (x),Para finalizar observamos também que, <strong>de</strong> modo análogo ao estabelecido no Teorema3.2.3, a transformação <strong>de</strong> Poincaré π tem um único ponto fixo sobre o eixo positivo dos


84y. Além disso, a seqüência π n (y) = π ◦ π n−1 (y) ten<strong>de</strong> a esse ponto fixo quando n → ∞para todo ponto no eixo positivo dos y.Isto nos diz que existe um único ciclo limite atrator para a equação ou sistema <strong>de</strong>Lienard (4.11), o que conclui a <strong>de</strong>monstração do Teorema <strong>de</strong> Lienard.Como uma conseqüência do Teorema <strong>de</strong> Lienard, tiramos a seguinte importante informaçãosobre a existência e unici<strong>da</strong><strong>de</strong> do ciclo limite para o famoso caso particular <strong>da</strong>equação <strong>de</strong> Lienard, a saber, a equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>.Corolário 4.3.2. Para ε > 0, a equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> (4.6) tem um único ciclo limiteo qual é estável.Demonstração – Com efeito, para a equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> (4.6) temos que asfunções F e g são <strong>da</strong><strong>da</strong>s por( ) x3F (x) = ε3 − x e g(x) = x.Claramente estas funções são ímpares e <strong>de</strong> classe C 1 em R. Além do mais, xg(x) = x 2 > 0,para todo x ≠ 0, F (0) = 0, F ′ (0) = −1 < 0, x = √ 3 é o único zero positivo <strong>de</strong> F , epara x ≥ √ 3, F é monótona e cresce para o infinito quando x → ∞. Assim, as hipótesesdo Teorema <strong>de</strong> Lienard são satisfeitas para estas funções. Portanto, para todo ε > 0, aequação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> (4.6) tem um único ciclo limite atrator.Na seção 3.2 provamos este resultado para o caso particular on<strong>de</strong> ε = 1. O ciclo limite<strong>da</strong> equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> (4.6) para o caso ε = 1 é mostrado na figura 3.8. Na figura4.7 temos mostrado novamente o ciclo limite <strong>da</strong> equação (4.6) para ε = 1 e também paraε = 0, 1. Po<strong>de</strong>-se mostrar que quando ε → 0 o ciclo limite <strong>da</strong> equação (4.6) é assintóticoao círculo <strong>de</strong> raio 2 centrado na origem.Exemplo 1. Suponha que as funções F e g no sistema (4.11) sejam <strong>da</strong><strong>da</strong>s porF (x) = x3 − xx 2 + 1e g(x) = x.


85Figura 4.7: Ciclo limite <strong>da</strong> equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> para ε = 1 e ε = 0, 1.Figura 4.8: Ciclo limite para o sistema <strong>de</strong> Lienard do exemplo 1.Então F e g satisfazem as hipóteses do Teorema <strong>de</strong> Lienard. Com efeito, claramente F eg são funções <strong>de</strong> classe C 1 <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s para todo real. Além disso, temos queF (−x) = (−x)3 − (−x)(−x) 2 + 1= −x3 + xx 2 + 1= −F (x) e g(−x) = −x = −g(x),ou seja, F e g são funções ímpares. Além do mais, xg(x) = x 2 > 0, para todo x ≠ 0,F (0) = 0, F ′ (0) = −1 < 0, e x = 1 é o único zero positivo <strong>de</strong> F , e para x ≥ 1, F émonótona e cresce para o infinito quando x → ∞.Portanto, segue que o sistema (4.11) com estas funções tem exatamente um ciclo limiteque é estável. Este ciclo limite é mostrado na figura 4.8.□


864.3.1 Alguns resultados recentes sobre ciclos limites <strong>de</strong> sistemas<strong>de</strong> LienardNesta seção vamos apresentar alguns resultados <strong>de</strong> pesquisas recentes sobre ciclos limites<strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> Lienard.Em 1958 o matemático chinês Zhang Zhifen provou o seguinte importante resultadocomplementando o Teorema <strong>de</strong> Lienard.Teorema 4.3.3 (Zhang). Sejam <strong>da</strong>dos a < 0 < b. Suponhamos que no sistema (4.11) asfunções F e g são <strong>de</strong> classe C 1 em (a, b) satisfazendo as seguintes condições:1. xg(x) > 0 para todo x ≠ 0;2. G(x) → ∞ quando x → a se a = −∞ e G(x) → ∞ quando x → b se b = ∞;3. f(x) é monótona crescente sobre (a, 0) ∪ (0, b) e não é constante em nenhumag(x)vizinhança <strong>de</strong> x = 0.Então, o sistema (4.11) terá no máximo um ciclo limite na região a < x < b. Além dissose existir tal ciclo ele será estável.Exemplo 2. Perko recentemente utilizou este teorema para mostrar que para α ∈ (0, 1),o sistema quadrático⎧⎨⎩ẋ = −y(1 + x) + αx + (α + 1)x 2ẏ = x(1 + x)tem exatamente um ciclo limite que é estável.(4.12)Note que, sobre a reta x = −1 o fluxo do sistema (4.12) é horizontal e aponta para adireita. Portanto, qualquer trajetória fecha<strong>da</strong> do sistema (4.12) situa-se na região x > −1.Se <strong>de</strong>finirmos uma nova variável in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte τ por dτ = −(1 + x)dt então o sistema


87Figura 4.9: Ciclo limite para o sistema <strong>de</strong> Lienard do exemplo 2 para α = 0, 02.(4.12) toma a forma do sistema <strong>de</strong> Lienarddxdτdydτ= dxdtdtdτ= dy dtdt dτ= y −= −x.αx + (α + 1)x21 + x(4.13)Neste caso é possível verificar que as hipóteses do Teorema <strong>de</strong> Lienard não são satisfeitasαx + (α + 1)x2(por exemplo, a função F (x) = não é ímpar). Porém as hipóteses do1 + xTeorema <strong>de</strong> Zhang são satisfeitas. Portanto, este sistema tem exatamente um ciclo limiteestável. O ciclo limite para este sistema com α = 0, 02 po<strong>de</strong> ser visualizado na figura 4.9 □Em 1981, Zhang provou outro teorema interessante sobre o número <strong>de</strong> ciclos limitesdos sistemas <strong>de</strong> Lienard (4.11).Teorema 4.3.4 (Zhang). Suponhamos que, g(x) = x, F <strong>de</strong> classe C 1 em R, e que afunção f(x) tenha sempre exatamente dois zeros positivos a 1 < a 2 com F (a 1 ) > 0 eF (a 2 ) < 0, e ain<strong>da</strong> f(x) é monótona crescente para x > a 2 . Então, o sistema (4.11) teráno máximo dois ciclos limites.Exemplo 3. Consi<strong>de</strong>re o sistema <strong>de</strong> Lienard (4.11) comg(x) = x e f(x) = F ′ (x) = 1.6x 4 − 4x 2 + 0.8.


88Figura 4.10: Os dois ciclos limites para o sistema <strong>de</strong> Lienard do exemplo 3.Não é difícil mostrar que estas funções se encaixam nas hipóteses do Teorema <strong>de</strong> Zhang4.3.4. Portanto segue que o sistema <strong>de</strong> Lienard (4.11) com g(x) = x e F (x) = 0.32x 5 −43 x3 + 0.8x tem no máximo dois ciclos limites. De fato, este sistema tem exatamente doisciclos limites que po<strong>de</strong>m ser visualizado na figura 4.10.□É claro que, quanto mais específicas forem as funções F (x) e g(x) em (4.11), maispo<strong>de</strong>mos saber sobre o número <strong>de</strong> ciclos limites que o sistema (4.11) tem. Por exemplo,se g(x) = x e F (x) é polinomial, temos o seguinte resultado.Teorema 4.3.5 (Lins, <strong>de</strong> Melo e Pugh). O sistema <strong>de</strong> Lienard (4.11) com g(x) = x eF (x) = a 1 x + a 2 x 2 + a 3 x 3 , on<strong>de</strong> a 1 a 3 < 0 tem exatamente um ciclo limite. Tal ciclo seráestável se a 1 < 0 e instável se a 1 > 0.Observação. O matemático russo Rychkov mostrou que o sistema (4.11) com g(x) = xe F (x) = a 1 x + a 3 x 3 + a 3 x 5 tem no máximo dois ciclos limites.Recentemente, estes mesmos autores do teorema 4.3.5 diante <strong>da</strong>s várias evidênciaslançaram a seguinte conjectura.Conjectura <strong>de</strong> Lins Neto, <strong>de</strong> Melo e Pugh: O número <strong>de</strong> ciclos limites do


89sistema <strong>de</strong> Lienard (4.11) com g(x) = x e F um polinômio <strong>de</strong> grau 2n + 1, é no máximon.Note que, o teorema 4.3.5 diz um pouco mais que o caso particular n = 1 <strong>de</strong>staconjectura. Na literatura existente sobre o assunto encontra-se a prova <strong>de</strong>sta conjecturapara n = 1. Observamos que para n ≥ 2 o resultado ain<strong>da</strong> encontra-se em aberto.Porém, tal conjectura foi <strong>de</strong>sfeita pelos autores Freddy Dumortier, Daniel Panazzolo eRobert Roussarie em um artigo publicado no ano <strong>de</strong> 2007. Estes autores <strong>de</strong>ram um contraexemplo <strong>de</strong> um sistema no caso n = 3, e conseguiram encontrar quatro ciclos limites paratal sistema. Este artigo po<strong>de</strong> ser encontrado na referência [3].Teorema 4.3.6 (Blows e Lloyd). O sistema <strong>de</strong> Lienard (4.11) com g(x) = x e F (x) =a 1 x + a 2 x 2 + · · · + a 2m+1 x 2m+1 , tem no máximo m ciclos limites numa vizinhança <strong>de</strong> (0, 0)e existem coeficientes a 1 , a 3 , a 5 , . . . , a 2m+1 com sinais alternados tal que o sistema (4.11)tem m ciclos limites em tal vizinhança.Teorema 4.3.7 (Perko). Para ε ≠ 0 suficientemente pequeno, o sistema (4.11) comg(x) = x e F (x) = ε(a 1 x + a 2 x 2 + · · · + a 2m+1 x 2m+1 )tem no máximo m ciclos limites e, além disso, para ε ≠ 0 suficientemente pequeno, estesistema tem exatamente m ciclos limites nos quais são assintóticos aos círculos <strong>de</strong> raiosr j , para j = 1, 2, · · · , m, centrados na origem, quando ε → 0 se, e somente se, a equação<strong>de</strong> grau ma 12 + 3a 38 ρ + 5a 516 ρ2 + 35a 7128 ρ3 + · · · +tem m raízes positivas ρ = r 2 j , j = 1, 2, · · · , m.⎛⎝ 2m + 2m + 1⎞⎠ a 2m+12 2m+2 ρm = 0 (4.14)Exemplo 4. O Teorema 4.3.7 nos dá condições <strong>de</strong> construir sistemas polinomiais coma quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ciclos limites que <strong>de</strong>sejarmos.Por exemplo, suponha que queremos


90Figura 4.11: Os ciclos limites do sistema <strong>de</strong> Lienard do exemplo 4 para ε = 0, 01.encontrar um sistema polinomial na forma do Teorema 4.3.7 com exatamente dois cicloslimites assintóticos aos círculos <strong>de</strong> raio r = 1 e r = 2. Para fazer isso, vamos igualar opolinômio (ρ − 1)(ρ − 4) com o polinômio <strong>da</strong>do na equação (4.14) para m = 2, e assimvamos <strong>de</strong>terminar os coeficientes a 1 , a 3 e a 5 . Então a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> ficaρ 2 − 5ρ + 4 = 5a 516 ρ2 + 3a 38 ρ + a 12 .Isso implica que a 5 = 165 , a 3 = −403e a 1 = 8. Para ε ≠ 0 suficientemente pequeno, oTeorema 4.3.7 nos dá que o sistemaẋ = y − ε(8x − 40 3 x3 + 165 x5 )ẏ = −xtem exatamente dois ciclos limites assintóticos aos círculos <strong>de</strong> raio r = 1, r = 2. Estesdois ciclos limites para ε = 0, 01 po<strong>de</strong>m ser vistos na figura 4.11.□Exemplo 5. Vamos agora construir um sistema polinomial utilizando o teorema 4.3.7com três ciclos limites os quais são assintóticos aos círculos <strong>de</strong> raio r = 1, r = 2 e r = 3.Para isso, novamente vamos igualar o polinômio (ρ − 1)(ρ − 4)(ρ − 9) com o polinômio<strong>da</strong>do na equação (4.14) para m = 3, e assim vamos <strong>de</strong>terminar os coeficientes a 1 , a 3 , a 5e a 7 . Então a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> ficaρ 3 − 14ρ 2 − 49ρ − 36 = 35a 7128 ρ3 + 5a 516 ρ2 + 3a 38 ρ + a 12 .


91Figura 4.12: Os ciclos limites para o sistema <strong>de</strong> Lienard do exemplo 5 com ε = 0, 01 e ε = 0, 001.Essa equação nos dá que a 7 = 12835 , a 5 = − 2245 , a 3 = 3923e a 1 = −72.Dessa forma, para ε ≠ 0 suficientemente pequeno, o teorema 4.3.7 nos diz que osistemaẋ = y − ε(72x − 3923 x3 + 2245 x5 − 12835 x7 )ẏ = −xtem exatamente três ciclos limites nos quais são assintóticos aos círculos <strong>de</strong> raio r = 1,r = 2 e r = 3. Os ciclos limites para este sistema para ε = 0, 01 e ε = 0, 001 são mostradosna figura 4.12.□4.4 O 16 ◦ Problema <strong>de</strong> HilbertOs Problemas <strong>de</strong> Hilbert são uma lista <strong>de</strong> 23 problemas propostos pelo matemático alemãoDavid Hilbert no Congresso Internacional <strong>de</strong> Matemática <strong>de</strong> Paris em 1900. Nenhumdos problemas tinha tido solução até então, e vários <strong>de</strong>les acabaram se tornando muitoinfluentes na matemática do século XX. Nessa conferência, ele publicou 10 dos problemas(1, 2, 6, 7, 8, 13, 16, 19, 21, e 22), e o resto <strong>da</strong> lista foi publicado mais tar<strong>de</strong>.Seu 16 ◦ problema, ou pelo menos a segun<strong>da</strong> parte <strong>de</strong>ste problema, pergunta sobre a<strong>de</strong>terminação do número máximo H n <strong>de</strong> ciclos limites <strong>de</strong> um sistema polinomial <strong>de</strong> grau


92n do tipo⎧⎪⎨⎪⎩ẋẏ==n∑a ij x i y ji+j=0. (4.15)n∑b ij x i y ji+j=0A seguir apresentamos como tal problema vem sendo tratado ao longo <strong>de</strong>sses anos, eos a<strong>van</strong>ços que <strong>de</strong>le tiveram.• Sabemos que qualquer sistema linear em R 2 não tem ciclo limite. Logo H 1 = 0;• Já para sistemas não-lineares, por exemplo para um sistema quadrático (n = 2), onúmero <strong>de</strong> Hilbert ain<strong>da</strong> não foi bem <strong>de</strong>terminado, sabe-se apenas que existe e éfinito;• Em 1962, o matemático russo N.V. Bautin provou que qualquer sistema quadráticotem no máximo 3 ciclos limites bifurcando <strong>da</strong> origem. Por algum tempo acreditou-seque H 2 = 3;• Mas, em 1979, os matemáticos chineses S.L. Shi, L.S. Chen e M.S. Wang produziramexemplos <strong>de</strong> sistemas quadráticos com quatro ciclos limites. Portanto H 2 ≥ 4;• Perante to<strong>da</strong>s as evidências acredita-se que H 2 = 4 e em 1984, Y.X. Chin afirmouter provado este resultado. Porém, alguns erros foram apontados por Y.L. Cao;• Com relação a H 3 , é conhecido que um sistema cúbico po<strong>de</strong> ter no máximo onzeciclos limites bifurcando <strong>da</strong> origem ;• Em 1983, J.B. Li e outros produziram um exemplo <strong>de</strong> um sistema cúbico com onzeciclos limites. Tudo o que se po<strong>de</strong> dizer até agora é que H 3 ≥ 11;• Para sistemas polinomiais planares, o 16 ◦ Problema <strong>de</strong> Hilbert tem gerado muitaspesquisas matemáticas nos últimos anos.


Capítulo 5A Equação ẍ + ε(x 2 − 1)ẋ + x = 0 comε → +∞5.1 IntroduçãoNeste capítulo vamos introduzir o estudo <strong>de</strong> sistemas do tipo lento–rápido que mo<strong>de</strong>lamsistemas on<strong>de</strong> ocorrem variações <strong>de</strong> oscilação.Depois <strong>de</strong> Balthasar <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> 1 , que em 1920 introduziu sua famosa equação, esteassunto tem sido objeto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> interesse matemático. Lembremos que a equação <strong>de</strong><strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>, introduzi<strong>da</strong> no capítulo 2, é <strong>da</strong><strong>da</strong> porẍ + ε(x 2 − 1)ẋ + x = 0 (5.1)on<strong>de</strong> ε é um parâmetro positivo. Para esta equação, um relaxamento <strong>de</strong> oscilação surgequando o parâmetro ε é gran<strong>de</strong>. A fim <strong>de</strong> obter um quadro heurístico do que isso significa,vamos utilizar o procedimento introduzido por Lienard (1928).vamos utilizar a mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>sy = ẋε + F (x)Mais especificamente1 Balthasar <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>, nascido em 27 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1889, Utrecht, Holan<strong>da</strong>, foi graduado em 1916 naUniversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Utrecht, e tinha principais tendências físicas. Defen<strong>de</strong>u sua tese <strong>de</strong> doutorado em 1920nessa mesma universi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Neste período e por muitos anos posteriores os trabalhos <strong>de</strong> matemáticose físicos em universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s holan<strong>de</strong>sas envolveram o estudo <strong>da</strong> mecânica celeste no qual freqüentementeestava contido alguma teoria <strong>de</strong> perturbação. Van <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> morreu em 1959.93


94on<strong>de</strong> F (x) = ∫ x0 (x2 − 1)dx = x3 − x. Dessa forma, temos que3com o que chegamos ao sistemaẏ = ẍε + F ′ (x)ẋ = ẍε + (x2 − 1)ẋ = − x ε⎧⎨⎩ẋ = ε [y − F (x)]ẏ = − x ε. (5.2)As trajetórias do sistema (5.2) satisfazem a equação[y − F (x)] dydx = −xε 2 . (5.3)Quando o parâmetro ε é gran<strong>de</strong> o lado direito <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> (5.3) é pequeno, o que nosleva a acreditar que, nestas novas coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s, as trajetórias po<strong>de</strong>m ser aproxima<strong>da</strong>s porpartes <strong>da</strong>s curvas y = constante e y = F (x). Alguns estudos mais adiante na direção doretrato <strong>de</strong> fase, nos produzirá o ciclo limite <strong>da</strong>do na figura 5.3.Vamos <strong>de</strong>finir agora, uma nova variável in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte ˆt e também vamos renomear oparâmetro fazendot = εˆtDessa forma, teremos a partir do sistema (5.2) quedxdˆtdydˆte1ε = µ 1 2 .= dxdt ε = ε2 [y − F (x)] = 1 [y − F (x)]µ= dydt ε = −xe portanto, o sistema <strong>de</strong> Lienard equivalente a equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> nessa nova variávelin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, será <strong>da</strong>do por⎧⎪⎨⎪⎩µ dxdˆtdydˆt= y − F (x)= −x. (5.4)Sistemas <strong>de</strong> equações diferenciais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> um parâmetro µ > 0 como (5.4)acima geralmente são chamados <strong>de</strong> sistemas lento–rápido ou ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> problemas


95<strong>de</strong> perturbação singular. Tais problemas têm sido estu<strong>da</strong>dos por métodos analíticos,métodos numéricos e métodos assintóticos. Carrier e Lewis, em 1953, foram os primeirosa tratar com relaxamento <strong>de</strong> oscilação <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong> vista.Em 1983, num texto intitulado <strong>de</strong> Relaxation Oscillations including a stan<strong>da</strong>rd chaseon French ducks (referência [6]), o autor W. Eckhaus chama atenção sobre os diferentesmétodos com que este assunto foi e vem sendo estu<strong>da</strong>do pelos diversos matemáticos <strong>da</strong>área. Ele <strong>de</strong>staca que seu interesse em relaxamento <strong>de</strong> oscilação surgiu <strong>da</strong> confrontaçãocom um <strong>de</strong>senvolvimento periférico, constituído pela introdução e uso <strong>de</strong> Análise Não-Estân<strong>da</strong>r no estudo <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> perturbação singular.Nesta presente dissertação, vamos seguir o caminho estu<strong>da</strong>do por W. Eckhaus em [6].Análise Não-Estân<strong>da</strong>r é uma invenção em Lógica Matemática <strong>de</strong>vido a AbrahamRobinson (1966), que consiste na introdução <strong>de</strong> números infinitamente pequenos nasanálises. Robinson encarregou-se <strong>de</strong> ligar “Análise Não-Estân<strong>da</strong>r” com conceitos <strong>de</strong> expansõesassintóticas em um livro com Lightstone (1975), porém tal livro acabou por nãoser muito influente entre os profissionais <strong>de</strong> análise assintótica. Recentemente um grupo<strong>de</strong> matemáticos franceses, centrado em Georg H. Reeb <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Strasbourg,partiram para o uso <strong>de</strong> Análise Não-Estân<strong>da</strong>r em problemas aplicados. Isso resultou emum fluxo <strong>de</strong> publicações, culminando em uma monografia por Lutz e Goze (1981), on<strong>de</strong>uma lista extensiva <strong>de</strong> referências po<strong>de</strong>m ser encontra<strong>da</strong>s.Este grupo foi responsável pela <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> um novo fenômeno que eles <strong>de</strong>nominaram“Les Canard”. Posteriormente <strong>de</strong>screveremos e estu<strong>da</strong>remos com mais <strong>de</strong>talhes o que vema ser tal fenômeno.Profissionais <strong>de</strong> Análise Não-Estân<strong>da</strong>r fortemente proclamam que os seus métodossão mais simples e, portanto, como sendo o enfoque mais tradicional. Para um analistaEstân<strong>da</strong>r isso é difícil <strong>de</strong> ser verificado, pois <strong>de</strong> fato ele acaba se <strong>de</strong>parando com muitasdificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s na tentativa <strong>de</strong> checar os raciocínios com respeito a exatidão e consistência.Fica então como sendo um <strong>de</strong>safio para os analistas tradicionais, assim como o colocadopor Lutz e Goze quando <strong>de</strong>screviam o problema-Canard. Eles afirmaram que: “...nesteproblema <strong>de</strong> perturbação singular com dois parâmetros é quase impossível usar os métodos


96clássicos <strong>de</strong> expansões assintótica...”.W. Eckhaus (1983) (referência [6]), em seus estudos sobre o problema dos Canardsobserva que até então as ferramentas <strong>de</strong> análise assintótica não tinham sido explora<strong>da</strong>sem problemas <strong>de</strong> relaxamento <strong>de</strong> oscilação.Neste texto iremos mostrar que uma análise simples e elementar é capaz <strong>de</strong> produziruma rigorosa e <strong>de</strong>dutiva teoria, assim como a que foi feita por W. Eckhaus. Tentaremosfornecer um tratamento (estân<strong>da</strong>r) in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos problemas e vamos mostrar comovárias dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser supera<strong>da</strong>s, até certo ponto, por técnicas elementares.5.2 Os problemas e os resultadosConsi<strong>de</strong>remos um sistema cujas equações englobam a equação (5.4) obti<strong>da</strong> na seção anterior.Por ser mais usual na Teoria Geométrica <strong>da</strong>s Perturbações Singulares vamos chamaro parâmetro novamente <strong>de</strong> ε.⎧⎨⎩εẋ = y − F (x)ẏ = −(x + α). (5.5)Agora ε é um parâmetro positivo pequeno e α é um parâmetro cujo papel será explicadofuturamente. A função F (x) po<strong>de</strong> ser qualquer função suficientemente diferenciável quetenha o gráfico semelhante ao que está <strong>de</strong>senhado na figura 5.1 em alguma parte do planoxy, ou seja, assumimos que a função F cumpre as seguintes proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>sF ′ (x) > 0 para x > 0;F ′ (x) < 0 para − l < x < 0;F ′ (x) > 0 para x < −l.(5.6)Observe que este é o caso <strong>da</strong> equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>, on<strong>de</strong> temos F (x) = x33 − x, amenos <strong>da</strong> translação x 1 = x − 1, y 1 = y + 2 . Com essa translação, a função F terá a3seguinte nova caraF (x) = x33 + x2 .Vamos consi<strong>de</strong>rar o caso em que perto <strong>de</strong> x = 0 se temF ′ (x) = xg(x), g(0) > 0.


97F(x)--Figura 5.1: A curva y = F (x), on<strong>de</strong> ẋ = 0 e o ponto singular (−α, F (−α)).Analogamente perto <strong>de</strong> x = −l,F ′ (x) = (x + l)h(x), h(−l) < 0.Temos que o ponto (x, y) = (−α, F (−α)) é a única singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> do sistema (5.5).Para analisar esta singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>remos o linearizado do campo X(x, y) = ( 1ε (y −F (x)), −(x + α) ) nesse ponto. Po<strong>de</strong>mos associar tal campo linearizado com o sistemadiferencial Y ′ = AY , on<strong>de</strong>⎛A = DX(−α, F (−α)) = ⎝ −1 ε F ′ 1⎞(−α)ε ⎠ .−1 0Os autovalores <strong>de</strong> A são <strong>da</strong>dos como raízes do polinômio <strong>de</strong> 2 ◦ graudo qual obtemosp(λ) = <strong>de</strong>t(A − λI 2 ) = λ 2 + F ′ (−α)λ + 1 ε ελ ± = 1 2(− F ′ (−α)± 1 )F′(−α)ε ε√ 2 − 4ε .Pelas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> F ′ temos que quando 0 < α < l então −l < −α < 0 e assim−F ′ (−α) > 0, e quando α < 0 ou α > l então −α > 0 ou −α < −l e neste caso−F ′ (−α) < 0. Como a parte do autovalor obti<strong>da</strong> do cálculo <strong>da</strong> raiz ou é imaginária outem módulo menor que | F ′ (−α)| segue que o ponto singular (−α, F (−α)) é instável quandoε0 < α < l e estável quando α < 0 ou α > l.


98( - 2)2Figura 5.2: Diagrama <strong>de</strong> bifurcação para a equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>.F(x)Figura 5.3: A figura aproxima<strong>da</strong> <strong>de</strong> um ciclo limite <strong>de</strong> um sistema como (5.5).Para a equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> (ou seja, quando F (x) = x33 + x2 ), temos o diagrama<strong>de</strong> bifurcação <strong>da</strong>do na figura 5.2.Para a equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> temos exatamente o que mostra a figura 5.2, quando oparâmetro α ∈ (0, 2) existe um único ciclo limite e, quando α < 0 ou α > 2 não teremosnenhum ciclo limite. A prova <strong>de</strong>ste fato po<strong>de</strong> ser encontra<strong>da</strong> em [10].Algo semelhante acontecerá para o sistema geral. Quando α ∈ (0, l), existirá exatamenteum ciclo limite o qual, a menos <strong>de</strong> uma translação, po<strong>de</strong> ser visto na figura 5.3.Quando α < 0 ou α > l, não existirá nenhum ciclo limite (referência [6]).Um grupo <strong>de</strong> matemáticos não-estân<strong>da</strong>r formado por Benoit, Callot, Diener e Di-


99F(x)Figura 5.4: Um ciclo limite “Canard” e o “ porquê” do nome.F(x)F(x)Figura 5.5: Pato sem cabeça.ener (1973, 1980) estudou a seguinte questão: como tal ciclo limite <strong>de</strong>saparece quando oparâmetro α passa pelo valor zero, ou pelo valor l. No que segue vamos nos concentrarno caso em o parâmetro α passa por zero. O outro caso é inteiramente análogo.Voltando a equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>, foi <strong>de</strong>scoberto por esse grupo <strong>de</strong> matemáticos queexiste um valor α = α c (ε) tal que para α em uma pequena vizinhança <strong>de</strong> α c o ciclo limite<strong>de</strong>forma sobre a curva <strong>da</strong><strong>da</strong> na figura 5.4 à esquer<strong>da</strong>.Se partirmos para um lado cômico do formato <strong>de</strong>ste ciclo limite e acrescentarmosalgumas linhas ao <strong>de</strong>senho à esquer<strong>da</strong> <strong>da</strong>do na figura 5.4 produziremos o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> umpato como o <strong>da</strong>do na figura 5.4 à direita.Quando o parâmetro α diminui (ain<strong>da</strong> na vizinhança <strong>de</strong> α c ) a cabeça do pato vai setornando pequena até que em certo momento ela <strong>de</strong>saparece, ficando um pato sem cabeça.O pato continua a reduzir quando α ten<strong>de</strong> a zero e <strong>de</strong>saparece para α = 0. Isso po<strong>de</strong> ser


100visualizado na figura 5.5.Por essa razão este fenômeno é chamado <strong>de</strong> fenômeno Canard que em francêssignifica fenômeno Pato pela aparência do ciclo limite.Para o parâmetro ε pequeno, a variação <strong>de</strong> α no qual um fenômeno Canard é observadoé extremamente pequena. É interessante pensar sobre os Canards <strong>da</strong> seguinte maneira:veremos posteriormente que, numa vizinhança <strong>de</strong> y = F (x) para x > 0 (e x < −l) existiráuma varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável, e numa vizinhança <strong>de</strong> y = F (x) para −l < x < 0 teremos umavarie<strong>da</strong><strong>de</strong> instável. Na situação Canard as trajetórias que se aproximam <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong>estável continuam ao longo <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> instável. Esta é uma situação altamente nãousual.Para terminar esta parte, vamos apresentar os resultados que obteremos nas próximasseções. Vamos consi<strong>de</strong>rar o parâmetro α ∈ (0, l), com α ≠ o(1) e α − l ≠ o(1), ou seja,quelim α(ε) ≠ 0 e l.ε→0Este é o caso <strong>de</strong> um relaxamento <strong>de</strong> oscilação clássica. Vamos <strong>de</strong>senvolver uma linha <strong>de</strong>raciocínio que permite estabelecer <strong>de</strong>dutivamente o quadro global <strong>da</strong>s trajetórias. Nestecaso, iremos obter o seguinte resultado.Resultado: Qualquer trajetória começando na parte exterior <strong>da</strong> curva ABCD nafigura 5.6 alcança uma pequena vizinhança <strong>da</strong> curva ABCD em tempo finito e permanecenessa vizinhança pra sempre. Tal vizinhança é uma faixa tubular cuja largura <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>obviamente <strong>de</strong> ε. Em particular, a largura <strong>da</strong> faixa é O(ε) na parte correspon<strong>de</strong>nte a(A, B) e (C, D) e O(ε 2 3 ) na parte correspon<strong>de</strong>nte a (B, C) e (D, A). O movimento aolongo <strong>de</strong> (A, B), (C, D) está em intervalos <strong>de</strong> tempo unitários, e o movimento ao longo<strong>de</strong> (B, C), (D, A) está sobre uma escala <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m ε.Observação. Note que qualquer trajetória nas condições do resultado acima não po<strong>de</strong>subir nem <strong>de</strong>scer ao longo do segmento DB na figura 5.6. Para ver isso, consi<strong>de</strong>remoso sistema reduzido, ou seja, o sistema lento (5.5) com o parâmetro ε = 0. Dessa forma,


101BF(x)CA-DFigura 5.6: Ciclo limite com movimento rápido ao longo dos segmentos BC e DA e movimento lentoao logo dos arcos AB e CD.ficamos com⎧⎨⎩y = F (x)ẏ = −(x + α). (5.7)O sistema (5.7) representa uma dinâmica em cima <strong>da</strong> curva y = F (x). Isso nos dá aseguinte equação com impasseF ′ (x)ẋ = −(x + α).Temos que, x = −α, x = 0 e x = −l são os pontos singulares e temos o seguintecomportamento• quando x < −α então x + α < 0 e assim ẏ = −(x + α) > 0, ou seja, y cresce;• quando x > −α então x + α > 0 e assim ẏ = −(x + α) < 0 e, <strong>de</strong>ssa forma, y<strong>de</strong>cresce.O retrato <strong>de</strong> fase do sistema reduzido (5.7) po<strong>de</strong> ser visto na figura 5.7. Notemos nafigura 5.7 a direção <strong>da</strong>s flechas no segmento referente ao segmento DB na figura 5.6. Issonos garante que qualquer trajetória do sistema (5.5) (quando α ∈ (0, l), com α ≠ o(1) eα − l ≠ o(1)) não po<strong>de</strong> subir nem <strong>de</strong>scer ao longo do segmento DB.


102F(x)-l-Figura 5.7: Retrato <strong>de</strong> fase do sistema (5.7).Depois vamos consi<strong>de</strong>rar o caso em que α = o(1) (ou seja, lim ε→0 α(ε) = 0). Parte<strong>da</strong>s trajetórias seguem do mesmo raciocínio do que já tivermos feito. Estaremos particularmenteinteressados em trajetórias que continuam ao longo <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável einstável. Estabeleceremos que uma configuração Canard <strong>de</strong> fato ocorre quando α está navizinhança <strong>de</strong> α c (ε) e <strong>da</strong>remos uma expansão assintótica para α c (ε) e para as trajetóriasque seguem ao longo <strong>da</strong>s varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s estável e instável.Mostraremos que existem dois principais tipos <strong>de</strong> Canards. Recor<strong>de</strong>mos que foi explicitadoantes que F ′ (x) = xg(x). Se acontecer <strong>de</strong> g ′ (0) > 0 então α c (ε) > 0 e assimuma configuração Canard será obti<strong>da</strong> e o ponto singular é instável. Mais precisamente,um fenômeno Canard é caracterizado pork 2α = α c (ε) + σ exp − ε . (5.8)Para σ > 0 temos um pato como no <strong>da</strong>do na figura 5.4 à esquer<strong>da</strong>, e a medi<strong>da</strong> que kestá crescendo a cabeça do pato vai encolhendo. De fato o valor <strong>de</strong> k <strong>de</strong>termina o pontono qual as trajetórias saem <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> instável. Quando α passa por α c (ε), isto é,quando σ < 0, vamos ter um pato sem cabeça, e novamente ela continua a reduzir quandok cresce.O segundo tipo <strong>de</strong> Canards ocorre quando g ′ (0) < 0. Neste caso, α c (ε) < 0 e o pontosingular é estável. Essa é uma situação mais complica<strong>da</strong> no qual <strong>de</strong>ntro do ciclo limite


103F(x)Figura 5.8: Um ciclo limite canard com outro ciclo limite instável <strong>de</strong>ntro.Canard estável existe um segundo ciclo limite instável. A configuração Canard fica ain<strong>da</strong>assim caracteriza<strong>da</strong> pela equação (5.8). Para algum σ > 0 e k > 0, uma típica configuração<strong>de</strong>scrita acima po<strong>de</strong> ser vista na figura 5.8.Observemos que a equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> está inseri<strong>da</strong> no primeiro caso. Desta formalimitar-nos-emos a estu<strong>da</strong>r somente o primeiro caso.5.3 Alguns teoremas básicos <strong>de</strong> aproximaçãoNesta seção vamos enunciar dois resultados que servirão como ferramentas para as nossasanálises posteriores. O primeiro <strong>de</strong>les afirma essencialmente que em uma situação“regular”, sistemas “vizinhos” possuem soluções “vizinhas”.Antes <strong>de</strong> apresentar estes dois resultados relembremos <strong>de</strong> alguns conceitos básicos <strong>de</strong>aproximação assintótica, inclusive que já vinham sendo mencionados nas seções anteriores.Começamos com a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> uma função <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m.Definição 5.3.1. Uma função δ(ε) será chama<strong>da</strong> uma função <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m se δ(ε) écontínua e positiva (ou negativa) no intervalo (0, ε 0 ], on<strong>de</strong> ε 0 é um parâmetro positivopequeno, e se limε→0δ(ε) existe. As vezes, <strong>de</strong>notamos a função <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m δ(ε) com índicesdo tipo δ i (ε), i = 1, 2, · · · .


104Para comparar funções <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m usamos os chamados símbolos <strong>de</strong> Lan<strong>da</strong>u.Definição 5.3.2. Temos:1. δ 1 (ε) = O(δ 2 (ε)) para ε → 0 se existe uma constante k tal que |δ 1 (ε)| ≤ k|δ 2 (ε)|para ε → 0;2. δ 1 (ε) = o(δ 2 (ε)) para ε → 0 se limε→0δ 1 (ε)δ 2 (ε) = 0.Exemplos.ε n = o(ε m ) para ε → 0 se n > m;ε sin( 1 ) = O(ε) para ε → 0;εε 2 log ε = o(ε 2 log 2 ε) para ε → 0;e − 1 ε= o(ε n ) para ε → 0 e todo n ∈ IN.Note que se δ 1 (ε) = o(δ 2 (ε)) então isso implica que δ 1 (ε) = O(δ 2 (ε)). Por exemplo,ε 2 = o(ε) e ε 2 = O(ε) quando ε → 0.□Definição 5.3.3. Temos: δ 1 (ε) = O S (δ 2 (ε)) para ε → 0 se δ 1 (ε) = O(δ 2 (ε)) e δ 1 (ε) ≠o(δ 2 (ε)) para ε → 0.Exemplos.ε sin( 1 ε ) = O S(ε);ε log ε = O S (2ε log ε + ε 3 ).□No que segue, omitiremos “para ε → 0” já que estamos consi<strong>de</strong>rando o parâmetroε pequeno. Estamos em condições agora <strong>de</strong> estimar a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> funçõesφ(t, ε) <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> em um intervalo I, ε ∈ (0, ε 0 ].


105Definição 5.3.4 (Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> φ ε em I). Temos:1. φ ε = O(δ(ε)) em I se existe uma constante k tal que ||φ|| = O(δ(ε)) , on<strong>de</strong> δ(ε) éuma função <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m sobre (0, ε 0 ] e ||.|| uma norma para φ como uma função <strong>de</strong> t;2. φ ε = o(δ(ε)) se limε→0||φ ε ||δ(ε) = 0.3. φ ε = O S (δ(ε)) em I se φ ε = O(δ(ε)) e φ ε ≠ o(δ(ε)).Definição 5.3.5. Temos que, ψ ε (t) é uma aproximação assintótica <strong>de</strong> φ ε (t) sobre umintervalo I seφ ε (t) − ψ ε (t) = o(1), uniformemente para t ∈ I.Ou então, para intervalos ε–<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>finimos:Definição 5.3.6. ψ ε (t) é uma aproximação assintótica <strong>de</strong> φ ε (t) sobre a escala <strong>de</strong> tempo[δ(ε)] −1 seφ ε − ψ ε = o(1), sobre escalas <strong>de</strong> tempo [δ(ε)] −1 .Em geral, obtemos séries <strong>de</strong> aproximações assintótica (ou expansões) sobre algumintervalo I. Essas são expressões <strong>da</strong> formam∑˜φ ε (t) = δ n (ε)φ nε (t)n=1no qual δ n (ε) são funções <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m com δ n+1 = o(δ n ), n = 1, · · · , m − 1 e para as funçõesφ nε (t) temos que φ nε = O S (1) sobre I. Para uma <strong>da</strong><strong>da</strong> função φ ε sobre o intervalo I, asérie assintótica ˜φ ε é chama<strong>da</strong> uma aproximação assintótica <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m m <strong>de</strong> φ ε sobre I seφ ε (t) − ˜φ ε (t) = o(δ m (ε)) sobre I.Exemplo. Consi<strong>de</strong>reφ ε (t) = sin(t + εt) sobre I = [0, 2π],˜φ ε (t) = sin(t) + εt cos(t) − 1 2 ε2 t 2 sin(t).


106As funções <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m são δ n (ε) = ε n−1 , n = 1, 2, 3, · · · e claramenteφ ε (t) − ˜φ ε (t) = o(ε 2 ) sobre I,e assim ˜φ ε (t) é uma aproximação assintótica <strong>de</strong> terceira or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> φ ε (t) sobre I.□Consi<strong>de</strong>ramos agora uma função x(τ, ε), com ε um parâmetro pequeno e τ um temporescalonado que é solução <strong>da</strong> equação diferencialdxdτ = F (x, τ, ε), com x(0, ε) = x 0.Aqui a função F : R n × R × R → R n satisfaz as seguintes condições:1. F (x, τ, ε) é contínua e uniformemente limita<strong>da</strong> em G, on<strong>de</strong> G = {x : x ∈ D} × {τ :0 ≤ τ < A} × {ε : 0 < ε ≤ ε 0 }, e D é algum subconjunto aberto limitado do R n ;2. F (x, τ, ε) é Lipschitziana com relação a variável espacial x em G, ou seja, existeuma constante positiva L tal que||F (x 1 , τ, ε) − F (x 2 , τ, ε)|| ≤ L||x 1 − x 2 ||.Seja D 0 ⊂ D qualquer subconjunto compacto. Po<strong>de</strong>mos agora formular o seguinteteorema:Teorema 5.3.7. Consi<strong>de</strong>re F 1 , F 2 como acima e as funções x (1) e x (2) <strong>da</strong><strong>da</strong>s por∫ τx (1) (τ, ε) = x (1)0 + F 1 [x (1) (τ ′ , ε), τ ′ , ε]dτ ′0ee suponhamos que∫ τx (2) (τ, ε) = x (2)0 + F 2 [x (2) (τ ′ , ε), τ ′ , ε]dτ ′01. x (1)0 , x (2)0 ∈ D 0 , com |x (1)0 − x (2)0 | ≤ δ 0 (ε), on<strong>de</strong> δ 0 (ε) = o(1);2. Para todo x ∈ D e 0 ≤ τ ≤ A, se tenha |F 1 (x, τ, ε) − F 2 (x, τ, ε)| ≤ δ f (ε), on<strong>de</strong>δ f (ε) = o(1);


1073. A solução x (2) (τ, ε) existe para 0 ≤ τ ≤ T < A, e x (2) (τ, ε) ∈ D 0 .Então a solução x (1) (τ, ε) existe para 0 ≤ τ ≤ T e nesse intervalo|x (1) (τ, ε) − x (2) (τ, ε)| = O(δ 0 (ε)) + O(δ f (ε)).Este teorema é uma versão a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> do bem conhecido teorema <strong>da</strong> “<strong>de</strong>pendênciacontínua sobre os parâmetros”. O próximo resultado é um teorema que é conhecido emanálise assintótica como um Teorema <strong>de</strong> Extensão.Teorema 5.3.8. Suponhamos que x (2) (τ, ε) seja uma aproximação <strong>de</strong> x (1) (τ, ε), satisfazendox (1) (τ, ε) − x (2) (τ, ε) = o(1)com a região <strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>da</strong> por 0 ≤ τ ≤ T , on<strong>de</strong> T po<strong>de</strong> ser tomado um númeropositivo arbitrário. Então existe uma função or<strong>de</strong>m ˜δ(ε) = o(1) tal que x (2) (τ, ε) é umaaproximação <strong>de</strong> x (1) (τ, ε) para 0 ≤ τ ≤ 1˜δ(ε) .Analogamente, se x (2) (τ, ε) é uma aproximação <strong>de</strong> x (1) (τ, ε) para 0 < d ≤ τ ≤ T , on<strong>de</strong>d po<strong>de</strong> ser tomado qualquer número arbitrariamente pequeno, então existe uma funçãoor<strong>de</strong>m ˆδ(ε) = o(1) tal que a aproximação vale para ˆδ(ε) ≤ τ ≤ T .As provas <strong>de</strong>stes dois teoremas po<strong>de</strong>m ser encontra<strong>da</strong>s em [5].5.4 Relaxamento <strong>de</strong> oscilação clássicoLembremos que estamos estu<strong>da</strong>ndo o sistema⎧⎨ εẋ = y − F (x)⎩ẏ = −(x + α)(5.9)com F satisfazendo as condições <strong>da</strong><strong>da</strong>s em (5.6). Nesta seção consi<strong>de</strong>ramos o caso em que0 < α < l, com α ≠ o(1) e α − l ≠ o(1). Estu<strong>da</strong>remos as trajetórias <strong>de</strong>ste sistema comcondições iniciais arbitrárias x(0) = x 0 e y(0) = y 0 .


108F(x)Figura 5.9: Parte do retrato <strong>de</strong> fase do sistema (5.9), com ε = 0, numa vizinhança <strong>de</strong> y = F (x), on<strong>de</strong>F ′ (x) > 0.5.4.1 O fluxo–rápidoConsi<strong>de</strong>remos o par (x 0 , y 0 ) tais que y 0 − F (x 0 ) ≠ 0. Seja D 0 qualquer parte do plano xyno qual se tenha a condição F ′ (x) > 0 como indicado na figura 5.9.Consi<strong>de</strong>rando uma nova variável in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte τ = t , temos que o sistema (5.9) tomaεa nova formadx⎧⎪ ⎨ = y − F (x)dτ. (5.10)⎪ ⎩ dy= −ε(x + α)dτO fluxo–rápido é <strong>da</strong>do pelo sistema (5.10) quando o parâmetro ε = 0, ou seja, quandotemos o sistemaConsi<strong>de</strong>remos os campos⎧⎪⎨⎪⎩dxdτdydτ= y − F (x)= 0. (5.11)F 1 (x, τ, ε) = (y − F (x), −ε(x + α)) e F 2 (x, τ, ε) = (y − F (x), 0)associados aos sistemas (5.10) e (5.11), respectivamente. Sejamx (1) = (x(τ), y(τ)) e x (2) = (ˆx(τ), ŷ(τ))


109trajetórias dos campos F 1 e F 2 , respectivamente, ambos com condição inicial (x 0 , y 0 ).Então para a solução x (2) temos que ŷ(τ) = y 0 e ˆx(τ) satisfaz queAssim usando o teorema 5.3.7 obtemos quedˆxdτ = y 0 − F (ˆx); ˆx(0) = x 0 . (5.12)|(x(τ), y(τ)) − (ˆx(τ), ŷ(τ))| = |(x(τ) − ˆx(τ), y(τ) − ŷ(τ))| = O(ε) + O(ε),e isso implica quey(τ) − y 0 = O(ε) e x(τ) − ˆx(τ) = O(ε) (5.13)on<strong>de</strong> 0 ≤ τ ≤ T .É fácil estabelecer (e mais <strong>de</strong>talhes serão <strong>da</strong>dos posteriormente) que a solução ˆx(τ)existe para todo τ e, portanto, em (5.13), na região <strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos tomar paraT um número positivo arbitrário. Portanto, pelo Teorema <strong>de</strong> Extensão 5.3.8 temos queexiste uma função <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m δ(ε) = o(1) tal queon<strong>de</strong> 0 ≤ τ ≤ τ ∗ (ε) =y(τ) − y 0 = o(1) e x(τ) − ˆx(τ) = o(1) (5.14)Tδ(ε) .Olhemos melhor para a função ˆx(τ) solução <strong>da</strong> equação (5.12). Por uma análise elementarencontramos que o ponto crítico ˆx = ˆx 0 solução <strong>de</strong> y 0 −F (ˆx) = 0 é assintoticamenteestável. Além disso, para valores gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong> τ in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> ε, temos queMas como lim e −F ′ (ˆx 0 ) Tδ(ε)ε→0ˆx(τ) = ˆx 0 + O(e −F ′ (ˆx 0 )τ ). (5.15)= 0 segue que( ) Tˆx(τ ∗ (ε)) = ˆx = ˆx 0 + o(1),δ(ε)e conseqüentementex(τ ∗ (ε)) − ˆx 0 = o(1). (5.16)


110F(x)Figura 5.10: O fluxo–rápido.Assim, as trajetórias penetram em uma o(1) vizinhança <strong>da</strong> curva y = F (x). Aplicandoestes resultados globalmente obtemos o <strong>de</strong>senho do fluxo <strong>da</strong>do na figura 5.10. Os doisramos <strong>de</strong> y = F (x) sobre os quais F ′ (x) > 0 estão atraindo to<strong>da</strong>s as trajetórias começandoem pontos satisfazendo y 0 − F (x 0 ) ≠ 0.Notemos que na uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tempo original o fluxo é rápido, to<strong>da</strong> ação ocorrendo sobreintervalos <strong>de</strong> tempo0 ≤ t ≤ εδ(ε) T.Olhando para a equação (5.15) vemos que a equação (5.16) valerá para qualquer função<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m δ(ε) = o(1) e, portanto, para intervalos <strong>de</strong> tempo estendido tal queas trajetórias já atingem a o(1) vizinhança <strong>de</strong> y = F (x).ε = o(1),δ(ε)5.4.2 As varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s estável e instávelNesta seção ain<strong>da</strong> estamos consi<strong>de</strong>rando qualquer subdomínio D 0 no qual se tenha F ′ (x) >0, como o esboçado na figura 5.9. Vamos estu<strong>da</strong>r mais estritamente o comportamento <strong>da</strong>strajetórias na o(1) vizinhança <strong>de</strong> y = F (x). Para isso, introduzimos a transformaçãoy = F (x) + σ(ε)φ(t),


111on<strong>de</strong> σ(ε) é qualquer função <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m tal que ε ≺ σ(ε) ≺ 1, isto é, σ(ε) = o(1) eε= o(1), ou seja, satisfazendo queσ(ε)εlim σ(ε) = 0 e limε→0 ε→0 σ(ε) = 0.Dessa forma, obtemos do sistema (5.9) queε dφdt = ε ( dyσ(ε) dt − F ′ (x) dx )= ε [( )]y − F (x)−(x + α) − F ′ (x)=dt σ(ε)ε= − εσ(ε) (x + α) − F ′ (x)φ.Assim, do sistema (5.9) obtemos o seguinte sistema⎧⎪⎨⎪⎩ε dφdtε dxdt= −F ′ (x)φ − ε (x + α)σ= σφ(5.17)e se consi<strong>de</strong>rarmos como nova variável in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte a variável τ = t o sistema (5.17)εtoma a nova formadφ⎧⎪ ⎨ = −F ′ (x)φ − ε (x + α)dτσ. (5.18)⎪ ⎩ dx= σφdτPara o parâmetro ε = 0 no sistema (5.18) temos o fluxo–rápido <strong>da</strong>do pelo seguintesistemadφ⎧⎪ ⎨ = −F ′ (x)φdτ. (5.19)⎪ ⎩ dx= 0dτNote que, quando ε = 0 também temos pela continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> função <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m σ queσ(ε) = 0.Se ( ˆφ(τ), ˆx(τ)) é uma solução do sistema (5.19) com condição inicial ( ˆφ(0), ˆx(0)) =(φ 0 , x 0 ), então encontraremos que ˆx(τ) = x 0 e ˆφ(τ) satisfaz queResolvendo a equação diferencial (5.20) obtemos qued ˆφdτ = −F ′ (x 0 ) ˆφ, ˆφ(0) = φ0 . (5.20)ˆφ(τ) = φ 0 e −F ′ (x 0 )τ .


112Pelo teorema 5.3.7 as soluções (φ(τ), x(τ)) do sistema (5.18), po<strong>de</strong>m ser aproximadoscom um erro o(1) pelas soluções do sistema (5.19) encontra<strong>da</strong>s acima. Essas tais soluções( ˆφ(τ), ˆx(τ)) existem para todo τ, e a aproximação é portanto váli<strong>da</strong> em 0 ≤ τ ≤ T , paratodo T > 0. Dessa forma, po<strong>de</strong>mos utilizar o teorema <strong>de</strong> extensão 5.3.8 e concluir que aaproximação é váli<strong>da</strong> para 0 ≤ τ ≤ τ ∗ (ε), on<strong>de</strong> τ ∗ (ε) =T , com δ(ε) alguma função <strong>de</strong>δ(ε)or<strong>de</strong>m tal que δ(ε) = o(1).Porém, observe que( )ˆφ(τ ∗ (ε)) = ˆφ T= φ 0 e −F ′ (x 0 ) Tδ(ε) .δ(ε)TComo lim δ(ε) = 0 (pois δ(ε) = o(1)) segue que limε→0 ε→0 δ(ε)(pois F ′ (x 0 ) > 0). Logo, temos quelim ˆφ(τ ∗ (ε)) = 0,ε→0e portanto, po<strong>de</strong>mos concluir que vale a seguinte igual<strong>da</strong><strong>de</strong>ˆφ(τ ∗ (ε)) = o(1)= +∞. Assim lim′ε→0 e−F (x 0 ) Tδ(ε) = 0e conseqüentementeφ(τ ∗ (ε)) = o(1).Dessa forma, as trajetórias começando em alguma vizinhança σ(ε) satisfazendo queσ(ε) = o(1) eε= o(1) entrarão numa vizinhança ain<strong>da</strong> menor <strong>de</strong> y = F (x). Issoσ(ε)fortemente sugere que a parte interessante do fluxo ocupa lugar na vizinhança <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>por σ(ε) = ε. As trajetórias não escapam do subdomínio D 0 antes <strong>de</strong>las alcançarem talvizinhança.Assim, consi<strong>de</strong>ramos no sistema (5.18), σ(ε) = ε, isto é, consi<strong>de</strong>ramos o sistema⎧dφ⎪⎨ = −F ′ (x)φ − (x + α)dτ. (5.21)⎪⎩ dx= εφdτPara o parâmetro ε = 0 no sistema (5.21) temos o fluxo–rápido <strong>da</strong>do pelo sistema⎧dφ⎪⎨ = −F ′ (x)φ − (x + α)dτ⎪⎩dxdτ= 0. (5.22)


113Vamos repetir agora os mesmos estudos feitos acima agora para o sistema (5.21).Se ( ˆφ(τ), ˆx(τ)) é uma solução do sistema (5.22) com condição inicial ( ˆφ(0), ˆx(0)) =(φ 0 , x 0 ), então ˆx(τ) = x 0 e ˆφ(τ) satisfaz qued ˆφdτ = −F ′ (x 0 ) ˆφ − (x 0 + α), ˆφ(0) = φ0 . (5.23)Resolvendo a equação diferencial (5.23) obtemos queˆφ(τ) = − x (0 + αF ′ (x 0 ) + φ 0 + x )0 + αe −F ′ (x 0 )τ .F ′ (x 0 )Agora se consi<strong>de</strong>rarmos (φ(τ), x(τ)) uma solução do sistema (5.21), po<strong>de</strong>mos usar o teorema<strong>de</strong> aproximação 5.3.7 e encontrar quex(τ) − x 0 = O(ε) e φ(τ) − ˆφ(τ) = O(ε), ∀ 0 ≤ τ ≤ T.As soluções ( ˆφ(τ), ˆx(τ)) encontra<strong>da</strong>s acima existem para todo τ, e <strong>de</strong>ssa forma a aproximaçãoé váli<strong>da</strong> em 0 ≤ τ ≤ T , para todo T > 0. Assim, pelo teorema <strong>de</strong> extensão 5.3.8a aproximação é váli<strong>da</strong> para 0 ≤ τ ≤ τ ∗ (ε), on<strong>de</strong> τ ∗ (ε) =T , com δ(ε) alguma funçãoδ(ε)<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m tal que δ(ε) = o(1).Da mesma forma como já fizemos em outros cálculos anteriormente, temos queon<strong>de</strong> φ 0 (x 0 ) = − x 0 + αF ′ (x 0 )ˆφ(τ ∗ (ε)) = φ 0 (x 0 ) + o(1),e, conseqüentemente,φ(τ ∗ (ε)) = φ 0 (x 0 ) + o(1).Temos assim encontrado que to<strong>da</strong>s as trajetórias começando em D 0 são atraí<strong>da</strong>s emintervalos <strong>de</strong> tempo t = o(1) para a curva <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> poron<strong>de</strong> φ 0 (x) = − x + αF ′ (x) .y = F (x) + ε[φ 0 (x) + o(1)] (5.24)A equação (5.24) dá os primeiros dois termos <strong>da</strong> expansão assintótica para a varie<strong>da</strong><strong>de</strong>estável. O fluxo na curva (5.24) <strong>de</strong>ve satisfazer a equaçãodxdt = φ 0(x) + o(1). (5.25)


114Po<strong>de</strong>mos construir facilmente os termos mais elevados <strong>da</strong> expansão. Retornando parao sistema (5.21) e introduzindoiremos obter queeeMasε dφ 1dτφ = φ 0 + εφ 1dxdτ = εφ = ε(φ 0 + εφ 1 )= dφdτ − dφ 0dτ = −F ′ (x)φ − (x + α) − dφ 0dτ = −F ′ (x)(φ 0 + εφ 1 ) − (x + α) − dφ 0dτ .dφ 0dτ = dφ 0 dxdx dτ = dφ 0dx · εφ = εdφ 0dx (φ dφ 00 + εφ 1 ) = εφ 0dx + dφ 0ε2 φ 1dxAssim, chegamos ao sistema⎧dφ 1⎪⎨dτ−F ′ (x)(φ 0 + εφ 1 ) − (x + α) = −F ′ (x)φ 0 − εF ′ (x)φ 1 − (x + α) =(= −F ′ (x) − x + α )F ′ − εF ′ (x)φ 1 − (x + α) = −εF ′ (x)φ 1 .(x)⎪⎩dxdτ= −F ′ dφ 0(x)φ 1 − εφ 1dx − φ dφ 00dx= ε(φ 0 + εφ 1 ). (5.26)Se voltarmos para a variável in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte original t = ετ teremos o sistema⎧⎪⎨ ε dφ 1= −F ′ (x)φ 1 − ε dφ 0dtdx φ dφ 01 − φ 0dx. (5.27)⎪⎩ dx= φ 0 + εφ 1dtFazendo ε = 0 no sistema (5.26) obtemos o fluxo–rápido <strong>da</strong>do pelo seguinte sistema⎧dφ 1⎪⎨ = −F ′ dφ 0(x)φ 1 − φ 0dτdx⎪⎩dxdτ= 0. (5.28)Vamos proce<strong>de</strong>r <strong>da</strong> mesma forma como já vínhamos fazendo. Assim, consi<strong>de</strong>ramos( ˆφ 1 (τ), ˆx(τ)) uma solução do sistema (5.28) com condição inicial ( ˆφ 1 (0), ˆx(0)) = (φ 0 1, x 0 ).Então ˆx(τ) = x 0 e ˆφ 1 (τ) satisfaz qued ˆφ 1dτ = −F ′ (x 0 ) ˆφ 1 − φ 0 (x 0 ) dφ 0dx (x 0), ˆφ1 (0) = φ 0 1. (5.29)


115Resolvendo a equação diferencial (5.29) obtemos queon<strong>de</strong> φ 1 (x 0 ) = − 1F ′ (x 0 ) φ 0(x 0 ) dφ 0dx (x 0).ˆφ 1 (τ) = φ 1 (x 0 ) + [φ 0 1 − φ 1 (x 0 )]e −F ′ (x)τ ,Agora se consi<strong>de</strong>rarmos (φ 1 (τ), x(τ)) uma solução do sistema (5.26), po<strong>de</strong>mos usar oteorema <strong>de</strong> aproximação 5.3.7 e encontrar quex(τ) − x 0 = O(ε) e φ 1 (τ) − ˆφ 1 (τ) = O(ε), ∀ 0 ≤ τ ≤ T.As soluções ( ˆφ 1 (τ), ˆx(τ)) encontra<strong>da</strong>s acima existem para todo τ, e a aproximação éportanto váli<strong>da</strong> em 0 ≤ τ ≤ T , para todo T > 0. Assim, pelo teorema <strong>de</strong> extensão 5.3.8a aproximação é váli<strong>da</strong> para 0 ≤ τ ≤ τ ∗ (ε), on<strong>de</strong> τ ∗ (ε) =T , com δ(ε) alguma funçãoδ(ε)<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m tal que δ(ε) = o(1).Fazendo os cálculos encontramos queˆφ 1 (τ ∗ (ε)) = φ 1 (x 0 ) + o(1),e, conseqüentemente,φ 1 (τ ∗ (ε)) = φ 1 (x 0 ) + o(1).Encontramos assim que to<strong>da</strong>s as trajetórias começando em D 0 são atraí<strong>da</strong>s em intervalos<strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m unitária para a curva <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> pory = F (x) + εφ 0 (x) + ε 2 [φ 1 (x) + o(1)] (5.30)on<strong>de</strong> φ 0 (x) = − x + αF ′ (x) e φ 1(x) = − 1F ′ (x) φ 0(x) dφ 0dx (x).A equação (5.30) nos dá a expansão assintótica para a varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável com osprimeiros três termos.Po<strong>de</strong>mos continuar nesta linha <strong>de</strong> raciocínio e introduzir no sistema (5.26)φ 1 = φ 1 (x) + εφ 2 .


116Com os mesmos raciocínios <strong>de</strong> antes po<strong>de</strong>mos continuar com a análise <strong>de</strong> φ 2 , e assim pordiante. E, <strong>de</strong>ssa forma, chegaremos na seguinte expressão <strong>da</strong> expansão assintótica para avarie<strong>da</strong><strong>de</strong> estávely = F (x) + εφ 0 (x) + ε 2 φ 1 (x) + · · · .Resumindo, encontramos varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s estável nas vizinhanças dos dois ramos <strong>de</strong> y =F (x) sobre os quais F ′ (x) > 0, e analisamos o fluxo ao longo <strong>de</strong>ssas varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Notemosque uma análise inteiramente similar po<strong>de</strong> ser feita para a vizinhança do ramo <strong>de</strong> y = F (x)sobre o qual F ′ (x) < 0. Basta simplesmente inverter a direção do tempo e tomar D 0 talque o ponto singular é excluído e, <strong>de</strong>ssa forma, vamos obter a expansão assintótica <strong>da</strong>varie<strong>da</strong><strong>de</strong> instável.5.4.3 Saindo <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estávelRetornamos agora para o quadro global do retrato <strong>de</strong> fase. Para fixar as idéias seguimosas trajetórias que percorrem a varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável para x > 0.Depois <strong>de</strong> intervalos <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m unitária (ver equação (5.25)) o fluxo entraem uma vizinhança <strong>de</strong> x = 0. A primeira questão é: até que distância po<strong>de</strong>mos prolongaros resultados <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável? Para respon<strong>de</strong>r esta questão repetimos as análisesfeitas na seção anterior, olhando agora para pequenas vizinhanças <strong>de</strong> x = 0. Para isso,consi<strong>de</strong>ramos ain<strong>da</strong> a transformaçãoPorém, escrevemos agoraφ(t) = y − F (x) .σ(ε)F ′ (x) = xg(x), com g(x) > 0,e também escrevemosx = δ(ε)ξ, com ξ ≥ d > 0on<strong>de</strong> δ(ε) = o(1) é uma função <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m e d é qualquer número in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ε. Porrazões que se tornarão claras futuramente consi<strong>de</strong>raremos a função <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m δ(ε) tal queεδ 3 (ε) = o(1).


117Finalmente introduzimos, para qualquer tal função δ, a mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> tempoτ = δ(ε)ε t,e assim, obteremos a partir do sistema (5.17) quedφdτ = dφ dtdt dτ = 1 (−F ′ (x)φ − ε ) εεσ (x + α) δ(ε) = −xg(x)φ − ε (x + α) =δ(ε) σδe também= −ξg(δξ)φ − ε (α + δξ)σδdξdτ = d ( ) x= 1 dxdτ δ(ε) δ(ε) dτ = 1 dx dtδ(ε) dt dτ = 1δ(ε)e, <strong>de</strong>ssa forma, chegamos ao sistema⎧dφ⎪⎨ = −ξg(δξ)φ − ε (α + δξ)dτσδ⎪⎩dξdτSe consi<strong>de</strong>rarmos no sistema (5.31) a hipótese <strong>de</strong> queσφεεδ(ε) =σφδ(ε) 2= σ δ 2 φ . (5.31)σ = δ 2¯σ(ε),εcom ¯σ(ε) = o(1) satisfazendo a condição = o(1) teremos que as funções <strong>de</strong> or<strong>de</strong>mδ3¯σ δ e σ no sistema (5.31) satisfazem as mesmas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s que a função <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m σno sistema (5.17). Isso nos permitirá utilizar argumentos inteiramente análogos ao <strong>da</strong>seção anterior e encontrar que na escala <strong>de</strong> tempo τ = δ(ε) t, as trajetórias começando emεalguma vizinhança σ(ε), on<strong>de</strong>e ¯σ(ε) satisfaz que¯σ(ε) = o(1)σ = δ 2¯σ(ε),eε= o(1)δ3¯σ vão se contrair para uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> vizinhança <strong>de</strong> y = F (x). Isso fortemente sugereque a continuação <strong>da</strong>s trajetórias que chegam ao longo <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável percorremuma ε vizinhança <strong>de</strong> y = F (x).δ


118Consi<strong>de</strong>remos então agora esta vizinhança, ou seja, vamos tomar agora queσ =εδ(ε) .Dessa forma, o fluxo ao longo <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável estendi<strong>da</strong> satisfaz as equações⎧⎪⎨⎪⎩dφdτdξdτ= −ξg(δξ)φ − (α + δξ)= ε δ 3 φ . (5.32)Voltamos agora nossa atenção para a seguinte vizinhançaξ = x ε 1 3(δ(ε) = ε 1 3 ),on<strong>de</strong> as consi<strong>de</strong>rações <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> valer. Retornando para as equaçõesbásicas (5.9), a expansão em série <strong>de</strong> Taylor <strong>de</strong> F em torno <strong>de</strong> zero nos dá queF (x) = 1 2 g(0)x2 + O(x 3 ) = x 2 [ 1 g(0) + O(x)]2e introduzindoy = ε 2 3 ηiremos obter queε 2 3dηdt = dydt = −(x + α) = −(α + ε 1 3 ξ)eε 2 3dξdt = ε 2 3 dxε 1 3 dt = ε 1 (y − F (x))3ε= ε − 2 3 y − ε− 2 3 F (x) = η − ε− 2 3 x 2 [ 1 g(0) + O(x)] =2= η − ξ 2 [ 1 2 g(0) + O(ε 1 3 ξ)]e, assim, chegamos ao sistema⎧⎪⎨⎪⎩ε 2 3ε 2 3dηdtdξdt= −(α + ε 1 3 ξ)= η − ξ 2 [ 1 2 g(0) + O(ε 1 3 ξ)]. (5.33)


119Ambas equações do sistema (5.33) possuem uma escala <strong>de</strong> tempo comum.consi<strong>de</strong>rarmos τ = ε − 2 3 t o sistema (5.33) se transforma em⎧dη⎪⎨ = −(α + ε 1 3 ξ)dτ⎪⎩dξdτ= η − ξ 2 [ 1 2 g(0) + O(ε 1 3 ξ)]Assim se. (5.34)Po<strong>de</strong>mos estu<strong>da</strong>r o comportamento do sistema (5.33) escalonando o tempo para τ =ε − 2 3 t, ou então olhar diretamente para a equação <strong>da</strong>s trajetórias que é <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> pordξdη = −η − ξ2 [ 1g(0) + O(ε 1 3 ξ)]2. (5.35)α + ε 1 3 ξEm se tratando em obter a continuação <strong>da</strong>s trajetórias que surgem ao longo <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong>estável, o estudo direto <strong>da</strong>s trajetórias é mais conveniente.Consi<strong>de</strong>re a equação queaproxima a equação (5.35), ou seja, a equação (5.35) com o parâmetro ε = 0α dˆξdη = −η + 1 2 ˆξ 2 g(0).Por uma transformação simples po<strong>de</strong>mos obter a equação <strong>de</strong> Riccati e soluções em termos<strong>de</strong> funções <strong>de</strong> Airy. Uma escolha a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> <strong>da</strong> constante <strong>de</strong> integração nos permite <strong>de</strong>finiruma única solução ˆξ 0 (η), no qual para valores gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong> η, se comporta como <strong>da</strong>doabaixo√ ηˆξ 0 (η) =1g(0)[1 + O(1 η )].2Para analisar esta solução, primeiro vamos olhar para valores positivos <strong>de</strong> η. Temos que,a função ˆξ 0 (η) é limita<strong>da</strong> sobre qualquer intervalo limitado. Aplicamos assim o teorema<strong>de</strong> aproximação 5.3.7 e concluímos que para qualquer função ξ(η) solução <strong>de</strong> (5.35) comξ(0) − ˆξ 0 (0) = O(ε 1 3 )temos queξ(η) − ˆξ 0 (η) = O(ε 1 3 ) para η ≤ A,on<strong>de</strong> A po<strong>de</strong> ser tomado qualquer número positivo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ε. Po<strong>de</strong>mos assim,aplicar o teorema <strong>de</strong> extensão 5.3.8 e concluir que existe alguma função <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m δ ∗ (ε) =o(1) tal queξ(η) − ˆξ 0 (η) = o(1) para η ≤ Aδ ∗ (ε) .


120Já po<strong>de</strong>-se dizer agora que as soluções alcançaram a região <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável estendi<strong>da</strong>.Além disso, é fácil verificar que o gráfico <strong>da</strong> função ˆξ 0 (η) no domínio estendido,coinci<strong>de</strong> com a curva que <strong>de</strong>fine a primeira aproximação <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável, ou seja, acurva y = F (x).Olhamos agora para valores η < 0. Para η negativo, a função ˆξ 0 explo<strong>de</strong> em algumvalor finito η c , e comporta-se em uma vizinhança como (η−η c ) −1 , η c < 0. O valor numérico<strong>de</strong> η c <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> g(0) e α. Aplicando o teorema <strong>de</strong> aproximação 5.3.7 concluímos queξ(η) − ˆξ 0 (η) = O(ε 1 3 ) para ηc + d ≤ η ≤ 0,on<strong>de</strong> d po<strong>de</strong> ser tomado qualquer número positivo arbitrariamente pequeno. Finalmente,pelo teorema <strong>de</strong> extensão 5.3.8, existe alguma função <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m δ ∗ (ε) = o(1) tal queξ(η) − ˆξ 0 (η) = o(1) para η c + δ ∗ (ε) ≤ η ≤ 0. (5.36)Fica assim totalmente explorado a aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ˆξ 0 (η) como uma aproximação.Vamos tomar agora algum ponto no domínio estendido (5.36) como um novo ponto <strong>de</strong>parti<strong>da</strong> <strong>da</strong> investigação, isto é, um ponto(x 0 , y 0 ) = (ε 1 31δ ∗ ξ0 , ε 2 3 η 0 ).Temos que, η 0 < 0, e como dˆξdη > 0, segue que também <strong>de</strong>vemos ter ξ0 < 0.Em um primeiro exercício po<strong>de</strong>mos rescalonar <strong>de</strong> acordo com as condições iniciais,isto é,x = ε 1 31δ ∗ ξy = ε 2 3 ηe começar ain<strong>da</strong> as análises <strong>da</strong>s equações básicas (5.9). Não é difícil se convencer que emtermos <strong>da</strong>s variáveis ξ e η o fluxo po<strong>de</strong> ser aproximado com uma precisão δ ∗ (ε) porˆη(τ ∗ ) = η 0 e ˆξ(τ ∗ ) =ξ 0g(0)2 ξ0 τ ∗ + 1 , (5.37)on<strong>de</strong> τ ∗ =tε 2 3. Claramente, em algum tempo finito, digamos τ ∗ 1 , a aproximação ˆξ(τ ∗ )explo<strong>de</strong>. Portanto, <strong>de</strong>vemos parar em algum τ ∗ − τ ∗ 1 = o(1), rescalonar novamente ecomeçar <strong>de</strong> novo.Mas isso somente reproduzirá as equações (5.37) com δ ∗ (ε) ain<strong>da</strong>menor. O processo po<strong>de</strong> ser repetido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ε 1 3 1δ ∗= o(1).


121Figura 5.11: Chega<strong>da</strong> e afastamento <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável.Assim concluímos que as trajetórias <strong>de</strong>ixam to<strong>da</strong> o(1) vizinhanças <strong>de</strong> x = 0, no qualo fluxo é constantemente acelerado.A conclusão final é que após intervalos <strong>de</strong> tempo t 1 = O(ε 1 3 ) o fluxo alcança o fluxo–rápido e as trajetórias seguem <strong>de</strong> acordo com a subseção 5.4.1 em direção ao segundoramo <strong>de</strong> y = F (x) no qual F ′ (x) > 0, como indicado na figura 5.11.5.4.4 ConclusõesObserve a figura 5.12. Po<strong>de</strong>mos resumir nossos resultados como segue: Começamos comcondições iniciais arbitrárias x(0) = x 0 e y(0) = y 0 tais que y 0 − F (x 0 ) ≠ 0. Estu<strong>da</strong>mosna subseção 5.4.1 o fluxo–rápido e os resultados lá obtidos conduziram as trajetórias paraum dos dois ramos <strong>de</strong> y = F (x) no qual F ′ (x) > 0. Para fixar as idéias consi<strong>de</strong>ramoso ramo que está situado para x > 0. Na subseção 5.4.2 observamos a aproximação <strong>da</strong>strajetórias para a varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável (localiza<strong>da</strong> em uma O(ε) vizinhança <strong>de</strong> y = F (x)) eanalisamos este fluxo ao longo <strong>de</strong>sta varie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Na subseção 5.4.3 vimos que os resultadospara a varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável po<strong>de</strong>m ser estendidos para uma certa o(1) vizinhança <strong>de</strong> x = 0.Saindo <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável as trajetórias permanecem em uma O(ε 1 2 ) vizinhança <strong>de</strong> umacurva bem <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>, no qual conduz as trajetórias para o semi–plano x < 0. Aí então ofluxo rapi<strong>da</strong>mente acelera e alcança ain<strong>da</strong> o fluxo–rápido com y = O(ε 2 3 ). Ao longo dosegmento DA os resultados <strong>da</strong> subseção 5.4.1 po<strong>de</strong>m ser aplicados. Ao longo do arco AB


122B(x 0,y 0)F(x)CA-DFigura 5.12: O ciclo limite <strong>de</strong> um relaxamento <strong>de</strong> oscilações clássico.aplicamos os resultados <strong>da</strong> subseção 5.4.2. Na vizinhança do ponto B temos os resultados<strong>da</strong> subseção 5.4.3, e finalmente, sobre o segmento BC po<strong>de</strong>mos aplicar novamente asubseção 5.4.1.A existência <strong>de</strong> uma solução periódica (o ciclo limite) em uma o(1) vizinhança <strong>de</strong>ABCD é uma questão quase que trivial. Isso segue por exemplo como uma conseqüênciadireta do teorema <strong>de</strong> Poincaré–Bendixson.Finalmente observamos que as análises e os resultados <strong>de</strong>sta seção po<strong>de</strong>m ser facilmenteestendidos para um sistema mais geral como o <strong>da</strong>do abaixo⎧⎪⎨⎪⎩ε dxdtdydt= y − F (x)= −H(x). (5.38)Apenas condições técnicas simples sobre a função H(x) são necessárias, a principal <strong>de</strong>lassendo que sobre o intervalo <strong>de</strong> x que é <strong>de</strong> interesse na figura 5.12 a equação H(x) = 0terá uma única raíz −α localizado como indicado na figura 5.12.A equação diferencial <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> or<strong>de</strong>m correspon<strong>de</strong>nte ao sistema (5.38) éε d2 xdt + F ′ (x) dx + H(x) = 0.2 dt


1235.5 O Fenômeno CanardNesta seção estu<strong>da</strong>remos o sistema⎧⎪⎨⎪⎩ε dxdtdydt= y − F (x)= −x − α(ε)(5.39)agora com α satisfazendo que α(ε) = o(1). Isso significa que o ponto singular (−α, F (−α))está próximo <strong>da</strong> origem.Gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong>s trajetórias seguem o mesmo raciocínio que fizemos na seção anterior.Estamos agora particularmente interessados em trajetórias que seguem CD e então umaparte <strong>de</strong> DB na figura 5.12, isto é, elas seguem primeiro na varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável e então umaparte <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> instável. Tais trajetórias (se existirem) serão chama<strong>da</strong>s <strong>de</strong> trajetórias–canard pois elas constituem uma parte importante do fenômeno Canard. Está situação<strong>da</strong>s trajetórias–canard po<strong>de</strong>m ser vista na figura 5.4 à esquer<strong>da</strong>.Na procura por trajetórias que continuam ao longo <strong>de</strong> uma possível vizinhança <strong>de</strong>y = F (x) começamos com a transformaçãoy = F (x) + εφe então ficamos com o sistema⎧⎪⎨Continuaremos escrevendo⎪⎩dxdtε dφdt= φ= −F ′ (x)φ − x − αF ′ (x) = xg(x).(5.40)Além disso, iremos um passo além na transformação φ, consi<strong>de</strong>randoRecor<strong>da</strong>ndo que α = o(1), vamos obter queφ = φ 0 + εφ 1 , on<strong>de</strong> φ 0 (x) = − x + αF ′ (x) .φ = − 1g(x) + εφ 1.


124Dessa forma, o sistema (5.40) torna-se⎧dx= − ⎪⎨1dt g(x) + εφ 1⎪⎩ε dφ 1dtO sistema (5.41) será o principal objeto do nosso estudo.= −xgφ 1 − ε g′g 2 φ 1 − α ε + g′g 3 . (5.41)5.5.1 O caso <strong>de</strong>generadoPrimeiro vamos estu<strong>da</strong>r o caso em queg ′ (x) = 0, ou seja , g(x) = g 0 > 0.Como F ′ (x) = xg(x), isso significa que a curva y = F (x) = g 02 x2 é uma parábola estritapelo menos na parte do plano xy que estamos consi<strong>de</strong>rando. Este caso será <strong>de</strong> interesse,pois nos aju<strong>da</strong>rá a apren<strong>de</strong>r sobre a natureza do fenômeno e <strong>de</strong>senvolver os métodos <strong>de</strong>análise.No caso <strong>de</strong>generado o sistema (5.41) torna-se⎧dx⎪⎨ = − 1 + εφ 1dt g 0⎪⎩ε dφ 1dt= −xg 0 φ 1 − α ε. (5.42)As trajetórias do sistema (5.42) obe<strong>de</strong>cem a seguinte equação(ε − 1 ) dφ1+ εφ 1g 0 dx = −xg 0φ 1 − α ε . (5.43)Observemos que para α = 0, φ 1 (x) = 0 é uma solução <strong>da</strong> equação (5.43).Lembremos que a curvay = F (x) + εφ 0 (x), on<strong>de</strong> φ 0 (x) = − x + αF ′ (x)é a expressão com os dois primeiros termos <strong>da</strong> expansão assintótica para a varie<strong>da</strong><strong>de</strong>estável. No caso que estamos, para α = 0, está curva torna-sey = F (x) − ε g 0.


125F(x)_ __ g 0Figura 5.13: Retrato <strong>de</strong> fase do sistema (5.42) para α = 0.Esta curva está bem <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> para todo x e é a união <strong>da</strong>s varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s estável e instável.Para α = 0 po<strong>de</strong>mos obter o retrato <strong>de</strong> fase completo através <strong>da</strong> solução implícita <strong>da</strong>equação (5.43) que é <strong>da</strong><strong>da</strong> por{ }xφ 1 (x) = φ 0 2 − x 2 01 exp g0 2 + εg 0 [φ 1 (x) − φ 02ε1] .O retrato <strong>de</strong> fase do sistema (5.42) para α = 0 po<strong>de</strong> ser visto na figura 5.13.Nosso principal objetivo nesta subseção é estu<strong>da</strong>r perturbações do retrato <strong>de</strong> fase dosistema (5.42) para α ≠ 0. O próximo resultado nos dá as condições para a existência <strong>de</strong>soluções φ 1 (x), para x ∈ [x 1 , x 0 ], com x 0 > 0 e x 1 < 0, que são limita<strong>da</strong>s para ε ↓ 0.Proposição 5.5.1. As soluções φ 1 (x) <strong>da</strong> equação (5.43) são limita<strong>da</strong>s sobre um intervalo[x 1 , x 0 ] se, e somente se, as soluções ˆφ 1 (x) <strong>da</strong> equação lineariza<strong>da</strong> são limita<strong>da</strong>s.A prova com todos os <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong>sta proposição po<strong>de</strong>m ser encontra<strong>da</strong>s em [6], páginas475, 476 e 477.Observação. A limitação <strong>de</strong> φ 1 implica na proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> componente y <strong>da</strong>s trajetóriasdo sistema (5.39) com a curva y = F (x) quando ε ↓ 0.Po<strong>de</strong>mos estabelecer, por “variação <strong>de</strong> constantes”, a seguinte representação para


126φ 1 (x) e ˆφ 1 (x)on<strong>de</strong>quex 2 gφ 1 (x) = ˆφ02 ∫ xx 2 g1 (x) + εe 2ε g 0 e − 02 dφ2ε 1φ 1x 0dx ′ dx′ ,1ˆφ 1 (x) = φ(x 0 )e2ε (x2 −x 2 0 )g2 0+ α 1ε g 0e2ε x2 g022∫ xx ′2 ge − 022ε dx ′ .x 0Consi<strong>de</strong>remos que x 0 > 0 e x < 0. Por uma expansão assintótica elementar obtemosˆφ 1 (x) = φ(x 0 )e 1 2ε (x2 −x α √ 20 )g2 0 + e 1 2ε x2 g0 2 [− 2π + O(e− 1 2ε x2 g0 2 ) + O(e− 1 2ε x2 0 g2 0 )]. (5.44)ε 3 2A fim <strong>de</strong> ter o segundo termo <strong>da</strong> equação (5.44) limitado, <strong>de</strong>vemos tomarα = σε 3 2 e− 1 2ε k2 g 2 0 , (5.45)on<strong>de</strong> σ e k são constantes numéricas. Dessa forma, a equação (5.44) torna-seˆφ 1 (x) = φ(x 0 )e 1 2ε (x2 −x 2 0 )g2 0 + σe12ε (x2 −k 2 )g 2 0 [−√2π + O(e− 1 2ε x2 g 2 0 ) + O(e− 1 2ε x2 0 g2 0 )]. (5.46)Note que na equação (5.45), σ é quem <strong>de</strong>termina o sinal <strong>de</strong> α. Quando σ > 0 o pontosingular (−α, F (−α)) é instável. Com o valor <strong>de</strong> k crescendo, isso faz com que α ten<strong>da</strong>para zero. Quando σ < 0 e k é um número gran<strong>de</strong> o ponto singular é estável, mas próximo<strong>de</strong> zero.Note que em (5.46) o primeiro termo <strong>da</strong> soma é dominante quando x 2 0 < k 2 (pois nestecaso x 2 − x 2 0 > x 2 − k 2 ) e o segundo termo <strong>da</strong> soma é dominante quando x 2 0 > k 2 (poisneste caso x 2 − x 2 0 < x 2 − k 2 ). Isso leva para o retrato <strong>de</strong> fase <strong>da</strong>do na figura 5.14.To<strong>da</strong>s as trajetórias que atingem a varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável em um ponto x 0 > k para x >0, continuam ao longo <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> instável e saltam para fora <strong>de</strong>la em x = −k. Astrajetórias permanecem em uma O(ε 2 ) vizinhança <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong>, e saltam para fora paraà esquer<strong>da</strong> para σ > 0, por causa que o termo dominante em ˆφ 1 (x) é então negativo.As trajetórias que atingem a varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável em um ponto x 0 < k são governa<strong>da</strong>spelo primeiro termo <strong>de</strong> ˆφ 1 (x) e o retrato do fluxo permanece como na figura 5.13.To<strong>da</strong>s as trajetórias parecem agora terem sido incluí<strong>da</strong>s e ain<strong>da</strong> existem trajetóriasque pulam para fora <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> instável para x < −k, como na figura 5.14. A pergunta


127F(x)_ __ g 0-kkFigura 5.14: Retrato <strong>de</strong> fase do sistema (5.42) com σ > 0.agora é: <strong>de</strong> on<strong>de</strong> elas se aproximam? Notemos que em (5.46) ambos os termos <strong>da</strong> somasão <strong>da</strong> mesma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong> se x 2 0 = k 2 , assim há uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> contrabalanceamento. De fato, pela mesma técnica que temos usado até agora, po<strong>de</strong>mos analisarna direção inversa <strong>de</strong> x as trajetórias começando perto <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> instável para x 0 < −k.To<strong>da</strong>s estas trajetórias se aproximam <strong>da</strong> “sombra”<strong>da</strong> trajetória–canard, o qual atinge avarie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável em x 0 = k como ilustrado na figura 5.14.Notemos que quando k cresce, o que faz o ponto singular ten<strong>de</strong>r para zero, cresce adistância sobre o qual as trajetórias movem ao longo <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> instável.Finalmente consi<strong>de</strong>ramos o caso σ < 0. A verificação dos <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong>ste caso serão<strong>de</strong>ixa<strong>da</strong>s para o leitor. O retrato <strong>de</strong> fase para σ < 0 po<strong>de</strong> ser visto na figura 5.15.5.5.2 O caso geral: análisesRecor<strong>da</strong>mos algumas colocações do que estamos analisando. Temos introduzido quey = F (x) −εg(x) + ε2 φ 1F ′ (x) = xg(x).Vamos consi<strong>de</strong>rar um intervalo <strong>de</strong> x tal que g(x) > 0. As trajetórias do sistema (5.41)obe<strong>de</strong>cem a seguinte equação


128F(x)_ __ g 0-kkFigura 5.15: Retrato <strong>de</strong> fase do sistema (5.42) com σ < 0.[ε − ddx(φ1g)]dφ 1+ εφ 1 = −xgφ 1 − α dxε + g′g . (5.47)3Primeiro vamos <strong>da</strong>r formalmente a expansão assintótica para as trajetórias–canar<strong>de</strong> mencionaremos a expressão do valor especial α = α c (ε) na vizinhança do qual elasocorrem.Na construção formal removemos em ca<strong>da</strong> passo do processo <strong>de</strong> expansão,o termo do lado direito <strong>da</strong> equação (5.48) que é diferente <strong>de</strong> zero na origem por umaescolha a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> <strong>de</strong> α. Isto permite então <strong>de</strong>finir um termo correspon<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> expansãopara a trajetória–canard como uma função que é bem–<strong>de</strong>fini<strong>da</strong> pela origem. Este planofunciona <strong>da</strong> seguinte maneira:Tomamosαε = g′ (0)g 3 (0) + εα 1 (5.48)e, além disso, <strong>de</strong>finimos a função ψ 1 (x) porg ′ (x)g 3 (x) − g′ (0)g 3 (0) = xψ 1(x).Fica então natural tomarφ 1 (x) = ψ 1(x)g(x) + εφ 2(x).Retornando para a equação <strong>da</strong>s trajetórias (5.47), isso produzirá a seguinte nova equação


129{ dεdx( ) [ ( ) ]}φ2 d ψ 1 dφ 2+ ε φ 2 + εφ 2 = −xgφ 2 − α 1 + d ( )ψ1g dx g dxdx g 2 − ε ψ 1gddx( )ψ1. (5.49)gPara o próximo passo tomamose <strong>de</strong>finimos uma função ψ 2 (x) pore então fica natural tomarddx(ψ1α 1 = ddxg 2 )(ψ1g 2 )x=0+ εα 2− d (ψ1= xψdx g)x=02 2 (x)φ 2 (x) = ψ 2(x)g(x) + εφ 3(x).Isso irá produzir uma equação mais complica<strong>da</strong> para φ 3 (x), o qual não será <strong>da</strong><strong>da</strong>. Asregras do plano parecem estar ficando claras agora. Em ca<strong>da</strong> passo temos uma equação<strong>da</strong>s trajetórias <strong>da</strong> estruturaεL n φ n = −xgφ n − α n−1 + H(x, ε),on<strong>de</strong> L n é um operador diferenciável e H(x, ε) é uma função explícita. Removemos dolado direito <strong>da</strong> equação acima o termo que é diferente <strong>de</strong> zero na origem pela escolhaα n−1 = H(0, 0) + εα ne <strong>de</strong>finimosH(x, 0) − H(0, 0) = xψ n (x)eφ n (x) = ψ n(x)g(x) + εφ n+1(x).Esse exercício po<strong>de</strong> ser prosseguido até quando quiser.O resultado é uma expansãoassintótica formal, bem <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> sobre qualquer intervalo <strong>de</strong> x tal que g(x) > 0.Proce<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> maneira análoga ao <strong>da</strong> subseção 5.5.1, po<strong>de</strong>mos estabelecer uma fórmulaimplícita para as soluções φ 1 (x) <strong>da</strong> equação (5.47). Essa expressão é como segueφ 1 (x) = φ 1 (x, φ 1 ) + φ 2 (x, φ 1 )


130on<strong>de</strong>on<strong>de</strong>eφ 1 (x, φ 1 ) = g(x)e 1 ε Q(x) 1 ε∫ x( )e − 1 αε Q(s)x 0ε − g′dsg 3φ 2 (x, φ 1 ) = g(x)g(x 0 ) φ 1(x 0 )e 1 ε [Q(x)−Q(x 0)]Q(x) = ˆQ(x) + ε 2 [g(x)φ 1 (x) −ˆQ(x) =∫ x0∫ x0sg 2 (s)ds.]g ′ (s)φ 1 (s)dsObservação 1. Po<strong>de</strong>-se mostrar que a linearizaçãoˆφ 1 (x) = φ 1 (x, 0) + φ 2 (x, 0),quando limita<strong>da</strong>, é uma aproximação váli<strong>da</strong> <strong>de</strong> φ 1 (x).Observação 2.É também possível mostrar que as trajetórias do sistema (5.41), ou seja,as soluções φ 1 (x) <strong>da</strong> equação (5.47), que são limita<strong>da</strong>s, realmente seguem a trajetória–canard quando o parâmetro α está na vizinhança do valor especial α c . É possível ain<strong>da</strong>constatar que a expressão para α c é <strong>da</strong><strong>da</strong> porα c (ε) = ε g′ (0)g 3 (0) + O(ε2 ).Além do mais se consi<strong>de</strong>rarmos perturbações do parâmetro α <strong>da</strong><strong>da</strong>s pork 2α = α c (ε) + σε 3 −2 e εé possível obter que as trajetórias pulam para fora <strong>da</strong> trajetória–canard em um pontox = x ∗ c + O(ε), on<strong>de</strong> x ∗ c < 0.Os <strong>de</strong>talhes <strong>da</strong>s provas <strong>da</strong>s afirmações conti<strong>da</strong>s na observação acima po<strong>de</strong>m ser encontra<strong>da</strong>sem [6], páginas 481, 482 e 483.


1315.5.3 Patos sub–críticosNesta subseção vamos consi<strong>de</strong>rar o caso em queg ′ (0) > 0.Neste caso, temos que α c > 0 e o ponto singular localizado em −α c é ain<strong>da</strong> instável.Um exemplo <strong>de</strong>ste caso ocorre para a equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>. Lembremos que para aequação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong> temos queF (x) = x33 + x2logoF ′ (x) = x 2 + 2x = x(x + 2) = xg(x).Assim, no caso <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>, temos g(x) = x + 2 e, portanto, g ′ (x) = 1 para todo x.Restringiremos nossas análises para o casog ′ (x) > 0 para x ≥ −l.Começamos primeiro estu<strong>da</strong>ndo o pulo para fora <strong>da</strong>s trajetórias governa<strong>da</strong>s pelo termoφ 2 (x, 0), isto é,φ 2 (x, 0) = g(x)g(x 0 ) φ 1(x 0 )e 1 2 [ ˆQ(x)− ˆQ(x 0 )] .Uma trajetória que atinge a varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável em um ponto x = x 0 > 0 <strong>de</strong>ixará a trajetória–canar<strong>de</strong>m um ponto x = x ∗ c < 0 tal queˆQ(x ∗ c) = ˆQ(x 0 ).Consi<strong>de</strong>ree tomamos ¯x tal queˆQ(¯x) − ˆQ(x 0 ) =∫ ¯xF (¯x) = F (x 0 ).x 0zg 2 (z)dz (5.50)Po<strong>de</strong>mos reescrever a equação (5.50) <strong>da</strong> seguinte formaˆQ(¯x) − ˆQ(x 0 ) =∫ ¯xx 0zg 2 (z)dz = −∫ x0¯xg(z)F ′ (z)dz =


132c * 0Figura 5.16: Chega<strong>da</strong> e afastamento <strong>da</strong> trajetória–canard.= −[g(x 0 )F (x 0 ) − g(¯x)F (¯x)] += −F (x 0 )[g(x 0 ) − g(¯x)] +∫ x0¯x∫ x0g ′ (z)F (z)dz =Como F (z) − F (x 0 ) < 0 para z ∈ (¯x, x 0 ) teremos que¯x∫ x0g ′ (z)F (z)dz =¯xg ′ (z)[F (z) − F (x 0 )]dz.ˆQ(¯x) − ˆQ(x 0 ) < 0 para g ′ (z) > 0.Dessa forma, as trajetórias seguem <strong>de</strong> forma espiral para fora como ilustrado na figura5.16.Não é difícil agora esboçar o quadro total do fluxo. Temos quek 2α = α c (ε) + σε 3 −2 e ε .Para σ > 0 temos o fluxo esboçado na figura 5.17.O ponto x j é <strong>de</strong>finido porˆQ(x j ) − k 2 = 0.Consi<strong>de</strong>ramos ˜x j tal queˆQ(x j ) − ˆQ(˜x j ) = 0.To<strong>da</strong>s as trajetórias que atingem a varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável em um ponto x 0 > ˜x j saltam parafora <strong>da</strong> trajetória–canard em um ponto x = x j . As trajetórias que atingem a varie<strong>da</strong><strong>de</strong>


133j~jFigura 5.17: Um pato sub–crítico e algumas trajetórias típicas.estável para x < ˜x j permanecem por um tempo como esquematizado na figura 5.16, até omomento em que elas atingem a varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estável em algum x 0 > ˜x j . Quando k cresce acabeça do pato diminui. Para um valor <strong>de</strong> k tal que x j + l = o(1) nossas análises <strong>de</strong>ixam<strong>de</strong> ser váli<strong>da</strong>s, pois então teremos que g ′ = o(1). Além disso, continuando a crescer ovalor <strong>de</strong> k, produzirá um pato com uma cabeça praticamente inexistente e trajetórias umtanto complica<strong>da</strong>s perto <strong>de</strong> x = −l, o qual não temos tentado analisar.Quando σ < 0 e portanto α < α c (ε) a situação é ain<strong>da</strong> clara e o fluxo é esboçado nafigura 5.18.


134j~jFigura 5.18: Um pato sub–crítico sem cabeça e algumas trajetórias típicas.


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Índice RemissivoÓrbita, 16fecha<strong>da</strong> ou periódica, 17singular, 1716 o Problema <strong>de</strong> Hilbert, 91Aproximação assintótica, 103, 105Balthasar <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>, 93Bifurcação <strong>de</strong> Andronov–Hopf, 66, 68, 70Campo gradiente, 32Campo vetorial, 12trajetórias ou curvas integrais, 12Campos <strong>de</strong> vetores planar, 31Ciclo limite, 46estável, 47, 48instável, 47, 48semi-estável, 47, 48Conjectura <strong>de</strong> Lins, <strong>de</strong> Melo e Pugh, 88Conjugação topológica entre campos vetoriais,23Conjuntos limiteα–limite, 16, 35ω–limite, 16, 35Critério <strong>de</strong> Bendixson, 33Critério <strong>de</strong> Liapunov, 29Curva <strong>de</strong> Jor<strong>da</strong>n, 31Curva fecha<strong>da</strong> simples, 31Divergente <strong>de</strong> um campo, 33Equação <strong>de</strong> <strong>van</strong> <strong>de</strong>r <strong>Pol</strong>, 53, 56–59, 66, 72,73, 84, 93, 94, 96, 98, 99, 102, 131Equivalência topológica entre campos vetoriais,22Expansão assintótica, 101, 113, 115, 128Expansões assintótica, 96, 105Fenômeno Canard, 99, 100, 102, 123Fluxo, 14Função<strong>de</strong> Liapunov, 29<strong>de</strong> Liapunov estrita, 29<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m, 103Grafo, 40Intervalo máxima, 13Lienar<strong>de</strong>quações, 53, 71, 73, 76, 84sistemas, 56, 66, 68, 72, 81, 86, 94Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> magnitu<strong>de</strong>, 104Ponto regular, 13Ponto singular, 13137


138assintoticamente estável, 28assintoticamente instável, 28estável, 28hiperbólico, 27instável, 28Retrato <strong>de</strong> fase, 17Seção transversal, 24Seção transversal local, 24Teorema<strong>de</strong> Blows e Lloyd, 89<strong>de</strong> Perko, 89Critério <strong>de</strong> Liapunov, 29<strong>da</strong> Curva <strong>de</strong> Jor<strong>da</strong>n, 31, 42<strong>de</strong> Aproximação, 106<strong>de</strong> Extensão, 107<strong>de</strong> Grobman-Hartman, 27, 57, 70, 82<strong>de</strong> Lienard, 81, 84–87<strong>de</strong> Lins, <strong>de</strong> Melo e Pugh, 88<strong>de</strong> Poincaré–Bendixson, 35, 39, 40, 42,72, 73, 122<strong>de</strong> Zhang, 86, 87do Fluxo Tubular, 24, 50Toro bidimensional, 42, 44Trajetória máxima, 13Transformação <strong>de</strong> Poincaré, 49, 58, 60, 65,83

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