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Revista Logos 36 - Logos - UERJ

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Soares Conveniências performáticas num show de brega no Recife:oum embate de forças, de convencimento e de conquista. “Ficar” com alguémna noite significa, antes de tudo, convencer alguém. E um dos “argumentos”para esta conquista é o poder. No caso do homem freqüentador do brega, umdos sintomas do poder é o meio de transporte e a presentificação dele diantedo automóvel ou moto. A questão econômica parece ser uma determinante nalógica de poder e distinção do homem. Por isso, a questão da masculinidadeexacerbada e da premissa cafuçu funcionam articuladas a lógicas de poder.Ao contrário da piriguete que precisa atuar sorrateiramente, quase quena surdina, o cafuçu adota a performatização da “greia” como ethos de seu discurso.Ele pode falar alto, “chegar junto”, usar do humor, da “malandragem”para conquistar. Explicitar seus gostos por “cafucices” e também trazer à tonaindícios de que é sexualmente interessante. Assim como Michelle Melo evidenciavaaspectos da piriguete, outro artista do brega recifense aciona a questão docafuçu, o MC Sheldon.MC Sheldon, o gangsta-cafuçu do bregaO artista MC Sheldon se notarizou no Recife por disseminar em suascanções o termo “novinha” (referindo-se às adolescentes presentes nos seus shows)e a perspectiva de “dar pressão” (fazer sexo voraz) com elas. Trata-se de umcantor (MC de “mestre de cerimônia, análogo ao funk carioca) que apareceuna cena brega do Recife entre os anos de 2008 e 2009, ficando mais famosoem 2010, quando foi acusado pela Justiça de Pernambuco como “incitadorda pedofilia”, em função do conteúdo que disseminaria o interesse sexual pormeninas menores de idade. A partir deste episódio, MC Sheldon ocupou páginaspoliciais de jornais locais e compôs canções como “Vem Novinha TomarToddynho”, cujos versos dizem: “Mas se eu mato, eu vou preso/ Se eu roubo,eu vou preso/ Se é pra pegar novinha/ Eu vou preso e satisfeito”.Neste sentido, é possível reconhecer que MC Sheldon cristaliza o discursodo “bad boy”, tão comum na música pop. Sua postura está próximadas experiências consagradas pelo “gangsta rap”, subgênero do rap, que tempor característica a descrição do dia-a-dia violento dos jovens urbanos. A palavra“gangsta” deriva de “gângster”, soletrando-a na pronúncia do inglês comacento negro. As suas letras são violentas e normalmente tendem a criticar asociedade e revelar a dura realidade das ruas. Geralmente, os autores tinhamproblemas com a lei ou já tiveram envolvimento com gangues 6 . Ice-T, TupacShakur, Notorious BIG, Snoop Dogg, entre outros, passaram pelos tribunaispor atividades relacionadas com o tráfico de drogas, porte de armas, assassinatos,etc. O “gangsta rap” também é conhecido pelas acusações, de promovercrimes como assassinatos e tráfico de drogas; além da promoção do machismo,promiscuidade, preconceito, vandalismo e desrespeito às autoridades.A questão não é assumir um tom moralista nem reconhecer que MCSheldon “imita” os integrantes do “gangsta rap”, mas desvelar nuances de construçõesde discursos e performances midiáticas que são próximas, compondoum quadro em que é extremamente problemático não olhar o “entre” as duasexpressões. O que queremos apontar nesta aproximação entre uma certa estéticaLOGOS <strong>36</strong>Comunicação e Entretenimento: Práticas Sociais, Indústrias e Linguagens. Vol.19, Nº 01, 1º semestre 201264

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