161ocorrem em 50% dos casos, podendoser precipitados por exercícios, estresse,defecação, micção, indução anestésica,exames radiológicos contrastados,palpação do abdome, dilatação uterinadurante a evolução da gravidez, entreoutras situações 10 .Algumas substâncias tambémpodem precipitar os paroxismos, taiscomo antidepressivos tricíclicos,nicotina, betabloqueadores (usadossem o anterior alfabloqueio, em pacientescom secreção predominantede epinefrina), ACTH, histamina,opiáceos e droperidol (antagonista dadopamina) 11 .As crises hipertensivas podem seapresentar com características variadas.Às vezes, ocorrem com hipertensãosevera, podendo levar a acidentevascular encefálico, angina, infarto domiocárdio, edema agudo pulmonar,taquiarritmias graves, insuficiênciacardíaca ou renal agudas e até mortesúbita 8 . Em outras situações, o quadroclínico apresenta-se com hipertensãointermitente ou alternância de hiper ehipotensão e até normotensão 13 .Também podem manifestar-se comuma plêiade de sintomas descritoscomo “crises”, geralmente compostade cefaléia, sudorese, palidez, ruborfacial, dores, ansiedade, náuseas,vômitos, tremores ou palpitações 12 .Além da hipertensão arterial, ossintomas e sinais mais freqüentementeencontrados são: cefaléia (40% a80%), sudorese (40% a 70%), palpitaçõese taquicardia (45% a 70%),hipotensão ortostática (50% a 70%),palidez (40% a 50%), ansiedade (35%a 40%), náuseas e vômitos (10% a50%) e perda de peso (80%) 8 .Menos comumente, podem ocorrertremores, dor abdominal, dor torácica,polidipsia, poliúria, acrocianose, ruborfacial, dispnéia, tonturas, convulsões,bradicardia e febre 10 .A tríade clássica, composta de cefaléia,sudorese profusa e palpitações,apresenta sensibilidade de 89% eespecificidade de 67% no diagnósticode feocromocitoma 10 .Alterações no exame de fundo deolho podem estar presentes em 80%dos pacientes.Cerca de 6% a 10% dos feocromocitomassão familiares, podendoocorrer de forma isolada ou em associaçãoàs seguintes síndromes 1,2 :neoplasia endócrina múltipla tipo 2Aou síndrome de Sipple (carcinomamedular da tiróide, hiperpartiroidismopor adenoma ou hiperplasia, feocromocitomae, ocasionalmente, síndromede Cushing por hiperplasia adrenocortical),neoplasia endócrina múltipla tipo2B (carcinoma medular da tiróide,ganglioneuromatose, hipertrofia dosnervos cranianos e feocromocitoma),doença de Von Hippel-Lindau (hemangiomatoseretiniana, hemangioblastoma,cerebelar, feocromocitoma eoutras neoplasias, incluindo hipernefroma)e neurofibromatose ou doençade Von Recklinghausen (manchascafé-com-leite, pigmentação axilar,neurofibromatose múltipla e, ocasionalmente,feocromocitoma). Nos distúrbiosfamiliares, sobretudo nas neoplasiasendócrinas múltiplas 2A e 2B, ostumores são mais freqüentemente bilaterais.Nestes casos, a catecolaminapredominantemente secretada é aepinefrina e os paroxismos hipertensivossão freqüentes. Outras afecçõesque podem estar associadas são: colelitíase,diabetes, hipercalcemia, policitemiae rabdomiólise 8 .<strong>Feocromocitoma</strong>s malignos sãomais comuns em localizações extraadrenais9 . As metástases ocorremgeralmente para os ossos, principalmenteno esqueleto axial, nódulos linfáticos,fígado e pulmões. Muitos doscasos malignos secretam dopaminaque pode ser detectada por métodoslaboratoriais.Em raros casos os feocromocitomassão assintomáticos 13 , sendo descobertosa partir da identificação acidentalde uma massa na supra-renalou outras localizações, à ultra-sonografia,tomografia computadorizada,ressonância magnética ou durante umaexploração cirúrgica. Tais massas, fortuitamentedescobertas em procedimentosrealizados para outras finalidades,são chamadas de “incidentalomas” erequerem avaliação laboratorial de suafuncionalidade 14 .Exames laboratoriais – Osexames laboratoriais, na suspeita defeocromocitoma, procuram comprovara hipersecreção de catecolaminas edevem preceder a propedêutica porimagens. A pesquisa deve ser iniciadapelas dosagens basais de catecolaminase seus metabólitos na urina e nosangue. Os métodos disponíveis nonosso meio são: as dosagens de epinefrina,norepinefrina e dopaminaurinárias e plasmáticas, metanefrinase normetanefrinas urinárias e o ácidovanil mandélico urinário 11 . Em casosselecionados são utilizados os testesfuncionais de supressão com clonidinaou de estímulo com glucagon.Todas as dosagens podem sofrerinfluência de diversas substâncias,sobretudo das medicações antihipertensivas.Para a realização dostestes bioquímicos o paciente deveabster-se, por 48 horas, de tabaco,chá, café, chocolate, frutas, gelatina,iogurte de frutas, refrigerantes, conservasou alimentos que as contenham.Devem ser também evitados medicamentoscomo alfa e betabloqueadores,antagonistas dos canais de cálcio (estesapenas se em uso crônico), clonidina,metildopa, guanabenzo, reserpina,inibidores da enzima de conversão daangiotensina, triantereno, diazóxido,nitroprussiato de sódio, guanetidina,labetalol, sotalol, quinidina, nitroglicerina,bromocriptina, clorpromazina, inibidoresda monoaminoxidase, antidepressivostricíclicos, fenotiazinas, levodopa, aspirina,acetaminofen, tetraciclina, eritromicina,ácido nalidíxico, broncodilatadores,isoproterenol, descongestionantesnasais ou sistêmicos, anorexígenos,Malachias MVB Rev Bras Hipertens vol 9(2): abril/junho de 2002
162contrastes radiológicos, cafeína e nicotina11 .O quadro 1 mostra a sensibilidadee especificidade dos principais métodosbioquímicos utilizados na pesquisa defeocromocitomas. Como se vê, asdosagens de metanefrinas e normetanefrinasna urina de 24 horasassociadas às catecolaminas plasmáticas,pela HPLC (cromatografialíquida de alta performance), são osexames que reúnem melhor sensibilidadee maior especificidade.Epinefrina e normetanefrina, e sepossível dopamina, em urina de 24horas, podem ser utilizados como métodosde propedêutica inicial. Entretanto,a tradicional pesquisa de ácidovanil mandélico urinário, embora possuaboa especificidade, apresenta amenor sensibilidade entre todos osmétodos, só devendo ser preferido naimpossibilidade de realização dosdemais.Os testes de supressão e estímulopodem ser utilizados quando as determinaçõesurinárias e plasmáticas nãotenham sido elucidativas. A supressãocom clonidina é reservada aoshipertensos, enquanto o estímulo comglucagon é indicado para os normotensos12 . Recentemente, foi descritaa dosagem de cromogranina A plasmática,que sofre menor influência demedicamentos, apresentando sensibilidadede 83% e especificidade de 96%,no diagnóstico de feocromocitoma 8 .Ressonância magnética – Aavaliação por métodos de imagempossibilita localizar o tumor e programara intervenção cirúrgica 1 . A ressonânciamagnética também tem sido atualmenteusada como método de escolhapara identificação dos feocromocitomas,com as vantagens de não utilizarradiação ionizante e contrastes iodados,além de excelente caracterização eresolução teciduais, particularmentena avaliação do comprometimento degrandes vasos e nas localizações extraadrenais3 . Os feocromocitomas de localizaçãoadrenal, vistos pela ressonânciamagnética, exibem sinal de elevadaintensidade em T2 (hiperintenso emrelação ao fígado) típico.Tomografia computadorizada –Esse método também tem sido freqüentementeutilizado para identificaçãode feocromocitomas. Deve ser realizadacom cortes de, no máximo, 5 mmpara melhor caracterização das adrenais.Em geral, os feocromocitomas aílocalizados exibem centro hipodensoe bordas bem delimitadas, podendo,entretanto, apresentarem-se comouma massa sólida e, nos casos malignos,com bordas irregulares.Ultra-sonografia abdominal – Aampla disponibilidade e a praticidadeda ultra-sonografia abdominal têmcorroborado para sua utilização comométodo propedêutico na impossibilidadede realização dos outros exames deimagem anteriormente descritos 15 .Cintilografia – A cintilografia commetaiodobenzilguanidina (MIBG)marcada com iodo 131, que é captadopelos receptores de catecolaminas, éespecialmente útil nos feocromocitomasextra-adrenais, múltiplos, metastáticose nas recidivas tumorais 16 .O quadro 2 mostra a sensibilidadee especificidade dos métodos dediagnóstico por imagem.Eletrocardiograma – O eletrocardiogramapode apresentar-se dentro danormalidade ou demonstrar alteraçõesinespecíficas sugestivas de isquemia,sobrecarga ventricular esquerda earritmias diversas 17 . Muitas dasalterações eletrocardiográficas podemdesaparecer após o <strong>tratamento</strong> cirúrgico.MAPA – A monitorização ambulatorialda pressão arterial de 24 horas(MAPA) pode registrar os picos hipertensivos,as quedas pressóricas, ausênciaou atenuação do descenso pressóricofisiológico do sono e uma relaçãonegativa entre freqüência cardíaca epressão arterial 18 .Quadro 1 – Sensibilidade e especificidade dostestes bioquímicos utilizados no diagnóstico de feocromocitomaTeste Sensibilidade EspecificidadeNE + E plasmáticos 85% 97%NE + E urinários (24 h) 85-100% 72-99,5%NMN + MN urinários (24 h) 97-100% 84-98%VMA urinário (24 h) 64-90% 87-98%Fonte: Werbel SS, Ober KP, 1995 5NE = norepinefrina; E = epinefrina; NMN = normetanefrina; MN metanefrina; VMA = ácido vanilmandélico. Para todos os testes acima, foi utilizada a técnica de HPLC (cromatografia líquida de altaperformance).Quadro 2 – Sensibilidade e especificidade dosprincipais métodos de imagem para localização do feocromocitomaParâmetro TC RM MIBG(%) (%) (%)Sensibilidade 98 100 78Especificidade 70 67 100VP (+) 69 83 100VP (-) 98 100 87Fonte: Bravo EL, 1991 16.TC = tomografia computadorizada; RM = ressonância magnética; MIBG = cintilografia commetaiodobenzilguanidina; VP (+) = valor preditivo positivo; VP (-) = valor preditivo negativo.Malachias MVB Rev Bras Hipertens vol 9(2): abril/junho de 2002