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Manobra de Osler

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199ComunicaçõesBreves<strong>Manobra</strong> <strong>de</strong> <strong>Osler</strong>: método e significadoNereida Kilza da Costa LimaCurso <strong>de</strong> Medicina – Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ribeirão PretoO envelhecimento populacional,ou seja, o aumento da porcentagem <strong>de</strong>indivíduos idosos em uma população,está ocorrendo <strong>de</strong> forma aceleradaem nosso país, <strong>de</strong> tal forma que, em2025, haverá cerca <strong>de</strong> 32 milhões <strong>de</strong>idosos. Como a prevalência da hipertensão,neste grupo etário, é referidacomo <strong>de</strong> até 50%, se muito não forfeito em termos <strong>de</strong> prevenção, po<strong>de</strong>mossupor que 16 milhões <strong>de</strong> hipertensosidosos estarão necessitando <strong>de</strong>diagnóstico, tratamento, seguimento,atendimento <strong>de</strong> intercorrências e eventosmórbidos cardiovasculares associadosà hipertensão, além <strong>de</strong> reabilitação paraseqüelas <strong>de</strong>stes eventos. Des<strong>de</strong> já,diante das perspectivas apresentadas,torna-se fundamental apren<strong>de</strong>r, revere ensinar conhecimentos que possamauxiliar o diagnóstico correto etratamento seguro para o geronte.A medida da pressão arterial noindivíduo idoso apresenta uma série<strong>de</strong> particularida<strong>de</strong>s, entre elas a maiorvariabilida<strong>de</strong> dos valores obtidos <strong>de</strong>vidoa alterações nos barorreceptores, oque po<strong>de</strong> dificultar o diagnóstico e oseguimento. São, portanto, necessáriasmais medidas em várias consultas efora <strong>de</strong>las, também <strong>de</strong>vido a maiorprevalência do efeito do aventalbranco. Na obtenção da medida em si,são mais freqüentes o achado do hiatoauscultatório e a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> medidasfalsamente elevadas, o que po<strong>de</strong>caracterizar a pseudo-hipertensão.Com a ida<strong>de</strong> ocorre o aumento darigi<strong>de</strong>z dos vasos, com redução dasfibras elásticas e aumento do colágeno,mas se este processo for mais acentuado,seja pela calcificação da camadamédia da artéria ou por aterosclerose,haverá dificulda<strong>de</strong> em comprimir estaartéria com a insuflação do manguitoe a pressão verificada será maior doque a intra-arterial.Mas como suspeitar da presença dapseudo-hipertensão e como <strong>de</strong>tectá-la?A suspeita <strong>de</strong>ve ser feita em pacientesidosos, que têm hipertensão <strong>de</strong>longa data sem lesões <strong>de</strong> órgãos-alvo,em indivíduos com sintomas hipotensivosao tentar-se tratamento com dosesa<strong>de</strong>quadas e naqueles nos quais amanobra <strong>de</strong> <strong>Osler</strong> for positiva. Amanobra <strong>de</strong> <strong>Osler</strong> foi assim chamadapor Messerli FH et al. (N England JMed 1985; 312(24): 1548-51), queresgataram a utilização <strong>de</strong> umensinamento <strong>de</strong> Sir William <strong>Osler</strong>, <strong>de</strong>1892, que referia: “Po<strong>de</strong> ser difícilestimar quanto do endurecimento e darigi<strong>de</strong>z (da artéria) é <strong>de</strong>vido à tensão dosangue <strong>de</strong>ntro do vaso e quanto aoespessamento da pare<strong>de</strong>. Se, porexemplo, quando a radial é comprimidapelo <strong>de</strong>do indicador, a artéria po<strong>de</strong> sersentida além do ponto <strong>de</strong> compressão,suas pare<strong>de</strong>s estão esclerosadas”. Amanobra preconizada por Messerli consisteem insuflar o manguito utilizadopara a medida da pressão acima dapressão sistólica, ou seja, quando nãohá mais possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar opulso, tentando-se <strong>de</strong>limitar, à palpação,as artérias radial e/ou braquial. Se forpossível i<strong>de</strong>ntificá-las, existe rigi<strong>de</strong>zaumentada do vaso e po<strong>de</strong> estarocorrendo uma falsa estimativa dapressão para valores superiores aosreais.A prevalência da manobra <strong>de</strong> <strong>Osler</strong>positiva varia com a faixa etária, sendocerca <strong>de</strong> 3% em indivíduos <strong>de</strong> 60 a 70anos, mas <strong>de</strong> aproximadamente 44%nos idosos <strong>de</strong> 86 a 90 anos. Suaocorrência é mais comum, portanto,naqueles com 70 anos ou mais, ocorrendotambém mais freqüentementeem tabagistas, indivíduos com a pressãosistólica muito elevada, compressão <strong>de</strong> pulso maior (diferencialentre sistólica e diastólica), havendodiscordância dos dados em relação aosexo. Alguns autores encontraram prevalênciaigual à da manobra positivaem mulheres e homens e outros referemmaior prevalência nos últimos.Existem resultados conflitantestambém no que tange à reprodutibilida<strong>de</strong>do método. Quando há mudança <strong>de</strong>observador, os resultados po<strong>de</strong>m nãocoincidir. O que se po<strong>de</strong> concluir é que otreinamento para tal manobra é importantee melhora o seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> “screening”.Observamos que poucos em nosso meiovalem-se <strong>de</strong>sta elegante manobra,geralmente por <strong>de</strong>sconhecê-la. Mesmoconsi<strong>de</strong>rando que a presença damanobra <strong>de</strong> <strong>Osler</strong> positiva possa nãoLima NKC Rev Bras Hipertens vol 9(2): abril/junho <strong>de</strong> 2002


200indicar necessariamente a presença <strong>de</strong>pseudo-hipertensão, visto não ser infalível,ela auxilia no diagnóstico e naavaliação do controle da pressão apóso uso <strong>de</strong> medicamentos na populaçãomais idosa. O fato <strong>de</strong> encontrarmos apositivida<strong>de</strong> não nos indica que <strong>de</strong>vemosnecessariamente pedir a avaliação intraarterialda pressão, que é um procedimentoinvasivo, mas que reconsi<strong>de</strong>remoso uso <strong>de</strong> drogas, utilizando, quandofor o caso, dosagens menores comajustes cuidadosos.Há casos <strong>de</strong> idosos que são normotensos,porém a pressão intra-arterial ésignificativamente menor do que a obtidapelo método tradicional. Tal fato po<strong>de</strong>ter relevância clínica quando foremnecessárias drogas com efeito hipotensivopara outras patologias, que não ahipertensão, como angina pectoris,insuficiência cardíaca e parkinsonismo,entre outras. Por outro lado, po<strong>de</strong>haver diferença entre a pressão medidaem consultório e a intra-arterial, masambas po<strong>de</strong>m ser elevadas, existindo,portanto, um indivíduo realmentehipertenso com um falso aumento dascifras já alteradas. Neste caso éimportante lembrar que a diferençaentre os dois métodos, em pacientescom a manobra <strong>de</strong> <strong>Osler</strong> positiva,variou, em estudos realizados, <strong>de</strong> 10 acerca <strong>de</strong> 60 mmHg. Então, se oindivíduo tem, por exemplo, pressão<strong>de</strong> consultório 220 x 100 mmHg, coma manobra <strong>de</strong> <strong>Osler</strong> positiva, ele <strong>de</strong>veser consi<strong>de</strong>rado hipertenso, mesmoque os valores não sejam realmentetão elevados. O fato <strong>de</strong> encontrarmospositivida<strong>de</strong> na manobra não nos indicanecessariamente que o indivíduo emquestão tem risco cardiovascular maisbaixo do que aquele com pressão <strong>de</strong>mesmo nível e manobra <strong>de</strong> <strong>Osler</strong>negativa, pois o primeiro tem maiorrigi<strong>de</strong>z do sistema arterial, geralmenteassociada a maior pressão <strong>de</strong> pulso.Têm-se procurado métodos maiseficazes do que a manobra <strong>de</strong> <strong>Osler</strong> emenos invasivos do que a medida intraarterialda pressão para i<strong>de</strong>ntificarpresença da pseudo-hipertensão, comoa medida da velocida<strong>de</strong> da onda <strong>de</strong>pulso, mas ainda não há resultadosaplicáveis na prática clínica.Concluindo, é importante conhecera manobra <strong>de</strong> <strong>Osler</strong> e utilizá-la nospacientes com suspeita <strong>de</strong> pseudohipertensão,<strong>de</strong>vido à praticida<strong>de</strong> ebaixo custo do método, pois terapiaanti-hipertensiva inapropriada po<strong>de</strong>causar hipotensão, efeitos adversosdas drogas e custos <strong>de</strong>snecessários.Por outro lado, <strong>de</strong>ve-se saber que elanão é infalível e que o indivíduo commanobra <strong>de</strong> <strong>Osler</strong> positiva po<strong>de</strong> serverda<strong>de</strong>iramente hipertenso, além <strong>de</strong>ter o sistema arterial com rigi<strong>de</strong>zaumentada, não o liberando do seguimentoambulatorial e eventual tratamento.Lima NKC Rev Bras Hipertens vol 9(2): abril/junho <strong>de</strong> 2002

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