13.07.2015 Views

tatuagens, piercings e escarificações à luz da psicanálise - SciELO

tatuagens, piercings e escarificações à luz da psicanálise - SciELO

tatuagens, piercings e escarificações à luz da psicanálise - SciELO

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ARTIGOSaposta no futuro. Assim, o homem pré-moderno e o moderno situam-se na tramatemporal <strong>da</strong> história, na certeza do movimento limitador do tempo.A pós-moderni<strong>da</strong>de é caracteriza<strong>da</strong> pela ruptura, pelo desrespeito com o vínculotemporal com o passado e/ou com o futuro (Drawin, 2003). Vive-se a imediatici<strong>da</strong>dedo agora; não há História, pois não importa o passado ou o futuro,adquirindo o presente uma dimensão tirânica e perversa. O futuro deixou de seruma aposta, o passado não é respeitado como referencial, só restando a vacui<strong>da</strong>dedo presente (Bauman, 1998; Costa, 2004; Le Breton, 2003). Sem raízes nopassado e sem perspectiva futura resta ao sujeito pós-moderno o seu corpo comoreali<strong>da</strong>de incontestável (Le Breton, 2003; Ortega, 2003).Não podemos negar que ca<strong>da</strong> época produz seu mal-estar específico. ParaBauman (1998),... os mal-estares <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de provinham de uma espécie de segurança quetolerava uma liber<strong>da</strong>de pequena demais na busca <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de individual. Os mal--estares <strong>da</strong> pós-moderni<strong>da</strong>de provêm de uma espécie de liber<strong>da</strong>de de procura doprazer que tolera uma segurança individual pequena demais. (p. 10)Essa mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de para o prazer ilimitado comporta um sofrimentoque, na teoria lacaniana, nomeamos gozo. Lacan refere-se ao gozo como a satisfaçãode uma pulsão, estando sempre implica<strong>da</strong> com o corpo. Isso coloca ocorpo como cenário privilegiado <strong>da</strong>s formas de existir subjetivas (Costa, 1988,2004; Ortega, 2003).591O que dizem as marcas no corpo?A partir <strong>da</strong> discussão acima, é interessante pensar na proliferação de <strong>tatuagens</strong>,seja com o nome do parceiro, seja como marcas de um momento ou comopuro enfeite. Nesse último caso a pele é um adorno que pode ser colorido e apresentadocomo tela, bem como uma superfície que se impõe ao ser marca<strong>da</strong> pororifícios fabricados nos quais são injetados coloração. É pensando que tais práticasde tatuagem, piercing e <strong>escarificações</strong> deman<strong>da</strong>m uma escuta não redutorade suas polissemias, que afirmamos ser no corpo que se inscreve, literalmente,a história do sujeito. O sujeito se esforça para exteriorizar seus afetos, fantasiase desejos. O corpo, nesse sentido, funciona como um meio de comunicação. Apartir do excesso de informações, o bombardeio de estímulos deixa o sujeitomudo, mas seu corpo fala por meio <strong>da</strong>s <strong>tatuagens</strong>, <strong>piercings</strong> e outras obras. Considerandotais nuanças, privilegiamos o olhar <strong>da</strong> <strong>psicanálise</strong>, por considerá-lo acolhedora essas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de constituição subjetiva que não se acomo<strong>da</strong>mfacilmente aos padrões de subjetivação hegemônicos.Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, v. 13, n. 4, p. 585-598, dezembro 2010

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!