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tatuagens, piercings e escarificações à luz da psicanálise - SciELO

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ARTIGOSno corpo. A autentici<strong>da</strong>de e a reali<strong>da</strong>de são materializa<strong>da</strong>s na marca corporalcomo uma forma de existir que dispense as palavras e o olhar do outro, os quaisnão são confiáveis... (p. 6)Para Ortega (2004), as marcas no corpo revelam uma falência do simbólicoe a construção de uma ficção de liber<strong>da</strong>de. O autor anuncia “... não podendomu<strong>da</strong>r o mundo, tentamos mu<strong>da</strong>r o corpo, o único espaço que restou <strong>à</strong> utopia,<strong>à</strong> criação. As utopias corporais substituem as utopias sociais” (p. 252). Ferreira(2007) não compactua com essa posição que pensa as marcas no corpo comoum projeto inteiramente “apolítico”. Fun<strong>da</strong>mentando-se em uma base foucaultiana,Ferreira considera que “embora se faça passar por um projeto ensimesmado, permanecendofirmemente entrincheirado numa políticad e vi<strong>da</strong> que luta por um espaçode singulari<strong>da</strong>de e liber<strong>da</strong>de individual” (p. 318).Considerações finaisAssistimos, na atuali<strong>da</strong>de, <strong>à</strong> elaboração de discursos sociais que buscamnormatizar o corpo humano, como, por exemplo, o discurso científico sobre aperfeição e a completude do mesmo (Da Poian, 2000; Ortega, 2003; Roudinesco,2000). Assim como nos explicou Foucault (1996), o poder incide diretamentenos corpos dos sujeitos, realizando a sujeição de suas forças e lhes impondo umarelação de docili<strong>da</strong>de-utili<strong>da</strong>de, isto é, de disciplina. Observamos com o autor queo corpo, ao longo <strong>da</strong>s organizações sociais, produz formas de reação <strong>à</strong> disciplinaimposta pelos discursos normatizadores, ocorrendo nesta ação e reação entreo corpo e as instituições de poder o processo civilizatório.Se advogamos o argumento de que há uma reação <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de <strong>à</strong> normatização,aludimos que há, também, uma relação entre as formas de se subjetivare o contexto social em que se está inserido. Desta maneira, compreendemosque a subjetivi<strong>da</strong>de é uma construção social e isto significa que o corpo ganhanovos sentidos e os expressam de forma diferente a ca<strong>da</strong> época. A produção denovos discursos sociais, a que assistimos na atuali<strong>da</strong>de, acontece, simultaneamente,<strong>à</strong> produção de novas formas de subjetivação.Extraímos de Lipovetsky (2005) a lição de que, na socie<strong>da</strong>de atual, o discursosocial não se articula mais pela disciplina e pela autori<strong>da</strong>de, e sim pelo “poder<strong>da</strong> sedução”. Isso significa que a ordem social incide nos corpos, seduzindo-osa serem sempre belos, ativos, saudáveis, jovens e sensuais. Devem se prender aum único tempo, o do presente, silenciando as instâncias do passado e do futuro.Com isto, o que importa é o prazer e as sensações senti<strong>da</strong>s no aqui-e-agora,perdendo valor tudo o que diz respeito <strong>à</strong> tradição, <strong>à</strong> história e aos costumes. Nesta593Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, v. 13, n. 4, p. 585-598, dezembro 2010

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