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Laranja-da-China - Unama

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www.nead.unama.br— Estado! Comércio!Olhou para cima. Olhou longe. Olhou perto.Diacho. Parece impossível.— São Paulo-Jornal!Quase derrubou o homem na esquina. O italiano perguntou logo:— Qual é?Atrapalhou-se todo:— Eu não sei não senhor.— Então leva O Estado!Pegou o jornal. Ficou com ele na mão feito bobo.— Duzentos!Quase chorou. O homem arrancou-lhe a moe<strong>da</strong> dos dedos que tremiam. Eele continuou a an<strong>da</strong>r. Com o jornal debaixo do braço. Mas sua vontade era voltar,chamar o homem, devolver o jornal, readquirir o duzentão. Mas não podia. Por quenão podia? Não sabia. Continuou an<strong>da</strong>ndo. Mas sua vontade era voltar. Mas nãopodia. Não podia. Não podia. Continuou an<strong>da</strong>ndo.Que remédio senão se conformar? Não tomava sorvete. Dois sorvetes. Dois.Mas tinha O Estado.O Estado de São Paulo. Pois é. O jornal ficava com ele. Mas para quê, meuEspírito Santo? Engoliu um soluço e sentiu vergonha.Nesse instante já estava em frente do Instituto Disciplinar.Abaixou-se. Catou uma pedra. Pá! Na árvore. Bem no meio do tronco. Catououtra. Pá! No cachorro. Bem no meio <strong>da</strong> barriga. Direção assim nem a do CaboZulmiro. Ficou muito, mas muito contente consigo mesmo. Cabra bom. E isso nãoera na<strong>da</strong>. Há dois anos na Fazen<strong>da</strong> Sinhá-Moça depois de cinco pedra<strong>da</strong>s certeiraso doutor delegado (o que bebia, coitado) lhe disse: Desse jeito você poderá fazerbonito até no estrangeiro!Êta topa<strong>da</strong>. A gente vai assim pensando em cousas e nem repara ondemete o pé. É topa<strong>da</strong> na certa. Eh! Eh! Topa<strong>da</strong> certeira também. Puxa. Tudo certeiro.Agora não é na<strong>da</strong> mau descansar aqui à sombra do muro.O automóvel passou com poeira atrás. Diabo. Pegou num pauzinho edesenhou um quadrado no chão vermelho. Depois escreveu dentro do quadrado emdiagonal: SAUDADE — 1927. Desmanchou tudo com o pé. Traçou um círculo.Dentro do círculo outro menor. Mais outro. Outro. Ain<strong>da</strong> outro bem pequetitito. Ain<strong>da</strong>outro: um pontinho só. Não achou mais jeito. Ficou pensando, pensando, pensando.Com a ponta do cavaco furando o pontinho. Deu um risco nervoso cortando oscírculos e escreveu fora deles sem levantar a ponta: FIM. Só que escreveu com n. Eafundou numa tristeza sem conta.Cinco minutos banzados.E abriu o jornal. Pulou de coluna em coluna. Até os olhos <strong>da</strong> Pola Negri nosanúncios de cinema. Boniteza de olhos. Com o fura-bolos rasgou a boca, rasgou a36

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