<strong>Perspectiva</strong> <strong>cultural</strong> <strong>do</strong> <strong>envelhecimento</strong>Violência contra i<strong>do</strong>sos: um novo <strong>de</strong>safiodruvo/istockphototal geran<strong>do</strong> problemas <strong>de</strong> incontinência e locomoção, redução <strong>de</strong>visão e/ou audição e mesmo <strong>de</strong>pendência financeira.O estresse como fator <strong>de</strong> risco está relaciona<strong>do</strong> à <strong>de</strong>pendência físicaou mental <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so e à falta <strong>de</strong> preparo <strong>de</strong> familiares ou mesmo <strong>de</strong>cuida<strong>do</strong>res profissionais para o ato <strong>de</strong> cuidar. Segun<strong>do</strong> alguns estu<strong>do</strong>s,os cuida<strong>do</strong>res familiares são na maioria mulheres, em geral <strong>de</strong>meia-ida<strong>de</strong>, que acumulam outras funções no âmbito <strong>de</strong> sua famíliae que tiveram sua rotina <strong>de</strong> vida profundamente alterada com a eclosão<strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência em pessoa <strong>do</strong> grupo familiar <strong>de</strong> origem, comfrequência mãe ou sogra.Perfil da vítima e <strong>do</strong> agressorQuinn e Tomita (1990) realizaram um levantamento <strong>do</strong>s principaisestu<strong>do</strong>s <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s sobre abusos contra i<strong>do</strong>sose constataram a existência <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> violência contra eles nointerior da família. Elaboraram também, com base nesse levantamento,um perfil <strong>de</strong> vítima <strong>de</strong> violência familiar: mulher, com 75 anosou mais, viúva, física ou emocionalmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, na maioria dasvezes residin<strong>do</strong> com familiares, um <strong>do</strong>s quais é seu agressor. O perfilbásico <strong>de</strong>sse agressor é: adulto <strong>de</strong> meia-ida<strong>de</strong>, geralmente filho oufilha, quase sempre <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da vítima, com problemas mentaise/ou <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> álcool ou outras drogas.Violência institucionalA violência nas instituições <strong>de</strong> longa permanência temsi<strong>do</strong> muito pouco estudada, sobretu<strong>do</strong> pelas dificulda<strong>de</strong>se barreiras existentes para o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> pesquisa nesses locais. Po<strong>de</strong>-se afirmar que elaexiste quan<strong>do</strong> os níveis <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> estão compadrões abaixo <strong>do</strong> espera<strong>do</strong> e <strong>do</strong> <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> pela legislaçãosobre o assunto: higiene ruim, cuida<strong>do</strong> físico e qua lida<strong>de</strong><strong>de</strong> vida precários, inexistência <strong>de</strong> qualificação da equipe<strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s, esgotamento <strong>do</strong>s enfermeiros e auxiliares,falta <strong>de</strong> privacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res. Também po<strong>de</strong>mser aponta<strong>do</strong>s fatores organizacionais, como uso <strong>de</strong>drogas que <strong>do</strong>pam os i<strong>do</strong>sos, <strong>de</strong>snutrição, contençãoe até agressões físicas.Deve-se suspeitar <strong>de</strong> maus-tratos em uma instituição <strong>de</strong>longa permanência quan<strong>do</strong> se observa o aumento<strong>do</strong> número <strong>de</strong> óbitos por mês ou quan<strong>do</strong> um i<strong>do</strong>so resi<strong>de</strong>nteem instituição dá entrada em pronto-socorro comsinais <strong>de</strong> maus-tratos. Nesse caso, a suspeita <strong>de</strong> violênciatem <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>nunciada à Vigilância Sanitária.O papel <strong>do</strong> profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>É muito importanteo papel <strong>do</strong>profissional<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> naprevenção,i<strong>de</strong>ntificação etratamentodas situações<strong>de</strong> negligênciae maus-tratoscontra i<strong>do</strong>sos.Segun<strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> e Queiroz (2006), é extremamente importanteo papel <strong>do</strong> profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na prevenção, i<strong>de</strong>ntificação e tratamentodas situações <strong>de</strong> negligência e maus-tratos contra pessoasi<strong>do</strong>sas, pois as principais portas <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> i<strong>do</strong>sos vitima<strong>do</strong>s sãoos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em geral e os ambulatórios e prontos-socorrosem particular.A falta <strong>de</strong> qualificação para o a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> atendimento ao i<strong>do</strong>so e opreconceito socio<strong>cultural</strong> em relação à ida<strong>de</strong> avançada dificultamainda mais a constatação da violência nos pacientes mais velhos.Por isso, muitos profissionais consi<strong>de</strong>ram o <strong>de</strong>clínio funcional e aperda da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida atributos da velhice e alegam falta <strong>de</strong>tempo para uma consulta ambulatorial mais cuida<strong>do</strong>sa, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>,muitas vezes, <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar situações <strong>de</strong> abuso e seu a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>encaminhamento.2021
<strong>Perspectiva</strong> <strong>cultural</strong> <strong>do</strong> <strong>envelhecimento</strong>Violência contra i<strong>do</strong>sos: um novo <strong>de</strong>safioOs profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> também alegam frequentemente não quererse envolver em questões familiares, julgan<strong>do</strong>-as <strong>de</strong> <strong>do</strong>mínio priva<strong>do</strong>,per<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, assim, a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteger o i<strong>do</strong>so e ajudara família a encontrar soluções a<strong>de</strong>quadas para as dificulda<strong>de</strong>s queestão vivencian<strong>do</strong> na ação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>. Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>ssa situação,confirma-se a importância <strong>do</strong> trabalho intersetorial e da responsabilida<strong>de</strong>da Assistência Social por intermédio <strong>do</strong>s Centros <strong>de</strong> Referênciae Assistência Social (Cras).Torna-se cada vez mais necessária ampla ação informativa para aprevenção <strong>de</strong> abusos e maus-tratos contra i<strong>do</strong>sos, tanto para profissionais<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> como para cuida<strong>do</strong>res familiares.Avaliação <strong>de</strong> violênciaConforme Macha<strong>do</strong> e Queiroz (2006), algumas recomendações paraa i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> maus-tratos contra i<strong>do</strong>sos são apontadas por autoresque vêm trabalhan<strong>do</strong> com essa questão.Alexan<strong>de</strong>r Raths/istockphotoExame físicoDeve ser feito um exame cuida<strong>do</strong>so <strong>do</strong> aspecto geral, observan<strong>do</strong>:• Higiene e proprieda<strong>de</strong> das roupas.• Existência <strong>de</strong> lesões cutâneas, hematomas e úlceras <strong>de</strong> pressão napele e membranas mucosas.• Presença <strong>de</strong> hematomas, lacerações e cortes na cabeça, pescoço etronco.• Aparelho geniturinário.• Existência <strong>de</strong> lesões <strong>de</strong> punho e calcanhar, que po<strong>de</strong>m sinalizarcontenção.Histórias clínica, social e familiarAlguns cuida<strong>do</strong>s precisam ser observa<strong>do</strong>s durante a entrevista <strong>de</strong> levantamento<strong>do</strong> histórico <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so:• Entrevistar e examinar a pessoa em situação <strong>de</strong> privacida<strong>de</strong>, sem apresença <strong>de</strong> seu cuida<strong>do</strong>r, familiar ou profissional.• Explicar ao cuida<strong>do</strong>r ou acompanhante que ele também será entrevista<strong>do</strong>logo <strong>de</strong>pois, pois essa é a rotina <strong>do</strong> serviço.• Não ter pressa durante a entrevista.• Procurar trabalhar pontos <strong>de</strong> interesse ao longo da entrevista, comtranquilida<strong>de</strong>.• Ouvir antes <strong>de</strong> examinar.• Prestar bastante atenção a traumatismos, queimaduras, aspectos nutricionaise alterações recentes nas condições econômica e social.• Não diagnosticar prematuramente o i<strong>do</strong>so como vítima <strong>de</strong> abusoou negligência, nem adiantar ao cuida<strong>do</strong>r um plano <strong>de</strong> intervençãoaté que to<strong>do</strong>s os fatos estejam esclareci<strong>do</strong>s.• Fazer contatos colaterais, visitan<strong>do</strong> o local <strong>de</strong> moradia e entrevistan<strong>do</strong>vizinhos, amigos e outros familiares, em busca <strong>de</strong> informaçõesadicionais.2223