<strong>Perspectiva</strong> <strong>cultural</strong> <strong>do</strong> <strong>envelhecimento</strong>Violência contra i<strong>do</strong>sos: um novo <strong>de</strong>safioistockphoto24Outros aspectosAlguns indícios po<strong>de</strong>m também facilitar a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> uma possívelsituação <strong>de</strong> violência:• O i<strong>do</strong>so é trazi<strong>do</strong> ao hospital por outra pessoa que não seu cuida<strong>do</strong>r.• Existe um intervalo prolonga<strong>do</strong> entre o trauma ou <strong>do</strong>ença e a apresentação<strong>do</strong> i<strong>do</strong>so para os cuida<strong>do</strong>s médicos.• A <strong>de</strong>scrição <strong>do</strong> trauma não é compatível com os sinais encontra<strong>do</strong>s.• Os frascos <strong>de</strong> remédios indicam que a medicação não está sen<strong>do</strong>administrada conforme a prescrição feita.• O conhecimento da história pessoal <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>r po<strong>de</strong> apontar situaçõessociais problemáticas, como <strong>de</strong>semprego, <strong>do</strong>enças, drogasou alcoolismo.Princípios para intervençãoEstu<strong>do</strong>s feitos por Tomita (1990) sugerem alguns princípios paraintervenção, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que confirmada a suspeita <strong>de</strong> violência:• Atuação multidisciplinar, sen<strong>do</strong> fundamental a presença <strong>do</strong> médico(Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> – SUS) e <strong>do</strong> assistente social (Cras).• Tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões compartilhada pela equipe, essencial para apoioaos profissionais.• Procedimentos realiza<strong>do</strong>s <strong>de</strong> maneira cuida<strong>do</strong>sa, para não expor oi<strong>do</strong>so a situações <strong>de</strong> maior risco.• Conhecimento <strong>do</strong>s recursos da comunida<strong>de</strong>, o que po<strong>de</strong> ajudar naproteção à pessoa i<strong>do</strong>sa.• Suporte familiar por meio <strong>de</strong> orientaçãopara as questões relativas à <strong>do</strong>ença <strong>do</strong>i<strong>do</strong>so, para a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, paraa divisão <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>sfamiliares e para a informação sobrea re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio comunitário.PrevençãoA prevenção e o combate à violência <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> geraltêm si<strong>do</strong> dificulta<strong>do</strong>s por influência <strong>de</strong> fatores relaciona<strong>do</strong>sa problemas macroestruturais, institucionais epolíticos. Segun<strong>do</strong> Minayo (2000), esse contexto socialacarreta forte sentimento <strong>de</strong> insegurança, que ten<strong>de</strong> aexacerbar o individualismo, promoven<strong>do</strong>, assim, a exclusãosocial e dificultan<strong>do</strong> a expressão <strong>do</strong> sentimento<strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>.Em relação à violência contra i<strong>do</strong>sos, tais fatores têm<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>:• Poucas políticas públicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e assistência socialdirecionadas ao atendimento das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssecrescente segmento populacional.• Aumento <strong>do</strong>s problemas sociais e econômicos queafetam a gran<strong>de</strong> maioria das famílias brasileiras, paraas quais os membros i<strong>do</strong>sos constituem muitas vezesum peso.• Despreparo <strong>do</strong>s profissionais <strong>de</strong> assistência social e saú<strong>de</strong>para lidar com situações <strong>de</strong> abuso e negligência.O contexto socialatual ten<strong>de</strong>a exacerbar oindividualismo,promoven<strong>do</strong> aexclusão sociale dificultan<strong>do</strong> aexpressão<strong>do</strong> sentimento <strong>de</strong>solidarieda<strong>de</strong>.Embora <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2003 a socieda<strong>de</strong> brasileira disponha <strong>do</strong> Estatuto <strong>do</strong>I<strong>do</strong>so, que <strong>de</strong>termina punições para os casos comprova<strong>do</strong>s <strong>de</strong> violênciacontra i<strong>do</strong>sos, ainda são poucas as <strong>de</strong>núncias das situações<strong>de</strong> abuso e negligência.Macha<strong>do</strong> e Queiroz (2006) sugerem algumas ações preventivas <strong>de</strong>violência contra i<strong>do</strong>sos, que po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>senvolvidas por organizaçõesgovernamentais e da socieda<strong>de</strong> civil voltadas aos direitoshumanos:• Informar e conscientizar a socieda<strong>de</strong> sobre os aspectos relaciona<strong>do</strong>sà violência, em particular a que atinge os i<strong>do</strong>sos.Dieter Hawlan/istockphoto25
<strong>Perspectiva</strong> <strong>cultural</strong> <strong>do</strong> <strong>envelhecimento</strong>Violência contra i<strong>do</strong>sos: um novo <strong>de</strong>safio• Promover treinamentos para profissionais que atuam nas áreas<strong>de</strong> atenção ao i<strong>do</strong>so, para i<strong>de</strong>ntificação, tratamento e prevenção daviolência.• Defen<strong>de</strong>r os i<strong>do</strong>sos vítimas <strong>de</strong> maus-tratos e negligência.• Estimular pesquisas sobre a violência contra i<strong>do</strong>sos, para conhecermelhor sua extensão e natureza.• Criar programas educativos para i<strong>do</strong>sos que <strong>de</strong>senvolvam sua capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> autocuida<strong>do</strong>, a ajuda mútua, bem como a <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>direito <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>terminação.• Estimular políticas públicas <strong>de</strong> prevenção <strong>de</strong> violência que contemplemserviços a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s para dar apoio a adultos vulneráveis, promoven<strong>do</strong>a coesão familiar e a solidarieda<strong>de</strong> intergeracional.ConclusãoPara o equacionamento da questão da violência contra i<strong>do</strong>sos noBrasil, torna-se cada vez mais necessária a ação conjunta <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>,da socieda<strong>de</strong> civil, das organizações comunitárias e <strong>do</strong>s grupos representativosda população i<strong>do</strong>sa, ten<strong>do</strong> como ponto <strong>de</strong> partida suaconscientização e sensibilização para a gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse problema <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> pública.Lisa F. Young/istockphotoAlém <strong>do</strong> estímulo a pesquisas nessa área e da implementação<strong>de</strong> políticas públicas <strong>de</strong> prevenção aos abusose maus-tratos, consi<strong>de</strong>ra-se fundamental a promoção<strong>de</strong> programas <strong>de</strong> educação gerontológica para todas asfaixas etárias e em to<strong>do</strong>s os níveis, na família e na comunida<strong>de</strong>,visan<strong>do</strong> a combater o preconceito em relaçãoà velhice, que é a forma <strong>de</strong> violência mais apontadapelos i<strong>do</strong>sos.Como no Brasil a família é percebida como o espaçomais apropria<strong>do</strong> para a moradia e o cuida<strong>do</strong> <strong>do</strong> i<strong>do</strong>so<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, qualquer que seja sua classe social, é precisoinvestir em programas <strong>de</strong> suporte aos cuida<strong>do</strong>res familiares<strong>de</strong> i<strong>do</strong>sos, para que o cuida<strong>do</strong> seja a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>,digno e respeitoso, prevenin<strong>do</strong> os maus-tratos, em particulara negligência <strong>do</strong>méstica (Minayo, 2005).É fundamentalcriar programas<strong>de</strong> educaçãogerontológicapara todas asfaixas etárias,na família ena comunida<strong>de</strong>,para combatero preconceitoem relação àvelhice.Uma vez que os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (SUS), assistência social (Cras)e direito (Centro <strong>de</strong> Integração da Cidadania – CIC) são os maisfrequentemente envolvi<strong>do</strong>s na ocorrência <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> violência, éimprescindível sua capacitação para i<strong>de</strong>ntificar, intervir e prevenirtais situações.Recomenda-se também a elaboração <strong>de</strong> um protocolo <strong>de</strong> atendimentoao i<strong>do</strong>so em serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e assistência social que inclua orastreamento <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> violência, para ser segui<strong>do</strong> pelos profissionaisque atuam na área, bem como a criação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio aoi<strong>do</strong>so vitima<strong>do</strong> e ampla divulgação <strong>de</strong>sses recursos.2627