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trabalho simples ou trabalho complexo? - Connepi2009.ifpa.edu.br

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ENSINO TÉCNICO AGRÍCOLA: TRABALHO SIMPLES OU TRABALHOCOMPLEXO?Adriana Carla Monteiro Valença de ALENCARInstituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – Campus Satuba-AL. Rua 17 de Agosto, S/N,Zona Rural - Satuba - Alagoas - CEP 57.120-000Fone (82) 3266-1013 - Fac-símile (82) 3266-1011adrianaeafs@yahoo.com.<strong>br</strong>RESUMOEste texto tem a intenção de provocar uma reflexão so<strong>br</strong>e a forma com a qual vem se dando a <strong>edu</strong>caçãoprofissional ministrada nas escolas técnicas de nível médio, so<strong>br</strong>etudo, nas escolas técnicas federaisagrícolas. Questiona-se se este modelo de <strong>edu</strong>cação profissional, nos dias de hoje, está formandotrabalhadores para o <strong>trabalho</strong> <strong>simples</strong> <strong>ou</strong> para o <strong>trabalho</strong> <strong>complexo</strong>? Trata-se de uma pesquisa bibliográfica,onde foi utilizada publicações do início do século passado como Craveiro Costa (1931) a publicações deautores contemporâneos como Melo (2004), Frigotto (2005), Neves (2005, 2008) entre <strong>ou</strong>tros. Conclui-se otexto com a convicção de que apesar das modificações pela qual pass<strong>ou</strong> e passa o ensino profissionalizanteno Brasil, ao longo do tempo, ainda permanece uma lacuna na formação dos sujeitos. Estas lacunas sãoidentificadas tanto no senso comum como também por diversos grupos de pesquisa, no qual se destaca<strong>trabalho</strong> e <strong>edu</strong>cação e o grupo de currículo. Porém ainda são necessárias pesquisas para avaliar como osconcluintes destes cursos estão no mercado de <strong>trabalho</strong> assim como reflexões mais pontuais a respeito doscurrículos integrados destas instituições tão importantes para o país, mas que a partir de um novo olhar paraeste trabalhador <strong>complexo</strong> pode fazer muito mais.Palavras-chave: <strong>edu</strong>cação profissional, escola agrícola, <strong>trabalho</strong> <strong>simples</strong> e <strong>trabalho</strong> <strong>complexo</strong>.


ENSINO TÉCNICO AGRÍCOLA: TRABALHO SIMPLES OU TRABALHOCOMPLEXO?1. INTRODUÇÃOEste artigo tem a intenção de levantar algumas questões a respeito de para qual forma de <strong>trabalho</strong> o ensinotécnico está formando se para <strong>trabalho</strong> <strong>simples</strong> <strong>ou</strong> para o <strong>trabalho</strong> <strong>complexo</strong>.Neves e Pronko (2008) analisaram como está se dando a formação para o <strong>trabalho</strong> <strong>complexo</strong> hoje em dia noBrasil, e vão buscar a teoria em Marx para acompanhar como o <strong>trabalho</strong> se desenvolveu através dos temposaté a atualidade.Por <strong>trabalho</strong> entende-se o processo em que o ser humano, com suaprópria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio materialcom a natureza, ao mesmo tempo em que modifica sua próprianatureza. (MARX, 1988, apud NEVES, p.21).Neste sentido, o <strong>trabalho</strong> é aquela intenção de modificar e transformar a natureza. O fato que diferencia oshomens dos animais é principalmente a intenção desta transformação. No sentido econômico o <strong>trabalho</strong>modifica a matéria prima através da utilização de instrumentos para produzir bens. É interessante perceberque a palavra <strong>trabalho</strong>, que se origina do latim, significa “tripaliare” que traduzido para o português significatorturar, é por isso que no início da história da humanidade o <strong>trabalho</strong> só era realizado pelos po<strong>br</strong>es, aosno<strong>br</strong>es o deleite do ócio.Para Neves e Pronko (2008, p. 22),[...] o <strong>trabalho</strong> <strong>simples</strong> se caracteriza por sua natureza indiferenciada,<strong>ou</strong> seja, dispêndio da força de <strong>trabalho</strong> que como diz Marx (1988,p.51), ‘todo homem comum, sem <strong>edu</strong>cação especial, possui em seuorganismo, o <strong>trabalho</strong> <strong>complexo</strong>, ao contrário, se caracteriza por serde natureza especializada, requerendo por isso, maior dispêndio detempo de formação daquele que irá realizá-lo.Não é a intenção deste <strong>trabalho</strong> aprofundar-se nos diversos conceitos de força de <strong>trabalho</strong>, tr<strong>ou</strong>xe aabordagem de Neves e Pronko (2008) porque são autoras que muito contribuíram para esta reflexão do<strong>trabalho</strong> <strong>simples</strong> e <strong>complexo</strong>.2. REFORMAS NA EDUCAÇÃO PROFISSIONALIZANTEAqui, no Brasil desde a promulgação da Constituição de 1988, a<strong>br</strong>iu-se uma <strong>br</strong>echa para que a partir da<strong>edu</strong>cação infantil até o pós-d<strong>ou</strong>torado as instituições <strong>edu</strong>cacionais deveriam formar para o <strong>trabalho</strong>. Ogoverno de Fernando Henrique Cardoso (1994 a 2002) desmont<strong>ou</strong> o que vinha sendo feito.


No Brasil em 1994, o Acordo Nacional de Educação para Todos,conduzido pelo MEC, apoiado inicialmente pelo CONSED, pelaUNDIME, pelos Fóruns dos Conselhos de Educação e pela CNTE, seconfigur<strong>ou</strong> como marco estratégico político principal de consolidaçãodas reformas <strong>edu</strong>cacionais neoliberais no país. [...] o governo socialdemocrataeleito começa a consolidar o ‘desmonte da nação’ [...] ocorte sistemático de recursos para as áreas sociais nos dá uma idéia dagravidade da desresponsabilização do estado com a <strong>edu</strong>cação [...].(MELO, 2004, p.214).Foi com este cenário que se inici<strong>ou</strong> o discurso de “melhorar” a qualidade da <strong>edu</strong>cação. O discurso dogoverno foi o de impor o enfrentamento da questão curricular como sendo aquilo que deve nortear as açõesdas escolas, pois até 1995, não havia uma referência nacional. Por isso, entre 1995 e 1998 a prioridade doMEC foi à elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais.A <strong>edu</strong>cação profissional não fic<strong>ou</strong> de fora e sofre constantes mudanças desde os anos 70,intensificando-se nos anos 90, mais especificamente a partir de 96, com a publicação da LDB nº 9394/96, 1 doDecreto nº 2.208/97 2 , das Portarias do MEC nº 646/97 3 e 1.005/97 4 , pelo Parecer CNE/CEB nº 16/99 5 e pelaResolução CNE/CEB nº 4/99 6 e finalmente a reforma mais recente que foi o Decreto nº 5.154/04 7 quesubstitui o de nº 2.208/97.Entre <strong>ou</strong>tras coisas estas Leis, Decretos e Resoluções tr<strong>ou</strong>xeram algumas mudanças que nãoatendiam as reivindicações da grande parcela de intelectuais da <strong>edu</strong>cação progressista, um exemplo disto é oensino por competências; a possibilidade de modularização dos cursos técnicos; a separação entre o ensinotécnico do médio. H<strong>ou</strong>ve também a organização de três níveis de ensino: o básico, o técnico e o tecnológicoe o retorno do ensino integrado de nível técnico numa tentativa de reaproximar a parte geral da específica.O ensino por competências surge como “solução” a partir das mudanças ocorridas no processo deprodução, circulação de mercadoria e serviço em todo o mundo. Deste modo a <strong>edu</strong>cação profissional passa aser destaque numa tentativa de resolver a carência de mão-de-o<strong>br</strong>a ‘especializada’ para asindústrias/empresas e o desempregado que segundo o patronato não tinha qualificação suficiente para asnecessidades do mercado. Basicamente a <strong>edu</strong>cação para competência é mais voltada para “o fazer”, deixandode lado alguns fundamentos primordiais que forma o capital humano.O que tem sido retratado, com freqüência, como um movimento dereestruturação produtiva mostra-se na verdade, como uma reestruturageral de toda a sociedade e que tem conduzido a mudanças nosprocessos de formação que vão muito além das anunciadas comoadequação ao que é requerido pelo mercado de <strong>trabalho</strong>. As propostasde mudanças curriculares, de modo geral, incorporam o espírito do1 Lei nº 9394/96, de 20 de dezem<strong>br</strong>o de 1996 estabelece as diretrizes e bases da <strong>edu</strong>cação nacional.2 Decreto nº 2208/97, regulamentava as diretrizes da <strong>edu</strong>cação profissional3 Portaria MEC nº 646/97 de 14 de maio de 1997 regulamentava a implantação do disposto nos artigos 39 a 42 da Lei9394/96 e no Decreto 2208/97.4 Portaria 1005/97, de 10 de setem<strong>br</strong>o de 1997, institui, no âmbito da Secretaria de Educação Média e Tecnológica –SEMTEC, a Unidade de Coordenação do Programa – UCP.5 Parecer CNE/CEB nº 16/99, Trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de NívelTécnico.6 Resolução CNE/CEB nº 4/99, institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de NívelTécnico.7 Decreto nº 5.154/04 regulamenta atualmente as diretrizes da <strong>edu</strong>cação profissional no Brasil.


“novo capitalismo” e impregnam todos os espaços de formação.(SILVA, 2008, p.64)A globalização e os princípios do neoliberalismo divulgam a idéia de que o indivíduo só fica sem empregoporque não busca qualificação e estabelecem novas demandas em termos de formação para o trabalhador‘polivalente’. Muitas destas demandas se adquirem <strong>ou</strong> são desenvolvidas em instituições escolares:São apresentadas como exigência para ingresso e permanência nomercado de <strong>trabalho</strong> habilidades, tais como: capacidade de pensamentoautônomo, uso do raciocínio lógico, criatividade, responsabilidade ecompromisso, capacidade de estar constantemente informado eatualizado, capacidade de aprender constantemente, facilidade deadaptar-se às mudanças, domínio das diferentes formas decomunicação etc. (SILVA, 2008, p.65)A implantação de novas tecnologias foi um dos fatores importantes ao qual se atribuiu a necessidade deimplantação de um regime de competência, para combater o desemprego o que foi contestado por Ferreti(1997),(...) é necessário tomar por referência não a tecnologia – pois assim, sea reifica e naturaliza – mas a relação social que a institui e manipula,<strong>ou</strong> seja, o próprio capital. Nesse sentido, é importante considerar que omovimento de continuidade/ ruptura entre Taylorismo/ Fordismo e oparadigma toyotista se, de um lado, se apóia na ciência e tecnologiadisponíveis e no desenvolvimento de estágios mais avançados dasmesmas, tem sua origem, basicamente, nas crises de acumulaçãocapitalista, associadas à corrosão do Estado de Bem Estar Social e àresistência organizada dos trabalhadores à produção fordista,agravadas pela crise energética do início dos 70. (FERRETI, 1997, p.257)Alguns centros de ensino técnico interpretaram que a noção de competência, que assumiu papel de destaquenas teorias e práticas <strong>edu</strong>cativas, se evidenciaria apenas através de um currículo modularizado, estilo quecompartimentaliz<strong>ou</strong> e fragment<strong>ou</strong> bastante o ensino técnico durante o período do Decreto nº. 2.208/97.Felizmente algumas instituições não sofreram tanto esta fragmentação, pois entenderam que o Decreto nãoo<strong>br</strong>igava a adotar a modularização quando dizia em seu Artigo 8º “Os currículos do ensino técnico serãoestruturados em disciplinas, que poderão ser agrupadas sob a forma de módulos” (grifo meu). Portantopoderia ser adotado módulo <strong>ou</strong> não. Algumas escolas fizeram a opção de permanecer com o currículodisciplinar, porém nitidamente independentes a parte geral da profissional.Outra modificação importante foi à separação entre o ensino técnico do ensino médio e a organização de trêsníveis de ensino: básico, técnico e tecnológico. A partir deste momento os cursos técnicos seriamo<strong>br</strong>igatoriamente separados do ensino médio que passam a assumir um papel puramente propedêutico. Oscursos técnicos passaram a ser oferecidos de duas formas: concomitante ao ensino médio onde o estudantepoderia cursar o técnico na mesma instituição em que cursava o médio, com matrícula e currículo diferentes(concomitância interna), <strong>ou</strong> em <strong>ou</strong>tra instituição (concomitância externa); a <strong>ou</strong>tra forma é a seqüencial,conhecida também por pós-médio, para quem já tenha concluído o ensino médio.Esta reforma da <strong>edu</strong>cação profissional que separ<strong>ou</strong> o ensino médio do técnico provoc<strong>ou</strong> grandedescontentamento entre os intelectuais progressistas da <strong>edu</strong>cação e do <strong>trabalho</strong>, pois colaborava com adualidade do ensino propedêutico e do ensino que forma para o <strong>trabalho</strong>.


Após dois anos de espera h<strong>ou</strong>ve a revogação do Decreto nº. 2.208/97, provocada principalmente pela pressãodos sindicatos, dos pesquisadores da área de <strong>trabalho</strong> e <strong>edu</strong>cação e <strong>ou</strong>tros intelectuais de vários ramos dasociedade organizada, e a promulgação do Decreto nº. 5.154/04, que rever a oferta da <strong>edu</strong>cação profissionalatravés da flexibilização.[...] pudemos testemunhar tanto o poder das forças conservadorasquanto os embaraços de um governo que parece não querer mudançasestruturais. [...], tanto o conteúdo do novo decreto, quanto e,especialmente, a regulamentação feita às DCNs pelo ConselhoNacional de Educação, pode resultar em avanços pífios <strong>ou</strong> retrocessos.(FRIGOTTO; CIAVATTA; E RAMOS, 2005, p.14).As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Profissional de Nível Técnico que estruturam a<strong>edu</strong>cação profissional de nível técnico, através de uma organização curricular própria (Parecer CNE/CEB nº.16/99 e Resolução CNE/CEB nº. 4/99), continuam válidas após a edição do Decreto nº. 5.154/2004.O que o Conselho Nacional de Educação fez foi algumas p<strong>ou</strong>casalterações definiu orientação complementar referentes a eventuaispontos de divergência de interpretação <strong>ou</strong> de organização entre asorientações básicas do revogado Decreto nº. 2.208/97 e do vigenteDecreto nº. 5.154/2004. (FRIGOTTO; CIAVATTA; E RAMOS,2005, p.15).3. TAREFAS SIMPLES E TAREFAS COMPLEXASAgora é preciso voltar mais especificamente na questão referente à “formação para <strong>trabalho</strong> <strong>simples</strong>” eformação para <strong>trabalho</strong> <strong>complexo</strong>. A frase “formação para <strong>trabalho</strong> <strong>simples</strong>” encontra-se entre aspas parachamar atenção ao conceito de Marx, trazido por Neves e Pronko (2008, p. 22), que para realizar o <strong>trabalho</strong><strong>simples</strong> não é preciso nenhuma formação, referindo-se a formação oriunda da instituição escolar. Já o<strong>trabalho</strong> <strong>complexo</strong> ao contrário requer “maior dispêndio de tempo de formação daquele que irá realizá-lo”.Diante destas questões pergunta-se como fica a <strong>edu</strong>cação profissional técnica de nível médio, deve-seconsiderá-la um tipo de <strong>edu</strong>cação que forma para o <strong>trabalho</strong> <strong>simples</strong> <strong>ou</strong> para o <strong>trabalho</strong> <strong>complexo</strong>? Deve-seconsiderar que acontece formação para <strong>trabalho</strong> <strong>complexo</strong> apenas nos cursos de nível superior?Praticamente todos os livros de história da <strong>edu</strong>cação do Brasil, principalmente os de autores considerados dalinha marxista chamam atenção para o direcionamento do ensino, ideologicamente falando, das escolas, <strong>ou</strong>seja, a ideologia da classe dominante é a que prevalece, no entanto, existe resistência porque afinal, a classetrabalhadora de professores também tem a potencialidade de trabalhar uma contra-ideologia, <strong>ou</strong> seja, ir deencontro à ideologia da classe dominanteAinda que a escola no capitalismo sofra influência preponderante daconcepção de mundo burguesa e das necessidades da reprodução daforça de <strong>trabalho</strong>, ela, desde os seus primórdios, vem se constituindotambém em demanda da classe trabalhadora para o exercício detarefas <strong>simples</strong> e complexas na produção da vida e também para acompreensão das relações sociais historicamente constituídas e do seulugar nessas relações. (NEVES 2008, p. 29)


Como a ênfase deste <strong>trabalho</strong> é tentar caracterizar se o ensino técnico, especificamente o curso técnicoagropecuário, forma para o <strong>trabalho</strong> <strong>simples</strong> <strong>ou</strong> <strong>complexo</strong>, é preciso se remeter ao fato que a economiapredominante no Brasil, ontem e hoje, é agroexportadora. Neves (2008, p.32,33), lem<strong>br</strong>a que[...] a formação para o <strong>trabalho</strong> <strong>simples</strong> era realizada, na maior partedos casos, no próprio processo de <strong>trabalho</strong>, não exigindo umapreparação específica. [...] na década de 30 a formação técnicoprofissional foi se expandindo desorganizada e assistematicamente,fruto de uma concepção que atribuía a esse tipo de ensino um carátereminentemente assistencial [...]. Apesar das primeiras instituições deensino técnico-profissional terem sido criadas ainda durante oImpério, foi na República que elas passaram a fazer parte daspreocupações governamentais pela manutenção da ordem. A criaçãode uma rede de Escolas de Aprendizes- Artífices [...] em 1909 [...].Este artigo é delimitado ao curso técnico em agropecuária, por se tratar de atividade mais voltada aocampesinato e por ser a área de atuação profissional da autora. É interessante perceber o que Craveiro Costa,em 1931, deix<strong>ou</strong> registrado so<strong>br</strong>e o pensamento dos antigos administradores da província de Alagoas, noperíodo do Império a respeito do que veria a ser considerado depois <strong>trabalho</strong> <strong>simples</strong>,Em Alagoas, o benemérito presidente Sá e Albuquerque 8 , em 1857,achava que a <strong>edu</strong>cação dada nesse <strong>edu</strong>candário aos 27 alunos queinternava, alem de dispendiosa, era de utilidade muito circunscrita.“Entendo – dizia ele – que a transformação desse colégio de<strong>edu</strong>candos artífices em colégios de <strong>edu</strong>candos agrícolas, seria benéficae talvez mais econômica para Província”.Já no ano anterior defenderá ele esse preclaro ponto de vista. Já eraalguma coisa num país de burocratas <strong>edu</strong>car-se a mocidade em coisasque não a lavassem á fatalidade crônica do emprego publico: por issoo ilustre administrador preconizava calorosamente aquelatransformação. “Eu não quero sábios agrícolas – dizia o presidente –quero moços <strong>edu</strong>cados no campo, sabendo apenas ligeiras noçõesteóricas de agricultura e o manejo de algum instrumento agrícola; nãoquero aspirante a empregos públicos; quero trabalhadores de espíritomais <strong>ou</strong> menos cultivado, moralizados e econômicos; não querofuturos descontentes das instituições país, quando se não acharemcontentes com a sorte: quero homens p<strong>ou</strong>co ambiciosos e sumamenteinteressados na paz pública e na permanência dos Governos, sejameles de que políticas forem”. (COSTA, 1931, p.30).Facilmente se percebe a intenção de ‘adestramento’ as camadas populares desde o Império à criação dasEscolas de Aprendizes-Artífices, em 1909, cujo Decreto 7.566/1909, chama atenção Neves (2008, p.33)tinha “[...] intenção “moralizadora” [...] para formar cidadãos úteis à Nação”. O ensino técnico era vistocomo uma fórmula ‘adequada’ de ocupar os menos afortunados <strong>ou</strong> a população carente no mercado de<strong>trabalho</strong>.8 Antônio Coelho de Sá e Albuquerque foi proprietário rural e político <strong>br</strong>asileiro. Exerceu a função de Senador doImpério e foi presidente de várias províncias dentre as quais Alagoas por três vezes. Fonte: http://pt.wikipedia.org,consulta em 06/02/09.


4. O TRABALHO COMPLEXO NO BRASILApós a queda da bolsa de Nova York, em 1929, o mundo vivia uma grande crise econômica e inici<strong>ou</strong>-se nosEstados Unidos o New Deal, plano de recuperação da economia, que repercutiu em todo o mundo. No anoseguinte, 1930, assumia a presidência do Brasil Getúlio Vargas. Este período é também marcado pelo fim dahegemonia cafeeira e o início de uma nova fase econômica baseada na indústria e início “ao mesmo tempoda história da apropriação burguesa do Estado, para induzir o processo de modernização capitalista edesenvolver estratégias com vistas a sua legitimação social [...]” (NEVES, 2005, p.87)O processo de modernização capitalista no Brasil utiliz<strong>ou</strong> umaaparelhagem institucional diversificada e complexa que express<strong>ou</strong> aprogressiva racionalização da economia e da vida social, exigindo aformação de novos intelectuais capazes de dirigir e administrar oprocesso. Com isso, a formação para o <strong>trabalho</strong> <strong>complexo</strong> no paístambém foi objeto de reordenamento. Se a criação de duasuniversidades na década de 1920 havia introduzido o model<strong>ou</strong>niversitário no país, o centralismo autoritário do Estado corporativoinstalado na década seguinte o reafirm<strong>ou</strong> regulamentando-o. (NEVES2008, p. 34)Também durante os primeiros anos do século XX, o desenvolvimento urbano e industrial motiv<strong>ou</strong> osurgimento e expansão tecnológica, ofertada nas escolas técnicas de nível médio. Segundo Neves (2008,p.37), “A criação desse novo sistema de formação técnico-profissional foi decorrência das mudançassocietárias que atravessam o país”. Ou seja, surgiu para atender o grande número de pessoas que deixavam ocampo em busca de novas perspectivas na cidade,[...] O migrante rural. Esse novo operário era, em boa parte de formapreconceituosa, considerado como carente de um saber específico parasuas novas tarefas e, so<strong>br</strong>etudo, como alguém que devia rapidamenteincorporar ritmos de <strong>trabalho</strong> e comportamentos exigidos no mund<strong>ou</strong>rbano-fa<strong>br</strong>il, distintos das práticas usuais no meio rural. (NEVES2008, p. 37).Esta forma dual que acompanha a história da <strong>edu</strong>cação <strong>br</strong>asileira desde a colonização até nossos dias, muitovisível na formação técnica de nível médio, é cruel, pois, oferece oportunidades <strong>edu</strong>cacionais, de certa formalegitimadas por leis, diferenciadas para ricos e po<strong>br</strong>es e agora corroboradas com a modalidade tecnológica.[...] se o dualismo no interior do ensino secundário tendeu a seatenuar, a configuração dual do sistema escolar como um todopermaneceu, através da distinção entre o ensino médio tecnológicoorientado para a formação para o <strong>trabalho</strong> <strong>complexo</strong> e uma formaçãotécnico-profissional básica destinada aos segmentos populares com ointuito de formar os quadros inferiores da hierarquia socio<strong>edu</strong>cacional.(NEVES 2008, p. 40).Diante de tantas conjecturas para o que afinal forma o ensino técnico: para desempenhar o <strong>trabalho</strong> <strong>simples</strong><strong>ou</strong> o <strong>trabalho</strong> <strong>complexo</strong>? Percebe-se que com o passar do tempo mudanças vão ocorrendo no sistemacapitalista onde seus “avanços” vão exigir um novo tipo de trabalhador:


Considerando o ponto de vista do capital, portanto, a formação para o<strong>trabalho</strong> <strong>complexo</strong>, no capitalismo monopolista de ontem e de hoje,tem por finalidade a preparação de especialistas que possamaumentar a produtividade do <strong>trabalho</strong> sob sua direção e,simultaneamente, a formação de intelectuais orgânicos dasociabilidade capitalista. (NEVES 2008, p. 27). (Grifo meu).Diante disto se d<strong>edu</strong>z que não existe <strong>trabalho</strong> <strong>complexo</strong> apenas na formação superior, também há <strong>trabalho</strong><strong>complexo</strong> para formação de nível médio, isso é facilmente percebido através das ações que sãodesenvolvidas por estes profissionais e ratificada no que disse Neves (2008, p. 76) “[...] o governo Lula daSilva introduz três graus de complexidade na formação para o <strong>trabalho</strong> <strong>complexo</strong> de nível médio no ramotecnológico da <strong>edu</strong>cação escolar”. Ela está se referindo aos cursos de <strong>edu</strong>cação profissional técnica de nívelmédio, já exposta no Decreto nº 5.154/04.A preocupação com aumento da produção está diretamente relacionada com formação do trabalhador, comojá foi dito acima, porém vale à pena atentar para algumas questões levantadas pelo economista MárcioPochamann em entrevista a revista da UNISINOS em 2007. Segundo Pochmann está ficando cada vez maisdifícil para o Brasil se livrar da estagnação da atividade produtiva, ele diz que:Estamos nos especializando, por exemplo, na produção de bens debaixo valor agregado, p<strong>ou</strong>co conteúdo tecnológico, que nos força a serum país de baixíssimas remunerações. [...] Não é possível gerarempregos com maior remuneração, porque se aumentar aremuneração, complica a venda para o mercado externo. [...] Soja,suco de laranja, minério de ferro, salsicha, frango, etc. Nada contraproduzir e exportar isso. O problema é que nos estamos nosespecializando fundamentalmente nisso. (POCHMANN, 2007, p. 33-35).Isto nos leva a entender um p<strong>ou</strong>co o discurso de algumas pessoas, no senso comum, quando questionam sevale à pena estudar tanto se já não há emprego para todos <strong>ou</strong> receber um salário muito baixo, emcontrapartida, há o discurso contraditório de que quem não estudar <strong>ou</strong> se qualificar não conseguirá espaço nomundo do <strong>trabalho</strong>. Por <strong>ou</strong>tro lado, também se <strong>ou</strong>vi constantemente no noticiário que no Brasil há carênciade mão-de-o<strong>br</strong>a especializada em determinadas áreas: “O Brasil, hoje, está se transformando em um paísexportador de mão-de-o<strong>br</strong>a qualificada, a chamada ‘fuga de cére<strong>br</strong>os’. [...] isso é uma anomalia do Brasil”(POCHMANN, 2007, p. 36). Porque isso ocorre? Há desvalorização do <strong>trabalho</strong> <strong>complexo</strong> no Brasil? Estemesmo autor nos da uma pista quando se refere à taxa de crescimento econômico anual do país emcomparação com o número de pessoas que são colocadas anualmente no mercado de <strong>trabalho</strong>, diga-se depassagem, em um mercado sem <strong>trabalho</strong> segundo este mesmo autor o país precisa crescer 5,6% ao ano paraabsorver cera de 2,3 milhões de propensos trabalhadores anualmente, “Toda vez que crescer menos que 5%,haverá pessoas desempregadas, r<strong>edu</strong>ção de salário, porque se está tendo cada vez mais pessoas qualificadas;[...]” (POCHMANN, 2007, p. 72).5. CONSIDERAÇÕES FINAISDiante destes argumentos de Pochmann fica uma grande inquietação e a pergunta: e daí, o que isto tem havercom <strong>edu</strong>cação? Isto nos diz muito, tanto aos formadores de nível técnico como do tecnológico <strong>ou</strong> superior. Épreciso haver pesquisa para diagnosticar aonde é preciso mudar <strong>ou</strong> reformular, provavelmente tenhamos quefazer alguns ajustes.


Uma coisa é certa, independentemente de formar para o <strong>trabalho</strong> <strong>simples</strong> <strong>ou</strong> <strong>complexo</strong>, o ensino que se vemdesenvolvendo nas instituições que oferecem cursos técnicos de nível médio e superior, de certa forma nosleva a refletir em cima das observações de Craveiro Costa, no início do século passado, a respeito do que ecomo se formam os propensos trabalhadores <strong>br</strong>asileiros que mal terminam uma formação e já necessitam deuma pós-graduação, e não est<strong>ou</strong> me referido a titulação especificamente mais a suprimento de deficiênciasprofissional.[...] porque a escola não <strong>edu</strong>ca o homem para o <strong>trabalho</strong>, ensinandolhepraticamente as coisas necessárias a vida. A escola apenasmemoriza uns tantos conhecimentos, que se perdem mais tarde,porque o lavrador, o artífice, o pescador, o homem das camadaspopulares não encontra oportunidade de utilizar o que aprendeu naescola. E enquanto lev<strong>ou</strong> três <strong>ou</strong> quatro anos para transmitir essesconhecimentos superficiais, a escola não ensin<strong>ou</strong> ao lavrador comodeve escolher a melhor terra, a melhor semente, como se pode tornaruma terra estéril em terra produtiva, como se deve tratar do gado,como se pode tirar proveito das pequenas indústrias domesticas.(COSTA, 1931, p.19).Conclui-se este texto, ratificando-se a importância daqueles que realizam o <strong>trabalho</strong> <strong>simples</strong>, fundamentaispara os que são preparados para desempenharem o <strong>trabalho</strong> <strong>complexo</strong> e ressaltando a importância de sepesquisar os egressos tanto dos cursos técnicos quanto dos cursos superiores para se ter elementos quecontribuam para desconstrução de currículos que porventura não atendam mais as necessidades dotrabalhador <strong>br</strong>asileiro ressaltando também que quando a autora faz referência ao currículo refere-se a formamacro, <strong>ou</strong> seja, é muito mais que uma matriz curricular.


REFERÊNCIABRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação profissional e Tecnológica. EducaçãoProfissional e Tecnológica: legislação básica. – 6. Ed. – Brasília: Secretaria de Educação profissional eTecnológica, 2005.BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica e daEducação Profissional de Nível Técnico (documento síntese) Brasília: MEC/CNE, 2001 b. Acessível viaInternet no endereço: HTTP:/www.mec.gov.<strong>br</strong>/cne/básica.docBRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio.Brasília: MEC/SEMTEC, 1999 b. 4 v.COSTA. Craveiro. Instituição pública e instituições culturais de Alagoas. Monografia escrita porsolicitação do Ministério da Educação e Saúde Pública. Maceió, Imprensa Oficial, 1931.FRIGOTTO, Gaudêncio. Et al. Ensino médio integrado: concepções e contradições. São Paulo: Cortez,2005.FERRETTI, Celso J. Formação profissional e reforma do ensino técnico no Brasil: anos 90. Educação eSociedade. 1997, vol. 18 nº 59, p. 225-269. Disponível em: www.scielo.<strong>br</strong>MELO, Adriana Almeida Sales de. A mundialização da <strong>edu</strong>cação. Consolidação do projeto neoliberal naAmérica Latina. Brasil e Venezuela. Maceió: EDUFAL, 2004.NEVES, Lúcia Maria Wanderley. O Mercado do conhecimento e o conhecimento para o mercado: daformação para o <strong>trabalho</strong> <strong>complexo</strong> no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: EPSJV, 2008.____________, Lúcia Maria Wanderley. Educação e política no Brasil de hoje. São Paulo: Cortez, 2005.______, Lúcia Maria Wanderley (Org.). A nova pedagogia da hegemonia: estratégias do capital para<strong>edu</strong>car o consenso. São Paulo: Xamã, 2005.POCHAMANN, Márcio. Emprego no novo mundo do <strong>trabalho</strong>. Revista do Instituto Humanitas Unisinos.São Leopoldo, 7 de maio de 2007, Ed.218, p 32 a 38. Disponível em: www.unisinos.<strong>br</strong>/ihu. Acesso em:02/02/2009.SILVA, Mônica Ribeiro da. Currículo e competências: a formação administrada. São Paulo: Cortez, 2008.

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