O EROTISMO EM VIAGEM, DE CECÍLIA MEIRELES - TEL

Anais do XIV Seminário Nacional Mulher e Literatura / V Seminário Internacional Mulher e LiteraturaEm trechos da poética de Meireles, aparece uma visão característicade primeira pessoa, observa-se então a presença do narrador-personagem,caracterizando um monólogo interior, pode-se então dizer que existemmomentos em que o narrador é autodiegético, pois relata suas própriasexperiências como personagem central, a autora narra e, portanto,apresenta-se em trechos de alguns poemas como personagem delesmesmos, fazendo descrições além de questões físicas, pois também analisao estado de espírito e as sensações nos versos, de maneira a posicionar-sefrente ao mundo.Os poemas de Viagem vão tecer uma sintaxe do corpo situandosenum vocabulário específico: boca, corpo, flanco, nudez, mordidas,pesadas, umidade, amantes, suspiros, gozo, olhos, gemidos, pernas, mãos,dedos, sangue, caricias, enfim, uma infinidade de lexemas com os quais seentretecem metáforas e um elaborado jogo sinestésico. No poema “Noite”,a sugestão do corpo aparece nos versos da primeira estrofe:Único gosto de terra,cheiro de pedra lavada, -tempo inseguro do tempo! –Sombra do flanco da serra,nua e fria, sem mais nada (MEIRELES, 1987, p. 81).A sensualidade, que remete a uma visão erótica, surge ainda commais força em Sereia, cujo título significativo remete ao elemento místico,sedutor, e do cantar que se mistura aos prazeres do gozo carnal, na fusãoentre o eu - lírico - mulher e a sereia, símbolos da sedução e do prazer:Linda é a mulher e o seu canto,Ambos guardados no luar.Seus olhos doces de pranto– quem os pudera enxugarDevagarinho com a boca,Aí!Com a boca, devagarinho... (MEIRELES, 1987, p.81).