<strong>Panorama</strong> <strong>da</strong> AQÜICULTURA, março/abril, 1998na concentração <strong>de</strong> metabólitos tóxicos, acelerando a <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> água.A melhor estratégia para evitar problemas com excessivaturbi<strong>de</strong>z mineral <strong>da</strong> água é <strong>de</strong>scobrir as causas <strong>da</strong> mesma e corrigílas.Na maioria <strong>da</strong>s vezes estes problemas estão associados à entra<strong>da</strong><strong>de</strong> enxurra<strong>da</strong>s nos canais <strong>de</strong> abastecimento ou diretamente nos tanquese viveiros. O uso <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> conservação do solo nas áreasvizinhas aos tanques e viveiros po<strong>de</strong> resolver <strong>de</strong>finitivamente estesproblemas. Tanques muito rasos e ou estocados em alta <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong>com espécies <strong>de</strong> peixes que procuram alimento no fundo, comoexemplo a carpa comum, po<strong>de</strong>m apresentar problemas com excessivaturbi<strong>de</strong>z mineral. Estes problemas também são comuns em tanquese viveiros com aeração contínua ou recebendo excessiva potência<strong>de</strong> aeração ou on<strong>de</strong> o posicionamento dos aeradores é incorreto.Peixes com alto grau <strong>de</strong> infestação por parasitos externos po<strong>de</strong>mse raspa no fundo dos viveiros e suspen<strong>de</strong>r gran<strong>de</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>argila e silte na água.9.3. Redução do potencial tóxico <strong>da</strong> amônia e do nitrito. Troca <strong>de</strong>água, quando possível, é a estratégia mais emprega<strong>da</strong> para amenizaros problemas com eleva<strong>da</strong> concentração <strong>de</strong> amônia e/ou nitrito.Em locais on<strong>de</strong> a disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> água é restrita, outras técnicaspo<strong>de</strong>m ser utiliza<strong>da</strong>s.Amônia: redução no pH <strong>da</strong> água reduz a concentração <strong>de</strong>amônia não ioniza<strong>da</strong> (forma tóxica <strong>da</strong> amônia). Duas são as estratégiaspara reduzir o pH <strong>da</strong> água: 1) aplicação <strong>de</strong> ácidos inorgânicos (ácidoclorídrico e ácido sulfúrico), técnica <strong>de</strong> efeito <strong>de</strong> curta duração; 2)técnicas <strong>de</strong> controle <strong>da</strong> população fitoplanctônica. As técnicas <strong>de</strong>controle do fitoplâncton apresentam efeito mais duradouro do quea aplicação <strong>de</strong> ácidos.O controle do fitoplâncton po<strong>de</strong> ser efetuado com técnicas<strong>de</strong> manipulação <strong>de</strong> nutrientes ou com o uso <strong>de</strong> algici<strong>da</strong>s. A manipulação<strong>de</strong> nutrientes envolve, principalmente, a redução nos teores<strong>de</strong> ortofosfatos solúveis na água, o que po<strong>de</strong> ser conseguido comaplicações controla<strong>da</strong>s <strong>de</strong> gesso agrícola ou sulfato <strong>de</strong> alumínio. Osulfato <strong>de</strong> alumínio promove, simultaneamente, uma redução no pH<strong>de</strong>vido à sua reação áci<strong>da</strong> na água.O uso <strong>de</strong> algici<strong>da</strong>s como o sulfato <strong>de</strong> cobre e o simazine<strong>de</strong>ve ser praticado com cautela. O sulfato <strong>de</strong> cobre é extremamentetóxico aos organismos aquáticos, especialmente aos peixes. Não érecomen<strong>da</strong>do a aplicação <strong>de</strong> sulfato <strong>de</strong> cobre em águas com alcalini<strong>da</strong><strong>de</strong>total inferior a 40mg CaCO 3/l.. As doses <strong>de</strong> sulfato <strong>de</strong> cobrea serem aplica<strong>da</strong>s <strong>de</strong>vem ser basea<strong>da</strong>s nos valores <strong>de</strong> alcalini<strong>da</strong><strong>de</strong>total <strong>da</strong> água, conforme a equação abaixo:Dose <strong>de</strong> sulfato <strong>de</strong> cobre (g/m 3 ) = Alcalini<strong>da</strong><strong>de</strong> total ÷ 100Exemplo: se a alcalini<strong>da</strong><strong>de</strong> total <strong>da</strong> água for igual a 80 mg CaCO 3/l.,a dose <strong>de</strong> sulfato <strong>de</strong> cobre a ser aplica<strong>da</strong> não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r a 0,8g/m 3 .Simazine é um algici<strong>da</strong> bastante eficaz em doses <strong>de</strong> 0,25 g/m 3 . No entanto, este produto apresenta gran<strong>de</strong> persistência na águaimpedindo o crescimento do fitoplâncton, o que leva a um prolongadoperíodo <strong>de</strong> baixa concentração <strong>de</strong> oxigênio dissolvido na água.Aplicações <strong>de</strong> sulfato <strong>de</strong> cobre e simazine, pelo seu efeito algici<strong>da</strong>,po<strong>de</strong>m causar severa <strong>de</strong>pleção dos níveis <strong>de</strong> oxigênio dissolvido naágua e, consequentemente, massiva mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> peixes. Aeração<strong>de</strong> emergência <strong>de</strong>ve estar disponível quando <strong>da</strong> utilização <strong>de</strong>stesprodutos no controle do fitoplâncton. Aplicações restritas a algumasáreas dos tanques e viveiros (aplicações localiza<strong>da</strong>s em áreas on<strong>de</strong>o fitoplâncton se acumula, principalmente em função <strong>da</strong> ação dosventos) promovem controle parcial do fitoplâncton e, portanto, apresentaefeito menos drástico sobre os níveis <strong>de</strong> oxigênio dissolvido na39
<strong>Panorama</strong> <strong>da</strong> AQÜICULTURA, março/abril, 1998água. A <strong>de</strong>composição microbiana <strong>da</strong>s algas mortas pelos algici<strong>da</strong>sresulta na liberação <strong>de</strong> amônia e nutrientes que po<strong>de</strong>m favorecero restabelecimento do fitoplâncton, o que faz do uso <strong>de</strong> algici<strong>da</strong>suma estratégia paliativa na redução do pH <strong>da</strong> água via controle <strong>da</strong>população planctônica.Aeração não é uma estratégia eficiente para eliminação <strong>de</strong>amônia dos tanques por volatilização para a atmosfera, como clamamalguns fabricantes <strong>de</strong> aeradores. No entanto, a manutenção <strong>de</strong> níveismais a<strong>de</strong>quados <strong>de</strong> oxigênio dissolvido favorece o processo <strong>de</strong> nitrificação,através do qual a amônia e o nitrito são transformados emnitrato, composto nitrogenado menos tóxico aos peixes.Nitrito: problemas <strong>de</strong> toxi<strong>de</strong>z aos peixes por nitrito po<strong>de</strong>mser aliviados com o aumento na concentração <strong>de</strong> íons cloreto na água,o que po<strong>de</strong> ser conseguido com a aplicação <strong>de</strong> sal (cloreto <strong>de</strong> sódio)nos tanques e viveiros. A quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sal a ser aplica<strong>da</strong> <strong>de</strong>ve sersuficiente para manter uma proporção <strong>de</strong> 6 mols <strong>de</strong> íons Cl - paraca<strong>da</strong> mol <strong>de</strong> íon NO 2-. A concentração <strong>de</strong> íons Cl - já presente naágua <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> no cálculo <strong>da</strong> dose <strong>de</strong> sal a ser aplica<strong>da</strong>,como segue:Dose <strong>de</strong> sal (g/m 3 ) = [6 x (NO 2-mg/l.) - (Cl - na água mg/l.)] ÷ 0,6Exemplo: se a concentração <strong>de</strong> nitrito na água for 0,8mg/l. e a <strong>de</strong> íonscloreto originalmente na água for 0,1mg/l., a dose <strong>de</strong> sal a ser aplica<strong>da</strong>é <strong>de</strong> 7,8 g/m 3 . Consi<strong>de</strong>rando um viveiro com 5.000m 2 <strong>de</strong> espelhod’água e profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> média <strong>de</strong> 1,2m, ou seja, um volume <strong>de</strong> água<strong>de</strong> 6.000m 3 , a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sal que <strong>de</strong>ve ser aplica<strong>da</strong> é 46,8kg.9.4. Redução dos níveis <strong>de</strong> gás carbônico. Tanques e viveiros comalta taxa <strong>de</strong> arraçoamento ou on<strong>de</strong> ocorreu morte súbita (“die-off”) dofitoplâncton po<strong>de</strong>m apresentar eleva<strong>da</strong> concentração <strong>de</strong> gás carbônico.Sistemas <strong>de</strong> aeração que promovem gran<strong>de</strong> agitação na superfície<strong>da</strong> água (i.e. aeradores <strong>de</strong> pás) facilitam a difusão do gás carbônicopara o ar, reduzindo a concentração <strong>de</strong>ste gás na água. A manutenção<strong>de</strong> um a<strong>de</strong>quado sistema tampão contribui para impedir o aumentoexcessivo nos níveis <strong>de</strong> CO 2livre na água.10. Origem e reciclagem dos resíduos orgânicos e metabólitosDurante o processo <strong>de</strong> produção é inevitável o acúmulo <strong>de</strong>resíduos orgânicos e metabólitos nos tanques e viveiros em sistemas<strong>de</strong> água para<strong>da</strong> ou sistemas <strong>de</strong> renovação <strong>de</strong> água intermitente. Antes<strong>de</strong> apresentar com maiores <strong>de</strong>talhes as principais fontes <strong>de</strong> resíduosorgânicos e metabólitos em sistemas aquaculturais, cabe uma melhorvisualização do ambiente on<strong>de</strong> vive este peixe submetido às pressões<strong>de</strong> produção (Figura 2).10.1. Excreção dos peixes. Sob condições <strong>de</strong> cultivo intensivo (alta<strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> estocagem e alto nível <strong>de</strong> arraçoamento) o volume <strong>de</strong>fezes excretado diariamente pela população <strong>de</strong> peixes é uma <strong>da</strong>sprincipais fontes <strong>de</strong> resíduos orgânicos em sistemas aquaculturais.A digestibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> matéria seca <strong>de</strong> rações <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> para peixesgira em torno <strong>de</strong> 70 a 75%. Isto significa que 25% a 30% do alimentofornecido entra nos sistemas aquaculturais como material fecal. Oaumento na proporção <strong>de</strong> ingredientes <strong>de</strong> baixa digestibili<strong>da</strong><strong>de</strong> (i.e.Figura 2. Origem e ciclagem <strong>de</strong> resíduos orgânicos e metabólitosem viveiros <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> peixes.materiais com alto teor <strong>de</strong> fibra bruta ou com granulometria grosseira)em rações para peixes po<strong>de</strong> elevar ain<strong>da</strong> mais o montante <strong>de</strong>fezes excreta<strong>da</strong>s.A <strong>de</strong>composição e reciclagem do material orgânico fecal nostanques e viveiros é feita principalmente por ação microbiológica,às custas <strong>de</strong> um significativo consumo <strong>de</strong> oxigênio, resultando noacúmulo paralelo <strong>de</strong> metabólitos tóxicos aos peixes, como a amônia,o nitrito e o próprio gás carbônico.A produção <strong>de</strong> amônia não é fruto exclusivo <strong>da</strong> <strong>de</strong>composiçãoe reciclagem <strong>de</strong> resíduos orgânicos. O próprio metabolismo protéicodos peixes tem como resíduo final a amônia. A amônia e o nitrito(um produto intermediário no processo bacteriano <strong>de</strong> oxi<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>amônia à nitrato), são as principais substâncias ictiotóxicas (tóxicasaos peixes) nos sistemas aquaculturais.A excreção <strong>de</strong> gás carbônico no processo respiratório dospeixes po<strong>de</strong> ser crítica em certos sistemas <strong>de</strong> produção. No entanto,em sistemas <strong>de</strong> água para<strong>da</strong> ou <strong>de</strong> renovação intermitente <strong>de</strong> água,a excreção <strong>de</strong> CO 2é, na maioria <strong>da</strong>s vezes, pequena compara<strong>da</strong> àexcreção <strong>de</strong> CO 2pelo plâncton. Altas concentrações <strong>de</strong> gás carbônicoassocia<strong>da</strong>s a reduzidos níveis <strong>de</strong> oxigênio dissolvido na água po<strong>de</strong>mcausar asfixia e, até mesmo, massiva mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> peixes.10.2. Sobras <strong>de</strong> alimentos e fertilizantes orgânicos. Minimizar assobras <strong>de</strong> rações é <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mental importância na manutenção <strong>de</strong>a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> água nos sistemas <strong>de</strong> produção. As raçõescomerciais usa<strong>da</strong>s em piscicultura são basicamente <strong>de</strong> dois tipos: apeletiza<strong>da</strong> e a extrusa<strong>da</strong>. Uma comparação entre estes tipos <strong>de</strong> rações(Tabela 6) ressalta a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se adotar um manejo muito maiscomplexo com o uso <strong>de</strong> ração peletiza<strong>da</strong>, <strong>de</strong> modo a evitar uma precoce<strong>de</strong>terioração <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> água nos tanques e viveiros.Estercos, resíduos vegetais, material compostado, entreoutros tipos <strong>de</strong> materiais orgânicos constituem importantes fontes <strong>de</strong>resíduos orgânicos em certos sistemas aquaculturais. É prática comumem vários países a utilização <strong>de</strong> resíduos animais (suínos, bovinos, avese até resíduos humanos) como alimento direto ou como fertilizante naprodução <strong>de</strong> peixes. A ação microbiana sobre estes resíduos e sobras<strong>de</strong> rações resulta na produção <strong>de</strong> metabólitos tóxicos e liberação <strong>de</strong>40