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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 50Gombrich, “nunca podemos ver nossa própria retina”. 43 A impossibili<strong>da</strong>de do<strong>olhar</strong> <strong>inocente</strong> <strong>é</strong> uma unanimi<strong>da</strong>de entre diversos autores, como Gombrich,Mitchell e Goodman. Segundo este último:O olho se antecipa ao seu trabalho de <strong>olhar</strong>, obcecado pelo seu próprio passado,atento às insinuações do ouvido, do nariz, <strong>da</strong> língua, dos dedos, do coração e doc<strong>é</strong>rebro. O olho não <strong>é</strong> instrumento que funciona sozinho, mas <strong>é</strong> membro obedientede um organismo complexo e imprevisível. Não somente o como, mas tamb<strong>é</strong>m oque ele vê <strong>é</strong> regulado pela necessi<strong>da</strong>de e pelo preconceito. O olho seleciona, rejeita,organiza, discrimina, associa, classifica, analisa, constrói. O olho não atua comoum espelho que capta e reflete itens sem atributo, mas registra coisas, comi<strong>da</strong>,pessoas, inimigos, estrelas e armas. Na<strong>da</strong> <strong>é</strong> visto desnu<strong>da</strong>do. 44Com colocações semelhantes, Arnheim antes de Goodman: “To<strong>da</strong>experiência <strong>visual</strong> <strong>é</strong> inseri<strong>da</strong> num contexto de espaço e tempo. Da mesma maneiraque a aparência dos objetos sofre influência dos objetos vizinhos no espaço, assimtamb<strong>é</strong>m recebe influência do que viu antes”. 45 Arnheim <strong>é</strong> cauteloso em relação àsinfluências do passado do observador e adverte que a interação entre aconfiguração do objeto presente e as coisas vistas no passado não <strong>é</strong> automática eubíqua.Para Goodman o mito do <strong>olhar</strong> <strong>inocente</strong> <strong>é</strong> cúmplice do “absolutamente<strong>da</strong>do”. Ambos derivam e encorajam a id<strong>é</strong>ia de que o conhecimento <strong>é</strong> umprocessamento do material bruto recebido pelos sentidos. Acontece que arecepção <strong>é</strong> sempre inseparável <strong>da</strong> interpretação. Não <strong>é</strong> possível distinguir entre oque foi recebido e o que foi feito com isso. Por outro lado, Goodman reconheceque a busca pelo <strong>olhar</strong> <strong>inocente</strong> pode produzir resultados positivos para os artistas,na medi<strong>da</strong> em que os pode conduzir ao rompimento de padrões e,conseqüentemente, a novos encontros expressivos. Neste sentido, a id<strong>é</strong>ia do <strong>olhar</strong><strong>inocente</strong> segue sendo emprega<strong>da</strong> como uma orientação para o desenho artístico, apartir <strong>da</strong> cópia. 46A questão que permanece problemática <strong>é</strong> a possibili<strong>da</strong>de conti<strong>da</strong> noconceito do <strong>olhar</strong> <strong>inocente</strong> <strong>da</strong> existência de uma ver<strong>da</strong>de neutra e comum a todosos seres humanos: uma consciência <strong>visual</strong> plausível de ser expressa de forma43 Ibid. p. 272.44 GOODMAN, N. Languages… p.8-9. Destaque nosso.45 ARNHEIM, R. op. cit. p. 41.

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