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Revista Renova nº1

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De todas as turmas<br />

que passaram por essa<br />

Escola, com certeza<br />

a nossa foi a mais<br />

estranha, pois tinha<br />

alguns limites que a<br />

gente não conhecia,<br />

como por exemplo falar<br />

baixo, ter protocolos.<br />

Outro momento marcante para<br />

as participantes desse curso foi o<br />

encontro com os profissionais dos<br />

serviços de saúde. No início, a educadora<br />

popular não acreditava que<br />

fosse ser positivo e dar certo, mas no<br />

fim das contas, contou que foi um<br />

encontro difícil, mas muito bom.<br />

“Tivemos a oportunidade de falar<br />

o que sentíamos e também ouvir o<br />

outro lado. Agora temos relação de<br />

respeito mútuo e alguns profissionais<br />

de saúde nos visitam, fazem refeições<br />

conosco e participam de nossas rodas<br />

de música”, comenta.<br />

Troca de saberes<br />

Um momento muito rico do curso,<br />

segundo Lúcia, foram as oficinas nas<br />

regiões, que foi uma oportunidade de<br />

discussão com outros assentamentos.<br />

“Sempre tinha alguém que conhecia<br />

quem passava por esse problema e<br />

todos queriam aprender, refletir e<br />

ajudar. E além da discussão, também<br />

conhecemos como as outras famílias<br />

viviam, o que elas comiam. Esses<br />

aprendizados nós levamos para a vida”.<br />

Mas, além da troca de conhecimento<br />

entre os assentamentos, Lúcia descobriu<br />

que a simplicidade de seu povo<br />

também é conhecimento e um rico<br />

saber. O lava-pés das companheiras<br />

em noites de lua cheia, além de<br />

cantigas de roda, jogar versos dançar<br />

e brincar são pequenos gestos que<br />

unem a comunidade e é um passo<br />

muito positivo para tratar a saúde<br />

mental. “No meio de tudo isso, descobrimos<br />

também que na escola da<br />

vida somos excelentes atores de teatro,<br />

pois já driblamos a fome. Agora,<br />

nossa situação é outra, temos horta,<br />

nosso alimento. Mas muitas vezes<br />

dizíamos pras nossas crianças que a<br />

comida estava com vinagre, mas na<br />

verdade estava azeda. E as crianças<br />

comiam e iam dormir. Se não fosse<br />

aquele feijão, não tinha mais nada<br />

para comer”, afirmou.<br />

Parceria<br />

No meio de tudo isso,<br />

descobrimos também<br />

que na escola da vida<br />

somos excelentes<br />

atores de teatro, pois<br />

já driblamos a fome.<br />

Agora, nossa situação<br />

é outra, temos horta,<br />

nosso alimento.<br />

Lúcia Martins aproveitou para felicitar<br />

a Escola pela passagem de seus 69<br />

anos. “Parabenizo a Escola por seus<br />

69 anos de existência. Mas, mais do<br />

que isso, quero dar os parabéns às<br />

pessoas que trabalham nessa casa.<br />

Porque essa casa sem pessoas é um<br />

prédio. O que dá vida a esse prédio<br />

são os funcionários, professores, estudantes,<br />

diretores. Enfim, são todas as<br />

pessoas que conseguem fazer desse<br />

espaço um espaço vivo. Queremos<br />

que fortaleça essa parceria. Além<br />

desse curso nós queremos que outras<br />

mulheres que estão lá no campo e<br />

nunca pisaram num espaço como<br />

esse, tenham essa oportunidade de<br />

largar o fogão e se fortalecer e aprender<br />

como é a vida fora da cozinha e<br />

do espaço onde vive”, disse.<br />

Ela finalizou ressaltando a produção<br />

da cartilha que “narra todas as nossas<br />

experiências da nossa luta, do nosso<br />

trabalho e com a contribuição dos<br />

trabalhadores do sistema de saúde.<br />

Durante nosso tempo nós elegemos<br />

algumas poesias, algumas plantas.<br />

Buscamos Cora Coralina, que para<br />

nós, do setor de saúde do MST é quem<br />

mais conseguiu colocar em palavras<br />

tudo que a gente busca nas nossas<br />

áreas. Ela nos diz assim:<br />

Saber viver...<br />

Não sei… Se a vida é curta<br />

Ou longa demais pra nós,<br />

Mas sei que nada do que vivemos<br />

Tem sentido, se não tocamos o coração<br />

das pessoas.<br />

Muitas vezes basta ser:<br />

Colo que acolhe,<br />

Braço que envolve,<br />

Palavra que conforta,<br />

Silêncio que respeita,<br />

Alegria que contagia,<br />

Lágrima que corre,<br />

Olhar que acaricia,<br />

Desejo que sacia,<br />

Amor que promove.<br />

E isso não é coisa de outro mundo,<br />

É o que dá sentido à vida.<br />

É o que faz com que ela<br />

Não seja nem curta,<br />

Nem longa demais,<br />

Mas que seja intensa,<br />

Verdadeira, pura… Enquanto durar”<br />

24 renova esp-mg

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