Revista Renova nº1
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por Izabella Costa<br />
Se te queres matar, por que não te queres matar?<br />
Ah, aproveita! Que eu, que tanto amo a morte e a vida,<br />
Se ousasse matar-me, também me mataria…<br />
Ah, se ousares, ousa!<br />
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas<br />
A que chamamos o mundo?<br />
A cinematografia das horas representadas<br />
Por actores de convenções e poses determinadas,<br />
O circo polícromo do nosso dinamismo sem fim?<br />
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?<br />
Talvez, matando-te, o conheças finalmente…<br />
Talvez, acabando, comeces…<br />
E, de qualquer forma, se te cansa seres,<br />
Ah, cansa-te nobremente,<br />
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,<br />
Não saúdes como eu a morte em literatura!<br />
(Fernando Pessoa)<br />
Assim, em meio ao crepúsculo do dia 02 de junho, finalizando<br />
as comemorações dos 69 anos da ESP-MG, ressoava<br />
no Jardim de Inverno a poesia de Fernando Pessoa recitada<br />
por vozes que eram acompanhadas pelo som pungente e<br />
característico de uma gaita de blues.<br />
Criado pelo jornalista, professor e escritor Jorge Rocha, o<br />
grupo Mutável Saralho Band, que conta também com o<br />
estudante de jornalismo Alex Bessas e a escritora Sílvia<br />
Michelle, realizou um recital irreverente e surpreendente,<br />
com entonações, interpretações e interações com o público<br />
presente. Ilustrando os versos, o fundo sonoro do músico<br />
Diogo Fabrin despertou emoções, criando efeitos cinematográficos<br />
ambientando o sarau.<br />
O grupo, que nasceu no Rio de Janeiro, reúne música e literatura<br />
e se apresenta em cafés e bares de Belo Horizonte<br />
sempre com obras de diferentes autores, obras próprias e<br />
sonorização de rock n’roll e blues, variando de acordo com<br />
a temática e interpretação dos leitores. Para saber mais,<br />
entrevistamos Jorge Rocha, o idealizador da Mutável Saralho<br />
Band. Confira!<br />
Ascom: Como surgiu a Mutável Saralho Band?<br />
JR - A Mutável Saralho Band nasceu em minha cidade<br />
natal, Campos, no Rio de Janeiro, entre 2002 e 2003, quando<br />
eu ainda morava lá. O grupo surgiu a partir da reunião de<br />
“novos escritores” da cidade, na época da plena ebulição<br />
do que se chamou de Geração 00 na literatura brasileira.<br />
Nós, escritores campistas, começamos a escrever minicontos<br />
para serem lidos em apresentações, vindo daí a necessidade<br />
de um acompanhamento musical. Quando eu me<br />
mudei para Belo Horizonte, em 2004, a Mutável cessou suas<br />
atividades. Eu só viria a retomá-la em 2014 com músicos e<br />
leitores mineiros.<br />
Ascom: De onde surgiu o nome Mutável Saralho Band?<br />
JR - Por ser um grupo de sarau – daí Saralho – com músicos,<br />
pensamos na ideia de banda (band em inglês). Mutável porque<br />
sempre teve presteza na ideia de ser mutável mesmo,<br />
sempre com músicos e leitores diferentes.<br />
Ascom: Qual é o objetivo do grupo?<br />
JR - É simplesmente unir blues e rock´n´roll para ambientar<br />
leituras de contos, poemas e crônicas. É diversão levada<br />
à sério. É o entendimento de que música e literatura não<br />
precisam ser artes separadas.<br />
Ascom: A ideia de unir música e poesia veio de alguma<br />
referência do grupo?<br />
JR - É difícil dizer. No começo, não procuramos referência<br />
em grupo algum que já fazia o mesmo. Aliás, até hoje não<br />
fazemos isso, embora eu goste muito do que os escritores<br />
Ademir Assunção e Marcelo Montenegro fazem ao juntar<br />
poesia e música. Assim como as referências musicais dos<br />
envolvidos são distintas, também o gosto literário segue o<br />
mesmo caminho. Geralmente os leitores trazem autores que<br />
gostariam de ler. <br />
Ascom: Onde a Mutável já se apresentou?<br />
JR – Já realizamos saraus para lançamentos de livros no<br />
Edith Café, que ficava anexo à Livraria Mineiriana. Fizemos<br />
uma apresentação especial com textos de Xico Sá – com a<br />
presença do próprio – na Casa do Jornalista. Também já<br />
apresentamos no Festival Literário Internacional de Belo<br />
Horizonte (FLI-BH) e estamos negociando agora um sarau no<br />
Sesc Palladium. E claro, no aniversário de 69 anos da Escola.<br />
Ascom: Como foi a experiência de se apresentarem na<br />
ESP-MG?<br />
JR - Nós gostamos bastante, principalmente porque mudamos<br />
um pouco o tom de algumas leituras e músicas, sendo<br />
aquela a primeira vez em que estávamos com essas mudanças<br />
em público. Mas foi cativante para a gente a audição<br />
atenta da plateia. Nada mais gratificante do que isso.<br />
setembro 2015 29