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Sociedade Página 20 Poliamor? Trisal? Rla? Apenas mais uma forma de se relacionar Relações Livres Abertas - RLA sempre visitou o inconsciente coletivo como utopia para a uns e estropia de valores morais pra outros. Vez ou outra, esse tema é abordado em obras de dramaturgia, cinema, teatro e outros. Quem não lembra da personagem Cadinho e de suas três mulheres na novela Avenida Brasil? E como, onde há fumaça, há fogo, alguns movimentos apoiados em uma filosofia de liberalizar sentimentos vêm tomando espaço a ponto de conseguir até jurisprudência dada pelo STF que legitima uniões poliafetivas. Por Renato Linno / Estudioso de PNL e Comportamento O que é poliamor? É comportamento no qual as pessoas não se limitam a apenas um relacionamento como base de sustentação afetiva. Os cônjuges ou namorados - ou o que quer que sejam - permitem que o seus parceiros ou parceirXs (é como se escreve quando o gênero é escolhido na hora H. Mas isso é assunto para outra matéria) sejam livres para se relacionar com outras pessoas. Partem do seguinte pressuposto: ninguém controla paixão; não se vai contra a natureza. Em alguns casos, esse modo de pensar leva as pessoas a se conectar a parceiros de seus parceiros, fazendo lembrar a máxima “se é seu amigo, é meu amigo também”. E por vezes isso migra para relações amorosas; afinal, pela lógica, a escolha de um parceiro amoroso tem muito a ver com empatia e gostos particulares. Se uma pessoa escolhe outra, também essa outra tem tanto a ver com as suas escolhas que pode ser também boa companhia para convívio daquele. Ficou confuso? Se um homem gosta de um tipo de mulher, presume-se que outras mulheres parecidas com a que ele gosta o atraiam; sendo assim, essas mulheres também têm gostos parecidos até para escolherem um parceiro. Logo, podem ser grandes amigas por pura empatia e, quem sabe, algo a mais - já que bissexualidade ou homossexualidade já não são tabu social de relevância. A Influência das tecnologias de comunicação A questão é que, com acesso a conexões interpessoais através de redes sociais atingindo níveis nunca antes previstos, as pessoas estão propensas a fuçar de tudo um pouco. Como já dizia o ditado: “quem procura acha”. Nem os banheiros de casa escapam das lentes atentas do celular. Privacidade é algo quase ínfimo perto do que era há apenas vinte anos; hoje, as pessoas abrem mão dela - e por vezes da intimidade - em troca de likes. O ser humano é curioso e acaba se encantando com mais de uma pessoa ao mesmo tempo; muitas vezes, só por afinidade. Esse é movimento universal e se vê que poucos querem só olhar esse bonde passar. A verdade é que todos estamos lá no grande revista-lika.indd 20 7/28/16 5:26 PM
Sociedade / continuação Página 21 catálogo humano, as redes sociais, para nos autoperformar das mais variadas maneiras. Uma Teoria para o Poliamor A velocidade da informação e as distâncias menores causam sensação de que a vida é mais curta do que parece. Essa conexão toda deixa um rastro de insegurança interior. Quanto mais se estuda a questão do ciúme, mais se descobre que há apenas uma saída: é enfrentar com força interior essa mazela do ego, essa falha na autoestima. Fica assim cada vez mais claro que ninguém é suprassumo capaz de completar alguém plenamente. O resultado não poderia ser diferente após alguma reflexão… fim dos tempos, mas é só o fim de um tempo. Uma história de triamor Viver em três, ter relações abertas e outras configurações de relacionamento é cada vez mais comum. Como citado no início, a própria Justiça reconhece relações poliafetivas (a jurisprudência foi criada na cidade de Tupã em agosto de 2012), já que os valores familiares são sempre muito presentes a quem adere a essa filosofia de vida. É o caso da família formada por Natasha, 28a, Flávio, 33a, e Alícia, 25a, moradores de São Caetano –ABC Paulista. Vivem relação poliamorista fechada, que é como casamento monogâmico tradicional, com votos de fidelidade e tudo. Seguir o que é cultural ou o que é natural? As respostas são diversas, cercadas de dilemas e potencializadas pela banalização da privacidade. O fato de haver muita gente se sentindo anônima nessa grande rede tira a tensão inevitável dos encontros presenciais. Nos virtuais é muito mais descompromissado. Na internet tudo é só mais do mesmo e fica tudo mais livre. O indivíduo é algo estático e notado apenas como perfil descartável. Isso torna possível criar muita intimidade e empatia por pessoas fora do meio comum de convívio, que jamais se conheceriam com tamanha capilaridade de pensamentos incomuns em um curto espaço de tempo. Isso é apenas caminho diferente para levar ao mesmo lugar e/ou resultado, mas com muitos futuros e bifurcações a ponto de deixar até os mais convictos em estado de confusão. Sabe-se que é necessário o toque entre pessoas para despertar paixão, além de soma de sensações físicas - na Internet, sensações substituídas por meio de abordagem sistemática por inputs; captase outputs e colhe-se feedback. Enquanto isso, a hipófise (glândula cerebral) libera os hormônios do prazer que enxurram a corrente sanguínea do cara ou da mina e começa o trabalho de ligação. Tudo é mais natural do que se imagina, os mais velhos falam em Flávio era casado com Natasha e tiveram dois filhos. Já tinham algum anseio por brincadeiras sexuais com uma terceira pessoa, de preferência mulher por escolha dos dois. A ideia não amadureceu e o casamento ficou sem o experimento. Por outras razões, o relacionamento acabou.Flávio, em conversas online e aproveitando a solteirice, se encantou com Alicia. Logo passaram para o real. O resto já vimos: intensos encontros. Mas, mesmo estando bem em seu novo relacionamento, ainda sentia que amava a ex-mulher, que, aliás, era vizinha de porta. Alicia é extremamente sociável; sempre repudiou a atitude de algumas pessoas de depreciar a ex do marido. Ao contrário: tinha vontade conhecê-la. Marcaram um encontro. E o consumaram. Todas as mais otimistas expectativas de Flávio não alcançariam o que aconteceu: as duas não só se gostaram como começaram a cogitar de viverem os três juntos, já que todos ali se amavam. Depois de algum tempo e de muita conversa sobre questões sentimentais e de vida prática, resolveram juntar as escovas de dentes. Hoje são o que se chamam Trisal, ou seja, casal de três. Ainda que encontrem certa resistência, são felizes, formam uma família feliz em que as crianças têm duas mães, o marido tem duas mulheres, as esposas têm esposa e marido. E, como eles mesmos dizem, amor não se divide, se multiplica. Se amor já é bom, multiplicado só pode ser melhor. revista-lika.indd 21 7/28/16 5:26 PM
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