criança e consumo
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Esse tipo de bens e serviços tornou-se essencial para as <strong>criança</strong>s na medida<br />
em que se restringiram os espaços de livre acesso, dos quais dependia<br />
a liberdade de brincar. Os bens comuns foram sendo substituídos por<br />
bens individuais que precisam ser comprados. Mais do que responder a<br />
necessidades e aspirações, trata-se de povoar e equipar a solidão.<br />
A publicidade infantil é apenas uma das engrenagens, cuja essência<br />
está centrada em bens de <strong>consumo</strong> como alimentos, roupas, brinquedos<br />
e, cada vez mais, também em produtos e serviços cosméticos.<br />
O mecanismo está bem amarrado. Empresas produtoras e grandes<br />
redes comerciais pagam agências de publicidade para criar grandes campanhas,<br />
contratadas por grandes redes da mídia. Estas cobram de acordo<br />
com os pontos de audiência, o que as obriga a gerar programas que chamem<br />
atenção, repletos de superficialidades, com policiais perseguindo<br />
ladrões ou com merchandising de produtos em personagens atrativos.<br />
Para <strong>criança</strong>s, são basicamente os mesmos desenhos em qualquer parte<br />
do mundo, e a publicidade em geral promove as mesmas marcas.<br />
O martelar publicitário gera um consumismo obsessivo, que assegura<br />
o lucro das empresas produtoras e dos intermediários comerciais,<br />
o que, por sua vez, paga a publicidade e permite fechar o ciclo. O custo<br />
da publicidade está incluído nos produtos que compramos. Na fórmula<br />
tradicional, pagamos para que nos comprem. No conjunto da mídia, desaparece<br />
a informação sobre as empresas e seus produtos, informação real,<br />
e não publicitária, pois não se deve ofender quem nos paga. Um pouco<br />
antes de uma entrevista que concedi à TV Futura, a primeira coisa que me<br />
informaram é que eu não devia mencionar nomes de empresas. A própria<br />
informação política passa a ser prisioneira dos interesses que a financiam.<br />
O consumismo infantil, portanto, não constitui um sistema à parte; as<br />
<strong>criança</strong>s estão inseridas no sistema adulto e no sistema econômico em geral.<br />
Além disso, naturalmente tentam se inserir no sistema e em seus valores,<br />
independentemente da publicidade dirigida a elas. É claro que é covarde o<br />
assédio comercial dirigido a <strong>criança</strong>s, que têm menos defesas, mas também<br />
são preocupantes a frágil capacidade adulta de defesa e, frequentemente,<br />
a pouca compreensão do mecanismo que envolve as transformações da<br />
família, do espaço urbano e da própria estrutura do <strong>consumo</strong>. Mais do que<br />
consumismo, trata-se do desencontro entre o que nos é necessário e o que<br />
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