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Publicação Mensal Ano XII - Nº <strong>130</strong> Janeiro de 2009<br />
Tomista convicto<br />
1
Bispo, Doutor,<br />
monge e poeta,<br />
São Gregório<br />
Nazianzeno foi um<br />
varão de grande clareza<br />
de princípios, de<br />
uma sólida firmeza no<br />
proceder e que triunfou<br />
magnificamente<br />
na batalha mais importante<br />
e difícil que o<br />
homem tem na vida:<br />
a batalha contra si<br />
mesmo. Por isso, foi<br />
um pastor de almas<br />
amado por sua bondade<br />
e respeitado pela<br />
austeridade de seus<br />
sábios conselhos.<br />
R. C. Branco<br />
(Extraído de conferência<br />
em 10/5/1971)<br />
São Gregório Nazianzeno<br />
2
Sumário<br />
Publicação Mensal Ano XII - Nº <strong>130</strong> Janeiro de 2009<br />
Ano XII - Nº <strong>130</strong> Janeiro de 2009<br />
Tomista convicto<br />
Na capa, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
aos 82 anos<br />
As matérias extraídas<br />
de exposições verbais de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
— designadas por “conferências” —<br />
são adaptadas para a linguagem<br />
escrita, sem revisão do autor<br />
1<br />
Foto: S. Miyazaki<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
<strong>Revista</strong> mensal de cultura católica, de<br />
propriedade da Editora Retornarei Ltda.<br />
CNPJ - 02.389.379/0001-07<br />
INSC. - 115.227.674.110<br />
Diretor:<br />
Antonio Augusto Lisbôa Miranda<br />
Conselho Consultivo:<br />
Antonio Rodrigues Ferreira<br />
Carlos Augusto G. Picanço<br />
Jorge Eduardo G. Koury<br />
Editorial<br />
4 Profunda adesão a São Tomás de Aquino<br />
Da ta s n a v i d a d e u m c r u z a d o<br />
5 Janeiro de 1935:<br />
Em defesa da cultura católica<br />
Do n a Lucilia<br />
6 “Porque ela se parecia<br />
com a Igreja”<br />
Ec o fidelíssimo d a Ig r e j a<br />
10 “Passou pela vida praticando<br />
o bem”<br />
Redação e Administração:<br />
Rua Santo Egídio, 418<br />
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Exemplar avulso ....... R$ 12,00<br />
Serviço de Atendimento<br />
ao Assinante<br />
Tel./Fax: (11) 2236-1027<br />
16 Calendário dos Santos<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, a p ó s t o l o d o p u l c h r u m<br />
18 A beleza ungida pela graça<br />
“R-CR” e m p e r g u n ta s e r e s p o s ta s<br />
24 Contra-Revolução<br />
e apostolado<br />
O Sa n t o d o m ê s<br />
26 Meditação na festa<br />
de São Tomás de Aquino<br />
Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />
30 Expressão do glorioso triunfo de Cristo<br />
Últ i m a p á g i n a<br />
36 Insondável solicitude<br />
3
Editorial<br />
Profunda adesão a<br />
São Tomás de Aquino<br />
“Sou tomista convicto”. Assim se definiu <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, na primeira frase de seu auto-retrato filosófico,<br />
redigido por ele para ser publicado na Enciclopédia do Pensamento Filosófico Brasileiro,<br />
do Pe. Stanislas Ladusans, S.J.<br />
Essa profunda adesão de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> a São Tomás de Aquino baseava-se, sobretudo, na autoridade<br />
com a qual a Igreja exaltou e recomendou a doutrina do Santo, chamado o “Doutor Comum” da<br />
Cristandade. Por isso, reiteradas vezes, ao falar da pessoa e da obra de São Tomás, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> só o fazia<br />
com devoção e admiração renovadas:<br />
“Quando publicou a Encíclica Aeternis Patris, o Sumo Pontífice Leão XIII elevou São Tomás de<br />
Aquino e seus ensinamentos ao mais alto patamar que poderiam atingir. O estudo da escolástica ganhava<br />
uma chancela inapelável. Segundo o Papa, a palavra de São Tomás era um dos meios mais eficazes<br />
para se defender a Igreja contra seus adversários, em todos os tempos.<br />
“Não é dizer pouco de um santo e de sua doutrina. A seu modo, em matéria de filosofia, São Tomás<br />
de Aquino foi um grande contra-revolucionário que encontra em nós e em nosso movimento,<br />
devotos e fiéis seguidores.<br />
“Vida admirável nos seus vários aspectos, não o foi menos no seu término. Ele faleceu num convento<br />
de cistercienses, cercado por uma coroa de frades de algumas ordens religiosas — dominicanos,<br />
franciscanos e os próprios cistercienses — que presenciaram a administração dos últimos Sacramentos<br />
a São Tomás de Aquino. De acordo com as narrações desses derradeiros instantes, ao receber<br />
a Sagrada Comunhão, o santo Doutor se pôs de joelhos e, dando de si mesmo um maravilhoso<br />
testemunho, elogiou sua própria obra, como que se despedindo de Nosso Senhor na Terra, com a esperança<br />
de vê-Lo no Céu. E disse: Recebo-vos, ó preço da redenção de minha alma, para Quem eu estudei,<br />
vigiei e trabalhei.<br />
“Ou seja, a existência dele, São Tomás, não foi senão estudo, vigília e trabalho em louvor de Nosso<br />
Senhor. E continuou: Desse Santíssimo Corpo de Jesus Cristo e dos outros sacramentos muito ensinei e<br />
escrevi, em fé de Jesus Cristo e da Santa Igreja Romana.<br />
“Após adorar Nosso Senhor Jesus Cristo, ele se refere à Igreja Católica, compreendendo bem a<br />
união mística e indiscutível do Filho de Deus com a Igreja. Em seguida, o Doutor Comum, o maior<br />
dos Doutores de todos os tempos, semelhante ao qual provavelmente não haverá outro, termina com<br />
um ato de fé e de humildade, dizendo: A Igreja Católica, à qual tudo ofereço e a cujo juízo em tudo me<br />
submeto.<br />
“Feito esse ato de sujeição à Igreja Católica, a vida de São Tomás de Aquino estava encerrada.<br />
Uma vida verdadeiramente maravilhosa.”<br />
(Extraído de conferências em 6/7/1966 e 14/8/1987)<br />
Dec l a r a ç ã o: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e<br />
de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou<br />
na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm<br />
outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.<br />
4
Data s n a v i d a d e u m c r u z a d o<br />
Janeiro de 1935<br />
Em defesa<br />
da cultura católica<br />
N<br />
o início de 1935, o Centro de Estudos<br />
e Ação Social (C. E. A. S), organização<br />
feminina da Ação Católica, promoveu<br />
um curso de formação social e moral, na<br />
Paróquia de Santa Cecília, em São Paulo. Para tal<br />
evento foram convidados conferencistas e pensadores<br />
católicos de renome. Aproveitando o ensejo,<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, em artigo estampado no Legionário,<br />
advertiu sobre as idéias que então invadiam o<br />
mundo intelectual: chamava a atenção para a falsidade<br />
que encerravam, e apontava São Tomás de<br />
Aquino como o mestre e guia da autêntica cultura<br />
católica. Assim escreveu:<br />
Mons. <strong>Dr</strong>. Henrique Magalhães, da Arquidiocese<br />
do Rio de Janeiro, fará na próxima semana<br />
três conferências na Igreja de Santa Cecília,<br />
a convite da Congregação Mariana dessa Paróquia.<br />
Grande entusiasmo, portanto, pela cultura<br />
católica entre a nossa mocidade de ambos os sexos,<br />
movimento inédito no Brasil para a procura<br />
de uma base de real valor moral onde se assente<br />
solidamente o verdadeiro espírito novo reedificador<br />
de nossa sociedade e de nossa Pátria.<br />
Revela a necessidade que sente a mocidade<br />
brasileira de uma doutrina e de uma diretriz puramente<br />
espirituais que a elevem, afastando-a do<br />
terra-terra de todos os dias, da aridez da concepção<br />
materialista da vida. (...)<br />
Fernando de Azevedo, ao encerrar os cursos<br />
do Instituto de Educação da Universidade de São<br />
Paulo, a 4 do corrente, encareceu que a Universidade<br />
deve manter-se distante de todos os preconceitos<br />
e de todas as superstições (sic) e mais uma<br />
vez estabelecendo a confusão entre o Naturalismo<br />
e a Ciência, ao endeusar esta última, como a<br />
única que pode dar ao homem “o sentido da solidariedade<br />
moral”, como a única que pode estabelecer<br />
os mais puros sentimentos sociais.<br />
Os que assim pensam, porém, passarão, como<br />
hão de passar as doutrinas simplesmente humanas<br />
a que se filiam. E nesta “civilização em mudança”,<br />
a que o mesmo Fernando de Azevedo se<br />
refere, só os verdadeiros valores serão capazes de<br />
resistir à “rápida sucessão de situações novas”, à<br />
“profunda revisão de valores sociais”, à “ebulição<br />
intelectual, feita de todos os fermentos filosóficos,<br />
literários e científicos”.<br />
Ora, esses valores só se encontram no Catolicismo<br />
Romano. É por isso que este sobrenada<br />
ao naufrágio de todas as doutrinas, e que, farol<br />
sempre iluminado, acolhe todos os náufragos que<br />
não se entregam ao desespero e procuram a salvação.<br />
Só a concepção cristã da vida possibilitará<br />
o renascer do mundo. E, na verdade, para<br />
ela se dirigem todos os que sinceramente desejam<br />
que a justiça e a paz reinem no universo.<br />
Verificando, pois, que não é na “ciência”, como<br />
a concebe o naturalismo, mas na moralidade,<br />
na vida espiritual intensa, que se há de encontrar<br />
o bem-estar da humanidade, a nossa juventude<br />
procura as fontes de onde brotam as palavras<br />
de vida eterna. Daí a volta ao Catolicismo<br />
nas organizações da mocidade católica, daí<br />
o florescer da intelectualidade cristã alimentada<br />
em São Tomás e nos clássicos do Cristianismo,<br />
daí o novo misticismo católico no renascer da liturgia<br />
tradicional.<br />
De tudo isso é também um fruto o curso do<br />
C.E.A.S. e a série de conferências de Mons. <strong>Dr</strong>.<br />
Henrique Magalhães. É a mocidade que afirma o<br />
seu Catolicismo e que se prepara para o projetar<br />
no seio da sociedade, escudada em seu valor e<br />
fiel ao seu ideal.<br />
v<br />
(Extraído do “Legionário”,<br />
nº 163, de 20/1/1935)<br />
5
Do n a Lucilia<br />
“Porque ela se parecia<br />
com a Igreja”<br />
Recordando o modo<br />
como Dona Lucilia<br />
lhe falava da doçura<br />
de Nosso Senhor e<br />
as narrações feitas<br />
por ela de episódios<br />
da História Sagrada,<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> evoca seus<br />
primeiros encantos<br />
com o Divino Mestre e<br />
com a Santa Igreja, aos<br />
quais sua saudosa mãe<br />
lhe ensinou a amar<br />
desde a mais tenra<br />
infância.<br />
Q<br />
uando minha irmã e eu éramos<br />
pequenos, e nos preparávamos<br />
para a Primeira<br />
Comunhão, mamãe reforçava nosso<br />
curso de catecismo, contando-nos<br />
episódios da História Sagrada. E se<br />
6
Fotos: Arquivo revista<br />
Dona Lucilia aos<br />
30 anos; acima,<br />
Rosée e <strong>Plinio</strong><br />
hoje, passado tanto tempo, não sou<br />
capaz de distinguir os fatos que ouvimos<br />
dela e os que conhecemos na<br />
catequese, lembro-me entretanto do<br />
ambiente que mamãe criava ao narrar<br />
essa ou aquela cena do Antigo<br />
Testamento, uma parábola do Evangelho<br />
ou algum momento da vida de<br />
Nosso Senhor. Fazia-o de modo a<br />
nos imbuir dos sentimentos de piedade<br />
e devoção que um bom católico<br />
deve ter, ao se inteirar da história<br />
e da doutrina cristãs.<br />
Salientava a doçura de<br />
Nosso Senhor e de Maria<br />
Recordo-me de maneira especial<br />
que mamãe nos falava muito da doçura<br />
de Nosso Senhor Jesus Cristo e<br />
de Nossa Senhora, fazendo-nos compreender<br />
tudo o que essa doçura tinha<br />
de carinho, afabilidade e bondade<br />
verdadeiramente penetrantes. Ao<br />
mesmo tempo, ao dizer que “Ele era<br />
bom”, esse “Ele” vinha impregnado<br />
da idéia de uma majestade superior<br />
à dos reis, da infinita nobreza divina<br />
refletida, pela união hipostática, na<br />
natureza humana d’Ele.<br />
Então, pelas descrições de mamãe,<br />
percebíamos como tudo quanto<br />
Ele fazia era repassado de serenidade,<br />
de significado, e de uma sabedoria<br />
que transcendia a qualquer<br />
outra no mundo. Tais eram a bondade<br />
e a superioridade absolutas<br />
de Jesus, as quais Dona Lucilia nos<br />
apresentava ao nos contar os episódios<br />
bíblicos. Sem deixar de nos fazer<br />
ver também — cumpre notar —<br />
um fundo de tristeza que transparecia<br />
no Divino Redentor, por causa<br />
da Paixão que sofreria por nós.<br />
Esse aspecto estava igualmente<br />
presente nas narrações dela.<br />
7
Do n a Lucilia<br />
Concepção lendária<br />
da Terra Santa<br />
S. Patrício<br />
É preciso dizer, ainda, que mamãe<br />
imaginava um pouco lendariamente<br />
a Terra Santa. Quer dizer, para<br />
ela, os desertos da Judéia eram<br />
míticos e poéticos como os arenais<br />
de um Saara. Lembro-me de ela pronunciar<br />
certos nomes, por exemplo,<br />
Mar de Tiberíades: vinha de Tibério,<br />
imperador romano pagão, mas, ao<br />
dizer “Mar de Tiberíades”, na entonação<br />
da voz dela, parecia-nos ver as<br />
ondas se formando de modo prestigioso<br />
naquelas águas...<br />
Quanto aos personagens do Antigo<br />
Testamento, mamãe os representava<br />
como profetas grandiosos, menos<br />
suaves e mais categóricos. Quando,<br />
mais tarde, conheci as imagens<br />
dos profetas do Aleijadinho, lembrei-me<br />
das descrições de Dona Lucilia<br />
e pensei: “Esses são bem os profetas<br />
que eu imaginava quando mamãe<br />
começou a me falar deles.”<br />
Primeiros encantos<br />
com a Igreja<br />
Pouco depois de nossa Primeira<br />
Comunhão, terminado o curso de<br />
catecismo, o meu vínculo estreito<br />
com mamãe me ajudaria a discernir<br />
outras riquezas da Igreja Católica.<br />
Eu ia com ela às Missas de domingo<br />
na Igreja do Coração de Jesus<br />
e, sentado ao seu lado, me punha a<br />
analisar o ambiente do edifício sagrado,<br />
e o conjunto que seus diversos<br />
aspectos formava com os ritos e<br />
simbolismos da celebração litúrgica.<br />
Então, considerava o som do órgão,<br />
do sino que tocava para anunciar a<br />
entrada do padre, as expressões de<br />
fisionomia desta ou daquela imagem,<br />
tal paramento, tal gesto, tal vitral<br />
que me parecia muito bonito —<br />
de tudo aquilo resultava uma soma,<br />
uma unidade incomparavelmente<br />
mais bela e preciosa do que a soma<br />
das pessoas ali reunidas.<br />
“Nas descrições dela, os<br />
desertos da Judéia pareciam poéticos<br />
como os arenais do Saara”<br />
De tal maneira que, quando aquelas<br />
pessoas saíam e o templo se esvaziava,<br />
essa riqueza do ambiente permanecia<br />
inalterada até a Missa seguinte,<br />
quando outros fiéis ocupariam<br />
aqueles espaços e encontrariam<br />
aqueles mesmos e precisos aspectos<br />
dispostos para a contemplação deles.<br />
Na minha mente de menino formava-se<br />
a idéia — incipiente e confusa<br />
como só podia sê-lo na cabeça de<br />
uma criança — de que se tratava de<br />
uma graça do Divino Espírito Santo<br />
a pairar naquele ambiente, e que<br />
agia na alma das pessoas, levando-as<br />
a compreender e a amar as belezas<br />
da Igreja. Daí, também, a noção do<br />
sagrado do templo católico, casa de<br />
Deus, onde se entra para adorá-Lo.<br />
Deserto da Terra Santa<br />
“Querendo bem à Igreja,<br />
queria bem à mamãe”<br />
A concepção artística do interior<br />
da Igreja do Coração de Jesus<br />
é muito própria a despertar essas<br />
impressões. Por exemplo, do banco<br />
onde mamãe e eu costumávamos<br />
ficar, podia-se ver a imagem do Sagrado<br />
Coração de Jesus, na nave<br />
esquerda, e a imagem de Nossa Senhora<br />
Auxiliadora, do lado direito.<br />
Eu considerava aquelas imagens,<br />
que sempre me tocaram, analisava<br />
as decorações em volta, as pinturas<br />
que representam cenas bíblicas, as<br />
outras imagens de santos e, sentindo<br />
também a presença de mamãe,<br />
pensava: “Como ela se harmoniza<br />
8
tanto com todo esse ambiente! Como<br />
tudo isso penetra na sua alma<br />
e faz um com ela! Querendo bem<br />
a ela, quero bem a isso. Mas também,<br />
querendo bem a isso, quero<br />
bem a ela!”<br />
Embora eu não conhecesse o<br />
conceito de “reversibilidade”, na<br />
minha cabeça estava a idéia de que<br />
havia uma analogia, uma certa semelhança,<br />
uma como que reversibilidade<br />
entre a Igreja e mamãe.<br />
Cumpre dizer que a Igreja me<br />
impressionava incomparavelmente<br />
mais do que mamãe. E se é verdade<br />
que o convívio com Dona Lucilia<br />
me ajudou a compreender a<br />
Igreja, mais ainda a Igreja me ajudou<br />
a amar mamãe, porque eu a<br />
amei por ser ela um reflexo daquela<br />
Igreja à qual eu devotei minha vida<br />
inteira. Se quis tanto bem a mamãe,<br />
foi porque percebi na sua alma<br />
um reluzimento da mesma graça<br />
que pairava na Igreja do Coração<br />
de Jesus.<br />
Lógica e coerente, como o<br />
lado racional da religião<br />
Essa idéia da reversibilidade entre<br />
o espírito de mamãe e a Igreja se<br />
acentuou ainda mais quando comecei<br />
a freqüentar o Colégio São Luís<br />
e, neste, além do contato mais assíduo<br />
com as práticas de piedade, fui<br />
conhecendo, pelos ensinamentos<br />
dos padres jesuítas, o lado racional<br />
da religião.<br />
Como sempre tive particular<br />
apreço pela lógica, de um lado, e,<br />
de outro, como os jesuítas raciocinavam<br />
muito bem, diante de todo<br />
raciocínio bem feito por eles eu me<br />
extasiava: “Isso está direito, concatenado,<br />
é assim que se raciocina!”.<br />
E através daqueles ensinamentos,<br />
eu admirava o pensamento sério da<br />
Igreja que chega às últimas conseqüências.<br />
Encantava-me e me alegrava,<br />
com a alegria que a certeza<br />
tem de sentir-se a si mesma.<br />
“Se quis tanto<br />
bem a mamãe,<br />
foi porque percebi<br />
em sua alma um<br />
reflexo da graça<br />
que pairava<br />
na Igreja<br />
do Coração<br />
de Jesus”<br />
Aspectos do interior da<br />
Igreja do Coração de<br />
Jesus, São Paulo<br />
E então, voltava-me para a figura<br />
de mamãe: “Veja como ela é uma simples<br />
senhora, uma mãe de família,<br />
mas, naquilo que posso discernir dela,<br />
como é semelhante a tudo isso que me<br />
ensinam da Igreja. Como ela é lógica,<br />
coerente e direita! Portanto, eu a amo<br />
e a quero, porque ela se parece tanto<br />
com a Santa Igreja Católica!” v<br />
(Extraído de conferência<br />
em 21/9/1982)<br />
M. Shinoda<br />
9
Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />
“Passou pela vida<br />
praticando o bem”<br />
Arquivo revista<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
discursa em<br />
1930<br />
Ao discursar como<br />
paraninfo do Colégio<br />
Arquidiocesano, em<br />
1936, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> exalta<br />
o ideal do catolicismo<br />
autêntico que, diante<br />
do mundo posto na<br />
alternativa de decidir<br />
por Cristo ou contra<br />
Ele, não transige<br />
nem se intimida,<br />
proclamando sua<br />
Fé com enérgica<br />
e inquebrantável<br />
tenacidade.<br />
10
Permiti que esta oração, que nasceu do âmago de<br />
meu coração e contém o mais sincero de meus<br />
sentimentos, seja dirigida, em nome da gloriosa<br />
mocidade católica, que tenho a honra de representar<br />
nesta solenidade, aos meus jovens amigos, os bacharelandos<br />
do Colégio Arquidiocesano, de 1936 . (....)<br />
As gerações que precederam a esta, que hoje ingressa<br />
na vida, então divididas em campos antagônicos. Uma<br />
imensa divergência intelectual separa seus expoentes mais<br />
representativos. Do alto das cátedras universitárias e das<br />
tribunas parlamentares, através das colunas dos jornais ou<br />
das páginas dos livros, pela palavra ampliada ao microfone<br />
ou abafada no segredo das confabulações políticas, procuram<br />
os professores, os escritores e os estadistas do presente<br />
traçar os rumos por onde querem guiar o Brasil.<br />
Não se iludam, porém, os pregadores de ideologias boas<br />
ou más, construtoras ou demolidoras: sua doutrinação<br />
só será fecunda, na medida em que ela penetrar no espírito<br />
e no coração das gerações novas. A estas é que pertence<br />
o futuro. Para onde ela se orientar, orientar‐se‐á o<br />
Brasil de amanhã. Os pregadores de doutrinas não são,<br />
hoje em dia, senão meros advogados de causas santas ou<br />
de causas fraudulentas. À nova geração, é que incumbe a<br />
augusta função de juiz. (...)<br />
A crise da adolescência<br />
Pouco têm escrito sobre [a crise da adolescência] os<br />
sociólogos e os historiadores. Não importa. Tratemos de<br />
analisar esta crise, de lhe apontar as origens, de lhe investigar<br />
os efeitos, e chegaremos à conclusão de que nela<br />
se encontra uma das causas mais ativas de grande catástrofe<br />
do mundo contemporâneo.<br />
A crise da adolescência é, em via de regra, o fato culminante<br />
daquilo a que se poderia chamar a história interior<br />
de toda a humanidade, nos últimos cem anos. É na diferença<br />
das atitudes tomadas por nós e nossos avós perante<br />
esta crise, que se encontra, em grande parte, o segredo da<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> (sentado, o 5º da direita para a esquerda), quando já ardoroso líder mariano<br />
11
Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />
radical oposição entre o século XIX e o século XX, na filosofia,<br />
na sociologia, na política, na literatura e nas artes.<br />
Nos cento e poucos anos que medeiam entre a queda de<br />
Napoleão e os dias que vivemos, a sociedade tem educado<br />
a infância em princípios que, geralmente, são cristãos.<br />
Faça‐se a estatística do número de adolescentes que,<br />
anualmente concluem o curso em colégios católicos, e<br />
ter‐se‐á uma idéia da extensão que a influência cristã tem<br />
na formação da infância contemporânea. Por mais que,<br />
em nossos dias, os fatores do ambiente contrariem esta<br />
influência, ela ainda é considerável. E muito mais considerável<br />
ela foi nas gerações anteriores tão céticas quanto<br />
a nossa, mas mais respeitadoras — por espírito de tradição,<br />
se quiserem — da moral cristã.<br />
No século passado, como neste século ainda, o lar e o<br />
colégio, os dois principais ambientes em que transcorre a<br />
infância, foram guiados, em via de regra, por um espírito<br />
que, ora mais ora menos intensamente, apresenta matizes<br />
cristãos.<br />
No colégio católico, a doce figura do Cristo irradia sobre<br />
os alunos o esplendor de sua harmonia moral. Por<br />
mais que essa irradiação seja inconscientemente recebida<br />
como muitas vezes ocorre, ela não deixa de ser real. O<br />
Cristo que se contorce em sofrimentos e em súplicas pela<br />
humanidade, no Crucifixo do refeitório, o Cristo que, no<br />
altar da Capela, aponta aos alunos o seu peito entreaberto,<br />
no qual pulsa um coração abrasado de amor, o Cristo<br />
cuja doçura e cuja imensa misericórdia são ensinadas<br />
M. Shinoda<br />
12
Arquivo revista<br />
“No colégio católico, como no<br />
lar, a doce figura do Cristo<br />
irradia o esplendor de sua<br />
harmonia moral e de sua imensa<br />
misericórdia, como o nosso<br />
supremo e benigno protetor”<br />
Acima: <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> (no centro da foto)<br />
em 1928; na página 12: Crucifixo<br />
barroco no escritório de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
na aula de Religião, exerce sobre os alunos uma impressão<br />
profunda, a que não se furtaram nem sequer os campeões<br />
da impiedade do século XIX.<br />
No lar, o Cristo também figura como um protetor benigno<br />
e supremo dos interesses domésticos. É à sua bondade,<br />
que se deve toda a felicidade da família. É à sua<br />
clemência, que a família recorre nos momentos amargos<br />
da provação. É à sombra de sua lei, que florescem castamente<br />
as afeições domésticas, é d’Ele, que emana o ambiente<br />
de pureza sem o qual a vida da família não é possível.<br />
O Cristianismo floresce no ambiente doméstico, não<br />
apenas pela eficácia do culto que aí se pratica, como na<br />
carícia casta de mãe, da irmã, na austeridade do pai, e na<br />
inocência da vida dos filhos.<br />
No século XIX como no século XX — aliás, no século<br />
XX menos do que no século XIX — é esta a regra geral.<br />
O jovem entra num mundo<br />
que prega uma lei oposta<br />
Mas, com a adolescência, rompem‐se os véus que ocultavam<br />
à infância o verdadeiro aspecto da vida moderna.<br />
E o jovem, afeito a um ambiente de Fé e de pureza, se vê<br />
forçado a ingressar inesperadamente em um mundo que<br />
prega uma lei diametralmente oposta à que ele aprendeu<br />
a respeitar. (...)<br />
Ao adolescente, educado no amor da Fé e da pureza, a<br />
sociedade dirige, no limiar da vida, uma frase que é a antítese<br />
da do famoso bispo de Reims: “curva a cabeça, cristão,<br />
queima o que adoraste e adora o que queimaste.”<br />
Se o adolescente tiver o heroísmo de resistir, o mundo<br />
o apupará como um covarde. Se tiver a covardia de ceder,<br />
aplaudi‐lo‐á como um herói.<br />
Esboçando em largos traços o panorama da crise da<br />
adolescência na sociedade semi‐cristã dos últimos cem<br />
anos, não tive a pretensão de enquadrar, nesta descrição,<br />
com todos os seus detalhes particulares, a imensidade de<br />
aspectos diversos que, segundo as circunstâncias de tempo<br />
e lugar, essa crise pode assumir.<br />
A necessidade de optar por<br />
Cristo ou contra ele<br />
Em todos estes aspectos, no meio de tantas variantes,<br />
só quis destacar um traço fundamental, que se conserva<br />
invariável. Hoje como ontem — e, repito‐o, ontem muito<br />
mais do que hoje — a influência da Religião se exerce<br />
sobre a infância, de modo todo particular. Essa influência,<br />
que a sociedade moderna tolera por um resto de<br />
Fé ou de tradição, entra em choque com as exigências do<br />
ambiente que rodeia a mocidade. Deste choque, nasce<br />
para os adolescentes a necessidade de optar por Cristo<br />
ou contra Ele. Mais consciente em uns, menos consciente<br />
em outros, esta necessidade se impõe a todos. E é nas<br />
lutas íntimas que esta opção provoca, que consiste, em<br />
síntese, a crise da adolescência.<br />
Nesta crise, como procedeu o homem do século XIX?<br />
Colocado na contingência de optar pelo Cristo ou contra<br />
Ele, que partido tomou?<br />
Um e outro. Ou melhor, nem um nem outro. A atitude<br />
do século XIX, na crise da adolescência, foi sobretudo,<br />
uma atitude de vacilação. Desta vacilação nasceu a<br />
grande característica do século, que foi a incoerência.<br />
13
Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />
É peculiar ao Catolicismo uma admirável harmonia<br />
entre sua doutrina religiosa, seus princípios morais e suas<br />
diretrizes sociais. Não é possível negar a primeira, sem<br />
atacar os fundamentos dos outros. Como não é possível<br />
rejeitar a esta, sem se colocar em oposição flagrante com<br />
aquela. O monolito, desde que seja fragmentado, deixa<br />
de ser monolito. O Catolicismo, desde que seja privado<br />
de uma de suas partes deixa de ser Catolicismo.<br />
Não percebeu isto o século XIX. E exatamente por isto,<br />
na imensa vacilação que foi a causa de sua incoerência<br />
fundamental, o século XIX raras vezes chegou a repudiar<br />
completamente o Cristo pela boca de seus principais pensadores.(...)<br />
E não foi diversa a atitude da generalidade dos<br />
homens. A maior parte deles admirava a moral cristã, exigindo<br />
dentro do lar a sua rigorosa observância. O que não<br />
era obstáculo a que negasse os princípios religiosos em que<br />
se estribava esta moral, e se julgasse livre de a violar na vida<br />
extraconjugal. A família continuava a viver cristãmente,<br />
ainda mesmo depois de perdida a Fé. Como dizia Renan, a<br />
sociedade do seu tempo conservava vestígios do Cristianismo,<br />
sem conservar a Fé, como um vaso que tem por algum<br />
tempo o perfume das flores que dele retiraram.<br />
Outros, faziam o contrário. Conservavam a Fé mas desprezavam<br />
todas as conseqüências morais que dela decorrem.<br />
Católicos na igreja e no lar, eram pagãos na política,<br />
na vida profissional e, sobretudo, na vida extraconjugal.<br />
Espíritos fragmentados, admirando verdades a que<br />
não obedeciam, ou obedecendo a princípios que não<br />
aceitavam, os homens do século XIX tinham dentro<br />
de si o imenso mal‐estar que a prosperidade material<br />
apenas conseguiu anestesiar, e que tumultua necessariamente<br />
no coração de todo homem que não estabeleceu<br />
dentro de si o reinado da coerência. (...)<br />
O século XIX admirava a “fé do carvoeiro”, na<br />
sua simplicidade e na sua pureza. Mas ridicularizava<br />
como preconceito inconsciente a Fé do cientista.<br />
Admitia a Fé nas crianças. Mas condenava‐a<br />
nos jovens e nos homens adultos. Quando muito,<br />
tolerava‐a na velhice. Exigia a pureza para a mulher.<br />
E exigia a impureza para o homem. Exigia<br />
a disciplina para o operário. Mas aplaudia o espírito<br />
revolucionário do pensador.<br />
Evidentemente, contradições tão profundas<br />
deviam gerar crises íntimas, de grande intensidade.<br />
Em geral, foi em crises assim, que se formaram<br />
todos os agitadores que, no século XIX,<br />
atearam na Europa o incêndio dos ideais revolucionários.<br />
E foi também em crises assim, que se formaram<br />
quase todos os grandes convertidos ao Catolicismo,<br />
que proclamaram bem alto, contra o mundo e o século<br />
em que viviam, a sua Fé na Igreja de Deus.<br />
Os acontecimentos dramáticos de que o século XX<br />
tem sido ator e testemunha, só concorreram para precipitar<br />
o desenlace desta crise.<br />
Cada vez mais, a atitude de incoerência das gerações<br />
passadas vai sendo repudiada pelas gerações presentes.<br />
S. Hollmann<br />
Repúdio à incoerência das<br />
gerações passadas<br />
14
Arquivo revista<br />
“Como o Apóstolo<br />
Pedro disse do<br />
próprio Cristo<br />
Jesus, de cada<br />
congregado<br />
mariano se poderá<br />
escrever um dia:<br />
passou pela vida<br />
praticando o<br />
bem”<br />
À direita: <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> (de<br />
pé, no centro da foto)<br />
é homenageado pelos<br />
congregados marianos da<br />
Paróquia de Santa Cecília;<br />
à esquerda: São Pedro,<br />
Notre-Dame de Paris<br />
A bem dizer, nas gerações que despontam, só se deixam<br />
governar pela moral fragmentária do século passado os<br />
insuficientes, os displicentes, os indiferentes. (....)<br />
Pregadores infatigáveis<br />
do grande ideal<br />
As falanges marianas são, no Brasil, um exército<br />
quase inumerável de moços que, em um combate<br />
de todas as horas e de todos os minutos, pugnam<br />
pelo Cristo e pela civilização, contra o<br />
mundo contemporâneo que rola pelo abismo<br />
da anarquia, impelido pela força de seus próprios<br />
vícios. (...)<br />
Pela palavra, pelo exemplo, pelo estudo, o<br />
Congregado Mariano é um pregador infatigável<br />
do grande ideal pelo qual vive. Indiferente<br />
à admiração de alguns como ao desprezo<br />
de muitos, ele segue o seu caminho invariavelmente<br />
reto, cumprindo o dever, amando<br />
o próximo, amando a Pátria, servindo a todos<br />
os semelhantes, por amor de Deus. De sorte que, na<br />
sepultura de cada Congregado Mariano, a Pátria possa<br />
escrever um dia, como epitáfio, aquelas palavras admiráveis<br />
que o Apóstolo disse do próprio Cristo Jesus<br />
(At 10, 38): Pertransivit benefaciendo (Passou pela vida<br />
praticando o bem).<br />
Mas o amor ao bem tem como corolário necessário o<br />
ódio ao mal. O Congregado Mariano é um inimigo irredutível<br />
do mal. Onde muitos se calam, onde tantos se acovardam,<br />
onde quase todos silenciam, a voz do Congregado<br />
Mariano se ergue altiva e denodada, para estigmatizar o<br />
mal, para desmascarar seus partidários, para contrariar os<br />
ardis dos inimigos da civilização. Com a mesma indiferença<br />
com que enfrenta hoje os sarcasmos e as perseguições,<br />
enfrentará amanhã os canhões e as baionetas. Não há barreira<br />
que seu idealismo não vença. Não há dificuldade que<br />
sua abnegação não supere. Não há obstáculo que prevaleça<br />
contra a sua tenacidade enérgica e invencível. v<br />
(Excertos do discurso publicado<br />
em “Echos”, nº 29, de 22/11/1936)<br />
15
Ca l e n d á r i o d o s Sa n t o s<br />
1. Solenidade de Santa Maria<br />
Mãe de Deus.<br />
São José Maria Tomasi, + 1713.<br />
Religioso teatino e Cardeal da Igreja.<br />
Estudou com esmero e divulgou<br />
escritos sobre a Liturgia.<br />
2. São Gregório Nazianzeno, chamado<br />
“o Teólogo”, + 390. Bispo de<br />
Sansina, depois de Constantinopla<br />
e, finalmente, de Nazianzo. Doutor<br />
da Igreja, defendeu a Divindade do<br />
Verbo Encarnado.<br />
3. Santo Nome de Jesus. O Anjo<br />
disse a São José: “José, filho de<br />
David, não temas por tomar contigo<br />
Maria, tua esposa. Ela dará à luz<br />
um filho, a quem porás o nome de<br />
Jesus, porque ele salvará o seu povo<br />
de seus pecados. (...) Despertando,<br />
José fez como o anjo do Senhor<br />
lhe havia mandado e recebeu em<br />
sua casa sua esposa. E, sem que ele<br />
a tivesse conhecido, ela deu à luz o<br />
seu filho, que recebeu o nome de<br />
Jesus” (Mt 1, 21, 24-25).<br />
4. São Gregório, Bispo de Langres,<br />
na Borgonha (hoje França),<br />
+ 539/540.<br />
(No Brasil, celebra-se a Festa da<br />
Epifania do Senhor.)<br />
5. São João Nepomuceno Neumann,<br />
Bispo de Filadélfia (Estados<br />
Unidos), + 1860. Nascido na Boêmia<br />
(atual República Tcheca), viajou<br />
aos Estados Unidos onde foi ordenado<br />
sacerdote e entrou na ordem<br />
Redentorista.<br />
G. Kralj<br />
6. Epifania do Senhor. (No Brasil,<br />
transferida para o domingo anterior,<br />
dia 4.)<br />
São Carlos de Sezze, + 1670.<br />
Religioso franciscano, passou<br />
grande parte de sua vida adorando<br />
o Santíssimo Sacramento. Na<br />
Batismo de Jesus - Igreja de São João Batista, Halifax (Canadá)<br />
16
* Ja n e i r o *<br />
igreja romana de São Francisco a<br />
Ripa se veneram seu corpo e seu<br />
coração, transverberado por um<br />
raio de luz que partiu da Hóstia,<br />
durante a elevação de uma Missa<br />
à qual São Carlos assistia.<br />
15. São Mauro, monge beneditino,<br />
séculos VI-VII. Seu pai o entregou,<br />
ainda menino, a São Bento, de<br />
quem foi exímio discípulo em Subiaco<br />
e Montecassino.<br />
preservar a fé e reconstruir a cidade<br />
após as invasões bárbaras.<br />
22. São Vicente Pallotti, 1795-<br />
1850. Romano, sacerdote e confessor,<br />
fundou o Apostolado Católico.<br />
7. São Raimundo de Penyafort,<br />
+ 1275. Dominicano catalão, Mestre<br />
Geral da Ordem dos Pregadores,<br />
fez o primeiro código de direito<br />
canônico (as Decretais), e sugeriu<br />
a São Tomás de Aquino escrever<br />
a Suma contra os Gentios.<br />
8. São Severino, + 482. Evangelizou<br />
a região atualmente compreendida<br />
pela Áustria, Baviera e<br />
Tirol italiano. Morreu na província<br />
romana de Nóricus, hoje Alemanha.<br />
9. Santa Ágata Yi, virgem, e seus<br />
pais, e Teresa Kim, viúva, mártires<br />
em Seúl, na Coréia, + 1840. Uma<br />
vez presos, foram torturados e degolados.<br />
10. Santo Agatão, Papa, entre<br />
678 e 681. Reafirmou a doutrina<br />
das duas vontades (humana e divina)<br />
em Jesus Cristo. Padroeiro de<br />
Palermo, capital da Sicília.<br />
11. Domingo. Batismo do Senhor.<br />
12. São Bernardo de Corleone,<br />
religioso capuchinho em Palermo,<br />
+ 1667.<br />
13 Santo Agrício, Bispo de Tréveris,<br />
+ 330.<br />
Bem-aventurada Verônica de Binasco<br />
Negroni, religiosa agostiniana,<br />
+ 1497.<br />
R. C. Branco<br />
Papa São Marcelo I - Roma<br />
16. São Marcelo I, Papa. Reinou<br />
só 7 meses, de 308 a 309. Por ordem<br />
do tirano Maxêncio, foi golpeado<br />
com paus e condenado a cuidar de<br />
porcos, sob custódia, até a sua morte.<br />
No lugar de seu cativeiro, hoje na<br />
Via del Corso, em Roma, levantou-se<br />
a igreja a ele dedicada, onde se veneram<br />
seus restos, antes sepultados nas<br />
catacumbas de Santa Priscila.<br />
17. Santo Antão, Abade, + 356.<br />
18. Domingo. Santa Margarida,<br />
virgem e religiosa, + 1270.<br />
19. Bem-Aventurado Marcelo<br />
Spinola e Maestre, Cardeal e Arcebispo<br />
de Sevilha, + 1906.<br />
20. São Fabiano, Papa e Mártir.<br />
Eleito à Cátedra de Pedro em 236,<br />
deu a vida por amor a Cristo em 250.<br />
23. Santos Clemente, Bispo, e<br />
Agatângelo, mártires em Ancira, na<br />
Galácia (hoje Turquia), século IV.<br />
24. São Francisco de Sales, 1567-<br />
1622. Bispo e Doutor da Igreja.<br />
Nascido de nobre família na Sabóia,<br />
realizou seu apostolado em Genebra,<br />
onde Calvino tinha disseminado<br />
seus erros. Nomeado Bispo dessa<br />
cidade, residiu em Annecy, impossibilitado<br />
de entrar na Genebra<br />
dominada pelos calvinistas. Grande<br />
diretor de consciências e apóstolo<br />
da verdadeira vida interior. Em<br />
1887, Pio IX o declarou Doutor da<br />
Igreja, e em 1923, Pio XI o nomeou<br />
padroeiro do jornalismo católico.<br />
25. Domingo. Conversão de São<br />
Paulo Apóstolo.<br />
26. Santo Agostinho Erlandsson,<br />
Bispo de Nindaros (hoje Trondheim),<br />
na Noruega, + 1188.<br />
27. São Vitaliano, Papa, + 672.<br />
Empenhou-se na conversão dos anglos.<br />
28. São Tomás de Aquino, + 1274.<br />
Ver artigo na página 26.<br />
29. São Gildás, o Sábio, na Bretanha<br />
francesa, + 570.<br />
30. Bem-Aventurado Columba<br />
Marmion, abade do mosteiro de<br />
Maredsous, na Bélgica, + 1923.<br />
14 São Félix de Nola, presbítero,<br />
séculos III e IV.<br />
21. Santo Epifânio, Bispo de Pavia<br />
(Itália), + 496. Dedicou-se a<br />
31. São João Bosco, + 1888. Presbítero,<br />
Fundador dos Salesianos.<br />
17
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, a p ó s t o l o d o p u l c h r u m<br />
A beleza ungida<br />
pela graça<br />
18
G. Kralj<br />
Nas belas obras<br />
de arte produzidas<br />
na Idade Média,<br />
observa <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>,<br />
deve-se considerar,<br />
acima da excelência<br />
do talento<br />
medieval, a riqueza<br />
da graça de Deus<br />
que inspirou os<br />
autores dessas<br />
maravilhas. A<br />
mesma graça que,<br />
para o espírito de<br />
um observador<br />
atento, parece ecoar<br />
ainda hoje nos<br />
ambientes outrora<br />
iluminados por<br />
sua presença.<br />
Praça de São Marcos, Veneza,<br />
por Canaletto - Galeria<br />
Nacional de Arte, Washington<br />
Q<br />
uando fazemos uma viagem<br />
durante a qual nosso<br />
espírito recolhe uma série<br />
de impressões, é normal que as<br />
reflexões e os pensamentos a propósito<br />
de tudo que se viu não aflorem<br />
imediatamente. Deixa-se repousar<br />
as impressões e as análises e,<br />
mais tarde, as conclusões se evolam<br />
de tempos em tempos, mais ou menos<br />
como as flores que demoram a<br />
exalar todo o seu perfume. Assim se<br />
dá com as recordações de viagem: há<br />
várias exalações consecutivas de diversos<br />
significados, de bons aromas<br />
que se apresentam e se formulam à<br />
medida que o tempo passa.<br />
19
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, a p ó s t o l o d o p u l c h r u m<br />
A arquitetura de um castelo,<br />
com suas torres e barbacãs, pode<br />
nos transmitir uma impressão<br />
sobrenatural, como sendo<br />
símbolo da virtude da fortaleza<br />
praticada por amor a Deus<br />
S. Hollmann<br />
Castelo junto ao Rio Reno, Alemanha<br />
Daí vem o fato de que, somente<br />
alguns meses depois de minha última<br />
visita à Europa, eu tenha conseguido<br />
explicitar o pensamento que<br />
procurarei explanar aqui, oriundo da<br />
comparação entre esta e as anteriores<br />
viagens que fiz ao Velho Continente.<br />
A ação da graça favorece<br />
uma obra católica<br />
Imaginemos, por exemplo, um escritor<br />
como São Bernardo de Claraval.<br />
Ele redige seus sermões sobre<br />
Nossa Senhora e, por se tratar<br />
de uma obra feita com espírito católico<br />
e com a intenção de servir a Santa<br />
Igreja e a Civilização Cristã, supõe-se<br />
que a graça incide sobre esse<br />
ato, favorecendo-o de modo especial.<br />
Por isso, quando lemos um sermão<br />
de São Bernardo, temos duas<br />
impressões.<br />
Uma, natural e humana: o autor é<br />
um escritor exímio, de grandes vôos<br />
literários.<br />
Mas, como tudo foi escrito com<br />
amor de Deus e movido pela intenção<br />
de despertar pensamentos sobrenaturais,<br />
inspirados pela Fé e<br />
tendentes à glória divina, têm-se a<br />
segunda impressão: a graça presidindo<br />
àquela obra, pois ninguém, nem<br />
São Bernardo, é capaz de pensar algo<br />
com base na Doutrina Católica,<br />
nem de querer um benefício para a<br />
Igreja ou para a glória de Deus, sem<br />
ser inspirado e auxiliado pela graça.<br />
Sem o socorro desta, o homem é incapaz<br />
de proceder a essas operações<br />
intelectuais e volitivas.<br />
Há, portanto, uma operação de<br />
origem sobrenatural que se soma<br />
à operação natural da inteligência,<br />
vontade e sensibilidade, pela qual ao<br />
lermos aquele sermão, percebemos<br />
belezas novas, de caráter absolutamente<br />
superior e extraordinário.<br />
Valores sobrenaturais<br />
simbolizados nos<br />
monumentos europeus<br />
Ora, isto que se pode dizer de<br />
um texto, aplica-se também a monumentos,<br />
edifícios, catedrais, imagens,<br />
obras de arte. Por exemplo,<br />
pode-se dizê-lo das estalas superiormente<br />
bem esculpidas de um convento,<br />
de um vitral, de peças elaboradas<br />
com espírito sobrenatural, para<br />
o serviço de Deus, e também para<br />
uma finalidade natural. Quem vê<br />
aquilo é visitado por uma graça que<br />
lhe faz compreender as analogias<br />
que o objeto tem com valores sobrenaturais.<br />
Donde o grande apreço<br />
que o homem nutre por aquilo que<br />
ele contempla.<br />
Por exemplo, um castelo com<br />
suas torres, ameias e barbacãs, pode<br />
nos transmitir uma impressão sobrenatural,<br />
proporcionada pela graça,<br />
resultante do fato de que sua arquitetura<br />
simboliza a virtude da fortaleza<br />
enquanto praticada por amor<br />
20
a Deus. Nisto se encerra a beleza superior<br />
do castelo, como de outros<br />
monumentos europeus, muitos deles<br />
construídos na plena era do amor<br />
de Deus, isto é, no apogeu da Idade<br />
Média, ou em épocas posteriores ou<br />
mesmo anteriores, quando o estilo<br />
românico já continha algo do sorriso<br />
cheio de afabilidade, de majestade<br />
e de uma discreta melancolia do<br />
gótico.<br />
Mais ainda: a graça pode, inclusive,<br />
conceder ao observador um especial<br />
discernimento do espírito com<br />
que determinado monumento foi<br />
construído. Por exemplo, diante da<br />
praça do Paço Municipal de Siena,<br />
pode-se compreender o espírito dos<br />
sienienses daquele tempo, e como a<br />
graça atuava em suas almas para engendrarem<br />
aquelas belezas.<br />
21
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, a p ó s t o l o d o p u l c h r u m<br />
V. H. Toniolo<br />
O passado revive<br />
em locais visitados<br />
pela graça<br />
Essas considerações me levam a<br />
crer que os lugares onde se passaram<br />
os grandes acontecimentos, os grandes<br />
atos de coragem, de virtude, de renúncia,<br />
de amplitude de horizonte sobrenatural,<br />
da história da Cristandade,<br />
tornam-se locais particularmente dignos<br />
de reverência. Tem-se a impressão<br />
de que as cenas neles ocorridas, como<br />
que ainda estão se passando ali. Portanto,<br />
aquele passado todo revive, e<br />
para quem visita aquele lugar, sente<br />
um prolongamento, uma continuidade<br />
misteriosa que o emociona.<br />
Naturalmente, digo que é uma impressão,<br />
pois não corresponde à realidade<br />
do momento. Trata-se de outra<br />
realidade: onde fatos dessa magnitude<br />
se deram, foram acompanhados<br />
de graças também insignes.<br />
E assim como a graça visita a alma<br />
de quem lê, com oitocentos anos de<br />
diferença, um livro de São Bernardo<br />
de Claraval, ela visita a alma de<br />
quem, com cinco séculos de diferença,<br />
contempla um lugar de grande<br />
importância histórica.<br />
Tem-se, pois, uma degustação da<br />
graça atinente àquela atmosfera do local<br />
que ela ungiu primeiro, e nos permite,<br />
hoje, como que entrar numa<br />
misteriosa intimidade com os fatos ali<br />
22
passados. Essa impressão me parece<br />
ser altamente benfazeja para o espírito,<br />
e enriquece o sentir, o saborear do<br />
homem que contempla esse ou aquele<br />
monumento.<br />
A Catedral de<br />
São Marcos<br />
Tomemos, por exemplo, a Catedral<br />
de São Marcos, em Veneza.<br />
Diante dela, discernimos o desejo de<br />
O episódio histórico<br />
recobra vida, pela<br />
ação da graça que<br />
o iluminou e ungiu<br />
no lugar onde ele<br />
se passou<br />
São Pio X e a Catedral de<br />
São Marcos, Veneza<br />
maravilhoso, de grandioso, inspirado<br />
pelo espírito de Fé com que, em louvor<br />
de São Marcos, ela foi construída.<br />
É uma das mil cintilações deslumbrantes<br />
do espírito católico que<br />
se manifesta ali, de maneira que, ao<br />
contemplar a catedral, alguém poderia<br />
exclamar: “Igreja Católica é isto.<br />
Ó Igreja Católica!”<br />
Agora, dentro dessa catedral se<br />
passaram fatos históricos da maior<br />
importância, que determinaram rotações<br />
na história das nações ribeirinhas<br />
do Mar Adriático, na história<br />
de Veneza, da Itália e na história<br />
da Cristandade. Então, pelo auxílio<br />
da graça, ao analisarmos a Catedral<br />
de São Marcos, não temos<br />
apenas uma percepção do espírito<br />
de Fé que a edificou, mas temos<br />
também uma idéia dos mil episódios<br />
que ali ocorreram.<br />
A última visita do<br />
Patriarca Sarto à<br />
sua Catedral<br />
Um desses fatos, por exemplo,<br />
deu-se no começo deste século [XX].<br />
O futuro Papa São Pio X era Cardeal<br />
e Patriarca de Veneza, quando<br />
faleceu o Pontífice Leão XIII e, como<br />
de costume, foi convocado o Conclave<br />
para eleger seu sucessor. Conta-se<br />
que o Patriarca Sarto comprou passagem<br />
de trem, de ida e volta para Roma,<br />
pois não considerava a hipótese<br />
de que pudesse ser o escolhido.<br />
Seja como for, podemos imaginar<br />
a última visita do Patriarca à Catedral<br />
de São Marcos, pouco antes de<br />
tomar a gôndola que o levaria à estação<br />
ferroviária, de onde partiria para<br />
o conclave. Com sua figura esguia, revestido<br />
de trajes vermelhos de Cardeal,<br />
o cabelo já branco, e ele alvíssimo<br />
— uma pincelada branca no meio das<br />
púrpuras que o rodeavam —, seguido<br />
e acompanhado de seus secretários,<br />
de monsenhores, de prelados, atravessando<br />
o corredor e indo se ajoelhar<br />
no presbitério, para rezar.<br />
Essa seria a cena de Veneza despedindo-se<br />
do mais recente dos Papas<br />
canonizados. Quem passeia sob<br />
as colunas do átrio de São Marcos,<br />
ou transpõe suas portas, pensando<br />
nesse acontecimento histórico, não<br />
tem a impressão de que São Pio X<br />
está ali, rezando junto ao altar? Não<br />
revive um pouco daquele episódio?<br />
De fato ele não está. O que ainda<br />
se acha presente, como acima dissemos,<br />
é um eco daquela graça que iluminou<br />
e ungiu com sua ação o acontecimento<br />
histórico, e que torna especialmente<br />
sagrado, especialmente<br />
belo e digno de reverência, o lugar<br />
onde ele se passou. v<br />
(Extraído de conferência<br />
em 11/1/89)<br />
23
“R-CR” e m p e r g u n ta s e r e s p o s ta s<br />
Contra-Revolução<br />
e apostolado<br />
Nos tópicos transcritos a seguir, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> aponta para a<br />
necessária reorganização da sociedade temporal, de acordo<br />
com os princípios católicos opostos à Revolução. Essa tarefa<br />
constituiria um verdadeiro apostolado contra-revolucionário,<br />
realizado sob a égide do Magistério da Igreja.<br />
Arquivo revista<br />
Que tarefa deve a Contra-Revolução exercer na sociedade<br />
temporal?<br />
“A ação contra-revolucionária envolve uma reorganização<br />
de toda a sociedade temporal: ‘ Há todo um mundo<br />
a ser reconstruído até em seus fundamentos”, disse<br />
Pio XII 1 , diante dos escombros de que a Revolução cobriu<br />
a terra inteira” (p. 148).<br />
Contra-Revolução e os âmbitos<br />
civil e eclesiástico<br />
Essa reorganização deve ser inspirada pela doutrina da<br />
Igreja?<br />
“Esta tarefa de uma fundamental reorganização contra-revolucionária<br />
da sociedade temporal, se de um lado<br />
deve ser toda inspirada pela doutrina da Igreja, envolve<br />
de outro um sem-número de aspectos concretos e práticos<br />
que estão propriamente na ordem civil. E a este título<br />
a Contra-Revolução transborda do âmbito eclesiástico,<br />
continuando sempre profundamente ligada à Igreja<br />
no que diz respeito ao Magistério e ao poder indireto<br />
desta” (pp. 148-149).<br />
24
Denunciar a doutrina e os<br />
métodos da Revolução<br />
Como se pode fazer um apostolado especificamente contra-revolucionário?<br />
“Ninguém negará que seja lícito que certas pessoas tomem<br />
como tarefa própria desenvolver nos meios católicos<br />
e não católicos um apostolado especificamente contra-revolucionário.<br />
Isto, elas o farão proclamando a existência<br />
da Revolução, descrevendo-lhe o espírito, o método,<br />
as doutrinas, e incitando todos à ação contra-revolucionária”<br />
(p. 150-151).<br />
Apostolado contra-revolucionário<br />
Há analogia entre o apostolado contra-revolucionário e<br />
algum outro efetuado por católicos?<br />
“Fazendo-o, [os contra-revolucionários] estarão pondo<br />
suas atividades a serviço de um apostolado especializado<br />
tão natural e meritório (e por certo mais profundo)<br />
quanto o dos que se especializam na luta contra outros<br />
adversários da Igreja, como o espiritismo ou o protestantismo.<br />
Em muitos dos seus aspectos<br />
concretos e práticos, a tarefa<br />
da Contra-Revolução<br />
transborda do âmbito<br />
eclesiástico, embora esteja<br />
sempre profundamente<br />
ligada aos ensinamentos e<br />
ditames da Igreja<br />
Praça de São Pedro, Roma: o Papa<br />
Pio XII chega à Basílica do Vaticano<br />
para a proclamação do dogma da<br />
Assunção de Nossa Senhora<br />
“Exercer influência nos mais variados meios católicos<br />
ou não católicos a fim de alertar os espíritos contra<br />
os males do protestantismo, por exemplo, é certamente<br />
legítimo, e necessário a uma ação antiprotestante inteligente<br />
e eficaz. Análogo procedimento terão os católicos<br />
que se entreguem ao apostolado da Contra Revolução”<br />
(p. 151).<br />
Ação contra-revolucionária que não<br />
constitui apostolado propriamente dito<br />
Não há risco de exagero nesse apostolado da Contra-Revolução?<br />
“Os possíveis excessos desse apostolado – que os pode<br />
ter como outro qualquer – não invalidam o princípio que<br />
estabelecemos. Pois abusus non tollit usum [ O abuso não<br />
elimina o uso] (p. 151).<br />
Mas nem toda ação contra-revolucionária é apostolado...<br />
“Contra-revolucionários há, enfim, que não fazem<br />
apostolado em senso estrito, pois se dedicam à luta em<br />
certos campos como o da ação especificamente cívicopartidária,<br />
ou do combate à Revolução por meio de empreendimentos<br />
econômicos. Trata-se, aliás, de atividades<br />
muito relevantes, que só podem ser vistas com simpatia”<br />
(pp. 151-152).<br />
v<br />
1) Exortação aos fiéis de Roma, de 10/2/1952, Discorsi e Radiomessaggi,<br />
vol. XIII, p. 471.<br />
25
O Sa n t o d o m ê s<br />
Imagem de São Tomás<br />
de Aquino, conservada<br />
no escritório de<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, em São Paulo<br />
G. Kralj<br />
Meditação na<br />
festa de<br />
São Tomás de Aquino<br />
26
Ao nos apresentar São Tomás de Aquino como o grande<br />
luzeiro suscitado por Deus para esclarecer e confortar as<br />
almas ao longo dos séculos, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> nos exorta a pedir a<br />
intercessão do Doutor Angélico a fim de que alcance para nós<br />
um senso católico e uma pureza da sabedoria semelhantes ao<br />
deste Santo, sempre submetidos e unidos à Sé de Pedro.<br />
Em todos os recantos do globo celebrou a Santa<br />
Igreja (...) a festa de São Tomás de Aquino. Nas<br />
basílicas suntuosas da Capital da Cristandade,<br />
tanto quanto nos altares improvisados dos missionários<br />
perdidos nas selvas, nos mosteiros silenciosos das Ordens<br />
contemplativas tanto quanto nas trincheiras das linhas de<br />
combate, foi o Santo Sacrifício oferecido inúmeras vezes<br />
a Deus, naquele dia, em louvor do grande Doutor que<br />
Ele se dignou dar à Igreja. Pelas colunas dos jornais, do<br />
alto das cátedras universitárias, através do microfone das<br />
rádio-emissoras, através de todos os meios de que o homem<br />
dispõe para externar seu pensamento, o Santo recebeu<br />
as homenagens da Cristandade agradecida.<br />
A um tão grande número de louvores não é supérfluo<br />
que o Legionário some os seus, embora seja pobre como<br />
o óbolo da viúva, que Deus recebeu com agrado pela intenção<br />
humilde e respeitosa com que era oferecido.<br />
Inteligência possante e piedade ardente<br />
F. Boulay<br />
São Tomás de Aquino escreve a Suma Teológica -<br />
Igreja Nossa Senhora da Consolação, Carey (EUA)<br />
São Tomás de Aquino foi um grande luzeiro posto por<br />
Deus no meio de sua Igreja a fim de esclarecer, confortar<br />
e animar as almas pelos séculos afora para que mais galhardamente<br />
resistissem às investidas da heresia.<br />
Enfrentando com sua inteligência possante e sua piedade<br />
ardente todos os problemas que em seu tempo estavam<br />
franqueados à investigação da mente humana,<br />
percorreu ele as mais áridas, as mais obscuras e as mais<br />
traiçoeiras regiões do conhecimento, com uma simplicidade,<br />
uma clareza, uma energia verdadeiramente sobrenaturais.<br />
Superando não apenas a sabedoria humana dos filósofos<br />
pagãos, mas a própria sabedoria dos Doutores da<br />
Igreja que o antecederam, compôs ele entre outras obras<br />
a Suma Teológica, em que deixou registradas todas as suas<br />
vitórias sobre a heresia, a ignorância ou o pecado. Sua<br />
doutrina se conservou sempre tão pura, que a Santa Igreja<br />
a aponta como fonte indispensável de toda a vida intelectual<br />
verdadeiramente católica.<br />
27
O Sa n t o d o m ê s<br />
Inteira submissão à Santa Igreja<br />
Se houve um intelectual que nunca teve a menor mácula<br />
de heresia, esse intelectual foi São Tomás de Aquino.<br />
Seu senso católico foi prodigioso. Ele, de um lado,<br />
nunca colidiu com as verdades já definidas pela Santa<br />
Igreja em seu tempo. Por outro lado, resolveu um sem<br />
número de questões sobre as quais a Santa Igreja ainda<br />
não se tinha pronunciado, e, por sua solução, preparou<br />
e apressou o pronunciamento infalível da Esposa de Jesus<br />
Cristo.<br />
Finalmente, a nota característica e constante de sua<br />
vida foi uma submissão tal à doutrina católica que, ainda<br />
mesmo que a Igreja viesse a definir ulteriormente, em<br />
sentido contrário ao de São Tomás, alguma verdade, ele<br />
se tornaria imediatamente o paladino mais humilde, mais<br />
amoroso e mais caloroso do pensamento que impugnara,<br />
e o adversário mais irredutível do erro que houvesse ensinado<br />
como verdade.<br />
Admirável senso católico<br />
Assim, São Tomás realizou plenamente os três graus<br />
do senso católico. Há católicos que pensam de modo diverso<br />
da Igreja e cuja Fé é tão fraca que é a custo e penosamente<br />
que se submetem às determinações que ela estabelece.<br />
Outros há, que não sentem relutância em admitir<br />
o que a Igreja ensina, mas, postos em presença de um<br />
problema qualquer, dificilmente atinam com a verdadeira<br />
solução, se não estiverem informados previamente do<br />
pensamento católico. Finalmente, o mais alto dos graus<br />
consiste em aceitar prontamente e com facilidade amorosa<br />
tudo o que a Igreja ensina, em estar tão imbuído do<br />
espírito da Igreja que se pensa como Ela ainda mesmo<br />
que, no momento, não se conheça o pronunciamento das<br />
questões. E, por fim, se pense de tal maneira sobre os assuntos<br />
que Ela ainda não definiu, que, quando Ela os definir,<br />
estejamos prontos a modificar nossa opinião, o que,<br />
aliás, raramente será necessário, porque teremos sabido<br />
pressentir na grande maioria dos casos o pensamento da<br />
Igreja.<br />
Assim, se há uma virtude que devemos admirar em<br />
São Tomás, que devemos procurar imitar, e cuja obtenção<br />
devemos ardentemente pedir a Deus por intermédio<br />
do grande Doutor, esta virtude é a do senso católico.<br />
Sermão das bem-aventuranças. Ninguém ignora a dileção<br />
ardentíssima com que o Coração de Jesus ama as<br />
pessoas que nunca se macularam com o pecado da impureza.<br />
Basta pensar no amor que Ele teve a Nossa Senhora<br />
e a São João Evangelista, o apóstolo virginal, para<br />
que se compreenda o que significa, para Nosso Senhor,<br />
a pureza.<br />
Mas se existe uma pureza que, segundo nosso estado,<br />
devemos conservar íntegra em nosso corpo e em nosso<br />
coração, existe também uma pureza virginal de inteligência,<br />
que devemos cultivar ciosamente, e que certamente<br />
agrada de modo incomensuravelmente a Nosso Senhor.<br />
É a pureza da inteligência verdadeiramente católica,<br />
templo vivo e imaculado do Espírito Santo que nunca<br />
sentiu atração e nem deu apoio a qualquer doutrina<br />
herética, que detesta a heresia com todo o vigor indignado<br />
com que as almas puras detestam a luxúria, e que<br />
se preserva de toda e qualquer adesão a um pensamento<br />
que não seja o da Igreja, com cuidado com que as almas<br />
castas sabem manter longe de si todas as impressões<br />
impuras.<br />
Disse Nosso Senhor que Ele é a vinha, e nós os sarmentos.<br />
Quanto mais unidos estivermos à vinha, tan-<br />
Quanto mais unidos estivermos<br />
à vinha, maior a seiva<br />
que teremos em nós<br />
Todos sabemos como devemos amar a pureza, e qual<br />
a magnífica promessa com que a galardoou o Senhor no<br />
28
Fotos: S. Hollmann<br />
Assim como São Tomás de Aquino, quanto mais estivermos unidos<br />
à Santa Igreja e ao Papa, mais intensa será nossa vida espiritual<br />
São Tomás com São Pedro e São Paulo - Catedral de Dijon, França; na página 28: São Tomás, Notre-Dame de Paris<br />
to maior será a seiva que teremos em nós. Ora também<br />
se pode dizer que a Santa Igreja é a vinha, e nós os sarmentos,<br />
e que quanto mais estivermos unidos a ela, tanto<br />
maior será a seiva que teremos em nós. E como estaremos<br />
tanto mais unidos à Igreja quanto mais unido estiver<br />
a ela nosso pensamento, tanto mais intensa será nossa<br />
vida espiritual, quanto mais completo for nosso senso<br />
católico.<br />
Incondicional obediência ao<br />
Trono de São Pedro<br />
Não convém, entretanto, que nos conservemos em generalidades.<br />
Na época de confusão em que vivemos, não<br />
basta que se fale em submissão à Igreja. Convém ser explícito,<br />
e falar desde logo na infalibilidade papal. A pureza<br />
virginal de nossa inteligência só pode decorrer de<br />
nossa afetuosa e incondicional obediência ao Trono de<br />
São Pedro. Se estivermos inteiramente com o Papa, estaremos<br />
inteiramente com a Igreja, com Jesus Cristo e portanto<br />
com Deus.<br />
Que na festa do grande Doutor, nosso senso católico<br />
encontre o apoio de graças sempre mais vigorosas, e que<br />
estas graças recebam de nossa vontade uma cooperação<br />
sempre mais entusiástica: esta deve ser a conclusão prática<br />
de nossa meditação.<br />
v<br />
(Extraído do “Legionário”, nº 391, de 10/3/1940)<br />
29
Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />
Expressão do glorioso<br />
triunfo de Cristo<br />
30
N<br />
otre-Dame de Paris.<br />
Diante dela, às vezes<br />
emudecemos de admiração.<br />
A catedral é bela em cada um de<br />
seus pormenores. Se considerarmos<br />
os três portais do primeiro pavimento<br />
do edifício, vemos lindíssimos arcos<br />
ogivais, profundos, indicando bem a<br />
espessura das paredes. Em cada portal,<br />
ao longo de toda a espessura, de<br />
um lado e de outro, aparecem esculpidos<br />
episódios da História Sagrada.<br />
Na parte de cima, uma fileira de imagens<br />
de reis do Antigo Testamento.<br />
Para se ter idéia de como a catedral<br />
é esplêndida nos seus vários<br />
pormenores, imaginemos que não<br />
existisse a parte superior, acima das<br />
imagens dos monarcas. Ainda seria<br />
um bonito monumento. Ou pensemos<br />
num edifício formado pela<br />
grande ogiva central, pelas duas laterais<br />
e as menores que estão em cima,<br />
constituindo uma espécie de colunatas<br />
de esguias, delicadas e entrelaçadas<br />
ogivas: sem dúvida comporiam<br />
uma belíssima fachada lateral<br />
de qualquer igreja.<br />
Catedral de Notre-Dame<br />
de Paris, França<br />
Fotos: S. Hollmann / F. Lecaros<br />
31
Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />
Imaginemos, ainda, cada uma<br />
das pontas de torre transformada<br />
num oratório e posta no solo. Seria<br />
lindo! Na catedral, aparecem como<br />
três belezas superpostas. Mas o tato<br />
francês, o tal “charme mais belo<br />
que a beleza”, os fez sentir que, isolados,<br />
algo ficaria faltando. Então,<br />
atrás ergue-se uma cúpula e, no alto<br />
desta, uma flecha. A famosa flecha<br />
de Notre-Dame que confere o<br />
arremate, o toque de leveza, de graça,<br />
de grandeza, às torres que não<br />
foram acabadas.<br />
Com efeito, no projeto original<br />
essas torres elevar-se-iam mais alto.<br />
Porém, o estilo gótico esmoreceu<br />
sob o sopro da Renascença e<br />
do Humanismo. Em conseqüência,<br />
as torres de Notre-Dame ficaram<br />
Esguia, graciosa<br />
e leve, com um<br />
quê de fortaleza<br />
incontestável,<br />
símbolo da<br />
plenitude do<br />
espírito da<br />
Idade Média<br />
limitadas ao tamanho que têm hoje,<br />
embora repletas de encanto e de<br />
beleza.<br />
A meu ver, uma muito agradável<br />
impressão que se tem ao contemplar<br />
a catedral resulta do contraste entre<br />
a altura e a largura. Ela é esguia,<br />
muito mais alta do que larga, mas<br />
não pode ser chamada de um edifício<br />
frágil. Graciosa, leve, possui entretanto<br />
um quê de fortaleza, absolutamente<br />
incontestável, falandonos<br />
da plenitude do espírito da Idade<br />
Média: hierático, sacral, hierárquico,<br />
ordenado, todo voltado para o<br />
que há de mais alto, em que a maior<br />
seriedade se compagina bem com a<br />
graça mais suave e com a delicadeza<br />
mais extrema. Tal se nota, por exemplo,<br />
nas colunas e nos vitrais.<br />
32
Vistas da fachada (página 32) e<br />
da famosa agulha da Catedral<br />
de Notre-Dame de Paris<br />
33
Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />
O sorriso da<br />
Virgem Santíssima<br />
manifesta seu<br />
contentamento com<br />
a Cristandade, o<br />
reino do Filho d’Ela<br />
Numa palavra, os mais belos aspectos<br />
da alma católica aparecem a<br />
todo propósito, em todos os ângulos<br />
da catedral.<br />
E eu me pergunto: é ou não verdade<br />
que, ao nos maravilharmos com<br />
Notre-Dame, temos também a impressão<br />
de que cenas desenroladas<br />
ali ainda permanecem vivas? E que,<br />
do alto do lugar onde está entronizada,<br />
a imagem de Nossa Senhora<br />
— cuja cabeça tem como auréola a<br />
própria rosácea central — sorri para<br />
os seus filhos que transitam pela<br />
praça?<br />
Sim, um sorriso que manifesta o<br />
contentamento da Virgem Santíssima<br />
com uma Cristandade que, afinal, era<br />
e ainda é o reino do Filho d’Ela. E, de<br />
fato, há qualquer coisa da glória da<br />
Ressurreição de Nosso Senhor Jesus<br />
Cristo no ar triunfal da Catedral de<br />
Notre-Dame de Paris. v<br />
(Extraído de conferência<br />
em 11/1/1989)<br />
34
A bela silhueta de Notre-Dame<br />
de Paris, e a grande rosácea<br />
central (pagina 34), com a<br />
imagem de Nossa Senhora<br />
35
Insondável solicitude<br />
A Virgem com<br />
o Menino - Igreja<br />
de São Lourenço,<br />
Sevilha (Espanha)<br />
S. Hollmann<br />
De uma perfeição, santidade e formosura<br />
incomparáveis, Nossa Senhora considera<br />
a cada um de nós, seus filhos, como<br />
enfermos de uma doença chamada pecado<br />
original, e tem para conosco solicitudes insondavelmente<br />
maiores do que manifesta uma mãe<br />
terrena por seu filho doente. Ela se compadece<br />
de nossos defeitos, e nos obtém as graças necessárias<br />
para vencê-los, para nos curar. A voz nos<br />
some na laringe, e nossos olhos perdem todas as<br />
outras coisas de vista, ao pensarmos n’Aquela<br />
que é nossa vida, doçura e esperança...<br />
(Extraído de conferência em 30/7/1994)