Reportagem - TCC atualizado DIA 29_KALINE
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Refazendo a vida: Relatos de pessoas que superaram a<br />
dependência química<br />
O uso contínuo de drogas legais e ilegais se tornou, há tempos, um grande<br />
problema para a sociedade brasileira, e a procura por tratamentos para os dependentes<br />
químicos se faz cada vez mais comum. A fundação ZOE Feminina foi fundada no dia<br />
20 de janeiro de 2014, hoje é especializada no tratamento de dependentes químicos na<br />
Cidade de Santa Rita. Desde a sua inauguração, cerca de cem mulheres passaram pelo<br />
tratamento, algumas obtiveram êxito, outras não. A fundação tem capacidade para<br />
comportar dez mulheres, e, atualmente, acolhe quatro em seus aposentos.<br />
O pastor e psicólogo Daniel Barbosa dá detalhes de como tudo começou:<br />
– Tínhamos a iniciativa de, nas madrugadas aqui da cidade, visitar os moradores<br />
de rua, levando comida e algumas vestes. Aconteceu que, numa dessas visitas, a gente<br />
terminou sendo interpelado por um dos moradores de rua em relação a nossa ação,<br />
dizendo: “vocês vêm aqui e é muito bom, traz comida (sic), vocês nos dão cobertor, só<br />
que termina e uma hora depois, vocês voltam para casa de vocês, e a gente continua<br />
aqui, a nossa realidade não sai, e nosso consolo é a bebida, é a droga”.<br />
Sem nenhuma pretensão, o pastor decidiu fazer algo a mais: alugou uma pequena<br />
casa para acomodar todos que ali chegavam ao ponto de esgotar e preencher todos os<br />
cômodos, gerando desconforto e tumulto entre os internos, e por falta de recursos e<br />
conhecimentos, a pequena casa acolhedora precisava de algumas mudanças. “Foi<br />
quando a gente parou e pensou: ‘Não, estamos fazendo errado, precisamos procurar um<br />
modelo de como iremos adaptar e como vamos trabalhar com moradores de rua e<br />
dependentes químicos’.<br />
Desde então, o pastor Daniel Barbosa viu a importância de mudar aquela<br />
realidade, e foi em busca de conhecimentos para pôr em prática o seu projeto que estaria<br />
prestes a ser realizado. – Fui até a cidade de Lagoa de Roça, analisar a instituição<br />
Homens de Cristo, que existe há mais de trinta anos. O diretor e pastor Francisco,<br />
fundador da instituição, me mostrou o modelo base para eu adaptar na Fundação ZOE.<br />
Após adquirir conhecimentos e sentir um preparo de tudo o que aprendeu, tomou logo a<br />
iniciativa de mudar e ampliar a fundação. “Saímos dessa pequena casa e fomos para<br />
uma um pouco maior, era como um sítio, mas ainda era muito pequena para suprir as<br />
nossas necessidades. Nesse sítio melhoramos algumas coisas, contratamos<br />
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monitoresforam para trabalhar em tempo integral, com plantão de 24h, e determinamos<br />
um limite de leitos.” Completou o Pastor Daniel Barbosa.<br />
Assim como a maioria dos dependentes químicos, para Jaidete Justino não foi<br />
diferente. Atualmente interna na fundação ZOE, o primeiro contato com o álcool foi na<br />
fase da juventude, quando a vontade falou mais alto que a razão.<br />
Alcoólatra,JaideteJustino, de 43 anos, conta parte de sua história de vida, e as várias<br />
recaídas que teve ao longo de alguns anos. –Meu vício é o álcool, eu bebia quando eu<br />
era bem mais nova, não chegava a ser em grande quantidade. Passei vinte anos sem<br />
consumir o álcool. De três a quatro anos para cá, houve um problema familiar muito<br />
sério, me separei do meu companheiro que era também viciado. Foi um casamento de<br />
17 anos. Também tive um problema com a minha sobrinha, ela foi presa, mexeu muito<br />
com minha estrutura. Eu não suportei por que a criei como uma filha. A partir daí, foi a<br />
porta para eu ir ao fundo, como eu sempre digo: Cheguei ao último degrau. O meu<br />
consolo para todos os problemas, era o álcool em especial a cana.<br />
As internas da Fundação ZOE Feminina, chamadas de alunas, recebem o<br />
tratamento por nove meses, nos três primeiros meses, elas ficam na Fundação sem<br />
receber visitas de familiares e amigos, que é o período de desintoxicação, o período da<br />
abstinência do uso de devidas drogas. Jaidete foi internada contra a sua própria vontade<br />
no CAPS (Centro de Apoio Psicossocial) e Clinica Juliano Moreira, ambos na cidade de<br />
João Pessoa. Ela conta que passou dois anos interna no CAPS, e relata como era feito o<br />
tratamento: “No CAPS é redução de danos, lá eles trabalham com bastantes<br />
medicamentos e meu tratamento foi à base de Cicotropsico (remédio controlado), e no<br />
Juliano Moreira o tratamento é de apenas 15 dias, um tratamento rápido, para o<br />
deslocamento até outra clinica.<br />
Nenhum desses tratamentos houve resultado positivo para Jaidete, chegou contra<br />
sua vontade pela primeira vez na fundação ZOE feminina no final do ano de 2015, onde<br />
ficou em tratamento por nove meses, conseguindo então uma boa recuperação - Fiquei o<br />
tempo máximo aqui, sai limpa e me considerava curada, logo em seguida fui cuidar de<br />
minha mãe que é enferma, e sou formada em Tec. De Enfermagem, durante um mês<br />
fiquei 24 horas no hospital acompanhando ela, quando voltei para casa me rendi ao<br />
álcool por dias seguidos – Completa Jaidete.<br />
Períodos intercalados de momentos sóbrios e do uso em excesso do álcool, quase<br />
levaram Jaidete a morte, o uso extremo do álcool dias seguidos fizeram com que ela<br />
ficasse apagada por horas sem realçar nenhum movimento, foi quando pela segunda vez<br />
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por decisão própria ela decidiu voltar a Fundação ZOE feminina. “Voltei para fundação<br />
ZOE com muita vergonha, ao ponto de esconder o meu rosto das pessoas que me<br />
ajudaram, pois lutaram comigo durante 9 meses, na certeza de que eu não voltaria a<br />
beber”.<br />
A droga lícita ou ilícita, no primeiro momento é uma escolha, o primeiro trago, o<br />
primeiro copo, o primeiro fileto que se cheira, a primeira pedra que consome, é uma<br />
escolha inconseqüente e impensada, mas é uma escolha, depois desse primeiro<br />
momento a droga ela torna-se uma necessidade, a pessoa passa agora a necessitar –<br />
Relata o Pastor e Psicólogo Daniel.<br />
Uma pesquisa publicada pela Revista Radis, mostra um aumento no numero de<br />
mulheres no uso de álcool, de 36% para 49% das bebedoras — salto de 36%. A hipótese<br />
da pesquisadora para explicar o crescimento do consumo frequente e nocivo por elas é a<br />
expansão do mercado de bebidas voltadas para o público feminino, entre elas a vodka.<br />
“Acredito que tenha muito a ver com as campanhas publicitárias da indústria destinadas<br />
ao sexo feminino”, - relaciona Clarice.<br />
Restabelecer o controle emocional, é o primeiro passo para quem busca a cura,<br />
neste sentido, Joseane Ferreira desempenha um papel importante na fundação, atuando<br />
como monitora na casa a três anos. ‘‘O trabalho que eu faço com elas, é<br />
acompanhamento das atividades, que algumas acontecem uma vez por semana, tratar<br />
assuntos que não são comentados em grupos, são assuntos particulares, momentos da<br />
vida, momentos difíceis, busco sempre ser mais que uma monitora, busco sempre ser<br />
uma amiga.”<br />
A Fundação ZOE Feminina, possui uma área aberta para plantação e criação de<br />
animais como: Vaca, Galinha, Bezerra, Cachorro, Pato, Ganso, Pavão e Tartaruga. Das<br />
plantações são retirados alimentos para as alunas, o cuidado do jardim e alguns animais<br />
ficam ao cuidado delas, o galinheiro produz os ovos, sendo feita a renovação e então vai<br />
sendo feito esse processo diariamente. A Fundação ZOE Feminina oferece o um<br />
trabalho de laborterapia, uma terapia ocupacional, atividades como manutenção da casa<br />
para ocupação de tempo, uma vez na semana é realizada a aula de letramento básico de<br />
português e matemática, um estudante de veterinária cuida dos animais, um professor de<br />
informática, e uma visita da nutricionista uma vez por mês, para o acompanhamento dos<br />
alimentos de cada uma, tudo isso é feito de forma voluntária onde as monitoras<br />
estabelecem para elas, um quadro com a rotina de cada uma – Completa o Pastor<br />
Daniel.<br />
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“Hoje, para mim, as drogas ilícitas são a maior fonte de destruição da família, pois<br />
não afeta só o usuário, mas também os seus familiares”. A frase é do Jovem Leandro<br />
Kleber, de 33 anos, nascido na cidade de Esperança, no interior da Paraíba, onde passou<br />
uma boa parte de sua infância.<br />
Após os nove anos de idade, Leandro e sua família decidiram morar em João<br />
Pessoa. A decisão foi tomada devido ao trabalho de seu pai em João Pessoa,que<br />
permitia que ele encontrasse a família somente a cada quinze dias. Residiu por um ano<br />
no bairro da Mangabeira, e, após, foi morar no bairro São José, onde viveu a maior parte<br />
de sua vida. Após essa mudança, o seu pai se separa de sua mãe, e, de acordo com<br />
Leandro, a partir dessa separação a sua casa se desestruturou por completo – Meu pai<br />
deixou a minha mãe e foi para o Rio de Janeiro, com isso, eu e os meus dois irmãos<br />
começamos a passar por necessidades.Por muitas vezes eu via a minha mãe chorando<br />
porque não tínhamos o que comer, éramos crianças e não podíamos trabalhar, a idade<br />
não nos permitia.<br />
Com a crise familiar, Leandro conta que fez novas amizades, se familiarizou com<br />
o bairro e, aos 13 anos de idade,conheceu o cigarro. Em seguida foi para uma substância<br />
denominada popularmente como loló, (misturas de álcool benzina, clorofórmio, éter e<br />
essência de frutas ou mesmo a diluição de uma bala), e assim conheceu outras drogas,<br />
até o ponto em que a crise financeira dentro da família não era mais o problema<br />
principal.<br />
– Certo dia, eu e uns amigos estávamos procurando o loló para cheirar e não<br />
encontramos, aí me ofereceram maconha: provei e tive uma sensação parecida com a<br />
dololó, gostei e comecei a fumar a maconha. Minha mãe começou a trabalhar e o seu<br />
salário era um prato de comida para dividir entre eu e os meus dois irmãos, conta<br />
Leandro.<br />
Após provar a maconha, Leandro encontrou uma maneira fácil de ganhar<br />
dinheiro: começou a comercializar a erva dentro do bairro.– Depois que comecei a<br />
fumar maconha, surgiu uma facilidade, eu comecei a comprar cinco reais de maconha,<br />
dividia em três Dólar (Pequena porção de maconha vendida nas bocas de fumo,<br />
Também usado no diminutivo Dolinha), de cinco reais e também de dois reais e<br />
vendia. Depois eu vi que o comércio estava aumentando e dentro de pouco tempo eu<br />
comecei a mexer com coisa grande.<br />
Leandro conta que, com o sucesso das vendas da maconha, ele passou a comprar<br />
não apenas os cincos reais, agora era em grande valor, eram quilos de maconha. – Vi<br />
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que o negócio estava muito bom, eu estava ganhando muito bem, então passei a traficar,<br />
pois eu vi a facilidade de ganhar dinheiro, fiz amizades com o pessoal que fazia uso das<br />
drogas e através deles cheguei até o fornecedor, e a partir daí não parei. Tudo o que eu<br />
queria era vender e ganhar muito dinheiro.<br />
Tudo passou de mal a pior, Leandro já não tinha controle sobre si, já tinha poder,<br />
já andava em sua comunidade como líder, conhecido popularmente como o chefe da<br />
boca junto aos seus dois irmãos, que também o acompanharam nesse na vida de crime.<br />
Mas todo esse sucesso não durou muito tempo, as coisas se tornaram cada vez mais<br />
difíceis.<br />
Com lágrimas nos olhos, Leandro conta que perdeu alguém de suma importância<br />
durante o período em que traficava: o seu irmão mais novo foi assassinado a tiros no<br />
ano de 2008, e isso resultou em sua queda. Embora o tráfico lhe proporcionasse muito<br />
dinheiro, ele foi obrigado a largar tudo, pois o homem que matou o seu irmão morava<br />
na comunidade e, para o atraí-lo para a morte, Leandro decidiu sair da comunidade, na<br />
esperança de retornar e vingar a morte do irmão: – De uma hora para outra a minha vida<br />
virou de cabeça para baixo. A minha mãe já não aguentava mais, ela presenciou tudo,<br />
ela via os policiais revirando toda a casa, e com a morte do meu irmão,tudo complicou.<br />
A minha mãe decidiu ir embora, deixando eu e o meu outro irmão. Tive que sair do<br />
bairro porque eu planejava voltar para acertar as contas com o cara que matou o meu<br />
irmão. Mas as coisas não aconteceram da maneira que planejei.<br />
Arrependido, Leandro diz que se soubesse que a sua vida se tornaria mais difícil,<br />
teria tomado outro rumo. Hoje, cristão protestante, ele acredita que uma força do mal<br />
tivera o levado a chegar a tal ponto: – Eu fui até o ponto em que o diabo permitiu que eu<br />
fosse, chegou uma hora que o diabo me disse que cobraria tudo o que me deu. Costumo<br />
dizer,quando converso com as pessoas, que se o diabo tivesse me dito antes o que ele<br />
faria na minha vida, e tivesse me dito o preço que ele cobraria por aquilo queele<br />
colocasse em minha mão, digo com toda a certeza, eu teria pensado antes de entrar de<br />
cabeça nessa vida. Ele poderia ter me dito que eu passaria por tudo isso, que eu perderia<br />
o meu irmão e que a minha mãe iria embora, mas não, ele simplesmente me deu tudo e<br />
cobrou dessa forma – relatou Leandro.<br />
No mesmo ano da morte do seu irmão, Leandro decidiu voltar a residir no bairro<br />
de Mangabeira.Por lá passou poucos dias, pois aguardava o seu irmão sair do sistema<br />
penitenciário para retornar à cidade onde nascera, Esperança. – Passei um tempo em<br />
Mangabeira, mas quando o meu irmão saiu, fui para Esperança, mas não demorei muito<br />
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por lá porque a minha família não aguentava eu e o meu irmão, fazíamos coisas erradas<br />
e dávamos muitos prejuízos a minha família. Considerados as ovelhas negras da família,<br />
foram abandonados por seus familiares.<br />
Em setembro de 2009, Leandro e seu irmão voltam a João Pessoa, desta vez, para<br />
morar no bairro José Américo por três meses, até o momento que conheceu um rapaz<br />
que lhe ofereceu uma casa na cidade de Santa Rita, no bairro Tibiri II, mas, para poder<br />
comprar a casa, sua mãe vendeu a sua velha casa do bairro São José. – A minha mãe<br />
veio, vendeu a casa onde morávamos e comprou uma aqui em Tibiri II. A casa era<br />
pequena e bem humilde, mas a minha mãe gostou e decidiu nos trazer para cá. A<br />
mudança foi feita às 23h da noite. Uns familiares nos trouxeram de carro, mas fizeram<br />
que nem fazem com um cachorro que não querem mais, levam até um deserto, abre a<br />
porta, joga-o, fecha a porta e vai embora.<br />
Leandro conta que todo esse desprezo da família piorava muito a situação, pois a<br />
cada dia criava dentro de si uma revolta e não via melhora em sua vida. – A situação só<br />
piorava, era muito triste as condições em que eu e meu irmão vivia, a família nos<br />
desprezava, não nos apoiava. Não tínhamos ninguém que olhasse para nós e dissesse ao<br />
menos uma palavra de apoio ou de esperança. Alguém que ao menos dissesse “Eu sei<br />
que vocês erraram, mas estamos aqui.” Mas era o contrário, o que recebíamos eram<br />
críticas e humilhações, reflete o jovem.<br />
Durante a entrevista, Leandro relata o tempo perdido em sua adolescência, e que<br />
só conseguiu estudar até o sexto ano do Ensino Fundamental, e ainda pontua que o<br />
motivo de desistir dos estudos foi devido ao uso das drogas.<br />
Em sua nova residência, Leandro conta que recebia visitas de membros de uma<br />
igreja evangélica, que faziam grupos familiares na rua em que morava. Recebeu muitos<br />
convites para participar dos grupos, mas as drogas ainda eram a sua preferência. –<br />
Estava (sic) eu e meu irmão sentado na porta de casa fumando maconha, quando eles<br />
chegavam para nos convidar, a gente apagava o cigarro em respeito aos irmãos. Eles<br />
convidavam, mas eu não queria ir. Tinha um irmão da igreja que morava em frente a<br />
minha casa, ele vinha falar comigo, me entregar umas literaturas se tremendo de medo,<br />
eu recebia-o bem. Lembro-me que ele me convidou para ir para a igreja, aí eu disse que<br />
no dia em que eu fosse eu não sairia dela, mas só iria se Deus tocasse em meu coração,<br />
essas eram as minhas palavras.<br />
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Passadosdois anos, Leandro decide participar do grupo familiar que acontecia na<br />
rua em que morava. Diz Leandroter ouvido Deus falar com ele, mas sentia que ainda<br />
não estava preparado para ser como um daqueles irmãos que o convidara:<br />
– Fui ao grupo familiar, Deus falou comigo, mas eu não queria aceitar a Jesus<br />
naquele momento, eu não estava pronto para ser um cristão. Deus usou um irmão para<br />
mim, eu estava dentro de casa quando escutava o culto, o irmão dizia: “você que está<br />
dentro da sua casa assistindo televisão, pensado em jogar vídeo game, venha aqui que<br />
Deus quer falar com você”. E eu estava realmente assistindo televisão etava (sic)<br />
pensando jogar vídeo game. Me levantei, vesti a camisa e procurei o lugar mais escuro<br />
da rua para não ser notado, mas um irmão veio até a minha direção, me cumprimentou e<br />
disse:“Deus me mandou falar com você, o que é que você está esperando? Já te dei<br />
muitos livramentos. Quero muito mudar a sua vida. Mas o que é que você está<br />
esperando?” Baixei a cabeça e na mesma hora me veio um filme de tudo o que passei,<br />
de todos os livramentos que Deus me deu, escapei de morrer inúmeras vezes. Certa vez,<br />
fui preso com umas armas, o policial tentou me matar, mas o revolver não disparou. Era<br />
um revólver de calibre 45, de uso exclusivo da Marinha.Ele apertou seis vezes o gatilho,<br />
as balas tecou tudo e não saíram nem uma (sic).<br />
Leandro ouviu as palavras, recebeu a literaturado irmão da igreja e recusou mais<br />
uma vez o convite para se converter. As palavras martelavam em sua cabeça ao mesmo<br />
tempo em que ele se arrependia por não aceitar o convite.– Eu tinha toda a certeza que<br />
aquele convite do irmão era a última oportunidade que Deus estava me dando. Eu já<br />
tinha passado por situações aqui mesmo. Mesmo assim eu fui para casa com a mente<br />
pesada, eu dizia para mim mesmo que eu deveria ter aceitado a Jesus. Não consegui<br />
dormir naquela noite, relata.<br />
–No dia seguinte eu acordei decidido, olhei para o meu irmão e a minha mãe, que já<br />
tinha voltado a morar com a gente, e falei que no domingo eu iria à igreja para entregar<br />
a minha vida a Jesus. Olharam-me espantados. Meu irmão, espantado, me incentivouir,<br />
e até citou um versículo bíblico: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo tu e a tua casa”.<br />
Provavelmente ele deveria ter escutado esse versículo no presídio, onde passou um<br />
tempo, mas fui decidido.<br />
Hoje Leandro vive com a sua família na sua casa própria, construída por ele<br />
mesmo. Atualmente, mora com a sua mãe e sua esposa, que espera um bebê para<br />
completar a alegria da família.<br />
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– Hoje tenho uma profissão. Tenho uma casa, que eu não tinha uma para morar.<br />
Hoje tenho uma esposa, hoje eu sou casado. A vida em que eu vivia, ah, eu vivia o<br />
incerto, eu não sabia se amanhã ia viver mesmo. Hoje a gente traça planos. Não sinto<br />
abstinência. Sinto as consequências das drogas, por fumar muito, ela atingiu o meu<br />
sistema nervoso. Mas hoje me sinto realizado, a minha esposa está grávida de quatro<br />
meses. Está previsto para a chegada do Yan (Deus é cheio de graça) em abril de 2017,<br />
relata.<br />
Como é de conhecimento comum, o uso das drogas causa no usuário uma<br />
dependência, um transtorno,o que acaba acarretando um problema familiar. É possível a<br />
reabilitação do usuário quando o mesmo se propõe ao tratamento. Esses casos não são<br />
comuns, em sua maioria, os usuários sofrem preconceitos pela sociedade no modo geral<br />
e essa rejeição pode causar revolta.<br />
Também seja possível a reabilitação quando a família se atenta ao problema e<br />
decide buscar alternativas, porém, há mais eficácia quando o usuário decide se tratar. –<br />
As pessoas que tem a compulsão são complicadas para procura o tratamento. Podemos<br />
dar exemplos os casos de pessoas que têm vícios por compras, que são compulsões,<br />
também são complicadas para procurarem o tratamento, estamos falando sobre algo<br />
comportamental. Agora imagina em relação ao vício e a droga que tem um fator<br />
neuroquímico também, imagine como isso é complicado. Imagine também a<br />
complicação que tem o sujeito de ir a procurar um tratamento em virtude dos<br />
preconceitos, em virtude da exclusão em que a sociedade faz sobre esses sujeitos que<br />
fazem uso de drogas.<br />
A sociedade acabou criminalizando isso, é como se há certa intencionalidade<br />
nesse uso, como se fosse meramente, algo psicológico. Então há casos em que a família<br />
procura e há casos em que o próprio paciente procura. Eu penso que seria ideal se o<br />
paciente pudesse procurar pelo tratamento. Seria ideal se o paciente fosse positivo a essa<br />
busca, ou a esse encontro, porque aí esse tratamento seria muito mais rápido. Mas no<br />
caso em que as famílias procuram, é preciso que a gente acolha a essa família.<br />
Comentado [KMSV1]: A fala do psicólogo só vai caber aqui<br />
mesmo. Entrecorte esses trechos com a fala dele fazendo uso dos<br />
travessões. Desdobre a fala dele o máximo possível, para que essa<br />
conclusão atue como jornalismo de serviço. Há momentos na fala<br />
dele que ele diz como identificar o vício: quando algo toma conta<br />
da nossa rotina, muda a vida, isso é interessante. É legal<br />
caracterizar, dizer que pode ser diferente de uma pessoa para<br />
outra.<br />
Você pode ir elencando os pontos tratados por ele, fazendo uma<br />
divisão temática: preconceito, importância da família, dependência<br />
química, quando o corpo pede a droga etc.<br />
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