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em perfeita harmonia […], o fascínio pela natureza (nunes et al. apud<br />
tavares, 1996, p. 27).<br />
Maria da Conceição Neves Tavares (1996), outra estudiosa da obra de<br />
Horácio Hora, afirma ainda que é possível perceber nas obras do pintor o<br />
equilíbrio central dos temas retratados, porque os elementos apresentados<br />
se agrupam em torno de um ponto em comum. Em Pery e Cecy, a luminosidade<br />
é perceptível em dois focos: no luar que chega a Ceci e no clarão do<br />
incêndio que alcança Peri. O uso de cores faz Balthazar Góes (1901, p. 51)<br />
confirmar que Horácio Hora é “um mestre consumado da teoria da degradação<br />
das cores. […] Nos pontos mesmos em que a imagem é monocroma,<br />
o nosso artista sabe subordinar a coloração a harmonia”.<br />
No que se refere à ekphrasis, mesmo relacionada à prosa de ficção,<br />
como ocorre nesse caso, diante da obra de José de Alencar, O Guarani,<br />
ocorre uma liberação do impulso narrativo da imagem, fenômeno que<br />
Álvaro Cardoso Gomes (2014, p. 127) ressalta, afirmando que “não se<br />
deve entender a palavra ‘narrativa’ de uma perspectiva prosaica. Narrativo,<br />
nesse caso, dignifica [sic] apenas que a ekphrasis dá movimento<br />
a figuras estáticas”. É possível inferir, portanto, que a pintura também<br />
pode ser ecfrástica de primeiro grau, se imita a realidade, ou de segundo<br />
grau, se já utiliza outro meio de representação, como acontece nessa<br />
obra de Horácio Hora.<br />
Para confirmar tal evento, é possível perceber ainda uma passagem<br />
anterior de O Guarani, em que se observa um diálogo com a mesma pintura<br />
de Horácio Hora. Trata-se do quarto capítulo do romance, denominado<br />
“A caçada”, no qual se encontra a primeira descrição de Peri, tal<br />
como se vê no quadro.<br />
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Em pé, no meio do espaço que formava a grande abóbada de<br />
árvores, encostado a um velho tronco decepado pelo raio, via-se<br />
um índio na flor da idade. Uma simples túnica de algodão, a que<br />
os indígenas chamavam aimará, apertada à cintura por uma faixa<br />
de penas escarlates, caía-lhe dos ombros até ao meio da perna, e<br />
desenhava o talhe delgado e esbelto como um junco selvagem.<br />
Sobre a alvura diáfana do algodão, a sua pele, cor do cobre, brilhava<br />
com reflexos dourados; […] Era de alta estatura; tinha as<br />
mãos delicadas; a perna ágil e nervosa, ornada com uma axorca<br />
de frutos amarelos, apoiava-se sobre um pé pequeno, mas firme<br />
no andar e veloz na corrida. Segurava o arco e as flechas com<br />
a mão direita calda, e com a esquerda mantinha verticalmente<br />
diante de si um longo forcado de pau enegrecido pelo fogo.<br />
(alencar, 1997, p. 28-9)<br />
Particularidades do corpo e da vestimenta, além dos objetos que<br />
porta, em meio a comparações e qualificativos, compõem a imagem do<br />
personagem nesse trecho do romance. Assim sendo, nota-se a ekphrasis<br />
como uma possível “chave de leitura” de textos verbais e visuais,<br />
observando-se a frequente descrição e enumeração de seres e objetos<br />
presentes nas obras.<br />
A metonímia visual é uma figura…<br />
da “Retórica da Imagem”<br />
Diante da obra EraOdito, de Marcelino Freire (2002), elaborada sob direção<br />
gráfica de Silvana Zandomeni, vislumbra-se outra possibilidade de leitura<br />
que vincula texto verbal e texto visual: as figuras da retórica clássica.<br />
Os estudos semiológicos de Roland Barthes (1990) são os primeiros<br />
a desenvolver essa premissa, isto é, a utilizar as figuras da retórica clássica<br />
para a leitura da imagem. O teórico afirma, a partir da análise de<br />
uma propaganda publicitária, que existem três mensagens na produção<br />
do anúncio das massas Panzani: a “mensagem linguística”, levando-se<br />
em conta elementos verbais presentes na propaganda; a “mensagem denotada”,<br />
referindo-se à mensagem literal; e a “mensagem conotada”, explicando<br />
os elementos simbólicos e culturais.<br />
Para nomear os significados de conotação da terceira mensagem, portanto,<br />
é que Barthes propõe o uso das figuras de retórica para a leitura da<br />
imagem. Entendê-las, porém, implica um saber quase antropológico, como<br />
defende o semiólogo. Na propaganda das massas Panzani, por exemplo, ele<br />
evidencia que é necessário conhecer a relação cultural que existe entre os<br />
alimentos que compõem a fotografia (tomate, pimentão, cebola…) e o país<br />
em questão, significando assim, por metonímia, a italianidade.<br />
A metonímia, foco também desta análise especificamente, pertence à<br />
família das metáboles, pois substitui um significante por outro diferente.<br />
Conforme afirma José Luiz Fiorin (2011), os dois sentidos desses significantes<br />
apresentam uma contiguidade, ou seja, uma relação de compatibilidade,<br />
de proximidade. Vale ressaltar que existem diferentes tipos de<br />
troca, mas no que diz respeito a esta breve análise, prioriza-se a troca do<br />
todo pela parte, conhecida como sinédoque.<br />
As investigações de Barthes, assim como as de Jacques Durand (1974),<br />
outro estudioso francês, levam em conta as propagandas publicitárias<br />
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