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Artigo Jornal Expresso

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Atlântico <strong>Expresso</strong><br />

Fundado por Victor Cruz - Director: Américo Natalino de Viveiros - Director-Adjunto: Santos Narciso 16 de Janeiro de 2017- Ano: XXXII - N.º 1594- Preço: 0,90 Euro - Semanário<br />

Nota de Abertura<br />

Respostas<br />

que tardam!<br />

A iminente inauguração do Casino no Azor Hotel veio<br />

trazer à baila, de novo, o incumprimento na concretização<br />

das obras de demolição e devolução ao púbico de parte das<br />

inacabadas galerias da Calheta e conclusão dos investimentos<br />

privados previstos para as zonas que se vão manter.<br />

Recentes declarações vindas a público, segundo as quais<br />

o Fundo Discovery aguarda financiamentos para concretizar<br />

aquilo a que se comprometeu, não podem ser aceites sem<br />

um reparo político, porque consubstanciam uma atitude que<br />

não foi manifestada aquando dos compromissos assumidos<br />

no processo judicial que viabilização e transferência das acções<br />

da ASTA, no célebre Memorando de obrigações e sua<br />

calendarização, nem foi dita, no dia 1 de Junho de 2016,<br />

em plena pré-campanha para as eleições regionais, quando<br />

Sérgio Ávila deu o assunto como resolvido e apresentou o<br />

esboço de como irá ficar a zona após as obras.<br />

Se é uma questão de financiamento, por que motivo<br />

houve tanta pressa em fazer o anúncio, dando como iminente<br />

o início das obras?<br />

Neste mesmo espaço, no dia 6 de Junho do ano passado,<br />

escrevíamos que apesar do anúncio feito, este não era<br />

o fim de um processo, mas o início de uma nova etapa. E<br />

estranhávamos a ausência de datas, em todas as comunicações<br />

que foram feitas. E no dia 5 de Dezembro de 2016,<br />

também aqui, em Nota de Abertura, escrevíamos o seguinte:<br />

“Tememos que, ao chegar a mais um ano de campanha<br />

eleitoral, desta vez para as “Autárquicas”, haja um novo<br />

aproveitamento político e partidário com este assunto que<br />

vai penalizar Bolieiro, caso se recandidate, e vai ser bandeira,<br />

com mais um anúncio bombástico, por parte do novo<br />

candidato socialista que se prepara”.<br />

De facto, este é um assunto muito sério para ser tratado<br />

da forma como tem sido. E, repetimos, porque é importante<br />

fazê-lo: não pode ser tratado como um assunto do domínio<br />

público quando é para fazer anúncios de soluções, e do domínio<br />

privado quando as coisas correm mal.<br />

Há que pensar, para além dos prejuízos já causados a<br />

toda a zona da Calheta e da cidade, em termos de património,<br />

de aspecto ambiental e de reflexos empresariais,<br />

naquilo que significa todo este impasse e incumprimento<br />

para com as empresas que apostaram em instalar-se naquele<br />

espaço e que lá investiram e agora se vêem a caminhar de<br />

incerteza em incerteza até ao falhanço total. E há que pensar,<br />

em termos de cidadania, nas promessas dos políticos<br />

que acabam por nunca se concretizar, como se todo este<br />

processo fosse uma prova de que as decisões e despachos,<br />

mesmo com cunho judicial, não são para cumprir e podem<br />

ser cobertas com manto de justificações, o que não acontece<br />

com todos por igual.<br />

Por isso mesmo, e como num caso destes há o dever de<br />

informar e o direito de ser informado, é grande a expectativa<br />

em torno da sessão de esclarecimento que vai ser promovida<br />

pela Junta de Freguesia de São Pedro de Ponta Delgada,<br />

no próximo dia 24 deste mês, pelas 19 horas, e para a qual a<br />

autarquia convidou a Vice-Presidência do Governo Regional,<br />

a Câmara de Ponta Delgada, a Administração do Fundo<br />

Discovery, em Ponta Delgada, representantes do Movimento<br />

Queremos a Calheta de Volta e o público em geral.<br />

Estamos convencidos que todos os intervenientes serão<br />

capazes de estar presentes para esclarecer com verdade o<br />

que se está a passar.<br />

Mais do que olhar para o passado num processo que envergonha,<br />

é hora de dar respostas e tomar compromissos<br />

que não sejam mais do mesmo. Vamos a caminho de 15<br />

anos de um processo que não pode continuar.<br />

Nem a Calheta, nem os Açores merecem isto!<br />

Santos Narciso<br />

Em plena baixa lisboeta<br />

Carne açoriana é mais valia à mesa<br />

d’ A Burgueria Regional<br />

São Miguel vai receber especialistas internacionais<br />

para debater importância do turismo<br />

para os jardins no mundo<br />

Investigadora Isabel Albergaria<br />

Professor no Conservatório<br />

Rafael Carvalho desiste<br />

de gestão de empresas para<br />

leccionar viola da terra<br />

págs. 8 e 9<br />

Na actual conjuntura, “em que o turismo de<br />

jardins conhece um crescimento e uma popularidade<br />

sem precedentes, a nível mundial”, a investigadora<br />

da Universidade dos Açores, Isabel<br />

Albergaria considera que “o que devemos procurar<br />

é relançar os jardins históricos como valioso<br />

Empresária Joana Borges Coutinho<br />

pág. 5<br />

património cultural da Região, convertendo-os<br />

num produto turístico. Além da sua protecção,<br />

reabilitação e valorização, fundamental do ponto<br />

de vista patrimonial, essa operação permitirá diversificar,<br />

qualificar e enriquecer a oferta turística<br />

do destino Açores”.<br />

págs. 2 e 3<br />

O projecto de turismo sustentável que dirige<br />

foi seleccionado para programa nacional<br />

Connect to Sucess da FLAD e IBM<br />

Chama-se ‘Connect to<br />

Sucess’ e é um programa<br />

que consiste em proporcionar<br />

a mulheres empresárias<br />

uma relação de proximidade<br />

com empresas de renome,<br />

que colocam ao dispor destas<br />

uma equipa de profissionais<br />

para ajudar a acelerar os<br />

seus projectos. Durante um<br />

ano, as empresárias passam<br />

a ter a oportunidade de se<br />

focar nas áreas de negócio<br />

em que mais precisam de<br />

avançar.<br />

págs. 12 e 13


Atlântico <strong>Expresso</strong><br />

2 Reportagem<br />

Segunda-feira, 16 de Janeiro de 2017<br />

Encontro decorrerá no Jardim José do Canto e no Terra Nostra e visita às Sete Cidades<br />

Especialistas internacionais reúnem-se dentro<br />

de um mês em São Miguel para debater a importância<br />

do turismo de jardins em Portugal e no Mundo<br />

A conferência “Garden Tourism in Portugal and Around the World”<br />

realizar-se-á em São Miguel de 24 a 26 de Fevereiro.<br />

O evento pretende reflectir sobre o lugar e o<br />

papel dos jardins históricos no âmbito do turismo<br />

cultural, acolhendo um programa que se centra na<br />

pesquisa científica e na exploração de ferramentas<br />

de comunicação e mediação, com vista a melhorar a<br />

experiência de visitação aos jardins; de igual modo,<br />

procurar-se-á problematizar este campo de estudos,<br />

de modo a direccionar o projecto de acordo com<br />

as orientações mais actuais, consolidando as redes<br />

cientificas neste domínio; visa, ainda, perspectivar o<br />

papel que cabe aos poderes públicos, proprietários e<br />

cuidadores desses espaços no sentido da sua preservação,<br />

reabilitação e valorização.<br />

Os Temas chave que serão debatidos serão: Os<br />

jardins no âmbito do Turismo Cultura; a pesquisa<br />

científica sobre a conservação e sustentabilidade<br />

ambiental dos jardins; objectivos e planos de apoio<br />

definidas pelos organismos da UNESCO relativamente<br />

aos jardins históricos; Turismo como meio<br />

de viabilizar a conservação dos jardins e paisagens<br />

culturais; conservação e protecção dos jardins versus<br />

exploração turística; gestão e plano de marketing<br />

turístico dos jardins; relacionamento entre a comunidade<br />

científica e outros intervenientes, sendo estes<br />

proprietários/cuidadores, agentes turísticos e o público;<br />

representações da identidade local através do<br />

turismo de jardim; relação entre turismo sustentável<br />

e desenvolvimento local.<br />

No dia 24 de Fevereiro a conferência terá lugar<br />

na Sala do Palácio, no Jardim José do Canto em<br />

Ponta Delgada, no dia 25 de Fevereiro, na Casa do<br />

Parque do Parque Terra Nostra, nas Furnas e no dia<br />

26 de Fevereiro decorrerá uma visita às Sete Cidades.<br />

Serão oradores: Cristina Castel Branco é Professora<br />

de «História da Arte de Jardins» da licenciatura<br />

em Arquitectura Paisagista do Instituto Superior de<br />

Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa desde<br />

1989; é mestre em arquitectura paisagista pela Universidade<br />

de Massachusetts (EUA) e doutorada em<br />

Arquitectura Paisagista, na especialidade de História<br />

de Arte de Jardins pelo ISA, Universidade Técnica<br />

de Lisboa. Desde 1991 desenvolve atividade projectista<br />

no âmbito da ACB-Ltd, especializando-se no<br />

uso de um desenho contemporâneo aplicado a soluções<br />

sustentáveis para o património histórico. É<br />

membro do ICOMOS-UNESCO para o Comité internacional<br />

das Paisagens Culturais. Recentemente<br />

foi condecorada com a Ordre des Arts et des Lettres<br />

pelo ministro francês da Cultura e Comunicação;<br />

David Jacques é historiador de jardins e conservador,<br />

consultor, conferencista e autor de numerosas<br />

publicações sobre paisagens históricas, parques e<br />

jardins. Foi o primeiro Inspector dos Parques Históricos<br />

e Jardins do English Heritage, de 1987 a 1993.<br />

Em 1993 tornou-se director dos Parques e Jardins do<br />

Reino Unido, tendo desenvolvido a base de dados<br />

online que precedeu a Parks & Gardens UK; Didier<br />

Wirth é o Presidente do Institut Européen des Jardins<br />

& Paysages de France; Eduarda Maria de Oliveira<br />

Paz é bióloga (licenciada pela Universidade<br />

de Coimbra), e mestre em Conservação de Jardins<br />

e Paisagens Culturais pela Universidade de York<br />

(RU); é ainda investigadora do Centro de Ecologia<br />

Funcional da Universidade de Coimbra. Em 2010<br />

fundou a «Caminhos do Ocidente Lda», uma empresa<br />

envolvida na conservação e promoção do património<br />

cultural e paisagista, especializada na organização<br />

de tours em jardins históricos em Portugal.<br />

É presidente da Associação Portuguesa de Camélias<br />

e co-diretora para Portugal da International Camellia<br />

Society (ICS); Elsa Isidro é arquitecta paisagista, licenciada<br />

em 2009 pelo Instituto Superior de Agronomia<br />

(ISA), Universidade Técnica de Lisboa. É<br />

responsável pela gestão dos valores naturais e culturais<br />

localizados na área da Paisagem Cultural de<br />

Sintra (CLS) e em Queluz, no âmbito da «Parques<br />

de Sintra». Desde a fundação da empresa Parques<br />

de Sintra - Monte da Lua, S.A., em 2000, tem-se<br />

empenhado na gestão desses espaços, envolvendose<br />

no seu restauro, requalificação, revitalização,<br />

conservação, investigação, publicidade e exploração,<br />

abrindo-os à fruição pública e valorizando o seu<br />

valor turístico.<br />

Richard Benfield é professor de Geografia na<br />

Universidade Central de Connecticut, na Nova Inglaterra.<br />

Tem pesquisado sobre turismo de jardins<br />

desde 1997 culminando com a publicação, em 2013,<br />

do seu livro Garden Tourism (CABI Press, Abingdon).<br />

Interessa-se particularmente pelas motivações<br />

dos visitantes de jardins e pela avaliação da experiência<br />

do visitante, bem como pelo papel das redes<br />

sociais na sensibilização e promoção dos jardins,<br />

o que o tem levado a percorrer o mundo, visitando<br />

inúmeros jardins; Marco Martella é historiador de<br />

jardins. É responsável pela promoção do património<br />

verde do Departamento do Alto Sena (France). Tem<br />

diversas publicações sobre jardins franceses e italianos;<br />

é ainda fundador e director da revista «Jardins»<br />

(Éditions du Sandre).<br />

Marta Sousa Pires é Gerente executiva do Grupo<br />

Bensaude Turismo, incluindo a Bensaúde Hoteis e<br />

Agencia de Viagens Açoriana. É licenciada em Gestão<br />

de Empresas pela Universidade Católica Portuguesa;<br />

possui um MBA e estudos Pós-Graduados<br />

em Gestão de Turismo pela ESADE (Barcelona);<br />

Mónica Luengo é historiadora de Arte e Arquiteta<br />

Paisagista. Licenciada em Historia da Arte pela<br />

Universidad Complutense de Madrid e mestre em<br />

Conservação e Restauro do Património Arquitetonico<br />

e Urbano pela Escola Técnica Superior de Arquitectura<br />

de Madrid da Universidad Politécnica. Foi<br />

presidente do Comité Internacional de Jardins Históricos<br />

e Paisagens Culturais ICOMOS-IFLA e directora<br />

do Curso de Mestrado em Património Cultural<br />

e Natural: inovação, pesquisa e desenvolvimento da<br />

Universidad Internacional da Andaluzia (UNIA) e<br />

Raimundo Quintal é doutorado em Geografia Física<br />

pela Universidade de Lisboa. Investigador no Centro<br />

de Estudos Geográficos, Instituto de Geografia e<br />

Ordenamento do Território, Universidade de Lisboa.<br />

Responsável pela elaboração do elenco florístico e<br />

coordenador científico do projeto de requalificação<br />

do Jardim Botânico José do Canto, em Ponta Delgada,<br />

desde 2013. Responsável pela elaboração do<br />

inventário florístico e pela implementação do conceito<br />

de hotel botânico na Quinta da Casa Branca,<br />

no Funchal, 2016.<br />

Ana Coelho


Entrevista<br />

3<br />

Segunda-feira, 16 de Janeiro de 2017<br />

Atlântico <strong>Expresso</strong><br />

Investigadora Isabel Albergaria não tem dúvidas<br />

“Devemos procurar relançar os jardins históricos<br />

como valioso património cultural da Região,<br />

convertendo-os num produto turístico”<br />

Na actual conjuntura, “em que o turismo de jardins conhece um crescimento e uma popularidade sem precedentes, a nível<br />

mundial”, a investigadora da Universidade dos Açores, Isabel Albergaria considera que “o que devemos procurar é relançar<br />

os jardins históricos como valioso património cultural da Região, convertendo-os num produto turístico.<br />

Além da sua protecção, reabilitação e valorização, fundamental do ponto de vista patrimonial, essa operação permitirá<br />

diversificar, qualificar e enriquecer a oferta turística do destino Açores”.<br />

Qual a importância da realização do colóquio<br />

internacional GardenTourism in Portugal<br />

and Around The World?<br />

O colóquio subordinado ao tema do Turismo<br />

de Jardins, que irá decorrer em São Miguel de 24<br />

a 26 de Fevereiro, reúne algumas das personalidades<br />

mais influentes ligadas ao tema a nível internacional<br />

e nacional, permitindo a abordagem de<br />

diversas perspectivas complementares que se colocam<br />

no processo de conservação, recuperação,<br />

avaliação e promoção turística dos jardins históricos.<br />

O evento será promovido pelo Observatório<br />

de Turismo dos Açores em parceria com a Universidade<br />

dos Açores/Fundação Gaspar Frutuoso<br />

e o Centro de Historia d´Aquém e d´Além Mar,<br />

sendo uma iniciativa enquadrada no âmbito do<br />

projeto financiado pelo PO AÇORES 2020 “Green<br />

Gardens - Azores”, o qual tenho o prazer de<br />

coordenar. É muito importante conhecer os casos<br />

de sucesso na gestão e promoção dos jardins como<br />

recurso cultural e consolidar redes técnico-científicas<br />

e comerciais internacionais que nos permitirão<br />

dar passos seguros no sentido da afirmação<br />

do destino Açores, particularmente neste nicho de<br />

mercado do Turismo Cultural e Criativo.<br />

Aproveito para anunciar que estão abertas inscrições<br />

a todos os interessados, podendo-se fazêlo<br />

através do site do OTA: http://www.otacores.<br />

com/greenga.<br />

Em sua opinião, qual a importância do turismo<br />

de jardins para S. Miguel?<br />

O turismo de jardins em S. Miguel não é novo.<br />

Na história do turismo regional deve salientar-se a<br />

notoriedade granjeada pelos jardins de Ponta Delgada<br />

desde o século XIX, fundamental na criação<br />

do primeiro cartaz turístico da ilha, como bem<br />

prova o Guia do Viajante da Ilha de S. Miguel,<br />

escrito por Félix Sotto-Mayor em 1898. Hoje<br />

estamos bem longe da modalidade praticada então,<br />

em que a visita aos jardins dependia da cortesia<br />

dos proprietários privados que franqueavam<br />

as portas dos seus preciosos tesouros aos estrangeiros<br />

e nacionais recém-chegados a São Miguel.<br />

Na actual conjuntura em que o turismo de jardins<br />

conhece um crescimento e uma popularidade sem<br />

precedentes, a nível mundial, o que devemos procurar<br />

é relançar os jardins históricos como valioso<br />

património cultural da Região, convertendo-os<br />

num produto turístico. Além da sua protecção,<br />

reabilitação e valorização, fundamental do ponto<br />

de vista patrimonial, essa operação permitirá diversificar,<br />

qualificar e enriquecer a oferta turística<br />

do destino Açores.<br />

Os proprietários privados/entidades responsáveis<br />

regionais estão despertos para a<br />

importância do desenvolvimento deste tipo de<br />

turismo para a nossa região?<br />

Para responder directamente a esta questão<br />

diria que sim e não. Sente-se efetivamente que<br />

há um caminho percorrido nas últimas décadas<br />

tanto por parte dos proprietários como pelas entidades<br />

governamentais e do público em geral no<br />

sentido do reconhecimento dos jardins históricos.<br />

Pessoalmente, empenhei-me há já muitos anos<br />

por esse reconhecimento e sinto-me feliz por ver<br />

que o ponto onde nos encontramos hoje é bem diferente<br />

do panorama vivido há 20 anos. Os mais<br />

emblemáticos jardins de S. Miguel têm sido alvo<br />

de intervenções de restauro e reabilitação por<br />

equipas profissionais, classificação patrimonial e<br />

acções de promoção e divulgação, encontrandose<br />

hoje um bom numero que está aberto a visitas<br />

públicas. Por outro lado, haveria muito mais a fazer<br />

neste domínio. Para entrar no mercado global<br />

do turismo de jardins, é necessário investir, investigar<br />

e intervir de forma consertada e apoiada.<br />

Tanto do lado dos apoios governamentais como<br />

do lado do espirito associativo dos proprietários<br />

é necessário ir mais além e considerar que o turismo<br />

de jardins só se constrói se existir o que em<br />

dinâmica social se designa por massa critica. Todos<br />

sabemos que o Parque Terra Nostra tem um<br />

lugar assegurado no pódio dos jardins dos Açores<br />

e estará previsivelmente sempre entre os lugares<br />

mais visitados da ilha de S. Miguel, mas isso não<br />

significa que possa construir sozinho um destino<br />

de turismo de jardins nos Açores.<br />

Uma visita que realizei há uns meses a um<br />

dos mais prestigiados certames da horticultura<br />

europeia, em França - a Journée des Plantes –<br />

permitiu-me constatar como o tema do turismo<br />

de jardins é tomado a sério pelos departamentos<br />

regionais e nacionais que tutelam a cultura, o<br />

ambiente e o turismo. Noutros pontos da Europa,<br />

como ouviremos falar durante o coloquio que se<br />

avizinha, equipas de entidades públicas e privadas<br />

trabalham em prol da manutenção e divulgação<br />

deste património verde, que integra um importante<br />

segmento da cultura europeia. Em Portugal,<br />

e especialmente nos Açores, é necessário rever,<br />

a montante e a jusante, tanto a adequação da legislação<br />

e medidas protetoras a estes “imóveis<br />

de interesse publico” com características peculiares<br />

por se tratarem de estruturas vivas, como<br />

a criação de redes de apoio técnico e científico,<br />

e sistemas de incentivo, fundamentais para que a<br />

aposta no desenvolvimento dos jardins históricos<br />

se torne uma realidade.<br />

Que mais-valias poderá trazer este tipo de<br />

turismo para os Açores?<br />

Numa Região como a nossa que beneficia de<br />

um clima temperado, uma distribuição regular da<br />

chuva ao longo do ano e solos férteis, os jardins<br />

são por assim dizer produtos “naturais”. Mais<br />

ainda: a imagem dos Açores associada às belas<br />

paisagens e ambientes naturalizados só poderá<br />

sair reforçada se for apoiada por uma ampla “cultura<br />

verde” onde se incluam os jardins históricos,<br />

certamente, mas também outras criações mais<br />

modernas e ambientalmente sustentáveis que<br />

possam justificar e dar continuidade a esse desígnio<br />

histórico e cultural. No turismo de jardins do<br />

futuro poderão estar os clássicos jardins botânicos<br />

oitocentistas ao lado das quintas ajardinadas onde<br />

as culturas tradicionais encontrem no turismo novos<br />

mercados de proximidade, espaços verdes e<br />

parques públicos articulados com as apetências<br />

de lazer e os requisitos ambientais e ecológicos,<br />

hotéis botânicos que façam jus à marca diferenciadora<br />

dos Açores, modernas formas de matas<br />

ajardinadas em que o conceito lúdico se alie ao<br />

económico e produtivo. Esta é a minha utopia.<br />

Voltando à questão em termos mais pragmáticos<br />

e imediatos: o segmento do turismo de jardins<br />

constitui, em minha opinião, a única forma<br />

de viabilizar a conservação dos jardins históricos,<br />

potenciado uma cadeia de valor gerado ao longo<br />

de um processo que começa na valorização e especialização<br />

da mão-de-obra e termina na projecção<br />

da marca Açores associada a um segmento turístico<br />

exigente, culto e geralmente com elevado poder<br />

económico. Acresce que o turismo de jardins<br />

não é tão fortemente marcado pela sazonalidade<br />

como outros produtos turísticos. Haja em vista o<br />

segmento das camélias, flor de inverno que por<br />

essa razão é merecedora de um verdadeiro culto,<br />

e que tem conhecido um interesse crescente nos<br />

Açores; foi em atenção a elas, aliás, que foram<br />

escolhidas as datasdo colóquio que está a ser preparado.<br />

O que destaca dos temas em debate?<br />

Quem ler o programa que está a ser divulgado<br />

perceberá como são variados os temas em debate,<br />

as perspetivas e as experiencias concretas trazidas<br />

pelo painel de oradores. No plano das orientações<br />

e recomendações internacionais teremos personalidades<br />

ligadas às instancias da UNESCO através<br />

do Comité internacional de Paisagens Culturais<br />

(ICOMOS-IFLA); no domínio académico teremos<br />

as perspetivas de quem estuda o fenómeno<br />

do turismo de jardins de um ponto de vista social<br />

e económicosistemático e de quem se dedica ao<br />

ensino e investigação de metodologias deinventário,<br />

de recuperação e de restauro de jardins;<br />

no plano empresarial e promocional teremos<br />

perspetivas sobre o marketing e as estratégias de<br />

comunicação e mediação cultural na especialidade<br />

de jardins. Estou certa de que os temas e os<br />

intervenientes envolvidos despertarão o interesse<br />

dos agentes locais ligados à atividade turística, das<br />

entidades publicas e privadas que tutelam espaços<br />

com essas características, bem como do publico<br />

em geral. Finalmente, gostaria de salientar que a<br />

organização deste evento já despertou atenções<br />

fora da região, sendo inclusivamente noticiado na<br />

página electrónica do Institut Européen des Jardins<br />

& Paysages.<br />

Ana Coelho

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