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Atlântico <strong>Expresso</strong> 2 Reportagem Segunda-feira, 16 de Janeiro de 2017 Encontro decorrerá no Jardim José do Canto e no Terra Nostra e visita às Sete Cidades Especialistas internacionais reúnem-se dentro de um mês em São Miguel para debater a importância do turismo de jardins em Portugal e no Mundo A conferência “Garden Tourism in Portugal and Around the World” realizar-se-á em São Miguel de 24 a 26 de Fevereiro. O evento pretende reflectir sobre o lugar e o papel dos jardins históricos no âmbito do turismo cultural, acolhendo um programa que se centra na pesquisa científica e na exploração de ferramentas de comunicação e mediação, com vista a melhorar a experiência de visitação aos jardins; de igual modo, procurar-se-á problematizar este campo de estudos, de modo a direccionar o projecto de acordo com as orientações mais actuais, consolidando as redes cientificas neste domínio; visa, ainda, perspectivar o papel que cabe aos poderes públicos, proprietários e cuidadores desses espaços no sentido da sua preservação, reabilitação e valorização. Os Temas chave que serão debatidos serão: Os jardins no âmbito do Turismo Cultura; a pesquisa científica sobre a conservação e sustentabilidade ambiental dos jardins; objectivos e planos de apoio definidas pelos organismos da UNESCO relativamente aos jardins históricos; Turismo como meio de viabilizar a conservação dos jardins e paisagens culturais; conservação e protecção dos jardins versus exploração turística; gestão e plano de marketing turístico dos jardins; relacionamento entre a comunidade científica e outros intervenientes, sendo estes proprietários/cuidadores, agentes turísticos e o público; representações da identidade local através do turismo de jardim; relação entre turismo sustentável e desenvolvimento local. No dia 24 de Fevereiro a conferência terá lugar na Sala do Palácio, no Jardim José do Canto em Ponta Delgada, no dia 25 de Fevereiro, na Casa do Parque do Parque Terra Nostra, nas Furnas e no dia 26 de Fevereiro decorrerá uma visita às Sete Cidades. Serão oradores: Cristina Castel Branco é Professora de «História da Arte de Jardins» da licenciatura em Arquitectura Paisagista do Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa desde 1989; é mestre em arquitectura paisagista pela Universidade de Massachusetts (EUA) e doutorada em Arquitectura Paisagista, na especialidade de História de Arte de Jardins pelo ISA, Universidade Técnica de Lisboa. Desde 1991 desenvolve atividade projectista no âmbito da ACB-Ltd, especializando-se no uso de um desenho contemporâneo aplicado a soluções sustentáveis para o património histórico. É membro do ICOMOS-UNESCO para o Comité internacional das Paisagens Culturais. Recentemente foi condecorada com a Ordre des Arts et des Lettres pelo ministro francês da Cultura e Comunicação; David Jacques é historiador de jardins e conservador, consultor, conferencista e autor de numerosas publicações sobre paisagens históricas, parques e jardins. Foi o primeiro Inspector dos Parques Históricos e Jardins do English Heritage, de 1987 a 1993. Em 1993 tornou-se director dos Parques e Jardins do Reino Unido, tendo desenvolvido a base de dados online que precedeu a Parks & Gardens UK; Didier Wirth é o Presidente do Institut Européen des Jardins & Paysages de France; Eduarda Maria de Oliveira Paz é bióloga (licenciada pela Universidade de Coimbra), e mestre em Conservação de Jardins e Paisagens Culturais pela Universidade de York (RU); é ainda investigadora do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra. Em 2010 fundou a «Caminhos do Ocidente Lda», uma empresa envolvida na conservação e promoção do património cultural e paisagista, especializada na organização de tours em jardins históricos em Portugal. É presidente da Associação Portuguesa de Camélias e co-diretora para Portugal da International Camellia Society (ICS); Elsa Isidro é arquitecta paisagista, licenciada em 2009 pelo Instituto Superior de Agronomia (ISA), Universidade Técnica de Lisboa. É responsável pela gestão dos valores naturais e culturais localizados na área da Paisagem Cultural de Sintra (CLS) e em Queluz, no âmbito da «Parques de Sintra». Desde a fundação da empresa Parques de Sintra - Monte da Lua, S.A., em 2000, tem-se empenhado na gestão desses espaços, envolvendose no seu restauro, requalificação, revitalização, conservação, investigação, publicidade e exploração, abrindo-os à fruição pública e valorizando o seu valor turístico. Richard Benfield é professor de Geografia na Universidade Central de Connecticut, na Nova Inglaterra. Tem pesquisado sobre turismo de jardins desde 1997 culminando com a publicação, em 2013, do seu livro Garden Tourism (CABI Press, Abingdon). Interessa-se particularmente pelas motivações dos visitantes de jardins e pela avaliação da experiência do visitante, bem como pelo papel das redes sociais na sensibilização e promoção dos jardins, o que o tem levado a percorrer o mundo, visitando inúmeros jardins; Marco Martella é historiador de jardins. É responsável pela promoção do património verde do Departamento do Alto Sena (France). Tem diversas publicações sobre jardins franceses e italianos; é ainda fundador e director da revista «Jardins» (Éditions du Sandre). Marta Sousa Pires é Gerente executiva do Grupo Bensaude Turismo, incluindo a Bensaúde Hoteis e Agencia de Viagens Açoriana. É licenciada em Gestão de Empresas pela Universidade Católica Portuguesa; possui um MBA e estudos Pós-Graduados em Gestão de Turismo pela ESADE (Barcelona); Mónica Luengo é historiadora de Arte e Arquiteta Paisagista. Licenciada em Historia da Arte pela Universidad Complutense de Madrid e mestre em Conservação e Restauro do Património Arquitetonico e Urbano pela Escola Técnica Superior de Arquitectura de Madrid da Universidad Politécnica. Foi presidente do Comité Internacional de Jardins Históricos e Paisagens Culturais ICOMOS-IFLA e directora do Curso de Mestrado em Património Cultural e Natural: inovação, pesquisa e desenvolvimento da Universidad Internacional da Andaluzia (UNIA) e Raimundo Quintal é doutorado em Geografia Física pela Universidade de Lisboa. Investigador no Centro de Estudos Geográficos, Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, Universidade de Lisboa. Responsável pela elaboração do elenco florístico e coordenador científico do projeto de requalificação do Jardim Botânico José do Canto, em Ponta Delgada, desde 2013. Responsável pela elaboração do inventário florístico e pela implementação do conceito de hotel botânico na Quinta da Casa Branca, no Funchal, 2016. Ana Coelho
Entrevista 3 Segunda-feira, 16 de Janeiro de 2017 Atlântico <strong>Expresso</strong> Investigadora Isabel Albergaria não tem dúvidas “Devemos procurar relançar os jardins históricos como valioso património cultural da Região, convertendo-os num produto turístico” Na actual conjuntura, “em que o turismo de jardins conhece um crescimento e uma popularidade sem precedentes, a nível mundial”, a investigadora da Universidade dos Açores, Isabel Albergaria considera que “o que devemos procurar é relançar os jardins históricos como valioso património cultural da Região, convertendo-os num produto turístico. Além da sua protecção, reabilitação e valorização, fundamental do ponto de vista patrimonial, essa operação permitirá diversificar, qualificar e enriquecer a oferta turística do destino Açores”. Qual a importância da realização do colóquio internacional GardenTourism in Portugal and Around The World? O colóquio subordinado ao tema do Turismo de Jardins, que irá decorrer em São Miguel de 24 a 26 de Fevereiro, reúne algumas das personalidades mais influentes ligadas ao tema a nível internacional e nacional, permitindo a abordagem de diversas perspectivas complementares que se colocam no processo de conservação, recuperação, avaliação e promoção turística dos jardins históricos. O evento será promovido pelo Observatório de Turismo dos Açores em parceria com a Universidade dos Açores/Fundação Gaspar Frutuoso e o Centro de Historia d´Aquém e d´Além Mar, sendo uma iniciativa enquadrada no âmbito do projeto financiado pelo PO AÇORES 2020 “Green Gardens - Azores”, o qual tenho o prazer de coordenar. É muito importante conhecer os casos de sucesso na gestão e promoção dos jardins como recurso cultural e consolidar redes técnico-científicas e comerciais internacionais que nos permitirão dar passos seguros no sentido da afirmação do destino Açores, particularmente neste nicho de mercado do Turismo Cultural e Criativo. Aproveito para anunciar que estão abertas inscrições a todos os interessados, podendo-se fazêlo através do site do OTA: http://www.otacores. com/greenga. Em sua opinião, qual a importância do turismo de jardins para S. Miguel? O turismo de jardins em S. Miguel não é novo. Na história do turismo regional deve salientar-se a notoriedade granjeada pelos jardins de Ponta Delgada desde o século XIX, fundamental na criação do primeiro cartaz turístico da ilha, como bem prova o Guia do Viajante da Ilha de S. Miguel, escrito por Félix Sotto-Mayor em 1898. Hoje estamos bem longe da modalidade praticada então, em que a visita aos jardins dependia da cortesia dos proprietários privados que franqueavam as portas dos seus preciosos tesouros aos estrangeiros e nacionais recém-chegados a São Miguel. Na actual conjuntura em que o turismo de jardins conhece um crescimento e uma popularidade sem precedentes, a nível mundial, o que devemos procurar é relançar os jardins históricos como valioso património cultural da Região, convertendo-os num produto turístico. Além da sua protecção, reabilitação e valorização, fundamental do ponto de vista patrimonial, essa operação permitirá diversificar, qualificar e enriquecer a oferta turística do destino Açores. Os proprietários privados/entidades responsáveis regionais estão despertos para a importância do desenvolvimento deste tipo de turismo para a nossa região? Para responder directamente a esta questão diria que sim e não. Sente-se efetivamente que há um caminho percorrido nas últimas décadas tanto por parte dos proprietários como pelas entidades governamentais e do público em geral no sentido do reconhecimento dos jardins históricos. Pessoalmente, empenhei-me há já muitos anos por esse reconhecimento e sinto-me feliz por ver que o ponto onde nos encontramos hoje é bem diferente do panorama vivido há 20 anos. Os mais emblemáticos jardins de S. Miguel têm sido alvo de intervenções de restauro e reabilitação por equipas profissionais, classificação patrimonial e acções de promoção e divulgação, encontrandose hoje um bom numero que está aberto a visitas públicas. Por outro lado, haveria muito mais a fazer neste domínio. Para entrar no mercado global do turismo de jardins, é necessário investir, investigar e intervir de forma consertada e apoiada. Tanto do lado dos apoios governamentais como do lado do espirito associativo dos proprietários é necessário ir mais além e considerar que o turismo de jardins só se constrói se existir o que em dinâmica social se designa por massa critica. Todos sabemos que o Parque Terra Nostra tem um lugar assegurado no pódio dos jardins dos Açores e estará previsivelmente sempre entre os lugares mais visitados da ilha de S. Miguel, mas isso não significa que possa construir sozinho um destino de turismo de jardins nos Açores. Uma visita que realizei há uns meses a um dos mais prestigiados certames da horticultura europeia, em França - a Journée des Plantes – permitiu-me constatar como o tema do turismo de jardins é tomado a sério pelos departamentos regionais e nacionais que tutelam a cultura, o ambiente e o turismo. Noutros pontos da Europa, como ouviremos falar durante o coloquio que se avizinha, equipas de entidades públicas e privadas trabalham em prol da manutenção e divulgação deste património verde, que integra um importante segmento da cultura europeia. Em Portugal, e especialmente nos Açores, é necessário rever, a montante e a jusante, tanto a adequação da legislação e medidas protetoras a estes “imóveis de interesse publico” com características peculiares por se tratarem de estruturas vivas, como a criação de redes de apoio técnico e científico, e sistemas de incentivo, fundamentais para que a aposta no desenvolvimento dos jardins históricos se torne uma realidade. Que mais-valias poderá trazer este tipo de turismo para os Açores? Numa Região como a nossa que beneficia de um clima temperado, uma distribuição regular da chuva ao longo do ano e solos férteis, os jardins são por assim dizer produtos “naturais”. Mais ainda: a imagem dos Açores associada às belas paisagens e ambientes naturalizados só poderá sair reforçada se for apoiada por uma ampla “cultura verde” onde se incluam os jardins históricos, certamente, mas também outras criações mais modernas e ambientalmente sustentáveis que possam justificar e dar continuidade a esse desígnio histórico e cultural. No turismo de jardins do futuro poderão estar os clássicos jardins botânicos oitocentistas ao lado das quintas ajardinadas onde as culturas tradicionais encontrem no turismo novos mercados de proximidade, espaços verdes e parques públicos articulados com as apetências de lazer e os requisitos ambientais e ecológicos, hotéis botânicos que façam jus à marca diferenciadora dos Açores, modernas formas de matas ajardinadas em que o conceito lúdico se alie ao económico e produtivo. Esta é a minha utopia. Voltando à questão em termos mais pragmáticos e imediatos: o segmento do turismo de jardins constitui, em minha opinião, a única forma de viabilizar a conservação dos jardins históricos, potenciado uma cadeia de valor gerado ao longo de um processo que começa na valorização e especialização da mão-de-obra e termina na projecção da marca Açores associada a um segmento turístico exigente, culto e geralmente com elevado poder económico. Acresce que o turismo de jardins não é tão fortemente marcado pela sazonalidade como outros produtos turísticos. Haja em vista o segmento das camélias, flor de inverno que por essa razão é merecedora de um verdadeiro culto, e que tem conhecido um interesse crescente nos Açores; foi em atenção a elas, aliás, que foram escolhidas as datasdo colóquio que está a ser preparado. O que destaca dos temas em debate? Quem ler o programa que está a ser divulgado perceberá como são variados os temas em debate, as perspetivas e as experiencias concretas trazidas pelo painel de oradores. No plano das orientações e recomendações internacionais teremos personalidades ligadas às instancias da UNESCO através do Comité internacional de Paisagens Culturais (ICOMOS-IFLA); no domínio académico teremos as perspetivas de quem estuda o fenómeno do turismo de jardins de um ponto de vista social e económicosistemático e de quem se dedica ao ensino e investigação de metodologias deinventário, de recuperação e de restauro de jardins; no plano empresarial e promocional teremos perspetivas sobre o marketing e as estratégias de comunicação e mediação cultural na especialidade de jardins. Estou certa de que os temas e os intervenientes envolvidos despertarão o interesse dos agentes locais ligados à atividade turística, das entidades publicas e privadas que tutelam espaços com essas características, bem como do publico em geral. Finalmente, gostaria de salientar que a organização deste evento já despertou atenções fora da região, sendo inclusivamente noticiado na página electrónica do Institut Européen des Jardins & Paysages. Ana Coelho
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